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«A humildade e a confiança são bases seguras para o autoconhecimento e o crescimento pessoal. Não se deve se afastar destes valores: eles são o caminho que permite evitar a humilhação e a so- berba.» ESTELA, ESTELA, ESTELA O atendimento mobiliza o analista como pou- cos: há um desafio técnico, há um mistério à frente. Trata-se de um atendimento no limite, na fronteira; em alguns casos opera-se aquém da psicose, neste opera-se para além. Há um fascí- nio pelo tratamento, ainda que a remuneração per- cebida seja menor do que a desejada. Aquilo que amedronta faz crescer. A recusa do caso teria im- pedido o crescimento do analista. A aceitação re- nova a vida, como um desafio adequadamente di- mensionado. O sofrimento da paciente é grande. A crise de angústia que a trás ao consultório antes a levará a um hospital geral, durante férias com a família no litoral norte de São Paulo. Bonita, inteligente, jovem, último ano de um curso na Universidade de São Paulo. À primeira vista, a família seria bem estruturada. O pai engenheiro, a mãe é artista plás- tica, a irmã mais velha já morou na Europa e atua no mercado financeiro. A investigação mais cuidadosa mostra, entretanto, que naquilo que R. D. Laing chamou de “a política familiar”, Estela perde feio (Laing, 1971). Nos jogos de poder é hu- milhada, a feminilidade ferida, a vida fortemente machucada. Não apenas ela, a família toda sofre dissimuladamente os feitos destruidores da lou- cura. Elementos de paranóia, elementos de esquizo- frenia. É possível identificar seu medo, em seu modo de falar, em seu jeito de trazer o material. Assustada, qualquer barulho a faz estremecer. Pa- rece sempre invadida, sem pele psíquica sufici- ente, sem unidade, cindida, sem proteção na fron- teira (Anzieu, 1989). Seus gestos (no início) são truncados, sem harmonia, sem beleza: tiques. Vi- ve com medo de todos em sua escola. Teme que alguém na sala de espera escute o que está dizen- do. Palavras construídas e alteração radical na en- tonação das palavras: o afastamento da comuni- dade dos falantes: palavras feitas e refeitas, se- gundo os critérios da condensação e deslocamen- to. A presença do inconsciente se faz. São perturbações importantes na imagem do próprio corpo, especialmente na boca e face e em toda região do ventre. É preciso notar que são par- tes constituintes do aparelho digestivo: a boca e o estômago. Perturbações na oralidade que aqui se manifestam? Pensa que sua barriga vai crescer. Chega a bater na barriga para que esta não “cres- ça”. Desconfia que seja possível ver sua barriga enorme e rebelde através de um decote de casaco que não vai além da linha de seus peitos. Delírio. 381 Análise Psicológica (2005), 4 (XXIII): 381-390 Estela, a psicose, um caminho entre pedra s SÉRGIO DE GOUVÊA FRANCO (*) (*) Psicanalista. Universidade Paulista.

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  • A humildade e a confiana so bases seguraspara o autoconhecimento e o crescimento pessoal.No se deve se afastar destes valores: eles so ocaminho que permite evitar a humilhao e a so-berba.

    ESTELA, ESTELA, ESTELA

    O atendimento mobiliza o analista como pou-cos: h um desafio tcnico, h um mistrio frente. Trata-se de um atendimento no limite, nafronteira; em alguns casos opera-se aqum dapsicose, neste opera-se para alm. H um fasc-nio pelo tratamento, ainda que a remunerao per-cebida seja menor do que a desejada. Aquilo queamedronta faz crescer. A recusa do caso teria im-pedido o crescimento do analista. A aceitao re-nova a vida, como um desafio adequadamente di-mensionado.

    O sofrimento da paciente grande. A crise deangstia que a trs ao consultrio antes a levara um hospital geral, durante frias com a famliano litoral norte de So Paulo. Bonita, inteligente,jovem, ltimo ano de um curso na Universidadede So Paulo. primeira vista, a famlia seria bemestruturada. O pai engenheiro, a me artista pls-

    tica, a irm mais velha j morou na Europa eatua no mercado financeiro. A investigao maiscuidadosa mostra, entretanto, que naquilo que R.D. Laing chamou de a poltica familiar, Estelaperde feio (Laing, 1971). Nos jogos de poder hu-milhada, a feminilidade ferida, a vida fortementemachucada. No apenas ela, a famlia toda sofredissimuladamente os feitos destruidores da lou-cura.

    Elementos de parania, elementos de esquizo-frenia. possvel identificar seu medo, em seumodo de falar, em seu jeito de trazer o material.Assustada, qualquer barulho a faz estremecer. Pa-rece sempre invadida, sem pele psquica sufici-ente, sem unidade, cindida, sem proteo na fron-teira (Anzieu, 1989). Seus gestos (no incio) sotruncados, sem harmonia, sem beleza: tiques. Vi-ve com medo de todos em sua escola. Teme quealgum na sala de espera escute o que est dizen-do. Palavras construdas e alterao radical na en-tonao das palavras: o afastamento da comuni-dade dos falantes: palavras feitas e refeitas, se-gundo os critrios da condensao e deslocamen-to. A presena do inconsciente se faz.

