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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BRUNA ROBERTA HORSTMANN DE FREITAS Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA MODERNA E AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA O TRANSPORTE MARÍTIMO ITAJAÍ 2010

Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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Page 1: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BRUNA ROBERTA HORSTMANN DE FREITAS

Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA MODERNA E AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA O

TRANSPORTE MARÍTIMO

ITAJAÍ 2010

Page 2: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

BRUNA ROBERTA HORSTMANN DE FREITAS

Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA MODERNA E AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA O

TRANSPORTE MARÍTIMO

Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Prof. Bruno Tussi, LL.M. (IMLI)

ITAJAÍ 2010

Page 3: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

Agradeço primeiramente a Deus, pela possibilidade desta conquista.

Aos meus pais, por sempre

acreditarem em mim, me apoiando e incentivando, e por todo o amor e compreensão dedicados durante

toda minha vida.

Ao meu irmão, por fazer meus dias muito mais alegres com seu infinito

bom humor.

Aos meus amigos, pela força, ajuda, incentivo e por estarem ao meu lado

incondicionalmente.

E de forma especial, ao meu orientador e amigo, Bruno Tussi, por

fazer parte deste projeto comigo, tornando-o possível. Sou grata pela

paciência e atenção dispensadas, por dividir

comigo seu conhecimento, por todo o incentivo, sempre procurando

extrair o melhor do meu potencial.

Page 4: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

“Busque o conhecimento do berço ao túmulo.”

(Muhammad al Khwarizmi)

Page 5: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

EQUIPE TÉCNICA

a) Nome do estagiário Bruna Roberta Horstmann de Freitas b) Área de estágio Direito Marítimo Internacional c) Orientador de conteúdo Prof. Bruno Tussi d) Responsável pelo Estágio Prof. Natalí Nascimento

Page 6: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

RESUMO

O transporte marítimo é de suma importância para o comércio internacional e foi evoluindo no decorrer dos séculos. Uma das funções do transportador é garantir que as mercadorias cheguem ao seu destino final nas mesmas condições em que foram embarcadas. Fator esse que nem sempre ocorre, pois as embarcações estão sujeitas a acontecimentos alheios a vontade de quem transporta. Dentre os acontecimentos aos quais estão sujeitos os navios que navegam pelos rios, mares e oceanos, estão crimes como roubo, tráfico, terrorismo e a pirataria marítima. É de função do Direito Internacional Público legislar para que estes crimes sejam julgados e não permaneçam impunes, como vem acontecendo com a pirataria marítima. A pirataria é uma das formas de criminalidade mais antigas que existem, tendo iniciado juntamente com as atividades do homem transportando mercadorias pelas águas do planeta. Atualmente o problema tem novas características e o seu crescimento acelerado preocupa a sociedade internacional. O objetivo geral deste trabalho é identificar as principais consequências da pirataria marítima moderna para o transporte marítimo. Os objetivos específicos são apresentar o transporte marítimo, apresentar os principais crimes internacionais no âmbito do transporte marítimo e identificar as principais causas e consequências da pirataria marítima moderna. A metodologia utilizada para realizar o trabalho foi de cunho qualitativo, a pesquisa se deu por meio bibliográfico através de livros, buscas em sites entre outros. Os resultados obtidos indicam que a pirataria marítima é um problema que deve ser levado a sério pelos responsáveis pela segurança internacional, pois afeta toda uma indústria que é de fundamental importância para a sociedade moderna. Palavras-chave: Pirataria. Pirataria Marítima. Transporte Marítimo.

Page 7: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Golfo do Áden .................................................................................... 60

Figura 2 – Estreito de Málaca ........................................................................... 61

Figura 3 – Mapa dos ataques piratas ocorridos em 2010 até 08/10/2010 ........... 69

Page 8: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

LISTA DE SIGLAS

CNUDM – Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.

CSNU – Conselho de Segurança da ONU.

DIP – Direito Internacional Público.

FLP – Frente de Libertação Palestina.

GESAMP – Group of Experts on the Scientific Aspects of Marine Pollution.

IMB – International Maritime Bureau.

IMO – International Maritime Organization.

ISPS – International Ship and Port Facility Security.

OMC – Organização Mundial do Comércio.

ONGs – Organizações Não-Governamentais.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PRC – Piracy Reporting Centre.

TPI – Tribunal Penal Internacional.

Page 9: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................11 1.1 Objetivo geral ................................................................................................12 1.2 Objetivos específicos.....................................................................................12 1.3 Justificativa ....................................................................................................12 1.4 Abordagem geral do problema ......................................................................13 1.5 Questões específicas ....................................................................................13 1.6 Pressupostos...............................................................................................144 2 METODOLOGIA ................................................................................................15 2.1 Tipo de pesquisa ...........................................................................................15 2.2 Área de abrangência ...................................................................................165 2.3 Coleta e tratamento dos dados......................................................................16 2.4 Apresentação e análise dos dados................................................................16 3 TRANSPORTE MARÍTIMO...............................................................................17 3.1 História da Navegação ..................................................................................17 3.2 O Transporte Marítimo...................................................................................21 3.2.1 Navegação de Longo Curso ..........................................................................23 3.2.2 Navegação de Cabotagem............................................................................24 3.2.3 Navegação de Apoio Marítimo ......................................................................25 3.2.4 Navegação de Apoio Portuário......................................................................26 3.2.5 Registro de Embarcações .............................................................................27 3.2.5.1 Bandeiras de Conveniência.........................................................................28 3.2.6 Tipos de Embarcação....................................................................................30 3.2.6.1 Navios Cargueiros ......................................................................................31 3.2.6.2 Embarcações de Lazer................................................................................31 4 A JURISDIÇÃO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS CRIMES NO ÂMBITO DO TRANSPORTE MARÍTIMO.................................................................................33 4.1 Jurisdição Internacional .................................................................................33 4.1.1 Direito Internacional Público ..........................................................................35 4.1.1.1 Direito Internacional Penal ..........................................................................37 4.1.1.1.1 Tribunal Penal Internacional.....................................................................38 4.1.2 Direito Marítimo .............................................................................................40 4.2 Principais Crimes Internacionais no Âmbito do Transporte Marítimo ............42 4.2.1 Terrorismo .....................................................................................................43 4.2.2 Tráfico Internacional ......................................................................................46 4.2.2.1 Tráfico Internacional de Drogas ..................................................................46 4.2.2.1 Tráfico Internacional de Pessoas ................................................................47 4.2.2.3 Tráfico Internacional de Animais .................................................................49 4..2.3 Crimes Internacionais Contra o Meio Ambiente ............................................50 4.2.4 Pirataria .........................................................................................................52 5 PIRATARIA MARÍTIMA......................................................................................54 5.1 História da Pirataria .......................................................................................54 5.2 Principais Causas de Pirataria Marítima Moderna.........................................58 5.2.1 Aspectos Geográficos .................................................................................60 5.2.2 Aspectos Sociais .........................................................................................62 5.3 Principais Consequências da Pirataria Marítima Moderna .............................67

Page 10: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

5.3.1 Principais Consequências da Pirataria Marítima Moderna para o Transporte Marítimo ....................................................................................................................69 5.4 Principais Medidas de Combate á Pirataria Marítima Moderna......................73 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................76 REFERÊNCIAS.........................................................................................................78 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS......................................................................84

Page 11: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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1 INTRODUÇÃO

A pirataria marítima moderna tornou-se, em pouco tempo, uma ameaça à

segurança internacional, que corre riscos nas mãos destes criminosos que

aterrorizam os profissionais do mar e provocam um prejuízo de bilhões de dólares ao

comércio internacional.

Desde o século XIX até o início do século XXI, acreditava-se que a pirataria

marítima se resumisse a eventuais furtos de mercadorias nos portos asiáticos.

Porém, no início do século XXI, os crimes passaram a ser cometidos com muito mais

frequência, em diversas localidades, de forma muito mais cruel, violenta e

organizada.

Compostas, em sua grande maioria, por pescadores desempregados, as

gangues piratas, passaram a cometer atos criminosos, como ameaças àqueles que

adentram suas águas, e também sequestros de embarcações e demais tripulantes,

os quais, por muitas vezes acabam sendo mortos. Tais atos acabam gerando

consequências para o transporte marítimo, e pouco tem sido feito para reverter a

situação.

Diante destes fatos, os principais objetivos desse trabalho de iniciação

científica são: apresentar o transporte marítimo e os crimes no mar, apresentar a

pirataria marítima, e identificar as principais causas e consequências da pirataria

marítima moderna para o transporte marítimo.

Por ser tratar de uma temática atual e pouco explorada, é de interesse da

acadêmica, se aprofundar no assunto e entender a raiz do problema, como o mesmo

se desenvolve e o que pode ser feito para controlar a pirataria marítima nos tempos

modernos.

O trabalho está composto de: objetivo geral, objetivos específicos, abordagem

geral do problema, questões específicas, pressupostos, introdução, justificativa,

metodologia, do terceiro capítulo que aborda as principais informações envolvendo o

transporte marítimo, do quarto capítulo que apresenta a jurisdição internacional e os

principais crimes no âmbito do transporte marítimo, e do quinto capítulo que tem

como tema principal a pirataria marítima moderna e os principais fatores que

envolvem a problemática.

Page 12: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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1.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho é identificar as principais consequências da

pirataria marítima moderna para o transporte marítimo.

1.2 Objetivos específicos

• Apresentar o transporte marítimo.

• Apresentar os principais crimes internacionais no âmbito do transporte

marítimo.

• Identificar as principais causas e consequências da pirataria marítima

moderna.

1.3 Justificativa

Em poucos anos a pirataria marítima deixou de ser passado, para se tornar

realidade presente na vida daqueles que trabalham direta ou indiretamente com o

transporte marítimo, passando assim, a ser assunto de relevância à sociedade

moderna e tema de algumas conferências internacionais.

A acadêmica acredita que o trabalho possa, além de esclarecer o tema e

identificar suas principais consequências para o transporte marítimo, servir para

futuras consultas e elaboração de novos trabalhos, tanto de demais acadêmicos do

curso de comércio exterior, quanto da continuação da própria pesquisa pela

acadêmica em uma especialização.

Para a Instituição, este trabalho será relevante, pois proporcionará aos

demais acadêmicos a oportunidade de se familiarizar com o assunto, e também

ampliar seu acervo bibliográfico a respeito da pirataria em alto mar.

Page 13: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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O trabalho se tornou viável através de publicações existentes sobre a

temática disponiblizados em português e inglês.

1.4 Abordagem geral do problema

A pirataria marítima moderna é um problema que vem desafiando os

principais órgãos responsáveis pela segurança marítima internacional, pois até o

início do século XXI, acreditava-se ser uma forma de criminalidade praticada

eventualmente em alguns portos asiáticos, africanos e sulamericanos, através de

furtos de pequenas embarcações e mercadorias.

Com grupos formados principalmente por pescadores desempregados em

países pobres como a Somália e a Malásia, os piratas voltaram a virar notícia e a

causar pânico entre donos e tripulantes de embarcações, que têm de atravessar

certas rotas que são conhecidas por seus frequentes ataques. Porém, a pirataria

marítima moderna não afeta somente donos de embarcações e seus tripulantes, o

problema criou dimensões gigantescas e gera uma série de consequências para o

transporte marítimo.

1.5 Questões específicas

a) Como se deu a evolução do transporte marítimo?

b) Quais os principais crimes internacionais que ocorrem no âmbito do

transporte marítimo?

c) Quais são as principais causas da pirataria marítima moderna?

Page 14: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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1.6 Pressupostos

a) Acredita-se que que o homem passou a utilizar os oceanos como meio de

transporte, quando surgiu a necessidade de escoar o excedente de suas

produções para outros lugares, e passou a evoluir principalmente, quando

começou a transportar mercadorias como café, ouro, tecidos e outras

riquezas.

b) Os principais crimes que ocorrem no âmbito do transporte marítimo são

atos terroristas, tráfico internacional de drogas, pessoas, armas e animais,

crimes contra o meio ambiente como derramamento de óleo, a poluição

através da água de lastro e a pirataria.

c) A pirataria marítima é um problema antigo, que recentemente ganhou

novos traços nas mãos de grupos formados por pescadores

desempregados, que encontraram na pirataria uma forma de sustento, em

meio à pobreza que os cerca. Os crimes se caracterizam através de furto

de mercadorias, nesse caso sem uso de violência, e também através de

roubos, ataques em alto mar, sequestro de membros da tripulação e

embarcação, que muitas vezes terminam em mortes. Acredita-se que os

principais fatores que contribuem para o crescimento descontrolado da

pirataria marítima moderna são: a desigualdade social, a alta taxa de

analfabetismo, alta taxa de desemprego, governos corruptos, ou a

ausência dos mesmos (anarquismo), entre outros.

Page 15: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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2 METODOLOGIA

A metodologia apresentada neste trabalho demonstra o tipo de pesquisa que

foi feita, sua área de abrangência, coleta e tratamento dos dados, assim como a

apresentação e a análise dos mesmos.

2.1 Tipo de pesquisa

O método utilizado nesta pesquisa foi o qualitativo, tendo como objetivo

explicar o tema de forma clara e detalhada.

A abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social. Tanto assim é que existem problemas que podem ser investigados por meio de metodologia quantitativa e há outros que exigem diferentes enfoques, e consequentemente, uma metodologia da conotação qualitativa. (RICHARDSON, 1999, p. 79).

A pesquisa foi desenvolvida através das bibliografias disponíveis sobre o

tema, bem como, livros em português e inglês, materiais publicados em revistas,

artigos, páginas na internet, e em todos os demais meios que disponibilizaram

informações á respeito do assunto proposto.

A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias é a que especificamente interessa a este trabalho. Trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisafor em contato direto com tudo aqui que foi escrito sobre determinado assunto. (MARKONI, LAKATOS, 2006, p.43).

A pesquisa para este trabalho se caracteriza como explicativa “A investigação

explicativa tem como principal objetivo tornar algo inteligível justificar-lhes os

motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores contribuem, de alguma

forma, para a ocorrência de determinado fenômeno”. (VERGARA, 2005, p.47).

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2.2 Área de abrangência

Este projeto de iniciação científica foi desenvolvido na área de Comércio

Exterior, direcionado ao direito marítimo internacional, abordando a pirataria

marítima moderna e suas consequências para o transporte marítimo.

2.3 Coleta e tratamento dos dados

A coleta de dados deste projeto foi feita através de pesquisas bibliográficas,

artigos e páginas na internet, e outros meios que viabilizaram a pesquisa e

proporcionaram um maior conhecimento e entendimento do assunto.

2.4 Apresentação e análise dos dados

Os dados deste projeto foram apresentados através de textos explicativos

com a utilização de uma linguagem esclarecedora e de fácil entendimento, com o

objetivo de facilitar a compreensão da temática aos demais interessados.

Page 17: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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3 O TRANSPORTE MARÍTIMO

Acredita-se que os homens começaram a se locomover pelas águas no final

da pré-história, quando surgiu a necessidade de transportar o que sobrava de sua

produção para outras localidades, possibilitanto a troca de produtos. Aos poucos foi

evoluindo com a criação da bússola, cartas náuticas, embarcações a vapor e

posteriormente passaram a utilizar derivados de petróleo como combustíveis e

aparelhos eletrônicos como radares e o GPS(Global Positioning System).

3.1 A história da navegação

A navegação é a arte de se locomover de um lugar para outro. Os primeiros

registros apontam que os homens passaram a utilizar as águas para navegação

entre o final da pré-história e o começo da Idade Antiga, cerca de 4000 anos a.C,

quando resolveram cultivar sua agricultura próxima aos rios, devido à abundância

de água para a plantação. Estes homens eram os Sumérios, e estavam localizados

na região da Mesopotâmia, entre os rios Tigres e Eufrates, onde hoje se encontra o

Iraque. Segundo Barbosa (2009, p.52) “Por volta de 4000 a.C, depois da revolução

neolítica na Mesopotâmia, os habitantes do extremos noroeste do subcontinente

iniciaram a transição do estado nômade para a agricultura sedentária.” Porém,

algum tempo depois, perceberam que estavam produzindo mais do que precisavam

para o consumo próprio, e foi sentida a necessidade de transportar o excedente para

outros locais em busca de trocas por outras mercadorias, e assim começaram a

utilizar o meio de transporte terrestre e fluvial.

Quando o homem se sedentarizou – considerando o final da Pré-História e o início da Idade Antiga – procurou locais próximos aos grandes rios para praticar a agropecuária. Porém, essa atividade gerou um excedente de produção que precisava ser escoado: surgiu, então, o comércio, feito por terra e pelos grandes rios. (POLLONI, 2010)

Page 18: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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Estes primeiros navegadores se mantinham perto da costa, locomovendo-se

lenta e cuidadosamente, e navegavam de acordo com as características das terras

pelas quais passavam atrás de outras civilizações para troca de mercadorias, eles

não possuíam cartas náuticas, mas uma lista das direções a serem navegadas. De

acordo com a IMO1 (2010) “[...] foram em busca de novas terras e pessoas com

quem realizar suas trocas, se locomoviam vagarosa e temerosamente pela costa

[...]”.

Localizados na Fenícia, onde hoje se encontra o Líbano, os Fenícios foram os

primeiros a navegarem pelo mar e já utilizavam meios de localização primitivos,

porém a grande maioria ainda navegava pela costa, aqueles que se arriscavam em

alto mar, conheciam os ventos e as correntes marítimas do local.

