12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL 55 (PEC 55): GOVERNO TEMER, CAPITAL FICTÍCIO E AS MULHERES DA CLASSE TRABALHADORA BRASILEIRA Lívia de Cássia Godoi Moraes 1 Resumo: A desigualdade social no Brasil se caracteriza por ser estrutural, a qual não é somente desigualdade de classe, ela é também de raça e de sexo. Em uma perspectiva de consubstancialidade entre classe, raça e sexo, temos por objetivo, neste artigo, analisar os fundamentos sócio históricos da PEC 55, proposta pelo Governo Temer (2016 -), e como, se implementada, poderá afetar, de forma ainda mais contundente do que já ocorre, as mulheres da classe trabalhadora brasileira. As raízes dessa proposta estão assentadas em um movimento internacional de financeirização da economia e suas expressões na forma de capital fictício. No caso específico da PEC 55, a forma concreta central da expressão dessa relação financeirizada é a dívida pública. O congelamento de gastos em despesas primárias, que envolvem saúde, educação e assistência social, em resposta às necessidades de pagamento dos juros da dívida, têm impactos imediatos sobre o cotidiano das mulheres trabalhadoras, ao mesmo tempo em que alimenta a sanha especulativa da classe dominante. No artigo, aborda-se sobre o contexto de mundialização do capital e a sua expressão na política econômica nacional; o que seja a PEC 55 como resposta e necessidade desse movimento capitalista; e, por fim, apresenta possíveis impactos sobre as mulheres trabalhadoras brasileiras nos próximos 20 anos de congelamento previstos pela emenda. Palavras-chave: PEC 55. Capital fictício. Mulheres. Classe trabalhadora. Introdução “Ajuste fiscal” não é um termo novo para nós, latino-americanos e latino-americanas. Ele acompanha políticas neoliberais em nossos países há algumas décadas. O laboratório experimental das políticas neoliberais foi o Chile sob o governo ditatorial de Pinochet, em 1973, ainda que o projeto neoliberal apenas tenha se tornado hegemônico com a ascensão ao poder de Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, em 1979, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, em 1980 (FALQUET, 2006, p. 18). Entretanto, o que buscamos demonstrar em nossa análise é que o “ajuste fiscal” tem particularidades em tempos de capitalismo financeirizado, o que implica em peculiaridades também no impacto sobre a classe trabalhadora em geral, bem como especificamente sobre as mulheres dessa classe. Para tanto, organizamos o artigo da seguinte forma: em um primeiro momento, aborda-se o contexto de mundialização do capital e a sua expressão na política econômica nacional; 1 Docente do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo. Coordenadora do PIBID Ciências Sociais dessa mesma universidade. Vitória, Espírito Santo, Brasil. Email: [email protected].

UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL 55 (PEC

55): GOVERNO TEMER, CAPITAL FICTÍCIO E AS MULHERES DA CLASSE

TRABALHADORA BRASILEIRA

Lívia de Cássia Godoi Moraes1

Resumo: A desigualdade social no Brasil se caracteriza por ser estrutural, a qual não é somente desigualdade de classe,

ela é também de raça e de sexo. Em uma perspectiva de consubstancialidade entre classe, raça e sexo, temos por

objetivo, neste artigo, analisar os fundamentos sócio históricos da PEC 55, proposta pelo Governo Temer (2016 -), e

como, se implementada, poderá afetar, de forma ainda mais contundente do que já ocorre, as mulheres da classe

trabalhadora brasileira. As raízes dessa proposta estão assentadas em um movimento internacional de financeirização da

economia e suas expressões na forma de capital fictício. No caso específico da PEC 55, a forma concreta central da

expressão dessa relação financeirizada é a dívida pública. O congelamento de gastos em despesas primárias, que

envolvem saúde, educação e assistência social, em resposta às necessidades de pagamento dos juros da dívida, têm

impactos imediatos sobre o cotidiano das mulheres trabalhadoras, ao mesmo tempo em que alimenta a sanha

especulativa da classe dominante. No artigo, aborda-se sobre o contexto de mundialização do capital e a sua expressão

na política econômica nacional; o que seja a PEC 55 como resposta e necessidade desse movimento capitalista; e, por

fim, apresenta possíveis impactos sobre as mulheres trabalhadoras brasileiras nos próximos 20 anos de congelamento

previstos pela emenda.

