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Surpresa! Vocês estão presas!
Por
Gustavo Pia
CENA 1. PRAIA. EXT. NOITE
Flávia observa o mar, as ondas. Ouve-se o barulho dele. Olha
para o céu, observa a lua.
FLÁVIA
Lua, que linda está hoje. Eu queria
te pedir para proteger o meu amor/
Chega Ana por trás da filha.
ANA
Flávia, minha filha, falando
sozinha?
FLÁVIA
Não, mãe. Estou aqui observando a
lua. Adoro ver o reflexo que ela
faz no mar. Tão branca, redonda...
Ah, milagrosa!
ANA
Pensando no Rodrigo?
FLÁVIA
Como sabe?
ANA
Pressentimento de mãe, nunca falha!
FLÁVIA
Cruzes!
ANA
Mas, não é tão difícil saber,
quando vemos esse brilho nos olhos
que só a paixão tem...
FLÁVIA
Mãe, ele já saiu faz dias. Foi
pescar e até agora nada.
ANA
Notícia ruim chega depressa.
FLÁVIA
Tomara! Ele há de estar bem.
ANA
Agora, vamos entrar. Porque já está
ficando tarde. E você ainda precisa
me ajudar a arrumar a cozinha.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 2.
FLÁVIA
Tá bom!
CENA 2. CASA. COZINHA. INT. NOITE.
As duas chegando à cozinha, já arrumando as louças para
guardar.
ANA
Sabe o que me preocupa?
FLÁVIA
O quê?
ANA
Pensar que Rodrigo foi para não
mais voltar. E nos deixou aqui, sem
eira nem beira. E ele, que
sustentava isso aqui. Se ele não
voltar, seremos obrigadas a
resolver essa situação sozinhas.
FLÁVIA
Ai, vira essa boca pra lá. Deixa de
ser pessimista!
ANA
Estou sendo realista.
Continuam arrumando a cozinha.
CENA 3. PRAIA. EXT. DIA
Com a bela vista. Aparece a frase: "UM MÊS DEPOIS...".
Flávia sentada contemplando o mar. Ana ao lado.
ANA
É, Flávia, o que eu pensei,
infelizmente aconteceu.
FLÁVIA
Ai, mãe! Você fica fazendo pouco do
Rodrigo...
ANA
Fazendo pouco não. É o que tudo
mostra. As contas chegaram, as
economias acabaram. O que vamos
comer? Como vamos sustentar essa
casa?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 3.
FLÁVIA
Tá, já entendi. Mas o que a gente
pode fazer?
ANA
Isso eu não sei... Só sei que
estamos num fim de mundo. Nós duas
não sabemos fazer nada. A gente
precisa sair daqui para procurar
oportunidade em qualquer lugar, mas
se continuarmos aqui. Vamos morrer
secas.
FLÁVIA
A gente tem que tentar por aqui.
Alguém que precise de faxineira ou
babá. São coisas simples e que
sabemos fazer.
ANA
Você tem razão.
CENA 4. CIDADE. PADARIA. INT. DIA.
ANA
Boa tarde, seu Joaquim.
JOAQUIM
Pois não.
ANA
O senhor, por acaso sabe se alguém
tá precisando de empregada por
aqui?
JOAQUIM
Ora pois, dona Luzia saiu daqui
ontem falando sobre empregada, eu
acho que ela precisa.
FLÁVIA
E sabe de alguém que queira babá?
JOAQUIM
Pois então, já faz tempo que não
vejo guri novo. Mas não sei.
FLÁVIA
Tá bom, onde é que dona Luzia mora?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 4.
JOAQUIM
Tem que seguir essa rua até o
final, depois vire à direita. É a
terceira casa, uma verde.
ANA
Muito obrigada. Até mais.
CENA 5. CIDADE. CASA DE LUZIA. EXT. DIA
As duas na frente da casa.
FLÁVIA
Bom, parece que é essa.
ANA
Dona Luzia!
Batem no portão, gritam.
LUZIA
Já vai!
Abre o portão.
LUZIA
Boa tarde, o que foi?
ANA
Boa tarde, eu sou Ana e esta é
minha filha, Flávia. A senhora
ainda precisa de uma faxineira?
LUZIA
Eu preciso, mas na verdade não é
para cá. Eu tô precisando uma que
possa ir para Vitória comigo.
ANA
Eu até aceitaria, mas só iria com a
minha filha junto.
LUZIA
Mas lá não posso empregar as duas.
ANA
Então, infelizmente, nada feito.
Mesmo assim, obrigada. Teria alguém
que precisasse de empregada ou babá
por aqui?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 5.
LUZIA
Não que eu saiba.
ANA
Tudo bem. Até mais e boa sorte.
CENA 6. CIDADE. PRAÇA. EXT. DIA
FLÁVIA
Ai, mãe. Já estou cansada. Já fomos
de porta em porta. E nada!
ANA
Aqui é difícil, filha.
FLÁVIA
Vamos ter que ir para a Teresina.
ANA
Com que dinheiro?
FLÁVIA
Dinheiro, a gente arruma.
ANA
Como?
FLÁVIA
Ué, vende a casa, as louças... Tudo
que der. Para podermos pagar o
ônibus e pagar aluguel ou uma
diária de hotel para ficar por lá.
ANA
É, esse é o jeito.
Aparece Lindalva se aproxima das duas.
LINDALVA
Eu não pude deixar de escutar,
vocês estão procurando emprego?
FLÁVIA
Sim, dona Lindalva. Já procuramos
pela cidade toda e nada.
LINDALVA
Ah, minha lindinha, vocês vão fazer
o quê? Não sabem fazer nada. Uma
moça que não estudou, nova, bonita,
acha que vai virar o quê?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 6.
ANA
Olha, você respeite a minha filha,
a gente pode passar fome, mas
vender o corpo, jamais! Minha filha
não vai ser nenhuma quenga, tá
ouvindo.
LINDALVA
Quando se vê o dinheiro... Tudo
vale a pena.
ANA
(Para Flávia)
Não ligue para ela. Essa mulher é
invejosa! Quer que todos sejam como
ela.
LINDALVA
A senhora me respeite, até porque
esse é o emprego mais antigo do
mundo.
As duas vão andando, deixando Lindalva falar sozinha.
CENA 7. CASA. SALA. INT. DIA.
As duas na sala, tudo organizado. Malas prontas.
FLÁVIA
E então, tudo empacotado? As louças
já foram vendidas?
ANA
Tudo. Ai, que dó me deu ao me
desfazer daquelas belezuras.
FLÁVIA
Mãe, agora é vida nova. E a casa?
ANA
Não consegui vender. Aluguei, pedi
adiantados dois meses. Assim, já dá
para começar a vida.
FLÁVIA
Tá certo. Vambora, senão vamos
perder o ônibus.
ANA
Seja o que Deus quiser.
Vão saindo, despedindo-se da casa. Ana dá uma volta para ver
tudo. Flávia vai andando com as malas.
7.
CENA 8. CIDADE. RODOVIÁRIA. EXT. DIA.
Sentadas no banco, cansadas de esperar.
FLÁVIA
Esse ônibus não chega!
ANA
Tá chegando, relaxa.
FLÁVIA
Eu tava pensando, se a dona
Lindalva não tinha razão... Talvez
só vou conseguir ganhar a vida
como/
ANA
Não dá ideia, você não vai ser nada
disso. Agente vai conseguir um
trabalho decente.(T) Acho que ele
já tá vindo.
Finalmente, aparece um ônibus todo destruído, motor
horrível, daquele tipo tec-tec.
FLÁVIA
Esse é o ônibus? Cruzes!
ANA
Não reclama. Vamos depressa.
O ônibus estaciona, elas sobem.
CENA 9. ÔNIBUS. INT. DIA.
As duas sentadas no banco.
FLÁVIA
Olha, eu tô apertada.
ANA
Vá ao banheiro, uma portinha lá no
final.
FLÁVIA
Já venho.
Ela se levanta, vai andando para o banheiro.
8.
CENA 10. ÔNIBUS. BANHEIRO. INT. DIA.
Quando entra olha o vaso, todo sujo.
FLÁVIA
Ai, que nojo! Acho que já estou
perdendo até a vontade. (T) Por que
estou tão apertada, meu Deus? Vai
ter que ser em pé.
Ela vai se aliviando, mas se molha com a água que sai de uma
torneira ruim da pia. E quando termina tudo, está molhada,
principalmente na bermuda.
CENA 11. ÔNIBUS. INT. DIA
Ela sai do banheiro, vai andando para a poltrona, mas um
homem debochado fica zombando.
HOMERO
Ah, se mijou? Não deu tempo, não?
FLÁVIA
Ah, vai se lascar! Deixa de ser
besta! (T) Ê, bobão!
Chega ao assento.
ANA
Que isso, minha filha? Você tá toda
molhada.
FLÁVIA
Nem fala, aquele banheiro horrível,
nojento.
ANA
Ajuda aqui, eu vou lá falar com o
motorista para ver quanto tempo
ainda falta para chegar.
Flávia ajuda a mãe a levantar. Esta vai andando devagar.
FLÁVIA
Cuidado, hein? Esse ônibus
trepidando mais que um em lombo de
burro.
Ana vai chegando perto do motorista, ele está de óculos
escuro.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 9.
ANA
Motorista, falta quanto pra chegar
em Teresina? Falta muito?
O motorista nem responde.
ANA
Ô, motorista! (cutucando) Ei, psiu!
(gritando) Ô, motorista acorda!
Olha a estrada, abestado!
Ele leva um susto e acorda.
CENA 12. ÔNIBUS. EXT. DIA
Mostra o ônibus tendo um descontrole na pista. Ele faz um
ziguezague.
CENA 13. ÔNIBUS. INT. DIA
O motorista olha para trás.
MOTORISTA
Eu não tava dormindo/
ANA
Olha pra frente!
MOTORISTA
Desculpa, desculpa.
ANA
Não olha para trás, mas por favor
falta quanto para chegar?
MOTORISTA
Umas duas horas ou mais.
ANA
Ainda? Tá bom, obrigada. Mas não
vai dormir, hein...
Ela volta para o lugar.
FLÁVIA
Que foi, mãe?
ANA
Ainda faltam umas duas horas, pelo
menos.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 10.
FLÁVIA
Por que você gritou com ele?
ANA
Aquele abestado tava dormindo no
volante, ainda bem que eu fui lá.
FLÁVIA
Eu vou reclamar dessa companhia,
ninguém merece, aquele banheiro,
motorista dormindo...
CENA 14. ESTRADA. EXT. DIA.
