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1 Boletim 985/2016 – Ano VIII – 23/05/2016 União ajuiza ações coletivas para recuperar gastos do INSS Por Adriana Aguiar A União adotou uma nova estratégia para tentar recuperar gastos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com acidentes de trabalho em que haveria culpa comprovada dos empregadores. Além das ações regressivas individuais, a ProcuradoriaGeral Federal (PGF) passou a ingressar com processos coletivos. Em um só pedido, cobra vários benefícios concedidos a diferentes funcionários de uma mesma empresa. Os valores solicitados de indenização são milionários. Já são três casos ajuizados pela PGF. No primeiro deles, que serviu como teste, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região condenou o frigorífico Doux Frangosul, processador de frango cujos ativos estão arrendados para a JBS, a pagar mais de R$ 1 milhão de indenização. O valor é referente a despesas com 111 auxíliosdoença. Os benefícios foram concedidos a empregados da empresa acometidos com doenças ocupacionais. Esses funcionários desempenhavam o cargo de abatedor. Segundo a PGF, os funcionários se submeteram a condições ergonomicamente inadequadas de trabalho. As outras duas ações coletivas existentes foram ajuizadas no ano passado. Uma delas é contra a empresa de call center Contax em Pernambuco e busca indenização de R$ 1,3 milhão por 330 benefícios concedidos que envolvem doenças ocupacionais e psíquicas. A PGF também ajuizou ação coletiva contra a Agrícola Jandelle (do grupo JBS), no Paraná, com o pedido de devolução do que foi pago em 497 benefícios. O valor da causa é de cerca de R$ 3,5 milhões. Nos dois últimos processos ainda não houve julgamento. Segundo o procuradorchefe da Divisão de Ações Regressivas da PGF, Nicolas Francesco Calheiros de Lima, mais três novas ações estão sendo preparadas. Para ele, essa estratégia deve ser mais eficaz para que empresas corrijam o que está causando os acidentes. "As ações coletivas têm uma função pedagógica. Até porque os valores envolvidos fazem com que seja necessário o registro no balanço das companhias, o que pode chamar a atenção de acionistas, e assim, promover um incremento espontâneo nas políticas de cumprimento das normas de segurança do trabalho", afirma. No caso da Doux Frangosul, única ação coletiva julgada, os desembargadores da 3ª Turma do TRF foram unânimes a favor da PGF. Para eles, ficou comprovada a negligência quanto às normas de proteção à saúde dos funcionários. Segundo a decisão, as imagens feitas por diligência do Ministério do Trabalho e Emprego "demonstram o total desrespeito à saúde humana. Empregados em posições inadequadas efetuando movimentos repetidos em alta velocidade, assemelhandose a verdadeiras máquinas de empilhar, degolar e embrulhar". Já a ação contra a Contax foi desencadeada, segundo o procurador, após auditores

União ajuiza ações coletivas para recuperar gastos do INSSaz545403.vo.msecnd.net/uploads/2016/05/informe-desin-985-ano-viii... · Uma delas é contra a empresa de call center Contax

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Boletim 985/2016 – Ano VIII – 23/05/2016

União ajuiza ações coletivas para recuperar gastos do INSS

Por Adriana Aguiar A União adotou uma nova estratégia para tentar recuperar gastos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com acidentes de trabalho em que haveria culpa comprovada dos empregadores. Além das ações regressivas individuais, a ProcuradoriaGeral Federal (PGF) passou a ingressar com processos coletivos. Em um só pedido, cobra vários benefícios concedidos a diferentes funcionários de uma mesma empresa. Os valores solicitados de indenização são milionários. Já são três casos ajuizados pela PGF. No primeiro deles, que serviu como teste, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região condenou o frigorífico Doux Frangosul, processador de frango cujos ativos estão arrendados para a JBS, a pagar mais de R$ 1 milhão de indenização. O valor é referente a despesas com 111 auxíliosdoença. Os benefícios foram concedidos a empregados da empresa acometidos com doenças ocupacionais. Esses funcionários desempenhavam o cargo de abatedor. Segundo a PGF, os funcionários se submeteram a condições ergonomicamente inadequadas de trabalho. As outras duas ações coletivas existentes foram ajuizadas no ano passado. Uma delas é contra a empresa de call center Contax em Pernambuco e busca indenização de R$ 1,3 milhão por 330 benefícios concedidos que envolvem doenças ocupacionais e psíquicas. A PGF também ajuizou ação coletiva contra a Agrícola Jandelle (do grupo JBS), no Paraná, com o pedido de devolução do que foi pago em 497 benefícios. O valor da causa é de cerca de R$ 3,5 milhões. Nos dois últimos processos ainda não houve julgamento. Segundo o procuradorchefe da Divisão de Ações Regressivas da PGF, Nicolas Francesco Calheiros de Lima, mais três novas ações estão sendo preparadas. Para ele, essa estratégia deve ser mais eficaz para que empresas corrijam o que está causando os acidentes. "As ações coletivas têm uma função pedagógica. Até porque os valores envolvidos fazem com que seja necessário o registro no balanço das companhias, o que pode chamar a atenção de acionistas, e assim, promover um incremento espontâneo nas políticas de cumprimento das normas de segurança do trabalho", afirma. No caso da Doux Frangosul, única ação coletiva julgada, os desembargadores da 3ª Turma do TRF foram unânimes a favor da PGF. Para eles, ficou comprovada a negligência quanto às normas de proteção à saúde dos funcionários. Segundo a decisão, as imagens feitas por diligência do Ministério do Trabalho e Emprego "demonstram o total desrespeito à saúde humana. Empregados em posições inadequadas efetuando movimentos repetidos em alta velocidade, assemelhandose a verdadeiras máquinas de empilhar, degolar e embrulhar". Já a ação contra a Contax foi desencadeada, segundo o procurador, após auditores

