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Transtornos Depressivos da Infância Nilo Fichtner

Transtornos Depressivos da Infância

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Transtornos Depressivos da Infância

Nilo Fichtner

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Introdução

Propósito – Sistematizar as manifestações

clínicas dos transtornos depressivos, levando em consideração várias fases do desenvolvimento do indivíduo no decorrer do seu ciclo vital.

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Introdução

As variações de humor – a depressão – são emoções humanas comumentes vivenciadas no decorrer da vida, da infância à velhice.

Tais emoções podem significar:• uma momentânea expressão de tristeza, • um sintoma reativo a um acontecimento

ambiental estressante, • uma síndrome,• um transtorno como manifestação de doença

afetiva.

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Depressão na Infância

Após o 4º Congresso da União Européia de Psiquiatria Infantil (1983) os estados depressivos da criança começaram a ser valorizados como problemática.

1978 – 25% das consultas psiquiátricas da infância evidenciavam manifestações depressivas.

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Depressão na Infância

1983 – cerca de 3 milhões de crianças norte americanas padecem de depressão sem serem diagnosticadas e tratadas.

Aproximadamente 6000 crianças e adolescentes praticam suicídio, sendo o mesmo a segunda causa mortis na adolescência.

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Fatores de Risco

Fatores Sociais

Fatores Familiares

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Fatores Sociais

Vivemos em um contexto social altamente estressante para as crianças:

• Solicitação de rendimento acima das capacidades o que ocasiona uma situação de fracasso que lhe mobiliza sentimentos de perda, baixa auto-estima, baixo nível de tolerância à frustração e feridas narcisísticas.

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Fatores Sociais

• A educação da criança é delegada às instituições educacionais, da creche à escola.

• Mas elas não apresentam as condições adequadas para estimular um desenvolvimento infantil satisfatório o que resulta em uma situação altamente carencial para a criança.

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Fatores Sociais

Assim neste contexto social altamente

estressante, podemos entender a incidência de depressão infantil, de suicídio e violência, entre outros problemas, que estão ocorrendo em todo o mundo

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Fatores Familiares

• No estudo das crianças depressivas, encontramos, com freqüência, em pelo menos um dos pais, a existência de manifestações depressivas.

• 40 % das crianças depressivas podem ser filhos de pais com distúrbios de personalidade e distúrbios psiquiátricos (maior incidência de alcoolismo).

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Fatores Familiares

• Do ponto de vista sócio – familiar, lares perturbados pelo abandono, pela ausência dos pais, separação do casal e conflitos permanentes se constituem em fatores de risco para as manifestações depressivas na infância.

• Nestes lares as crianças não recebem uma atenção autêntica e não são satisfeitas em suas necessidades básicas de apego, de afeto, de segurança e de limites.

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Fatores Familiares

• Os pais altamente críticos e perfeccionistas, que sistematicamente assinalam as eventuais falhas e fracassos de seus filhos, estimulam também as manifestações depressivas.

• Nestes lares as crianças não tem confiança em receber o afeto e a ajuda necessários para resolver suas dificuldades.

• Então a criança antecipa que será rejeitada e castigada.

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Fatores Familiares

• Em famílias rígidas as crianças vivem sem amor e não conta com a ajuda dos adultos, então ela procura tornar-se auto-suficiente, não aceitando auxílio de ninguém, apresentando com isso dificuldades de adaptação e aprendizagem.

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Fatores Familiares

• Já os pais extremamente permissivos, hiperinvestidores e superprotetores podem gerar sentimentos depressivos em seus filhos face à falta de limites que os mesmos vivenciam como negligência e abandono.

• Geralmente são crianças que vivem em famílias simbióticas (fusão, sem definição de papéis) o que dificulta uma adequada adaptação ao mundo extrafamiliar.

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Depressão na Infância

• Depressão no bebê,

• Depressão no pré-escolar,

• Depressão no Escolar

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Depressão no Bebê

Estudos atuais da relação mãe/bebê mostram que os mesmos, precocemente, apresentam breves reações de tristeza relacionadas à ausência momentâneas da mãe, bem como reações depressivas quando a mãe é induzida a ter uma atitude inexpressiva para com seu filho (10 a 15%).

