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  • O SEGREDO

    DAS

    PROFECIAS

    Luiz Gonzaga de Alvarenga 1996-2006

  • NDICE

    PARTE I - PROFECIAS, ORCULOS E ADIVINHAES

    1 Por Que o Homem Deseja Conhecer o Futuro? 2 A Origem Mitolgica das Profecias e dos Orculos

    PARTE II - O ENIGMA DAS PIRMIDES

    3 As Pirmides: Uma Herana Eterna 4 A Grande Pirmide 5 O Mistrio das Pirmides 6 As Pirmides e os Aspectos do Cu 7 As Profecias das Pirmides

    PARTE III - DAS VISES DO PASSADO S VISES DO FUTURO

    8 Abrao e Melquisedec: da Antiga Nova Ordem 9 As Profecias de Daniel 10 As Representaes Celestes do Apocalipse 11 Da Virgem Celeste Virgem Terrestre 12 De Daniel a Joo - a Viso do Apocalipse

    PARTE IV - A HISTRIA DESCONHECIDA DOS HOMENS

    13 A Conduo da Histria Humana 14 O Lado Secreto da Histria

    PARTE V - OS PROFETAS E AS PROFECIAS

    15 O Profeta dos Novos Tempos: Nostradamus 16 Grandes Profetas e Grandes Profecias 17 As Profecias da Virgem 18 Os Profetas da Modernidade

    PARTE VI - A CRIAO E A DESTRUIO DO MUNDO

    19 As Profecias do Fim do Mundo 20 Catastrofismo e Escatologia 21 Haver Um Fim Para o Mundo?

  • PARTE I - PROFECIAS, ORCULOS E ADIVINHAES

    Este livro para poucos, talvez s para os mais loucos...1

    1 Por Que o Homem Deseja Conhecer o Futuro?

    Desde os seus primrdios, a humanidade tem manifestado uma grande curiosidade acerca do amanh, do futuro, e tem tido a preocupao de descobrir se os deuses ou os elementos da natureza sero propcios, se naquele ano haver uma colheita frtil, se haver prosperidade, se os inimigos sero vencidos, etc. A nvel individual, toda uma extensa relao de preocupaes semelhantes tem levado os homens de todas as pocas a procurarem adivinhos, orculos, feiticeiros, astrlogos, etc., os quais, para responderem a tais questes, tm apelado para toda uma parafernlia de objetos de adivinhao, ou usado os mtodos mais incomuns para conseguirem o seu intento. As consultas s cartas, aos dados, aos astros, a procura de sinais ou prognsticos nos elementos da natureza, nos sonhos, nos animais vivos ou em suas vsceras, tem ocupado grandemente o tempo dos adivinhos e dos homens interessados em saber a sua sina.

    Esta preocupao com o futuro tem ocupado a imaginao dos homens h tanto tempo que chegou at mesmo a interferir em suas relaes com o mundo e com o deus ou os deuses de sua venerao, adorao ou temor. Esta relao conduziu a uma religiosidade estranha, quase sempre dominada por complexos sentimentos de culpa, onde o deus ou deuses predominantes adquirem uma qualidade paterna dominadora e temvel e manifestam sentimentos tipicamente humanos, tais como o cime, a raiva, o rancor e o desejo de vingana, bem como um sentimento de exclusividade to forte que, se no encontrar correspondncia, o homem ser condenado aos abismos infernais por toda a eternidade, ou ento todo o mundo ser destrudo em razo do no cumprimento, pelos homens, de suas promessas a esse deus exclusivista.

    Povos eleitos, deuses falsos ou verdadeiros, religies falsas ou verdadeiras, so questes que tem afetado a vida de toda a humanidade, desde os tempos mais recuados. Muito sangue foi derramado, povos e pessoas foram sacrificadas, inconcebveis carnificinas marcaram a histria do mundo em razo desses sentimentos religiosos exclusivistas, onde cada povo arrogava a si o direito de impor ao seu vizinho a sua viso particular da religio. Por outro lado, o temor fria divina marcou igualmente o inconsciente coletivo de alguns povos, que procuravam por todos os meios aplac-la. Era comum, entre os povos mais antigos, o chamado sacrifcio propiciatrio, em que animais e at seres humanos eram sacrificados para conseguir os benefcios da divindade. Este costume tambm era comum entre os povos da Amrica Central, e s foi erradicado aps a conquista espanhola.

    1 Parafraseando o escritor Hermann Hesse.

  • Entre os antigos judeus o receio que o mundo fosse destrudo era to grande, que fez-se necessrio estabelecer uma aliana com Deus para que Ele no o destrusse novamente, aps t-lo feito uma vez atravs do Dilvio. Tal aliana, que representava uma promessa divina, no bastou, entretanto, para aplacar o sentimento de insegurana e garantir que o mundo no estaria condenado destruio; talvez por esta razo, ela teria que ser guardada e renovada (Deuteronmio, 29, 9-15; Paralipmenos,2, 34, 29-33), e at mesmo reformada (Jeremias, 31, 31-37).

    A histria eclesistica da Igreja Catlica igualmente marcada por uma preocupao escatolgica (escatologia a parte da teologia que investiga as partes finais da vida humana e do mundo: a morte, o juzo universal, o fim do mundo), a qual originou-se dos profetas e dos livros bblicos, principalmente o Apocalipse de So Joo. Durante a Idade Mdia, muito da preocupao dos doutores da Igreja foi acerca das relaes futuras entre o mundo e a divindade, como se pode ver, por exemplo, na obra de Santo Agostinho, A Cidade de Deus. Esta preocupao escatolgica chegou ao ponto de influenciar o imaginrio popular, que, por volta da virada do primeiro milnio, foi at o clmax do desvario, com muita gente acreditando que o mundo iria acabar.

    O profetismo, que no fundo tambm uma forma de prever o futuro, permeia principalmente o Antigo Testamento da Bblia. Devido ao seu carter fortemente negativo, em que apresenta uma imagem vindoura de desastres e calamidades de todo tipo, a maioria das religies ou seitas que derivaram do catolicismo passou a ter como caracterstica primordial um carter restritivo, inibidor de quaisquer atos humanos mundanos ou seculares, os quais trariam somente a runa e a morte espiritual, que surgiriam em conseqncia das iniqidades humanas. Os profetas bblicos, muito mais do que intrpretes do futuro (algo impensvel para quem no possua o conceito de histria e de evoluo), eram na verdade intrpretes da vontade divina, e como tal se comportavam, quando se dirigiam aos seus contemporneos. Tambm quando se procurava saber qual eram os desgnios de Deus, o profeta, ou vidente, era procurado com este objetivo, conforme se pode ler em Samuel (Primeiro Livro dos Reis, 9, 9): Antigamente em Israel, quem fosse consultar a Deus, dizia: Venha, vamos ao vidente. Porque o que hoje [ poca] se chama profeta, era ento chamado vidente. Mas no apenas no Antigo Testamento que se fazem referncias aos profetas. Paulo, o apstolo, escreveu: Segui a caridade, procurai com zelo os dons do esprito, e acima de todos, os da profecia (Corntios,1, 14, 1). A profecia, ento, seria uma manifestao e um chamado de Deus, conforme diz Ams: E o Senhor me pegou, quando eu conduzia meu rebanho, e falou-me: Vai, profetiza ao meu povo de Israel (Ams, 7, 14-15).

    Sob um ponto de vista moderno, a profecia pode ser considerada como uma manifestao desconhecida do psiquismo, ou um fenmeno PSI. Talvez os conhecimentos profticos estejam naquela regio misteriosa da psique chamada por Jung de inconsciente coletivo. A profecia est alm da lgica, situando-se em uma dimenso simblica com a qual a psique entraria eventualmente em contato; entretanto, a mente se perde ao tentar seguir e compreender os infinitos meandros desta terra desconhecida, permeada de figuras mitolgicas e arqutipos incompreensveis. Os profetas, antigos e modernos, mais do que

  • figuras religiosas, so desbravadores de um terreno desconhecido e misterioso, que, se num futuro distante poder ser morada de todos, por enquanto continua sendo apenas uma terra incgnita.

    A capacidade de profetizar, prever ou adivinhar exerce um poderoso fascnio, dos povos mais primitivos at os mais civilizados. Em todas as pocas existiram variadas formas de adivinhao, surgidas em razo do temor e da vulnerabilidade do homem frente ao desconhecido, o qual busca tanto conhecer o presente quanto predizer o futuro. As artes adivinhatrias eram conhecidas na antiga Grcia, na China, e at mesmo nos recuados tempos babilnicos. Com efeito, a mais antiga arte ou cincia da previso, a astrologia, surgiu na remota Caldia e era praticada pelos sacerdotes da poca. Um dos mais antigos livros do mundo, o I Ching, um livro de adivinhaes, e exerceu uma profunda influncia na filosofia de Confcio, que o tinha em alta conta. Mesmo recentemente, um pensador do porte de Carl G. Jung, arriscando a prpria reputao, no hesitou em classific-lo como um dos livros mais fascinantes do mundo, aps estud-lo a fundo. Jung chegou at mesmo a escrever um livro em parceria com o fsico Wolfgang Pauli, Sincronicidade: Princpio de Conexo A-Causal, onde procuraram explicar as coincidncias em geral, como tambm os princpios pelos quais o livro I Ching poderia funcionar. O Tarot, ou cartas do Tarot, outro processo de adivinhao que possivelmente tem origem to recuada no tempo, que no se sabe de onde surgiu. O autor Gerard Encausse afirma que ele originou-se entre os ciganos, em uma poca recente, mas refutado por Court de Gbelin, que afirma que estas cartas possuem origem egpcia.

    Na antigidade costumava-se praticar a chamada aruspicina, ou leitura das entranhas, que tanto podiam ser de animais quanto de seres humanos sacrificados. As vsceras eram estudadas com cuidado, e de suas condies gerais, o adivinho fazia os seus pressgios. A herospacia, praticada na Roma antiga, era a leitura do fgado, cuja superfcie deveria estar bem brilhante, servindo de espelho para refletir as imagens que se procurava ver. Tambm ossos, conchas, folhas de ch, gros de cereais e at lquidos podiam ser utilizados com o objetivo de adivinhao. Outro meio de prever o futuro, ou o destino individual, era pelo estudo das disposies gerais de vrias partes do corpo humano. O mtodo que era mais conhecido e praticado era o do estudo das linhas da mo, ou quiromancia. As origens deste mtodo so desconhecidas, mas acredita-se que tenha surgido inicialmente na China e na ndia. Entre os antigos navajos americanos, era praticada uma forma de adivinhao que utilizava o tremor das mos, conseguido atravs de transes. Tal prtica, que possui uma variante curativa, no desapareceu de todo, conservada que foi pelos ndios navajos das reservas situadas no Arizona, Novo Mxico, Utah e Colorado, nos EUA.

