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    TRANS- Revista Transcultural de Msica/Transcultural Music Review 2011

    TRANS 15 (2011) DOSSIER: OBJETOS SONOROS-VISUALES AMERINDIOS / SPECIAL ISSUE: AMERINDIAN SONIC-VISUAL OBJECTS Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn Rosngela Pereira de Tugny (Universidade Federal de Minas Gerais - CNPq, Brasil)

    Resumen Pretendo apresentar com este texto algumas reflexes preliminares sobre prticas e noes de escrita entre os Tikm'n, povos de lngua Maxakali (macro-g) atualmente localizados ao nordeste de Minas Gerais. Estas noes poderiam ser compreendidas a partir da continuidade entre canto e imagem, tal qual a prtica musical e um conjunto de seus mitos sugerem. A partir de uma experincia de registro, transcrio, traduo e publicao de um significativo corpus de cantos ritualsticos, realizada em colaborao com pajs, tradutores, ilustradores e escritores Tikm'n, discuto como considerar as formas de escritas j existentes e operantes entre os povos indgenas, e como compreend-las na continuidade material de sua produo acstica. O que pretendo com esta reflexo terica propor que, se estou trabalhando sobre um registro de escrita entre os Tikm'n - a escrita alfabtica - no estou a realizar nenhuma passagem de uma cultura da oralidade para a escrita, nem fixando no registro da escrita uma tradio puramente oral, e ainda menos inaugurando junto a estes povos a prtica da escrita que eles j conhecem de seus ancestrais. Faz-se ento necessrio repensar vrios conceitos - ocidentais e nativos - de escrita que se colocam em jogo neste processo.

    Abstract In this text I present a few preliminary reflections on writing practices and concepts among the Tikm'n, a group of peoples speaking a Maxakali (macro-Ge) language today located in the northeast of Minas Gerais state, Brazil. These notions can be comprehended through the continuity between song and image, as suggested by their own musical practice and by a set of myths. Based on my experience of recording, transcribing, translating and publishing a sizeable corpus of ritual songs, conducted in collaboration with Tikm'n shamans, translators, illustrators and writers, I discuss how to think about the forms of writing already existing and operating among indigenous peoples, and how to understand them within the material continuity of their acoustic production. In the course of this theoretical exploration I argue that despite working on a particular register of writing among the Tikm'n alphabetic writing I am not realizing a passage from a culture of orality to writing, nor fixing a purely oral tradition in the register of writing, or even less inaugurating the practice of writing among these peoples who already know of this practice from their ancestors. It therefore becomes necessary to rethink various concepts both western and native of writing that come into play during this process.

    Palabras clave Msica Tikm'n/Maxakali, escrita indgena, msica e ritual indgena

    Key words [Tikm'n/Maxakali Music, amerindian writing, amerindian Music and Ritual

    Fecha de recepcin: octubre 2010 Fecha de aceptacin: mayo 2011 Fecha de publicacin: septiembre 2011

    Received: October 2010 Acceptance Date: May 2011 Release Date: September 2011

  • 2 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn Rosngela Pereira de Tugny (Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG - Conselho Nacional de Pesquisa, CNPq, Brasil)

    O tema que trago para o presente texto provm de uma experincia de cerca de 6 anos, junto

    com representantes dos povos tikmn, consistindo em registrar, transcrever, editar e publicar

    dois significativos repertrios de seus cantos ritualsticos. Os Tikmn so povos indgenas

    falantes da lngua Maxakali, pertencente ao tronco lingustico Macro-G, segundo as ltimas

    classificaes aceitas entre os linguistas. Somam cerca de 1500 indivduos e vivem em quatro

    diferentes terras indgenas ao nordeste de Minas Gerais, na fronteira com o estado da Bahia:

    Terra Indgena do Pradinho (ca. 2.500 hectares, Municpio de Bertpolis, com ca. de 621

    indivduos); Terra Indgena de gua Boa (ca. 2.805 hectares, Municpio de Santa Helena de

    Minas, com ca. de 717 indivduos); Terra Indgena Aldeia Verde, (ca. 522,72 hectares, Municpio

    de Ladainha, com ca. de 127 indivduos) e Terra Indgena Cachoeirinha (ca. 606, 19 hectares,

    Municpio de Tefilo Otoni, Distrito de Topzio, com ca. de 77 indivduos). Hipostasiados como

    um s povo Maxakali pela sociedade nacional, possuem e relatam, no entanto, origens

    diversas: o litoral da Bahia, a bacia do Jequitinhonha, o Rio Mucuri, Buranhm, Jucuruu (ou rio

    do Prado), Itanhm (ou rio Alcobaa) e outros rios menores dessa regio. Constam como os

    primeiros povos encontrados desde os primeiros relatos dos viajantes (Paraso 1998). Hoje os

    Tikmn vivem confinados em uma das menores terras indgenas do Brasil, devastada pelas

    frentes extrativistas e pelos fazendeiros, sendo um dos povos indgenas que mais se expuseram

    ao longo dos sculos violncia cotidiana do mundo capitalista. Embora tenham sido vistos por

    diferentes setores da sociedade como resqucios de civilizaes indgenas destinados a se

    adaptar aos mecanismos de integrao que atenuariam a perda do seu territrio e da sua

    autonomia, esses povos tm feito com que os antroplogos sejam arrebatados pela sua

    resistncia aos mecanismos de integrao, pela vitalidade e potncia de suas estruturas sociais e

    simblicas e pelo seu colossal esforo da memria.

    Este artigo foi escrito a partir do captulo de uma tese apresentada UFMG em junho de 2010 em um concurso para professor titular. A tese ser publicada pelo Museu do ndio sob o ttulo Escuta e poder na esttica tikmn. Agradeo especialmente o apoio do CNPq e da FAPEMIG para a realizao das pesquisas que fundamentam estas reflexes.

