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Pedro Vitor Sousa Ribeiro Universidade Federal de Alagoas [email protected] VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE GUAXUMA, LITORAL NORTE DE MACEIÓ Nádia Milena da Silva Barbosa Universidade Federal de Alagoas [email protected] Danielle Maria Lamenha Santos Universidade Federal de Alagoas [email protected] Leonardo Salazar Bittencourt Universidade Federal de Alagoas [email protected] Gabriella Restaino Universidade Federal de Alagoas [email protected] 1165

VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE ...REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURI S 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios Coimbra t Portugal,

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  • Pedro Vitor Sousa Ribeiro

    Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE GUAXUMA, LITORAL NORTE DE MACEIÓ

    Nádia Milena da Silva Barbosa

    Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    Danielle Maria Lamenha Santos

    Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    Leonardo Salazar Bittencourt

    Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    Gabriella Restaino

    Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    1165

  • 8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

    Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

    VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE GUAXUMA, LITORAL

    NORTE DE MACEIÓ

    P.V.S. Ribeiro, D. M. L.Santos, N.M.S. Barbosa, L.S. Bittencourt, G. Restaino

    RESUMO

    A pesquisa discute o impacto da verticalização na condição de sombreamento e insolação

    nas edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma, cidade de Maceió - Alagoas. O

    objeto empírico compreende um recorte espacial entre o limite sul do bairro e o clube

    social Sesc Guaxuma. Foram escolhidas duas configurações de implantação: edifícios mais

    próximos à rodovia e à faixa de areia. Foi realizada uma análise qualitativa e quantitativa a

    partir da observação direta, pesquisa documental e simulação com as ferramentas Ecotect e

    Revit. Os resultados mostram que os índices urbanísticos não promovem insolação direta

    nas áreas não edificadas - entre os prédios, faixa de areia e rodovia, na maior parte do

    tempo. Demonstram também que para área destinada ao acesso direto à praia, de convívio

    coletivo, há predominância de insolação durante o ano. Verificou-se ainda um impacto na

    paisagem, principalmente para a comunidade residente.

    1 INTRODUÇÃO

    O crescimento das cidades, aliado à especulação imobiliária, tem mudado o cenário de

    regiões como Maceió, onde o litoral norte tem sido considerado vetor de expansão desde

    que o Plano Diretor permitiu a construção de edifícios de até 20 pavimentos na região à

    beira-mar dos bairros de Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Riacho Doce, Pescaria e

    Ipioca. A verticalização proposta para a localidade contempla edifícios multifamiliares,

    áreas de lazer privativas e desfrute da paisagem paradisíaca associada à região.

    Os recentes empreendimentos imobiliários – construídos e em fase de comercialização,

    propostos para um novo perfil de moradores, considerados de classe alta, contrastam com

    as residências já consolidadas da região. Como exemplo disso está o bairro de Guaxuma,

    atualmente ocupado por uso, predominante, residencial horizontal e que está em iminente

    transformação tipológica. Esses empreendimentos têm ocupado áreas planas, de encosta e

    à beira-mar, alterando a configuração espacial e criando novas condições ambientais.

    Conforme Pereira et al. (2011) ações urbanas deste tipo são capazes de obstruir o acesso ao

    sol e à luz comprometendo a habitabilidade. Espaços onde as edificações são colocadas

    próximas umas às outras e com múltiplos pavimentos, podem causar sombreamento,

    comprometendo a insolação e a iluminação natural dos ambientes internos e externos.

    Segundo Assis (2002), a qualidade físico-ambiental está associada aos recursos naturais. A

    insolação, a iluminação e a ventilação naturais influenciam a condição de habitabilidade

  • tanto para o convívio humano quanto para a fauna e a flora. Isto acarreta em

    responsabilidade ambiental sobre o clima local e conforto ambiental dos edifícios. Para a

    autora, uma das maneiras de garantir o direito ao sol e à luz natural é dispor, na legislação

    urbana, de dispositivos que garantam acesso a estes recursos naturais.