    Uma das mais espetaculares formas de adivinhao, que uma forma de vidncia, o mtodo da varinha adivinhatria, ou rabdomancia. Tal mtodo faz uso de uma pequena vara de avel cortada em forma de forquilha. Alega-se que o vedor, como chamado o rabdomante, capaz de detectar cursos subterrneos de guas, jazidas minerais, petrleo, tesouros, e at mesmo coisas ou pessoas perdidas, apenas pelo uso de sua vara bifurcada. O mtodo de leitura, ou mtodo de prospeco, to somente andar pelo terreno com a vara

  • na mo, esperando que ela se curve repentinamente, o que faz somente nos locais procurados. uma frustrao para os gelogos profissionais quando constatam, com desalento, que a leitura rabdomntica mais simples, barata e confivel do que os seus dispendiosos esforos de perfurao, os quais se baseiam em prospeces e indcios que nem sempre se revelam confiveis. Isto no impede as grandes companhias de utilizarem os servios dos rabdomantes. Afirma-se at que a empresa petrolfera Occidental Petroleum foi uma das primeiras a comprar poos produtores de petrleo descobertos por eles. Uma variante mais conhecida deste mtodo o uso de pndulos, que podem ser feitos dos mais diversos e variados materiais que se possa imaginar, desde cristais, metais, plsticos, etc. Outra forma de tentar prever o que o destino nos reserva pela interpretao dos sonhos. A mente adormecida, com efeito, parece tornar-se suscetvel de receber mensagens que ultrapassam as fronteiras do espao e do tempo. Os sonhos, em tais condies, tornam-se vivos e intensos, com uma caracterstica emocional marcante. O sonhador como que fica perdido em uma regio irreal, ator e espectador de eventos arbitrrios que simulam a realidade cotidiana. Em tais condies, o sonhador entra em contato com personagens fantsticos, mitolgicos, e tem acesso a mensagens e informaes que, muitas vezes, so intensamente intuitivas e imaginativas. Existem exemplos abundantes de pessoas que imaginaram histrias, compuseram msicas ou ento realizaram descobertas cientficas que lhes escapava durante a viglia.

    O poeta Samuel Taylor Coleridge uma vez adormeceu aps tomar um sedativo base de pio. Ele estava lendo um livro, e a ltima frase que leu foi Aqui neste lugar, o Kublay Khan ordenou a construo de um palcio. Quando acordou, passadas trs horas, ele tinha em sua mente pelo menos 200 versos de uma poesia de extrema beleza. Imediatamente tomou da pena e comeou a transcrev-los, mas aps escrever 54 versos, foi interrompido por um visitante. Quando este se foi, sua inspirao j no era a mesma, e ele no escreveu mais nada de sua obra-prima. O qumico alemo Friedrich Kekul somente conseguiu completar uma pesquisa que fazia a respeito da estrutura molecular do benzeno, em um sonho. Neste, ele viu os tomos da molcula como se estivessem em uma dana, aps a qual eles se transformaram em uma cobra que engolia a prpria cauda

    Os sonhos profticos, aqueles que vem premonitoriamente eventos que ainda iro suceder, so mais comuns do que se imagina. Conta-se que Anbal previu uma vitria militar em seus sonhos, e que o rei Ricardo III da Inglaterra viu terrveis imagens antes de sua derrota e morte em Bosworth Field. Tambm Napoleo teve sonhos que pressagiavam algo de mal, antes da batalha de Waterloo. bem conhecido o sonho do presidente americano Lincoln, que sonhou que viu a si mesmo em um esquife, sendo velado pelos seus familiares e por uma guarda de honra, dias antes que fosse morto por John Wilkes Booth.

    Muitas pessoas comuns afirmam que tiveram, uma vez ou outra, sonhos profticos em que viram algum evento que aconteceria em um futuro prximo, seja com o prprio sonhador, seja com familiares, seja com pessoas desconhecidas. Os sonhos parecem alertar sobre eventos catastrficos, desastres ou doenas que iro ocorrer a seguir. Antes que a Segunda Guerra Mundial comeasse, Carl G. Jung comeou a perceber que muitos dos seus

  • pacientes estavam tendo sonhos recorrentes, de contedo semelhante entre si, sonhos estes que pareciam prenunciar a irrupo de um acontecimento de grande magnitude.

    Nos antigos mitos gregos, os sonhos eram chamados filhos de Nox (noite), a me de Nmesis e das Parcas. Os sonhos viriam de uma morada onde existiam duas portas: uma era de marfim, pela qual passavam as vises falsas; a outra era de chifre, pela qual passavam as vises nobres. O texto homrico Odissia afirma que os sonhos situam-se nos limites externos de Okeanos, na fronteira do mundo real, entre as terras msticas habitadas por seres fantsticos e o antimundo. Para Herclito, cada pessoa tinha o seu mundo particular durante os sonhos, que ele tambm situava na regio chamada Okeanos. O melhor intrprete grego dos sonhos foi Artemidoro de feso (sculo II d.C.), que escreveu cinco livros de interpretao dos sonhos, ou Oneirocrtica. Para ele, a complexidade dos sonhos era proporcional inteligncia e cultura do sonhador. Para interpret-los, dizia que era preciso conhecer tambm o carter, o temperamento e a posio social do sonhador. Hipcrates, pai da medicina, dizia que os sonhos podiam trazer indcios acerca da causa das doenas.

    Os textos hebraicos Talmude, Mischna e Gemara afirmam que os sonhos so a forma pela qual os mensageiros anglicos transmitem o conhecimento divino aos homens. Plato, e posteriormente os neoplatnicos acreditavam que durante os sonhos os homens podiam ser instrudos pelos poderes divinos no conhecimento das coisas relacionada vida superior, s foras do cosmos e a histria do mundo. Os aborgenes, primeiros habitantes da Austrlia, acreditam que o mundo foi criado em uma poca que eles chamam de poca de sonhos.

    Na ndia, os sonhos tinham duas abordagens: uma, religiosa, feita atravs dos Upanishades, possua natureza filosfica e metafsica; a outra, atravs da Yoga, possua natureza espiritual e experimental. Alm do estado desperto, eram reconhecidos trs estados onricos. O primeiro seria um estado internamente e externamente inteligvel; o segundo seria internamente inteligvel, e externamente ininteligvel, e o terceiro seria interna e externamente ininteligvel. A tradio indiana coloca em um mesmo nvel a pretensa realidade de qualquer estado. Ela afirma que tanto a realidade dos sonhos quanto a realidade do estado desperto so pura iluso. Para o misticismo tibetano, entretanto, o estado onrico pode ser uma via para adquirir a luz. Mas para atingi-la, cada estado deve ser penetrado em completa lucidez, para o qu uma tcnica especfica deve ser utilizada, a tcnica do pranayama, ou tcnica do controle respiratrio, acompanhado pela repetio rtmica de um mantra.

    O primeiro homem de cincia que tentou entender ou resgatar este lado desconhecido do homem foi Sigmund Freud, com a sua obra magistral, A Interpretao dos Sonhos. Nesta obra, Freud lanou-se a uma verdadeira epopia atravs dos recessos tenebrosos e misteriosos da mente humana. Os sonhos, parte rejeitada da psique humana, passaram a merecer a ateno da cincia, que procurou despi-los de aspectos menos respeitveis, tais como as tentativas de interpret-los de uma forma mundana, atribuindo uma significao a cada tipo de sonho ou a cada objeto sonhado. Freud, ao contrrio,

  • procurou ver neles uma forma pela qual a mente subconsciente procuraria comunicar-se, tentando ultrapassar os recalques e desejos inconscientes, normalmente rejeitados pela conscincia. Assim, os sonhos eram derivados dos desejos inconscientes reprimidos, o quais se manifestariam atravs deles. Para ele, os sonhos e os smbolos que neles abundavam tinham conotaes sexuais, e assim deviam ser interpretados.

    Para Freud, havia quatro formas bsicas de manifestao do contedo onrico: os processos de condensao, deslocamento, elaborao secundria e simbolizao. No primeiro processo, as imagens onricas so condensadas em uma nica imagem ou idia, no sonho manifestado. No processo de deslocamento, uma emoo que est ligada a uma determinada situao bsica transferida para outra, o que serve para distrair a pessoa quanto ao objeto real de seus sentimentos. A elaborao secundria ocorre quando o sonhador procura dar sentido aos deslocamentos que aparecem nos sonhos, ou ento procura dar-lhes um ordenamento que permita determinar relaes entre fatos. A simbolizao o processo pelo qual um objeto ou uma idia se faz representar no sonho manifesto por um objeto ou idia que os substituam. Freud acreditava que o contedo manifesto dos sonhos tinha origem sexual, onde os rgos e atividades sexuais seriam simbolizados por objetos cuja forma ou finalidade lembrassem os primeiros.

    Jung rebelou-se contra esta interpretao reducionista de Freud, apresentando a teoria segundo a qual o contedo manifesto dos sonhos mostra a situao do inconsciente, ou a situao atual da vida de uma pessoa; no procuraria, contudo, confundir ou enganar a pessoa que sonha (seu consciente). Para Jung, cada indivduo seria capaz de organizar ou dar uma configurao prpria a imagens universais, de contedo mtico, que ele chamou de arqutipos. Ele afirma que os sonhos so formas de pensamento arcaicas e primitivas, e seu contedo reveste-se de figuras mitolgicas porque tem profundas razes no inconsciente coletivo, e no porque tenha razes erticas. Deste modo, a libido que surge de modo simblico nos sonhos um meio pelo qual a religiosidade procura ressurgir na mente e no esprito humanos, quando estes dela tentam se apartar. Jung tambm procura explicar as vises de objetos e de pessoas, que segundo ele seriam mandalas oriundas dos arqutipos contidos no inconsciente coletivo. Para ele, os sonhos profticos, que trazem mensagens, revelaes ou vises de um futuro prximo ou distante, possuem tambm, de certo modo, uma relao prxima com os smbolos e arqutipos que permeiam a mente humana, e possivelmente, fazem parte das comunicaes que esta recebe incessantemente das partes mais profundas do inconsciente.

    A cincia, de um modo geral, coloca-se em uma posio prudente, estudando muito mais os aspectos psicolgicos, antropolgicos e sociolgicos destas chamadas artes de adivinhao. Quando se envolve em seu aspecto funcional, o faz mais de acordo com o mtodo cientfico, quando estuda os fenmenos da psique tais como clarividncia, telepatia, precognio e outros, sob o prisma da estatstica e da fsica, realizando experimentos controlados em laboratrios de pesquisa parapsicolgica. Isto no significa que a cincia, num todo, aceite tais fenmenos. Esta ainda uma disciplina marginal, de pouca respeitabilidade entre os cientistas que lidam com aspectos mais sisudos da cincia. A cincia dita mais sria procura se apartar de todo e qualquer fenmeno que no possa ser

  • enquadrado nas descries do universo feitas pela fsica das partculas, pela cosmologia ou pelas diversas disciplinas hoje existentes. A adivinhao, que nas civilizaes antigas era aceita e apoiada pela elite, atualmente criticada pelos cientistas como sendo um repositrio de supersties criadas para dominar os mais crdulos. Esta opinio crtica, por outro lado, contestada de dentro da prpria cincia. O antroplogo George K. Park afirmou que em algumas culturas, mais do que uma demonstrao de credulidade, a adivinhao uma prtica equivalente s nossas prticas contemporneas de aconselhamento e terapia psicolgica, das quais a psicanlise o melhor exemplo. Em tais sistemas sociais, a consulta ao adivinho uma forma de manter-se integrado comunidade, que, por sua vez, respeita o adivinho. Seus conselhos, de modo geral, pesam fortemente nas decises da comunidade frente aos problemas individuais, e nas prprias decises de cada indivduo frente comunidade.

    Na sociedade moderna atual, a adivinhao, de uma forma ou de outra, continua a ser praticada. As decises atuais, to difceis de tomar, principalmente quando se relacionam aos negcios e atividades de grande monta, recebem o auxlio de disciplinas cientficas que procuram resolver, a seu modo, qual a melhor deciso. um fato comprovado que a antiga adivinhao sempre foi usada por grandes empreendedores. Como dizia o magnata americano do incio do sculo, J. P. Morgan: milionrios no utilizam os servios dos astrlogos, mas bilionrios utilizam. Afirma-se, por exemplo, que o presidente Franklin D. Roosevelt consultava o vidente Edgar Cayce. Recentemente, tornou-se bem conhecido o fato de alguns presidentes americanos2 tambm utilizarem o servio de videntes e astrlogos, pelo menos enquanto puderam deixar em segredo estes servios de assessoria. Apesar de no o admitirem, vrias empresas de investimento possuem astrlogos nos seus quadros de empregados. Mesmo entre o povo, entretanto, a consulta aos adivinhos e cartomantes est bastante difundida atualmente, apesar do ceticismo e da contrariedade demonstrada pelos cientistas e racionalistas de todo tipo, que gostariam de ver banidos o que eles rotulam como crendices ou supersties. Apesar de todo o progresso da cincia (ou talvez por esta razo), o homem continua dependente de uma interpretao mgica da realidade e do universo, que o convena que ele no apenas um produto casual de uma evoluo indiferente, e sim parte de uma grandiosa manifestao do esplendor divino, e situado em um ponto intermedirio de uma evoluo causal que terminar por conduzi-lo ao esprito.

