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douro tribuna número 81 | março 2011 uma experiência inesquecível e única Hotel Rural Quinta do Pêgo reportagem | Foz Tua entrevista | Alexandre Parafita vinhos | Intercâmbios Gastronómicos descubra Ansiães: um sítio com 5 mil anos de história

Tribuna Douro nº81

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Tribuna Douro

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dourotribuna

número 81 | março 2011uma experiência inesquecível e únicaHotel Rural Quinta do Pêgo

reportagem | Foz Tuaentrevista | Alexandre Parafita

vinhos | Intercâmbios Gastronómicos

descubra Ansiães: um sítio com 5 mil anos de história

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ÍndiceEditorial

ficha técnicaDirector: Mário MendesRedacção: Mário Mendes Cronistas: Mário Mendes, Jorge Almeida, Paulo Costa, Nuno Pires,Jaime Portugal, Frederico Lucas e Manuel IgrejaColaboração: Paulo Costa, Manuel Igreja, Cláu-dia Borges, Nuno Pires e Micaela Cruz

Edições, Marketing e Publicidade, LdaAvenida da GalizaCentro Comercial do Eifício MiradouroLoja BM 5050-273 Peso da Régua PORTUGAL

Título Registado (ICS) nº 12463ISSN: 9771645791004

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tome nota

garfos e pratos | Cepa Torta

escapadinha

aldeias eternas

vinhos & blogs

vinhos

o que não dispenso | Marta Correia

solidariedade social

instituições com história

emresa D’Ouro | ENOVINI

Património | Ansiães

região

gente das letras | Guerra Junqueiro & Trindade Coelho

no douro , pelo douro | Unidade

novos horizontes | de braços abertos

na primeira pessoa | a mulher do cesto

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entrevista | Alexandre Parafita 24

de portões abertos | Quinta do Pêgo 4

Design e Paginação: Global Sport – eventos, marketing e comunicaçãoPublicidade Direcção Financeira968 210 504Tel.:254 321 020 Fax.:254 321 180

[email protected]

PeriodicidadeMensal

reportagem | Foz Tua 28

O norte do continente africano está a braços com uma das piores situações de sempre, com comprometimen-to da paz, não só naquela região como, também, em outras partes do mundo.O poder da internet e das redes sociais é enorme. Hoje, é muito fácil, a coberto de um bem intencionado apelo a uma qualquer manifestação, provocar uma onda de tumultos sociais de final imprevisível.Há, principalmente nos grandes centros ou nos de grande desemprego, muitas necessidades e muita gente a passar mal, inclusivamente, a passar fome. Há gente que perdeu o emprego, a família e a esper-ança. O Estado porta-se como o Sherif de Nothingham. Não há dinheiro sobem-se os impostos! A maioria das pequenas e médias empresas estão falidas. Vivem no fio da navalha, tentando aguentar, na esperança de melhores dias. Os combustíveis aumentam a cada mo-mento. As pessoas perdem poder de compra. A conse-quência é o aumento das dificuldades dos diferentes sectores económicos. Os bancos só emprestam com as maiores garantias, os mais elevados juros e, por en-quanto, vão subindo os lucros que a crise lhes propor-ciona. O governo admite a hipótese de novas medidas para redução do deficit. Se estas fossem de ordem a reduzir a despesa, tudo bem. Só que o peso do Estado contin-ua a não diminuir e a alternativa mais fácil é o aumento dos impostos. O País está parado. Para que servem, neste momento, o governo e o parlamento?O Presidente da República que, temos a certeza, es-tará bem informado deve intervir. Para devolver a es-perança ao País ou dar a soberania ao povo. Senão o fizer pode, também, vir a ser responsável pelo que, de pior, poderá vir aí.

Por Mário Mendes

vinhos | intercâmbios gastronómicos 16

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de portões abertos

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O Hotel Rural Quinta do Pêgo é um moderno alojamento de 4 estrelas, completamente restaurado, na primavera de 2009. Dispõe de piscina ex-terior, restaurante, bar, sala de estar, loja de Vinhos, capela e sobretudo uma paisagem privilegiada sobre o rio e vales do Douro.

Aos hóspedes é oferecida uma amigável, calorosa e relaxante estadia. Localizada no coração do Douro, em Valência do Douro, Concelho de Tabuaço, esta é, sem dúvida, uma das propriedades mais soberbas de todo o vale do Douro.

Se desejar estar rodeado por belíssimas vinhas e experimentar a vista espectacular sobre o Vale e Rio Douro, deve mesmo visitar o Hotel Rural Quinta do Pêgo. Será uma experiência única.

Dispõe de 10 Quartos com vista para o rio Douro. Todos eles decorados com muito bom gosto, com ar condicionado, TV por satélite e casa de banho com piso radiante. O preço é de 150€ em Quarto Duplo por noite. As reservas podem ser feitas em www.booking.com ou em www.quinta-dopego.com.

Durante a estadia, os hóspedes têm à sua disposição inúmeras activi-dades: provas de vinhos; passeio em Barco Rabelo; passeio em comboio; visitas a Quintas da Região; passeios de bicicleta pela vinha, visitas a miradouros, entre outras.

Quinta do Pêgo conquista troféu internacionalO Hotel Rural Quinta do Pêgo é o vencedor nacional do “Best of Wine Tourism 2011” – “Great Wine Capitals” na categoria de alojamento. “The Great Wine Capitals” (GWC) é uma rede de nove grandes cidades globais,

Quinta do Pêgouma experiência inesquecível e única

O Hotel Rural Quinta do Pêgo oferece aos seus hóspedes uma amigável, calorosa e relaxante estadia, para jamais ser esquecida.

que partilham um ponto-chave da economia e cultura: as suas, internac-ionalmente, reconhecidas regiões vinícolas. Esta existe com a finalidade de encorajar o intercâmbio de viagens, educação e negócios entre as cidades de renome internacional como Bilbao/Rioja, , Bordeaux, Cape Town, Christchurch/New Zealand, Florence, Mainz/Rheinhessen, Men-doza, Porto and San Francisco/Napa Valley.

Este reconhecimento é comprovado igualmente pela avaliação dos hós-pedes. A 27 de Julho de 2010, o Hotel atingiu uma pontuação impression-ante de 9.2 (numa escala de 0 a 10), mediante o feedback dos hóspedes no site booking.com. Além disso, o Hotel Rural Quinta do Pêgo é o Hotel com maior pontuação entre todos os bons hotéis de 4 e 5 estrelas no vale do Douro – e na verdade, este é o único Hotel na área com pontuação acima dos 9.

Actualmente, a Quinta do Pêgo é composta por 33 ha de área, sendo que 30 ha são área plantada. O solo é de classificação A, a mais elevada na região. As uvas que crescem nesta área são consideradas de elevada qualidade, utilizadas para a produção de Portos Vintage e LBV.

De acordo com documentos históricos, a produção de vinho remonta a 1548 e muito provavelmente à ocupação romana. Hoje em dia, o vinho do Porto e os vinhos do Douro, de elevada qualidade, têm sido vendidos um pouco por todo o mundo. É um “obrigatório visitar” e um “obrigatório provar”.

Na Loja de Vinhos encontram-se os melhores vinhos e azeite produzidos na Quinta, quer seja para uma experiência sensorial ou para comprar.

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de portões abertos

Vinhos reconhecidosOs vinhos da Quinta do Pêgo sempre conquistaram imensas medalhas e comentários de prestígio. A Quinta do Pégo produz vinho do Porto, vinho do douro DOC e azeite.

Em 2010, os vinhos da Quinta do Pêgo receberam muitas medalhas em prestigiados concursos internacionais de vinho. Por exemplo, Quinta do Pêgo 2005 Late Bottled Vintage ganhou 5 de 5 estrelas em www.vinavis-en.dk, 5 de 6 estrelas em Morgenavisen Jyllands-Posten, Ouro no Interna-tional Wine Guide 2010, Ouro no Mundus Vini 2010 na Alemanha, Ouro no Wine Masters Challenge 2010 em Portugal e Prata no Concours Mondial de Bruxelles 2010.

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tome notaAs terras quentes do Alto Douro têm um clima particular, possibilitando anunciar a primavera com cerca de um mês de antecedência. Como resultado desta particularidade do Douro Superior é a magnífica paisagem das Amendoeiras em Flor. Aqui ficam algumas sugestões…

PARA OS MAIS RADICAISPara os amantes da natureza e de desporto, o Município de Mogadouro sugere uma programa bem diferente.Trata-se do passeio BTT das Amendoeiras, que se realiza no dia 12 de Março.É uma forma diferente de apreciar a magnifica paisagem florida das amendoeiras.

CP CONVIDA A DESCOBRIR A ROTA DAS

Embarque na memorável viagem da Rota das Amendoeiras Deixe-me deslumbrar pelo cenário florido que invade a região nesta época do ano. Viaje até às terras do Alto Douro e Trás-os-Montes em comboio especial, num percurso que vai de Porto Campanhã até ao Pocinho. Este ano, a Rota das Amendoeiras está complementada com 3 circuitos rodoviários à sua escolha.A CP – Comboios de Portugal disponibiliza este serviço especial durante o mês de Março, sempre aos Sábados.Para saber ter todas a informações sobre horários, percurso, reservas, consulte o site www.cp.pt ou através do 808 208 208.Preços: Adulto: 33 € / Criança: 23 €

AMENDOEIRAS

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tome notaMONTE DE SÃO SEBASTIÃOEm cada flor uma historia para contar...O Monte de São Sebastião é uma casa rústica com 4 quartos duplos locali-zada na Quinta de São Sebastião em Murça, onde predomina a cultura do vinho (Douro), azeite e pomar de qualidade.