    Para a legislação urbana de Maceió, estes critérios apresentam-se na forma de

    condicionantes para ocupação do solo, aproveitamento de área e parâmetros progressivos

    associados ao número de pavimentos e recuos confrontantes. Para o bairro de Guaxuma, a

    legislação prevê a verticalização associada à proposição de vazios conforme os recuos, as

    taxas e os coeficientes de ocupação edilícia. Prevê, ainda, a implantação de edifícios

    residenciais multifamiliares sendo restrita a ocupação por outras atividades.

    Embora a verticalização na área altere a paisagem urbana, não se sabe ainda se é capaz de

    interferir negativamente nas condições de habitabilidade acerca da insolação e do

    sombreamento nas adjacências. Outro aspecto é a manutenção do acesso físico e público às

    praias: hoje a chegada à praia dar-se pela circulação de pessoas nos terrenos baldios e,

    considerando a plena ocupação destes lotes, haverá o comprometimento desse acesso.

    Percebe-se, então, que a faixa litorânea do bairro de Guaxuma vivencia um processo de

    verticalização e exploração imobiliária impulsionados pelo potencial paisagístico da região

    e amparados por parâmetros urbanísticos propulsores para a ocupação residencial nesses

    moldes. Assim, esta pesquisa discute o impacto da verticalização na condição de

    sombreamento e de insolação nas edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma.

    Utiliza-se como objeto um recorte espacial de 12 lotes compreendidos entre o limite sul do

    bairro e o clube social Sesc Guaxuma.

    2 OBJETIVO

    Discutir o impacto da verticalização na condição de sombreamento e de insolação nas

    edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma.

    3 A LUZ E O MEIO AMBIENTE CONSTRUÍDO

    Para Hopkinson et al. (1975) a luz natural possui vantagens como melhor qualidade,

    efeitos estimulantes nos ambientes e valores mais altos de iluminação com menor carga

    térmica. Embora varie constantemente ao longo do dia, as mudanças ocorrem de tal forma

    que é possível uma boa adaptação visual.

    Segundo Boyce (2003) é inegável a atuação da luz como condição ambiental, servindo

    como fonte de estímulo fisiológico e emocional. Como afirmam Tregenza e Loe (2015),

    “os padrões de luminosidade e cores afetam a saúde e o comportamento das pessoas”. E,

    embora a entrada de luz solar nos edifícios seja importante, ela deve ser controlada,

    defendendo o uso, para regiões tropicais, de aproveitamento máximo da luz do sol e

    sombreamento ajustável.

    4 VERTICALIZAÇÃO, ILUMINAÇÃO E SOMBREAMENTO GUIA PARA AS

    REFERÊNCIAS

    De acordo com Brandão (2004), na medida em que se adotam políticas de adensamento, a

    verticalização surge como a alternativa mais viável, embora incida em problemas de

  • sombreamento e mesmo que os parâmetros urbanísticos em uso tenham regido a forma de

    ocupação do solo, não garantem o melhor aproveitamento no controle de acesso ao sol. Esse

    autor considera a radiação e a luz solares como recursos naturais, e, portanto, merecem

    proteção ambiental. Nesse sentido, a legislação urbana é um instrumento capaz de preservar o

    acesso a tais recursos, à medida que controla a geometria das edificações.

    Em Maceió, destacam-se quatro parâmetros urbanísticos: coeficiente de aproveitamento;

    taxa de ocupação; afastamentos mínimo e taxa de permeabilidade. Esses parâmetros não

    oferecem garantias de acesso ao sol para as edificações vizinhas, mas taxas altas tendem a

    reduzir a área edificada. Para Brandão (2004) dentre estes dispositivos, o uso de

    afastamentos mínimos é o recurso tradicional para buscar a preservação do acesso ao sol.