    2 Referncia ao presidente Reagan.

  • 2 Origem Mitolgica das Profecias e dos Orculos

    Nas antigas lendas teognicas da mitologia grega, Pontos, ou Fluxo Marinho, nascido sem interveno de uma potncia masculina, uniu-se a Gaia, a Terra, e desta unio nasceu Nereu, um sbio que possua o conhecimento de todos os segredos e de todas as profecias. Este conhecimento de Nereu, entretanto, no era para ser distribudo, pois que repugnava-lhe revel-los. Para escapar aos curiosos, ele utilizava-se de sua capacidade de se metamorfosear e passar despercebido. Mas Nereu pertence a um ciclo anterior e ultrapassado, a era dos Tits. A nova era corresponde ao ciclo dos olimpianos, ou ciclo dos deuses do Olimpo, do qual o deus que preside s adivinhaes Apolo, que possui uma natureza complexa e uma mltipla personalidade. Apolo Hlios, Febo-Apolo, o Sol; quando veio ao mundo, pediu um arco para matar o drago ou serpente Pton, que atacara sua me antes do nascimento. O drago tinha em seu poder o orculo de Tmis, e ao mat-lo com suas flechas, Apolo apropriou-se deste e o transformou em seu prprio orculo, com um templo e tambm uma sacerdotisa (ptia) consagrada para responder s perguntas. Apolo nasceu em uma ilha sideral, Astria, a terra flutuante.

    Cassandra, filha de Pramo e Hcuba, no cedeu s arremetidas amorosas de Apolo nem depois que este ensinou-lhe a arte da adivinhao. Por despeito, Apolo cuspiu-lhe na boca e com isto privou-a no desta arte, mas de toda e qualquer credibilidade quanto aos seus orculos. Deste modo, qualquer profecia que Cassandra fizesse no seria jamais acreditada, mesmo que se mostrasse verdadeira.

    *

    Os vaticnios feitos na Grcia antiga eram realizados nos templos dos orculos, sendo que os mais conhecidos eram os de Delfos, Dodona, Trofnio, Latona e Efora. Nos primeiros, os orculos eram dados geralmente por uma sacerdotisa. Quanto ao ltimo, que era chamado de Orculo dos Mortos, o orculo era dado por pessoas mortas. Nele, o interessado descia uma escadaria que passava por vrios corredores e era deixado a esperar, s vezes at por semanas inteiras, em um quarto. Quando era chamado, atravessava um longo corredor que conduzia at uma cmara onde havia um vaso de cobre gigante, cheio de gua. A pessoa deveria olhar o lquido at que os seus parentes mortos aparecessem e lhe dessem as vises que ele procurava. A seguir, ele era purificado antes que deixasse o lugar.

    O mais famoso dos templos era o de Delfos, dedicado a Apolo. Este templo se localizava na Fcida, no cume do monte Parnaso, supostamente o mesmo lugar onde a serpente Pton havia sido morta e que era considerado o umbigo do mundo. Seus vaticnios eram repletos de metforas e difceis de entender. Eram realizado por virgens chamadas Ptias, sacerdotisas que ficavam em transe aps beberem da fonte Castlia e mascarem folhas de louro. A sacerdotisa escolhida sentava-se em uma trpode beira de uma fenda vulcnica, de onde saam gases vindos das profundezas da terra. A interpretao do seu vaticnio era dbia e difcil, e muitas vezes somente se tornava clara se a pessoa contemplada com a revelao encontrasse, no momento certo, os elementos adequados para

  • o entendimento do orculo. Este podia ser to enigmtico que era preciso que outros augrios ocorressem, para confirm-lo.

    Enias, filho do mortal Anquises e da deusa Vnus, sobreviveu destruio de Tria e teve de vagar durante sete anos, buscando o lugar desconhecido onde deveria erguer uma nova Tria. O perodo durante o qual ele erra sem destino marcado por orculos obscuros, cuja falsa interpretao levam-no sempre para longe do lugar exato para o qual ele deveria dirigir-se. Adrasto, rei de Argos, ficou atnito quando o orculo o mandou entregar suas filhas em casamento a um leo e a um javali. Algum tempo depois, viu dois jovens, Tideu, que fugira de Calidon, e Polnice, filho de dipo (que fora recentemente banido de Tebas). Foi quando percebeu que os seus escudos tinham, um, a efgie de um leo, e outro, a efgie de um javali, que pde compreender o orculo. Atamante, rei dos orcmenos, tinha sido banido da Becia. Ao consultar o orculo, este mandou que ele fundasse uma cidade no lugar em que os animais selvagens o alimentassem. Muito tempo depois ele chegou Tesslia, onde encontrou alguns lobos devorando um carneiro. Ao v-lo, os lobos fugiram, deixando sua presa. Lembrando-se do orculo, Atamante fundou naquele lugar a cidade de Alos. Falanto, que queria conquistar a cidade de Tarento, procurou o orculo. Este deu-lhe a seguinte resposta: quando percebesse uma chuva que o banhasse vinda de um cu sereno, ele poderia atacar. Falanto no conseguiu compreender o vaticnio. Um dia, ele estava descansando no colo de sua esposa, Etra, quando sentia que as lgrimas dela derramavam-se sobre ele. Lembrando-se que Etra significava cu sereno, levantou-se de imediato e partiu para a vitoriosa conquista. Locro, rei dos lleges, perguntou ao orculo para onde deveria ir com o seu povo. A resposta foi que ele deveria parar onde fosse mordido por uma cadela de madeira. Locro tambm no entendeu a mensagem; mesmo assim, partiu. Muito tempo depois, quando atravessava o oeste do Parnaso, ele pisou num espinho de uma roseira, chamada espinho de co, em grego. Foi ento que compreendeu o orculo. Fixou-se ento ali, na regio que veio a ser conhecida como Lcrida.

    Nem sempre, no entanto, a interpretao era feita corretamente. Algumas vezes acontecia de a pessoa interessada entender ao contrrio uma advertncia que lhe estava sendo feita. Foi o caso do rei Creso, da Ldia, que tencionava empreender uma campanha militar contra a Prsia e que dirigiu-se ao orculo de Delfos para solicitar uma previso a este respeito. A sacerdotisa lhe falou que, se ele atravessasse o rio Halys, um grande imprio seria destrudo. Creso, confiante que este orculo lhe era favorvel, partiu em campanha. Tudo que ele conseguiu, no entanto, foi destruir o seu prprio grande imprio.

    Desvelar ou interpretar o orculo no significava necessariamente que ele fosse favorvel ao interessado. Muitas vezes, sua realizao envolvia verdadeiras tragdias, das quais era impossvel escapar. Foi o caso, por exemplo, de dipo. Ele era filho de Laio, rei de Tebas, e de Jocasta. Um orculo revelou a Laio que ele teria um filho que o mataria. Quando dipo nasceu, Laio mandou que o deixassem no monte Citeron para morrer. Foi encontrado pelos pastores e levado ao rei de Corinto, o qual ordenou que ele fosse educado.

  • Assim que atingiu a maioridade, dipo foi consultar um orculo. Este falou que, se voltasse sua ptria, ele mataria seu pai e desposaria a prpria me. dipo, que pensava que seu pai era o rei de Corinto, procurou sair de l, indo para Tebas. L, ele se envolveu em uma pendncia com Laio, da qual resultou a morte deste. Por esta poca, a regio era assolada por um animal misterioso, a Esfinge, que devorava todos aqueles que no conseguissem decifrar seus enigmas. Creon, que sucedera a Laio, prometeu o reino e a mo de Jocasta a quem quer que conseguisse derrotar a Esfinge. dipo foi ento procura desta, sendo assim interrogado quando a encontrou: qual o animal que anda sobre quatro patas de manh, sobre duas tarde e sobre trs noite? Sem hesitar, dipo respondeu: o homem, que engatinha na infncia, anda sobre dois ps quando adulto, e anda apoiado em uma bengala na velhice. Ao ouvir esta resposta, diz-se que a Esfinge atirou-se ao mar. Com isto, dipo foi aclamado rei e desposou Jocasta, sua me. Ao conhecer os detalhes da histria por outro orculo, Jocasta enforcou-se, e dipo, aps arrancar os prprios olhos, partiu de Tebas, acompanhado de sua filha Antgona.

    No eram apenas os orculos que podiam ver o futuro. Muitas pessoas podiam tambm eventualmente profetizar ou adivinhar o futuro. Digenes Larcio conta a respeito de Fercides, que era discpulo de Pitgoras, o qual podia ver fatos futuros muito claramente. Certa vez, por exemplo, ele caminhava pela praia de Samos quando avistou um navio que surgiu no horizonte. Ele predisse que o navio iria afundar, e passados alguns momentos, o navio realmente afundou. Entre outras coisas, ele previu tambm um terremoto, bem como a vitria que viria do cerco de Messnia.

    Aristteles faz um relato a respeito de um seu amigo, Eudemo, o qual tivera um sonho enquanto estava doente, quando ia da cidade de Feras para a Macednia. No sonho, ele viu uma jovem que lhe disse que sua doena no era grave, e que sua morte viria somente quando ele tentasse retornar ao lar. Eudemo morreu cinco anos depois, quando tentava voltar a Chipre, atravs da Siclia.

    *

    As profecias, quando analisadas sob o aspecto estrutural, apresentam caractersticas bastante regulares. Existe sempre uma estrutura bsica subjacente aos eventos que rodeiam os personagens envolvidos com os orculos, aqueles descritos sob uma forma mitolgica. Assim como com dipo, uma lenda parece dar o contorno, ou um eixo de desenvolvimento aos fatos, quase sempre recorrentes, de suas vidas individuais. Otto Rank, em sua obra O Mito do Nascimento do Heri delineia o que ele chamou de lenda mdia dos heris, apontando elementos caractersticos sempre presentes no que parece ser o itinerrio simblico de uma iniciao. O heri, de modo geral, descende de pais nobres, tem um nascimento difcil ou obstaculado, abandonado para morrer em razo de um orculo desfavorvel, encontrado e criado em circunstncias excepcionais. Quando se torna adulto, descobre sua verdadeira origem, o que, por sua vez, d origem realizao de feitos hericos ou ento, a alguma tragdia. Basta citar os nomes de Moiss, libertador do povo judeu, ou de Rmulo e Remo, fundadores da cidade de Roma, como exemplos mais conhecidos destes arqutipos de iniciao.

  • Analisados sob um aspecto funcional, os eventos ou fatos relativos s profecias mostram que, sempre que se trata de revelar o futuro, os deuses revelam-se reticentes e ciumentos de seu conhecimento proftico, e quando chegam a responder s perguntas, suas respostas so sempre vazadas em uma linguagem ininteligvel, com caractersticas sibilinas e obscuras. Esta relutncia em revelar o futuro, prximo ou distante, traspassa em todas as profecias, augrios, adivinhas, charadas e enigmas que os deuses ou personagens mitolgicos transmitem. Deste modo, em todas as profecias, antigas e modernas, o sentido velado de modo a torn-las quase inacessveis, e o interessado muitas vezes deve empenhar at a prpria vida para que o orculo se desvele.

