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Teologia Bíblica do Antigo Testamento SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 1

Teologia Bíblica do Antigo Testamento · Teologia Bíblica do Antigo Testamento SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 3 PREFÁCIO A estudo da Teologia

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 1

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 3

PREFÁCIO

A estudo da Teologia Bíblica do Antigo Testamento é um manancial de conhecimentos, que

veio somar satisfatoriamente para o crescimento dos nossos obreiros.

O Mestre na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Bispo Josias Brito esforçou-se

exaustivamente por apresentar, em especial aos nossos obreiros, um trabalho bem elaborado, que

vale a pena compulsá-lo.

Companheiros e companheiras, alunos e alunas do nosso Seminário em Teologia a nível

Bacharel, vamos crescer no conhecimento! e juntos faremos da nossa grande Igreja, uma potência

mundial.

Juntos somos fortes!!

Bispo Cordeiro

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 4

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 5

SUMÁRIO

CONCEITO GERAL .......................................................................................................................................... 9

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. .......................... 10

1.1. O Antigo Testamento .............................................................................................................................. 10

1.2. Por que chamar a Bíblia Hebraica de Antigo Testamento? .................................................................... 11

1.3. Os livros do Antigo Testamento? ............................................................................................................ 11

1.4. Autoridade do AT para os cristãos? .......................................................................................... .............. 12

1.5. Revelação e Inspiração ............................................................................................................................ 14

2. O PENTATEUCO ........................................................................................................ ................................ 15

2.1. Definição ......................................................................................... ........................................................ 15

2.2. Conteúdo do Pentateuco .......................................................................................................................... 16

2.3. A autoria do Pentateuco ..................................................................................................... ..................... 16

2.4. A mensagem religiosa do Pentateuco ..................................................................................................... 19

3. O LIVRO DE GENESIS .......................................................................................................... .................... 19

3.1. Introdução e Título ........................................................................................................... ....................... 19

3.2. Esboço de Gênesis ..................................................................................... .............................................. 20

3.3. Propósito do Livro .......................................................................................................... ......................... 20

3.4. A Estrutura de Gênesis ............................................................................................................................ 21

3.5. Gênero literário de Gênesis ................................................................................................. .................... 21

3.6. A teologia de 1-11 .......................................................................................................................... ......... 23

3.7. A História Patriarcal (2000 – 1500 a C.) ................................................................................................. 25

3.8. A Teologia das Narrativas ................................................................................................... .................... 26

3.9. Chaves para Gênesis ............................................................................................................................... 27

3.10. Conclusão ........................................................................................................... ..................................... 28

4. O LIVRO DE ÊXODO ....................................................................................................................... .......... 29

4.1. Introdução e Título ............................................................................................... ................................... 29

4.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 30

4.3. Esboço de Êxodo ..................................................................................................................................... 31

4.4. A importância de Moisés ..................................................................................................... ................... 32

4.5. O conflito com Faraó: as Pragas e a Páscoa, e, finalmente a Saída (caps. 5-12) ................................... 35

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 6

4.6. A chave para Êxodo .......................................................................................................... ..................... 40

4.7. Conclusão .................................................................................................................... ........................... 40

5. O LIVRO DE LEVÍTICO ............................................................................... ............................................. 41

5.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 41

5.2. Tema e Propósito ................................................................................................................................... 41

5.3. Esboço de Levítico .......................................................................................................... ....................... 42

5.4. A chave de Levítico ........................................................................................................... .................... 43

5.5. Os Sacrifícios .......................................................................................... ............................................... 44

5.6. Os Sacerdotes ............................................................................................................... .......................... 46

5.7. As Festas Solenes do Antigo Testamento .............................................................................................. 47

5.8. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 49

6. O LIVRO DE NÚMEROS .................................................................................................................. ....... 50

6.1. Introdução e Título .................................................................................................. ............................... 50

6.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 51

6.3. Esboço de Números ................................................................................................................................ 52

6.4. A chave para Números ........................................................................................................ .................. 53

6.5. A Mensagem de Números....................................................................................................................... 53

6.6. Cristo em Números ........................................................................................................... .................... 56

6.7. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 54

7. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO ............................................................................................................. 57

7.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 57

7.2. Tema e Propósito .................................................................................................................................... 57

7.3. Esboço de Deuteronômio ...................................................................................................... ................. 58

7.4. A chave para Deuteronômio ................................................................................................... ............... 59

7.5. Pontos Teológicos em Deuteronômio ............................................................................. ....................... 59

7.6. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 62

8. OS LIVROS HISTÓRICOS ....................................................................................................................... 62

9. O LIVRO DE JOSUÉ ............................................................................................................ ..................... 63

9.1. Introdução e Título ................................................................................................................................. 63

9.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 64

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 7

9.3. Autoria e Data do Livro ................................................................................................. ........................ 64

9.4. Esboço do Livro de Josué ...................................................................................................................... 65

9.5. A chave para Josué .......................................................................................................... ....................... 66

9.6. Pontos Teológicos em Josué .................................................................................................................. 66

10. O LIVRO DE JUIZES ........................................................................................................... ..................... 68

10.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 68

10.2. Autoria e Data ...................................................................................................................................... 69

10.3. Tema e Propósito .......................................................................................................... ....................... 69

10.4. Esboço do Livro de Juízes ...................................................................................................................... 70

10.5. A chave para Juízes.......................................................................................................... ...................... 71

10.6. O Ensino ...................................................................................................................... ........................... 71

11. O LIVRO DE RUTE .................................................................................. ................................................. 73

11.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 73

11.2. Conteúdo ............................................................................................................................................... 73

11.3. Autoria e Data .............................................................................................................. ......................... 74

11.4. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 74

11.5. Esboço do Livro de Rute ..................................................................... .................................................. 74

11.6. O Cenário ................................................................................................................... ............................ 75

11.7. A chave para Rute ................................................................................................................................. 75

12. O LIVRO DE SAMUEL ........................................................................................................... .................. 76

12.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ....................... 76

12.2. Autoria e Data ...................................................................................... ................................................. 77

12.3. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 77

12.4. Esboço de 1 e 2 Samuel ......................................................................................................................... 78

13. O LIVRO DE REIS ............................................................................................................. ........................ 80

13.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ....................... 80

13.2. Conteúdo .............................................................................................. ................................................. 81

13.3. Autoria e Data .............................................................................................................. ......................... 81

13.4. Propósito ............................................................................................................................................... 82

13.5. Esboço de Reis .............................................................................................................. ......................... 82

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 8

14. A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL .................................................................................. 84

14.1. Introdução .............. ............................................................................................... ................................ 84

14.2. SAMUEL – Sacerdote, profeta e Juiz.................................................................................................... . 85

15. O PERÍODO DE TRANSIÇÃO .................................................................................................................. 86

15.1. Introdução .................................................................................................................. ............................ 86

15.2. As campanhas militares de Saul (13.1-14.52) ........................................................................................ 87

15.3. A escolha fatal de Saul (15.1-35) ........................................................................................................... 87

15.4. DAVI - Pastor, guerreiro, rei eleito (1Sm 16.1-2Sm 5.10) .................................................................... 88

15.5. Saul e Davi (16.1-31.13) ............................................................................................................ ............ 88

15.6. A fuga de Davi (21.1-27.12) .................................................................................................................. 89

15.7. Declínio e morte de Saul. (28. 1-31; 13.) ............................................................................................... 89

16. A DUPLA UNCÃO DE DAVI (2Sm 1.1-5.10) .......................................................................................... 90

16.1. Rei em Hebron ...................................................................................................................................... 90

16.2. Rei em Jerusalém ............................................................................................................ ....................... 90

17. DAVI CONSOLIDA SUAS CONQUISTAS (2Sm 5.11-24.25) ................................................................ 90

17.1. As batalhas ................................................................................................................. ............................ 90

17.2. As reformas religiosas ......................................................................................................... ................... 91

17.3. Um sucesso militar ........................................................................................ ......................................... 91

18. DAVI UM SER HUMANO .......................................................................................................... ............... 91

18.1. A manifestação de misericórdia (9.1-13) ............................................................................................... 91

18.2. O abuso de poder (11.1-12.31) .............................................................................................................. 92

18.3. Problemas na corte (13.1-18.33) ............................................................................................................ 92

19. A TRANSFERÊNCIA DO REINADO DE DAVI PARA SALOMÃO (1Rs 1.1-2.46) ............................ 93

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 95

AVALIAÇÃO 1 ................................................................................................................. .............................. 97

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 9

CONCEITO GERAL

Teologia é a ciência que trata do nosso conhecimento de Deus, e das coisas divinas. A

teologia abrange vários ramos, vejamos:

Teologia exegética - Exegética vem da palavra grega que significa extrair. Esta teologia

procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras.

Teologia Histórica - Envolve o Estudo da História da Igreja e o desenvolvimento da

interpretação doutrinária.

Teologia Dogmática - É o estudo das verdades fundamentais da fé como se nos

apresentam nos credos da igreja.

Teologia Bíblica - Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia e

descreve a maneira de cada escritor em apresentar as doutrinas mais importantes.

Teologia Sistemática - Neste ramo de estudo os ensinamentos concernentes a Deus e

aos homens são agrupados em tópicos.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 10

1. INTRODUÇÃO

A Bíblia é a maior obra de literatura, história e teologia já escrita. Em sua produção,

preservação, proclamação e resultado (mudou a história, tem mudado vidas), ela permanece

sendo o mais singular livro em existência.

1.1. O Antigo Testamento

O Antigo testamento é uma história redentora que lança o fundamento sobre o qual o

NT se edifica. Há uma relação progressiva nas Escrituras, e o que se antecipa no AT é

desvendado no NT. O AT olha para frente e o NT olha para trás, para o evento central de toda a

história – a morte substitutiva do Messias.1

1.2. Por que chamar a Bíblia Hebraica de Antigo Testamento?

O vocábulo “testamento”, dentro das designações Antigo Testamento e Novo

Testamento, dadas às duas principais divisões da Bíblia, recua até o termo latino “testamentum”

e até ao termo grego “diathekê”, vocábulo este que, na maior parte de suas ocorrências na Bíblia

grega significa “pacto” e não testamento. Em Jeremias 31.1ss é predito um novo pacto (em

hebraico “berith”) que ultrapassará aquele que foi estabelecido por Javé com Israel, no deserto

(cf. Ex 24.7ss). Quando ele diz nova, torna antiquada a primeira (Hb 8.13). Os escritores do NT

veem o cumprimento da profecia sobre o novo pacto na ordem inaugurada pela obra de Cristo;

Suas próprias palavras de instituição em 1Co 11.25 dão autoridade a essa interpretação. Os livros

do AT, pois, são assim chamados pela sua íntima associação com a história do “antigo pacto”; e

os livros do NT são assim denominados por serem os documentos básicos do “novo pacto”.

Os termos Antigo Testamento (palaia diathekê) e Novo Testamento (Kainê diathekê)

para as duas coleções de livros entraram no uso cristão no final do segundo século de nossa era.2

Segundo Gottwald, os judeus a conheciam como “Tanak”, ou seja, a acrossemia das primeiras

letras das três divisões da Bíblia Hebraica: Torá (lei), Nebhi’im (profetas) e Kethbhim

(escritos).3

1 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 1 2 DOUGLAS, J.D (org) O Novo Dicionário da Bíblia p. 217 3 GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliteraria à Bíblia Hebraica p. 19

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 11

1.3. Os Livros do Antigo Testamento

Se perguntássemos a qualquer cristão que ler seriamente a Bíblia, quantos livros têm no

AT, ele responderia: trinta e nove (39) livros, e daria até a divisão deles, Pentateuco, históricos,

poéticos, profetas maiores e menores; de fato, as nossas Bíblias nos fornecem esses dados, mas,

não era assim que a Bíblia hebraica ou Tanak era dividida.

Esta divisão que nós temos do AT segue a organização da Septuaginta4, foi depois desta

tradução que o AT foi organizado em: Pentateuco ou Lei (5 livros); Históricos (12 livros);

Poéticos (5 livros); Profetas (17 livros); assim nós temos trinta e nove (39) livros, padrão

utilizado pelas nossas Bíblias atuais.

Na Bíblia Hebraica os livros são arranjados em três divisões: a lei (Tora), os profetas

(nebhi’im) e os escritos (kethubhim).

(1) A lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio);

(2) Os profetas são divididos em: (a) Profetas anteriores (nebhiim rishônim), compostos dos

livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis; (b) e os profetas posteriores (nebhiim ’aharônim),

compostos dos livros de Isaias, Jeremias, Ezequiel e o rolo dos doze (12) profetas (Oséias,

Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e

Malaquias); na Bíblia hebraica, esses doze escritos são agrupados em um único rolo,

enquanto que em nossas traduções são separados.

(3) Os Escritos – contém os restantes dos livros – primeiramente Salmos, Provérbios e Jó;

então os cinco rolos (meghillôth), a saber, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester;

e, finalmente os livros de Daniel, Esdra-Neemias e Crônicas. O total é tradicionalmente

computado como vinte e quatro (24) livros, ainda que estes vinte e quatro livros

correspondam exatamente à nossa computação comum de trinta e nove livros, visto que no

cânon hebraico os profetas menores são contados como um só livro (em contraste com os

doze livros de nosso compute), enquanto que consideramos Samuel, Reis, Crônicas e

Esdras-Neemias (do cânon hebraico), com dois livros cada.

4 Tradução do hebraico para o grego realizada por volta do ano 250 a.C. Setenta escribas se empenharam neste

trabalho, por isso essa obra foi intitulada de Septuaginta.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 12

Na septuaginta, os livros são arranjados de conformidade com a similaridade dos

assuntos. O Pentateuco é seguido pelos livros históricos, poéticos e de sabedoria, e esses pelos

livros proféticos. Em certos respeitos essa ordem é mais fiel à sequência cronológica do que a

que aparece na Bíblia Hebraica, por exemplo, o livro de Rute aparece imediatamente depois de

Juízes (visto que registra acontecimentos verificados nos dias em que julgavam os juízes), e a

obra do cronista aparece na ordem Crônicas, Esdras-Neemias.

Na tríplice divisão da Bíblia Hebraica é refletida a linguagem de Lucas 24.44 (lei de

Moisés... Profetas... Salmos), mas comumente, o NT à lei ou os profetas (cf. Mt 5.17), ou a

Moisés e os profetas (Lc 16.29).5

1.4. Autoridade do AT para os cristãos.

O AT era a Bíblia usada por Cristo e pelos apóstolos. De modo quase uniforme (2Pe

3.16 é exceção), as palavras “Escritura” e “Escrituras” no NT se referem ao AT (e.g., João 5.39;

10.35; At 8.32; Gl 3.8; 2Tm 3.16). Por cerca de duas décadas depois de Cristo, as únicas partes

do NT que existiam era relatos de Sua vida e de seus ensinos. Durante esse período em que uma

igreja vigorosa estendia, a base para a pregação e o ensino foi o AT reinterpretado por Jesus e

seus primeiros seguidores.6

1.4.1. Jesus e o AT (João 5.39)

Cristo reconheceu a autoridade impositiva da Escritura, enquanto reservara para si

mesmo o direito de ser seu verdadeiro interprete. Cristo apelou muitas vezes para as Escrituras

como base para seus argumentos e ensinos. Isso é ilustrado pelo triplo uso de “está escrito” no

relato da tentação (Mt 4.1-11).

Mesmo tendo a atitude de muitos judeus de seus dias em ralação à autoridade de AT.,

Jesus o interpretou de modo bem diferente em pelo menos dois aspectos:

Primeiro, assim como os profetas, ele sentia a vacuidade de grande parte do legalismo

judaico, em que a rotina e o ritual tinham se tornado um substituto barato para a pureza do

coração, integridade e preocupação social (Mc 7.1-13; Mt 19.13; 12.7, que cita Os 6.6.). Como

5 DOUGLAS, (org) O novo Dicionário da Bíblia p.217 6 LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento p. 637

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 13

verdadeiro profeta, o novo Moisés, Jesus interpretou a Lei no sermão do monte (Mt 5-7).

Rejeitando algumas interpretações erradas, mas correntes da lei, Jesus destacou o amor; o

perdão e a piedade interior. Ele deu novo significado aos principais temas proféticos que alguns

mestres judeus haviam negligenciado ao superestimar a letra da lei.

Segundo, e de maneira mais distintiva, Jesus insistiu que ele era o cumprimento

pessoal do AT; ele é o tema principal (cf. Lc 4.21).

1.4.2. Paulo e o AT

Como judeu e rabino Saulo de Tarso conhecia bem o AT; como cristão e apostolo,

Paulo descobriu que textos familiares estavam repletos de significado. Assim como Jesus, ele

aceitava a inspiração plena e autoridade da Escritura (2Tm 3.16). Suas quatro epistolas

principais – Romanos, 1-2 Coríntios e Gálatas – mostram claramente como ele dependia do AT.

Atados a alusões e citações do AT, cada escritor apresenta um modo peculiar de

empregá-las. Tiago por exemplo, utilizou de modo maciço a tradição sapiencial de Israel,

conforme manifestada nas técnicas de ensino e no pensamento de Cristo, o Sábio maior. O autor

de Hebreus empregou textos-prova e tipos do AT para demonstrar a nítida superioridade de

Cristo e de Sua nova aliança.

Seguindo seu Senhor na aceitação da autoridade da Escritura, os escritores do NT

encontraram nela não a letra que mata, mas o testemunho do Espírito acerca da atividade de

Deus que concede vida. Eles viam as Escrituras não como coleções enfadonhas de leis

escravizadoras, mas como atos anteriores de um grande drama de salvação.

Para entender o AT como Escritura cristã, é preciso enxerga-la pelos olhos de Jesus e

seus apóstolos. Eles eram especialmente inspirados pelo Espírito de Deus para captar o

significado das palavras e feitos reveladores de Deus e o rumo que tomava.

Além disso, devemos estar conscientes do contexto original de uma passagem do AT.

Por que foi escrita? Quando? Que problemas lhe deram origem? Só podemos buscar uma

implicação plena da passagem para fé e para a vida cristã quando começarmos a entender o

intento dela para a própria época do autor. O contexto do AT não nos dirá tudo o que

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 14

precisamos saber acerca do significado da passagem. Mas se não começarmos dali, será fácil

torcer as Escrituras de acordo com os nossos propósitos.7

1.5. Revelação e Inspiração

A Bíblia é um livro singular. Por um lado, ela é uma extraordinária peça de literatura

humana; por outro lado, atribui sua origem a Deus. Os termos teológicos fundamentais que

expressa essa singularidade são “revelação” e “inspiração”.

1.5.1. Revelação

Revelação refere-se à manifestação (lit. desvendar) da verdade por Deus nas Escrituras.

Em Jeremias 18.18, é alistado três canais humanos da revelação divina no antigo Israel:

(1) Os sacerdotes, que davam ao povo instrução (tora) sobre assuntos religiosos e

éticos;

(2) Os sábios, que ofereciam conselhos acerca dos problemas da vida aos reis e ao

povo comum;

(3) Os profetas, que proferiam mensagens que expressavam os propósitos de Deus para

o povo;

Esses três grupos tinham basicamente um ministério oral: o AT nas suas três divisões de

Lei, Profetas e Escritos, é em sua essência o registro escrito das tradições faladas desses grupos.

Nos tempos do AT, esses três grupos eram aceitos como mediadores da vontade de

Deus para a comunidade dos crentes. Eram agentes da comunicação da vontade divina. Isso é

mais óbvio no caso dos profetas (Hb 1.1). Um oráculo profético típico começa com a expressão

“assim diz o Senhor”, conhecida como a fórmula do mensageiro, e com frequência termina com

a fórmula da declaração divina “diz o Senhor” (cf. Am 5.16,17; Jr 1.9; Is 40-48).

O ministério dos profetas não era o único meio de revelação divina, mas também

através da Lei (Dt 29.29) e da Sabedoria (Pv 2.6). O conceito de revelação foi expandido da

forma oral das mensagens de um profeta para a forma escrita, e então aplicado a ela como um

todo literário. Deus ainda falava (e continua falando) às gerações futuras de crentes por meio da

palavra escrita.

7 Ibid pp 637-643

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 15

1.5.2. A Inspiração

A inspiração relaciona-se à recepção inicial, pelo homem, dessa verdade mostrada pelo

Espírito divino.

A voz dos mediadores humanos escolhidos foi usada para transmitir as verdades que

Deus pretendeu revelar a Israel. A interação positiva entre o revelador divino e os porta-vozes

humanos exigiu “inspiração”. A inspiração é basicamente uma qualidade que se relaciona a

pessoas, mas também se torna uma característica dos livros, como produto de pessoas

inspiradas. O apostolo Paulo refletiu sobre esta qualidade do AT e o seu papel nos propósitos de

Deus de edificar os cristãos em sua fé e postura ética (2Tm 3.16).

A palavra de 2Tm 3.16 traduzida “por inspirada por Deus” pode ser literalmente vertida

“insuflado por Deus”; alude à obra do Espírito de Deus como agente da inspiração. Essa

inspiração é a operação do Espírito pela qual os profetas eram capacitados para proferir a

palavra de Deus. A palavra era o conteúdo de suas mensagens, enquanto o Espírito de Deus era

o poder transcendente que os capacitava a apreendê-la e proclamá-la.8

2. O PENTATEUCO

2.1. Definição

O termo Pentateuco é formado por duas palavras gregas: “penta” que significa “cinco”

e “teuco” que significa “rolo ou livro”, isto é, o livro em cinco volumes, ou cinco rolos. O

Pentateuco corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica (Gênesis, Êxodo, Levítico,

Números e Deuteronômio), a principal e mais importante seção do tríplice cânon judaico.

Usualmente chamado pelos judeus de “sepher hattôrâ”, o livro da lei, ou então “hattôrâ” a lei.

As referências ao Pentateuco, no AT, se restringem geralmente aos escritos do

cronista, que emprega diversas designações: a lei (Ed 10.3; Ne 8.2,7,14; 10.34,36; 12.44; 13.3;

2Cr 14.14; 31.21; 33.8); o livro da lei (Ne 8.3); o livro da lei de Moisés (Ne 8.1); o livro de

Moisés (Ne 13.1; 2Cr 25.4; 35.12); a lei do Senhor (Ed 7.10; 1Cr 16.40; 2Cr 31.3; 35.26); a lei

de Deus (Ne 10.28,29); o livro da lei de Deus (Ne 8.18); o livro da lei do Senhor (2Cr 17.9;

34.14; Dn 9.11; Ml 4.4). não se pode dizer com certeza se as referências à lei, nos escritos

8 Ibid pp. 644-648

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históricos, se referem ao Pentateuco como um todo ou a determinadas porções da legislação

mosaica, como por exemplo, a lei (Js 8.34); o livro da lei de Moisés (Js 1.8; 8.34; 2Rs 22.8); o

livro da lei de Moisés Js 8.31; 23.6; 2Rs 14.6); o livro da lei de Deus (Js 24.6).

O NT emprega designações semelhantes: o livro da lei (Gl 3.10); o livro de Moisés

(Mc 12.26); a lei (Mt 12.5; Lc 16.16; João 7.19); a lei de Moisés (Lc 2.22; João 7.23); a lei do

Senhor (Lc 2.23,24). As descrições do Pentateuco, em ambos os testamentos, servem para

salientar sua autoria divina e humana, sua autoridade obrigatória como e, sua forma escrita em o

livro.9

2.2. Conteúdo do Pentateuco.

O Pentateuco narra as relações de Deus com o mundo e, especialmente, com a família

de Abraão, desde a criação até a morte de Moisés. Existem seis divisões principais:

1. A origem do mundo e das nações (Gênesis caps. 1-11);

2. O período patriarcal (Gênesis caps 12-50);

3. Moisés e o Êxodo, ou a saída do Egito (Êxodo caps 1-18);

4. A legislação dada no Sinai (Êxodo 19-Número 10.10); que inclui a transmissão da lei,

a ereção do Tabernáculo, o estabelecimento do sistema levítico, e os preparativos finais para a

viagem desde o Sinai até a terra de Canaã.

5. As peregrinações pelo deserto (Número caps 10.11-36.13);

6. Os discursos finais de Moisés (Deuteronômio caps 1-34), que recapitulam os

acontecimentos do Êxodo, repetem e expandem os mandamentos baixados no Sinai.10

2.3. A autoria do Pentateuco

Durante séculos, tanto o judaísmo como o cristianismo aceitaram, sem levantar qualquer

dúvida, a tradição bíblica de que foi Moisés o autor do Pentateuco. Mas a partir do século XVIII,

algumas descobertas realizadas no campo exegético, têm levado a alguns eruditos a rejeitarem a

autoria mosaica do Pentateuco. Segundo eles há várias evidências dentro do próprio Pentateuco

que demonstra que ele foi escrito por várias pessoas e em épocas diferentes. Alguns mais

radicais chegam a defender que o Pentateuco é produto da evolução religiosa dos israelitas.

Vejamos algumas teorias a respeito da autoria do Pentateuco:

9 O Novo Dicionário da Bíblia p. 1257 10 Ibid p. 1258

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2.3.1. A teoria tradicional – Moisés como autor do Pentateuco.

Comumente a tradição judaico-cristã tem atribuído a autoria do Pentateuco a Moisés.