    Nunes (2011) salienta que a verticalização pode provocar perda da insolação natural,

    prejuízo no conforto térmico e lumínico nas edificações e áreas circunvizinhas, o que

    acarretaria no aumento da umidade nas áreas sombreadas, proliferação de fungos, bactérias

    e potencializa a manifestação de doenças respiratórias.

    5 A VERTICALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES NO LITORAL NORTE DE

    MACEIO

    O Litoral Norte de Maceió possui aproximadamente 20km de extensão e é cortado pela

    rodovia AL-101 Norte, importante eixo de ligação entre Maceió e os municípios vizinhos,

    como pode ser visto na Figura 1 Vias de acesso a outras áreas da cidade, como

    EcoViaNorte ampliam as possibilidades de mobilidade na região que compreende os

    bairros de Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Garça Torta, Riacho Doce, Pescaria e

    Ipioca, sendo considerada uma área em expansão e incorporada ao perímetro urbano da

    capital. Possui baixa ocupação territorial e tem como principal atrativo os ecossistemas

    litorâneos com paisagens de praias, coqueirais e riachos.

    Fig. 1 Imagem da aérea da cidade de Maceió, com destaque para o litoral norte

    Para esta área percebe-se que o processo de verticalização já iniciado na faixa litorânea

    contrasta com a forma e os padrões das construções locais, afetando a dinâmica de

    ocupação e comércio imobiliário. Isto incorre em diversas alterações, tais como:

    parâmetros sociais, paisagem urbana, fatores ambientais, sanitários e de infraestrutura.

    Para Cavalcanti e Sousa (2000) e Faria e Robalinho (2009) os parâmetros apresentados no

    código de urbanismo têm versado sobre quatro enfoques: a) a altura das edificações na

    planície litorânea e a consequente obstrução da visibilidade do facho sinalizador do farol

  • oceânico; b) a ampliação do volume edificado com o bloqueio da ventilação natural e seus

    impactos sobre dispêndio de energia e conforto térmico; c) a obstrução dos mirantes

    naturais de contemplação da paisagem; e d) o devassamento da intimidade dos

    apartamentos com a proximidade das edificações.

    6 O RECORTE ESPACIAL

    Guaxuma é um bairro distante cerca de dez quilômetros do centro de Maceió, capital

    alagoana e faz parte do setor urbano costeiro considerado um vetor de expansão da cidade,

    um recorte espacial dessa região pode ser visto na Figura 2. Atualmente, conta com

    residências, comércio, serviços e clubes sociais. Sua área edificada situa-se tanto no

    tabuleiro quanto na planície costeira. A diversidade dos aspectos naturais e a beleza cênica

    fazem deste bairro, um dos principais atrativos para quem procura a proximidade com a

    natureza litorânea e o distanciamento da região central da cidade.

    Fig. 2 -Praia de Guaxuma no Litoral Norte de Maceió

    Para Nascimento (2007), a reconfiguração do espaço em curso associa-se à mudança sócio

    espacial, questionando a possibilidade de equidade no acesso aos recursos naturais. Como

    exemplo, cita-se o acesso direto à praia que, atualmente, dar-se através dos terrenos

    baldios. Embora os lotes sejam contíguos, a locomoção até a beira da praia acontece nos

    espaços vazios e com características de abandono.

    Nesse sentido, e baseado nas demandas da população e nas diretrizes estabelecidas pelo

    Plano Diretor e pelo Código de Urbanismo e Edificações de Maceió, já existe um plano de

    acessibilidade viária para o Litoral Norte, elaborado pela Secretaria Municipal de

    Planejamento, com o objetivo de planejar esta área da cidade. Além disso, ações oriundas

    do Ministério Público tentam preservar o direito ao acesso estabelecendo parâmetros

    espaciais. Neste caso, a cada 500m deve haver um acesso direto entre a via e faixa de areia.

    Para o trecho definido como objeto empírico deste estudo, há a necessidade de, no mínimo,

    1 (um) acesso.