O ônibus segue a viagem com muito ziguezague, mas é
surpreendido por uma blitz na estrada. O guarda pede para
encostar. O ônibus para no acostamento e o motorista desce.
GUARDA
Boa tarde, posso ver os documentos
seus e do veículo?
MOTORISTA
Pode sim. Estão aqui.
Ele entrega os documentos.
GUARDA
Por aqui tudo certinho, mas
descobrimos uma rede de tráfico
pela região, precisam mandar para
capital, onde será distribuído
para Salvador, visando depois os
traficantes no Rio e em São Paulo.
Então, eu vou precisar ver tudo lá
dentro, ok?
MOTORISTA
O senhor quem manda, autoridade.
O guarda sobe com mais dois no ônibus para averiguar.
CENA 15. ÔNIBUS. INT. DIA.
Eles vão pelo corredor, acordando os que estão dormindo,
várias pessoas, de todas as idades. Chegam na Flávia e na
Ana.
GUARDA
Por favor, gostaria de ver os
documentos.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 11.
As duas rapidamente pegam na bolsa e entregam-no.
ANA
Aqui está.
GUARDA
O da senhora está meio apagado.
Fale o nome completo e o nome dos
pais, por favor.
ANA
Ana Ribeiro do Nascimento. Minha
mãe era Jovelina Ribeiro Mata do
Nascimento e papai era Giuseppe
Bernardi do Nascimento.
GUARDA
Realmente, batem as informações,
pela foto, pressuponho que esta
seja sua filha.
ANA
Exato.
GUARDA
Reparei pelos traços, como ela é
parecida com a senhora mais nova.
Obrigado por ajudar.
FLÁVIA
Por gentileza, autoridade, como é
que permitem andar uma lata velha
como esta transportando pessoas por
estas estradas?
GUARDA
Se quer saber, este aqui é um dos
melhores. Tem outros que soltam uma
fumaça preta, nem andam em linha
reta...
Continuam andando e chegam ao Homero.
GUARDA
Seus documentos.
HOMERO
Aqui.
GUARDA
Homero Ferreira Dias, seu nome não
me é estranho. (T) Ah, é você!
Achei o traficante, olha como é
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 12.
GUARDA (...cont.)
imbecil, me deu os documentos com
vestígio de cocaína. Ele deve estar
cheio de papelotes amufanbados.
Homero, olha para um lado e para o outro. Ao ver a janela,
resolveu pular.
CENA 16. ESTRADA. EXT. DIA.
Ele cai, levanta rápido e sai correndo para trás do ônibus,
tentando se distanciar dos policiais.
Os policiais aparecem pouco depois, correndo muito, alguns
já pertinho do traficante.
Um guarda consegue capturá-lo e o leva para a viatura.
CENA 17. ÔNIBUS. INT. DIA.
Flávia vai para uma janela do outro lado, para ver tudo. E
percebe que Homero molhou as calças. E começa a gargalhar.
FLÁVIA
Ah, molhou as calças, medroso?
O ônibus inteiro aplaude o trabalho dos policiais. Flávia
volta para o lugar. O motorista retoma o volante dá a
partida no ônibus.
ANA
Que viagem, hein?
FLÁVIA
Nem fala, mas bem feito para aquele
cara. Ficou rindo da água que caiu
em mim...
CENA 18. RODOVIÁRIA. EXT. DIA.
O ônibus estaciona, as pessoas descem, Flávia e Ana vão
pegar as malas.
ANA
Ai, graças a Deus, não aguentava
mais ficar dentro daquele ônibus,
tô toda dolorida, eu só quero um
banho e cama.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 13.
FLÁVIA
Mãe, ainda temos que encontrar um
hotel.
ANA
Ah, vamos para o primeiro que
tiver. Estou morta!
De repente, se deparam com um grupo vestido de preto, perto
do ponto de táxi.
ANA
Calma, foi só uma força de
expressão, ainda vou viver muito.
Continuam andando.
FLÁVIA
Mãe, vamos pegar um ônibus e no
primeiro lugar que tiver a gente
salta e fica. Pode ser?
ANA
Pode, só não me faça andar demais!
Elas pegam o primeiro ônibus que vem.
CENA 19. TERESINA. HOTEL. EXT. DIA.
Saltam do ônibus e caminham para a porta do hotel.
FLÁVIA
Acho que esse tá legal, né?
ANA
Vamos ver o preço e os quartos.
Amanhã cedo temos que nos aluir e
procurar trabalho.
FLÁVIA
Só vamos consegui se nos mexermos.
CENA 20. TERESINA. HOTEL. SAGUÃO. INT. DIA.
Entram no saguão do hotel.
RECEPCIONISTA
Boa tarde, senhoras, em que posso
ser útil?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 14.
ANA
Boa tarde, seu decepcionista,
gostaria de um quarto para nós
duas. Quanto é a diária?
RECEPCIONISTA
A diária com café da manhã, custa
quarenta reais o casal.
ANA
Então, por favor um quarto.
RECEPCIONISTA
Os nomes?
CENA 21. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Flávia sentada na cama, secando o cabelo. Ana saindo do
banheiro de camisola comprida.
ANA
O dia hoje foi cansativo, eu
preciso descansar.
FLÁVIA
Ah, eu queria conhecer Teresina.
ANA
Nada te impede, mas amanhã vou te
acordar às sete. E se for sair, só
não vá ao bate-coxa, porque você é
uma menina direita.
FLÁVIA
Não vou ficar dançando com ninguém,
mãe. Ah, eu também tô cansada, fico
hoje, porque amanhã vai ser um dia
difícil.
Ela apaga a luz e deita na cama.
FLÁVIA
Até amanhã, boa noite.
ANA
Durma bem.
15.
CENA 22. TERESINA. HOTEL. REFEITÓRIO. DIA.
O café da manhã está servido, nele tem de tudo: pães, frios,
sucos, café, chocolate, leite, bolos... Flávia está pegando
pão, presunto, queijo, banana, suco de laranja, um bolo de
fubá. Ana está sentada na mesa, ela toma um café, um pão.
FLÁVIA
O café é bem servido, né?
ANA
Com certeza. Ainda tô com vontade
de comer uns pães de queijo.
FLÁVIA
Aproveita que tá tudo pago.
ANA
Então, espera um pouco.
Ela levanta e vai pegar mais comida. Quando está se
servindo, aparece o seu Raimundo.
RAIMUNDO
Qual a sua graça?
ANA
Eu?
RAIMUNDO
Sim.
ANA
Ana e o senhor?
RAIMUNDO
Raimundo, muito prazer, Ana. Quer
me fazer companhia hoje à noite no
baile ali da esquina?
ANA
Hoje eu não posso, acabei de chegar
e preciso me firmar, agora é um
momento atribulado.
RAIMUNDO
Mas, por favor, tome o meu cartão e
ligue assim que puder. Qualquer
coisa, eu estou toda sexta nesse
clube ali na esquina. Será uma
honra, dançar com uma senhora tão
distinta...
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 16.
ANA
Agradecida.
Ele beija a mão dela e vai embora. Ela pega um pedaço de
bolo e volta pra mesa.
FLÁVIA
O que foi, mãe? Ele tava te
paquerando, é?
ANA
Pare de palhaçada, ele só me chamou
para acompanhá-lo ao baile dançar
hoje à noite.
FLÁVIA
Aceitou, né mãe?
ANA
É claro que não! Perdeu o juízo?
FLÁVIA
Mas, mãe! Você já está sozinha há
tanto tempo. Quem morreu foi o
papai, não a senhora.
ANA
Você deve estar com uns parafusos a
menos, perdeu totalmente as
estribeiras.
FLÁVIA
Mas, mãe!
ANA
Nem mas, nem meio mas. Agora vê
como ela tem uma visão de mundo,
isso é falta de ir à igreja, já
perdeu todos os ensinamentos. E
chega!
Levantam-se e vão embora.
FLÁVIA
(OFF)
Por falar em morte, onde será que
está aquele safado do Rodrigo que
deixou a gente lá sem um centavo no
bolso.
17.
CENA 23. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. DIA.
Rodrigo (Rato) está sentado com uma mesa cheia de papéis e
papelotes de cocaína. Entra Robalo.
ROBALO
Seu Rato, o Homero tá em cana.
RATO
Mentira?! Oxente! Ninguém merece,
aquele abestado não faz nenhum
serviço direito. Ainda bem que ele
sabe sair da cadeia mole.
ROBALO
Pegaram ele no ônibus vindo pra
Teresina, ele tava cheio de
papelote. Dizem que ele até se
molhou todo quando foi preso.
RATO
(Gargalha)
Ele é muito medroso, não sei como
aceitei ele aqui no Ninho do Rato.
Mas, estão fazendo buscas pra me
pegar?
ROBALO
Acho que não.
RATO
Já tem mais de um mês e os homens
não vieram aqui me procurar.
ROBALO
Eu acho que você enganou bem com o
Rodrigo pescador. Ficou um bom
tempo sumido, eles devem ter
pensado que você tinha morrido,
talvez...
RATO
Tem razão. Agora, por favor entrega
esse material aqui pro Madeira que
os atravessadores estão vindo pra
levar até Salvador. E depois não me
interessa o que vão fazer. Agora
pica mula, Robalo!
18.
CENA 24. TERESINA. PRAÇA. EXT. DIA.
Ana sentada no banco e Flávia com o jornal na mão.
ANA
Tem alguma coisa boa aí?
FLÁVIA
Tem umas vagas para empregada
nesses dois endereços e pra
recepcionista, secretária em vários
lugares.
ANA
Isso daí trabalha com computador,
dá muito trabalho pra mim. Vamos
nesses endereços.
FLÁVIA
Vamos. (T) Ih, mãe! Olha isso aqui.
ANA
Que é?
FLÁVIA
Lê essa notícia.
Notícia "Pescador é encontrado morto"
ANA
Coitado do moço, né? Ainda jovem...
FLÁVIA
Você tá pensando o mesmo que eu
estou?
ANA
Não sei.
FLÁVIA
Que esse aqui pode ser o Rodrigo.
ANA
Puxa, nem tinha ligado.
FLÁVIA
Coitadinho! (T) Ah, espera aí.
Deixa eu pegar só uma bala aqui.
Abre a bolsa pra pegar a bala. E deixa o jornal aberto ao
lado. Na página policial, onde tem retrato falado de
bandidos procurados, aparece a foto de Rodrigo (RATO).
19.
CENA 25. TERESINA. CASA DE LURDES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Ana e Flávia estão sentadas numa mesa e Lurdes do outro
lado.
