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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA MARCELA RIBEIRO FOGLI O PASSADO E O FUTURO DOS CANAVIAIS PAULISTAS: FIM DAS QUEIMADAS E A MECANIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA (SP) ENTRE OS ANOS DE 2007 2015. VIÇOSA, MG 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA MARCELA RIBEIRO FOGLI

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

    MARCELA RIBEIRO FOGLI

    O PASSADO E O FUTURO DOS CANAVIAIS PAULISTAS: FIM DAS QUEIMADAS E

    A MECANIZAO NO MUNICPIO DE ARARAQUARA (SP) ENTRE OS ANOS DE

    2007 2015.

    VIOSA, MG

    2015

  • MARCELA RIBEIRO FOGLI

    O PASSADO E O FUTURO DOS CANAVIAIS PAULISTAS: FIM DAS QUEIMADAS E

    A MECANIZAO NO MUNICPIO DE ARARAQUARA (SP) ENTRE OS ANOS DE

    2007 E 2015.

    Monografia apresentada ao curso de Geografia

    da Universidade Federal de Viosa, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de

    bacharel.

    Orientador: Edson Soares Fialho

    VIOSA, MG

    2015

  • MARCELA RIBEIRO FOGLI

    O PASSADO E O FUTURO DOS CANAVIAIS PAULISTAS: FIM DAS QUEIMADAS E

    A MECANIZAO NO MUNICPIO DE ARARAQUARA (SP) ENTRE OS ANOS DE

    2007 2015.

    Monografia apresentada ao curso de Geografia

    da Universidade Federal de Viosa, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de

    bacharel.

    Orientador: Edson Soares Fialho

    APROVADA:

    Prof. Dr. Marilda Teles Maracci

    Departamento de Geografia UFV

    Prof. Dr. Leonardo Civale

    Departamento de Geografia UFV

    Prof. Dr. Edson Soares Fialho Orientador

    Departamento de Geografia UFV

    VIOSA, MG

    2015

  • AGRADECIMENTOS

    Ao meu pai Donizeti, pelo exemplo, pela dedicao, pela fora, por tanto carinho e por ser a

    pessoa mais incrvel que eu j conheci na vida. Por ser o maior amor da minha vida e a

    certeza de que eu nunca estarei s. minha me Maria da Graa por me dar a vida, por me

    amparar sempre, por me guiar at a cana-de-acar e por sempre dar graa aos meus dias

    ainda que eles fossem difceis. Obrigada por viverem isso comigo todos os dias.

    minha irm Nanda, por me fazer companhia nos dias difceis, por me fazer rir e ser o

    melhor riso da minha vida. Ao cunhado Stefan por aceitar fazer parte dessa jornada com todos

    ns. prima-irm Patrcia pelo amor incondicional, por estar sempre ao meu lado nos

    momentos decisivos, por vir sempre Viosa me cobrir de carinhos e mimos.

    Ao amado Giancarlo, por todas as risadas (e no foram poucas), pelos conselhos, por ser to

    presente nesses nossos sete anos de convvio e acima de tudo por tanto amor. Te amo por toda

    a vida! melhor amiga do mundo Daniella por me amar, me fazer companhia e por torcer por

    mim sempre. Ao querido Juni por rir comigo e me acompanhar to de perto sempre.

    Aos meus familiares tanto por parte dos Ribeiro quanto dos Fogli, obrigada por tanto carinho

    e amor. Por todas as risadas e os reencontros pelos quais sempre passamos juntos. Aos

    queridos de Araraquara que sempre me recebem nas minhas voltas para a terra querida,

    especialmente Tio Roberto e Tia Susana. Tia Zia por sempre me aguardar nas frias e ser

    uma companhia to boa e presente na minha vida. s amigas Nicole e Rebeca por aceitarem

    entrar para a famlia Ribeiro Fogli e querida Roberta pelos nossos 11 anos de amizade e

    timas risadas.

    Aos amigos de Viosa pela jornada e por serem to companheiros e queridos. Especialmente:

    Victor, Eudi, Nina, Gabi, Lus, Thales, Xu, Maroca, Las, Bia, Chulipa, Ali, Carol, Isa, Ana

    Paula, Nath, Lo, Vencio, Pops, Nael e tantos outros queridos. Obrigada por chegarem e

    principalmente por permanecerem. Amo-os imensamente e sentirei saudades.

    Aos professores do Departamento de Geografia, agradeo pelo conhecimento adquirido.

    Obrigada, mestres! Muito obrigada! Agradeo tambm a todos os funcionrios do DGE.

    Obrigada!

  • And a fighter by his trade

    And he carrys the reminders

    Of every glove that layed him down

    Or cut him till he cried out

    In his anger and his shame

    I am leaving I am leaving

    But the fighter still remains. - (Simon e Garfunkel)

  • RESUMO

    A cana-de-acar uma das culturas mais importantes no cenrio agrcola brasileiro, sendo

    uma das culturas mais antigas cultivadas no pas. A grande maioria dos estados brasileiros

    cultiva a cana-de-acar seja para a produo e exportao do acar, do etanol ou da

    aguardente, seus principais produtos fabricados a partir da cultura canavieira. O Estado de So

    Paulo o maior responsvel pela plantao da cana-de-acar e pela produo de seus

    derivados. No entanto, existem prticas por trs do cultivo da cana-de-acar que so

    extremamente nocivas para o meio ambiente e tambm para os moradores dos entornos dos

    canaviais, bem como para quem trabalha no corte da cana-de-acar. De alguns anos at a

    atualidade, passou a existir um esforo por parte dos Governos Federal e Estadual na tentativa

    de coibir e acabar completamente com a queimada da palha da cana-de-acar, uma vez que a

    fumaa extremamente nociva ao meio ambiente (fauna, flora e qualidade do ar), o fogo to

    prximo ao solo responsvel por deix-lo mais pobre gradualmente (queima de matria

    orgnica). Este solo perde tambm a capacidade de reteno de gua ao longo do tempo, o

    fogo. Baseado em todo o exposto acima, o presente trabalho tem como objetivo dar

    significncia mecanizao das lavouras de cana-de-acar, bem como tratar das vantagens e

    possveis desvantagens da aplicao em larga escala desse modo de produo to utilizado e

    aplicado em outras culturas brasileiras, no municpio de Araraquara, localizado no interior

    paulista.

    Palavras-chave: cana-de-acar, mecanizao, queimadas.

  • ABSTRACT

    Sugarcane is one of the most important crops in the Brazilian agricultural scene being one of

    the oldest crops cultivated in the country. The vast majority of Brazilian states cultivate

    sugarcane either for the production and export of sugar, ethanol or spirits, its main products

    manufactured from sugar cane. The State of So Paulo is the biggest responsible for the

    planting of sugarcane and production of its derivatives. However, there are practicalities

    behind the cultivation of sugarcane that are extremely harmful to the environment and also to

    the residents of the surroundings of sugarcane plantations, as well as for those working in

    cutting sugarcane. A few years to the present, came into existence an effort by the Federal and

    State governments to try to prevent and completely ban the burn of sugarcane straw, since the

    smoke is extremely harmful to the environment (fauna, flora and air quality), the fire so close

    to the ground is responsible for leaving him poorer gradually (burning of organic matter).

    This soil also loses water retention capacity over time. Based on all the above, this paper aims

    to give significance to the mechanization of sugarcane crops, as well as address the benefits

    and possible disadvantages of applying this method in large scale production, since it is

    largely used and applied in other Brazilian cultures. This study was done in the city of

    Araraquara, located in the countryside of So Paulo state.

    Key words: Sugarcane, mechanization, pre-harvest sugarcane burning.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - MECANIZAO DAS LAVOURAS PAULISTAS (FONTE: SITE DA EMBRAPA, 2009) 18

    FIGURA 2 - O CRESCIMENTO DE ARARAQUARA-SP (FONTE: SITE DO JORNAL CORREIO

    CAPIXABA, 2013). 22

    FIGURA 3 O BRASIL E O ESTADO DE SO PAULO DESTACANDO O MUNICPIO DE

    ARARAQUARA (ELABORAO: MARCELA RIBEIRO FOGLI). 24

    FIGURA 4 - CANA DE ACAR CRUA (FONTE: SIFAEG, 2009). 43

    FIGURA 5 LCOOL ANIDRO (FONTE: SITE DA USINA SO JOS, 2008). 45

    FIGURA 6 LCOOL HIDRATADO (FONTE: SITE DA USINA SO JOS, 2008). 46

    FIGURA 7 COLHEITADEIRA E CAMINHO COLHENDO CANA-DE-ACAR EM LAVOURAS

    DO ESTADO PAULISTA COM A MECANIZAO. (FONTE: UNICA, 2012). 51

    FIGURA 8 COLHEITADEIRA DE CANA-DE-ACAR EM LAVOURAS DO ESTADO PAULISTA

    APS A MECANIZAO (FONTE: JORNAL DE LIMEIRA, 2013). 51

    FIGURA 9 MAPA DA LOCALIZAO DA REGIO ADMINISTRATIVA CENTRAL DO ESTADO

    DE SO PAULO. (FONTE: INSTITUTO GEOGRFICO E CARTOGRFICO (IGC), 2010). 56

    FIGURA 10 - EVOLUO DA COLHEITA DA CANA-DE-ACAR NA REGIO

    ADMINISTRATIVA CENTRAL. (FONTE: CANASAT E AGROSATELITE, 2014). 57

    FIGURA 11 - MAPA DOS MUNICPIOS PAULISTAS E DA COLHEITA FEITA COM A CANA DE

    ACAR CRUA OU COM A QUEIMA EM 2015. (FONTE: CANASAT, 2015). 58

    FIGURA 12 - MAPA DOS MUNICPIOS PAULISTAS E DA COLHEITA FEITA COM A CANA-DE-

    ACAR CRUA OU COM A QUEIMA EM 2015 COM DESTAQUE PARA O MUNICPIO DE

    ARARAQUARA. (FONTE: CANASAT, 2015). 59

    FIGURA 13 - TRABALHADOR CORTANDO A CANA-DE-ACAR QUE SOFREU PROCESSO DE

    DESPALHAMENTO POR QUEIMADA. (FONTE: INSTITUTO PAU BRASIL, 2010). 62

    FIGURA 14 - CONSEQUNCIAS DO PAGAMENTO DO CORTE DA CANA-DE-ACAR POR

    PRODUTIVIDADE (FONTE: REPRTER BRASIL, 2013). 63

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - PROJEO PARA A PRODUO SUCROALCOOLEIRA NO BRASIL. (FONTE:

    UNICA, 2008) 31

    TABELA 2 - DADOS SOBRE O CULTIVO DE CANA-DE-ACAR NO MUNDO NO ANO DE 2008

    (FONTE: FAO, 2008) 47

    TABELA 3 PLANTIO DE CANA-DE-ACAR, PRODUO DE ACAR E ETANOL ANIDRO E

    ETANOL HIDRATADO NA SAFRA 2007/2008 (FONTE: UNICA, 2010). 53

    TABELA 4 - PLANTIO DE CANA-DE-ACAR, PRODUO DE ACAR E DE ETANOL ANIDRO

    E ETANOL HIDRATADO NA SAFRA 2014/2015 (FONTE: UNICA, 2015). 54

    TABELA 5 - CULTIVO E COLHEITA DE CANA-DE-ACAR ENTRE OS PERODOS DE SAFRA

    DE 2007/2008 2014/2015. (FONTE: UNICA, 2015). 54

    TABELA 6 REA COLHIDA CRUA, COM QUEIMA E TOTAL COLHIDO EM ARARAQUARA

    (SP) ENTRE OS ANOS DE 2006 2012. (FONTE: CANASAT, 2015). 59

  • LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 1 REA COLHIDA CRUA, COM QUEIMA E TOTAL COLHIDO NO MUNICPIO DE

    ARARAQUARA (SP). (FONTE: CANASAT, 2015). 60

  • SUMRIO

    1 INTRODUO 12

    2 JUSTIFICATIVA 16

    3 OBJETIVOS 19

    3.1 GERAIS 19

    3.2 ESPECFICOS 19

    4 REA DE ESTUDO 200

    5 METODOLOGIA 255

    6 ANLISE 2929

    7 OBJETO DE ESTUDO 43

    8 RESULTADOS E DISCUSSO 49

    9 CONCLUSO 66

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 70

  • 12

    1 INTRODUO

    Desde o seu descobrimento, o Brasil passou por diversos ciclos produtivos, segundo

    Caio Prado Jr., enquanto colnia e com a sua independncia. O Pau-brasil bem como o ouro e

    a borracha foram alguns dos recursos naturais e minerais do Brasil bastante explorados at

    ento pela metrpole Portugal.