    7 METODOLOGIA

    Inicialmente foi feita uma visita exploratória ao litoral norte de Maceió para definir a área

    de atuação desta pesquisa. Para ampliar mais os conhecimentos sobre a região realizou-se,

    também, uma pesquisa documental utilizando os mapas digitais da Google Maps. Como

    objeto de estudo, delimitou-se, o limite sul do bairro até o clube social Sesc Guaxuma.

  • Foi elaborado um cenário misto de implantação em que, considerando as edificações já

    existentes e os parâmetros urbanísticos da cidade, estimou-se a tipologia e uma lâmina de

    20 pavimentos para os prédios que serão construídos na região. Além disso, como

    intervenção para melhorar as condições impostas pela verticalização das edificações da

    região em foco, propôs-se uma área pública de convívio coletivo, que, além de um espaço

    de lazer, também garanta o acesso à praia para a comunidade local e para as pessoas que,

    de maneira geral, visitem a região.

    Um modelo computacional foi construído para realizar as simulações de insolação e

    sombreamento nas edificações e na faixa de areia. Realizou-se um estudo paramétrico, com

    a utilização dos softwares Ecotect e Revit para verificar a influência da altura e do

    posicionamento das edificações na quantidade de horas de sol ao nível do solo, bem como

    o percentual de horas o dia em que há sombreamento decorrente dos edifícios.

    Esta pesquisa tem caráter quantitativo a partir das análises realizadas nos dados obtidos

    através da ferramenta computacional Ecotect e, qualitativo, tomando como base as

    informações obtidas através do software de simulação Revit. No primeiro foi disposta uma

    malha 140x140 pontos, e nestes calculados os valores de horas de sol e percentual de

    sombreamento ao longo de todo o ano, do nascer ao pôr do sol. No Revit foram geradas

    imagens em posições estratégicas, como a praça da comunidade, a fim de verificar a

    influência da existência das edificações na paisagem.

    A aplicação do método foi realizada em dois cenários urbanos virtuais, aqui chamados de

    Modelo 1 e Modelo 2, compostos por edificações em formato homogêneo em

    parcelamentos regulares e alternados. No Modelo 1, configurou-se o adensamento mais

    afastado da faixa de areia, já no Modelo 2, o adensamento foi implantado mais próximo da

    faixa de areia.

    A análise da iluminação natural e da insolação em ambientes urbanos pode ser feita através

    de diferentes técnicas específicas. Nesta pesquisa foram apreciadas apenas as que

    consideram a parcela incidente destes recursos, sem avaliar a interação entre as superfícies,

    visando a simplificação do método proposto.

    8 ANÁLISE DOS RESULTADOS

    8.1 Modelos projetados

    Foram projetados dois modelos com o máximo de adensamento permitido para a região.

    Os edifícios já existentes, ou já previstos, ficaram fixos, enquanto que nos lotes vazios

    foram locadas edificações em duas configurações: Próximas à rodovia (Modelo 1) e

    próximas à praia (Modelo 2), como apresentado na Figura 3. Em destaque, na mesma

    figura, está a intervenção proposta neste estudo: uma área de convívio coletivo que

    também tem a função de ser uma passagem de acesso à praia, como solução para garantir

    aos moradores locais e aos que visitam a região o acesso à praia de Guaxuma, bem como,

    uma área de convívio coletivo para todos. Na Figura 4 é possível ver um esboço da

    proposta para a intervenção.

  • Fig. 3 Modelo 1 (M1), com edifícios mais próximos à rodovia e modelo 2 (M2) com

    edifícios mais próximos à praia

    Fig. 4 Esboço da proposta para a área de convívio coletivo e de acesso à praia de

    Guaxuma

    Essa proposta contempla acesso a pedestres e veículos (para situações de emergência). A

    circulação foi definida a partir dos caminhos naturais existentes no próprio local. Já a faixa

    central de circulação apresenta-se com dimensão de 6,0m de maneira que o acesso seja

    imediato quando necessário. Esta dimensão beneficia também a ampla circulação de

    grupos de pedestres - caso torne-se ponto turístico, como acontece em outros pontos à

    beira-mar da cidade de Maceió.