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 3

    1. A materialidade mundana dos cantos dos ymyxop

    Os Tikmn possuem aldeias semi-circulares, marcadas todas pelo kuxex, uma casa que

    traduzem como casa de religio, situada solitria no extremo de suas outras metades. por

    esta casa que chegam s aldeias os ymyxop, uma mirade de povos cantores, traduzidos por

    eles, ora como imagens, ora como espritos. A chegada destes ymyxop , assim como sua

    permanncia nas aldeias, marcada por uma intensa prestao sonoro-musical, reunindo vozes

    dos homens, mulheres, crianas e espritos, bem como por uma produo sustentada de

    alimentos que so levados pelos homens e mulheres a estes povos-aliados. Os rituais que

    marcam a presena destes ymyxop nas aldeias so frequentes e ardorosamente desejados por

    todos eles. Servem a concluir um processo de cura de doenas, a marcar novas alianas, a coroar

    uma caa bem sucedida. Mesmo cantando e danando um extenso repertrio de msicas

    aprendidas com os grupos de forr, arrocha, pisadinha, e outros gneros apreciados pela

    populao vizinha s suas aldeias, s Tikmn mantm ativos estes momentos de festa e cantos

    realizados em conjunto com os povos-espritos que recebem. Os cantos dos ymyxop possuem

    estruturas e regimes de enunciao extremamente complexos e variados, e o cuidado com a boa

    performance motivo de longas horas de aprendizado dentro das casas, nos frequentes rituais e

    at mesmo em situaes criadas pelos programas governamentais de educao diferenciada

    indgena. A complexidade dos seus traos acsticos resultante de um intenso processo de

    reverberao, que consiste na experincia de eventos povoados por vrios enunciadores,

    presentes nos caminhos de uma viagem xamnica. Assim como encontramos exemplos em

    vrias etnografias que mencionam os cantos xamansticos (Cesarino 2006; Guimares 2002;

    Franchetto 1997, 2003a, 2003b), os cantos dos ymyxop reproduzem a experincia e a viso de

    algo que se passa aqui na aldeia, e alhures, onde os espritos podem se postar durante o

    trabalho dos cantos. Os Tikmn insistem em dizer que os ymyxop so muitos, so como

    governo. Optei aqui por manter quase sempre a concordncia no singular quando me refiro

    aos povos-espritos, seguindo uma forma que me pareceu no casual de uso que fazem eles do

    portugus. Embora todos os espritos sejam legio, necessrio manter uma ideia tambm

    implcita nas expresses, de um corpo-coletivo, um bando ou um enxame (Rodgers 2002).

    Os textos dos cantos oscilam por isto nos lxicos e nos jogos pronominais. O ymyxop,

    corpo-coletivo que est na aldeia cantando, est ao mesmo tempo xamanizando as pessoas que

  • 4 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    cantam com ele, e, pouco a pouco, atravessa corpos de outros agentes, passando a produzir um

    complexo jogo de oscilao pronominal. O ideal de uma noite de cantos para os Tikmn o

    agrupamento do maior nmero de koxuk-ymyxop (imagens-espritos). Os ymyxop presentes

    na aldeia, ao cantarem, interpelam, cativam e agregam estes diferentes sujeitos suspensos na

    virtualidade personificada (Cesarino 2006: 125) e dividem estas experincias com todos que

    esto no ptio. assim que os cantos realizam a sua verdadeira eficcia, como processo intenso

    de reverberao entre mltiplas subjetividades.

    Por sua vez, muitos mitos narrados pelos mais velhos tratam os cantos como substncia

    contgua e no como narrativas a posteriori, ou representaes buclicas dos prprios mitos ou

    dos incontveis seres da florestas. Os cantos aparecem nas narrativas mticas ora como

    substncia - continuidade da captura dos inimigos (cantos-comida-inimigo) -, ora como

    caminhos e espaos marcando o distanciamento daqueles que se apartam (cantos-caminho-

    separao), ora como o prprio evento do devir, da metamorfose (cantos-corpos-de-outrem) ou

    ainda como o evento da apario (cantos-vises) (Tugny et al. 2009a e 2009b). Mais que um

    sistema comunicativo ancorado no uso das funes metafricas, os cantos se postam no terreno

    da metonmia: no por garantirem relaes de partes com uma noo de todo, mas porque

    fazem parte da contiguidade com matrias, corpos e caminhos. Ou seja, as narrativas dos

    Tikmn no nos autorizam a pensar que os cantos so como se fossem comida-inimigo, ou

    vises, ou caminhos. Da mesma forma, no nos permitem pensar as estruturas acsticas que

    esto investidas com os textos como se estivessem agindo paralelamente a eles: o som a servio

    do sentido, a msica a servio do texto, a metfora a servio de uma imaginao indgena. O que

    proponho aqui como pressuposto para pensar o estatuto e a operacionalidade dos cantos, parte

    ento de uma dupla negao: que os cantos no sejam tomados como metforas e que seus

    textos no sejam pensados como sistemas dissociados das estruturas sonoras e grficas que os

    materializam. As consideraes de Tomlinson a respeito dos cantares mexicanos, quando tantas

    vezes se autodenominam flores esto prximas desta perspectiva, sugerindo que sejam

    pensados no domnio da metonmia, da sua materialidade mundana:

    As pedras preciosas, plumas, metais, pinturas e flores dos cantares, no devem ser

    pensadas como o limitado repertrio tropical de rituais Nahua em sua fase ps-colonial, e

    sim como uma incrementao da realidade percebida pelos Nahua nos rituais destes

    ltimos tempos. A questo no os cantos serem como flores e sim a dos cantos serem

    flores. A tarefa central dos cantores destes cantares parece ter sido explorar as

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 5

    capacidades de sua linguagem em apresentar vividamente a fabricao de tais objetos

    nos cantos (Tomlinson 2007: 75).

    Na perspectiva de refletir sobre como de fato pensar a continuidade texto-msica, e

    como de fato pensar que cantos so inimigos-comidos, caminhos, vises, como grande parte dos

    mitos sugere, acrescento mais uma noo a este sistema de continuidades: a escrita Tikmn.