The first Western civilization known to have developed the art of navigation at sea were the Phoenicians, about 2000 B.C.E. Phoenician sailors accomplished navigation by using primitive charts and observations of the Sun and stars to determine directions. Despite these early beginnings, it would take many centuries before global navigation at sea became possible. Until the fifteenth century, mariners were essentially coastal navigators, sailing on the open sea was limited to regions of predictable winds and currents[…].(BRATCHER,2010)2

Acredita-se que o feito que levou os Fenícios até o mar foi o interesse pela

pesca, pois não possuíam terras férteis em abundância, o que não permitia que sua

agricultura se expandisse para a comercialização. Assim, os fenícios fizeram da

pesca sua principal atividade e o comércio marítimo base para sua economia.

Por habitarem uma região montanhosa, com poucas terras férteis, os fenícios

dedicaram-se à pesca e ao comércio marítimo. O comércio marítimo foi sua principal

atividade econômica e seu progresso transformou os fenícios nos maiores

navegadores da Antigüidade. Suas rotas comerciais marítimas se estenderam por

todo o mar mediterrâneo. (MUNDO EDUCAÇÃO, 2010)

1 Tradução livre da acadêmica: Organização Marítima Internacional 2 Tradução livre da acadêmica: A primeira civilização a desenvolver a arte da navegação pelo mar foram os Fenícios, a cerca de 2000 anos a.C. Os navegadores fenícios utilizavam cartas náuticas primitivas usavam o sol e as estrelas como pontos de referência. Apesar deste início precoce, demoraria muitos séculos para que a navegação marítima se tornasse possível. Até o século XV marinheiros eram, em sua maioria navegadores de costa, navegar em alto mar só era possível quando os ventos e correntes fossem previsíveis [...].(BRATCHER, 2010)

Page 19: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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A civilização Fenícia foi aos poucos se tornando a mais evoluída civilização

no quesito de transporte marítimo, sua construção e engenharia naval nunca haviam

sido vistas antes, o que consequentemente provocava uma expansão significativa

em seu comércio marítimo. Tais fatores transformaram a Fenícia na maior potência

marítima entre os séculos I e X, quando dominavam o transporte em todo território

do Mar Mediterrâneo. (BARBOSA, 2009)

Mesmo com os perigos que a navegação marítima oferecia, aos poucos foi

ficando claro que o comércio através dos mares, era muito mais lucrativo do que o

comércio feito por terra, já que estas possuem montanhas e desertos e os trajetos

percorridos para desviar destes obstáculos eram longos. Já pelas águas, as

embarcações podiam simplesmente navegar em linha reta e os marinheiros estavam

cientes de que chegariam em algum lugar. Além do que, a quantidade de

mercadoria que poderia ser transportada nas embarcações era muito maior do que a

que era transportada por animais de carga.

Despite the uncertainties and dangers involved, it soon became apparent that trading by sea had advantages over trading by land. Land traders had mountains ranges and deserts to contend with and had to go miles out of their way to avoid them: ships could go more or less in straight lines. And ships could carry more goods more cheaply than horses and camels. (IMO, 2010)3

Muitos anos depois, a navegação havia evoluído muito no conhecimento das

rotas marítimas e dos oceanos. Porém, foi a partir do século XIII que os marinheiros

começaram a perceber que se criassem mapas das rotas conhecidas, o transporte

se tornaria mais fácil e preciso. Então, passaram a manter informações detalhadas

de suas rotas e assim foram criadas as primeiras cartas náuticas. Estas primeiras

cartas não eram muito confiáveis, mas eram consideradas valiosas e mantidas em

segredo de outros marinheiros. Sem possuir informações importantes, como latitude

e longitute, estes primeiros modelos de cartas náuticas se tornavam inúteis sem o

auxílio de uma espécie de bússola, chamada bússola rosa, que é uma versão

primitiva da bússola magnética. (BRATCHER, 2010)

3 Tradução livre da acadêmica: Apesar de todas as incertezas e perigos envolvidos, logo se tornou aparente que fazer comércio pelo mar, tinha muito mais vantagens do que por terra. Os comerciantes que viajavam por terra tinham montanhas e desertos pela frente, e tinham de desviar muitos kilômetros de sua rota para evitá-los; embarcações poderiam ir mais ou menos em linha reta, e tinha capacidade de carregar muito mais mercadorias do que cavalos e camelos. (IMO, 1998)

Page 20: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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Apesar do grande conhecimento que possuíam dos mares e oceanos, a

tecnologia demorou para atingir a navegação, e o processo foi lento. Nem o início da

Revolução Industrial, no início do século XVIII alavancou o transporte marítimo, que

ainda dependia dos ventos para locomoção. Foi somente no século XIX, que

começaram a navegar embarcações movidas à vapor. Mas ainda demorariam

muitas décadas até que se tornassem popular, já que o carvão tinha um custo alto,

enquanto o vento, nenhum. Outra desvantagem, é que parte do espaço designado

para carregar as mercadorias era ocupado com as reservas de carvão.

Even the Industrial Revolution of the 18th and 19th centuries took a long time to affect shipping. By the end of the 19th century steel was being used instead of wood for some ships, but the change was gradual. Steam was used at sea for the first time in the early 19th century, but did not become widespread for several decades. Coal costs money, while the wind is free. And coal also took up space that could otherwise be used for cargo. (IMO, 2010)4

Foi entre o final do século XIX e o início do século XX, que as empresas

começaram a utilizar derivados de petróleo como combustível para suas

embarcações, quando o comércio internacional passou a exigir mais agilidade e

rapidez nos procedimentos. “Muitos países precisavam de mercados do outro lado

do mundo, e sua habilidade para atingir esses mercados, dependiam basicamente

do transporte marítimo.” (IMO, 2010) Segundo Bratcher (2010), a navegação

marítima se beneficiou muito dos avanços da tecnologia no século XX, já que foi

durante este período que foram criados sistemas de comunicação como rádios

transmissores e meios de localização como radares, a bússola e o GPS. Apesar do

auxílio da tecnologia, os perigos e imprevisibilidades dos oceanos continuam os

mesmos, e provavelmente a isso se deva todo o mistério e romantismo que

envolvem os oceanos até os dias de hoje.

4 Tradução livre da acadêmica: Até mesmo a Revolução Industrial, dos séculos XVIII e XIX demorou um longo tempo para afetar o transporte marítimo. No final do século XIX aço já era usado no lugar de madeira em alguns navios, mas a mudança foi gradual. Vapor foi usado no mar pela primeira vez no século XIX, mas não se espalhou por muitas décadas, carvão custa dinheiro, enquanto o vento é de graça, além do que, o carvão ainda ocupava o espaço que poderia ser usado pelas mercadorias. (IMO, 2010)

Page 21: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

21

3.2 O Transporte Marítimo

É conhecido por transporte marítimo o modal realizado através dos mares e

oceanos, tendo a capacidade de transportar qualquer tipo de mercadoria para

qualquer porto do mundo. Por isso, é considerado o principal meio de transporte de

mercadorias no comércio internacional, sendo responsável pelo transporte de cerca

de 80% de toda a carga comercializada entre países. A navegação pode ser de

longo curso, entre portos de países diferentes, ou de cabotagem, entre portos do

mesmo país. Realizado através de embarcações motorizadas de grande e pequeno

porte, o transporte marítimo é o único meio em que é possível serem transportadas

milhares de toneladas em um único navio.

O transporte marítimo é aquele realizado por navios em oceanos e mares, podendo ser de cabotagem ou longo curso. É um modal que pode ser utilizado para todos os tipos de carga, e para qualquer porto do globo, sendo o único veículo de transporte que possibilita a remessa normal e regular de milhares de toneladas ou de metros cúbicos de qualquer produto de uma só vez. (KEEDI; MENDONÇA, 2003, p.62)

O transporte marítimo como meio de transporte de mercadorias costuma ser

utilizado para mercadorias de baixo valor unitário e que não tenham urgência pela

sua chegada no destino, já que o tempo de trânsito é significativamente maior do

que o proporcionado pelo modal aéreo, por exemplo. Porém, sua consolidação no

comércio internacional ocorre devido à dificuldade da modalidade aérea de carregar

grandes quantidades de mercadoria, e também por esta possuir um custo muito

mais elevado.

[...]a absoluta inadequação do modo aeroviário para a movimentação de grandes lotes de carga, são fatores determinantes para que o transporte marítimo se afirme, cada vez mais, como o elemento de sustentação na relações de comércio no mundo. (FARIA, 2001, p.23)

Por ser o modal mais utilizado no comércio internacional, o transporte

marítimo teve de se otimizar para poder transportar os mais diversos tipos de

mercadoria, desde carga geral armazenada em contêineres, granéis líquidos,

animais vivos, até mercadorias perecíveis que necessitam de controle de

temperatura. Para que isso fosse possível, foram desenvolvidas diversos tipos de

Page 22: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

22

embarcações, preparadas para comportar e transportar qualquer tipo de mercadoria

até o seu porto de destino.

Diante da grande diversidade de cargas que foram sendo objeto de comercialização e, portanto de transporte, tanto nacional, quando internacionalmente, vários tipos de navios foram sendo criados e construídos ao longo do tempo pela engenharia naval para atender estas necessidades. (KEEDI, MENDONÇA, 2003, p.90)

O navio é o veículo mais apropriado para a navegação nos oceanos, rios e

lagos. Sua construção é feita de acordo com as especificações de cada mercadoria

a ser carregada, de modo que a navegabilidade seja perfeita e que a durabilidade

seja longa. As embarcações podem ter tamanhos variados de acordo com sua

finalidade, e possuem motores de grande potência capazes de locomover navios de

todas as proporções. São utilizados tanto para transporte de mercadorias como de

pessoas. (KEEDI, MENDONÇA, 2003)

Visando controlar e regulamentar o trânsito de embarcações pelos mares e

oceanos, foi criado a IMO, o principal órgão interveniente quando se fala de

transporte marítimo internacional. A IMO é uma entidade vinculada à ONU

(Organização das Nações Unidas), que tem como principais objetivos, manter a

segurança nas vias marítimas, tomar medidas para evitar poluição marítima através

do derramamento de poluentes, seja intencional ou

acidental, e controlar atividades regulares das embarcações como a liberação

da água de lastro.

A Organização Marítima Internacional, organismo especializado da ONU, com sede em Londres, por exemplo, tem como objetivos a segurança na utilização do modal, e que suas estradas – mares – não sejam poluídos por acidentes náuticos ou por algumas atividades regulares como a troca de lubrificantes e a liberação de água de lastro. (CASTRO JR, 2004, p.124)

A IMO desempenha um papel essencial no cenário do transporte marítimo

internacional, sendo a responsável pelo bom funcionamento da navegação marítima,

trabalhando para que o trânsito de embarcações pelos mares e oceanos ocorra

tranquilamente, sem quaisquer obstáculos ou intervenções externas.

Também visando controlar e fiscalizar o transporte marítimo, foi fundado em

1981 em Paris, o International Maritime Bureau (IMB), que se trata de uma divisão

dentro da Câmara Internacional do Comércio, segundo Sekulich(2009, p.22) “É

Page 23: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

23

financiado por várias empresas do comércio marítimo, por seguradoras e outras

companhias preocupadas com a questão.” A principal função do IMB é ajudar a

combater o crime no setor do transporte marítimo, não importando sua natureza ou

procedência.

3.2.1 Navegação de Longo Curso

Um dos tipos de navegação do transporte marítimo é a navegação de longo

curso, que é aquela realizada entre portos de diferentes países. Indiferentemente da

distância que é percorrida, esta caracterização se deve à navegação ser nacional ou

internacional, esta sendo o caso do longo curso.

Devido à grande variedade de embarcações, o tráfego marítimo hoje está composto de aproximadamente 30 mil navios que possibilitam o transporte de algo em torno de 6 milhões de toneladas por ano, no comércio internacional. Dentro deste número estão todos os tipos de mercadoria, granéis líquidos tem 36% de participação, assim como os granéis sólidos, e 27% correspondem à carga geral. (NUNES, 2010)

Toda essa mercadoria é transportada por navios que trafegam em linhas

regulares e não regulares. A primeira é aquela em que a embarcação faz sempre a

mesma rota, partindo de determinado porto e com escalas agendadas para portos já

estabelecidos em sua rota. De acordo com Keedi e Mendonça (2003, p.96) “São

navios cujos controles são de absoluta exclusividade dos armadores, não havendo

ingerência dos embarcadores.”

Já as linhas não regulares são aquelas que não possuem uma rota pré-

estabelecida. As viagens acontecem de acordo com as oportunidades que surgem, o

serviço fica a total conveniência dos armadores, e não costumam ser anunciados

nos portos. Segundo Nunes (2010), “O navio que opera nesta situação é conhecido

como tramp. Este serviço é muito utilizado para o transporte de granéis.” A indústria

que mais utiliza o serviço de linhas não regulares é a indústria petrolífera, que na

maioria das vezes possuem suas próprias embarcações, ou fazem um contrato de

afretamento para utilizar o espaço total ou parcial do navio.

Page 24: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

24

3.2.2 Navegação de Cabotagem

Diferentemente da navegação de longo curso, a cabotagem é a navegação

feita entre portos do mesmo país, neste caso, utilizando as vias marítimas. Segundo

Nunes (2010) a cabotagem pode ser dividida em duas subcategorias, “[…] grande

cabotagem é efetuada entre portos brasileiros e entre estes e aqueles da Costa

Atlântica da América do Sul, Antilhas e Costa Leste da América Central, exceto

Porto Rico e Ilhas Virgens.” Já se referindo à pequena cabotagem Nunes (2010) diz

que “[…] compreende a costa brasileira, sendo que a embarcação não se afasta

mais de 20 milhas da costa e faz escala em portos que não excedam de 400 milhas.”

Porém, tais denominações não possuem embasamento legal, já que os

países continuam a ser independentes um dos outros apesar da distância, ou de

pertencerem a um mesmo bloco econômico. Portanto, oficialmente, a navegação de

cabotagem se restringe àquela entre portos do mesmo país, não podendo ter suas

mercadorias armazenadas em recinto alfândegado.

Tem sido muito comum, na navegação ligando portos de países do Mercosul, a denominação grande cabotagem, o que obviamente não faz qualquer sentido, e nem tem respaldo legal. O Mercosul é um bloco, mas os países continuam sendo diferentes e indepentendes. (KEEDI; MENDONÇA, 2003, p.69)

Por ser realizada na costa marítima de um país, a cabotagem pode ser

considerada uma navegação costeira, que é aquela que ocorre nos limites de

visibilidade da costa, no entanto, é importante realçar que nem toda navegação

costeira é considerada cabotagem, já que mais de um país pode estar situado na

mesma costa marítima. ( KEEDI, MENDONÇA, 2003)

O Brasil, por usufruir uma extensa costa, quase 8 mil kilômetros, possui

grande potencial para desenvolvimento da navegação de cabotagem, porém,

segundo Canellas (2010), “[...] a cabotagem corresponde a apenas 13,6% de toda a

carga que é transportada no Brasil.” Número relativamente inexpressivo

considerando a quantidade de mercadorias que circula no território nacional pelas

vias rodoviárias, e que enfrentam estradas em péssimas condições,

congestionamentos, além do tempo de trânsito ser, em muitos casos, infinitamente

maior, se comparado ao modal marítimo.

Page 25: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

25

3.2.3 Navegação de Apoio Portuário

O Manual do Trabalhador Portuário (2001) define a navegação de apoio

portuário como sendo “[...] a realizada exclusivamente nos portos e terminais

aquaviários, para atendimento a embarcações e instalações portuárias.” Este tipo de

navegação tem a função de auxiliar embarcações em suas atracações e

desatracações, procurando evitar qualquer tipo de avaria, tanto à embarcação,

quanto às dependências portuárias.

O serviço de praticagem está entre os oferecidos pelo apoio portuário,

juntamente com o serviço dos rebocadores. Considerado um serviço de

assessoramento obrigatório, a praticagem é realizada através de embarcações

menores que partem do porto até o navio a ser atracado, no qual o prático sobe a

bordo para auxiliar o capitão com informações necessárias, como os ventos e marés

locais, e informações específicas de cada porto como calado, e quaisquer outros

fatores que julgue importante para que a atracação ocorra com perfeição. Também é

de responsabilidade da praticagem informar ao capitão quantos rebocadores serão

necessários para efetuar a operação. Apesar de colaborarem com a atracação, os

práticos não serão responsáveis por eventuais acidentes que possam vir a ocorrer

durante as manobras, já que a palavra final permanece sendo do capitão do navio,

portanto este é o responsável pela embarcação.

A praticatem é um serviço obrigatório de assessoramente e facilitação das manobras que inicia no momento em que o navio ingressa na zona de praticagem estabelecida para cada porto. O serviço é prestado pelos práticos, que se deslocam do porto ao navio fundeado em embarcações auxiliares menores (lanchas de praticagem) e sobem a bordo através da escada lateral. Os práticos conhecedores de marés, ventos, e principamente das características de cada porto indicam ao capitão do navio o canal de acesso e determinam quantos rebocadores serão necessários para auxiliar o atraque da embarcação. (VIEIRA, 2003, p.25)

Assim como a praticagem, o serviço dos rebocadores é indispensável para a

navegação de apoio portuário. É de responsabilidade da rebocagem colaborar com

a praticagem, auxiliando na atracação das embarcações. Segundo Vieira (2003,

p.25) “As empresas rebocadoras contam com pequenas e potentes embarcações

que auxiliam no atraque do navio ao cais do porto [...]”.

Page 26: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

26

Atualmente, um porto considerado moderno conta com rebocadores com

força de tração de cerca de 45 toneladas, quando há 25 anos atrás, a maior potência

tracionava em média 15 toneladas. (ALDERTON, 2010)

3.2.4 Navegação de Apoio Marítimo

De acordo com a Lei nº 9.432 de 8 de janeiro de 1997, sobre a ordenação do

transporte aquaviário no Brasil, a definição de navegação de apoio marítimo se dá

por “[…] a realizada para o apoio logístico a embarcações e instalações em águas

territoriais nacionais e na Zona Econômica Exclusiva5, que atuem nas atividades de

pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos […]”.

