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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA
Avaliação da macroalga Ulva lactuca como co-alimento para o
camarão branco do Pacífico
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Aquicultura da Universidade
Federal de Santa Catarina, como requisito
para a obtenção do título de Mestre, na Área
de Concentração de Cultivo de Macroalgas.
Orientadora: Leila Hayashi
Coorientador: Felipe do Nascimento Vieira
Mariane Pallaoro da Fontoura
Florianópolis
2015
Avaliação da macroalga Ulva lactuca como co-alimento para o
camarão branco do Pacífico
Por
MARIANE PALLAORO DA FONTOURA
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de
MESTRE EM AQUICULTURA
e aprovada em sua forma final pelo Programa de
Pós-Graduação em Aqüicultura.
_____________________________________
Prof. Alex Pires de Oliveira Nuñer, Dr.
Coordenador do Programa
Banca Examinadora:
__________________________________________
Dra. Leila Hayashi – Orientadora
__________________________________________
Dr. Bruno Corrêa da Silva
__________________________________________
Dra. Eliane Marinho Soriano
__________________________________________
Dr. Maurício Laterça Martins
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por aguentarem minha TPM interminável durante
estes dois anos (ou uma vida inteira), me ensinando da melhor forma
possível que o amor pelos seus filhos é incondicional.
À minha querida Orientadora Professora Leila Hayashi pelo voto
de confiança quando abriu os braços e me acolheu em seu laboratório,
por todo ensinamento que foi transmitido e, principalmente, pela
maneira doce que trata os seus alunos.
Ao meu Coorientador Professor Felipe do Nascimento Vieira que
aceitou o desafio e me auxiliou neste trabalho.
À minha amiga Isabela Pinheiro que entrou comigo nessa incrível
jornada, me sacudindo para eu acordar para vida e pela sua incrível
sabedoria de dizer no momento certo: Bubu, vamos tomar uma cerveja!
Ao Mathias Pchara por me ajudar incansavelmente na execução
do trabalho e ter promovido meus dias de folga durante o período
experimental.
À melhor equipe com quem já trabalhei, os meus companheiros
de laboratório: Ana Lu, Anna Gabi, Clóvis, Eduardo (Woody), Fabinho,
Filipe, Marina, Mathias (Baby), Ticiane e Pontinha, por todas as pérolas
que nos fizeram chorar de rir, aos cafezinhos, as vezes que era “apenas
um litrãozinho”, vocês fizeram esses dois anos passar voando e nos
tornamos o laboratório mais unido e mais divertido.
Aos meus queridos amigos Chico, Arantes, Carlos, Marysol e
Esmeralda que também contribuíram com sua amizade para realização
deste trabalho.
A todos os colaboradores do Laboratório de Camarão Marinho da
UFSC, principalmente, Carlos Miranda, Seu Chico e aos meninões
Paulinho e Andréia.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho do camarão
Litopenaeus vannamei quando co-alimentado com macroalga Ulva
lactuca em diferentes níveis de substituição (25, 50, 75, 100%) de ração
comercial. O experimento foi conduzido durante 28 dias, em caixas
plásticas com 30L de volume útil, aeração constante, temperatura de
26± 2°C, salinidade de 35 ‰ e renovação diária de 80%. Cada unidade
experimental foi povoada com 10 camarões (3,7± 0,2 g), sendo os
tratamentos com diferentes níveis de substituição da ração pela
macroalga foram feitos em triplicata. Como controle, foi utilizada
alimentação sem substituição por macroalgas. A biomassa algácea in natura foi ofertada de acordo com cada tratamento e permaneciam
disponíveis para os camarões por 24 horas. A dieta comercial foi
fornecido três vezes ao dia, calculado de acordo com 5% da biomassa
inicial de cada tanque e tratamento. Foi observada uma tendência linear
negativa para peso final, ganho em peso semanal e total, e taxa de
crescimento do camarão com o aumento da substituição da ração pela
macroalga. No entanto, com nível de substituição até 50% o
desempenho dos camarões não foi afetado significativamente. A
sobrevivência foi acima de 86% até 75% de substituição, e no
tratamento com 100% de substituição foi significativamente diferente
dos demais tratamentos (p<0,05), com 16,7%. Os resultados indicam
que a utilização da ração comercial pode ser substituída em até 50%,
resultando em baixo custo de produção e possível melhoria na qualidade
água, sem prejudicar o crescimento do camarão marinho Litopenaeus
vannamei em sistema de cultivo em água clara.
Palavras-chave: Aquicultura, co-alimentação, desempenho zootécnico,
Litopenaeus vannamei, macroalga.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the performance of the shrimp
Litopenaeus vannamei when co-fed with seaweed Ulva lactuca in
different substitution levels (25, 50, 75, 100%) of commercial feed.
Shrimp cultivation was conducted for 28 days, in plastic boxes with a
30L volume, constant aeration, temperature of 26± 2°C, 35‰ salinity
and daily renewal of 80%. Ten shrimps (3.7± 0.2 g) were stocked in
experimental unit, and treatments in different substitution levels were
made in triplicate. Shrimps fed with no algal substitution were used as
control. Algal biomass was offered according to each treatment and kept
available for shrimps for 24 h. Inert feed was given three times a day,
calculated as 5% starting biomass for treatment of each tank. Negative
linear trend was observed for final weight, weekly and total weight gain,
and specific growth rate of the shrimp with increased the substitution of
feed by seaweed. Results indicate that commercial feed can be replaced
up to 50%, resulting in low cost production and possible improvement in
water quality, without affecting the growth of the marine shrimp
Litopenaeus vannamei when cultivated in clean water system.