    Pensar uma noo de escrita Tikmn me permitir fazer uma reflexo a posteriori da

    experincia conjunta que mencionei acima, ao lado de pajs, ilustradores e escritores Tikmn,

    mas, sobretudo, estender os limites entre os domnios de enunciao, reverberao e ocupao

    do espao entre os Tikmn e pens-los um pouco alm das clausuras com as quais nos

    acostumamos a separar os domnios de oralidade e escrita.

    2. Corpos, cantos e regimes de escrita

    Mas uma marca, onde quer que se produza, no a possibilidade da escritura? (Derrida 1999: 370)

    Foto 1: Mmnm na aldeia Cachoeirinha (foto: Mari Correa)

  • 6 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Sempre que os Tikmn chamam s suas aldeias os povos-morcego-espritos - os xnm -

    relembram uma narrativa que se refere ao encontro dos seus ancestrais Tikmn com estes

    povos-aliados que se tornaram um dos mais importantes grupos de ymyxop e detentores de

    um dos mais extensos repertrios de cantos, extremamente potentes nas sesses de cura das

    aldeias. O mito descreve como o encontro com o povo-morcego, que poderia se configurar

    numa guerra, se resolveu na aliana e troca entre bananas e cantos.

    Histria do Xnm

    (...)

    - Voc tem alguma msica?

    - Xnm [morcego, ou povo morcego] respondeu que sim: Ak, hak hak hak

    O antepassado falou pra ele sair do mato e vir morar na aldeia, na casa de Religio.

    A xnm falou para o antepassado:

    - Eu vou marcar hora para voc esperar na aldeia, eu vou chegar l de tardezinha.

    Xnm chamou os companheiros, cortou o pau para fazer Mmnm. Cada xnm pintou

    um pedao do Mmnm, cantando sua msica, com a ajuda dos outros (cada xnm tem

    a sua msica):

    Quando terminaram, foram levando o Mimnm para a aldeia.

    O antepassado cavou um buraco para fincar o Mmnm na aldeia. Os xnm foram para

    o kuxex. L, o antepassado que tinha virado yy porque aprendeu a msica do xnm,

    ensina os meninos no kuxex junto com os xnm. (Tugny et al. 2009 a)

    As narrativas sempre ressaltam a presena do mmnm, o que podemos traduzir como

    mastro-brilhante, ou mastro pintado. Quando o ancestral pediu os cantos ao xnm, eles

    vieram trazendo o mmnm: cada xnm pintou um pedao do mmnm cantando sua

    msica. Os desenhos que foram realizados em torno deste mito so eloquentes sobre esta

    continuidade vocovisual entre a pintura e os cantos. Os cantos, os xnm e o mmnm chegam

    juntos s aldeias. Nenhum possui alguma forma de originalidade sobre o outro. Nenhum

    substitui o outro, nenhum representa o outro. Os xnm no so primeiro cantores e depois

    desenhistas ou decoradores de um mastro simblico. Formam todos juntos uma modalidade

    mltipla de presena junto aos Tikmn. esta simultaneidade entre os cantos, os corpos e o

    mastro-brilhante que ilumina a reflexo que trago aqui sobre minha experincia de escrita com

    os Tikmn.

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 7

    Desenho 1: Histria do xnm (grupo de professores e pajs do Pradinho)

    Distinguimos neste desenho o sol, a lua, o morcego, um tamandu, uma borboleta, um

    homem branco. E dois momentos: o primeiro momento em que, na floresta, os morcegos em seus

    corpos animais confeccionam os desenhos e o segundo momento, quando, em corpos humanos,

    levam o mastro para as aldeias dos Tikmn. Cada parte do mastro encerra uma imagem-msica,

    grupos de cantos pertencentes aos donos, pais dos espritos que recebero os xnm na aldeia.

    Quando o ancestral os convida para vir aldeia trazer aos seus parentes os cantos, o xnm (na

    realidade uma legio de xnm, povos-morcegos) pinta o mmanm: o que dizem os Tikmn

    quando narram esta histria. Cada canto chega ento com uma escrita, uma pictografia,

    destinados a serem lidos, mais do que vistos ou contemplados. Esto conectados aos xnm e aos

    seus cantos. Mas o que aqui interessa pensar que mmnm no uma escrita que supe a

    ausncia de algo que significa. Enquanto o mmnm est no centro da aldeia, os xnm tambm

    esto. necessrio cuid-los: aliment-los e manter sonoros seus cantos. No se pode esquecer

    um mmnm na aldeia. Um esquecimento como esse fonte de doenas e desgraas para os

    anfitries. No momento de ir embora, as mulheres preparam comida e levam aos xnm que ento

    se vo, cortando o mmnm em pedaos e distribuindo-os aos donos dos cantos-imagens. Na

    ausncia dos xnm, as partes do mmnm passam apenas a alimentar os fogos das casas, ou

    tornam-se jogos de crianas, ou perdem-se varridos para os limites externos aldeia.

  • 8 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Foto 2. Repartindo o mmnm (foto: Rosngela de Tugny)

    O mmnm apenas existe na sua continuidade com os cantos e os corpos dos xnm.

    Enquanto h xnm, h seus cantos e h a sua escrita. Uma escrita que - ao contrrio da atribuio

    que o mundo moderno ocidental vem conferindo sua, como a da representao que substitui a

    presena, aquilo que se configura na ausncia do ente1 _ est presente no centro da aldeia apenas

    quando os cantos e os espritos tambm esto. O mmnm no supre a ausncia dos espritos,

    daquilo que representa, mas suplementa sua presena. uma extenso dos seus corpos: uma

    escrita que se institui na continuidade destes.

    Estamos adentrando aqui um terreno terico fundamental, principalmente explorado por

    Derrida, quando elabora uma reflexo sobre a escritura no contexto de uma crtica ao

    logocentrismo como um espao importante do desenvolvimento retrico da metafsica ocidental.