A exploração do petróleo no fundo do mar iniciou-se em 1920 nas regiões

costeiras da Europa, mas foi a criação da Organização dos Países Exportadores de

Petróleo (OPEP) em 1960 que alavancou a tecnologia na produção de petróleo

offshore. No início da década de 70, a Petrobrás produzia cerca de 170 barris do

mineral por dia, quantidade pequena, para a demanda de um país do tamanho do

Brasil, portanto resolveu voltar suas explorações para o mar, o que fez com que sua

produção sofresse um significativo aumento. Hoje o petróleo proveniente do mar

corresponde a 80% de todo o petróleo consumido em território nacional. Operando

com tecnologia de ponta, a Petrobrás bateu recordes de extração em alto mar,

produzindo a 1.300 metros de profundidade. (SILVEIRA, 2010)

A navegação de apoio marítimo tem a função de auxiliar a indústria petrolífera

e suas unidades de produção e exploração em alto mar. Desde a estimulação de

poços de petróleo, reboque, manuseio de âncoras até o controle de tanques de água

de lastro de plataformas semi-submersíveis, estão entre os serviços prestados por

empresas de apoio marítimo. Devido à quebra do monopólio da Petrobrás no setor,

muitas empresas estão aparecendo no mercado brasileiro, gerando uma

5 De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, art.55 “A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar territorial e a este adjacente, sujeita ao regime jurídico específico estabelecido na presente Parte, segundo o qual os direitos e a jurisdição do Estado costeiro e os direitos e liberdades dos demais Estados são regidos pelas disposições pertinentes da presente Convenção.”

Page 27: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

27

concorrência necessária, o que faz com que a mão de obra se torne cada vez mais

especializada, e que empregos sejam gerados direta e indiretamente.

Cada vez mais, esta indústria ganha importância no nosso país, quer seja no nível de exigência de qualificação de mão de obra, quer seja na geração de empregos. A quebra do monopólio de exploração da Petrobrás traz novas empresas ao mercado brasileiro. A reboque, os armadores, deverão apresentar índices operacionais cada vez melhores. (SILVEIRA, 2010)

Com o crescimento exponencial da Petrobrás, as empresas de navegação de

apoio portuário se tornaram essenciais para a indústria petrolífera nacional, e

consequentemente para a economia brasileira, que depende da Petrobrás para

atender a demanda nacional e internacional dos derivados de petróleo.

3.2.5 Registros de Embarcações

Navios são bens de propriedade móvel, e para que a embarcação esteja apta

a navegar, além de apresentar toda sua estrutura física em perfeitas condições de

navegabilidade, são necessários documentos que apontem informações, como seu

nome, posse, tamanho, peso, tonelagem e nacionalidade. Segundo Raphael (2003,

p.40) “No alto mar, nenhum Estado exerce soberania; existe um vácuo jurídico onde

não há lei; criou-se a nacionalidade onde o navio que a receber também receberá as

leis do Estado que a concedeu.”

A nacionalidade é a característica mais importante do navio, pois é através

dela que é possível identificar qual legislação será aplicada àquela embarcação.

Após ter sua nacionalidade registrada, o navio tem o direito de proteção de seu

Estado nacional, todos os tratados assinados pelo país que o registrou também

serão aplicáveis ao navio, assim como benefícios particulares que cada Estado pode

proporcionar às embarcações que arvorarem sua bandeira. (MUNIZ, 2009)

Portanto, a embarcação se torna uma extensão do país da bandeira que

arvora. Tudo o que ocorre nas dependências do navio é considerado como ocorrido

no território do Estado no qual a embarcação foi registrada. Desta forma, mesmo

Page 28: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

28

que o navio se encontre nas águas de outro país, em outra soberania, crimes6,

nascimentos, mortes, casamentos e quaisquer outros acontecimentos estão sujeitos

à legislação do país de nacionalidade da embarcação.

Mesmo quando um navio se encontra em águas territoriais de um outro Estado, as pessoas que se encontram a bordo estão sujeitas às leis do país cuja bandeira o navio arvora. Nascimentos, mortes, e casamentos a bordo são considerados como se tivessem ocorrido no país que concedeu a nacionalidade ao navio, mesmo quando o navio está atracado. (RAPHAEL 2003, p.40)

É importante ressaltar que a nacionalidade não está ligada à propriedade, a

pessoa física ou jurídica que detém a posse da embarcação, não tem

necessariamente a mesma nacionalidade da bandeira do navio. De acordo com

Raphael (2003 p.41), “Cada Estado fixará condições que garantirão sua

nacionalidade aos navios, para o registro dos navios em seu território, e para o

direito de arvorar sua bandeira.” Portanto, cada Estado possui suas exigências para

autorizar embarcações a usufruirem de sua nacionalidade, e só depois de ter sua

bandeira registrada é que o navio recebe autorização para navegar.

3.2.5.1 Bandeiras de Conveniência

Segundo o artigo 92 da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do

Mar (CNUDM) concluída em 10 de dezembro de 1982, referente à nacionalidade dos

navios, “Os navios devem navegar sob a bandeira de um só Estado, e, salvo nos

casos de tratados internacionais ou na presente Convenção, devem submeter-se á

jurisdição exclusiva deste Estado.” Sendo assim, oficialmente os navios podem ter

somente uma bandeira registrada, devendo se reportar ao Estado correspondente.

Porém, cabe à cada Estado conceder o tipo de registro que lhe convém,

podendo este ser do tipo Nacional, que é quando a embarcação possui um vínculo

expressivo com o Estado no qual foi registrada, como previsto na CNUDM. Mas

também podem ser concedidos os chamados Registros Abertos, que em alguns

6 Crime: Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena.(Alexandre apud Mirabete, 2000)

Page 29: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

29

casos, dependendo do país, possibilitam que a embarcação possua um segundo

registro, e aquelas chamadas de bandeiras de conveniência.

Um navio que navega sob bandeira de dois ou mais Estados, usando-as de acordo com sua conveniência, não pode alegar qualquer das nacionalidades em questões relativas a qualquer outro Estado, e pode ser assimilado a um navio sem nacionalidade. Até mesmo ser confundido com um navio pirata. (RAPHAEL, 2003, p.42)

Bandeiras de conveniência são registros concedidos por Estados que não

possuem qualquer vínculo com a embarcação e na grande maioria das vezes não

chegam a ter o navio em suas águas territoriais. Isso ocorre devido aos benefícios

oferecidos por estes países, como incentivos fiscais, rapidez nos processos de

registro, baixo custo, fiscalização mínima ou inexistente dentro das embarcações,

possibilidade de tripulação estrangeira, anonimato referente aos reais proprietários

do navio, enfim, fatores que contribuem para uma maior lucratividade. (MARTINS,

2007)

O lucro das empresas de navegação com as bandeiras de conveniência, pode

significar prejuízo na economia dos países que possuem empresas de navegação

em seu território, já que raramente são feitos Registros Nacionais. Apesar de ser

uma prática polêmica, as bandeiras de conveniência são muito comuns no

transporte marítimo e são utilizadas pelas maiores empresas de navegação do

mundo, que registram suas embarcações em países conhecidos por serem paraísos

fiscais como: Libéria, Panamá, Honduras, Bahamas, Filipinas, Belize, Ilhas Cayman,

Ilhas Cook, Luxemburgo, entre outros.

Segundo Martins (2007), “No Brasil, apenas 3% do total arrecadado com frete

marítimo é gerado por navios que ostentam a bandeira brasileira.” Detentor de uma

altíssima carga tributária, o Brasil não tem condições de competir com os países que

oferecem muitos benefícios fiscais àqueles que registrarem suas embarcações com

bandeiras de conveniência.

Page 30: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

30

3.2.6 Tipos de Embarcações

Segundo a Lei nº 9.537 de 11 de novembro de 1994 sobre a segurança do

transporte aquaviário, embarcação é “Qualquer construção, inclusive as plataformas

flutuantes, sujeita a inscrição na autoridade marítima e suscetível de se locomover

na água, por meios próprios ou não, transportando pessoas ou cargas.” É possível

também, acrescentar que uma embarcação é composta de um conjunto de partes,

sendo que estas avulsas, não são consideradas embarcações, assim como também

quando estão em fase de construção, ainda não possuem condições de

navegabilidade.

Embarcação é uma construção, um conjunto de coisas que formam um todo orgânico; é uma coisa composta e, deste modo, uma parte sua, individual, não é uma embarcação. Portanto, não são embarcações: tábuas, pranchas, chapas e etc. (ANJOS; GOMES, 1994, p.27)

As embarcações são as responsáveis pelo funcionamento do transporte

marítimo, pois é através delas que é possível transportar mercadorias e pessoas de

uma localidade para outra, podendo ser classificadas como públicas ou privadas que

possuem diferentes finalidades. Os navios de Estado são embarcações que

navegam em função do poder público, que as destina a atuar em atividades

exclusivamente estatais e não comerciais. Neste âmbito, também estão incluídos os

navios de guerra.

Navios de Estado são navios a serviço do poder público, utilizados em atividades do Estado, que praticam atividades públicas como navios-escola, navios-hospital, iates dos Estados, navios de fiscalização, navios de resbastecimentos e outros do uso exclusivo do Estado em serviços governamentais e não comerciais. No contexto de navio público ainda se inserem os navios de guerra. (MARTINS, 2008, p.151)

Já as embarcações privadas podem ter sua finalidade comercial, na qual

estão incluídos os navios cargueiros que transportam mercadorias; de lazer e

recreio, na qual se encontram os cruzeiros, veleiros e iates utilizados para passeio;

de serviços especiais; categoria na qual se enquadram os navios quebra-gelos, de

salvamento, dragas, oceanógrafos e etc; e de apoio portuário, como já dito

previamente, são aquelas que prestam auxílio às dependências do porto com

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31

reboque e praticagem, e também são utilizados no apoio marítimo. (MARTINS,

2008)

3.2.6.1 Navios Cargueiros

Também conhecidos como navios de comércio, as embarcações de carga

são aquelas que podem ser públicas ou privadas, utilizadas para o transporte

marítimo de mercadorias. De acordo com Martins (2008, p.152) “Apresentam rol

extenso de subdivisão quanto ao projeto de construção, sistema de carregamento,

equipamento de içamentos de cargas, dentre outros critérios [...].”

Os navios cargueiros representam 99% da frota mundial e costumam ser

construídos de acordo com o tipo de mercadoria que será transportada, podendo ser

classificados como porta contêineres, aqueles com capacidade para carregar os

mais diversos tipos de mercadorias armazenadas em contêineres, tanto carga geral

quanto refrigerada; graneleiros especializados no transporte de carga líquida,

conhecidos como navios tanque, que são equipados com sistemas de carga e

descarga específicos para líquidos em geral, e também petróleo (petroleiros), gás e

substâncias químicas; assim como graneleiros especializados no transporte de

grãos, aqueles que são projetados para armazenar e transportar carga seca a

granel, como cereais, açúcar, sal, carvão e etc. (MARTINS, 2008)

3.2.6.2 Embarcações de Lazer

Também conhecidas como de recreio, Martins (2008, p.152) define

embarcação de lazer ou recreio como “[…] as projetadas para a atividade de

transporte marítimo de pessoas com o intuito de lazer. Englobam as espécies de

navios de regata e cruzeiro marítimo.”

São embarcações que foram construídas com o objetivo de transportar

passageiros para diversas localidades proporcionando-os lazer, ou para a prática de

Page 32: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

32

esportes aquáticos. Estão incluídos nesta categoria os cruzeiros marítimos, que são

navios privados, de grande porte, utilizados para transporte de pessoas em grande

quantidade, e podem percorrer longas distâncias sem reabastecer, este tipo de

serviço possui fins lucrativos; iates e lanchas, que são embarcações de menor porte

a motor, também privadas, que transportam poucas pessoas e percorrem menores

distâncias; e os navios de regatas, veleiros, jet-skis, e outros equipamentos que

além do passeio, também podem ser destinados aos esportes aquáticos.

Assim como acontece com as embarcações mercantes, também é necessário

que as embarcações de lazer possuam documentos que informem seu nome,

tamanho, peso, classificação, proprietário, assim como habilitação apropriada à

pessoa que a conduzirá.

Tanto as embarcações mercantes quanto as de lazer vêm sendo alvos de

crimes em alto mar e quando estão atracadas, o que também ocorre é a utilização

das mesmas como meio de transporte para práticas criminosas, que é o caso do

tráfico internacional de drogas. Acredita-se que isso ocorra devido à vulnerabilidade

das embarcações e às brechas existentes na legislação internacional, o que dificulta

que os responsáveis sejam julgados e punidos.

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33

4 A JURISDIÇÃO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS CRIMES INTERNACIONAIS NO ÂMBITO DO TRANSPORTE MARÍTIMO

Assim como a propriedade que se encontra em terra, as embarcações

também sofrem com a criminalidade. Acredita-se que os crimes marítimos tiveram

início devido à falta de segurança e legislação que amparasse as vítimas e punisse

os criminosos, mas também devido à facilidade em praticar os crimes, já que as

oportunidades se apresentavam nas mais diversas maneiras.

Tanto quando estão atracadas quanto em alto mar, embarcações são alvos

de piratas, organizações terroristas, tripulantes mal intencionados e também

utilizadas para transportar drogas, pessoas e animais ilegalmente. O derramamento

de óleo e a poluição em geral, são alguns dos crimes internacionais contra o meio

ambiente que ocorrem no setor da navegação que preocupam os ativistas

ambientais e organizações internacionais.

Para determinar quem julga e pune os responsáveis pelos atos criminosos

existem órgãos e tribunais que procuram cumprir a legislação internacional, porém,

devido às diferentes leis dos Estados e do direito internacional, não é raro ocorrerem

conflitos na hora de decidir como enquadrar, quem vai julgar, e possivelmente

aplicar a pena aos criminosos responsáveis.

4.1 Jurisdição Internacional

Segundo o anuário da Comisión de Derecho Internacional7 III apud Araújo

(2010), é classificada como crime internacional “Una violación por un estado de una

obligación, tan esencial para la salvaguardia de intereses fundamentales de la

comunidad internacional, que su violación está reconocida como crimen por esa

comunidad en su conjunto.”8 Ou seja, o ato cometido por um Estado ou cidadão do

mesmo, que vá de encontro com os interesses da comunidade internacional,

7 Tradução livre da acadêmica: Comissão de Direito Internacional 8 Tradução livre da acadêmica: A violação por um Estado de uma obrigação tão essencial para a salvaguarda dos interesses fundamentais da comunidade internacional, que sua violação seja reconhecida como crime por essa comunidade como um todo.

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34

prejudicando e ameaçando a segurança da mesma, sendo assim classificado como

crime internacional. Portanto, mesmo que um crime ocorra sob a soberania9 de um

Estado, seja em terra ou em alto mar, se este for qualificado como internacional,

estará sujeito à legislação internacional e não necessariamente à de seu Estado

soberano.

An international crime is such act universally recognized as criminal, which is considered a grave matter of international concern and for some valid reason cannot be left within the exclusive jurisdiction os the State that would have controle over it under ordinary circumstances.10 (TRIBUNAL DE NUREMBERG11 apud SAUL 2006, p.11).

Outros crimes que chocam a sociedade internacional, também podem ser

considerados crimes internacionais, desta forma, para ser classificado como crime

internacional devem ser analisadas todas as informações e particularidades de cada

caso, pois o que se aplica a um crime, pode não necessariamente se aplicar a outro.

A ONU é um orgão de extrema importância no cenário internacional quando

se trata de crimes, pode-se dizer que sua criação ocorreu devido aos crimes

internacionais, especialmente os de guerra, com o intuito de prover a segurança

internacional, manter a paz mundial, através de setores destinados à funções

específicas, como é o caso do Conselho de Segurança da ONU (CSNU).

A principal organização internacional da atualidade, a Organização das Nações Unidas é oriunda destas guerras. Sucessora da Liga das Nações a ONU foi criada com intuito de manter a paz mundial, e aos seus órgãos foram designadas funções para o desenvolvimento deste objetivo, em especial ao Conselho de Segurança (CSNU). (HEIDRICH, 2003)

Outro órgão criado para combater a criminalidade no âmbito internacional é o

Tribunal Penal Internacional (TPI), que tem como objetivo garantir que os Estados

julguem seus respectivos crimes de maneira coerente, e apropriada para cada ato.

Se perceber que assim não for feito, é de responsabilidade do TPI proceder da

maneira correta, enquadrando e punindo os criminosos de acordo com a legislação

9 A soberania é compreendida como o poder do Estado de excercer o domínio sobre seu território de forma independente. (Varella, p.238, 2009) 10 Tradução Livre do Autor: Um crime internacional é tal ato universalmente reconhecido como criminoso, que é considerado um assunto grave de preocupação internacional e por algumas razões válidas não pode ser deixado para a jurisidição exclusiva do Estado que teria controle sobre o assunto em circunstâncias normais. 11 Tribunal de Nuremberg: “Instituído ao final da Segunda Guerra Mundial em 1946, para punir os responsáveis pelas atrocidades cometidas durante este período.” (Heidrich, 2003)

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35

internacional. Segundo Marrul (2010), “O TPI é a tentativa da comunidade

internacional de julgar e punir pessoas que cometam crimes contra a humanidade,

tendo, portanto, o objetivo de evitar a impunidade, lembrando-se sempre das lições

do passado.”