    *

    As profecias no tm a finalidade precpua de informar ao homem o seu futuro, seja este qual for, ou mesmo permitir que ele escape aos desgnios do destino, pelo conhecimento das coisas que iro acontecer. Como j se viu, as profecias anunciadas podem lhe ser favorveis ou desfavorveis. Somente atravs do seu entendimento poderia ele aproveit-las, mas j vimos a dificuldade em faz-lo. Assim, o simples fato de conhec-las muitas vezes no significa poder evitar o pior. Entretanto, de um modo paradoxal, as profecias pessimistas, ainda que no entendidas, podem ajudar a modificar um futuro sombrio, pela simples mudana da atitude humana. Trabalhar pelo melhor, pelo receio do pior: talvez seja este, afinal, o segredo e o objetivo de todas as profecias.

  • PARTE II - O ENIGMA DAS PIRMIDES

    3 As Pirmides: Uma Herana Eterna

    difcil saber a razo pela qual as civilizaes antigas preocupavam-se tanto em construir pirmides. Vrias hipteses foram apresentadas, desde as mais ortodoxas at as mais msticas, procurando explicar esta tendncia. Os arquelogos e os egiptlogos afirmam que elas foram construdas para servir de tmulo funerrio. Tal convico deve-se ao fato de terem sido encontrados sarcfagos dentro das pirmides. Alguns pesquisadores, no entanto, que procuraram entender o pensamento dos construtores de pirmides situando-os em sua prpria poca e no sob os parmetros da sociedade moderna, encontraram motivos mais srios para a sua construo.

    Em 1950 vrios intelectuais, liderados pelo filsofo e matemtico R. A. Schwaller de Lubicz, reuniram-se em Luxor com o objetivo de levar a cabo uma pesquisa que fosse ao mesmo tempo rigorosamente cientfica e capaz de entender a mentalidade de uma cultura totalmente diferente da nossa. O resultado de suas pesquisas, demasiado extenso para sequer ser resumido aqui, chegou concluso que o Egito era uma civilizao esttica, que no obedecia ao esquema clssico dos historiadores: crescimento, apogeu e declnio, a partir de uma origem bastante primitiva, em um ciclo evolutivo ascensional. O Egito, ao contrrio, apresenta-se como uma civilizao que aparece j pronta e permanece no mesmo degrau evolutivo, bastante avanado, por dezenas de sculos. Schwaller afirmou que a sociedade egpcia era profundamente metafsica e simblica. Ele afirmou igualmente que a conscincia egpcia preocupava-se unicamente com a transformao da matria em esprito, tanto a nvel individual quanto coletivo. Ele descobriu que as inscries escritas em paredes opostas tinham significado complementar, e assim deviam ser lidas; com isto, ele revolucionou a egiptologia. Schwaller alinha-se entre os que acreditam que as dimenses da Grande Pirmide so realmente significativas (matemtica e simbolicamente). Ora, tudo isto provoca forte averso nos historiadores ortodoxos modernos. Acostumados que esto a utilizar conceitos que somente surgiram no sculo passado, tais como luta de classes, classes dominantes, predominncia dos fatores econmicos na sociedade, etc., eles tendem a interpretar as sociedades antigas desprezando fatores religiosos e outros que no os orientados sob suas perspectivas, com isto falseando suas interpretaes.

    Alm do Egito, estruturas piramidais foram tambm construdas por todo o mundo antigo, sendo que as mais enigmticas so encontradas na Amrica Central e Mxico. Os arquelogos afirmam que as pirmides do litoral setentrional do Peru foram erguidas pelos moques e tiahuanacos (ou wari-tiahuanacos), descendentes da civilizao chavin. Os moques construram as famosas pirmides gmeas La Huaca del Sol (O Templo do Sol) e La Huaca de la Luna (O Templo da Lua), que se encontram prximas moderna cidade de Trujilo. O Templo do Sol uma vasta estrutura construda em forma de terraos, nos quais calcula-se que tenham sido utilizados cerca de 130.000.000 de tijolos crus. Outra pirmide moque, o Grande Templo Piramidal de Pachamac, encontrada ao sul de Lima. Ela ocupa

  • cerca de cinco hectares e tem 23 metros de altura. Pirmides tambm foram construdas pelas antigas civilizaes tolteca, olmeca, inca, maia, azteca, entre as principais que ocuparam estas regies.

    As trs pirmides de Giz no so as nicas do Egito. Na verdade, so conhecidas mais de setenta pirmides (alguns autores dizem que h mais de cento e trinta pirmides). A arqueologia ortodoxa afirma que foi no reinado do fara Netherket (tambm conhecido por Djoser), da III dinastia, que primeiro se teve a idia de construir um tmulo em forma de pirmide. A construo da primeira delas teria sido realizada em 2651 a.C., e foi planejada e erguida pelo arquiteto Imhotep na regio de Saqqarah, baixo Egito. Ela tinha 61 metros de altura, em seis degraus, e tinha uma base de 121 por 109 metros. Em um compartimento secreto denominado serdab ficava uma esttua do fara morto, em uma posio da qual se descortinava a sala de oferendas de sua tumba. De acordo com os arquelogos Zakaria Goneim e M. J. Lauer, uma pirmide inacabada teria sido mandada construir pelo filho de Djoser, o fara Sekhem-Khet. A poucos quilmetros da regio de Saqqara encontram-se as pirmides de Dashur. Nestas pirmides as arestas possuem inclinaes ou cortes difceis de classificar, e por isto tomam nomes como arqueada, curva, romboidal ou pirmide de dupla inclinao. Existe tambm a chamada falsa pirmide de Maidum, construda pelo fara Huny, descendente de Djoser, na qual os degraus so bastante desproporcionais entre si. Tudo isto conduziu os arquelogos a conclurem que houve uma evoluo com relao forma utilizada para construir as pirmides, que atingiram o pice tcnico com a de Quops. Esta pirmide tinha inicialmente 145,75 metros de altura, dos quais restam atualmente cerca de 137 metros. A de Qufrem tem 136,60 metros, e a de Miquerinos apenas 66 metros de altura.

  • 4 A Grande Pirmide

    A Grande Pirmide de Giz, uma das denominadas Sete Maravilhas do Mundo antigo, um monumento colossal cuja origem se perde no passado remoto do Egito. Os arquelogos ortodoxos afirmam que ela foi construda durante o reinado do fara Quops (forma grega de Khufu), filho de Snofru (ou Sneferu). Por isso, conhecida tambm como Pirmide de Quops. 3

    O primeiro historiador a falar acerca desta pirmide foi o grego Herdoto. Ele afirma que ela teria sido construda por cerca de cem mil escravos, trabalhando por mais de vinte anos, cerca de 2.500 anos antes de sua prpria poca, uma poca to remota para ele quanto ele est para ns. Herdoto esteve no Egito durante o reinado do fara Artaxerxes (450 a.C.), quando viajava pelo mundo antigo conhecido. Escreveu uma extensa obra a respeito de suas viagens, em nove livros, cada um deles dedicado a uma das musas. O que escreveu acerca do Egito encontrado na obra Euterpe, dedicada musa que presidia poesia lrica. Curiosamente, os sacerdotes evitavam mencionar as pirmides de Giz (que incluem as pirmides de Qufrem Ka-F-Ra e de Miquerinos), citando-as como as pirmides do pastor Filtis, um pastor de cabras da regio. Segundo os relatos que ouviu, Quops teria sido um cruel tirano, que escravizara o povo para que construsse a pirmide, e que no teve dvidas em prostituir a prpria filha para arrecadar dinheiro para a obra. Herdoto alega que obteve estas informaes dos sacerdotes egpcios, mas no h nenhuma certeza de que estes no o teriam enganado deliberadamente. Atualmente, acumulam-se as crticas sobre este relato, vindas de arquelogos e historiadores, pois ele considerado excessivamente fantasioso.

    A idade exata da construo da Grande Pirmide continua desconhecida at os dias atuais. As especulaes apresentam datas que variam de 2700 a.C., data mais aceita pelos arquelogos e egiptlogos, at 4700 a.C. Alguns autores no hesitam em recuar tal data at um ponto to distante no passado quanto 25000 a.C. O francs Andr Pochan, um dos grandes pesquisadores atuais da Grande Pirmide, ao estudar mais profundamente o calendrio de Atotis, segundo fara egpcio (aps a unificao do Baixo e Alto Egito), colocou o reinado de Quops no perodo entre 4829 a.C. e 4766 a.C., ou seja, cerca de 2.000 anos mais antiga do que se afirma. Saber a data de sua construo, no entanto, no resolve o mistrio que cerca tanto a sua construo quanto o motivo pelo qual foi construda. De acordo com o escritor e viajante rabe Ibn-Battuta, do sculo XVI, as trs pirmides teriam sido erguidas antes do Dilvio, para que nelas ficassem salvos os livros da cincia e do conhecimento. Acredita-se que, em suas medidas, a Grande Pirmide

    3 O escritor Zecharia Sitchin, um erudito especialista em lnguas orientais antigas descobriu em 1982 que a

    inscrio (a nica inscrio em toda a pirmide) que continha o nome de Quops tinha sido falsificada. De acordo com Sitchin, o autor desta farsa foi o ingls Howard Vyse, que em 1837 fazia pesquisas dentro da pirmide. Ele teria escrito o cartucho (seguindo a grafia Ch - u - f - u) com ocre vermelho, copiando o nome escrito em um manual publicado em 1828, de autoria de John Gardner Wilkinson. Ocorre que a grafia no manual estava errada, e Vyse copiou-a com erro e tudo. Nenhum egiptlogo anterior a Sitchin foi capaz de perceber esta fraude.

  • guarda o relato de toda a histria humana, tanto passada quanto futura. Relaes matemticas entre lados, permetro e altura da pirmide revelariam constantes matemticas, as medidas do planeta e at mesmo medidas csmicas.

    Entre outras medidas, podem ser encontradas as seguintes:

    A distncia da Grande Pirmide ao centro da Terra exatamente igual sua distncia ao plo norte;

    A Grande Pirmide fica exatamente no centro da massa de terra firme da Terra; O meridiano que passa por ela divide os mares e os continentes em duas partes de

    tamanho exatamente igual; A relao entre a altura e o permetro da pirmide correspondente relao entre o

    raio e o permetro de um crculo; As trs pirmides formam entre si um tringulo semelhante ao tringulo de Pitgoras, na

    relao matemtica 3:4:5; Dividindo-se a superfcie da base da pirmide pela sua metade dupla acha-se o nmero

    = 3,1416; Multiplicando a longitude da Ante-Cmara do Rei por 3,1416 obtm-se a durao do

    ano tropical, 365,242 dias.

  • 5 O Mistrio das Pirmides

    A partir do sculo XIX, duas vertentes de interpretao acerca da Grande Pirmide comearam a tomar fora entre os egiptlogos: uma delas seguia as interpretaes de John Taylor e Piazzi Smith; a outra, em oposio, devia-se a Sir W. M. Flinders Petrie. Taylor e Smith, britnicos, afirmavam que as propores matemticas da pirmide eram propositais, e se baseavam em medidas denominadas polegada, cvado e cbito piramidal. John Taylor, em 1859, afirmou que o arquiteto da pirmide utilizou o mesmo cbito bblico utilizado na construo da arca de No, equivalente a cerca de 63 centmetros de comprimento, e que seria resultado da diviso da medida do eixo da Terra por 400.000. Piazzi Smith, que era astrnomo real da Esccia, afirmou em sua obra Our Inheritance in the Great Pyramid que era possvel encontrar na pirmide, entre outras, medidas que continham em si dados tais como a distncia entre a Terra e o Sol, a durao da precesso dos equincios e a durao da rbita da Terra entre dois equincios. Como estes dados destoam ostensivamente da cultura e tecnologia da poca, e por pertencer a uma poca que acreditava fortemente no progresso gradativo da cincia e da civilizao, Piazzi Smith afirmava que a pirmide tinha sido construda por inspirao divina.

