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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO DE
TRANSPLANTE RENAL
COIMBRA, JANEIRO 2016
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO DE
TRANSPLANTE RENAL
Orientadora: Professora Maria Nazaré Ribeiro Cerejo
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
para obtenção do grau de Mestre em
Enfermagem Médico-Cirúrgica
COIMBRA, JANEIRO 2016
“A doença, qualquer que ela seja, não será vivida da
mesma forma por cada pessoa, pois inscreve-se
numa situação de vida única, animada por um desejo
de viver também único. É que, por mais que a doença
seja objetivada no corpo que se tem, ela não afeta, no
fim de contas, senão o corpo que se é”.
Walter Heesbeen
Todo o trabalho nasce do esforço dos seus autores
procurando a simbiose perfeita entre o que
conhecemos e o procuramos no futuro.
Tal como afirmava Miguel Torga: “O destino destina,
mas o resto é comigo”.
Para a sua elaboração contei com o contributo de um
vasto número de pessoas a quem declaro aqui a
minha gratidão.
À Professora Nazaré Cerejo pela orientação e
disponibilidade, cruciais à efetivação deste estudo.
À minha família, amigos e colegas de profissão, pelo
entusiasmo e incentivo que me souberam transmitir e
incutir, especialmente a Nélia Alves pela
disponibilidade demonstrada para concretizar este
sonho, acreditando sempre que eu era capaz.
Aos participantes pela sua contribuição, sem a qual
não seria possível a realização deste estudo.
Agradeço a todos os que mencionei e aos que não
foram mencionados, mas que contribuíram para a
realização deste trabalho…
A TODOS O MEU OBRIGADA
RESUMO
A Doença Renal Crónica Terminal caracteriza-se pela perda de função renal
irreversível, exigindo tratamento substitutivo através da Hemodiálise, Diálise Peritoneal
ou Transplante Renal, como condição única para manutenção da vida (Rodrigues e
Botti, 2009). Em Portugal, segundo a Sociedade Portuguesa de Nefrologia, em 2014
houve um aumento da incidência de pessoas a iniciar tratamento de substituição da
função renal, sendo a Hemodiálise a opção de tratamento mais escolhida (Macário,
2015).
Esta investigação visa compreender e identificar as vivências da pessoa com DRCT
em tratamento dialítico após rejeição do transplante renal. É um estudo qualitativo,
exploratório-descritivo e transversal. Para a colheita de dados recorremos à entrevista
semidirigida a sete pessoas que realizavam HD, após rejeição de transplante renal,
numa clinica da região Centro do País.
A análise das entrevistas foi efetuada segundo a análise de conteúdo descrita por
Bardin (2011), tendo emergido duas dimensões distintas: o Transplante e a
Hemodiálise. No Transplante foram identificadas três categorias: emoções primárias
associadas ao momento da notícia de transplante, que são a surpresa, a
felicidade/alegria e o medo/receio; ser transplantado- reações vivenciais que são
descritas como Liberdade, Mudança para uma vida normal, Bem-estar pessoal, social,
Bem-estar profissional; e por último, respostas em situação de falência de enxerto em
que as causas da rejeição foram variadas e os sinais de alerta descritos são a infeção,
a elevação dos valores da creatinina e diminuição do filtrado glomerular. Na dimensão
Hemodiálise surgiu a categoria readaptação à hemodiálise: vivências. A fase menos
positiva da rejeição é manifestada pelo sofrimento físico e psicológico vivenciado pelos
participantes. A pessoa com DRCT em terapia de substituição renal, durante o
transplante relata reações vivenciais e emoções predominantemente positivas,
relativamente à hemodialise em que há um predomínio de emoções e vivências
negativas tais como: Aceitação, Tristeza/ angústia, Mal-estar pessoal social, Mal-estar
profissional, Depressão, Dependência de uma máquina e Privação de liberdade.
Palavras-chave: Vivências; Pessoa com DRCT; Transplante renal; Hemodiálise;
Enfermagem
ABSTRACT
Terminal Chronic kidney disease (CKD) is characterized by the irreversible loss of
kidney function requiring substitution therapy by hemodialysis, peritoneal dialysis or
renal transplant as the only condition for the maintenance of life (Rodrigues e Bolti,
2009). In Portugal, according to the Portuguese Society of Nephrology in 2014 there
was an increased incidence of people starting replacement techniques of kidney
function, and Hemodialysis was the most popular treatment option.
This research aims to understand and identify experiences with
Terminal CKD patients on dialysis after renal transplant rejection. This study
was developed from the qualitative, exploratory-descriptive and transversal method. A
semi-structured interview was conducted for the collection of data attended by seven
individuals doing hemodialysis after renal transplant rejection in a clinic in the country's
central region.
The data analysis was performed according to the content analysis described by
Bardin (2011) two distinct dimensions emerged: Transplant and Dialysis. In the
transplant three categories were identified: Primary emotions associated with the time
of transplant news, that are the surprise, happiness/joy and fear/reluctance; After
having the transplant- reactions experienced, that are described as Freedom, Change
to a normal life, Personal and social well-being, Professional well-being; and finally,
Responses to failure of the graft. As for the answers in graft failure situation, causes of
chronic rejection the variation of warning signs described are infection, the rise in
creatinine values and decreased glomerular filtrate. A less positive aspect of rejection
is expressed by the physical and psychological suffering experienced by the
participants. With regard to Hemodialysis rehabilitation emerged in the category
of hemodialysis: experiences. The person with terminal CKD on renal replacement
therapy during the transplant reports experiential reactions which are predominantly
positive emotions in relation to hemodialysis where there is a predominance of
negative emotions and experiences such as: Acceptance, sadness / grief,
personal and social ill-being and professional discomfort. Depression, dependence on
a machine and deprivation of liberty.
Keywords: Experiences; People with terminal CKD; Kidney transplantation;
Hemodialysis; Nursing
LISTA DE SIGLAS
ABO Sistema Compatibilidade ABO
AIT Acidente Isquémico Transitório
ASST Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação
AV Artéria-Venosa
AVC Acidente Vascular Cerebral
BVS Biblioteca Virtual da Saúde
CT Contraindicação Temporária
DGS Direção Geral d Saúde
DP Diálise Peritoneal
DR Doença Renal
DRA Doença Renal Aguda
DRC Doença Renal Crónica
DRCT Doença Renal Crónica Terminal
EUA Estados Unidos da América
FGR Filtrado Glomerular
HD Hemodiálise
HLA Human Leukocyte Antigens
HTA Hipertensão Arterial
HTLVI/II Virus Linfotropico Humano de células T
HUC Hospital Universitário de Coimbra
IR Insuficiência Renal
IRA Insuficiência Renal Aguda
IRC Insuficiência Renal Crónica
SU Muita Urgência
TMC Tratamento Médico Conservador
TR Transplante Renal
VIH Vírus de Imunofeciência Humana
WHO World Health Organization
U2 Urgência
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………….…… 21
1 - DOENÇA RENAL CRÓNICA…………………………………………………….. 23
1.1. EVOLUÇÃO DA DOENÇA RENAL AGUDA A CRÓNICA……….……….. 23
1.2. ETIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÓNICA……………………...……… 25
1.3. TERAPIAS DE SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL………….……….. 26
2 - A PESSOA EM HEMODIÁLISE…………………………………………………. 29
2.1. HEMODIÁLISE ENQUANTO TÉCNICA ………………….……………….. 29
2.2. VIVÊNCIAS DA PESSOA EM HEMODIÁLISE…………..………………... 31
2.3. CUIDADOS DE ENFERMAGEM À PESSOA EM TRATAMENTO
DIALÍTICO…………………………………………………………………………….…
36
3 - TRANSPLANTAÇÃO RENAL……………………………………….…………… 39
3.1. CRITÉRIOS PARA INTEGRAR A LISTA DE RECETOR DE ENXERTO
RENAL…………………………………………………………………………………...
39
3.2. LEGISLAÇÃO PORTUGUESA PARA TRANSPLANTE RENAL….....….. 42
3.3. COMPLICAÇÕES TRANSPLANTE RENAL………………………..……... 43
3.4. VIVÊNCIAS DA PESSOA COM TRANSPLANTE RENAL……………….. 45
3.5. CUIDADOS DE ENFERMAGEM Á PESSOA SUBMETIDA A
TRANSPLANTE RENAL………………………………………………………………
47
4 – METODOLOGIA…………………………………………………...……………… 51
4.1. TIPO DE ESTUDO……………………..…………………………………….. 51
4.2. QUESTÕES E OBJETIVOS ………………..……………………………….. 53
4.3. PARTICIPANTES / INFORMANTES…………………………..…………… 54
4.4. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS………………...…….……… 56
4.5. ANALISE DOS DADOS…………………………………………..………….. 57
4.6. PROCEDIMENTOS LEGAIS E ÉTICOS…………………………...………. 59
5 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS…………………………………. 61
6 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS……………………………………………… 79
CONCLUSÕES……………………………………………………………………….... 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
ANEXO I: Autorizações concedidas pelo Diretor Clínico da Fresenius Medical Care do
Entroncamento e pela Comissão de Ética e Saúde da Fresenius Medical Care -
Portugal para aplicação das entrevistas
APÊNDICES
APÊNDICE I: Guião da Entrevista
APÊNDICE II: Termo de Consentimento Livre e Informado aos Participantes
INDICE FIGURAS
Pág.
Figura 1: Análise da categoria Emoções primárias associados ao
momento da notícia de transplante……………………………………………...
66
Figura 2: Análise da categoria Ser Transplantado: Recções Vivenciais…... 68
Figura 3: Análise da categoria Respostas em Situação de Falência de Enxerto………………………………………………………………………………... 71
Figura 4: Análise da categoria: Readaptação à Hemodiálise: Vivências…...
74
INDICE GRÁFICOS
Pág.
Gráfico 1: Distribuição dos participantes quanto à idade………………………. 62
Gráfico 2: Distribuição dos participantes quanto ao sexo……………………… 62
Gráfico 3: Distribuição dos participantes quanto ao estado civil………………. 62
Gráfico 4: Distribuição dos participantes quanto ao nível de escolaridade…... 63
Gráfico 5: Distribuição dos participantes quanto à situação laboral…………... 63
Gráfico 6: Distribuição dos participantes quanto ao tempo de transplante e
tempo de hemodiálise após transplante…………………………………………...
64
INDICE TABELAS
Pág.
Tabela 1: Tratamento substitutivo da função renal vantagens e desvantagens 27
Tabela 2: Matriz de análise das entrevistas………………………………………. 65
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
21
INTRODUÇÃO
A Doença Renal Crónica (DRC) é uma doença cuja incidência vem aumentando
significativamente nos últimos anos. Também designada como falência renal ou DRC
terminal caracteriza-se pela perda de função renal irreversível exigindo tratamento
substitutivo através da Hemodiálise, Diálise Peritoneal ou Transplante Renal, como
condição única para manutenção da vida (Rodrigues e Botti, 2009). Segundo dados da
Sociedade Portuguesa de Nefrologia, no ano de 2014 houve um aumento de 3% da
incidência de pessoas a iniciar técnicas de substituição da função renal, num total de
2473 pessoas, sendo que a Hemodiálise (HD) foi a opção de tratamento para 90,29%
das mesmas e o Transplante Renal correspondeu a uma taxa de 0,97% (Macário,
2015).
Como enfermeira prestadora de cuidados a pessoas em tratamento dialítico numa
Unidade de Hemodiálise, há cerca de 23 anos, surgiu-nos a oportunidade e o privilégio
de conhecer mais pormenorizadamente as pessoas com DRC de diferentes realidades
socioculturais e diferentes faixas etárias. É nesta experiência vivida que pontualmente
nos confrontamos com pessoas que reiniciaram HD após rejeição e falência do
enxerto renal. A análise sobre o processo de cuidados a estas pessoas e as
manifestações que elas evidenciam fez emergir a questão: Quais as vivências da
pessoa em tratamento dialítico após rejeição do transplante renal? O interesse e
relevância da realização deste estudo surge da necessidade de compreender a
pessoa com rejeição do transplante renal, que reinicia o tratamento dialítico para
promover o processo de cuidado numa perspetiva holística e integradora não apenas
tecnicista.
Como futura Enfermeira Especialista, reveste-se de premente importância o
desenvolvimento de pesquisas e competências relacionadas com preocupações que
vão surgindo ao longo da vida profissional, pois a enfermagem como qualquer ciência,
tenta dar resposta a determinadas questões, com vista á configuração da génese do
seu aparecimento, evolução, influência e situação paradigmática atual.
Neste sentido Fortin (1999, p.16) refere que ”a investigação científica é um processo
que permite resolver problemas ligados ao crescimento de fenómenos no mundo real
no qual nós vivemos”. No âmbito da Enfermagem, a mesma autora considera que a
investigação ocupa um papel relevante no estabelecimento de uma base científica
para orientação da prática dos cuidados, sendo que “o objetivo da investigação em
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
22
ciências da enfermagem diz respeito ao estudo sistemático de fenómenos que
conduzem à descoberta e ao incremento de saberes próprios à disciplina” (Fortin,
1999, p.31).
O investimento na área da investigação científica e a convicção de que o
conhecimento das vivências da pessoa com rejeição de transplante que reinicia a
Hemodiálise contribuirá para o aperfeiçoamento das competências científicas, técnicas
e relacionais do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica. Estas
foram as principais razões que nos moveram, na perspetiva de poder vir a melhorar a
qualidade dos cuidados, a satisfação da pessoa com DRC, da sua família e que se
traduzirá em ganhos na saúde.
Este estudo tem como objetivo principal, identificar as vivências da pessoa em
Hemodiálise após rejeição de transplante renal e como objetivos específicos:
identificar as vivências da pessoa, associadas à notícia de transplante e aos fatores
que lhe estão aliados e identificar as vivências manifestadas pela pessoa que sofreu
rejeição do enxerto renal que reiniciou hemodiálise.
Tendo como propósito estudar a experiência vivida pelas pessoas em HD após
rejeição do transplante renal e analisar a sua perceção face à mesma, optou-se pela
realização de uma investigação de carácter qualitativo, exploratório-descritivo e
transversal, tendo sido utilizado como instrumento de colheita de dados uma entrevista
semiestruturada.
Este trabalho está organizado em 6 capítulos, três dos quais correspondem ao
enquadramento teórico desenvolvido no sentido de dar sustentabilidade ao problema
em estudo. Nele são apresentados e sistematizados os conceitos teóricos referentes à
DRC, a Pessoa em Hemodiálise, Transplantação Renal e Rejeição. Os Três restantes
capítulos reportam-se ao estudo empírico e incluem a metodologia selecionada, a
apresentação dos dados obtidos e a discussão dos resultados. Finaliza com a
elaboração da sumula das principais conclusões obtidas.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
23
1 - DOENÇA RENAL CRÓNICA
As doenças crónicas de acordo com a WHO (2005) são a principal causa de morte e
incapacidade no mundo. A doença renal crónica tem sido classificada como um
problema de saúde pública mundial e tem recebido cada vez mais atenção da
comunidade científica internacional, já que existe um aumento da sua incidência e
prevalência (Bastos e Kirsztain, 2011). O aumento da incidência é multifatorial e está
relacionado com o aumento da idade da população, maior prevalência da diabetes e
hipertensão arterial, maus hábitos alimentares entre outros.
“A Insuficiência Renal Crónica (IRC) resulta de uma série de processos patológicos
que causam lesão irreversível do tecido renal” (Thomas,2005, p.57). Esta exige um
tratamento substitutivo como condição única para manutenção da vida (Rodrigues e
Botti, 2009).