Palavras-chave: PEC 55. Capital fictício. Mulheres. Classe trabalhadora.

Introdução

“Ajuste fiscal” não é um termo novo para nós, latino-americanos e latino-americanas. Ele

acompanha políticas neoliberais em nossos países há algumas décadas. O laboratório experimental

das políticas neoliberais foi o Chile sob o governo ditatorial de Pinochet, em 1973, ainda que o

projeto neoliberal apenas tenha se tornado hegemônico com a ascensão ao poder de Margaret

Thatcher, na Grã-Bretanha, em 1979, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, em 1980

(FALQUET, 2006, p. 18).

Entretanto, o que buscamos demonstrar em nossa análise é que o “ajuste fiscal” tem

particularidades em tempos de capitalismo financeirizado, o que implica em peculiaridades também

no impacto sobre a classe trabalhadora em geral, bem como especificamente sobre as mulheres

dessa classe.

Para tanto, organizamos o artigo da seguinte forma: em um primeiro momento, aborda-se o

contexto de mundialização do capital e a sua expressão na política econômica nacional;

1 Docente do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade

Federal do Espírito Santo. Coordenadora do PIBID – Ciências Sociais dessa mesma universidade. Vitória, Espírito

Santo, Brasil. Email: [email protected].

Page 2: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

posteriormente passamos a analisar o que seja a PEC2 55 como resposta e necessidade desse

movimento capitalista; e, por fim, apresentamos atuais e possíveis impactos sobre as mulheres

trabalhadoras brasileiras nos próximos 20 anos de congelamento previstos pela emenda, e

debateremos como o feminismo tem respondido a esse movimento do capital.

Capitalismo marcado pela acumulação de capital fictício

Essa fase do capitalismo financeirizado, que ganha suporte a partir da crise estrutural do

capital na década de 1970, se caracteriza pela centralidade nas relações econômico-financeiras

realizadas com capital fictício. Marques e Nakatani (2009) afirmam que há três grandes formas de

capital fictício: o capital bancário, a dívida pública e o capital acionário. Assomado a esses está o

mercado de derivativos.

O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel

com promessa futura pode vendê-lo a um terceiro e obter dinheiro, ao mesmo tempo em

que, no âmbito da totalidade, esse capital é apenas promessa, não existe efetivamente.

Entretanto, mesmo no contexto da acumulação predominantemente financeira, o capital

fictício não se sustenta apenas de especulação. Ele parasita o mundo produtivo, de modo

que são criadas normas de Governança Corporativa e Investimento Socialmente

Responsável que garantam, no âmbito produtivo, o nível esperado de produção de mais-

valia (MORAES, 2016, s.p.)

A crise da década de 1970 se caracteriza por superacumulação de capital e não por falta de

capital, conforme o senso comum tende a fazer parecer. Parte desse capital é reinvestido

financeiramente na compra de ações nas bolsas de valores, títulos da dívida dos Estados e outras

variações de papeis especulativos.

Esse movimento tem impactos nos países da América Latina. O Brasil começou a sentir, a

partir da década de 1980, a pressão pela redução do gasto público, com uma mudança de cariz

neoliberal iniciada no Governo Collor de Mello (1990-1992) e aprofundada no Governo Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002). Essa redução dos gastos públicos culminou, desde 1999, no esforço

pela obtenção de superávit primário (FERREIRA, 2010).

“A obtenção de superávits primários significa que as receitas do governo devem superar

seus dispêndios não financeiros. A diferença é utilizada exatamente para pagar parte dos juros sobre

a dívida pública” (FERREIRA, 2010, p. 52, grifo nosso). Ou seja, a prioridade passou a ser “honrar

os compromissos financeiros”. Com isso vemos a crescente importância que o pagamento do

serviço da dívida pública e sua amortização passam a ganhar.

2 Proposta de Emenda Constitucional

Page 3: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O Estado reduz a sua participação no setor real da economia e nos investimentos sociais e

passa a ser um agente fomentador das finanças. Essa política adentra os governos Lula da Silva

(2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).

[...] por um lado, a política fiscal deixa de ser realizada em prol do crescimento, tendo em

vista sua vinculação às responsabilidades financeiras. Por outro, o próprio processo de

financeirização – que tem, no Brasil, sua face mais explícita na liberalização da conta de

capital – aprisiona o País às percepções conservadoras dos financistas, que buscam os

mercados que lhes proporcionam maiores lucros com baixo risco, difundindo a concepção

de que os países emergentes devem obter a chamada “credibilidade” (FERREIRA, 2010, p.