    Desde o sculo 17, quando as dimenses da pirmide foram medidas pelo matemtico Greaves, pensava-se que as suas propores colossais pareciam ocultar um enigma, talvez at mesmo mensagens misteriosas de uma civilizao desaparecida, a qual poderia ser lida no futuro. Aps Greaves, as medidas da pirmide foram tambm determinadas pelo coronel Richard Howard-Vyse. Mas foi Piazzi Smith, com suas medidas, quem pensou ter encontrado referncias a vrias unidades inglesas da poca, tais como a polegada e o quarto, medida tradicional do trigo. Piazzi descobriu tambm que a pirmide estava situada a exatos 30 de latitude norte, um tero da distncia do equador ao plo, e estaria situada exatamente no centro do Egito e no centro de todas as terras habitveis do mundo. Para ele, somente Deus seria capaz de realizar tal tarefa, e somente Ele seria capaz de gravar na rocha uma numerologia mstica.

    Petrie no se deixou convencer por estas afirmaes. Como ele afirma em sua obra Pyramids and Temples of Gizeh, ao refazer as medidas da pirmide encontrou valores diferentes dos de Piazzi Smith. Ele tambm no acreditava que as medidas da pirmide estivessem baseadas em uma polegada primitiva e um cvado sagrado. Quando ele foi para o Egito, levou consigo um equipamento completo de teodolitos, calibres e gonimetros de alta preciso, com os quais ele pretendia realizar as medidas mais precisas que conseguisse. Com este equipamento, mediu extensamente os monumentos, cmaras e sarcfagos, repetindo exaustivamente cada medida. Para ele, a preciso com que os egpcios construram a pirmide era inaudita, e desmentia que tivessem sido utilizados instrumentos toscos e sem preciso. Apesar disso, Petrie realmente no acreditava que houvesse inspirao divina em sua construo, ou que existissem nmeros mgicos nas medidas encontradas.

  • A Grande Pirmide, ou Pirmide de Quops, foi construda utilizando cerca de 2,3 a 2,5 milhes de pedras, com um peso mdio de 2,5 toneladas (pesos de duas at mais de trinta toneladas). Tem uma altura proporcional de um edifcio de 40 andares, e seu interior no macio, contendo corredores e cmaras internas: o Corredor Ascendente, o Corredor Horizontal, o Corredor Descendente, o Poo, a Grande Galeria, a Antecmara, a Cmara do Rei e a Cmara da Rainha. Desde que foram encontrados, tais aposentos e corredores tm intrigado os pesquisadores, os quais apresentaram vrias hipteses para justific-los.

  • 6 As Pirmides e os Aspectos do Cu

    J no ano de 900 d.C. o historiador rabe Masoudi afirmou que a Grande Pirmide fora construda como um monumento capaz de conter em si todo o conhecimento antigo, tanto cientfico quanto religioso e artstico. Em 1800, Sir John Herschel, filho do descobridor do planeta Urano, Sir William Herschel, afirmou que devia existir uma correlao entre os corredores e as estrelas, que lhes serviriam de guia. Ele determinou que o Corredor Ascendente apontava para a estrela Alfa Draconis nas datas de 2170 a.C. e 3440 a.C.; como esta ltima data no se encaixava na cronologia admitida pelos historiadores, Sir John afirmou que a construo da pirmide ocorrera na data mais recente. Esta data foi aceita tambm por Piazzi Smith. Ele encontrou um outro alinhamento, rumo ao grupo das Pliades: quando a estrela Alcione, ou Eta Tauri, estava diretamente acima do vrtice da pirmide, a Estrela do Drago ficava perfeitamente alinhada com o Corredor Ascendente, 12 horas polares frente. Como esta relao ocorre somente a cada 25.827 anos, ou uma vez em cada ciclo precessional, o autor Max Toth, em sua obra Pyramid Prophecies afirma que a pirmide teria sido construda em 27997 a.C., distante exatamente um ciclo sideral de 2170 a.C., ou seja, na poca do alinhamento anterior.

    Em anos mais recentes, os autores Robert Bauval e Adrian Gilbert, na obra The Orion Mystery, expressaram a chamada Teoria da Correlao, segundo a qual as trs pirmides de Giz possuem o mesmo alinhamento que as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka, da constelao de rion.4 Essa correlao com rion j tinha sido de certo modo mencionada por Virgnia Trimble e Alexander Badawy, que mostraram que os respiradouros da pirmide de Quops apontavam para esta constelao. Para Bauval, o alinhamento das trs pirmides com as trs estrelas era perfeito, no ano de 2450 a.C., o que colocaria sua construo por volta desta poca.

    4 Em 1976 a nave artificial Viking, ao atingir as proximidades do planeta Marte, colocou em rbita um

    mdulo, chamado orbiter, o qual fotografou formaes parecidas com pirmides na superfcie do planeta, em uma regio denominada Cydonia. No livro Regina, de Antonio Velasco Pina, que fala de uma mstica mexicana que morreu assassinada em 1968, afirma-se que as pirmides so estruturas geomtricas que tm por objetivo transmutar energias negativas, vindas da Lua, em energias positivas. O egiptlogo Dee Jay Nelson e o engenheiro David H. Coville escreveram o livro Life Force in the Great Pyramids, no qual afirmam que os antigos egpcios possuam profundo conhecimento da natureza da matria e da energia, principalmente da chamada energia das formas. Nos anos de 1968/1969 o ganhador do prmio Nobel de fsica, Dr. Luis Alvarez, instalou um aparato complexo de computadores e medidores de raios csmicos na pirmide, com a inteno de descobrir recintos ocultos dentro dela. O resultado da experincia pode ser resumido nas palavras do dr. Arm Gohed, que participou da experincia: ou a estrutura da pirmide era uma trapalhada, (...), ou haveria nela um mistrio incompreensvel, que pode ser chamado de ocultismo, maldio do fara, feitio, magia, o que seja!.

  • 7 As Profecias das Pirmides

    Em 1865, Robert Menzies formulou a hiptese segundo a qual os corredores e cmaras da pirmide representariam a cronologia da histria e conteriam profecias para o futuro. Para ele, a Grande Galeria representaria a Era Crist, de acordo com uma escala cronolgica cuja medida teria relao com o dimetro polar da Terra e que teria incio com o nascimento de Jesus. Outros estudiosos situam este comeo no ano da crucificao e ressurreio, ou primeiro ano de Pentecostes. Menzies afirmou que a entrada da primeira passagem baixa em direo Antecmara representava a poca das grandes atribulaes previstas nas Escrituras. Muito antes de Menzies, no entanto, j se pensava existir uma relao entre a Grande Pirmide e a Bblia. Pensa-se inclusive que Isaas faa referncia pirmide, em Isaas, 19,19: Naquele dia haver um altar do Senhor no meio da terra do Egito, e um monumento ao Senhor perto da sua fronteira.

    O Dr. W. Aldersmith, que prosseguiu os trabalhos de Piazzi Smith, admitiu como incio dessa era o ano da crucificao, mas tanto ele quanto Menzies e Smith adotaram como final da Grande Galeria uma coordenada perpendicular, ao invs de uma coordenada vertical. Isto, entretanto, leva ao clculo errado (1913) do ano de incio da Primeira Guerra Mundial. Georges Barbarin, no livro El Secreto de la Pirmide, diz que a linha cronolgica das profecias situa-se no prolongamento do segmento de reta constitudo pelo piso do Corredor Ascendente at encontrar o ponto do segmento representado pelo revestimento da face norte da pirmide. O vrtice resultante situa-se a 6.000 polegadas da pirmide do trmino do segmento, no centro da Antecmara anterior Cmara do Rei. Cada uma destas polegadas corresponderia, ento, a um ano desta cronologia, e representariam todos os fatos histricos relativos humanidade admica, sendo que as pocas mais notveis teriam sempre uma representao estrutural marcante. Outros fatos estariam figurados em intersees de linhas no teto e no piso, nos corredores e nas cmaras, em intersees e cruzamentos, etc. Na obra Great Pyramid Passages, os autores John e Morton Edgar descrevem o que acreditam ser o simbolismo interno da Grande Pirmide: o Corredor Descendente significa o mundo em seu caminho para a destruio, simbolizada pelo Poo (Geena); o Corredor Ascendente simboliza tanto a Providncia da Lei dos Israelitas (que teria tido incio em 1615 a.C. e terminado em 33 d.C.), quanto a possibilidade de redeno ao ser humano; o Corredor Horizontal, que conduz Cmara da Rainha, simboliza a vida no plano da perfeio humana, sendo que a Cmara da Rainha simboliza os planos superiores de vida; a Grande Galeria anuncia o advento do Salvador; a Cmara do Rei simboliza a imortalidade, herana natural de quem atender ao convite divino; a Antecmara que leva Cmara do Rei representa a Escola de Cristo, para os que ouvem o chamado e so por Ele aceitos; a Grande Galeria, a Antecmara e a Cmara do Rei simbolizam o mais alto plano de realizao espiritual. Os corredores e cmaras simbolizariam, ento, o progresso da alma em seu caminho pela vida terrena. Os caminhos para baixo, para leste ou para a esquerda significariam a degenerao espiritual, a descida da alma para o inferno, e os caminhos para cima, para oeste ou para a direita, simbolizariam o esclarecimento e a imortalidade.

  • Muitos autores acreditam que existe uma relao entre as profecias inscritas na pirmide e as profecias da Bblia, principalmente as dos profetas do Antigo Testamento. impossvel afirmar ou negar que exista esta relao, porque ambas so obscuras e difceis de interpretar. Os exegetas da Bblia e os estudiosos da pirmide muitas vezes tentam forar interpretaes no sentido de suas prprias crenas, o que, muitas vezes, s leva ao ceticismo geral. Nem por isto, entretanto, eles desistem de apresentar as suas concluses.

    Em sua extensa obra The Great Pyramid Decoded, o autor Peter Lemesurier apresenta um resumo cronolgico dos fatos acontecidos e a acontecerem, apontados pela Grande Pirmide. Lemesurier apresenta uma cronologia que, segundo sua prpria interpretao, bastante vivel. Para ele, a cronologia da pirmide tem incio no ano de 2663 a.C., ano no qual ela teria sido construda. Um resumo desta cronologia apresentado a seguir:

    1977 a 2004 Colapso e declnio parcial da civilizao

    1985 Influncias espirituais comeam a se irradiar

    1999 Estabelecimento do reinado do esprito

    2004 a 2025 Colapso da civilizao materialista

    2034 Comeam a surgir os sinais do Messias

    2039 Encarnao do Messias

    2075 Incio de uma era de grande prosperidade

    3989 Fuga humana para os planos espirituais [arrebatamento?]

    O estudioso da pirmide Adam Rutherford, fundador do Instituto de Piramidologia em Londres, em 1940, escreveu uma extensa obra em cinco volumes acerca da Grande Pirmide, na qual ele procurou apresentar todos os aspectos do conhecimento que estariam nela encerrados conhecimentos cientficos, profticos e religiosos. De acordo com suas

  • interpretaes, as previses acerca do futuro falam a respeito de modificaes do clima, cataclismos, terremotos e de outros fenmenos naturais que viro atingir os pases e que podero trazer devastaes, destruio e morte em alta escala.