    Dentre as culturas produzidas e exploradas no Brasil enquanto colnia e mais tarde

    como repblica, a cana-de-acar est presente nesta lista e apresenta enorme importncia

    para os rumos que o Brasil tomou depois da sua independncia. sabido que a cana-de-

    acar est presente no Brasil h aproximadamente 482 anos (produo aucareira), enquanto

    a comercializao com o mercado internacional tem aproximadamente 222 anos, segundo

    dados do artigo da Revista Tamoio escrito por Mateus de Almeida Prado Sampaio. (Ano VII.

    n2, pgina 03, 2011).

    O cultivo da cana-de-acar deu-se pela grande necessidade de colonizar e explorar

    um territrio at ento sem muita importncia para Portugal. Inmeros foram os motivos para

    a escolha da implantao da cana-de-acar no Brasil, entre eles destaca-se: o solo propcio

    para o cultivo e tambm o fato da cana-de-acar ser um produto muito bem cotado nos

    mercados europeus da poca. O produto era destinado unicamente para a exportao e gerava

    grandes lucros para a metrpole portuguesa, transformando-se assim no grande alicerce

    econmico de Portugal entre os sculos XVI e XVII.

    O setor sucroalcooleiro tem grande importncia econmica no Brasil desde o perodo

    colonial. Cabe ressaltar a importncia deste setor tambm no que diz respeito s migraes de

    vrios trabalhadores braais para a regio Sudeste. A cada safra, a cadeia produtiva da cana

    movimenta mais intensamente a economia e o setor agroindustrial do Brasil. A produo de

    derivados da cana-de-acar passou por grandes mudanas desde os anos 70 at hoje.

    Devido aos vrios acontecimentos tanto no mundo quanto no Brasil, as produes de

    cana-de-acar e de lcool (tanto anidro quanto o hidratado) sofreram grandes oscilaes ao

    longo dos ltimos anos devido disponibilidade de tecnologias novas a serem implementadas

    nas lavouras de cana-de-acar. Falando sobre acontecimentos que mudaram o rumo que a

    cana-de-acar tomaria no pas, foi durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que

  • 13

    segundo Szmrecsnyi (1991, p.57) ocorreu a mudana da produo canavieira do Brasil para

    o sudeste.

    E foi essa expanso dos anos da Segunda Guerra que deu origem definitiva

    transferncia do eixo da produo canavieira e aucareira para os Estados do

    sudeste do Brasil, uma transferncia que s chegou a se completar de fato na

    dcada de 1950, mas que j podia ser percebida ao trmino do conflito.

    De acordo com o texto O longo processo histrico de consolidao da

    macrorregio canavieira paulista de Mateus de Almeida Prado Sampaio, existem relatos

    sobre as primeiras mudas de cana-de-acar que chegaram ao Brasil e dos homens que as

    trouxeram para a colnia portuguesa at ento. No entanto, cabe ressaltar que a experincia

    com a cana-de-acar no Brasil s obteve sucesso muito tempo depois que as primeiras

    mudas aqui chegaram. (Revista Tamoios - Ano VII. n2, pgina 03, 2011).

    Atribui-se a plantao das primeiras mudas de cana-de-acar trazidas da Ilha

    da Madeira na Amrica Portuguesa, Martim Afonso de Sousa, primeiro

    donatrio da capitania de So Vicente (raiz litornea do que viria a ser So Paulo).

    Seu sucesso foi medocre, porm no nulo. .

    Porm, leva tempo at que a cana-de-acar comeasse a ser uma cultura difundida na

    colnia portuguesa. Foi principalmente no Nordeste brasileiro que a cana prosperou por volta

    do incio do sculo XVI, levando o Brasil ao posto de grande exportador de acar at o

    sculo VXII. Atualmente, porm, no interior do Estado de So Paulo que se localiza a maior

    parte dos canaviais brasileiros. O acar acabou perdendo lugar para o lcool, especialmente o

    etanol, que se destacou economicamente como combustvel para os automveis.

    Com a crise do petrleo nos anos de 1973 e 1979, passou a existir uma preocupao

    com a localizao dos combustveis fosseis finitos, sendo que grande parte da sua produo se

    localizava em regies de conflitos geopolticos. Foi ento que houve a necessidade de buscar

    alternativas viveis para a substituio do petrleo, por exemplo, na produo de gasolina que

    era ento o combustvel que movia os carros da poca.

    No Estado de So Paulo, a cultura da cana-de-acar teve grande importncia e esse

    destaque continua at a atualidade. So Paulo o estado que mais planta essa cultura e

    tambm importante pelas grandes usinas que se encontram em seu territrio. O destaque vai

    para o perodo aps a proclamao da repblica (1889), onde comearam a surgir as primeiras

    usinas de acar no Estado. O processo usineiro diferenciava-se de seu antecessor por no

  • 14

    segregar as atividades de cultivo da terra das de fabricao industrial do acar, formando

    ainda naquela poca verdadeiras agroindstrias.

    A cana-de-acar passou a ser o ouro paulista, onde o estado comeou a concentrar

    foras na plantao dessa cultura e na produo de seus derivados como, por exemplo, o

    acar e a aguardente. Vale ressaltar que o Brasil, especificamente o Estado de So Paulo,

    possui condies bastante favorveis para o cultivo da cana-de-acar.

    De acordo com dados do Ministrio da Agricultura de 2014, o Brasil atualmente

    responsvel por mais da metade do comrcio de acar do mundo. Nos prximos anos o pas

    dele alcanar na safra de 2018/19, aproximadamente 47,34 milhes de toneladas de cana-de-

    acar colhida. Ainda para 2019, o Brasil deve exportar aproximadamente 32,6 milhes de

    toneladas, o que representa um aumento de 14,6 milhes de toneladas em relao aos anos de

    2007/08.

    Com a cultura da cana-de-acar to difundida principalmente no interior de So

    Paulo, destaque para a regio da cidade de Araraquara, uma prtica muito comum entre os

    produtores a queima da palha da cana, que tem como propsito facilitar as operaes de

    colheita. Essa prtica apresenta uma srie de vantagens para quem trabalha nas lavouras, mas

    em contrapartida tambm apresente uma srie de desvantagens tanto para os trabalhadores,

    quanto para o meio ambiente, solo, atmosfera, qualidade do ar e para os moradores do entorno

    das lavouras canavieiras.

    Baseando-se nos problemas causados pelas queimadas nas lavouras de cana-de-acar,

    foi estabelecido pelo Ministrio Pblico Federal (MPF) que at o ano de 2017 como prazo

    final, nenhum produtor de cana-de-acar poder mais queimar a palha da cana-de-acar,

    bem como permitir o corte manual dessa cultura em suas lavouras sob pena de responder um

    processo e o pagamento de multas pesadas previamente estipuladas. Vale ainda ressaltar o

    fato de que o prazo para o final da queimada estipulado para o ano de 2017 s se aplica s

    lavouras que possuem grande declividade. Para as reas mais planas do Estado de So Paulo,

    o prazo ainda menor.

    O Estado de So Paulo por apresentar a maior economia do pas, ser responsvel por

    uma grande parcela do PIB do pas, apresenta uma situao de contradio quando se analisa

    a situao de escravido moderna a qual os trabalhadores rurais esto inseridos. O custo

  • 15

    humano das lavouras canavieiras grande e a partir de 2017 outros problemas ainda ligados

    cultura da cana-de-acar devero ser resolvidos.

  • 16

    2 JUSTIFICATIVA

    Atualmente a cultura da cana-de-acar no Brasil ocupa mais de dez milhes de

    hectares do territrio brasileiro, segundo a UNICA (Unio da Indstria de Cana-de-acar,

    2014) e faz do pas o maior produtor mundial de cana e dos seus derivados. A regio Centro-

    Sul responde por aproximadamente 96% da produo total. O Estado de So Paulo, maior

    produtor, vem buscando viabilizar a sustentabilidade desse agronegcio por meio de um

    protocolo de intenes, regido por lei, em que a prtica da queima da palha da cana deve ser

    gradativamente reduzida at sua completa eliminao.

    A adoo definitiva da colheita mecanizada da cana-de-acar possibilitar maior

    ganho ambiental e resultar em menor emisso de poluentes atmosfricos e gases de efeito

    estufa, alm da melhoria da qualidade do solo, entre tantos outros ganhos. A sade dos

    moradores do entorno dos canaviais tambm seria poupada, j que a queimada da cana-de-

    acar pode causar grandes problemas para a sade de crianas e idosos, principalmente.

    Esses problemas so em sua grande maioria respiratrios. Sem contar tambm com a sade

    dos trabalhadores rurais que tambm muito prejudicada pela queimada. Outra questo

    importante que gira em torno das queimadas o gasto de gua para que as fuligens que as

    queimadas soltam possam ser lavadas das casas do entorno dos canaviais.

    O processo de cultivo da cana-de-acar bem como os diversos processos pelos quais

    a cana passa, ou seja, o plantio, o cultivo, o despalhamento e o seu intermedirio que so as

    usinas e por fim o mercado interno ou externo envolve a participao de diversos

    trabalhadores. Cada parte do processo de produo da cana-de-acar tem vantagens e

    desvantagens com relao maneira que so executados, algumas partes desse processo so

    perigosos, danosos ao meio ambiente e tambm a sade humana.

    Deixando de praticar as queimadas da palha da cana-de-acar e adotando o sistema

    de colheita mecanizada, os produtores rurais e as usinas reduziro os custos de produo e

    eliminaro os encargos trabalhistas? Haver uma considervel reduo do nmero de

    empregados nas lavouras de cana-de-acar? O que pode ser visto sob dois aspectos

    diferentes: a necessidade de acabar com subempregos que oferecem pssimas condies de

    trabalho (sem contar o prejuzo para a sade dos trabalhadores rurais) e a obrigao de abrir a

  • 17

    discusso que envolve de que maneira esses trabalhadores sero reinseridos no mercado de

    trabalho?