    Revisando a presuno da fenomenologia para a qual a percepo se confunde com a

    autoconscincia do sujeito, presumindo-lhe uma voz-interior, um estado do ser presente como

    fonte de emanao do discurso oral, Derrida critica um vastssimo corpus mtico e filosfico que

    situa o ato da fala como a forma mais prxima do ente, como ato de autoconscincia do ser. Esta

    tradio teria relegado as escrituras ao plano da representao, primeiramente por ter passado

    a considerar escritura apenas a escrita fontica, aquilo que sucederia fala, deixando de lado as

    escritas pictogrficas, os hierglifos, os ideogramas e outras formas de escrita. Em segundo lugar,

    por supor uma anterioridade da linguagem oral escritura, o que logo de entrada desvaloriza a

    escrita por ser uma mediao da fala que j tida como a primeira exterioridade do ser.

    O mal da escritura vem do fora, j dizia Fedro (275 a). A contaminao pela escritura, seu

    feito ou sua ameaa, so denunciados com acentos de moralista e pregador pelo linguista 1 Ver a crtica de Derrida a Rousseau e Saussure em: DERRIDA, 1999.

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 9

    genebrs. (...) Saussure acusa aqui a inverso de relaes naturais entre a fala e a escritura.

    No uma simples analogia: a escritura, a letra, a inscrio sensvel, sempre foram

    consideradas pela tradio ocidental como o corpo e a matria exteriores ao esprito, ao

    sopro, ao verbo e ao logos. E o problema relativo alma e ao corpo, sem dvida alguma,

    derivou-se do problema da escritura a que parece ao invs emprestar as metforas.

    A escritura, matria sensvel e exterioridade artificial: uma vestimenta. Por vezes,

    contestou-se que a fala fosse uma vestimenta para o pensamento. Husserl, Saussure,

    Lavelle no deixaram de faz-lo. Mas, alguma vez duvidou-se que a escritura fosse uma

    vestimenta da fala? Para Saussure chega a ser uma vestimenta da perverso, do desarranjo,

    hbito de corrupo e de disfarce, mscara de festa que deve ser exorcizada, ou seja,

    conjurada pela boa fala: A escritura vela a viso da lngua: ela no uma vestimenta e sim

    uma travestimenta (p. 40). Estranha imagem. J se lana suspeio que, se a escritura

    imagem e figurao exterior, esta representao no inocente. O fora mantem com

    o dentro uma relao que, como sempre, no nada menos do que simples exterioridade.

    O sentido do fora sempre foi no dentro, prisioneiro fora do fora, e reciprocamente. (Derrida

    1999: 42-43)

    Ao representar e ao se instituir nesta distncia do ser-presente, como mediao da

    mediao (representando a fala), a escrita pensada, como to paradigmaticamente expressou

    Rousseau, como um perigoso suplemento, um anexo, um fora, uma corporalidade exterior e

    nefasta pureza e naturalidade do ente (Ibidem 1999: 173). Se Rousseau desqualifica a escrita

    alfabtica por ser um suplemento fala, mais severa ainda sua crtica escrita pictural, que alis

    j havia sido formulada por Plato, como aqui cita Derrida:

    O que h com efeito de terrvel, penso eu, na escritura, tambm, Fedro, que ela tenha

    verdadeiramente tanta semelhana com a pintura (...) (275 d). Aqui a pintura, a zoografia,

    trai o ser e a fala, as palavras e as prprias coisas, porque os cristaliza. Seus rebentos

    aparentam viventes, mas quando so interrogados no mais respondem. A zoografia trouxe

    a morte. O mesmo se d com a escritura. Ningum, e sobretudo o pai, est a para

    responder quando interrogado. Rousseau aprovaria sem reserva. A escritura traz a morte.

    Poder-se-ia jogar: a escritura como pintura do vivente, fixando a animalidade, a zoografia,

    segundo Rousseau a escritura dos selvagens. Que por sua vez so apenas caadores, como

    sabemos: homens da zoogreia, da captura do vivente. A escritura seria efetivamente

    representao pictural da animlia caada: captura e matana mgicas. (Ibidem 1999: 357)

    O que estes relatos testemunham o quanto a ontologia ocidental, fundada na noo do

    ser, tendo a voz como primeira manifestao de sua presena auto-ciente, nos impede de pensar

  • 10 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    o mmnm e as demais formas de escrita pictural dos Tikmn tal qual elas de fato operam

    entre todos os agentes envolvidos nos eventos em que ele se apresenta. Ora, as histrias narradas

    pelos Tikmn e os textos dos cantos so eloquentes: so o espao onde vrios sujeitos fazem

    reverberar suas posies, onde os sentidos deslizam, onde a fonte de emanao no uma s.

    So a sua experincia mais intensa da alteridade. Os cantos so o tempo e o espao da construo

    deste jogo de reverberaes e por exercerem esta funo so concebidos na percepo dos gestos

    e dos corpos que ocupam estes espaos. No h uma origem, uma fonte primeira de enunciao

    dos cantos.

    A este respeito, h algo muito significativo no sistema de reverberaes entre as

    presenas dos espritos cantores nas aldeias e os Tikmn. Estes ltimos insistem em dizer que os

    ymyxop so cantores, que eles vm s aldeias para cantar, que foram eles que trouxeram os

    repertrios de cantos aos humanos. Quando esto nas aldeias, em situaes que costumamos

    qualificar como rituais, os ymyxop danam, realizam traados no ptio da aldeia, dispem sua

    corporalidade frente s mulheres comendo, brincando, mimando, lutando. Mas quase sempre so

    silenciosos, ou, como me dizem: esto aprendendo a cantar com seus pais. Sua presena de fato

    reverbera pelas bocas dos humanos. Faz vibrar os corpos dos humanos para que cantem ao lado

    deles. Sempre vi os homens e mulheres muito mais investidos nos cantos do que os espritos-

    cantores que chegam s aldeias. Os corpos dos Tikmn so auscultados pelos ymyxop que

    chegam com seus olhos vedados e seu mmnm. esta penetrao que torna os Tikmn

    vibrantes e sonoros2. Os ymyxop precisam dos Tikmn para cantarem seus cantos, os homens

    precisam dos ymyxop por perto para cantarem com eles: no sobre eles, e nem se

    comunicando com eles, mas em reverberao, ou em interafetao, formando um corpo feito

    por muitos3. Mas compem ainda algo mais que um corpo feito por muitos: ali, onde os