    So perturbaes importantes na imagem doprprio corpo, especialmente na boca e face e emtoda regio do ventre. preciso notar que so par-tes constituintes do aparelho digestivo: a boca eo estmago. Perturbaes na oralidade que aquise manifestam? Pensa que sua barriga vai crescer.Chega a bater na barriga para que esta no cres-a. Desconfia que seja possvel ver sua barrigaenorme e rebelde atravs de um decote de casacoque no vai alm da linha de seus peitos. Delrio.

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    Anlise Psicolgica (2005), 4 (XXIII): 381-390

    Estela, a psicose, um caminho entre pedras

    SRGIO DE GOUVA FRANCO (*)

    (*) Psicanalista. Universidade Paulista.

  • Em vrias sesses toma os culos escuros da bol-sa para servir como espelho: precisa se certificarna imagem refletida na lente dos culos que suaface no se desintegra. Sonha que no possui umametade do corpo. Conta uma alucinao visual:teria visto um E.T., olhando para ela na cama. Masela avana: fechei os olhos e ele desapareceu.Frente sugesto de procurar um psiquiatra noincio do atendimento, ela recusa terminantemen-te a idia: no quer ser estigmatizada como lou-ca.

    So ataques violentos do supereu. Tudo o quefaz, pensa e constri profundamente atacado.Tem pensamentos contraditrios que a atormen-tam. Cindida, no pode decidir. Pertencente a umafamlia crist, ela se questiona se esta fazendo al-go errado contra Deus, que a estaria punindo. Hesta experincia de estar sem rumo, sem norte,sem parmetro. H uma fruio constante, semreferncias fixas. O psictico como se diz notem para onde retornar, no tem casa. Confuso.

    A PSICOSE

    A etimologia da palavra psicose no ajuda mui-to, trata-se de um derivado verbal do conhecidogrego , que quer dizer alma, vida, indiv-duo, pessoa. Thayer diz: quase o conceito mo-derno do ego (Taylor, 1978). A terminao depsicose indica no grego animar, dar vida. Psi-cose seria assim algo como a vida egoca. O sen-tido psiquitrico relativamente recente, pareceque ele foi introduzido por von Feuchtersleben decano da Faculdade de Medicina de Viena em1845. Ele queria indicar um estado generalizadode perda de juzo de realidade. Durante o sculoXIX se difundiu a noo de psicose, basicamentena literatura psiquitrica de lngua alem, paradesignar as enfermidades mentais em geral, valedizer a loucura (Galo, 2001). Se a pesquisa etimo-lgica no importante, a pesquisa na histria dapsiquiatria : tal pesquisa foge, no entanto, aos pro-psitos deste artigo.

    Com o aparecimento da psicanlise vrias no-es sobre a psicose se estabelecem. Sabemos queo trabalho clnico de Freud se centrou fundamen-talmente nas neuroses. A investigao a respeitodas psicoses ficou em grande medida entregue aosseus discpulos e continuadores. Grande parte doque Freud pensou e escreveu sobre psicose se deu

    em meio ao seu contacto com Jung. A dupla Junge Bleuler representava o melhor da psiquiatria doincio do sculo XX, com uma nfase dinmicaque os aproximava da psicanlise. Freud preferiupensar o domnio da psicose sob a categoria da pa-rania em vez da esquizofrenia. Sob a influnciada amizade com Jung que escreve Schreber em1911, discutindo as questes do recalque das pul-ses homossexuais e da projeo na parania. Oque procura estabelecer uma etiologia e funcio-namento psquico da psicose, desvalorizando o fun-damento orgnico (Freud, 1911). Devemos reco-nhecer que Freud tinha considerado os mecanis-mos de projeo na psicose desde os seus traba-lhos no fim do sculo XIX. Assevera desde estapoca que os sintomas delirantes devem ser vis-tos como tendo sentido e nexo para os pacientes.Mas o trabalho mais importante de Freud sobre apsicose certamente o seu estudo do relato auto-biogrfico de Schreber.