    Quando o tema gira em torno das condies de trabalho dos trabalhadores rurais no

    corte da cana-de-acar no interior de So Paulo, vrias questes devem ser consideradas e

    explicitadas. fundamental ressaltar que uma parcela significativa desses trabalhadores vem

    de outros estados como, por exemplo, o Piau e o Maranho, de acordo com o texto de

    Francisco Jos da Costa Alves e Jos Roberto Novaes (2009) Migrantes Trabalho e

    Trabalhadores no Complexo Agroindustrial Canavieiro (Os heris do agronegcio

    brasileiro). Fala-se ainda que essas constantes migraes so resultado da deteriorao das

    condies de sobrevivncia e trabalho dos pequenos produtores familiares camponeses em

    seus estados de origem.

    Os principais pases produtores de cana-de-acar tambm adotam como prtica o

    despalhamento da cana feito atravs das queimadas. As principais razes que levam os

    produtores e usineiros a tocarem fogo em seus canaviais so: a segurana do trabalhador uma

    vez que a queima afasta e acaba com os animais peonhentos que utilizam os canaviais de

    abrigo, o aumento do rendimento do corte de cana, a melhoria no cultivo e em novos plantios

    e a eliminao das impurezas.

    Os impactos das queimadas de cana influenciam na diminuio da biodiversidade

    animal por meio da perda de habitat ou morte de animais que utilizam o canavial para

    nidificao ou alimentao. A biodiversidade vegetal tambm ameaada em reas

    adjacentes s dos canaviais queimados, por se tornarem mais susceptveis aos incndios

    acidentais.

    O tema sobre o fim das queimadas da palha da cana-de-acar bem como seus

    desdobramentos e a proibio do corte manual da cana no Estado de So Paulo, destaque para

    a rea da cidade de Araraquara (SP) se justifica por ser de fundamental importncia entender

    como se daro os processos de mecanizao das reas possveis e suas principais

    consequncias.

    A busca por solues a respeito do despalhamento da cana-de-acar feito atravs das

    queimadas um assunto que gera vrias discusses bastante controversas, uma vez que a

    fiscalizao dessas possveis queimadas muito difcil de ser feita pela Poder Pblico. Neste

  • 18

    sentido, a participao popular se mostra efetiva e de grande relevncia para a diminuio

    gradual dessa prtica.

    De acordo com a EMBRAPA (2007), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria,

    j existe uma lei estadual que dentre outras coisas estipula vrios calendrios sobre a

    mecanizao das lavouras e a eliminao das queimadas nos canaviais paulistas.

    ... Em 2002, foi aprovada a Lei Estadual no 11.241, que estipulou um cronograma

    para a eliminao da queima nos canaviais a partir desse mesmo ano, com prazo

    final em 2021 para reas mecanizveis e em 2031 para reas no mecanizveis.

    Com o intuito de acelerar o processo de diminuio dessa queima, a Secretaria de

    Meio Ambiente (SMA) do Estado de So Paulo e a Unio da Indstria de Cana-De-

    Acar (UNICA) firmaram, em agosto de 2007, um protocolo de intenes em que a

    prtica da queima da palha da cana deve ser gradativamente reduzida at sua

    completa eliminao at 2017 (e at 2014 em reas mecanizveis). J para

    fornecedores de cana, a proposta a de que a eliminao total da queima ocorra

    at 2021. .

    A mecanizao da cana-de-acar tem tambm outro aspecto a ser destacado que o

    incentivo e tambm a necessidade por parte das usinas e dos produtores de buscarem mo de

    obra qualificada para o manuseio das mquinas que agora passam a fazer parte do processo

    produtivo.

    Figura 1 - Mecanizao das lavouras paulistas (FONTE: EMBRAPA, 2009)

  • 19

    3 OBJETIVOS

    3.1 GERAIS

    Analisar os impactos ambientais, sociais bem como a evoluo da produo de

    acar com a proibio da queima da palha da cana-de-acar no municpio de Araraquara

    SP.

    3.2 ESPECFICOS

    Observar e analisar os estragos e problemas tanto de ordem social, quanto com

    relao sade, fauna, flora e solo, que a constncia de se colocar fogo nos canaviais

    causaram e porque importante parar com essa prtica.

    Demonstrar as vantagens e as possveis desvantagens da mecanizao da cana-

    de-acar no municpio de Araraquara (SP).

  • 20

    4 REA DE ESTUDO

    De acordo com o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), existe

    uma teoria sobre o nome do municpio de Araraquara, que fala regio onde hoje se encontra o

    municpio como sendo um lugar habitado por ndios guaians. Embora muito distante dos

    grandes centros urbanos da poca, a regio foi, por dois momentos, parte de uma rota

    estratgica, que acabou incentivando sua ocupao. Isso aconteceu pela primeira vez no incio

    do sculo XVIII, quando foi descoberto ouro em Mato Grosso.

    No sculo XVIII, um astrnomo portugus, em viagem de explorao pelo rio

    Tiet, se deparou com uma grande cordilheira, cujos reflexos da luz do sol lhe

    fizeram enxergar uma grande cidade, que ainda no existia. quela regio os ndios

    guaian, ento seus habitantes, davam o nome de Aracoara (de ar, dia, e coara,

    toca ou morada).

    E foi sob a denominao de Campos de Aracoara, ou Serto de Aracoara, que entrou

    para a histria a rea que abrange desde a margem direita do rio Piracicaba at os confins do

    norte e oeste do Estado de So Paulo, incluindo os municpios de Araraquara, So Carlos e

    regio.

    Bem mais tarde, no sculo XIX, por ocasio da Guerra do Paraguai (1864-1870), era

    um dos caminhos que levavam as tropas brasileiras ao Mato Grosso e, de l, para as frentes de

    luta no Paraguai. Mas a conquista propriamente dita se deu com a tomada de posse das terras

    pelos brancos, entre eles Pedro Jos Neto, que, segundo os registros, parece ter sido o

    primeiro a se estabelecer na regio, em 1790.

    Esse processo de ocupao acontecia paralelamente ao sistema de distribuio legal de

    terras, as sesmarias, que teve incio em 1811. Nessa poca, a populao local era constituda

    por 82 pessoas, que se dedicavam criao de gado e lavoura de subsistncia.

    De acordo com o site do IBGE (2008):

    Escravos, camaradas, agregados e os prprios proprietrios das terras e suas

    famlias compunham a mo de obra. Assim, aqueles criadores de gado e

    plantadores de roa se tornaram o primeiro grupo dominante da regio, que, de

    zona pastoril, se transformaria aos poucos em campos agrcolas, cujas principais

    culturas seriam de incio a cana-de-acar, em seguida o caf e, mais recentemente,

    a laranja e de novo a cana.

  • 21

    O municpio de Araraquara est localizado no interior de So Paulo. Encontra-se

    localizada na regio central do estado de So Paulo, estando h 273 km da capital paulista.

    Localiza-se a 2147'40" de latitude sul e 4810'32" de longitude oeste, a uma altitude de 664

    metros. Sua populao estimativa em 2015 de 226,508 habitantes. O municpio est

    praticamente conurbado com Amrico Brasiliense. Faz divisa com os municpios de: So

    Carlos, Amrico Brasiliense, Mato, Ibat, Boa Esperana do Sul, Motuca, Santa Lcia,

    Rinco e Gavio Peixoto. (IBGE, 2007)

    O municpio, juntamente com So Carlos e outras 26 cidades, integra a Regio

    Administrativa Central do estado, compreendendo uma populao de cerca de um milho de

    habitantes. A cidade possui um distrito: Bueno de Andrada a noroeste do distrito-sede, e do

    subdistrito de Vila Xavier, este conurbado com o distrito-sede.

    O municpio possui uma rea total de 1.006 km, sendo 77,37 km de rea urbana.

    Destes, aproximadamente 39 km so relativos rea urbana consolidada. A cidade

    geograficamente apresenta dficits em sua estrutura urbana, tendo nas ltimas dcadas

    crescido sem planejamento. Muitos prefeitos preferiram alocar a classe operria em bairros

    distantes e isso acabou acarretando vultosos investimentos em infraestrutura. Como resultado,

    a cidade se espalhou em meio a inmeros vazios urbanos. O novo Plano Diretor aprovado

    pretende dirimir estes problemas. O municpio tambm est praticamente conurbado com

    Amrico Brasiliense. (IBGE, 2009).

    A imagem a seguir foi publicada no Jornal Correio Capixaba e mostra o grande

    desenvolvimento que a cidade de Araraquara (SP) vem sofrendo, com o investimento de

    capital, principalmente, estrangeiro. Sero feitos vrios tipos de investimentos, sendo que a

    regio onde a cidade se situa j alvo de grandes investimentos e da abertura de grandes

    empresas multinacionais.

  • 22

    Figura 2 - O crescimento de Araraquara-SP (FONTE: site do jornal Correio Capixaba, 2013).

    A estrutura industrial do municpio est baseada na agroindstria, representada pelo

    binmio cana e laranja. Outros setores de destaque da economia local so os setores metal-

    mecnico, indstria txtil, tecnologia de informao, aeronutico e servios, com empresas

    que empregam mo de obra intensiva.

    Araraquara um municpio privilegiado na rea de transporte de cargas. Rodovias

    importantes para o Estado e para o Brasil cortam o municpio, como as SP-255 (norte/sul) e

    SP-310 (leste/oeste). Araraquara tambm abriga um dos principais terminais ferrovirios de

    carga do Pas, ligando regies produtoras (Centro-oeste) e exportadoras (capital paulista e

    portos martimos).

    Baseado nas pesquisas realizadas sobre o tema fica evidente a estrutura que o interior

    paulista, especialmente a regio de Araraquara (SP) construiu ao longo dos anos baseada em

    grandes empresas, injeo de capital tanto interno quanto externo e com o apoio

  • 23

    imprescindvel das universidades pblicas que servem at hoje como verdadeiros polos de

    conhecimento e manuseio de tecnologias.

    O clima do municpio de Araraquara (SP) pode ser classificado como tropical de

    altitude, registrando temperaturas mnimas por volta de 16C, temperaturas mdias por volta

    de 26C e temperaturas mximas por volta de 37C. Apresenta um clima propcio para a

    plantao e cultivo da cana-de-acar, uma vez que apresenta inverno seco e vero chuvoso.

    No municpio de Araraquara (SP), a mecanizao da cana-de-acar foi bem aceita

    pelos produtores e na safra de 2013, 89,4% de toda a produo saiu crua das lavouras, ou seja,

    sem a necessidade da queimada da palha de acordo com o site do Ministrio da Agricultura

    (2013).

    O final das queimadas s o comeo da discusso deste tema to relevante e

    controverso principalmente para os produtores de cana-de-acar, uma vez que essa lei afeta

    toda a cadeia de produo, do grande latifundirio at o pequeno produtor. A proibio da

    queimada da cana faz vir tona vrias outras questes importantes como, por exemplo, a

    necessidade se investir no maquinrio necessrio para a mecanizao, bem como de que

    maneira os agora ex-trabalhadores rurais passaro a ser reinseridos no mercado de trabalho de

    maneira menos precria.