Keywords: Aquaculture, co-feeding, growth performance, Litopenaeus vannamei, seaweed.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO GERAL ................................................................ 13
2. OBJETIVOS .............................................................................. 18
2.1 Objetivo Geral ...................................................................... 18
2.2 Objetivos específicos ............................................................ 18
3. FORMATAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ...................................... 18
4. CAPÍTULO 1 ............................................................................ 19
INTRODUÇÃO ................................................................................. 25
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................ 26
Algas ................................................................................................. 26
Camarões ........................................................................................... 27
Condições de cultivo dos camarões .................................................. 27
Experimento prévio - Avaliação da oferta de três macroalgas no
consumo do camarão branco do Pacífico ............................................ 28
Substituição de ração comercial por Ulva lactuca ............................ 28
Análise estatística .............................................................................. 30
RESULTADOS ................................................................................. 30
Avaliação da oferta de três macroalgas na alimentação do camarão
branco do Pacífico ............................................................................. 30
Substituição da ração comercial por Ulva lactuca ............................ 31
Consumo diário de Ulva lactuca ................................................... 31
Parâmetros zootécnicos ................................................................. 32
DISCUSSÃO ..................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ................................................................................ 38
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................... 43
6. REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO GERAL .......................... 44
13
1. INTRODUÇÃO GERAL
A aquicultura está em ascensão constante nos últimos 50 anos, com
crescimento anual médio de 3,2%, ultrapassando o crescimento
populacional de 1,6%. Em 2012, a produção aquícola mundial atingiu o
recorde de 90,4 milhões de toneladas (MT), rendendo aproximadamente
US$144,4 bilhões, incluindo 66,6 MT de peixes, crustáceos, moluscos e
outros animais aquáticos para alimentação, e 23,8 MT de algas,
correspondendo a US$6,4 bilhões (FAO, 2014a).
O cultivo de macroalgas teve crescimento representativo nos
últimos anos. A China é o maior produtor mundial, responsável pela
produção de 12,8 MT, seguida pela Indonésia (6,5 MT) e juntos, esses
dois países representam 81,4% da produção mundial. Países como
República da Coréia, Japão, Malásia, Zanzibar, Ilhas Salomão
representaram quase a totalidade restante, com 15,58% da produção de
macroalgas. As espécies que se destacam no cultivo mundial são
Kappaphycus alvarezii, Saccharina (Laminaria) japonica (kombu),
Gracilaria spp., Undaria pinnatifida (wakame), Pyropia (Porphyra) sp.
(nori), sendo o wakame e nori destinadas quase que exclusivamente para
alimentação humana e menos de 20% da produção S. japonica para
extração de iodo e alginato (FAO, 2014a).
O Brasil ainda é incipiente no cultivo de algas, e geralmente utiliza
métodos artesanais limitados a pequenos empreendimentos adjuntos a
instituições de pesquisa e extensão, sendo Gracilaria e Hypnea as
principais algas produzidas em escala experimental (CAVALLI &
FERREIRA, 2010). Em 1995, Kappaphycus alvarezii foi introduzida no
país, principalmente por ser fonte de carragenana (HAYASHI et al.,
2008) e seu cultivo foi autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), através da
Instrução Normativa nº 185 de 22 de julho de 2008 (BRASIL, 2008),
entre Ilha Bela, litoral norte do Estado São Paulo e Baía de Sepetiba,
litoral sul do Rio de Janeiro. Em Santa Catarina, o cultivo dessa espécie
possui apenas licença experimental.
Atualmente as macroalgas são utilizadas principalmente como
alimentos e na indústria farmacêutica, alimentícia e têxtil pela extração
dos ficocolóides: ágar, alginato e carragenana, que são carboidratos
solúveis em água utilizados como agentes espessantes e estabilizantes
(MCHUGH, 2003). A agarose e agar bacteriológico, produtos derivados
do ágar, são aplicados sobretudo na microbiologia e eletroforese,
respectivamente. Os alginatos são empregados na indústria têxtil,
favorecendo o desempenho das tintas na impressão, e outras aplicações
14
industriais como em carnes reestruturadas para animais e alimentos de
consumo humano. A carragenana vem sendo utilizada em produtos de
higiene pessoal, como pasta de dente, cosméticos e produtos
farmacêuticos, como por exemplo, cápsulas de remédio e excipientes
(BIXLER & PORSE, 2011). No entanto, as macroalgas são também
matéria-prima para fertilizantes agrícolas, aditivo para o solo e fonte de
medicamentos. Por muitos anos as algas têm sido parte da dieta
alimentar pelos povos orientais, como Japão, China e Coréia
(MCHUGH, 2003), assim como para alimentação animal (EVANS &
CRITCHLEY, 2013).
Outra atividade aquícola que consiste em lucrativo agronegócio é a
carcinicultura. O sucesso financeiro aliado a forte demanda
internacional fizeram do cultivo de camarões um atrativo para
empresários do setor privado, agências internacionais de
desenvolvimento e líderes nacionais (BAILEY, 1988). No ano de 2012,
foi produzido mundialmente 4.327.520 toneladas de camarão,
contribuindo com aproximadamente US$19,428 bilhões sendo a espécie
Litopenaeus vannamei a mais produzida, correspondendo 73,45%
(3.178.721 T) do volume de produção e 69,95% (US$13.592.534.000)
do valor econômico (FAO, 2014b). Esta espécie, também conhecida
como camarão branco do Pacífico, foi introduzida no Brasil no início da
década 1980, mas apenas em 1995 esta espécie predominou na
carcinicultura brasileira (GUERRELHAS, 2003). Em 2012, a produção
nacional de L. vannamei foi 74.116 toneladas (FAO, 2014c), e é
atualmente a principal espécie de camarão cultivada no país.
Entretanto, essa atividade pode gerar danos ambientais, tanto na
implementação dos viveiros, alterando a biodiversidade e utilização das
terras, quanto na sua operação, como salinização e contaminação do solo
e aquíferos pelas águas residuais (PRIMAVERA, 1997). O efluente é
liberado de forma contínua ao longo do ciclo de produção, geralmente
contendo matéria orgânica e inorgânica dissolvida e particulada, e o
acumulo de sedimentos é drenado no final do ciclo produtivo (TACON
& FORSTER, 2003).
A criação de camarões depende do fornecimento de nutrientes nos
viveiros, diretamente ou indiretamente, sob a forma de ração ou
fertilizantes, respectivamente. A taxa de assimilação desses insumos
desempenha um papel importante no efluente (TACON & FORSTER,
2003). Segundo Boyd (2003) uma pequena taxa, de 25 a 30%, de
nitrogênio e fósforo da ração e fertilizantes são absorvidos pelos
camarões, e os viveiros também assimilam estes nutrientes por
processos físicos, químicos e biológicos.
15
Geralmente, o efluente da carcinicultura é enriquecido com sólidos
suspensos, nutrientes, clorofila a e demanda bioquímica de oxigênio
(DBO) (PAÉZ-OSUNA, 2001). A qualidade do efluente depende da
intensidade da produção e o risco de impacto ambiental é proporcional
ao manejo dos insumos ao longo do cultivo. As águas residuais são
compostas de alimentos não consumidos e produtos oriundos da
digestão e excreção dos animais resultando na eutrofização da água
(TACON & FORSTER, 2003).