    Vrios autores tambm afirmam que, de acordo com as profecias contidas na Grande Pirmide, por volta do final do milnio haver um desvio do eixo da Terra, ou ento que um grande corpo celeste ir se chocar com o planeta. Em qualquer caso, afirmam, uma grande parte da populao ir perecer, e os sobreviventes faro parte de uma sociedade mais equilibrada, justa e espiritualmente orientada, tudo isto conforme as palavras do profeta: E vi um novo cu e uma nova terra, porque o primeiro cu e a primeira terra tinham desaparecido; o mar j no existia (Apocalipse, 21,1).

  • PARTE III - DAS VISES DO PASSADO S VISES DO FUTURO

    8 Abrao e Melquisedec: da Antiga Nova Ordem

    O primeiro e o mais importante dos profetas do Antigo Testamento Abrao, que fez uma aliana do Deus: Naquele dia, fez o Senhor uma aliana com Abrao, dizendo: Darei tua descendncia esta terra, que vai do rio do Egito at o grande rio Eufrates (Gnesis, 15, 18). Foi ele quem fez a primeira profecia, aquela capaz de unir seu povo e prometer aos seus descendentes uma terra frtil e prspera (Cana); foi ele tambm que iniciou a grande corrente de profetas bblicos: Isaas, Jeremias, Ezequiel e Daniel, chamados de profetas maiores, e Osias, Joel, Ams, Abdias, Jonas, Miquias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, chamados de profetas menores (alguns exegetas afirmam que no correto pensar que todas as profecias destes profetas antigos faam referncia unicamente aos tempos anteriores a Cristo; muitas profecias fariam referncias a tempos futuros, que incluem os tempos modernos e contemporneos).

    Abrao,5 profeta to distante no passado que difcil separar a figura humana da figura lendria, nascido Abro, teve seu nome mudado por Deus. Alguns exegetas relatam o fato ligando-o a uma possvel iniciao religiosa nos mistrios de Deus, que Abrao teria recebido. sintomtico que Abrao esteja ligado ao episdio das cidades de Sodoma e Gomorra, cidades destrudas em razo de sua impiedade e degenerao. Neste caso, foi como que um fim de mundo para elas e para os seus habitantes, exceto para Lot e sua famlia (incidentalmente, a histria destas cidades seria como que uma alegoria para aqueles tempos de atribulao e salvao que se dizem inscritos na Grande Pirmide). tambm sintomtico o episdio no qual se menciona o sacrifcio do filho de Abrao, Isaac, que foi substitudo por um cordeiro. Este episdio pode, de certa maneira, ser entendido como uma transio simblica universal, ou uma iniciao universal, na qual o sacrifcio humano, devido aos deuses antigos, foi substitudo pelo sacrifcio de animais. Tal sacrifcio, denominado sacrifcio propiciatrio, ou sacrifcio regenerador, estava disseminado por todas as civilizaes mais arcaicas, que viam nela uma forma de manter a continuidade do mundo, mais do que uma forma de obter poder mundano pelo sacrifcio de inimigos derrotados. Mesmo em civilizaes to recentes quanto as civilizaes centro-americanas, este sacrifcio era assim entendido.

    5 A Abrao, o primeiro patriarca do povo hebreu, foi prometido por Deus que ele teria uma descendncia to

    numerosa quanto a quantidade de estrelas no cu e os gros de areia do mar. Abrao, Abraham, Ab-raham. Este nome hebraico simboliza a fecundidade, a gerao, o amor e o sexo, conforme se pode ver da sua origem etimolgica, RAHAM: seio, entranhas, ventre, matriz, sexo. Tambm RAHAMM: interior visceral, corao, amor, misericrdia (Veja-se: Rmulo Cndido de Souza, Palavra, Parbola, Editora Santurio, 1990).

  • Abrao tambm est ligado ao mais misterioso e enigmtico personagem bblico, Melquisedec, do qual se dizia ser rei de Salm e sacerdote do Deus altssimo. Abrao foi abenoado por Melquisedec e deu-lhe os dzimos devidos, conforme se v em Hebreus, 7, 1. A Abrao foi anunciada a nova ordem de sacerdcio, segundo Melquisedec, porque o antigo sacerdcio levtico segundo Aaro, que era baseado na carne ao invs do esprito, no conduziu consumao (Hebreus, 7, 11-19).

    Quando intimado a sacrificar o seu filho, Abrao no hesita nem um momento; mas antes de levar o cabo este ato, ele ouve do Anjo do Senhor: Abrao, Abrao! No deixes cair tua mo sobre a criana, nem lhe faa mal. Agora, eu sei que temes a Deus, a quem no recusastes o teu filho nico (Gnesis, 22, 11-12). possvel que a antiga ordem de sacerdcio, baseada na carne, conduzisse aos sacrifcios humanos, os quais, acreditava-se, deleitavam aos deuses. possvel, tambm, que as iniqidades humanas que teriam conduzido destruio do mundo pelo dilvio poderiam tanto estar baseadas nestas prticas sacrificiais quanto na degenerao dos costumes. Nos cultos caldeus e cananeus, entre outros, era comum o sacrifcio dos recm-nascidos; Jeremias combateu um costume comum entre os seus contemporneos hebreus, o de sacrificar crianas a Moloc. Para Abrao, portanto, o sacrifcio de seu varo no seria algo inaudito ou inconcebvel. Por isto, devido sua total confiana e submisso ao Senhor, o Anjo segura o seu brao e impede-o de consumar o sacrifcio. Tal como num rito de passagem, Abrao, pelos seus atos e em sua prpria pessoa, torna-se o arauto de uma nova era. Na colina de Moriah, ele ergueu um templo em honra ao Eterno. Foi nesta colina que Davi viria para implorar por um corao puro, e onde Jesus Cristo viria tambm para, com seu sacrifcio, renovar a aliana, selando-a com o seu sangue. E, de fato, Abrao (Ibrahim, para os rabes) quem inicia a linhagem real (de reis ungidos) que, passando por Davi, leva at Jesus Cristo (Mateus, 1, 1-16; Lucas, 3, 23-38; Marcos, 12, 35).6

    6 A presena de Deus, na lngua hebraica, expressa-se por diversas palavras: Shekinh, Fanuel, Kabd

    Iahvh, Imrh Iahvh. Reis, profetas e sacerdotes deviam ser ungidos com leo, para marcar esta presena divina, ou a manifestao da Teofania. A uno com leo, um gesto ritual, era designada pela palavra Mashash, que significa untar, massagear; designava-se por Meshiah aquele que fora ungido. A palavra grega correspondente Christs. De Meshiah deriva-se a palavra Messias, da o evangelista colocar na boca de Jesus: Eu sou o Messias, eu sou Betel, eu sou o Ungido, eu sou a Shekinh (Rmulo de Souza, obra citada).

  • 9 As Profecias de Daniel

    Daniel, um profeta maior, foi um profeta que pde ver o desenrolar da histria em um perodo de 2.500 anos. Em suas previses, ele avana at o que seria o fim do mundo. Nos captulos 7 e 8 da Profecia de Daniel, onde analisa o sonho do rei Nabucodonosor, da Babilnia, ele bastante minucioso em suas previses, e at apresenta uma data para tais acontecimentos: (...) at quando ser calcado aos ps o santurio e a fortaleza? E ele respondeu-lhe: At dois mil e trezentos dias; e depois o santurio ser purificado (Daniel, 8, 13-14). Tambm o captulo 9 apresenta nmeros representativos da poca nas quais se daro tais eventos: Setenta semanas foram fixadas sobre o teu povo e sobre tua cidade santa, para fazer cessar a transgresso e dar fim aos pecados, para expiar a iniqidade e instaurar uma justia eterna, para que as vises e profecias se cumpram e para que o santo dos santos seja ungido (Daniel, 9, 24). Os versculos seguintes colocam em maiores detalhes esta extenso de tempo. Nos captulos 11 e 12, Daniel menciona a vinda de um grande Prncipe, Micael, que vir para conduzir vida eterna aqueles inscritos no Livro da Vida [entre os que vivem e os que dormem] e lanar ao horror eterno e ao oprbrio aqueles que cometeram abominao. Outros perodos so mencionados em 12, 6-13: (...) a partir do momento da abolio do sacrifcio perptuo e da instalao da abominao, haver mil duzentos e noventa dias. Bem aventurado aquele que perseverar por mil trezentos e trinta e cinco dias. Quanto a ti, busca o teu repouso. Depois, te levantars para receber a tua parte, no fim dos dias (em Ezequiel, 4, 6, e Nmeros, 14, 34, existem menes correspondncia entre dia e ano, ou seja, um ano para cada dia).

    O livro Profecia de Daniel prdigo em vises e mensagens a respeito do futuro. O captulo 2 apresenta a histria do rei Nabucodonosor, da Babilnia com relao a um sonho notvel que teve. Ao acordar, ele no conseguiu se lembrar dos detalhes do sonho, por mais esforos que fizesse. Ele ficou bastante impressionado com isto e resolveu que iria tentar descobrir qual fora o contedo de seu sonho. Convocou ento sbios, adivinhos, magos e astrlogos (caldeus) do seu reino, para que pudessem dizer-lhe sobre o que tinha sonhado. Mas eles no conseguiram faz-lo, o que deixou o rei bastante enfurecido, e por isto ameaou-os: Se no me declarardes o sonho e o seu significado, morrereis todos, e suas casas sero confiscadas (Daniel, 2, 5). Em seguida, expediu um decreto ordenando o extermnio de todos os adivinhos da Babilnia. Daniel, junto com seus companheiros, tambm seria atingido por este decreto, e os soldados j os procuravam. Daniel foi informado por Arioc, general do rei, acerca do que acontecia. Inteirado dos fatos, apresentou-se ento ao rei, suplicando que concedesse um prazo para que ele pudesse decifrar o sonho. Naquela noite Daniel implorou a misericrdia de Deus, para que ele e os seus companheiros, Ananias, Misael e Azarias no fossem mortos. Nesta mesma noite, em sonhos, Daniel recebeu uma viso que explicava o sonho do rei. Apresentou-se ento a ele e falou: Os sbios, os magos e os adivinhos no podem explicar ao rei o mistrio de seu sonho. Mas h no cu um Deus que revela os mistrios, o qual mostrou, rei, o que haver de acontecer nos ltimos tempos (Daniel 2, 27-28). Daniel, em seguida, passou a descrever o contedo do sonho: Estavas, rei, em tua cama, e comeastes a pensar sobre o que haveria de acontecer nos tempos que viriam. Aquele que revela os mistrios te fez saber as

  • coisas que haveriam de vir (Daniel, 2, 29). Continuando, disse que o rei havia visto uma grande e magnfica esttua, cuja cabea era de ouro; o peito e os braos eram de prata; o ventre e os quadris eram de bronze; as pernas de ferro; os ps eram parte de ferro e parte de barro. Disse ainda que, enquanto o rei estava a contempl-la, uma pedra desprendeu-se de um monte, sem interveno humana, e veio ferir a esttua em seus ps, fazendo toda a esttua em pedaos. Ao mesmo tempo a pedra tornou-se um grande monte, o qual encheu toda a Terra. Aps contar sobre o sonho, Daniel passou a interpret-lo. Disse que a cabea de ouro significava o imprio babilnico (em Isaas, 13, 19, encontra-se: Essa Babilnia, gloriosa entre os reinos, orgulho dos Caldeus, ser destruda do mesmo modo que o Senhor destruiu Sodoma e Gomorra), no auge de sua glria. Depois deste reino, viria outro, inferior em glria, simbolizado pelo peito e braos de prata. Em seguida, viria outro reino, de bronze, que teria domnio sobre toda a terra conhecida. O quarto reino seria de ferro, ou seja, teria um frreo domnio sobre os povos. Por ltimo, os reinos de ferro e barro seriam reinos divididos, ao mesmo tempo fortes e frgeis, cuja unio seria difcil.