    Existem vrios artigos, monografias, dissertaes e teses que tratam da necessidade da

    eliminao da queimada da palha da cana-de-acar por diversos motivos, incluindo entre

    eles, a sade dos trabalhadores rurais que so expostos a longas jornadas de trabalho, alm de

    respirar o ar poludo ps-queimada. Essa prtica conta ainda com pequenos carvezinhos

    que so produzidos pela queimada dos canaviais. Esses carvezinhos infestam as ruas, e

    principalmente as casas dos moradores das redondezas causando desconforto e grande gasto

    de gua para que seja feita a limpeza das residncias.

    Por toda a importncia que a cana-de-acar e seus derivados tiveram e continuar a ter

    atualmente, importante analisar e compreender as profundas modificaes que a produo e

    cultivo dessa cultura sofrero quando acabar o prazo para o fim das queimadas nos canaviais

    paulistas e os possveis desdobramentos e impactos que essa proibio causar a uma parte da

    agricultura brasileira que tem essa prtica como um de seus pilares h vrios sculos.

  • 24

    Figura 3 O Brasil e o Estado de So Paulo destacando o municpio de Araraquara

    (Elaborao: Marcela Ribeiro Fogli).

  • 25

    5 METODOLOGIA

    Os mtodos a serem empregados em uma pesquisa cientfica so vrios e buscam

    atender a diversos campos do saber. A pesquisa cientfica pode ser dividida quanto sua

    abordagem em dois grandes grupos: a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, sendo

    que ambas so de extrema importncia para se buscar conhecimentos e vrias reas diferentes

    do saber. A reunio dos mtodos qualitativo e quantitativa em uma s pesquisa permite o

    recolhimento de dados que no poderiam ser conseguidos se usado somente um mtodo

    isolado. (FONSECA, 2002 p 47).

    O presente projeto de pesquisa buscar desenvolver uma pesquisa cientfica

    quantitativa (de influncia Positivista), ou seja, dando importncia aos nmeros que sero

    obtidos como resultado da pesquisa, sendo esses nmeros um retrato real do recorte dado pelo

    cientista na sua pesquisa. A pesquisa quantitativa acredita que a realidade s pode ser

    compreendida atravs da anlise de dados brutos, recolhidos com a ajuda de instrumentos

    abalizados e neutros.

    Quanto natureza da presente monografia sobre a mecanizao das lavouras de cana-

    de-acar e suas implicaes no municpio de Araraquara (SP), pode se dizer que essa uma

    pesquisa cientfica aplicada, ou seja, o objetivo principal desse tipo de pesquisa gerar

    conhecimento que pode ser aplicado de maneira prtica na soluo de problemas especficos.

    Quanto aos seus procedimentos, esse projeto de pesquisa pode ser caracterizado como

    sendo uma pesquisa bibliogrfica, uma vez que tenta reunir o maior nmero possvel de

    material (seja monografia, teses, dissertaes, artigos, livros e publicaes em sites) j escrito

    por estudiosos do assunto cana-de-acar e suas relaes tanto com o social, quanto com o

    econmico e tambm com o ambiental. Esse trabalho passa tambm pelo lado da pesquisa

    documental, que baseada em tabelas estatsticas, jornais, revistas, documentos oficiais,

    relatrios de empresas e etc. O trabalho cientfico elaborado pode ser considerado tambm

    uma pesquisa ex-post-facto, ou seja, utiliza dados coletados aps a ocorrncia dos fatos.

    Outro tipo de pesquisa muito importante e comum que esse trabalho tambm se

    encaixa na pesquisa tratada como estudo de caso, ou seja, esse trabalho pretende estudar e

    analisar o caso do municpio de Araraquara (SP) e os desdobramentos e consequncias

  • 26

    envolvidas na mecanizao das lavouras e na sada dos trabalhadores rurais de seus postos de

    trabalho. Visa conhecer profundamente os motivos que levaram a regio de Araraquara (SP) a

    expandir de maneira importante e se consolidar como uma regio importante na produo de

    cana-de-acar e seus derivados e na atrao de investimentos de capital principalmente

    estrangeiro para a rea.

    As tcnicas utilizadas na elaborao da presente monografia dentre tantas foram: o

    levantamento documental principalmente, ou seja, a busca de fontes e materiais j publicados

    que pudessem servir de espinha dorsal confeco do presente trabalho e dar ao mesmo

    embasamento tanto terico quanto carga de conhecimento de campo e tambm buscou-se

    trabalhar e entender a estatstica e os nmeros que envolvem a mecanizao das lavouras,

    estando esses nmeros relacionados tanto ao lado social quanto ao lado econmico e tambm

    ambiental, haja visto as diversas implicaes que a utilizao de maquinrio tecnolgico

    implicar no municpio de Araraquara (SP).

    Os procedimentos utilizados para a construo deste estudo se baseiam em pesquisas

    bibliogrficas e buscas em sites de abrangncia nacional como, por exemplo, o CanaSat que

    trabalha com satlites mapeando vrios aspectos da cana-de-acar em diversas cidades do

    Brasil. A UNICA, que apresenta diversos dados sobre a produo de cana-de-acar tanto

    para a produo de acar quanto de etanol e trata de vrios outros aspectos do cultivo dessa

    cultura.

    IBGE, EMBRAPA, MAPA, dentre outros rgos com endereo eletrnico tambm

    contriburam para um trabalho cientifico com diversos dados recentes e outras informaes de

    suma importncia para o total domnio do tema e dos seus detalhes mais relevantes. Outros

    sites de menor importncia tambm foram usados para completar o presente trabalho.

    Vrios autores tambm fizeram parte da confeco deste trabalho somando aos dados

    seus conhecimentos sobre o assunto. Publicaes muito recentes ou mais antigas que vieram

    de encontro ao tema e criaram um grande arcabouo de informaes, dados e conhecimento

    geogrfico sobre o assunto cana-de-acar. Alguns artigos cientficos, bem como teses de

    doutorado e dissertaes de mestrado tambm puderam ser usadas para ajudar a completar o

    trabalho.

  • 27

    O trabalho buscou observar mudanas pontuais nas lavouras canavieiras com a

    implantao da mecanizao em diversas propriedades e com o fim das queimadas da palha

    da cana-de-acar. Um dos objetivos era observar como se deu essa mudana que passou a

    vigorar no ano de 2007 e que tem como prazo final a completa adaptao das lavouras at o

    ano de 2017, onde o trabalho braal nas lavouras e o fogo nos canaviais devem ser extintos

    completamente obedecendo s novas leis e diretrizes que falam do assunto.

    Foram observadas as lavouras de cana-de-acar no municpio de Araraquara (SP) a

    partir do ano de 2007 e o possvel encolhimento da atividade canavieira nos limites do

    municpio com as novas leis e proibies. Embora os produtores de cana-de-acar do

    municpio paream ter se adaptado bem nova realidade agroindustrial, cabe a este trabalho

    tambm observar como essa transio se deu.

    Para a realizao deste trabalho vrias fontes foram pesquisadas buscando dados

    consistentes sobre o tema. A principal pergunta a ser respondida nessa monografia Com a

    mecanizao das lavouras de cana-de-acar no municpio de Araraquara (SP), bem como

    com a proibio do corte manual da cana e a queimada da palha desta cultura, haver

    impacto na produtividade de maneira positiva ou negativa?.

    Com o objetivo principal de responder pergunta exposta acima, foi necessrio fazer

    um grande apanhado de dados sobre o tema nos mais diversos meios. Livros, publicaes de

    vrios autores sobre o tema cana-de-acar, sites confiveis, com dados atualizados sobre o

    assunto. Vrios aspectos e dados foram analisados como, por exemplo, dados sobre

    produtividade de alguns anos especficos, percentual de rea mecanizada no municpio de

    Araraquara (SP), percentual de rea que est fazendo corte da cana-de-acar crua no

    municpio, bem como alguns outros aspectos sobre a produo sucroalcooleira araraquarense.

    Foram usados como fonte vrios sites de confiana e rgos, instituies, institutos,

    associaes, dentre outros grupos interessados na produo canavieira no municpio

    araraquarense. rgos como o MAPA (Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento),

    a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria), o IEA (Instituto de Economia

    Agrcola), a UNICA (Unio da Indstria de Cana-de-acar), o IBGE (Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica) e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Destaque para o

    site CANASAT, responsvel por dados completos e fotos de satlite, bem como mapas

  • 28

    confeccionados abordando o tema cana-de-acar com dados atualizados e pertinentes ao

    tema do presente trabalho.

    A grande maioria dos dados e informaes pertinentes ao tema deste trabalho pode ser

    encontrada em sites nacionais de fcil e rpido acesso e contendo informaes preciosas para

    a anlise das ltimas safras da cana-de-acar em todo o pas, mas principalmente no Estado

    de So Paulo. Estes sites ajudam a dar respaldo aos textos e conhecimento adquirido ao longo

    da confeco deste trabalho. Cabe destacar a importncia e o conhecimento extrado de cada

    site. So eles:

    MAPA (Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento):

    disponibilizados dados e informaes sobre aspectos gerais da cultura canavieira no Brasil,

    bem como alguns dados econmicos;

    EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuria): dados

    histricos e detalhes sobre o cultivo da cana-de-acar no Brasil, ressaltando pontos mais

    ligados Agronomia e a outras disciplinas envolvidas no estudo da cana.

    IEA (Instituto de Economia Agrcola): informaes econmicas sobre

    diversas culturas produzidas no Brasil, bem como informaes sobre a importncia do setor

    sucroalcooleiro para a economia do pas, e mais especificamente para o Estado de So Paulo.

    UNICA (Unio da Indstria de Cana-de-acar): dados e informaes

    bastante especficos sobre aspectos agrcolas, industriais e de produo relacionados cana-

    de-acar.

    IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica): dados, informaes,

    mapas e grficos, sobre o municpio de Araraquara (SP). Utilizados os dados para

    complementar detalhes cerca dos campos sociais, econmicos e a contextualizao histrica

    dentre outros detalhes relevantes para o trabalho.

    INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): mais atualmente o site

    tem prestado um servio importante para a fiscalizao das queimadas de cana-de-acar que

    ainda possam estar ocorrendo no Estado de So Paulo. O site se presta a monitorar atravs do

    sensor VIIRS/satlite NPP (com resoluo de 375 metros).

    CANASAT: dados, grficos e mapas atualizados de produtividade nas safras

    de vrios anos, e o destaque para os dados especializados, a confeco de mapas sobre o

    tema como, por exemplo, o percentual de cana-de-acar crua (que no passa pelo processo

    de despalhamento atravs da queimada) colhida em diversos estados brasileiros.

  • 29

    6 ANLISE

    Segundo Ferreira, Alves e Ruas (2008, pgina 199), aps a segunda grande guerra,

    passou a haver a grande expanso da cultura canavieira, na poro leste do estado, sendo

    que nessa regio se concentrava a maior parte da populao do estado, uma grande produo

    industrial e tambm vale ressaltar a presena do porto de Santos, que ajudava a escoar as

    produes paulistas, principalmente.