É o local ideal para desfrutar de uma magnífica e abrangente paisagem, descanso e isolamento, passeios pelos seus jardins, podendo ainda apre-ciar a Serra da Garraia, o Rio Tinhela e outros atractivos de interesse da região.Nesta época do ano, o Monte de São Sebastião tem preparado um itinerário para “Amendoeiras em Flor”. Depois do passeio, no regresso final da tarde ao Monte São Sebastião, os hóspedes encontram um lanche com iguarias típicas do Douro. Pela noite dentro, poderão relaxar optando por jogos de mesa, snooker, ping-pong ou jogos de dardos.No dia seguinte, há muito mais para descobrir. Assim, é possível realizar um passeio pela Quinta do Monte de São Sebastião, ver a Vinha, Olival, árvores de fruto…

Programa 3 dias / 2 noitesPreço por pessoa: 90 €

Informações e reservas:Monte de São Sebastião | 5090-125 MurçaTelf.: (+ 351) 259 511 564 | 96 26 96 641Email: [email protected]: www.montesaosebastiao.com/pt/

“A CAPITAL DA AMENDOEIRA”

VILA NOVA DE FOZ CÔA EM FESTA ATÉ DIA

13 DE MARÇOJá considerada por muitos como a “capital da amendoeira”, Vila Nova de Foz Côa possui a maior densidade de amendoeiras.Aproveitando o período de floração, que marca a beleza da paisagem já por si deslumbrante, a Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa à se-melhança de anos anteriores organiza as Festas da Amendoeira em Flor.Com um cenário privilegiado, esta iniciativa, que celebra este ano a sua trigésima edição, é sem dúvida um dos pontos altos da vida sócio-cultural do Concelho.O programa conjuga na quinzena de festa, a Feira Franca, a Expocôa, Feira de Stocks e muitas mais vertentes das quais não faltarão os espec-táculos musicais.

Informações:Praça do Município | Centro Cultural | Largo do Terreiro Vila Nova de Foz Côa Tel. (+351) 279 760 400Email: [email protected]: www.cm-fozcoa.pt

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garfos e pratosCEPA TORTA

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O Restaurante Cêpa Torta é um exemplo de sucesso, sendo, desde há muito, um local de referência gastronómica para quem visita o Douro. Foi em Alijó que Rui Paula arrancou com a sua aventura gastronómica, quando montou o Cepa Torta.

Caracteriza-se por ser um restaurante de cozinha tradicional em que os pratos durienses ganham destaque tais como os Milhos à Transmontana, o Cabrito Assado que se serve com o Recheio dos Miúdos do Cabrito, o Arroz de Cabidela, o Bacalhau com Broa, o Arroz de Polvo com Filetes para além de muitos outros entre os quais ganha especial relevância o Misto de Carnes Maronesas Grelhado, uma variedade seleccionada de carnes de vitela maronesa devidamente certificada pela Cooperativa Agrí-cola de Vila Real.

As entradas são muitas e variadas entre as quais se elegem os Peixinhos da Horta, o Salpicão Frito, os Cogumelos Recheados, o Polvo em Vina-grete, os Ovos Recheados e é claro os Enchidos Grelhados com destaque para a Alheira.De sobremesa recomenda-se o Combinado de Compotas Caseiras a acompanhar com Requeijão ou Queijo da Serra, o Bolinho de Chocolate Quente e Frio, o Bolo de Chocolate acompanhado pelo Pudim de Natas e as Tortas Variadas.

Todas as sugestões apresentadas podem e devem ser acompanhadas por qualquer um dos Vinhos da sua longa Carta de Vinhos que para além de Vinhos do Dão e Alentejo, privilegia essencialmente os Vinhos do Douro.

Rua Dr. José Bulas Cruz | AlijóTel.:259 950 177Fax:259 958 326

Cozinha tradicional em que os pratos durienses ganham destaque

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www.vindimar.com

Rua Prof. José Lacerda Armazéns Escolha Dourada Armazém A - Apartado 59 | 5050-081 Peso da RéguaEmail: [email protected] | Tlf: 254 322 792 Tm: 936 775 818 Fax: 254 321 149 NIF: 503 166 553

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Miradouro de Nossa Senhora da Piedade - Alijó

Pelo facto de se estar num ponto de observação a uma altitude consid-erável, 750m, usufrui-se de uma amplitude de visão enorme. A paisagem é consideravelmente diferente da que se usufrui num Miradouro típico do Douro, apesar de se ter a vinha como elemento marcante. Esta, em vez de estar plantada em fortes declives (como nas margens do Douro), en-contra aqui terrenos mais planos (planaltos), onde é plantada com menor esforço, sem se ter de recorrer a grandes socalcos. No entanto, o efeito que tem sobre a paisagem é de extrema beleza.O Miradouro encontra-se numa zona de transição e as Formações Graníticas e a Formação do Pinhão, Ervedosa e Dese-josa, pelo que se pode visualizar alguns elementos destas formações. Além des-tas é possível observar elementos das Formações do Rio Pinhão e S. Domin-gos.

Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa

O Museu do Côa é o segundo maior museu (em área) de Portugal, a seguir ao de Arte Antiga de Lisboa.Os temas abordados são diversos, resultan-do de uma dinâmica de trabalho que procura cruzar factores exteriores, como topografia e acessibilidades, e factores de conteúdo pro-gramático. O desafio de fundir estes factores

torna-se explicito no conceito da intervenção “conceber um museu en-quanto integração na paisagem”.Está bem presente no espírito que residiu à Fundação Museu do Douro a necessidade e a preocupação de preservar, valorizar e divulgar os teste-munhos da cultura material e imaterial das populações que construíram a paisagem duriense. Ainda, realçar a necessidade de uma instituição mu-seológica de âmbito regional, vocacionada para inventariação, recolha, investigação, preservação, valorização e divulgação desses testemunhos da cultura, em especial do património material e imaterial do Douro Vin-hateiro.

escapadinhaDescubra alguns dos locais mais significantesda Região do Douro Vinhateiro...

Murça

A simpática vila de Murça é sede de freguesia e do concelho com o mesmo nome, e fica localizada no distrito de Vila Real, na transição entre a região a duriense e a trasmontana.Voltando-nos a sul, vemos uma paisagem amena de vinhedos e olival, de imensa riqueza. A norte, encostas serranas e penhascosas, menos produtivas, mas igualmente belas...O povoamento do território de Murça remonta a épocas longínquas, como se comprova pelos diversos vestígios encontrados nesta área. O então território desta Freguesia foi depois ocupado pelos Celtas, Romanos, Suevos e Árabes.Do seu rico património destaca-se a Porca de Murça. É o símbolo que identifica a vila. Esta escultura em granito, encontra-se rodeada por lendas populares, não sendo exacta qual a sua verdadeira proveniên-cia e propósito.De referir ainda a Capela da Misericór-dia e o Pelourinho, que foi incluído no primeiro decreto português de classifi-cação de monumentos nacionais.Murça é ainda conhecida pelo seu mel, queijo de cabra e enchidos. Na sua gastronomia sobressaem os derivados da matança do porco.

São Martinho de Anta

São Martinho de Anta foi o berço do grande escritor Miguel Torga, que nasceu nesta Freguesia no dia 12 de Agosto de 1907 e cuja casa se pode apreciar.S. Martinho de Anta situa-se a 5 km da Sede do Concelho, junto à estrada que liga Sabrosa a Vila Real. A Freguesia é constituída pelas povoações de Anta,

Garganta, Roalde, S. Martinho de Anta, Queda e Fragas ocupando a área total de 16,01 Km2. Nesta Freguesia, no lugar da Tenaria – Roalde, nasce o Rio Ceira que é um dos afluentes do Douro.Na Freguesia podemos visitar a Capela de Nossa Senhora da Azin-heira, com um maravilhoso retábulo e o tecto artisticamente pintado no século XVIII.

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aldeias eternas

AGUIAR DE SOUSAAguiar de Sousa é uma freguesia portuguesa do concelho de Paredes, com 22,32 km² de área e 1 600 habitantes (2001). Densidade: 71,7 hab/km².

Foi vila e sede de um extenso concelho até ao início do século XIX. Era constituído por 39 freguesias dos actuais municípios de Gondomar, Va-longo, Lousada, Paredes e Paços de Ferreira. Tinha, em 1801, 21 643 habitantes e ocupava uma superfície de cerca de 260 km².

A Nossa Senhora do Salto é uma garganta no vale do rio Sousa onde existe uma capela e um Santuário. Situa-se nos arredores do Porto no Concelho de Paredes.É um daqueles locais típicos das serras do Norte de Portugal.

A paisagem é deslumbrante ao longo do vale do rio Sousa . As falésias de escalada situam-se em ambas as margens do rio formando uma enorme garganta.

Foto Maria Lourdes Sousa

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aldeias eternas

FAJÃOFajão é uma freguesia portuguesa do concelho de Pampilhosa da Serra, com 65,70 km² de área e 295 habitantes (2001). Densidade: 4,5 hab/km².

Foi vila e sede de concelho até 1855. Era constituído apenas pela fregue-sia da sede e tinha, em 1801, 713 habitantes. Após as reformas admin-istrativas do início do liberalismo foram-lhe anexadas as freguesias de Teixeira, Dornelas, Janeiro de Baixo, Unhais-o-Velho e Vidual de Cima. Tinha, em 1849, 3 359 habitantes.

Fajão, uma das dez freguesias do concelho de Pampilhosa da Serra, está situada numa espécie de concha rodeada de montanhas, tendo à esquer-da os rochedos de Penalva e o cabeço da Mata, para a direita a Serra da Rocha, à rectaguarda a Serra da Amarela e em frente o Picoto de Cebola.

A sua situação à beira de uma estrada carreteira que liga a Beira Baixa com as outras Beiras, tornaram-na um centro de passagem obrigatória para os almocreves e outros visitantes que por ali tinham que passar.

Aldeia de grandes tradições, tem na sua essência o xisto com que são construídas a maior parte das suas habitações. Aldeia da rede “aldeias de xisto”, encontra-se em franca recuperação arquitectónica de forma a

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Foto: Inês Santos

promover o turismo regional.Dista cerca de 20 Km da aldeia do Piodão, sendo que o alojamento nesta aldeia é de qualidade e a preços simbólicos em relação a esta. Fajão tem também como posse uma aldeia chamada de Castanheira da Serra cheia de grandes e também diversas tradições perto de cei-roquinho.

Património

Museu Monsenhor Nunes Pereira - Dispõe de núcleos de etnografia, documentação, pintura e escultura. Exibe a reconstituição de alguns espaços típicos (cozinha, quarto). Tem Sala de Exposições Temporári-as.Igreja Paroquial de Fajão - Séc. XVIII (1788). O altar-mor remonta ao séc. XVII. A Pia Baptismal e as imagens de S.Teotónio, S.Simão e N. Senhora do Rosário (recebidos do templo primitivo), à segunda meta-de do séc. XVI.Capelas - Em zona aprazível, à entrada da aldeia de Fajão, erguem-se as capelas de N. Senhora da Guia e de S. Salvador.Antiga Casa da Câmara e Cadeia - Edifício em xisto que alberga hoje uma acolhedora hospedaria.