Crimes como aqueles contra os direitos humanos, genocídio, de guerra;

socioeconômicos, como o dumping, subsídios ilegais, e outras práticas ilegais de

comércio que causam a concorrência desleal; crimes contra a paz; contra a

humanidade; são classificados como internacionais por tratados, convenções e

estatutos internacionais, criados e organizados com o objetivo de conhecer os

acontecimentos e punir os responsáveis pelos crimes. Porém, este trabalho focar-se-

é focar nos crimes internacionais que ocorrem no âmbito do transporte marítimo.

4.1.1 Direito Internacional Público

Pode-se dizer que o Direito Internacional Público veio para auxiliar os Estados

à resolver problemas que afetam a comunidade internacional e que antes

permaneciam sem resolução, ou tinham um desfecho inapropriado, Varella (2009,

p.1) define o Direito Internacional Público (DIP) como sendo “[...] o conjunto de

regras e príncipios que regula a sociedade internacional.” Sociedade esta que é

composta por elementos, como Organizações Internacionais e principalmente os

Estados.

O DIP é uma vertente do direito internacional que foi criada na Idade Média,

simultâneo a formação do Estado, e foi ganhando respaldo com o fortalecimento do

Estado Europeu e a evolução do transporte marítimo. Cresceu significativamente

durante o século XX, principalmente na década de noventa, e atualmente continua a

sofrer constantes transformações, sendo um dos ramos do direito que mais se

atualiza no decorrer do anos. (VARELLA, 2009)

Tendo o Estado como principal objeto de estudo, o DIP não se confunde com

o Direito Internacional Privado, já que este foi criado com o objetivo de estudar o

conflito das leis dos Estado no cenário internacional, enquanto aquele se preocupa

com as relações entre os Estados e por isso recebe o adjetivo público.

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36

O Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica onde se definem os princípios, se formulam os critérios, se estabelecem as normas a que deve obedecer a busca de soluções adequadas para os conflitos emergentes de relações jurídico-privadas internacionais. (FROTA, 2010)

Segundo Varella (2009, p.2) “[...] quando a teoria jurídica ou os tribunais

internacionais usam a expressão direito internacional, sem adjetivo, a referência é ao

direito internacional público.” Devido ao fato de ter se originado depois, é necessário

usar o adjetivo privado quando referir-se ao Direito Internacional Privado.

Desta forma, o principal objeto de estudo do DIP é o Estado, porém, para

estudar o mesmo, é necessário que sejam estudados os outros representantes que

atuam no cenário internacional, conhecidos como sujeitos e atores do DIP.

Os sujeitos de direito internacional são os Estados e as Organizações Internacionais. Sujeitos de direito são aqueles capazes de ser titulares de direitos e obrigações. No direito internacional, ainda centrado no Estado, apenas Estados e Organizações Internacionais (formadas por Estados) têm essa capacidade. (VARELLA, 2009, p.3)

De forma geral, são considerados sujeitos do DIP, apenas os Estados e as

Organizações Internacionais, já que o conceito se dá através daqueles que possuem

direitos e obrigações para com a sociedade internacional, e somente os mesmos

possuem tal capacidade. Diferentemente dos sujeitos, o conceito de atores do DIP é

muito mais amplo e abrange mais participantes, além de Estados e Organizações

Internacionais, também são considerados atores internacionais, as Organizações

Não Governamentais (ONGS), as empresas, os indivíduos e outros. Segundo

Varella (2009, p.3), “A expressão atores internacionais é, portanto, mais ampla que

sujeitos do direito internacional e, então, mais adequada para compreender estas

outras categorias.” Vale salientar, que os atores internacionais também possuem

direitos e deveres, porém estes são concedidos pelos Estados de forma específica.

Cada Estado possui sua legislação interna, que muitas vezes pode conflitar

com o DIP, devido a este fator alguns doutrinadores o criticam por achá-lo sem

obrigatoriedade e impotente perante o direito interno dos Estados, o que é

interpretativo, já que o direito internacional possui sim regras que devem ser

cumpridas externamente e internamente, porém, estas regras costumam afetar

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37

milhões de pessoas e por isso a falta de aplicação de algumas das mesmas é mais

expressiva no DIP do que no direito interno de cada Estado. (VARELLA, 2009)

Não existe no direito internacional um poder soberano acima dos Estados, um

dos princípios gerais do DIP é a igualdade soberana, que determina que nenhum

Estado está acima dos demais, sendo que as Organizações Internacionais se

encontram no mesmo patamar dos Estados, podendo inclusive atuarem de maneira

mais incisiva nas áreas específicas que lhes cabe. A ONU, a Organização Mundial

do Comércio (OMC), entre outras Organizações Internacionais universais, têm suas

competências limitadas às suas respectivas àreas de especificidade. (VARELLA,

2009)

O DIP desempenha um papel fundamental na sociedade internacional

moderna, existindo para que sejam respeitados todos os direitos e deveres, tanto de

organismos internacionais, como dos indivíduos e demais atores, através da

organização e do cumprimento de suas normas. Sem o direito internacional é

provável que estaríamos vivendo em uma sociedade retrógrada, ainda mais injusta e

violenta.

4.1.1.1 Direito Internacional Penal

Antes de ser internacional, cada Estado possui o seu Direito Penal interno,

que alguns juristas preferem denominar como criminal ao invés de penal, por achá-lo

mais apropriado desta forma, porém, neste trabalho o mesmo será citado como

penal, e pode ser conceituado como sendo um complexo de princípios e regras que

têm como objetivo evitar e reprimir acontecimentos que vão de encontro com a

ordem jurídica e social, classificando os delitos, organizando e definindo as penas

mais apropriadas para cada caso específico.

[...] como o conjunto sistemático de princípios e normas que visam prevenir e reprimir os fatos que atentam contra a ordem jurídica e social, classificando e conceituando as infrações, organizando e cominando penas que lhes correspondem e determinando, por mim as condições da responsabilidade penal que lhes cabe. ( ARAÚJO, 2000, p.5)

Page 38: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

38

Sendo considerado uma das ramificações do DIP o Direito Internacional Penal

é classificado, segundo Araújo (2000, p.6) “[...] como o conjunto de preceitos

jurídicos pactuados pelos Estados que fixam penas para aqueles ilícitos que

ofendem o interesse internacional, penas essas que deveriam ser aplicadas por

parte de um Organismo Internacional [...]”, já Marques (2002, p.247) o classifica

como “[...] o conjunto de regras de direito interno relativas à designação da lei penal

aplicável no espaço, quando há elemento estrangeiro[...]”. Desta forma, entende-se

que o Direito Internacional Penal determina qual pena deve ser aplicada quando

ocorrem crimes internacionais.

Também no meio de abrangência do Direito Internacional Penal, alguns

juristas incluem o Direito Penal Internacional , que como definiu Fierro (1977) apud

Araújo (2000, p.7) “o conjunto de normas que determinan los limites reciprocos de

las distintas competencias nacionales en el orden penal y en la obrigación de

asistencia y auxilio en la represión de la delincuencia que mutuamente se deben

entre si los Estados”12. Portanto, no caso do primeiro, os crimes devem ser julgados

por um orgão internacional quando ocorrem no espaço e ofendam a comunidade

internacional, já no segundo, é o conjunto de regras que são aplicadas aos Estados,

e os mesmos devem classificá-lo e julgá-lo juntos, através de uma cooperação.

4.1.1.1.1 Tribunal Penal Internacional

A história da humanidade é composta por relatos de crimes terríveis que

permanecem impunes, tal fato foi determinante para que os crimes continuassem a

se repetir sem que nada acontecesse aos criminosos. Para a comunidade

internacional isso se deve ao falho DIP, que devido às brechas em sua legislação

não garantia julgamento aos criminosos responsáveis. Diante de inúmeros

acontecimentos, tornou-se indispensável a criação de um novo organismo

internacional, que fosse livre de intenções políticas, e estipulasse novas regras

específicas para punir os responsáveis por crimes internacionais, principalmente

12 Tradução livre da acadêmica: O conjunto de normas que determinam os limites recíprocos das distintas competências nacionais na ordem penal, e a obrigação de assistência e auxílio na repressão da delinquência que mutuamente se devem os Estados entre si.

Page 39: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

39

aqueles contra a humanidade. Assim surgiu o Tribunal Penal Internacional.

(MARRUL, 2010)

A comunidade internacional deu um grande passo pós II Guerra Mundial.

Segundo Heidrich (2003, p.32) “Ao final da II Guerra, mais uma mudança

considerável ocorre e os indivíduos passam a serem tidos também como sujeitos do

DIP.” Desta forma, foi criado o Tribunal de Nuremberg, com o objetivo de julgar os

responsáveis pelos crimes contra a humanidade cometidos durante a II Guerra

Mundial, podendo-se dizer que este foi um divisor de águas para a criação do TPI.

Também conhecido como Corte Penal Internacional, o TPI é um tribunal

permanente criado pelo Estatuto de Roma13, que entrou em vigor no dia 2 de julho

de 2002. Segundo o artigo 5º do Estatuto de Roma, compete ao TPI julgar os crimes

de genocídio, aqueles praticados com a intenção de destruir grupos étnicos, raciais

ou religiosos; contra a humanidade, incluindo homicídio, tortura, escravidão, violação

sexual e o apartheid; crimes de guerra, todos aqueles que ocorrem quando um

Estado se encontra em guerra; e crimes de agressão em geral. (STEINER, 2010)

É importante salientar que por ser vinculado à ONU, o TPI só pode excercer

sua competência se o CSNU assim decidir, e também só estão sujeitos à jurisdição

do TPI os Estados e seus respectivos cidadãos que ratificarem o Estatuto de Roma.

Porém, segundo Steiner (2010), “Como exceção à regra, o Tribunal poderá exercer

sua jurisdição sobre qualquer situação a ele remetida pelo Conselho de Segurança

da ONU, não importando, nesse caso, se o crime tiver sido cometido em território de

Estado-Parte, ou por nacional de Estado-Parte.” Portanto, se o CSNU julgar que o

Estado não está julgando apropriadamente o crime, é possível que o TPI o julgue

mesmo que este Estado não tenha ratificado o Estatuto de Roma.

A função do TPI é auxiliar o DIP, procurando expandir sua jurisdição, evitando

falhas nos julgamentos e criminosos impunes.

O Tribunal será integrado por 18 juízes, no mínimo, que se distribuirão por três Seções: a Seção de Questões Preliminares, incumbida de examinar a admissibilidade dos processos, a Seção de Primeira Instância, que proferirá os julgamentos, e a Seção de Apelações, responsável pela apreciação dos recursos. (LEWANDOWSKI, 2010)

13 Estatuto de Roma: Um tratado adotado com o voto de 120 nações a favor e 7 contra (com 21 abstenções), em 17 de julho de 1998, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o estabelecimento do Tribunal Penal Internacional, celebrada em Roma. (Marrul, 2010)

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40

Antes de se tornar permanente, eram criados tribunais internacionais para

casos específicos, conhecidos como ad hoc, como foi o caso de Nuremberg, ex-

Iugoslávia14 e Ruanda15, atualmente o TPI investiga os casos que são de sua

responsabilidade e estes são julgados em sua sede, que está localizada em Haia,

na Holanda.

4.1.2 Direito Marítimo

É compreendido como Direito Marítimo o conjunto de regras com respaldo

legal de tratados, convenções ou dos usos comerciais, que regulamentam as

relações jurídicas na navegação e em tudo o que ocorre em águas navegáveis, quer

seja referente à embarcações, comércio praticado, contratos decorrentes do

comércio, ou pessoas que trabalham ou utilizam do transporte marítimo como meio

de locomoção, desta forma, pode ser aplicado tanto nas relações privadas, entre

particulares, quanto nas relações entre atores e sujeitos internacionais, interna e

externamente.

Entende-se como Direito Marítimo o complexo de regras, emanadas das leis, de tratados ou dos usos comerciais, pelos quais se regem as relações jurídicas da navegação ou de todo o comércio sobre águas navegáveis, sejam referentes às embarcações ou navios, sejam referentes às pessoas que participam de suas atividades ou aos contratos que se geram no comércio marítimo. (PLÁCIDO e SILVA, 1999, p.275)

Pode-se dizer que o direito marítimo é mais abrangente que o direito do mar

(law of the sea), pois este regulamenta o tráfego da navegação marítima nacional ou

internacional, dando ênfase a soberania e a jurisdição dos Estados, e a legislação

14 O Tribunal Penal Internacional para a Ex-Iugoslávia foi criado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas com o propósito de responsabilizar os autores dos crimes contra o Direito Internacional Humanitário cometidos durante a guerra que culminou com afragmentação da Ex-Iugoslávia em diversos Estados. (ROCHA, 2003) 15 O Tribunal Internacional para o Ruanda tem competência para julgar as pessoas responsáveis por violações graves ao direito internacional humanitário cometidas no território do Ruanda, bem como os cidadãos ruandeses responsáveis por essas violações cometidas no território de Estados vizinhos, entre 1 de Janeiro 1994 e 31 de Dezembro de 1994. (Estatuto do Tribunal Internacional para o Ruanda, 1994)

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41

em alto mar, especialmente no que diz respeito à CNUDM. Desta forma, é possível

dizer que o direito do mar é um dos ramos do direito marítimo.

O direito do mar (law of the sea) regulamente especificamente, o tráfego internacional em alto mar, e em demais áreas, além de consagrar a soberania e a jurisdição dos Estados, especialmente nos termos dos dispositivos da CNDUM, que, fundamentalmente, deverá delimitar a natureza e a extensão do domínio marítimo. (MARTINS, 2008, p.10)

Foi com a intenção de unificar a legislação no setor dos transportes marítimos

que ocorreu a primeira CNUDM, porém, esta não foi ratificada por muitos países,

assim como a segunda edição, que terminou sem qualquer resultado. Foi somente

na terceira edição, em 1982, em Montego Bay, na Jamaica, que a conferência chega

ao fim com a assinatura de um tratado composto de 320 artigos. Este foi ratificado

por 117 Estados, e dentro do mesmo foram finalmente estabelecidos os conceitos de

mar territorial16, zona contígua17, águas interiores18, plataforma continental19, alto

mar20, zona econômica exclusiva, e outras normas que foram criadas com a função

de delimitar os direitos e deveres de cada Estado em alto mar ou em águas

soberanas, e promover a segurança entre os membros ratificadores. (MARTINS,

2008)

Já com um conceito mais amplo, foi intitulado direito de navegação o

complexo de leis que envolvem a junção das navegações marítima e aérea, esta

última foi adaptada somente após o desenvolvimento do transporte aéreo. Segundo

Sampaio de Lacerda (1984, p.46) “Reconhecer-se assim a autonomia desse direito

16 Mar territorial: A soberania do Estado costeiro estende-se além do seu território e das suas águas interiores e, no caso de Estado arquipélago, das suas águas arquipelágicas, a uma zona de mar adjacente designada pelo nome de mar territorial. (CNUDM, 1982) 17 Zona Contígua: Numa zona contígua ao seu mar territorial, denominada zona contígua, o Estado costeiro pode tomar as medidas de fiscalização necessárias a: a) evitar as infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários no seu território ou no seu mar territorial; b) reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu território ou no seu mar territorial. (CNUDM, 1982) 18 Águas interiores: As as águas situadas no interior da linha de base do mar territorial fazem parte das águas interiores do Estado. (CNUDM, 1982) 19 Plataforma continental: A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. (CNUDM, 1982) 20 Alto mar: Todas as partes do mar não incluídas na zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado, nem nas águas arquipélagicas de um Estado arquipélago. (CNUDM, 1982)

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pelos traços particulares que há muito lhe são próprios, desde os primeiros tempos

históricos, quando lhe aplicavam somente a navegação feita pelo mar [...]”.

O direito marítimo, assim como o DIP, pode ser subdividido entre público ou

privado. Sendo direito marítimo público, segundo Martins (2008, p.9), aquele que

“[...] normatiza as relações emergentes das relações marítimas, atinentes ao tráfego

marítimo e à intervenção dos Estados nas regras de navegação, jurisdição e

soberania e de segurança da navegação a salvaguarda da vida humana, do navio e

da carga.” Já direito marítimo privado é aquele que regulamenta as relações entre os

particulares, porém, neste caso, aquelas que ocorrem no meio de transporte

marítimo. Segundo Costa apud Martins (2008, p.9) “O direito marítimo privado ou

direito comercial marítimo ocupa-se com os contratos marítimos e instituições que a

eles se prendem.”

Por abranger todas as vertentes do direito no âmbito do transporte marítimo,

o direito marítimo se tornou indispensável para que o comércio internacional exista

ocorrendo com segurança e justiça para todos os atores envolvidos, já que o

transporte marítimo é indispensável para que o comércio internacional continue

evoluindo e atingindo toda a população mundial. Sem o direito marítimo para

regulamentar, o setor estaria atrasado e decadente, o que acabaria por prejudicar as

inúmeras pessoas que dependem da atividade para sobreviver. Porém, apesar da

legislação marítima ter se tornado mais atuante no cenário internacional nos últimos

anos, o transporte marítimo ainda sofre e luta contra a criminalidade em sua

modalidade.

4.2 Principais Crimes Internacionais no Âmbito do Transporte Marítimo

O transporte marítimo, assim como outros modais de transporte sofre com a

criminalidade em geral, desde sua forma mais simples através de pequenos furtos,

até sequestros de embarcações de grande porte, ataques à bomba, e outros atos

violentos que muitas vezes terminam em mortes. Porém, por ocorrerem em alto mar,

onde as jurisdições se misturam e conflitam, a probabilidade destes crimes ficarem

impunes é muito maior, o que faz com que o âmbito marítimo seja alvo fácil para

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43

indivíduos mal intencionados, e que a criminalidade atinja cada vez mais aqueles

que dependem do transporte marítimo direta e indiretamente.