    Mais próximo à faixa de areia, tem-se área para quiosque (para posto de emergência e/ou

    segurança), duas áreas para parques infantis circundadas por bancos. Jardim e vegetação

    rasteira recobrem quase toda a área. Isso permite uma maior permeabilidade do solo e

    reduz o aquecimento do local, uma vez que a análise demonstra insolação na maior parte

    do tempo. Confrontando-se com os terrenos laterais, estima-se área para jardim e possível

    área para galeria para instalações necessárias à infraestrutura.

    8.2 Análise dos resultados do Modelo 1

    Uma das preocupações quanto à verticalização da região é a obstrução da visão da praia a

    partir da comunidade, e da praça de convívio. Na Figura 5 é apresentada a perspectiva de

    visão a partir do ponto supracitado. Observa-se que mesmo a comunidade estando em uma

    cota mais elevada que o nível do mar (34 metros na praça) a obstrução pelas edificações da

    visão do mar é grande, restando desobstruído apenas o lote do acesso proposto.

  • Fig. 5 Perspectiva de visão do mar a partir da praça no Modelo 1

    Na Figura 6 apresenta-se a perspectiva de sombreamento da região para os dias de solstício

    e equinócio ao longo do ano para às 07h30min da manhã. É importante notar que a forma

    como as sombras se dispõem varia conforme a época do ano. No inverno há uma tendência

    de que as regiões entre as edificações recebam insolação direta em consequência da

    posição que o sol assume nesse período. Já no restante do ano as regiões de recuo entre os

    edifícios encontram-se na maior parte do dia sombreadas.

    Fig. 6 Perspectiva de sombreamento da região às 07h30min da manhã

    A região da praia recebe insolação na maior parte do dia, entretanto, após o meio dia,

    algumas regiões da faixa de areia já começam a ser sombreadas, como pode ser visto na

    Figura 7. Esse efeito é agravado pela proximidade das edificações com a faixa de areia.

    Nos períodos de primavera e verão a região passa até 21,8% das horas de sol do dia sob a

    influência da sombra dos edifícios, enquanto que no outono esse percentual aumenta para

    28%. No período do inverno há uma tendência de que as regiões entre as edificações, na

    parte da tarde, fiquem totalmente sombreadas, fazendo com que este seja o período em que

    a influência da sombra na região da areia fique menor.

    Fig. 6 Perspectiva de sombreamento da região após o meio dia

    Para os modelos com o máximo de adensamento permitido para a região, observa-se a

    presença de sombreamento ao longo de todo o ano tanto na faixa de areia quanto na

    comunidade localizada atrás do conjunto de edificações. Na figura 8, apresentam-se as

    ocorrências de sombra em 3 locais de análise: a praça de convívio da comunidade de

    Guaxuma, a rodovia AL101 Norte e a faixa de areia da praia de Guaxima. Observa-se que

  • o período do dia em que a praça fica encoberta pela sombra das edificações compreende

    uma pequena porção do dia. Nos períodos de outono e inverno o percentual de horas do dia

    que a localidade se encontra sombreada é de aproximadamente 6,3%, na primavera e verão

    essa faixa amplia-se para 7,9%.

    Fig. 8 Gráfico da duração do dia e intervalos de sombreamento no modelo 1

    Esse período de sombreamento acaba, em todos os dias, no máximo, às 06h20min, o que

    não configura um prejuízo relevante à comunidade. O fato da praça estar localizada em

    uma cota mais alta que o nível das edificações (34m) faz com que os edifícios localizados

    ao longo da linha de praia não a afete de forma significativa. O fenômeno estende-se até a

    rodovia AL101 ao longo de todo o ano, em um período bem maior de tempo. Nas estações

    de outono e inverno a rodovia fica sombreada em 29,8% das horas de sol do dia, já na

    primavera e verão, esse percentual aumenta para 35,4%.