    De acordo com Petrone (1968, pgina 42), na metade do sculo XVIII, a cultura

    canavieira despontava no interior do Estado de So Paulo, numa regio que acabou sendo

    conhecida como Quadriltero do Acar, composta pelas cidades de Sorocaba, Jundia e

    Campinas, constituindo-se desta maneira no primeiro surto econmico do Estado.

    Segundo Casalecchi (1973, pgina 29), no primeiro quarto do sculo XIX, a cana-de-

    acar penetrava na regio de Araraquara, surgindo como rea de expanso do Quadriltero

    do acar, contando com dezesseis fazendas; enquanto Piracicaba e Mogi-Mirim,

    importantes centros, contavam com sessenta e uma e, vinte e sete fazendas, respectivamente.

    Por volta dos anos de 1945/46, foram implantadas 49 novas usinas de lcool e acar

    no Estado, ocorrendo a consolidao da rea canavieira de Araraquara e o surgimento das

    reas de Ja e do Vale do Paranapanema, sendo a criao dessas usinas diretamente ligadas

    aos estmulos das polticas do IAA (Instituto do Acar e do lcool), durante o governo do

    Presidente Dutra.

    O setor sucroalcooleiro no Brasil tem sua origem e seu desenvolvimento diretamente

    relacionado a grupos familiares oligrquicos e que durante muito tempo no sofreram

    presses, por estarem protegidos pela proximidade do poder (quando no o representavam

    diretamente); por uma legislao que, quando existente, sempre foi pouco aplicada (e muitas

    vezes, quando aplicada, o era de forma displicente e com tempos de adequao, para as

    irregularidades, muito extenso e multas com valores insignificantes frente ao ganho de

    capital); por trabalharem basicamente para um mercado interno monopolizado e tabelado (o

    que sempre gerou ganhos significativos); presena de mo de obra farta e com baixo custo (a

    maioria das vezes sem proteo trabalhista, com subempregos semiescravido, sem

  • 30

    carteira assinada, presena de terceirizao atravs de gatos para burlar as leis); baixo

    investimento em equipamentos e treinamentos, entre outros fatores (Santos, 2011 p 30).

    A cultura da cana-de-acar, em todas as suas fases, comeando pelo plantio at

    chegar colheita, no carregamento e no transporte demanda mo de obra humana no campo.

    De acordo com o SEADE (Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados), no ano de

    1994, a demanda de trabalho anual na cana-de-acar no Estado de So Paulo era de

    42,74%.

    Com a introduo da mecanizao na colheita no ano de 2013 era de

    aproximadamente 10.500 trabalhadores rurais, enquanto que nos anos de 1994 era de

    aproximadamente 16.000 trabalhadores, ou seja, houve uma perda de 35% da fora de

    trabalho nos canaviais da microrregio de Araraquara. (UNICA, 2014)

    A evoluo recente das condies de trabalho no setor sucroalcooleiro se reflete, por

    exemplo, na diminuio de autos de infrao registrados pelo Ministrio do Trabalho e

    Emprego (MTE) nos canaviais paulistas nos ltimos dez anos. De 588 autos registrados na

    produo de cana-de-acar em So Paulo no ano de 2006, o nmero caiu para 326 em 2012.

    (MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2013).

    A expanso da cana-de-acar ocorreu no contexto da modernizao da prpria

    agricultura brasileira e a partir do desenvolvimento de um novo padro de produo agrcola.

    Este padro pode ser caracterizado pela intensificao das relaes entre agricultura e

    indstria, pela expanso das exportaes, por significativas alteraes nas relaes tcnicas e

    sociais da produo, por inovaes e utilizao de insumos qumicos e mecnicos e pela

    forte presena do Estado atravs de polticas financeiras, fiscais e de fomento tecnolgico.

    Tambm um forte movimento migratrio regional contribuiu bastante com o

    desenvolvimento do complexo (MAZZALI, 2009 p 24).

    O municpio de Araraquara (SP) cercado por quatro usinas produtoras de acar e

    lcool, sendo a mais antiga a Usina Tamoio, fundada em 1917. As usinas localizadas na

    regio de Araraquara (SP) so: Tamoio Aucareira Corona S.A., a usina Zanin (Zanin

    Acar e lcool LTDA), a usina Santa Cruz (Ometto, Pavan, S.A. Acar e lcool) e

    tambm a usina Maring (Maring Indstria e Comrcio LTDA).

  • 31

    Com o lanamento do Prolcool em 1979, a produo dessas usinas duplicou e at

    mesmo triplicou, sendo que acabaram por virem outros empreendimentos para a fabricao

    do lcool. Foi uma poca de grande prosperidade para a regio que passou a receber um

    maior nmero de migrantes vindos de vrias partes do pas.

    Segundo Lorenzo, Mancini e Trentin (2013), at os anos 90 as principais atividades

    produtivas regionais eram as agroindustriais de ctricos e de acar e lcool, os setores

    mecnicos e metalrgicos voltados produo de bens de capital para as agroindstrias

    regionais e para os segmentos de bens de consumo durveis vinculados ao mercado nacional

    (como, por exemplo, fbrica de motores e geladeiras). S no ano de 2013, foram R$ 20

    milhes em investimentos, com expectativa de aumentar em 30% os 600 empregos.

    As crises tm levado o setor a um processo de reestruturao produtiva que encontra

    na mecanizao e na reduo de custos empresariais a sua principal alternativa. No entanto, a

    busca de competitividade no mercado internacional, principalmente quanto a

    comercializao do acar e no esforo setorial para transformar o lcool numa commodity,

    tem balizado estratgias mais gerais e forado a cooperao entre firmas do aglomerado

    atravs de instituies internas, como a UNICA, por exemplo, principal entidade de

    representao do setor.

    Acar e lcool disputam espao no mercado agroindustrial, porm, depois do

    incentivo por parte dos governos brasileiros para o uso de etanol, esse produto passou por

    uma fase de grande produo, mas nem sempre assim. O Brasil tem grandes problemas

    com a questo do etanol, e isso acaba por desaquecer em alguns momentos este mercado. Na

    safra de 2009/10, de acordo com dados da UNICA era mais rentvel produzir acar.

    Tabela 1 - Projeo para a produo sucroalcooleira no Brasil. (FONTE: UNICA, 2008)

  • 32

    A tabela acima trata de uma projeo para a produo de acar e de etanol nos anos

    que se seguem. possvel observar que a tendncia dos nmeros crescer com o passar dos

    anos. Destaque para o consumo interno de etanol que deve crescer bastante nos prximos anos

    e tambm para o excedente para exportao que tem a tendncia de aumentar. J do acar

    pode-se observar que entre os anos de 2015/2016, existe uma tendncia de o consumo interno

    diminuir e voltar a crescer nos prximos anos.

    Outro fator importante para explicar a grande concentrao de lavouras canavieiras em

    Araraquara o fato de ao redor do municpio se encontrar grandes usinas de acar e lcool

    do Estado de So Paulo e tambm do Brasil, ou seja, os produtores em sua grande maioria

    acabam por arrendar suas terras para as usinas sucroalcooleiras e com isso garantem mercado

    para a produo de cana-de-acar.

    E por ltimo, importante ressaltar que a regio de Araraquara e tambm o municpio

    tem tido grande expanso econmica, principalmente, sem contar com os polos de educao e

    tecnologia que rodeiam o municpio. o caso do municpio de So Carlos, localizado h

    poucos quilmetros de Araraquara, e tambm mais distante destas encontra-se a cidade de

    Ribeiro Preto, nacionalmente conhecida por fazer parte de um dos cintures agrcolas mais

    importantes do pas.

    A escolha do perodo usado no presente trabalho dos anos de 2007 at 2015 se d

    pela importncia da transio que o setor sucroalcooleiro sofreu e vem sofrendo ainda para se

    adaptar s novas leis e regras do setor. A partir do ano de 2007 comeou a ser sentida uma

    ligeira mudana com relao questo da mo de obra utilizada nas lavouras canavieiras e a

    utilizao do maquinrio agrcola especfico para a produo canavieira.

    O tema cana-de-acar muito abrangente, de forma que existem vrios autores que

    tratam do assunto, bem como existem vrios temas que desdobram da questo cana-de-acar.

    Os principais so a importncia que a cultura tem para o pas tanto histrico quanto

    culturalmente, a questo das queimadas da palha da cana-de-acar para melhor rendimento

    dos trabalhadores rurais, a questo da poluio como consequncia de uma ao j muito

    entranhada nos costumes dos produtores, as pssimas condies de trabalho que so impostas

    aos trabalhadores rurais, bem como a total falta de estrutura para trabalhar na lavoura como,

    por exemplo, a ausncia de equipamento de segurana no corte da cana, o injusto e arcaico

  • 33

    pagamento feito por produtividade e por fim e no menos importante, as consequncias das

    queimadas em vrios aspectos (fauna, flora, solo, sade humana, poluio atmosfrica e etc.).

    Recortes sobre o tema cana-de-acar podem ser feitos com facilidade e dele extrair

    temas pertinentes para se falar do setor sucroalcooleiro. A questo do fim das queimadas da

    palha da cana-de-acar antiga, e sempre recorrente no Estado de So Paulo todo, uma vez

    que o estado o que mais planta cana-de-acar no pas. O Governo precisava combater as

    queimadas, fontes de uma srie de problemas especialmente ambientais e relacionados

    tambm sade dos moradores do entorno dos canaviais.

    Para reas mais planas o prazo ainda mais curto para que se pare com as queimadas e

    para a implantao das mquinas agrcolas como, por exemplo, a colheitadeira de cana-de-

    acar. As reas que possuem declividade maior que 12% so obrigadas a receberem mais a

    cultura da cana-de-acar, uma vez que o percentual de declividade maior do que os 12%

    estipulados so capazes de tombar as mquinas e causar grandes prejuzos aos agricultores.

    Sendo assim, alm da mecanizao imposta aos paulistas e neste caso aos araraquarenses, era

    necessrio tambm reavaliar as propriedades e fazer um levantamento sobre a declividade do

    solo com a finalidade de estar dentro da lei que agora vigora no Estado de So Paulo.

    Um dos principais autores utilizados para a construo deste trabalho Tams

    Szmrecsnyi, responsvel por vrias publicaes sobre o setor agrcola brasileiro, sobre a

    cana-de-acar no pas, sobre como se consolidou a agroindstria canavieira no pas, e

    principalmente, Szmrecsnyi falava de reforma agrria e da importncia da mesma para

    aparar arestas importantes como a desigualdade na distribuio de terras no pas. Mais de uma

    publicao do autor usada neste trabalho, porm, ambas abordam a importncia histrica da

    cana-de-acar para o processo de desenvolvimento e tambm de modernizao da produo

    agrcola brasileira. O primeiro texto de Szmrecsnyi fala sobre o IAA e suas contribuies

    para o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro.