1.1. EVOLUÇÃO DA DOENÇA RENAL AGUDA A CRÓNICA
Os rins são órgãos que mantêm a homeostasia do organismo. Têm como principais
funções produzir e segregar hormonas, que ajudam a regular a produção de
eritrócitos, a controlar a tensão arterial e o metabolismo de cálcio e fósforo. Ao
excretar os produtos finais do metabolismo e toxinas e ao alterar a excreção de água e
solutos, estes regulam o volume hídrico e eletrolítico ajudando a conseguir o equilíbrio
ácido base (Urden, Stacy e Lough, 2008).
A Doença renal (DR) ou Insuficiência Renal (IR) caracteriza-se por um declínio na taxa
de filtração glomerular com subsequente retenção de produtos tóxicos no sangue,
normalmente excretados pelos rins, o que perturba o equilíbrio hidroelectrolitico e a
homeostasia ácido-base do organismo comprometendo a capacidade vital (Idem).
A Doença Renal Aguda (DRA) ou Insuficiência Renal Aguda (IRA) desenvolve-se num
espaço de horas ou dias, existindo um declínio súbito da taxa de filtração glomerular,
que se manifesta pelo aumento dos níveis de ureia e creatinina no sangue e uma
diminuição do débito urinário, influenciando o equilíbrio eletrolítico, a homeostasia
ácido-base e o equilíbrio do volume hídrico (Idem). Quanto à etiologia classifica-se em
três categorias, pré-renal, intra-renal ou renal e pós-renal. A grande maioria dos casos
(entre 55% e 70%) da DRA deve-se a fatores pré-renais (Idem; Kelly, 2010).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
24
A recuperação da DRA depende das doenças associadas, da situação do doente e do
tratamento realizado, podendo evoluir para Doença Renal Crónica (DRC), também
designada de Insuficiência Renal Crónica (IRC).
A DRC é definida como anomalia da estrutura ou função renal, presente em mais de 3
meses, com implicações para a saúde e deve ser classificada com base na sua causa,
taxa de Filtração Glomerular Renal (FGR) e na taxa de albuminúria (Kidney Disease
Improving Global Outcomes, 2013).
A DRC terminal acontece quando os rins já não têm capacidade de manter o equilíbrio
e a lesão é irreversível. A instalação pode ser um processo demorado, de vários anos,
estando diretamente relacionado com os estadios da doença, sugeridos pela National
Kidney Foundation e Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (2002). As
manifestações clínicas na pessoa vão sendo alteradas consoante os diferentes
estadios da Doença Renal Crónica que são cinco:
Num primeiro estadio, existe lesão renal com FGR maior ou igual a 90ml/m. A
pessoa encontra-se assintomática, com valores analíticos normais, pois os
nefrónios sãos compensam a perda de funcionamento dos outros. Nesta fase
verificam-se poucas alterações da taxa de filtração glomerular (clearance da
creatinina). Apesar disso, é uma fase importante na identificação e tratamento
da causa da DRC. A pessoa com DRC deve ser informada que os fatores de
risco aceleram a doença e que deve existir uma maior vigilância da função
cardiovascular, monitorização da tensão arterial, níveis de colesterol e peso.
No segundo estadio, a FGR apresenta valores compreendidos entre 60 e 89
ml/m, com lesão renal já presente, mas a pessoa ainda se encontra
assintomática. Fatores de risco como a hipertensão arterial, o tabagismo, um
descontrolo da diabetes e a proteinúria contribuem para a progressão rápida da
doença.
No terceiro estadio a FGR mostra valores entre 30 a 59 ml/m, apresentando
valores analíticos alterados da ureia e creatinina associados a poliúria. Com a
função renal a deteriorar-se surge a acumulação de fósforo, ácido úrico e
sódio. Pode também surgir anemia e doença óssea sem significado clínico.
No quarto estadio a FGR surge com valores entre os 15 e 29 ml/m, a pessoa
apresenta sintomas que estão relacionados com o valor crescente de ureia no
sangue, que podem ser: astenia, náuseas, vómitos, mialgias entre outros,
podendo também existir acidose. Verifica-se uma descida da hemoglobina
surgindo a anemia e também por alteração do metabolismo, constata-se uma
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
25
descida dos valores de cálcio e subida dos valores de sódio. Nesta fase os
doentes com DRC deverão ser encaminhados para uma consulta
personalizada e dedicada ao esclarecimento acerca das diferentes
modalidades de tratamento e técnicas de substituição da função renal. A opção
pela modalidade terapêutica é do doente devendo ser expresso no
consentimento informado (DGS, 2012).
Por último, o quinto estadio surge com uma FGR <15 ml/m, o doente apresenta
sintomatologia intensa, oligúria e alterações analiticas importantes, decorrentes
da falência renal. Nesta fase é imperativo o início das terapias de substituição
renal ou um continuum do tratamento médico conservador (TMC) (Idem).
A rotura de todas as funções biológicas caracteriza a fase final da doença, que
associada com outras patologias, tais como, a diabetes mellitus, a doença coronária e
doença vascular periférica determina a gravidade da progressão.
1.2. ETIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÓNICA
Em todo o mundo destacam-se a diabetes e a hipertensão como as causas mais
frequentes da DRC, sendo esta múltipla e variada. Burrows-Hudson (2005,p.40) refere
que …”em conjunto são responsáveis por 70% de todos os casos de DRC que exigem
terapia substitutiva da função renal”.
Existem múltiplas classificações sobre a etiologia da DRC, segundo Thye (2002),
estas são categorizadas em:
Doenças glomerulares, que ocorrem por doença aguda glomerular, incluindo
glomerulonefrite de progressão rápida;
Doenças tubulares, devido a hipercalcémia e hipocaliémia crónicas e
intoxicação por metais pesados;
Doenças vasculares, por isquémia dos rins originada por estenose da artéria
renal, devido a doenças congénitas ou adquiridas e hipertensão maligna;
Infeções, tais como as pielonefrites crónicas atróficas e a tuberculose;
Obstrução, devido a cálculos renais, fibrose retroperitoneal, hipertrofia
prostática, estenose uretral e tumores;
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
26
Vasculite, sendo considerado o lúpus eritematoso sistémico, poliartrite nodosa,
esclerodermia, granulomatose;
Doença renal metabólica, considerada a diabetes mellitus, amiloidose,
nefropatias analgésica, gota, hiperparatiroidismo.
Malformações congénitas, por rins hipoplásicos, nefropatia de refluxo, doença
quistica medular ou rins poliquisticos.
Tendo em conta toda esta variedade de etiologias para a DRC, qualquer uma pode
conduzir a pessoa à Doença Renal Crónica Terminal ou estádio 5, isolada ou em
conjunto provocando manifestações multiorgânicas, afetando diferentes sistemas, em
diversas proporções e com tempos de evolução variados (Idem).
O diagnóstico precoce da DRC, encaminhamento especializado imediato e
implementação de medidas para retardar ou suspender a progressão da doença,
estão entre as estratégias chave para um melhor prognóstico. No entanto, a hipótese
de morte supera a de iniciar as terapias de substituição renal à medida que a doença
progride, mesmo para os doentes que receberam cuidados adequados (Bastos e
Kirsztajn, 2011).
1.3. TERAPIAS DE SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL
Do desenvolvimento no campo da saúde e nomeadamente na Nefrologia
emergiram diferentes terapias da substituição da função renal, em que o
objetivo não é curar a doença mas substituir a função renal.
As modalidades terapêuticas de substituição da função renal disponíveis no
nosso país são: a transplantação renal (TR); a hemodiálise (HD) e as técnicas
depurativas extracorpóreas afins; a diálise peritoneal (DP); e o tratamento
médico conservador (TMC). Cada tratamento substitutivo da função renal
acarreta vantagens e desvantagens como se pode observar na seguinte tabela:
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
27
Tabela 1: Tratamento substitutivo da função renal vantagens e desvantagens
TRATAMENTO SUBSTITUTIVO DA FUNÇÃO RENAL
VANTAGENS DESVANTAGENS
HEMODIÁLISE
Diálise eficaz
Efetuada 3 vezes por semana,
durante em média 4 horas
Acompanhamento médico/
enfermagem 3 vezes por
semana
Realizada em clínicas /
hospitais
Necessidade de um bom
acesso vascular
Necessidade de
anticoagulação durante o
tratamento
Horários dos tratamentos
condicionados à disponibilidade
da clínica/ hospital
Nível de responsabilidade
elevado no cumprimento da
dieta e restrição hídrica
DIÁLISE PERITONEAL
Diálise eficaz e fisiológica
Efetuada no domicílio da
pessoa
Mantém a função renal
residual
Menor restrição diatética
Ausência de dor
Sem necessidade de punção
ou acesso vascular
Necessidade de um cateter
peritoneal
Grande responsabilidade no
cumprimento das regras de
higiene, limpeza e a execução
correta da técnica
Local de armazenamento no
domicílio
Efetuada diariamente: 4 vezes
por dia (30 minutos) na técnica
manual; 1 vez por dia (7 a 8
horas) na técnica de diálise
automática
TRANSPLANTE RENAL
Sem necessidade de diálise
(peritoneal ou HD)
Maior nível de qualidade de
vida
Liberdade dietética e
ausência dos
condicionalismos dos
tratamentos de diálise
Cumprimento rigoroso da
toma dos medicamentos
imunossupressores
Efeitos secundários
associados à toma dos
imunossupressores
O tratamento conservador não é uma alternativa aos outros
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
28
TRATAMENTO MÉDICO CONSERVADOR
tratamentos, reserva-se apenas para situações graves, de mau
prognóstico de vida, em que a diálise não faculta uma esperança e uma
qualidade de vida superiores.
Adaptado de Tavares (2015)
O início do tratamento da DRC no 5º estadio deverá incidir na HD, técnicas
depurativas extracorpóreas, na DP ou ainda na TR com dador cadáver, quando se
observam, conjuntamente, pressupostos clínicos (presença de sintomatologia urémica
não atribuível a outra causa) e a quantificação da função renal remanescente, avaliada
através dos métodos comuns de determinação ou estimativa do débito do filtrado
glomerular, confirmarem a insuficiência renal crónica grave. O TR com dador vivo,
sempre que se obtiver dador compatível, mesmo na ausência de sintomatologia
urémica. O tratamento médico conservador (TMC) quando se observa sintomatologia
urémica não atribuível a outra causa (DGS, 2012).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
29
2 - A PESSOA EM HEMODIÁLISE
A Hemodiálise (HD) como terapia da DRCT foi implementada em 1960 e constitui a
opção terapêutica de substituição renal mais utilizada a nível mundial (Thomas, 2005;
Garcia, Harden e Chapman, 2012). Trata-se de uma modalidade terapêutica definitiva
para os doentes que, dadas as suas características individuais, não possam ser
submetidos a transplantação renal. Nos doentes candidatos a transplantação, a
hemodiálise é um tratamento opcional enquanto aguardam. Os doentes que realizam
hemodiálise podem viver em média de 25 a 30 anos sob esta terapêutica (DGS, 2012).
Tal como em todos os tratamentos existem indicações e contraindicações à utilização
deste procedimento terapêutico. As indicações referem-se às situações em que o
doente apresenta ureia nitrogenada> 90 mg/dℓ, creatinina sérica> 9mg/dℓ,
hipercaliémia, intoxicação medicamentosa, sobrecarga de líquidos intra e
extravasculares, acidose metabólica, sintomatologia associada a uremia (pericardite,
hemorragia gastrointestinal) e alterações mentais. Como contraindicações são
relatadas a instabilidade hemodinâmica, a incapacidade de coagulação e a ausência
de acesso à circulação (Urden, Stacy e Lough, 2008).
2.1. HEMODIÁLISE ENQUANTO TÉCNICA
A hemodiálise é uma técnica depurativa que consiste na separação e remoção do
sangue do excesso de eletrólitos, líquidos e toxinas através de um dispositivo
designado hemodialisador, também designado por “rim artificial”. Esta técnica funciona
através da combinação de duas técnicas contínuas de substituição da função renal a
difusão e a ultrafiltração. Na difusão existe uma solução dialisante (solução fisiológica)
onde os líquidos, eletrólitos e toxinas do sangue se movimentam por osmose, de modo
a igualarem concentrações através de uma membrana semipermeável. As toxinas e a
solução dialisante saem do rim artificial em sentido oposto ao sangue, chamado
movimento contracorrente. Na ultrafiltração os fluidos são movimentados sob um
gradiente de pressão na mesma membrana semipermeável, ou seja, é aplicada uma
pressão hidrostática positiva no sangue e uma pressão negativa no dialisante
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
30
resultando daí que o excesso de líquidos do sangue seja absorvido pelo dialisante
(Urden, Stacy e Lough, 2008).
Para que a pessoa efetue HD é necessário existir um monitor de diálise, um circuito
extracorporal e a pessoa possuir um acesso vascular para o efeito.
Dependendo do fluxo do dialisante e das características do dialisador, a HD pode ser
de baixo ou alto fluxo.
Para o sucesso das Técnicas de Substituição Renal Continuas é necessário um
protocolo de anticoagulação eficaz para manter a permeabilidade do circuito
extracorporal, minimizando possíveis complicações, tais como a hemorragia por
anticoagulação excessiva ou obstrução do circuito quando insuficiente, levando à
diminuição da hemoglobina, aumento da carga de trabalho dos profissionais, com
reflexo importantes nos custos e segurança do doente (Cruto, Marques e Sampaio,
2009; Ramos, 2009). As Técnicas de Substituição Renal Continuas podem dividir-se
em três categorias: a HD contínua, a hemofiltração contínua e a hemodiafiltração
contínua (Thomas, 2005).
A anticoagulação mais utilizada e com a qual há mais experiência é a heparina não
fracionada. Mas quando se teme uma trombocitopenia induzida pela mesma, as
heparinas de baixo peso molecular têm-se mostrado seguras e o citrato de sódio surge
também como um anticoagulante alternativo, permitindo um manuseamento seguro
com a vantagem de apenas produzir efeito no circuito extracorporal (Garcés, Victorino
e Veronese, 2007; Cruto, Marques e Sampaio, 2009; Ramos, 2009).
De acordo com Garcés, Victorino e Veronese (2007, p.451) “vários fatores podem
contribuir para a trombose do circuito de diálise, como a velocidade do fluxo de sangue
através do circuito, o cateter de diálise, o tipo de membrana utilizada no filtro dialisador
e também, o tipo de terapia prescrita”.
Quando a opção de tratamento para a DRC no estadio IV é a HD, os doentes seguidos
em consulta deverão iniciar a execução do acesso vascular, pois a técnica só é
possível com acesso à corrente sanguínea. São preferenciais para a realização de
HD: fistula Artério-Venosa (AV) e enxerto Artério-Venoso. A fístula AV realiza-se
através de uma pequena cirurgia que permite um acesso permanente, criando uma
comunicação de uma artéria com uma veia periféricas, ficando esta com um maior
fluxo, pressão e dilatação. A maturação desta fístula demora em média 3 a 4
semanas. O enxerto AV é usado por dificuldades quer técnicas quer dos acessos
vasculares do doente. É realizado por anastomose de uma artéria com uma veia
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
31
através de implante subcutâneo da veia do próprio doente (enxerto) ou através de
prótese sintética. Quanto à prótese é recomendado aguardar 3-4 semanas antes de
iniciar a sua punção. Em casos de urgência/ emergência em iniciar o tratamento ou
quando há falência irrecuperável, é necessário recorrer a um cateter venoso central,
embora com maior probabilidade de complicações, designadamente o risco de infeção
(Urden, Stacy e Lough, 2008).
“O tratamento, a máquina de hemodiálise, e todo o arsenal ou equipamento
envolvido, dentro duma visão existencialista, surge como uma possibilidade. O
bem-estar proporcionado pela máquina define a procura pela manutenção da
capacidade vital do individuo enquanto sujeito desejante e responsável pela sua
existência” (Campos e Turato, 2010, p.802).