52-3).

A dívida pública existe desde quando se constituíram os Estados-Nação, quando o

investimento necessário não era coberto pelos impostos tão somente. Mas essa dívida pública ganha

uma particularidade nas últimas décadas: a dívida não aparece apenas para financiar o déficit, os

títulos da dívida passam a ser negociados no mercado secundário, na forma de especulação.

Deixam, portanto, de ser apenas capital a juros e passam a ser capital fictício (MARQUES;

NAKATANI, 2009).

No período desenvolvimentista dos governos brasileiros (décadas de 1930 e 1970), o Estado

atuava como um grande incentivador do crescimento econômico. O fato de ser um governo

endividado, para manter o crescimento econômico, não era uma anomalia. Mas a partir da década

de 1990, coloca-se como meta um “equilíbrio fiscal” para “eliminação do déficit público”. Foi com

FHC3 que apareceu a necessidade do superávit primário e, portanto, dos juros altos, que atendem

mais ao capital especulativo parasitário do que às necessidades do capital investido na produção de

riqueza real4. Esse panorama justifica a defesa do “ajuste econômico”, com sua expressão em um

“ajuste fiscal”, que acompanha o tripé vilipendiador do trabalho5: reestruturação produtiva,

neoliberalismo e financeirização.

A PEC 55/2016 como resposta às necessidades especulativo-financeiras

3 Fernando Henrique Cardoso 4 Com isso, não queremos dizer que há uma dualidade: capital fictício é mau e capital produtivo é bom. Não se trata de

uma questão moral, mas de uma análise dos desdobramentos lógicos e históricos do capital, e seus impactos sobre a

classe trabalhadora. 5 Para saber mais sobre o tripé vilipendiador do trabalho ver Antunes et al., 2017.

Page 4: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A PEC 55/2016 (BRASIL, 2016c) do Senado Federal, anteriormente PEC 241/2016

(BRASIL, 2016a), da Câmara dos Deputados, e atualmente Emenda Constitucional 95/2016

(BRASIL, 2016b), é parte desse envolvimento crescente da política-econômica brasileira com os

ditames da financeirização6.

A revisão da meta fiscal teve o primeiro passo ainda no governo Dilma Rousseff, quando a

presidenta enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei, em 28 de março de 2016, que previa,

como medida, uma nova meta de resultado primário7 do setor público para o ano subsequente, com

modificação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016 (Lei n. 13.242/2015) (DIEESE, 2016, p.

2).

O PL de Dilma ainda estava em tramitação quando o governo Michel Temer reapresentou,

no dia 23 de maio de 2016, ainda como presidente interino8, o mesmo projeto, porém, com nova

definição de meta de resultado primário.

A meta da União de déficit de R$ 170,5 bilhões [apresentada pelo governo interino Michel

Temer] acomoda, portanto, os cenários mais pessimistas no que diz respeito às frustrações

de receitas e aumento de despesas. Com isso, o governo vem sinalizando que pretende

promover um ajuste nas contas públicas com foco nas despesas primárias9, principalmente

às vinculadas a receitas. Em diversas declarações à imprensa, o atual ministro da Fazenda,

Henrique Meirelles, tem afirmado que o problema da despesa pública é estrutural, em

razão, principalmente, das despesas obrigatórias definidas na Constituição Federal (CF) e

que, portanto, para controlá-las, seria necessário reformar a CF/88 (DIEESE, 2016, p. 3).

É preciso lembrar que o pagamento de juros e amortização da dívida, ou seja, as despesas

financeiras (excluídas do ajuste), consome em torno de 45% do orçamento geral da União10. O

discurso de defesa do ajuste gira em torno do excessivo gasto com despesa primária, especialmente

nos anos dos governos do PT, o que denotaria certo “descontrole das despesas”. Mas esse tipo de

argumento faz uma análise descolada do contexto de crise em âmbito internacional, que se agravou

desde que a solução para a “crise financeira” de 2007-2008 foi respondida com mais

financeirização.