FLÁVIA
Nós vimos o anúncio no jornal e
viemos tentar uma vaga de
empregada.
LURDES
Bom, mas eu só vou poder empregar
uma de vocês.
FLÁVIA
Eu na verdade não queria ser
empregada.
ANA
Eu quero muito.
LURDES
Então vamos fazer assim, testamos e
resolvemos depois. A Ana vai
trabalhando como empregada, limpar
a casa toda, cozinhar, passar e
tudo mais. Enquanto, eu tento
arranjar um trabalho de secretária
no escritório do meu marido para
Flávia, que acha?
FLÁVIA
Fico muito feliz com a proposta,
aceitamos sim. Com certeza.
LURDES
Ana, amanhã você pode chegar aqui
às nove. Gosto da faxina completa,
mas com a senhora amanhã eu explico
melhor cada local como eu gosto da
limpeza e coisa e tal.
ANA
Pode deixar, dona Lurdes. Vou fazer
tudo direitinho.
LURDES
Vou falar com meu marido.
Pega o celular, disca.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 20.
LURDES
(cel.)
Oi, amor. Estou aqui de frente para
uma moça, acho que ela seria a
candidata certa para preencher
aquela vaga de secretária.
CARLOS
(cel. OFF)
Não sei, mas pede à ela para vir
aqui e vemos se ela serve.
LURDES
(cel. animada)
Tá bom. Eu falo com ela, quer que
ela vá hoje?
CARLOS
(cel. OFF)
Pode. Eu quero colocar alguém logo.
LURDES
(cel.)
Até mais, querido.
Desliga o celular e guarda-o.
LURDES
Pronto. Tudo resolvido. Você pode
ir lá que ele já está esperando.
FLÁVIA
Mas eu nem estou com uma roupa
adequada para apresentar-me.
LURDES
Venha cá, acho que alguma roupa vai
te servir. Tenho algumas guardadas
que já estão para dar.
FLÁVIA
Nossa, como a senhora é generosa.
LURDES
Vem aqui comigo.
As duas saem.
LURDES
(OFF)
Vem aqui também, Ana.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 21.
ANA
Já vou. (cochicha) Quando a esmola
é grande, o santo desconfia. Aí tem
coisa...
CENA 26. TERESINA. PRAÇA. EXT. DIA.
Flávia está vestida numa roupa social, mais elegante.
FLÁVIA
Ai, a dona Lurdes é demais, né?
ANA
Não sei não, minha filha.
FLÁVIA
Como assim, arranjou um trabalho
pra senhora, uma boa proposta pra
mim. Você tá querendo achar chifre
na cabeça de cavalo.
ANA
Eu não me engano... Vai logo pra
entrevista se não vai perder a
oportunidade.
FLÁVIA
Vou lá! Benção, mãe!
ANA
Deus te abençoe. Oh, eu vou te
esperar por aqui.
Flávia vai embora. Ana senta num banco próximo.
CENA 27. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. DIA.
Homero aparece de surpresa.
HOMERO
E aí, patrãozinho?
RATO
Tudo em riba. (T) Homero?
HOMERO
Em carne e osso.
RATO
Fugiu da prisão?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 22.
HOMERO
Na mosca. Fugi pela fossa da
penitenciária.
RATO
Esperto. Mas como é que você perde
aquela carga toda? Pô, fiqui um
tempo lá naquele fim de mundo
levando vida de pescador, mas
sempre arrecadando para trazer para
Teresina e você perde?
HOMERO
Desculpa, Rodrigo/
RATO
Rodrigo não! Aqui eu sou o Rato.
HOMERO
Não deu, eu até tentei fugir, mas
os homens me pegaram.
RATO
Tá bom! São águas passadas. Toma aí
meu lugar e não faz nenhuma
besteira, por favor.
CENA 28. TERESINA. PRAÇA. EXT. DIA.
Ana comendo pipoca. Observa as pessoas na praça, crianças
brincando. Até que se depara com um rosto familiar, ela
força os olhos não acreditando, mas vê Rodrigo andar.
ANA
Não é possível.
Mas logo é surpreendida por Raimundo.
RAIMUNDO
Olá, minha flor. O que faz
enfeitando este lindo jardim?
ANA
Oi, seu Raimundo. Só estou
esperando a minha filha.
RAIMUNDO
Posso lhe fazer companhia?
ANA
A praça é pública, né?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 23.
RAIMUNDO
Ah, não me trate assim. Você
conseguiu o emprego que queria?
ANA
Sim.
RAIMUNDO
Que maravilha! Vamos comemorar no
baile?
ANA
Não sei, acho melhor pensar...
RAIMUNDO
Vamos! Lá é muito animado, com
certeza vamos nos divertir muito. E
modéstia parte, sou um pé de valsa.
ANA
Se eu for mesmo, te encontro lá.
Mas não fique me esperando, porque
talvez possa criar raízes.
Ela sai andando.
RAIMUNDO
Ela pode até ter pavio curto, mas é
assim que aumenta esse amor no meu
velho coração. Que mulher, meu
Deus! Que mulher!
Ana continua andando, procurando outro lugar para ficar.
CENA 29. TERESINA. PRAÇA. EXT. NOITE.
Ana ainda sentada, cansada de esperar.
ANA
Aonde é que essa menina se enfiou?
Minha Nossa Senhora!
Quando pensa em levantar, chega Flávia, meio triste.
ANA
Que foi que aconteceu? Não
conseguiu o emprego, não tem
problema, a gente tenta encontrar
outro pra você.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 24.
FLÁVIA
Não consegui, eu quase fui aceita,
mas ele disse que eu não tinha
experiência nenhuma, então ficava
difícil.
ANA
Calma, a gente dá um jeito.
Elas vão andando por ali, em direção ao hotel.
CENA 30. TERESINA. HOTEL. SAGUÃO. INT. NOITE.
RECEPCIONISTA
Dona Ana, o seu Raimundo deixou um
bilhete.
Ana fica surpresa e Flávia coloca pilha.
FLÁVIA
Hum... Bilhetinho, né? O que será,
hein, mãe?
ANA
Olha o respeito, hein. Não é porque
já cresceu que pode falar o que
quiser não. Eu ainda sou sua mãe.
Abre o papel e lê.
RAIMUNDO
(OFF)
Ana, não esqueça o baile mais
tarde. Estou te esperando. Até
mais.
ANA
Até parece que vou a um baile hoje
à noite.
FLÁVIA
E por que não?
ANA
Já sou uma senhora, não tenho idade
pra essas coisas. Viúva, nessa
idade que tenho...
FLÁVIA
Falou bem, viúva e desimpedida, não
te que dar satisfação para ninguém.
Vai sim! E eu vou te ajudar.
25.
CENA 31. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Flávia sentada e Ana em pé experimentando roupas. Ela não
tem muitas roupas bonitas.
ANA
Que tal esse?
FLÁVIA
Não, muito brega.
Ela sai e volta com outro vestido.
FLÁVIA
Muito preto.
Sai e volta com outro, bem colorido e extravagante.
FLÁVIA
Esse não, muito apapagaiado.
Sai e volta. Vai se repetindo mas cinco vezes. Até que veste
um vestido com algumas flores.
FLÁVIA
Esse, esse é perfeito! Agora vá
encontrar seu príncipe.
ANA
Ih, pelo tempo, já não é mais
príncipe, já tá na idade de rei ou
já virou sapo!
Ana pega uma bolsa pequena e sai do quarto.
CENA 32. TERESINA. BAILE. INT. NOITE.
Ana chega devagar. Caminha pelo baile, casais dançando na
pista ao som de "Como é grande o meu amor por você".
Raimundo ao vê-la, levanta da mesa, onde conversava e vai ao
encontro dela.
RAIMUNDO
Eu sabia que você não me
decepcionaria.
ANA
É...
RAIMUNDO
Você está linda, uma verdadeira
rainha, com certeza a mulher mais
linda da noite!
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 26.
ANA
Acho que vou sentar um pouco.
RAIMUNDO
E deixar esta música nos esperando?
Dê-me a honra, por favor.
Estende a mão e ela aceita.
ANA
Já que insiste.
RAIMUNDO
(Cantando)
Nem mesmo o céu, nem as estrelas,
nem mesmo o mar e o infinito, não é
maior que o meu amor, nem mais
bonito.
Ana sorri sem graça. Quando acaba a dança.
CANTOR
Agora vamos tocar um xote para
animar essa galera, pelo centenário
do Rei do Baião!
Toca "Xote das meninas". E os dois dançam no meio do salão.
Parece que o tempo para e os olhos se voltam para eles.
CENA 33. TERESINA. RUA. EXT. NOITE.
Flávia caminhando devagar, pouco movimento na rua. Rodrigo
aparece do outro lado da rua, ao vê-la não acredita. Esfrega
os olhos.
RATO
Não é possível! É ela? Aqui? Isso
pode pôr tudo a perder.
Os dois continuam a andar em direções opostas.
RATO
Mas espera. Tem como eu reverter
essa situação. Nada pode destruir
meu império!
27.
CENA 34. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. NOITE.
Rato e Homero arquitetando planos.
RATO
Meu caro, Homero. Acabo de ver
aquela minha namorada que deixei,
depois que minha missão acabou no
interior, andando ali no centro.
HOMERO
E o que é que tem?
RATO
Ela pode pôr tudo a perder. Eu vou
lhe mostrar que é ela. E você vai
ter urubuservá-la o tempo todo. Mas
não será por muito tempo. Pois vou
dar um jeito de tirá-la do caminho.
HOMERO
Então na hora certa, a gente vai
com mais de mil na buraqueira para
apanhá-la?
RATO
Mas tudo tem que ser com o maior
cuidado possível. Via fazer igual
um abestado que terá de refazer,
visse?
HOMERO
E por que tudo eu? Não tem o
Robalo?
RATO
Eu mando e você obedece. Ele já tem
um outro serviço, mas vou fazer com
que ele nos ajude.
HOMERO
O único jeito de tirá-la de
circulação é mandando-a pra terra
dos pés juntos ou se ela entrasse
em cana/
RATO
Tu tá ficando esperto, visse? Essa
ideia é boa, é boa não, é genial.
Não sei nem como ela saiu de você
que parece uma marmota. Então vamos
pôr a cobra na jaula.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 28.
HOMERO
Só por curiosidade, como fará isso?
RATO
A curiosidade matou um gato, toma
conta da sua parte, por enquanto,
pois na hora certa saberá.
Homero sai.
RATO
Mas como posso maná-la pro
xilindró? Pensa, Rodrigo. Pensa...