A fim de minimizar o impacto ambiental, autoridades
governamentais criaram regulamentos que especificam limites das
variáveis de qualidade de água para o efluente aquícola, como por
exemplo, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio
(DBO) e sólidos suspensos totais (BOYD, 2003). Estes regulamentos
abordam também a exigência do tratamento de efluentes, limitando sua
concentração de matéria orgânica e inorgânica, suspensa ou dissolvida,
bem como os nutrientes contidos no efluente, programas de
monitoramento ambiental e práticas de manejo (TACON & FORSTER,
2003).
Melhorias nas práticas de manejo da indústria aquícola devem ser
desenvolvidas visando à eficiência e diversificação das espécies. Um
exemplo de melhoria é a proposta da Aquicultura Multitrófica Integrada
(“Integrated Multi-trophic Aquaculture” IMTA, sigla em inglês), onde
animais alimentados com ração são integrados com organismos
filtradores e absorventes de matéria orgânica ou inorgânica, por
exemplo, moluscos e macroalgas, e os resíduos do primeiro usuário se
tornam recursos para os outros. A IMTA fornece capacidade de
biorremediação dos nutrientes, benefícios aos organismos co-cultivados
e diversificação econômica através da produção de outros produtos
aquícolas de valor agregado, e maior rentabilidade por unidade de
cultivo (CHOPIN et al., 2001). Neste modelo de cultivo, Shpigel et al.
(1993) relatam que o nitrogênio da ração é amplamente absorvido pelos
diferentes níveis tróficos: 26% pelos peixe, 14,5% pelos moluscos e
22,4% pela macroalga, reduzindo a quantidade deste nutriente no
efluente para 4,25%.
Marinho-Soriano et al. (2009) utilizaram Gracilaria sp. para
biorremediação de águas residuais do cultivo de camarão, demonstrando
que o cultivo integrado poderia contribuir para a redução de nitrogênio e
fósforo do efluente. Também ocorreu eficiência de absorção destes
nutrientes pelo gênero Gracilaria spp. no trabalho realizado por Jones et
al. (2000), onde as concentrações de amônia ionizada, nitrato e
ortofosfato reduziram 2,3%, 2,2% e 4,8%, respectivamente do efluente
16
do camarão. A espécie Ulva lactuca apresentou resultado positivo aliado
ao sistema de bioflocos, incrementando a qualidade de água e peso final
do camarão (BRITO et al., 2013). A integração de macroalgas na
carcinicultura não apenas equilibra os nutrientes dos insumos, como
também produtos metabólicos, tais como oxigênio dissolvido, acidez e
níveis de CO2 (CHOPIN et al., 2001).
Para combater a dificuldade no abastecimento de matéria-prima, as
fábricas de ração buscam identificar novas fontes proteicas alternativas
(CHOPIN et al., 2001). Segundo Fleurence et al. (2012), o valor
proteico das macroalgas varia de acordo com espécie e período sazonal;
geralmente as algas verdes (Filo Chlorophyta) apresentam teor de
proteína de 10 – 25% do peso seco; as pardas (Filo Ochrophyta Classe
Phaeophyceae) de 3 – 15% do peso seco, e espécies de algas vermelhas
(Filo Rhodophyta) podem apresentar de 35 – 47% do peso seco. De um
modo geral, a estrutura complexa dos polissacarídeos associados às
macroalgas tem ações prebióticas, o que esclarece o aumento da
produtividade e saúde dos animais quando as macroalgas são inseridas
na dieta (EVANS & CRITCHLEY, 2013). Ulva spp., como parte
integrante da fonte alimentar do camarão, proporcionou o aumento da
taxa de crescimento em 60% e diminuição da taxa de conversão
alimentar em até 45% (CRUZ-SUÁREZ et al., 2010).
A alga verde Ulva spp. é considerada um potencial para o cultivo
integrado, pois apresenta alta eficiência de absorção de nitrogênio
amoniacal total (TAN) e baixas taxas de epifitismo (NEORI et al.,
2004). Apesar disso, Ulva tem pouca importância econômica no Brasil
por não produzirem ficocolóides, mas em países como Itália e Alemanha
é utilizada como medicamentos fitoterápicos, na indústria de papel e
empregada na indústria farmacêutica (ALENCAR et al., 2010). BRUHN
et al. (2011) apontam U. lactuca como potencial para produção
sustentável de bioenergia, principalmente, pelo rápido crescimento e
rendimento até vinte vezes maior que outras plantas ou macroalgas.
Esses autores ressaltam que os nutrientes necessários para seu
crescimento podem ser provenientes do efluente aquícola. Além disso,
U. lactuca é eurihalina, ou seja, tolera amplas variações de salinidade
(LERTIGUE et al., 2003) sendo favorável para o cultivo integrado com
o cultivo de camarões.
Ainda que a produção integrada de macroalgas e camarões marinhos
seja uma opção viável para o desenvolvimento sustentável da
aquicultura, poucos estudos foram realizados utilizando a macroalga in
natura para alimentação do camarão Litopenaeus vannamei (CRUZ-
SUÁREZ et al., 2010, GAMBOA-DELGADO et al., 2011). A utilização
17
de macroalgas como parte da alimentação dos camarões marinhos
apresenta vantagens, como: a redução da quantidade de ração, item
oneroso na produção, proporcionando maior competitividade no setor
produtivo; cultivo ambientalmente amigável; e diversidade econômica.
Por conta disso, mais informações são necessárias sobre a atuação da
macroalga como co-alimento no desempenho zootécnico do camarão.
18
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Contribuir com métodos sustentáveis no desenvolvimento da
carcinicultura, por meio da avaliação do uso da macroalga Ulva lactuca
como co-alimento para o camarão marinho Litopenaeus vannamei.
2.2 Objetivos específicos
Avaliar o uso da macroalga Ulva lactuca in natura na substituição
de: 25, 50, 75 e 100% da ração comercial do camarão Litopenaeus
vannamei sobre os seguintes parâmetros zootécnicos:
a) Consumo da macroalga;
b) Ganho em peso;
c) Taxa de crescimento específico;
d) Sobrevivência;
e) Eficiência alimentar.
3. FORMATAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
O artigo desta dissertação está formatado de acordo com as normas
da revista Journal of Applied Phycology (A1, fator de impacto: 2,492).