De acordo com a PEC 55, o novo regime fiscal terá duração de vinte anos, contados a partir

do ano presente, 2017, com possibilidade de alteração apenas após o décimo ano de vigência. Ou

6 É importante que deixemos claro que, em nossa análise, os governos PT não se caracterizam como

neodesenvolvimentistas, porque a prioridade continuou sendo o serviço da dívida, ainda que a conjuntura econômica

mundial tenha favorecido, parcialmente, a produção de riqueza real no país, em especial nos governos Lula da Silva. O

que não nos faz pensar, contudo, que os governos PSDB e PT sejam idênticos. 7 Resultado primário é a diferença entre receitas e despesas do governo, exceto as despesas com juros e amortização da

dívida pública. 8 Michel Temer assumiu a presidência brasileira, em 2016, a partir de um golpe institucional. 9 Despesas primárias são as despesas “não financeiras”, correspondem ao conjunto de ofertas de serviços públicos à

sociedade, por exemplo, com pessoal, custeio e investimento, englobam saúde, educação e seguridade, dentre outros

serviços de natureza obrigatória ou discricionária. 10 Segundo metodologia elaborada pela Auditoria Cidadã da Dívida.

Page 5: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

seja, as despesas primárias sofrerão um congelamento de, no mínimo, dez anos, sendo reajustada

apenas pela inflação11.

Essa proposta se somou ao aumento da porcentagem da Desvinculação das Receitas da

União (DRU) de vinte para trinta por cento, de modo que pode haver um remanejamento da receita

de todos os impostos e contribuições sociais para fins não previstos na Constituição Federal. Em

geral é orçamento da saúde e da educação que é desviado para pagamento de juros. Orçamento este

que, por anos, desde que se figurou a determinação do superávit primário, vem tornando o limite

mínimo, o máximo. Com a PEC 55, o teto fica legitimado.

A PEC altera também a vinculação entre receitas e despesas públicas, afetando a área social

da ação estatal. Os limites mínimos definidos para aplicação nas áreas de saúde e educação,

que possuem seus recursos vinculados por determinações constitucionais, também serão

corrigidos na forma como estabelecido na PEC, ou seja, terão que se enquadrar no limite

total de gastos corrigidos pelo IPCA do ano anterior. Para isso, a presente proposta também

revoga o artigo 2º da Emenda Constitucional nº 86 de 17/03/2015, que estabelece a

progressividade nos gastos mínimos com a área de Saúde em percentuais da Receita

Corrente Líquida12 (DIEESE, 2016, p. 9).

Assim, mesmo com aumento de demandas sociais, os gastos primários somente

acompanharão a inflação.

Abaixo, uma tabela que simula os gastos com saúde e educação de 2002 a 2015, caso as

propostas da PEC 55 tivessem sido implementadas em 2003:

11 O índice utilizado é o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor. 12 Receita corrente líquida é o somatório das receitas tributárias de um Governo, referentes a contribuições patrimoniais,

industriais, agropecuárias e de serviços, deduzidos os valores das transferências constitucionais.

Page 6: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Tabela 1. Despesas realizadas em Educação e Saúde no período de 2002 a 2015 x

Despesas em Educação e Saúde pela regra da PEC 24113 – Brasil 2002-2015

Fonte: Orçamento Brasil e IBGE. Elaboração de DIEESE (2016)

Obs: Valores reais de dezembro de 2015 (IPCA), Ano-base 2002.

No caso de descumprimento do limite individualizado, cabem vedações que recaem

diretamente sobre os trabalhadores e as trabalhadoras, em especial servidores/as e empregados/as

públicos/as. Tornar-se-ão impedidos: aumento, reajuste ou adequação de remuneração; criação de

cargo, emprego ou função que aumente despesas; alteração da estrutura de carreiras; admissão ou

contratação de pessoal; realização de concurso público; criação de auxílios, vantagens, bônus,

abonos, verbas de representação ou benefícios (BRASIL, 2016b). Vale lembrar que esta PEC

responde, também, diretamente às demandas da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

brasileira, conforme é possível observar na sua publicação denominada “Agenda para o Brasil sair

da crise 2016-2018” (CNI, 2016; CNI, 2017), para quem a perda de estabilidade e barateamento da

força de trabalho são bastante relevantes.