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Intercâmbios GastronómicosPromover e valorizar a cozinha regional, impulsionar o turismo gastronómi-co e dinamizar o negócio da restauração. Eis os principais objectivos do evento Intercâmbios Gastronómicos, um projecto nascido exclusivamente da iniciativa privada e sustentado pelo estabelecimento de parcerias entre restaurantes de várias regiões gastronómicas do país.O evento, que já conseguiu unir alguns dos mais emblemáticos restau-rantes de comida tradicional das regiões Norte e Centro de Portugal, teve início em Fevereiro e prolonga-se pelos meses de Março e Abril, durante um fim-de-semana (de sexta-feira ao jantar a domingo ao almoço) de cada mês.Estes intercâmbios traduzem-se na apresentação de diferentes cozinhas típicas em outras regiões do país. A novidade é que, neste projecto, ao invés de serem os clientes a viajar para poderem saborear as iguarias de zonas distantes, são os próprios restaurantes que se deslocam a outras regiões para servirem as suas especialidades. Estes são acolhidos por restaurantes locais integrados no projecto que, durante o fim-de-semana, disponibilizam totalmente o espaço e os equipamentos.O cardápio, o preçário e a coordenação do serviço de sala, serão da re-sponsabilidade do restaurante convidado. Desta forma, o cliente poderá provar e saborear a melhor gastronomia de outras regiões sem a obriga-toriedade de gastos em deslocações, algo que em tempo de crise é de ressalvar.A 1ª fase do evento arrancou em Vila Real, onde o Restaurante/Grill O Costa é o anfitrião. Depois do restaurante O Gaveto, de Matosinhos, ter

mostrados as suas especialidades de marisco e peixe fresco, é a vez do restaurante Camelo, de Viana do Castelo, servir o melhor da gastronomia minhota. Assim, as iguarias do Camelo serão servidas no Restaurante/ Grill O Costa durante o fim-de-semana de 25, 26 e 27 de Março. Já as especialidades do Centro (com destaque para o leitão e espumantes daBairrada), trazidas pelo restaurante Manuel Júlio, de Coimbra, fazem as honras da casa nos dias 1, 2 e 3 de Abril. A par da gastronomia, os jan-tares serão animados com música ao vivo.Os proprietários dos restaurantes envolvidos nos Intercâmbios Gas-tronómicos esperam que, em ano de crise e em época de menor ocu-pação, esta iniciativa consiga promover o turismo gastronómico e que se venha a revelar um importante contributo para a dinamização do negócio da restauração. Os mesmos responsáveis reforçam o propósito de dar maior visibilidade à culinária tradicional e de valorizar a gastronomiaregional, onde a multiplicidade de ingredientes resulta na apresentação de receitas de sabor singular.Finda esta primeira fase do evento, a parceria será continuada com a participação do Restaurante/Grill O Costa em semanas gastronómicas a programar pelos parceiros, nos mesmos termos e condições. Entre as várias iguarias que o restaurante transmontano levará ao Litoral, Minho e Centro são de destacar os afamados grelhados de vitela maronesa D.O.P. e as deliciosas alheiras, também de vitela maronesa.Os Intercâmbios Gastronómicos estão abertos à participação de outrosrestaurantes.

vinhos | Intercâmbios Gastronómicos

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vinhosPromover o Turismo GastronómicoEsta iniciativa de cariz privado mereceu o reconhecimento e o elogio de diversas entidades locais e regionais presentes na apresentação do pro-jecto. Júlio Meirinhos, vice-presidente da Turismo Porto e Norte de Portu-gal frisou que a gastronomia é um “produto estratégico na dinamização do sector turístico” e um dos recursos com maior potencial para “catapultar” as regiões. António Martinho, presidente da Turismo do Douro, enalteceu este “óp-timo exemplo” que considerou de “acrescido valor” por ter partido de um grupo de empresários.Já o vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Madeira Pinto, elogiou o facto do Restaurante/Grill O Costa ser já uma marca daquela cidade e deixou votos de que estas parcerias entre empresários de várias regiões possam trazer frutos para a economia local.

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vinhos & blogs

Muito recentemente desloquei-me a Gaia para visitar algumas caves de Vinho do Porto, um património único no mundo, que todos deveriam conhecer e que de-veria ser considerado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO tal a riqueza do local. Passear nas ruas do Centro Histórico e poder visitar as caves históricas que ali moram é como dar um salto atrás no tempo, imaginar a rolagem das pipas pelas pedras da calçada, as enormes salas de estágio onde moram au-tênticos sonhos por engarrafar. Visitar cada uma das caves é entrar num mundo

aparte, apesar do fio condutor que as une, ali mora um silêncio que perdura na história, talvez apenas o sussurro dos néctares divinos que vão estagiando seja o único ruído que mereça ser ouvido, autênticos pavilhões do conhecimento que se pudessem falar teriam tanto para nos contar, tal a história e segredos que encer-ram.Ora se há vinhos que fazem parte das minhas paixões enófilas, certamente serão os Colheitas nos seus mais variados perfis e a variar de cave para cave, afinal cada produtor imprime um cunho bem diferente nos vinhos que produz. O Colheita é um estilo de Porto diferente do Vintage, no Colheita (Tawny) o vinho estagia em pipas até ser engarrafado, sofrendo por isso um processo de oxidação muito lenta durante os longos anos que vai estando guardado, no caso dos Vintage (Ruby) o vinho passa por madeira mas acaba por estagiar em garrafa, em ambiente redutor.Optei por falar apenas nos Colheita da Burmester, vinhos que merecem tal como todos os grandes vinhos, serem provados nem que seja uma vez na vida, pois esse momento será recordado para todo o sempre, tal a quantidade de emoções que nos conseguem transmitir. Mergulhar com os sentidos num destes memoráveis néctares é entrar num mundo de sensações luxuosas, onde os aromas de espe-ciarias, melados, charuto, fruta cristalizada, caramelo de leite, frutos secos, iodo

Sonhos engarrafados da Burmester

Por João Carvalho

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ou mesmo vinagrinho naqueles com idade avançada… autênticos mananciais de emoções, cobertos de frescura que perdura na boca e no tempo. Do mundo de sonhos engarrafados que é a Burmester, memoráveis colheitas foram colocados em prova, na memória já levava o 40 Anos Tordiz, o Colheita 1955 e o 1937. O nível em todos estes vinhos é de classe mundial, o preço acompanha o luxo e o nível destes inimitáveis néctares únicos no Mundo, claramente do melhor que se pode beber numa vida, pensava eu que já tinha visto tudo quando durante a prova foi servido um luxuoso e guloso 1960 e em crescendo encontrei-me com um aris-tocrata de belos modos com uma enorme finesse, admirável complexidade e fres-cura, interminável viajante e pecaminoso 1940 para ser completamente ofuscado pela soberba e direi perfeição da exclusividade com se mostrou 1900. Em todos eles as notas inconfundíveis de caramelo de leite, frutos secos, nos mais velhos as tais notas de iodo com algum vinagrinho, em que as tonalidades se desdobravam em reflexos esverdeados. Cada um destes vinhos deixou-me uma marca bem pro-funda na minha memória, vinhos que como já tinha dito anteriormente desper-tam emoções fortes, num misto de sorrisos, lágrimas, tristeza porque queríamos partilhar tanta emoção com tantos que já partiram, alegria porque estamos ali ao lado de amigos que sorriem para nós e que tão bem entendemos aquele sorriso, por vezes estes vinhos são metas, são a derradeira fronteira para a felicidade… e naquela manhã, foi a felicidade que reinou na cara dos que tiveram a sorte de ali estar e provar todos aqueles sonhos engarrafados.Todas as caves de Vinho do Porto merecem uma visita muito atenta, cada uma é por si só um arquivo de histórias para contar, e se alguma vez tiver a oportunidade de poder provar um vinho deste calibre não hesite, é tão bom sonhar acordado.

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vinhos

A colheita de 2008 do Vale de Cavalos Tinto, da Poças, já está disponível no mercado. Produzido em quantidades reduzidas na Quinta de Vale de Cavalos (Numão) este tinto reflete o caráter dos vinhos provenientes do Douro Superior. As castas predominantes são Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca.

Segundo as notas de prova dos enólogos Jorge Manuel Pintão e Luís Rodrigues, este vinho de cor retinto e aroma a cerejas maduras e alguma especiaria, apresenta-se ao paladar com corpo elegante e taninos polidos e macios.

Como sugestão de consumo, é evidenciada a excelente ligação com quei-jos de intensidade média ou alta, bem como com pratos variados de carne e caça.

O Vale de Cavalos Tinto 2008 é exportado para Alemanha, Bélgica, Brasil, Holanda, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Dinamarca. Em Por-tugal pode ser encontrado nas lojas Modelo Continente, Intermarché, El Corte Inglés e garrafeiras de norte a sul do país.O PVP recomendado é de 7 euros.

VALE DE CAVALOS TINTO 2008 DISPONÍVEL NO MERCADO

Reconhecido pela crítica nacional e internacional

No seu guia “Vinhos de Portugal 2011”, João Paulo Martins classifica-o de “muito bom, com personalidade vincada”, considerando-o “macio e envol-vente na boca, muito gastronómico, de boa estirpe, que pode ser bebido já mas que durará uns anos em cave”.

Na edição de Janeiro da Revista de Vinhos, o Vale de Cavalos Tinto 2008 faz parte das novidades e é considerado “bem atrativo”, sendo-lhe atribuí-da “alguma complexidade num conjunto de estilo moderno”.

Lá fora o Vale de Cavalos 2008 conquistou igualmente a atenção da críti-ca especializada, tendo sido bem avaliado por publicações de referência como a Wine Enthusiast e a The Wine Advocate, que lhe atribuíram 91 e 88 pontos, respectivamente.

Mark Squires, crítico da The Wine Advocate responsável pelos vinhos de Portugal, considera que “agradará certamente a connoisseurs e iniciantes no mundo do vinho”

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marketing & comunicação

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mais informações 259 338 292

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o que não dispenso

A jovens psicóloga duriense, líder da empresa Lima

& Cacau, gosta de ler, aprecia um bom vinho, é

gulosa, adora caminhar e não dispensa sorrir.

PESO DA RÉGUA

MARTA CORREIAPsicóloga | 30 anos

GratidãoAgradecer tudo aquilo que tenho neste momento, reforçando a minha de-terminação na prossecução dos meus sonhos!

CaminhadaUma boa caminhada pela manhã tendo o Douro como companhia.

Acessórios de ModaUma clutch, pumps, óculos de sol e as minhas sapatilhas Easytone!

VinhosUm bom vinho tinto do Douro na companhia de alguém especial que partilhe o mesmo gosto!

PessoasAs pessoas que admiro, as que me fazem sorrir, as que me fazem sonhar e as que me fazem acreditar!