Entre os defensores deste ponto de vista está Paul Hoff, ele diz o seguinte: “Embora não se

afirme no próprio Pentateuco que este há sido escrito por Moisés em sua totalidade, outros livros

do AT citam-no como obra dele (Js 17.8; 23.6; 1Rs 2.3; 2Rs 14.6; Ed 3.2; 6.18; Ne 8.1; Dn 9.11-

13). Certas partes muito importantes são atribuídas a ele (Ex 17.14; Dt 31.24-26). Os escritores

do NT estão de pleno acordo com os do AT, falam dos cinco livros em geral com a ‘lei de

Moisés’ (At 13.39; 15.5; Hb 10.28). Finalmente as palavras do próprio Jesus dão testemunho de

que Moises é o autor (João 5.46; 8,4; 19.8; Mc 7.10; Lc 16.31; 24.27,44). Moisés mais do que

qualquer outro homem, tinha preparo, experiência e gênio, que o capacitavam para escrever o

Pentateuco. Considerando-se que foi criado no palácio dos faraós (veja At 7.22); foi testemunha

ocular dos acontecimentos do Êxodo e da peregrinação no deserto”.11

2.3.2. O segundo ponto de vista assegura que Moisés não escreveu todo o Pentateuco.

O Pentateuco é uma obra anônima, Moisés não é mencionado como seu autor, assim

como ninguém mais. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em

particular e com as obras antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o autor era basicamente um

preservador do passado, limitando-se ao uso do material e metodologia tradicionais. A

“literatura” era mais uma propriedade comunitária do que particular.

Apesar disso, o Pentateuco contem indicações da atividade literária de seu personagem

principal, Moisés. Este é descrito de passagem recebendo ordens para redigir ou propriamente

escrevendo fatos históricos (Ex 17.14; Nm 33.2), leis ou trechos de códigos de leis (Ex 24.4;

34.27ss), e um poema (Dt 31.22). Mas sua contribuição não precisa se limitar de forma estrita à

parte do Pentateuco atribuída especialmente a ele.

A atividade literária de Moisés é corroborada por referências esparsas, mas

significativas no restante da literatura anterior ao exílio. Durante o exílio e depois dele, as

referências são muito mais numerosas.

11 O Pentateuco p. 16

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(1) Livros pós-exílios (Crônicas, Esdras, Neemias, Daniel), referem-se com muita

frequência ao Pentateuco como um texto escrito com autoridade; todos recorrem aos

códigos do Pentateuco. Aqui ocorre pela primeira vez a expressão “livro de Moises”.

(2) Livros intermediários (i. é., os livros históricos do pré-exilio, Josué, 1-2 Samuel, 1-2 Rs)

referem-se muito raramente a atividade literária de Moisés. Todas as referências são a

Deuteronômio.

(3) Livros anteriores (i. é., os profetas do pré-exílico) não trazem tais referências.

Dois fatos devem ser destacados. Em primeiro lugar, informações bíblicas e várias

correntes da tradição concordam que Moisés escreveu literatura narrativa, legislativa e poética. A

participação de Moisés na produção do Pentateuco foi altamente formativa, embora seja pouco

provável que Moisés tenha escrito o Pentateuco conforme ele existe em sua forma final.

Em segundo lugar, o Pentateuco é uma obra complexa, composta, com uma longa e

intricada história de transmissão e crescimento. A fé afirma que esse desenvolvimento foi

supervisionado pelo o Espírito de Deus que prontificou Moisés a atuar e escrever de início.

Embora seja difícil detalhar esse processo com precisão, sua estrutura básica é razoavelmente

certa. As narrativas dos patriarcas foram conservadas, primeiro por via oral, durante o período de

escravidão no Egito. É provável que tenham sido colocadas em forma escrita pela primeira vez

durante o período de Moisés. A elas foram acrescentados os relatos, tanta poesia como prosa, do

Êxodo e da peregrinação, talvez no início do período davídico. Reunidos em várias compilações,

os documentos da era mosaica podem ter sido finalmente juntados numa única coleção por

Esdras, no período de restauração após o Exílio.12

Determinar quem escreveu o Pentateuco é uma situação complexa, se Moisés escreveu

todo ele, ou se parte dele, ou se ele iniciou e outros concluíram com base em tradições orais, é

uma questão que fica em aberto; mas nada disso altera o seu valor e a sua autoridade; ele foi

inspirado pelo Espírito de Deus. É a palavra de Deus e revela a Sua vontade. Se foi Moisés o

iniciador, e outros escribas compilaram até chegar à forma que temos hoje, uma coisa é certa,

eles foram inspirados pelo Espírito Santo.

12 LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento pp. 9,10

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2.4. A mensagem religiosa do Pentateuco.

O Pentateuco deve ser definido como um documento que dá a Israel sua compreensão,

sua etiologia da vida. Aqui, por meio de narrativa, poesia, profecia e lei, a vontade de Deus

concernente a tarefa de Israel no mundo é revelada. O Pentateuco testifica sobre os atos

salvadores de Deus, o qual é Senhor soberano da história e da natureza.

Tendo-se exibido poderoso e abertamente como Senhor, no Êxodo, Deus levou os

israelitas a perceberem que Ele era o criador do universo, bem como aquele que dirige a história.

A graça de Deus é revelada não apenas em Seu livramento e orientação, mas igualmente

na transmissão da lei e na iniciação da aliança firmada. A graça de Deus exige um total

reconhecimento de Sua soberania, uma obediência completa à Sua vontade em toda esfera de

vida. Essa exigência é graciosa porque envolve o que é bom para Israel, o que a ajudaria a

realizar se verdadeiro potencial, e a levaria a descobrir o que não poderia fazê-lo sem a revelação

divina.

Qualquer que seja a origem do Pentateuco, atualmente aparece como um documento

que possui uma rica unidade interna. Trata-se do registro da revelação de Deus na história e de

Sua soberania sobre ela. Testifica sobre a santidade de Deus, que O separa dos homens, sobre

Seu amor gracioso, que os liga a Ele de conformidade com Suas condições.13

3. O LIVRO DE GÊNESIS

3.1. Introdução e Título

I. Gênesis é o livro dos primórdios. Seus cinquenta capítulos esboçam a história humana

desde a criação até Babel (caps 1-11) e de Abraão a José (caps. 12-50). Os primeiros onze

capítulos introduzem o Deus criador e os primeiros dias da vida, do pecado, do juízo, da família,

do culto e da salvação. O restante do livro focaliza a vida de quatro patriarcas da fé: Abraão,

Isaque, Jacó e José, de quem virá a nação de Israel, e por fim o Salvador, Jesus Cristo.

13 O Novo Dicionário da Bíblia p. 1264

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A primeira parte focaliza o princípio e a difusão de pecado no mundo, e culmina no

dilúvio devastador nos dias de Noé. A segunda parte do livro focaliza o modo de Deus tratar com

um homem, Abraão, através de quem promete trazer salvação e benção ao mundo.14

II. Gênesis é um termo grego que significa “princípio, origem, começo”. Esse termo

surgiu a partir da tradução do AT hebraico para o grego, conhecida como a Septuaginta realizada

por volta do ano 250 a.C. Os judeus o chamavam de bereshith, a primeira palavra do livro, que

também significa “princípio, origem, começo”.15

3.2. Esboço de Gênesis

Parte Um: História Primeva.............................................................................................(1.1-11.9)

A criação (do mundo e do homem)........................................................................1.1-2.25

A Queda..................................................................................................................3.1-5.32

Tentação, queda e julgamento...................................................................................3.8-24

Depois da queda: linhagens conflitantes................................................................4.1-5.32

O Juízo do Dilúvio.................................................................................................6.1-9-29

O Juízo sobre Babel..............................................................................................10.1-11.9

Parte Dois: História Patriarcal....................................................................................(11.10-50.26)

A vida de Abraão..............................................................................................11.10-25.18

Introdução de Abrão.............................................................................................11.10-32

O pacto de Deus com Abrão..............................................................................12.1-25.18

A vida de Isaque...............................................................................................25.19-26.35

A vida de Jacó....................................................................................................27.1-36.43

A vida de José....................................................................................................37.1-50.26

3.3. Propósito do Livro

I. O livro de Gênesis é a introdução à Bíblia toda. É o livro dos princípios, tem sido

chamado de “viveiro ou sementeiro da Bíblia” porque nele estão as sementes de todas as grandes

doutrinas.

14 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia pp. 5,6 15 LASOR, William. Introdução ao AT p. 16

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II. O Gênesis narra como Deus estabeleceu para si um povo. Relata a infância da

humanidade, porém o autor não pretende apresentar a história da raça toda; destaca apenas os

personagens e sucessos que relacionam com o plano de redenção através da história. Traça a

linhagem piedosa, que transmite a promessa de 3.15 (conhecida como proto evangelho), e vai

descartando as linhas colaterais, não lhes dando importância. A história da humanidade vai se

restringindo, cada vez mais, até que o interesse se concentre em Abraão, pai do povo escolhido.

A partir daí toda a história do AT trata, em grande parte, da história de Israel.16

3.4. A Estrutura de Gênesis.

O livro tem duas partes distintas: capítulos 1-11, a história primeva, e capítulos 12-50, a

história patriarcal. Gênesis 1-11 é um prefácio à história da salvação, tratando da origem do

mundo, da humanidade e do pecado. Gênesis 12-50 reconta as origens da história da redenção no

ato de Deus escolher os patriarcas, juntamente com as promessas de terra, posteridade e

aliança17.

3.5. Gênero literário de Gênesis.

I. Natureza literária de 1-11 – em primeiro lugar, esses capítulos são solidamente

caracterizados por dois tipos bem distintos de artifícios literários. Um conjunto de textos

(incluindo caps. 1; 5; 10; 11.10-26) distingue-se pelo caráter esquemático e arranjo lógico

cuidadoso.

Por exemplo, o capitulo 1 é formado por uma série altamente estruturada de orações

sucintas, quase padronizadas. Na criação, cada ordem encerra os seguintes elementos:

• Uma palavra introdutória de anúncio, “Disse Deus...” (1.3,6,9,11,14,20,24,26).

• Uma palavra de ordem criadora, “Haja”, por exemplo (1.3,7,9,11,14,15,20,24,25).

• Uma palavra para sintetizar o cumprimento, “e assim se fez” (1.3,7,9,11,15,24,30).

• Uma palavra descritiva de cumprimento, “Fez, pois, Deus...”, “A terra, pois, produziu...”

(1.4,7,12,16-18,21,25,27).

• Uma palavra descritiva de nomeação ou benção, “Chamou Deus...”, “E Deus os

abençoou...” (1.5, 8,10,22,29-30).

16 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 21 17 LASOR, William. Introdução ao AT p. 16

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• Uma palavra de avaliação e aprovação, “E viu Deus que isso era bom”

(1.4,10,12,18,21,25,31).

• Uma palavra final de estrutura temporal, “Houve tarde e manhã, o [...] dia” (1.5,

8,13,19,23,31).

Esse estilo uniforme não é rígido porque a ordem, o comprimento e a apresentação

desses componentes variam. A sequência de ordens revela-se estritamente temporal,

cuidadosamente dividida em dois períodos: (1) a criação e a separação dos elementos do cosmo,

passando do geral para o particular (primeiras quatro ordens, vv. 1-13); (2) a ornamentação do

cosmo, do imperfeito para o perfeito (as quatro ordens seguintes, vv. 14-31). O relato chega ao

ápice na oitava ordem, a criação dos seres humanos. O capítulo todo parece um relato bem

elaborado de uma série de ordens que uma história.

De modo semelhante, os capítulos 5 e 11.10-32 são genealogias moldadas para repetir a

mesma estrutura para cada geração. Mas uma vez, o cap. 10, uma lista etnogeográfica, é marcada

por um caráter esquemático semelhante.

O segundo conjunto de passagens (caps. 2 – 3; 4; 6 – 9; 11.1-9) é bem diferente. Aqui se

usa a forma de história. Por exemplo, nos caps. 2 – 3 ouvimos uma refinada narrativa literária,

quase um drama. Cada cena é retratada com poucas pinceladas firmes e uma multidão de

imagens. O autor revela antropomorfismos ingênuos, mas expressivos, descrevendo Deus em

termos humanos. Javé, como um dos personagens do drama, aparece como oleiro (2.7, 19)

cultivador de jardim (v.8). cirurgião (v.21) e um pacífico proprietário de terra (3.8).18

II. Implicações para Gênesis 1 – 11. Os relatos de Gênesis 1 –11 não pertencem ao

gênero de “mito”; mas também não é história no sentido moderno de testemunho ocular, relato

objetivo; esses relatos transmitem verdades teológicas acerca dos eventos criados. O objetivo

desta narração bíblica é mostrar que o universo não surgiu do nada, ou por acaso, mas foi criado

do nada por um ser superior, houve uma intervenção divina nesta obra, a mão divina moldou

todas as coisas; o mundo é criação de Deus.

A narrativa bíblia apresenta o Deus verdadeiro, santo e onipotente. O criador existe

antes da criação e é independente do mundo. Deus fala e os elementos passam a existir. A obra

18 Ibid pp. 19,20

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divina é boa, justa e completa. Depois que a família humana se rebela, Deus tempera seu

julgamento com misericórdia.

Gênesis não é um livro científico que se preocupa em fornecer uma descrição biológica

e geológica das origens; antes, seu propósito era explicar como tudo aconteceu, a natureza e a

dignidade singular dos seres humanos, em virtude de sua origem divina. Eles são feitos pelo

criador à imagem divina, ainda que prejudicado pelo pecado que tão cedo desfigurou a obra de

Deus.19

3.6. A Teologia de 1 – 11.

Como vimos o propósito fundamental deste material é teológico, vejamos agora alguns

temas principais deste material.

3.6.1. Deus como criador.

A Bíblia não se preocupa em provar a existência de Deus, ela já inicia afirmando no seu

primeiro versículo “que no princípio Deus criou céu e terra”. Desde o início, Gênesis nos

confronta com o Deus vivo, Deus inequivocamente pessoal. Ele é o único Deus, o Criador e

Senhor soberano sobre tudo que existe.20

Os antigos personificavam as forças da natureza como entidades divinas. Os fenômenos

naturais eram concebidos de acordo com a experiência humana. Hoje consideramos o mundo dos

fenômenos como uma “coisa”, mas os antigos reagiam a ele como uma “pessoa”. Para eles, a

variedade de forças personificava em deuses. Assim, a divindade era multipessoal, em geral

ordenada e equilibrada, mas às vezes caprichosa, instável e temerária.

O texto do capítulo 1 combate tal concepção de deidade. Ele retrata a natureza surgindo

de uma simples ordem de Deus, o qual é anterior a ela e dela independente. O sol, a lua, as

estrelas e os planetas, considerados deuses por outros povos, nem chagam a ser identificados

pelo nome. São mencionados simplesmente como luzeiros (vv.16-18). O mar e a terra não são

deidades primevas que geram outros deuses. Antes são objetos naturais (v.10). A descrição

demitiza o cosmo, cuja deificação havia conduzido ao politeísmo.

19 Ibid p. 23 20 KIDNER, Derek. Gênesis introdução e comentário p. 30

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O hebraico bara “criar”, é uma palavra chave; esta palavra tem Deus como seu único

sujeito no AT, e não se faz nenhuma menção do material a partir do qual se cria algum objeto.

Ela descreve um modo de agir que não possui analogia humana. Só Deus cria, assim como só

Deus salva.

Um refrão importante no cap. 1 é a afirmação de que o que Deus cria é bom (vv.

4,10,12,18,21,25,31). Nenhum mal foi colocado na terra pela mão de Deus. O valor do mundo

brota unicamente do fato de que Deus o fez. O ápice consciente da criação é a humanidade (vv.

26-28). 21

3.6.2. O Pecado

Os caps. 2 – 3 responde porque as coisas estão arruinadas. Por que os homens estão

sujeito ao mal físico e moral? Como conciliar esse mal com a bondade de Deus e com a verdade

de que tudo se origina em Deus? Existe, evidentemente, um vasto abismo entre o mundo

conforme criado por Deus e o mundo que experimentamos. O drama nos caps 2 –3 revela que os

seres humanos se tornaram pecadores e corromperam a ordem criada mediante a desobediência

deliberada. Em consequência da ação deles, o mundo da experiência humana ficou fragmentado

e quebrado, alienado e caótico. O drama insiste que a humanidade, não Deus, é culpada pela

corrupção do mundo de Deus.22

O pecado surgiu por um ato deliberado e voluntário do homem; o homem abusou do

seu livre-arbítrio se rebelando contra seu criador, como resultado veio a desordem, o mal entrou

no mundo. Em Gênesis temos a resposta para aquela pergunta que meche tanto com a

humanidade, de onde veio o mal físico e moral?

O tema básico de Gênesis 1 – 11 é o poder corruptor do pecado. Desde o início da

rebelião humana, o pecado vem desfigurando e manchando a boa obra de Deus.

3.6.3. Deus julga o pecado humano.

Em cada episódio Deus se contrapõe ao pecado humano com julgamento. No Éden, ele

primeiro julga a serpente (3.14s.), depois, a mulher (v.16) e por fim o homem (v.17-24). O

21 William LaSor. Introdução ao AT p.24 22 Ibid p. 27

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julgamento para cada um é o novo estado em que deve viver num mundo agora caracterizado

pelo pecado e pela alienação.

É importante notarmos aqui sobre o julgamento da mulher e do homem, que eles foram

punidos, mas não amaldiçoados. Apenas a serpente é amaldiçoada. O julgamento deles atinge

seus meios de sobrevivência, a procriação e a produção de alimentos.

O julgamento que Deus pronunciou contra Caim é de fato severo (cap. 4). Uma vez que

por suas mãos a terra bebeu o sangue de Abel, ele não lhe fornecerá seu produto. Caim é

condenado a ser fugitivo sobre a terra. Ele deixa a presença do Senhor e passa a viver na terra da

peregrinação sem fim (Node), no oriente distante.

O relato do dilúvio revela o grau excruciante que pode atingir o julgamento divino.

Assim também, o julgamento de Deus confronta o pecado da humanidade com o um

todo na torre de Babel. Para combater a ameaça das propensões malignas inerentes na existência

coletiva, Deus dispersa a humanidade confundindo-lhe a língua. Os homens se dividem em

incontáveis tribos e estados. Ao final do prólogo primevo, a humanidade encontra-se num estado

alienado; as pessoas estão separadas de Deus e uma das outras num mundo hostil. Indivíduos

lançam-se contra indivíduos, elementos sociais contra elementos sociais, nações contra nações23.

3.7. A História Patriarcal (2000 – 1500 a C.)

A segunda parte do Gênesis começa com a chamada de Abrão. “Ora, disse o Senhor a

Abrão: sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de

ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção”. (Gn

12.1-3). Na primeira parte do Gênesis, isto é, a história primeva, as personagens principais foram

Adão e Noé, cujas vidas serviam como sustentáculos para o plano de Deus e sua consequência

para a humanidade. Agora o personagem principal é Abrão. A história dele e de seus

descendentes preenche os capítulos restantes do livro de Gênesis e forma uma corrente que se

estende por toda a Bíblia. Este período é conhecido como o período patriarcal24.

23 Ibid p. 32 24 Patriarca – pai e chefe de uma família, tribo ou raça.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

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O chamado de Abraão inicia um desdobramento histórico radicalmente novo. Deus atua

na história para provocar uma série de eventos que, no final, preencherão a lacuna que o pecado

interpôs entre Deus e o homem. Deus chama Abraão de Ur dos caldeus, uma cidade pagã que

servia a outros deuses (Js 24.2). Em obediência à chamada divina, Abraão deixou sua terra natal

e foi para Canaã. Ele abandonou seus antigos costumes religiosos para seguir fielmente a Deus.

Esse mesmo Deus apareceu a cada um dos patriarcas, escolhendo-os e prometendo estar com

eles (Gn 12.1-3; 15.1-6; 28.11-15). Cada um por sua vez escolheu servir a esse Deus

reconhecendo-O como protetor da família e a ela vinculavam: “o Deus de Abraão”, “o Deus de

Isaque” e “o Deus de Jacó” (Gn 24.12; 28.13; 31.42,53; Êx 3.6).

3.8. A Teologia das Narrativas

3.8.1. Eleição e promessas divinas (12.1-3).

A eleição de Abraão é o início da história patriarcal. Deus recomeça a história da

redenção elegendo um homem para que através dele sejam realizados seus propósitos salvíficos.

Esse recomeço súbito realça, por contraste, o próprio chamado. Fornece um modelo pelo qual se

deve interpretar toda a história patriarcal.

A eleição e as promessas feitas a Abraão revelam a garça de Deus em resposta à

desobediência e ao julgamento registrado da primeira parte do Gênesis. A escolha de Abraão e as

promessas incondicionais de terra e nacionalidade têm como alvo maior as bênçãos de todas as

comunidades da terra. O início da história da redenção oferece uma palavra acerca de seu final.

A salvação prometida a Abraão abrangerá, por fim, toda a humanidade. Deus não dispensou para

sempre em ira, a família humana. Ele agora age para fechar o abismo causado pelo pecado entre

ele e o homem. Essa promessa atua como chave para compreensão de toda a Escritura.25

3.8.2. Fé e Justiça.

Nas histórias de Abraão, a promessas de incontestáveis descendentes afunila-se no

problema angustiante de um filho. O cumprimento é adiado de um modo estranho. O centro das

histórias é a fé demonstrada por Abraão. O convite a Abraão é radical. Ele deve abandonar suas

raízes – terra e parentes (12.1) – por um destino incerto, “a terra que te mostrarei”. E assim partiu

25 LaSor, William. Introdução ao AT p. 51

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 27

Abraão como o Senhor lhe ordenou (12.4). Abraão é apresentado como um paradigma de fé. Sua

obediência e confiança no Senhor que o chamou são exemplares. O fato de o autor lutar com a

questão da fé (e sua relação com a justiça) é visto em 15.6: “Ele (Abraão) creu no Senhor, e isso

lhe foi imputado para justiça”. A justiça de Abraão estava em sua confiança – sua fé – na

promessa de Deus. A justiça de Abraão residia em sua fé na promessa generosa de Deus. Assim,

a justiça de uma pessoa em relação a Deus é concretizada quando tal relacionamento é

caracterizado por fé (veja Rm 1.16s; Gl 3.6-9).26

Em Gênesis 12-50 são apresentados os elementos básicos do início da história da

redenção. Deus escolheu livremente um homem e seus descendentes por meio de quem “serão

benditas todas as famílias da terra”.

3.9. Chaves para Gênesis

Palavra-chave: Começo

Versículos-chaves (3.15; 12.3)

Capítulo-chave (15) – a aliança abraâmica é a parte central de toda a Escritura, a qual é

apresentada em 12.1-3 e ratificada em 15.1-21. Três promessas especificas são feitas: (1) a

promessa de uma grande terra (15.18); (2) a promessa de uma grande nação (13.16); e (3) a

promessa de uma grande benção (12.2).

Cristo em Gênesis – Cristo é a semente da mulher (3.15); é descendente de Abraão (12.3; cf. Gl

3.16), de Isaque (21.12), de Jacó (25.23) e da tribo de Judá (49.10). Cristo é também visto no

povo e nos eventos que servem como tipos. Adão é o tipo daquele que havia de vir (Rm 5.14). A

oferta aceitável que Abel ofereceu com o sangue de um sacrifício aponta para Cristo.

Melquisedeque (rei justo) é feito como filho de Deus (Hb 7.13).27

26 Ibid p. 55 27 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 8

Jesus, O Descendente da Mulher feriu a cabeça da serpente!

Disse o apóstolo Paulo: “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de

mulher...” (Gl 4.4). Jesus feriu a serpente na cabeça, mortalmente. Isso aconteceu na cruz.

Foi ali que Jesus tomou sobre si os nossos pecados e fez expiação por eles; foi ali também

que ele enfrentou a morte, e a venceu. Paulo escreveu também que Jesus, “despojando os

principados e potestades (os poderes demoníacos), publicamente os expôs ao desprezo,

triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). Esta foi a batalha decisiva. Porém, a consumação

dessa vitória está por acontecer, pois temos a promessa: “O Deus da paz, em breve,

esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás” (Rm 16.20).

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 28

3.10. CONCLUSÃO

Gênesis não é tanto uma história do homem quanto é o primeiro capítulo na história da

redenção humana. Como tal, é uma sublime interpretação espiritual seletiva da história. Gênesis

está dividido em quatro grandes eventos (1-11) e quatro grandes pessoas (12-50).

Os quatro grandes eventos capítulos de 1-11:

(1) Criação – Deus é o soberano Criador de todas as coisas;

(2) Queda – a origem do pecado; Deus criou o homem em perfeito estado, mas o homem

desobedeceu ao seu Criador;

(3) Dilúvio – o juízo de Deus contra a humanidade corrompida pelo o pecado;

(4) Nações – Gênesis ensina a unidade da raça humana: somos todos filhos de Adão através

de Noé, mas, em virtude da rebelião na Torre de Babel, Deus fragmenta a única cultura e

língua do mundo pós-dilúvio e dispersa o povo sobre a face da terra.

As Quatro Grandes Pessoas dos capítulos 12-50:

(1) Abraão – sua eleição é o ponto em torno do qual gira todo o livro;

(2) Isaque – Deus estabeleceu seu pacto com ele como um ele espiritual com Abraão;

(3) Jacó – Deus transformou este homem de egoísta em servo, e muda seu nome para Israel,

o pai das doze tribos;

(4) José – De escravo torna-se governador no Egito.28

Para refletir Gn 3.16

28 Ibid p. 9

Homem e Mulher – Equilíbrio em Cristo

O homem precisa saber que a sentença da mulher – ser-lhe submissa – não

lhe dá o direito de governá-la com rigor, ditatorialmente. Mesmo porque,

como escreveu o apostolo Paulo, quando ambos crêem em Cristo e se

submeteu ao seu senhorio, a distinção hierárquica desaparece,

permanecendo apenas as funções respectivas. “... já não há nem homem

(...) nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.26-28).