A hemodiálise é habitualmente bem tolerada, no entanto, podem ocorrer efeitos
secundários. Uns comuns e de fácil tratamento, tais como náuseas, vómitos, cefaleias,
inquietação, ansiedade, transtornos de humor, hipotensão arterial, cãibras musculares,
espasmos, hematomas ou pequenas hemorragias nos locais de punção. Outros,
apesar de pouco frequentes, são de maior gravidade e risco para a vida do doente,
como casos da demência, hipotensão arterial severa, alterações cardíacas, embolias
gasosas, acidentes vasculares cerebrais e reações alérgicas de gravidade variável
(DGS, 2012; Rudnicki, 2014).
A qualidade de vida dos doentes submetidos a HD é afetada pela gravidade da sua
sintomatologia e pela sobrecarga medicamentosa para alívio da mesma (Rudnicki,
2014).
Apesar dos avanços notáveis no tratamento de HD nos campos científicos e
tecnológicos, segundo Thomas a HD …“continua a ser caracterizada por uma alta
morbilidade e mortalidade e má qualidade de vida” (2004, p.50).
2.2. VIVÊNCIAS DA PESSOA EM HEMODIÁLISE
Vivências são experiências subjetivas acerca do que vivemos e valorizamos e são
consciencializadas por cada pessoa (Ballone, 2007).
Dos factos e acontecimentos teremos lembranças dos sentimentos, assim,
recordaremos se elas foram agradáveis ou não, assim como, diferentes pessoas
vivem os mesmos factos ou acontecimentos de maneira diferente e pessoal.
Tal como refere Ballone (2007, sp) “A representação diferenciada que cada um de nós
atribui aos factos e acontecimentos vividos, transforma esses factos e acontecimentos
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
32
em vivências pessoais”, ou seja factos e acontecimentos são pessoalmente
valorizados e representados única e exclusivamente por nós.
O mesmo autor considera ainda que o ser humano ao experimentar um
acontecimento, este passa a fazer parte do seu “eu” e será consciencializado. Uma
vez interiorizado fará parte integrante do seu universo.
Damásio refere que “as emoções não podem ser conhecidas pelo indivíduo que as
possui antes de haver consciência.” Ou seja “sabemos que temos uma emoção
quando se cria, nas nossas mentes, o sentido de um si que sente” (2007, p.319).
O mesmo autor afirma que o:
…“impacto humano de todas as causas de emoção (…) depende dos sentimentos
gerados por essas emoções. (…) Mas o impacto completo e duradoiro dos
sentimentos exige a consciência, pois só com o advento do sentido de si podem
os sentimentos tornar-se conhecidos dos indivíduos que os experimenta” (2007, p.
56).
O sentimento permite que as emoções se tornem conscientes para a pessoa que as
experimenta. Os nossos sentimentos experimentados dependerão do valor que
atribuímos à realidade, sendo que há várias maneiras de a valorizarmos (Ballone,
2007).
Importa também definir reação vivencial como “a resposta emocional e sentimental a
uma determinada vivência” (Idem)
Ainda o mesmo autor refere, que a afetividade é o principal elemento que atribui
significado e valor aos acontecimentos, objetos ou eventos, então assim sendo, a
vivência é algo individual e particular a cada um de nós, de acordo com os traços
afetivos.
Partindo deste conjunto de considerações importa especificar o que são emoções e
sentimentos e o que os diferencia.
Para Ballone as emoções são
“Complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas de curta
duração no equilíbrio afectivo, com repercussões consecutivas sobre a integridade
da consciência e sobre a actividade funcional de diversos órgãos”, e sentimentos
são “estados afectivos mais duráveis, mais atenuados que as emoções em sua
intensidade vivencial, geralmente revestidos de ricas e nobres tonalidades
intelectuais e morais e não acompanhados, obrigatoriamente, de correspondentes
sintomas orgânicos dignos de nota” (2007, sp).
Os sentimentos podem provir das emoções que lhes são cronologicamente anteriores
e com as quais guardam correlações compreensíveis, quanto aos seus conteúdos
respetivos (Idem).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
33
Também Damásio refere que …”temos emoções primeiro e sentimentos depois
porque, na evolução biológica, as emoções vieram primeiro e os sentimentos depois”
(2007, p.46). O autor considera que emoções e sentimentos não se podem dissociar,
pois fazem parte integrante da pessoa. A partir de uma reflexão sobre a importância
da compreensão dos sentimentos, refere que “o êxito ou o fracasso da humanidade
depende em grande parte do modo como o público e as instituições que governam a
vida pública puderem incorporar essa nova perspetiva da natureza humana em
princípios, métodos e leis” (Idem, p. 22).
Para Freitas-Magalhães a emoção ´´… é uma construção psicológica, na qual
intervêm a componente cognitiva, a componente da ativação fisiológica, a componente
expressivo-motriz, a componente motivacional e a componente subjetiva.” (2007,
p.93). O homem perceciona cada emoção individualmente e o controlo das mesmas
perante determinada situação, desencadeia um comportamento humano ajustável.
Ainda o mesmo autor considera que “ a emoção é uma manifestação, uma expressão
(gestual, facial, dos olhares, da posse, etc.), uma expressão que o outro capta…”
(2007, p.98). Enquanto o sentimento aponta para processos cognitivos, a emoção
configura-se como reação afetiva imediata a um determinado estimulo (Idem).
Vários foram os estudos para a compreensão do homem enquanto agente emocional,
surgindo várias classificações das emoções. As emoções primárias de acordo com
Freitas-Magalhães (2007) são: a cólera, tristeza, medo, surpresa, aversão desprezo e
alegria.
Para Damásio, em 2007, as emoções são classificadas em três categorias:
Emoções primárias ou universais que são consideradas inatas ou “reflexas”,
estas são comuns a todos os seres humanos, independentemente de fatores
sociais ou socioculturais. Deste grupo fazem parte as emoções básicas ou
elementares, como: a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, o nojo, a cólera e a
surpresa.
Emoções secundárias ou sociais são mais complexas que as primárias, e
dependem de fatores e variáveis socioculturais. Estas podem variar entre
culturas e/ou sociedades. Como exemplos dessas emoções é possível
enumerar: a vergonha, o ciúme, a culpa, o orgulho, a simpatia, a compaixão, o
embaraço, a inveja, a gratidão, o espanto, a indignação e o desprezo.
Emoções de fundo estão relacionadas com o bem-estar ou com o mal-estar
interno. Estas são induzidas por estímulos internos, com origem em processos
físicos ou mentais, levando o organismo a um estado de tensão ou
relaxamento, fadiga ou energia. Estas emoções expressam-se em alterações
músculo-esqueléticas, refletindo-se em variações na postura e nos
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
34
movimentos. Como exemplo das mesmas temos: o bem-estar ou o mal-estar,
a calma ou a tensão.
O mesmo autor (2007) considera que para detetar as emoções de fundo, é necessário
observar manifestações subtis tais como o perfil dos movimentos dos membros ou do
corpo inteiro, bem como expressões faciais. No que toca à linguagem o mais
importante para as emoções de fundo, não são as palavras propriamente ditas, nem o
seu significado, mas a musicalidade da voz. Sugere também, que sem qualquer
exceção, homens e mulheres, independentemente da idade, cultura, grau de instrução
ou nível económico têm emoções, estão atentos às emoções dos outros, interessam-
se por entretenimentos que manipulam as suas próprias emoções e governam as suas
vidas, em grande parte, pela procura de emoções positivas, evitando emoções
desagradáveis. No entanto, o impacto na mente humana de todas as causas de
emoções, que são muito variadas, depende dos sentimentos por elas gerados.
Assim, como para Ballone (2007) as emoções podem ser divididas em primárias,
secundárias, mistas e espirituais, conforme se vão afastando da sensação e
aproximando da espiritualidade. Há uma tendência biológica, de fazer com que os
nossos sentimentos e emoções regridam a níveis inferiores sempre que há ameaças
concretas e diretas à sobrevivência. Isso quer dizer que podemos regredir da
cordialidade e polidez para a cólera ou estado de choque diante de uma ameaça brutal
à sobrevivência. Os sentimentos são mais atenuados na sua intensidade vivencial e
nos seus concomitantes fisiológicos (corporais) em comparação com a exuberância
das emoções. Intimamente entrelaçados com as sensações e as emoções, os
sentimentos mostram-se mais duradouros, além de infinitamente mais numerosos e
variados que os estados afetivos básicos nos quais têm origem (Idem).
O mesmo autor sugere que a emoção primária de choque-pânico, provém de emoções
mistas (espanto, susto, terror...) e destas, os sentimentos de insegurança,
desconfiança, receio, medo, dos quais resultam vivências emocionais impulsivas,
agressivas, bem como sentimentos de vingança, ódio, rancor, crueldade. Da emoção
afetuosa, originam-se reações emocionais de envaidecimento e de autoestima,
sentimentos de simpatia, cordialidade, compaixão, amizade e amor. Das emoções
secundárias, de desprazer e mal-estar de um lado, e de prazer e bem-estar do outro,
derivam respetivamente sentimentos de pesar, tristeza, desgosto, aversão e
desespero e sentimentos de júbilo, alegria, esperança, satisfação e felicidade.
A pessoa encontra-se inserida num ambiente psicossocial, com múltiplos fatores como
a motivação, a atitude perante a condição patológica e respetivo tratamento (o grau de
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
35
envolvimento), o estado emocional, por exemplo situações de negação, de depressão,
entre outros. Os papéis sociais desempenhados, os sistemas de suporte social
disponíveis, são apenas alguns exemplos de elementos que exercem uma forte
influência no impacto e resposta individual e social face à doença crónica. A resposta
psicológica face à doença depende de pessoa para pessoa (Barbosa e Valadares,
2009; Rudnicki, 2014).
A HD permite que a pessoa desempenhe uma vida normal, embora com restrições em
alguns aspetos, o que lhe pode provocar stresse. A potencial perda de independência
pode chegar a ser especialmente frustrante. Estas pessoas necessitam de transporte
regular para se deslocarem ao centro de hemodiálise, estão dependentes de uma
máquina, da equipa de saúde durante o tratamento e do horário da sessão de
hemodiálise, que pode colidir com o horário laboral ou escolar. Os tratamentos
regulares de hemodiálise, com frequência de 3 ou 4 vezes por semana e duração de 3
a 4 horas cada, implicam também uma diminuição do convívio social, restrições na
alimentação e alterações no seio familiar. Estas restrições e dependências conduzem
a um sentimento de inutilidade influenciando negativamente a autoimagem e
autoestima (Meireles, Goes e Dias, 2004).
“A pessoa torna-se insegura quanto aos seus objetivos de vida. Constantemente
fica na expectativa de conseguir um transplante. Perde a auto-estima e inicia um
processo de auto-rejeição, em consequência de alterações funcionais como: pele
ressecada, com alterações em sua coloração, halitose, mal-estar pré e pós
hemodiálise, fadiga, alterações na libido – entre outros problemas” (Idem, p.176).
A pessoa que faz HD reconhece a importância da máquina na manutenção da sua
vida estando-lhe grata, no entanto esta dependência pode desencadear sentimentos
ambivalentes como a raiva. Além disso, durante as sessões a pessoa testemunha o
seu sangue, algo privado, a ser exposto aos olhos dos outros, enquanto é conduzido
dentro de tubos antes de regressar ao seu corpo. Há a …”percepção de que o corpo
foi virado às avessas” (Mattos e Maruyama, 2010, p.432).
Para Machado e Car (2003), a condição crónica e o tratamento hemodialítico são
fontes de stresse, ansiedade e representam desvantagens por ocasionarem
problemas: de isolamento social, perda do emprego, diminuição da atividade física,
necessidade de adaptação à perda de autonomia, alterações da imagem corporal,
além do sentimento indefinido entre medo de viver e de morrer.
As pessoas com DRC terminal acreditam que perdem a sua autonomia, as suas
competências físicas e cognitivas juntamente com a perda da função renal, o que as
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
36
leva a vivenciar sentimentos de insatisfação, desespero e indigência (Keskin e Engin,
2011; Rudnicki, 2014).
Segundo Andrade, Sesso e Diniz (2014) constata-se que sentimentos de
desesperança, ideação suicida e depressão influenciam a qualidade e expectativa de
vida dos doentes com DRC. Neste sentido, Keskin e Engin (2011) constataram que
níveis mais elevados de depressão estão diretamente relacionados com níveis
aumentados de ideação suicida. A recusa em seguir uma alimentação adequada por
parte da pessoa com DRC, a negação da doença e da importância do cumprimento da
medicação e terapia, podem ser considerados ideação parassuicida (Idem; Andrade,
Sesso e Diniz, 2015). Nestes casos, os doentes mostram insatisfação e revolta em
relação ao tratamento, pois não vai curar a sua doença, sendo entendido como uma
tortura, um prolongar inútil da vida (Rudnicki, 2014).
A busca pela adaptação à DRC é um caminho difícil e complexo. Exige uma disciplina
interior e um autocontrolo muito grande por parte do doente. “A ‘luta’ pela vida, para o
individuo que faz hemodiálise continua mesmo após as sessões, sempre com um
objectivo claro, a sobrevivência” (Campos e Turato, 2010, p.804).
A família e a equipa de saúde representam um apoio fundamental para o doente na
aceitação da doença, adaptação ao novo estilo de vida e adesão ao tratamento.
2.3. CUIDADOS DE ENFERMAGEM À PESSOA EM TRATAMENTO DIALÍTICO
A pessoa em tratamento hemodialítico requer cuidados de enfermagem
especializados, não só técnicos como humanizados.
“Especialista é o enfermeiro com um conhecimento aprofundado num domínio
específico de enfermagem, tendo em conta as respostas humanas aos processos
de vida e aos problemas de saúde, que demonstram níveis elevados de
julgamento clínico e tomada de decisão, traduzidos num conjunto de
competências especializadas relativas a um campo de intervenção” (OE, 2010,
p.2).
Um cuidado especializado, sinónimo de qualidade e de promoção da segurança do
doente, pode ser definido de acordo com The New NHS: UK, apud DGS, 2012, p.2)1 “
1 “Quality of care - doing the right things right, at the first time to the right people, at the right time in the right place, at
the lower cost.”
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
37
qualidade de cuidados: fazer bem a ação correta, à primeira vez, às pessoas certas,
na altura certa e no local certo, com o menor custo”.
Segundo Rodrigues e Botti (2009) para os enfermeiros, o cuidar implica relação
terapêutica, relação de confiança e relação técnica. O cuidado como relacionamento
interpessoal, como adesão ao tratamento e como prolongamento da vida. A ideia do
cuidar com relação terapêutica significa atender às necessidades do doente com
sensibilidade e destreza mediante ações que promovam o bem-estar físico e
psicológico. Ou segundo Braga …”a presença balsâmica, da mão que cura ou alivia,
do olhar que sossega e conforta” (2013, p.146).
Para que tal aconteça, o enfermeiro deverá promover uma relação empática e de
confiança com o doente, aplicar as técnicas de observação, diálogo e escuta,
demonstrando interesse e compreensão pelo doente, face às múltiplas alterações de
vida a que este está a ser sujeito, sem julgamentos ou críticas (Meireles, Goes e Dias,
2004; Braga, 2013).
O enfermeiro é um elo de ligação importante entre o doente, família e restante equipa
de saúde. Este tem como competência fulcral a promoção de ações educativas para
um maior esclarecimento sobre a doença, tratamento, contraindicações terapêuticas e
dietéticas, estimulando o doente e a família a adquirir maior segurança no
autocuidado. Além disso, deve despertar e orientar o doente/família na procura de
estratégias para a melhoria da sua qualidade de vida (Barbosa e Valadares, 2009;
Campos e Turato, 2010; Santana et al, 2012).