ChocolateUm triângulo de um dos melhores chocolates suiço: Toblerone!

CinemaQualquer filme que tenha como protagonistas Denzel Washington ou Mer-yl Streep.

MúsicaA música de fundo que “uso e abuso” nos meus workshops!

Mar e SolA sensação de tranquilidade, equilíbrío e paz que o mar desperta em mim e a energia de um fantástico dia de sol!

LivrosUm único livro de Robin Sharma que são para mim verdadeiras fontes de inspiração e sabedoria.

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entrevista | Alexandre Parafita

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Enquanto investigador, faz parte da equipa incumbida de realizar o “Arquivo e Catálogo do Corpus Lendário Português”, no âmbito da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Como escritor, é autor de mais de 40 livros, muitos dos quais fazem parte do Plano Nacional de Leitura. Publicadas nas principais editoras nacionais (Texto Editores, ASA, Gailivro, Porto Editora, Oficina do Livro, Plátano, etc.), eis algumas das suas obras mais conhecidas: “A Mitologia dos Mouros”; “O Maravil-hoso Popular”; Antologia de Contos Populares” (2 vols); “Chovia Ouro no Bosque”; “A princesinha dos bordados de ouro”; “Branca Flor, o Príncipe e o Demónio”; “A mala vazia”; “Diabos, diabritos e outros mafarricos”; “Bruxas, feiticeiras e suas maroteiras”; “Histórias de arte e manhas”; “Contos de animais com manhas de gente”; “Histórias a rimar para ler e brincar”; “Memórias de um cavalinho de pau”; “Vou morar no arco-íris”; “O rei na barriga”; “Pastor de rimas”; “O tesouro dos maruxinhos”; “Lo-bos, raposas leões e outros figurões”; “Contos ao vento com demónios dentro”.

No lançamento dos seus dois livros sobre o Douro Imaterial, editados pelo Museu do Douro, a Tribuna Douro (TD) quis ouvir o escritor. Como sempre, foi com a maior amabilidade que acedeu ao nosso convite e respondeu às nossas questões.

Alexandre Parafita (AP) é natural de Sabrosa. Tem o Doutoramento em Cultura Portuguesa e o Mestrado em Ciências da Comunicação. É docente do ensino superior, escritor e investigador nas áreas do património cultural imaterial e da mitologia nacional, sendo ainda vice-presidente do Observatório da Literatura Infanto-Juvenil (OBLIJ), se-diado na UTAD.

TD - A recolha, o registo e a divulgação do nosso património imaterial, área em que se tem distinguido, é uma obrigação, uma paixão, o resul-tado de um percurso de vida, o que será afinal?

AP - É tudo isso junto. Mas começou por ser uma paixão muito ligada às minhas origens, ao ambiente em que fui criado, com as preocupações e os saberes próprios do meio rural duriense. Toda a vivência, fosse no âmbito do trabalho, fosse no âmbito da festa ou da religiosidade, as-sentava na cultura imaterial. Ela estava nas canções, nos romances, nas lendas, nos contos, nos provérbios, rezas, medicina popular ou su-perstições. Nos dias de hoje, continuando a ser para mim uma paixão, começa a ser também uma obrigação, pois a celeridade da vida mod-erna cada vez mais põe em causa os suportes frágeis deste património, daí que seja necessário, quem pode, fazer alguma coisa por ele.

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entrevista

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TD - As suas memórias de menino e moço, servem-lhe de motivação e de base de trabalho, ou as que lhe restam da sua Sabrosa natal não são assim tantas como isso?

AP - As minhas memórias de infância foram determinantes para o iní-cio deste percurso. Nasci e cresci num conto de fadas. Os meus pais, por força das obrigações profissionais a que estavam sujeitos, tiveram de entregar grande parte da minha infância aos cuidados dos meus avós maternos, que, carinhosamente, me ensinaram tudo o que um menino do meio rural precisa de saber. Crescer na companhia de dois idosos, sentir o compromisso de os ajudar nos seus afazeres diários, encontrar sempre o equilíbrio necessário entre os deveres da escola e as obrigações domé-sticas, tornou-se determinante na construção do meu carácter. E é este o pilar com que parti para todo o percurso que estou fazendo.

TD - Do nosso devir histórico enquanto povo, qual diria que é hoje em dia a sua influência nas nossas características colectivas?

AP - Pode dizer-se que o fatalismo é o traço mais relevante das cara-cterísticas do nosso povo. E foi herdado dos árabes, como disse Jorge Dias. Mas este antropólogo também disse que, para os portugueses, o coração é a medida de todas as coisas. Portanto, somos um povo fatal-ista e sentimental. Um povo que se acomodou a um regime ditatorial de meio século e que hoje se acomoda de novo quando tudo à volta desafia inquietação e revolta. Recebeu a liberdade no 25 de Abril e hoje não sabe o que fazer com ela.

TD - O seu trabalho baseia-se em recolhas num território alargado que se espraia pelos arredores da Beira Alta, do Douro Vinhateiro e do Trás-os-Montes profundo. Poderemos dizer que existe um traço identitário co-mum, ou não?

AP - Estes territórios foram sempre muito marcados pela espiritualidade da paisagem associada a uma forte propensão para a religiosidade, fac-tores que projectam um fôlego sentimental nas gentes que por aqui vão vivendo. Por isso os traços identitários deste povo passam por aí. As len-das brotam da própria paisagem como renovos em leiras de regadio. Veja que no Alentejo há poucas lendas. E em Trás-os-Montes há muitas. Por que será?

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entrevista | Alexandre ParafitaTD - No território a que dedica atenção, a tradição e a informação em termos de memória é uniforme, ou há locais com mais riqueza imaterial?

AP - No Norte do país, especialmente nos meios rurais, há uma certa uniformidade em termos de cultura imaterial. Contudo, as comunidades onde a população idosa mais resiste e onde se mantêm as festas, rit-uais, labores e ofícios tradicionais, são aquelas que mais riqueza imaterial apresentam. É possível, ainda hoje, nos concelhos de Vinhais e Bragança, ouvir mulheres de idade a cantarem ou a recitarem peças do romanceiro tal como foram registadas há quase 200 anos pelos antigos etnógrafos.

TD - No nosso imaginário, temos o medo, sob a forma de lobisomens, bruxas, cavalos sem cabeça, e sei que lá que mais. Mas temos igual-mente o belo, o sublime, a força do amor, sob a forma de moiras encan-tadas, princesas com belos cantares, e o bem a vencer o mal. Enquanto humanos, de onde nos vem esta necessidade?

AP - A relação com o sobrenatural sempre esteve muito presente no imag-inário dos nossos povos. O medo coexiste com a superstição, impondo-se facilmente os equívocos entre o real e o fantástico, que conduzem à acei-tação de todo um elenco estereotipado de seres sobrenaturais. Depois é só ver para onde pendem as inquietações e os sonhos de cada um: se os lobisomens cumprem fadários terríveis que traduzem a fragilidade da condição humana quando entregue a um turbilhão de forças íntimas, as mouras encantadas, com seus tesouros, traduzem a miragem da sedução, os amores impossíveis, a perigosidade das tentações.

TD - Enquanto especialista, subscreveria a ideia de que até ao século das luzes e da razão, o século XVIII, e até mais tarde, com o advento do materialismo, foi o imaginário que orientou e baseou o quotidiano dos humanos?

AP - Se pensarmos nos imaginários medievais, assentes em crenças in-stituídas, que atravessavam toda a sociedade, sobre actos de magia, ri-tos de licantropia, bruxas e bruxarias condenadas pelas inquisições, mas

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também vampiros e mortos-vivos sugadores de sangue e outras trans-figurações satânicas, é admissível que sim. Na verdade, o despontar do conhecimento e da razão do Século das Luzes remeteu essas crenças para as franjas populares menos instruídas. Porém, o imaginário está sempre em construção. A imaginação colectiva dos povos, seja com a reconfiguração dos velhos mitos ou com os novos que nas sociedades modernas vão emergindo, seja com os factores identitários que estru-turam as comunidades, jamais deixará de ter um peso importante no seu futuro.

TD - Vivemos num tempo em que finalmente se começa a valorizar o património de um modo geral, mas também o imaterial de um modo especial. Se lhe pedisse para sustentar uma argumentação objectiva, e concisa na defesa deste “fazer-se”, o que diria?

AP - Não serei tão optimista como a pergunta sugere. Não há em Por-tugal um trabalho sistematizado de valorização do nosso património. Tenho dados, de resto, que apontam em sentido inverso. E quanto ao património cultural imaterial, pouco ou nada se faz. Portugal esteve cin-co anos para subscrever a Convenção da UNESCO para o Património Imaterial, assinando-a muito depois de quase todos os países já o ha-verem feito. Claro que, no meio disto tudo, há sempre quem não se renda à indiferença instituída. É o caso do Museu do Douro, que iniciou um trabalho autónomo de inventariação e estudo, um projecto a que es-tou ligado, e que publicou já dois volumes sobre o Património Imaterial do Douro.

TD – Na nossa opinião, a sua carreira está em alta. E projectos futuros?

AP - Não faço projectos a longo prazo. Umas coisas sempre vão pux-ando as outras. O sucesso de um livro chama outro, e por aí adiante. Este ano conto publicar, pelo menos, dois novos livros de literatura in-fantil, e continuarei, no tempo que me sobra, a visitar lares de idosos e aldeias em busca dos testemunhos dos velhos sábios que por lá teimam em resistir.

Despedimo-nos do escritor desejando-lhe os maiores êxitos futuros, agradecendo-lhe a disponibilidade com que, mais uma vez, nos rece-beu.

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reportagem | Foz Tua

“O investimento, de 305 milhões de euros, criará cerca de 4.000 postos de trabalho, directos e indirectos.”

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Foz Tua | reportagemEDP inicia construção da barragem de Foz Tua

Lisboa, 18 de Fevereiro 2011 – A EDP dá hoje início às obras da barragem de Foz Tua, com a assinatura do contrato de construção adjudicado ao agrupamento de empresas Mota-Engil/Somague/MSF. O projecto envolve um investimento de 305 milhões de euros, contribuindo para a criação de 4.000 postos de trabalho, 1.000 dos quais directos, ao longo dos próximos cinco anos. Foz Tua começará a produzir energia em 2015.

A barragem de Foz Tua situa-se no troço inferior do rio Tua, próximo da sua confluência com o rio Douro, abrangendo os concelhos de Murça e Alijó, do distrito de Vila Real, e os concelhos de Mirandela, Vila Flor e Car-razeda de Ansiães, do distrito de Bragança.

