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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UnB MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE VALDEMAR MEIRA DE OLIVEIRA QUALIDADE DE VIDA DE PROTETIZADOS DE MEMBROS INFERIORES: ESTUDO RETROSPECTIVO Brasília (DF), 2009.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB · under treatment at Vila São José Bento Cottolengo hospital, in Trindade/Go (Brazil), in a retrospective time of 02 (two) years. The study type

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    UNIVERSIDADE DE BRASLIA UnB

    MESTRADO EM CINCIAS DA SADE

    VALDEMAR MEIRA DE OLIVEIRA

    QUALIDADE DE VIDA DE PROTETIZADOS DE MEMBROS INFERIORES:

    ESTUDO RETROSPECTIVO

    Braslia (DF), 2009.

  • 2

    UNIVERSIDADE DE BRASLIA UnB

    MESTRADO EM CINCIAS DA SADE

    VALDEMAR MEIRA DE OLIVEIRA

    QUALIDADE DE VIDA DOS PROTETIZADOS DE MEMBROS INFERIORES:

    ESTUDO RETROSPECTIVO

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre em Cincias

    da Sade pelo Programa de Ps-Graduao

    Strictu Sensu em Cincias da Sade da

    Universidade de Braslia.

    Orientador: Prof Doutor Demstenes Moreira.

    Braslia (DF), 2009

  • 3

    VALDEMAR MEIRA DE OLIVEIRA

    QUALIDADE DE VIDA DOS PROTETIZADOS DE MEMBROS INFERIORES:

    ESTUDO RETROSPECTIVO

    Dissertao como requisito parcial para a

    obteno do ttulo de Mestre em Cincias da

    Sade pelo Programa de Ps-Graduao Strictu

    Sensu em Cincias da Sade da Universidade

    de Braslia.

    Aprovado em ____/____/_____.

    BANCA EXAMINADORA

    Professor Doutor Demstenes Moreira UnB Universidade de Braslia

    Professor Doutor Jnatas de Frana Barros UnB Universidade de Braslia

    Professor Doutor Ramon Fabian Alonso Lopes UnB Universidade de Braslia

  • 4

    Dedico este trabalho minha me,

    Sebastiana, que sempre est a meu lado, e

    ao meu pai, Octvio, que j no est entre

    ns, mas que empenhou toda sua vida para

    a realizao de momentos como este.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pelo simples fato de estarmos aqui.

    minha famlia, pelo apoio incondicional em todos os momentos.

    Aos meus pacientes, objetos de meu estudo, que se doaram sem exigir trocas.

    A meu orientador, Professor Demstenes Moreira, por ter me conduzido at o final, mesmo com todas as dificuldades.

    Ao Professor Jnatas de Barros Frana, mesmo sem ser meu orientador, me enriqueceu com sbios conselhos e me estimulou, quando eu mesmo j esmorecia. Obrigado.

    Aos demais membros da banca, Professor Ramon Fabian Alonso Lopes e Professor Paulo Henrique Azevdo.

    Aos meus amigos, verdadeiros portos seguros em horas tempestuosas, suportaram tudo comigo, calados. Obrigado a vocs.

    Aos meus colegas de trabalho na Faculdade Unio de Goyazes, me deram suporte necessrio para que eu conseguisse chegar ate aqui.

    Aos meus colegas da ps-graduao, pelo privilgio do convvio. queles que conseguiram e mesmo os que ainda no conseguiram, obrigado.

    Ao meu amigo, Carlos Augusto de Oliveira Botelho, juntamente com minha irm, Cida, pelo incentivo, sempre com uma palavra de apoio.

    As minhas amigas Katescia Verssimo e Ana Lcia Rosiak, que nunca mediram esforos para que eu tivesse acesso aos dados alimentadores da pesquisa.

  • 6

    A meus amigos Ali Kalil, Joo Luiz e Jos dos Reis, j mestres, sempre tentando minimizar os meus esforos, um grande obrigado.

    A meu amigo Wilson de Paiva, sempre me auxiliando nas tradues e aconselhamentos.

    A minha sobrinha Flvia, pelas aulas de estatstica e suporte na anlise dos dados.

    Aos amigos Carolina, rsula, Benigno e Hlio, sempre me ajudando em fases complicadas da pesquisa.

    minha amiga Dris de Ftima, pelo apoio, conselhos e pela correo ortogrfica, to necessria.

    Aos funcionrios e Diretoria da Vila So Cottolengo, pelo apoio sempre que precisei.

    Aos meus alunos, que me auxiliaram quando foi necessrio e souberam pacientemente suportar minhas falhas nestes ltimos meses, que no foram fceis.

  • 7

    Enquanto tu e eu tivermos lbios ou vozes que

    Servem para beijar e cantar

    Que importa que qualquer filho da me

    Invente um instrumento para medir a primavera.

    E. E. Cummings.

  • 8

    Resumo:

    O presente estudo tem por objetivo delinear um perfil da qualidade de vida em

    protetizados de membros inferiores, por meio de questionrio validado, atendidos no

    ambulatrio do Hospital da Vila So Jos Bento Cottolengo em um perodo

    retrospectivo de 02 (dois) anos. A pontuao dos escores da aplicao do

    questionrio foi realizada com o programa estatstico SPSS (Statistical Package os

    the Social Sciences). Trata-se de estudo com caractersticas do tipo coorte

    retrospectivo qualitativo. Uma vez contatados, foram submetidos a um questionrio

    especfico para pesquisa de qualidade de vida, o WHOQOL bref. Em um contexto

    geral, os paciente pesquisados apresentam uma Qualidade de Vida de mediana a

    boa, pois se consideram amparados por situao civil estvel, relaes interpessoais

    seguras, possuem renda, advinda de aposentadoria ou trabalho, apreciam seu

    domicilio e locomovem-se bem. Como pontos negativos, temos a no aceitao de

    seu aspecto fsico, pouca satisfao com seu desempenho profissional, com servio

    de sade pblico, transportes e presena freqente de sentimentos negativos. Com

    o estudo destes pacientes, em todas as suas variveis, temos subsdios para

    implementar programas educativos em sade pblica e privada, utilizando centros

    de difuso de idias como Universidades, Escolas, Hospitais, Postos de Sade,

    Creches, Instituies Asilares objetivando a preveno de agravos importantes,

    que podero ultimar em seqelas irreversveis como as amputaes.

    Palavras-chave: Qualidade de vida; membros inferiores; protetizados;

    amputaes.

  • 9

    Abstract

    The studying present main objective is to evaluate the quality of life of lower

    limb amputees, through specified interviews (with questionnaires) among patients

    under treatment at Vila So Jos Bento Cottolengo hospital, in Trindade/Go (Brazil), in

    a retrospective time of 02 (two) years. The study type is the qualitative and

    retrospective cohort. Once contacted, the patients were submitted to a questionnaire

    to survey the quality of life, in a general context, the people surveyed have a Quality of

    Life from median to good. They consider themselves backed by stable civil situation,

    secure interpersonal relationships, income from retirement or job, they enjoy their

    home and move around without difficulties. As negative aspects, we may mention the

    frustration and rejection of their physical appearance, poor satisfaction with their

    professional performance, with the public health service and transport, as well as

    frequent negative feelings. By studying these patients, in all its variations, we achier

    way to implement education programs on public and private health, using ideological

    institutions - such as universities, schools, hospitals, health centers, kindergartens,

    nursing homes, etc. The focus of this action is the prevention of most hazardous

    injuries, which may ultimately lead to irreversible damage, as amputations.

    Key words: Quality of life; low limb; amputee; amputations.

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 01 - Nveis mais utilizados para amputaes em pacientes portadores de

    insuficincia arterial ............................................................................ 30

    Figura 02. A e B - Demonstrao do uso da tcnica de paraquedas para evitar retraes de pele ................................................................................ 37

    Figura 03 - Espcula ssea .................................................................................... 38

    Figura 04 - Paciente com quadro neuroptico importante. Indicao eletiva

    visando funcionalidade .......................................................................................... 42

    Figura 05 - Sarcoma de Ewing. Exemplo de urgncia .......................................... 42

    Figura 06 - Desarticulao interfalangeana ........................................................... 44

    Figura 07 - Amputao do hlux com manuteno da falange proximal e desarticulao do 2, 3 e 4 dedos ....................................................................... 44

    Figura 08 - Desarticulao metatarsofalangeana .................................................. 45

    Figura 09 - lcera plantar causada por hiperpresso ........................................... 45

    Figura 10 - Amputao transmetatarsiana ............................................................ 46

    Figura 11 - Amputao de Lisfranc ....................................................................... 46

    Figura 12 - Paciente com amputao de Lisfranc ................................................ 46

    Figura 13 Desarticulao naviculocuneiforme e transcubide .......................... 47

    Figura 14 Amputao de chopart ....................................................................... 48

    Figura 15 Chopart: vista lateral .......................................................................... 48

    Figura 16 Amputao de syme ........................................................................... 49

    Figura 17 Viso radiogrfica mostrando superfcie ssea plana, ideal para descarga distal ...................................................................................................... 49

    Figura 18 - Amputao de Pirogoff ........................................................................ 50

    Figura 19 - Amputao transtibial longa ................................................................ 51

    Figura 20 - Amputao transtibial tero mdio ...................................................... 51

    Figura 21 - Amputao transtibial curta ................................................................. 51

    Figura 22 Viso radiogrfica em incidncia ntero-posterior e perfil .................. 51

    Figura 23 e 24 Desarticulaes de joelho .......................................................... 54

    Figura 25 - Amputao transfemoral cicatrizao distal ..................................... 56

  • 11

    Figura 26 - Amputao transfemoral viso radiogrfica ..................................... 56

    Figura 27 Coto transfemoral curto ...................................................................... 56

    Figura 28 - Coto transfemoral longo ...................................................................... 56

    Figura 29 Desarticulao do quadril ................................................................... 58

    Figura 30 Desarticulao sacroilaca (hemipelvectomia) vista radiogrfica ....... 58

    Figura 31 A, B e C - Falha da formao anomalia transversal ........................... 61

    Figura 32 A, B e C Falha da formao anomalia longitudinal .......................... 62

    Figura 33 Prtese exoesqueltica ...................................................................... 63

    Figura 34 Prtese endoesqueltica .................................................................... 64

    Figura 35 Encaixe .............................................................................................. 65