Onde se lê: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como

ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher” (...), também está

escrito: “maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja

(...) (Ef 5.22,25). E noutro lugar: “maridos (...) vivei a vida comum do lar

(...) e, tendo consideração para com a vossa mulher (...) tratai-a com

dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida (...)

(1Pe 3.7).

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4. O LIVRO DE ÊXODO

4.1. Introdução e Título

O livro de Gênesis termina com a família de Jacó indo para o Egito. Neste tempo José é

governador no Egito, a fome que veio sobre aquela região fez com que os seus irmãos fossem em

busca de alimento no Egito, promovendo assim o reencontro com José, que agora é governador,

após o reconhecimento, José na posição de governador oferece um lugar melhor para toda a sua

família. Mas antes de morrer José disse aos seus irmãos que eles não ficariam para sempre no

Egito: “Estou à beira da morte. Mas Deus certamente virá em auxilio de vocês e os tirará desta

terra, levando-os para a terra que prometeu com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” (Gn

50.24). Depois de aproximadamente quatrocentos anos de crescimento no Egito, a infante nação

de Israel está agora pronta para deixar atrás de si as cadeias da escravidão e para sair em busca

de uma nova pátria. Êxodo narra a libertação de Israel do cativeiro egípcio e a migração da nova

nação de Deus rumo a terra prometida liderado pelo o servo de Deus, Moisés. Êxodo é o registro

de nascimento de Israel como nação. Dentro do ventre protetor do Egito, a família judaica de

setenta pessoas rapidamente se multiplica29.

a- Êxodo – palavra grega que significa “marchar” ou “partir”. É uma palavra composta

que provem de ek, preposição grega que significa “fora de” e hodos, que significa “via” ou

“caminho”. Daí a ideia de saída. Êxodo é via que conduz para fora. O título hebraico, “We’elleh

Shemoth”, “E estes são os Nomes”, deriva-se da primeira frase em 1.1. O Êxodo no hebraico

começa com “E”, a fim de apresentá-lo como continuação de Gênesis. O título latino é “Líber

Exodus”, “Livro da Saída”, tomado do título grego30.

b- Egito. A história do Egito remota ao ano 3000 a. C., quando o reino do vale do Nilo

e o reino do delta foram unificados pelo rei Menés. A época clássica da civilização egípcia

chama-se Antigo Reino (2700-2200 a. C.). As enormes pirâmides, edificadas como túmulos

reais, e a grande esfinge de Gizé foram construídas neste período.

No século XVIII os hicsos invadiram o Egito e estabeleceram sua capital em Tânis (Zoá

Avaris). Os invasores procediam, provavelmente, da Ásia Menor e utilizavam carros puxados

29 Ibid p. 13 30 Ibid p.14

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por cavalos, e o arco composto, armas que os egípcios desconheciam. Contudo, os hicsos

permitiram que os egípcios mantivessem um governo secundário em Tebas e no Baixo Egito. Em

1570 a. C. os egípcios, dirigidos por Amósis I, expulsaram os odiados hicsos e estabeleceram o

Reino Novo (1546-1085 a. C.). É neste período que os hebreus estiveram no Egito.

O mais famoso conquistador egípcio e fundador do império do Egito na época do Novo

Reino foi Tutmés III (Tutmósis III) que reinou entre 1500 e 1450 a.C. Ramasés II (1290-1224

a.C.), considerado o Faraó do êxodo, por muitos estudiosos, destacou-se por seus projetos de

construção em Tebas e por continuar levantando as cidades de Armazéns, Píton e Ramessés.

A religião do Egito era politeísta. Prestava-se culto às forças da natureza tais como o

sol, a luz e o rio Nilo e também a certos animais e aves. Deificaram animais como o touro, o

gato, o crocodilo, a rã e a serpente. Os egípcios a atribuíam aos deuses a fertilidade da terra e dos

animais, a vitória ou a derrota na guerra e as enchentes do rio Nilo31.

c- A Data do Êxodo. Marcar com exatidão a data do Êxodo é uma tarefa muito difícil,

muitos historiadores e pesquisadores divergem-se entre si a respeito da data do êxodo. A certeza

que temos é que o Êxodo ocorreu entre o ano 1450 e 1220 a.C. No ano de 1220 Israel já estava

estabelecido em Canaã, pois um monumento levantado pelo Faraó Mereptá faz alusão ao

combate entre egípcios e israelitas na palestina, naquela data32.

A respeito da data do Êxodo há duas opiniões principais. A primeira opinião defende

que o Êxodo ocorreu no ano de 1440 a.C. a segunda opinião defende que o Êxodo ocorreu no

reinado de Ramessés II, entre 1260 e 1240 a.C. Se a data anterior é correta, Tutmés III, o grande

conquistador e construtor, foi o opressor de Israel, e Amenotepe II foi o Faraó do Êxodo33.

Segundo LaSor34, o período geral que mais se adapta ás evidencias bíblicas e extrabíblicas é a

primeira metade do século XIII a.C.

31 HOFF, Paul. O Pentateuco pp. 101-4 32 Ibid p. 104 33 Ibid 34 LASOR, William. Introdução ao AT p. 64

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 31

4.2. Tema e Propósito.

O tema de Êxodo é “redenção” – graciosamente Deus liberta e redime o seu povo da

escravidão do Egito.

O livro de Êxodo relata a transformação que a família escolhida de Gênesis passou até se

tornar em uma grande nação. Registra os dois grandes acontecimentos da história de Israel: “o

livramento do Egito e pacto da lei entregue no Sinai. O livramento do Egito possibilitava o

nascimento da nação, a entrega da lei modelava o caráter na nação a fim de que ela fosse

santificada ao Senhor.

O livro também descreve o cumprimento da promessa que Deus fez a Abraão, Deus havia

prometido a Abraão um grande território e uma grande nação. Primeiro Deus multiplicou o povo

do Egito, depois o livra da escravidão e a seguir o constitui uma nação35.

Êxodo é um livro de redenção. Deus o redentor não somente livra o seu povo da

escravidão do Egito mediante o seu poder que revela através das dez pragas, mas também salvou

o seu povo mediante o sangue, simbolizado no cordeiro pascoal (Ex 12). A páscoa ocupa lugar

central na revelação de Deus a seu povo, tanto no Antigo como no Novo Pacto, pois o cordeiro

pascoal é símbolo profético do sacrifício de Cristo (cf. Lc 22.7-20; 1Co 5.7). O livro de Êxodo

nos ensina muito sobre o caráter de Deus. No livramento do seu povo ele é misericordioso e

também poderoso. Sua santidade é revelada na lei, mas também ele é acessível mediante o

sacrifício oferecido no Tabernáculo. Há um paralelo espiritual entre o êxodo dos israelitas e

êxodo espiritual da Igreja do Senhor. O Egito vem a ser símbolo do mundo pecaminoso; os

egípcios simbolizam os pecadores escravizados; Moisés simboliza o redentor divino que livra a

seu povo mediante o poder e sangue e o conduz à terra prometida36.

4.3. Esboço de Êxodo

Primeira parte: O povo redimido do Egito (1.1-18.27)

I. O povo de Israel no Egito ..............................................................................................1.1-22

1. A rápida multiplicação do povo de Israel ...........................................................1.1-7

2. O castigo imposto a Israel .................................................................................1.8-14

35 HOFF, Paul. O Pentateuco. P. 105 36 ibid

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 32

3. O plano de extinguir Israel ..............................................................................1.15-22

II. A preparação dos líderes da redenção .......................................................................2.1-4.31

1. Moisés é salvo da morte ....................................................................................2.1-10

2. Moisés mata um egípcio...................................................................................2.11-22

3. Israel invoca ao Senhor Deus...........................................................................2.23-25

4. Deus chama Moisés.........................................................................................3.1-4.17

5. Moisés atende ao chamado de Deus.................................................................4.18-26

6. Israel aceita o chamado de Moisés como libertador........................................4.27-31

III. Israel é redimido da escravidão no Egito................................................................5.1-15.21

1. Moisés enfrenta Faraó.......................................................................................5.1-6.9

2. Moisés enfrenta o Faraó com milagres.........................................................6.10-7.13

3. Moisés enfrenta o Faraó com as pragas......................................................7.14-11.10

4. Israel é redimido por sangue através da Páscoa..........................................12.1-13.16

5. Israel é redimido do pode do Egito...........................................................13.17-15.21

IV . Preservação de Israel no deserto........................................................................15.22-18.27

1. Preservado da sede e da fome.....................................................................15.22-17.7

2. Preservado da derrota......................................................................................17.8-16

3. Preservado do Caos.........................................................................................18.1-27

Segunda parte: Deus se revela ao povo (19.1-40.38)

I. A revelação do Antigo Pacto.................................................................................19.-31.18

1. A preparação do povo......................................................................................19.1-25

2. a revelação do pacto.........................................................................................20.1-26

3. Os juízos........................................................................................................21.-23.33

4. A ratificação formal do pacto...........................................................................24.1-11

5. O Tabernáculo...........................................................................................24.12-27.21

6. Os sacerdotes..............................................................................................28.1- 29.46

7. A instituição do pacto.................................................................................30.1- 31.18

II. A resposta de Israel ao pacto..................................................................................32.1-40.38

1. Israel quebra o pacto..........................................................................................32.1-6

2. Moisés intercede pelo povo…………………………………………………..32.7-33

3. Moisés convence Deus a não abandonar Israel.........................................32.34-33.23

4. Deus renova o pacto com Israel ......................................................................34.1-35

5. Israel voluntariamente obedece ao pacto....................................................35.1-40.33

6. Deus enche o Tabernáculo com Sua Glória..................................................40.34-38

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 33

4.4. A importância de Moisés

Moisés é o grande líder, é a figura chave do Pentateuco, de Êxodo a Deuteronômio

encontramos a marca dele. Foi o homem que Deus escolheu para uma grande obra, libertar o seu

povo da escravidão de do Egito. Através de Moisés, Deus operou maravilhas, desde as pragas

lançadas no Egito, à abertura do mar, o maná e diversos milagres, além disso, é com ele que

Deus fala e transmite a sua Lei, mandamentos para o controle ético da nova nação. É Moisés que

vai organizar essa nação formada por doze tribos e transmitir fielmente a ela os mandamentos de

Deus. Moisés é o grande profeta de Deus, e legislador da nação de Israel.

4.4.1. O nascimento de Moisés.

Como já falamos anteriormente o livro começa relatando o grande crescimento dos

hebreus no Egito. Estava se cumprindo a promessa que Deus havia feito a Abraão, “ele seria pai

de uma grande nação” (Gn 12.2), mas o preço era muito grande. Seu número cresceu tanto que o

Faraó começou a temer pela segurança de sua nação. Para proteger e enriquecer a sua nação, o

Faraó reduziu o povo de Israel a meros escravos. Ele o fez trabalhar em muitos projetos de

construção no Delta, principalmente nas cidades de Pitom e Ramessés. Quando esta estratégia de

evitar o crescimento dos hebreus falhou (Êx 1.15-21), ele decretou que todas as crianças recém-

nascidas do sexo masculino fossem mortas37. É nesta circunstância que nasceu Moisés. A sua

mãe o escondeu por um pequeno tempo, não podendo mais, ela o colocou num sexto betumado e

colocou no rio, sendo depois encontrado pela filha do Faraó (Êx 2.1-10). Moisés foi um milagre

de Deus.

A filha de Faraó deu-lhe o nome de “Moisés”, porque foi tirado das águas (Ex 2.10).

Pelo que tudo indica, Moisés foi criado na corte egípcia, recebendo educação para a realeza (cf.

At 7.22; Hb 11.23-28). Com certeza aprendeu, a ciência egípcia, o manejo de armas, a

administração. Essas habilidades o capacitavam para postos de confiança e responsabilidade na

administração nacional38.

37 LASOR, William. Introdução ao AT p. 70 38 Ibid

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 34

4.4.2. Moisés em Midiã.

Moisés já adulto viu um egípcio maltratando um hebreu, ele o feriu e matou o egípcio.

Isto revela que Moisés tinha consciência de sua nacionalidade. Temendo o Faraó ele foge do

Egito e se refugia em Mídia. Ali ele se estabelece com Jetro, o qual veio a ser o seu sogro (Ex

2.11-25).

4.4.3. O chamado de Moisés.

Logo cedo Moisés tentou amenizar o sofrimento de seu povo usando sua própria

estratégia, o que resultou no assassinato de um egípcio, motivo pelo qual ele fugiu para Mídia.

Moisés que fora criado e educado na corte egípcia, tinha aproximadamente quarenta anos de

idade quando fugiu do Egito. Mesmo com toda a educação recebida no Egito, Moisés ainda não

estava preparado para liderar o povo de Deus na marcha pela libertação. Moisés agora passa

aproximadamente quarenta anos pastoreando ovelhas, isto deu a Moisés experiências que ele

precisa para liderar um grande número de pessoas na marcha pelo deserto. É neste período,

quando Moisés cuidava das ovelhas de seu sogro (Jetro) que Deus apareceu e ele numa visão

assustadora, o Senhor apareceu a ele numa chama de fogo; “uma sarça ardia mais não se

consumia” (Ex 3.2). Quando aproximou para ver o que era aquilo, ele foi abordado por uma voz

que saia de dentro do fogo: “vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus do meio da sarça,

o chamou e disse: Moisés! Moisés! (...) não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque

o lugar em que estás é terra santa. (...) Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de

Isaque e o Deus de Jacó (...)” (3.4-6). Deus declara a Moisés ter ouvido o clamor e aflição do

Seu povo, e comissiona agora e ele para libertar o povo (3.7-10). De repente, Moisés torna-se de

pastor de ovelhas para libertador. Nos versículos seguintes Moisés levanta uma serie de

desculpas para não ir, mas Deus o convenceu através de sinais que Ele era com Moisés, que era

no poder dEle que Moisés libertaria o seu povo.

A Família de Moisés

A despeito da corrupção dos hebreus no Egito, havia exceções. O lar em que

Moisés nasceu é um exemplo. O Novo Testamento refere-se à fé e a coragem dos

seus pais, Anrão e Joquebede (Hb 11.23). Anrão era neto de Levi e bisneto de

Jacó; Joquebede era filha de Levi e tia de Anrão (Êx 2.1; 6.16-20). Os irmãos mais

velhos de Moisés, Miriã e Arão, tinham 15 e 3 anos de idade quando Moisés

nasceu (Êx 2.4; 6.20; 7.7). Miriã veio a ser profetiza (Êx 15.20,21), e Arão

assistente de Moisés e, depois, sacerdote (Êx 4.14-16;28.1ss).

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 35

4.4.4. 4.4. Profeta e Legislador.

“Na qualidade de alguém especialmente proeminente em declarar e ensinar a verdade,

os mandamentos e a natureza de Deus, Moisés foi caracteristicamente o modelo de todos os

verdadeiros profetas posteriores, até a vinda d’Aquele de quem foi o precursor (Dt 18.22; At

3.22,23), do qual todos os profetas dão testemunho (At 10.43). Ele foi chamado por Deus não

apenas para conduzir o povo de Israel para fora da escravidão, mas igualmente para tornar

conhecida a vontade de Deus. E foi isso que fez, ao anunciar o livramento vindouro (Ex 4.30ss.;

6.8ss.), na comunicação dos mandamentos de Deus a Israel39”.

4.5. O conflito com Faraó: as Pragas e a Páscoa, e, finalmente a Saída (caps. 5-12).

Quando Moisés foi até Faraó e pediu para que ele deixasse o povo sair do Egito,

recebeu um não categórico como resposta, disse Faraó: “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu

a voz, e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a Israel” (5.2).

Assim inicia-se uma grande guerra entre Faraó (que era considerado um deus) e Javé, o EU

SOU. Deus manifesta seu poder numa série de pragas contra o arrogante Faraó e o Egito.

“Uma das palavras hebraicas que se traduzem por “praga” significa dar golpes ou ferir.

Outras duas palavras descrevem as pragas como “sinais” e “juízos”. De modo que as pragas

foram tanto sinais que demonstram que o Senhor é o Deus supremo, como atos divinos pelos

quais Deus julgou os egípcios e libertou o seu povo. As pragas foram a resposta de Deus à

pergunta de Faraó: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei?”(7.17). Cada praga foi, por outro

lado, um desafio aos deuses egípcios e uma censura à idolatria. Os egípcios prestavam cultos às

forças da natureza tais como o rio Nilo, o Sol, a Lua, a Terra, o touro e muitos outros animais.

Agora as divindades egípcias ficaram em evidente demonstração de sua impotência perante o

Senhor, não podendo proteger os egípcios das pragas40”.

4.5.1. A ordem e significado das pragas.

(1) A água do rio Nilo foi transformada em sangue (7.14-25). Os egípcios consideravam o

Nilo como um deus, e além disso, considera Hapi o deus das inundações. Essa praga

demonstrou a insuficiência dessas divindades.

39 O Novo Dicionário da Bíblia p. 40 HOFF. Paul. O Pentateuco p. 113

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 36

(2) A terra ficou infestada de rãs (8.1-15). Os egípcios relacionavam as rãs com os deuses

Hapi e Ecte.

(3) A praga dos piolhos (8. 16-19). O pó da terra considerada sagrada pelos egípcios,

converteu-se em insetos muito importunadores.

(4) A praga das moscas (8.20-32). Talvez esta praga tenha sido contra os escaravelhos

sagrados, adorados pelos egípcios.

(5) A morte do gado (9.1-7). Amon, o deus adorado em todo o Egito, era um carneiro, animal

sagrado. Além dele, os egípcios adoram vários deuses em forma de bode, carneiro e touro.

(6) Úlceras e tumores (9.8-12). As cinzas que os sacerdotes egípcios espalhavam como sinal

de benção causaram úlceras dolorosas.

(7) A saraiva (9.13-35). A palavra trovão no hebraico significa “voz de Deus”, e isto insinua

que Deus falava aos egípcios em juízo.

(8) Os gafanhotos (10.1-20). Os deuses Ísis e Seráfis foram impotentes de protegerem o

Egito dos gafanhotos.

(9) A praga das trevas (10.21-29). Esta praga foi um grande golpe contra todos os deuses,

especialmente contra Rá, o deus solar. Os luminares celestes, objetos de culto, eram

incapazes de penetrar a densa escuridão. Foi um golpe direto contra o próprio Faraó, pois

era considerado filho de Rá (Sol).

(10) A morte dos primogênitos (caps. 11e 12.29-36). O Egito havia oprimido o primogênito

do Senhor e agora eles próprios sofriam a perda de todos os seus primogênitos41.

4.5.2. A Páscoa (12.1-13.16).

A palavra “páscoa” origina-se de um termo hebraico “pesah”, que significa “passar ao

largo”, ou “passar por cima”. Pois o anjo destruidor passou por cima das casas dos hebreus, as

quais tinham o sangue do cordeiro pascal nos batentes das portas. A páscoa marca a libertação

dos israelitas do Egito, pois somente depois da décima praga (a morte dos primogênitos) foi que

o Faraó deixou o povo sair. A páscoa ocorreu no mês de Abibe (que é também chamado de Nisã

na história posterior), que corresponde aos nossos meses de março e abril. A páscoa também

marcou o calendário religioso dos hebreus.

De acordo com o Novo Testamento, a páscoa é um símbolo da redenção em Cristo

Jesus; o cordeiro pascal que foi imolado, e o seu sangue foi aplicado nos batentes das portas,

41 Ibid p. 114

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 37

simboliza o sangue de Jesus que foi derramado por nós libertando-nos do pecado e da

condenação (cf. Jo 1.29; 1Co 5.6-8).

4.5.3. O Pacto da Lei.

Após o livramento da escravidão do Egito e a travessia milagrosa no mar Vermelho, o

povo hebreu viaja em direção ao Sinai, uma jornada de mais de dois meses (19.1). Chegando ao

monte Sinai, o povo acampou-se diante dele, e Moisés subiu ao monte para falar com Deus. Ali

Deus falou com Moisés, disse a ele que entraria em aliança com o povo para que ele se tornasse

propriedade dEle (19.5-19).

A condição da aliança foi anunciada por Deus: “se diligentemente ouvirdes a minha

voz, guardardes a minha aliança” (19.5). A aliança é um meio de estabelecer um relacionamento

(que não existe por vias naturais) sancionado por um juramento proferido numa cerimônia de

ratificação42. Todos os elementos que formam uma aliança estão presentes no Sinai. Em Êxodo

19.3-8 Israel é convidado a um relacionamento especial com Deus, descritos por três fases:

(1) Israel seria uma propriedade particular ou possessão de Deus. Implica tanto um valor

especial como uma relação íntima.

(2) Seria um reino de sacerdotes.

(3) Seria um povo santo, diferente das nações vizinhas. Seria uma nação separada para o

serviço de Deus.

As três promessas feitas aos hebreus se cumprem na Igreja, que é o Israel espiritual de

Deus (1Pe 2.9,10).

“O pacto da lei não teve a intenção de ser meio de salvação. Foi celebrada com Israel

depois de sua redenção alcançada mediante poder e sangue. Deus já havia restaurado Israel à

justa relação com ele, mediante a graça. Israel já era seu povo. O Senhor deseja dar-lhe algo que

o ajudasse a continuar sendo o seu povo e a ter uma relação mais íntima com ele. O motivo que

levasse a cumprir a lei haveria de ser o amor e a gratidão a Deus por havê-los redimidos e feitos

filhos seus43”.

42 LASOR, William. Introdução ao AT p. 79 43 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 131

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 38

4.5.4. O decálogo (20.1-26)

Deus escreveu as suas palavras, ou seja, os dez mandamentos (as dez palavras, hebraico

dabar) em uma taboa de pedra e as deu a Moisés; esses mandamentos tinham a finalidade de

orientar o povo como eles deviam andar diante de Deus. Tanto seu comportamento ético quanto

espiritual deveria ser dirigido pelos mandamentos. Os quatro primeiros mandamentos tratam das

relações entre os homens e Deus; os outros tratam das relações entre os homens. A ordem é

muito apropriada. Somente os que amam a Deus podem em verdade amar a seu próximo. O

significado dos dez mandamentos consiste no seguinte:

(1) A unidade de Deus: “não terá outros deuses diante de mim”. Há um só Deus e só a

ele devemos oferecer culto. A adoração a anjos, a santos ou qualquer outra coisa é violação do

primeiro mandamento.

(2) A espiritualidade de Deus: “Não farás para ti imagem”. Proíbe-se não somente a

adoração de imagens ou deuses falsos, mas também o prestar culto ao verdadeiro Deus em forma

errada. Deus é espírito e não tem forma (Jo 4.23,24).

(3) A santidade de Deus: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Este

mandamento inclui qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfêmia ou insincera.

Deve-se reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus.

(4) A soberania de Deus: “lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo”. Um dia da

semana pertence a Deus Reconhece-se a soberania de Deus guardando o dia de repouso, visto

que esse dia nos lembra que Deus é o Criador a quem devemos culto e serviço. “santificar” o dia

significa separá-lo para o culto e serviço.

(5) Respeito aos representantes de Deus: “Honra o teu pai e a tua mãe”. O homem que

não honra os seus pais tampouco honrará a Deus, pois esta é a base do respeito a toda a

autoridade.

(6) A vida humana é sagrada: “Não matarás”. Este mandamento proíbe o homicídio

mas não a pena capital, visto que a própria lei estipulava a pena de morte. Também se permitia a

guerra, visto como o soldado atua como agente do estado.

(7) A família é sagrada: “Não adulterarás”. Este mandamento protege a o matrimônio

por ser uma instituição sagrada instituído por Deus. Isto vigora tanto para o homem quanto para

a mulher (Lv 20.10).

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(8) Respeito à propriedade alheia: “Não furtarás”. Há muitas maneiras de violar este

mandamento, tais como não pagar suficientemente ao empregado, não fazer o trabalho

correspondente ao salário combinado, cobrar demasiado e descuidar a propriedade do senhor.

(9) A justiça: “Não dirás falso testemunho”. O testemunho falso, desnecessário, sem

valor ou sem fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a reputação de uma

pessoa e impedi-la de receber tratamento justo por parte dos outros.

(10) O controle dos desejos: “Não cobiçarás”. A cobiça é o ponto de partida de muitos

dos pecados contra Deus e contra os homens.44

Para refletir

4.5.5. O Tabernáculo

Duas passagens longas de Êxodo descrevem o tabernáculo e seus utensílios. Nos

capítulos 25-31, Deus revela a Moisés o plano, os materiais e os desígnios para construí-lo. Nos

capítulos 35-40, Moisés segue as ordens de Deus, nos menores detalhes.

O tabernáculo era um santuário portátil, formado de uma estrutura de madeira de acácia

recoberta por duas grandes cortinas de linho. Uma das cortinas formava a sala principal, o Lugar

Santo, enquanto a segunda cobria o Santo dos Santos (i.é., o Santíssimo Lugar), uma sala menor

no fundo da sala principal separada por uma cortina especial.45

O tabernáculo tinha vários nomes. Em regra geral, chamava-se “tenda” ou

“tabernáculo” por sua cobertura exterior que o assemelhava a uma tenda. Também se

44 Ibid pp. 132,133 45 LASOR, William. Introdução ao AT p. 82

As palavras, “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos

pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (20.5)

devem ser interpretadas à luz do caráter de Deus e de outras passagens paralelas das

Escrituras. Deus é zeloso no sentido de ser exclusivista, não tolerando que seu povo

preste culto a outros deuses.

Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais senão nos casos em que os filhos

continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o “aborrecem” e não os arrependidos.

“A alma que pecar, essa morrerá, o filho não levará a maldade do pai, nem o pai

levará a maldade do filho” (Ezequiel 18.20). Em vez disso a maldade passa de geração

a geração pela influência dos pais e quando chega a seu ponto culminante Deus traz

castigo sobre os pecadores (Gn 15.16; 2Rs 17.6-23; Mt 23.32-36).

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 40

denominava “tenda da congregação” porque ali Deus se reunia com seu povo (29.42-44). Visto

como continha a arca e as tábuas da lei, chama-se “tabernáculo do testemunho” (38.21).

Testificava a santidade de Deus e da pecaminosidade do homem. Chama-se, além disso,

“santuário” (25.8) porque era uma habitação santa para o Senhor.46

4.6. Chaves para Êxodo

Palavra-chave: Redenção

Versículos-chave (6.6; 19.5,6)

Capítulos-chave (12-14)

Cristo em Êxodo – em Êxodo há várias profecias indiretas a respeito de Cristo, vejamos:

➢ (1) Moisés – é um tipo de Cristo (18.15)

➢ (2) A páscoa – o cordeiro pascal representava Cristo, (cf. Jo 1.29,36; 1Co 5.7

➢ (3) O êxodo – Paulo relaciona o batismo com o evento do êxodo, visto que o batismo

simboliza a morte para o velho e a identificação com o novo (cf. Rm 6.2,3; 1Co 10.1,2).

➢ (4) O Maná e a Água – o Novo Testamento aplica ambos a Cristo (cf. Jo 6.31-35,48-63;

1Co 10.3,4).

➢ (5) O Tabernáculo – em seus materiais, cores, móveis e arranjo, o tabernáculo fala

claramente da pessoa de Cristo e do caminho da redenção.

➢ (6) O Sumo Sacerdote – de várias maneiras os sumos sacerdotes prefiguravam o

ministério de Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote (cf. Hb 4. 14-16; 9.11,12,24-28).

4.7. Conclusão

Êxodo é repleto dos poderosos atos redentivos de Deus em favor de Seu povo oprimido.

Começa com dores e termina com libertação; move-se do gemido do povo para a glória de Deus.

É o seguimento da história que começa em Gênesis com os setenta descendentes de Jacó que se

mudaram de Canaã para o Egito. Multiplicaram-se sob condições adversas em uma grande

multidão. Quando os israelitas finalmente se convertem ao Senhor Deus para a libertação da

escravidão no Egito, Deus prontamente lhes responde, libertando-os com braços fortes e com

grandes juízos (6.6). Deus fielmente cumpre sua promessa feita a Abraão séculos antes (Gn

15.13,14)47.

46 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 141 47 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 16

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5. O LIVRO DE LEVÍTICO

5.1. Introdução e Título

Deus libertou um povo da escravidão, tirou-o do meio do paganismo e transformou esse

povo numa nação; a intenção de Deus não era somente formar uma nação, mas uma nação

diferente, um povo santo que O adorasse. “Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e

separei-vos dos povos, para serdes meus” (Lv 20.26). Levítico focaliza o culto e o caminhar da

nação de Deus. É uma espécie de um manual divino para o povo recém- redimido, mostrando-lhe

como cultuar, servir e obedecer a um Deus santo. Tanto o acesso a Deus (mediante os

sacrifícios) quanto à comunhão com Deus (mediante a obediência) mostra a assombrosa

santidade do Deus de Israel, “sereis santos, porque eu [Senhor] sou santo” (Lv 11.44).

O Título hebraico é Wayyiqra que significa “ele chamou”. O Talmude faz referência a

Levítico como “a Lei dos Sacerdotes” e a “a Lei das ofertas”48. O título “Levítico” vem da

Septuaginta (tradução do hebraico para o grego). Levítico é um adjetivo que significa “o (livro)

levítico” ou o livro pertinente aos levitas. Na versão grega este livro recebeu este nome porque

ele trata da lei relacionadas com os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio levítico. Mas

devemos levar em conta que nem todos os homens da tribo de Levi eram sacerdotes; o termo

“levita” referia-se aos leigos que faziam o trabalho manual do tabernáculo. O livro não trata

destes levitas, porém o título não é completamente inadequado porque todos os sacerdotes eram

da tribo de Levi49.

5.2. Tema e Propósito

O principal tema de Levítico evidentemente é “Santidade” (11.45; 19.2). O livro ensina

que para alguém aproximar do Deus santo são necessários o sacrifício e a mediação sacerdotal, e

só pode andar com o Deus santo com base na santificação e obediência. O povo escolhido de

Deus deve aproximar-se dele em santidade.

O propósito deste livro era ensinar o povo como eles deveriam se comportar diante de

Deus quanto ao culto, isto é, os procedimentos corretos para fazer sacrifícios, para observar os

48 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 23 49 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 155

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 42

tempos solenes do calendário e como andar em comunhão com o Deus santo, vivendo sempre

em santidade. Ele é um guia para o culto e um código e lei para os sacerdotes e também para

todo o povo. Esse conhecimento permitia ao povo realizar seu culto de modo aceitável a Deus e

também monitorar os sacerdotes, verificando se cumpriam devidamente a lei. Além disso,

impedia que os sacerdotes ganhassem controle indevido sobre o povo, mantendo como

conhecimento secreto o funcionamento básico do santuário50.

O livro também tinha o propósito de preparar a mente humana para as grandes verdades

do Novo Testamento. Levítico apresenta o evangelho revestido de simbolismo. Os sacrifícios da

antiga aliança, especialmente o do grande dia de expiação, antecipavam o sacrifício do mediador

da nova aliança. Levítico é o pano de fundo para entendermos o significado do sacrifício de

Cristo no Calvário e sua glória redentora. Levítico revela a verdadeira face do pecado, revela a

graça e o perdão, e assim prepara os israelitas para a obra do Redentor.

5.3. Esboço de Levítico

Primeira parte: Leis de Acesso Aceitável a Deus: Sacrifício (1.1-17.16)

I. As Leis de Acesso Aceitável a Deus...........................................................................1.1-7.38

1. Leis de Acesso a Deus Quando em comunhão...............................................1.1-3.17

2. Leis de Acesso a Deus Quando destituído de comunhão..................................4.1-6.7

3. Leis para administrar a oferta..........................................................................6.8-7.38

II. As Leis dos Sacerdotes.............................................................................................8.1-10.20

1. A consagração do Sacerdote..............................................................................8.1-36

2. O Ministério do Sacerdócio...............................................................................9.1-24

3. O fracasso do sacerdócio (pecado de Nadabe e Abiu, Eleazar e Itamar).........10.1-20

III. Leis relativas à pureza...........................................................................................11.1-15.33

1. Leis concernentes a alimentos limpos e imundos............................................11.1-47

2. Leis concernentes a infância..............................................................................12.1-8

3. Leis concernentes à lepra............................................................................13.1-14.57

4. Leis concernentes à expiação...........................................................................15.1-33

IV. As Leis de Expiação Nacional..............................................................................16.1-17.16

1. Leis concernentes à purificação nacional através do Dia da Expiação............16.1-34

2. Leis concernentes ao local dos sacrifícios.........................................................17.1-9

50 LASOR, William. Introdução ao AT p. 89

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 43

3. Leis concernentes ao uso de sangue...............................................................17.10-16

Segunda Parte: As Leis da Vida Aceitável com Deus: Santificação (18.1-27-34)

I. As Leis de Santificação para o Povo...................................................................... 18.1-20.27

1. Leis de pecado sexual.......................................................................................18.1-30

2. Leis de ordem social.........................................................................................19.1-37

3. Leis de penalidades..........................................................................................20.1-27

II. As Leis de Santificação para o Sacerdócio............................................................21.1-22.33

1. Práticas proibidas dos sacerdotes.....................................................................21.1-15

2. Pessoas proibidas ao sacerdócio.....................................................................21.16-24

3. Coisas proibidas ao sacerdócio........................................................................22.1-16

4. Sacrifícios proibidos ao sacerdócio................................................................22.17.30

5. O propósito das leis do sacerdócio.................................................................22.31-33

III. As Leis de Santificação no Culto..........................................................................23.1-24.23

1. Leis das festas..................................................................................................23.1-44

2. Leis dos elementos de culto...............................................................................24.1-9

3. Lei do nome de Deus......................................................................................24.10-23

IV. As Leis de Santificação na Terra de Canaã..........................................................25.1-26.46

1. Leis de santificação da terra de Canaã (ano Sabático e ano do Jubileu)..........25.1-55

2. Resultados da obediência e desobediência na terra de Canaã..........................26.1-46

V. As Leis de Santificação Mediante Votos....................................................................27.1-34

1. A consagração especial de coisas aceitáveis....................................................27.1-25

2. Coisas excluídas da consagração...................................................................27.26-34

3. A conclusão de Levítico......................................................................................27.34

5.4. Chaves para levítico

Palavra-chave: Santidade

Versículos-chave (17.11; 20.7,8)

Capítulo-chave (16) – o Dia da Expiação (Yom Kippur) era a mais importante data do

calendário judeu, bem como a única ocasião em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos

Santos para “fazer expiação por vós, para purificar-vos, para que sejais limpos de todos os

vossos pecados diante do Senhor” (16.30).

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 44

5.5. Os Sacrifícios.

Os sacrifícios era o meio pelo qual o povo podia aproximar-se de Deus. O Senhor

ordenou: “Ninguém aparecerá vazio diante de mim” (Êx 34.20; Dt 16.16). O sistema sacrificial

foi instituído por Deus para ligar a nação israelita a ele próprio. Não obstante, os sacrifícios

remontam ao período primitivo da raça humana. Em Gênesis 4 vemos que os filhos de Adão,

Caim e Abel já conheciam a prática do sacrifício. Mas o primeiro sacrifício que se encontra na

Bíblia foi feito pelo próprio Deus, quando Adão e Eva pecaram, Deus fez roupas de pele de

animais para cobri-los, isto nos leva a entender que houve um sacrifico de animais para fornecer

peles, ou seja, um animal foi sacrificado para cobrir o pecado do homem (cf. Gn 3.21).

Provavelmente Deus mesmo ensinou os homens a oferecer sacrifícios como meio de aproximar-

se dele. A ideia ficou gravada na mente humana e o costume foi transmitido a toda humanidade.

Com o passar do tempo, os sacrifícios oferecidos pelos os que não conheciam a Deus uniram-se

aos costumes pagãos e se corromperam.

5.5.1. Ideias relacionadas com os sacrifícios:

➢ Substituição e expiação. O homem que peca merece a morte, mas em seu lugar morre o

animal que com o seu sangue que é derramado sobre o altar cobre o pecado do homem.

➢ Consagração. Ao colocar as mãos sobre o animal antes de sacrificá-lo, o ofertante

identifica-se com o animal. Oferecida sobre o altar, a vítima representa aquele que

oferece e indica que o ofertante pertence a Deus.

➢ Indica a ideia jubilosa de comunhão com Deus nas ofertas de paz, pois o ofertante

participa da carne sacrificada em um banquete sagrado.

➢ Adoração. Sacrificar é também adorar a Deus.

5.5.2. A forma em que se ofereciam os sacrifícios (1.3-9).

➢ O ofertante leva pessoalmente o animal à porta da cerca do tabernáculo onde estava o

altar do holocausto.

➢ Depois o ofertante punha as mãos sobre o animal para indicar que este era o seu

substituto se identificando com ele.

➢ O próprio ofertante degolava o animal como sinal da justa paga de seus pecados.

➢ Em seguida o sacerdote aspergia o sangue no altar

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 45

5.5.3. Os tipos de Ofertas

Nome da

Oferta

Propósito Tipo de Oferta Natureza da

Oferta

Ações do

Ofertante

Ações do

Sacerdote

Holocausto era

uma oferta

queimada por

inteiro, (‘olã –

aquilo que

sobe). 1.3-17; 6.

8-13

Para expiar o

pecado

Um macho sem

defeito do gado

(boi, bode ou

carneiro) ou

duas aves.

Queimada por

inteiro

Traz a oferta

coloca a mão

sobre a cabeça

do animal,

mata, tira a pele

e corta em

pedaços.

Aceita a oferta

esparge sangue

no altar. Coloca

os pedaços no

fogo.

Hattãt –

Sacrifício pelo

pecado – 4.1-

5,13; 6.24-30

Para expiar um

pecado não

intencional

específico.

Sacerdote:

novilho

Congregação:

novilho.

Governante:

bode.

Indivíduo

comum: cabra.

Individuo pobre

duas aves.

Individuo muito

pobre: farinha

Gordura

queimada

outras partes

queimadas

Traz a oferta

(anciãos

representa a

congregação.

Esparge sangue

no altar, queima

a gordura etc.,

come a carne.

Em caso de

incluir seu

próprio pecado,

queima a poção

fora do

acampamento.

Ãsham, oferta

por culpa,

transgressão

ou reparação –

5. 14-6.7; 7.1-

10

Para expiar um

pecado que

exigia

reparação ou

uma falha na fé

Igual a oferta de

purificação

(mas a

restituição

especificada)

Igual a oferta de

purificação

Igual a oferta de

purificação

(mais a

restituição

especificada)

Igual a oferta de

purificação

Minhã, oferta

de grãos ou

cereais – 2.1-16

6.14-23

Para garantir ou

manter a boa

vontade.

Consagração a

Deus dos frutos

do labor

humano

Flor de farinha,

bolos, biscoitos

ou primícias

com óleo,

incenso e sal,

mas sem

fermento e nem

mel, em geral

acompanhada

de sacrifício

animal.

Porção

memorial

(askarã)

queimada

Traz a oferta

toma uma

porção

Uma poção é

queimada e a

outra é comida

pelos sacerdotes

e seus filhos

Shelãmim,

ofertas

pacíficas – 3.1-

17; 7.11-21, 28-

36

Para render

louvor a Deus.

Era uma oferta

voluntária

Macho ou

fêmea do gado

bovino, caprino

ou ovino, sem

defeito

A gordura era

queimada e o

restante era

comido pelo

ofertante e seus

convidados na

presença do

Senhor. Aquele

que oferecia o

sacrifício

convidava

outros para o

banquete,

especialmente

ao levita, ao

pobre, ao órfão

e à viúva.

Traz a oferta

coloca a mão

sobre a cabeça,

mata tira a pele,

corta em

pedaços, come

o restante.

Aceita, esparge

sangue no altar,

queima a

gordura come o

restante no

mesmo dia.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 46

5.5.4. Avaliação dos Sacrifícios.

“O sistema sacrificial não tirava o pecado realmente, “porque é impossível que sangue de

touros e dos bodes tire os pecados” (Hb 10.4). Somente o sangue de Cristo Jesus nos purifica de

todo pecado. Não obstante, os sacrifícios tinham valor porque eram como uma promessa escrita

de que Deus mesmo proveria o meio. Tinham valor simbólico até que Jesus oferecesse o

verdadeiro sacrifício. Ao depositar a sua fé em Deus e em sua provisão, simbolizada pelo

sacrifício, o crente era considerado justo51”.

Por outro lado, o sistema sacrificial preparou a mente dos israelitas para entender a ideia

de expiação e redenção que mais tarde seria realizada através de Cristo, que ofereceu o perfeito

sacrifício.

“Os sacrifícios incessantes de animais e a chama incessante do fogo no altar foram sem

dúvida propostos por Deus para gravar na consciência dos homens a convicção de sua própria

pecaminosidade e para ser um quadro perdurável do sacrifício vindouro de Cristo, para quem

apontavam e em quem foram cumpridos52”.

5.6. O Sacerdócio (Êx 28, 29; Lv 8, 9, 10, 21,22)

Antes de Deus dá a Moisés a Lei, o sacerdócio era exercido por cada chefe de família.

O chefe de família, ou chefe tribal tinha a responsabilidade sacerdotal perante Deus. Depois do

Êxodo, sendo que Deus desejava que Israel fosse uma nação de sacerdotes, Ele nomeou a Arão e

seus filhos para constituírem o sacerdócio. Israel deixou de ser apenas algumas tribos e se tornou

uma grande nação, já não era mais possível cada pai de família ser responsável pelo o culto. A

complexidade dos sacrifícios, a forma de culto, o trabalho no tabernáculo exige pessoas que

trabalhem em tempo integral, ou seja, um sacerdócio dedicado totalmente ao culto divino. A

vocação sacerdotal era hereditária de modo que os sacerdotes podiam transmitir as seus filhos

detalhadamente as leis cerimoniais. Deus escolheu primeiramente Aarão e seus filhos, e a partir

daí todos os sacerdotes descendiam desta linhagem. A tribo de Levi, da qual pertencia Aarão, foi

separada por Deus exclusivamente para o serviço sagrado. Mas nem todos os levitas eram

sacerdotes, serviam no tabernáculo fazendo o trabalho braçal, auxiliando os sacerdotes.

51 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 163 52 Henry Halley – APUD – HOFF, Paul. O Pentateuco p. 163

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 47

5.6.1. Funções dos sacerdotes.

➢ Servir como mediador entre o povo e Deus, interceder pelo povo e expiar o pecado

mediante o sacrifício, e desse modo reconciliar o povo com Deus.

➢ Consultar a Deus para discernir a vontade divina para guiar o povo ( Nm 27.21; Dt 33.8).

➢ Ensinar a lei de Deus ao povo (10.11).

➢ Ministrar nas coisas sagradas do tabernáculo.

5.6.2. O Sumo Sacerdote.

Era o sacerdote mais importante. Somente ele podia entrar uma vez por ano no lugar

santíssimo para oferecer o sacrifício expiatório pela nação de Israel. Somente ele podia usar o

peitoral com os nomes das doze tribos de Israel e atuava como mediador entre toda a nação.

Somente ele tinha o direito de consultar ao Senhor mediante Urim e Tumim. Embora o sacerdote

em alguns aspectos prefigura o crente, o sumo sacerdote simboliza a Jesus Cristo (1Pe 2.5; Hb

2.17).

5.6.3. Requisitos dos sacerdotes (caps. 21, 22).

Era preciso ser homem sem defeito físico (21.16-21). Devia casar-se com uma mulher

de caráter exemplar. Não devia se contaminar com costumes pagãos nem tocar coisas imundas.

A santidade de Deus exige da parte daqueles que se aproximam dEle um estado habitual de

pureza, incompatível com a vida comum dos homens53.

5.7. As Festas Solenes do Antigo Testamento

Decorrente dos feitos de Deus, os hebreus celebravam várias festas sagradas no decorrer

do ano às quais denominavam “santas convocações”. A palavra hebraica traduzida por “festa”

também pode ser traduzida por “uma ocasião assinalada”. Em regra geral eram ocasiões de um

dia ou mais de duração em que os israelitas suspendiam seus trabalhos a fim de reunir-se

jubilosamente com o Senhor. Ofereciam sacrifícios especiais de acordo com o caráter da festa

(Nm 28, 29) e se tocavam as trombetas enquanto eram apresentados os sacrifícios de holocaustos

e de paz. A maioria das convocações relacionava-se com as atividades agrícolas e com os

53 Ibid p. 166

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acontecimentos históricos na nação hebraica. Foram instituídas como parte do pacto do Sinai (Êx

23.24-29).

5.7.1. Propósitos das Festas:

➢ As festas davam aos israelitas a oportunidade de refletir sobre a bondade de Deus. As

festas estavam relacionadas aos feitos de Deus, libertação, livramento, descanso,

suprimento, etc.

➢ As festas também proporcionavam ao povo de Israel o reconhecimento de que era o

povo de Deus.

5.7.2. O significado das festas

Nome da

Festa

Data no AT Descrição Propósito Referências no NT

O dia de

descanso, o

sábado, Êx

20.8-11; Lv

23.3

7º Dia

Dia de descanso sem

trabalho. Era a primeira

festa do calendário

sagrado.

Aos israelitas lembrava seu

criador e o fato de que ele

descansou de sua obra no

sétimo dia. Também fazia-os

ter em mente que o Senhor

os livrou da escravidão do

Egito e agora poderiam

dedicar a ele um dia da

semana.

Mt 12.1-14; 28.1; Lc

4.16; Jo 5.9; At

13.42; Cl 2.16; Hb

4.1-11

A Páscoa e

os pães

asmos. Êx

12.1-13.10;

Lv 23.5-8.

1º mês (abibe)

14º dia -

equivale

março ou abril

Matar e comer um

cordeiro, junto com ervas

amarga e pães sem

fermento (asmos), em

todas as casas.

Lembrar o povo do

livramento que o Senhor deu

das mãos dos egípcios.

Páscoa, portanto, significa

livramento, libertação.

Mt 26.17; Mc 14.12-

26; Jo 2.13; 11.55;

1Co 5.7; Hb 11.28

A festa das

semanas ou

Pentecostes:

Lv 23.15-

21; Êx

23.16; Nm

28. 26-31

3º mês (sivã)

6º dia –

equivale maio

ou junho

Festa de alegria; ofertas

obrigatórias e voluntárias,

incluindo-se as primícias

da colheita de trigo. A

palavra Pentecostes vem

do grego e significa

“qüinquagésimo”, pois a

festa caia sete semanas ou

cinquenta dias depois da

festa da páscoa.

Mostrar alegria e gratidão ao

Senhor pela benção da

colheita. É interessante que

o Espírito Santo foi

derramado no dia em que

celebrava esta festa, e o

resultado foi uma grande

colheita de almas.

At 2.1-4; 20.16; 1Co

16.8.

Festa das

Trombetas

- Lv 23.23-

25; Nm

28.11-15;

29.1-6;

7º mês (tisri)

1º dia –

equivale a

setembro ou

outubro

O tocar das trombetas

proclamava o começo de

cada mês, o qual se

chamava lua nova (Nm

10.10). Assembleia num

dia de descanso

comemorado com toque de

trombetas e sacrifícios.

Apresentar Israel diante do

Senhor pedindo o seu favor.

Marcava o fim da estação da

colheita e o primeiro dia do

ano novo do calendário civil.

O motivo da festa era

anunciar o começo do ano e

preparar o povo para o

apogeu das observâncias

religiosas.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 49

Dia da

Expiação

(Yom

Kippur) – Lv

16; 23.26-32;

Nm 29.7-11.

10º dia do 7º

mês

Era o dia mais importante

do calendário judeu. Dia

de descanso, jejum e

sacrifícios de expiação

pelos sacerdotes e pelo

povo.

Neste dia, o sumo sacerdote

reunia todos os pecados de

Israel e os confessava a

Deus pedindo perdão. Neste

dia também entrava no lugar

santíssimo para fazer

expiação sobre o

propiciatório da arca. E isto

era feito apenas uma vez por

ano.

Rm 3.24-26; Hb

9.7; 10.3, 19-22

Festa dos

Tabernáculos,

Êx 23.16b;

34.22b; Lv

23.33-43; Nm

29. 12-34.

15-21º do 7º

mês

Era a última festa do ano e

durava oito dias.

Comemorava-se o final da

colheita e também a

peregrinação no deserto.

Os israelitas construíam

cabanas e viviam nelas

para lembrar-se dos anos

em que haviam morado

em tendas.

Rememorar a jornada do

Egito a Canaã, e agradecer a

Deus pelas bênçãos

recebidas.

Jo 7.2,37

Ano do

Jubileu – Lv

25.8-22;

27.17-24

50º ano Era o ano de

cancelamento de dívidas,

libertação de escravos e

devolução de terras ao

primeiro proprietário. .

Ajuda aos pobres;

estabilização da sociedade.

O objetivo era por freio ao

desejo desmedido de

acumular bens materiais, e

se impedia que houvesse

extremos de pobreza e

riqueza.

5.8. Conclusão

5.8.1. Levítico e o Novo Testamento

A legislação sacrificial registrada em levítico provê a base para a compreensão da morte

de Cristo como sacrifício (1Co 5.7; Hb 7.27; 9. 23-28). O livro de Hebreus lança luz sobre a

função de Cristo como sumo sacerdote superior (Hb 2.17; 3.1; 7.26-28). O NT como um todo

continua a convocar o povo de Deus à santidade (1Pe 1.15,16; Mt 5.48) e a reforçar as ideias de

Levítico com respeito à natureza e à importância da santidade. Lições acerca do culto ao Deus

santo e da manutenção da presença de Deus na comunidade dos fiéis são abundante em todo o

NT, que também oferece perspectiva da função sacerdotal de todos os que creem (1Pe 2.5,9).

5.8.2. Lei e Graça.

Às vezes afirma-se que a salvação sob a antiga aliança era adquirida através das obras

da lei, enquanto sob a nova aliança, as pessoas recebem a salvação mediante a fé em Cristo. Esta

afirmação é um equívoco, uma distorção dos ensinos de Paulo. Um estudo cuidadoso da Torá

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 50

(Lei), bem como o restante do AT, mostra que as pessoas nunca são salvas por seus próprios

esforços – mas apenas pela graça de Deus. Todos merecem condenação e morte por haver

pecado. Deus, por sua graça, dispõe-se a aceitar a pessoa na base da fé, provendo o meio de

redenção. Era assim que Paulo compreendia a aliança que Deus fez com Abraão, pois ela não foi

anulada por causa da lei dada a Moisés (Gl 3.6-18). No tocante a salvação, o escritor de Hebreus

afirma: “porque é impossível que sangue de toros e de bodes remova pecados” (Hb 10.4).54

6. O LIVRO DE NÚMEROS

6.1. Introdução e Título

Nome. Originalmente este livro não tinha nome. Na Bíblia Hebraica ele era identificado

pela palavra do primeiro versículo, Bemidbar, que significa “No deserto”, o qual está mais

relacionado com o caráter do livro. O Nome Números se originou do grego arithmos, que

significa números, este nome foi dado pelos tradutores da Septuaginta (tradução do AT hebraico

para a língua grega), pois o livro narra dois recenseamentos, o primeiro nos primeiros capítulos e

o segundo no capítulo 26. A Vulgata Latina seguiu este título e o traduziu por Liber Numeri

(Livro de Números), e desta forma seguiu as outras versões, usando o nome de Números.