19
4. CAPÍTULO 1
Macroalga Ulva lactuca como co-alimento para o camarão branco
do Pacífico
Mariane Pallaoro da Fontoura1*, Felipe do Nascimento Vieira
2, Leila
Hayashi1.
1 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Aquicultura,
Seção de Macroalgas do Laboratório de Camarões Marinhos, Servidão dos
Coroas 503 (fundos), Barra da Lagoa, 88061-600, Florianópolis, SC, Brasil.
2 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Aquicultura,
Laboratório de Camarões Marinhos, Servidão dos Coroas 503 (fundos),
Barra da Lagoa, 88061-600, Florianópolis, SC, Brasil
*Artigo formatado de acordo com a revista Journal of Applied
Phycology (A1, fator de impacto: 2,492).
20
21
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho do camarão
Litopenaeus vannamei quando co-alimentado com macroalga Ulva
lactuca em diferentes níveis de substituição (25, 50, 75, 100%) de ração
comercial. O experimento foi conduzido durante 28 dias, em caixas
plásticas com 30L de volume útil, aeração constante, temperatura de
26± 2°C, salinidade de 35 ‰ e renovação diária de 80%. Cada unidade
experimental foi povoada com 10 camarões (3,7± 0,2 g), sendo os
tratamentos com diferentes níveis de substituição da ração pela
macroalga foram feitos em triplicata. Como controle, foi utilizada
alimentação sem substituição por macroalgas. A biomassa algácea in natura foi ofertada de acordo com cada tratamento e permaneciam
disponíveis para os camarões por 24 horas. A dieta comercial foi
fornecido três vezes ao dia, calculado de acordo com 5% da biomassa
inicial de cada tanque e tratamento. Foi observada uma tendência linear
negativa para peso final, ganho em peso semanal e total, e taxa de
crescimento do camarão com o aumento da substituição da ração pela
macroalga. No entanto, com nível de substituição até 50% o
desempenho dos camarões não foi afetado significativamente. A
sobrevivência foi acima de 86% até 75% de substituição, e no
tratamento com 100% de substituição foi significativamente diferente
dos demais tratamentos (p<0,05), com 16,7%. Os resultados indicam
que a utilização da ração comercial pode ser substituída em até 50%,
resultando em baixo custo de produção e possível melhoria na qualidade
água, sem prejudicar o crescimento do camarão marinho Litopenaeus
vannamei em sistema de cultivo em água clara.
Palavras-chave: co-alimentação, desempenho zootécnico, Litopenaeus
vannamei, macroalga, manejo alimentar.
22
23
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the performance of the shrimp
Litopenaeus vannamei when co-fed with seaweed Ulva lactuca in
different substitution levels (25, 50, 75, 100%) of commercial feed.
Shrimp cultivation was conducted for 28 days, in plastic boxes with a
30L volume, constant aeration, temperature of 26± 2°C, 35‰ salinity
and daily renewal of 80%. Ten shrimps (3.7± 0.2 g) were stocked in
experimental unit, and treatments in different substitution levels were
made in triplicate. Shrimps fed with no algal substitution were used as
control. Algal biomass was offered according to each treatment and kept
available for shrimps for 24 h. Inert feed was given three times a day,
calculated as 5% starting biomass for treatment of each tank. Negative
linear trend was observed for final weight, weekly and total weight gain,
and specific growth rate of the shrimp with increased the substitution of
feed by seaweed. Results indicate that commercial feed can be replaced
up to 50%, resulting in low cost production and possible improvement in
water quality, without affecting the growth of the marine shrimp
Litopenaeus vannamei when cultivated in clean water system.
Keywords: co-feeding, feed management, growth performance,
Litopenaeus vannamei, seaweed.
24
25
INTRODUÇÃO
As macroalgas possuem papel significativo na produção mundial
aquícola, ocupando o segundo lugar com aproximadamente 23,8
milhões de toneladas, sendo superadas apenas pela produção dos peixes
de água doce (FAO, 2014). Durante muitos anos, as macroalgas têm
sido utilizadas como alimento, fertilizante e fonte de medicamentos
(Sánchez-Machado et al., 2004). Atualmente, os principais produtos
comerciais extraídos das algas são os hidrocolóides: carragenana,
alginato e ágar (McHugh, 2003), porém outras aplicações estão
ganhando importância crescente, como por exemplo, sua utilização na
nutrição animal (Evans e Critchley, 2013).
O cultivo de camarões marinhos é outra atividade que merece
destaque dentro da aquicultura. Em 2012, a produção foi de
aproximadamente 4,327 milhões de toneladas, sendo deste montante
73,45% da espécie Litopenaeus vannamei (FAO – Fishtat, 2014). No
entanto, o crescimento da carcinicultura enfrenta um entrave, a
dependência da pesca marinha para a obtenção dos principais insumos
utilizados na dieta, farinha e óleo de peixe. O cultivo de camarões
marinhos representa o segundo maior consumidor (16,6%) de ração, e a
atividade que mais utiliza a farinha de peixe (27%) (Tacon e Metian,
2008). Grande porcentagem dos insumos, óleo e farinha de peixe, para a
fabricação da ração é derivado de peixes selvagens capturados de
estoques finitos, resultando em uma atividade cara (Marinho-Soriano et
al., 2007).
Estudos relacionados com alimentos naturais ou sua inclusão parcial
na ração comercial estão sendo realizados para aumentar a eficiência da
carcinicultura (Sanchéz et al. 2012). Algumas espécies de alga podem
conter grandes quantidades de proteína e carboidratos, podendo
substituir ingredientes tradicionais usados na fabricação de dietas para o
camarão (Silva e Barbosa, 2009). Diversas espécies de macroalgas
foram utilizadas em diferentes porcentagens para a substituição da
farinha de peixe na dieta do camarão marinho L. vannamei, como por
exemplo, Gracilaria cervicornis (Marinho-Soriano et al., 2007), Hypnea
cervicornis e Cryptonemia crenulata (Silva & Barbosa, 2009), Ulva clathrata (Cruz-Suaréz et al., 2009), Gracilaria parvispora e Ulva
lactuca (Rodriguéz-González et al., 2014). Porchas-Cornejo et al. (1999)
relatam que a presença da macroalga Caulerpa sertularioides nos
tanques influenciaram no crescimento, sobrevivência e ganho de
biomassa do camarão café Penaus californiensis.