    2 Tomo emprestada uma descrio de Rosse sobre um momento como este que evoco aqui: H uma grande diferena ou uma complementaridade entre o par de xnm e seu grupo de cantos. Os movimentos dos xnm so codificados, enquanto o dos homens que os acompanham um movimento descuidado, o mesmo do dia-a-dia, normal. Em relao ao som, passa-se o oposto, pois o par de xnm no canta. Mesmo que se veja o grupo cantor, ele no tem uma importncia cnica especfica. Deste ponto de vista, os homens que parecem espectadores, externos a uma cena que se passa entre ymy e mulheres. Tudo se passa como se o grupo cantor fosse transparente, uma nuvem ou um fantasma que acompanha xnm, cuja nica importncia o som. Por isso eles so complementares, a imagem e o som de xnm. (ROSSE, 2007: 93) 3 Penso aqui nas reflexes de Franoise Davoine e Gaudillire a respeito de uma histria narrada por Ana Freud sobre as crianas sobreviventes de um campo de concentrao na Morvia (Theresienstadt). Essas crianas, quando recebidas em uma clnica na Inglaterra, a despeito de apresentarem um comportamento extremamente violento com as enfermeiras, observavam entre elas uma supreendente afetividade, necessitando estar sempre prximas entre si. Franoise Davoine desenvolve a noo de corpo feito por muitos evidentemente em um contexto de guerra e o estende para o uso psicanaltico com respeito aos pacientes que se fazem neste corpo a muitos em solidariedade aos

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 11

    homens da aldeia acompanham os espritos emanando seus cantos, constitui-se uma zona de

    refrao especular, onde cada regime de linguagem levemente desajustado4. Os gestos, a

    corporalidade, a escrita, os cantos, os passos da dana no ptio da aldeia e a comida no so

    modos de linguagem com escopos de ao delimitados a cada um destes sujeitos. Todos os corpos

    presentes atuam um pouco em cada funo, agindo uns sobre os outros e so ao mesmo tempo

    origem, destino e significantes daquilo que se produz. esta zona de refrao que cria os sujeitos

    e no os sujeitos que criam linguagens para se comunicar. Estamos assim numa regio marcada

    por inscries, rastros, uma noo que, se bem entendemos o que escreve Derrida, nos

    aproxima de sua noo de escritura ou arquiescritura (Derrida 1999: 86-87).

    Msica e escrita assim como humanos e espritos: rastros sem origem, sem sujeito auto-

    ciente na fonte da linguagem, sem um regime de linguagem mais prximo anterioridade do ente,

    mas reverberando dentro de um intenso embate de sentidos, investindo um coletivo de sujeitos,

    pensados antes ou fora da oposio natureza e cultura. Os cantos no so mais cultura do que as

    bananas que os Tikmn do aos xnm (os povos-morcegos) e as bananas no so mais materiais

    do que seus cantos: esta a lio do mito para ns que construmos nossos alicerces filosficos e

    sociolgicos sobre tal repartio. Os cantos no foram produzidos depois da criao dos xnm,

    nem pelos xnm. J existiam, como uma memria objetiva, estavam a, no mundo. Os cantos no

    so mais significantes da existncia dos xnm que estes ltimos so significantes dos cantos.

    Pertenciam aos xnm, assim como as bananas pertenciam aos ancestrais tikmn. Desta forma, a

    proximidade dos ymyxop com os Tikmn intensificada pelos cantos, pelo mmnm, pelos

    passos de dana, as trocas de alimentos, enfim, este momento de densa reverberao, todo ele

    um espao e um tempo de escritura, porque todos os sujeitos que o habitam esto projetados e

    ancestrais que foram traumatizados ou mortos em guerras. Minha associao pode parecer aqui um tanto abusiva, mas, como falamos no incio deste trabalho, os cantos que os Tikmn cantam em reverberao com os espritos so instncias de guerra. Deste modo, permito-me aqui citar uma passagem do texto de Davoine (2006: 335-338): Ela repousa sobre o esquecimento de si e do si, em proveito do conjunto. Alis, o corpo feito por muitos no constitudo de uma totalidade intangvel, uma vez que ele pode a qualquer momento ser amputado de um de seus membros. Provavelmente outras crianas fizeram parte desta vitalidade plural e foram mortas antes em Terezin. Diferentemente de um movimento coletivo de um agrupamento organizado, tal conjunto no possui nem um lder, nem espelho. Ele tampouco funciona como uma seita, e no faz corpo com nenhum tirano. (Minha traduo) 4 Esta repartio de funes, ritualsticas, cnicas, dramticas, evoca as observaes de Andr Schaeffner a respeito do bal de Strawinski, Noces, onde os cantores so levados ao fosso, restando sobre a cena apenas os mmicos-bailarinos: Vimos que, no mais que Nietzsche, Strawinski no se satisfez com uma soluo bastarda onde cada personagem se viu bem exatamente desdobrado em um mmico e um cantor. Talvez mesmo a soluo do filsofo j se encontrava sensivelmente ultrapassada. Mais do que dissociar a dupla funo de cada personagem, Strawinski chega a desajustar as diversas artes cuja presena no teatro parecia dever cada vez mais se reforar; foi multiplicando entre elas certo espao, colocando entre elas um jogo, que Strawinski se engajou decididamente sobre a desejada via do irrealismo. (SCHAEFFNER, 1998, p. 209). Traduo do autor.