A nutrição nos doentes com DRCT em HD tem como principais objetivos a
minimização da toxicidade urémica, a prevenção da desnutrição e carência de
vitamina D e a enfermagem exerce um papel fundamental na educação para a saúde
neste domínio. Uma das principais restrições nutricionais dos doentes em HD são os
alimentos ricos em potássio e fosforo, visto que “a hipercaliémia é uma causa
potencial de morte súbita nestes doentes.” (Silva et al, 2011, p.197). No entanto,
consoante o estado clinico da pessoa, podem existir outras restrições, tais como de
sódio e cálcio. A restrição hídrica é igualmente fundamental nos doentes em
hemodiálise, pois dela depende o ganho de peso interdialítico, influenciando
negativamente a tolerância nas sessões de diálise, potenciando o risco de hipotensão,
cãibras, náuseas, vómitos e cefaleias (Idem).
As pessoas submetidas a HD, pela sua situação de saúde estão mais vulneráveis e
consequentemente mais suscetíveis ao aparecimento de alterações orgânicas,
nomeadamente a desnutrição, deficiência de vitamina D e a violação de barreiras de
proteção relacionadas com os acessos vasculares (Mattos e Maruyama, 2010).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
38
Sendo a HD uma técnica invasiva, a prevenção de infeções através do recurso à
técnica asséptica é essencial e incontestável (Urden, Stacy e Lough, 2008). Os
doentes devem ser informados sobre hábitos higiénicos adequados e incentivados à
sua prática, tal como a higiene diária, a etiqueta respiratória e a lavagem das mãos
para prevenção de infeções.
Durante as sessões de HD, como referido anteriormente, podem ocorrer complicações
inerentes ao tratamento, umas ligeiras, outras mais graves ou mesmo fatais. O
profissional de enfermagem tem uma importância efetiva na observação e
monitorização contínua do doente durante o tratamento, estando atento a qualquer
sinal de alarme, atuando na prevenção ou diagnóstico precoce de possíveis
complicações e resolução atempada das mesmas.
Ao enfermeiro compete ajustar com o doente a dieta adequada e ensiná-lo a
monitorizar os sinais e sintomas indicativos da necessidade de intervenção por parte
dos profissionais de saúde, nomeadamente febre, hemorragia, a presença de sinais
inflamatórios no acesso vascular, pulso irregular, entre outros. É também sua
competência colaborar com o doente no alívio dos efeitos secundários da terapia
(Idem).
A nível tecnológico ou mecânico, ao enfermeiro compete preparar o circuito
extracorporal, realizar o priming, além de confirmar a programação da terapia, da
anticoagulação e soluções segundo o protocolo instituído para aquela pessoa. Antes
de puncionar e conectar o doente ao circuito, procede a uma avaliação global do
ocorrido no período interdialítico, o estado atual da pessoa, e regista o peso e os
sinais vitais.
Os cuidados de enfermagem em HD têm como objetivo otimizar uma assistência
técnica e cientifica de qualidade, minimizando possíveis complicações e oferecendo
maior segurança ao doente e equipa (Santana et al, 2012).
O doente submetido a HD depende da máquina para a homeostasia física e da família
e equipa de enfermagem para a homeostasia emocional.
Para a maioria das pessoas com DRC o transplante, de acordo com Mattos e
Maruyama (2010) e Rudnicki (2014), torna-se o passaporte para a reconquista da
liberdade que lhes foi tomada. A partir da condição de ser uma pessoa transplantada
passa a sentir o controlo do tempo e o seu corpo, passa a ser sentido como algo
individual, com todas as funções orgânicas em harmonia.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
39
3 - TRANSPLANTAÇÃO RENAL
Transplantação ou transplante é o ato de transferir um tecido, órgão ou parte destes,
de um indivíduo (dador) e implantá-lo em outra região ou em outro indivíduo (recetor)
com a finalidade de restabelecer uma função perdida (Parlamento e Conselho
Europeu, 2010; BVS, 2014). A transplantação intitula-se autoplástica, autóloga ou
autoenxerto quando o tecido transplantado provém do próprio indivíduo; homoplástica,
homologa ou homoenxerto quando o tecido ou órgão transplantado é extraído de um
indivíduo da mesma espécie e de isogénica; heteroplástica, heteróloga ou
heteroenxerto quando tem origem num indivíduo de espécie diferente (BVS, 2014;
Termos Médicos, 2015).
A evolução dos transplantes está repleta de marcos históricos que contribuíram para a
sua determinação como terapêutica médica e para o impacto que assumem
atualmente na prestação de cuidados de saúde desde os anos 60 do séc. XX
A transplantação tem-se revelado como um tratamento eficaz na Doença Renal
Crónica Terminal em termos de sobrevivência e qualidade de vida. Para ser
transplantado é necessário cumprir uma serie de requisitos.
3.1. CRITÉRIOS PARA INTEGRAR A LISTA DE ESPERA PARA TRANSPLANTE
RENAL
Têm indicação para transplantação renal, os doentes com insuficiência renal terminal,
no último estadio de degradação funcional dos rins, devido a doenças congénitas ou
adquiridas, nomeadamente glomerulonefrite, pielonefrite crónica, doenças quisticas,
nefropatias, nefro-angio-esclerose, entre outras (Furtado 2010). Para realização de
transplante renal o doente é submetido à realização de vários exames
complementares de diagnóstico, de modo a excluir alguma contraindicação (absoluta
ou relativa) para a realização do mesmo. É importante validar que o doente apresenta
características psicológicas adequadas para se tornar um candidato a transplante.
Caso se cumpram os requisitos o doente aguarda o transplante em lista de espera
(Nunes, 2010).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
40
Os critérios para transplantação renal na seleção do par dador-recetor, são regulados
pelo estabelecido no despacho nº 6537/2007 (2ª série), publicado em Diário da
República, 2ª série, nº66, de 3 de Abril de 2007:
Os candidatos podem efetuar inscrição simultânea em duas unidades de
transplantação, devendo indicar a preferência.
A cada candidato é atribuído um grau de urgência clinica, atualizado pelo
médico na consulta de pré-transplante;
Existem dois graus de urgência ativa: muita urgência (SU) e urgência (U2);
O doente poderá clinicamente ser considerado em contraindicação temporária
(CT), numa das unidades, o Centro de Histocompatibilidade informa a outra;
O doente com contraindicação definitiva nas duas unidades deverá ser retirado
da lista de espera.
Autores como Mulley e Kanellis (2015) referem-se às guidelines para transplante
definidas pelas associações de transplantação renal internacionais, no nosso país são
igualmente seguidas as mesmas orientações:
Contraindicações absolutas: a recusa do doente; doente com neoplasia
maligna incontrolável; psicose descontrolada; doente portador de doença
pulmonar crónica, doença cardíaca grave ou valvulopatia periférica grave;
sepsis ativa; cirrose hepática; dependência ativa de droga; qualquer
diagnóstico médico com prognóstico de vida entre 1-2 anos; incompatibilidade
ABO ou tipologia HLA.
Contraindicações relativas, dependendo do Centro de Transplante: Idade maior
que 60 anos; doente portador de transtornos de humor; obesidade; doente
portador de anomalias urológicas e/ou disfunção vesical grave; portador de
serologia positiva para VIH.
Critérios de inativação temporária: doente portador de infeção ativa ou com
tratamento incompleto; perda de enxerto por causa imunológica; antecedentes
de AIT ou AVC Isquémico há menos de 6 meses; antecedentes de Neoplasia
controlada há menos de 2-5 anos (dependendo da localização); úlcera
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
41
gastroduodenal em atividade; doente com glomerulonefrite ou vasculite em
atividade.
A seleção dos doentes em lista de espera para transplante de um órgão é feita
segundo critérios biológicos de classificação ABO e HLA e cross-match. Entre os
critérios de prioridade para a realização de transplante salienta-se o grau de urgência,
a idade e a falência do acesso vascular, como os mais relevantes (ASST, 2009).
3.2. LEGISLAÇÃO PORTUGUESA PARA A TRANSPLANTAÇÃO RENAL
Em Portugal, o primeiro transplante de rim foi realizado nos Hospitais da
Universidade de Coimbra (HUC) pelo Professor Linhares Furtado, em 1969
com dador vivo, tendo havido perda de enxerto ao fim de um mês. Seguindo-se
em Lisboa uma série de transplantações mas sem sucesso
O início efetivo da transplantação regulamentada surge em 1976 com a Lei
553/76, de 13 de Julho, que permite a colheita de órgãos e tecidos em cadáver
para transplantação.
Os avanços da medicina não eram compatíveis com as ideações político-sociais da
época, sentindo-se a necessidade de actualizar a legislação, pois só quatro anos mais
tarde se realizou a primeira colheita de rim para transplantação (Furtado 2010).
Posteriormente em 1993, pela Lei 12/93 de 22 de Abril, surge o enquadramento legal
em matéria de colheita e transplante de órgãos e tecidos de natureza humana o que
representou um grande avanço para a transplantação (D.R. nº94, I Série de 93-4-22).
Mais tarde, surgiu a Lei nº22/2007 de 29 de Junho, que veio clarificar a anterior,
relativamente à colheita e transplantação de órgãos e tecidos de origem humana e ao
estabelecimento de normas de qualidade e segurança quanto à dádiva, colheita,
análise, processamento, preservação e armazenamento de tecidos e células de
origem humana. Em 2010 foi publicada a Diretiva 2010/53/EU pelo Parlamento e
Conselho Europeu referente às normas de qualidade e segurança dos órgãos
humanos destinados a transplantação.
O transplante de órgãos e tecidos é uma opção de excelência no tratamento da
falência orgânica, é uma alternativa terapêutica segura e eficaz no tratamento de
diversas doenças dela decorrendo uma melhoria na qualidade e na perspetiva de vida.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
42
Para que o transplante resulte, é necessário uma análise criteriosa dos riscos
relacionados com o dador.
A colheita de órgãos pode ser realizada em dadores vivos ou em cadáveres.
“Os critérios de seleção de dadores baseiam-se numa análise dos riscos
relacionados com a aplicação dos tecidos ou células específicos. Devem ser
identificados indicadores destes riscos por exame físico, uma análise dos
antecedentes médicos e comportamentais, análises biológicas, exame post
mortem e outras indagações adequadas, no caso de dadores cadáveres”
(DECRETO-LEI nº12/2009, p.1890)
Relativamente à colheita de órgãos em dadores cadáveres, são “considerados como
potenciais dadores post mortem todos os cidadãos nacionais e os apátridas e
estrangeiros residentes em Portugal que não tenham manifestado junto do Ministério
da Saúde a sua qualidade de não dadores” (DECRETO-LEI nº22/2007, p.4146). São
considerados critérios de exclusão: causa de morte indeterminada; antecedentes de
doença de etiologia desconhecida; risco de transmissão de doenças causadas por
priões; antecedentes de doença maligna exceto carcinoma colo do útero e basocelular
primário; antecedentes de doenças crónicas, sistémicas ou autoimunes capazes de
prejudicar a qualidade do órgão; dados clínicos, resultados laboratoriais que
demonstrem a existência de risco de transmissão de VIH, hepatite B aguda ou crónica,
hepatite C e HTLV I/II ou presença de fatores de risco destas infeções;
ingestão/exposição de substâncias como cianeto, chumbo, mercúrio e ouro;
transplantação heteróloga; antecedentes recentes de vacinação com vírus vivo
atenuado (DECRETO-LEI nº12/2009).
A colheita de órgãos e tecidos de uma pessoa viva só pode ser efetuada para
interesse terapêutico do recetor, desde que não esteja disponível qualquer órgão ou
tecido adequado colhido de dador post mortem e não exista outro método terapêutico
alternativo de eficiência comparável, salvaguardando o princípio de gratuitidade. O
consentimento do dador e do recetor deve ser livre, esclarecido, informado e
inequívoco. O dador pode identificar o beneficiário e tem direito à confidencialidade
(DECRETO-LEI nº22/2007). Os critérios de exclusão a aplicar são os mesmos no caso
de dadores mortos, com a diferença de que não há morte (DECRETO-LEI nº12/2009).
O transplante de dador vivo tem como vantagens o aumento das taxas de sobrevida
do doente e enxerto, disponibilidade imediata de órgão, possibilidade de programar a
cirurgia e funcionamento imediato do órgão (Kelly, Cynthia e Carol, 2010; Pascual et
al, 2012).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
43
3.3. COMPLICAÇÕES DO TRANSPLANTE RENAL
As principais complicações do transplante renal são, segundo Cynthia, Kelly e Carol
(2010), a rejeição imunológica, hipertensão, infeções e tumores.
A rejeição, sendo a complicação mais frequente, é também a mais temível, razão pela
qual o diagnóstico precoce é fundamental. Reconhecer os primeiros sinais de rejeição
é de importância primordial e eles constam de febre, hipertensão arterial, rápido ganho
ponderal, diminuição do débito urinário, elevação do nível sérico de creatinina, edema
das extremidades e em algumas situações de hipersensibilidade dolorosa no local do
enxerto (Urden, Stacy e Lough, 2008; Marchão et al, 2011).
A rejeição é a principal causa de fracasso do transplante e pode ser de 3 tipos
hiperaguda, aguda e tardia:
A rejeição hiperaguda pode ocorrer nos primeiros minutos, horas ou dias após
o transplante, é irreversível. Deve-se á existência de anticorpos anti-dador pré-
existentes no recetor que atuam nas células endoteliais do enxerto. Atualmente
é rara, devido á realização dos testes de compatibilidade pré-intervenção cada
vez mais específicos (Toppa, 2011; Pascual, et al, 2012)
A rejeição aguda geralmente ocorre nas primeiras semanas, porém pode surgir
em períodos mais tardios até aos 3 meses, com recorrências após o primeiro
episódio. É mediada por imunidade humoral e celular. Ocorre por destruição do
tecido transplantado, acompanhado de uma componente vascular. O
tratamento é farmacológico, com elevadas doses de imunossupressores
(Idem).
A rejeição tardia ou crónica pode ocorrer alguns meses após transplante, em
boa verdade, todo o transplantado progressivamente caminha para este tipo de
rejeição visto que ela resulta da perda lenta e progressiva da função do
enxerto. Também é mediada pela imunidade humoral e celular (Idem).
Relativamente à rejeição aguda, deve-se ainda acrescentar, que os fatores de risco
que lhe estão associados incluem a função tardia do enxerto, anticorpos HLA (human
leukocyte antigen), o tipo de dador de rim, causa de morte e morbilidade do dador,
entre outros (Pascual, et al, 2012).
A lesão isquémica de reperfusão e a sua correlação histológica, a necrose tubular
aguda pós isquémia são as causas mais frequentes da função tardia do excerto. A
incidência desta complicação aumenta em determinadas situações; tempo de
isquemia fria que exceda as 24h, associado a indução com ciclosporina, o tipo de
diálise realizada imediatamente antes do transplante, o tipo de dador, a idade
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
44
avançada e antecedentes de HTA (Hipertensão Arterial) sugerem a necessidade de
uma maior pressão de perfusão (Idem).
Alguns estudos admitem que a presença de anticorpos HLA se associa a um aumento
do risco de rejeição do excerto. De acordo com alguns estudos, a sobrevivência do
enxerto a curto prazo é maior quando provém de dador vivo se comparado com o de
dador cadáver, devido às circunstâncias ótimas de colheita que rodeiam o ato de
doação (Pasqual et al, 2012).
Quanto à rejeição crónica, apesar da evolução dos fármacos imunossupressores, o
grau de compatibilidade HLA ainda tem um impacto importante na sobrevivência do
enxerto (Idem).
A HTA é uma das principais complicações da Insuficiência renal de difícil tratamento
com o transplante. Efetivamente cerca de 75% dos recetores de transplante renal
sofrem de hipertensão. Esta está relacionada com antecedentes do doente e/ou com a
medicação anti rejeição que toma (Idem).