CENA 35. TERESINA. HOTEL. RECEPÇÃO. INT. NOITE.
Raimundo e Ana na recepção, chegando da rua. Caminham
devagar.
RAIMUNDO
E então, está entregue?
ANA
Sim. Obrigada.
RAIMUNDO
Eu é que agradeço por ter tido a
honra de ter a sua companhia nesta
noite.
ANA
(sem graça)
Seu bobo.
Dá um beijo no rosto dele. Ele fica boquiaberto e meio
envergonhado.
RAIMUNDO
(olhando no relógio)
Já é tarde. Está na hora da minha
estrela descansar.
ANA
(caminhando para a escada)
Boa noite.
RAIMUNDO
Durma com os anjos.
Ela sobe a escada e ele continua na recepção por mais um
tempo.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 29.
RAIMUNDO
Que mulher, meu Deus! Que mulher!
Há muito tempo não me sinto tão
bem. Acho que a palavra certa é
apaixonado! Mas já tá ficando
tarde.
Ele sobe a escada.
CENA 36. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Ana fecha a porta e está radiante. Flávia na cama.
FLÁVIA
A noite foi boa, mãe?
ANA
(com desdenho)
Foi.
FLÁVIA
Foi ou FOI?
ANA
Eu sou sua mãe. Não lhe devo
satisfação.
FLÁVIA
Mas vocês dançaram juntinhos?
ANA
Sim.
FLÁVIA
Ai que bonitinho. Vieram de mãos
dadas?
ANA
O que isso vai acrescentar na sua
vida.
FLÁVIA
Ai, mãe, deixa de ser tão dura,
aproveite a vida. Não tem nada que
te impeça. Mas me conte, você se
beijaram?
ANA
Sou uma dama. Vou ficar me relando
com homem. Dou-me o respeito.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 30.
FLÁVIA
Mas se vocês dançaram juntinhos...
ANA
Dançar junto, mas não tão junto. E
isso é bem diferente de beijar. E
eu já estou dando-lhe confiança
demais. Acho que já passou da sua
hora de dormir. Parece até
investigação policial. Que saco!
FLÁVIA
A senhora tá muito aperreada.
ANA
Arre-égua! Vá dormir.
Entra no banheiro para trocar-se.
FLÁVIA
Tá bom, mãe. Você tá muito
estressada, parece até o cão em
figura de gente. Não quer contar,
não conta. Fica cheia de
segredinho... Queria assuntar, mas
você não quer...
Abre a porta do banheiro.
ANA
Assuntar sobre o quê?
FLÁVIA
Sobre o baile com o seu Raimundo.
ANA
Ainda isso! Tu não desiste! Vá
encher o saco do cão com reza!
CENA 37. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. NOITE.
Rato ainda pensando tem uma ideia genial.
RATO
Como não pensei nisso antes? Mas é
claro! Se eu quero colocá-la atrás
das grades, o melhor é deixar que a
polícia pense que ela cometeu um
crime bobo, meio mão leve ou
marreteira.
Homero entra apressado.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 31.
RATO
Assim que se entra, penso até qu é
polícia.
HOMERO
Pô, desculpa chefe! Mas eu acabei
esquecendo meu celular.
RATO
Tá. Mas, cabra, foi ótimo você ter
voltado. Acabei de arquitetar um
esquema infalível.
HOMERO
O plano perfeito, é?
RATO
Exato. Senta aí que vou lhe contar.
Ele senta.
HOMERO
Como faremos para colocar a
cabritinha na jaula?
RATO
Trabalhar com o parece, mas não é.
E se a Flávia entrasse numa loja e
por coincidência ocorresse um
assalto, na verdade um furto bobo.
Por um marreteiro qualquer. E
descobrissem que o marreteiro na
verdade é ela. A polícia chega e
tira ela do nosso caminho.
HOMERO
Então, um de nós pega um produto,
coloca na bolsa dela e tudo é um
engano. Fazendo ela se passar por
uma mão leve sem muito trabalho.
RATO
Não vai ser tão fácil assim. Preste
atenção no que devemos fazer.
Os dois planejando tudo.
CORTA PARA:
32.
CENA 38. TERESINA. CASA DE LURDES. COZINHA. INT. DIA.
Ana já está pronta para trabalhar, começa a lavar a louça,
arrumar o armário da cozinha e liga o fogão para cozinhar.
LURDES
Bom dia, Ana. Eu queria pedir que
hoje você desse uma atenção no meu
quarto, porque eu estou sentindo
uma poeirada e não posso, por causa
da minha alergia. Já falei até com
Carlos que um dia aqueles ácaros
ainda vão carregar a cama. Mas ele
não escuta.
ANA
Sei como é. Eu não posso ver
poeira, porque minha filha tinha um
monte de problema respiratório
quando criança, então tinha que
tomar cuidado.
LURDES
Você olha e vê se você concorda que
já está na hora de trocar aqueles
travesseiros.
ANA
Deixa comigo!
LURDES
Eu vou dar uma saída, mas é coisa
rápida. Qualquer coisa, pode me
ligar. Não estou esperando ninguém,
portanto não é para deixar ninguém
entrar.
Lurdes sai pela porta dos fundos e Ana continua fazendo o
feijão.
CENA 39. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Flávia vai andando pela rua, procurando emprego. entra em
uma porta ou outra. A rua bem movimentada. Rodrigo e Homero
estão em sua cola.
RATO
Tá vendo aquela ali?
HOMERO
Ah, mentira.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 33.
RATO
O quê?
HOMERO
É a garota nojenta do ônibus,
aquela que ficou com as calças
molhadas depois de ir ao banheiro.
A que eu falei que ficou rindo de
mim quando fui preso.
RATO
Quando você se molhou todo, por
causa da polícia. (gargalha)
HOMERO
Não tem graça, tá?!
RATO
Isso não vem ao caso. Aquela é sua
vítima. Você tem que ficar na cola
dela. Urubuservar tudo, tudinho!
Cada passo, cada lugar e quando lhe
der o sinal, a gente agarra a
Flávia.
Flávia sente-se seguida e olha para trás algumas vezes. Mas
não vê nada.
HOMERO
Precisamos ser mais discretos.
RATO
Discrição é a palavra chave.
Ninguém pode perceber que estamos
seguindo-a. Mas, por acaso, você
sabe se ela veio com a mãe?
HOMERO
Não tenho certeza, mas acho que
sim. Pois tinha uma senhora ao lado
dela.
RATO
Mas com essa eu não me preocupo
tanto.
HOMERO
Deixa eu começar meu serviço, Rato.
Porque se não vou perder muito
tempo.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 34.
RATO
Eu acho que vamos fazer uns três
dias, assim dá pra ter uma noção
melhor dos caminhos, pelos quais
ela passa e não perdemos muito
tempo.
CENA 40. TERESINA. CASA DE LURDES. SALA. INT. DIA.
Lurdes chega e Ana está varrendo a sala.
LURDES
Ai, cheguei. Ana, a rua tá muito
quente. Passei na banca e peguei o
jornal e olha a capa: Droga no
interior. Aumentou o tráfico no
Piauí inteiro, não é só a quadrilha
daquele tal de Rato, que até hoje
tá foragido.
ANA
É uma tristeza, né? Tantos jovens
envolvidos. Destroem a vida tão
cheio.
LURDES
Esse é o retrato falado dele, ó!
Mostra o jornal na página policial.
ANA
Essa cara não me é estranha. Mas
tem tanta gente parecida no mundo,
né? De repente posso estar me
confundindo...
LURDES
Toma cuidado, fique bem atenta. Ele
pode estar em qualquer parte. Meu
marido faz parte do conselho de
segurança da região e já teve
problemas com esse cara.
ANA
Ele já foi preso?
LURDES
Já, mas não tem provas suficientes
para mantê-lo na prisão.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 35.
ANA
Ah, entendi.
LURDES
Não quero me intrometer, mas por
qual motivo você veio para
Teresina?
ANA
A história é um pouco longa. Eu sou
viúva, então morava só com a minha
filha, até que apareceu um namorado
dela que era pescador, mas acabou
se perdendo em alto mar, ficamos lá
nós duas, mas as contas começaram a
pesar. Lá não havia oportunidades,
então vendemos a casa e decidimos
vir para cá. Este é o resuma mais
curto que consegui fazer.
LURDES
Já deu para entender direito.
CENA 41. TERESINA. LOJA DE ROUPAS. EXT. DIA.
Flávia andando, entra em uma loja de roupa, vê uns vestidos.
Mas só olha. Homero na cola espera-a na porta, do lado de
fora.
CENA 42. TERESINA. PRAÇA. EXT. NOITE.
Cansada de andar, descansa em um banco. Num outro está
sentado Homero, fingindo ler um jornal. A bola cai perto
dele e ele devolve às crianças.
Passa bastante gente cruzando a praça, crianças voltando do
colégio.
CENA 43. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Ana chega ao quarto.
ANA
Filha, cheguei!
Percebe que não há ninguém no quarto.
ANA
Filha? Flávia? Cadê você? Onde
está?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 36.
Procurando por todo o quarto.
ANA
é parece que estou sozinha. Vou
aproveitar para tomar um bom banho
e tirar essa inhaca de bode velho.
Já estou muito cansada.
Quando está com toda a roupa para entrar no chuveiro. Toca o
interfone.
ANA
Oi?
RECEPCIONISTA
(OFF.)
O seu Raimundo quer falar com a
senhora.
ANA
Pede para ele voltar depois, porque
estou indo tomar banho.
RECEPCIONISTA
(OFF.)
Aviso sim.
ANA
Obrigada.
CENA 44. TERESINA. HOTEL. SAGUÃO. INT. NOITE.
Raimundo sentado no sofá do saguão, quando chega Flávia.
FLÁVIA
Seu Raimundo! Tudo bem?
RAIMUNDO
Tudo sim.
FLÁVIA
Como foi ontem?
RAIMUNDO
Foi muito bom. Sua mãe é
divertidíssima, ela é uma dançarina
incrível. Há anos não tenho uma
parceira a altura.
FLÁVIA
Ela também falou que gostou, quando
chegou estava radiante, parecia que
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 37.
FLÁVIA (...cont.)tinha se divertido até raiar. Não
lembro de ter visto minha mãe tão
feliz há muito tempo.
RAIMUNDO
Fico feliz por saber que pude
proporciona este momento.
Ana desce a escada, só observando os dois conversarem.
FLÁVIA
Eu agradeço por ter feito isso, seu
Raimundo.
RAIMUNDO
Mas não foi isso que eu tinha
prometido à ela, que ela não iria
se arrepender de ir lá? Então, acho
que eu fosse roer a corda?