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Depressão no Bebê

As manifestações depressivas que configuram um quadro clínico, no decorrer dos primeiros anos de vida, estão amplamente relacionadas com:

• Os transtornos do vínculo mãe – filho,• A privação materna, • O abandono infantil e• A psicopatologia dos pais.

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Depressão no Bebê

Podemos descrever como quadros clínicos nesta faixa etária:

• A depressão anaclítica,• O hospitalismo e ,• O transtorno de apego reativo na infância.

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Depressão anaclítica

Privação emocional parcial. As crianças com tal problemática manifestam os

seguintes sintomas a partir dos seis meses: choro e retraimento, perda de peso, insônia, vulnerabilidade a infecções recorrentes, retardo e diminuição do grau de desenvolvimento psicológico e intelectual, rigidez com face inexpressiva, imóvel e olhar ausente, contato humano difícil e, por vezes, impossível.

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Hospitalismo

Privação emocional total. As crianças com tal problemática evidenciam

os seguintes sintomas: lentidão motora, passividade total, expressão facial vazia, movimentos corporais espásticos, movimentos bizarros dos dedos, diminuição progressiva do coeficiente de desenvolvimento, índice de mortalidade extremamente alto no primeiro ano (29,3%).

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Transtorno reativo de apego na infância.

• Começo anterior aos cinco anos de idade, evidências de falta de cuidado e retardo de desenvolvimento.

• As crianças apresentam uma ligação social acentuadamente perturbada e inadequada.

• Negligência das necessidades básicas da criança em nível de conforto, estimulação e afeto.

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Transtorno reativo de apego na infância.

• Negligências persistente em relação às necessidades físicas da criança.

• Repetidas mudanças de responsáveis primários, o que impede a formação de vínculos .

• São crianças com choro fácil, hipersonia, apatia, hipotonia muscular, hipomotilidade e reflexo de sucção débil.

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Transtorno reativo de apego na infância.

• Em torno de 50% dessas crianças apresentam o transtorno associado a alterações renais, cardíacas, metabólicas, neurológicas ou desnutrição e infecções crônicas.

• Esses quadros são facilmente encontrados na clínica pediátrica e comumente não são diagnosticados como manifestações depressivas.

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Depressão no Bebê

• A depressão anaclítica, o hospitalismo e o transtorno reativo de apego na infância com retardo de desenvolvimento se constituem nos quadros depressivos mais graves, de duração prolongada, que deixam seqüelas sérias, levando inclusive a morte.

• A intervenção familiar, o atendimento vincular mãe/filho podem melhorar significamente tais manifestações depressivas.

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Depressão no Bebê

• A psicopatologia dos pais, vivenciada pela criança como rejeição ou privação emocional parcial, pode mobilizar reações depressivas em bebês, os quais se tornam desanimados, apáticos, indiferentes, apresentando problemas alimentares, perda de sono, movimentos retardados e perda de peso.

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Depressão no pré - escolar

• A depressão maior, na criança pré-escolar, exerce uma importante alteração nas atividades próprias dessa faixa etária, atingindo inclusive as habilidades recentemente adquiridas.

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Depressão no pré - escolar

• As características clínicas evidenciam tristeza, humor disfórico, retardo psicomotor, dificuldade de ganhar peso, transtorno do sono, pesadelos, terror noturno, ansiedade de separação, diminuição da capacidade cognitiva e perda de interesse pelas atividades prazerosas desta etapa da vida.

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Depressão no pré - escolar

• Existem manifestações de depressão mascarada evidenciada através dos seguintes sintomas: perda de apetite, dor de cabeça, alergias, asmas e encoprese (evacuação na roupa).

• A separação dos pais, a perda de pessoas queridas entre outras situações de perda podem desencadear tristeza e sintomatologia próprias das depressões reativas.