O aproveitamento de Foz Tua foi objecto do 1.º concurso público lançado pelo Instituto da Água (INAG), no âmbito do Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico. Com uma potência instalada de 251 MW, a produção média bruta de Foz Tua será de 585 GWh/ano, a que corresponde uma produção média líquida de 275 GWh/ano.

Foz Tua e os restantes 11 projectos de expansão hídrica da EDP totali-zam 3 500 MW, um reforço de capacidade de 76% face ao atual parque hidroeléctrico do Grupo. Esta aposta na energia hídrica, endógena e renovável, implica investimentos próximos de 3 200 milhões de euros, gerando cerca de 35 000 postos de trabalho diretos e indiretos.

Antevisão - Vista aérea

Antevisão - Vista margem esquerda do Douro

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Agência de Desenvolvimento e Serviço multimodal do Tua

Com o objectivo de valorizar recursos endógenos e aproveitar oportuni-dades geradas pelo Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua, será cri-ada a Sociedade de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua. A nova entidade terá participação dos Municípios de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor e vai concretizar projectos considerados es-truturantes para a região. Relativamente à linha do Tua, desactivada entre a barragem e a estação de Brunheda, será desenvolvido um Projecto de Mobilidade com um sis-tema multimodal. Serão implementados dois sistemas complementares de mobilidade, um destinado à mobilidade quotidiana e outro com finali-dade turística.

Para este efeito, a EDP disponibilizará um montante máximo de 10 M€ destinado a alavancar o financiamento global das ações-âncora do pro-jecto, cuja solução contempla:

i) A utilização do troço de via-férrea entre a Estação da Foz do Tua e a base da barragem;ii) Um funicular entre a base da barragem e o seu coroamento;iii) O transporte fluvial entre a barragem e Brunheda, e a construção de embarcadouros;iv) A qualificação da infra-estrutura ferroviária a partir de Brunheda.

O serviço multimodal do Tua deverá ser explorado em regime de con-cessão.

Perfil Técnico: • Barragem em betão, do tipo abóbada de dupla curvatura, com 108 m de altura máxima e 275 m de desenvolvimento de coroamento, locali-zada a cerca de 1100 m da foz do rio Tua, dispondo de um descarregador de cheias inserido no corpo da barragem equipado com comportas, de uma descarga de fundo e de um dispositivo para libertação de caudal ecológico;

• Central subterrânea em poço, equipada com dois grupos rever-síveis, , localizada na margem direita, cerca de 500 m a jusante da bar-ragem, com um edifício de descarga e comando situado à superfície, numa plataforma localizada a montante do encontro direito da ponte rodoviária Edgar Cardoso que liga os concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães;

• Circuito hidráulico subterrâneo, na margem direita, com uma ex-tensão total aproximada de 700 m, constituído por dois túneis independ-entes, revestidos, com diâmetros interiores entre 7,5 m e 5,5 m;

• Subestação compacta para ligação à Rede Nacional de Transporte, com equipamento GIS, situada na plataforma do edifício de descarga e comando da Central.

• O projecto inclui também a construção das estradas de acesso ao coroamento da barragem pela margem direita, às tomadas de água e ao cais fluvial e aos bocais da restituição.

reportagem | Foz Tua

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Solidariedade Social

Participe na Mini Maratona do Douro Vinhateiro.O VALOR TOTAL das inscrições reverte a favor

da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

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instituições com história

O Presidente Valdemar Mota, Presidente da Direcção, e a Directora do Centro Social, Dra. Isabel Ferreira, a quem desde já agradecemos, abriram-nos simpaticamente as portas da Instituição godinense e, com muito orgulho e uma indisfarçável alegria, responderam a todas as nos-sas questões, enquanto percorremos os vários sectores da Casa e con-vivemos, por breves momentos, com os beneficiários da instituição que dirigem e a que dão, diariamente, o melhor de si.Com setenta e quatro anos de existência, a Casa do Povo de Godim, esteve sempre vocacionada e preocupada em ser útil à população que serve.Durante muitos anos, nas suas instalações, esteve instalado um posto clínico onde os médicos e enfermeiros do serviço de saúde público davam as suas consultas e procediam aos tratamentos primários dos utentes.Também a cultura esteve sempre associada à sua actividade. O Rancho Folclórico da Casa do Povo de Godim tem levado longe o nome da terra que o alberga, não se limitando, o grupo, às exibições públicas mas, tam-bém, à recolha etnográfica das tradições e costumes regionais.As Festas Concelhias a Nossa Senhora do Socorro iniciam-se com um Festival Folclórico organizado pela Instituição que, todos os anos, tam-bém organiza um Torneio de Futebol de Salão, como actividade para os mais novos, e que conta sempre com um grande entusiasmo da parte do público, que acorre ao seu campo de jogos para aplaudir e incentivar as equipas.Na recepção que nos foi feita o Presidente Valdemar Mota congratulou-se com a nossa presença naquela Instituição que, há vinte e dois anos, presta um serviço de solidariedade social importante, dando emprego a vinte e cinco trabalhadores que, com seis viaturas de nove lugares, duas mistas e um autocarro, garantem a actividade de um Centro de Dia, um Centro de Convívio, Apoio domiciliário e Apoio nocturno.Deste trabalho, a que Dra. Isabel Ferreira superintende, beneficiam vinte e cinco utentes do Centro de Dia, trinta do Centro de Convívio e quarenta e cinco de Apoio Domiciliário. Para além da ocupação do tempo e alimentação dos beneficiários da casa, o apoio domiciliário garante a alimentação, higiene habitacional, hi-giene pessoal, tratamento de roupa, acompanhamento a consultas médi-cas e apoio social, para o que contam com uma cozinha modelar e uma lavandaria em intensa actividade diária.

O Centro de Convívio tem dois grupos de culinária que não se limitam à confecção de receitas. Eles criam as suas próprias receitas!É politica da instituição manter activos os seus utentes e proporcionar-lhes momentos de convívio e de lazer ao longo do ano. Nessa politica, inserem-se os regulares passeios de convívio e as quatro colónias de férias que organizam, duas na Apúlia e duas em Albufeira, sempre muito desejadas e participadas pelos beneficiários.As festividades anuais como o Aniversário da Instituição, o S. Martinho ou o Natal, por exemplo, são oportunidades para os utentes da Casa do Povo de Godim mostrarem os seus dotes artísticos e conviverem com familiares e amigos.Também é importante salientar a utilização do auditório da Casa do Povo pela comunidade. O Grupo de Teatro Roga d’Arte ali trabalhou e actuou, durante muito tempo, levando à cena algumas peças de grande quali-dade.Nos dois últimos anos o Grupo de Boccia, constituído pelos utentes, ven-ceu o torneio concelhio da modalidadePara tão intensa e meritória actividade, a Instituição, conta, para lá do apoio da Segurança Social, o do Município do Peso da Régua e das Jun-tas de Freguesia do Peso da Régua e Godim. O comércio também tem colaborado, quando solicitado, mas, o maior incentivo, vem da satisfação do trabalho prestado e dos momentos de alegria proporcionados aos mais idosos e carenciados, tirando-os do isolamento e da solidão.

CASA DO POVO DE GODIM

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instituições com história

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empresa D’ouro

ENOVINIO sonho comanda a vida, dizia o poeta António Gedeão, num dos seus mais belos poemas, a “Pedra Filosofal”. Foi assim que nasceu a ENOVINI. De um sonho do Engenheiro José António Tojeiro que, após concluir a sua formação em enologia, em Bordéus, cria com o seu pai, José Arnaldo To-jeiro, o gabinete de projecto que, mais tarde, dará lugar à actual empresa ENOVINI.

O Eng. José António Tojeiro ao lado da foto do pai, sócio fundador da empresa

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dourotribunaO Eng. José António Tojeiro ao lado da foto do pai, sócio fundador da empresa

empresa D’ouro

Desta, fazem hoje parte, a sua mulher, Manuela Tojeiro e o engenheiro Manuel Gou-veia. A maioria dos seus colaboradores têm quotas na empresa como incentivo à melhor produtividade e a uma gestão cuidada quer dos produtos quer dos clientes.Das iniciais instalações na Avenida de Ovar, depressa se transferiu para outras, maiores e mais funcionais, no Largo Comendador Renato de Aguiar e, posterior-mente, para as próprias e actuais, no ESDOURO PARK, em Godim.A ENOVINI não se limita a vender. Garante a qualidade dos produtos que comer-cializa e aposta na informação e aconselhamento técnico dos clientes de modo a satisfazer ou resolver, os seus desejos ou problemas, garantido a fidelização destes à empresa. Para a ENOVINI, cada cliente é, antes de mais, um parceiro que se pre-tende sempre privilegiar.O marketing directo junto dos enólogos e produtores foi, desde sempre, uma das apostas da ENOVINI. Privilegia-se a informação aos profissionais do sector e ga-rante-se-lhes a qualidade dos produtos. O tempo e a confiança fazem o resto.

Manuela Tojeiro

Eng. Manuel Gouveia

Eng. José António Tojeiro

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Uma das estruturas importantes desta empresa, fundada em 1988, é o seu laboratório de análises de vinhos. Bem equipado e servido por dois grandes profissionais, o Engenheiro Agostinho Ferraz e a técnica Filom-ena Raimundo, não se limita à análise das amostras mas, também, a cor-recção técnica dos vinhos correspondentes a essas mesmas amostras. Informações preciosas para os vitivinicultores, principalmente os de menor produção, que não possuem enólogos no fabrico dos seus vinhos. A outra componente importante é a comercialização e distribuição de cer-ca de 300 produtos enológicos na região Trasmontana – Duriense, Minho e Dão. A gestão dos produtos necessários aos vitivinicultores, ao longo do ano agrícola, protocolada para entregas regulares e atempadas, permite garantir com segurança o necessário stock mínimo, hoje tão importante para o comerciante como para o cliente final.O dinamismo desta empresa pode considerar-se corolário do dinamismo e participação social dos seus sócios que, na Casa do Douro, na Asso-ciação Regional de Apoio aos Deficientes de Trás-os-Montes e Alto Douro, na Associação Comercial e Industrial do Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio, na Liga Portuguesa Contra o Cancro e no Ro-tary Clube da Régua, tem servido, generosamente, a sociedade onde se encontram inseridos. O sonho comanda a vida. E sempre que o homem sonha / o mundo pula e avança / como bola colorida / entre as mãos de uma criança. A ENOVINI é bem essa bola colorida disposta a avançar, no meio comercial do Peso da Régua, privilegiando os seus clientes e parceiros comerciais com um serviço personalizado e de qualidade.