    Figura 36 e 37 Joelhos ........................................................................................ 66

    Figura 38 e 39 Ps articulado e no articulado (sach) ........................................ 67

    Figura 40 Articulao do quadril ......................................................................... 68

  • 12

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Avaliao do membro com obstruo arterial aguda quanto capacidade de recuperao com a revascularizao do membro ...... 29

    Tabela 02 - Preveno para complicaes em ps neuropticos ......................... 34

    Tabela 03 - Classificao das anomalias congnitas ............................................ 60

    Tabela 04 - Profisso ............................................................................................ 77

    Tabela 05 - Tipo de prteses utilizadas ................................................................. 82

  • 13

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 Faixa etria ....................................................................................... 76

    Grfico 02 - Escolaridade ...................................................................................... 78

    Grfico 03 - Situao civil ...................................................................................... 79

    Grfico 04 - Nvel de amputao ........................................................................... 80

    Grfico 05 Etiologia ............................................................................................ 81

    Grfico 06 - Avaliao da qualidade de vida ......................................................... 83

    Grfico 07 Avaliao com sade geral............................................................. .. 84

    Grfico 08 Aceitao com a aparncia fsica ..................................................... 86

    Grfico 09 Avaliao sobre atividades de lazer.............................................. .... 87

    Grfico 10 Avaliao de sua locomoo............................................................. 88

    Grfico 11 Avaliao quanto capacidade de trabalho...................................... 89

    Grfico 12 - Avaliao quanto ao apoio dos amigos.............................................. 90

    Grfico 13 Avaliao de satisfao com os servios de sade.......................... 91

    Grfico 14 Avaliao quanto freqncia dos sentimentos negativos............... 92

  • 14

    SUMRIO

    1. - INTRODUO ................................................................................................ 16

    2. OBJETIVO ..................................................................................................... 18

    2.1. HIPTESES DO ESTUDO .......................................................................... 18

    2.4. RELEVNCIA DO ESTUDO ....................................................................... 18

    3 REVISES DA LITERATURA ........................................................................ 20

    3.1 - ETIOLOGIAS ................................................................................................ 26

    3.1.1 Vasculares ............................................................................................... 26

    3.1.2 Neuropticas ............................................................................................ 32

    3.1.3 Traumticas ............................................................................................. 35

    3.1.4 Neoplsicas ............................................................................................. 38

    3.1.5 Infecciosas........................................................................................... ..... 40

    3.1.6 Congnitas ............................................................................................... 41

    3.1.7 Iatrognicas ............................................................................................. 41

    3.2 INDICAES ............................................................................................... 41

    3.3 NVEIS DE AMPUTAO ............................................................................ 42

    3.3.1 Desarticulao interfalangeana ............................................................. 44

    3.3.2 Desarticulao metatarsofalangeana .................................................... 45

    3.3.3. - Amputao transmetatarsiana ............................................................... 46

    3.3.4 Amputao de Lisfranc ........................................................................... 46

    3.3.5 Desarticulao naviculocuneiforme e transcubide ............................ 47

    3.3.6. Amputao de Chopart .......................................................................... 48

    3.3.7 Amputao de Syme ............................................................................... 49

    3.3.8. Amputao de Pirogoff .......................................................................... 50

    3.3.9. Amputao de Boyd ............................................................................... 50

    3.3.10 Amputao transtibial ........................................................................... 51

    3.3.11 Desarticulao do joelho ...................................................................... 54

    3.3.12 Amputao transfemoral ...................................................................... 56

  • 15

    3.3.13 Desarticulao do Quadril .................................................................... 58

    3.3.14 Desarticulao Sacroilaca (hemipelvectomia) ................................... 58

    3.3.15 Anomalias Congnitas ......................................................................... 59

    3.3.15.1 Anomalias Transversais ....................................................................... 61

    3.3.15.2 Anomalias Longitudinais ....................................................................... 61

    3.4 PRTESES PARA MEMBROS INFERIORES ............................................. 62

    3.4.1 - Tipos de Prteses .................................................................................... 62

    3.4.1.1 Prteses Exoesquelticas ...................................................................... 63

    3.4.1.2 Prteses Endoesquelticas .................................................................... 64

    3.4.2 Componentes Protticos ........................................................................ 65

    3.4.2.1 Encaixes ................................................................................................. 65

    3.4.2.2 Joelhos ................................................................................................... 66

    3.4.2.3 Ps ......................................................................................................... 67

    3.4.2.4 Quadril .................................................................................................... 68

    3.4.3 Indicaes ................................................................................................ 68

    4 MATERIAIS E MTODOS .............................................................................. 72

    4.1 DELINEAMENTO DO MTODO .................................................................. 72

    4.2 POPULAO E AMOSTRA ......................................................................... 72

    4.3 CRITRIOS DE SELEO .......................................................................... 72

    4.3.1 Critrios de Incluso ............................................................................... 72

    4.3.2 Critrios de Excluso .............................................................................. 73

    4.4 PROCEDIMENTOS DIDTICOS ................................................................. 73

    4.5 COMIT DE TICA ...................................................................................... 74

    4.6 TRATAMENTO ESTATSTICO ................................................................... 75

    4.6.1 Caractersticas dos Indivduos .............................................................. 75

    5 RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................................... 83

    6 CONCLUSO ................................................................................................. 93

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 95

    8 ANEXOS ....................................................................................................... 102

  • 16

    1 INTRODUO

    A perspectiva de aumento da mdia de vida do homem moderno traz em

    contrapartida questes importantes para se ponderar. A populao mundial est

    envelhecendo. Com esse ganho de sobrevida temos tambm uma maior exposio,

    tanto s consequncias do envelhecimento como as agresses prprias do meio.

    O cotidiano nos traz a urgncia de sua rotina, a necessidade de velocidade

    para resolver questes corriqueiras, onde vamos utilizar para o transporte mquinas

    cada vez mais eficientes em sua funo, como motocicletas e automveis, e que,

    mal utilizados, podem levar a traumas com conseqncias s vezes irreversveis

    como as amputaes. O processo de envelhecimento outra faceta que, apesar do

    aumento de vida mdia do homem, muito mal conhecido fora dos meios

    acadmicos, essa falta de conhecimento aliada ausncia de medidas preventivas

    bsicas em seu dia-a-dia deixa o homem merc de alteraes metablicas, que se

    no controladas, podem evoluir para patologias de espectro sinistro como as

    vasculopatias e o diabetes mellitus.

    Enfim, tudo o que se buscou foi proporcionar ao ser humano, com os ganhos

    conseguidos com os avanos tecnolgicos, melhoria em sua qualidade de vida e

    menos esforos em suas atividades cotidianas. Mas por autoconfiana ou ausncia

    de conhecimento de sua prpria fisiologia, o homem caminha para agravos como as

    amputaes, que vo alterar a rotina de todos que participam de suas relaes

    interpessoais, impondo a elas um modus vivendi especial para contornar os novos

    acontecimentos.

    O paciente que sofre uma perda irremedivel de segmentos corporais devido

    multicausalidades, passa pelo processo de protetizao buscando funcionalidade,

    fim de dores insuportveis, esttica, enfim, solues definitivas para um quadro

    aflitivo.

    Quando se entra no estudo da qualidade de vida de pessoas que foram

    profundamente marcadas pela perda, necessria ou imprevista de membros,

    surpresas podero acontecer, pois ao mesmo tempo em que o indivduo sofre com o

    que ele considera mutilao, acontece o ressurgimento de uma srie de conceitos,

  • 17

    como a valorizao da famlia, a superao das dificuldades, a alternncia de

    sentimentos negativos e positivos a sua prpria aceitao com a nova situao, pois

    agora est com srias limitaes se comparadas com sua vida antes do agravo.

    Era um indivduo ativo, produtivo, inserido num contexto scio-econmico

    importante. Fica a indagao: como est a qualidade de vida da pessoa que sofreu

    amputao e consegue uma prtese? Essa protetizao trouxe melhoria em sua

    qualidade de vida?

    necessrio conhecer todos os constructos objetivos e subjetivos presentes

    no processo da protetizao para que se possa pensar em reinsero definitiva do

    indivduo.

    Assim, diante das questes levantadas, visando possibilitar aos profissionais

    e acadmicos envolvidos no processo de protetizao, suscitar reflexes e servir de

    subsdios para a melhora da qualidade de vida desses indivduos, estabelecemos

    como objetivo:

  • 18

    2 OBJETIVO

    Delinear um perfil da qualidade de vida em protetizados de membros

    inferiores, atendidos no ambulatrio do Hospital da Vila So Jos Bento Cottolengo

    em um perodo retrospectivo de 02 (dois) anos.

    2.1 HIPTESES DO ESTUDO

    Ho. A protetizao trouxe melhoria da qualidade de vida aos amputados de

    membros inferiores?

    Segundo Cianciarullo et al. (1998) A qualidade de vida um espelho que

    reflete os resultados dos servios de sade prestados ao cliente, principalmente por

    serem determinantes pelo processo da doena ou agravos, como pelos

    procedimentos vinculados para o seu tratamento, cuidados e cura.

    2.2 RELEVNCIA DO ESTUDO

    A pesquisa realizada possui relevncia social, pois o pblico alvo o atendido

    pela rede SIA-SUS e trata-se de indivduos outrora ativos, produtivos, agora

    inseridos em um contexto marginal. Resende et al. (2007) concordam que a

    reinsero social fundamental. Relevncia cientfica, pois o processo de

    dispensao1 ainda no totalmente monitorado e deve ser acompanhado de um

    controle de qualidade por meio da avaliao da qualidade de vida e satisfao.

    (SEIDL et al. 2004). Relevncia financeira, os custos das internaes e o nus social

    constituem um grave problema de sade. So responsveis por internaes

    prolongadas e de custo elevado, o que no compatvel com o sistema pblico de

    sade do nosso pas (MILMAN et al. 2001).

    Assim, o problema tem trs vertentes, uma que se refere ao delineamento de

    um perfil sociocultural do paciente, a correta destinao da prtese em sua

    1 Processo que envolve desde a triagem at a entrega do aparelho.

  • 19

    finalidade de promover a melhoria da qualidade de vida do paciente, com plena

    satisfao com sua situao atual, e o montante financeiro investido numa ao que

    pode acarretar em resultados ineficazes.