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fiscais do trabalho verificarem um "estímulo abusivo à competição e a exibição dos resultados individuais". Além de "pressão para aumento das vendas e cobrança de metas inalcançáveis e monitoramento contínuo e vigilância ostensiva do trabalhador", entre outros problemas. A procuradoria ainda pleiteia devolução de benefícios concedidos por lesões nos ombros de funcionários. A ação contra a Agrícola Jandelle também abarcou benefícios por doenças físicas e psíquicas. Dentre as físicas, ferimento do punho e da mão. Segundo o procurador, "a empresa submetia os trabalhadores a condições nocivas à saúde, obrigandoos a trabalhar em ritmo intenso, sem proteção ergonômica, realizando movimentos repetitivos e posturas extremas". O uso das ações coletivas, de acordo com o procurador, deve otimizar o trabalho da PGF. "Até pouco tempo, todo acidente causado geraria um PIP [Procedimento Interno Preparatório] e uma ação judicial para que se buscasse o ressarcimento, o que poderia demorar quatro ou cinco anos para discutir um benefício só. Agora podemos mapear quantos benefícios comuns [obtidos pelos mesmos motivos] foram concedidos para uma empresa e entrar com uma só ação." Neste mês, um grupo com dez procuradores começou a trabalhar só com as ações coletivas. A equipe, segundo o procurador, deve atuar em conjunto com o Grupo de Atuação Especial em Ações Regressivas (Gae), composto pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), AdvocaciaGeral da União (AGU) e PGF para elaborar estratégias nacionais conjuntas, em reuniões mensais sobre o tema. Para a advogada trabalhista Pamela Giraldelli Mota, do Rayes & Fagundes Advogados Associados, a tendência é que existam mais ações coletivas para tratar de problemas comuns, como já ocorre na Europa. "É uma forma de diminuir o número de processos no Judiciário e até mesmo de evitar ações divergentes", diz. Porém, nas ações regressivas coletivas não se pode discutir casos individualizados ou haver pedidos autônomos. "Esses requisitos para se entrar com ações coletivas podem dar pano para manga para outras discussões no Judiciário", afirma Pamela. Mesmo nas ações coletivas, de acordo com o advogado José Guilherme Mauger, sócio do PLKC Advogados, devem haver provas contundentes contra as empresas. "Determinados setores têm mais dificuldade porque atuam em ambientes mais propícios para acidentes." Procurada pelo Valor, a Contax informa, por meio de nota, que a ação "foi devidamente contestada, sem decisão no processo até esse momento". Segundo a nota, "a empresa cumpre toda a legislação trabalhista e as normas específicas para o setor de call center, e se mantém sempre aberta ao diálogo com o Ministério do Trabalho e Emprego". Já a JBS afirma que não é parte na ação da Doux Frangosul. Sobre a ação da Agrícola Jandelle, diz que, "apesar de se tratar de benefícios concedidos anteriormente à aquisição pela JBS, está discutindo a matéria em juízo". E que "vem investindo fortemente para que todas as unidades, de todos os seus negócios, mantenham sempre as melhores condições para os colaboradores".