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património | Ansiães

O castelo de Ansiães já foi assaz altaneiro, como é tim-bre de castelo que se preze. Não o é contudo hoje em dia, tempo em que não passa de um conjunto de ruínas sob a forma de verdadeiros testemunhos de remotas Eras em que a importância dos locais se expressava pela existência de fortificações defensivas como esta.

ANSIÂES: UM SÍTIO COM 5 MIL ANOS DE HISTÓRIA

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patrimónioA ocupação humana deste complexo, pode ser recuada até ao III milénio a.C., - período calcolítico - como parece demonstrar o espólio resultante das recolhas de superfície e das sondagens arqueológicas ali realizadas em 1987. As características geomórficas do morro granítico em que se en-contra, dando-lhe excelentes condições de defesa, permitiram a fixação de pessoas, e foram motivo de uma longa continuidade de ocupação hu-mana. Desde essa altura que sucessivas fases ocupacionais são atesta-das por interessantes vestígios materiais reveladoras de uma longa dia-cronia que abarca a Idade do Bronze, a Idade do Ferro e toda a fase de romanização do território transmontano.

Ao que tudo indica a área do Castelo de Ansiães foi submetida a um in-tenso processo de romanização, estendendo-se os vestígios materiais, dessa ocupação, por uma vasta área que se desenvolve ao longo do sopé norte e nordeste do promontório granítico. Quase certa é, ainda, a presença árabe, tudo nos levando a concluir, a ex-istência de uma zona territorial ocupada alternadamente por mouros e por cristãos. Nesta área territorial, que englobava Ansiães, pode ter existido uma grande maleabilidade negocial por parte dos seus habitantes, que conviviam com uns e com outros e que, de ambos, teriam interesse em obter o mais abrangente conjunto de direitos e de garantias. É na conjuntura política da reconquista que Fernando Magno, em meados do século XI, contempla Ansiães com uma Carta de Foral, que terá sido uma forma de atrair para a zona de influência cristã as populações recém conquistadas entre 1057 e 1064, notando-se o facto de, este Foral, ser um dos mais antigos no actual espaço territorial português.

Na Alta Idade Média, o local possuía já uma longa e reminiscente her-ança cultural, factor decisivo para se estruturar como centro fulcral na zona fronteiriça do rio Douro. Mas a consolidação da sua importân-cia urbana, teve o seu apogeu nos séculos XIII e XIV, sendo já um território que abrangia um espaço diversificado de recursos, no qual proliferam pequenos aglomerados e casais agrícolas. Terá sido esta fase de prosperidade a responsável pela destruição das estruturas mais antigas.

Em 1372, o senhorio da vila foi concedido por D. Fernando a João Porto Carreiro, fidalgo que, desde muito cedo, se incompatibilizou com as aspirações dominantes das populações locais. Quando defla-grou a crise de 1383, o povo da vila revoltou-se contra a família Porto Carreiro, obrigando-a a refugiar-se em Vilarinho da Castanheira. Aí, o fidalgo seguidor da facção espanhola, foi derrotado. D. João I, recon-hecido, doou então, ao concelho, os bens da família derrotada, ao mesmo tempo que alargou a jurisdição de Ansiães até Vilarinho da Castanheira, Favaios e Alijó, terras que, tal como a família Porto Car-reiro, haviam apoiado o partido de Castela.

Nos finais de 1385 isentou, D. João I, os habitantes de Ansiães do pa-gamento de costumagens e portagens em todo o reino. Ainda, como forma de reconhecimento pelos serviços prestados à sua causa, o Mestre de Avis, decretou a obrigatoriedade de pagamento aos habit-antes de Freixiel, Murça e Abreiro, para o levantamento dos muros e torres de Ansiães, datando dessa altura o amuralhamento da vila que

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patrimónioainda hoje se encontra em razoável estado de conservação. De assinalar, ainda, o documento outorgado por D. Afonso V, que atribui aos besteiros de Ansiães grandes privilégios e isenções.

Até D. Manuel I, Ansiães estava dividida em duas paróquias: a de S. João, extra-muros, cuja sede de abadia se situava na igreja românica de S. João Baptista, e a de S. Salvador, intra-muros, onde funcionava a sede da abadia com o mesmo nome. Por autorização papal, D. Manuel I converteu estas abadias em reitorias que deram origem a duas comendas da ordem de Cristo. Absorvidas desta forma pelos comendadores que passaram a usufruir dos rendimentos do património eclesiástico, pelo menos até ao século XVI, tanto a igreja de S. Salvador, como a de S. João Baptista, foram sedes de amplas paróquias que abrangiam uma vasta área que at-ingia a jurisdição de Favaios, o que, de certa forma, atesta a importância da vila de Ansiães ao longo dos séculos finais da Baixa Idade Média. No entanto, a partir daí, e depois de ter atingido o seu período áureo, o povoado começou a sentir uma tendência demograficamente depressiva. Em 1527, algumas aldeias que constituíam o município, contavam com uma população superior à da vila. Zedes, Belver, Fontelonga, Marzagão e Seixo de Ansiães, aparecem à época como aldeias em franco desen-volvimento económico, agrícola e demográfico, ao mesmo tempo que o «castelo» sofre uma ruptura que, progressivamente, se vai agudizando nos séculos seguintes.

Várias explicações existem para o fenómeno. Alguns autores consider-am como causas principais deste despovoamento a elevada mortandade de muitos nobres na batalha de Alcácer Quibir. Outros, defendem, como causa principal, a descoberta da pólvora e consequente generalização da artilharia que tornou ineficaz o sistema de amuralhamento para a segu-rança dos seus moradores em cenário de guerra. Outros ainda, apontam, como causa, a escassez de meios de produção, nomeadamente, terra arável e água, bem como a deficiente rede de acessos que a fortificação tinha em relação à principal via de escoamento: o rio Douro.

Sabe-se que, quando uma população não consegue satisfazer as ne-cessidades produtivas próprias, correspondentes ao seu estádio de de-senvolvimento, opta, grosso modo, pela mudança para zonas onde seja possível encontrarem as condições necessárias para tal fim. A população de Ansiães poderá ter crescido até ao limite dos equilíbrios possíveis.

Se nos tempos medievais a posição do povoado num relevo adverso, isolado, com pouca água, sem relação com os eixos viários e fluviais, era a sua principal vantagem, as exigências dos novos tempos acabaram por a debilitar, com a sua população a mudar-se para áreas onde era possível uma actividade produtiva de maior escala: o vale e o lameiro, ou seja, lo-cais mais ricos, mais acessíveis e com abundância de água.

Assim tornou-se irreversível o despovoamento de Ansiães que, a pouco e pouco, se viu ultrapassada pelo crescimento de Carrazeda, para onde se mudou em 1736 a sede do concelho, não sem que, antes, se tivesse veri-ficado grande resistência por parte dos últimos moradores. No entanto, a mudança foi inevitável, já que apenas treze famílias habitavam o local.

Foi o início do abandono de um local ininterruptamente ocupado ao longo de 5000 anos.

Por Manuel Igreja

Fonte : Luís Pereira A, e Miguel Soares N. – Douro Estudos e Documentos - Revista do GEHVID

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Ansiães | património

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regiãoSantuário de Nossa Senhora das CandeiasA Junta de Freguesia de Canelas, em parceria com o município do Peso da Régua procedeu à requalificação do adro do Santuário de Nossa Sen-hora das Candeias, cuja capela foi mandada construir, em sua honra, por D. Maria I, que reinou entre 1777 e 1792.A obra inaugurada no passado dia 2 de Fevereiro veio satisfazer um an-tigo anseio da população daquela freguesia reguense.

O Presidente do PSD Pedro Passos Coelho, enquanto homem do Douro, marcou presença na primeira fila, na FNAC do Centro Vasco da Gama, em Lisboa, no passado dia 24 de Fevereiro, na apresentação das obras Património Imaterial do Douro, Vols. 1 e 2, de Alexandre Parafita.A sessão foi promovida pela Fundação Museu do Douro, Âncora Editora e FNAC. Apresentou as obras o Dr. Amadeu Ferreira, Presidente da As-sociação de Língua Mirandesa e Vice-Presidente da CMVM – Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, que realçou a necessidade de o País despertar de vez para a urgência de salvaguarda do nosso património cultural imaterial, de uma forma criteriosa e sistematizada, louvando este primeiro impulso do Museu do Douro e do investigador que o levou por di-ante. E assinalou também a qualidade dos testemunhos prestados pelas muitas dezenas de narradores dos concelhos de Tabuaço, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor, identificados nas obras.O Director do Museu do Douro, Arq. Maia Pinto, manifestou o seu apreço pela qualidade do projecto de inventariação do património do Douro, destacando os critérios e métodos científicos usados que muito credibili-zam todo o trabalho. Manifestou, ao mesmo tempo, todo o empenho no prosseguimento deste inventário nos vários concelhos da Região.Alexandre Parafita, nas palavras finais, deixou uma nota de apreço ao Mu-seu do Douro pela visão prospectiva que teve em relação ao Património Imaterial, ao colocar-se na linha da frente no processo de inventariação. A UNESCO aprovou a convenção do Património Imaterial em 2003, o governo português só a subscreveu em 2008, mas o Museu do Douro antecipou-se e começou o trabalho em 2007, consciente de que, dada a idade avançada de muitos dos intérpretes activos deste património, o amanhã será sempre tarde para acordar.

Pedro Passos Coelho na apresentação de

Património Imaterial do Douro

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Fados em Santa Marta de PenaguiãoAs vozes de Olga Gonçalves, Sandra Pereira, Lizete Prior e Micaela Cardoso, entoaram temas de fados de todos conhecidos levando o público a acompanhá-las no canto e a ovacionar de pé, as artistas.Ao longo de hora e meia de espectáculo, foram recordados nomes de grandes fadistas portuguesas, antigas e mais recentes, como Amália Rodrigues e Ana Moura. Nas guitarras estiveram Jorge Gonçalves e António Vintém. Completaram o espectáculo duas bailarinas de dança contemporânea que, numa encenação feliz, dançaram ao som das guitarras e das vozes das fadistas, num espectáculo que agradou ao muito público presente.