4.2.1 Terrorismo

Apesar da nomenclatura ser relativamente recente, assim como a discussão à

respeito, atos de terrorismo vêm ocorrendo há séculos, segundo Carr (2002, p.29)

apud Heidrich (2003) “Quando os romanos conquistavam um novo território era

comum exterminar os líderes locais para evitar as revoltas e os conflitos, fazendo

com que as populações obedecessem aos novos governantes [...]”, nos anos

seguintes atos semelhantes que causavam terror, como massacres, continuaram a

acontecer, porém, eram considerados causas dos conflitos armados. Hoje tais atos

podem ser considerados atos terroristas.

Atualmente ainda existem diferentes opiniões sobre o que é ou não um ato de

terrorismo, provavelmente isso se a deva toda complexidade que envolve esse tipo

de crime.

Any act intended to cause death or serious bodily injury to a civilian, or to any other person not taking an active part in the hostilities in a situation of armed conflict, when the purpose of such act, by its nature or context, is to intimidate a population, or to compel a government or an international organization to do or abstain from doing any act.21 (ONU apud DAVIS, p.13, 2008)

Por ser um assunto que toma dimensões gigantescas, e que se encontra sob

um microscópio na comunidade internacional, os conceitos variam de acordo com

cada doutrinador, alguns conceitos mais amplos, outros mais restritos circulam em

livros e outros meios de comunicação, a única certeza que se pode ter é de que um

ato de terrorismo se trata de um crime de caráter violento. Davis (2008, p.13)

conceitua terrorismo como sendo “Any act which induces pain, fear or death upon

21 Tradução livre da acadêmica: Qualquer ato com a intenção de matar ou causar séria lesão corporal a um civil ou qualquer pessoa que não faça parte das hostilidades em uma situação de conflito armado, quando o propósito de tal ato, em sua natureza ou contexto, é intimidar uma população, ou forçar um governo ou uma organização internacional de fazer ou se abster de fazer algo a respeito.

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innocent citizens, a particular culture, religion or representatives of authority, or to

wage destruction affecting economic commerce to suport an agenda.”22

Pode-se dizer que as causas políticas e religiosas são as principais causas de

atentados terroristas. Crimes que causem terror à grupos étnicos, Estados, ou

qualquer indivíduo inocente, podem ser considerado terrorismo, mas devido à

grande variedade de conceitos, e o fato de nenhum deles ser unânime, não é

possível restringir atos terroristas à somente políticos ou religiosos, afinal existem

outras influências que podem levar alguém ou um grupo a cometer um ato de

terrorismo.

O dia 11 de setembro de 2001 é considerado um divisor de águas para o

terrorismo internacional. O maior ataque terrorista da história, ocorreu quando quatro

aviões civis foram sequestrados por criminosos da organização terrorista Al Qaeda,

dois deles foram de encontro com um dos símbolos do capitalismo norte americano,

as torres do World Trade Center, em Nova Iorque, um terceiro colidiu com o

Pentágono, no estado da Virgínia, os destroços do quarto avião foram encontrados

na Pensilvânia, e acredita-se que este último tinha como destino a Casa Branca em

Washington D.C quando caiu, supostamente devido a um conflito entre passageiros

e sequestradores. Após investigações chegou-se a conclusão de que Osama Bin

Laden havia sido o idealizador e comandante do atentado que deixou mais de 3 mil

mortos, e chocou a comunidade internacional. (DUARTE, 2010)

Os atentados mudaram a maneira do mundo e principalmente dos Estados

Unidos, de olhar para o terrorismo, pois um crime dessas dimensões não poderia ser

ignorado e medidas de segurança seriam tomadas. Segundo Morella Jr. (2009, p.64)

“Após os Atentados Terroristas de onze de setembro nos Estados Unidos, passou-se

a analisar a questão terrorista não mais de maneira isolada, mas como uma grande

ameaça para o planeta [...]”. O medo tomou conta das pessoas nos grandes e

pequenos centros, principalmente daquelas que dependiam do transporte aéreo,

afinal, muitos temiam um outro ataque.

Várias foram as consequências que os ataques terroristas de 11 de setembro

causaram ao mundo, algumas delas perduram até os dias de hoje, desde maiores

medidas de segurança para passageiros e aeronaves, até as mais extremas como é

22 Tradução livre da acadêmica: Qualquer ato que cause dor, medo ou morte a cidadãos inocentes, uma cultura particular, religião ou representantes de autoridade, ou que cause destruição afetando o comércio econômico para suportar uma causa.

Page 45: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

45

o caso da guerra no Iraque, porém, é de maior relevância para este projeto tratar dos

crimes de terrorismo no âmbito do transporte marítimo.

Um dos casos mais conhecidos de práticas terroristas que ocorreram no

transporte marítimo é o caso do cruzeiro de bandeira italiana, Achille Lauro, que em

7 de outubro de 1985 foi atacado por quatro terroristas palestinos que sequestraram

o navio que navegava pelo Mar Mediterrâneo com mais de 400 pessoas à bordo,

entre passageiros e tripulantes, dos quais 19 eram norte americanos. A exigência

dos criminosos era a libertação de 50 membros da Frente de Libertação Palestina

(FLP), que estavam presos em Israel. O governo Reagan, na época presidente dos

Estados Unidos, avisou Israel para não fazerem qualquer tipo de acordo com os

terroristas, e também para nenhum dos países com portos no Mediterrâneo aceitar a

atracação do Achille Lauro sob o domínio dos sequestradores. Porém, quando a

marinha americana se preparava para invadir a embarcação, descobriram que os

terroristas não estavam mais à bordo, pois haviam feito um acordo com o governo

egípcio de que se entregariam se obtivessem imunidade e pudessem voltar a

Palestina. Logo que o navio foi libertado, o governo do Egito anunciou que um

passageiro americano, que se encontrava em cadeira de rodas foi executado pelos

sequestradores e teve seu corpo jogado ao mar, o que provocou fúria nos

americanos. Apesar dos apelos, os terroristas foram enviados para a Tunísia em um

avião egípcio, que logo foi localizado e interceptado pela aeronáutica americana e

forçado a aterrisar na Sicília, em território italiano. Em 1986 os executores do crime

foram julgados na Itália e condenados a longos anos de prisão. (MANNING, 2010)

Outro caso conhecido é o ocorrido com o USS Cole, que é um navio destroyer

da marinha americana que no dia 12 de outubro do ano 2000, estava atracando no

Porto de Áden localizado no Iêmen, com a função de patrulhar o embargo iraquiano

de exportações do Petróleo quando sofreu um atentado à bomba que afetou os

alojamentos e a cantina do navio e causou a morte de 17 pessoas. Durante o

atracamento, um dos barcos que trabalhava continha explosivos e atingiu a área

onde o número de vítimas seria maior. Este ataque também foi atribuído à Al Qaeda

de Osama Bin Laden, que na época vivia no Iêmen, sob proteção do governo.

(MAIEROVICTH, 2010)

Uma das principais medidas tomadas no setor do transporte marítimo para

promover a segurança foi a instituição do ISPS (International Ship and Port Facility

Security) Code, que é um um código internacional para a segurança dos navios e

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46

das instalações portuárias aplicável desde 1 de janeiro de 2004 que impõe aos

portos e embarcações exigências e procedimentos específicos para a segurança no

setor. Segundo Escarras (2010), “Esse código trata da proteção contra ações

terroristas, o transporte ilícito de mercadorias, a imigração clandestina e outros atos

malevolentes. Comporta disposições obrigatórias e recomendações.”

O terrorismo choca a sociedade, é destaque na mídia e desperta

curiosidades. Quanto mais violento o crime, mais destaque tem perante a

comunidade internacional, e o setor do transporte marítimo não é composto somente

de embarcações, existe toda uma indústria por trás que também é afetada por estes

ataques terroristas. Acredita-se que a vulnerabilidade do transporte marítimo seja

fator determinante para tais acontecimentos, e que medidas de segurança devam

continuar a serem tomadas para assegurar que a sociedade não tenha de conviver e

sofrer com o terrorismo moderno.

4.2.2 Tráfico Internacional

O transporte marítimo é responsável pela locomoção de pessoas e

mercadorias pelo mundo inteiro, porém, também vem sendo utilizado como meio de

transporte de mercadorias ilícitas, como drogas, para o tráfico de mulheres, crianças,

imigrantes ilegais e animais.

4.2.2.1 Tráfico Internacional de Drogas

O tráfico internacional de drogas passou a se desenvolver de maneira

significativa a partir da década de 70, e atingiu o auge a partir da década de 80, tal

acontecimento está diretamente ligado à crise econômica mundial, já que a

economia dos países produtores de coca está ligada ao narcotráfico, o qual muitas

vezes é sua principal fonte de renda, tendo a Colômbia como principal exemplo.

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O tráfico internacional de drogas,em alta escala, começou a desenvolver-se a partir de meados da década de 70, tendo tido o seu boom na década de 80. Esse desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica mundial. O narcotráfico determina as economias dos países produtores de coca[...] (COGGIOLA, 2010)

O tráfico internacional de drogas apresenta dados cada vez mais alarmantes,

sendo uma prática que movimenta cerca de 1 trilhão de dólares no mundo inteiro

anualmente, onde são consumidos algo em torno de 6 bilhões de papelotes de

cocaína. Só nos Estados Unidos estima-se que 1,5 milhão de pessoas são presas

por envolvimento com drogas a cada ano, e o país gasta aproximadamente 25

bilhões de dólares em repressão e prevenção às drogas. (MOREIRA, 2010)

Pode-se dizer que o comércio de drogas é um dos grandes problemas que

assola a comunidade internacional atualmente. Este comércio ocorre tanto dentro da

soberania dos Estados, quanto entre os mesmos, pelas vias rodoviárias, aéreas,

fluviais e marítimas, aumentando ainda mais a dimensão do problema. A América

Latina é a maior produtora mundial de cocaína, um de seus países, a Colômbia

controla a maior parte do tráfico internacional, e os Estados Unidos detêm o título de

maior consumidor. Porém, a maior parte do dinheiro que gira no tráfico não vai para

o produtor e sim para os intermediários. Segundo Coggiola (1996), “De acordo com

dados recentes, um quilo de cocaína custa 2 mil dólares na Colômbia, 25 mil dólares

nos Estados Unidos e 40 mil dólares na Europa.”

Grande parte dos entorpecentes que circula pelo mundo o faz através dos

oceanos, e o comércio internacional praticado através do transporte marítimo

movimenta milhões de contêineres anualmente, o que torna indispensável uma

fiscalização eficiente por parte dos responsáveis. Para saber quais tipos de

mercadorias vêm sendo transportadas nas unidades, segundo Moura (2009) “Este

controle deve ser realizado de maneira inteligente para obter êxito em deter desvios

e ilícitos tais quais narcotráfico, terrorismo, fraude e contrabando.” Porém, devido à

enorme quantidade de mercadorias se torna praticamente impossível o

conhecimento de toda a carga transportada, o que faz do transporte marítimo um

meio barato e pouco arriscado de transportar drogas.

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4.2.2.2 Tráfico Internacional de Pessoas

Traficar pessoas é considerada uma prática antiga, desde a época das

caravelas, quando estas eram utilizadas para transportar escravos do continente

africano para a Europa e às Américas. Atualmente, na grande maioria dos casos, a

prática do tráfico internacional de pessoas tem como objetivo a exploração sexual

através da prostituição de mulheres, travestis e até crianças. O artigo 231 do Código

Penal Brasileiro conceitua o tráfico de pessoas como “Promover, intermediar ou

facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição

ou a saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro.” Desta forma, qualquer pessoa

que participar, colaborar ou estiver envolvida de alguma maneira com este tipo de

atividade, com o consentimento da vítima ou não, está sujeita a pena de 3 a 8 anos

de reclusão, segundo art. 231 do Código Penal Brasileiro.

Apesar de ser uma atividade que não é tão divulgada na mídia quanto o

tráfico de drogas, o tráfico de pessoas é uma atividade altamente lucrativa para as

organizações criminosas. Segundo Paula (2010) “[…] o tráfico de pessoas é a

terceira atividade mais rentável do crime organizado, movimentando anualmente

entre 5 e 7 bilhões de dólares. Mais de 1 milhão de mulheres e crianças são

traficadas a cada ano no mundo.”

Os principais “exportadores” de pessoas são países pobres, nos quais

imperam a desigualdade social, discriminação, desemprego e o tráfico de drogas,

este último costuma estar diretamente ligado com o tráfico de pessoas, já que muitas

delas também são utilizadas como mulas, ou seja, aquelas pessoas que transportam

drogas entre os países das mais diversas maneiras. Os casos costumam ocorrer

através de ofertas de bons empregos, melhor qualidade de vida, e da experiência

em outro país, o que na verdade são casas de prostituição, péssimas condições de

trabalho e até mesmo escravidão. (PAULA, 2010)

Normalmente, junto com a atividade de tráfico, são praticados os crimes de

agressão, tortura, abuso e escravidão, todos considerados uma grave violação dos

direitos humanos, tornando-os assim, crimes de responsabilidade da sociedade

internacional. O Brasil é um dos países que mais sofre com o tráfico de pessoas,

pois segundo Boller (2010) “[…]o Brasil “exporta” prostitutas brasileiras para 12

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49

países: Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Paraguai,

Portugal, Rússia, Espanha, Suíça e Reino Unido.”

Apesar dos dados alarmantes, o governo brasileiro desconhece o tamanho da

problemática, o que acaba gerando uma falta de controle e um aumento expressivo

no número de casos. Estados e organizações internacionais vêm trabalhando para

tentar erradicar de vez o problema através da criação de campanhas e adoção de

leis severas para punir quem faz parte desta prática, porém, devido ao fato da

maioria dos casos acontecerem em países pobres, envolvento altas quantias de

dinheiro, o progresso se torna muito difícil e tende a perdurar por vários anos.

4.2.2.3 Tráfico Internacional de Animais

Transportar animais ilegalmente é uma prática mais comum do que se

imagina, e apresenta dados expressivos no cenário internacional. Segundo

informações da Organização Não Governamental (ONG) SOS Fauna (2010), “O

tráfico de animais silvestres representa a terceira maior atividade ilícita do mundo,

em termos de recursos mobilizados, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de

armas.”

É um tanto difícil calcular o quanto o tráfico de animais silvestres movimenta por ano no mundo, por ser uma atividade ilícita, mas conforme alguns dados, estima-se que alcance U$ 10 bilhões/ano. No Brasil certamente podemos falar em torno de 10 a 15% do comércio mundial, ou seja, o equivalente a U$ 1 a 1,5 bilhões/ano. (PEA – Projeto Esperança Animal)

O Brasil por sua imensa diversidade de animais é um dos maiores

fornecedores ilegais de animais do mundo, entre estes animais encontram-se os

mais variados tipos, desde os animais mais comuns, até os ameaçados de extinção

como é o caso da arara azul e a onça pintada. Segundo relatórios da Polícia Federal

apud Natureba (2010), “Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens

são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados.” As

condições de transporte desses animais costumam ser péssimas, e muitos não

sobrevivem as longas viagens.

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O continente asiático é outro pólo em crescimento do tráfico ilegal de animais,

e também berço do maior contrabandista de animais do mundo, preso em 1998 na

Cidade do México após mais de 5 anos de investigações. Anson Wong detinha a

maior rede de tráfico internacional de animais que já se teve conhecimento. Dizia

conseguir qualquer animal, em qualquer lugar do mundo, para qualquer pessoa,

desde que a mesma pagasse à altura do serviço prestado. E assim cumpria, desde

simples espécies de sapos, até as mais exóticas e animais em extinção como o urso

panda eram possíveis para Wong, que dizia possuir um negócio que girava mais de

100 milhões de dólares por ano. Sua prisão é considerada uma vitória para o setor

de Operações Especiais, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem do governo norte

americano, porém, acredita-se que a mulher de Wong continue com os negócios,

agora através de zoológicos. (CHRISTY, 2010)

4.2.3 Crimes Internacionais contra o Meio Ambiente

Os crimes contra o meio ambiente no âmbito do transporte marítimo se dão

através da poluição no meio marinho, que é composto de milhares de espécies de

animais e plantas indispensáveis para o equilíbrio do ecossistema do planeta;

minerais como petróleo, gases, e outras fontes de energia como a própria água;

todos estes recursos passam a ser ameaçados a partir do momento em que algum

tipo de poluente é despejado nos oceanos.

Os oceanos e mares compreendem um espaço rico em recursos naturais consistentes em formas vivas, que abarcam os animais e vegetais, em minerais dissolvidos na água e em minerais encontrados no subsolo marinho, como petróleo, gases, energia direta, etc. Isso configura o meio marinho. (SCALASSARA, p.28, 2008)

A poluição pode ocorrer das mais variadas maneiras, direta ou indiretamente,

proposital ou acidentalmente, desde pequenas até gigantescas proporções, mas

sempre gerando algum tipo de consequência para o ambiente marinho,

prejudicando-o de alguma forma, e muitas vezes atingindo até mesmo seres

humanos que têm algum tipo de contato com mares e oceanos.

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Poluição no meio marinho significa a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias ou de energia no meio marinho, incluindo os estuários, sempre que a mesma provoque ou possa vir a provocar efeitos nocivos, tais como danos aos recursos vivos e à vida marinha, riscos à saúde do homem, entrave às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do mar, alteração da qualidade da água do mar, no que se refere à sua utilização e deterioração dos locais de recreio. (CNUDM, art. 1)

Os poluentes podem chegar até os oceanos provenientes de vários locais e

por vários caminhos, embarcações, aviões, chuva, esgotos, rios, pessoas, correntes

marítimas, e etc. Segundo o GESAMP (Group of Experts on the Scientific Aspects of

Marine Pollution23) apud Scalassara (2008, p.40), “A poluição proveniente da terra

representa 44% da poluição marinha, emissões atmosféricas 33%, embarcações

12%, alijamentos 10%, e a poluição proveniente da exploração de fundos marinhos

representa 1%.”