    Em vrias de suas publicaes, Szmrecsnyi se atm aos principais programas

    brasileiros de incentivo produo de acar e etanol no pas. No texto O Desenvolvimento

    da Agroindstria Canavieira do Brasil desde a Segunda Guerra Mundial, o autor fala dos

    vrios momentos vividos pelo setor sucroalcooleiro no pas e de como aconteceu a

    consolidao dos produtos da cana-de-acar nos ltimos 50 anos. Vrias produes textuais

  • 34

    sobre o tema foram escritas tambm em conjunto com Eduardo Pestana MOREIRA e

    Szmrecsnyi. Moreira especialista no setor agroindustrial com nfase para cana-de-acar.

    Autores como Ferreira, Alves e Ruas tambm ajudaram a contextualizar a cana-de-

    acar antigamente e a relao do governo com os produtores e os incentivos para que esse

    setor industrial se consolidasse ainda mais no pas. Um dos principais textos Organizao

    Espacial da Cana-De-Acar no Estado de So Paulo: uma anlise evolutiva, tambm fala

    da cana em outras pocas que no as atuais, explicitando a poca do Quadriltero do Acar

    em So Paulo, e da insero de outras partes do estado paulista no competitivo mercado do

    acar e do etanol.

    Casalecchi tambm um dos autores usado no presente trabalho que falam de

    perodos mais antigos da cana-de-acar. Foi consultada tambm a tese de doutorado do

    autor, onde ele principalmente da indstria agrcola no Brasil, dando um grande recorte para a

    cana-de-acar. Petrone tambm escreveu sobre a cana-de-acar no Brasil, principalmente

    levando em considerao sua expanso e seu declnio entre os anos de 1765 1981. Sampaio

    tambm um dos autores que ajuda a dar um respaldo terico para os acontecimentos ligados

    cana-de-acar ainda mais antigamente, comeando em 1534, ano em que chegou ao Brasil

    a primeira muda de cana-de-acar, e o pas ainda era apenas uma colnia portuguesa.

    Silveira aborda outro tema relacionado cana-de-acar que a sustentabilidade da

    cana-de-acar e seus possveis prejuzos ao meio ambiente. O autor aborda ainda um tema

    muito importante nessa seara, a bancada ruralista, composta por polticos que usam seu poder

    para comandar o setor agrcola do pas, bem como para aprovar maiores vantagens para seus

    prprios negcios. Silveira fala ainda brevemente da mecanizao das lavouras ainda que

    dando pouca nfase ao assunto. Cita tambm a importncia da mecanizao, uma vez que a

    mesma ser responsvel por tirar trabalhadores de situaes extremamente degradantes que

    se encontram.

    Roseiro e Takayanagui tocam no assunto meio ambiente e poluio, relacionando-os

    cana-de-acar e s prticas prejudiciais que envolvem essa cultura e sua produo.

    Perpassam pelo conceito de que todo ser humano tem direito a viver em um ambiente

    saudvel e nas melhores condies ambientais possveis. Os autores ainda passam pelas

    tentativas mundiais e nacionais de diminuir a poluio, destacando a RIO 92, e a assinatura

    da Agenda 21, iniciativa da ONU que continha metas de desenvolvimento sustentvel a

  • 35

    serem alcanadas no sculo XXI em todo o mundo. falado tambm sobre o fracasso do

    Protocolo de Kyoto, o qual, os Estados Unidos se recusaram a assinar. O tema mais relevante

    para a cana-de-acar neste texto a questo da qualidade do ar atmosfrico.

    Alves e Novaes versam sobre a migrao de trabalhadores de diversos estados para o

    complexo canavieiro paulista, normalmente so pessoas com pouca ou nenhuma formao

    escolar, que buscam melhorar suas vidas no trabalho rural, porm, a grande maioria tem

    sempre a pretenso de retornar ao estado de origem. So chamados pelos autores de heris

    do agronegcio, dadas as condies de trabalho desumanas e as longas jornadas de trabalho

    que so impostas a essas pessoas de origem humilde e provenientes dos estados mais pobres

    do pas. Os autores falam tambm da deteriorao das condies de sobrevivncia para pelos

    produtores familiares e tambm camponeses com a expanso e crescimento do agronegcio

    em todo o pas.

    Lorenzo, Mancini e Trentin so ainda mais especficos ao falar do desenvolvimento

    regional da regio de Araraquara So Carlos. Os autores fazem uma anlise crtica de quatro

    importantes aglomeraes produtivas localizadas na regio Araraquara So Carlos,

    destacando-se para o presente trabalho, a cadeia da agroindstria ctrica, a cadeia da

    agroindstria do acar e do lcool, principalmente. Em vrios momentos questionam a

    presena dos aglomerados, seus desdobramentos e sua insero com os agentes locais, e o

    possvel ganho que a populao local teria com aquele tipo de negcio regional. Os autores

    ainda explicam em que contexto se deu a expanso e a modernizao da indstria no pas, e

    falam da grande evoluo que a agroindstria canavieira teve no pas.

    Ribeiro e Assuno tratam do efeito das queimadas na sade humana e do risco que

    todos correm ao entrar em contato com os gases emitidos pelas queimadas, mas que existe

    ainda grupos de risco que sofrem ainda mais com essa prtica, e neles se enquadram

    principalmente os idosos, as crianas e pessoas em qualquer faixa de idade com problemas

    respiratrios. Diversos dados so explicitados no texto, bem como assuntos relevantes dentro

    da temtica. Emisses atmosfricas, poluentes e seus riscos para a sade pblica, a poluio

    do ar e as doenas respiratrias, os principais efeitos na sade humana dos poluentes emitidos

    pela queima de biomassa.

    So apresentados dados toxicolgicos sobre o assunto e pesquisas feitas em

    laboratrio sobre partculas inalveis em locais onde ocorre o despalhamento feito pela

  • 36

    queimada da cana-de-acar. Efeito dos gases emitidos nas queimadas como, por exemplo, do

    dixido de enxofre, dos xidos de nitrognio, do oznio, do monxido de carbono e os ricos

    de neoplasia com a poluio atmosfrica. O texto termina com um alerta sobre a necessidade

    de se estudar e pesquisar mais sobre o tema sade humana x queimada da cana-de-acar e

    seus efeitos para o homem.

    Abordando assuntos ainda mais srios e de grande relevncia para o presente trabalho,

    est o importante texto de Alves com o ttulo Por que morrem os cortadores de cana?. O

    autor trata da dura realidade do trabalhador rural nas lavouras canavieiras, e das estafantes

    jornadas de trabalho a que esses homens e mulheres so submetidos, muitas vezes em

    condies subumanas e degradantes, ganhando ainda seus salrios por produtividade, uma

    prtica extremamente arcaica para os dias de hoje.

    O autor fala tambm da necessidade de se conhecer o trabalho dessas pessoas e

    entender tambm os processos de produo envolvidos no setor sucroalcooleiro. So descritos

    de maneira sucinta o processo de trabalho dos trabalhadores rurais, o processo produtivo e a

    forma de pagamento utilizada no corte de cana, uma das principais razes pelas quais os

    trabalhadores sofrem tanto e vo acabando aos poucos com seus corpos e sua sade. Os

    principais sintomas sentidos pelos trabalhadores rurais so mencionados no texto e de forma

    ainda mais alarmante, as principais causas das mortes dessa classe trabalhadora.

    Magalhes e Silva tambm buscam falar sobre o submundo da cana-de-acar, e

    principalmente sobre os assuntos que os produtores e usineiros preferem omitir, que a sade

    de seus trabalhadores rurais. falado ainda sobre a riqueza que a cana-de-acar gera tanto

    para o estado paulista quanto para os detentores dos meios de produo, e de como essa

    riqueza no se espalha para todos os envolvidos no processo de fabricao do acar e do

    etanol. explicada a importncia dos itens de segura no corte da cana, dos meios de

    transporte para levar os trabalhadores at as lavouras, e de como os produtores e usineiros

    falham no cumprimento das leis trabalhista, especialmente quando se fala em segurana do

    trabalho.

    Goes e Marra tratam da cana-de-acar, de sustentabilidade e principalmente de

    desmistificar algumas falcias a respeito da expanso da cana-de-acar no pas. Existe uma

    grande preocupao com a expanso do agronegcio na regio amaznica, e de como o

    crescimento deste setor pode afetar esta floresta de importncia impar para o equilbrio do

  • 37

    Brasil e do mundo. Os autores lidam com dados sobre a expanso de fronteiras agrcolas e

    afirmam que a cana-de-acar e o aumento de sua rea plantada esto muito longe da

    Amaznia e de seus domnios. Explicitam ainda que o crescimento do cultivo dessa cultura se

    deu principalmente no Centro-Sul do pas e que essa cultura est longe de alcanar a regio

    Norte brasileira.

    Os locais onde vivem os trabalhadores rurais que migram para perto das lavouras de

    cana ainda so comparados com as senzalas da poca da escravido, e ainda relatado o uso

    de drogas por parte dos trabalhadores para conseguir suportar as longas jornadas de trabalho,

    bem como o calor a que so submetidos para a lida no corte da cana. O mundo da cana-de-

    acar pode ser to perverso quanto eram as senzalas e a vida que os escravos levavam

    antigamente. Crack, cachaa e maconha so citados como produtos consumidos cada vez mais

    pelos trabalhadores rurais para conseguirem aumentar sua eficincia no corte da cana e a

    proliferao de clnicas de reabilitao no interior de So Paulo tem crescido de maneira

    consistente nos ltimos anos.

    Outros textos de menor grau de importncia tambm foram lidos e tiveram seu

    contedo assimilado para a produo desse trabalho. De maneira geral, os textos produzidos

    sobre cana-de-acar so bastante objetivos e sucintos, visando apenas explicitar fatos

    acontecidos anteriormente sem com isso emitir qualquer tipo de opinio sobre o passado. A

    cana-de-acar no deixa de ser colocada e explicitada como um dos grandes motivos do

    Estado de So Paulo ter se desenvolvido de maneira to impressionante e ter retirado quase

    que completamente todo o terreno do Nordeste, que antigamente era um grande produtor tanto

    de acar quanto de lcool.

    O aumento de impurezas vegetais est ligado diretamente com o crescimento da

    colheita mecanizada com cana crua, assim como a reduo na qualidade da matria-prima, da

    longevidade do canavial, e da brotao das soqueiras. Mesmo assim, o sistema de colheita

    melhorou muito, o problema principal da mecanizao da lavoura canavieira est no plantio.

    (CANA ONLINE, 2015).

    Estima-se que, na safra agrcola 2012/13 da cana-de-acar, 70.224 trabalhadores

    foram necessrios para colher 82,2 milhes de toneladas de cana manualmente. Se na safra

    2007/08, com 41,7% de mecanizao, estimava-se que ainda eram absorvidos 210 mil

    trabalhadores, nesta ltima o nmero de trabalhadores reduziu-se para apenas um tero.

  • 38

    Atualmente, com os parmetros utilizados, o avano de 1% da mecanizao sobre a rea

    destinada ao corte representa uma reduo de 702 trabalhadores. (IEA, 2014)

    importante tambm reiterar a necessidade de colocar fim a esse processo arcaico e

    extremamente agressivo que a queimada da palha da cana-de-acar e o trabalho manual no

    corte desta cultura. reas mecanizadas so reas livres de queimadas de trabalhadores em

    regime de quase escravido moderna. Este sem dvida um dos principais pontos do presente

    trabalho.