26
Ulva lactuca é cosmopolita, e no Brasil sua distribuição geográfica
é abrangente em quase todo litoral (Moura, 2010) sendo que tolera
amplas variações de salinidade (Lartigue et al., 2003). Além disso, as
algas do gênero Ulva são consideradas um potencial para o cultivo
integrado, pois apresentam alta eficiência de absorção de nitrogênio
amoniacal total (TAN) e baixas taxas de epifitismo (Neori et al., 2004).
A espécie apresentou resultado positivo aliado ao sistema de bioflocos,
incrementando a qualidade de água e peso final do camarão (Brito et al.,
2013). Experimentos utilizando Ulva clathrata como co-alimento para o
camarão L. vannamei foram testados por Cruz-Suaréz et al. (2009) e
Gamboa-Delgado et al. (2011) resultando em melhorias nos parâmetros
zootécnicos.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho zootécnico do
camarão L. vannamei, quando co-alimentado em diferentes níveis de
substituição (25, 50, 75 e 100%) da ração comercial pela macroalga U.
lactuca.
MATERIAL E MÉTODOS
Algas
As três espécies utilizadas no experimento preliminar Ulva lactuca
(Chlorophyta), Gracilaria domingensis (Rhodophyta) e Sargassum sp.
(Heterokontophyta) e a espécie U. lactuca utilizada no experimento de
substituição de ração foram coletados nas praias: Pontas das Canas
(Latitude: -27,397717; Longitude: -48,431597), Praia do Forte
(Latitude: -27,43193; Longitude: -48,517310) e Canal da Barra da
Lagoa (Latitude: -27,573381; Longitude: -48,422982).
Na Seção de Macroalgas do Laboratório de Camarões Marinhos
(LCM) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as algas
foram selecionadas e limpas, as epífitas foram removidas com auxílio de
uma pinça e os organismos associados retirados com lavagem de
aproximadamente 5 segundos em água doce. Até sua utilização, toda
biomassa foi mantida na sala de cultura da Seção de Macroalgas do
LCM, em frascos Erlenmeyer de 1 L com água do mar esterilizada
enriquecida com solução von Stosch (VS) (Alveal, 1995) conforme a
necessidade de cada espécie: U. lactuca, 8 mL de solução padrão de VS
para cada litro de água do mar (de acordo com estudos realizados
previamente na Seção de Macroalgas do Laboratório de Camarões
Marinhos – UFSC), G. domingensis, 2 mL L-1
(Ferreira et al., 2006) e
Sargassum sp., 4 mL L-1
(Rover, 2014). As condições gerais de cultivo
27
foram: irradiância de 100 ±10 µmol fótons m-2
s-1
, temperatura de 25 ±
1°C, fotoperíodo de12 h, salinidade de 35‰, aeração constante e
biomassa máxima de 10 g L-1
.
O método de secagem das algas para quantificar a biomassa
ofertada aos camarões foi padronizado. Talos de cada espécie foram
secos com papel toalha até extrair o máximo de água, pesados e
posteriormente mantidos em frascos Erlenmeyer de 250 mL com água
do mar esterilizada na sala de cultura do laboratório conforme as
condições descritas acima até sua utilização.
Camarões
Espécimes do camarão marinho Litopenaeus vannamei da linhagem
livre de patógenos específicos (SPF- Specific Pathogen Free) de
notificação obrigatória pela Organização Mundial Epizootias (OIE),
provenientes da Aquatec Aquacultura Ltda. foram utilizados. Os
camarões foram cultivados no Laboratório de Camarões Marinhos
(LCM – UFSC) em sistema de água clara até atingirem a biomassa
inicial do experimento de 3,7± 0,2g (média± intervalo de confiança).
Cada unidade experimental foi povoada com 10 camarões.
Condições de cultivo dos camarões
As unidades experimentais foram constituídas de caixas plásticas de
35 L, com 30 L de volume útil, e tampas com tela de poliéster com 1
mm de diâmetro. Os camarões foram mantidos em aeração constante,
temperatura de 26± 2°C mantida com auxílio de termostato (Roxin,
modelo HT-1300 de 50 W) e salinidade em 35‰. O oxigênio
dissolvido e temperatura foram mensurados com auxílio de oxímetro
(YSI, modelo Pro 20) duas vezes ao dia, às 8 h e 17 h.
A biomassa algácea era ofertada às 9 h manhã de acordo com cada
tratamento e permaneceram disponíveis para os camarões por 24 horas.
Após esse período, o remanescente era retirado, seco com papel toalha e
pesado para o cálculo do consumo através da equação:
, onde B(i) é a biomassa inicial e B(f) biomassa
não consumida.
Além da oferta de macroalgas, ração comercial (composta com 35%
proteína) era fornecida três vezes ao dia, às 9h, 13h e 17h.
A quantidade da ração foi calculada a partir da biomassa inicial do
camarão de acordo com a tabela descrita por Wyk (1999) e ajustada
conforme o consumo. Todos os tratamentos e controle foram feitos em
triplicata.
28
Experimento prévio - Avaliação da oferta de três macroalgas no
consumo do camarão branco do Pacífico
Antes de testar os níveis de substituição, um experimento prévio foi
realizado para escolher a espécie de alga que teria maior consumo pelos
camarões. Três espécies de algas foram testadas: Ulva lactuca (Figura
1A), Gracilaria domingensis (Figura 1B) e Sargassum sp. (Figura 1C).
Para avaliar o consumo, os camarões foram alimentados diariamente
com 2 g de alga in natura por unidade experimental por um período de
10 dias. No controle, foi fornecido 1,5 g de ração comercial (Guabi
Potimar – 35% de proteína bruta), e a quantidade foi ajustada conforme
o consumo. Diariamente 50% de água do mar esterilizada foi renovada,
aliado a sifonagem das unidades amostrais realizada às 10 h. A
temperatura média foi mantida em 26 ± 2°C (média ± intervalo de
confiança), oxigênio dissolvido em 6,31± 0,36 mg L-1
e salinidade em
35‰ durante todo o período experimental.
Figura 1. Espécies de macroalgas utilizadas na avaliação da oferta de
três macroalgas no consumo do camarão branco do Pacífico, sendo A:
Ulva lactuca; B: Gracilaria domingensis; C: Sargassum sp.
Substituição de ração comercial por Ulva lactuca
Uma vez escolhida à espécie, a massa seca de U. lactuca utilizada
em cada tratamento foi calculada. Para isso, a alga foi seca em estufa a
35°C por 1 h e 35 min, e após este período, a temperatura foi elevada a
60°C por mais 2 h. A massa seca foi calculada utilizando a equação:
, onde: ms = massa seca, mf = massa final e mi =
massa inicial.