    Outra forma de análise dos efeitos de sombreamento e insolação é através dos gráficos

    disponibilizados pelo software Ecotect, como apresentado na Figura 9.

    Fig. 9 Percentual de sombreamento e horas de sol ao longo do ano, para o modelo 1

    Neste é possível observar que na região entre as edificações há uma redução de até 92% no

    tempo de insolação, estando elas totalmente sombreadas na maior parte do dia. A rodovia,

    neste modelo, encontra-se sombreada em até 42% das horas do ano, no prior caso, e a faixa

    de areia possui regiões em que o sombreamento ocorre em 47% do ano. Observa-se

    também que a maior parte da redução das horas de sol localiza-se junto à edificação, e que

    sua sombra se projeta de forma diferente em direção à praia e à rodovia, fato que pode ser

    explicado pelo relevo do local. As sombras das edificações mais próximas à praia

    projetam-se para dentro do mar, possuindo até 21% das horas do ano com algum tipo de

    sombreamento.

  • 8.3 Análise dos resultados do Modelo 2

    No modelo 2 os edifícios previstos foram deslocados todos para o limite mais próximo à

    praia. A visão do mar a partir da comunidade da guaxuma pouco se altera, como

    apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.10. Percebe-se que em ambas

    as configurações, a praça da comunidade, que possui como um de seus atrativos a vista do

    mar, fica com a visão amplamente obstruída, negando à população o acesso à paisagem.

    Fig. 10 Perspectiva de visão do mar a partir da praça no Modelo 2

    Na Figura 11 apresenta-se a perspectiva de sombreamento da região para os dias de

    solstício e equinócio ao longo do ano, para às 07h30min da manhã para o adensamento

    mais próximo da faixa de areia. Assim como no Modelo 1, nota-se, no Modelo 2, que a forma como as sombras se dispõem varia conforme a época do ano. Nesse case, no verão

    há uma tendência de que as regiões entre as edificações recebam insolação direta em

    consequência da posição que o sol assume nesse período. Já no restante do ano as regiões

    de recuo entre os edifícios encontram-se na maior parte do dia sombreadas.

    Fig. 11 Perspectiva de sombreamento da região às 07h30min da manhã

    A região da praia recebe insolação na maior parte do dia, entretanto, após o meio dia,

    algumas regiões da faixa de areia já começam a ser sombreadas, como pode ser visto na

    Figura 12.

    Fig. 12 Perspectiva de sombreamento da região após o meio dia

  • Esse efeito é agravado pela proximidade das edificações com a faixa de areia. A incidência

    do sombreamento é percebida já no período do verão, aumentando no outono e sendo

    agravada nos períodos de inverno e primavera. Na figura 13 apresentam-se as ocorrências

    de sombra em 3 locais de análise: a praça de convívio da comunidade de Guaxuma, a

    rodovia AL101 Norte e a faixa de areia da praia de Guaxima para o modelo 2.

    Fig. 13 Gráfico da duração do dia e intervalos de sombreamento no modelo 2

    Comparando essa situação com a anterior observa-se um aumento entre 26%, no verão, e

    37%, no inverno, do período de sombreamento da faixa de areia da praia. O período em

    que ela fica sombreada aumenta, atingindo valores de até 42%. O período crítico de

    sombreamento é no inverno, devido à posição solar em relação às edificações.

    O percentual de horas de sombreamento da rodovia diminui consideravelmente, fazendo

    com que outras regiões, dentro do lote, sofram tal influência. Os resultados podem ser

    atestados pelas imagens em falsa-cor obtidas no Ecotect, e apresentadas na Figura 12.

    Fig. 12 Percentual de sombreamento e horas de sol ao longo do ano, para o modelo

    Na figura é possível observar que a influência do sombreamento da faixa de areia pelas

    edificações é bem mais evidente que no modelo anterior, e que sua sobra avança para

    dentro do mar alcançando maiores distâncias. Interessante notar que no modelo 1 apenas

    alguns edifícios, já existentes ou previstos, estavam na posição próximos à praia, fazendo

    com que o seu efeito sobre a faixa de areia se limitasse ao seu entorno. Com todos os

    edifícios nessa posição a amplitude do efeito se amplia para praticamente todos os lotes.