A poluição proveniente de embarcações pode ocorrer através do

derramamento de óleo, seja ele parte da carga ou combustível da embarcação,

descarga de lixos do navio, águas de lavagens, água de lastro, e também por

acidentes marítimos24. Aquela que ocorre em maior escala e mais preocupa as

entidades internacionais é o derramamento de óleo, dados de 1992 estimam que

600 mil toneladas de óleo são derramadas nos oceanos anualmente, incluindo

acidentes ou descargas propositais e ilegais. (SCALASSARA, 2008)

Não é incomum empresas se desfazerem do seu lixo, industrial, hospitalar,

entre outros, através de alijamento, ou seja despejando-o no meio marinho,

entretanto devido ao alto grau tóxico desse tipo de dejetos, as consequências para o

ecossistema podem ser graves.

Não é considerado alijamento o lançamento direto ou indireto de detritos ou outras matérias resultantes ou derivadas da exploração normal de embarcações, aeronaves, plataformas ou outras construções instaladas no mar, bem como o seu equipamento, a não ser que transportados com fim de sua eliminação. (CNUDM apud SCALASSARA, 2008, p. 42)

23 Tradução livre da acadêmica: Grupo de especialistas nos aspectos científicos da poluição marinha. 24 Um abalroamento, encalhe ou outro incidente de navegação ou acontecimento a bordo de uma embarcação ou no seu exterior, de que resultem danos materiais ou ameaça iminente de danos materiais à embarcação ou à sua carga. (CNUDM, art.221.2)

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Já a poluição proveniente da exploração do subsolo marinho é aquela que

ocorre em decorrência da navegação de apoio marítimo, em plataformas off-shore,

já que os riscos de uma colisão, vazamentos e explosões são altos, e se ocorrerem

se tornam quase que incontroláveis, podendo causar verdadeiros desastres

ecológicos. Segundo Scalassara (2008, p.42), “Há mares que se encontram tomados

por plataformas gigantescas, havendo riscos reais de acidentes, como colisões com

plataformas ou cabos, vazamentos explosões e etc.”

Segundo o art. 207 da CNUDM “Os Estados devem adotar leis e

regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho […]”,

independente de onde seja proveniente, é de função dos Estados legislar para que a

poluição não atinja o meio marinho. O art. 271 do Código Penal Brasileiro prevê

pena de 2 a 5 anos caso o ato de poluição das águas seja de caráter doloso, e até 2

anos caso seja culposo.

Poluição das águas é qualquer alteração das propriedades físicas, químidas e biológicas, que possa importer em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populaces e ainda comprometer a sua utilização para fins agrícolas, industriais, comerciais, recreativos e principalmente a existência normal da fauna aquática. Não é preciso que a água seja consumida para configurar o crime. O crime se consuma com a poluição ou corrupção da água. (DIAS, 1996, p.42)

Os crimes contra o meio ambiente preocupam muito as organizações

internacionais, devido ao fato de ja serem visíveis as consequências dos poluentes

na Terra, seja nos mares e oceanos, no solo ou no ar, em muita ou pouca

quantidade, eles provocam danos a curto e a longo prazo, e caso não eixsta um

controle, as previsões dos órgãos especializados não são nada otimistas.

4.2.4 Pirataria

A pirataria é provavelmente uma das formas de criminalidade mais antigas

que existe, e nunca conseguiu ser completamente extinta. Não se sabe ao certo qual

e quando foi o primeiro ataque pirata na história dos crimes marítimos, porém,

segundo Wilson (2009), “Em geral, a pirataria era comum em todas as partes do

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mundo que dependiam do comércio marítimo. Textos chineses registram que piratas

começaram a agir no Mar do Sul da China a partir do final da dinastia Han, em 220

a.C.”

Constituem pirataria quaisquer dos seguintes atos: a) Todo ato ilícito de violência ou de detenção ou todo ato de depredação cometidos, para fins privados, pela tripulação ou pelos passageiros de um navio ou de uma aeronave privados, e dirigidos contra: i) um navio ou uma aeronave em alto mar ou pessoas ou bens a bordo dos mesmos; ii) um navio ou uma aeronave, pessoas ou bens em lugar não submetido à jurisdição de algum Estado; b) todo ato de participação voluntária na utilização de um navio ou de uma aeronave, quando aquele que o pratica tenha conhecimento de fatos que dêem a esse navio ou a essa aeronave o caráter de navio ou aeronave pirata. (CNUDM, art. 101)

Os oceanos e mares correspondem a 70% da superfície do planeta, e 97% de

toda água existente no mundo está contida neles. São milhares de quilômetros

navegáveis a serem explorados, lugares onde não se avista terra, onde

embarcações estão completamente vulneráveis aos mais diversos acontecimentos,

e aqueles que vêm aterrorizando quem passa por suas rotas, os piratas.

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5 PIRATARIA MARÍTIMA

Diferentemente da era de ouro da pirataria, onde existia todo um mistério e

fascínio por trás dos crimes que aconteciam em alto mar, a pirataria marítima

moderna não tem nada de romântica ou fascinante, a não ser para aqueles que

gostam de histórias de terror. Portados de armamento de guerra, como granadas e

rifles, os piratas modernos aterrorizam tripulantes de embarcações que têm de

passar por suas conhecidas rotas, praticando roubos, sequestros e, em muitos

casos, assassinatos.

Segundo Guedes (2009) “ O uso do termo "pirata", do grego peiratés, para

descrever o bandido que pilha os navios, já remonta à Grécia antiga.” Já Mukundan

apud Murphy(2007, p.11) define pirataria como “An act of boarding or attempting to

board any ship with the intent to commit theft or any other crime and with the intent or

capability to use force furtherance of that act.”25 Apesar de terem aparecido mais nos

últimos anos, os casos de ataques piratas nunca deixaram de acontecer e as

organizações responsáveis pela segurança internacional não vêem como tarefa fácil

a missão de extinguir a pirataria marítima das águas do planeta.

5.1 História da Pirataria

A pirataria é provavelmente uma das formas de criminalidade mais antigas

que existem e, assim como ocorre com os crimes que em terra, os criminosos de

antigamente eram diferentes dos criminosos atuais. Registros apontam que os

primeiros ataques piratas ocorreram na região da Grécia Antiga, navegando pelo

Mar Egeo, já que esta é uma das áreas onde se desenvolveram as primeiras

atividades do transporte marítimo. Por se tratar de uma navegação basicamente

costeira, as pequenas embarcações que por lá trafegavam se tornavam alvos fáceis

25 Tradução livre da acadêmica: O ato de embarcar ou tentativa de embarque em qualquer navio com a intenção de cometer roubo ou qualquer outro crime com a intenção ou capacidade de usar força seguidamente desde ato.

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para os piratas que por ali transitavam para roubar mercadorias como alimentos,

metais, pedras preciosas e até mesmo embarcações.

Primeiramente a pirataria marítima foi praticada por gregos que roubavam mercadores fenícios e assírios desde pelo menos 735 a.C. A pirataria continuou a causar problemas, atingindo proporções alarmantes no século I d.C., quando uma frota de mil navios pirata atacou e destruiu uma frota romana e pilhou aldeias no sul da Turquia. São considerados uns dos precursores dos conhecimentos de navegação marítima. (FERREIRA, 2010)

As tripulações piratas eram compostas por pessoas das mais diferentes

procedências, ex-marinheiros, escravos, fugitivos, rebeldes e até mesmo mulheres,

possuindo uma política democrática dentro dos navios, elegendo seu capitão em

comum acordo, e podendo removê-lo de suas funções se assim decidissem.

Segundo Dannemann (2010), “Percorriam as rotas comerciais não só com o objetivo

de se apoderar de tudo que tivesse valor, mas também não hesitando em capturar

pessoas importantes e ricas para depois exigir quantias vultosas por sua libertação.”

Apesar de todos serem rotulados de piratas, existiam diferentes

nomenclaturas para os criminosos dos mares, piratas eram considerados aqueles

que praticavam atos de violência em alto mar contra qualquer propriedade ou

pessoa. Existiam também os corsários, estes possuíam licensa para realizar os atos

de pirataria, já que seus respectivos Estados lhes concediam a Carta de Corso, uma

espécie de documento que os permitia atacar e saquear embarcações inimigas,

conforme assim os fosse solicitado. Depois de algum tempo atuando como

corsários, era comum que muitos deles se tornassem piratas devido a maior

lucratividade. Existiam também os bucaneiros, que eram piratas franceses que

desembarcaram em uma colônia espanhola no Caribe e criaram suas próprias

regras, sem obedecer qualquer autoridade local, o que acabou atraindo para a

região ex-presidiários e escravos fugitivos, para se juntarem a eles. (PALÁCIO,

2010)

Desde o início de sua existência, a pirataria marítima é considerada um crime

internacional e era condenada pelos países civilizados, onde muitas vezes os piratas

apreendidos eram enforcados. Porém esta medida não impediu que a pirataria fosse

atingindo outras regiões e povos.

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Certa época ela se tornou tão intensa no Mediterrâneo, que os romanos

editaram uma lei especial, a Lex Gabínia, que dava poderes ditatoriais ao general

Pompeu (106-89 a.C.) para que ele pudesse exterminar os piratas que em sua

grande maioria eram asiáticos ou desertores romanos, ex-marinheiros. O que foi

feito em tempo relativamente curto. Esses criminosos dos mares tinham seu

estaleiro e arsenal na Cilícia, Ásia Menor, e alguns deles chegaram a reinar como

príncipes sobre muitas cidades litorâneas. (DANNEMANN, 2010)

A pirataria foi crescendo no decorrer dos anos conforme novas rotas de

navegação foram sendo descobertas, e foi se espalhando para outras regiões como

o Mar Mediterrâneo, o norte da Europa perto das Ilhas Britânicas, França e Império

Germânico. Os piratas que circulavam por esta região eram conhecidos como

vikings, famosos pela sua força e crueldade. Porém, os assaltos foram se tornando

cada vez mais difíceis nessa região, forçando os piratas a migrarem para outras

regiões atrás de alvos mais fáceis, tendo como destino as Índias e as Américas.

Durante anos a ilha de Madagascar, no oceano Índico, situada ao largo da costa oriental africana, serviu de base aos piratas que agiam naquela região, a ilha de Tortuga, próximo da Hispaniola (ilha do mar das Antilhas, hoje dividida entre o Haiti e Republica Dominicana), tornou-se sede de uma república regular de piratas.(DANNEMANN, 2010)

Apesar de vir ocorrendo há muitos séculos, pode-se dizer que a pirataria

marítima realmente se destacou entre os séculos XVI e XIX, época conhecida como

a Era de Ouro da Pirataria, foi durante este período que os piratas mais famosos da

história viveram, atormentaram quem passava por seus caminhos e foram

protagonistas de histórias que são contadas até hoje em livros e filmes.

A partir do século XVII navios espanhóis passaram a transportar grandes

tesouros de ouro e prata das Américas, também conhecida como Novo Mundo, para

a Europa, o que despertava o interesse dos piratas que transitavam por aquelas

rotas. Alguns dos mais famosos criminosos dos mares daquela época foram Sir

Francis Drake, Capitão Kidd, Barba-negra, Jean Lafitte, James Cook, Henry Morgan,

Martin Tromp, Mary Read, John Rackman, Bartholomeu Roberts, L’Olonnais, entre

outros.

O fim do século XVII e o início do século XVIII foi um período conhecido como Idade de Ouro da pirataria, quando tipos como Barbanegra e Capitão Kidd atacaram embarcações mercantes. No entandto comparada aos dias

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atuais aquela foi uma mera Idade de Bronze: os piratas modernos superam seus antecessores em número, riqueza e violência. (SEKULICH, 2009 p.15)

Edward Teach, que mais tarde viria a ser conhecido como Barba-Negra, é

provavelmente o mais famoso pirata de todos os tempos. Nasceu em Bristol, na

Inglaterra e iniciou suas atividades no transporte marítimo como corsário, a serviço

da Jamaica, durante uma guerra contra os franceses. Durante este período jamais

assumiu um cargo de comando, apesar de sua coragem e audácia, só foi exercer a

função de capitão quando iniciou seus atos de pirataria, o que aconteceu por volta

de 1716. Fez sua fama navegando pelas Américas a bordo de seu navio Queen

Ann’s Revenge, e foi morto em 1718, após uma batalha contra um navio da força

naval britânica. Foi decapitado e teve sua cabeça exposta no mastro de seu próprio

navio. Até hoje perdura a lenda do tesouro de Barba-Negra, que ele dizia só ele e o

diabo terem conhecimento de sua localidade, mas não se sabe se o tesouro sequer

existiu. (DAFOE, Figueiredo, 2008)

Outros piratas também ficaram famosos por suas história peculiares, como a

pirata Mary Read, uma das únicas piratas do sexo feminino da qual se tem registro,

e se tornou pirata após o navio onde ela viajava ter sido sequestrado, e terem-na

feito de refém, e William Kidd, que largou a vida de luxo que tinha com a família,

para entrar para o mundo da pirataria, segundo Sekulich (2009, p.19) “Tinha uma

casa em Wall Street e uma noiva rica. No entanto por razões que nunca ficaram

claras, resolveu embarcar em uma série de aventuras como corsário.”

Kidd recebeu sua carta de corso do governo britânico e zarpou para atacar a Marinha mercante francesa, mas a ganância o fez passar do corso à pirataria contra qualquer embarcação que encontrasse, fosse inglesa ou estrangeira. Talvez o mais importante fosse o fato de as proezas de Kidd abrirem um precedente, mostrando que a pirataria poderia atrair não apenas pobres e despossuídos, mas também pessoas de boa família. (SEKULICH, 2009, p.20)

A pirataria oscilou ao longo dos anos, conforme medidas foram sendo

tomadas para enfrentar a questão e solucioná-la de forma efetiva. Leis foram criadas

para combater os crimes, marinhas foram enviadas para confrontar os criminosos e

Estados se uniram para tentar exterminar o problema de uma ver por todas.

(SEKULICH, 2009). Pode-se dizer que o número de casos registrados diminuiu

significativamente á partir do século XIX, devido a eficácia nas prisões e penas

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aplicadas aos piratas apreendidos e também a evolução dos meios de comunicação.

Os crimes continuaram acontecendo, mas com frequência e dimensão muito

menores daqueles praticados nos séculos anteriores e passassem a ocorrer

somente em rotas específicas, principalmente perto de países subdesenvolvidos.

Porém, apesar da significativa diminuição no número de ataques, nunca foi possível

extinguí-los e, aparentemente, há alguns anos, vem sendo presenciada uma nova

era da pirataria, a pirataria marítima moderna.

5.2 Principais Causas da Pirataria Marítima Moderna

Para entender o que ocorre com a pirataria marítima moderna é necessário

desvincular a imagem dos tesouros, tapa-olhos e romantismo que possuíam os

piratas de antigamente. Os criminosos atuais atuam de forma diferente, o objetivo

permanece sendo o retorno econômico, seja através de mercadorias ou pagamento

de resgate, porém, atualmente, pode-se dizer que os piratas são apenas

funcionários de organizações criminosas em sua maior parte islâmicas, que

controlam não somente a pirataria, mas também o tráfico de drogas, armas e

ataques terroristas. Diferente de como acontecia antigamente, os piratas não ficam

com tudo o que é apreendido ou lucrado com os ataques, eles recebem uma

pequena porcentagem e a maior parte é destinada à aquisição de armamentos e

tecnologia como radares, GPS, entre outros equipamentos eletrônicos que auxiliam

na hora de planejarem os ataques, e também àqueles que ordenam e financiam os

crimes.

[...]pessoas que se armaram e equiparam para ir ao encontro de um excelente negócio, apesar de não ficarem com a totalidade dos dinheiros dos resgates, pois 20 a 50% vai para as diversas forças que ocupam ou governam partes do território somali, incluindo para as milícias islâmicas muito ligadas à Al-Qaeda.(DELLINGER, 2010).

Dizer que o avanço da tecnologia foi um dos fatores contribuintes para a

diminuição da pirataria marítima pode soar redundante, mas a partir do século XXI, a

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mesma tecnologia que era utilizada para monitorar águas territoriais e internacionais,

chegou as mãos de organizações criminosas, que enxergaram a oportunidade de

lucro, passaram a utilizá-la em práticas criminosas de pirataria em alto-mar,

aumentando significativamente o número de casos registrados, principalmente nos

litorais africano e asiático.

A história da pirataria moderna está imersa em sete pecados mortais: pobreza, desespero, fome, oportunidade, violência, inveja e ambição. Alguns dos piratas atuais são pouco mais que ladrões ralés, outros são bandidos e grande número deles é membro de gangues bem organizadas que utilizam internet, máquinas de fax, telefones via satélite e unidades GPS para coordenar ataques. (SEKULICH, 2009, p.16)

Muitas dessas organizações criminosas que controlam a pirataria marítima

nos dias atuais estão, cada vez mais, ligadas à organizações terroristas, o que se

torna preocupante pois faz com que os crimes se fortaleçam tomando dimensões

ainda maiores. De acordo com Sekulich (2009, p.16) “O que é inegável é que os

grupos terroristas têm estado envolvidos em operações marítimas nos últimos anos.

A Al-Qaeda assumiu responsabilidade por dois ataques mortais realizados por

homens-bomba no Mar Vermelho.”