FLÁVIA
Não, de jeito nenhum, sei que você
é confiável.
ANA
Hum, hum! Falando de mim?
RAIMUNDO
Falávamos sobre o baile de ontem. O
qual como havia prometido, você
adorou.
ANA
É verdade. Há anos não me divirto
tanto. Flávia, minha filha, vá lá
em cima arrumar as suas roupas, tem
uma maçaroca delas.
FLÁVIA
Ai, quem ouve assim acha até que é
muita.
ANA
Não tem pra caramba, mas como estão
fora do lugar, parecem uma maçaroca
de roupa.
Flávia sobe para o quarto. Ana e Raimundo sentam no sofá
para conversar.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 38.
ANA
Mas e então, Raimundo, você sempre
viveu em Teresina?
RAIMUNDO
Não. Eu era caminhoneiro no começo
da minha vida, já andei esse Brasil
todo, fui até onde o cão perdeu as
esporas atrás da mãe, para você ver
o quanto já andei por aí. Aí depois
de uns quinze anos de profissão,
virei gerente de uma
transportadora, a partir daí que
fui crescendo. E parando minha vida
por aqui mesmo.
ANA
Já deve ter tido um bando de
aventuras pelas estradas.
RAIMUNDO
Já e quantas! Já sofri assalto, já
ajudei pessoas, dei carona por
essas curvas do meu Brasil. Conheci
muita gente.
ANA
E sua família?
RAIMUNDO
Meus pais me deixaram logo. Meu pai
faleceu e tomei as rédeas da
família, trabalhei por aqui, depois
virei caminhoneiro, não demorou
muito, minha mãe me deixou. Ficamos
eu e meu irmão. Ele teve um filho,
mas os dois sumiram.
ANA
Não tem notícias?
RAIMUNDO
Meu irmão morreru em São Paulo e na
última vez que falei com ele, ele
tinha deixado o garoto com a mãe em
Salvador, mas logo ela o
traria para cá. Nunca mais vi
nenhum dos três.
ANA
Você não se casou?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 39.
RAIMUNDO
Não tive uma vida muito calma no
começo, então quando parei, já
estava um pouco passado.
ANA
Oxente! Mas você só devia ter uns
quarenta no máximo.
RAIMUNDO
Era mais moço um pouco, mas nunca
tive muita sorte com mulheres.
Passaram muitas, mas nenhuma ficou.
ANA
Entendo.
Levantam-se e saem do hotel.
CENA 45. TERESINA. HOTEL. EXT. NOITE.
RAIMUNDO
Mas me conte sore a sua vida.
ANA
Sempre fui dona de casa, desde
menina. Tive só uma filha, meu
marido nos deixou há uns quatro
anos. Ela namorava um rapaz que
tava sustentando a casa, como
pescador. Mas ele foi pescar e não
voltou mais. Lá não tinha muita
oportunidade para nós duas. Então
decidimos vir pra cá. A gente já
queria se mudar há algum tempo, por
causa do falecido, tudo lembrava-o,
mas como ela tava com esse rapaz,
era melhor ficar.
RAIMUNDO
São histórias de vida. No meu caso
de 65 anos de vida. De vez em
quando a idade pesa, sabe...
ANA
Como assim?
RAIMUNDO
A gente vê o tempo que já passou,
tem vontade fazer algo e não
conseguir, as dores da velhice. As
rugas são como um mapa de nossas
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 40.
RAIMUNDO (...cont.)vidas. Quanto mais se tem, mais
distância já percorreu na estrada
da vida.
ANA
É mesmo. Você tem umas coisas
curiosas, é muito educado, um tanto
filósofo/
RAIMUNDO
Aprendi vivendo. Devemos estender a
mão ao outro. Não foi assim contigo
e a dona Lurdes?
ANA
Pode-se dizer que sim. Ela me
aceitou de bom grado, sem muitas
perguntas e queria nos ajudar de
verdade.
RAIMUNDO
Assim que devemos viver.
Flávia olha os dois da janela do quarto.
CENA 46. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Flávia sai da janela e deita na cama.
FLÁVIA
Agora sim, minha mãe está sendo
feliz, vivendo a plena felicidade.
Sorri e continua deitada.
CENA 47. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. DIA.
Ana acabando de se arrumar para o trabalho. Vê que Flávia
ainda está dormindo. Vai acordá-la.
ANA
Avia menina levanta pra procurar um
emprego.
FLÁVIA
Ai, mãe, isso é jeito de acordar os
outros? Levei até um susto.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 41.
ANA
Mas tem que levar mesmo, parece que
não entendeu que isso é hotel, tem
que pagar. Já falei com o gerente
para cobrar o mês, mas eu não posso
pagar sozinha, né?
FLÁVIA
Tá bom, já tô indo.
ANA
Eu já vou para a casa de Dona
Lurdes para não me atrasar. Um
cheiro e ande logo.
Ana sai depressa e Flávia entra no banheiro.
CENA 48. TERESINA. CASA DE LURDES. COZINHA. INT. DIA.
Ana cozinhando.
LURDES
Nossa! Tá um cheiro tão bom vindo
daqui. Já se espalhou pela casa
toda.
ANA
Sinal que tá gostoso, né?
LURDES
Espero. Porque eu adoro uma boa
comida, caseira ainda, não tem nada
melhor!
ANA
Dona Lurdes, você sabe o nome
verdadeiro daquele traficante do
jornal?
LURDES
Eu não sei, mas é um nome muito
esquisito, acho que é Etelvido. Por
quê?
ANA
O rapaz que parecia com ele, se
chama Rodrigo.
LURDES
Então não deve ser o mesmo, né?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 42.
ANA
É. Não tem nada a ver.
LURDES
Cuidado com a panela, se não vai
queimar.
ANA
E é mesmo! Tô com a cabeça no mundo
da lua.
LURDES
Ah, Ana, antes que eu esqueça! Faz
uma limpeza no banheiro, nada muito
perfeito, mas só pra dar um cheiro,
entendeu?
ANA
Capitei!
CENA 49. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
LETREIRO: "PRIMEIRO DIA"
Flávia saindo do hotel e Homero já está na cola dela. Ela
entra em uma padaria, mas sai rapidamente. Depois passa em
frente ao supermercado e entra.
CENA 50. TERESINA. SUPERMERCADO. EXT. DIA.
Flávia vai caminhando perto dos caixas, vai até a área de
empregos, para ver se tem vaga. Mas não consegue nada e
volta para a rua. Disfarçadamente, Homero vai atrás dela e
para perto da porta.
CENA 51. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Caminha até um portal de um prédio comercial.
FLÁVIA
Acho que é aqui mesmo, vou para a
entrevista. Seja o que Deus quiser.
Faz uma cruz e entra.
43.
CENA 52. TERESINA. SALA. INT. DIA.
Uma sala bem simples, ela senta num sofá pequeno.
MULHER
(OFF.)
Senhora Flávia, pode entra!
FLÁVIA
Ai, vamos lá!
CENA 53. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Ana chega e vai tomar um banho.
ANA
Ai, hoje eu estou exausta!
Flávia chega depois. Ouve água caindo.
FLÁVIA
Mãe?
ANA
(OFF.)
Tô saindo já.
FLÁVIA
Não, tudo bem.
Flávia joga a bolsa em cima da cama e tira os saltos. A água
para de cair.
ANA
(OFF.)
Não sabe o que eu descobri.
FLÁVIA
Não! O quê?
ANA
(OFF.)
Ontem, conversando com a patroa,
ela mostrou o jornal na página
policial e o retrato falado do
rapaz era parecido com o Rodrigo,
sabia?
FLÁVIA
Você quer dizer que o Rodrigo era
um cara perigoso?
Ana sai do banheiro.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 44.
ANA
Parece que não, pois o nome do
sujeito era Etelvido. E Rodrigo não
tem nada a ver com Etelvido.
FLÁVIA
Bom, isso é verdade.
ANA
Agora eu vou dormir. O dia foi
cansativo.
FLÁVIA
Eu fiz uma entrevista para
secretária.
ANA
Fez? Que legal, e qual a resposta?
FLÁVIA
Vão me ligar depois.
ANA
Entendi. Tomara que consiga. Agora
boa noite.
CENA 54. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. NOITE.
Rodrigo e Homero conversando.
RATO
E quais são as novidades?
HOMERO
A perseguição tá sendo bem
sucedida, ela nem desconfia que
está sendo vigiada.
RATO
E nem pode, tá ouvindo?
HOMERO
Calma, Rato. O Homero aqui é de
responsa.
RATO
Acho bom!
HOMERO
Agora mudando de assunto
completamente, sobre a sua carreira
no crime, quantos nomes você já
usou?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 45.
RATO
O que te interessa?
HOMERO
Pô, é curiosidade, cabra.
RATO
Um monte, já perdi as contas, desde
alguns normais como José ou
Rodrigo, até outros absurdos, tipo
Etelvido, até que sosseguei com um
codinome interessante, de um bicho
ligeiro e meio asqueroso à
sociedade. Rato é genial!
Os dois riem e continuam conversando.
CENA 55. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
LETREIRO: "SEGUNDO DIA"
Flávia caminha apressada na rua.
HOMERO
Hoje a cabritinha tá aperreada!
Parece até maratonista. Cruz credo!
Ela entra no posto de gasolina e fala com o frentista que
aponta o escritório. Ela vai em direção, mas fala com um
homem bem vestido.
FLÁVIA
Oi, eu queria saber se aqui não tá
precisando de alguém na
administração.
DONO
No momento não, mas deixa o seu
currículo que qualquer coisa, a
gente avalia e fala contigo.
Ela vasculha na bolsa.
FLÁVIA
Obrigada. Aqui está.
Entrega-o e fecha a bolsa. Mas logo sai andando.
46.
CENA 56. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Ana e Flávia deitadas.
ANA
Hoje lá na casa da Lurdes, eu achei
uns trecos inúteis. Que fiquei até
irritada só de pensar que ia ter de
arrumar aquilo tudo. E o seu dia,
como foi?
FLÁVIA
Fui andando por aí, procurando
emprego na área de administração.
Fui até em posto de gasolina, mas
fiz bastante coisas. Cheguei,
ninguém ligou lá pra baixo, então
ainda estou desempregada.
ANA
Mas há de haver um emprego. Não se
apoquente. Mas você almoçou o quê?
FLÁVIA
Comi um desses Jesus me chama,
porque tava varada.
ANA
Mas tome cuidado, isso faz um mal
pra bucho depois.