    H um consenso entre os intrpretes e exegetas bblicos a respeito de todos estes reinos citados por Daniel. O segundo reino, de prata, seria o reino medo-persa. Ciro, rei deste imprio, conquistou a Babilnia em 538 a.C. Embora se tornasse maior em extenso que o babilnico, o imprio medo-persa era-lhe contudo inferior em magnificncia, riquezas e cincias. por isto que era simbolizado pela prata, que inferior ao ouro. O terceiro reino, de bronze, representa o imprio de Alexandre Magno, que instaurou a fase helenstica da histria grega. Ele derrotou os persas em 331 a.C. Conquistou tambm toda a sia Menor, a Fencia, o Egito, a Palestina e a Mesopotmia, sendo que seus exrcitos chegaram at a ndia. O quarto reino, que se dizia que era forte como o ferro, foi o imprio romano. Em 168 a.C., aps a batalha de Pidna, os romanos atingiram a supremacia militar. Aps sculos de domnio, Roma, que dominou da frica Inglaterra e da Espanha Prsia tambm sucumbiu, desta vez aos povos brbaros do norte da Europa. Entre os anos de 351 e 476 d.C., vrios reinos surgiram a partir de tais invases: os germanos ou alamanes na Alemanha, os francos na Frana, os visigodos na Espanha, os burgundos na Sua, os suevos em Portugal, os lombardos na Itlia, os anglo-saxes na Inglaterra, e os hrulos, os vndalos e os ostrogodos. Com exceo dos trs ltimos, que foram destrudos entre 493 e 538 d.C., os outros sete reinos formaram as atuais naes da Europa ( evidente que estes foram apenas os principais invasores. Os brbaros encontraram outros povos nas terras invadidas, e juntos, tornaram-se os antepassados dos povos atuais). Algum tempo depois Daniel teve outro sonho, que complementava o sonho que interpretara para o rei. Neste sonho, aparecerem-lhe quatro animais simblicos: um leo com asas de guia; um urso com trs costelas entre os dentes; um leopardo com quatro asas e quatro cabeas; um animal terrvel e muito forte, com dez chifres e dentes de ferro, que devorava e fazia em pedaos as suas vtimas; no meio de sua viso, trs chifres caram da cabea deste ltimo animal (Daniel, 7, 1-7).

    Em linhas gerais, a interpretao para o simbolismo destes animais a mesma. O caso do animal de chifres e dentes de ferro que vai nos interessar mais de perto. Admite-se que os dez chifres representem as dez naes europias. Alis, o ponto mais misterioso da profecia de Daniel refere-se exatamente a estas dez naes (que no formam,

  • necessariamente, apenas dez estados). Daniel diz explicitamente a respeito destes reinos: No tempo, porm, daqueles reinos, o Deus do cu criar um reino que jamais ser destrudo, e este reino no ser conquistado por outros povos; antes os derrotar, e subsistir para sempre (Daniel, 2, 44). Daniel faz uma referncia estranha no captulo 7: Eu estava em minhas vises noturnas, quando veio o Filho do Homem em meio s nuvens do cu; chegou ao Ancio dos Dias, apresentando-se a ele. E ele deu-lhe o poder, a honra e a glria, e todos os povo e naes de todos idiomas o serviram; o seu poder eterno, e jamais lhe ser tirado, e o seu reino jamais ser destrudo (Daniel, 7, 13-14).7

    As profecias de Daniel, ou as profecias que lhe so atribudas, que, como se viu, avanam nos sculos, possuem grande relevncia. Mais do que profecias religiosas, elas mapeiam e balizam os acontecimentos futuros, em uma extenso inaudita. Sua importncia extrema, para os dias atuais. Mas a par delas, algo do que est escrito no Apocalipse deve ser conhecido, para possibilitar o entendimento do que ser exposto mais frente.

    7 A moderna crtica exegtica procurou demonstrar que o livro bblico atribudo a Daniel uma composio

    apcrifa feita no reinado de Antiochus Epiphane, tendo sofrido posteriormente revises e acrscimos em sua verso grega. Essa opinio seria corroborada pelo fato de existirem palavras gregas no texto caldeu (A critical and historical introduction to the canonical scriptures of the Old Testament, L. de Wette).

  • 10 As Representaes Celestes do Apocalipse

    O Livro do Apocalipse (tambm chamado de Livro das Revelaes, ou Revelao de Jesus Cristo) de Joo igualmente prdigo em alegorias e simbolismos referentes ao final dos tempos, ou Dia do Juzo. O Apocalipse uma carta s sete igrejas, com o contedo dividido em trs partes. Nas segunda e terceira partes so apresentadas as coisas que iro acontecer antes e durante a consumao na hora do juzo, nos sete selos, nas sete trombetas e nos sete sinais no cu e na terra, na apresentao do Filho do Homem com seis anjos, e no derramamento da clera divina. Dentre os livros profticos, no h outro to hermtico e sibilino quanto este, que vem recebendo interpretaes diversas por cada um que se debrua para estud-lo. Talvez sua passagem mais famosa seja a que menciona novos cus e novas terras (21, 1), que encontra concordncia em Isaas, 65, 17: Porque irei criar cus novos e uma terra nova, e no persistiro na memria as antigas calamidades, nem retornaro ao esprito.

    O Apocalipse foi escrito no mesmo estilo que o livro de Daniel, do qual parece continuar alguns temas. Apresenta uma profecia completa, qual segue-se a sua interpretao. Como se viu atrs, constitudo de sete selos, os sete selos que foram selados no livro de Daniel. O Cordeiro8 quebra os sete selos, um de cada vez. Nos primeiros quatro, de cada vez surge um cavaleiro montando um cavalo de cor sempre diferente. O tempo do stimo selo subdivide-se em sete partes, quando sete trombetas soam sucessivamente aps um silncio de meia hora. De acordo com certas interpretaes, as primeiras quatro trombetas anunciam a queda do imprio romano do Ocidente; a quinta e a sexta trombeta anunciam o fim do imprio romano do Oriente; a ltima trombeta anuncia o fim dos reinos da terra e o incio de uma nova era.

    As vrias vises fantsticas encontradas no Apocalipse apresentam temas da mitologia astral de modo bastante sistemtico. No captulo 12 do Apocalipse encontra-se o seguinte: A seguir apareceu no cu um grande sinal: uma mulher envolvida pelo Sol, com a Lua a seus ps e uma coroa com doze estrelas na cabea; ela est grvida e sofre com as dores do parto. Viu-se ento outro sinal no cu: um grande drago cor de fogo com sete cabeas, dez chifres e um diadema em cada cabea. A sua cauda arrasta um tero das estrelas do cu, precipitando-as sobre a terra. O drago pra em frente mulher que vai dar luz, preparando-se para devorar o filho que vai nascer [compare-se ao tema de Apolo e o drago]. E ela d luz um filho varo, o qual havia de reger todas as gentes com mo de ferro; o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono e a mulher foge para o deserto, onde tinha um retiro que Deus lhe preparou, para ser sustentada por mil, duzentos e sessenta dias. E aconteceu uma grande batalha no cu: Miguel [Micael, tambm So Jorge, tambm Apolo] e os seus anjos lutaram contra o drago e os seus anjos rebeldes, mas estes no prevaleceram, e perderam seu lugar no cu. E aquele drago, a antiga serpente foi precipitada na terra, juntamente com os seus anjo

    8 H uma passagem no Apocalipse que afirma que o livro dos sete selos s pode ser aberto pelo leo da tribo

    de Jud, a estirpe de Davi, aquele heri (ou o Cordeiro sacrificial, aquele que se sacrifica pela humanidade) que venceu de maneira a poder abrir o livro e desatar os sete selos (Apocalipse, 5, 5)

  • (Apocalipse, 12, 1-9). O drago, depois que foi precipitado na terra, perseguiu a mulher que havia dado luz um filho varo; mas foram dadas duas asas de guia mulher, para que voasse para o seu retiro no deserto, onde sustentada por um tempo, por tempos e por metade de um tempo, longe da presena da serpente (Apocalipse, 12, 13-14).

    De acordo com os autores Boll e Lehman-Nitsche, citados por Richard Hennig no livro Os Grandes Enigmas do Universo, a interpretao de tais textos passa necessariamente pela interpretao das constelaes do cu, segundo os mitos antigos. A mulher envolta pelo Sol a constelao da Virgem, posio onde se encontra o Sol nos meses de setembro e outubro. O drago, que aguarda o nascimento da criana, a constelao do Escorpio, que est colocada aos ps da constelao da Virgem. Como a atual constelao de Libra (Balana) antigamente fazia parte da constelao do Escorpio, era como se representasse os ferres do escorpio estendidos para a frente. O signo de Libra foi agregado ao zodaco pelos antigos babilnios; os gregos s tiveram conhecimento dele no ano de 237 a.C. Alm do mais, os babilnios chamavam chifres aos ferres ou pinas do Escorpio. O drago da cor de fogo representado pela estrela Antares, da constelao de Escorpio, que apresenta uma cor avermelhada semelhana do planeta Marte. E a cauda do Escorpio est em uma regio do cu que pobre em estrelas, indicando assim porque a sua cauda varre um tero das estrelas do cu. As asas de guia dadas mulher para fugir do drago, esto representadas pela constelao da guia, onde est a estrela Altair. Quanto ao combate entre o arcanjo Miguel e o drago, esto representadas pelas constelaes de rion e Escorpio, constelaes que jamais esto simultaneamente no horizonte: quando uma nasce, a outra se pe, como se houvesse uma contenda entre elas. rion corresponde ao arcanjo Miguel, nas Escrituras, e a mitologia o apresenta como um guerreiro ou um caador, sempre em luta, ora com o Escorpio, ora com a Ursa Maior, ora com a Baleia, ora com as Pliades.

    extraordinrio constatar que os povos antigos, mesmo separados por grandes distncias ou mesmo por pocas, davam praticamente os mesmos nomes s mesmas constelaes. Desde a antiga Sumria que as constelaes esto catalogadas em nmero de 88, o que se mantm at a atualidade. A astronomia atual jamais viu necessidade de mudar esta catalogao antiga, mesmo porque ela serve de subsdio a pesquisas histricas e arqueolgicas. A mitologia dos povos antigos est povoada de referncias s constelaes, onde os acontecimentos puramente terrestres se mesclam aos acontecimentos csmicos, explicando-os ou sendo explicados por eles. S para dar um exemplo, Ovdio, em As Metamorfoses, conta a respeito do mito de Faetonte, que pediu a Apolo para conduzir as rdeas do carro divino conduzido pelo Sol. Ao no conseguir controlar o carro, o Sol aproximou-se demais da Terra, pelo que Zeus teve que intervir, fulminando-o e precipitando-o na foz do rio Eridan. No se pode negar que este mito tem clara motivao csmica, apresentando em uma forte descrio de inspirao mitolgica a aproximao de um cometa ou a queda de um grande meteorito ao solo. Mesmo a cincia atual usa extensamente as descries do mundo e do universo deixadas pelos antigos. O zodaco, ainda que ligado astrologia, usado pela astronomia descritiva para descrever o movimento dos astros. A passagem das idades, que se realiza pela transio do ponto vernal (o ponto vernal, ou equincio da primavera, o ponto onde o Sol passa do

  • hemisfrio sul para o hemisfrio norte) aceita sem problemas por qualquer astrnomo. Dizer que estamos fazendo uma transio de idades, saindo do ciclo de Peixes e entrando no ciclo de Aqurio, aceito sem reservas pelos cientistas. Eles somente no aceitam as implicaes que os antigos afirmavam a respeito destas passagens de ciclo.