  • 20

    3 REVISO DA LITERATURA

    O conceito de qualidade de vida foi introduzido na medicina em uma poca em

    que os desfechos mdicos tradicionais, como mortalidade e morbidade, estavam

    sendo criticados por terem um foco muito restrito e, por isso, no conseguir

    representar um grande nmero de outros desfechos potenciais, que, tambm so

    relevantes tanto para a medicina quanto para outras reas. (FLECK, 2008).

    O ponto de partida para vrias definies da qualidade de vida relacionada

    sade foi a conhecida definio da Organizao Mundial de Sade (1958) em que

    sade um estado de completo bem estar fsico, mental e social, e no

    simplesmente a ausncia de doena ou enfermidade.

    J Gill e Feinstein (1994) fazem o diferencial de qualidade de vida e status de

    sade ao afirmarem que qualidade de vida, ao invs de ser uma descrio do status

    de sade, um reflexo da maneira como o paciente reage ao seu status de sade e

    a outros aspectos no mdicos de sua vida.

    A definio proposta pela Organizao Mundial de Sade a que melhor

    traduz a abrangncia do constructo qualidade de vida como a percepo do

    indivduo de sua posio na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores

    em que vive e em relao a suas expectativas, seus padres e suas preocupaes.

    Considerando o conceito de qualidade de vida como um conceito bastante

    amplo, que incorpora de forma complexa a sade fsica, o estado psicolgico, o nvel

    de independncia, as relaes sociais, as crenas pessoais e a relao com os

    aspectos significativos do meio ambiente (The WHOQOL Group, 1995).

    Fleck (2008) conclui em sua avaliao para a qualidade de vida que a

    introduo do conceito da qualidade de vida foi uma importante contribuio para as

    medidas de desfecho em sade. Por sua natureza abrangente e por estar

    intrinsecamente ligado quilo que o prprio indivduo sente e percebe, tem um valor

    intrnseco e intuitivo. Est intimamente relacionado a um dos anseios bsicos do ser

    humano, que o de viver e de sentir-se bem.

  • 21

    Na rea da sade, o interesse pelo conceito qualidade de vida relativamente

    recente e decorre, em parte, dos novos paradigmas que tm influenciado as polticas

    e as prticas do setor nas ltimas dcadas. Os determinantes e condicionantes do

    processo sade-doena so multifatoriais e complexos. Assim, sade e doena

    configuram processos compreendidos como um continuum, relacionados aos

    aspectos econmicos, socioculturais, experincia pessoal e estilos de vida.

    Consoante essa mudana de paradigma, a melhoria da qualidade de vida

    passou a ser um dos resultados esperados, tanto das prticas assistenciais quanto

    das polticas pblicas para o setor nos campos da promoo da sade e da

    preveno de doenas (SEIDL et al. 2004).

    Quando se prope discutir qualidade de vida, inevitavelmente vamos esbarrar

    em dois grandes modelos tericos, o modelo da satisfao, ou seja, desenvolvido a

    partir da satisfao e do bem estar e o modelo funcionalista em que para se ter uma

    boa qualidade de vida tudo precisa estar funcionando bem. Ainda se discute

    bastante a respeito. Existe ainda uma srie de constructos afins bastante difceis de

    serem claramente definidos, como status de sade, deficincia, incapacidade,

    desvantagem, felicidade, satisfao, bem estar, cujos limites muitas vezes se

    mesclam Fleck (2008).

    Diogo (2003) contribui alegando que condies subjetivas, dizem respeito ao

    bem-estar psicolgico, ou seja, s experincias pessoais, aos estados internos que

    podem ser manifestados por meio de sentimentos, s reaes afetivas e aos

    construtos psicolgicos como felicidade, satisfao, sade mental, senso de

    controle, competncia social, estresse e sade percebida.

    O suporte social e a rede de relaes sociais favorecem o bem-estar de

    pessoas, com ou sem deficincia, os relacionamentos so particularmente benficos

    para a manuteno da sade mental, pois atendem as necessidades afetivas e

    emocionais dos envolvidos. O apoio social um fator que contribui na perspectiva

    de um futuro prspero, pois a partir do apoio recebido seja de amigos, familiares e

    outros grupos de apoio, as pessoas tm a possibilidade de contornarem as

    situaes estressantes, visando valorizao da satisfao com a vida e

    promovendo um novo olhar sobre a reabilitao de pessoas com amputao de

    membros (RESENDE et al. 2007).

  • 22

    Matheus et al. (2006), em seu ensaio buscando mobilizar-se para a vida

    apesar da dor ou da amputao representa e demonstra a ao do paciente para

    viver e sentir-se vivo tanto em nvel concreto como simblico, mesmo sentindo a dor

    intensa decorrente da doena arterial obstrutiva crnica ou tendo seu membro

    amputado. Tambm esclarece que este um movimento contnuo e incessante, ou

    seja, de busca, pois, suas estratgias nem sempre alcanam o sucesso desejado,

    assim como, explica que a sua mobilizao pode ser maior ou menor, dependendo

    da disposio interna que tem e encontra, para ultrapassar os inmeros desafios e

    conseqncias de conviver com a doena/agravo.

    O pensamento dos autores clarifica a idia da busca de uma qualidade de

    vida do paciente amputado, qualquer que seja a etiologia, quando menciona em

    suas citaes fenomenolgicas: procurando transcender a dor revela a ao e a

    fora que o paciente faz para reger sua vida e no permitir ser condicionado pela

    dor (MATHEUS, et al. 2006).

    Nas pesquisas sobre o desenvolvimento dos protetizados, existe consenso

    sobre a influncia direta que as condies objetivas e subjetivas exercem sobre a

    qualidade de vida dos protetizados. A qualidade de vida um evento determinado

    por mltiplos fatores, os quais nem sempre so fceis de serem cientificamente

    avaliados. Um importante indicador da qualidade de vida a capacidade funcional,

    que pode ser mais preditiva do estado de sade do que os prprios diagnsticos

    mdicos. Entre os fatores objetivos, destacam-se condies de sade, relaes

    sociais, grau de escolaridade, realizao de trabalho, obteno de renda, atividades

    esportivas, como a natao. Pesquisas mostram que o bem-estar fsico objetivo

    est diretamente relacionado ausncia de doena ou de comprometimento,

    mesmo que leve, da capacidade funcional e do conforto; portanto, uma boa sade

    fsica seria um forte indicativo de bem-estar psicolgico satisfatrio. Entre os fatores

    subjetivos esto a espiritualidade, sentimentos, auto-estima, imagem corporal

    (CHAMLIAN, 2007).

    A amputao o procedimento cirrgico mais antigo e significa retirada,

    geralmente cirrgica, total ou parcial de um membro. A amputao no deve ser

    considerada como um fim, e sim como o incio de uma nova fase, que tem como

  • 23

    maior objetivo manter e/ou devolver a dignidade e funcionalidade do paciente

    (CARVALHO, 2003).

    Quando o tratamento clnico ou os procedimentos conservadores no

    impedem a progresso da patologia, o paciente se v numa situao arrasadora.

    O ato operatrio da amputao sempre foi visto negativamente como um

    estigma, tanto pelo paciente como por seus familiares e at mesmo por toda a

    equipe de sade. Esta cirurgia, no entanto somente dever ser realizada em

    ocasies extremas, em que a vida ou a qualidade de vida do paciente esto em jogo

    (CARVALHO, 2003).

    A mutilao torna-se real quando o mdico comunica que a amputao

    inevitvel e, inclusive corre risco de vida se no aceitar este tratamento. Neste novo

    contexto, pelo menos do ponto de vista de uma realidade que no pode ser negada,

    o paciente comea a ponderar suas alternativas apesar do mdico ter sido definitivo

    na soluo de seu tratamento. Como nenhuma das opes, segundo o paciente ,

    ao menos, satisfatria, ele se sente condenado (MATHEUS et al. 2006).

    Carvalho (2003) acredita que de todas as amputaes, as de membros

    inferiores ocorrem em 80% dos casos, sendo suas causas mais comuns so a

    insuficincia vascular perifrica como conseqncia de diabetes, aterosclerose,

    embolias, tromboses arteriais, traumatismos e tumores malignos, opinio

    compartilhada por Agne34567 et al. (2004), que em seu estudo junto ao Hospital

    Universitrio de Santa Maria-Rs, comprovam que as amputaes realizadas em sua

    maioria apresentavam causas vasculares e metablicas, sendo a incidncia maior

    no sexo masculino. Chamlian et al. (2003) corroboram das mesmas afirmaes em

    seus estudos junto a amputados no Lar Escola So Francisco, e ainda que a

    amputao transfemoral seja predominante no grupo. Saidel et al. (2008) em seu

    trabalho no Hospital Universitrio de Maring-Pr. infere que a incidncia de

    amputao de membros inferiores foi maior no sexo masculino e teve como principal

    causa a doena aterosclertica. J Nunes et al. (2006), afirmam que um dos fatores

    predisponentes para a amputao de membros inferiores a presena de diabetes

    melittus. Afirma mais que a gravidade da leso pode ser considerada um fator

    significativo para a determinao da possibilidade da amputao. Gamba (2004)

  • 24

    associa a amputao e o hbito de fumar. Alerta que nos grupos de preveno

    controle e tratamento do diabetes mellitus pouco se tem realizado para os

    dependentes do fumo e lcool.

    Cosson et al. (2006), em seus estudos com ps diabticos comprovam que a

    populao desconhece as medidas preventivas do p diabtico e do controle

    glicmico. A utilizao de programas de educao, facilmente reprodutveis nos

    centros de sade, pode, segundo o autor, colaborar na reduo das taxas de

    amputao de membros inferiores em pacientes com diabetes mellitus. Rocha et al.

    (2009) concordam, afirmando que as pessoas diabticas no reconhecem a

    dimenso do risco real com relao aos ps. O conhecimento referido nem sempre

    se traduz na adoo de aes de autocuidado para a preveno de problemas

    relacionados aos ps. Esta realidade aponta para a necessidade de considerarmos

    as particularidades de cada sujeito e sua interao com o ambiente, para

    delineamento das intervenes educativas. Milman et al. (2001) em sua avaliao

    quanto ao custo hospitalar mostram que os pacientes com complicaes do diabetes

    mellitus (ps diabticos) so causa freqente de internaes hospitalares. Os custos

    destas internaes e o nus social constituem um grave problema de sade. Os

    pacientes portadores de leses nos ps so responsveis por internaes

    prolongadas e de custo elevado, o que no compatvel com o sistema pblico de

    sade do nosso pas. Assim, a preveno um dos pontos fundamentais para

    melhorar o prognstico desta patologia.