    O que est ausente no texto de Schreber adiscusso da psicose em torno do tema do nar-cisismo. Este tema ser abordado em 1914, por-tanto trs anos mais tarde, quando a psicose pas-sa a ser vista como uma retrao da libido ao eu,que retirada de pessoas e coisas do mundo ex-terno (Freud, 1914). A megalomania, por exem-plo, o resultado deste retraimento libidinal. Oque fica claro que na psicose a sustentao ps-quica do sujeito depende de um outro como umduplo, como um arrimo de sua integridade. Uma per-turbao neste apoio pode desencadear a degra-dao psictica: o eu no suporta a alteridade. Odelrio de grandeza ou o delrio de perseguio soformas compensatrias do desmantelamento doeu. Nos textos posteriores Neurose e psicose e Aperda da realidade na neurose e psicose publica-dos em 1924, Freud afirma que na psicose h umaproblemtica entre o eu e o mundo externo. O eu criaum mundo interno e externo, devido a uma frus-trao intolervel, que substitui a realidade. A maio-ria dos sintomas manifestos, especialmente as cons-trues delirantes, devem ser entendidos como ten-tativas secundrias de restaurao do lao objetal(Freud, 1924 Neurose e Psicose e Freud, 1924A Perda...).

    Quase encerrando a sua obra, em 1937, Freuddestaca a importncia da construo em anlise(Freud, 1937). que Freud descobre que nem sem-pre se trata de encontrar um material recalcado,que deve ser recordado. Os delrios na psicose so

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  • comparados ao trabalho de construo: so tenta-tivas de explicao e cura. Compreende-se assimque em Freud, o delrio tem uma funo organi-zadora na psicose. Compreende-se tambm quetodo delrio tem um fragmento de verdade.

    O PARADIGMA WINNICOTIANO

    Winnicott simultaneamente se aproxima e seafasta da psicanlise freudiana. Em busca de an-lise, procurou em 1923 Ernest Jones. Foi Jonesquem o colocou em contacto com James Stra-chey, com que fez anlise por dez anos. Quemcomea com Jones e Strachey, comea com Freud.Ao fim de dez anos, Strachey encaminha Winni-cott a Melaine Klein. Strachey entende que se Win-nicott est preocupado em aplicar a psicanlises crianas, deve travar contacto estreito com ela.Winnicott toma Klein como supervisora e se for-ma com ela, mas vai muito alm dela. Todas as for-mulaes sobre a criatividade, sobre fenmenose objetos transicionais, por exemplo, permane-cem estranhas ao campo kleiniano. Winnicott pa-rece ser o primeiro analista contemporneo semescola. A herana freudiana e kleiniana esto su-jeitas a constantes reformulaes e mudanas, apartir de uma experincia clnica muito diferentedas experincias destes seus dois mestres. Nuncaconstituiu um grupo ao redor de suas verdades, per-mitindo que os analistas que se aproximavam fi-cassem livres para se apropriar do que quisessem.Foi Masud Khan, a partir da segunda metade dosculo XX, que passou a divulgar a obra e o pen-samento de Winnicott. Em Winnicott, podemosdizer, a tradio e a descoberta esto em articu-lao. Do saber freudiano ao saber kleiniano, Win-nicott produziu uma psicanlise prpria.

    Uma das mudanas fundamentais que interessaaqui destacar que em Freud a neurose tem umvalor de referncia, um ponto de partida para asformulaes sobre o funcionamento psquico. EmWinnicott, so os casos fronteirios e a psicose quefornecem os elementos para suas transformado-ras contribuies. Winnicott est atento ao vazioda experincia dos bordelines. Ele se d conta deque o acontece antes o que importa. Ou, colo-cando de outra maneira, o que importa o queno aconteceu antes, impedindo a integrao queleva a formao da personalidade. No que Freudesteja errado, pensa ele, apenas toma como dado

    algo que nem sempre ocorre. Nos primrdios, oego est por se constituir e a integrao umapossibilidade que depender de muitos fatores epode no se dar.

    Em Freud, os sentimentos de culpa, de perse-guio e de angstia so de origem no complexode dipo, ou seja, em uma relao triangular: me,pai, filho. Klein observou, entretanto, estes senti-mentos em momentos muito anteriores, em fasespr-edpicas, nas relaes iniciais me/beb. Taisobservaes criaram uma questo metapsicolo-gia freudiana. Com vistas a manter a centralida-de do complexo de dipo que Klein postula umdipo precoce. Uma dificuldade que Freud vianos momentos iniciais uma relao dual e no tri-tica. Klein resolve o impasse imaginando que cri-anas de ambos os sexos mantm com a me, des-de o incio, uma relao a trs. Para ela a crianapossui um saber inato sobre o estatuto triangulardos relacionamentos.

    Winnicott considerava Klein uma grande cl-nica; quando comeou a se relacionar com ela, fi-cou surpreso que ela j soubesse sobre as crian-as aquilo que ele ia aos poucos aprendendo emsua prpria clnica. Mas depois de um tempo es-tudando com ela, Winnicott conclui que o com-plexo de dipo precoce de Klein, ainda que fosseuma soluo engenhosa, no correspondia s suasvivncias e problemas clnicos. Fica convencidoque existem temas iniciais na vida humana queno podem ser tratados com os elementos da con-cepo edipiana: so angstias primordiais que fa-lam de ameaas prpria existncia humana: me-dos de aniquilamento, de entrar em um estado deno-integrao, de perder o contacto com a reali-dade, de desorientao espacial e de experinciasde estar desalojado do prprio corpo. Uma caracte-rstica bsica destas angstias todas que elas sedo antes que exista um indivduo em condiesde experienci-las. Portanto, elas no podem serentendidas em termos dos conflitos gerados nasrelaes edipianas.