A PEC 55, portanto, reafirma o cenário já apresentado por nós no início deste artigo, em que

há uma redução do papel do Estado como alicerce do desenvolvimento econômico e provedor e

garantidor dos direitos sociais básicos da população brasileira, especialmente a empobrecida, que

mais necessita dos serviços públicos, em detrimento do Estado como mediador dos interesses

capitalistas financeiros especulativos em âmbito mundial, aprofundando, de forma radicalizada, o

ideário neoliberal.

13 PEC 241 era a numeração da PEC 55 quando ainda tramitava na Câmara dos Deputados.

Page 7: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O próximo item deste artigo abordará o impacto dessas medidas sobre as mulheres da classe

trabalhadora a partir de uma análise feminista materialista.

O impacto devastador da PEC 55 sobre as mulheres da classe trabalhadora

Primeiramente, precisamos afirmar que a nossa concepção de classe trabalhadora é bastante

ampla e engloba trabalhadores e trabalhadoras do setor privado e público, de indústrias e serviços,

produtivos/as e improdutivos/as, materiais e imateriais, empregados/as e desempregados/as, do

campo e da cidade. Essa classe trabalhadora é também bastante heterogênea: composta de mulheres,

homens, LGBTs, brancos/as, negros/as, migrantes, indígenas. Essa classe trabalhadora, em toda a

sua heterogeneidade, será/está sendo fortemente afetada pela PEC 55, atual EC14 95, ainda que de

formas particulares dentro dessas diferenças. Nosso foco de análise se centra nas mulheres da classe

trabalhadora.

Sob o capitalismo e o patriarcado, as mulheres trabalhadoras já vivem processos múltiplos

de exploração, opressão e apropriação (individual e coletiva). Sob a perspectiva do feminismo

materialista, o espaço da reprodução é também parte do processo de acumulação de capital, na

medida em que cabe às mulheres realizar o trabalho não pago que garante a reprodução da força de

trabalho da família (FEDERICI, 2015).

Não somente a força de trabalho da mulher é apropriada dentro e fora do ambiente familiar,

ou seja, no espaço da reprodução e da produção, mas a mulher é também materialmente apropriada:

seu tempo, os produtos do seu corpo, a obrigação sexual e o encargo físico dos membros do grupo

de convívio (em especial membros válidos masculinos) (GUILLAUMIN, 2014).

A opressão se relaciona diretamente com o patriarcado, que tem a sua origem na apropriação

do corpo da mulher. O patriarcado e, portanto, apropriação do corpo da mulher na sociedade

capitalista, tem especificidades, já que a exploração capitalista se assenta na opressão e na

apropriação da mulher.

Um feminismo que lute contra esses três aspectos é extremamente necessário para a luta

anticapitalista. Há, entretanto, uma grande preocupação, expressada especialmente por Fraser (2016

[2009]), de que um feminismo liberal tenha ganhado força e expressão conjuntamente ao

neoliberalismo. Para essa estudiosa, tal feminismo deixou de lado a luta por questões de igualdade

14 Emenda Constitucional

Page 8: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

material e redistribuição político-econômica e se concentrou no reconhecimento de identidade e

diferença.

A crítica feminista ao economicismo se transformou em uma ênfase unilateral da cultura e

identidade destacada do anti-capitalismo; o seu ataque ao conceito androcêntrico do homem

provedor foi absorvido pela “nova economia”, que acolheu o emprego feminino como um

aprofundamento da tendência a uma força de trabalho flexibilizada, com baixos salários,

normalizando a família de duplo assalariamento. A crítica feminista da burocracia pôde se

aliar com o ataque neoliberal ao Estado e com a promoção das ONGs; seu

internacionalismo coube bem com a maquinaria da “governança global”, embora

compromissada com a reestruturação neoliberal (SCHILD, 2016, p. 61).

Assim, ao mesmo tempo em que é uma conquista a mulher poder não mais se restringir ao

espaço da reprodução e poder ela mesma receber salário de produção, vendendo sua força de

trabalho ao invés de fornecê-la apenas gratuitamente, a participação das mulheres na economia

salarial tem sido o pilar das estratégias de flexibilização do trabalho. E as mulheres que não estão

trabalhando, como potenciais trabalhadoras, reforçam o exército industrial de reserva que barateia o

preço da força de trabalho das que estão assalariadas.