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Depressão no Escolar

• Depressão Situacional• Síndrome orgânica depressiva• Depressão infantil primária• Distimia• Depressão mascarada

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Depressão no Escolar

• Depressão Situacional – São reações depressivas que ocorrem no decorrer do desenvolvimento normal de uma criança– Causa – situações traumáticas desencadeadas por

intensificação do estresse ou por perdas significativas. São mais intensas quando ocorrem em crianças com vivências carenciais precoces.

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Depressão no Escolar

• Causas da depressão situacional Nascimento de um irmão Morte de um ente querido Perda de um amigo Separações matrimoniais mal administradas pelos

pais, e mal elaboradas pelas crianças.

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Depressão no Escolar

• Sintomas da depressão situacional – Ocorre devido o acumulo de estresse gerando um prolongamento da reação depressiva. Perda da motivação para o estudo Distúrbio do sono Problemas de alimentação

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Depressão no Escolar

• Exemplo de um caso Clínico que pode causar depressão situacional João, aluno de 4ª série do 1º grau, apresentou

dores gástricas, insônia, falta de apetite, dificuldade de concentração, apatia e desinteresse pelos estudos após a separação dos pai. Como sua mãe e ele foram morar em outro bairro, o menino trocou de escola, perdendo amigos, colegas e professores com os quais convivia há mais de três anos.

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Depressão no Escolar

• Síndrome Orgânica Depressiva – Nesta síndrome várias enfermidades sistêmicas podem se manifestar, inicialmente através de sintomas depressivos ou esta pode ser uma reação a uma determinada enfermidade orgânica, como, por exemplo, doenças neurológicas, endócrinas, e infecciosas, entre outras.

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Depressão no Escolar

• Manifestações Déficit de atenção, Hiperatividade São crianças pouco agressivas com fraquíssimo

desempenho escolar, passivas, com alto nível de desatenção, baixa auto-estima, apáticas, que fogem ao desafio e que apresentam sentimento de culpa, desabilidades motoras e inábeis para o esporte.

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Depressão no Escolar

• Depressão Infantil Primária – Também classificada como “depressão maior” ou endógena, com grande incidência clínica psiquiátrica, prevalência de 2% da população infantil com predominância do sexo masculino

• Causa – Associada a uma história de desajustamento social pré-mórbido da criança, bem como histórico familiar de depressão.

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Depressão no Escolar

• Critérios e Diagnósticos – Existem vários critérios diagnósticos para transtorno depressivo maior na criança

• De acordo com os critérios de Weinberg existem 10 manifestações: Humor disfórico, idéias auto-depressiativas, distúrbio

do sono, dificuldade de aprendizagem, sociabilidade diminuída, queixas somáticas, perda de energia habitual, desadaptação escolar, comportamento agressivo, mudanças de apetite ou peso

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Depressão no Escolar

• Segundo os critérios de Sandler e Joffe (1965) – A síndrome depressiva da infância são: insatisfação, sentimento de rejeição, dificuldade de receber ajuda e regressão a uma passividade oral.

• Ajurriaguerra (1986) – Enfatiza sintomas ligados ao sofrimento depressivo: obediência excessiva, submissão, distratibilidade, desleixo corporal, necessidade punição e sentimento de culpa

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Depressão no Escolar

• Distimia – É manifesta através de humor deprimido ou irritável, sendo um quadro clínico menos severo que o da depressão maior, apresentando uma duração de pelo menos um ano.

• Sintomas: humor deprimido durante a maior parte do dia, dependendo da evolução do quadro pode passar para depressão maior

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Depressão no Escolar

• Depressão Mascarada – Tendem a expressar-se através de uma linguagem corporal, tais manifestações podem ser evidenciadas por problemas psicossomáticos como cefaléia, anorexia, diarréia, etc.

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Conclusão

• Chegamos ao consenso que um satisfatório relacionamento materno/filial protege a criança contra a depressão, ajudando-a a elaborar as fases depressivas do próprio desenvolvimento. Organiza as bases da segurança, de confiança e de apego aos pais e a outras pessoas, estimula a capacidade de adequar suas reações emocionais. Possibilitando a este ser em desenvolvimento uma adequada elaboração das sucessivas perdas e frustrações que ocorrerão no decorrer da vida.