Número é o livro das peregrinações. A maior parte deste livro descreve as experiências

de Israel durante a peregrinação no deserto. O Livro de Números começa com a antiga geração

(caps. 1-12), move-se através de um período de trágica transição (caps. 13-20) e termina com a

nova geração (caps. 21-36) postada à entrada da terra de Canaã. A história narrada neste livro

cobre um período de trinta e oito anos.

No Livro de Número, Moisés é novamente a figura dominante, pintado em toda a sua

grandeza e fraqueza, e guiando o povo em todos os aspectos. Por intermédio dele o Senhor fala

poderosamente a Seu povo, e deu a Israel uma variedade de leis, falando com o seu servo “boca

a boca” (12.6-8). Por muitas vezes Moisés age como intercessor a favor do povo (11.2; 12.13;

14.13ss.; 16.22; 21.17). Moisés era “mui manso, mas do que todos os homens que havia sobre a

terra” (12.3; cf. 14.5; 16.4ss.), mas, não obstante isso tinha também suas falhas humanas.

Contrariando a ordem de Deus ele bateu na rocha (20.10ss.), e em certa ocasião queixou-se

temperamentalmente (11.10ss.; cf. 16.15). Depois de Moisés em questão de proeminência,

aparece Arão (1.3,17,44; 2.1; especialmente caps. 12, 16 e 17).

54 LASOR, william. Introdução ao AT p. 105

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 51

O assunto de Números é o fracasso de Israel. O povo de Israel chegou à fronteira da

terra prometida, mas por causa da incredulidade não puderam entrar na terra prometida, e

tiveram que peregrinar por quarenta anos no deserto. O Livro Números reúne em si tanto fatos

históricos ocorridos no deserto, quanto também leis e regras dada a Israel.

6.2. Tema e Propósito

O tema de Êxodo é a “consequência da incredulidade e desobediência ao Deus Santo”.

O propósito de Números era registrar as histórias das peregrinações de Israel desde o

Sinai até a preparação em Moabe para a entrada na terra prometida. Mas o livro não é exaustivo

em seus relatos, mas seleciona os eventos que são importantes para o desenvolvimento do

programa redentivo de Deus. A narrativa deixa claro que os trinta e oito anos de peregrinação

foram uma punição pela falta de fé: ninguém da geração incrédula teve permissão para entrar na

terra prometida (Nm 14.20-45; cf. Dt 1.35ss.). Números, portanto, não é só um trecho de história

antiga, mas outra lista dos atos de Deus. Trata-se de uma história complexa de infidelidade,

rebelião, apostasia e frustração, em contraposição com a fidelidade, presença, provisão e

paciência de Deus.55

6.3. Esboço de Números

Primeira Parte: A preparação da Antiga Geração para tomar Posse da Terra Prometida

(1.1-10.10)

I. A Organização de Israel..............................................................................................1.1-4.49

1. Organização do povo (recenseamento e disposição do acampamento)..........1.1-2.34

2. Organização dos sacerdotes (recenseamento e ministério dos levitas)...........3.1-4.49

II. Santificação de Israel...............................................................................................5.1-10.10

1. Santificação mediante separação........................................................................5.1-31

2. Santificação mediante o voto de nazireu............................................................6.1-27

3. Santificação mediante o culto.........................................................................7.1-9.14

4. Santificação mediante a orientação divina..................................................9.15-10.10

55 LASOR, William. Introdução ao AT p. 107

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 52

Segunda Parte: O Fracasso da antiga geração em tomar posse da terra prometida (10.11-

25.18)

I. O fracasso de Israel em Cades...............................................................................10.11-12.16

1. A partida do Monte Sinai...............................................................................10.11-36

2. O fracasso do povo.............................................................................................11.1-9

3. O fracasso de Moisés.....................................................................................11.10-15

4. A provisão de Deus para Moisés....................................................................11.16-30

5. A provisão de Deus para o povo....................................................................11.31-35

6. O fracasso de Miriã e Arão (rebelião e punição)...............................................12.1-6

II. O Clímax do fracasso de Israel em Cades..............................................................13.1-14.45

1. A expiação da terra...........................................................................................13.1-33

2. A rebelião do povo contra Deus.......................................................................14.1-10

3. A intercessão de Moisés em favor do povo...................................................14.11-19

4. O julgamento de Deus sobre o povo..............................................................14.20-38

5. Israel se rebela contra o juízo divino.............................................................14.39-45

III. O Fracasso de Israel no deserto............................................................................15.1-19.22

1. Revisão das ofertas..........................................................................................15.1-45

2. A rebelião de Coré...........................................................................................16.1-40

3. Rebelião de Israel contra Moisés e Arão........................................................16.41-50

4. O papel do sacerdócio..................................................................................17.119.22

IV. O fracasso de Israel rumo a Moabe......................................................................20.1-25.18

1. A morte de Miriã...................................................................................................20.1

2. Moisés e Arão fracassam.................................................................................20.2-13

3. Edom recusa a dar passagem a Israel............................................................20.14-21

4. A morte de Arão.............................................................................................20.22-29

5. Vitória de Israel sobre os Cananeus...................................................................21.1-3

6. O fracasso de Israel............................................................................................21.4-9

7. A caminhada até moabe.................................................................................21.10-20

Terceira Parte: a preparação da Nova Geração para tomar posse da Terra Prometida

(26.1-36.13)

I. Reorganização de Israel...........................................................................................26.1-27.23

1. O segundo recenseamento................................................................................26.1-51

2. Método para a divisão da terra..................................................................26.52-27.11

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 53

3. Designação do novo líder de Israel................................................................27.12-23

II. As regulamentações sobre ofertas e votos..............................................................28.1-30.16

1. As regulamentações dos sacrifícios............................................................28.1-29-40

2. As regulamentações dos votos.........................................................................30.1-16

III. A conquista e divisão de Israel.............................................................................31.1-36.13

1. Vitória sobre Mídia..........................................................................................31.1-54

2. Divisão da terra oriental do Jordão..................................................................32.1-42

3. Sumário das jornadas de Israel........................................................................33.1-49

4. Divisão da terra ocidental do Jordão.........................................................33.50-34.29

5. Cidades especiais (cidades dos Levitas e cidades de refúgios)........................35.1-34

6. Problemas especiais na posse de Canaã...........................................................36.1-13

6.4. Chaves para Números

Palavra-chave: Peregrinações

Versículos-chave: (14.22,23; 20.12)

Capítulo-chave: (14) – este capítulo pode ser o ponto crítico e decisivo de Números, quando

Israel rejeita a Deus, recusando subir e conquistar a terra prometida. Deus julga Israel “segundo

o número dos dias em que espiastes esta terra, cada dia representando um ano, levarei sobre vós

vossas iniquidades, quarenta anos, e conhecereis minha rejeição” (14.34).

6.5. A Mensagem de Número

No livro de Número como no caso da Bíblia inteira, o Deus da aliança, Todo Poderoso e

fiel como Ele é, revela-se a si mesmo; e essa revelação que reúne as diferentes porções do livro

de Números numa unidade. Nas leis e regulamentos que impõe, Deus demonstra o seu cuidado

para com o seu povo. Israel se revolta frequentemente contra Ele. Em resultado, a ira do Senhor

de acende: ‘Ele não permite que o pecado passe sem ser castigado (11.1-3,33ss.; 12.10ss.; cap.

14). No entanto, Deus não repudia o Seu povo, permanece fiel à Sua aliança.

6.5.1. A Presença de Deus.

Deus se manifestou de uma forma real e visível ao povo de Israel. Em todo o tempo de

peregrinação pelo deserto, Deus se fez presente na vida se Seu povo. A nuvem de fogo que

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

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cobria o tabernáculo era uma revelação visível da presença de Deus (9.15-23). Quando a nuvem

se erguia, o povo andava, quando parava, o povo acampava. Enquanto a nuvem permanecia

sobre o tabernáculo, o povo permanecia no acampamento. A nuvem ambulante e a arca

representavam Deus andando com Seu povo para protegê-los e suprir-lhes as necessidades.

6.5.2. A providência de Deus para o povo.

O período em que o povo de Israel passou peregrinando no deserto foi uma

demonstração do cuidado e provisão de Deus em favor de Seu povo. Números destaca três

maneiras do cuidado divino para com Seu povo:

➢ (1) Deus orientou, protegeu e supriu as necessidades materiais do povo (10.11-14.45;

caps. 16-17; 20-25; 27.12-23; 31.1-33.49);

➢ (2) As instruções através de suas leis (1.1-10.10; cap. 15; caps. 18-19; 26.1-27.11; caps.

28-30; 33.50-36.13);

➢ (3) A instituição de padrões efetivos de liderança (11.1-14.45; 16.1-35; 27.12-23).

Deus proveu o “maná” para alimentar o povo e, quando este se cansou da dieta

vegetariana, enviou codornizes (Êx 16). Essa história é desenvolvida em Números 11. Ali o

cuidado providencial de Deus é visto em contraposição às murmurações e reclamações do povo.

A provisão das codornizes foi ao que parece temporária; o maná, porém, continuou por toda a

jornada, cessando apenas quando os israelitas entraram em Canaã (Js 5.12).56

As provisões legais esboçadas em Números moldaram o culto de Israel e julgaram sua

desobediência durante a jornada; também preparam o povo para quando tomasse posse da terra,

o destino visado em Números. A estrutura organizacional em tribos, clãs e famílias (caps. 1-4);

as cerimônias de confissão e restituição (cap. 5); os regulamentos para sacrifícios e ofertas,

inclusive a Páscoa e o Pentecostes, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos (caps. 7-10;

15-19; 28); as diretrizes para a divisão da terra e a reserva de cidades para os levitas (caps. 32-

35) – tudo isto eram instrumentos da graça de Deus para lhes dar condições de viver em

comunidade como povo de Deus na jornada e no assentamento.57

56 Ibid p. 116 57 Ibid

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 55

6.5.3. A Paciência de Deus.

Há vários episódios em Números que revela a “longanimidade de Deus”. Deus foi

paciente para com Seu povo. Por várias vezes este povo se rebelou contra Deus e quis voltar ao

Egito. As queixas, as rebeliões e murmurações eram constantes, mas Deus se manteve fiel ao seu

projeto redentor, e apesar de tudo isto Ele continuou suprindo as necessidades do povo.

6.5.4. A Terra.

Todo o livro de Números está voltado para a conquista da terra de Canaã. Os capítulos de 1-10

descrevem os preparativos para a viagem do Sinai a Canaã, 11-12 a viagem propriamente dita,

13-14 a tentativa abordada de conquista. Canaã é alvo constantemente presente do povo, que em

Números na verdade nunca alcançada. Teologicamente, três aspectos dessa terra são enfatizados

em Números:

➢ Primeiro, o Senhor havia dado aos filhos de Israel (32.7,9), mais precisamente a

Abraão, Isaque e Jacó (Nm 32.11; Gn 12.1ss.; 14.16; 17.8; 26.3; 28.13). Estas

promessas garantiam que Israel seria capaz de conquistar a terra no tempo certo; a

incredulidade dos espias foi ainda mais horrível, porque na sua missão eles visitaram

especialmente a região de Hebrom, onde pela primeira vez a terra fora prometida a

Abraão, e onde ele e sua família haviam sido sepultados (13.22-24; cf. Gn 13.14-18.1;

23; 35.27-29; 50.13).

➢ Segundo, a terra de Canaã devia ser uma terra santa, santificada pelo fato de Deus

está habitando com o Seu povo (35.34; cf. Lv 26.11,12). Por esta razão os habitantes

nativos deviam ser expulsos, e os seus santuários e ídolos deviam ser destruídos. Só o

Senhor devia ser adorado ali (33. 51,52). A presença de Deus era a garantia de que de

fato aquela seria uma terra “que mana leite e mel” (13.27; 14.8), onde o povo

continuaria a se multiplicar e a gozar a vida (24. 5-7; Lv 26.3-10).

➢ Terceiro, a terra devia ser propriedade permanente de Israel. Isto é declarado mais

explicita em Gênesis do que em Números (Gn 13.15; 17.18), mas esta é a implicação

clara das leis de jubileu (Lv 25) e das regras a respeito de casamento e herdeiros de

terra, em Números 36: “as tribos dos filhos de Israel se hão de vincular cada uma a sua

herança” (36.9). A desobediência pode importar em exílio da terra, mas há um

compromisso de restauração final (Lv 26.40-45; cf. Dt 30.1-10).

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

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➢ Embora o Novo Testamento reafirme a validade das promessas patriarcais, ele

considera-as como de âmbito universal (Rm 9.4). Da mesma forma como hoje são

incluídos como membros do povo de Deus todos os que são filhos de Abraão pela fé,

assim também Canaã se tornou imagem de uma “pátria superior, isto é, celestial”, uma

Nova Jerusalém da qual são excluídos pecado e morte (Gn 3.7; Hb 11.16; Ap 21).58

6.6. Cristo em Números

A serpente que Deus ordenou que Moisés levantasse (21.4-9), tipificava a obra de

Cristo (Jo 3.13,14). A rocha de onde saiu água era também um tipo de Cristo (1Co 10.4). O maná

diário simbolizava Jesus Cristo o Pão da Vida (Jo 6.31-33). A diretriz e a presença de Cristo são

vistas na coluna de nuvem e de fogo, e o refúgio dos pecadores em Cristo pode ser visto nas seis

cidades de refúgios (35.9-34).59

Para pensar

6.7. Conclusão

Em Gênesis, Deus elegeu um povo; em Êxodo, ele o redimiu da escravidão do Egito,

em Levítico Ele o santificou; e em Números, ele o dirigiu. Números ensina a importante lição de

que a fé bíblica amiúde requer confiança em Deus contra as aparências (neste caso, o prospecto

da aniquilação por forças inimigas e superiores). Duas extensas passagens do Novo Testamento

se volvem para esta experiência no deserto com vistas a ilustrar esta verdade espiritual. Em 1Co

10.1-12, ela ilustra o perigo da autoindulgência e imoralidade; e em Hebreus 3.7-4.6, ela ilustra o

tema da entrada do descanso de Deus através da fé. Números começa com a antiga geração,

move-se através de um trágico período transitório e termina com a nova geração no pórtico da

terra de Canaã.

58 WENHAN, Gordon J. Números, Introdução e Comentário pp.47,48 59 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 33

A serpente de bronze – como é que a serpente, símbolo de Satanás e do mal, pode ser símbolo de Jesus Cristo?

Na realidade não é uma figura de nosso Senhor, mas do pecado carregado sobre Cristo na cruz (2Co 5.21). A

imagem da serpente morta e impotente, levantada na haste, simboliza a destruição do pecado e do castigo da

lei. O que nos chama atenção também, é que o povo de Israel levou a serpente para Canaã, e séculos mais

tarde, eles adoraram e chamaram de Neustã, a qual foi destruída pelo rei Ezequias (cf. 2Rs 18.4).

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 57

7. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO

7.1. Introdução e Título

Depois de trinta e oito anos de peregrinação pelo o deserto, a nova geração agora se

encontra à fronteira de Canaã. Durante este período os israelitas ficaram restritos ao deserto de

Parã em Cades Barnéia. Somente quando a velha geração morreu, isto é, aqueles que saíram do

Egito com a idade acima de vinte anos, é que tiveram a autorização de retornarem a jornada

rumo à terra prometida. Moisés, consciente de que estava impedido de entrar na terra prometida

(Dt 1.37), aproveitou a ocasião para pregar três longos discursos ao povo de Israel. A essência

desses discursos encontra-se no livro de Deuteronômio. Israel estava preste a cruzar o rio Jordão

e iniciar a conquista de Canaã e Moisés estava por terminar a sua carreira. Moisés, então, prepara

o povo para a toma da prometida terra, trazendo à memória do povo os preceitos e obras de

Deus, sendo que esta nova geração não viu muito do que Deus falou e fez. Moisés lembra à nova

geração a importância da obediência se eles porventura estiverem dispostos a aprender do triste

exemplo de seus antepassados. Movendo-se do passado (história de Israel) para o presente

(santidade e prática de Israel) e para o futuro (novo líder de Israel), Moisés realça a fidelidade do

Deus de Israel, “que nos tirou...para nos dar a terra” (6.23).60

O Título hebraico é ’elleh haddebãîm, que significa: “São essas as Palavras”, ou então

apenas haddebarîm, “As Palavras”, tomando da frase inicial do livro em 1.1: “Estas são as

palavras”. As palavras iniciais de Moisés à nova geração são dadas de forma oral e escrita, de

modo que dure por todas as gerações. Deuteronômio tem sido chamado de “o quinto livro da

lei”, visto que completa os cinco livros de Moisés. O povo judeu o tem também denominado

Mishneh Hattorah, “repetição da lei”, o que é traduzido na Septuaginta como To

Deuteronômio Touto, “Esta segunda Lei”. Entretanto, Deuteronômio não é uma segunda lei,

mas a adequação e expansão de grande parte da lei original dada no monte Sinai. O Título

português provém do título grego Deuteronomion, que significa a segunda lei, ou repetição da

lei.61

7.2. Tema e Propósito

60 Ibid. p. 39 61 Ibid p. 40

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 58

O tema-chave de Deuteronômio é “Guarda-te que não te esqueça”. O assunto

apresentado por Deuteronômio é a exortação à lealdade ao Senhor e advertência contra a

apostasia. O propósito pode ser sumariado da seguinte maneira:

➢ (a) Preparar o povo para a conquista de Canaã. Moisés repete a frase “entrai e possuí a

terra” trinta e quatro vezes, e adiciona trinta e cinco vezes a frase “a terra que o Senhor

teu Deus te deu”.

➢ Apresentar os preceitos da lei em termos práticos e espirituais para serem aplicados à

nova vida em Canaã.

➢ Estimular lealdade ao Senhor e à sua lei. Pode-se dizer que o ensino de Deuteronômio é

a exposição do grande mandamento “Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu

coração, e de toda a tua alma, e de todas as suas forças” (6.5).62

7.3. Esboço de Deuteronômio

Primeira Parte: O Primeiro Sermão de Moisés: O Que Deus Fez Por Israel (1.1-4.43)

I Prefácio do Pacto...............................................................................................................1.1-5

II. A revisão dos atos de Deus por Israel........................................................................1.6-4.43

1. Do Monte Sinai a Cades.....................................................................................1.6-46

2. De Cades a Moabe.............................................................................................2.1-23

3. Conquista do Oriente do Jordão....................................................................2.24-3.20

4. Transição de Liderança....................................................................................3.21-29

5. Sumário do Pacto...............................................................................................4.1-43

Segunda Parte: O Segundo Sermão de Moisés: “O Que Deus Espera de Israel” (4.44-26.19)

I. Introdução à Lei de Deus..............................................................................................4.44-49

II. Exposição do Decálogo............................................................................................5.1-11.32

1. O Pacto de Deus com Israel.......................................................................5.1-33

2. Ordem de ensinar a lei...............................................................................6.1-25

3. Ordem de conquistar Canaã.......................................................................7.1-26

4. Ordem de lembrar-se do Senhor................................................................8.1-26

5. Mandamentos acerca da autojustificação..............................................9.1-10.11

6. Mandamentos referentes a bênçãos e maldições..............................10.12-11.32

III. Exposições das leis adicionais..............................................................................12.1-26.19

62 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 225

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1. Exposição das leis cerimoniais....................................................................12.1-16.17

2. Exposição das leis civis.............................................................................16.18-20.20

3. Exposição das leis sociais...........................................................................21.1-26.19

Terceira Parte: O Terceiro Sermão de Moisés: “O que Deus Fará Por Israel” (27.1-34.12)

I. Ratificação do pacto em Canaã...............................................................................27.1-28.68

1. Construção do altar............................................................................................27.1-8

2. Admoestação à obediência à lei.......................................................................27.9-10

3. Proclamação das maldições............................................................................27.11-26

4. Advertências do pacto......................................................................................28.1-68

II. Instituição do pacto palestino.................................................................................29.1-30.20

1. O pacto se baseia no poder de Deus...................................................................29.1-9

2. As partes do pacto..........................................................................................29.10-15

3. Advertências do pacto...............................................................................29.16-30.10

4. Ratificação do pacto palestino.......................................................................30.11-20

III. A transição do mediador do pacto....................................................................... 31.1-34.12

1. Moisés comissiona Josué e Israel.....................................................................31.1-21

2. O Livro da Lei é depositado...........................................................................31.22-30

3. Os filhos de Moisés..........................................................................................32.1-47

4. A morte de Moisés....................................................................................32.48-34.12

7.4. Chaves Para Deuteronômio

Palavra-chave: Pacto

Versículos-chave: (10.12,13; 30.19,20)

Capítulo-chave: (27) – a ratificação formal do pacto ocorre no capítulo 27, para Moisés, os

sacerdotes, os levitas e todo o Israel: “Presta atenção e ouve, ó Israel, neste dia te tornaste o povo

do Senhor teu Deus” (27.9).

7.5. Pontos Teológicos em Deuteronômio

Deuteronômio é um livro riquíssimo, nele há vários conceitos teológicos, motivo pelo

qual, foi muito usado pelos profetas e até mesmo pelo Senhor Jesus. Vejamos alguns desses

conceitos teológicos.

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7.5.1. O Credo.

O que nos chama a atenção neste livro é forma de um credo que aparece em 6.4ss., o

qual é conhecido pelos judeus como o “Shemá”: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único

Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a

tua força”.

Este credo é tratado com seriedade de tal maneira, que o texto segue dizendo que essas

palavras deveriam estar no “coração” (v6), deveriam ser ensinadas aos filhos (v.7), carregá-las

presas ao corpo (v.8). É importante também ressaltar que o Senhor Jesus tomou as palavras do

v.5 como o primeiro e maior mandamento (cf. Mt 22.37).

O credo destaca a unidade e a singularidade de Javé, o Deus de Israel, especificamente

no relacionamento estabelecido entre ele e seu povo.63 Este credo ensina de forma específica o

monoteísmo (o Senhor nosso Deus é o único) e exclui qualquer forma de politeísmo (crença em

vários deuses). Javé é o único Deus que os israelitas deveriam amar.

Amá-lo de todo coração, alma e força não deixam espaço para devoção a outros deuses.

Além disso, eleva a fidelidade a Deus acima de todos os compromissos humanos de lealdade.

7.5.2. A eleição de Israel.

A eleição é o conceito de que Deus, dentre todas as nações, escolheu Israel para ser o

seu povo. Este ensino está baseado na chamada de Abraão (Gn 12.1-3; 15.1-6). Essa ideia é

lançada na primeira linha do chamado de Moisés (Êx 3.6). Encontra-se na revelação do Sinai (cf.

(Êx 20.2,12) e no sistema sacrificial apresentado em Levítico (cf. Lv 18.1-5,24-30).

A eleição divina não é um ato arbitrário, mas está relacionada à obra redentiva. Deus

chama Abraão, e dele forma uma nação para este propósito. Deus escolhe Israel não por causa da

superioridade numérica, mas porque o Senhor os amava (7. 6-8). Por causa desta eleição, Israel

devia destruir todas as nações na terra de Canaã (7.1). Israel não podia ter nenhuma aliança e

63 LASOR, William. Introdução ao AT p. 129

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nem ter misericórdia para com elas (7.3). Acima de tudo, deviam destruir todos os símbolos

religiosos dos cananeus (7.5).

Relacionado à eleição divina, estava também o propósito de que “todas as famílias da

terra fossem abençoadas” (Gn 12.3). O ciúme de Deus para com Israel não brota de sua

indiferença para com outros povos; antes, surge de sua preocupação de que Israel transmita a

verdade divina aos outros povos. Se Israel não for cuidadoso para guardar a verdade que Javé

revelou em palavras e atos, a verdade nunca chegará ao restante do mundo.

Por este motivo Israel deveria ser imparcial com as nações cananéias, todas elas

juntamente com cultura e religião deveriam ser exterminadas, pois, do contrário, Israel seria

corrompido por elas e não cumpriria os propósitos divinos.

7.5.3. A relação de Aliança.

A aliança que Deus fez com Israel não foi um mero contrato ou acordo entre pessoas,

onde implica reciprocidade. Mas ela começa no amor de Deus por Israel (7.8). Assim, mesmo

que o povo falhe e não cumpra a sua parte da obrigação – como certamente não fizeram no

deserto e ao longo da maior parte de sua história – Deus não quebrará sua aliança (4.31).

7.5.4. O conceito de Pecado.

Deuteronômio enfatiza de maneira clara a gravidade do pecado. Ela pode ser vista nos

relatos de bênçãos e maldiçoes (caps. 27-28). A liturgia das doze maldições (27.11-26) cobre um

leque de crimes espirituais, raciais e sexuais semelhantes ao do Decálogo, embora mais

abrangente. A longa lista de benção (28.1-19) abrange toda a gama de dádivas graciosas de Deus

para o povo no campo político, agrícola e militar. Em contrapartida, uma série ainda maior de

maldições (28.15-68) ameaça tudo o que os israelitas possam prezar, da liberdade à saúde, da

prosperidade à posse da terra.