Trata-se de uma passagem da apropriação individual para a apropriação coletiva do corpo da

mulher (ainda que a primeira não deixe de existir, apenas destacamos o fato de que a segunda ganha

mais relevância). Daí o reforço da luta das mulheres contra o controle do Estado sobre seus corpos,

portanto, que não seja ele quem decida quando a mulher deve ou não ter filhos, por exemplo, como

é o caso da luta pela descriminalização do aborto, em um processo também de desvinculação da

imagem das mulheres como mães. Isso fica bem emblemático em frase citada por Oliveira (2005)

apud Schild (2016, p. 65): “Nós, as mulheres de Chiapas, não estamos mais dispostas a dar a luz

para alimentar seus exércitos, nem para justificar violências e guerras. Nem vamos continuar a

fornecer mão de obra barata para as empresas neoliberais”.

Essa negação do controle do Estado sobre o corpo das mulheres é apropriada pelo ideário

neoliberal como simples negação do Estado, em um processo que Fraser (2016) chama de

ressignificação das ideias feministas. Torna o feminismo um “feminismo do possível” (SCHILD,

2016), fazendo prosperar a política pragmática das mulheres liberais e implementando políticas de

“transferência condicional de renda” bastante focalizadas, no lugar de políticas sociais universais.

No Brasil, conforme Tenorio (2017) apresenta, as políticas sociais no Governo Dilma já se

caracterizavam por terem, como eixo condutores, o empoderamento e a autonomia feminina15. A

América Latina, enquanto colonizada, periférica na relação imperialista do capital, sempre lutou por

15 Tenorio (2017) apresenta como exemplos dessas políticas: o Programa Bolsa Família (direito à assistência via

condicionalidades); o Programa de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) (direito à educação para o

mercado); e o Programa Minha Casa Minha Vida (direito à habitação via financiamento).

Page 9: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

soberania e autonomia, porém, apropriada pelo neoliberalismo, autonomia se liga diretamente com

“empregabilidade”. Ou seja, a mulher deve ser autônoma para adentrar o mercado de trabalho

“flexível”, ao mesmo tempo em que adentrar esse mercado de trabalho flexível é o que vai lhe

garantir autonomia material e “empoderar” essa mulher.

O “empoderamento”, conforme Carvalho (2014), não é somente um conceito, mas um

projeto do Banco Mundial, enquanto dispositivo de enfrentamento à pobreza, na medida em que é

apresentado como processo que reforça a capacidade dos indivíduos de fazerem escolhas e

transformá-las em ações que melhorem a “eficácia” e a “equidade”.

Em nossa análise, esta explicação do Banco Mundial do “empoderamento” deixa clara a

sua intencionalidade, tomando-o como um de seus principais projetos, sobretudo porque ao

enfatizar a necessidade dos indivíduos pobres desenvolverem capacidades que resultem em

ações e recursos, estimula que esses sujeitos internalizem a situação de pobreza na qual se

encontram, e, mais, reforça o ethos liberal de que a condição social que ocupamos na

sociedade vincula-se ao esforço individual de cada um. Esta leitura deseconomiza,

despolitiza, moraliza e subjetiviza as relações sociais de produção capitalista

(CARVALHO, 2014, p. 147-8).

A PEC 55 tem por consequência o aprofundamento da divisão sexual do trabalho. Dados

presentados por Lavinas et al (2016) demonstram que, quando houve maior taxa de crescimento do

PIB16 no Brasil, a participação das mulheres caiu no mercado de trabalho, enquanto, em momentos

de crise, as mulheres ganham espaço no mercado de trabalho. Isso se justifica porque as mulheres

ocupam os postos mais precários e recebem menores salários. Uma política que valoriza as funções

financeiras do Estado exige diretamente redução de direitos trabalhistas, afinal, conforme já

apontamos, o capital fictício parasita a produção de riqueza real, porque ele próprio não produz

riqueza alguma.

Furno et al (2016) nos recordam o fato de que os setores afetados pela PEC 55, tais como

saúde, educação e assistência social, são os setores nos quais as mulheres possuem mais

representatividade em termo de ocupação profissional, correspondem a 18,2% do total para

mulheres e apenas 4,3% das ocupações dos homens. A redução de concursos, contratações e

aumentos salariais afetará diretamente essas mulheres.

A Nota Técnica do DIEESE (2016) também alerta para o fato de que esta PEC deverá ter

impacto direto no poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores e das trabalhadoras, dado que, no

caso dos servidores/as públicos/as, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determina que os

critérios de aumento dos gastos com pessoal se deem com base na Receita Corrente Líquida (RCL).