    Winnicott pensa que a condio inicial no tanto de um dipo potencial, mas a de um ser fr-gil, finito, que precisa de um outro humano paracontinuar existindo: as primeiras relaes no sodo tipo objetal. O beb precisa da me e s ela po-de, por meio de seus cuidados, garantir que surjanele a confiana em si prprio e no mundo. ParaWinnicott no se trata de inveja ou cime de al-gum objeto inicial, no o seio, nem a prpria

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  • me. O beb no pode nestes momentos iniciaisdistinguir seu eu daquilo que no eu. No existeum objeto interno ou externo, bom ou mau. A re-lao de dependncia do beb para com sua meno uma relao a trs. Nem mesmo uma rela-o a dois. Talvez seja importante esclarecer: noincio o beb enquanto tal no existe. No h umadistino entre o interno e o externo, entre o pr-prio e no prprio. Nas condies do incio, obeb tem necessidades e problemas que tem aver com as garantias de sua integrao no tempoe espao, at que possa criar a distino da reali-dade interna e externa, das coisas e de si mesmo.

    Estas angstias, que Winnicott chamou de im-pensveis, tm origem em uma falha ambientalespecfica. Quando a me no pode, por qualquerrazo, assegurar a evoluo do humano rumo aum certo grau de integrao, angstias impens-veis aparecem. Estas angstias tm uma impor-tncia clnica fundamental: esto profundamenterelacionadas etiologia e tratamento das psico-ses. Nesta forma de ver, os problemas edpicoss se tornam centrais se um certo grau de sadepsquica for atingido. Se for, pensa Winnicott, asformulaes metapsicolgicas e clnicas de Freudso inteiramente aplicveis. Caso haja interrup-es e mesmo colapsos da integrao progressi-va inicial, criando condies para o aparecimen-to da psicose, a renovao da tcnica fundamen-tal.

    A CONSTRUO DE UM CASO

    Pierre Fedida e Franois Villa organizaram em1999 uma coletnea sobre a natureza do caso cl-nico: Le cas en controverse (DAgord, 2001,pp. 7-11). As reflexes veiculadas nesta colet-nea e as que a partir da se multiplicaram, produ-zidas por vrios autores, em vrias partes do mun-do, tm o condo de desmistificar uma viso in-gnua do caso clnico e relan-lo em uma pers-pectiva epistemolgica mais ampla. Ainda que ocaso seja construdo a partir de uma histria pes-soal, ele no um testemunho positivista. O quefica em evidncia no caso no tanto a pessoa dopaciente, quanto o tratamento do paciente. Trata-se de uma reconstruo de eventos clnicos quesurge de dentro de um quadro de referncia, ondeo prprio analista est inserido. Entre a dimensofenomenolgica, sintomatolgica e a perspectiva

    diagnstica, h um esforo que busca organizar,interpretar e relanar o acontecido no tratamentoem um contexto metapsicolgico. Colocando deoutro modo: a construo do caso depende da si-tuao analtica, ou seja, da transferncia e do tra-balho clnico.

    A importncia do caso, como ensina Fedida,tem a ver com sua dimenso de pesquisa, de in-vestigao, de expanso do pensar clnico e me-tapsicolgico: o caso uma teoria em germen(DAgord, 2001, p. 12). Trata-se de um trabalhoque procura dar conta do que vai acontecendo naclnica, para alm do que se sabe e para alm doque primeiramente consciente. Neste sentido aconstruo do caso tem uma dimenso de prospec-o, de avano em uma regio ainda escura. Noh interesse em se repetir o conhecido. O vividona clnica est sempre exigindo muito mais do quese sabe. Para se dar conta daquilo que no se temdomnio precisa se lanar, construindo aquiloque ainda no existe. Neste processo de recons-truo do caso, a partir das experincias clnicas,a participao do analista tem um largo papel. Nofalamos de arbitrariedades ou elucubraes inter-pretativas, mas de um trabalho fiel e cuidadoso,consciente de que o caso sem o trabalho do ana-lista no existe.