A hipercolestrolémia surge em cerca de 70-80% dos casos e a hipertrigliceridémia em
cerca de 30-40%, contribuindo para a arteriosclerose e doença coronária associadas a
fatores de risco para o sucesso do enxerto renal (Idem; DGS, 2012).
Também a infeção continua a ser uma das principais causas da mortalidade e
morbilidade do doente transplantado. Ocorre por supressão da resposta imunológica
do organismo, devido á terapêutica imunossupressora, mas também devido à idade
avançada e doenças associadas, como diabetes mellitus, lúpus eritematoso e
malnutrição. No primeiro mês do transplante as infeções que se observam com mais
frequência são as semelhantes às adquiridas por qualquer doente no pós-operatório,
podendo também ocorrer infeções virais (Citomagalovirus) como infeções primárias ou
reativadas (Pasqual et al, 2012).
Lesões isquémicas e inadequada perfusão da artéria e/ou da veia do rim também são
consideradas um importante fator de risco para a disfunção renal e podem levar à sua
perda definitiva (Idem; DGS, 2012).
A não adesão à terapêutica imunossupressora é outro dos fatores de risco que
contribui para a disfunção renal e rejeição a longo prazo (Pasqual et al, 2012).
É igualmente importante referir que os tumores têm uma maior incidência nas pessoas
transplantadas que na população em geral, tal facto está relacionado com a alteração
do sistema imunitário, devido á terapêutica imunossupressora permanente que estas
pessoas têm de manter (Kelly,Cynthia, e Pootter, 2010; Pasqual et al, 2012; DGS,
2012).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
45
3.4. VIVÊNCIAS DA PESSOA COM TRANSPLANTE RENAL
Para os doentes com DRC, normalmente o transplante não é uma utopia, é algo bem
próximo da realidade.
Ballone (2007) descreve como resultado do Questionário de Saúde Geral (que avalia a
perda de controlo emocional e depressão) que a qualidade de vida da pessoa
transplantada é geralmente melhor do que a qualidade de vida da pessoa em diálise e
aproximadamente 80% dos recetores de transplante tem função psicossocial quase
normal. No entanto, é importante referir que estes estudos não contemplam os efeitos
do insucesso do transplante.
A vantagem óbvia do transplante renal é a liberdade, em oposição às restrições
impostas pela diálise, melhorando a qualidade de vida do doente (Mattos e Maruyama,
2010; Arenas, Orozco e Weber, 2011; Rudnicki, 2014).
No entanto, a decisão de um transplante de órgão gera dúvidas e incertezas. É uma
questão muito delicada e requer muitas discussões e esclarecimentos, seja com a
pessoa e/ou com os seus familiares seja no seio da equipe de transplantação. As
lacunas no processo de informação e esclarecimento à pessoa com DRC sobre o
transplante são descritas por Camargo et al. (2011) como geradoras de angústia,
medo e ansiedade. A incerteza do procedimento leva muitos doentes a encarar a HD e
a máquina dialisadora como elementos positivos. Muitos já estão adaptados à técnica
de HD e consideram-na como uma representação de segurança e certeza (Barbosa e
Valadares, 2009).
Aquando da decisão de partir para o transplante surge a questão:
…“da temporalidade, a necessidade da espera pelo dador compatível, uma
conjugação de factores tem que ser levada em conta, inclusive a resistência física
do paciente para tal, como um quebra-cabeças, onde as peças têm de encaixar
perfeitamente, além da possibilidade do enxerto ´não vingar’” (Campos e Turato,
2010, p.).
Tanto a espera indeterminada pelo transplante como a rejeição do mesmo podem
levar o doente a vivenciar sintomas como alterações do sono, depressão,
desesperança e ideação suicida (Arenas, Orozco e Weber, 2011; Kovacs et al,
2011; Andrade, Sesso e Diniz, 2014).
Por outro lado, o transplante não é sinónimo de saúde e bem-estar pleno da pessoa
com DRC, existem alguns condicionantes que influenciam negativamente a
qualidade de vida do doente após o transplante, nomeadamente: a rejeição, a dor,
os efeitos secundários da medicação, necessidade de internamento hospitalar, a
alteração da imagem corporal, problemas com o peso, alterações do humor, fadiga,
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
46
fragilidade cutânea, alterações relacionadas com a sexualidade, stresse, gengivas
edemaciadas, e fragilidade óssea (Orr et al, 2007; Arenas, Orozco e Weber, 2011).
Além das alterações maioritariamente orgânicas podem surgir mudanças
psicológicas em pessoas transplantadas no período imediato à cirurgia. Geralmente
a pessoa sente grande alívio, porém, há sensações de insegurança e abandono. A
possibilidade de satisfazer antigos desejos pode causar medo. Se por um lado há
prazer e felicidade pelas novas possibilidades, por outro lado, o medo da rejeição do
órgão é um constante fantasma atrás da cortina. Por conta desse medo o
comportamento exageradamente cauteloso acaba por restringir as atividades
(Ballone, 2009). No entanto, apesar de todas estas complicações o transplante
continua a ser uma meta para a maioria dos doentes a realizar HD por oferecer
maior sobrevida e menor morbilidade que as técnicas dialíticas (Arenas, Orozco e
Weber, 2011; Kovacs et al, 2011).
Durante todo o processo associado ao transplante surgem múltiplas questões
relativas à adaptação às mudanças no estado de saúde, à capacidade funcional, às
alterações das relações sociais, novas perceções de si mesmo, em relação à
revisão dos planos de vida e vários outros aspetos (Ballone, 2008). Segundo Dew et
al., citado por Ballone (2008) os candidatos a transplante apresentam maior risco de
ansiedade, angústia e/ou depressão, devidas ao desconforto emocional envolvendo
o sofrimento causado pela própria doença que implica o transplante, o tempo de
espera, a insegurança do sucesso e até a aceitação da ideia sobre a necessidade
do transplante.
O tipo de dador, quando se trata de um familiar, é muitas vezes considerado um
fator importante para o doente incutindo-lhe ansiedade, preocupação e sentimento
de culpa, pois sabem que “o processo cirúrgico de doação inclui também riscos, dor,
mudanças corpóreas, cicatrizes” ao seu ente querido (Camargo et al, 2011, p.518).
Alguns transplantados referem, fantasiosamente terem adquirido algumas
características do dador, fantasiam sobre alterações físicas e de personalidade
provocadas pelo órgão recebido, sentimentos de rejuvenescimento podem surgir,
sobretudo quando o dador é jovem. Tais crenças manifestam-se ainda em relação à
identidade sexual, quando o órgão recebido é de uma pessoa do sexo oposto
(Lazzaretti, citado por Ballone 2009).
No transplante renal a rejeição é um fantasma constante atrás da cortina. Quando
este ocorre o seu impacto é indubitável na pessoa e sua família, independentemente
do tempo de transplantação ou tipo de dador (Gill e Lowes, 2014). A pessoa
aquando da rejeição de transplante pode vivenciar problemas físicos e psicossociais
como a anemia, a infeções da ferida cirúrgica, letargia, restrições dietéticas e
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
47
hídricas, alterações da imagem corporal, problemas de relacionamento familiar e
social (Idem, 2009); emoções e sentimentos de pesar, tristeza, dor, perda, raiva,
ansiedade, aflição, culpa, depressão e até ideação suicida (Quellette, Achille e
Vachon, 2006; Gill e Lowes, 2009; Gill e Lowes, 2014).
A necessidade de retomar e de dependência da diálise é marcante e muitas vezes
associada a insónias, tonturas, náuseas e vómitos. A diálise além de indesejada,
exigente e restritiva, numa fase inicial, é também o recordar constante da rejeição do
transplante, no entanto, posteriormente, o reconhecimento do bem-estar e da própria
existência associados à terapia leva à aceitação da mesma (Gill e Lowes, 2014).
Com o passar do tempo, o impacto negativo da rejeição do transplante vai-se
desvanecendo e a esperança de outro transplante prevalece, assim como, o
otimismo quanto ao futuro. No processo de rejeição o suporte familiar é crucial,
assim como o apoio da equipa de saúde (Gill e Lowes, 2009).
A mobilização emocional envolvendo a questão do transplante, tanto para o recetor
como para a família, induz vivências e estados emocionais variados, desde a
incorporação na lista de espera para transplante, o continuar do tratamento de HD
enquanto aguarda por um dador, o procedimento cirúrgico, o pós-operatório, a
terapia imunossupressora e a rejeição.
A questão do transplante tem no ser humano uma representação das mais
relevantes, pois ela mexe com a identidade do sujeito. Receber dentro do corpo uma
parte de outro corpo, pode provocar revoluções emocionais inesperadas.
Todas as alterações descritas anteriormente no processo de transplante, podem ser
minimizadas pela preparação da pessoa e família.
3.5. CUIDADOS DE ENFERMAGEM À PESSOA SUBMETIDA A TRANS PLANTE
RENAL
A função do enfermeiro relativamente à pessoa com transplante renal inicia-se na sua
preparação bem como da família antes do procedimento. Sendo um processo
complexo, é imperativo informar e esclarecer a pessoa e/ou os seus familiares que o
transplante renal, não é uma terapia curativa para a DRC e sim uma terapia
substitutiva, que, seguindo as orientações corretamente lhe poderá proporcionar
melhor qualidade de vida, uma vez que lhe oferece melhor realização socioeconómica
e pessoal.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
48
Se o transplante for entendido erroneamente como curativo por parte dos doentes, que
desejam ou foram, submetidos a esse tratamento pode conduzi-los a descurar
condutas que são imprescindíveis ao sucesso do procedimento (Furtado et al, 2012).
É importante informar e esclarecer o doente sobre as possíveis intercorrências ou
eventos indesejáveis que poderão acontecer desde o procedimento cirúrgico até à
estabilização, a necessidade da adesão à medicação durante toda a vida do enxerto e
os efeitos secundários da mesma (idem)
No pós-operatório imediato, quando o doente está pronto para sair do recobro, é
transportado para a unidade de transplante ou para os cuidados intensivos, sendo
considerados doentes críticos, pela necessidade de uma supervisão intensiva e
permanente. Considerando-se que a…”pessoa em situação crítica é aquela cuja vida
está ameaçada por falência ou eminência de falência de uma ou mais funções vitais e
cuja sobrevivência depende de meios avançados de vigilância, monitorização e
terapêutica” (Regulamento nº124/2011, p.8656).
Os cuidados de enfermagem nesta situação:
…”são cuidados altamente qualificados prestados de forma contínua à pessoa
com uma ou mais funções vitais em risco imediato, como resposta às
necessidades afectadas e permitindo manter as funções básicas de vida,
prevenindo complicações e limitando as incapacidades, tendo em vista a sua
recuperação total” (Ibidem).
A instabilidade hemodinâmica é relativamente frequente nos doentes em pós-
operatório imediato
“A monitorização nunca é terapêutica e raramente é diagnóstica. Assim, todo o
processo de monitorização hemodinâmica, simples ou complexo, tem de obedecer
aos princípios de rigor na detecção, controlo e interpretação dos sinais, para que a
avaliação das variáveis fisiológicas seja fiável”. (Fernandes et al, 2009, p.7)
No que diz respeito à monitorização hemodinâmica, a equipa de enfermagem, tem um
papel ativo, não só por colaborar na colocação e manutenção dos diversos sistemas,
monitorizar e vigiar complicações, mas também por ser o principal observador do
estado clínico do doente e da resposta às intervenções terapêuticas implementadas.
A monitorização hemodinâmica da pessoa em estado crítico após transplante renal
incluindo a avaliação e registo de temperatura, tensão arterial, frequência cardíaca,
pressão venosa central, glicémia, débito urinário, oximetria, hidratação e peso, em
simultâneo com a observação regular dos parâmetros analíticos, eletrólitos e
hemograma, constituem uma ajuda incontestável na elaboração do diagnóstico
precoce, assim como na eleição de um tratamento adequado.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
49
No pós-operatório imediato, uma boa hidratação é imprescindível para que o enxerto
funcione adequadamente. A hipovolémia pode levar a uma diminuição do aporte
sanguíneo ao rim podendo conduzir à sua falência. É mandatário a avaliação do débito
urinário e coloração da urina, devendo manter-se a bexiga descomprimida para
promover uma cicatrização adequada e menos dolorosa (Urden, Stacy e Lough, 2008).
Também o controlo da dor deve ser considerado como uma prioridade no âmbito da
prestação dos cuidados, sendo, igualmente, um fator decisivo para a indispensável
humanização dos mesmos (DGS, 2008).
A indução de terapêutica imunossupressora tem início no ato do transplante, fazendo
com que o doente fique imunodeprimido e mais suscetível a infeções, pelo que é
imperioso tomar medidas, para a sua prevenção. Os meios invasivos deverão ser
removidos logo que possível. A incisão cirúrgica, bem como os sistemas de drenagem,
deverão ser alvo de vigilância apertada quanto a sinais inflamatórios. É também
importante nesta fase inicial, a restrição do número de visitantes (Urden, Stacy e
Lough, 2008).
É competência do enfermeiro junto do doente recém-transplantado, auxiliar e
promover a adesão ao tratamento, além de o orientar e educar para a prevenção ou
resolução atempada de possíveis complicações tais como a rejeição e infeção (Idem;
Furtado et al, 2012). Para a deteção precoce de sinais de infeção e de possível
rejeição do transplante o doente deve ser orientado para avaliar a tensão arterial, a
temperatura e o peso regularmente. Evitar o contacto com animais e pessoas doentes,
se necessário utilizar máscara de proteção. Os bons hábitos de higiene devem ser
mantidos, tais como a higiene corporal diária, higienização das mãos e etiqueta
respiratória. No caso de dor abdominal, febre ou mal-estar deve recorrer aos serviços
de saúde (Duarte, Salviano e Gresta, 2011).
Para o sucesso do transplante, é necessário que todas essas orientações sejam
rigorosamente cumpridas. É importante o doente compreender que o sucesso do
transplante está diretamente relacionado com a sua sobrevida e qualidade de vida.
Em contexto de rejeição, é unanime o reconhecimento da importância da informação
e esclarecimentos quanto à sua inevitabilidade, proporcionados pela equipa de
saúde. No entanto, é essencial o alerta e o reforço do conhecimento das potenciais
complicações físicas e psicossociais da rejeição ao doente e família antes do
transplante (Gill e Lowes, 2014). É também relevante a criação de redes de apoio
emocional apropriadas, tais como grupos de apoio à pessoa e família ou o acesso a
psicólogos especializados nesta área (Idem, 2009).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
50
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
51
4 - METODOLOGIA
A metodologia num trabalho de investigação é essencial para a definição de
estratégias de forma a obter e analisar objetivamente os dados. Segundo Fortin (1999,
p. 372) consiste no “conjunto dos métodos e das técnicas que guiam a elaboração do
processo de investigação científica”. Ainda de acordo com Polit, Beck e Hungler (2004,
p.200) … “os elementos do delineamento do estudo evoluem no decurso do projeto
(…) que emerge à medida que o pesquisador toma decisões”.
Tendo em conta o referido e após termos formulado o problema de investigação e
contextualizado o fenómeno, torna-se necessário adotar determinados procedimentos
metodológicos, tal como menciona Fortin (2009,p.53) … “é no decurso da fase
metodológica que o investigador determina a sua maneira de proceder para obter
resposta às questões de investigação ou verificar as hipóteses”.
Neste capítulo apresentamos o tipo de estudo, as questões e os objetivos de
investigação, os participantes e o seu respetivo contexto, o instrumento da colheita
dos dados, os procedimentos de tratamento e de análise dos mesmos, bem como os
adotados para assegurar o rigor da investigação e por último as considerações éticas
e formais inerentes a todo o processo desenvolvido.
4.1. TIPO DE ESTUDO
A investigação em enfermagem é importante no sentido de compreender, aprofundar e
melhorar os cuidados de saúde, tal como referem Polit, Beck e Hungler (2004, p.20),
quando consideram que “o desenvolvimento e a utilização do conhecimento é
essencial para a melhoria constante no atendimento ao paciente.”