    A deficincia fsica (amputao) e sua marca corporal evidenciam a diferena

    entre o inteiro e o fragmentado, o perfeito e o imperfeito, e est carregada de

    estigmas e valores preconceituosos, o que coloca o deficiente fsico (amputado) s

    margens da sociedade. H receios velados quanto s provveis conseqncias da

    vinculao ou convvio com o deficiente. Para muitos, a aproximao com o

    deficiente fsico traz a dor de um possvel futuro que ningum quer para si, traz

    ameaa tranqilidade, ao bem-estar, ao sentido de esttica e segurana pessoal

    e familiar (DE BENEDETTO, 2002).

    Chini et al. (2007), em seu estudo sobre a percepo de quem vivencia a

    amputao diz que a mesma dotada de sentimentos ambguos que interagem

    entre si e permanecem unidos, permeando a existncia, no pr-operatrio, durante a

  • 25

    hospitalizao e, possivelmente, aps a alta. Perder parte do corpo doloroso e

    impe um novo modo de viver, de estar-no-mundo e se relacionar com ele, exigindo

    um redimensionar, pois o corpo foi afetado e, conseqentemente, a percepo do

    mundo e das coisas. Por mais que seja difcil ou doloroso ser uma pessoa

    amputada, o paciente se rende situao limite/limitante em que se encontra, na

    doena crnica, e opta pela realizao da cirurgia, com esperana de acabar com a

    dor fsica ou de se manter no mundo, afastando a idia de morte prxima. Diz ainda

    que na relao com o mundo, ao se questionar uma parte do corpo que no mais

    existe, haver uma resposta real e no mais ideal ou habitual. Essa nova realidade

    gera medo, dor, angstia, pois ter que se readaptar a um novo modo de existir e

    transpor barreiras em direo s possibilidades reais , num primeiro momento, algo

    complexo e difcil.

    Cavalcanti (1991), em sua tese de doutorado diz que a adaptao

    psicossocial da pessoa amputada encontra-se fortemente determinada pelo seu

    modo de reagir a doena e defrontar-se com a cirurgia. Na ausncia de um

    planejamento de reabilitao fsica e de chances de reintegrao social, as

    conseqncias esperadas da perda do membro so, para a maioria, a manuteno

    das limitaes j vivenciadas em relao doena. A comunicao estabelecida

    com a equipe mdica foi sentida insuficiente para esclarecimento de dvidas e

    tranquilizao dos temores.

    Segundo Katz et al. (2008), a populao idosa aumenta gradativamente no

    Brasil; em 1980 os idosos compunham 6,1% da populao brasileira, no senso de

    1991 correspondiam a 7,3% do contingente populacional, representando aumento

    de 21,3% em perodo de dez anos. A projeo para 2010 de 10% da populao

    nacional. Por volta de 2050, a populao de indivduos idosos em pases

    desenvolvidos dever dobrar, e triplicar em pases em desenvolvimento.

    Ainda Katz et al. (2008), afirmam que os fatores preditivos - idade, doenas

    pr-existentes, fisiologia de resposta ao trauma, complicaes ps-operatrias, tipo

    de trauma - e a epidemiologia do trauma no idoso tm apresentado modificaes

    significativas na literatura, indicando claramente mudanas de padro quanto ao

    tempo e quanto regio analisada.

  • 26

    Diogo (2003), diz que no basta somente a indicao de uma prtese, mas

    investimentos sejam de naturezas assistenciais, sociais e educativas, direcionados

    reabilitao de idosos, tambm sofrem a influncia do agesmo, perpetuando o mito

    de que pessoas idosas tm menor potencial para a reabilitao. No podemos

    generalizar, pois os idosos constituem grupo heterogneo, cujas caractersticas

    individuais devem ser consideradas na reabilitao. E segundo Moraes et al (2004),

    o uso da prtese por pacientes geritricos pode promover maior independncia e

    aumento da expectativa de vida.

    Lapa et al. (2006), nos mostra que o projeto brasileiro de eliminao da

    hansenase, outra causustica importante para amputaes de membros inferiores,

    do ponto de vista da infra-estrutura dos servios, tem se fundamentado basicamente

    em uma proposta de ampliao da rede de diagnstico e ateno ao paciente,

    mediante a descentralizao das atividades para os servios de ateno bsica

    sade. Paralelo a isto, a divulgao dos sinais e sintomas da doena para a

    populao em geral constitui-se um instrumento para a eliminao da endemia.

    3.1 ETIOLOGIAS

    3.1.1 Vasculares

    As amputaes em pacientes com obstruo arterial representam a maior

    porcentagem das amputaes realizadas nos membros inferiores (RAMACIOTTI et

    al. 1995).

    Segundo Scholz (2002), entre os autores ainda no h consenso sobre a

    denominao dessa doena. Desse modo, podemos encontr-la com as seguintes

    designaes: doena arterial oclusiva crnica, doena arterial perifrica crnica,

    insuficincia arterial dos membros, sndrome isqumica crnica, arteriosclerose

    obliterante, insuficincia arterial crnica, doena oclusiva arterosclertica crnica e

    arterosclerose obliterante perifrica.

    As amputaes de membros inferiores causadas por doenas vasculares

    perifricas atingem principalmente pacientes com uma faixa etria mais avanada,

  • 27

    os quais esto mais susceptveis a doenas degenerativas como a arteriosclerose.

    As inovaes do mundo moderno aumentaram a longevidade da populao,

    aumentando consequentemente o nmero de amputaes (CARVALHO, 2003),

    (LICHTENFELS et al. 2007).

    Matheus et al. (2006) dizem que o paciente da doena arterial oclusiva

    crnica convive com as conseqncias mrbidas da doena e requerem da pessoa,

    conviver com tratamentos longos e rigorosos, sucessivas internaes hospitalares,

    medicamentos, dietas especiais, consultas e exames freqentes, dor devido

    isquemia, gangrena e amputaes, principalmente, dos membros inferiores, que

    afetam a sua vida e de seus familiares. A doena arterial oclusiva crnica uma das

    complicaes crnicas decorrente, principalmente do diabetes mellitus sendo que

    esta doena responsvel por metade das amputaes no traumticas no mundo.

    Couth et al. (1977) afirmam que alta morbimortalidade e baixos ndices de

    reabilitao acompanhados por perda do membro contra-lateral esto presentes

    neste tipo de etiologia.

    Estes pacientes tm como caracterstica menor capacidade de cicatrizao

    por terem menor irrigao sangnea, o que isoladamente j um grande problema

    para os cirurgies e toda a equipe de reabilitao.

    Segundo Lastoria et al. (2006), a profilaxia com heparina de baixo peso

    molecular (enoxaparina) e heparina no fracionada (HNF) foram igualmente

    eficientes e seguras para a profilaxia da trombose venosa profunda em pacientes

    submetidos amputao de membros inferiores, o que diminuiu a incidncia de

    neoamputaes.

    A claudicao intermitente e perda dos pulsos distais so sintomas clssicos

    de insuficincia arterial. Entre os fatores predisponentes, encontramos a

    hipertenso, altos nveis de colesterol, triglicrides e tabagismo (CARVALHO, 2003),

    (GAMBA, 2004).

    Dentre as patologias vasculares, poderemos citar: doenas arteriais, venosas

    ou linfticas. As doenas arteriais so as mais comuns, como por exemplo, a

  • 28

    arteriosclerose obliterante perifrica e a tromboangete obliterante (CARVALHO,

    2003).

    Considera-se indicao para amputao em membros inferiores em pacientes

    com doena vascular perifrica:

    Necroses teciduais Podem ser representadas desde necroses de falanges

    distais at extensas necroses de p ou perna por quadro misto

    isqumico/infeccioso.

    Dor intratvel Quando no possvel eliminar a causa da dor (isquemia) por

    no haver tcnica de revascular o membro. A dor no pode se controlada por

    outros medicamentos, simpatectomia, bloqueios nervosos, etc.

    Grande destruio tecidual por processo infeccioso Normalmente

    associados a micrbios anaerbios. Esse tipo de infeco exige a exrese de

    todo o tecido desvitalizado, mantendo-se de maneira geral a ferida operatria

    aberta e,

    Quando existe necrose ou dor intensa, o risco de morte decorrente de uma

    cirurgia de revascularizao muito alto, em virtude de um paciente

    debilitado, com flexo articular importante ou acamado h muitos anos, com

    pouca chance de voltar a andar aps a revascularizao.

    Henry Haimovici (1989), cirurgio vascular norte-americano cita que a

    primeira amputao deve ser a ltima.

    Esta afirmao nos leva a alguma reflexes:

    No se deve tentar realizar uma amputao em um nvel que est

    visivelmente comprometido, sob risco de amputao em nveis mais altos.

    No se autoriza, outrossim, que o cirurgio v sempre para amputaes

    proximais, cujas chances de cicatrizao so mais seguras, mas sempre

    indicar o nvel mais correto, com maiores chances de reabilitao.

    Procurar realizar a cirurgia com o maior cuidado para no traumatizar os

    tecidos e realizar a tcnica cirrgica com o maior acuro possvel.

  • 29

    Frente ao paciente com obstruo arterial aguda, o cirurgio deve avaliar se o

    tecido do membro isqumico j est irremediavelmente comprometido ou ainda ser

    possvel a sua recuperao, revascularizando-o por vias anatmicas ou extra-

    anatmicas, nos casos em que a limitao de ordem clnica ou de natureza local

    torna difcil ou impede a revascularizao por via anatmica (FRANKINI et al. 2007).

    A revascularizao de um membro cuja musculatura j est morta acarretar

    num grave transtorno metablico no ps-operatrio imediato, devido liberao de

    mioglobina, potssio, cidos e fatores depressivos do miocrdio e geradores da

    inflamao, podendo levar o paciente morte (CARVALHO, 2003).

    Avaliao do membro com obstruo arterial aguda quanto capacidade de

    recuperao ou revascularizao do membro, conforme tabela 1:

    Tabela 1: Avaliao do membro com obstruo arterial aguda quanto capacidade de recuperao com a revascularizao do membro.