  • 12 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    refratados nas inscries, corporalidades, rastros e movimentos que se afetam mutuamente.5

    neste sentido, da escritura pensada por Derrida, que considero aqui o mmnm uma

    escrita dos Tikmn. Uma escritura no-fontica, que entende a si mesma como presena,

    estendendo e suplementando os espaos ocupados pelos corpos, no a zoogria que captura o

    vivente como pensava Rousseau, mas uma escritura totalmente realizada nas relaes:

    Se o momento no-fontico ameaa a histria e a vida do esprito como presena a si no

    sopro, porque ameaa a substancialidade, este outro nome metafsico da presena, da

    ousia. Inicialmente sob a forma do substantivo. A escritura no-fontica quebra o nome. Ela

    descreve relaes e no denominaes. O nome e a palavra, estas unidades do sopro e do

    conceito, apagam-se na escritura pura. (Derrida 1999: 10-11)

    3. Cantos-Imagens

    Alm do mmnm, este mastro que brilha, os desenhos so tambm uma modalidade de

    escrita operante entre os Tikmn. Quando os convidei a escrever seus cantos, sabia do uso que

    j faziam da escrita alfabtica aprendida com os missionrios evanglicos e j conhecia alguns

    livros que publicaram no quadro de sua formao como professores bilngues (Maxakali 1998,

    Maxakali 2004). Mas pouco compreendia ainda das outras escritas j praticadas entre eles. Assim

    que iniciamos nosso trabalho, os pajs sempre trataram de trazer um desenhista para desenhar os

    cantos. Inicialmente, seus desenhos pareciam servir para facilitar a compreenso e traduo das

    cenas cantadas. Pouco a pouco, comecei a perceber a disposio sobreposta, empilhada,

    simultnea das imagens sobre a folha. As folhas continham eventos inteiros: o xnm, por

    exemplo, se apresentando na sua forma morcego e ao mesmo tempo na sua forma de duplos

    humanos, vendo, ou interpelando as imagens-ymyxop que encontra. Esses desenhos sempre

    agradaram muito mais aos Tikmn do que as verses em escrita alfabtica que produziram.

    Quando as verses preliminares eram levadas s aldeias, eram os desenhos que suscitavam

    comentrios e os levavam a cantar imediatamente. Eram os desenhos que mereciam crticas e

    demandas de correo pelos velhos. No creio que este interesse especial se deva apenas

    5 Ainda outras referncias ao rastro, que, em Derrida, assim como a noo de escritura no dada, mas se constri no texto: O rastro verdadeiramente a origem absoluta do sentido em geral. O que vem mais uma vez afirmar que no h origem absoluta do sentido em geral. O rastro a diferncia que abre o aparecer e a significao. Articulando o vivo sobre o no vivo em geral, origem de toda repetio, origem da idealidade, ele no mais ideal que real, no mais inteligvel que sensvel, no mais uma significao transparente que uma energia opaca, e nenhum conceito da metafsica pode descrev-lo. (ibidem, p. 79-80 )

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 13

    pequena familiaridade dos Tikmn com a escrita, ainda muito recentemente introduzida entre

    eles pelos missionrios evanglicos do Summer Institut of Linguistics, mas sim ao uso j

    sedimentado que faziam da pictografia. Apresento ento alguns exemplos dos desenhos. Todos

    consistem na performance dos cantos e nas aparies que estes produzem. Vemos o xnm ao

    mesmo tempo cantando, vendo e interpelando a capivara, os girinos, a minhoca, a vaca e o cavalo.

    Desenho 2: Borboleta (Z Antoninho Maxakali)

  • 14 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Desenho 3: Capivara (Z Antoninho Maxakali)

    Desenho 4: Girinos (Z Antoninho Maxakali)

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 15

    Desenho 5: Minhoca (Z Antoninho Maxakali)

    Desenho 6: Boi (Z Antoninho Maxakali)

  • 16 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Desenho 7: Cavalo (Z Antoninho Maxakali)

    Esta singular produo pictural onde os espritos cantores fazem sair imagens de suas

    bocas no deixa de apresentar grande semelhana com um conhecido corpus de escritas

    pictogrficas encontradas e compiladas entre os povos mesoamericanos no momento do contato

    com os espanhis. Dentre eles, o Codex Cihuacoatl6 - um livro-calendrio, cuja origem atribuda

    aos povos de lngua Nahuatl que viviam nas regies de Mxico-Tenochtitlan na poca da conquista

    espanhola, no incio do sculo XVI - que apresenta vrios desenhos desse tipo. Arabescos que

    saem das bocas de divindades cantoras elas tambm representadas em sua forma esprito e

    animal - que se transformam em pssaros, em flores, rpteis, pedras, plumas etc.

    6 Mais conhecido como Codex Borbonicus por ter sido nomeado de acordo com o Palais Bourbon, na Frana. O Manuscrito est conservado na Biblioteca da Assemblia Nacional em Paris.

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 17

    Ilustrao 1: Codex Cihuacoatl, p. 14; fonte: Bibliothque de lAssemble Nationale, Frana

    Esta produo pictogrfica objeto de uma anlise de Tomlinson, que a toma como um

    trao sugestivo da materialidade mundana de seus cantos:

    Vrias culturas Mesoamericanas deixaram traos sugestivos, em escrita pictogrfica, da

    materialidade mundana de seus cantos. So as elaboradas volutas que se estendem das

    bocas das figuras cantoras retratadas nos cdices, em murais pintados e outros lugares. A

    figura 2.2 [ver ilustrao 1] reproduz um famoso exemplo, do Codex Borbonicus, um livro-

    calendrio muito provavelmente de origem mexicana de pouco depois do tempo da

    conquista. O glifo em questo uma voluta ou rolo decorado, se desenrolando para cima,

    afora da boca da divindade menor pintada. (...)