    De acordo com Moraes (2007), foi calculado o desaparecimento de 80 vagas de

    emprego, em mdia, para cada mquina adquirida. Alm da reduo do nmero de

    empregados, o perfil da mo de obra empregada pelo setor tambm tende a sofrer alterao,

    com a necessidade de procurar trabalhadores com maior nvel de escolaridade superior para a

    operao e manuseio de tecnologia e do maquinrio adquirido pelas usinas e pelos produtores.

    Vantagens de canavial sem queimadas:

    Manuteno da umidade do solo;

    Controle de ervas daninha sem a utilizao ou com a diminuio da quantidade

    de herbicidas;

    Melhor controle da eroso com proteo do solo;

    Reduo do uso de herbicidas;

    Aumento de matria orgnica no solo pela adoo da prtica por vrios anos;

    Melhor aproveitamento da cana do ponto de vista energtico, levando-se toda

    fonte de energia para a indstria;

    Melhoria da qualidade da matria-prima entregue para a industrializao;

    Reduo da poluio atmosfrica provocada pela queima.

    Desvantagens de canavial sem queimadas:

    Aumento de matrias estranhas - vegetal e mineral - na matria-prima;

    Maior foco de infestao para alojamento das pragas;

    Impossibilidade de utilizao dos implementos tradicionais nos tratos culturais

    de adubao e cultivo;

    Perigo de fogo acidental no perodo de entressafra e durante a colheita;

  • 39

    Cuidado na escolha de variedades apropriadas;

    Menor brotao de soqueiras em algumas variedades;

    Maior incidncia de broca e cigarrinha-da-raiz

    Os principais produtos extrados da cana-de-acar so a aguardente e o acar e mais

    tarde, viria a ter grande importncia tambm o etanol, que serve de combustvel para meios de

    transporte como os carros, por exemplo, e tambm a energia eltrica, produzida a partir do

    bagao da cana-de-acar. Porm, a cana-de-acar tambm capaz de produzir produtos tais

    como: papel, plstico e produtos qumicos.

    O Governo Federal lana no final de 1975 o PROLCOOL Programa de Nacional

    do lcool, que tinha como principal objetivo incentivar os usineiros a continuarem a plantar a

    cana-de-acar. Uma vez mercado do lcool e automobilstico integrados, o Brasil continuaria

    ento a desenvolver os dois setores de maneira eficiente.

    A histria brasileira relata diversos acontecimentos que impactaram a importncia e a

    queda da cana-de-acar e seus reflexos na poltica, na economia e na questo social. Mas o

    Brasil, embora fosse grande produtor de acar desde a poca da Colnia, expandiu muito a

    cultura de cana-de-acar a partir da dcada de 1970, com o Programa Nacional do lcool,

    mais conhecido como PROLCOOL.

    Anunciado pelo Presidente Ernesto Geisel, foi um programa do governo que substituiu

    parte do consumo da gasolina por etanol, lcool obtido a partir da cana-de-acar, sendo

    pioneiro no uso, em larga escala, deste lcool como combustvel automotivo. O Prolcool,

    lanado em 14 de novembro de 1975, deveria suprir o pas de um combustvel alternativo e

    menos poluente que os derivados do petrleo, mas acabou sendo desativado (SENAC, 2000).

    Segundo dados do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, entre os anos

    de 1975 e 1990, enquanto a produo de cana e lcool teve um crescimento significativo, a

    produo de acar teve incrementos de produo bem menores. A partir de 1995/1996,

    houve um surpreendente aumento de produo de acar, cuja comercializao foi voltada,

    sobretudo, ao mercado externo. Neste perodo, a participao do acar brasileiro no mercado

    internacional saltou de 8% para 30% do total comercializado. Esse brusco crescimento da

    exportao de acar ocorreu em um perodo de queda de preos no mercado internacional. A

    crescente oferta brasileira afetou a cotao externa da commodity.

  • 40

    Segundo FERREIRA, ALVES e RUAS (2008):

    ... A questo da ampliao das reas canavieiras tradicionais do Estado de So

    Paulo, como tambm os agrupamentos de novas reas no oeste paulista envolveram

    polticas agrcolas e agroindustriais do Instituto do Acar e do lcool (IAA),

    Programa Nacional do lcool (PROLCOOL) e o Plano de Desenvolvimento do

    Oeste do estado de So Paulo PR-OESTE (So Paulo, 1980), atravs do

    Programa de Expanso da Canavicultura para produo de Combustvel do Estado

    de So Paulo (PROCANA) .... (p. 204).

    Com o segundo choque do petrleo, o preo do barril passou de US$ 12 para US$ 18.

    Em razo disto, a Comisso Executiva Nacional do lcool (CENAL) traou o objetivo de

    quadruplicar a produo de lcool at 1985, estabelecendo a segunda fase de um programa

    que ficaria conhecido no Brasil inteiro como PROLCOOL.

    importante que se ressalte que o PROLCOOL foi um plano muito mais voltado

    para os interesses dos usineiros do que para os benefcios do prprio pas. O barril de lcool

    aqui produzido ficava em US$40,00, enquanto o barril de petrleo poderia ser adquirido por

    US$22,00. Hoje o barril de lcool tem um custo de US$30,00, enquanto que o barril de

    petrleo chegou a ser vendido por US$150,00. A dcada de 1980 (COSTA, 2003) vivenciou

    altas e baixas do Prolcool. Os problemas, especialmente os de abastecimento, vieram a se

    intensificar aps a promulgao da Constituio de 1988, a partir da qual teve incio o

    processo de desregulamentao do setor sucroalcooleiro no Brasil.

    Ainda de acordo com Ferreira, Alves e Ruas (2008), o Plano Nacional do lcool

    (PROLCOOL), faria a produo nacional passar de trs bilhes de litros em 1980, para 10

    bilhes de litros em 1985. O Estado de So Paulo como principal centro alcooleiro nacional,

    passou a se preocupar com a expanso concentradora da agricultura canavieira no territrio

    paulista, principalmente nas tradicionais reas aucareiras e alcooleiras do Leste.

    Assim, o governo de So Paulo, no ano de 1980, criou o PR-OESTE, com a

    finalidade de espalhar a produo da cana-de-acar concentrada em uma s parte do Estado

    de So Paulo tambm para o oeste paulista, buscando o equilbrio econmico regional,

    sendo que dentro desse programa tiveram aes voltadas ao setor canavieiro denominado de

    PROCANA. O PR-OESTE foi um programa eficiente que atingiu seus objetivos, sendo que

    na safra de 1987/88, a Regio Oeste do Estado era responsvel por 25,22% da produo

    paulista.

  • 41

    A expanso do setor canavieiro nos anos 90 e incio dos anos 2000 se deu

    principalmente pela instalao de unidades industriais filiais das j existentes e a

    transformao das destilarias autnomas que foram criadas pelas fases do Prolcool em

    Usinas, isto , passaram tambm a produzir acar, no ficando totalmente dependente da

    produo de lcool.

    No Brasil, a produo de acar tem crescido bastante. Entre as safras 1993/1994 e

    2003/2004 houve crescimento de aproximadamente 130%. Com isso, as exportaes

    promovidas pela regio Centro-Sul tm aumentado significativamente. Na safra 2007/2008, a

    regio respondeu por 85% da produo de acar, enquanto a regio Norte-Nordeste

    representou 15%. Na dcada de 2000, o Brasil exportou, em mdia, 30% da produo,

    destinou 42% ao consumidor final interno e 28%, ao segmento industrial.

    A cultura da cana espalha-se pelo Centro-Sul e pelo Norte-Nordeste do Brasil, em dois

    perodos de safra, ocupando 2,4% da rea agricultvel do Pas. A regio Centro-Sul -

    compreendida pelos Estados de So Paulo, Paran, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

    Minas Gerais, Rio de Janeiro e Esprito Santo - representa cerca de 85% da produo

    brasileira de cana. J, os Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraba, Sergipe, Rio Grande do

    Norte e Bahia representam os 15% restantes da produo. (NOVA CANA, 2009)

    O cultivo de cana no Brasil supera 470 milhes de toneladas, volume processado em

    357 usinas - das quais 264 esto localizadas no Centro-Sul - o que faz do Pas o maior

    produtor mundial. Uma tonelada de cana rende, em mdia, 118 quilos de acar e dez litros de

    lcool, produzido a partir do mel residual.

    O acar brasileiro um dos mais competitivos do mundo em relao ao custo de

    produo. O produto produzido no Pas a um valor quatro vezes menor que o custo mdio

    mundial de produo de acar de beterraba. (NOVACANA, 2011)

    Pode-se observar por esse breve histrico sobre as polticas pblicas tanto federais

    quanto estaduais, que o governo sempre tentou intervir de maneira efetiva nas questes que

    envolviam o cultivo da cana-de-acar e a produo de acar, mas principalmente de lcool,

    uma vez que esse produto derivado da cana de extrema importncia at os dias de hoje para

    a economia brasileira. O aumento da demanda interna por lcool hidratado e expectativa de

    ampliao da exportao impulsionou a expanso de aproximadamente 100 novas unidades

  • 42

    produtoras nos ltimos anos, principalmente no oeste do estado de So Paulo e seu entorno,

    como pode ser observado na prxima figura, onde os pontos amarelos representam as

    localizaes de novas usinas previstas para breve.

  • 43

    7 OBJETO DE ESTUDO

    A cana-de-acar uma planta herbcea da famlia das gramneas, pertencente ao

    gnero das Saccharum, da espcie officinarum, que teve seu surgimento em pocas muito

    remotas no continente asitico. Com o surgimento de diversas doenas e de tecnologia mais

    avanada foi necessria a criao de novas variedades, que foram obtidas pelo cruzamento da

    S. officinarum com outras quatro espcies do gnero Saccharum.

    Cultivada em extensas reas territoriais, a cana-de-acar apresenta melhor

    comportamento em regies quentes, sendo que o clima ideal para o seu cultivo se d em

    regies que apresentam duas estaes distintas: uma estao quente e mida para

    proporcionar a germinao, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, seguido de outra

    estao fria e seca, para promover a maturao e consequentemente o acmulo de sacarose

    nos colmos.

    Os colmos, caracterizados por ns bem marcados e entrens distintos, quase sempre

    fistulosos, so espessos e repletos de suco aucarado. As flores, muito pequenas, formam

    espigas florais, agrupadas em panculas e rodeadas por longas fibras sedosas, congregando-se

    em enormes pendes terminais, de colorao cinzento-prateado. O bagao, resduo da cana

    depois da extrao do suco, aproveitado como bagao hidrolisado, juntamente com a

    levedura da cana (resduo da fermentao), em raes para a alimentao do gado confinado.

    A vinhaa ou vinhoto, outro resduo, tambm pode ser usada como adubo, mas no Brasil

    muitas vezes lanada aos rios, apesar da proibio, causando grave poluio e mortandade

    de peixes. (EMBRAPA, 2009)

    Figura 4 - Cana-de-acar crua (FONTE: SIFAEG, 2009).