    Parmetro Isqumico vivel Isqumico com morte tecidual

    Pulsos Ausentes Ausentes

    Enchimento capilar Lento ou ausente Ausente

    Temperatura Diminuda Muito diminuda

    Cor da pele Cianose mvel com compresso, palidez intensa.

    Cianose fixa, reas de infarto de pele.

    Capacidade de mover os artelhos

    Diminuda ou ausente Ausente

    Capacidade de mover o tornozelo

    Diminuda Ausente

    Sensibilidade Diminuda Ausente

    Som arterial com Doppler Ausente Ausente

    Som venoso com Doppler Presente com a compresso do p

    Ausente

    Resposta ao uso de vasodilatadores e enfaixamento

    Melhora do dor e do enchimento capilar, pode aparecer som arterial com o membro em prclive.

    No h mudana do quadro

    Fonte: Carvalho (2003).

  • 30

    Finalmente, a escolha do nvel de

    amputao deve levar em considerao

    quatro aspectos que devem ser avaliados em

    conjunto para que se possa tomar a melhor

    deciso possvel:

    As condies clnicas do paciente

    A capacidade de reabilitao com o

    uso de prteses

    A capacidade circulatria do tecido no

    nvel proposto

    A presena de infeco

    Devemos lembrar que o esforo para a

    deambulao com prteses aumenta quanto

    mais alto for o nvel de amputao. Gonzles et

    al (1974) demonstraram que para um paciente

    amputado no nvel transfemoral deambular de

    muletas gasta 59% mais que um indivduo

    normal. Para a deambulao com prtese, ir

    gastar at 65% mais energia. J o paciente

    amputado no nvel transtibial ir gastar de 10 a

    40% mais energia para deambular. O paciente

    amputado transmetatarsiamente praticamente

    no iro gastar mais energia para sua

    deambulao, portanto, para o paciente que tem

    boas chances de reabilitao, deve-se tentar

    preservar o maior comprimento do membro.

    Dentre os nveis/tcnicas de amputao

    que esto na figura 1, devemos lembrar alguns

    detalhes tcnicos para o sucesso da amputao.

    So eles:

    Figura 01: Nveis mais utilizados para para amputaes em pacientes portadores de insuficincia arterial. Fonte: Carvalho, 2003.

  • 31

    O retalho demarcado na pele antes de iniciar o processo o sucesso da

    amputao. A causa mais comum de falha na amputao o retalho muito curto

    que foi suturado sob tenso para fechar o coto levando isquemia e necrose.

    Os tecidos isqumicos so muito susceptveis necrose por trauma. Assim

    manipula-se o mnimo possvel a pele e partes moles que sero mantidas.

    A ligadura dos vasos tronculares feita sempre se separando a artria da veia que

    ligada independente. Os nervos, principalmente os superficiais devem ser

    seccionados alto em relao ao nvel da seco da pele para evitar que o neuroma

    fique em contato com a rea cicatricial.

    Todo coto antes de ser suturado lavado abundantemente com soro

    fisiolgico. O soro frio superior pelo fato de auxiliar na hemostasia. A

    hemostasia deve ser rigorosa uma vez que as colees hemticas so fontes

    de infeco no ps-operatrio.

    A mioplastia do coto imprescindvel. A mioplastia corresponde sutura da

    musculatura seccionada recobrindo as extremidades sseas e ancorando os

    grupos flexores e extensores uns aos outros, como se fossem novas

    inseres. Essa manobra permite que os msculos trabalhem garantindo ao

    paciente um melhor controle dos movimentos do coto, reduzindo o edema e

    acolchoando as extremidades sseas.

    O fechamento da pele feito com pontos aplicados prximos de maneira a

    no deixar espaos abertos que resultam na formao de crostas que

    retardam a cicatrizao.

    O curativo final feito estril e trocado apenas no segundo ps-operatrio.

    Embora o curativo com gesso seja uma alternativa muito utilizada nas

    amputaes traumticas e tumorais, existe certo receio em manter o coto

    ocludo e sob carga nas trs a quatro semanas.

    Visando a reabilitao do paciente com prtese, a amputao transtibial o

    nvel mais realizado entre as amputaes maiores.

  • 32

    Cotos mais longos permitem maior controle e maior firmeza da prtese, por

    outro lado so mais difceis de realizar devido pobreza da musculatura distal da

    perna.

    De maneira geral, considera-se que o coto ideal deveria ter o comprimento da

    tbia em torno de 9 a 10 cm abaixo da tuberosidade da tbia. A fbula sempre

    seccionada 1,5 a 2 cm mais curta do que a tbia.

    Aos pacientes com flexo de joelho, temos a alternativa da desarticulao do

    joelho. Muito til apesar de pouco utilizado, mantm o comprimento total do fmur,

    oferecendo um coto muito resistente a traumas e que permite um apoio terminal.

    As amputaes transfemorais so as que oferecem a melhor chance de

    cicatrizao primria. No entanto so as que apresentam a maior dificuldade para a

    reabilitao do paciente. So normalmente utilizadas quando a isquemia ou infeco

    do membro muito grande ou nos casos com seqelas neurolgicas motoras

    (CARVALHO, 2003).

    As amputaes em pacientes com patologias vasculares apresentam alta taxa

    de morbimortalidade. Como apresentam aterosclerose avanada, freqente a

    ocorrncia de infarto agudo do miocrdio e arritmias cardacas. Muitos so

    pneumopatas, tabagistas por muitos anos, e associado imobilidade imposta pela

    amputao apresentam, infeco pulmonar. O tromboembolismo tambm pode

    ocorrer devido imobilidade, e a manuteno do coto pendente favorece a trombose

    venosa profunda do coto (COUTH et al. 1977).

    3.1.2 Neuropticas

    Inmeras doenas ou processos podem levar neuropatia perifrica, tais

    como doenas sistmicas (diabetes mellitus), distrbios nutricionais (alcoolismo),

    doenas infecciosas (Hansen e poliomielite), alteraes medulares (espinha bfida e

    o trauma medular).

    Dentre elas, a neuropatia diabtica, com manifestaes clnicas que incluem

    alteraes do sistema autnomo, alteraes motoras e sensoriais, tem levado a

    altos nveis de amputao (CARVALHO, 2003).

  • 33

    Os sintomas apresentados so a diminuio ou perda da sensibilidade

    vibratria, trmica, ttil e dolorosa, aumentado os riscos de ulceraes em ps

    diabticos. Porcincula et al. (2007), afirma que a neuropatia perifrica o principal

    fator de risco para ulcerao em p de indivduos diabticos.

    A alterao motora nos pacientes com polineuropatia acomete os nervos,

    causando fraqueza dos msculos e deformidades articulares.

    Ochoa-Vigo et al. (2005) em seus estudos sobre a preveno dos ps

    diabticos colocam a avaliao dos dos mesmos como medida preventiva

    fundamental, para identificar, precocemente, as alteraes neurolgica e vascular

    perifricas e disfunes biomecnicas. Destaca-se a avaliao dos calados como

    fator externo.

    As disfunes do sistema nervoso autnomo podem reduzir a hidratao dos

    tecidos deixando a pele mais seca e vulnervel s fissuras e afetar a regulao

    vasomotora, resultando em hiperemia dos tecidos moles e sseos (CARVALHO,

    2003).

    Santos (2006) relaciona Idade, tempo de diagnstico do diabetes, infeco

    por Gram-positivos, linfangite ascendente, leses de calcneo e insuficincia arterial

    como fatores de risco para amputaes maiores em pacientes diabticos.

    Jorge et al. (1999) Collado et al. (2001), Gamba et al. (2004), Nunes et al. (2006)

    e outros concordam que o diabetes mellitus a causa mais freqente de internaes

    hospitalares e suas complicaes, como o p diabtico ulcerado, vai evoluir para

    amputaes dos membros inferiores, nos mais variados nveis.

    Algumas orientaes devem ser dadas aos pacientes e familiares, a fim de se

    prevenir possveis complicaes, tais como ulcerao, infeco e amputao, conforme

    tabela 2.

  • 34

    Tabela 2: Preveno para complicaes em ps neuropticos.

    Informaes preventivas

    Aps o banho seque bem os ps, principalmente entre os dedos;

    Cuidado com gua muito quente. Verifique a temperatura com as mos;

    Cuidado com as unhas. prefervel lix-las;

    No corte os calos. prefervel ir a um podlogo especializado;

    Use hidratante nos ps;

    Use meias nos dias frios;

    No caminhe descalo e no use chinelo de dedo;

    Inspecione os ps diariamente;

    Exercite os ps (dedos e tornozelos);

    Use calado e palmilhas apropriados;

    Fonte: Carvalho (2003).

    A existncia de uma matriz neuronal determinada geneticamente e modulada

    durante toda a vida por impulsos nervosos (nociceptivos), criaria uma memria

    somato-sensorial que seria responsvel pela apario da dor do membro fantasma

    (OLARRA et al. 2007).

    Na fase aguda, a dor no coto decorre do traumatismo operatrio e de suas

    complicaes. A sensao fantasma comum aps amputaes. O fenmeno

    fantasma caracteriza-se pela sensao de imagem distorcida quanto a dimenses e

    conformaes (macrossomia, microssomia, telescopagem) do rgo amputado.

    Pode ser esttico ou dinmico (cintico, cinestsico). A dor no membro

    fantasma manifesta-se em menos de 5% dos casos. Caracteriza-se pelo

    acoplamento das sensaes de queimor, formigamento e/ou latejamento e choques

    na imagem do rgo amputado. Sensaes similares ocorrem em doentes que

  • 35

    apresentam neuropatias plexulares braquiais ou lombossacrais. Pode instalar-se

    imediatamente ou anos aps a amputao. A durao, a intensidade da dor pr-

    operatria e os eventos emocionais e ambientais adversos que precederam ou

    foram concomitantes com os procedimentos operatrios podem concorrer para

    aumentar sua ocorrncia. A freqncia dos episdios tende a reduzir-se durante os

    dois primeiros anos aps a amputao (CAMPONERO, 2004).

    O fato de a dor-fantasma ser um fenmeno no puramente fsico, social ou

    psquico, mas a integrao destes trs fatores nos remete importncia de um

    tratamento multidisciplinar, em que mdico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional,

    nutricionista, psiclogo, assistente social, professor de educao fsica e tcnico

    protesista devem trabalhar em equipe visando o desenvolvimento e a participao

    ativa do paciente em seu tratamento (DE BENEDETTO, 2002).