Foram utilizadas quatro porcentagens de substituição da ração
comercial por U. lactuca: 25, 50, 75 e 100%. A quantidade de alga
ofertada foi calculada a partir da equação: , onde: Bi = 5% da biomassa inicial do camarão, Ps =
porcentagem de substituição (25; 50; 75 e 100%) e ms = massa seca da
29
alga (25%). A quantidade de ração comercial em cada tratamento variou
conforme a porcentagem de substituição pela macroalga (Tabela 1). O
valor da biomassa algácea para cada tratamento foi fixo durante todo o
período experimental. O controle consistiu na alimentação do camarão
apenas com ração comercial (Guabi Potimar – 35% de proteína bruta),
calculada a partir de 5% da biomassa do camarão.
Tabela 1. Biomassa (g) de Ulva lactuca utilizada em cada tratamento e
ração inicial (g), indicando a porcentagem de substituição da ração pela
macroalga no cultivo de Litopenaeus vannamei, calculado a partir de 5%
da biomassa inicial do camarão e massa seca da alga.
O cultivo foi realizado por 28 dias. Diariamente, o alimento não
consumido e as fezes foram sifonados. Com o aumento do período
experimental e a presença de ração na maioria dos tratamentos, a
renovação de água foi elevada para 80% do volume de cada unidade
experimental com água do mar esterilizada, com a finalidade de
conservação da qualidade de água. A temperatura foi mantida em 26,3±
0,81 °C (média± intervalo de confiança), oxigênio dissolvido em 6,71 ±
0,23 mg L-1
e salinidade em 35‰.
Semanalmente, a biometria dos camarões foi realizada para
acompanhar seu crescimento em cada tratamento. O ganho de peso foi
calculado pela equação:
, onde: Gp = ganho em peso, Pf =
peso final, Pi = peso inicial; a taxa de crescimento específico pela
equação:
, onde TCE = taxa de
crescimento específico, LnPf e LnPi são logaritmo natural do peso final
e peso inicial, respectivamente, e t = dias de cultivo; e conversão
alimentar pela equação:
Tratamentos Porcentage
m de
substituição
(%)
Ulva
lactuca
(g)
Ração
inicial
(g)
Controle 0 0 1,8
25% 25 1,8 1,35
50% 50 3,6 0,9
75% 75 5,4 0,45
100% 100 7,2 0
30
, onde CA = conversão alimentar, Pf =
peso final; Pi = peso inicial, Ro = Ração ofertada.
A sobrevivência foi contabilizada diariamente em cada unidade
experimental, e em caso de mortalidade, o camarão era retirado
imediatamente. A taxa de sobrevivência foi calculada de acordo com a
equação: , onde S = sobrevivência, nf = número
final de camarões e ni = número inicial de camarões.
Análise estatística
Para avaliar as diferenças do consumo das três espécies de
macroalgas e o controle, foi realizada uma análise de variância
(ANOVA) unifatorial seguida pelo Teste Tukey, ambos ao nível de
significância de 0,05.
Dados zootécnicos do camarão foram submetidos à análise de
variância (ANOVA) unifatorial. Teste Tukey, com nível de significância
de 0,05, foi utilizado para identificar diferenças significativas. Os
valores em porcentagens foram transformados em arco seno antes da
análise. Os dados de desempenho zootécnico também foram submetidos
à análise de regressão linear, sendo que os coeficientes estimados
tiveram sua significância avaliada pelo teste t (α<0,05).
Todas as análises foram realizadas com o auxílio do software
Statistica 7.0.
RESULTADOS
Avaliação da oferta de três macroalgas na alimentação do
camarão branco do Pacífico
Diferenças significativas foram observadas no consumo de alimento
entre a ração comercial (1,23± 0,14 g/dia) (média ± intervalo de
confiança) e macroalgas (p<0,05) (Figura 2), sendo Ulva lactuca (UL)
mais consumida com média de 0,35± 0,08 g/dia. Os animais
alimentados com G. domingensis (GD) e Sargassum sp. (SS) não
apresentaram diferenças significativas, sendo que o consumo variou de
0,05± 0,05 g e 0,11± 0,02 g, respectivamente.
31
Figura 2. Consumo diário das macroalgas: Ulva lactuca (UL),
Gracilaria domingensis (GD) e Sargassum sp. (SS), e ração (controle)
pelo camarão Litopenaeus vannamei. As letras apresentam as diferenças
significativas entre o consumo das diferentes espécies de algas,
considerando p<0,05.
Substituição da ração comercial por Ulva lactuca
Consumo diário de Ulva lactuca
Foram observadas diferenças significativas, onde o tratamento 25%
teve o menor consumo com 0,12± 0,02 g/dia da macroalga, seguido do
tratamento 50% com 0,32± 0,08 g/dia. Entre os tratamentos com
alimentação de 75% e 100% de substituição de alga não foram
observadas diferenças significativas no consumo diário, sendo de 0,63±
0,10 e 0,50± 0,02 g/dia, respectivamente. O consumo da alga foi
proporcional à oferta, conforme pode ser observado na Tabela 2, o que
pode representar indicativo da preferência do animal pela ração.
Tabela 2. Consumo diário da macroalga Ulva lactuca entre os
tratamentos com diferentes níveis de substituição da ração pela
macroalga.
Tratamentos Consumo de Ulva lactuca (g dia-1
)
Controle 0
25% 0,12± 0,02c
50% 0,32± 0,08b
75% 0,63± 0,10a
100% 0,50± 0,02a
Dados expressos em média± intervalo de confiança. Diferenças estatísticas com nível de
significância de 5% são demonstradas com letras distintas.
32
Parâmetros zootécnicos
Foi observada tendência linear negativa para o peso final (g),
ganho em peso semanal (g), ganho em peso total (%) (Figura 3A) e taxa
de crescimento específico (% dia-1
) (Figura 3B), com o aumento da
substituição da ração pela macroalga U. lactuca. Contudo, até 50% de
substituição não foram observadas diferenças significativas com
controle, apresentando desempenho superior aos alimentados com 75%
e 100% (Tabela 3). No tratamento com 100% de substituição da ração
pela U. lactuca foi observado decréscimo nos parâmetros zootécnicos
(Tabela 3).