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(FONTE: Valor Econômico dia 23/05/2016)

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Em crise, Metrô tem ao menos 109 funcionários com ‘supersalários' Secretário observa que a empresa tem empregados ant igos que, ao longo da carreira, receberam benefícios e acumularam vencimentos BRUNO RIBEIRO - O ESTADO DE S. PAULO

SÃO PAULO - Em meio a uma crise de arrecadação e com prejuízo de quase R$ 100 milhões no ano passado, a Companhia do Metrô de São Paulo (Metrô) mantém ao menos 109 funcionários em cargos administrativos com salários maiores do que o Estado determina para os próprios diretores da empresa. A companhia confirma a existência dos “supersalários”, mas nega irregularidades na prática e diz que pretende abrir um Plano de Demissão Voluntária. Os 109 funcionários com salário acima do teto exercem cargos como “assessor técnico III”, “especialista III”, “chefe de departamento” e “gerente”. Os vencimentos variam entre R$ 21,7 mil a R$ 35 mil. Por ano, esse grupo resulta em um custo de R$ 35 milhões à empresa – a folha de pagamento total é de R$ 1,7 bilhão. O Conselho de Defesa de Capitais do governo do Estado (Codec), órgão ligado à Secretaria de Estado da Fazenda, tem um parecer de 2012 que estabelece um teto para diretores de empresas públicas. É de R$ 20,5 mil, atualmente. Mas o documento não estabelece limite para os subordinados dos diretores. Na prática, eles ganhariam mais do que o chefe, de acordo com as políticas da empresa. Em campanha salarial, com assembleia da categoria marcada para esta segunda-feira, 23, e proposta de paralisação para esta terça-feira, 24, o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Filho, afirma que as ações salariais da empresa são forma de “legislar em causa própria”. “O Metrô não precisa dessas pessoas, nesses cargos e ganhando esse salário. Se eles não trabalhassem, ninguém iria notar. O que falta são seguranças, agentes de estação, condutores. Há déficit de pessoal na empresa.” Ainda segundo o sindicalista, “esses salários não correspondem às argumentações de dificuldade financeira”. O secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, afirma que os salários iniciais mais altos no Metrô hoje estão em R$ 25 mil. Mas observa que a empresa tem muitos funcionários antigos, que ao longo da carreira receberam vários benefícios, e assim foram acumulando vencimentos maiores. “A gente é obrigado a reajustar os salários”, diz.

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Segundo Pelissioni, quando esses servidores são alçados ao cargo de diretores da empresa, têm a opção de manter os vencimentos originais. Assim, contrariando a prática da empresa, acabam ganhando mais do que determina a Secretaria de Estado da Fazenda. “No Metrô, é uma prática nossa: todos os cargos de confiança são preenchidos por funcionários de carreira”, explica. “O teto valeria se trouxéssemos uma pessoa de fora. Aí teríamos de pagar dentro desse limite. É o que chamamos de ‘salário Codec’”, argumenta Pelissioni. Teto. O parecer da secretaria que terminou um limite para diretores de empresas tentou trazer para as empresas de economia mista, que não dependem de receitas diretas do Estado, os mesmo limites de pagamento admitidos no setor público: no caso do Poder Executivo, o salário do governador Geraldo Alckmin (PSDB) – R$ 21,6 mil. O processo cita manifestação do Comitê de Qualidade da Gestão Pública (CQGP) do governo nesse sentido. No caso do Metrô, entretanto, a empresa entende que não precisa respeitar o teto do funcionalismo, uma vez que sua receita não depende do governo do Estado – a companhia é estruturada para ter sua operação custeada 100% pela venda de passagens. “A empresa não é dependente do Tesouro do Estado e tem seu regime de contratações regido pela CLT”, argumenta, em nota. A empresa lembra ainda que, neste ano, passou-se a estabelecer limites de pagamento para os casos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) – empresa que depende de financiamento do governo para operar, uma vez que a receita tarifária não cobre o custo de operação de seus quase 260quilômetros de linhas. Greve. A paralisação prevista para esta terça-feira depende do resultado de uma assembleia que deve ocorrer às 17 horas na sede do sindicato, no Tatuapé, zona leste. Prazeres diz que a paralisação foi decidida quando havia expectativa de que motoristas de ônibus também parassem. “Agora, vamos ver se a categoria mantém a proposta.” Em protesto, funcionários devem trabalhar nesta segunda-feirasem uniforme. Mais antigos. O Programa de Demissões Voluntárias da empresa vem sofrendo oposição do sindicato, mas é apontado pela companhia como forma de reduzir o número de funcionários que recebem supersalários. A proposta prevê pagamento de três anos de convênio médico para quem aderir, além dos benefícios regulares para quem é mandado embora sem justa causa. O alvo são justamente os empregados mais antigos da empresa – há alguns deles com mais de 70 anos, segundo a companhia. A empresa estima que, em dois anos, é possível recuperar os custos das demissões e reduzir a folha de pagamento. (FONTE: Estado de SP dia 23/05/2016)

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(FONTE: Diário de SP dia 23/05/2016)