FLÁVIA
Estou bem, não me fez mal não.
ANA
Olha, você tome cuidado por essas
ruas de Deus me livre. Porque você
é uma moça bonita e andando
sozinha, os gaviões colocam as
garras de fora, você abra seu olho!
FLÁVIA
Tá, mãe, eu sei me cuidar. Boa
noite.
As duas viram para seus lados, apagam as luzes e vão
descansar.
47.
CENA 57. TERESINA. RUA. INT. DIA.
LETREIRO: "TERCEIRO DIA"
Flávia caminhando, Homero sempre na cola. Ela vê um
restaurante aberto e entra.
CENA 58. TERESINA. RESTAURANTE. EXT. DIA.
Ela entra e entrega um currículo ao recepcionista. O rapaz
olha, balança positivamente a cabeça e ela sai.
CENA 59. TERESINA. CASA DE LURDES. JARDIM. EXT. DIA.
Ana está limpando o jardim, ajeitando as cadeiras. Chega
Raimundo de surpresa.
RAIMUNDO
Ana! Ei, Ana!
ANA
Raimundo, você por aqui? Que
surpresa!
RAIMUNDO
Puxa, não tenho mais te visto no
hotel.
ANA
Fiquei muito cansada nesses últimos
dias, então acabei subindo direto
para tomar um banho e cama.
RAIMUNDO
Entendi. Mas já que estou aqui/
ANA
Rápido, se não a patroa me
desconta.
RAIMUNDO
Queria te chamar para o próximo
baile que terá.
ANA
Ah, eu vou sim.
RAIMUNDO
Oh, promessa é dívida, hein, não
vai roer a corda!
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 48.
ANA
Pode deixar. Não é promessa de
político. Agora rala peito, pois
tenho que trabalhar.
RAIMUNDO
Já tô indo!
Ele sai andando rápido e ela volta para a casa.
CENA 60. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. NOITE.
Rodrigo, Homero e Robalo sentados.
HOMERO
Bom, é isso aí, a primeira parte
foi cumprida. Após três dias de
urubuservar a cabritinha, ou
melhor, a Flávia.
RATO
E agora entra você Robalo, precisa
estar em uma loja junto com ela e
por engano colocar o produto na
bolsa dela/
ROBALO
Aí o alarme toca!
RATO
Odeio quando cortam a minha fala.
ROBALO
Desculpa aí, seu Rato!
RATO
Mas é isso mesmo. Homero continua
na cola dela, mas agora vai
avisando ao nosso amigo Robalo.
Onde é que ela costuma entrar e
parar?
HOMERO
Mais em mercado ou loja de roupa.
RATO
Já é uma boa dica. Vamos arquitetar
um plano infálivel para pegá-la
direitnho.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 49.
ROBALO
Então amanhã às oito na frente do
hotel, eu e Homero começamos o
nosso servicinho.
RATO
Olho vivo para nada dar errado.
CENA 61. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. DIA.
Ana se arruma para o trabalho e Flávia já tá quase pronta
para sair.
ANA
Nossa acordou junto com o galo
hoje, foi?
FLÁVIA
Pode-se dizer que sim. Dormi com as
galinhas.
ANA
Mas tem que acordar cedo para
procurar emprego. Bora que a vida
não é mole com ninguém.
FLÁVIA
Mãe, tchau, vou à luta.
Flávia sai do quarto. Enquanto Ana está penteando o cabelo.
ANA
Assim que se fala.
CENA 62. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Na frente do hotel já estão Homero e Robalo.
HOMERO
Cabra, tá com o plano fresquinho,
né? Não esqueceu de nada.
ROBALO
Cabra, fica tranquilo.
HOMERO
Vou botar meu boi na sombra.
ROBALO
É só ela descer para a diversão
começar.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 50.
HOMERO
Olha ela vindo aí.
Flávia está na porta do hotel.
ROBALO
Agora vou ficar de tocaia. Avisa
quando ela entrar em uma loja
movimentada.
HOMERO
Já sei!
Robalo se apressa e sai andando na mesma direção que ela.
Homero acompanha Flávia.
HOMERO
Agora eu quero ver o que o chefe
vai achar depoois que o serviço
estiver completo!
CENA 63. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Flávia sai de um prédio comercial e caminha até o
supermercado. Homero a segue. Passa um rádio para Robalo.
HOMERO
(Rádio)
Robalo! Robalo!
ROBALO
(Rád. OFF.)
Pode falar.
HOMERO
(Rád.)
Ela vai entrar no mercado.
ROBALO
(Rád. OFF.)
Siga e me diga em que corredor ela
está!
Homero dá um corridinha para alcançá-la. Flávia entra no
supermercado.
51.
CENA 64. TERESINA. CASA DE LURDES. COZINHA. INT. DIA.
Ana cozinhando. Chega Lurdes.
LURDES
Hum, que cheiro bom! O que é que
você tá fazendo pro almoço?
ANA
É Osso-do-vintém.
LURDES
Ai, eu adoro mocotó. Desde menina,
quando morava em São Paulo.
ANA
Desculpe perguntar, mas a senhora
nasceu lá?
LURDES
Nasci e cresci, só vim para
Teresina com meus 25 anos, já
casada.
ANA
Ah, tá.
Ana sente uma fisgada no coração.
ANA
Ai, meu peito!
LURDES
Senta aqui. Vou te dar um copo
d’água.
ANA
Valeu! Já passou. Oxe! Que fisgada
forte.
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 65. TERESINA. SUPERMERCADO. BISCOITOS. INT. DIA.
Flávia está escolhendo um biscoito, ela deixa a bolsa no
chão, pois está agachada. Homero na ponta do corredor.
HOMERO
(Rád.)
Tô nos biscoitos.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 52.
Robalo aparece em pouco tempo e vê que Flávia ainda está
escolhendo. Então devagar, vai passando perto dela e deixa
cair na bolsa dela uma lata lacrada com sensor anti-furto.
Ao fim do serviço, anda em direção a Homero e dá uma piscada
com um sinal positivo para ele.
Os dois saem dali.
CENA 66. TERESINA. SUPERMERCADO. EXT. DIA.
Homero e Robalo na porta, do lado de fora, esperando Flávia
sair.
HOMERO
Pô, ela tá demorando pra caramba.
Eu quero ver se o trabalho deu
certo!
ROBALO
Calma, a nossa parte já foi feita.
HOMERO
Mas e se aquela joça não apitar,
cabra. O Rato come a gente vivo.
Flávia está chegando perto da porta.
ROBALO
A sessão comédia vai começar.
HOMERO
Ih, é.
Flávia cruza a porta do mercado. Começa a apitar.
Rapidamente chegam os seguranças.
FLÁVIA
O que é isto?
SEGURANÇA
O alarme apitou, tá levando produto
sem pagar.
FLÁVIA
Não, eu não.
SEGURANÇA
É sempre assim, todo marreteiro
fala o mesmo.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 53.
FLÁVIA
Mas não sou nenhuma marreteira.
SEGURANÇA
Por favor, me acompanhe, mas antes
vou precisar revistá-la.
FLÁVIA
Não vai ficar relando em mim não,
visse, cabra safado.
SEGURANÇA
Olha o desacato e esse é o meu
serviço. Mas deixa eu ver sua bolsa
primeiro.
FLÁVIA
Tá pensando o que, cabra. Ficar
revirando minha bolsa.
SEGURANÇA
Tem que ser. Ou então vou jogar
tudo no chão (T) e já tô deixando
você falar demais.
Pega a bolsa dela e abre, logo vê a lata lacrada.
SEGURANÇA
Roubando bebida da loja. Que coisa
feia.
FLÁVIA
Eu? Eu não!
SEGURANÇA
Não? Então o que significa isso?
Mostra a lata.
FLÁVIA
Mas eu não peguei isso.
SEGURANÇA
Vá se entender com a polícia.
FLÁVIA
Não, pelo amor de Deus, presa não.
SEGURANÇA
Pensasse nisso antes.
Os dois voltam para dentro do mercado.
54.
Homero e Robalo que assistiram tudo, sorriem um para o
outro. E vão andando para a rua.
CENA 67. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Homero e Robalo andando.
HOMERO
Isso aí, meu caro.
ROBALO
A gente não devia esperar os cana
chegar?
HOMERO
É mais seguro, né?
ROBALO
É sim.
Voltam em para o mercado. Ouvem a sirene da polícia.
CENA 68. TERESINA. SUPERMERCADO. EXT. DIA.
Os dois parados meio longe da porta do mercado, por medo da
polícia. O carro de polícia parado na porta.
O segurança leva Flávia até a viatura.
FLÁVIA
Mas eu não fiz nada. Por favor não
me levem. Eu pago.
SEGURANÇA
Paga hoje e rouba outro amanhã.
Não, lugar de marreteiro é atrás
das grades, no xilindró.
Ela entra na viatura e o carro sai do mercado.
CENA 69. TERESINA. RUA. EXT. DIA.
Robalo e Homero saindo do supermercado.
HOMERO
Agora sim, completo.
ROBALO
Um trabalho perfeito.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 55.
HOMERO
Vamos comemorar, eu pago na padaria
uma Maria maluca.
ROBALO
Hum, eu quero. Com aquele coco, é
uma delícia.
Os dois vão andando calmamente.
CENA 70. TERESINA. CASA DE LURDES. SALA. INT. DIA.
Toca o telefone. Lurdes se apressa para atender.
LURDES
(tel.)
Alô?... Só um minuto.
LURDES
Ana! Telefone para você, parece que
é da polícia.
Ana corre para a sala.
ANA
Polícia? Pra mim?
LURDES
É o que diz.
ANA
(tel.)
Alô?
DIONÍSIO
(tel. OFF)
Você é mãe de Flávia?
ANA
(tel.)
Sim sou eu.
DIONÍSIO
(tel. OFF)
Então aconteceu.
CORTA RÁPIDO PARA:
56.
CENA 71. TERESINA. DELEGACIA. INT. DIA.
Ana chega correndo à delegacia.
ANA
Vim o mais rápido que pude.
DIONÍSIO
Por favor, sente-se.
ANA
Eu quero ver minha filha. Isso não
é lugar pra ela.
DIONÍSIO
Acalme-se. Já lhe expliquei tudo,
toda a história.
ANA
Sim, mas minha filha foi muito bem
educada, não fica roubando por aí
não.
DIONÍSIO
Só as investigações vão poder dizer
isso. Agora fale baixo, por favor.
Ou então serei obrigado a prender a
senhora por desacato.
ANA
Vai prender nada.
DIONÍSIO
Senhora, por favor.