Assim, tendo em conta que procuramos conhecer as pessoas com Doença Renal
Crónica em hemodiálise, conhecendo o seu mundo e as suas vivências em HD após
rejeição de transplante renal, desenvolvemos um estudo com uma abordagem
qualitativa. Esta permite compreender os padrões de pensamento e comportamento
humano face à experiência vivida, tal como referem Streubert e Carpenter, (2002, p.2)
quando consideram que esta…”possibilita encontrar respostas para questões
centradas na experiência social, como é criada e como tal dá sentido á vida humana”.
A propósito da metodologia qualitativa Fortin (2009, p.20) alude que:
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
52
“A metodologia qualitativa serve para compreender o sentido da realidade social
na qual se inscreve a acção, (...) tem por finalidade chegar a uma compreensão
alargada dos fenómenos (…) visa compreender o fenómeno tal como é vivido e
relatado pelos participantes”.
Sendo nosso propósito estudar a experiência vivida pelos participantes e analisar a
sua perceção face à mesma, dentro do paradigma da investigação qualitativa,
optamos por desenvolver um estudo de carácter exploratório descritivo e transversal,
que se realiza quando “a descoberta de fatores, consiste em descrever, nomear ou
caracterizar um fenómeno, uma situação ou um acontecimento de modo a torna-lo
conhecido, o que corresponde à investigação exploratória-descritiva” Fortin (1999,
p.52).
Condiz também com um estudo transversal na medida em que procura precisar a
natureza de um fenómeno num determinado momento e ainda, porque nos propomos
realizar a análise do acontecimento num espaço de tempo específico (Burns e Grove,
2001).
A pesquisa exploratória visa a descrição de um fenómeno, tal como referido por Polit,
Beck e Hungler (2004, p.34) …”a pesquisa exploratória começa com algum fenómeno
de interesse (…) investiga a sua natureza complexa e os outros fatores com os quais
ele está relacionado”.
Ainda os mesmos autores, mencionam que uma investigação descritiva, … “usa
métodos aprofundados para descrever as dimensões, as variações, a importância e os
significados dos fenómenos” (Ibidem).
Tendo em conta os pressupostos, os participantes foram selecionados de acordo com
a sua experiência em hemodiálise e transplante, assegurando uma relação íntima dos
mesmos com o fenómeno, dentro dos critérios de inclusão gerais do estudo, sem
controlo ou qualquer manipulação.
De alguma forma, tendo em conta o objetivo geral do estudo: identificar as vivências
da pessoa em hemodiálise após rejeição de transplante, verificam-se neste trabalho
algumas características de um estudo fenomenológico, mas por uma questão de
gestão do nosso tempo e dados optamos por um estudo descritivo, onde a principal
preocupação foi obter uma descrição rica e densa das vivências tendo em conta as
questões e os objetivos da investigação.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
53
4.2. QUESTÕES E OBJETIVOS
Em investigação é imprescindível explicar o que se pretende pesquisar. As questões
de investigação têm um papel fundamental, pois a sua definição permitirá orientar e
ajudar a organizar a recolha dos dados (Bogdan e Biklen, 1994).
Para Fortin (2009,p.53) “Uma questão de investigação é uma interrogação precisa,
escrita no presente e que inclui o ou os conceitos em estudo”, ainda refere que um
investigador enuncia uma questão de caracter mais geral, para aprofundar a
problemática.
Assim, pretendemos com este estudo, aumentar o conhecimento das vivências da
pessoa DCRT em hemodiálise após rejeição de transplante, pelo que a questão geral
de investigação que formulamos é saber: Quais as vivências da pessoa em
tratamento dialítico após rejeição no transplante renal?
Para lhe dar resposta, tornou-se fundamental elaborar outras questões pertinentes
para o estudo:
Como é que após a falência do excerto renal, a pessoa vivenciou o reinício da
hemodiálise?
Quais os fatores percecionados pela pessoa com DRC como mais
condicionantes no reinício da Hemodiálise?
Que vivências condicionam/ocasionam a rejeição de um transplante renal na
pessoa?
Consideramos as respostas a estas questões imprescindíveis para a compreensão da
problemática.
Para Fortin (2009, p.327), “…o objetivo determina a orientação da investigação e o tipo
de estudo a compreender”.
Selecionado o tema de investigação e formuladas as questões, foram definidos os
objetivos de forma a orientar toda a pesquisa. Com o objetivo geral procuramos
reconhecer as vivências após rejeição.
Assim, de acordo com este princípio formulamos como objetivo geral:
- Identificar as vivências da pessoa em Hemodiálise (HD) após rejeição de transplante.
No sentido de aprofundar o conhecimento neste domínio, elaboramos os seguintes
objetivos específicos:
Identificar as vivências da pessoa, associadas à notícia de transplante e aos
fatores que lhe estão aliados;
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
54
Identificar as vivências manifestadas pela pessoa que sofreu rejeição do
enxerto renal e reiniciou hemodiálise;
De acordo com os objetivos formulados, optou-se por uma amostra intencional
também designada por Fortin (2009) por amostragem teórica, uma vez que acumula
casos variados, representando as diversas características que pode tomar um
fenómeno ou uma situação.
4.3. PARTICIPANTES / INFORMANTES
Num estudo elaborado segundo uma abordagem qualitativa, os indivíduos que nele
colaboram são designados por participantes ou informantes. Os investigadores
qualitativos assumem a posição de não agir sobre as pessoas que tomam parte na
investigação considerando-as como ativas no estudo. Streubert e Carpenter (2002,
p.25) defendem que “os indivíduos são seleccionados para participar na investigação
qualitativa de acordo com a sua experiência, em primeira mão, da cultura, interação
social ou fenómeno de interesse”.
Na investigação qualitativa não tem interesse que a amostra seja numerosa, mas o
contributo que pode dar para o conhecimento do problema em estudo. Fortin (2009)
refere que neste tipo de investigação, o número de participantes não é decidido,
depende dos dados colhidos. ”A saturação acontece quando os temas e as categorias
se tornam repetitivas e a colheita de dados já não fornece novas informações.” (Idem,
p.33)
Atendendo à importância que os métodos qualitativos atribuem ao saber e à
experiência das pessoas selecionadas, deve estar subjacente a esta situação
questionar em que medida essas pessoas são suscetíveis de fornecer dados válidos e
completos e são representativas da população em estudo. Dado o detalhe pretendido,
a maioria dos estudos são conduzidos com pequenas amostras (Bogdan e Biklen,
1994).
As pessoas que participam no estudo devem ter a experiência do fenómeno particular
e possuir uma experiência e um saber pertinentes Fortin (1999, p. 156) afirma:
… “é igualmente importante que as pessoas selecionadas sejam capazes de
testemunhar sobre a sua experiência ou de descrever o que interessa ao
investigador, o que supõe uma motivação para participar e uma capacidade de se
exprimir”.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
55
O objetivo deste estudo é conhecer uma realidade do ponto de vista das pessoas que
a vivem, o que significa que os participantes devem ser os que, verdadeiramente
vivem a experiência para assim podermos obter uma descrição fina, densa e fiel do
fenómeno relatado (Idem). Com base no referido, optamos por selecionar pessoas que
fazem hemodiálise numa clinica, onde a investigadora exerce a sua atividade, por aí
podermos obter os dados necessários para a realização do estudo, também pelo
conhecimento das pessoas a investigar e pela acessibilidade às mesmas. Estas
efetuam hemodiálise numa clinica da região Centro do País.
A seleção foi realizada a partir de um conjunto de critérios de inclusão que foram
definidos para uma “limitação bem fundamentada da amostragem” de acordo com
Flick (2004, p79).
Na referida clínica, em julho de 2011, integravam a listagem 17 pessoas em
tratamento dialítico após rejeição de transplante. Definimos como critérios de inclusão:
fazer hemodialise nesta clinica; ter idade compreendida entre os 18 e 60 anos; perda
de enxerto renal por rejeição crónica; não ter reiniciado hemodiálise há mais de 5
anos; não apresentar limitação na capacidade de comunicação verbal ou na audição
que pudesse comprometer a realização da entrevista; não evidenciar qualquer
perturbação emocional ou cognitiva no momento da colheita de dados e aceitar
livremente participar no estudo, dando o seu consentimento informado. Os critérios
foram escolhidos para selecionar as pessoas com riqueza de experiência vivenciada
no processo de transplante
Assim, das 17 pessoas, 7 corresponderam aos critérios de inclusão, pelo que as
selecionamos como participantes. As restantes 10 pessoas que realizavam
hemodiálise após rejeição de transplante, 2 já tinham reiniciado diálise há 12 anos e
as restantes 8 pessoas tiveram rejeição hiperaguda ou aguda do enxerto renal, sendo
que a rejeição hiperaguda ocorre entre minutos e uma semana e a rejeição aguda
desenvolve-se entre a primeira e a sexta semanas após o transplante, foi o motivo
pelo qual não foram incluídas no estudo, visto que estas pessoas não tiveram tempo
de vivenciar o processo de transplante.
Na opinião de Streubert e Carpenter (2002) um contacto prévio prepara as pessoas
para o encontro. Neste sentido os 7 participantes, foram contactados previamente a
fim de apurarmos da sua disponibilidade para a participação no estudo, a totalidade
aceitou colaborar voluntariamente, aquando da resposta foi marcado um encontro para
a realização da recolha de dados.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
56
4.4. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS
Atendendo ao tipo de informação necessária para responder aos objetivos da
investigação optou-se pela entrevista semidirigida. Pois Fortin refere que este método
de entrevista é utilizado … “quando o investigador quer compreender a significação de
um acontecimento ou de um fenómeno vividos pelos participantes”. Acrescenta ainda,
“…a entrevista semidirigida fornece ao respondente a ocasião de exprimir os seus
sentimentos e as suas opiniões sobre o tema tratado. (…) assemelha-se geralmente a
uma conversa informal” (2009, p.377).
Segundo Fortin (2009, p.301), em investigação qualitativa, “pede-se aos participantes
para descreverem verbalmente ou por escrito a sua experiência. As entrevistas podem
ser registadas em banda vídeo.” Tendo em conta o referido anteriormente, o
instrumento de colheita de dados preferencial é a entrevista com perguntas livres que
permitam ao participante expor as suas vivências.
Para a autora (p.375) ”a entrevista é o principal método de colheita de dados nas
investigações qualitativas”. Ainda neste sentido e citando Streubert e Carpenter (2002,
p.67) “a entrevista permite entrar no mundo da outra pessoa e é uma excelente fonte
de dados.” Estes autores consideram que os “investigadores devem ajudar os
participantes a descrever as experiências vividas sem liderarem a conversa”. E
“…durante a entrevista os investigadores eventualmente ajudam os participantes a
descrever mais detalhadamente, fazendo-lhes perguntas” (p.67). Fortin (2009)
considera que quando se deseja obter informações particulares sobre um tema, deve
começar-se por questões simples e aumentando a complexidade à medida que a
entrevista decorre, tendo em conta que no final da entrevista todos os pontos contidos
na lista foram abordados.
Assim, foi construído um esquema orientador, guião de entrevista, (Apêndice I) tendo
como objetivo a orientação da investigadora.
O guião da entrevista inicia por uma breve introdução para esclarecimento do
participante quanto ao tema e objetivos do estudo. Segue-se a caraterização do
participante, sustentada nas características sociodemográficas, o tempo de tratamento
de substituição da função renal, mais precisamente o tempo de diálise e de
transplante. A entrevista propriamente dita é composta por cinco questões abertas que
permitem dar resposta à questão de investigação. Por último, surge um campo de
observações onde foi dada a oportunidade ao participante de fazer as últimas
declarações, ou alterações caso assim desejasse.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
57
Na entrevista seguimos as orientações de Streubert e Carpenter (2002), quando
referem que o investigador deverá recolher os dados num ambiente em que o
participante se sinta confortável, causando o mínimo de constrangimentos. Assim, as
entrevistas coincidiram com o dia em que os participantes realizaram hemodiálise,
foram efetuadas no local que cada um indicou após marcação prévia.
No momento da entrevista foi solicitada a participação no estudo através da explicação
do trabalho expresso no consentimento informado (Apêndice II).
Durante as entrevistas a orientação foi restrita ao guião para estabelecer uma relação
com o entrevistado, facilitar na condução das mesmas e ao mesmo tempo não
enviesar a recolha dos dados.
As entrevistas decorreram entre julho e setembro de 2011, no mesmo período
analisaram-se os dados recolhidos, de modo a identificar a riqueza e a pertinência da
informação.
O registo das entrevistas foi através da gravação áudio, o que permitiu a transcrição
dos dados colhidos antes da sua análise (Fortin, Cote e Filion, 2009).
A partir da transcrição, que ocorreu à medida que as entrevistas eram realizadas,
constatou-se que havia repetição dos dados narrativos dos participantes o que
permitiu perceber que a saturação dos dados foi atingida, confirmando o mencionado
por autores como (Morse apud Streubert e Carpenter, 2002).
No final de cada entrevista propusemos a cada participante a marcação de um novo
encontro para validação da informação recolhida, possibilitando alterar ou acrescentar
a informação recolhida. No entanto, os participantes não o consideraram necessário
dando autorização para transcrição e utilização dos dados para os fins definidos.
4.5. ANÁLISE DOS DADOS
A realização de um estudo de investigação inclui a construção de um referencial
teórico, que fundamente o objetivo do estudo, pelas opções metodológicas e pelas
técnicas e procedimentos para a recolha de informação necessária à sua realização.
Após a realização das entrevistas iniciou-se a análise dos dados com a audição e
transcrição integral das mesmas, o mais próximo possível, de modo que a
investigadora relembrasse alguns pormenores do seu decurso, o que era facilitador da
transcrição. O método selecionado para análise das entrevistas foi a análise de
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
58
conteúdo. Após leituras sucessivas de todas as entrevistas, foi efetuada uma pré-
análise onde a partir de intuições e da elaboração de indicadores se sistematizaram
ideias (Bardin, 2011). Esta autora considera que “ a análise de conteúdo é um
conjunto de técnicas de análise das comunicações…” que visam obter por
…”procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”
(Idem, p.37).
A análise de conteúdo traduz-se, de acordo com Lindzey citado por Bardin (2011,p.37)
numa “técnica que consiste em apurar descrições de conteúdo muito aproximativas
subjetivas, para pôr em evidência com objetividade a natureza e as forças relativas do
estímulo a que o sujeito é submetido”. Ou seja é efetuada uma análise da informação
contida nas entrevistas que pode ser uma análise dos significados – análise temática
ou análise dos significantes – análise lexical ou dos procedimentos (Idem). A autora
refere ainda que “é o método das categorias espécie de gavetas ou rubricas
significativas que permite a classificação dos elementos de significação constitutivos
da mensagem” (Idem, p.39).
Para iniciar a análise temática dos dados, após a transcrição das entrevistas, estas
foram enumeradas, linha por linha e procedemos à sua codificação. Segundo Holsti
citado por Bardin (2011,p.129) ”a codificação é o processo pelos quais os dados em
bruto são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais
permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo” (Bardin,
2011, p.129).
O processo de codificação implica a identificação das unidades de registo, que de
acordo com Bardin (2011, p.130) …“é a unidade de significação a codificar e
correspondente ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base visando a
categorização”. Após a seleção das unidades de registo seguiu-se a codificação por
frequência e após a mesma, procedemos à categorização, que é um processo de
classificação de elementos integrantes de um conjunto por diferenciação e agregação
por analogia, com critérios previamente definidos (Idem). O critério de categorização
utilizado no nosso trabalho foi o semântico, visto que o agrupamento das unidades de
registo foi realizado por categorias temáticas. A categorização é considerada uma fase
problemática da técnica da análise de conteúdo, bem como, uma fase criativa (Amado,
2000).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
59
4.6. PROCEDIMENTOS LEGAIS E ÉTICOS
A investigação em Enfermagem, tendo como foco a pessoa, implica que as
considerações éticas sejam sempre observadas (Streubert e Carpenter, 2002). No
presente estudo, sendo os dados referentes às vivências dos doentes IRC em HD
após rejeição de transplante, colhidos por entrevista, em local determinado pelo
entrevistado, a investigadora tem de se comprometer em preservar o participante no
que diz respeito ao direito ao consentimento informado, ao anonimato e à
confidencialidade.