A conversão alimentar foi calculada apenas para os animais
alimentados com ração. Não foi observada diferença significativa entre
o controle e os tratamentos com o aumento da substituição da ração pela
U. lactuca (Figura 3C), no entanto, o tratamento com 50% de
substituição apresentou o melhor resultado para este parâmetro com
0,80± 0,26g. O tratamento com 75% de substituição demonstrou o
índice mais elevado de conversão alimentar, com 1,20± 0,06g (Tabela
3).
33
Figura 3. A) Ganho em peso total (%); B) Taxa de Crescimento
Específico (% dia-1
); C) Conversão alimentar do camarão Litopenaeus vannamei quando co-alimentado com a macroalga Ulva lactuca em
diferentes níveis de substituição da ração comercial.
A
B
C
34
A sobrevivência do camarão no controle e nos tratamentos 25, 50
e 75% de alga foram acima de 86% (Tabela 3). Os animais alimentados
com 100% de U. lactuca apresentaram 16,7% de sobrevivência,
significativamente menor demais e controle. Foi observada mortalidade
no tratamento 100% a partir do 10º dia, enquanto que nos demais foi
observada a partir do 12º dia de cultivo.
Tabela 3. Resultados dos parâmetros zootécnicos do camarão
Litopenaeus vannamei quando em níveis de substituição de: 25% (T25),
50% (T50), 75% (T75) e 100% (T100) de ração comercial pela
macroalga Ulva lactuca.
Dados expressos em média± intervalo de confiança. Diferenças estatísticas com nível de
significância de 5% são demonstradas com letras distintas. 1GPS= ganho em peso semanal; 2GPT= ganho em peso total; 3TCE= taxa de crescimento específico; 4CA= conversão alimentar.
DISCUSSÃO
A preferência do camarão pela U. lactuca foi evidente entre as
macroalgas ofertadas, sendo esta alga escolhida para o experimento
posterior de substituição de ração por macroalga.
Ulva lactuca possui talo laminar distromático (compostos por duas
camadas celulares) com espessura de 0,046 – 0,056 mm (Pacheco,
2011). A espessura, forma e tamanho do talo podem influenciar no
consumo do camarão. Na fabricação de ração para camarões,
características físicas são consideradas, e o tamanho das partículas deve estar de acordo com o estágio de desenvolvimento do animal; por
exemplo, de PL50 até quatro gramas de camarão, a partícula da ração
deve ter entre 1,5 a 2,5 mm (Tan e Dominy, 1997). No presente
trabalho, os camarões consumiram majoritariamente U. lactuca, e essa
escolha pode estar relacionada à sua forma delgada.
35
Gracilaria domingensis, que teve o menor consumo entre as algas
ofertadas, possui talo com consistência cartilaginosa, composta por uma
camada celular cortical e até 10 camadas de células medulares,
resultando em espessura que varia de 0,33 a 0,875 mm (Pacheco, 2011).
A espessura provavelmente dificultou a manipulação do camarão para o
consumo. Uma opção seria utilizar a alga como aglutinante de ração,
aproveitando as propriedades do agar que compõe sua parede celular.
Peñaflorida e Golez (1996) relatam o efeito aglutinante da espécie G. heteroclarata na composição da ração para o camarão Penaeus
monodon, mantendo os pellets estáveis na água por até 4h, minimizando
o uso da farinha de trigo e diminuindo os resíduos orgânicos. É possível
que a G. domingensis pudesse ser utilizada como parte integrante da
ração, como observado na inclusão de 50% de G. cervicornis na ração
para L. vannamei, que demonstrou resultado no crescimento (4,71%.
dia-1
) e sobrevivência (100%) do juvenil do camarão, os quais foram
cultivados em condições similares a descritas nesse trabalho (Marinho-
Soriano et al., 2007).
Sargassum sp. assim como a G. domingensis, também
apresentaram baixa aceitação como alimento para os camarões. Coloração amarelada foi observada na água dos tratamentos com a alga
Sargassum sp., e pode estar relacionada à presença de compostos
fenólicos. Esses compostos fazem parte da defesa química das
macroalgas pardas para dissuasão dos herbívoros, como por exemplo, o
molusco gastrópode Tegula funebralis, e já foi observado que outras
espécies herbívoras marinhas selecionam macroalgas com baixas
quantidades de compostos fenólicos (Steinberg, 1985). Zubia et al.
(2008) observaram uma média de conteúdo fenólico de 2,85% da massa
seca na espécie Sargassum mangarevense, e correlacionaram o teor
destes compostos com fatores ambientais, por exemplo, herbivoria.
Sendo assim, este fato poderia explicar o baixo consumo desta alga pelo
camarão L. vannamei durante o experimento.
Apesar de ser observada tendência linear negativa para os
parâmetros zootécnicos (ganho em peso, ganho em peso semanal e taxa
de crescimento específico), não foram observadas diferenças
significativas entre as médias com substituição da ração pela macroalga
em até 50%. Estes resultados são melhores do que os descritos por
Gamboa-Delgado et al. (2011) que utilizou a macroalga U. clathrata
como co-alimento para o camarão L. vannamei, e observaram que em
substituição acima de 25% da ração pela alga houve diminuição dos
parâmetros zootécnicos.
36
No presente trabalho os camarões alimentados com 50% de alga
apresentaram melhor resultado para conversão alimentar, sugerindo que
esta porcentagem de substituição proporcionou um melhor ganho de
peso em relação à quantidade de alimento ofertada; por outro lado, o
tratamento com 75% de substituição demonstrou o índice mais elevado
deste parâmetro podendo estar atribuído ao baixo ganho de peso dos
camarões cultivados nessas condições.
As algas verdes podem ser uma fonte complementar de proteína
para nutrição animal. De uma maneira geral, a Ulva lactuca apresenta de
10 – 26% de proteína em relação à massa seca (Fleurence, 1999) e
contêm todos os aminoácidos essenciais, com exceção do triptofano
(Ortiz et al., 2006; Yaich et al., 2011, Tabarsa et al., 2012). Segundo
Kureshy e Davis (2002), dietas com 32% de proteína aprimoram o
crescimento do juvenil de camarão L. vannamei, mas dietas deficientes
em lisina, metionina e arginina são fatores limitantes no crescimento
deste animal (Fox et al., 1995). A U. lactuca apresenta baixas
concentrações dos aminoácidos lisina, isoleucina (Ortiz et al., 2006;
Rodríguez-González et al., 2014) e metionina (Tabarsa et al., 2012), o
que poderia explicar a diminuição do ganho em peso e taxa de
crescimento conforme o aumento da macroalga como co-alimento para
os camarões. Esse fato foi visível principalmente nos animais que
utilizavam apenas U. lactuca como alimento, resultando no baixo
desempenho de todos os parâmetros analisados.