ANA
Eu quero ver minha filha. Tirá-la
da mão de vocês.
DIONÍSIO
Eu vou deixar a senhora ver a sua
filha assim que a senhora tiver
mais calma.
ANA
O senhor já teve filho preso?
DIONÍSIO
Não.
ANA
Então não sabe como o coração de
pai e mãe fica aperreado, ainda
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 57.
ANA (...cont.)mais quando sabe que o filho não
tem a capacidade de fazer isso,
pois é uma pessoa boa.
DIONÍSIO
Tá bom. Você já pode falar com a
sua filha.
CENA 72. TERESINA. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.
Flávia de dentro da cela e Ana de fora. Um carcereiro fica
perto.
ANA
Oi, minha filha, o que você fez?
FLÁVIA
Nada, mas acharam um produto dentro
da minha bolsa, sem pagar e quando
passei pela porta apitou aquele
alarme.
ANA
Eu disse para tomar cuidado. Mas
fica calma, porque vou te tirar
daqui.
FLÁVIA
Tomara! Porque isso aqui é
horrível/
ANA
A gente vai ter que ficar
conversando com um meganha
bisbilhotando? É isso mesmo?
CARCEREIRO
Olha aqui, minha senhora, olha o
desacato.
ANA
O que foi? Não gostou, meganha?
CARCEREIRO
Vai ser presa!
ANA
Mas, menino! Você não tem coragem.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 58.
CARCEREIRO
Olha que tenho, visse!
ANA
Nunca mamou em onça, é covarde!
CENA 73. TERESINA. DELEGACIA. INT. DIA.
O delegado ouve a confusão perto da cela.
CARCEREIRO
(OFF)
Eu vou perder a paciência! Tá
cutucando onça com vara curta!
ANA
(OFF)
Fala muito e não faz nada.
E sai correndo ver o que é.
CENA 74. TERESINA. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.
Delegado chega sério. E os dois ainda discutindo.
DIONÍSIO
O que é que está acontecendo aqui?
CARCEREIRO
Essa dona aí, fica irritando os
outros. Fica gritando me chamando
de meganha.
DIONÍSIO
A senhora sabe que isso é desacato,
né? E dá cadeia, visse?
ANA
Eu não falei nada demais.
DIONÍSIO
Eu ouvi de lá. E não tô muito a fim
de prender a senhora, mas se
continuar arrochando, vou ser
obrigado.
ANA
Vocês são da polícia, tem que ter
palavra de rei. Ficam prometendo,
parecem políticos.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 59.
DIONÍSIO
Chega! Basta! Carcereiro, prenda
essa mulher!
ANA
Eu tenho os meus direitos.
FLÁVIA
Mãe, chega. Fica bancando a
valente.
ANA
Você também? Não tem ninguém do meu
lado?
CARCEREIRO
Agora, a senhora fará companhia à
sua filha.
Abre a porta da cela para colocar Ana lá dentro.
ANA
Mas eu tenho direito de fazer uma
ligação!
DIONÍSIO
Vai fazer pra quem?
ANA
Quero falar com Raimundo, depois
ele avisa à Lurdes.
CENA 75. TERESINA. DELEGACIA. INT. NOITE.
Raimundo chega depressa.
RAIMUNDO
Seu delegado, o que a dona Ana fez
para ser presa?
DIONÍSIO
Desacatou a mim e ao carcereiro.
Ela quis arrochar, mas nós fomos
firmes e demos voz de prisão.
RAIMUNDO
Ai, coitada. Quero falar com ela.
DIONÍSIO
Seja breve, pois ela estava muito
exaltada.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 60.
RAIMUNDO
Deixe comigo.
CENA 76. TERESINA. DELEGACIA. CELA. INT. NOITE.
Raimundo vai até a cela de Ana e Flávia.
RAIMUNDO
Ai, pelo menos vocês estão bem/
ANA
Bem? Você mangando da nossa cara?
Não fresque não, visse!
RAIMUNDO
Mas não estou brincando. Vocês
poderiam estar machucadas.
FLÁVIA
Não ligue, ela está aperreada.
RAIMUNDO
Eu sei. Mas podem ficar tranquilas,
pois vou falar com meus advogados e
pagarei pelos serviços.
FLÁVIA
Ai, você é um anjo em nossas vidas.
RAIMUNDO
Mas vou falar com o seu Carlos
também, afinal é mais rico e pode
ajudar mais, os advogados são
melhores.
ANA
Quero ver, você falar com ele. Que
deve ter um bando de aspone, ainda
mais para quem não conhece e
resolvendo um problema da
empregada.
RAIMUNDO
Não seja tão pessimista.
ANA
Fica aqui na minha situação e vê se
aguenta o canjirão.
RAIMUNDO
Mas você é forte.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 61.
ANA
Se não tem solução, acho melhor ir
embora.
FLÁVIA
(baixo para Raimundo)
Releva! Ela te ama.
RAIMUNDO
Eu sei. Mas já vou mesmo. Falo com
o advogado e eu prometo que vocês
estarão livres antes do baile dessa
semana. Não vou roer a corda!
CENA 77. TERESINA. SUPERMERCADO. INT. DIA.
Raimundo procura o segurança.
RAIMUNDO
Bom dia, ontem houve um furto neste
mercado, não teve?
SEGURANÇA
Teve sim.
RAIMUNDO
Mas eu acho que a acusada é
inocente, mas para provar eu
precisava ver as câmeras de
segurança de ontem. O senhor lembra
o horário que foi?
SEGURANÇA
Foi entre onze da manhã e uma da
tarde.
RAIMUNDO
Será que eu poderia ver essas
fitas?
SEGURANÇA
Não devia, mas vou permitir, pois
não quero atrapalhar investigações.
RAIMUNDO
Valeu!
SEGURANÇA
Acompanhe-me.
62.
CENA 78. TERESINA. SUPERMERCADO. INT. DIA.
Raimundo e o segurança andando para a porta do mercado.
RAIMUNDO
Obrigado. Você ajudou muito às
investigações. Agora já tenho
provas que mostram a inocência da
Flávia.
SEGURANÇA
Eu agora estou até envergonhado de
ter posto ela na cadeia.
RAIMUNDO
Mas não foi sua culpa, apenas fez o
seu trabalho. Até mais ver.
CENA 79. TERESINA. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.
Lurdes está conversando com Ana.
LURDES
Ai, fiquei muito preocupada. Achei
que fosse perder minha empregada. E
tá tão difícil achar uma boa hoje
em dia.
ANA
Fica calma, eu já vou sair.
LURDES
Mas quem mandou você desrespeitar
os policiais. Eles são a lei.
ANA
Não vem com sermão, porque não tem
reza de padre velho que dê jeito.
Agora é esperar ser solta.
LURDES
Mas tu é tinhosa.
CENA 80. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. DIA.
Rodrigo, Homero e Robalo reunidos, bebendo para comemorar.
RATO
Ontem não deu, mas hoje temos que
comemorar. Tiramos a songa-monga do
caminho.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 63.
ROBALO
Nada melhor que brindar com
champagne.
HOMERO
O serviço foi perfeito.
ROBALO
Tinha que ser.
RATO
Só notícia boa! Ainda tem os
negócios que estão de vento em
poupa!
ROBALO
É só alegria!
CENA 81. TERESINA. DELEGACIA. INT. NOITE.
Raimundo chega à delegacia com uma mochila.
RAIMUNDO
Delegado, eu andei averiguando
sobre o furto que a Flávia está
sendo acusada e consegui pegar a
fita que prova a sua inocência.
DIONÍSIO
Então mostre!
RAIMUNDO
Aqui está.
Coloca a fita para ser exibida na televisão.
INSERT DA CENA 65.
DIONÍSIO
Então ela estava falando a verdade.
RAIMUNDO
O tempo todo.
DIONÍSIO
Esse homem que aparece nas
filmagens parece muito com o
traficante Robalo, um dos membros
da quadrilha do Rato.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 64.
RAIMUNDO
Viu, o marreteiro já era criminoso.
DIONÍSIO
É.
RAIMUNDO
Vai liberar as duas?
DIONÍSIO
Vou. Mas elas vão ter que passar a
noite aqui.
RAIMUNDO
Por quê?
DIONÍSIO
Só para fazer tudo com calma.
RAIMUNDO
Posso dar a notícia às duas.
DIONÍSIO
Eu dou.
CENA 82. TERESINA. DELEGACIA. INT. NOITE.
Delegado chega na porta. Raimundo fica um pouco atrás.
DIONÍSIO
Bom, meninas, tenho uma boa
notícia.
FLÁVIA
(Esperançosa)
Qual?
DIONÍSIO
Graças a um anjo, porque ele só
pode ser isso, foi mostrado em
fitas da segurança interna do
supermercado que o furto foi
sabotagem. Logo você não tem culpa
de nada.
FLÁVIA
Ai, Deus é pai! Valeu, Seu
Raimundo. Já estou liberada?
DIONÍSIO
Só para não haver problemas, vocês
duas poderão ir embora amanhã de
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 65.
DIONÍSIO (...cont.)manhã. E como sabe que o anjo é seu
Raimundo?
FLÁVIA
Foi isso que falei para ele ontem!
DIONÍSIO
Então você tem completa razão! Eu
preciso pegar o verdadeiro acusado
do crime, pois aparece na filmagem
um dos traficantes mais procurados
por aqui.
ANA
O Rato?
DIONÍSIO
Não. É da quadrilha dele.
ANA
Ah, tá.
DIONÍSIO
Com licença. Podem conversar.
Delegado sai.
ANA
Eu tô doida para sair daqui e te
dar um bom beijo, porque você
Raimundo é porreta! Êta, cabra
arretado!
RAIMUNDO
Não posso nem esperar.
CENA 83. TERESINA. PRAÇA. EXT. DIA.
Delegado andando de manhã, senta-se num banco e lê o
jornal.
Passa Raimundo.
RAIMUNDO
Bom dia, seu delegado.
RAIMUNDO
Bom dia.
Raimundo para um pouco e fica na frente de Robalo.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 66.
ROBALO
Olha o meio aí, cabra!
RAIMUNDO
Desculpa.
O delegado reconhece a voz.
DIONÍSIO
Ei! Pera aí!
Robalo apressa o passo.
DIONÍSIO
Vem cá, agora. Pare!
Robalo sai correndo e o delegado vai atrás. Mas Robalo
tropeça e cai. O delegado o alcança. E aponta a arma na
cabeça do rapaz.
DIONÍSIO
Mãos para o alto, não faça nenhum
movimento brusco. E se entregue.