  • 44

    Existem diversas variedades cultivadas de cana-de-acar, que se distinguem pela cor

    e pela altura do caule, que atinge entre 3 e6 m de altura, por 2 a 5 cm de dimetro, sendo sua

    multiplicao feita, desde a antiguidade, a partir de estacas (algumas variedades no

    produzem sementes frteis). Sua florao, em geral, comea no outono e a colheita se d na

    estao seca, durante um perodo de 3 a 6 meses. Embora se tenha ensaiado com xito o uso

    de vrias mquinas para cortar cana, a maior parte da colheita ainda feita manualmente, em

    todo o mundo. O instrumento usado para o corte costuma ser um grande faco de ao, com

    lmina de 50 cm de comprimento e cerca de 15,7 cm de largura, um pequeno gancho na parte

    posterior e cabo de madeira.

    Na colheita, a cana abatida cortando-se as folhas com o gancho do faco e dando-se

    outro corte na parte superior, altura do ltimo n maduro. As hastes cortadas so empilhadas

    e depois recolhidas, manualmente ou com mquinas. Atadas em feixes, so levadas para as

    usinas, onde se trituram os caules para extrao do caldo e posterior obteno do acar.

    Os solos em que a cana-de-acar melhor se adapta so solos profundos, pesados, bem

    estruturados, frteis e com boa capacidade de reteno, devido sua rusticidade, se

    desenvolve satisfatoriamente em solos arenosos e menos frteis, como os de cerrado. Solos

    rasos, isto , com camada superficial impermevel ou mal drenados, no devem ser indicados

    para a cana-de-acar. A depender da qumica do solo, pode haver a necessidade de se fazer

    um processo conhecido como calagem, que a correo do solo atrs da aplicao de

    calcrio.

    As melhores pocas para o plantio da cana-de-acar, existem duas pocas para a

    regio Centro-Sul: setembro-outubro e janeiro a maro. Setembro-outubro no a poca mais

    recomendada, sendo indicada em casos de necessidade urgente de matria prima, quer por

    recente instalao ou ampliao do setor industrial, quer por comprometimento de safra

    devido ocorrncia de adversidade climtica. Plantios efetuados nessa poca propiciam

    menor produtividade agrcola e expem a lavoura maior incidncia de ervas daninhas,

    pragas, assoreamento dos sulcos e retardam a prxima colheita.

    Para trabalhar com segurana em culturas semimecanizadas, a declividade mxima

    dever estar em torno de 12%, uma vez que declividades acima desse limite apresentam

    restries s prticas mecnicas. Declividade maior que os 12%, apresenta risco de

  • 45

    tombamento das mquinas, acarretando em prejuzo para os produtores. A declividade do solo

    ento um obstculo para a completa mecanizao das lavouras canavieiras.

    A cana-de-acar a principal matria-prima para a indstria sucroalcooleira

    brasileira. A agroindstria da cana envolve etapas, como: produo e abastecimento da

    indstria com matria-prima; gerenciamento dos insumos, resduos, subprodutos e da

    versatilidade da produo - de acar ou lcool; armazenamento e comercializao dos

    produtos finais. Estas etapas devem ser executadas com o emprego de tcnicas eficientes de

    gerenciamento.

    Na produo do lcool (etanol), acontece a lavagem da cana-de-acar, preparo para a

    moagem, a extrao do caldo, o tratamento do caldo para a produo de lcool, fermentao

    do caldo, destilao do vinho, retificao e desidratao tornando-se lcool anidro ou

    hidratado. O Brasil tambm o maior produtor e exportador de acar do mundo, atendendo

    de maneira eficiente tanto o mercado interno quanto o externo.

    O lcool anidro (composto por 99,6% de etanol e 0,4% de gua) matria prima para

    indstrias de tintas, solventes e vernizes e comeou a ser usado como aditivo para

    combustveis que abastecem os veculos. Este tipo de lcool menos poluente e, se for

    adicionado na proporo correta, no afeta o desempenho de motores.

    Figura 5 - lcool Anidro (FONTE: site da Usina So Jos, 2008).

    O aumento do interesse pela adio do lcool anidro na gasolina tem levado muitas

    naes a aumentarem suas produes de etanol e/ou a investirem em seu desenvolvimento,

    com o objetivo de produzir quantidades suficientes para atender demanda interna.

  • 46

    O lcool hidratado (composto por 95% de etanol e 5% de gua) uma mistura

    hidroalcolica (lcool e gua). Sua utilizao principal se d nas indstrias farmacuticas,

    alcoolqumicas, de bebidas e para produo de produtos de limpeza. Pode ser usado tambm

    na produo de vinagre e de cido actico.

    Figura 6 - lcool Hidratado (FONTE: site da Usina So Jos, 2008).

    A soluo brasileira para a crise do petrleo foi criar um programa nacional que

    permitisse misturar lcool na gasolina e, com os avanos tecnolgicos produzir um automvel

    capaz de andar somente com o abastecimento de lcool. Com a evoluo da tecnologia,

    nasceram os carros movidos exclusivamente a lcool hidratado, que ganhou rapidamente as

    ruas, e chegou a representar 85% da frota de carros no final da dcada de 80.

    Em 2003, novas perspectivas surgiram para o uso de lcool hidratado, com a

    introduo de uma nova tecnologia para a frota de veculos leves: os carros flex fuel, que

    operam com qualquer porcentagem de mistura de etanol e gasolina. O Programa Nacional do

    lcool, dentre outros objetivos tambm props a adio de 22% de etanol anidro gasolina,

    substituindo o chumbo tetraetila, usado at ento.

    Entre 2003 e 2006, incio da introduo do carro bicombustvel no Brasil, o consumo

    interno de lcool hidratado aumentou, em mdia, cerca de 700 milhes de litros a cada ano. A

    previso que o consumo interno fique em torno de 14,8 bilhes de litros, em 2009. A

    expectativa que, a cada ano, esse acrscimo no consumo seja de cerca de 1,1 bilho de litros,

    devido ao aumento das vendas e produo de carros bicombustvel, que chega a 90,5% da

    produo de automveis (EMBRAPA, 2008).

  • 47

    Tabela 2 - Dados sobre o cultivo de cana-de-acar no mundo no ano de

    2008 (FONTE: FAO, 2008)

    Embora a tabela mostre dados de 2008, de acordo com a revista digital Cana Online,

    na safra de 2013/2014 a ndia continua sendo o segundo maior produtor de cana, com uma

    safra que gira em torno de 360 milhes de toneladas. Embora seja esperada uma diminuio

    na quantidade de rea plantada j que o setor sucroalcooleiro indiano tem sofrido com

    problemas internos.

    Observa-se que o Brasil e a ndia respondem, em conjunto, por pouco mais da metade

    da cana produzida mundialmente. Tal fato assume especial relevncia quando se consideram

    possveis expanses da produo de cana, principalmente pela grande diferena de modelos

    de produo agrcola consagrados no Brasil (concentrados em grandes produtores) e pela

    ndia (baseados em pequenos produtores).

    A EMBRAPA (2012) estima que o consumo de acar deva crescer nos prximos

    anos. Este crescimento gira em torno de 21% at o final de 2015, atingindo aproximadamente

    176,2 milhes de toneladas. Esta expanso est relacionada, por exemplo, aos seguintes

    fatores:

    Crescimento na capacidade de compra de diversas partes do mundo;

    Crescimento do consumo de alimentos processados;

  • 48

    Aumento do consumo de adoantes de baixas calorias feito do acar, como

    o caso da sucralose.

  • 49

    8 RESULTADOS E DISCUSSO

    A produo de cana-de-acar no Brasil em 2014/15 foi de 654 milhes de toneladas.

    Do total colhido foram produzidos 28,6 bilhes de litros de etanol e 35,5 milhes de toneladas

    de acar. No Estado de So Paulo, a cana-de-acar o principal produto da agropecuria

    paulista. Sua participao no valor da produo agropecuria e florestal total do estado em

    2014 foi 42,55% (R$ 25,47 bilhes). A produo paulista representou 53,8% da produo

    nacional de cana-de-acar, 49,4% da produo de etanol (14,1 bilhes de litros) e 61,6% da

    produo do acar (21,9 milhes de toneladas). A cultura ocupa cerca de 5,88 milhes ha no

    estado paulista. (IEA, 2015)

    Dentre vrios produtos que tem a cana-de-acar como matria prima, os dois

    principais so: o lcool (etanol) e o acar. Para a confeco do acar, as etapas de produo

    so: lavagem da cana-de-acar, preparao para moagem, extrao do caldo (moagem ou

    difuso), purificao do caldo (peneiragem e clarificao), evaporao do caldo, cozimento,

    cristalizao da sacarose, centrifugao e secagem e estocagem do acar.

    Na produo do lcool (etanol), acontece a lavagem da cana-de-acar, preparo para a

    moagem, a extrao do caldo, o tratamento do caldo para a produo de lcool, fermentao

    do caldo, destilao do vinho, retificao e desidratao tornando-se lcool anidro ou

    hidratado. O Brasil tambm o maior produtor e exportador de acar do mundo, atendendo

    de maneira eficiente tanto o mercado interno quanto o externo.

    Dentre todos os impactos ambientais gerados pela agroindstria da cana-de-acar, o

    mais conhecido e mais discutido ao longo dos anos tem sido a queima da palha, mtodo usado

    para facilitar a colheita. Mesmo com a Lei Estadual 11.241, de 2002, que veta a queima de

    palha de cana, ao ar livre, as regies urbanizadas das cidades paulistas de Piracicaba, Ribeiro

    Preto, Araraquara, Catanduva e Ja convivem com as queimadas desde a intensificao do

    Prolcool (Programa Nacional do lcool), em 1975. (CANASAT, 2007)

    Graas ao Programa Etanol Verde, uma vertente do Protocolo Agroambiental do Setor

    Sucroenergtico, que determina, entre outros aspectos, a antecipao voluntria dos prazos

    legais para o fim da queima controlada nos canaviais paulistas, a cana colhida com o uso do

  • 50

    fogo caiu de 27,4%, na safra 2012/2013, para 16,3% na safra 2013/2014, o que corresponde a

    uma rea de cerca de 780 mil hectares. (NOVA CANA, 2014)

    A Lei Estadual n 11.241/2002 que dispe sobre a eliminao gradativa da queima da

    palha de cana, no Estado de So Paulo possui vrios detalhes, obrigaes, especificaes e

    regras. Segue abaixo partes importantes do que foi fixado como sendo obrigatrio a todos os

    produtores e usineiros do Estado de So Paulo:

    A um quilmetro do permetro urbano ou de reservas/locais ocupados por

    indgenas;

    A 100 metros de locais de domnio de subestao de energia eltrica;

    A 50 metros de reservas, parques ecolgicos e unidades de conservao;

    A 25 metros de reas de domnio de estaes de telecomunicao;

    A 15 metros de faixas de segurana de linhas de transmisso e distribuio de

    energia eltrica e de reas ocupadas por rodovias e ferrovias.

    Responsvel por mais da metade do acar comercializado no mundo, o Pas deve

    alcanar taxa mdia de aumento da produo de 3,25%, at 2018/19, e colher 47,34 milhes

    de toneladas do produto, o que corresponde a um acrscimo de 14,6 milhes de toneladas em

    relao ao perodo 2007/2008. Para as exportaes, o volume previsto para 2019 de 32,6

    milhes de toneladas. (MAPA, 2014)

    Uma norma exige um pla