    3.1.3 Traumticas

    Vo acometer principalmente pacientes adolescentes e adultos jovens, os

    quais esto mais expostos aos acidentes de trabalho e por meios de transporte.

    Batalhas e minas ainda so causas importantes de amputaes em alguns pases.

    Encontramos ainda amputaes ocasionadas por arma de fogo, queimaduras

    severas e descarga eltrica. Com o advento de tcnicas como fixadores externos e

    tcnicas cirrgicas mais aprimoradas, o ndice de amputaes por leses

    traumticas tem diminudo bastante (CARVALHO, 2003).

    Os acidentes envolvendo motocicletas aumentam exponencialmente tanto

    quanto aumentam a quantidade deste meio de transporte que, por sua caracterstica

    gil, rpido, desenvolvendo bem no trnsito das grandes cidades, preo e

    manuteno extremamente baratos, acessveis a maior parte da populao,

    segundo Sado et al. (2009), Pinto et al. (2008) e Santos et al. (2008), verificam que a

    predominncia de jovens do sexo masculino e que os acidentes ocorreram mais

    no trajeto de lazer ou passeio, regio mais afetada est nos membros inferiores e

    concluem que o trauma provocado pelos acidentes envolvendo motocicletas merece

    ateno, especialmente pela sua agressividade e em relao ao planejamento de

    aes preventivas, assim como controle de sua ocorrncia.

  • 36

    Calil et al. (2009) em seu mapeamento de leses em vtimas de acidentes de

    trnsito mostraram que a regio corprea mais comumente atingida em acidentados

    de transporte a de membros inferiores/superiores, seguida pela regio da

    cabea/pescoo. Em relao qualidade da vtima, no houve homogeneidade

    entre os estudos, variando de acordo com a localidade do evento (pas) e poca

    analisada. No Brasil, as ocorrncias e a mortalidade envolvendo motociclistas

    tiveram aumento significativo a partir de 1999, embora a literatura aponte os

    pedestres como as vtimas mais vulnerveis. Investigaes futuras de maior

    abrangncia (multicntricas) devero ser estimuladas.

    Katz et al. (2008), afirma o mecanismo de trauma mais prevalente nos idosos

    o atropelamento, resultando principalmente, em fraturas dos membros inferiores.

    Os pacientes desta faixa etria que sofrem traumatismos de alta energia

    permanecem internados por longos perodos de tempo, normalmente mais do que

    10 dias.

    A maioria dos pacientes apresenta alguma comorbidade previamente ao

    acidente, sendo a mais comum, hipertenso arterial sistmica. E a grande maioria

    (quase 90%), cursa com algum tipo de complicao clinica aps, dentre elas:

    Infeco do trato urinrio, parada cardiorrespiratria, trombose venosa profunda,

    alteraes do trato gastrintestinal, delirium, confuso mental, sepse, edema agudo

    de pulmo, insuficincia renal aguda e broncopneumonia, no sendo observada uma

    ntida predileo por alguma das complicaes especificamente.

    Os resultados do ndice da Sndrome da Extremidade Esmagada em estudo

    realizado em 64 fraturas abertas mostram que os resultados com pontuao at 20

    determinaram amputao primria e que a preservao do membro esmagado

    neste nvel do escore se mostrou um erro (SGARBI et al. 2006).

    As observaes decorrentes aos nveis e tcnicas para uma melhor

    amputao seguem, sempre que possvel, o observado nas amputaes de

    etiologia vascular, lembrando-se que quando se tem um trauma, nem sempre

    possvel planejar um retalho perfeito e que as leses trmicas podem destruir uma

    quantidade suficiente de tecido para indicar uma amputao. Inicialmente devem ser

    tratadas conservadoramente at que a extenso da leso possa ser mais bem

  • 37

    avaliada e a amputao feita no nvel mais distal condizente para uma boa

    cicatrizao. A determinao do nvel para a amputao pode ser extremamente

    difcil de ser definido, porque a necrose dos tecidos moles pode estender-se mais

    proximalmente do que aparenta ser, apenas observando-se aspecto externo do

    membro. Nas crianas, deve-se tentar, sempre que possvel, preservar as placas de

    crescimento, pois sua contribuio para o comprimento da extremidade ou do coto

    de amputao muito importante, minimizando as desigualdades dos membros

    (BELANGERO, 2004),

    Nas cirurgias potencialmente contaminadas ou infectadas, optamos por deixar

    o coto aberto, e somente fech-lo quando no houver algum sinal de infeco local,

    em geral aps vrias limpezas cirrgicas. Em amputaes transfemorais e

    transtibiais pode-se utilizar a tcnica de paraquedas, conforme fig. 2 A e B, como

    tcnica de manuteno do comprimento da pele, evitando sua retrao, o que

    poderia ocasionar a elevao do nvel de amputao. (PEDRINELLI, 1998),

    (CARVALHO, 2003).

    Figura 2 A e B: Demonstrao do uso da tcnica de paraquedas para evitar retraes de pele. Fonte: Carvalho, 2003.

    Como nem sempre se pode planejar uma cirurgia de amputao de etiologia

    traumtica e sim trabalhar com o que se tem. Muito importante cuidar de se evitar

    arestas ou salincias sseas, eliminando-as com limas ou grosas e intensa lavagem

    local com soro fisiolgico para impedir implantao ssea posteriori e formao de

    espculas sseas ou calcificaes heterotpicas, conforme mostra a fig. 3.

  • 38

    Figura 3: Viso radiogrfica de uma espcula ssea. Fonte: Carvalho, 2003.

    3.1.4 Neoplsicas

    Segundo Mendona et al. (2008), at a dcada de 70, o tratamento dos

    sarcomas sseos era baseado na amputao. Cerca de 80% dos casos evoluam

    para bito no perodo mximo de dois anos. As tcnicas cirrgicas consistiam

    fundamentalmente nas cirurgias de resseco, cujo principal objetivo era a

    erradicao do tumor, na tentativa de controle local da doena. Os tumores sseos

    primrios de alto grau de malignidade consistem aproximadamente 7% dos tumores

    em indivduos menores de 20 anos de idade. O Osteossarcoma o tumor mais

    freqente nesta faixa etria, ocorrendo em 8,7 casos/ milho, seguido do Sarcoma

    de Ewing com predileo para extremidade da regio distal do fmur.

    Stolagli et al. (2008) salientam que de fundamental importncia o

    diagnstico precoce dos tumores sseos primrios, sobretudo com relao aos

    malignos, em que se fazem necessrios o controle local e tambm a conduta

    teraputica no sentido de aumentar a taxa de sobrevida dos pacientes.

    Segundo Enneking, (1980), houve reduo considervel das amputaes por

    etiogia neoplsica, graas aos bons resultados obtidos com o diagnstico precoce, a

    radioterapia, a quimioterapia, a utilizao de endoprteses, os enxertos e algumas

    outras cirurgias conservadoras. E quando necessrio partir para uma cirurgia de

    amputao, a presena de um sistema de estadiamento cirrgico para sarcomas

    msculos-esquelticos que estrafica ossos e leses de tecidos moles de qualquer

    histognese pelo grau de agressividade biolgica, atravs da definio anatmica, e

    pela presena de metstase. Estas novas abordagens permitem uma sobrevida

    global em torno de 75%.

  • 39

    Carvalho (2003) relaciona as principais indicaes para amputaes em

    tumores sseos e de partes moles:

    Crianas menores de seis anos de idade com tumores localizados ao redor

    do joelho que acometem as placas epifisrias, devido a inaceitvel

    expectativa da discrepncia de comprimento dos membros inferiores alm de

    10 cm, independente do mtodo reconstrutivo. A amputao com uso de

    prtese permite uma funo muito melhor.

    Comprometimento do plexo neurovascular vital ao membro acometido.

    Tumores infectados e ulcerados ou ainda aqueles abordados

    inadequadamente com bipsias mal planejadas. Isso impede uma resseco

    com margem inadequada e por vezes uma indicao higinica.

    Tumores muito grandes ao diagnstico com comprometimento extensor em

    partes moles, tecido celular subcutneo e pele, impedindo a resseco ampla

    adequada e a cobertura do mtodo reconstrutivo utilizado.

    Tumores cuja alternativa reconstrutiva evolui com uma funo do membro

    muito inferior aquela obtida pela amputao com uso de prtese,

    considerando o prognstico de sobrevida do paciente e as complicaes dos

    mtodos reconstrutivos a curto, mdio e longo prazo.

    Fratura patolgica uma indicao relativa. A maioria destes pacientes so

    amputados devido a extenso e disseminao do hematoma da fratura

    contaminando pela neoplasia nos tecidos, comprometendo a margem na

    resseco.

    Infeco ps-resseco e reconstruo em pacientes em tratamento

    quimioterpico.

    Recidiva local, dependendo do prognstico de sobrevida do paciente.

    As tcnicas cirrgicas de amputao em tumores msculo-esquelticos no

    diferem muito daquelas convencionais. Devemos lembrar que pacientes em

    tratamento quimioterpico so imunudeprimidos, apresentando um risco maior de

    infeco.

  • 40

    Segundo Stolagli et al. (2008), quando o paciente enfrenta o diagnstico de

    cncer, existe envolvimento familiar, sentimento de perda, ansiedade e depresso.

    Por isto os vnculos familiares so importantes para auxiliar o paciente a enfrentar a

    doena.

    O adoecimento ocasiona crises e momentos de desorganizao para o

    paciente e sua famlia, pois o primeiro grupo de relaes em que o indivduo est

    inserido, na maioria das vezes, so os familiares s pessoas mais prximas do

    convvio do paciente. Muitas transformaes ocorrem na vida do doente e da famlia,

    levando-os a se depararem com limitaes, frustraes e perdas. Essas mudanas

    sero estabelecidas pelo tipo de doena

    3.1.5 Infecciosas

    Tem sido menos frequentes em virtude dos grandes avanos laboratoriais e

    do desenvolvimento de medicamentos mais especficos.

    Segundo Santos et al. (2006), a idade, infeco por Gram-positivos, linfangite

    ascendente, leses de calcneo, associao com diabetes mellitus insuficincia

    arterial constituem fatores de risco para amputaes.

    A meningite meningoccica a causa de uma amputao infecciosa clssica,

    caracterizada por leses cutneas importantes que podem causar necroses nas

    extremidades. As infeces podem ainda estar associadas a processos traumticos

    e vasculares (CARVALHO, 2003).