Para que o consentimento seja esclarecido, a lei institui o dever de informação. Esta
consiste na transmissão dos elementos essenciais para a participação dos sujeitos. A
informação deverá ser verdadeira e suficiente para os ajudar a decidir se desejam ser
participantes na investigação.
“O consentimento é considerado como livre e voluntário se a pessoa, que dá a
sua concordância, usufrui de todas as suas faculdades mentais e não foi sujeita a
nenhuma forma de manipulação, coerção ou pressão. O sujeito pode a qualquer
momento mudar a sua decisão. Para que o consentimento seja esclarecido, é
preciso que a pessoa possua toda a informação necessária para poder julgar das
vantagens e dos inconvenientes da sua participação. " (Fortin, 2009, p.193).
No que diz respeito aos procedimentos legais, foi concedida autorização pelo Diretor
Clínico da Unidade de Hemodiálise para a realização do estudo e também pela
Comissão de Ética para Saúde da Fresenius Medical Care - Portugal (Anexo I). Os
doentes selecionados para colaborar no estudo, após serem devidamente informados
sobre o mesmo, os objetivos e a realização da entrevista, que foi precedida da
assinatura do consentimento sendo também pedida autorização para a sua gravação
em fita magnética.
Foi preservada a confidencialidade dos dados e o anonimato de todos os
participantes. A este propósito, Behi e Nolan citados por Streubert e Carpenter (2002,
p.44) referem que “a garantia de confidencialidade implica que os dados dos sujeitos
da investigação serão usados de tal modo que mais ninguém além do investigador
conhece a fonte”. Estes poderão pedir os seus dados e ser-lhes-ão facultados, assim
como exigir a exclusão dos mesmos, se assim o entenderem. Após a transcrição das
entrevistas, estas deverão ser revistas pelos participantes. Contudo, os participantes
desta investigação consideraram desnecessário esse procedimento.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
60
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
61
5 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Numa investigação qualitativa, a escolha dos participantes, assim como a colheita e
análise dos dados fazem parte de um processo indutivo, iniciado aquando da
realização da primeira colheita de dados e que continua através da revisão dos
registos (Fortin, Cotê e Filon, 2009; Streubert e Carpenter, 2002).
A apresentação dos dados realiza-se numa sequência lógica e coerente, com recurso
a tabelas, gráficos ou figuras. Inicialmente é realizada a caracterização
sociodemográfica dos participantes e posteriormente a descrição do resultado da
análise minuciosa dos dados narrativos obtidos nas entrevistas. Streubert e Carpenter
(2002) referem que a apresentação dos dados deverá refletir a história que se
pretende contar.
CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
O estudo foi desenvolvido com base nos dados colhidos numa amostra de 7
participantes, que foram caracterizados, segundo informação dos mesmos, em relação
à idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade e tempo de técnicas de substituição
de função renal, mais precisamente tempo de transplante e tempo de hemodiálise
após rejeição do mesmo.
A apresentação dos dados permite fazer uma descrição do estudo evidenciando
algumas características particulares (Reis, 2010).
Relativamente à idade, os participantes foram divididos em 3 grupos etários,
verificando-se que 2 têm idade inferior a 45 anos, 4 situam-se entre os 45 e 55 anos e
1 tem idade superior a 55 anos, o que permite considera-los uma população adulta em
idade ativa.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
62
Gráfico 1: Distribuição dos participantes quanto à idade
A população é constituída por 7 participantes, dos quais 5 são do sexo masculino e 2
do sexo feminino.
Gráfico 2: Distribuição dos participantes quanto ao sexo
Quanto ao estado civil dos participantes, 2 são viúvos e 5 são casados.
Gráfico 3: Distribuição dos participantes quanto ao estado civil
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
63
No que respeita ao nível de escolaridade dos entrevistados, verificou-se que foram
enumerados quatro níveis: 4ª classe, atualmente designada de 1º ciclo, referida por 4
dos participantes; 10º ano, 12º ano ou secundário e curso profissional com 1
participante para cada um destes níveis de escolaridade.
Gráfico 4: Distribuição dos participantes quanto ao nível de escolaridade
Relativamente à situação laboral a maioria dos participantes está ativo, ou seja, estão
empregados (4) e (3) estão reformadas.
Gráfico 5: Distribuição dos participantes quanto à situação laboral
Quanto às técnicas de substituição da função renal, nomeadamente ao tempo de
transplante e de hemodiálise após transplante dos participantes, verificou-se em
relação ao transplante o mínimo de tempo foi de 1 ano e 8 meses e o máximo de 19
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
64
anos, com uma média de 12 anos; por sua vez, o tempo de hemodiálise após
transplante, o mínimo foi de 1 ano e o máximo de 5 anos, com uma média de 3 anos.
Gráfico 6: Distribuição dos participantes quanto ao tempo de transplante e tempo de
hemodiálise após transplante
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Para a apresentação dos dados relativos às Vivências da Pessoa com Doença Renal
Crónica Terminal após rejeição do transplante, procedemos à análise de conteúdo das
narrativas dos entrevistados, tendo emergido um vasto conjunto de dados, que no final
do processo de análise se agregaram à volta de duas dimensões distintas:
Transplante e Hemodiálise.
Na análise das entrevistas foram extraídas unidades de registo, que correspondem a
excertos das entrevistas realizadas, tendo sido agrupadas em categorias e
subcategorias. Cada unidade de contexto é identificada com a letra E, com o número
da entrevista correspondente e o L correspondente à linha.
No processo de análise emergiram 3 categorias (e dentro destas subcategorias),
integradas na dimensão transplante: Emoções associadas ao momento da notícia de
transplante; Ser transplantado: reações vivenciais e Respostas em situação de
falência de enxerto e a categoria Readaptação à hemodiálise: vivências integrada na
dimensão hemodiálise.
Para facilitar a análise e apreciação dos dados obtidos, cada categoria será
apresentada individualmente.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
65
Na tabela 2 é apresentada a matriz de análise das entrevistas realizadas com as
dimensões, categorias e subcategorias encontradas.
Tabela 2: Matriz de análise das entrevistas
DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA
TRANSPLANTE
Emoções Primárias
Associadas ao
momento da Noticia de
Transplante
Surpresa
Felicidade / Alegria
Medo / Receio
Ser Transplantado: Reações Vivenciais
Liberdade
Transição para uma vida normal
Bem-estar pessoal e social
Bem-estar profissional
Desamparo após cirurgia
Respostas em Situação
de Falência de Enxerto
Sinais de Alerta
Conhecimento
Sofrimento
Confirmação
Esperança
HEMODIÁLISE Readaptação à
hemodiálise: vivências
Aceitação
Tristeza/ angústia
Mal-estar pessoal e social
Mal-estar profissional
Depressão
Dependência de uma máquina
Privação de liberdade
Transplante
A dimensão Transplante engloba as vivências da Pessoa com Doença Renal Crónica,
que sofreu rejeição do transplante em vários estádios do processo, ou seja, desde que
a pessoa recebe a notícia que irá ser transplantada, as suas vivências enquanto
transplantada até ao momento em que recebe a confirmação da falência do enxerto. A
dimensão Transplante foi dividida em três categorias: emoções primárias associadas
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
66
ao momento da notícia de transplante; ser transplantado reações vivenciais e
respostas em situação de falência de enxerto, como referido anteriormente.
Figura 1: Análise da categoria: Emoções primárias associadas ao momento da notícia do
transplante
No corpus de análise que integrou a categoria Emoções primárias associadas ao
momento da notícia de transplante, foram identificadas três subcategorias:
Surpresa, Felicidade/ Alegria e Medo/ Receio.
A subcategoria Surpresa, entendida como a mais rápida das emoções básicas, dura
apenas alguns segundos, e implica que algo ocorra subitamente e que estejamos
desprevenidos. O espanto, a perplexidade e sobressalto são algumas
das características associadas á emoção surpresa (Freitas- Magalhães, 2007).
“A surpresa é uma experiência breve e inesperada (...) acontece apenas no
momento em que decorre aquilo que nos surpreende e depois disso acontecer a
surpresa pode passar a medo, a encantamento, a alívio, a cólera, ou aversão ou
pode, também, acontecer não ser precedida por qualquer emoção (...) Pode
apenas ser provocada por um inesperado e súbito evento” (Idem, p. 114).
A surpresa aqui identificada e evidenciada nos discursos de quatro participantes,
parece associada a um acontecimento ou noticia não esperada como as unidades de
registo demonstram:
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
67
…”… naquela coisa de… saiu-me o euro milhões. Pronto foi assim!” E1
L10
“Surpresa”. E2 L6
”Mas foi sempre uma surpresa, porque nunca estava à espera”. E2 L7-8
“E foi uma surpresa, foi um impacto grande”. E5 L10-11
A Felicidade/Alegria é a emoção descrita como “emoção básica relacionada com bem
estar, com os sentimentos positivos, um momento único e impossível de qualquer
refinamento”. O prazer, a diversão, a satisfação, a euforia e o êxtase, são alguns dos
atributos da alegria (Freitas- Magalhães, 2007, p. 111). Esta subcategoria emergiu nos
relatos de seis participantes, embora estes tenham evidenciado dificuldades em
expressar claramente como se sentiram foram unânimes na utilização de conceitos
como o ânimo, a satisfação ou o contentamento como denotam as seguintes unidades
de registo:
…”na altura fiquei contente pronto, fiquei contente porque era uma nova
vida”. E1 L6-7
…”sei lá… fiquei doido. Chorei, gritei, fiz trinta por uma linha. Telefonei
para as pessoas todas minhas amigas. Eu sei lá o que é que eu fiz.“ E3
L7-9
“Fiquei contente e… e pronto, foi.. foi isso pronto. Não houve mais nada.
Foi uma satisfação”. E4 L6-7
Associado à felicidade da notícia de transplante, surge o medo que é uma emoção
relacionada com o desconhecido e associada ao perigo.
O Medo/Receio “é uma emoção associada ao perigo, que pode ser extremamente
breve, mas também pode durar um longo período de tempo” A ansiedade, a
apreensão, o nervosismo, a preocupação, o susto, a cautela, a inquietação, o pavor e
o terror são algumas das características associadas ao medo (Freitas- Magalhães,
2007, p.119). Segundo a CIPE (2011, p.61) o medo é uma “emoção negativa: sentir-se
ameaçado, em perigo ou perturbado devido a causa conhecida ou desconhecida”. A
perceção de Medo/ Receio quando a pessoa é confrontada com a notícia de que vai
ser transplantada surge associada à novidade e ao desconhecido e imprevisibilidade
do desconhecido e do decurso dos acontecimentos, tal como 3 participantes
manifestam nas suas narrativas:
“Por mais medo que tivesse é pegar e ir, abalar”. E2 L6-7
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
68
“A minha família é que ficou assim um bocadinho… a tremer… os miúdos
não, que até nem deram por nada, mas a minha mulher, a minha mãe, os
meus irmãos… penso que… era uma coisa nova, não é?” E5 L15-17
…”ao mesmo tempo também tive um susto pois era uma operação que ia
fazer…” E7 L8-9
Figura 2: Análise da categoria: Ser transplantado: reações vivenciais
No conjunto de dados associados à categoria Ser transplantado: reações vivenciais
foram identificadas cinco subcategorias: Liberdade; Transição para uma vida normal;
Bem-estar pessoal e social; Bem-estar profissional e Desamparo após cirurgia.
Ter Liberdade significa condição de poder agir livremente, isto é, segundo as leias da
natureza, da sua fantasia (tempo livre) da sua vontade sem constrangimentos externos
(Dicionário de Língua Portuguesa, 2015). A perceção de liberdade associada à
situação de um transplante renal funcionante foi a subcategoria reconhecida nos
relatos de quatro dos participantes, implícita nas seguintes unidades de registo:
…“…tinha muita liberdade…” E2 L24
“E depois de fazer o transplante eu fazia aquilo que queria, ia para todo o
lado”. E3 L23-24
“…ia fazer transplante ia ver-me livre da máquina…” E7 L7-8
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
69
A Transição para uma vida normal, compreendida como ato ou efeito de mudar,
alteração ou uma transformação decorrente de um fenómeno (Dicionário de Língua
Portuguesa, 2015), neste caso, o transplante. Para os participantes, ter uma vida
normal representa ter o estilo de vida que possuíam anterior aos constrangimentos e
condicionalismos associados à terapêutica hemodialítica. Esta subcategoria foi
evidenciada nos relatos de cinco participantes, como exemplificam as seguintes
unidades de registo:
“Mudou muita coisa, porque fazia a vida já quase normal, não era bem
normal porque temos as consultas e eu como era do circo andava por lá e
vinha de longe pronto, vinha às consultas pronto a Coimbra e … andava
bem pronto sentia-me bem e …” E1 L21-24
“Portanto, a minha vida foi completamente diferente. Eu fazia a vida que
fazia antes de fazer o transplante e antes de fazer a diálise”. E3 L20-21
“O transplante pra mim era… era… voltar outra vez a ter uma vida…
pronto, normal…” E4 L11-\12
Bem-estar, segundo a CIPE (2011, p.41), é a “Imagem mental de se sentir bem, de
equilíbrio, contentamento, amabilidade ou alegria e conforto, usualmente demonstrada
por tranquilidade consigo próprio e abertura para outras pessoas ou satisfação com a
independência”.
Neste estudo, o bem-estar dos participantes é visível no campo pessoal, social e
profissional.
A subcategoria Bem-estar pessoal e social como reação vivencial por estar
transplantado está subentendida nas narrativas de quatro dos participantes, como
podemos constatar nas seguintes unidades de registo:
….”foi maravilhoso, foi bom, fui engordando, pronto, mas… não é por aí, é
mais uma coisa estética, mas sempre bem, sempre com tendência para
fazer infeções urinárias, mas isso tem tudo a ver comigo, com o meu
problema… aaa… individual… foi… foi muito bom”. E2 L27-31
“Casei, mudei de casa…mudei de trabalhos…e sentia-me bem”. E2 L43-
44
“Eu sentia-me muito bem. Pronto, eu sentia-me uma pessoa alegre, eu
reconheço que agora… até as pessoas dizem que eu não sou a pessoa
que… que na alegria que tinha na… que eu tinha…”E3 L29-31
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
70
Nos discursos de quatro dos participantes, identifica-se a reação vivencial de Bem-
estar profissional que identificamos como subcategoria, associada a expressões que
transmitem uma visão positiva da sua situação por manterem uma atividade
profissional:
“Com o trabalho, e na altura também trabalhei…” E2 L23
“E depois quando fui transplantado entrei para a escala, porque eu era
maquinista, entrei pra escala normal, fazia todo o serviço. Entrei para a
escala geral fazia para todo o lado, pronto, deixei de ter… era uma pessoa
normal no meu serviço”. E4 L17-20
“Aaa… depois quando fui transplantado foi completamente diferente, foi…
uma… uma reação normal, normal… passei os vinte anos de transplante
sempre a trabalhar”E5 L36-38
Torna-se importante referir, que nas narrativas dos participantes e consequentemente
nas subcategorias apresentadas (liberdade, transição para uma vida normal, bem-
estar pessoal, social e bem-estar profissional) está subjacente a expressão de uma
melhoria da qualidade de vida da pessoa com DRCT, explicitamente expressa no
relato de um dos participantes, na seguinte unidade de registo:
… “é isso que o transplante dá… é essa qualidade de vida”. E2 L158
Qualidade de vida é definida pela WHO como as“ perceções individuais sobre as suas
posições na vida, dentro do contexto cultural e valores em que estão inseridos e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”2 (2012, p.3).