A apostasia ou idolatria era o pecado mais abominável de todos (cf. 29.18-20). O

pecado da idolatria era tão sério que os israelitas eram ordenados a matar um irmão, filho ou

filha, esposa ou amigo que tentasse incitá-los a servir outros deuses (cf. 13.8-15). As penalidades

para a idolatria eram terrivelmente severas. A única explicação para isso é a santidade de relação

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de aliança. Devemos observar que essas penalidades severas foram ordenadas por Deus durante a

conquista de Canaã. Como regra geral, a Bíblia não ordena que o povo de Deus mate todos os

incrédulos.64

7.5.5. Deus na História.

O conceito de que Deus de fato atua na história é uma doutrina bíblica sem igual. Em

Deuteronômio esse tema bíblico é de uma forma singular. O livro inteiro é uma exposição de

atos divinos em favor de seu povo. Deuteronômio enfatiza o agir de Deus ao longo da história de

Seu povo. A saída do Egito (7.19), a entrega da lei (5.5); a travessia do deserto, a entrada para

uma longa vida de felicidade (4.40), etc. a história humana não é algo que se desenvolve

aleatoriamente, mas tudo acontece dentro da vontade de Deus. Deus dirige a história humana.

7.6. Conclusão

Deuteronômio, antes de ser uma coletânea de preceitos, é uma reflexão sobre os

fundamentos de toda a nossa obediência a Deus, a saber, sua ação na vida e na história de Seu

povo. Este livro ensina também a moral do amor em atos: o amor do Senhor compromete todos

os âmbitos da existência humana, da política à higiene, da vida social ou familiar ao reencontro

do irmão, até mesmo o respeito pelo animal (22.7) ou pela árvore (20.19).

Este livro desempenhou um papel importante na história e na religião de Israel. O

código deuteronômico foi a norma para julgar as ações do reis de Israel. Ao descobri-lo no

templo, sua leitura despertou um grande aviamento no ano 621 a.C. (2Rs 22). Foi a base da

exortação de Jeremias e de Ezequiel. Os judeus escolheram a grande passagem de 6.4,5 como

seu credo ou declaração de fé. No Novo Testamento, Deuteronômio é citado mas de oitenta

vezes. Por exemplo: na tentação no deserto, Jesus o citou para refutar Satanás (Mt 4.1-11).

8. OS LIVROS HISTÓRICOS

Nesta parte falaremos dos livros bíblicos conhecidos como históricos. Mas, devemos

ressaltar que na Bíblia Hebraica, os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis não são chamados de

históricos, mas, sim, de profetas anteriores. Como já vimos, na Bíblia Hebraica, os livros estão

64 Ibid pp. 133-5

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 63

arranjados em três categorias: Tora (lei) ou Pentateuco; Profetas, que subdividem em duas

categorias: profetas anteriores que são os livros citados acima, e profetas posteriores, a saber,

Isaias, Jeremias, Ezequiel e o livro dos doze (que vai de Oséias a Malaquias); e, os demais livros

formam a terceira divisão, isto é, os Escritos. Devemos também observar que no Cânon

Hebraico, o livro de Daniel não foi incluído entre os profetas, e sim, entre os escritos, quanto a

isto falaremos quando chegarmos ao livro de Daniel.

Estes livros foram chamados de históricos, pelo fato deles darem sequência às narrações

contidas em Deuteronômio, aonde este para aqueles dão continuidade, contando a história do

povo de Deus. Os livros da Lei (ou Pentateuco) trazem o relato dos atos de Deus desde a criação

até o limiar da terra prometida. A história continua na segunda divisão principal da Bíblia

Hebraica: os profetas anteriores que são também identificados como históricos juntamente com

os livros de Rute, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

Estes livros descrevem as ocupações e assentamento de Israel na Terra Prometida, a

transição dos juízes à monarquia, a divisão e declínio do reino, os cativeiros do reino do Norte

(Israel) e do Sul (Judá) e o regresso do remanescente65.

9. O LIVRO DE JOSUÉ

9.1. Introdução e Título

Ainda que este livro dar sequência ao que vem sendo narrado em Deuteronômio, ele

constitui o início de uma nova divisão do AT, os livros históricos. Foi sob a liderança de Josué

que os israelitas finalmente, entraram na terra prometida. A primeira metade do livro fala da

conquista da terra por parte dos israelitas, a qual realizaram com a ajuda de Deus. Sendo tomado

Jericó e Aí. Estrategicamente a conquista começou pela parte sul e depois a parte norte.

A segunda metade do livro refere-se à divisão da terra. Cada tribo recebeu uma porção.

O livro termina com o desafio que Josué fez ao povo e sua morte. De maneira sucinta o livro

registra a preparação para a tomada da terra, a milagrosa travessia do rio Jordão, a queda das

muralhas de Jericó e, de uma forma gradativa, o povo vai conquistando o território cananeu.

Através de três campanhas militares, envolvendo mais de trinta exércitos inimigos, o povo de

Israel aprende a crucial lição sob a capaz liderança de Josué: a vitória vem por meio da fé em

65 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 50

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 64

Deus e da obediência à Sua Palavra, e não propriamente do poderio militar ou da superioridade

numérica.

A morte de Moisés marca a transição de Deuteronômio para Josué. No final de

Deuteronômio, os israelitas estavam acampados nas planícies de Moabe, esperando Deus ordenar

que avançassem e tomasse posse da terra. Moisés que os havia liderado até ali, não entraria na

terra (Dt 3.23-27; 32.48-52). Deus havia instruído a Moisés a transferir a liderança para Josué

(3.28; 31.23). Pouco depois de fazê-lo, Moisés morreu (34.5,9). O livro de Josué retoma a

história neste ponto (Js 1.1-5).

O Título do livro se origina da personagem central do livro: Josué filho de Num ministro

e sucessor de Moisés – apresentado como líder da conquista e da instalação das tribos em Canaã.

Seu nome original Hoshea (Oséias) (Nm 13.8), que significa “salvação”; Moisés, porém,

evidentemente muda para Yhoshua (Nm 13.16), que significa “Yahweh é Salvação”. É também

chamado Yeshua, uma forma abreviada de Yehoshua. Este é o equivalente hebraico do nome

grego Iesous (Jesus)66.

9.2. Tema e Propósito

O Tema deste livro é “a tomada da terra prometida”. O propósito histórico é documentar

a conquista de Canaã pelos israelitas sob a liderança de Josué. Este livro também nos ensina que

a vitória e a benção decorrem da obediência e confiança em Deus. A fé ativa leva a obediência,

que por sua vez traz benção. O livro enfatiza a fidelidade pactual de Deus às suas promessas

relativas a uma terra para Israel, e a santidade de Deus em trazer juízos sobre os imorais

cananeus67.

9.3. Autoria e Data do Livro

Não temos certeza de quem escreveu o livro. Entre os autores que se tem insinuado se

incluem Finéias e Eleazar. A tradição judaica atribui o livro a Josué. O próprio livro afirma que

Josué se não escreveu todo o livro, ao menos parte escreveu. O uso da primeira pessoa em 5.1

indica que o autor atravessou o rio Jordão; em 24.26 fala “Então Josué escreveu estas palavras no

Livro da lei de Deus”.

66 Ibid p. 54 67 Ibid p. 56

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A unidade de estilo e organização sugere uma autoria única para a maior parte do livro.

Três pequenas porções, contudo, devem ter sido adicionadas após a morte de Josué. São elas (1)

a captura de Queriate-Sefer feita por Otniel (15.13-19; cf. Js 1.9-15); (2) a migração de Dã para o

norte (19.47; cf. Jz 18.27-29); e (3) a morte e sepultamento de Josué (24.29-33). Estas foram

acrescentadas por outros autores. Mas ainda assim, não é possível afirmar categoricamente que

Josué escreveu a maior parte do livro.

Uma boa parte do material, contém características de uma testemunha ocular. Além

disso, muitos detalhes do livro dão a entender que esses relatos foram contemporâneos de Josué.

Entretanto, expressões que aparece no livro como “até o dia de hoje”, demonstram claramente

um período um tanto posterior ao do evento em si. Desse modo, parece que a obra consiste em

material (oral ou escrito) da época de Josué, parte dele reelaborado, bem como em material

claramente posterior68.

Quanto à data, o livro de Josué não pode ser datado de forma precisa, provavelmente foi

escrito antes da monarquia, durante o período dos juízes.

9.4. Esboço do Livro de Josué

Primeira Parte: A Conquista de Canaã (1.1-13.7)

I. A preparação de Israel para a conquista da terra prometida........................................1.1-5.15

1. Josué substitui a Moisés e é aceito pelo povo como novo líder.........................1.1-18

2. Josué organiza militarmente a Israel.................................................................2.1-5.1

3. Josué prepara Israel espiritualmente..................................................................5.2-12

4. A aparição do Comandante do Senhor.............................................................5.13-15

II. A conquista de Canaã.................................................................................................6.1-13.7

1. A conquista da Canaã central..........................................................................6.1-8.35

2. Conquista do sul de Canaã............................................................................9.1-10.43

3. Conquista do norte de Canaã............................................................................11.1-15

4. Conquista de Canaã sumariada.................................................................11.16-12.24

5. Partes não conquistada de Canaã.......................................................................13.1-7

68 LASOR, William. Introdução ao AT p. 154

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 66

Segunda Parte: O Assentamento em Canaã (13.8-24.33)

I. O assentamento a Leste do Jordão................................................................................13.8-33

1. Fronteiras geográficas......................................................................................13.8-13

2. Fronteiras tribais.............................................................................................13.14-33

II. O assentamento a Oeste do Jordão.........................................................................14.1-19.51

1. O primeiro assentamento feito em Gilgal...................................................14.1-17.18

2. O segundo assentamento feito em Silo.......................................................18.1-19.51

III. O assentamento da comunidade religiosa.............................................................20.1-21.45

1. Seis cidades de refúgio.......................................................................................20.1-9

2. Seleção das cidades levíticas............................................................................21.1-42

3. O assentamento de Israel é completado.........................................................21.43-45

IV. As condições para a continuação dos assentamentos...........................................22.1-24.33

1. O altar do testemunho......................................................................................22.1-34

2. A obediência promove a benção.................................................................23.1-24.28

3. Josué e Eleazar morrem.................................................................................24.29-33

9.5. Chaves para Josué

Palavra-chave: Conquista

Versículos-chaves (1.8; 11.23)

Capítulo-chave (24). Antes de sua morte e em preparação para a maior transição de liderança,

de um homem (Josué) a muitos (os juízes), Josué recapitula para o povo o cumprimento das

promessas divinas e então os desafia a seu compromisso com o pacto (24.24-35), o qual é

fundamento para toda vida nacional bem-sucedida69.

9.6. Pontos Teológicos em Josué

9.6.1. O Deus que cumpre as promessas.

Há séculos Deus havia feito a promessa de dar a Abraão a terra de Canaã, esta promessa

foi repetida a Isaque e Jacó, Moisés e a toda nação. E através de Josué, o novo líder, Deus faz

cumprir a sua promessa, sob a liderança de Josué o povo de Israel pisou na terra prometida.

69 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 56

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 67

9.6.2. O Conceito de Aliança.

Em Josué o conceito de aliança é desenvolvido principalmente pela conquista da terra:

“Desta maneira deu o Senhor a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais” (21.43); “Nenhuma

promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel: tudo se cumpriu”

(v.45).

9.6.3. A conquista do Descanso.

Um dos grandes conceitos expressos do livro de Josué, é o descanso das angústias, da

escravidão, das dificuldades do deserto e dos rigores da guerra (1.13; 11.23). Deus concedeu

descanso a Israel, o que seus pais incrédulos não haviam podido obter (cf. Sl 95.11). Em Hebreus

4.1-11 é demonstrado que isso foi um ‘tipo’, isto é, o princípio que o salmista aplicou em sua

própria geração é igualmente válida para o crente no Novo Testamento, e a promessa é final e

completamente cumprida (v.8) apenas no descanso que Deus nos proveu na Pessoa de Cristo70.

Para Refletir

Josué age como um elo histórico que continua a história inacabada no Pentateuco. É

uma história teológica que ensina lições morais e espirituais ao conduzir Israel do deserto aos

tempos dos juízes.

70 O Novo Dicionário da Bíblia p. 872

Por que Deus mandou exterminar a População de Jericó e os povos Cananeus?

Deus não tem prazer na morte do ímpio. Ele quer que todos se arrependam, e convertam

e sejam salvos (Ez 18.32). Mesmo assim, a Bíblia fala de um ponto sem retorno, que,

uma vez ultrapassado, torna a condenação inevitável (Jr 11.11; 14.11,12).

Deus dissera a Abraão, em Canaã, que sua descendência seria peregrina em terra

estrangeira, mas na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a

medida da iniqüidade dos amorreus (Gn 15.16). De fato, a descendência de Abraão

passou quatrocentos anos no Egito. Enquanto isto, os povos de Canaã, genericamente

chamados amorreus, agravaram seus pecados ao máximo. Por assim dizer, encheu-se a

medida de sua iniqüidade.Certamente seu pecado mais terrível era a adoração de ídolos,

o que geralmente incluía a perversão sexual e o sacrifícios de crianças. A destruição

desses povos seria ao mesmo tempo o juízo de Deus sobre eles e um modo de proteger o

Seu povo desse influência maléfica (cf. Dt 20.16-18; Lv 21.1-5). (CÉSAR, Éber M.

Lenz. HGB p. 195)

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10. O LIVRO DE JUÍZES

10.1. Introdução e Título

O livro de Juízes narra a história de Israel desde o falecimento de Josué até o

levantamento de Samuel. Depois da morte de Josué, seguiu-se um período de desorganização, de

discórdia entres as tribos e de derrotas. O livro narra os altos e baixos de Israel. Em Josué Israel é

um povo forte que está conquistando a terra prometida, em Juízes, às vezes ele é conquistado

pelo paganismo de Canaã; em Josué ele é um povo obediente e triunfante, em Juízes, ele é

rebelde e desobediente a Deus, e, como consequência, é derrotado e escravizado pelos povos

vizinhos. Quando Israel obedecia conquistava a terra, quando desobedecia, perdia.

A história é mais ou menos assim: o povo se rebelava contra Deus e seguia outros

deuses, como consequência era derrotado e subjugado pelos inimigos; o povo se arrependia

clamava a Deus por socorro, Deus então respondia levantando um Líder (juiz) que libertava o

povo dos inimigos. Quando morria este juiz, o povo voltava novamente a pecar, isto aconteceu

várias vezes. A história se repetia da seguinte maneira:

Em sete ciclos distintos de pecado, o livro de juízes mostra como a nação se afastou da

Lei de Deus, e em lugar disso “fizeram tudo o que era reto aos seus próprios olhos (21.25).

Resultado: corrupção de dentro e opressão de fora.

Título – o livro recebe este nome por causa de seus principais personagens, shôphetim

– juízes, governadores, libertadores ou salvadores. Esses juízes, entretanto, eram mais do que

simplesmente árbitro judiciais, eram libertadores (3.9), eram dotados pelo Espírito de Deus, para

livramento e preservação de Israel (6.34) até o estabelecimento do reino. O juiz era um líder

carismático, não escolhido oficialmente pelo povo, mas levantado por Deus. Não era rei e não

estabelecia dinastia ou uma família governante. O juiz era uma pessoa - homem ou mulher

O povo faz o que é mau, servindo a outros deuses.

Deus envia uma nação para oprimi-lo.

O povo clamava a Deus.

Deus levanta um libertador.

O opressor é derrotado.

O povo tem descanso.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 69

(Débora foi juíza, cap. 4-5) – escolhida por Deus para expulsar o opressor e dar paz à terra e ao

povo.71

10.2. Autoria e Data

O livro de Juízes não faz qualquer declaração direta sobre a data em que foi escrito,

apenas a duração de cada judicatura é indicada.

O cântico de Débora (5.2-31) reivindica composição contemporânea (5.1 c. 1215 a. C.)

e sua autenticidade é geralmente aceita. Mas o livro como um todo, não poderia ter sido

compilado senão daí a mais dois séculos. Refere-se à destruição e cativeiro de Silo (18.30,31)

durante a juventude de Samuel (1Sm 4.1-4, c. 1080 a.C.); e o último acontecimento que registra

é a morte de Sansão (Jz 16.30,31), que ocorreu poucos anos antes de Samuel haver sido

reconhecido como juiz (c. de 1063).

O escritor do livro de Juízes, provavelmente deve ter sido um homem que agiu durante

o princípio do reinado de Saul (antes de 1020 a.C. e talvez fosse um profeta ou pelo menos, um

dos associados proféticos de Samuel72. Na realidade, quanto a questão da autoria e data podemos

apenas conjecturar, o livro pode ter sido escrito durante o reinado de Saul ou durante os

primeiros anos do reinado de Davi (1011-1004 a.C.).

Quanto à cronologia do período dos juízes, deve ser obtida considerando tanto os inícios

do período da realeza como a data de entrada em Canaã. Com efeito, o conjunto das tradições

relatadas deve situar-se entre 1200 e 1020 a.C., sendo esta segunda data a do estabelecimento da

monarquia.

10.3. Tema e Propósito

O propósito de Juízes é narrar a história de Israel desde a morte de Josué até o tempo de

Samuel e o início do reino unido. Como os demais livros históricos da Bíblia, o livro de Juízes

apresenta os fatos históricos de forma bem seletiva e temática. Por exemplo, os capítulos 17-21

na realidade precederam a maior parte dos capítulos 3-16, mas aparecem no final do livro para

ilustrar as condições morais que prevaleciam no período. Juízes fornece um panorama geográfico

71 LASOR, William. Introdução ao AT p. 167 72 O Novo Dicionário da Bíblia

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da apostasia para ilustrar sua disseminação e um panorama cronológico para ilustrar sua

crescente intensidade. Juízes também fornece uma explicação e defesa da monarquia de Israel

(cf. 17.6; 18.1; 19.1; 21.25). A nação necessitava ser unificada por um rei justo. O tema de Juízes

é “a insensatez de Israel e a misericórdia de Deus”73.

10.4. Esboço do Livro de Juízes

Primeira Parte: A Determinação de Israel e o fracasso em completar a conquista de Canaã

(1.1-3.4)

I. O fracasso de Israel em completar a conquista ..............................................................1.1-36

II. O juízo divino por não se completar a conquista.........................................................2.1-3.4

1. O juízo é anunciado pelo anjo..............................................................................2.1-5

2. A geração piedosa morre....................................................................................2.6-10

3. O juízo divino é descrito..................................................................................2.11-19

4. O inimigo é deixado como prova....................................................................2.20-3.4

Segunda Parte: O livramento de Israel durante o sete ciclos (3.5-16.31)

I. A campanha do sul .....................................................................................................2.5-5.31

1. Otniel..................................................................................................................3.5-11

2. Eúde..................................................................................................................3.12-30

3. Sangar....................................................................................................................3.31

II. Campanha do norte: Os Débora e Baraque................................................................4.1-5.31

1. A vitória de Débora e Baraque sobre os cananeus.............................................4.1-24

2. O cântico de Débora...........................................................................................5.1-31

III. A campanha central...................................................................................................6.1-10.5

1. Gideão.............................................................................................................6.1-8.32

2. Abimeleque...................................................................................................8.33-9.57

3. Tola....................................................................................................................10.1-2

4. Jair......................................................................................................................10.3-5

IV. Campanha oriental: Jefté........................................................................................10.6-12.7

V. Segunda campanha do norte.......................................................................................12.8-15

1. O juiz Ibzão......................................................................................................12.8-10

73 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 63

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2. O Juiz Elom....................................................................................................12.11-12

3. O juiz Abdom.................................................................................................12.13-15

VI. A campanha ocidental: Sansão.............................................................................13.1-16.31

1. Seu nascimento.................................................................................................13.1-25

2. Casamento errado.............................................................................................14.1-20

3. A magistratura de Sansão.................................................................................15.1-20

4. Seu fracasso......................................................................................................16.1-31

Terceira Parte: A depravação de Israel em pecar como os cananeus (17.1-21.25)

I. O fracasso de Israel através da idolatria..................................................................17.1-18.31

1. Exemplo de idolatria pessoal...........................................................................17.1-13

2. Exemplo de idolatria tribal...............................................................................18.1-31

II. O fracasso de Israel através da imoralidade................................................................19.1-30

1. Exemplo de imoralidade pessoal......................................................................19.1-10

2. Exemplo de imoralidade tribal.......................................................................19.11-30

III. O fracasso de Israel através da guerra entre as tribos...........................................20.1-21.25

1. Guerra entre Israel e Dã...................................................................................20.1-48

2. Fracasso de Israel depois da guerra.................................................................21.1-25

10.5. Chaves para Juízes

Palavra-chave: Ciclos

Versículos-chave: (2.20,21; 21.25)

Capítulo-chave: (2) – o segundo capitulo de Juízes é uma miniatura de todo o livro quando

registra a transição da geração santa para a geração ímpia, a forma dos ciclos e o propósito em

não destruir os cananeus.

10.6. O Ensino

Pelos princípios apresentados em juízes 2.6-3.6, e pelos concretos exemplos históricos

fornecidos pelo restante do livro, seu ensino pode ser sumarizado da seguinte maneira:

10.6.1. A indignação de Deus contra o pecado (2.11,14).

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 72

Até mesmo de um ponto de vista pragmático torna-se claro que a esperança de

sobrevivência de Israel dependia de sua identidade intertribal; no entanto tal esforço cooperativo

só se originava de uma dedicação comum ao seu Deus (cf. 5.8,9,16-18). A perda da fé significa

sua extinção.

10.6.2. A misericórdia de Deus em vista do arrependimento (2.16).

Deus ouve o clamor do povo e em cada ocasião concede o Espírito Santo a um juiz para

que livre o seu povo de seus inimigos. O pecado acarreta punição, mas o arrependimento traz

livramento e paz. Até mesmo a opressão estrangeira servia como um meio para a graça divina,

para a edificação de Israel (3.1-4). Deus usou os povos pagãos vizinhos para punir os israelitas

por idolatria e práticas concomitantes.

10.6.3. A total depravação do homem.

Pois, depois de cada livramento, “falecendo o juiz, rescindiam e se tornavam piores do

que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorando-os” (2.19). A sociedade

individualista havia demonstrado seu inerente caráter inadequado, pois o homem, deixado

sozinho, inevitavelmente faz o mal (17).

A providência operava mais devidamente do que em nossos dias. Mas os seus princípios

básicos permanecem internamente, são: a nação pecaminosa será punida, a arrependida será

salva, e todos os sistemas centralizados no homem estão destinados a falhar. A única esperança

válida da história repousa na vinda de Cristo, o Rei.

O Livro de Juízes registra o fracasso da teocracia devida à falta de fé e obediência. Os

israelitas foram desleais ao seu divino Rei, e por fim acharam mais fácil seguir um rei terreno.

Há um grande contraste entre o livro de Juízes e de Josué, veja no gráfico abaixo.

JOSUÉ JUÍZES

Liberdade Escravidão

Progresso Declínio

Conquista pela fé Derrota pela incredulidade

“Nunca nos aconteça que deixemos

o Senhor para servirmos a outros

deuses” (24.16)

“E os filhos de Israel fizeram o que era

mau aos olhos do Senhor, e se

esqueceram do Senhor seu Deus; e

serviram aos baalins e a astarote” (3.7)

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 73

Israel serviu a Deus (24.31) Israel serviu a si próprio (21.25)

Israel conhecia a pessoa e o poder de

Deus (24.16-18,31)

Israel não conhecia nem a pessoa e

nem o poder de Deus (2.10)

Moralidade objetiva Moralidade subjetiva

Pressão externa de Israel Israel desce em espiral

Pecado julgado Pecado tolerado

Fé e Obediência Ausência de ambas

11. O LIVRO DE RUTE

11.1. Introdução e Título

Na Bíblia Hebraica, a história de Rute se situa entre os “Ketubim” ou Escritos, a terceira

divisão do cânon hebraico. É lido anualmente pelos judeus na festa das semanas. Na Septuaginta,

na Vulgata e na maioria das versões modernas, o livro vem imediatamente depois do livro de

juízes. Alguns judeus consideram este livro como um apêndice do livro de juízes, e não o conta

separadamente na enumeração total dos livros do cânon.

Rute é um dramático livro de amor, amizade e lealdade que nasce dentro de um

ambiente hostil, marcado pela imoralidade, pela idolatria e pela guerra. Rute, uma pobre viúva

moabita, decide radicalmente deixar a sua pátria e seguir a sua solitária sogra judia em Belém.

Deus honra seu compromisso guiando-a ao campo de Boaz (um parente próximo), onde ela colhe

grãos e eventualmente encontra um esposo. O livro se encerra com uma breve genealogia na qual

o nome de Boaz é proeminente como bisavô do rei Davi, através de quem adviria o Cristo74.

Título – o livro recebe o nome de sua personagem principal, Rute. Este nome pode ser

uma modificação moabita da palavra reuit, que significa “amizade ou associação”.

11.2. Conteúdo

Por causa da fome, Elimeleque de Belém leva a família para morar em Moabe.