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regiãoDia Internacional da Mulher comemorado na

O Município do Peso da Régua homenageou a 4 de Março, as Re-buçadeiras da Régua, mulheres que, desde há muitos anos, fazem parte da identidade cultural da cidade, mantendo viva uma tradição de muitas gerações. Esta iniciativa serviu para assinalar o Dia Inter-nacional da Mulher, comemorado a 8 de Março, este ano coincidente com o Dia de Carnaval, motivo pelo qual a cerimónia foi antecipada. A homenagem que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho, homenageou as rebuçadeiras, Alcina Jesus Silva, Ana Maria Rualde Pinto Correia, Isaura Mesquita, Maria Aurora Fernandes, Maria de Fátima Mesquita, Maria Gentil Reis, Maria da Glória da Conceição, Maria José Leitão Baptista, Maria da Luz Milanjos, Raquel Maria Con-ceição Costa Miranda, Rosa dos Anjos Mesquita e Sónia Maria Leitão Teixeira Tavares, oferecendo-lhes uma indumentária constituída por bata e lenço. Atendendo à importância da salvaguarda de um produto que identifica culturalmente o concelho, Nuno Gonçalves, Presidente da Câmara Municipal, que nesta homenagem quis englobar todas as mulheres do concelho, anunciou que está em curso o processo de registo da mar-ca Rebuçados da Régua, o que o tornará produto único, em simultâ-neo com o processo de certificação de qualidade, que promoverá as características do Rebuçado da Régua nessa vertente, distinguindo-o de produtos similares, permitindo a rápida identificação e reconheci-mento do produto e garantindo a segurança do seu consumo.

Régua com homenagem às Rebuçadeiras

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Poeta lírico, épico, satírico, místico e bucólico, Guerra Junqueiro, cuja obra “Pátria”, publicada em 1896, seria considerada, por Fernando Pes-soa, como “a obra capital do que há até agora da nossa literatura”, remet-endo “Os Lusíadas” para um segundo lugar.Prosador e poeta, foi na poesia que mais se notabilizou. A sua obra é ha-bitualmente separada em duas vertentes. Uma, revoltosa, arrebatadora, pretendendo-se regeneradora dos males do mundo que ele considerava serem a dissolução moral, a igreja católica e os clérigos, e a monarquia. Outra, reconciliadora, bucólica, mística.Na primeira podemos incluir “A Morte de D. João”, a “Velhice do Padre Eterno”, “Finis Patriae” e “Pátria”.Na segunda “Oração ao Pão”, “Oração à Luz” e “Os Simples”.Abílio Manuel Guerra Junqueiro, nasceu em Freixo de Espada-à-Cinta em 17 de Setembro de 1850 e morreu em Lisboa, a 7 de Julho de 1923. Filho de José António Junqueiro Júnior, homem de negócios e lavrador, e de sua mulher, Ana Maria do Nascimento Guerra, que viria a falecer quando o poeta tinha três anos de idade.Uns, como o Abade de Baçal, consideravam-no de origem judaica, pela parte da mãe, pelos seus traços fisionómicos, outros, como Francisco Fernandes Lopes, garantiam que seria cigano.Casou em 10 de Fevereiro de 1880, em Viana do Castelo, com Filomena Augusta da Silva Neves, de quem teve duas filhas, Isabel Maria e Júlia Francisca.Fez os seus estudos preparatórios no Porto e, em 1866, matriculou-se em Teologia na Universidade de Coimbra. Por falta de vocação religiosa enveredou pelo curso de direito que terminou em 1873. Foi secretário do Governo Civil de Angra do Heroísmo e, posteriormente, do Governo Civil de Viana do Castelo.Optando pela vida politica que considerou, mais tarde, ter sido prejudicial

ao seu trabalho literário, filiou-se no Partido Progressista, tendo sido eleito deputado por Macedo de Cavaleiros, mais tarde, em 1880, por Viana do Castelo e em 1890 por Quelimane. Em Lisboa, fez parte do grupo Vencidos da Vida, a que pertenciam Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e António Cândido, do qual se afasta, gradualmente, após o Ultimato Inglês, aderindo ao movimento republicano, de forma intensa e empenhada. Os seus discursos e panfle-tos tornam-se célebres e demolidores, associados à publicação das obras “Finis Patriae” e “Pátria”, são considerados como uma das causas que levaram à queda da monarquia em 1910.Após a implantação da República foi nomeado, em 1911, ministro plenipo-tenciário em Berna onde esteve até 1914.Além de político e escritor dedicou-se à viticultora na sua Quinta da Ba-toca, próxima da sua terra natal, dedicando-se ao coleccionismo de peças de artes decorativas.Já perto da morte mostrava-se arrependido de ter escrito “A Velhice do Padre Eterno”, afirmando: “Hoje, não o escreveria tal como se tornou con-hecido, justamente pelo que nele há de grosseiro e imperfeito”. Numa nota, nas “Prosas Dispersas”, volta ao tema: “Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro da mocidade. Não o escreveria já aos quarenta anos” para, mais à frente, continuar: “Contendo belas coisas, é um livro mau, e muitas vezes abom-inável.”Mais do que um homem de acção, Guerra Junqueiro foi um homem de pa-lavras. De discurso fácil, generoso, impulsivo, entusiasta, era um grande conversador, dominando, facilmente, audiências. Traduzido em quase todas as línguas ocidentais, poucos terão sido os escritores que terão alcançado em vida uma tão grande consagração popular, para, na morte, ter funerais nacionais para o Mosteiro dos Jerónimos.

GUERRA JUNQUEIRO

Foi há tantos anos que parti chorandoDeste meu saudoso, carinhoso lar.Foi há vinte… há trinta…Já nem sei há quando.Minha velha ama que me estás esperandoCanta-me cantigas para me embalar.

“ Mais do que um homem de acção, Guerra Junqueiro foi um homem de palavras.”

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gente das letrasJosé Francisco Trindade Coelho (Mogadouro, 18 de Junho de 1861 — Lisboa, 18 de Agosto de 1908) foi um escritor, magistrado e político português.

Natural de Mogadouro, a sua obra reflecte a infância passada em Trás-os-Montes, num ambiente tradicionalista que ele fielmente re-trata, embora sem intuitos moralizantes.

O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa actividade pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar o cidadão português para a democracia.

Ficou órfão de mãe ainda e criança e partiu para o Porto com o pai onde fez os estudos liceais num colégio interno.

Estudou Direito em Coimbra, onde iniciou a sua actividade literária, colaborando em diferentes periódicos e fundando outros.

Em 1895 era juiz em Lisboa. À carreira jurídica juntou, na altura, a ac-tividade literária e jornalística, bem como uma importante actividade pedagógica. Nesta sequência, publicou, entre várias, o ABC do Povo (1901), livro adoptado oficialmente nas escolas públicas.

Em Os meus amores observa-se a recriação de gentes e lugares, motivada pela saudade. O próprio autor esclarece, em Autobiografia, que os contos não teriam existência se vivesse na sua terra.

A obra literária de Trindade Coelho revela a tendência de um certo neo-romantismo nacionalista e neogarretista.

Suicidou-se em Lisboa a 9 de Junho de 1908.

TRINDADE COELHO

Algumas obras:Os Meus Amores, 1891A ABC do Povo, 1901In Illo empore, 1902O Primeiro Livro de Leitura, 1903Manual Político do Cidadão Português, 1906Autobiografia e Cartas, 1910Os Meus Amores - contos de Trindade Coelho

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no douro, pelo douroSOMOS BONS!

O país está parado. O interior está desertificado. O sector empresarial está desmotivado. Mas o mundo está vivo!A Índia apresenta sinais impressionantes de de-

senvolvimento. O Brasil está com os mais altos índices de empregabi-lidade. A Rússia assume-se líder em diversas frentes. A China abriu as portas a todos. O mundo está vivo!Os portugueses foram os líderes dos Descobrimentos. Conquistamos ouro, descobrimos especiarias, criamos rotas comerciais por todo o globo terrestre! Deixamos a nossa marca e a nossa língua!Os portugueses têm o melhor treinador do mundo. Os portugueses têm alguns dos melhores jogadores do mundo. Os portugueses têm o atleta mais veloz da Europa!Portugal produz energia renovável como nenhum outro país. Portugal é líder mundial na distribuição de cortiça. Portugal tem uma das universi-dades mais antigas da Europa e algumas das melhores do mundo. O presidente da União Europeia é português. O Alto-comissário da ONU para os Refugiados é português. O Presidente do maior banco da Europa é português!A única Região do mundo que produz Vinho do Porto é o Douro! O prestí-gio deste vinho licoroso é tal que no último casamento real, em Inglaterra, o brinde real aos noivos foi feito não com champanhe mas sim com… Vinho do Porto! Os vinhos DOC Douro são premiados todas as semanas em concursos vínicos por todo o globo terrestre! Os nossos espumantes começam a vingar entre os melhores dos melhores! Os azeites de Trás-os-Montes e Alto Douro são distinguidos entre os mel-hores do mundo! A castanha transmontana é exportada para todo o globo e é altamente qualificada nos mercados gourmet! A amêndoa da nossa Região é considerada de excelência! A maçã do Douro é já uma referên-cia europeia!A carne Maronesa é certificada e é elogiada por todo o lado! A carne Mi-randesa é certificada e exaltada por todos! A carne Barrosã é certificada e enaltecida em todos os recantos gastronómicos!

Trás-os-Montes e Alto Douro é terra de alguns dos maiores escritores da literatura nacional, de Miguel Torga a Aquilino Ribeiro, de Guerra Jun-queiro a João de Araújo Correia! Aqui nasceu uma das maiores pintoras nacionais de todos os tempos, Graça Morais! No Douro temos grandes museus, como o do Douro, o de Foz Côa ou o de Lamego!Trás-os-Montes e Alto Douro tem os melhores miradouros de Portugal, com as paisagens mais incríveis e variadas! Tem um rio navegável que recebe turistas de todo o mundo! Tem Hotéis no topo da excelência mun-dial, como o Vidago Palace, o Aquapura ou o Romaneira! Tem um dos mais vanguardistas casinos do país! Tem um magnífico campo de golfe! Tem Quintas seculares! Tem monumentos milenares! Tem aldeias preser-vadas! Tem uma natureza ímpar, como o Parque Natural Montesinho ou o Parque Natural do Alvão! O Douro tem a Romaria de Portugal, a Nossa Senhora dos Remédios!Trás-os-Montes tem o Campeonato Europeu de JetSki, nas águas do Tua! O Douro tem A Mais Bela Corrida do Mundo, a Meia Maratona do Douro Vinhateiro! Tem o circuito automóvel mais prestigiado do país, o Circuito de Vila Real, nascido em 1931! Tem o Concurso de Hipismo mais mítico de Portugal, nascido em 1929 em Pedras Salgadas! O Douro tem um Fes-tival Internacional de Cinema! Trás-os-Montes tem as melhores Feiras de Enchidos de Portugal! Tem a Festa das Amendoeiras em Flor!Trás-os-Montes e Alto Douro tem a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Tem o Instituto Politécnico de Bragança. Tem a Escola Superior de Gestão de Lamego. Tem a Escola de Hotelaria de Turismo do Douro!Trás-os-Montes e Alto Douro já nos tempos dos romanos tinha, continuou a ter no tempo de Marquês de Pombal, não deixou de ter nos tempos da ditadura, continua a ter neste novo século e continuará a ter por muitos e longos anos: VIDA. Assim a saibamos aproveitar, pois somos bons!