No caso dos/as trabalhadores/as da iniciativa privada, há impacto com a alteração na metodologia

16 Produto Interno Bruto

Page 10: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

do reajuste do salário mínimo, a qual era referência na composição salarial. Isso afeta também a

capacidade de acesso a eletroeletrônicos e linha branca, os quais diminuem o tempo despendido no

trabalho reprodutivo o desgaste da capacidade de trabalho das mulheres.

A menor presença do Estado na promoção de políticas sociais gera um impacto muito forte

sobre as mulheres da classe trabalhadora, também no que diz respeito à reprodução da vida e da

força de trabalho. Em razão do patriarcado e das necessidades de acumulação capitalista,

estruturalmente, já cabe a elas as tarefas de cuidado e de garantia da reprodução. Em dados

apresentados por Furno et al (2016), referentes ao PNAD/IBGE, a desigualdade de tempo entre

homens e mulheres no que diz respeito às atividades reprodutivas, no ano de 2012, dava conta de

que a totalidade de mulheres maiores de 16 anos afirmava exercer atividades domésticas, enquanto,

entre os homens, o percentual era de 50%. Nesse ano, as mulheres despenderam, em média, 23,56

horas semanais com afazeres domésticos, enquanto os homens, apenas 6 horas.

Portanto, menos controle do Estado sobre os corpos das mulheres não pode significar eximir

o Estado de suas obrigações sociais. Aliás, a luta das feministas socialistas girava em torno da

necessidade do Estado se comprometer com atividades reprodutivas através de lavanderias

coletivas, restaurantes comunitários, creches etc.

Se a sobrecarga do trabalho reprodutivo já impacta as vidas das mulheres, a PEC 55 impõe

consequências nefastas às mulheres empobrecidas, sendo essas, em grande parcela, negras. O teto

no gasto com saúde, educação e assistência implicará em menos escolas públicas, menos saúde

pública, menos políticas de assistência. Ainda dentre as metas “para tirar o Brasil da crise”, da CNI,

estão a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, conceder ao setor privado as Companhias

de Saneamento passíveis de privatização, dentre outros (CNI, 2016). Todas essas em curso no país.

O cenário que se revela é de mais responsabilização das mulheres, aliada a mais

criminalização da pobreza, com encarceramento em massa de jovens, especialmente negros, da

periferia.

Daí a necessidade de um feminismo que não se renda aos floreios ideológicos do

neoliberalismo, que não aceite as políticas focalizadas e a concorrência entre as mulheres,

perpassada por aspectos moralizantes. Faz-se necessário, mais do que nunca, um “feminismo crítico

renovado” (SCHILD, 2016, p. 75), que lute não somente contra o conservadorismo imposto pelo

governo instituído pelo golpe no Brasil, mas que, a partir de uma análise da economia política,

consiga avançar na crítica à linha de continuidade na política econômica dos governos pós-ditadura

no Brasil, sem desconectá-la do movimento maior do capital financeirizado mundial. A apreensão

Page 11: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

de suas contradições pode vislumbrar estratégias de lutas para um projeto emancipatório e

anticapitalista, que negue a exploração, a opressão e apropriação material e emocional das mulheres

trabalhadoras.

Referências

ANTUNES, Caio et al. O tripé vilipendiador do trabalho: reestruturação produtiva, neoliberalismo e

financeirização. In: NAVARRO, Vera; LOURENÇO, Edvânia. O avesso do trabalho IV.

Terceirização: precarização e adoecimento no mundo do trabalho. São Paulo: Outras Expressões,

2017.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Proposta de Emenda Constitucional 241/2016. Brasília, junho de

2016a.

BRASIL. Senado Federal. Emenda Constitucional 95/2016. Brasília, 15 de dezembro de 2016b.

BRASIL. Senado Federal. Proposta de Emenda à Constituição 55, de 2016. Brasília, outubro de

2016c.

CARVALHO, Ivy. O fetiche do “Empoderamento”: do conceito ideológico ao projeto econômico-

político. In: MONTAÑO, Carlos (Org.). O canto da sereia: crítica à ideologia e aos projetos do

“terceiro setor”. São Paulo: Cortez, 2014.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Agenda para o Brasil sair da crise

2016-2018. Brasília, 2016. Disponível em

<http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2016/4/agenda-para-o-brasil-sair-da-crise-2016-

2018/>. Acesso em 15 de junho de 2017.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Agenda para o Brasil sair da crise

2016-2018. Evolução após 1 ano. Brasília, março de 2017. Disponível em

<http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2016/4/agenda-para-o-brasil-sair-da-crise-2016-

2018/>. Acesso em 15 de junho de 2017.