  • 11 Da Virgem Celeste Virgem Terrestre

    A transio do ponto vernal atravs das idades conduz sucessivamente de um a outro ciclo, segundo as constelaes do zodaco. Cada idade, ciclo ou era tem a durao aproximada de 2.160 anos, em mdia, sendo sua durao exata desconhecida, em razo do no conhecimento exato da durao da precesso dos equincios (cerca de 26.000 anos). A era atual, que est no fim, a era de Peixes, em razo de estar o Sol nos graus finais desta constelao zodiacal. A prxima ser a era de Aqurio, mitificada por esotricos de toda espcie. Entre 6500 a.C. e 4300 a.C. aproximadamente ocorreu a era de Gmeos. Nesta poca, o solstcio do Vero (no hemisfrio norte) acontecia no signo de Virgem, no znite da Via Lctea. Ora, interessante que o culto Rainha do Cu, ou Me Divina (que propiciava tanto a fertilidade do solo quanto a fertilidade das mulheres), era conhecido entre todos os povos mais antigos.

    A antroploga francesa Franoise dEaubonne, autora do livro As Mulheres Antes do Patriarcado, afirma que os povos do paleoltico j cultuavam a chamada Grande Deusa. Uma das mais antigas estatuetas que a representam a chamada Vnus de Laussel, do perodo Aurignaciano. Ela tomava o nome de Ishtar na Babilnia, Cibele na Frgia, Lakshmi na ndia, Tanit em Cartago, Tetlo-Inau entre os aztecas, Mamahanan entre os incas, Artemis em feso, Vnus em Roma, Afrodite na Grcia (Gea, na Grcia antiga), Ashtart em Tiro e na Fencia e sis entre os egpcios. Era a deusa padroeira de Sidon, e os barcos sidonitas levavam a sua efgie na proa. Os Mistrios de Eleusis (rituais praticados todo final de primavera na cidade grega de Elusis) faziam aluso deusa Demter, ligada fecundidade. Cada uma delas traz o mesmo smbolo, uma serpente. sis traz em sua fronte o uru, que uma coroa com uma serpente. Atena, deusa da cincia, segura nas mos uma serpente, altura do peito. Este o smbolo da sabedoria, da juventude e da vida.

    Em todos os antigos mitos religiosos so encontradas referncias a pedras negras, ou meteoritos, tambm chamadas pedras do raio. Todas elas so associadas Grande Me. A cristandade assimilou este culto das pedras negras em sua venerao das Virgens Negras, dos quais os santurios mais famosos so os existentes em Chartres, Vichy, Marselha, Quimper e Le Puy, na Frana, e o de Czestochowa, na Polnia. A Virgem Negra de Chartres era tambm chamada de Virgem dos Druidas. O culto cristo de Nossa Senhora, ou culto da madona, parte deste antiqussimo culto,9 at hoje fortemente presente na crena religiosa e nos costumes dos povos cristos (o bolo de casamento, p. ex., um resqucio deste culto da fertilidade; atirar arroz aos noivos outro). No judasmo mais antigo persistia o culto deusa canania Mriam ou Rabath (o verdadeiro nome de Maria, incidentalmente, era Mriam), introduzido durante o reinado de Menasseh, av de

    9 No ano de 204 a.C. existia na regio de Pessinonte (atual Ankara) uma pedra negra de origem meterica,

    que se acreditava ser o smbolo da Grande Deusa. Nesta poca, os romanos viviam atormentados por ms colheitas, de um lado, e pelo general cartagins Anbal, de outro, que os atacava constantemente. Neste ano eles pediram ao rei Attalo I, aliado da repblica romana, que os deixasse carregar para Roma a pedra negra. Autorizados para isto, eles a levaram para o templo da deusa da vitria, no monte Palatino. Em pouco tempo as colheitas melhoraram e Anbal teve de deixar a Itlia. Em honra deusa Cibele, que a pedra negra representava, foram institudos os jogos megalsios, realizados entre 4 e 10 de abril, todo ano.

  • Jehoiakim (este, tambm chamado Eliakim). Charles Francis Potter (The History of Religion) afirma que os hebreus a chamavam de Ashtoreth e diz que o prprio Salomo chegou a vener-la, tendo-lhe construdo uma eminncia no Monte das Oliveiras. O profeta Jeremias, afirma-se, execrava tal culto.

    *

    A principal e a mais brilhante estrela da constelao de Virgem Spica, cujo nome deriva de sua representao no panteo babilnio como deusa das colheitas, cuja figura segura uma espiga (ou feixe de espigas) de trigo nas mos. Tambm no zodaco o signo de Virgem muitas vezes representado por uma figura assim. Esta rainha do cu sempre representada como me de um salvador divino, sem perder sua condio virginal, tal como no cristianismo. A celebrao da Natividade e da Assuno de Nossa Senhora, curiosamente, ocorrem nas datas respectivas do nascimento e ocaso helacos da estrela Spica, ou seja, em 8 de setembro e em 15 de agosto. O culto de Nossa Senhora praticado nos pases catlicos, mesmo que a Igreja Catlica hesite em reconhec-lo, sofreu forte influncia do culto de sis, praticado no Egito antigo. O dia da Assuno, que foi fixado pelo imperador bizantino Maurcio em 582 d.C. e adotado pela Igreja, j figurava no entanto h duzentos anos no Calendarium Romanae Ecclesiae.

    O culto a sis,10 que era muito difundido na regio do Mediterrneo, aos poucos foi se confundindo com o culto a Maria, cristo, que de incio era quase inexistente. Plutarco afirma que sis tinha uma irm, Nephtys; enquanto sis representava a luz da Criao, Nephtys representaria a escurido. Os egpcios identificavam Srius (Sothis) a sis; j a Ishtar babilnica parece que era identificada com Vnus, a Rainha do Cu.

    Encontram-se catedrais dedicadas a Nossa Senhora em treze cidades francesas (Amiens, Bayeux, Beauvais, Chartres, Epinal, Evreux, Laon, Noyon, Paris, Reims, Senlis, Ses e Soisson). Embora todas elas sejam grandiosas, a mais famosa a catedral de Notre-Dame de Paris, que foi construda de 1163 a 1330 (incidentalmente, existe nesta um zodaco no qual, no stimo signo, est a figura de uma Virgem com uma criana no colo). A cidade, entretanto, dedicada a sis (Paris - por sis). Paris (cujo ponto ascendente, segundo a astrologia, est em 15 de Virgem) est situada na confluncia de antigas correntes telricas que tornavam sagrado o seu solo, e onde os romanos j tinham, h muito tempo, construdo um templo em honra a Jpiter.

    10 O escritor romano Apuleio escreveu a respeito dos mistrios de sis. Eles eram celebrados no lago do

    templo de Sas, em uma representao dramtica de um mito. Na celebrao, ela aparecia vestida de luto, procura dos pedaos de seu esposo Osris, que tinha sido assassinado e seus restos lanados s guas do rio Nilo. Ele diz que defronte ao seu templo, estava escrito: Eu sou o que foi, , e ser. Nenhum mortal conseguiu ainda levantar o meu vu. Apuleio pe a deusa falando de si: Eis-me aqui, a me da Natureza, a senhora de todos os elementos, a criadora do tempo, que concentra em si tudo que h de divino, a primeira entre os deuses. O mundo inteiro me venera sob diversas formas, por diversos cultos e sob diversos nomes. Os frgios me chamam de Grande-Me; os atenienses, de Minerva; os cipriotas, de Vnus... Os egpcios, que possuem a sabedoria mais antiga, rendem-me homenagem atravs de meu verdadeiro culto, e chamam-me pelo meu verdadeiro nome: a rainha sis.

  • A partir do sculo XII, iniciaram-se as construes de catedrais por toda a Europa, sendo que as mais famosas foram construdas na Itlia, na Frana e na Alemanha. Somente na Frana foram levantadas mais de 80 catedrais e 500 grandes igrejas. Em cada uma delas repetia-se a linha arquitetnica que veio a ser conhecida como arquitetura gtica.

    So abundantes os smbolos astrolgicos, numerolgicos e alqumicos nas catedrais francesas, onde a arquitetura representativa do gtico, ou arte gtica (art goth ou argot). Para o escritor francs Joris-Karl Huysmans, um positivista que se converteu ao cristianismo, existe um sentido alegrico na estrutura gtica, onde a abbada representa a caridade infinita, as quatro paredes principais representam os quatro evangelistas, os vitrais deixam passar a luz (que representa a f) e barram os ventos da heresia, e os trs prticos representam a Trindade. Existem dezenas de smbolos esculpidos em pedra, por toda a catedral. Por exemplo, no painel do portal da Virgem na catedral de Notre-Dame h toda uma numerologia simblica: quatro crculos, dois do lado esquerdo e dois do lado direito; dois crculos ladeando o crculo central. Desse modo, esto representadas a unidade, o trs e o quatro, nmeros que representam, na ordem inversa, a matria (o quatro); o esprito (o trs); e Deus (a unidade). A localizao desta catedral, a mais representativa do culto Virgem, teria sido determinada por meios geomnticos.11

    Existem muitos mistrios relacionados Virgem (ou Nossa Senhora, pela tradio catlica). Basta citar, como exemplo, sua apario sistemtica por todo o mundo, das quais existem evidncias bastante slidas. As manifestaes ou aparies mais espetaculares teriam acontecido em Guadalupe, Mxico (1531); em La Salette (1846) e Lourdes (1858), na Frana; e em Ftima, Portugal (1917). Na Polnia central existe uma seita, a dos mariavitas, surgida a partir das vises msticas de Maria Frances Koslowka, em 1893. Eles dedicam forte devoo Virgem, e alm de aceitarem a ordenao de mulheres, permitem casamentos msticos entre os sacerdotes.

    11 De acordo com certas tradies celtas e druidas, a Terra atravessada por certas linhas, chamadas leys. Na

    China estas linhas so chamadas de lung-mei, ou caminhos do drago, e a sua determinao feita por pessoas chamadas geomantes, que se valem da antiga arte do fung-shui. O cruzamento destas linhas determinaria os locais mais propcios construo de casas, cidades e at mesmo de igrejas ou catedrais. Nos monumentos megalticos, por exemplo, os menires seriam lugares de alta intensidade magntica. Alm disso, os monumentos em geral (Stonehenge, Iona, Lindisfarne, Cluny Hill, etc.) estariam alinhados entre si, seguindo linha retas (o pesquisador francs Amime Michel afirmou que os supostos avistamentos de OVNIs Objetos Voadores No Identificados acontecem seguindo linhas retas que se cruzam entre si, linhas que ele denominou ortotenias). Alguns pesquisadores chegam a afirmar que, assim como as pirmides, vrios monumentos antigos teriam sido construdos como profecias escritas em pedra, em cuja arquitetura seria possvel ler tudo o que h de vir. A Abadia de Glastonbury e as catedrais europias estariam includas nesta condio.

  • Em antigos manuscritos, o nome da Virgem escrito Maia, e no Maria. Maia era a me de Hermes, na mitologia grega, e tambm o nome da me de Buda. Em snscrito, Maia significa vu da matria ou iluso.

  • 12 De Daniel a Joo - A Viso do Apocalipse

    Vrios pesquisadores e estudiosos buscaram interpretar o Apocalipse. Mesmo Isaac Newton, a par de suas preocupaes com a fsica e a matemtica, debruou-se extensamente sobre esse texto bblico, mas no conseguiu decifr-lo. O Apocalipse, como livro bblico, veio a substituir o Livro de Enoc aps os trs primeiros sculos do catolicismo.

    Uma das referncias mais conhecidas do texto o que diz respeito ao Armageddon, que seria a batalha final do Dia do Juzo. Armageddon era o nome de uma cidade (que recuperou o nome original), Megiddo. Esta cidade ficava no planalto de Esdraelon. No ano de 621 a.C. o livro chamado Deuteronmio, que significa Segunda Lei, foi encontrado no Templo, quando se faziam algumas reformas. Este