    A epistemologia psicanaltica clnica, preci-samos repetir e valorizar em tempos em que o m-todo quantitativo freqentemente apresentadocomo o nico que faz jus ao ttulo de cientfico.O rigor quantitativo tem valor e lugar: ele seguesendo um outro do mtodo clnico, a ser conside-rado. Todavia, segue o engano, sustentado por re-laes institucionais com poder, de pensar que osubjetivo possa ser recolhido dispensado a con-corrncia do prprio subjetivo, captado apenaspor mtodos objetivantes. Na construo de umcaso no h ciso pesquisador/pesquisado, no huma observao de fora da cena a a sua fora.A clnica da escuta e no a clnica objetivante que est em condies de sustentar a subjetivi-dade envolvida. Ela que traz tona elementosinsuspeitos e inconscientes ao par paciente/ana-lista. Na escuta o analista produz, tem uma ati-vidade associativa e mesmo especulativa. natransferncia que o caso construdo. Ao contr-rio de fraqueza metodolgica, trata-se de uma li-bertao tanto do narcisismo do paciente e do ana-lista, quanto de um enfoque que no enxerga aquiloque no pode ser pesado ou medido. Caon afir-

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  • ma: no parece possvel ao analisante escreverseu retrato metapsicolgico prprio (Caon, 2001,p. 43). A construo do caso uma contribuiocientfica primeiramente ao paciente em toda a suariqueza e complexidade, que recebe como ofertauma narrativa indita com que pode se identifi-car, mas tambm uma contribuio pesquisae elaborao metapsicolgica, fazendo avanarenigmas e mistrios que aparecem no em outrolugar que no na prpria clnica e na prpria vida.

    O que temos aqui mais do que um estudo decaso a construo do caso Estela, onde o dramapessoal da paciente acompanhado e escutado pe-lo analista, em busca de sentido e cura. Toda cons-truo do caso feita dentro de hipteses metapsi-colgicas, a presente construo no diferente.Toda construo de caso visa um grupo que re-cebe e aprecia o trabalho do psicanalista/pesqui-sador, a presente construo no diferente. A cons-truo de caso renova a clnica do analista e re-nova o seu modo de pensar. Como escrevem AnaMoura e Isac Nikos sobre a pesquisa psicanal-tica com construo de caso: eis a a principal essn-cia do que se chama pesquisa psicanaltica: pro-mover uma abertura de sentidos para os dados emque o pesquisador est debruado (Moura & Ni-kos, 2001, p. 75). No outro o propsito do pre-sente trabalho que no buscar sentido e cura parao paciente, construindo e elaborando aspectos cl-nicos e metapsicolgicos com abertura de senti-dos para os dados sobre os quais se est debrua-do.

    ESTELA E A PSICOSE

    Estela aparece ao analista como frgil em suasrelaes familiares. A psicose comea a ser pen-sada junto com o relacionamento inicial me efilha. Frgil ela prpria, a me poderia no tersido capaz de impedir as invases e descontinui-dades de proteo a uma personalidade que ain-da no se constitua. Parece ser necessria agoraa recuperao da tcnica ativa: o analista teria quese adaptar s necessidades da paciente onde a mefalhou. Estela se identifica com a me frgil quea desprotegia. No consegue reconhecer a vio-lncia dos constantes ataques do pai agressivo.Ele a chama de puta, mas Estela no conseguereconhecer a violncia, ainda que todo o seu in-terior derreta como manteiga, de horror. No

    apenas no sabe reconhecer a violncia quando aexperimenta, como tampouco sabe reconhecer obem-estar que to raro vivencia.

    Esmagada pelo pai, sente que no pode colo-car em questo a sua violncia. Teme desestabi-lizar a frgil fora paterna e possivelmente todafamlia. O forte e violento pai lhe parece final-mente fraco: no pode sustentar suas necessida-des e fraquezas. Diz que a me tem vises develhinhos que noite a vem assustar: a psicosede Estela poderia ter nascido de uma suposta psi-cose materna. O corpo se move desconexo, comose nunca tivesse sido segurado adequadamentequando beb. Que recursos uma me teria, sendoela mesma psictica, para segurar seu beb e pro-duzir nele unidade e segurana? Parece, usandoelementos da linguagem winnicottina, que no hou-ve continuidade na formao do seu ser e experi-ncia. Ningum a pode sustentar: no confia nofinanceira, nem emocionalmente.

    Tudo perturba seu dbil contorno corporal/egoco.Elementos de sua sexualidade e agressividade nopodem se expressar em casa. Seu sofrimento ga-rante a homeostase familiar. Ela se funde em bus-ca de sustentao. Estela est com medo, de to-dos, praticamente o tempo todo. Todos teme vo machuc-la. Neste contexto terrorfico queaparecem nela os tiques, a timidez, o medo, a lou-cura. A desintegrao da imagem corporal apontapara a gravidade de seu estado. Tudo refora a idiade que perturbaes fundamentais ocorreram norelacionamento primeiro entre Estela bebe e suame.

    Estela evoca pela sua vida e sofrimento umacontundente frase da sofrida e talentosa artistaplstica mexicana; Frida Khalo registrou em seudirio: yo soy la desintegracion (Outeral, 2002,p. 22). O mesmo poderia ser aplicado vida e ex-perincia de Estela.