Devido às conexões com organizações terroristas, ataques piratas podem ser

confundidos com terroristas, já que estes muitas vezes são realizados através de

atos que causam terror, e ataques terroristas podem ser confundidos com piratas,

quando estes escolhem o âmbito marítimo para atacar, e usam técnicas piratas de

abordagem. Geralmente a motivação é diferente entre os grupos. Terroristas

costumam agir por razões políticas e sociais, já a pirataria tem como principal

objetivo o lucro, porém, piratas somalis já atacaram navios da ONU como forma de

protesto à ajuda que é dedicada á Somália, e alguns grupos terroristas se

comportam como piratas para financiar seus crimes, portanto limitar ataques piratas

àqueles com motivações financeiras e vice-versa, pode ser um equívoco. É fato que

nos últimos anos, piratas e terroristas vêm trabalhando juntos, trocando informações

e técnicas entre si e, desta forma colaborando para o crescimento de ambos os

lados.

It is true that in the past couple of decades some terrorist organisations have collaborated and converged with groups of organised criminals, such as drug traffickers, usually for financional reasons. Sometimes terrorist organisations have largely abandoned their political activities, effectively transforming

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themselves into criminals organisations. However, such relationships would not in fact to have come between pirates and terrorists, although in some parts of the world, notably Southeast Asia, there are terrorist groups that behave at times like pirates.26 (MURPHY, 2007, p.8)

Além das colaborações terroristas, existem outras razões pelas quais a

pirataria marítima moderna vem crescendo de forma tão acelerada nos últimos anos.

Não é coincidência que os principais locais onde os ataques piratas ocorrem são na

costa de países subdesenvolvidos, a Noruega não sofre com a pirataria, já a

Somália e a Malásia sim. O que faz com que a pobreza seja um fator predominante

para a existência da pirataria nessas localidades, porém só a pobreza não é

suficiente para que piratas passem a agir na região, nem todo país que sofre com a

pobreza convive com a pirataria, já que o Haiti não é famoso por ataques piratas em

suas águas. Existe uma combinação de fatores que colaboram para a existência e

crescimento da pirataria, estes fatores são particulares de cada localidade, mas de

uma forma geral, eles são os mesmos.

5.2.1 Apectos Geográficos

A pirataria depende de uma geografia favorável para se desenvolver. Desde

os casos mais antigos que ocorriam no Caribe, no norte da Europa e no estreito de

Gibraltar, até os dias atuais que ocorrem no Golfo do Áden, no Estreito de Málaca, e

no sul da China, os ataques ocorrem mais facilmente em estreitos, baías, e perto de

arquipélagos, onde as embarcações que circulam precisam se aproximar da costa e

diminuir a velocidade para transitar, o que favorece a abordagem pirata e dificulta

uma possível fuga por parte do alvo. Rotas estreiras também costumam ser mais

congestionadas, o que também significa mais opções de ataque, possibilitando

26 Tradução livre da acadêmica: É verdade que nas últimas décadas algumas organizações terroristas têm colaborado e convergido com grupos de organizações criminosos, tais como traficantes de drogas, geralmente por motivos financeiros. Às vezes organizações terroristas têm abandonado largamente suas atividades políticas, efetivamente se transformando em organizações criminosas. No entanto, tais relações aparentemente não se aplicam a piratas e terroristas, apesar de que em algumas partes do mundo, especialmente no sudoeste asiático, algumas organizações terroristas se comportam como piratas ocasionalmente.

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assim que os piratas escolham o alvo mais fácil ou mais interessante do ponto de

vista financeiro.

When ships are under way, attacks generally take place in straits, bays, estuaries and archipelagos, where vessels are forced to more close to shore for navigational or commercial reasons which therefore offer pirates the best opportunities. Narrow seas are also generally more crowded than high seas, which means more targets.27 (MURPHY, 2007, p.14)

O Golfo do Àden compreende a Somália, o Iêmen e o Djibouti.

Figura 1 – Golfo do Àden

Fonte: Wikimedia Commons, 2010

O Golfo do Àden é um paraíso para os piratas, afinal é uma região onde a

passagem das embarcações é realmente muito estreita, e é uma das principais rotas

de passagem dos navios que levam mercadorias da China, Índia e Cingapura para

27 Tradução livre da acadêmica: Quando navios estão em movimento, os ataques geralmente ocorrem em estreitos, baías, estuaries e arquipélagos, onde os navios são forçados a se locomover para perto da costa, por razões navegacionais ou comerciais, o que consequentemente oferece aos piratas as melhores oportunidades. Mares estreitos são também, geralmente mais movimentados do que em alto-mar, o que significa mais alvos.

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Europa e Estados Unidos, o que faz do local, uma das rotas mais movimentadas do

mundo, portanto é a rota com o maior número de ataques por ano.

O Estreito de Málaca está entre a Indonésia e a Malásia.

Figura 2 – Estreito de Málaca

Fonte: XIONGDUDU, 2010

Tanto o Estreito de Málaca quando o Golfo do Àden são geograficamente

perfeitos para ataques piratas, pois compreendem uma passagem relativamente

pequena para o número de embarcações que por ali circulam. Málaca é rota das

embarcações que saem da China para a Oceania e passa por Cingapura, onde está

localizado o porto mais movimentado do mundo, o que consequentemente faz com

que a região seja frequentada por muitas embarcações.

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5.2.2 Apectos Sociais

Além da geografia é necessário que fatores em terra contribuam para que a

pirataria marítima ocorra, sem fatores sociais favoráveis, não seria possível para os

crimes ocorrerem tão frequentemente e permanecerem impunes como vem

acontecendo. Conforme já dito previamente, a probreza é um dos fatores que

contribui para a existência da pirataria, mas existem também os fatores que levam à

pobreza, como a corrupção, que faz com que o ambiente se torne apropriado para a

prática criminosa. Em um governo onde os funcionários são mal remunerados, a

corrupção floresce facilmente, dando abertura para o crescimento de organizações

criminosas, que contam com a leniência e até mesmo com a ajuda daqueles que

seriam responsáveis pela segurança do Estado.

Where police are underpaid, they typically connive with the criminals in order to make a living. Many pirates depend on a supportive criminal infrastructure to supply them with intelligence and equipment and to dispose of stolen goods, even entire cargoes, if necessary. Such an infrastructure can have connections to corrupt law enforcers.28 (MURPHY, 2007, p.16)

A pirataria depende muito da falta de participação do governo para sobreviver,

especialmente em casos como o da Somália, onde após vários anos de guerra civil,

o país possui um governo que não é reconhecido pela população, ou seja, se

encontra em estado de anarquismo, fazendo da Somália um país sem lei, onde a

pirataria existe sem qualquer intervenção interna.

A cultura do local em relação à pirataria também é um fator importante. No

caso da Somália, a falta de um governo ativo faz com que a população se apóie na

pirataria, pois muitos vêem nela uma oportunidade de emprego em um país onde 1,2

milhão de pessoas passam fome. Ocorre também que algumas das organizações

piratas ajudam a população, com comida e outros artigos de necessidade básica

que não são proporcionados pelo governo, porém o que muitos desconhecem é que

grande parte dos produtos fornecidos á população pelas organizações provém de

28 Tradução livre da acadêmica: Onde a polícia é mal paga, eles tipicamente agem de forma conivente com os criminosos, de forma a ganhar mais dinheiro. Muitos piratas dependem de uma infraestrutura criminal que os apóie para fornecer inteligência, equipamentos e para descartar mercadorias roubadas e até cargas inteiras, se necessário. Tal infraestrutura pode ter conexões para corromper forces da lei.

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navios á serviço da ONU que foram enviados para a própria população somali e

acabam sendo sequestrados por piratas. Isso faz com que a população apóie a

cultura pirata e dessa forma colabora para que e a situação se torne ainda mais

complicada para ser combatida, já que, se a própria população somali não luta

contra a pirataria, torna-se muito mais difícil para outros Estados intervirem de forma

a combater o crime. (SEKULICH, 2009)

A Somália possui uma particularidade pouco conhecida a respeito de uma das

causas para o progresso da pirataria náutica em suas águas. O litoral somaliano era

conhecido por usufruir de uma rica variedade de frutos do mar como atum, camarão

e lagosta, desta forma a pesca era uma das únicas e uma das principais fontes de

renda da população do país. Estes recursos foram sendo explorados de forma ilegal

e indevida por barcos pesqueiros europeus, que viam naquelas águas uma uma

oportunidade de fazer muito dinheiro com produtos de boa qualidade. Conforme a

pesca foi ficando escassa, os europeus descobriram outra utilidade para aquelas

águas, um lugar ideal para despejar lixo atômico. A população passou à adoecer,

apresentar sintomas de contaminação por radiação de substâncias como chumbo,

cádmio e mercúrio, situação que se tornou ainda mais grave com o tsunami de 2005,

que levou barris e contêineres de lixo tóxico até a população. Portanto, para

algumas gangues piratas, os ataques são justificados como busca de uma

recompensa devido a tantos anos de exploração que a Somália sofreu por parte de

outros Estados, mas, principalmente do continente europeu. (HARI, 2010)

A falta de segurança marítima também torna o caminho livre para os piratas

agirem. Guardas-costeiras mal treinadas e a ausência de uma marinha capacitada,

contribuem para que assim como em terra, as águas se tornem um lugar sem lei, e

isso se deve em grande parte aos custos envolvidos para a patrulha das águas

costeiras de países que sofrem com a pirataria. Segurança marinha é um recurso

caro, isso devido aos equipamentos que são necessários, tais como embarcações

com radares, comunicação com uma base em terra e a mão de obra que deve ser

muito bem treinada para excercer tais funções, além do conhecimento de tecnologia,

águas locais, do tempo e da pirataria. Também devido ao fato de que as áreas a

serem seguradas são extensas, portanto a mão de obra deve ser proporcional.

Law enforcement sea is expensive, there are huge areas to be protected. It requires boats well equipped with radas, communications and, most importantly well-trained and honest crews who have sound knowledge of the

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local waters and weather. It also requires shore-based command and control facilities with access to dependable information about ship movements and cargoes, and reliable intelligente about pirate activity.29 (MURPHY, 2007, p.15)

A ausência de tais recursos permite que a pirataria progrida, pois foi

comprovado que quando foram feitos investimentos na segurança das águas no

Estreito de Málaca, existiu uma significativa diminuição no número de ataques.

Segundo Murphy (2007, p.15) “In 1992, Indonesia, Malaysia and Singapore adopted

a policy of aggressively patrolling the Malacca Strait, resulting in a virtual elimination

of pirate activity.”30 Apesar do sucesso do projeto, os países tiveram de abandonar

as atividades pois os custos eram exorbitantes, o que trouxe de volta os crimes para

a região.

Já na costa da Somália, desde os atentados de 11 de setembro é feita

patrulha por um grupo chamado de Força-Tarefa Combinada 150, que é formada por

navios de guerra dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha,

Espanha, Holanda e Paquistão. Segundo Sekulich (2009, p.156) “[...] a força-tarefa

está sob a coordenação do quartel-general do comenado regional da 5ª Frota Naval

dos Estados Unidos, em Bahrain, e posiciona navios de guerra ao longo do Golfo do

Omã, Mar Árabe, Golfo do Áden e até a costa queniana [...]”. Porém, no caso da

Somália, pelo fato dos navios pertencerem à outros Estados, a legislação marítima

internacional beneficia os piratas, pois se os mesmos se encontrarem dentro de 12

milhas náuticas, são considerados dentro de seu mar territorial e, portanto, nenhum

navio de guerra de outro país pode adentrar aquelas águas sem a permissão

expressa do governo somali. Como a Somália não possui um governo ativo, torna-se

muito mais difícil lidar com a pirataria no chifre da África.

De acordo com a lei marítima internacional, um navio de guerra não pode entrar em águas soberanas de outro sem seu consencimento expresso. Mas a Somália não possui, nas palavras do Livro Mundial de Dados da CIA(Agência Central de Inteligência) “nenhum governo nacional

29 Tradução livre da acadêmica: Reforço legal marítimo é um recurso caro, existem areas enormes a serem protegidas. São necessaries barcos bem equipados com radar, comunicações e principalmente grupos honestos e bem treinados que tenham bom conhecimento das águas locais e do tempo. Também requer um comando baseado em terra que tenha acesso a informações importantes como movimentação dos navios e suas cargas, e inteligência confiável sobre atividades pirata. 30 Tradução livre da acadêmica: Em 1992, Indonésia, Malásia e Cingapure adotaram uma política de agressivamente patrulhar o Estreito de Málaca, resultando em uma virtual eliminação da atividade pirata.

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permanente”, ninguém para permitir que navios de guerra de coalizão entrem em suas águas, sem essa permissão, os navios de guerra que perseguem os piratas são somo xerifes caçando bandidos até chegarem a fronteira da cidade e terem de desistir da perseguição. (SEKULICH, 2009, p.157)

A legislação internacional é outro fator agravante para a pirataria marítima,

afinal os piratas têm pleno conhecimento de como usá-la a seu favor. A principal

dificuldade é passar pela soberania dos Estados, que segundo a legislação só pode

ser feito com a autorização do Estado soberano. Normalmente os Estados autorizam

outros a fazer a segurança de suas águas sob algumas condições e quando existe

uma ameaça em comum, o que não ocorre com um país que não possui leis, que

vive em regime anarquista e usufrui desta situação para praticar os crimes de

pirataria e permanecerem impunes. Também segundo a legislação marítima

internacional, que foi ratificada pela CNUDM, pirataria é somente um ato que

acontece em alto-mar. Assim, os ataques que acontecem dentro da soberania de um

Estado são caracterizados como roubo, sequestro ou outro tipo de crime de

agressão, e cabe ao seu Estado julgá-lo.

É importante notar a diferença dada pela CNUDM para pirataria e roubo: a primeira ocorre em alto-mar, enquanto o segundo acontece nas águas soberanas de uma nação. O alto-mar – que representa cinquenta por cento da superfície terrestre – é separado das águas soberanas por uma linha invisível, que passa a doze milhas náuticas da costa dos países. (SEKULICH, 2009, p.17)

Portanto o conceito de soberania favorece a pirataria, que passa a ser

caracterizada como roubo se o ato ocorrer dentro de 12 milhas naúticas. Segundo

Murphy (2007, p.13), “The most significant obstable is state sovereignty; states

tipically allow external coast guards and police to operate in their water to counter a

common threat only with the greatest reluctance.”31 Porém o IMB possui um conceito

diferente a respeito do que caracteriza um ataque de pirataria, segundo o instituto o

ato de embarcar ou tentar embarcar em uma embarcação com o objetivo de cometer

um crime de roubo ou agressão é caracterizado como pirataria, independente de

ocorrer em alto-mar ou não, portanto essa também é uma das razões pela qual

alguns órgãos internacionais não acreditam que a pirataria seja um problema que

31 Tradução livre da acadêmica: O obstáculo mais significativo é a soberania dos estados, estados normalmente autorizam guardas costeiras externas a operarem em seus estados para combaterem uma ameaça em comum somente com grande relutância.

Page 67: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

67

deva ser tratado como prioridade, já que definir o que é ou não pirataria pode ser

subjetivo.

[...] a International Maritime Bureau(IMB), que considera pirataria e roubo armado “qualquer ato que consista em embarcar ou tentar embarcar em um navio com a intenção aparente de comer roubo ou qualquer outro crime e com a aparente intenção ou capacidade de usar força para excecução de tal ato”. Ao usar a definição do IMB, não importa se a embarcação está no porto ou em alto-mar: qualquer ataque deve ser considerado ato de pirataria. (SEKULICH, 2009, p.18)

Com a combinação de todos estes fatores a pirataria marítima progride e

preocupa organizações internacionais, que aos poucos tomam iniciativas para

controlar os crimes que geram muitas consequências para a sociedade

internacional.

5.3 Principais Consequências da Pirataria Marítima Moderna

A pirataria por si só, já é uma das consequências da desigualdade que existe

no mundo, porém os crimes também geram consequências para aqueles que os

cometem e os que sofrem direta e indiretamente com os ataques.

Do ponto de vista social, o meio ambiente também sofre com os crimes, as

águas são alvos de despejo por parte dos piratas, segundo o site Democracia Aberta

(2009) “A crescente pirataria nas águas somalis pode vir a ter graves consequências

ambientais como o incêndio ou o afundamento de um petroleiro, derivado ao uso de

armamento pesado pelos piratas quando no sequestro dos navios.” Em muitos

casos, quando são abordados por navios de guerra de outros Estados que

patrulham a região, barcos piratas despejam seus equipamentos como armas,

granadas, escadas e outros objetos no mar, para alegarem que são simples barcos

pesqueiros.

Assim como a pesca ilegal e o despejo de substâncias e lixo no litoral somali

são causas da pirataria, alguns dos chefões da máfia pirata olharam para a situação

como uma forma de lucrar, que acaba se tornando uma das consequências da

prática criminosa na região. Qualquer embarcação pesqueira que queira usufruir do

Page 68: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

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litoral da Somália para praticar a pesca ilegal, está autorizado a adentrar as águas

desde que seja mediante o pagamento de um valor definido pelo grupo que

coordena as operações piratas na região. Segundo Sekulich (2009 p.162) “Os

Somalis preferem pensar nessas taxas como permissões de pesca e cobram em

torno de 50 a 150 mil dólares para permitir que um único navio tenha o direito de

trabalhar no mar.” O mesmo vem funcionando para aqueles que desejam despejar

seu lixo no litoral Somali, cobrando um valor baixo por tonelada de lixo despejada,

os chefes das organizações criminosas incentivam a prática que leva inúmeros tipos

de doença para a população Somali.