    As volutas, especialmente ornadas como aquela das figuras 2.2, 2.3 e 2.4, puxam os cantos

    (e a fala) neste lao de substncias contguas. A partir de nossa perspectiva elas parecem

    materializar os cantos, fundindo com as substncias pintadas na codificao do mundo. A

    partir da perspectiva indgena, elas provavelmente afirmam algo to evidente para a

    mentalidade Mesoamericana que se torna inobservvel: a cognata materialidade entre

    pintura e canto. (Tomlinson, 2007, p. 35)7

    7 Traduo do autor.

  • 18 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Com efeito, os Tikmn possuem um termo que se refere pintura do corpo e pintura

    do mmnm que traduz esta materialidade mundana da escrita e dos cantos. Pintar o

    mmnm, colorir, pintar a si mesmo se glosa com o termo xex. Yy xex, pintar-se. xex, pintar

    algo. Ao mesmo tempo, cantar usando palavras, contando histrias, se diz kutex xex, o que se

    ope a kutex kopox, cantar sem histrias, cantar vazio. O radical xex assume com respeito aos

    termos aos quais se justape, uma funo de intensificador: xee, geralmente traduzido como

    verdadeiro estaria prximo de xeegng, algo que se tornou intenso. Os cantos so ento

    pensados como vazios ou plenos, cheios, intensos quando carregam palavras. A pintura e as

    palavras esto aqui justamente no lugar da plenitude, da presena, ao contrrio da noo de

    representao e sua consequente desvalorizao, como algo que se ope presena, que, como

    Derrida denuncia, predominou entre filsofos e linguistas ocidentais.

    Por outro lado, os Tikmn possuem uma forma muito precisa de considerar nossa

    escrita alfabtica. Ela glosada como kax mi, kax mi ax. Dois radicais justapostos kax = som, voz

    e ()mi = risco. Xumix, tambm glosado como riscar, desenhar, traz uma das razes do termo

    precendente, mi. Os Tikmn se referem ento escrita alfabtica como riscar o som, riscar a

    voz. Outros termos designam igualmente a escritura: kn, riscar listras e koyuk my, desenhar,

    fazer imagens. Estas precises lexicais dizem muito sobre o significado que eles atribuem a cada

    forma de escrita. De fato, a escrita alfabtica parece estar sempre mais associada ao encontro

    com os estrangeiros, mas tambm quilo que supre a ausncia. Teria sido este o uso marcar a

    voz que est ausente - que viram fazer da escrita pelos diversos representantes do mundo no

    indgena que estiveram entre eles? Um dos cantos do Poop [o povo-macaco-espritos], bem como

    o desenho que foi realizado sobre ele, aponta precisamente esta funo para a escrita alfabtica.

    O desenho categrico: os personagens que riscam o som e os personagens que falam

    olhando as letras possuem cabelos arrepiados, um dos mais importantes traos distintivos do

    yhk, o no ndio:

    kuxakuk pata

    (...)

    kax- mi ah kax- mi ah

    ny kukopu

    mh ma yn mh ma yn

    kax- mi ah kax- mi ah

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 19

    ny kukopu

    mh ma yn mh ma yn

    xi ny ta tu

    yy tu nny

    yy tu nny

    ny ypumi

    xi ny ta tu

    yy tu nny

    yy tu nny

    yy kun (...)

    patas de capivara

    (...)

    riscou o som, riscou o som

    e rio abaixo

    jogou jogou

    riscou o som

    riscou o som

    e rio abaixo

    jogou jogou

    e os outros

    se juntaram

    se juntaram

    para olhar

    se juntaram

    se juntaram

    e falaram (...)

  • 20 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    Desenho 8: O desenho das palavras (Donizete Maxakali)

    Algo mais indica como os Tikmn entendem esta escrita como a substituio da

    presena: quando observamos uma certa ordem no encadeamento do repertrio, o canto est

    prximo de vrios outros onde as cenas se passam rio abaixo, ou rio acima: garas que amarram

    o papo no pescoo e vo contando histrias rio-abaixo, tartarugas que contemplam pssaros

    voando e assoviando, marrecos que mergulham e emergem rio-acima. Todos eles descrevem o

    movimento linear das guas em direo ao desaparecimento. O canto da escrita foi intitulado por

    eles patas de capivara, um dos animais que vivem na beira dgua, e atualmente uma das

    poucas caas disponveis em seu territrio. Geralmente os cantos so intitulados segundo o nome

    do enunciador ou segundo as imagens que neles emergem. No esclareci ainda este ttulo com os

    pajs, mas entendo aqui um significativo contraste entre as patas da capivara, que deixam rastros,

    escrituras lidas pelos caadores, e a escrita dos homens de cabelos arrepiados. Ambos os rastros

    existem em dois momentos excludentes: a impresso e a leitura, rio-acima e rio-abaixo.

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 21

    por tal entendimento sobre a escrita dos yhk, e por possurem sua prpria escrita,

    que, em todas as sesses onde trabalhei com os professores maxakali - aqueles que migraram do

    aprendizado com os missionrios evanglicos diretamente para o Curso de formao de

    professores bilngues -, sempre estiveram tambm presentes aqueles que eram eleitos como os

    melhores desenhistas. Duas escritas paralelas se interagiam nestes momentos, mas eram sempre

    os desenhos que mereciam a ateno, o comentrio e as correes de todos, quando nossos

    rascunhos circulavam nas aldeias. S muito tardiamente compreendi o sentido que faziam estes

    desenhos no seio deste trabalho conjunto. natural ento pensar que, j tendo sua escrita, e

    sobretudo uma escrita que se imprime e se l na presena e continuidade dos cantos, os Tikmn

    tenham feito um uso bastante transformador da nossa escrita alfabtica, quando os convidei para

    escrever seus cantos. Tentavam traz-la mais prxima da pictografia, e ao mesmo tempo mais

    prxima da sonoridade, fazendo prevalecer o ritmo e a energia da emisso, muito mais que a

    entidade semntica. Ao escrever os cantos dos ymyxop, cuja lngua significa talvez mais pela sua

    eficcia musical do que pelo lxico que os cantos carregam, os Tikmn hesitaram ainda mais a

    usar a escrita alfabtica tal qual a aprenderam com os missionrios. Muitas vezes me surpreendeu

    o uso que fizeram do espao da folha para redesenhar as imagens dos cantos, procedimentos

    muito prximos dos nossos poetas concretistas. Veja-se o exemplo do canto da perereca-deitada,

    pertencente ao corpus de cantos do Mgmka, que aqui se reproduz com os recursos do

    computador (Tugny et al. 2009b: 298-9):

    perereca deitada

    perereca deitada

    em cima da gua perereca deitada

    em cima da gua perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    em cima da gua perereca deitada perereca deitada

    em cima da gua perereca deitada perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    dentro do buraco da pedra perereca deitada

    dentro do buraco da pedra perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