    Gangrena est correlacionada freqentemente com causa infecciosa

    (Mycoplasma spp, vrus Epstein-Barr, citomegalovrus, vrus Influenza A, adenovrus,

    Legionella spp), linfoproliferativas B e idiopticas. sendo observada apenas em

    pacientes com altos ttulos persistentes. Suspeita clnica de crioaglutininemia deve

    confirmada e tratada prontamente em funo de risco de possveis complicaes

    graves (VICARI et al. 2004).

  • 41

    3.1.6 Congnitas

    Os portadores de anomalia congnita que apresentam deformidades

    importantes, as quais podem impossibilitar a protetizao ou dificultar a funo do

    membro residual, geralmente so encaminhados para procedimentos cirrgicos,

    estando, entre eles, a amputao. So exemplos as agenesias. Com a utilizao de

    fixadores externos, tais indicaes diminuram. Esse tipo de amputao deve ser

    preferencialmente realizado nos primeiros anos de vida, obtendo-se dessa forma,

    uma reabilitao precoce e maior aceitao por parte do paciente (CARVALHO,

    2003).

    Belangero et al. (2001), quando avalia malformaes congnitas em crianas

    discute as complicaes, vantagens e desvantagens de cada nvel de amputao e

    conclui que a amputao na criana continua sendo uma opo a ser considerada,

    principalmente por propiciar rpida recuperao funcional e social do paciente.

    3.1.7 Iatrognicas

    Amputaes iatrognicas esto associadas a complicaes adquiridas pelo

    paciente durante o curso do tratamento (CARVALHO, 2003). Segundo Karakousis

    (1989) pacientes com leso de medula espinhal evoluiram para hemipelvectomias

    aps lceras graves de decbito. Azulay (2006) estudou o caso de uma mulher com

    25 anos de idade que tinha leses eritmato-purpricas com discretas ulceraes e

    dor intensa, o que levou amputao de dois dedos; a histopatologia revelou as

    alteraes de acroangiodermatite.

    3.2 INDICAES

    As amputaes geralmente ocorrem por indicao eletiva ou de urgncia

    conforme figuras 4 e 5. As amputaes eletivas, indicadas para pacientes portadores

    de seqelas ou processos mrbidos, visam, entre outros, melhorarem a qualidade

    de vida do paciente. J as amputaes de urgncia so indicadas para casos

    graves, como por exemplo, os grandes traumas, neoplasias em estgio avanado ou

    sepses, os quais trazem risco vida do paciente.

  • 42

    Figura 4: Paciente com quadro neuroptico importante. Indicao eletiva visando funcionalidade. Fonte: Carvalho, 2003.

    Figura 5: Sarcoma de Ewing. Exemplo de urgncia.

    Fonte: Carvalho, 2003.

    3.3 NVEIS DE AMPUTAO

    O membro residual da amputao denominado coto. o responsvel pelo

    controle da prtese durante o ortostatismo e a deambulao. Para que isso seja

    possvel, ele deve apresentar algumas caractersticas como as descritas por

    Carvalho (2003):

  • 43

    Nvel adequado Nem sempre o melhor coto o longo. Para alguns nveis de

    amputao, como na de Chopart, poderemos obter resultados menos satisfatrios

    com a protetizao e a reabilitao.

    Coto estvel A presena de deformidades nas articulaes proximais ao coto pode

    dificultar a deambulao e a protetizao.

    Presena de um bom coxim com mioplastia e miodese.

    Bom estado da pele Coto com boa sensibilidade, sem lceras e enxertos cutneos

    facilita a reabilitao.

    Ausncia de neuromas terminais e espculas sseas Para certos nveis, a

    presena de neuromas ou espculas impede o contato e/ou a descarga distal.

    Boa circulao arterial e venosa Evitando isquemia e estase venosa.

    Boa cicatrizao As suturas devem ser realizadas em locais adequados conforme

    o nvel da amputao. As cicatrizaes no devem ser irregulares, hipertrficas ou

    apresentar aderncias, retraes, deiscncias e supuraes.

    Ausncia de edema importante.

    Bowker (1991) define como o nvel ideal de amputao o mais distal possvel

    com potencial de cicatrizao, assegurando que este distribui melhor as foras do

    coto, diminuindo as reas de hiperpresso e tornando as deformidades articulares

    menos freqentes. Pinzur (1998) afirma, em seu estudo sobre o consumo de

    oxignio, que as amputaes mais longas consomem menos energia para a

    deambulao. Nomeou o nvel mais distal com possibilidade de cicatrizao como

    nvel biolgico. Gonzales et al. (1974), dizem que o esforo fsico para o paciente

    amputado andar com auxlio de prteses aumenta quanto mais alto for o nvel de

    amputao.

    Os proveitos de uma amputao econmica (distais) podem propiciar o

    equilbrio satisfatrio do corpo em vrias circunstncias em que este exigido, como

    na movimentao do leito, cadeira de rodas, manuseio de muletas ou mesmo

    quando usa alguma forma de prtese mecnica. Assim, o amputado pode adquirir

  • 44

    autoconfiana, que produzir como conseqncia uma reduo das demandas

    externas e mais facilidade para sua reintegrao social (THOMAZ, 2000).

    A obteno de bons resultados em protetizao vai variar ento do nvel de

    amputao, ou seja, quanto mais proximal, pior o prognstico.

    So os nveis de amputao:

    3.3.1 Desarticulao interfalangeana

    Figura 6: Figura 7: Desarticulao interfalangeana Amputao do hlux com manuteno da falange Fonte: Carvalho (2003). falange proximal e desarticulao do 2, 3 e 4 dedos. Fonte: Carvalho (2003).

    Geralmente no apresenta problemas funcionais e estticos ao paciente.

    (figs. 6 e 7). causada geralmente por processos traumticos e vasculares, os quais

    podem levar at as amputaes espontneas, como nos casos de gangrena seca

    onde se observa morte tecidual por obstruo arterial, sem obstruo venosa ou

    infeco. Como medida preventiva, a obrigao do uso de sapatos de segurana

    nas indstrias metalrgicas e a indicao de calados especiais para pacientes com

    doenas vasculares e neuropticas tem sido cada vez mais adotadas. Muitas vezes

    prefervel realizar uma amputao a permanecer com os prprios dedos no

    funcionantes, rgidos, deformados e dolorosos. Essas amputaes no alteram o

    equilbrio e a deambulao dos pacientes. Nas amputaes do hlux, procura-se

  • 45

    manter a base da falange proximal, pois nela encontra-se a insero dos tendes

    extensor e flexor curto (CARVALHO, 2003).

    3.3.2 Desarticulao metatarsofalangeana

    Figura 8: Desarticulao metatarsofalangeana. Fonte: Carvalho, 2003.

    As causas que levam a uma amputao nesse nvel (fig. 8) so as mesmas

    citadas anteriormente, ou seja, alteraes vasculares, neuropticas e traumticas.

    Quanto nas amputaes interfalangeanas no for possvel suturar a pele sem

    tenso, pode-se optar por esse nvel de amputao. As amputaes isoladas do 2

    ao 5 podlico no causam alteraes significativas na marcha. Uma ressalva deve

    ser feita na amputao isolada do 2 e do 3 podlico, pois provoca uma

    deformidade permanente em hlux-valgo. A amputao dos podlicos mdios

    acarreta desvios dos podlicos laterais. A do hlux a mais comprometedora, pois

    dificulta a marcha especialmente durante a fase de impulso, porm, em uma marcha

    mais lenta, no se observam alteraes significativas. A amputao dos artelhos

    geralmente sobrecarrega a cabea dos metatarsos, elevando a presso local. Esse

    aumento perigoso e pode provocar lceras plantares (fig. 9) principalmente nos

    pacientes com alteraes vasculares e perda da

    sensibilidade protetora (CARVALHO, 2003).

    Figura 9: lcera plantar causada por hiperpresso. Fonte: Carvalho, 2003.

  • 46

    3.3.3 Amputao transmetatarsiana

    Figura 10: Amputao transmetatarsiana. Fonte: Carvalho, 2003.

    Esse nvel de amputao tambm causado, na sua maioria, por processos

    vasculares e traumticos. Nos casos de processos infecciosos, pode-se optar pela

    inciso somente de um raio deixando o p funcional, porm assimtrico. As incises

    so feitas com o flap plantar maior que o dorsal, visando um coxim mais resistente

    com tecido plantar. Nessas amputaes, a seco ssea deve ser realizada prxima

    cabea ou base dos metatarsos (fig. 10), pois sua difise cortical, longa e fina,

    pode ser reabsorvida ou ento provocar desconforto no coxim ou at perfur-los. A

    descarga continua sendo realizada distalmente, porm a marcha fica prejudicada

    principalmente na fase de desprendimento do p (CARVALHO, 2003).

    3.3.4 Amputao de Lisfranc

    Figura 11: Figura 12: Amputao de Lisfranc. Paciente com amputao de Lisfranc Fonte: Carvalho, 2003. realizando descarga distal total. Fonte: Carvalho, 2003.

  • 47

    A amputao de Lisfranc diz respeito desarticulao dos metatarsos com os

    ossos cubide e cuneiformes (figs. 11 e 12) As indicaes continuam sendo

    predominantemente vasculares. Esse nvel de amputao apresenta como

    desvantagem as deformidades em flexo plantar, devido a retirada dos pontos

    insersores dos msculos dorsiflexores dificulta a protetizao, limitam a carga distal

    total e podem levar as revises cirrgicas. No ato cirrgico realizada apenas uma

    simples desarticulao. Pode-se tambm preservar, se possvel, a base do 4 e 5

    metatarsiano para evitar a perda natural do msculo fibular curto. A sutura, como

    nos nveis anteriores, continua sendo realizada no dorso do p, preservando o

    retalho plantar que apresenta tecido subcutneo e fina camada muscular formada

    pelos flexores curtos dos dedos. Os nervos devem receber leve tenso e serem

    seccionado o mais proximal possvel, evitando, desse modo, a formao de

    neuromas distais superficiais (CARVALHO, 2003).

    3.3.5 Desarticulao naviculocuneiforme e transcubide

    Figura 13: Desarticulao naviculocuneiforme e transcubide.

    Fonte: Carvalho, 2003.