[…] os chefões cobram apenas 2,50 dólares por tonelada pelo “direito”de despejar lixo na costa da Somália, ao passo que descartar a mesma tonelada na Europa custa certa de 250 dólares. Com um preço tão baixo, é improvável que tal prática acabe em breve, e a perspective de que alguém se ofereça para limpar a bagunça, atualmente, é nula. (SEKULICH, 2009 p.164)

Outro fator que também preocupa as autoridades internacionais é a

segurança, tanto interna quanto externa, pois enquanto estas organizações

criminosas estiverem no controle do país podem fazer o que quiserem com o povo,

controlar o que entra e sai, quem entra e sai, impedindo até que voluntários e ajuda

humanitária ajude a controlar a difícil situação do país.

E ainda atacam navios que transportam ajuda humanitária necessária para seus companheiros somalis, como o Semlow. Seu desespero conseguiu elevar a pirataria nesses mares a níveis de desumanidade afetando não só os marinheiros no mar, mas também homens, mulheres e crianças em terra firme. Resumindo, os piratas somalis estão matando o próprio povo. (Sekulich, 2009 p.148)

A preocupação também se dá com a segurança externa, pois com o

fortalecimento das gangues piratas, estas viram organizações criminosas que

entram em parceria com terroristas aumentando significativamente a dimensão do

problema perante a sociedade internacional. Segundo o site Democracia Aberta

(2010) “Mas as consequências desastrosas para a segurança internacional podem

também ocorrer. Há o risco de se estabelecerem ligações entre a pirataria e o

terrorismo.”

A economia também sofre com a pirataria marítima, afinal, mais de 25 bilhões

de dólares são consumidos por ano no combate aos piratas, no pagamento de

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69

resgates, pagamento de seguros, prejuízos com ataques, entre outros fatores

ligados á pirataria. O mercado mais prejudicado pelos crimes é o do transporte

marítimo que tem de lidar com este problema que afeta a vida daqueles que

dependem do setor direta e indiretamente.

5.3.1 Principais Consequências da Pirataria Marítima Moderna para o Transporte Marítimo

O comércio internacional movimenta o mundo, e o mesmo só se torna

possível através do transporte de mercadorias e pessoas de uma localidade para

outra. O transporte marítimo é responsável por mais de 80% de toda mercadoria que

é transportada no globo, e por ser uma indústria que depende dos mares e oceanos

para funcionar, o setor sofre uma série de consequências com a pirataria marítima,

situação esta que vem preocupando tanto empresas privadas como organismos

internacionais.

Segundo relatos do IMB(2010), em 2009 foram 409 ataques no mundo inteiro,

e no primeiro semestre de 2010 já ocorreram 196 ataques, 20% a menos do que no

ano anterior, mas ainda assim um número bastate expressivo. O instituto também

informa que em 2010 piratas somalis já sequestraram 27 navios juntamente com 544

pessoas, entre passageiros e tripulação, e muitos destes ataques ocorreram a mais

de mil milhas náuticas de distância da costa da Somália. Ataques também ocorreram

no Mar da China, 15 no primeiro semestre de 2010, mais que o dobro do tempo

equivalente no ano passado. Já no estreito de Málaca houve uma significativa

diminuição de ataques devido à forte presença da marinha indonésia que vem

patrulhando a região. (Reuters apud Ahmad, 2010)

Porém, ataques piratas não ocorrem somente no chifre da África, o continente

africano é com certeza o mais afetado pela pirataria no mundo. Tanto as regiões

costeiras do oceano Índico quanto do oceano Altântico são frequentadas por piratas.

Assim como o estreito de Málaca e a região ao sul da China, estes casos são

reportados diariamente ao IMB, o que também ocorre em muitas outras localidades

no mundo, como na América do Sul. Porém, estes casos tomam dimensões muito

Page 70: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

70

menores, pois na maioria dos casos o prejuízo não é tão exorbitante comparado a

um pedido de resgate de 25 milhões de dólares.

O mapa abaixo representa todos os ataques piratas ocorridos em 2010 até o

dia 08 de outubro de 2010. Os pontos roxos representam embarcações suspeitas

circulando naquela determinada região, os amarelos representam tentativas de

ataques, já os vermelhos reais ataques piratas.

Figura 3 - Mapa dos ataques piratas ocorridos em 2010 até 08/10/2010.

Fonte: IMB, 2010

Todos esses ataques geram consequências, sendo que na maioria dos casos

o prejuízo é somente material, podendo ser grande ou pequeno. Porém, em alguns

casos a pirataria deixa de causar apenas danos financeiros para torturar e até matar

pessoas. Devido a sua ligação direta com o problema, os mais afetados pela

pirataria marítima na atualidade são aqueles que trabalham no setor de transporte

marítimo.

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71

Entre as principais consequências que os ataques piratas causam à indústria

do transporte marítimo estão os custos e o tempo gasto para evitar a pirataria. Os

principais pontos de ataque dos piratas são conhecidos pelas empresas de

navegação, que são constantemente advertidas pelos orgãos responsáveis pela

segurança marítima para evitar certas rotas em determinadas épocas devido à alta

possibilidade de ataques ocorrerem. O chifre da África, o estreito de Málaca, o mar

sul da China, a costa da Nigéria, e a região do Caribe, próxima da Jamaica, são

pontos conhecidos por seus constantes ataques. Muitas gangues piratas têm acesso

à tecnologia de ponta, o que os possibilita saber quais embarcações trafegarão por

sua região, qual a mercadoria transportada e qual a empresa responsável,

permitindo assim que os ataques sejam planejados com antecedência.

Por exemplo, segundo o site Sea Rates, a distância média do porto de

Cingapura, que é o mais movimentado do mundo, para os Estados Unidos,

passando pelo Golfo do Áden, é de 11 mil milhas e a viagem dura em média 15 dias

para uma embarcação que atinge 30 nós de velocidade. Se os navios que vêm do

Oriente com destino a América do Norte tiverem de desviar suas rotas para evitar o

chifre da África, são 3 mil milhas a mais que percorrerão e um acréscimo de 6 dias

no tempo de trânsito. Isso gera maiores custos com combustível, tripulação e outros

fatores pelo o fato do tempo de trânsito ser maior, o que acaba por prejudicar não

somente a empresa de navegação, mas também aqueles que contratam seus

serviços. De acordo com o site Universo da Logística apud Miller (2010) “A Odjfell

SE, uma companhia norueguesa com 100 navios-tanque de transporte de produtos

químicos, informa que está desviando a rota de todas as unidades que percorrem a

costa africana, a um custo extra de US$ 30.000 por dia.”

Já para as empresas que arriscam suas embarcações navegando em rotas

conhecidas por eventuais ataques, além do perigo, existem outros custos a serem

absorvidos. O seguro marítimo é um hábito comum e antigo entre as empresas do

ramo da navegação e de acordo com Marques (1998 p.2) ,“[…]parece razoável

considerar o seguro marítimo como a forma mais antiga de propiciar indenização,

assenta suas origens em época anterior a dois milênios[…]”. O caso do seguro

contra a pirataria não é tão simples como um seguro contra avaria simples, pelo fato

de que, segundo a legislação internacional só é considerado pirataria o ataque que é

praticado em alto mar, atrapalhando as seguradoras, pois o valor de uma apólice

contra pirataria é muito maior do que uma apólice contra roubo.

Page 72: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

72

Hoje em dia a pirataria se reveste de grande sofisticação, quando comparada áquela de há alguns séculos atrás. Esse tipo de crime organizado se utilize de toda sorte de equipamentos objetivando a posse de cargas de valor ou de pertences dos membros da tripulação. Vê-se, assim, que a proteção contra o risco de pirataria, mesmo na atualidade, precisa existir nas apólices de seguro, como consequência da reativação dessa atividade ilegal.(MARQUES, 1998 p.162)

Os custos envolvendo apólices de seguro contra pirataria não costumam ser

revelados, mesmo porque dessa forma a informação chegaria facilmente ás

organizações criminosas. O que se sabe é que esse valor varia de acordo com cada

viagem, a rota a ser percorrida, embarcação e mercadoria a serem seguradas.

Empresas transportadoras dizem que os custos do seguro contra acidentes

marítimos, vazamento de óleo e até pirataria são de 2 mil a 5 mil dólares por dia,

mas acredita-se que dependendo das particularidades de cada caso esse valor seja

muito maior.

As taxas de seguro de frete marítimo são um segredo bem guardado, negociado separadamente em cada viagem. Os transportadores dizem que pagam entre US$ 2.000 e US$ 5.000 por dia para cobrir desde acidentes e vazamentos de óleo até ataques de piratas ou mortes a bordo.(UNIVERSO DA LOGÍSTICA apud MILLER, 2010)

Existem também seguradoras que não fazem apólices contra pirataria, isso

provavelmente se deva aos altos valores exigidos como resgate em caso de

sequestro da embarcação e tripulação. Em caso específico do Golfo do Áden, as

seguradoras passaram a usar outra estratégia para se previnirem. A partir de maio

de 2008 passaram a caracterizar a região como zona de risco de guerra, portanto

toda embarcação que trafegar a conhecida como “rota dos três dias” pelo Golfo do

Áden deve ter em sua apólice seguro contra risco de guerra e portanto, pagar um

valor muito maior do que um seguro feito somente contra pirataria marítima.

Em maio, as seguradoras declararam o Golfo de Áden uma zona de "risco de guerra". As transportadoras que usam a rota de três dias pagam um "prêmio de risco de guerra" de dezenas de milhares de dólares por dia, dizem empresas de seguros e de transporte marítimo, o que pode agora ser ampliado. .(UNIVERSO DA LOGÍSTICA apud MILLER, 2010)

Além do valor das apólices de seguro, existe também o risco em que se

encontra a tripulação a bordo de uma embarcação que trafega em áreas de ataques

Page 73: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

73

pirata. Quanto maior o risco, maior o salário, como forma de incentivar as pessoas a

aceitarem viajar em determinadas condições de perigo.

Ter seguro não diminui as possibilidades de um ataque, apenas garante uma

recompensa caso o mesmo aconteça. Devido a vulnerabilidade das embarcações

que transitam por determinadas regiões, membros da tripulação estão exigindo que

seja permitido a presença de segurança professional armada dentro dos navios para

uma maior segurança da tripulação, porém segundo o site Universo da Logística

apud Miller (2010) “As seguradoras e as transportadoras dizem que uma tripulação

armada poderia colocar os navios em situações ainda mais perigosas.” Uma

tripulação ainda que bem armada dificilmente conseguiria competir em número de

pessoas e com o tipo de armamento que as gangues piratas mais especializadas

utilizam.

Se o ataque não for possível de ser evitado, a embarcação e sua tripulação

estão completamente à mercê dos piratas, que podem simplesmente saquear o

navio e permitir que o mesmo siga viagem. ou sequestrar navio e tripulação e exigir

resgates milionários, como foi o exemplo do petroleiro MV Sirius Start, que em 2008

trafegava pelas águas do Golfo do Áden a uma distância de 420 milhas náuticas

carregado de 250 milhões de dólares em petróleo bruto, o ataque fez reféns 19

marinheiros e a embarcação, e depois foi pedido um resgate de 25 milhões de

dólares, a maior soma já exigida que se tem conhecimento. O fato de um navio de

324 metros de comprimento ter sido alvo de um ataque bem sucedido mostra que

existiu um planejamento prévio para abordar o petroleiro. Este caso ilustra bem o

tamanho do prejuízo que a pirataria marítima vem causando ao transporte marítimo,

prejuízo este que está estimado em 25 bilhões de dólares anuais.(SEKULICH, 2009)

5.4 Principais Medidas de Combate à Pirataria Marítima Moderna

As medidas que vêm sendo adotadas ainda são poucas e, claramente,

insuficientes para combater a pirataria marítima moderna. Porém algumas entidades

internacionais juntamente com alguns países vêm se aliando de forma a, ao menos,

controlar os crimes.

Page 74: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

74

Por ter sido fundado com o objetivo de combater a criminalidade no setor do

transporte marítimo, o IMB fundou em 1992 o Piracy Reporting Centre32(PRC), que

tem a função de reunir todas as informações sobre incidentes piratas que são

fornecidas pelas empresas que trabalham com o transporte marítimo, organizações

governamentais, veículos de mídia e pessoas físicas. O PRC é o principal centro de

informações e estatísticas sobre ataques piratas desde que foi fundado, com o mais

completo banco de dados sobre pirataria do mundo, dados estes que são

atualizados diariamente com todas as tentativas e ataques piratas reportados no dia.

Empresas de navegação, governos e até a ONU utilizam as informações

disponibilizadas pelo PRC. (SEKULICH, 20090)

Portados do conhecimento que é fornecido pelo PRC, se torna mais fácil

identificar quais as regiões que mais precisam de ajuda para combater a pirataria

náutica. Durante anos, cada Estado lidava com a pirataria como podia, de acordo

com o que estabelecem as leis internacionais. Porém o problema foi aumentando

significativamente, principalmente no Golfo do Áden e se viu necessário abordar a

pirataria de uma forma mais direta e eficaz.

Em dezembro de 2008, Reino Unido, França, Grécia, Suécia, Espanha,

Holanda, Alemanha, Bélgica, Portugal e outros países que possuem marinha se

uniram na primeira operação da União Européia executada no setor da Política

Europeia de Segurança e de Defesa. A operação Atalanta tem a função de combater

a pirataria no chifre da África, principalmente na costa da Somália onde a maioria

dos ataques acontecem. A operação foi legalizada pela ONU sob condições fixadas

pelo DIP, e tem como principais objetivos a proteção dos navios do Programa

Alimentar Mundial que transportam comida, medicamentos, entre outros ítens para a

população somali, já que estas embarcações também vinham sendo alvos de

ataques. A operação também visa a proteção de embarcações que circulam pelo

Golfo do Áden e são vulneráveis ás abordagens piratas, assim como a prevenção e

a repressão á qualquer ato de pirataria que ocorra na região. A frota da Operação

Atalanta é composta de 465 navios que revezam na patrulha por determinado

período de tempo. (GUEDES, 2010)

Uma das possíveis medidas de combates que serão criadas futuramente é a

criação de um TPI para julgar exclusivamente crimes de pirataria. Segundo o Centro

32 Tradução livre da acadêmica: Centro para informe de pirataria.

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75

Regional de Informações da ONU(2010) “O CSNU saúda as propostas feitas pelo

Secretário-Geral da ONU, em especial aquelas que visam a criação de um tribunal

penal regional ou internacional para julgar esses crimes”. A criação do TPI vai fazer

com que os criminosos apreendidos não fiquem impunes, que é o que vem

acontecendo nos últimos anos.

A pirataria é um problema da sociedade internacional e não somente de

alguns países, as medidas existentes ainda são poucas, mas têm mostrado que se

existir um empenho por parte dos orgãos e atores internacionais de realmente mudar

a situação, será possível reverter e controlar a situação.

Page 76: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

76

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O homem passou a utilizar as vias fluviais e marítimas para se transportar

quando se tornou inviável transportar todo seu excesso de produção por terra.

Através de rios e mares era possível trocar sua mercadoria por outra que excedia

para outro produtor, dando-se assim as primeiras experiências de comércio. Tanto o

comércio como o transporte marítimo evoluíram no decorrer dos anos, hoje sendo

possível transportar para o outro lado do mundo, milhares de toneladas em uma

única embarcação. Por ser uma indústria que movimenta trilhões de dólares por ano,

o setor de transporte marítimo chama a atenção dos criminosos que vêem nele uma

oportunidade de ganhar dinheiro ilegalmente. Dentre os crimes que ocorrem dentro

do setor estão roubo, tráfico de drogas, pessoas e animais, terrorismo e a pirataria

marítima.

É de responsabilidade dos órgão envolvidos no Direito Internacional Público

legislar para que aqueles que cometem os crimes sejam punidos de acordo. E para

isso foram criados órgãos internacionais que procuram controlar a criminalidade na

indústria do transporte marítimo. Porém, esse controle nem sempre é eficaz, o que

faz que todos aqueles que dependem direta ou indiretamente do setor para

sobreviver sejam afetados por estes crimes.

Desde quando o homem passou a utilizar rios, mares e oceanos para se

locomover, os crimes de pirataria no âmbito marítimo passaram a acontecer e,

milhares de anos depois, nunca foi possível extinguí-lo. Caracterizada como pirataria

marítima moderna, crimes que ocorrem atualmente tomaram dimensões jamais

vistas antes e assustam a sociedade internacional devido a sua brutalidade, valores

envolvidos e facilidade com que acontecem. Desta forma, foram criadas medidas

para tentar controlar a pirataria no mundo, medidas estas que têm se mostrado

eficazes, porém ainda são muito pequenas diante do tamanho da problemática e de

tudo o que nela está envolvido.

Se existe o objetivo de exterminar a pirataria de uma vez por todas das águas

do planeta, é necessário que exista uma aliança entre os países para que seja

possível uma abordagem mais agressiva diante deste problema. Pois já está claro

que os responsáveis pelos crimes estão dispostos a agir das formas mais cruéis e

extremas para obter o resultado que desejam. Também é necessário que os países

Page 77: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

77

com maior influência no cenário internacional se envolvam de forma mais incisiva de

forma á combater o problema, o que não vem acontecendo e gera questionamentos

á respeito dos motivos, todos os envolvidos, seus interesses, de tudo o que ocorre

no mundo da pirataria, tudo o que nela está envolvido e que não se toma

conhecimento, portanto é uma problemática que pode ser muito mais complicada do

que parece.

Desta forma, percebeu-se que os objetivos propostos foram atingidos, e

espera-se que o trabalho sirva de pesquisa para outros acadêmicos e á todos que

interessar e que também sirva de incentivo para projetos futuros, levando em conta a

velocidade com que os fatos acontecem e se modificam.

Page 78: Trabalho de Iniciação Científica A PIRATARIA MARÍTIMA

78

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ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS

Nome do estagiário Bruna Roberta Horstmann de Freitas

Orientador de conteúdo Prof. Bruno Tussi

Responsável pelo Estágio Prof. Natalí Nascimento