  • 22 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    dentro do buraco da pedra perereca deitada

    dentro do buraco da pedra perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    em cima da folha perereca deitada

    em cima da folha perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    em cima da folha perereca deitada perereca deitada

    em cima da folha perereca deitada perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    por baixo do cu perereca deitada

    por baixo do cu perereca deitada

    perereca deitada

    perereca deitada

    por baixo do cu perereca perereca perereca perereca

    por baixo do cu perereca perereca perereca perereca

    diac raa

    Veja-se igualmente o quanto a escrita busca reproduzir a durao dos eventos, o esforo

    dos gestos, a consistncia das superfcies experimentadas: quando os cantos foram escritos pelos

    escritores tikmn, foi inconcebvel fazer economia de repeties, de linhas, de agrupamentos,

    assim como suprimir passagens dos cantos nos registros gravados e publicados. Nenhum atalho na

    durao do trabalho acstico: deslocar o corpo no espao algo que se faz na durao. Para os

    Tikmn, cada um dos versos no concebido como uma repetio e sim como a intensificao

    de um esforo de movimento: lento, pesado, ao contato de texturas rugosas, lisas, midas, secas,

    variadas. como se apresentam os cantos do jacar e do bicho-preguia (Tugny et al. 2009b: 94-7

    e 150-3):

    jacar

    na lama rasteja rasteja

    na folha seca rasteja rasteja

    na areia rasteja rasteja

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 23

    na pedra rasteja rasteja

    no pau seco rasteja rasteja

    na lama rasteja rasteja

    na folha seca rasteja rasteja

    na areia rasteja rasteja

    na pedra rasteja rasteja

    no pau seco rasteja rasteja

    na lama rasteja rasteja

    na folha seca rasteja rasteja

    na areia rasteja rasteja

    na pedra rasteja rasteja

    no pau seco rasteja rasteja

    at a outra margem do rio fundo desliza liza

    at a outra margem do rio vermelho desliza liza

    at a outra margem do rio de correnteza desliza liza

    at a outra margem da lagoa profunda e escura desliza liza

    at a outra margem da lagoa redonda desliza liza

    at a outra margem da gua amarela desliza liza

    at a outra margem do rio comprido desliza liza

    at a outra margem do afluente do rio desliza liza

    at a outra margem do riachinho desliza liza

    at a outra margem do rio fundo desliza liza

    at a outra margem do rio vermelho desliza liza

    at a outra margem do rio de correnteza desliza liza

    at a outra margem da lagoa profunda e escura desliza liza

    at a outra margem da lagoa redonda desliza liza

    at a outra margem da gua amarela desliza liza

    at a outra margem do rio comprido desliza liza

    at a outra margem do afluente do rio desliza liza

    at a outra margem do riachinho desliza liza

    bicho-preguia

    sentado no galho da sapucaia i i i i

  • 24 TRANS 15 (2011) ISSN: 1697-0101

    sentado no galho da sapucaia i i i i

    di di di di di di

    di di di

    di di di di di

    di di di di di

    di di di.

    di di di.

    di di di di di di di di

    di di di di di di di di

    di di di

    di di di

    di di di di di di di di di di di

    di di di di di di di di di di di

    di di di di

    di di di di

    di di di di di di di di

    di di di di di di di di

    di di di di

    di di di di

    di di di di di di di di di di

    di di di di di di di di di di

    di di di di

    di di di di

    di di di di di di di di di di di di di di

    di di di di di di di di di di di di di di

    di di di

    di di di

    di di di di di

    di di di

    di di di

    di di di di di di di

    di di di

    di di di

    di di di di di di di di di di di

  • Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn 25

    subindo no cip subindo no cip subindo no cip subindo no cip

    agarrado no galho agarrado no galho

    no galho no galho no galho no galho no galho agarrado

    agarrado no galho agarrado no galho

    no galho no galho no galho no galho no galho no galho agarrado

    Desta forma, o trabalho que realizei com os colaboradores tikmn nunca foi por nenhum

    deles considerado um resgate cultural, ou algo que preservasse a sua cultura, como muitas

    vezes vi nossos projetos sendo apresentados. Primeiramente porque no que diz respeito aos seus

    repertrios, no h propriamente algo a resgatar, ou alguma perda a substituir. Mas, sobretudo,

    porque escrever os cantos tem sido apenas uma instncia a mais de produo dessa zona de

    interafetao, uma extenso dos demais gestos - da dana, do canto, das trocas - que eles

    realizam com os espritos. Esta nova experincia que os Tikmn realizam com os pesquisadores

    yhk no tomada por eles como um gesto patrimonialstico, eles no esto delegando sua

    arte da memria s nossas instituies de ensino e pesquisa. Creio que tomam estas instncias de

    escrita e traduo como rituais de captura de novos aliados, de ampliao de espaos comuns

    onde os nossos corpos se inscrevem, afetam, ressoam e se fazem reverberar.

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    Rosngela Pereira de Tugny Graduada em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986), Rosngela Pereira de Tugny concluiu doutorado em Musica e Musicologia pela Universite de Tours (Universite Franois Rabelais) (1996) e realizou estgio de ps-doutorado junto ao Programa de Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ (2007). Atualmente professora associada ao Departamento de Teoria Geral da Msica da UFMG, pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq, Brasil) e realiza pesquisas e projetos de colaborao cultural com os povos Tikmn. Alm da publicao de dois volumes de cantos traduzidos, realizados em colaborao com os especialistas Tikmn, autora de diversos livros e artigos na rea de msica.

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    Cita recomendada

    Pereira de Tugny, Rosngela. 2011. Reverberaes entre cantos e corpos na escrita Tikmn. TRANS-Revista Transcultural de Msica/Transcultural Music Review 15 [Fecha de consulta: dd/mm/aa]

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