Agora se levante devagar, com as
mãos para cima.
Robalo levanta.
DIONÍSIO
Isso! Muito bom. Agora me acompanhe
para a delegacia.
Ele põe algemas em Robalo e vão andando até o carro da
polícia parado na praça.
Ao colocá-lo dentro do carro, olha para trás e faz um sinal
de positivo para Raimundo. Que reponde com o mesmo.
CENA 84. TERESINA. HOTEL. QUARTO. INT. DIA.
Ana e Flávia chegam e Flávia já se joga na cama.
FLÁVIA
Oxe! Como é bom estar de volta!
ANA
Com certeza, quero esquecer que um
dia já vi o sol nascer quadrado.
FLÁVIA
Nem fala. O pior que no meu caso,
por causa dos outros.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 67.
ANA
Mas a mentira tem perna curta e a
vingança vem a cavalo. Até porque
nesse mundo tem que haver justiça!
FLÁVIA
E há. Tanto que acharam a verdade
bem depressa.
ANA
Isso não se pode negar.
FLÁVIA
Ah, mãe. E quando é o bate-coxa com
o seu Raimundo?
ANA
Olhe o respeito! Que bate-coxa o
quê? Eu tenho idade para isso?
Aquilo é um baile de bom gosto!
FLÁVIA
Tá bom. Quando é o baile, o melhor
do Brasil que conta com a presença
de pessoas da melhor qualidade,
casais de todas as idades e pessoas
que queiram dançar?
ANA
Para de deboche. (T) O baile é
daqui a dois dias! Vou poder dançar
com o Raimundo, será que ele vai me
pedir em namoro?
FLÁVIA
Hum...
ANA
Num fresca não!
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 85. TERESINA. DELEGACIA. INT. DIA.
Delegado sentado em sua cadeira fazendo algumas perguntas a
Robalo.
DIONÍSIO
Agora, quero saber tudo! Onde é que
fica o esconderijo do Rato?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 68.
ROBALO
Eu não sei.
DIONÍSIO
Sabe sim e acho melhor você
cooperar com as investigações.
ROBALO
Mas eu não sei.
DIONÍSIO
Eu já vi as gravações, com seu
celular posso rastrear, mas queria
te ajudar, já que não quer ser
ajudado. Não posso fazer nada. Eu
já sei que vocês contam com o
Homero na quadrilha. Agora só falta
chegar ao Rato. Mas com o
rastreador de telefones, tudo fica
mais fácil. Graças a tecnologia. E
ai vai falar ou não, cabra?
ROBALO
Já que o senhor já sabe de tudo,
vou falar para limpar meu lado.
DIONÍSIO
Acho bom!
ROBALO
O esconderijo fica/
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 86. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. DIA.
Rodrigo palitando os dentes e Homero sentado jogando
paciência.
DIONÍSIO
(OFF)
Aqui é a polícia! Vocês estão
cercados, saiam com as mãos para
cima.
HOMERO
Ih, sujou!
RATO
Você se entrega, eu vou dar um
jeito de fugir.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 69.
HOMERO
Vai me deixar nessa sozinho, chefe?
RATO
Vou e acho melhor, você não me
entregar, pois a coisa pode ficar
feia pro seu lado. Sabe que caguêta
merece a vala!
HOMERO
Nem sobre tortura vou entregar o
senhor.
RATO
Não vá roer a corda!
DIONÍSIO
(OFF)
Saiam logo! Sei que estão aí!
CENA 87. TERESINA. NINHO DO RATO. EXT. DIA.
Homero sai com as mãos na cabeça do esconderijo.
DIONÍSIO
Muito bem, seu Homero. Agora, ponha
as mãos para a frente.
Ele obedece e um guarda o algema.
DIONÍSIO
Cadê o Rato?
HOMERO
Não sei.
DIONÍSIO
O melhor é se entregar ou então
iremos invadir em 3...
CENA 88. TERESINA. NINHO DO RATO. INT. DIA.
Rodrigo sente-se encurralado. Até ver uma pequena janela no
fundo da sala.
DIONÍSIO
(OFF)
2...
Pula na janela e fica entalado.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 70.
DIONÍSIO
1! Vamos entrar!
Os policiais invadem a casa e o delegado vê duas pernas
balançando.
DIONÍSIO
Ih, ficou entalado!
Ele vai até a porta dos fundos.
CENA 89. TERESINA. NINHO DO RATO. EXT. DIA.
Só metade do tronco de Rodrigo pela janela.
DIONÍSIO
Isso que é fim de carreira! Não
teve nem oportunidade de sair pela
porta da frente de cabeça erguida.
RATO
Ah, num fresca não, seu delegado!
DIONÍSIO
Cuidado, tudo o que disser pode ser
usado contra você.
CENA 90. TERESINA. HOTEL. SAGUÃO. INT. DIA.
LETREIRO: "Dois dias depois..."
Ana e Flávia estão saindo. Enquanto Raimundo está chegando.
RAIMUNDO
Que bom encontrar vocês aqui. Vão
hoje ao baile?
Flávia apressa-se para responder antes da mãe.
FLÁVIA
Vamos!
RAIMUNDO
Que maravilha! Já sabem das novas?
ANA
Quais? Seja breve que vamos
trabalhar!
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 71.
RAIMUNDO
Serei. Prenderam a quadrilha do
Rato.
ANA
Já sabemos, teremos que ir á
delegacia para fazer uns trecos que
aquele delegado pediu.
FLÁVIA
Eu estou curiosa para saber quem
foi. (T) Mas, e o senhor soube que
aquela empresa me ligou para eu
começar hoje, pois acharam que eu
tenho o perfil perfeito e blá blá
blá.
RAIMUNDO
Viu! Só notícias boas!
ANA
Agora vambora logo.
FLÁVIA
Ai mãe, tá tão aperreada. Oxe!
RAIMUNDO
Até mais tarde.
Saem andando apressadas.
CENA 91. CASA DE LURDES. SALA. INT. DIA.
Lurdes e Ana em pé.
LURDES
Fiquei feliz por ter voltado.
ANA
A cadeia é um lugar horrível. Não
desejo isso nem para o pior
inimigo.
LURDES
O que importa é que está de volta.
ANA
E hoje vou estar com a senhora no
baile?
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 72.
LURDES
Ai, não sei.
ANA
Pode ir. Lá todo mundo é gente boa.
Não tem nenhum canelau, o povo se
arruma direitinho.
LURDES
Eu não ligo pra isso. O problema é
meu marido.
ANA
Seu Carlos vai gostar também.
LURDES
Eu devo ir sim.
CENA 92. TERESINA. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.
Robalo, Homero e Rodrigo presos. Entram Flávia e Ana
seguidas do delegado.
DIONÍSIO
Estes três são os culpados!
FLÁVIA
Rodrigo?
DIONÍSIO
Você o conhece?
FLÁVIA
Claro, esse sujeitinho me
abandonou, ou melhor nos abandonou
e fomos obrigadas a vir tentar uma
vida melhor aqui em Teresina.
RATO
Não me trate assim, meu amor.
ANA
O nome verdadeiro não era Etelvido?
RATO
Esse é um dos muitos que inventei.
(T) Mas Flávia, eu te amo!
FLÁVIA
Fica quieto, você escolheu o
apelido certo, RATO! Cabra nojento,
asqueroso!
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 73.
RATO
Não me trate assim.
ANA
Cala a boca, sujeitinho! Tá se
achando homem? Não vai ser isso
nunca, cabra!
DIONÍSIO
Senhoras, só gostaria de
mostrar-lhes quem eram os
meliantes, os verdadeiros
marreteiros e traficantes.
FLÁVIA
Eu quero ir embora. Esse lugar tá
me dando nojo.
DIONÍSIO
Aquele ali é o Homero, foi ele quem
ficou te perseguindo e aquele outro
ali, mais conhecido como Robalo foi
quem sabotou para que você
parecesse uma marreteira.
FLÁVIA
Quero que cada um de vocês, vá se
lascar!
Saem e deixam os presos para trás.
CENA 93. TERESINA. DELEGACIA. INT. NOITE.
Flávia e Ana conversam com o delegado.
ANA
Filha, eu tô te esperando ali fora.
FLÁVIA
Já tô indo.
Ana sai.
FLÁVIA
O senhor não quer me acompanhar no
baile mais tarde?
DIONÍSIO
Seria uma honra, mas não me trate
como senhor. Temos a mesma idade.
Sou Dionísio.
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 74.
FLÁVIA
Ah, pensei que não tivesse nome. É
delegado pra cima e pra baixo.
DIONÍSIO
(risada sem graça)
Mas há que horas lhe busco?
FLÁVIA
Às oito, tá bom?
DIONÍSIO
Já são quase seis. Então dá sim.
Até mais tarde, Flávia.
FLÁVIA
Até mais, Dionísio.
CENA 94. TERESINA. HOTEL. EXT. NOITE.
Raimundo acompanha Ana e Dionísio pega Flávia. Vão
caminhando sob o luar.
CENA 95. TERESINA. BAILE. INT. NOITE.
Orquestra tocando. Vários casais dançando. No meio do salão
os dois casais principais.
CANTOR
Gente, agora vamos colocar uma
música pra dançar juntinho.
A Orquestra toca "Nosso Xote".
Lurdes levanta para dançar com Carlos.
Todos dançam
Ao fim da música. Raimundo sobe ao palco.
CENA 96. TERESINA. BAILE. PALCO. INT. NOITE.
Raimundo pede o microfone ao cantor.
RAIMUNDO
Meus amigos, desculpe interromper a
música boa aqui. Mas gostaria de
pedir a atenção de todos. Afinal,
no meio desse salão, há uma mulher
que roubou meu coração. E a ela
(MAIS...)
(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 75.
RAIMUNDO (...cont.)gostaria de pedir uma coisa: Ana,
quer namorar comigo?
Todos os olhos se voltam para Ana, que muito envergonhada
faz sim com a cabeça.
RAIMUNDO
Fala com a boca.
ANA
(Grita)
SIM!
Ele desce do palco rapidinho.
CENA 97. TERESINA. BAILE. INT. NOITE.
Raimundo chega em Ana e os dois se beijam e se abraçam. O
gesto é repetido por todos os casais ao redor: Lurdes e
Carlos, Flávia e Dionísio.
Orquestra toca: "Como é grande o meu amor por você"
FIM
FICHA DO AUTOR
NOME: Gustavo Pia de Almeida Costa
ENDEREÇO: Av. Heior Beltrão, 152, apartamento 806.
TELEFONE: 3502-8959
RG: 28.377.668-0