  • Vale observar que a área de acesso à praia e de convívio coletivo proposta neste estudo,

    tendo em vista o grande afastamento entre as edificações, passa a maior parte do ano

    recebendo insolação, principalmente na estação do outono. A presença das edificações,

    nesse sentido, provê sombra em determinadas épocas do ano, mas permite que haja luz

    natural nesses espaços de uso comum.

    9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Conforme a análise acima exposta, destaca-se a importância da configuração espacial, a

    relação entre a qualidade ambiental, o partido arquitetônico, a política urbana e o mercado

    imobiliário, sobretudo referente às condições de insolação e de sombreamento para o

    adensamento urbano.

    Salienta-se que não foram esgotadas as possibilidades de configurações arquitetônicas,

    sendo necessários estudos mais aprofundados para as condições formais edilícias e para

    admissão e obstrução da luz solar com o intuito de otimizar os benefícios obtidos a partir

    da luz direta do sol.

    Para a área em questão, enfatiza-se que o adensamento conforme os parâmetros legais

    permitidos, considerando uma nova abordagem de ocupação residencial e social e, ainda, o

    contato mais próximo com a natureza, não são suficientes para garantir qualidade de vida

    simplesmente a partir do lugar, conforme a ampla divulgação da propaganda e marketing,

    visto que a incidência direta de luz solar pode ser comprometida em áreas com expectativa

    de insolação contínua ao longo do ano ou do dia, como, por exemplo, na faixa de areia à

    beira mar.

    Para um melhor aprofundamento sobre o impacto das implantações residenciais verticais

    recomenda-se considerar as características arquitetônicas dos novos empreendimentos

    (dimensões, forma e revestimentos), a implantação e a sua relação entorno como elementos

    imprescindíveis para a configuração das condições ambientais, inclusive, sobre a paisagem

    a ser oferecida aos existentes e novos moradores. Ademais, se todos buscam a proximidade

    com o mar de maneira privada (a partir da sua unidade residencial) ou coletiva (através dos

    espaços de lazer), é possível que as obstruções oriundas dessa configuração afetem não só

    o olhar contemplativo da natureza como, também, as condições propulsoras de ambientes

    mais saudáveis e eficientes.

    Destaca-se ainda que garantir o acesso físico à praia como área coletiva de ocupação

    pública, embora subtraia a possibilidade de construção de mais unidades residenciais,

    resgata não só o direito ao usufruto dos recursos naturais como a preservação de um lugar

    ao sol na faixa de areia banhada pelo mar de Guaxuma.

    10 REFERÊNCIAS

    Assis, E. (2002). Critérios de acessibilidade ao sol e à luz natural para conservação de

    energia em escala de planejamento urbano. In: Encontro Nacional de tecnologia do

    Ambiente Construído. Porto Alegre: ANTAC.

    Brandão, R. (2004). Acesso ao sol e à luz: avaliação do impacto de novas edificações no

    desempenho térmico, luminoso e energético no seu entorno. Mestrado. Universidade de

    São Paulo.

  • Boyce, P., Hunter, C. and Inclan, C. (2003). Overhead Glare and Visual

    Discomfort. Journal of the lluminating Engineering Society.

    Carvalho, L. and Faria, G. (2016). A compreensão dos espaços livres urbanos através da

    sua conceituação e distribuição: multifuncionalidades na zona de expansão periférica de

    Maceió. In: 7º congresso Luso Brasileiro para o planejamento Urbano, regional,

    Integrado e sustentável. Contrastes, Contradições e Complexidades. Maceió: PLURIS.

    Cavalcanti, A. and Sousa, F. (2000). Indicadores urbanos para o desenvolvimento

    sustentável: o caso do Litoral Norte de Maceió. In: Encontro Nacional de Tecnologia do

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