Por Paulo Costa [email protected]

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novos horizontesA barragem do Tua cria postos de trabalho e riqueza na região.

Preocupados com a elevada taxa de desemprego, os autarcas dos concelhos que vão ser abrangidos pela futura barragem do Tua, questionaram a EDP, no sentido de que as empresas que vão fazer as obras, dessem prioridade à contratação de trabalhadores locais. Dando consequência ao pedido, uma Administradora da Fundação EDP, contactou já os Centros de Emprego de Mirandela e Vila Real, no sentido de operacionalizar a contratação de desempregados nos concelhos limítrofes à barragem, como primeira prioridade. Isto evi-dentemente sem obstar a que as empresas possam trazer os trabal-hadores especializados que possuem nos seus quadros e que não são fáceis de encontrar em qualquer ponto do país.Nos próximos dias será a vez das empresas já contratadas para a realização da obra, apresentarem as listas de pessoal necessário, por profissão, para se desencadear o mecanismo de seleção e con-tratação.Também no sentido de actualizar os conhecimentos técnicos dos desempregados, nas áreas com mais necessidade de mão-de-obra especializada, os dois Centros de Emprego, preparam já um plano de Formação para trabalhadores desempregados.Será porventura a primeira vez que se organiza um plano de trabal-ho, a pedido do dono de obra, no sentido de potenciar o aproveita-mento da mão-de-obra excedentária numa região. Ao dar este passo, a EDP, dá inicio ao que pode ser uma nova era de abordagem da problemática da contratação de trabalhadores, que é necessária em todo o país, mas especialmente nas regiões do interior tão carentes de criação de novos empregos.Mas outros desafios se colocam à região e aos seus empresários. É necessário que se organizem e se preparem para abastecer a obra de todos os materiais e produtos que vai ser necessário adquirir. Prevê-se que a obra com início nos próximos meses, decorra durante 3 a 4 anos, gerando um enorme fluxo de pessoas e bens. A título de exemplo, estima-se que por mês, a cantina do empreendimento, possa servir 5.000 refeições. Por outro lado, várias dezenas de tra-balhadores ficarão alojados no estaleiro, gerando necessidades de aprovisionamento variadas.Desenham-se portanto, para além da criação de algumas centenas de postos de trabalho, oportunidades de negócio que os empresári-os e os agricultores devem desde já preparar-se para agarrar. A pop-ulação dos concelhos abrangidos agradece.

Por Jaime PortugalEconomista

A Ruralidade Sexy

Esta rubrica alimenta desde a primeira hora a ideia dos territórios de baixa densidade transformarem-se, passo a passo, em territórios de acolhimen-to. Num passado não muito distante, a problemática da densidade popu-lacional não fazia parte das principais preocupações. A verdade é que no espaço de uma/duas gerações a geografia humana alterou-se drastica-mente. No entanto, no contexto actual, estes mesmos territórios possuem características que lhes permitem reconquistar pessoas...No século XXI, a ruralidade é sexy!Perdoa-se o exagero da figura do estilo para lhe reconhecer a importân-cia que o marketing territorial imprime na atratibilidade das regiões. Não obstante os artificios que podemos criar à volta da promoção das regiões, não se consegue fingir uma vocação hospitaleira. Esta é indispensável para estar no roteiro dos territórios-destinos de novos residentes. Mas, se do território se espera hospitalidade, de quem chega espera-se humil-dade para facilitar a integração. Vai encontrar um ritmo diferente, hábitos de convivência diferentes, até uma forma de pensar diferente. E por outro lado, vai levar consigo uma grande expectativa de melhoria da qualidade de vida. Neste encontro reside um certo desencontro. É importante estar ciente dos impactes da transição e lembrar que o ónus da adaptação está também do lado do novo residente, facto frequentemente ignorado. Tal como quando somos convidados a entrar pela primeira vez na casa de um amigo, adaptamos a nossa conduta ao ambiente que encontramos. Da mesma forma, devemos proceder quando chegamos ao nosso novo destino, não significando deixar de ter opinião, ou sequer concordar com tudo. A atitude implícita manifesta-se mais na forma do que propriamente no conteúdo, em que, naturalmente, sobrevalece a cortesia do recém che-gado. Associando a isso uma participação genuína nas actividades sócio-culturais e estamos no caminho de uma integração profícua.

Os casos de migração menos bem sucedidas raramente são analisadas à luz da relação do que os novos residentes vem à procura com o que vem dar. O sucesso da integração resulta inevitavelmente de uma soma posi-tiva e harmoniosa entre o contributo para a comunidade e o bem estar que o novo residente vem usufruir. O insucesso não é em si uma fatalidade neste processo. Reflete apenas um desencontro entre destino e recém chegado. Cada um, ansioso por uma próxima oportunidade, sem rancor.

(*) Crónica mensal da responsabilidade dos autores do projecto Novos Povoadores

de braços abertos! (*)

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A MULHER DO CESTO

Todas as semanas, a mulher atravessa o largo carregando o cesto, quase sempre, encimado por couves, alfaces ou outras verduras. Fá-lo com notável esforço. O seu rosto, onde as ru-gas registam a presença do tempo, tem um ar

crispado de quem, além do cesto, carrega as preocupações duma vida de trabalho. Que carrega mais aquela mulher que, apesar da crispação do rosto enrugado, atravessa o largo com um passo firme e lento, cabelo entrançado e apanhado, no alto da cabeça prateada que contrasta com a cor escura do casaco, já gasto, que enverga.Será que vive só? De quando em vez, saúda, com a mão livre, em con-cha, alguém que passa e a saúda também. Às vezes pára para dar milho e migalhas de pão aos pombos que enchem o largo e bebem água na fonte situada no pequeno jardim do centro da praça. Eles aproximam-se da mulher, sem receio, e voltejam á sua volta enquanto engolem o alimento fácil que ela lhes proporciona.Já faz parte da minha vida. Lembra-me a minha mãe e aprox-ima-me dela. Sem a conhecer tenho por ela um carinho que não compreendo. É a sua fragilidade que me sensibiliza. Talvez seja a dignidade com que caminha, atravessando o largo, todas as semanas, carregando o cesto das com-pras. A semana passada não apareceu. Pelo menos à hora h a -bitual não a vislumbrei atravessando o largo. Atrasar- se-ia? Teria passado mais cedo? Estaria doente? Comecei a ficar preocupado. Mas que é que me deu para estar a observar a intimidade dos horários dos outros? O certo é que acordei a pensar na mulher carregando o cesto das com- pras com pas-so firme e lento. Olhei para o relógio e coloquei- me à janela a ver se a mulher passaria. Não passou.Desci para comprar o jornal e perguntei ao pro- prietário do quiosque quem era aquela senhora que, todas as semanas, carregava o cesto das compras e atravessava o largo. Olhou para mim, por sobre as armações dos óculos de ver ao perto, com um olhar inquisidor e desconfiado, encol-hendo os ombros, disse-me nunca ter reparado em tal criatura. Como é possível que ele a não conheça. Vive ali há anos. Como, provav-elmente, ela. Dei-lhe todos os sinais. Não, não a conhecia. Não valia a pena insistir. Paguei o jornal, fui até ao café, sentei-me a ler as “últimas”.

Melhor, os seus cabeçalhos. As conjecturas sobre a ausência da mul-her teimavam em bailar-me no cérebro. Quando subia a escada de acesso ao terceiro andar, onde vivo, en-contrei a vizinha do primeiro. È bastante jovem e a mais recente in-quilina do edifício. Vive só. Nem a sua reduzida saia nem o seu radioso sorriso me subtraíram as minhas preocupações.À minha sau- dação de um bom dia deixou sair um olá meigo por entre o sorriso alvar de uns lábios carnudos e sen-suais.

Subi os lanços de escada que me separavam da porta do meu apartamento, abria-a e entrei. Durante

uma semana hesitei entre ir à polícia ou questionar os outros habitantes do largo.

Finalmente apareceu. Voltou à rotina. Já tinha saudade de a ver passar carregando o cesto das compras, das preocu-

pações e da solidão. Teria estado doente? Teria ido passear? Não sei se foi por ter estado ausente, mas não fez o trajecto

do modo habitual. À saudação de um senhor de fato azul-escuro, camisa branca, gravata vermelha e jornal na mão, parou. Colocou o cesto das compras, no passeio, a seu lado, e entabulou com ele um rápido diálogo. Cumprimentou-o, pegou no cesto e saiu pelo lado esquerdo do largo, desaparecendo na esquina deste com a rua ad-jacente, como saindo de cena do palco da vida que é o largo onde habito.Desci à rua para questionar, uma vez mais, o proprietário do qui-osque. Desta vez tive sorte. O homem do fato azul-escuro era o mé-dico do posto de saúde. O proprietário do quiosque voltou a olhar para mim, por sobre os óculos, com um olhar inquisidor e admirado. Pensaria ele que eu seria, simplesmente, um curioso a vigiar a vida dos vizinhos ou algum agente policial em investigação criminal? Pro-vavelmente a mulher teria estado doente. Ainda bem que voltou. Necessitava que ela continuasse a atravessar o largo carregando o cesto das compras semanais, com o mesmo andar firme e lento, com os seus cabelos prateados contrastando com a cor escura do seu casaco já gasto, dando de comer aos pom-bos e preenchendo a minha própria solidão.

Por Mário Mendes

na primeira pessoa

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foto Mário Mendes

imagem do mêsDouro

Vai o Rio Douro vigoroso correndo e murmurando

tal como Kundalinientre os seios da Mãe Terra

deslizandocom sentimento gostoso

das energias que encerra!

Douro Região é magiade corpo esculpido do ser,é um chakra de energiacorrente de água feita

que quando paro p’ro verme enfeitiça e me deleita!

Douro belo e sem fimDá-me um pouco do teu sangue

do teu néctar bacantee depois de estares em mimserei sempre o teu amante.

Douro é Paixãode quem vêde quem lê!

Douro é devoçãopelo infinito...

Poema JM Brandão dos Santos

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