    PSICOSE E CUIDADOS FUNDAMENTAIS

    No modo de compreender de Winnicott, as ba-ses para a sade mental so lanadas na primeirainfncia, por uma me dedicada ao seu filho. Semesta ambientao favorvel, o beb sofre. Winni-cott v uma linha de continuidade no humano, daconcepo morte, de modo que a criana opai do homem (Winnicott, 1952, p. 306). Sem aexperincia de uma construo psquica paulati-

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  • na na infncia, o adulto adoece. A sade da cri-ana e do adulto dependem, portanto, em impor-tante medida da possibilidade da me de cuidardas necessidades de seu filho lactante. Estas ne-cessidades no incio so absolutas. Da me se es-pera uma dedicao imensa no comeo da vidade seu filho. Winnicott gosta da palavra devo-o, que uma vez despida de todo sentimenta-lismo, pode expressar o trabalho intenso da meno trato do seu filho. A sade mental o resul-tado de um cuidado incessante que possibilita acontinuidade do crescimento emocional (ibid).Embora Winnicott reconhea a complexidade eas dimenses controvertidas da etiologia da psi-cose, ele v nas perturbaes neste perodo da lac-tncia, anterior a formao de um ser psquico in-tegral, fator etiolgico fundamental para tal psi-copatologia.

    A partir de suas observaes de crianas e, so-bretudo a partir de sua experincia de cuidado deadultos psicticos ou neurticos graves, em esta-dos momentneos ou permanentes de regresso,Winnicott intui que no incio o individuo no uma unidade. Sua vulnerabilidade a estados es-quizides e franca esquizofrenia depende em gran-de medida do modo como este ser ainda no in-tegralizado exposto realidade. Trata-se de ummomento delicado, quando o beb depende abso-lutamente de sua me. Um fracasso importante aresulta organizaes defensivas contra a confu-so e a no integrao. Se a me est em condi-es de fazer uma adaptao ativa e sensvel snecessidades do seu beb, este pode permanecerprotegido do ambiente at quando queira. Final-mente o beb faz um movimento espontneo e di-gamos toca o ambiente, descobrindo e cons-truindo um no eu. Se o ambiente, por outro la-do, no se adaptar ao beb e entrar no mundo ps-quico do beb por sua iniciativa, o beb vive istocomo uma invaso e se defende. A defesa o iso-lamento, que visa readquirir uma sensao de con-tinuidade e proteo.

    Nesta situao de falha do ambiente (basica-mente oferecido pela me ou por algum que asubstitui) surgem as distores psicticas. Apsa intruso do ambiente no mudo do beb, segueo seu isolamento psquico e o aparecimento de umaorganizao defensiva para repudiar a invaso.Para Winnicott, a tcnica para tratar pacientes,que tiveram esta experincia na infncia, deve in-cluir a atitude que no foi experimentada pelo beb:

    uma adaptao ativa e sensvel s suas necessi-dades psquicas, proporcionada por uma grandeplasticidade da parte do analista.

    Nos momentos iniciais, h um grande poten-cial criativo no beb surgido de sua intensa neces-sidade, que o coloca em uma verdadeira pronti-do para a alucinao. A me sensvel, profunda-mente identificada com o seu beb, acaba ofere-cendo, no momento certo e no lugar certo, exata-mente aquilo que o beb est alucinando. estaexperincia de criar o que lhe est sendo ofereci-do, de encontrar aquilo que alucina, repetidas mui-tas vezes, que d ao beb a iluso da onipotnciae o faz se sentir amado, importante, seguro. Nocaso destas coisas no acontecerem satisfatoria-mente, fruto de uma adaptao insatisfatria doambiente, surge uma ciso bsica, onde uma vidasecreta se estabelece com pouco ou nenhum con-tato com a realidade. O resultado uma vida arti-ficial e falsa, finalmente vazia, fria, sem sentido,baseada em total submisso. Em casos mais gra-ves, o caos se estabelece. De qualquer forma ailuso no se constitui e no se desfaz completa-mente, levando na vida adulta o paciente exigirdo seu entorno a aquiescncia para construesmais ou menos delirantes.

    Vrias perturbaes podem se dar a partir des-tas insuficincias iniciais. Uma delas seria o usoda inteligncia para compensar a experincia dano integrao. Neste caso aparece um intelec-tualismo artificial, um excesso, que visa compen-sar a ausncia desta adaptao do ambiente nosprimeiros momentos. Aparece uma hipertrofia dosprocessos intelectuais que parecem completamen-te divorciados do corpo e afetos. Uma outra expe-rincia a sensao que estes pacientes tem deno se sentirem alojados no prprio corpo. Estasensao de desintegrao ameaa terrivelmenteo paciente, tornando o indivduo um paranicopor qualquer causa. No desenvolvimento mais fe-liz, o mundo externo com seus perseguidores einvases so neutralizados pela presena e atua-o da me devota, que sustenta o beb fsica e emo-cionalmente. Sem esta proteo o potencial para-nide se desenvolve. para se defender das terr-veis angstias deste estado paranide que surgeuma forte organizao defensiva, desde a infn-cia. Para escapar ao ataque paranoicamente espe-rado, o paciente evita a integrao.