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS

- DIEESE. PEC nº 241/2016: o novo regime fiscal e seus possíveis impactos. Nota Técnica, n. 161,

setembro de 2016.

FALQUET, Jules. Hommes em armes et femmes “de servisse”: tendances néolibérales dans

l’evolution de la division sexuelle et internationale du travail. Cahiers du genre, n. 40, 2006/1, p.

15-37.

FEDERICI, Silvia. El Patriarcado del Salario: “Lo que llaman amor, nosotras lo llamamos trabajo

no pagado”, 21, abr. 2015. Disponível em <https://comunitariapress.wordpress.com/2015/04/21/el-

patriarcado-del-salario-lo-que-llaman-amor-nosotras-lo-llamamos-trabajo-no-pagado/>. Acesso em

04, jul., 2016.

FERREIRA, Mariana Ribeiro Jansen. Financeirização: impacto nas prioridades de gasto do Estado

– 1990 a 20017. In: MARQUES, Rosa; FERREIRA, Mariana. O Brasil sob a nova ordem. São

Paulo: Saraiva, 2010.

Page 12: UM DEBATE EM TORNO DA PROPOSTA DE EMENDA … · O capital fictício é ao mesmo tempo real e fictício, porque o indivíduo que detém um papel com promessa futura pode vendê-lo

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

FRASER, Nancy. O feminismo, o capitalismo e a astúcia da história. Revista Outubro, nº 26, julho

de 2016, p. 31-56.

FURNO, Juliane et al. A PEC e os impactos sobre as mulheres. Revista IHU ON-LINE, 10 de

dezembro de 2016. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/563278-a-pec-55-e-os-impactos-

sobre-as-mulheres>. Acesso em 15 de junho de 2017.

GUILLAUMIN, Colette. Prática do poder e ideia de natureza. In: FERREIRA et al. (orgs) O

patriarcado desvendado: teorias de três feministas materialistas. Recife: SOS Corpo, 2014.

MARQUES, Rosa; NAKATANI, Paulo. O que é capital fictício e sua crise. São Paulo: Brasiliense,

2009.

MORAES, Lívia de Cássia Godoi. Financeirização e precarização: duas faces da mesma moeda.

Revista Coletiva, Número 19, Maio/Jun/Jul/Ago 2016. Disponível em

<http://www.coletiva.org/index.php/artigo/financeirizacao-e-precarizacao-duas-faces-da-mesma-

moeda/> Acesso em: 15 de junho de 2017.

SCHILD, Verónica. Feminismo e neoliberalismo na América Latina. Revista Outubro, nº 26, julho

de 2016, p. 57-77.

TENORIO, Emilly Marques. O “protagonismo” das mulheres nas políticas e programas sociais do

Governo Dilma. Argumentum, Vitória, v. 9, n. 1, jan/abr. 2017.

A Constitutional Amendment Proposal 55 (PEC 55) debate: Temer’s Government, fictitious

capital and Brazilian working class women

Abstract: Social inequality in Brazil is characterized by being structural, which means that it is not

only class inequality, it is also race and sex. In a consubstantiality perspective of class, race and sex,

we aim, in this article, to analyze the socio-historical foundations of PEC 55, proposed by the

Temer’s Government (2016 -), and how, if implemented, it could affect, even more the Brazilian

working class women. The roots of this proposal are based on an international financialization

economic movement and its expressions in the form of fictitious capital. In the specific case of PEC

55, the concrete central form expression of this financial relationship is the public debt. The

expenditures on primary expenditures freezing, involving health, education, and social assistance, in

response to debt interest repayment needs, has immediate impacts on the working women daily

lives, while getting stronger the speculation of the dominant class . In the article, we will present the

capital context of globalization and its expression in the national economic policy; What is the PEC

55, as the answer and necessity of the capitalist movement; And, finally, we will presente the

possible impacts on Brazilian working women, in the next 20 years of freezing foreseen by the

amendment.

Keywords: PEC 55. Fictitious capital. Women. Working class