Infelizmente, ele e os dois filhos morrem ali, deixando a esposa, Noemi, e as esposas moabitas

dos filhos, Rute e Orfa. Quando termina a fome, Noemi volta para Judá. Convence Orfa voltar

para Moabe, mas Rute, resoluta, recusa-se a isso. As duas viúvas retornam para Belém bem no

início da colheita. Em busca de alimento, Rute vai buscar grãos e chega por acaso no campo de

74 Ibid p. 69

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 74

Boaz, parente de Elimeleque. Como parente, Boaz tem a responsabilidade de casar-se com a

viúva desse parente. Assim, Noemi envia Rute para que proponha tal casamento. Boaz dispõe-se

mais um parente mais próximo tem prioridade legal de propor este casamento antes dele. No

ponto alto da história, Boaz obtém este direito com habilidade, casa-se com Rute, e os dois têm

um filho. O livro celebra-o como filho de Noemi (4.17a), pois o pequeno Obede preserva a

linhagem familiar dela. E, mais importante do que isso, virá a ser avô de Davi.75

11.3. Autoria e Data

Assim como outros livros da Bíblia, o livro de Rute não indica o seu autor. A tradição

judaica indicava Samuel como o possível autor. Mas isso é inconcebível, o pano de fundo é o

tempo dos juízes, mas sua escrita é posterior a este período; isto é indicado quando o autor

explica costumes mais antigos (4.1-12), além disso Davi aparece em Rute (4.17,22) e Samuel

morreu antes da coroação de Davi (1Sm 25.1). Rute provavelmente foi escrito no período do

reinado de Davi visto que o nome de Salomão não aparece na genealogia. Não sabemos de fato

quem o escreveu, mas isto de maneira nenhuma diminui a autoridade do livro.

11.4. Tema e Propósito

“Os capítulos 17-21 formam um apêndice ao Livro de Juízes, oferecendo duas

ilustrações de injustiça durante o período dos juízes. Rute serve como uma terceira ilustração da

vida durante esse período, uma ilustração de piedade. É um quadro de fé e obediência reais

(1.16,17; 3.10), que atrai benção (4.13,17). Rute também ensina que os gentios creriam no

verdadeiro Deus (três das quatro mulheres mencionadas na genealogia de Jesus Cristo em

Mateus 1 eram gentias – Tamar, Raabe e Rute). Este livro explica como uma mulher gentia se

tornaria membro da linhagem real de Davi e mostra a origem divina da dinastia davítica (4.18-

22). Este livro tem como tema a redenção, especialmente ao se relacionar com o Parente-

Remidor. Ele revela o gracioso caráter de Yahweh e o soberano cuidado por seu povo”76.

11.5. Esboço do Livro de Rute

I. Noemi fica viúva e também perde os seus dois filhos e retorna de Moabe para sua terra com

sua nora Rute...........................................................................................................................1.1-22

75 LASOR, William. Introdução ao AT p. 568 76 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 71

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II. Rute vai colher espigas no campo de Boaz, parente de Noemi, que a acolhe com

benevolência............................................................................................................................2.1-23

III. Noemi, sabendo que Boaz tem sobre Rute um direito de resgate, aconselha a nora a incitar

Boaz a desposá-la....................................................................................................................3.1-18

IV. Ele cede ao pedido e, após a desistência de um resgatador mais próximo, toma Rute por

mulher. Ela dá-lhe um filho: Obede, pai de Jessé, pai de Davi ..............................................4.1-17

V. A genealogia de Perez até Davi........................................................................................4.18-22

11.6. O Cenário

Rute divide em quatro cenários distintos: (1) o país de Moabe (1.1-18); um campo em

Belém (1.19-2.23; (3) uma eira em Belém (3.1-18); (4) a cidade de Belém (4.1-22).

O cenário dos primeiros oito versículos é Moabe, uma região ao nordeste do mar Morto.

Rute 1.1 apresenta o cenário do restante do livro: “Sucedeu que, nos dias em que os juízes

julgavam”. Este é um tempo de apostasia, de guerra, de declínio, de violência, de derrocada

moral e anarquia. Rute fornece um dado muito precioso do outro lado da história – o santo

remanescente que permanece fiel às leis de Deus.

11.7. Chaves para Rute

Palavra-chave: Parente-Remidor

Versículos-chaves (1.16;3.11) – “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e

deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali

pousarei eu; teu povo é meu povo, teu Deus é meu Deus” (1.16).

“Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade de meu

povo sabe que é mulher virtuosa” (3.11).

Capítulo-chave (4) – neste capítulo vemos a transição de Rute de uma viúva pobre e sem filhos

para o matrimônio e riqueza (2.1). Ao pôr em exercício a lei que regulava a redenção da

propriedade (Lv 25.25-34) e a lei concernente ao dever de irmão de suscitar descendência

(filhos) em nome do falecido (Dt 25.5-10), Boaz introduz uma moabita na linhagem de Davi e

eventualmente de Jesus Cristo.

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 76

Rute é um livro simples, porém, profundo. É um dos melhores exemplos de literatura de

amor e piedade filiais. Ele prover uma ponte entre os juízes e a monarquia (sua última palavra é

Davi). Ilustra a fidelidade em meio à infidelidade. Doutrinariamente, Rute alcança os gentios que

estão fora do escopo da redenção. Deus acolhe não somente israelitas, mas também todos

aqueles que a semelhança de Rute se devotarem ao Senhor reconhecendo-O como único Deus

(1.16,17). Moralmente, Rute ensina ideais de integridade em questão de parentesco e

matrimônio.

12. OS LIVROS DE SAMUEL

12.1. Introdução e Título

O livro de Samuel (1º e 2º) registra a transição de Israel de uma teocracia para uma

monarquia; o reinado de Saul, e o reinado de Davi. As vidas e atos de Samuel, Saul e Davi

provêm de uma tríplice divisão em linhas gerais. O período coberto é de aproximadamente cem

anos, de c. de 1050 até 950 a.C.

A divisão de Samuel em dois livros é muito recente. Uma nota massorética77 a 1Sm

28.24, indica que o “centro do livro” se encontra neste lugar. Os tradutores gregos devem ter

copiado a tradução em dois rolos, que intitulavam 1º e 2º livros dos reinados. Tal divisão,

seguida pela vulgata78 (que chamava 1º e 2º livros dos reis, se impôs à Bíblia Hebraica a partir do

século XV / XVI.

Samuel, o ultimo juiz e o primeiro grande profeta em Israel, ungiu o primeiro rei. Ainda

que as credenciais físicas de Saul sejam impressionantes, sua atitude de indiferença para com

Deus resulta em que o reino é tirado de sua família. Em seu lugar, Samuel unge o jovem Davi

como rei-eleito. Com ciúmes, Saul passa a perseguir violentamente a Davi, mas a boa mão de

Deus era com ele, e o livrou das mãos de Saul.

O Título “Samuel” procede de uma antiga tradição rabínica que dava ao profeta Samuel

por autor destes livros. Samuel significa “Nome de Deus ou Deus ouvi”.

77 Os massoretas eram um grupo de rabinos (estudiosos) que redigiram A Bíblia Hebraica acrescentando as letras

vogais, visto que no seu original a língua hebraica não tinha vogais, esses homens se encarregaram de acrescentar as

vogais facilitando assim, a sua leitura. 78 Tradução da Bíblia para o Latim

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 77

12.2. Autoria e Data

Os livros de Samuel são anônimos, a tradição judaica atribui ao profeta Samuel a

autoria destes livros, mas precisamos observar que o profeta morre antes de terminar o primeiro

livro de Samuel (1Sm 25.1). Com base em 1Cr 29.29,30; argumentam que a obra de Samuel

depois de sua morte, fora continuada pelos profetas Natan e Gad. Mas parece que o próprio

Samuel deixou alguns registros já escritos (1Sm 10.25). Todos os três homens evidentemente

contribuíram para a formação destes dois livros, mas não quer dizer que foram eles que

escreveram estes livros. É bem provável que um único compilador, provavelmente membro da

escola profética, tenha usado estas crônicas para compor toda esta obra. Isto é também sugerido

pela unidade de plano e propósito, bem como pelas suaves transições entre seções.

A data para a composição de Samuel (1º e 2º) foi provavelmente após a morte de

Salomão (931 a.C.), porém antes do cativeiro assírio do reino do norte (722 a.C.).79

12.3. Tema e Propósito

Os livros de Samuel apresentam uma história profeticamente orientada da monarquia

primitiva de Israel. O primeiro destes livros toma a história de Israel no ponto em que ela foi

deixada em Juízes 16.31. Samuel seguiu Sansão, e também teve de tratar com os filisteus, uma

vez que Sansão não consolidou uma vitória permanente. 1 Samuel traça a transição de liderança

em Israel dos juízes aos reis, de uma teocracia a uma monarquia. Samuel também revela o papel

crítico dos profetas em suas exortações divinamente comissionadas, dirigidas aos reis e ao povo

de Israel.

Entre 1 Samuel 31.13 e 2 Samuel 1.1 não há nenhuma interrupção narrativa. Os dois

volumes formam originalmente um só livro com o propósito de apresentar uma perspectiva

divina do estabelecimento do reino unido sob Saul e sua expansão sob Davi. Estes livros

reiteradamente ilustram a hostilidade entre as dez tribos do norte e a duas do sul, bem como a

dificuldade de mantê-las unidas. A cisão final entre Israel e Judá, que ocorreu depois da morte de

Salomão em 931 a.C., não traz nenhuma surpresa à luz de 1 e 2 Samuel.

79 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 84

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 78

12.4. Esboço de 1 e 2 Samuel

1º Livro de Samuel

I. A conclusão dos tempos dos Juízes.............................................................................1.1-7.17

1. O nascimento e consagração de Samuel............................................................1.1-18

2. A oração de Ana.................................................................................................2.1-11

3. A maldade dos filhos de Eli e anúncio do julgamento contra esta família......2.12-36

4. O chamado do menino Samuel..........................................................................3.1-21

5. A derrota dos israelitas e a arca é tomada pelos filisteus...................................4.1-11

6. A morte de Eli..................................................................................................4.12-22

7. A arca em Asdode e Ecrom................................................................................5.1-12

8. O retorno da arca a Israel..................................................................................6.1-7.1

9. Os filisteus são derrotados em Mispá.................................................................7.2-17

II. O princípio da história da monarquia.......................................................................8.1-15.34

1. O povo pede um rei............................................................................................8.1-22

2. Designação e nomeação de Saul como rei.................................................9.1-10.1-27

3. Saul alcança vitória sobre os inimigos e liberta a cidade de Jabes..................11.1-15

4. Samuel fala ao povo resignando o seu cargo...................................................12.1-25

5. Saul desobedece e é repreendido por Samuel....................................................13.-15

6. A desvantagem militar de Israel.....................................................................13.16-22

7. Vitória de Israel sobre os filisteus....................................................................14.1-23

8. O juramento impensável de Saul....................................................................14.24-48

9. A família de Saul............................................................................................14.49-52

10. Desobediência e rejeição de Saul...................................................................15.1-35

III. O fim do reinado de Saul e a designação de Davi para ser rei..............................16.1-31.13

1. Davi é ungido rei pelo profeta Samuel.............................................................16.1-13

2. Davi a serviço de Saul....................................................................................16.14-23

3. A luta entre Davi e o gigante Golias................................................................17.1-58

4. Davi é perseguido por Saul.........................................................................18.1-24.22

5. A morte de Samuel................................................................................................25.1

6. Davi e Abigail..................................................................................................25.2-44

7. Davi poupa novamente a vida de Saul.............................................................26.1-25

8. Davi entre os filisteus.......................................................................................27.1-12

9. Saul e a médium de Em-Dor............................................................................28.1-25

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 79

10. Os filisteus desconfiam de Davi.....................................................................29.1-11

11. Davi derrota os amalequitas...........................................................................30.1-31

12. O suicídio de Saul..........................................................................................30.1-13

2º Livro de Samuel

I. Os triunfos de Davi e as suas lamentações a respeito de Saul e Jônatas...................1.1-10.19

1. Davi recebe a notícia da morte de Saul..............................................................1.1-27

2. Davi é ungido rei em Judá ...................................................................................2.1-7

3. Is-Bosete proclamado rei e a guerra entre Judá e Israel....................................2.8-3.1

4. Os filhos de Davi em Hebrom.............................................................................3.2- 5

5. O apoio de Abner a Davi....................................................................................3.6-21

6. Joabe mata Abner.............................................................................................3.22-39

7. O assassinato de Is-Bosete.................................................................................4.1-12

8. Davi se torna rei de Israel...................................................................................5.1-25

9. A arca é levada para Jerusalém..........................................................................6.1-23

10. A promessa de Deus a Davi.............................................................................7.1-17

11. A oração de Davi............................................................................................7.18-29

12. As vitórias militares de Davi............................................................................8.1-18

13. Davi e Mefibosete............................................................................................9.1-13

14. A guerra contra os amonitas...........................................................................10.1-19

II. O pecado e tribulações na vida de Davi.................................................................11.1-21.22

1. O pecado de Davi com Bete-Seba....................................................................11.1-27

2. Natã repreende Davi.........................................................................................12.1-31

3. Tamar é violentada por Amnon........................................................................13.1-22

4. Absalão mata Amnon.....................................................................................13.23-39

5. Absalão volta para Jerusalém e conspira contra o reino de Davi................14.1-15.12

6. Davi foge de Absalão.....................................................................................15.13-37

7. Davi e Ziba.........................................................................................................16.1-4

8. Simei amaldiçoa Davi......................................................................................16.5-14

9. O conselho de Husai e de Aitofel..............................................................16.15-17.29

10. A morte de Absalão........................................................................................18.1-18

11. Tristeza e luto de Davi..............................................................................18.19-19.8

12. Davi retorna para Jerusalém...........................................................................19.9-43

13. A rebelião de Seba contra Davi......................................................................20.1-26

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 80

14. Os gibionitas são vingados.............................................................................21.1-14

15. Guerra contra os filisteus.............................................................................21.15-22

III. Cântico e últimas palavras de Davi......................................................................22.1-24.25

1. Cântico de louvor de Davi...............................................................................22.1-51

2. As últimas palavras de Davi...............................................................................23.1-7

3. Os principais guerreiros de Davi......................................................................23.8-39

4. O recenseamento e a praga...............................................................................24.1-25

Historicamente, 1Samuel fornece o elo crucial entre os juízes e a monarquia. É uma

narrativa que fornece uma perspectiva espiritual sobre três personagens bem diferentes cujas

vidas foram entretecidas: Samuel, Saul e Davi. Este é o primeiro livro a usar a palavra Messias

(ungido 2.10). 2Samuel continua o relato da vida de Davi no ponto onde 1Samuel termina. Logo

depois da morte de Saul, o rei eleito se transforma no rei entronizado, primeiro sobre Judá e

depois sobre todo o Israel.

13. OS LIVROS DE REIS

13.1. Introdução e Título

Aos livros de Samuel, que narram a fundação da monarquia hebraica seguem-se Reis,

cuja história continua até sua queda sob os assaltos dos poderosos impérios da Assíria e da

Babilônia, isto é, desde os últimos dias de Davi (cerca de 970 a.C). até à tomada de Jerusalém

em 587 a.C., uma duração de cerca de quatro séculos. A cisão política e religiosa, que se seguiu à

ascensão ao trono do segundo sucessor de Davi, cindiu a nação em dois reinos rivais, o de Israel

e o de Judá, e findou com o desaparecimento do primeiro na luta com a Assíria (721 a.C.),

delimitando este lapso de tempo em três períodos, com reflexos análogos na composição da obra.

Como os dois livros de Samuel, os dois livros de Reis eram originalmente um só na

Bíblia Hebraica. O Título original era Melechin, “Reis”, extraído da primeira palavra em 1.1:

Vehamelech, “Ora, o Rei”. A sua divisão em dois livros aconteceu quando foi traduzido para a

língua grega. Os tradutores artificialmente dividiram o livro de Reis no meio da história de

Acazias em dois livros. Eles chamaram os Livros de Samuel de “Primeiro e Segundo Reinados”,

e os Livros de Reis de “Terceiro e Quarto Reinados”.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 81

13.2. Conteúdo

O livro é escrito à base de um esquema simples e transparente, sobretudo na segunda e

maior parte, daquela dos reinos separados. Seu enredo é formado pelas notícias sobre cada um

dos reis, quer de Judá, quer de Israel, redigido com um cunho uniforme e distribuído em três

partes: 1) Introdução: sincronização do outro reino com o rei contemporâneo, duração do reinado

no momento e para os reis de Judá também os anos de idade à elevação ao trono e nome da

rainha-mãe. 2) Corpo: qualidades morais relativamente à religião e ao culto mosaico, e breves

referências a algum fato mais relevante. 3) Epílogo: envio para notícias mais amplas, aos "anais

dos reis" (de Judá ou de Israel, segundo o caso), morte e sepultura.

Nas linhas deste traçado, inserem-se os mais amplos e minuciosos relatos de coisas

concernentes à religião e à atividade dos profetas, entre os quais avultam as grandiosas figuras de

Elias e Eliseu. O interesse religioso, sobre o qual se fixa o olhar do autor sagrado, manifesta-se,

inclusive nos poucos acontecimentos políticos narrados com abundância de pormenores fora do

comum, como as ações de Acab (1Rs cc. 20-22), a ascensão de Jeú ao trono (2Rs 9:1-7), o cerco

e libertação de Jerusalém do exército de Senaquerib (2Rs 18:13-19:37). Essas notícias mais

abundantes formam o fundo do livro, ao passo que os esquemáticos perfis dos reis, donde lhe

vem o título usual, constituem-lhe como que a moldura e o enredo. As primeiras, o autor hauriu-

as das histórias dos profetas, transmitidas, por escrito ou de viva voz; pelos discípulos dos

mesmos. Nos segundos, isto é, na mencionada moldura, devemos ver um trabalho mais pessoal

do redator final, baseado por certo em bons documentos.

O valor histórico do livro dos Reis é incontestável. Garantido pela inspiração divina, é

confirmado por documentos paralelos da história profana, cabendo a primazia à assírio-

babilônica, que aqui se nos apresenta com tão grande riqueza, não igualada para nenhum outro

livro do Antigo Testamento.

13.3. Autoria e Data

Não nos foi transmitido quem seja o autor de Reis; seu nome permanecerá

provavelmente para sempre ignorado, ao passo que a idade pode ser deduzida do próprio livro.

Se os últimos quatro vv. (2Rs 25:27-30) não são um apêndice ou acréscimo posterior, como em

si é possível, sem, contudo, parecer provável, o autor teria terminado a sua obra entre os anos

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

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560 (37° da prisão de Joiaquin) e 538 a.C., que marca o fim do exílio babilônico, porque não faz

nunca alusão ou referência a este grande acontecimento.

13.4. Propósito

Os dois livros de Reis, como um todo, traçam a monarquia desde o ponto de sua maior

prosperidade sob Salomão até sua extinção e destruição nos cativeiros babilônico e assírio. Eles

registram os eventos que servem de eixo central na carreira dos reis de Israel e Judá, e mostra

como a desobediência e a rebelião contra Deus levam ao fracasso e à subversão da monarquia.

Reis foi escrito seletivamente, não exaustivamente, de um ponto de vista profético, para ensinar

que o declínio e o colapso dos dois reinos ocorreram por causa do fracasso por parte dos

governantes e do povo em dar ouvidos às advertências dos mensageiros de Deus.

13.5. Esboço de Reis

1º Livro de Reis

I. O estabelecimento de Salomão como rei.....................................................................1.1-2.46

II. A ascensão de Salomão como rei...............................................................................3.1-8.66

1. A oração de Salomão.........................................................................................3.1-28

2. A administração de Israel por Salomão.............................................................4.1-34

3. A construção do Templo e da casa de Salomão..............................................5.1-8.66

III. O declínio de Salomão como rei.............................................................................9.1-11.43

IV. A divisão do reino.................................................................................................12.1-14.31

1. Causa da divisão...............................................................................................12.1-24

2. Reinado de Jeroboão em Israel.................................................................12.25-14.20

3. Reinado de Roboão em Judá..........................................................................14.21-31

V. O reinado de dois reis em Judá: Abias e Asa..............................................................15.1-24

VI. Os reinados de cinco reis em Israel: Nadabe, Baaasa, Ela, Zinri e Onri........... 15.25-16.28

VII. O reinado de Acabe em Israel...........................................................................16.29-22.40

1. O ministério do profeta Elias......................................................................17.1-19.21

2. Guerras com a Síria..........................................................................................20.1-43

3. Assassinato de Nabote......................................................................................21.1-16

4. A morte de Acabe...........................................................................................21.17-29

VIII. O reinado de Josafá em Judá.................................................................................22.41-50

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IX. O reinado de Acazias em Israel...............................................................................22.51-53

2º Livro de Reis

I. O reinado de Acazias em Israel......................................................................................1.1-18

II. O reinado de Jorão em Israel......................................................................................2.1-8.15

1. A transição de Elias a Eliseu..............................................................................2.1-25

2. O ministério do profeta Eliseu........................................................................4.1-8.15

III. O reinado de Jeorão em Judá.....................................................................................8.16-24

IV. O reinado de Acazias em Judá................................................................................8.25-9.29

V. O reinado de Jeú em Israel.....................................................................................9.30-10.36

VI. O reinado da rainha Atalia em Judá...........................................................................11.1-16

VII. O reinado de Joás em Judá................................................................................11.17-12.21

VIII. O reinado de Jeoacaz em Israel.................................................................................13.1-9

IX. O reinado de Jeoás em Israel..................................................................................13.10-25

X. O reinado de Amazias em Judá...................................................................................14.1-22

XI. O reinado de Jeroboão II em Israel..........................................................................14.23-29

XII. O reinado de Azarias em Judá....................................................................................15.1-7

XIII. O reinado de Zacarias em Israel..............................................................................15.8-12

XIV. O reinado de Salum em Israel...............................................................................15.13-15

XV. O reinado de Manaém em Israel............................................................................15.16-22

XVI. O reinado de Pecaias em Israel.............................................................................15.23-26

XVII. O reinado de Peca em Israel................................................................................15.27-31

XVIII. O reinado de Jotão em Judá...............................................................................15.32-38

XIX. O reinado de Acaz em Judá....................................................................................16.1-20

XX. O reinado de Oséias em Israel..................................................................................17.1-41

XXI. O reinado de Ezequias em Judá.........................................................................18.1-20.21

XXII. O reinado de Manasses em Judá............................................................................21.1-18

XXIII. O reinado de Amon em Judá.............................................................................21.19-26

XXIV. O reinado de Josias em Judá...........................................................................22.1-22.30

XXV. O reinado de Jeoacaz em Judá............................................................................23.31-34

XXVI. O reinado de Jeoaquim em Judá.....................................................................23.35-24.7

XXVII. O reinado de Joaquim em Judá..........................................................................24.8-16

XXVIII. O reinado de Zedequias em Judá................................................................24.17-25.21

XXIX. O governo de Gedalias.......................................................................................25.22-26

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XXX. A libertação de Joaquim da Babilônia.................................................................25.27-30

É visível o caráter essencialmente religioso desta história dos reis. Numerosos

ensinamentos de doutrina e vida religiosa estão contidos especialmente na atividade dos profetas,

que ocupam continuamente o centro da cena, e nas reflexões do autor sagrado sobre o

procedimento dos reis e dos povos, que frequentemente rematam o quadro. Cumpre não deixar

de notar o impressionante fato de que, enquanto no reino cismático de Israel houve em apenas

dois séculos (c. 930-730 a.C.), nada menos de oito mudanças de dinastia, no vizinho e

politicamente mais fraco reino de Judá dominou, por mais de 4 séculos (c. 1010-586 a.C.),

constante e invariavelmente a descendência de Davi, embora não faltassem as violências e os

contrastes a partir do exterior (intromissões de Atalia, de Necão, de Nabucodonosor). Verificava-

se assim a promessa divina feita a Davi por boca do profeta Natan (2 Sam 7), anúncio e penhor

do reino do Messias, filho de Davi por excelência (Lc 1:32), insigne pedra limiar na preparação

da salvação humana.

14. A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL

14.1. Introdução

O período da história de Israel descrito em 1-2 Samuel e 1Reis 1-11 apresenta mudanças

marcantes na vida política, social e religiosa. Iniciando-se no árido período dos juízes, quando

não havia rei em Israel, o período termina com o império de Salomão em pleno florescimento.

Israel começa como uma colisão frágil e flexível de tribos unificadas por certos laços étnicos e

sociais, mas principalmente por uma fé comum em Javé. Ao final do período Israel é a nação

mais poderosa da Ásia oriental. Em 1Samuel, as pessoas fazem peregrinações para o santuário

menos sofisticado de Eli em Siló. Em 1Reis 1-11 realizam suas festas em um templo Real,

projetado com esmero, cuja construção e manutenção lhes exigem quantidade penosa de recursos

e boa vontade. O registro dessas mudanças surpreendentes centra-se na história de quatro

pessoas: Samuel, Saul, Davi e Salomão. As luzes brilham com maior intensidade sobre Davi. Os

relatos sobre Samuel e Saul formam o prólogo e os que tratam das festas e extravagâncias de

Salomão, o epílogo. O que domina o enredo é a ascensão de Davi ao trono e sua luta para mantê-

lo.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 85

14.2. SAMUEL- Sacerdote, profeta, Juiz (1Sm 1-7)

Talvez o maior personagem do Antigo Testamento desde Moisés, Samuel desempenhou

papel fundamental na transição crítica da coalizão tribal para o reinado. Um verdadeiro líder

carismático, ele incorporou os maiores ofícios de seu tempo. Nada do que acontecia entre as

tribos era alheio ao seu interesse. Atuando numa variedade de funções, ele serviu fielmente às

tribos quando as pressões externas exercidas contra Israel pelos filisteus exigiram mudanças

extremas no campo social e político. Para seu crédito, Samuel foi capaz de moldar o futuro de

Israel ao mesmo tempo em que se apegava às práticas da aliança e insistia nelas.