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  • ASPECTOS CLNICOS E METAPSICOLGICOSDA REGRESSO

    Winnicott valoriza o tema da regresso naclnica de pacientes graves. Suportar a regressodo paciente , para ele, mais do que um aspectoda tcnica, ou do estilo pessoal do analista. Tra-ta-se de propiciar condies de desenvolvimentode um processo iniciado e conduzido pelo incons-ciente do paciente, com seu ritmo, recuos e com-plexidades. A tcnica ativa o modo possvel demanter a abstinncia com pacientes graves: o queexige muitssimo do analista. uma ativa adapta-o s necessidades do paciente, que permite aeste avanar, ou voltar rumo aos seus sofrimen-tos mais brutais. Dado a primariedade do modocomo o paciente se liga, cabe ao analista uma pos-tura que se aproxima a de uma me que segura oseu beb. Quando o analista deixa que o processoseja conduzido pelo inconsciente do paciente, exa-tamente como faz no tratamento da neurose, po-dem surgir no analista, neste caso da psicose, sen-timentos difceis de manejar: seu inconsciente profundamente mobilizado. preciso estar certodas dificuldades. Constantemente o tratamento ul-trapassa o analista, que outra vez precisa ver o quelhe escapa.

    A regresso de que fala Winnicott, refere-se aum tipo especfico de paciente, com falhas im-portantes no relacionamento inicial me/beb. Seno for possvel suportar a regresso nestes casos,a anlise pode se centrar sobre uma construo so-cial grandemente falsa, que no representa as di-nmicas mais profundas da personalidade. Estemundo interior profundo, marcado por angstiase medos impensveis, pode permanecer soterra-do, disfarado por esta construo defensiva quese chama psicose. A regresso para Winnicott re-presenta, portanto, um poderoso recurso da psi-que, uma corajosa tentativa de ir at o ponto on-de as angstias impensveis foram experimen-tadas. Um destino muito mais infeliz na psicose alis, uma ameaa sempre presente seria sim-plesmente o caos, situao onde a capacidade deregresso fica completamente anulada.

    Talvez este ponto merea uma elucidao. Pa-ra Winnicott a regresso est ligada idia de quefrente a perturbaes iniciais graves, houve umcongelamento da situao de falha, que gera tan-ta angstia. H tambm uma esperana de que emsituaes mais favorveis futuras, esta falha con-

    gelada possa ser descongelada e tratada. Veja queele no est pensando primeiramente na regres-so libidinal a pontos de fixao do investimentoe suas fases. A regresso de que fala , sobretudoa regresso a uma situao de dependncia e serefere ao desenvolvimento do ego. Ele est falan-do de uma adaptao adequada do ambiente, aindaque tardia. Se for possvel uma regresso depen-dncia, processos curativos podem ser suficien-tes para descongelar a situao de falha e o vn-culo entre a psicose e a sade ser revelado. Isto sse d se um ambiente de confiana real se estabe-lece.

    O modo de refletir de Winnicott sobre a psicosedestaca sua sensao de insuficincia diante do pa-ciente: Fui obrigado a crescer enquanto pessoano decorrer do tratamento, de um modo dolorosoque eu teria tido prazer em evitar assevera fa-lando de um atendimento de uma paciente grave(Winnicott, 1954, p. 378). honesto para reco-nhecer os impedimentos ao avano do tratamentoque se apresentam nele mais do que no paciente:

    Particularmente, foi-me necessrio apren-der a examinar a minha prpria tcnica to-da vez que surgiam dificuldades, e em to-das as cerca de doze fases de resistnciaocorridas ficou claro em seguida que a cau-sa originava-se de algum fenmeno de con-tratransferncia, tornando necessria umaauto-anlise adicional do analista. (ibidem)

    Com estas observaes pretende esclarecer o quepensa sobre o que seja realmente a abstinncia eo no atendimento da demanda do paciente. A tc-nica ativa na psicose no pode ser confundida comum simples reasseguramento. Ele avalia o pontoassim:

    Formaes reativas no comportamento doanalista so prejudiciais no porque se fa-zem presentes na forma de reasseguramen-to e negao, mas porque representam ele-mentos inconscientes reprimidos no ana-lista que iro limitar sua capacidade de tra-balho. (Winnicott, 1954, p. 390)

    ESTELA, A PSICOSE, UM CAMINHO ENTREAS PEDRAS

    O caminho entre pedras: machuca os ps. Se

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  • fosse neurose, poder-se-ia falar em ps inchadosde dipo. O caminho entre pedras aponta, entreoutras coisas, para os limites do analista. Ele no onipotente, no enxerga tudo. Ele pode se irri-tar com o baixo valor pago pela sesso, ou com aexperincia velada ou expressa de frustrao dopaciente com o tratamento. O caminho entre pe-dras tambm para o paciente. O analista no estdisponvel no fim-de-semana e frias, o pacientesofre, atua e ataca. O vnculo parece frgil. O pa-ciente expressa inteno de interromper o trata-mento, o analista se inquieta. So afetos comple-xos, a ciso est presente. A paciente quer se apro-ximar e quer se afastar, ao mesmo tempo. O ana-lista no suficiente. Ser suficientemente bom?