Por outro lado, a ração pode contribuir com os nutrientes que são
insuficientes na macroalga. A combinação alga e ração pode melhorar o
crescimento do camarão, podendo agir como suplemento nutricional
e/ou melhorar a utilização dos nutrientes da ração (Cruz-Suárez et al.,
2010). Segundo Gamboa-Delgado et al. (2011), o L. vannamei co-
alimentado com U. clathrata metaboliza o carbono e nitrogênio
diferencialmente. O carbono dietético apresentou maior quantidade no
tecido muscular, que é o reservatório de proteínas do camarão, pela
incorporação de aminoácidos originário do alimento inerte. Já o
nitrogênio, utilizado para o crescimento animal, foi originário
principalmente da U. clathrata por sua digestibilidade e contínua
disponibilidade para o camarão. Neste trabalho os camarões tinham a
preferência pela ração, e quando presentes no regime alimentar, foi
observado melhor desempenho dos animais.
As macroalgas também podem ser excelente fonte de minerais. U.
lactuca pode conter quantidade significativa de minerais essenciais
como magnésio, cálcio, potássio, sódio e fósforo (Yaich et al, 2011). Os
minerais mais solúveis (cálcio, fósforo, sódio, potássio e cloreto) agem
37
na osmorregulação, manutenção do equilíbrio ácido-base e potencial da
membrana (Davis e Lawrence, 1997). A presença dos minerais iodo e
sódio, por exemplo, é devido ao elevado teor de polissacarídeos, o que
poderia também implicar em um elevado nível de fibras dietéticas
solúveis e insolúveis (Lahaye e Jegou, 1993). Ortiz et al (2006) relatam
que U. lactuca apresenta em média 27% da massa seca de fibra solúvel.
A taxa de absorção de nutrientes depende da taxa à qual os nutrientes
entram em contato com o epitélio de absorção. Assim, o atraso no
esvaziamento do estômago provocado pela fibra solúvel pode
influenciar a taxa de absorção de carboidratos em crustáceos (Shiau,
1997).
No presente trabalho, os camarões alimentados com até 75% de
ração apresentaram sobrevivência acima de 86%, ao contrário dos
camarões alimentados apenas com U. lactuca. Isso pode ter ocorrido
porque os carboidratos e lipídeos oriundos da ração contribuem
significativamente com o requerimento energético do camarão
(Gamboa-Delgado et al., 2011). Conforme o aumento do nível de
substituição, acréscimo no consumo da macroalga foi observado, e este
fato pode estar relacionado à composição química da biomassa algácea
disponível que pode conter baixos níveis de energia, ácidos graxos e/ou
aminoácidos, sendo desta maneira compensada elevada ingestão. No
entanto, a ocorrência da muda do camarão não foi influenciada pelo
regime alimentar, sendo que este fenômeno ocorria simultaneamente em
todos os tratamentos.
Os resultados relativos à inclusão de macroalgas na dieta em
aquicultura dependem da espécie da alga e do animal consumidor. Para
juvenis do robalo Europeu (Dicentrarchus labrax) a inclusão de até 10%
de Gracilaria bursa-pastoris e Ulva rigida na ração não afetou
crescimento e eficiência alimentar, podendo ser utilizadas como
ingrediente da ração para juvenis deste peixe (Valente et al., 2006).
Rodríguez-González et al.(2014) relatam a possibilidade da adição de
até 15% de Gracilaria parvispora e 5% de U. lactuca na ração para L. vannamei; entretanto, esta limitação na adição da ração diverge dos
resultados do presente trabalho que demonstra que a utilização de até
50% de U. lactuca como co-alimento não influencia no crescimento do
camarão branco do Pacífico.
Além disso, U. lactuca pode ser utilizada para biorremediação
em cultivos aquícolas. Em sistema de recirculação de viveiros do
camarão Penaeus monodon a taxa de remoção de amônia do efluente foi
de 45% e a média da taxa de crescimento algáceo foi de 4,7% dia-1
. Foi
observado ainda taxa de crescimento do camarão 30% maior do que o
38
sistema de recirculação sem a presença da alga (Baloo et al., 2014),
sendo assim, uma possibilidade de baixo custo a ser considerada para
incrementar a produção de biomassa do camarão e da alga.
Os resultados deste estudo demonstram que até 50% de substituição
da ração comercial pela Ulva lactuca o desempenho zootécnico dos
camarões não foi afetado significativamente, sendo viável a utilização
da macroalga como co-alimento para esta espécie, reduzindo os custos
de produção e possível melhoria na qualidade de água. Contudo, estudos
a campo são necessários para comprovar a eficiência deste co-cultivo.
Análises posteriores da composição nutricional da U. lactuca realizada
no presente trabalho deverão ser realizados.
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43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação teve enfoque na utilização de macroalga como co-
alimento para o camarão marinho Litopenaeus vannamei. Ulva lactuca
apresenta potencial para este modelo de cultivo já que apresentou
resultados satisfatórios, podendo ser utilizada como fonte complementar
de proteína e minerais. Entretanto, algumas questões poderão ser
discutidas em trabalhos futuros.
Camarões alimentados apenas com macroalga apresentaram
expressiva mortalidade ao longo do período experimental. Neste estudo,
não foi realizado tratamento sem alimentação para avaliar o possível
auxílio energético da U. lactuca, dado que pode contribuir em estudos
futuros.
Por ter distribuição abrangente no litoral brasileiro, tolerar amplas
variações de salinidade e apresentar potencial de biorremediação em
cultivos aquícolas, U. lactuca apresenta vantagens para o cultivo
integrado. No entanto, estudos a campo são necessários para observar a
taxa de crescimento da alga em viveiros de cultivo e/ou lagoa de
decantação, sua influência nos parâmetros físico-químicos de qualidade
de água. A macroalga pode também ser utilizada como substrato para
organismos associados que poderia resultar em alimento adicional aos
camarões.
Neste contexto, a análise econômica deste modelo de cultivo, bem
como, comercialização do remanescente para fabricação de produtos
secundários (bioenergia, aditivo alimentar, fertilizante agrícolas), podem
ser temas para estudos posteriores.
44
6. REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO GERAL
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