14.2.1. A infância de Samuel (1.1-3.21)

Samuel era filho de Elcana, um piedoso efraimita, e de sua esposa, Ana, que por longo

tempo fora estéril, e fizera um voto que se Deus lhe desse um filho ele seria dedicado ao serviço

do Santuário. A promessa de Ana parece indicar sua intenção de consagrar o filho como narizeu:

"abster-se-á de vinho e de bebida forte..., Nm 61.21" não passará navalha pela cabeça. 1Sm

11.1b".

Esse voto é uma apresentação apropriada para Samuel, que defendeu com firmeza,

durante toda a vida, os padrões históricos de Israel diante dos meios termos e indiferença. Ser

narizeu significava manter o estilo antigo , favorecendo a simplicidade seminômade das gerações

antigas em detrimento da influência sofisticada de Canaã .

Quando a oração de Ana foi respondida com o nascimento de Samuel, não fez nenhuma

peregrinação a Siló até desmamá-lo, provavelmente aos três anos (1Sm1.22). Então o levou a Eli

e o dedicou ao serviço do Senhor junto com a oferta de ação de graças (Lv 7.11ss.). Seu

magnífico cântico de louvor é registrado, e termina com uma observação profética

provavelmente sobre o Rei messiânico, indicando também a função futura de Samuel na

formação da monarquia (1Sm 2.10).

14.2.2. O chamado de Samuel (3.1-21)

Esse capítulo anuncia a expansão do ministério de Samuel, que passa do mero

aprendizado do sacerdócio para o pleno ofício profético. O relato da voz que Samuel ainda

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rapazinho confundiu com a de Eli mostra que Samuel recebeu um chamado direto de Deus para

ser profeta. Sua primeira revelação dizia respeito à derrubada da casa de Eli, e só com muita

relutância é que Samuel comunicou a mensagem a Eli (3.1-21). Samuel foi crescendo em

estatura na presença do povo, e toda terra compreendeu que Samuel fora encarregado com um

ofício profético da parte do Senhor.

14.2.3. Samuel como juiz (7.3-17)

Foi a trágica derrota de Israel e a perca da arca, usada como talismã contra os filisteus,

quando os filhos de Eli figuraram entre os mortos, significou o fim da sucessão de Eli, e a

rejeição do sacerdócio araônico. Embora não seja explicitamente afirmado, Samuel, a única

pessoa então em vista, assumiu as rédeas até então nas mãos do falecido Eli (cf. 4.1). Como seus

nobres predecessores, Débora, Baraque, Gideão e Sangar; ele instou as pessoas ao

arrependimento (v 3-9). O Senhor desbaratou os filisteus em Mispa, e os israelitas então

recobraram a confiança em Deus, mantiveram os filisteus à margem e também recapturaram boa

parte do território perdido. Essa passagem (v. 3.-17), que parece um episódio de juízes, é o

último relance da antiga ordem. Crescia o clamor por um rei.

15. O PERÍODO DE TRANSIÇÃO.

15.1. Introdução

A pressão da oposição filistéia exigiu uma nova tática de Israel. Nem o idoso Samuel

nem seus irresponsáveis filhos podiam proporcionar a liderança necessária àquele momento. A

ameaça das comunidades filistéias altamente organizadas só poderia ser combatida com as

mesmas armas: Israel precisava de um rei. A monarquia era necessária para a sobrevivência de

Israel.

O padrão realmente bem-sucedido de governo para Israel era um equilíbrio delicado-

nem teocracia nem monarquia, mas teocracia por meio da monarquia. Para Israel ser povo de

Deus, Deus precisava ser reconhecido como o verdadeiro governante. Entretanto Deus podia

governar por meio de um rei humano. No meio dessa tensão, Saul seguiu para a liderança das

tribos.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 87

De acordo com 1Sm 9-13, a entronização de Saul foi realizada em etapas, elevando-o

gradativamente em cada uma delas diante do povo, primeiro foi ungido por Samuel (em

obediência à ordem de Deus [9.16] depois que os dois se encontraram quando Saul estava à

procura das jumentas extraviadas de Seu pai). Mais tarde em Mispa, foi destacado por sorte de

clã de Matri da tribo de Benjamim (10.21). Depois Samuel tenta apresentá-lo ao povo (10.20,21).

Figura marcante, Saul conquistou muito apoio popular, apesar da oposição de alguns agitadores

(v 25-27).

Por fim, uma invasão amonita coloca em prova os dons carismáticos de Saul (11.1-5).

Ainda que tivesse sido ungido em particular e chamado publicamente para tal posto, ele

continuava trabalhando no campo quando soube do ataque amonita contra Jabes-Gileade. As

tribos foram reunidas e as forças amonitas, destruídas ou dispersas. Parece que Saul ainda

considerava Samuel co-regente ou co-juiz (cf. v. 7). O sucesso de Saul sufocou toda oposição a

sua regência, e mais uma vez, em Gilgal, Samuel o proclamou rei.

15.2. As campanhas militares de Saul (13.1-14.52)

Os filisteus impunham pressões constantes sobre a nova monarquia. Eles

monopolizavam a "indústria metalúrgica” (13.19,22) e se aproveitavam da superioridade de seus

carros (v.5) quando o terreno permitia. Eram mais capazes de manter uma vantagem militar

evidente sobre os Israelitas. Antes da época de Saul, as tribos não tinham um exército

permanente, dependendo de voluntários em tempos de emergência. Quando Saul ou seu filho,

Jônatas derrotaram uma guarnição filistéia em Gibea (13.3), era certo que viriam retaliações (cf.

v. 17ss). Num ataque relâmpago, o astuto e corajoso Jônatas e seu escudeiro infligiram tamanha

perca para os filisteus que atiçaram a coragem dos Israelitas (14.1-14). Ao expulsá-los da terra

montanhosa de Efraim, Saul ganhou alívio da opressão filistéia. Isso lhe permitiu travar outras

guerras contra outros vizinhos, inclusive Moabe, Amom, Edom e Amaleque (v. 47ss).

15.3. A escolha fatal de Saul (15.1-35).

A ascensão de Saul foi gradual; assim como também seu declínio. A desobediência

flagrante de Saul provocou sua rejeição final. Dois episódios são registrados. Por causa de sua

impaciência Saul teve o atrevimento de usurpar os direitos sacerdotais de Samuel (13.8ss.),

sacrificando ele mesmo os animais. A insensibilidade de Saul diante dos limites do seu oficio

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 88

deram claros sinais a Samuel de que sua primeira experiência na monarquia estava fadada ao

fracasso.

Quando o rei não deu ouvidos à ordem de exterminar a espada todos os amalequitas, seu

gado, e seus bens, a suspeita de Samuel ficou confirmada (1Sm 15.1-3). Como Acã (Js 7.1ss.),

Saul não levara a sério a guerra santa, o pouco caso de Saul para com a ordem divina foi

considerado rebelião por Samuel. O profeta permaneceu resoluto apesar dos apelos de Saul (v.

24-31). A lição tinha de ficar clara, por maior que fosse o preço: para o rei ou para o plebeu, a

obediência era melhor que o sacrifício (v. 22).

15.4. DAVI - Pastor, guerreiro, rei eleito (1Sm 16.1-2Sm 5.10)

Num sentido, a narrativa de Samuel e Saul (caps. 1-15) pode ser interpretada como um

prólogo ao relato instigante da ascensão de Davi ao trono. Os livros de Samuel e Reis tratam de

Davi e sua família, assim como a sequência de histórias de Gn 11-26 - Êx 19.25 trata de Abraão

sua família. O relato da vida de Davi é contado em três seções:

A ascendência de Davi ao trono - 1Sm 16.1- 2Sm 5.10

O reinado de Davi - 2Sm 5.11-24.25

A transferência do reinado - 1Rs 1.1- 2.46

15.5. Saul e Davi (16.1-31.13)

Quando Deus rejeitou Saul como rei de Israel, Davi foi revelado como seu sucessor, ao

profeta Samuel, o qual o ungiu, sem qualquer ostentação, em Belém (16.1-13). Depois de

ungido, o poder carismático retirou-se de Saul (16.13). Em lugar do Espírito do Senhor, um

espírito maligno veio a ele. Ao que parece Saul passou a sofrer crises agudas de depressão que só

podiam ser aliviadas pela música. É essa situação curiosa que fez cruzar o caminho de Saul e

Davi (v. 18,23). A princípio tudo correu bem. Saul simpatizava com o jovem Davi, e o nomeou

seu escudeiro. Então o bem conhecido incidente que envolveu Golias, o campeão dos filisteus,

alterou tudo (1Sm 17).

A vitória de Davi elevou-o a uma posição de responsabilidade dentro do exército de

Saul . Mais do que isso, fez com que Jônatas, filho de Saul, se agradasse dele (18.15). Quando a

popularidade de Davi começou a suplantar a de Saul, o rei tornou-se ciumento e desconfiado e

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procurava matá-lo (v.6-11). Embora Davi ainda tivesse acesso à corte, sua aceitação por Saul

diminuía à medida que o comportamento do rei se tornava cada vez mais turbulento.

15.6. A fuga de Davi (21.1-27.12).

Os estágios seguintes da história de Davi estão assinalados por uma fuga constante da

perseguição incansável por Saul. Nenhum lugar de descanso estava seguro por muito tempo;

profeta, sacerdote, inimigo nacional, ninguém podia dar-lhe abrigo, e aqueles que o ajudavam

eram cruelmente punidos pelo rei enlouquecido pela ira (1Sm 22.6-12). Mesmo a intervenção de

Jônatas não podia proteger permanentemente Davi. Mais tarde, outros de seu clã, sem dúvida

temendo retaliação, juntaram-se a ele no exílio. Com seu grupo heterogêneo de cerca de

quatrocentos companheiros fugitivos (22.2), Davi quase sempre se escondia de dia e viajava de

noite para escapar de Saul.

As táticas de Davi com Saul eram defensivas, não agressivas. Por duas vezes teve nas

mãos a vida do rei, mas recusou-se a matá-lo (24.4ss.; 26.6ss.). Sua atitude para com Saul era de

respeito e reverência por um líder ungido por Deus. Saul por outro lado, foi implacável na

caçada a Davi. Apesar da constante ameaça dos filisteus, persegui compulsivamente Davi e seu

grupo a ponto de negligenciar suas responsabilidades reais.

15.7. Declínio e morte de Saul. (28. 1-31; 13.)

Ao enfrentar um ataque violento dos filisteus vindo do norte, Saul entra em pânico e

mesmo sabendo que Deus não aprovava tal atitude, consulta uma médium e se engana com uma

visão pensando ser Samuel vindo dos mortos (28.2ss.). Seu desejo era receber um socorro da

parte de Deus, porém, a resposta que teve foi que: pela sua desobediência perderia a sua coroa

para Davi e por fim seria morto pelos filisteus, ele e seus filhos.

Sem nenhuma misericórdia (31.1ss.), os filisteus forçaram a batalha contra Saul e seus

filhos. Os mais jovens caíram primeiro, e Saul ferido, pediu um golpe de misericórdia. Quando

seu escudeiro se recusou a fazê-lo, Saul lançou-se sobre a sua própria espada. Os filisteus se

alegraram com a morte de Saul e com a vulnerabilidade de Israel. Mas ainda teriam de acertar

contas com Davi.

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16. A DUPLA UNCÃO DE DAVI (2Sm 1.1-5.10).

16.1. Rei em Hebrom

Uma vez morto Saul, Davi procurou a vontade de Deus e foi orientado a retornar a Judá,

sua própria região de nascimento. Ali seus compatriotas de tribo ungiram-no rei, e estabeleceu

residência em Hebrom, durante sete anos e meio (5.5). Os primeiros dois anos desse período

foram ocupados pela guerra civil que estourara entre os apoiadores de Davi e os antigos

cortesãos de Saul, os quais haviam estabelecido um dos filhos de Saul, Is-bosete, como rei, em

Manaim. Parece que Abner, fiel capitão de Saul, manipulava Is-bosete em todas as situações, e

por isso foi proclamado rei em outras tribos. Nada indica que o governo de Is-bosete tenha

conquistado amplo apoio popular,. Sua capital ficava na transjordânia, o que reduziu muito, o

que reduziu muito sua influência entre as tribos, que viam cada vez mais Davi como líder . Após

a morte de Abner e Is-bosete, a oposição organizada contra Davi chegou ao término, e foi ungido

rei sobre as doze tribos de Israel, em Hebrom, de onde pouco depois haveria de transferir sua

capital para Jerusalém (2Sm 3-5).

16.2. Rei em Jerusalém

O reino unido precisava de uma capital central bem identificada com o novo rei. A

fortaleza cananéia de Jerusalém permanecera fora do controle de Israel durante seus dois séculos

e meio de ocupação da terra. Cidade antiga (cf. Gn 14.18), Jerusalém estava localizada no ponto

ideal para ser a capital de Davi. Colocada entre as duas metades de seu reino, num território que

nenhuma tribo podia reclamar, era suficientemente neutra para servir como fator unificador. Os

detalhes da conquista de Davi são obscuros, mas seus homens podem ter rastejado por um canal

de água (5.8). A captura de Davi da nova capital tornou-a literalmente sua -"a cidade de Davi". O

relato detalhado e complexo da ascensão de Davi ao reino encerra-se nesse ponto. Sua conclusão

é marcada pelo resumo do editor (v.10).

17. DAVI CONSOLIDA SUAS CONQUISTAS (2 Sm 5.11-24.25)

17.1. As batalhas (5.11-25).

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Ao tomar posse de Jerusalém e torná-la sua cidade Davi, quase que de imediato;

começou a fazer o que Saul não conseguira: expulsar da terra os filisteus. Bem versado nas

táticas filistéias e abençoado pela direção de Deus, Davi foi capaz de obter vitórias decisivas e de

controlar e confinar o inimigo em suas próprias fronteiras (5,17-25) pela primeira vez em 150

anos.

17.2. As reformas religiosas.

Um dos erros básicos de Saul fora a sua insensibilidade para com as instituições

religiosas de Israel, em especial o santuário central e o sacerdócio. Mas Davi percebeu a

importância da herança espiritual de Israel e procurou perpetuá-la e promovê-la. Israel não

poderia ser realmente unida, a menos que seu chefe político fosse também seu líder religioso.

Esse golpe de mestre ampliou a lealdade do povo para com ele. Sua participação

desinibida nas cerimônias de consagração ofendeu Micau, sua esposa recatada (6.20), mas seu

entusiasmo destacava-o como um dos que reverenciavam o Deus de Israel e promoviam a fé,

reputação bem merecida e jamais perdida. Davi trouxe de volta a arca da aliança, desde Quireate-

Jearim, e colocou-a num tabernáculo especialmente preparado em Jerusalém.

Muito da organização religiosa que posteriormente haveria de enriquecer a adoração no

templo, deve sua origem aos arranjos para os cultos do tabernáculo feitos por Davi, nesse tempo.

17.3. Um sucesso militar

Quando se assentou a poeira de várias batalhas, os filisteus, bem como os edomitas,

moabitas, os amorreus e as grandes cidades-estados da Síria, como Damasco, Zobá e até Hamate,

estavam ou sob controle ou subjugadas a ele. Agora com certeza o reino mais poderoso da Ásia

ocidental, as fronteiras de Israel estendiam-se do deserto ao Mediterrâneo e do Golfo de Ácaba,

encostas do Hamate no Orontes.

18. DAVI, UM SER HUMANO.

18.1. A manifestação de misericórdia (9.1-13)

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O retrato da bondade de Davi para com a casa de Saul e sua profunda consideração por

Jônatas, esboçada em toda narrativa, é reforçado por sua misericórdia para com Mefibosete, filho

de Jônatas. A menção específica da deformidade física destaca a condescendência do rei (1) tais

enfermidades eram consideradas julgamento de Deus (veja Jo 9.1ss.). (2) um aleijado não podia

servir de ameaça ao domínio de Davi. O tratamento bondoso para com um membro da família

rival é ainda mais notável diante do costume frequente entre os orientais de exterminar a

descendência masculina da família real adversária. Davi manteve sua promessa a Jônatas,

poupando a vida de seus descendentes (1Sm 20.14-17; 2Sm 21.1-6).

18.2. O abuso de poder (11.1-12.31)

Um episódio durante a guerra contra os amonitas (1.1-27) mostrou outra face de Davi.

Enquanto seu exército estava em marcha, Davi permaneceu na capital, quando então ocorreu seu

encontro ilícito com Bate-seba. Em sua trama desesperada para livrar-se de Urias, o marido dela,

Davi acrescentou um homicídio ao adultério. O rei cuja obrigação principal era cumprir os

termos da aliança e assegurar justiça em todos os níveis da sociedade, havia ele próprio violado

de maneira grosseira a aliança. Empregara seu poder para fins cruéis.

18.3. Problemas na corte (13.1-18.33)

Iniciou-se um conflito aberto pela coroa quando Amnom, filho mais velho de Davi

(3.2), aproveitou-se injustamente de sua meia-irmã Tamar e depois a rejeitou com crueldade,

embora pudesse tê-la pedido em casamento (13.1-19). Absalão o terceiro filho (3.2), sem dúvida

com segundas intenções, resolveu vingar a honra da irmã e remover um rival na sucessão do

trono. Irritou-se amargamente pelo fato de o pai não punir Amnom. Depois de dois anos matou

Amnom e fugiu para Gesur, estado arameu e terra natal de sua mãe (v.20-39). Joabe, um general

de Davi conseguiu que rei permitisse a volta de Absalão a Jerusalém. Por dois anos não teve

acesso a corte do pai (14.1-33).

A conspiração dissimulada tornou-se rebelião aberta quando Absalão proclamou-se rei

em hebrom (V7-17). Cresceu o apoio à rebelião de Absalão. Davi reuniu seu fiel grupo de

mercenários filisteus e fugiu de Jerusalém.

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Depois de consolidar suas forças na transjordânia, Davi, provavelmente acompanhado

de grupos de cidadãos fiéis, enviou três exércitos para combater Absalão. Eles esmagaram de

forma decisiva as tropas rebeldes. Absalão foi morto por Joabe, contra as ordens do pai dele. O

general sabia que seria impossível obter paz enquanto Absalão vivesse (17.1-24.21). O duplo

pecado de Davi, homicídio e adultério, marcam uma mudança importante na narrativa, passando

de benção a julgamento, de triunfo a tragédia, de narrativa centrada no ministério público de

Davi para outra centrada em sua personalidade íntima - vulnerável, sensível, piedosa e humilde

diante de Deus. Davi é apresentado como portador da possibilidade histórica de Israel e como

veículo dos propósitos de Deus em Israel.

19. A TRANSFERÊNCIA DO REINADO DE DAVI PARA SALOMÃO

(1Rs 1.1-2.46)

Adonias, o mais velho dos filhos sobreviventes (2Sm 3.4), reivindicara fortemente o

trono, alistando o apoio de Abiatar e Joabe, o sacerdote e o general de Davi. Chegou a Jerusalém

a notícia de que Adonias tinha na verdade realizado uma festa de coroação em Rogel. Em reação,

Natã, o profeta, e Bate-seba, mãe de Salomão, pressionaram para que nomeasse Salomão.

Cedendo ao pedido da esposa favorita, Davi selou a indicação de Salomão com um voto. O rei

então deu provas concretas passando a ele seu exército particular de mercenários filisteus.

Adonias, fez mais uma tentativa de destronar Salomão pedindo a consorte de Davi,

Abisague, por esposa após a morte do pai. Salomão percebendo as implicações políticas do

pedido do irmão, executou Adonias. O novo rei baniu abiatar para Ananote (cf. Jr 1.1) e matou

Joabe para cumprir a última vontade de Davi: a vingança pela morte de Absalão e Amasa. Por

fim Salomão reinou sem rivais em Judá e Israel (1Rs 2.1-46).O governo dinástico fora

estabelecido. Por quase quatro séculos, os reis de Jerusalém seriam filhos de Davi.

Como primeiro governante dinástico de Israel, Salomão assumiu o oficio sem poder

carismático óbvio. No relato que teve em Gibeão, porém, Deus lhe ofereceu a escolha de dons

(1Rs 3.5-14). Salomão consciente de suas amplas e pesadas responsabilidades, requisitou uma

mente sábia e perspicaz. Tirou plena vantagem de seus contatos internacionais, de sua riqueza e

da ausência de guerras para se dedicar a realizações literárias. O legado mais duradouro e

influente da era de Salomão foi o templo de Jerusalém. Apenas nesse período Israel teve uma

combinação de riqueza, governo centralizado e alívio de ataques inimigos necessária para

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completar um projeto dessa magnitude. Os recursos do reino de Salomão e os laços de amizade

com a fenícia (5.1) foram explorados ao máximo para promover uma casa de adoração. Artesãos

estrangeiros eram indispensáveis a vida pastoril dos israelitas não estimulava o artesanato;(2) a

proibição contra qualquer réplica da deidade (Êx 20.4) tendia a limitar a atividade artística.

A política externa de Salomão baseava-se em alianças de amizade, muitas vezes seladas

por casamento, e na manutenção de um exército colossal. Os empreendimentos comerciais de

Salomão trouxeram uma riqueza fabulosa. Infelizmente, essa riqueza não beneficiou todas as

classes em Israel. Nem aliviou a severa taxação necessária para sustentar os grandes projetos de

construção. as pessoas comuns, na realidade, talvez tivessem menos conforto no reinado de

Salomão que nos de Davi e Saul. A tendência à centralização da riqueza, que provocava a ira nos

grandes profetas do século VIII, começou no reinado de Salomão.

Salomão termina seus dias de forma desagradável a Deus. Abraçou as religiões de suas

esposas, desobedecendo ao ideal monoteísta de Israel. Afastou-se de suas responsabilidades reais

na condição de guardião da fé.

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Teologia Bíblica do Antigo Testamento

SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 95

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BUCKLAND, A.R. Dicionário Bíblico Universal. Editora Vida

CESAR, Éber M. Lenz. HGB- História e Geografia Bíblica. Editora Candeia.

DOUGLAS, J.D. (org) O Novo Dicionário da Bíblia. Editora Vida Nova.

GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. Editora Paulus.

HOFF, Paul. O Pentateuco. Editora Vida

HARRINGTON, Wilfrid J. Chaves para a Bíblia. Editora Paulus.

LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento. Editora Vida Nova.

KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e comentário. Editora Vida Nova.

WENHAN, Gordon I. Números, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova

WILKINSON, Bruce & BOA, Kenneth. Descobrindo a Bíblia. Editora Candeia.

BÍBLIA TEB – Tradução ecumênica da Bíblia. Editora Loyola

BÍBLIA E REFERÊNCIA THOMPSON. Editora Vida

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Prova n°01 – QUESTIONÁRIO

1. Se perguntássemos a qualquer cristão quantos livros têm no AT, ele responderia: trinta e nove (39) livros,

e daria até a divisão deles, Pentateuco, históricos, poéticos, profetas maiores e menores; de fato, as nossas

Bíblias nos fornecem esses dados, mas, não era assim que a Bíblia hebraica ou Tanak era dividida. Na

Bíblia Hebraica o Antigo testamento são arranjados em três divisões . Quais são eles? Assinale com (X) as

alternativas corretas.

a) ( ) A lei

b) ( ) Os escritos

c) ( ) Livros Poéticos

d) ( ) Os profetas

2. A Bíblia é um livro singular. Por um lado, ela é uma extraordinária peça de literatura humana; por outro

lado, atribui sua origem a Deus. Quais são os termos teológicos fundamentais que expressa essa

singularidade? Assinale com (X) a alternativa correta.

a) ( ) Profecia e inspiração

b) ( ) Profecia e conspiração

c) ( ) Revelação e conspiração

d) ( ) Revelação e inspiração

3. O pecado surgiu por um ato deliberado e voluntário do homem, onde o mesmo abusou do seu livre-arbítrio

se rebelando contra seu criador, como resultado veio a desordem e o mal entrou no mundo. Em Gênesis

narra todos este contexto sobre Adão, porém como é conhecido este pecado na bíblia ? Assinale com (X) a

alternativa correta.

a) ( ) rebelião

b) ( ) Glutonaria

c) ( ) Mentira

d) ( ) Inveja

4. O Pentateuco deve ser definido como um documento que dá a Israel sua compreensão, sua etiologia da

vida. Aqui, por meio de narrativa, poesia, profecia e lei, a vontade de Deus concernente a tarefa de Israel

no mundo é revelada. Quais são os livros do Pentateuco? Assinale com (X) a alternativa correta.

a) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio

b) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Juízes e Deuteronômio

c) ( ) Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio e Josué

d) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Juízes e Josué

5. Num sentido, a narrativa de Samuel e Saul (caps. 1-15) pode ser interpretada como um prólogo ao relato

instigante da ascensão de Davi ao trono. Os livros de Samuel e Reis tratam de Davi e sua família, assim

como a sequência de histórias de Genesis e Êxodo trata de Abraão sua família. O relato da vida de Davi é

contado em três seções, quais são eles? Assinale com (X) a alternativa incorreta.

a) ( ) A ascendência de Davi ao trono.

b) ( ) A queda de Davi com Beteseba.

c) ( ) A transferência do reinado.

d) ( ) O reinado de Davi.