    Entre pedras, um caminho. A estabilidade doatendimento permite Estela as primeiras expres-ses no consultrio de traos de sua sexualidadee agressividade, que mal podem se constituir emfamlia. Toma a iniciativa e vai para o div. O divno apenas representa o acolhimento do analista,o div o acolhimento do analista, seus braos,suas palavras. Os tiques diminuem, a paciente me-lhora. Comea a namorar: meses de namoro, bei-jo s selinho, nada de lngua. A lngua queno pode entrar na boca! O terror da invaso, dapenetrao, do aniquilamento. Lngua invaso, vio-lao, estupro. Seu dbil contorno corporal/egocono agenta... Parece que s uma compreenso eacolhimento excepcionais, incluindo no apenasa necessidade de aproximao, mas a necessida-de de separao, no apenas a satisfao, mas afrustrao e o medo do tratamento, podem per-mitir a continuidade do tratamento. Talvez um diao beijo no seja violncia, a lngua no seja es-tupro e terror de se perder no outro. O analista pre-cisa estar consciente sempre que tambm podeser um excesso para a paciente: no est sempredisponvel, no perfeito, cobra e encerra as ses-ses, diz uma palavra que a paciente no aceita.Entre as pedras e a psicose, Estela se anima e vaiencontrando um caminho... Ela se funde; regride dependncia. Entre pedras se prenuncia movi-mentos de busca e de concretizao.

    CONCLUSO

    A julgar por certos modelos propostos, certosmodos de construir um caso, as perspectivas noso nada animadoras para Estela. Mas aqui as

    vicissitudes de um self dissociado no devem servistas como um castigo eterno. Refletindo sobretrabalho anterior de Jacques Lacan e o estdio doespelho, Winnicott pergunta: o que v o beb quan-do olha para o rosto da me? O beb normal-mente v a si mesmo, responde. preciso enten-der que este normalmente expressa esta qualida-de de uma me capaz de se identificar e se adaptarao seu beb, uma adaptao no comeo quase com-pleta. O olhar da me no sem desejo, no desin-teressado. Winnicott no sugere que este olhar de-vesse ser vazio para no ocorrerem s intruses.O olhar com desejo de Winnicott talvez devesseser comparado violncia necessria de PierraAulagnier, talvez. O desejo da me expressa algocom o que o beb pode se comunicar. O olhar inva-sivo, ao contrrio, o que reflete o humor da mevoltada para si, ou pior ainda, reflete as suas de-fesas diante da vida. A me que no reage ao beb,cujo rosto fixo, inflexvel, acostuma o seu beba no ser visto, mesmo quando olha para o espe-lho me. As conseqncias so a formao de umconjunto de mecanismos de defesa e a psicose. Se-gundo Andr Green h o complexo da me morta,aquela que mesmo viva incapaz de reagir ao seufilho, esta me morta para o seu beb, gera ela mes-ma uma morte psquica mais ou menos intensano seu pequeno filho.

    H quem diga que Freud nunca abandonou com-pletamente sua teoria da seduo. Na verdade, elegradualmente a modificou e integrou com basena sexualidade infantil. Se assim for, os efeitosnocivos da seduo propugnados em Freud po-dem ser comparados a esta me que morre parao beb, apenas usando-o, sem real capacidade deenxerg-lo e refleti-lo. Cabe ao analista pensar olugar que ocupa no tratamento do psictico, quan-do sem qualquer sentimentalismo, sem negaoda agressividade marca fundamental da experi-ncia humana sem seduo, posso ativamentesustentar o paciente em seus processos de regres-so necessrios, que finalmente possam leva-lo ano apenas sentir angstias impensveis, masrecuperar desde dentro do processo o seu cresci-mento emocional, com vivncia e manifestao au-tnticas de si mesmo.

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    RESUMO

    O trabalho entremeia o relato de um atendimento deuma paciente limtrofe com uma discusso sobre a na-tureza da psicose e a transformao que causa na tcnicapsicanaltica. Especial ateno dada contribuiowinnicotiana ao atendimento de pacientes como este.

    Palavras-chave: Pacientes limtrofes, psicose, tcni-ca psicanaltica, Winnicott.

    ABSTRACT

    The article intersperses a report of a treatment of bor-derline patient with a discussion of the nature of psy-chosis and the transformation it causes in the psycho-analytical technique. A special attention it is given tothe Winnicott contribution to the treatment of patientslike this.

    Key words: Borderline patients, psychosis, psycho-analytical technique, Winnicott.

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