    Esta amputao encontra-se entre os nveis de Lisfranc e Chopart, com a

    manuteno de todo o osso navicular e seco parcial do cubide ao nvel da

    articulao naviloculocuneiforme (fig. 13). Neste nvel a articulao tlusnavicular

    mantida, ajudando a manter o posicionamento do tlus, o que no ocorre na

    amputao de Chopart (CARVALHO 2003).

  • 48

    3.3.6 Amputao de Chopart

    Figura 14: Figura 15: Amputao de Chopart. Chopart: vista lateral. Fonte: Carvalho, 2003. Fonte: Carvalho, 2003.

    A amputao de Chopart tambm uma desarticulao realizada entre os

    ossos navicular e cubide com o tlus e calcneo, respectivamente. Conhecida

    como amputao do retrop, o coto na amputao de Chopart apresenta um

    predomnio dos msculos flexores plantares inseridos na tuberosidade posterior do

    calcneo sobre a musculatura dorsoflexora (figs. 14 e 15). Em virtude do brao curto

    de alavanca, quase sempre evolui para um eqino importante, diminuindo, dessa

    maneira, a rea de apoio. normalmente um nvel de articulao no funcional. Os

    cuidados com os nervos e as suturas seguem os mesmos padres da amputao de

    Lisfranc. A descarga de peso pode ser realizada distalmente, caso o paciente tolere.

    As amputaes so, em geral, indicadas por patologias vasculares seguidas por

    patologias infecciosas, traumticas e, em menor nmero, tumorais (CARVALHO,

    2003).

  • 49

    3.3.7 Amputao de Syme

    Figura 16: Figura 17: Amputao de Syme. Viso radiogrfica mostrando superfcie Fonte: Carvalho, 2003. ssea plana, ideal para descarga distal. Fonte: Carvalho, 2003.

    A amputao de Syme geralmente causada por patologias vasculares,

    processos traumticos, anomalias congnitas, deformidades adquiridas ou quando

    as amputaes transmetatarsianas, de Lisfranc ou de Chopart no so possveis. A

    amputao de Syme permite descarga distal sobre o coto, e a presena de espao

    entre o coto e o solo possibilita uma protetizao futura com p mecnico. O ponto

    desfavorvel dessa amputao refere-se cosmtica, em virtude do grande volume

    encontrado na regio distal. A marcha sem prtese possvel, porm, por causa da

    dismetria dos membros, h claudicao. Essa amputao realizada com a

    desarticulao tibiotrsica e posteriormente com uma seco ssea logo abaixo dos

    malolos lateral e medial, conservando a sindesmose tbiofibular (figs. 16 e 17). O

    plano de seco de tbia e fbula deve estar paralelo ao solo quando o paciente se

    encontrar em p. Os nervos so tracionados e seccionados buscando uma retrao

    proximal. Quanto sutura dos msculos plantares, do tecido subcutneo e da pele,

    ela deve estar anteriormente ao nvel distal da tbia, formando o coxim do calcneo.

    As causas mais comuns de um coto inadequado so a migrao do coxim do

    calcneo e a deiscncia de suturas por manipulao excessiva das bordas.

    Este nvel bastante indicado por:

    Ser considerado um procedimento tecnicamente fcil;

    Apresentar um coto bastante longo e durvel com possibilidade de descarga

    distal e

  • 50

    Permitir uma reabilitao e protetizao precoce (CARVALHO, 2003).

    3.3.8 Amputao de Pirogoff

    Figura 18: Amputao de Pirogoff. Fonte: Carvalho, 2003.

    A amputao de Pirogoff similar de Syme, porm tecnicamente mais

    difcil e mais demorada. Nesse tipo de amputao, ocorre uma artrodese entre tbia

    e calcneo, tendo em vista que o calcneo seccionado verticalmente, eliminando

    sua parte anterior e realizando com a parte posterior uma rotao superior a 90

    graus at ocorrer um encontro entre as superfcies do calcneo e a tbia (fig. 18). s

    vezes, a utilizao de osteossntese faz-se necessria para tal fixao. Como

    resultado, observamos um espao menor entre o coto e o solo, quando comparado

    com a amputao de Syme (CARVALHO, 2003).

    3.3.9 Amputao de Boyd

    A amputao de Boyd bastante similar amputao de Pirogoff com uma

    artrodese do calcneo seccionado com a superfcie distal tbiofibular. No entanto a

    osteotomia realizada no calcneo horizontal e sua fixao com a tbia/fbula

    realizada aps um pequeno deslocamento anterior. Neste nvel tambm indicada a

    descarga de peso sobre o coto de amputao e a discrepncia no comprimento dos

    membros continua presente (CARVALHO, 2003)

  • 51

    3.3.10 Amputao transtibial

    Figura 19: Figura 20: Amputao transtibial longa. Amputao transtibial tero mdio. Fonte: Carvalho, 2003. Fonte: Carvalho, 2003.

    Figura 21: Figura 22: Amputao transtibial curta. Viso radiogrfica em incidncia ntero-posterior e perfil. Fonte: Carvalho, 2003. Fonte: Carvalho, 2003.

    A amputao transtibial realizada entre a articulao tibiotrsica e a

    articulao do joelho (fis. 19, 20, 21 e 22). Podemos dividi-la em trs nveis, ou seja,

    amputao transtibial em tero proximal, medial e distal. Para esses nveis de

    amputao, devemos considerar a importncia funcional do joelho na reabilitao e

    na deambulao dos pacientes amputados. As amputaes podem ser causadas

    por patologias vasculares, processos traumticos, infecciosos e neoplsicos ou

    anomalias congnitas.

  • 52

    Sabemos que as amputaes por patologias vasculares acometem

    principalmente pacientes idosos enquanto as traumticas atingem na sua maioria,

    pacientes mais jovens.

    A descarga de peso, nas amputaes transtibiais, independentemente do

    nvel de amputao, dever ser realizada no tendo patelar, entre a borda inferior da

    patela e a tuberosidade da tbia, e nas regies com tecidos moles localizadas nas

    faces lateral, medial e posterior do coto. Nos casos em que no for possvel realizar

    tais presses, realizaremos apoio em musculatura da coxa ou tuberosidade

    isquitica. Entretanto a descarga de peso distal ser sempre contra-indicada em

    razo da transeco ssea e dos tecidos moles ali encontrados. Os cotos transtibiais

    apresentam uma tendncia deformidade em flexo do joelho tanto maior quanto

    mais proximal for o nvel da amputao (CARVALHO 2003).

    A fisioterapia deve ser realizada logo aps a amputao, atuando no

    posicionamento correto no leito, visando evitar deformidades. H evidente

    predisposio s restries de movimentao neste caso, podendo resultar em

    deposio de colgeno nas regies estticas, favorecendo a restrio do

    deslizamento entre as fscias reduzindo a efetividade motora e proporcionando

    alteraes na postura. Ainda se deve utilizar a dessensibilizao do coto, exerccios

    ativo-assistidos, ativo-livres e isomtricos, uso de bandagens, exerccios de

    propriocepo, trabalho do membro contralateral e membros superiores e treino de

    marcha. Tendo como objetivo a manuteno da amplitude de movimento, aumento

    de fora muscular, equilbrio e adaptaes da marcha de acordo com a possibilidade

    do paciente, envolvendo orientao e condutas de preveno e reabilitao. Pastre

    et al. (2005).

    Pastre et al. (2005) cita mais que o coto denominado membro residual,

    sendo considerado um novo membro, responsvel pelo controle da prtese durante

    o ortostatismo e deambulao. comum ocorrer algumas complicaes aps

    amputao, como deformidade em flexo, irregularidades sseas, excesso de partes

    moles, cicatrizao inadequada, neuromas dolorosos, complicaes cutneas ou

    comprometimento vascular, o que pode levar incapacidade e reduo nos nveis

    de qualidade de vida.

  • 53

    Deve ser realizada a mioplastia, na qual os msculos antagonistas se fixam

    aos agonistas e tambm a miodese, em que a musculatura ser reinserida ao tecido

    sseo. Esses procedimentos melhoram o controle do coto, a propriocepo e a

    circulao local, alm de diminuir incmodo como dor fantasma. Os nervos so

    seccionados aps leve trao para se alojarem entre os grupos musculares

    (CARVALHO, 2003).

    A amputao transtibial distal apresenta um coto bastante longo, resultando

    em grande brao de alavanca e bom controle sobre a prtese. Entretanto, a regio

    distal da perna no apresenta um bom suprimento sanguneo e os tecidos

    subcutneos e musculares da regio resultam em um coxim escasso. Nesse nvel

    podemos encontrar problemas como escoriaes e lceras, o que muito perigoso

    em pacientes com problemas vasculares (CARVALHO, 2003).

    Okamoto et al. (2000) descreve que em mdios e longos nveis de

    amputao, se deve utilizar ponte ssea unindo tbia e fbula, evitando uma

    migrao posterior da fbula e at o aparecimento de lceras resultantes de

    impactaes sseas.

    A amputao transtibial medial localizada na transio musculotendnea do

    msculo trceps sural considerada ideal para esse nvel. Com bom coxim terminal

    e bom comprimento do coto, os pacientes no encontram grandes dificuldades na

    reabilitao.

    Na amputao transtibial proximal, o nvel proximal mais aceito para esse tipo

    de amputao logo abaixo do tubrculo tibial com preservao do tendo do

    quadrceps para a extenso.

    A Qualidade de Vida tem sido a principal preocupao em pacientes com

    disfuno permanente onde os amputados transtibiais apresentaram os melhores

    resultados na reabilitao psicossocial (SILVA et al. 2008).

    Carvalho (2003) descreve as vantagens das amputaes transtibiais, que so

    as seguintes:

    Manuteno articular do joelho;

    Menor gasto energtico;

  • 54

    Facilidade para colocao/remoo da prtese;

    Marcha mais fisiolgica.

    3.3.11 Desarticulao do joelho

    Figuras 23 e 24: Desarticulaes de joelho. Fonte: Carvalho, 2003.

    A desarticulao de joelho foi durante muito tempo evitada e substituda pela

    amputao transfemoral, pois era considerada pelos cirurgies e reabilitadores como

    um nvel de amputao ruim, principalmente pela dificuldade e pela esttica das

    protetizaes (figs. 23 e 24). Atualmente sabemos que esse nvel tem inmeras

    vantagens diante da amputao transfemoral. Essa amputao bastante indicada

    a pacientes com traumatismos ortopdicos irreversveis, pa