Entre as reações vivenciais surge também a expressão de Desamparo após cirurgia,
onde desamparo é descrito como uma emoção negativa, que envolve sentimentos de
incapacidade de controlar ou agir independentemente, ficar indefeso. Acresce ainda a
esta emoção o coping, incapacitante, de submissão aos prestadores de cuidados,
está, de acordo com o (CIPE,2011) relacionado com o papel de doente. Esta
subcategoria foi evidenciada no relato de um participante, nas seguintes unidades de
registo:
“E… e fiz… pronto, e foi assim um bocado… foi doloroso. Não é fácil fazer
um transplante e… tar ali três dias deitada e… depois enfiarem-nos
2 “individuals' perceptions of their position in life in the context of the culture and value systems
in which they live and in relation to their goals, expectations, standards and concerns” (WHO,
2012, p.3).
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
71
garrafões e garrafões de água… [risos] pela… pela boca a ainda ralharem
connosco de a gente beber pouco“. E2 L12-15
… “sempre com tendência para fazer infeções urinárias…” E2 L29
Figura 3: Análise da categoria: Respostas em situação de falência de enxerto
Em vários momentos do decurso das entrevistas os participantes
expressaram/apresentaram o que sentiram em consequência das alterações
físicas/orgânicas por mau funcionamento ou falência do enxerto. Estas foram
integradas na categoria Respostas em Situação de Falência de Enxerto. Dentro
desta integram-se respostas diferentes organizadas à volta de cinco subcategorias:
sinais de alerta, Conhecimento, Sofrimento, Confirmação e Esperança.
A rejeição crónica do enxerto renal é gradual e as causas são variadas, como já foi
referido no capítulo anterior, no entanto as infeções, o grau de incompatibilidade, a
imunossupressão inadequada e as comorbilidades do doente são os principais fatores
de risco. Na rejeição crónica os sinais de alerta são: infeção, elevação dos valores da
creatinina e diminuição do filtrado glomerular (Pascual et al. 2012). Todos os
participantes descrevem com facilidade nos seus discursos, as alterações físicas que
indicaram as primeiras evidências de mau funcionamento do rim transplantado e
aquelas que ocorreram numa fase mais avançada no processo. A subcategoria Sinais
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
72
de Alerta está presente na narrativa de todos os participantes, como exemplificam as
seguintes unidades de registo:
“Eu, pronto, quando fiz o transplante, passado… passado uns tempos
fiquei logo acamado porque eu tive um pico de rejeição. Fiz uma
medicação e a coisa aguentou-se. Mas andei sempre com os valores um
bocado elevados”.E3 L37-39
…”tinha uma infecção…uma infecção renal(…)passou-se depois para uma
sépia ou sépsia…” E4 L46-47
“Deixei de fazer xixi e assim. Não tinha forças nenhumas. Eu tinha mais
corpo, eu não conseguia me levantar, caia… ganhei medo de me levantar”.
E6 L84-86
“A creatinina começou a estar alta comecei a ficar inchado o resultado das
análises começaram a subir…” E7 L33-34
O Conhecimento sobre o estado de saúde e/ou doença implica estar “ciente dos
problemas de saúde comuns, práticas saudáveis e serviços de saúde disponíveis,
capacidade de reconhecer sinais e sintomas de doença e de partilhar a informação
com pessoas que são importantes” (CIPE, 2011, p.45). Os participantes evidenciaram
que tinham conhecimento sobre a sua situação de saúde e que compreendiam a
evolução a partir das informações que receberam dos profissionais e da aprendizagem
que adquiriram a partir das suas vivências. Esta subcategoria foi evidenciada nos
discursos de cinco dos participantes, conforme as seguintes unidades de registo:
…”sabia que não era para sempre”. E1 L80
“E os avisos que eu fui recebendo ao longo do coiso… a gente sabe
perfeitamente que um transplante não é para toda a vida. Pode durar um
ano, pode durar dois, pode durar vinte, trinta, é pá, isso aí depende”. E3
L71-74
“Foi uma coisa normal porque qualquer pessoa que esteja transplantada
sabe que o transplante não é eterno… ou então morre antes, não é?”E4
L96-97
Apesar do conhecimento sobre a sua situação de saúde, o reinício da diálise provoca
emoções negativas, como o sofrimento.
O Sofrimento é uma “emoção negativa: sentimentos prolongados de grande pena
associados a martírio e à necessidade de tolerar condições devastadoras, isto é,
sintomas físicos crónicos como a dor, desconforto ou lesão, stress psicológico
crónico…” (CIPE, 2011, p.76). Esta subcategoria está descrita nos relatos de seis dos
participantes, conforme as seguintes unidades de registo:
…”também na rejeição sofri muito, sofri muito ainda”. E1 L17
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
73
…”era um sofrimento aquele fim de transplante”. E2 L146-147
“Só na tava preparado foi para … para passar o que eu passei, voltei a
passar outra vez… nessa situação, nessa fase, claro, e naquela fase tive
muita mal, na … na fase da rejeição, isso não”. E4 L86-89
Apesar de todos os recetores de transplante renal expressarem que tinham
conhecimento de que o transplante teria um período de funcionamento limitado no
tempo, como referido anteriormente, o momento em que há Confirmação
do diagnóstico de falência do rim transplantado causou impacto negativo nos
participantes despoletando-lhes várias emoções, como a tristeza, negação, desolação
e angústia.
No entanto, o conhecimento que a pessoa obtém pela preparação que lhe foi feita e o
sofrimento vivenciado leva à aceitação do estado de saúde. Esta subcategoria, tal
como o nome indica, emerge dos momentos em que as pessoas foram tendo a
confirmação que o enxerto não estava funcionante e está reconhecida nas narrativas
de cinco dos participantes, nas seguintes unidades de registo:
…”foi uma coisa que eu não queria…” E1 L25-26
…“fiquei triste, mas não tive medo é o tipo não queria…” E2 L51-52
“Mas da segunda vez custou-me… portanto isso… eu já encarei com
mais… tava mais preparado. Da primeira vez foi… para mim… desabou-
me a terra em cima. E a segunda vez pronto, eu estava… fiquei até
surpreendido comigo mesmo… mas talvez pela conversa que os médicos
iam tendo eu estava à espera que isto acontecesse, portanto não foi… não
fui apanhado assim de choque, fui… tava mais ou menos preparado para
um dia voltar a fazer diálise”.E3 L49-55
A aceitação do seu estado de saúde, o conhecimento anterior relacionado com a
diálise e o desejo de viver, faz despoletar a esperança.
A Esperança é uma emoção positiva, “sentimento de ter possibilidades, confiança
nos outros e no futuro, entusiasmo pela vida, expressão de razões para viver e de
desejo de viver, paz interior, optimismo; associada ao traçar de objectivos e
mobilização de energia” (CIPE, 2011, p.53). Neste caso, um novo transplante é o
objetivo a atingir. Esta subcategoria está identificada no relato de apenas um dos
participantes, nas seguintes unidades de registo:
“Á espera de outro transplante que pronto, como já tive um, vamos lá ver o
segundo.” E1 L27-28
…“ não faço vida aqui era o transplante que era o ideal o ideal era ser
transplantado”. E1 L90-91
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
74
Segundo a legislação portuguesa em vigor, não existe limite para tentativas de novo
transplante renal, caso a pessoa não apresente critérios de exclusão da lista ativa.
Hemodiálise após transplante
A dimensão hemodiálise engloba as vivências da pessoa com doença renal crónica
que sofreu rejeição do transplante renal e está submetida a esta terapia de
substituição da função renal tendo sido agrupada numa única categoria designada de
Readaptação à hemodiálise: vivências. Esta categoria por sua vez foi dividida em
sete subcategorias: Aceitação, Tristeza/ angústia, Mal-estar pessoal social, Mal-estar
profissional, Depressão, Dependência de uma máquina e Privação de liberdade.
Figura 4: Análise da categoria: Readaptação à hemodiálise: vivências
A Aceitação é um processo de coping que implica gerir e controlar o stresse ao longo
do tempo, eliminar e reduzir sentimentos de apreensão/tensão e a redução de
comportamentos que possam ser destrutivos (CIPE, 2011). Neste caso, a aceitação da
hemodiálise por mais penosa que seja é o que os mantém vivos.
A análise dos relatos de seis participantes, é reveladora que o tratamento é
imprescindível para a manutenção da sua saúde, facto pelo qual é inevitavelmente
aceite.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
75
“…foi fácil a adaptação foi fácil passei muitas dores na rejeição e tive de
encarar isso…” E1L81-82
“Para mim a hemodiálise é… é a única coisa que eu tenho. E não… acho
que as pessoas nunca deviam de ver isto como uma coisa má, porque isto
não é mau, isto é bom, senão for isto não há nada… e… é assim, a pouca
vida familiar que eu tenho, tenho-a por causa da dialise”. E2 L170-173
“Psicologicamente e isso não… não… não me marcou muito… porque era
uma coisa que tive sempre… tinha consciência que isso ia acontecer,
portanto e… e quando aconteceu já eu estava à espera que isso
acontecesse, já sabia que isso ia acontecer…” E4 L82-85
Apesar de ser aceite, pela necessidade de sobrevivência a hemodiálise provoca
sentimentos de tristeza e angustia.
A Tristeza é uma “emoção negativa, provoca sentimentos de desalento e melancolia
associados com falta de energia” (CIPE, 2011, p.79). A Angústia por sua vez, também
é uma “emoção negativa que desencadeia sentimentos de dor intensa e forte, pena e
aflição (Idem, p.39). A subcategoria Tristeza/ Angústia está evidenciada nas narrativas
de quatro dos participantes, nas seguintes unidades de registo:
… “já tinha isso que um dia voltava e claro é sempre difícil voltar para aqui
, custa muito mas é assim difícil é a vida”.E1 L83-84
“Custou-me, chorei sim, mas é assim, chorei, chorei porquê?” E2 L94-95
“Deixei de fazer xixi e assim”. E6L 84
Cada pessoa é única na forma de pensar e reagir perante qualquer ameaça. A forma
como gere a sua existência influencia o conceito de saúde física e social.
O Mal-estar implica o bem-estar comprometido, algo que é incómodo, que provoca
desassossego e inquietação, que neste trabalho se traduz a nível pessoal, social e
profissional, como se exemplifica nas categorias seguintes.
As pessoas tentam manter a suas rotinas e a sua vida familiar, no entanto a
dependência de horário tanto profissional como da diálise condiciona a sua vida. A
subcategoria Mal-estar pessoal e social está confirmada nos relatos de quatro
participantes, nas seguintes unidades de registo:
…”quase não tenho vida familiar”. E2 L115-116
“Sem dúvida, em todos os aspectos, em todos os aspectos. É na
alimentação, é… mesmo… é alimentação, é trabalho, é relacionamento
com as pessoas. É tudo. Pronto, a gente fica muito condicionado”. E3
L100-102
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
76
“Não saio de casa sozinha não…Deixei de trabalhar… mudou tudo”. E6
L96
A atividade profissional, os recursos materiais e físicos são fatores que podem
condicionar a vivência do reinício da dialise. O mercado de trabalho pouco recetivo, o
desemprego e a dificuldade de conciliação do horário de trabalho/diálise faz com que
as pessoas deixem de trabalhar e recorram a outros meios de compensação
económica, como por exemplo antecipação da reforma (Bluemental e Schwarz, 2009).
Todos os participantes manifestaram Mal-estar profissional devido aos
condicionalismos e limitações de horários
impostos pela diálise Esta perceção de desconforto perante o trabalho é identificado
tal como se exemplifica:
…a vida que eu tinha andava por lá era o meu ganha pão era andar por lá
e aqui tenho de estar aqui ao pé da minha mãe, tenho dois filhos e ela
toma conta deles E1 L66-68
…”é muito complicado… trabalhar e fazer diálise”. E2 L133-135
“No aspecto, no aspecto do trabalho pronto, pelos dias que vou a diálise,
há dias que chego, que ando aqui… hoje andava aí todo roto, agora já
estou um bocado melhor, mas de manhã andava completamente todo roto,
cansado…” E3 L85-88
“Deixei de trabalhar…” E6 L96
A Depressão é uma “emoção negativa: sentimentos de tristeza a melancolia, com
diminuição de concentração, falta de apetite e insónia” (CIPE, 2011, p.48). Esta
subcategoria está identificada na narrativa de apenas um dos participantes, nas
seguintes unidades de registo:
… “e eu sinto que isto de…. Tempo, portanto quanto mais tempo a gente
faz diálise… mais… mais… pronto, a gente vai morrendo lentamente. Isto
é uma morte lenta, eu sinto isso” E3 L88-91
“Há dias que eu não estou disposto… só para aceitar determinadas coisas
não… tenho dias que brinco, mas tenho outros dias que estou
completamente abatido”. E3 L104-106
Quanto à subcategoria Dependência de uma máquina, esta está evidenciada no
discurso de dois dos participantes, nas seguintes unidades de registo:
“Mas eu estava mentalizado que um dia tinha de voltar aquela malfadada
máquina”. E3 L74-75
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
77
“Ora as pessoas… dizerem assim “eu venho pra isto, venho pra aquilo”…
não, é simplesmente… temos dependentes daquela máquina, a gente
sabe muito bem que temos dependentes daquela máquina”. E6 L91-93
Aqui está patente a consciência dos participantes quanto à necessidade da realização
da Hemodiálise, da dependência de uma máquina para viver.
Por último, a subcategoria Privação de liberdade. A privação que significa a falta de
um bem, que se tinha habitualmente, uma carência de algo necessário à vida, neste
caso a liberdade (Dicionário de Língua Portuguesa (2015). Os participantes utilizaram
a expressão de “prisão” em relação ao seu tratamento de diálise exprimem
fundamentalmente sentimento de falta de liberdade, reconhecida nos relatos de cinco
participantes:
“Quer dizer, nada de novo, pronto, quer dizer, é a prisão não é?” E2 L109-
110
“Pronto, eu quando tive transplantado fiz viagens ao Brasil, fiz viagens ao
México, fiz viagens a Cuba, fiz viagens à República Dominicana, fui pra…
quando eu podia ia, agora não, não posso. Só aí pronto, as férias são
completamente diferentes”.E3 L81-84
“É diferente, não é? É um bocadinho… um bocadinho prisão, que é
mesmo assim. Tar lá aquelas horas todas”. E6 L54-55
Percecionado nas narrativas dos participantes, a retoma do tratamento dialítico altera
a sua qualidade de vida, limitando-lhes a liberdade, a possibilidade de viajar,
remetendo-os novamente para a dependência da “máquina”.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
78
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
79
6 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Após a apresentação e análise dos resultados das entrevistas efetuadas aos
participantes, procede-se agora à interpretação dos mesmos comparando-os com o
quadro de referência, os objetivos da investigação e a metodologia utilizada no
desenvolvimento do estudo de forma a permitir uma melhor compreensão do seu
significado (Fortin, Cotê e Filon, 2009).
A discussão dos resultados terá início pela caracterização sociodemográfica dos
participantes e posteriormente, tal como na análise dos resultados será efetuada tendo
por base as dimensões: Transplante e Hemodiálise.
CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
O grupo de participantes deste estudo, constituído por 7 pessoas com DRC, são na
maioria do sexo masculino, situação similar aos dados revelados pela Sociedade
Portuguesa de Nefrologia onde se constata que a população em tratamento dialítico é
maioritariamente do sexo masculino, neste relatório verifica-se que 58.5% dos doentes
a realizar hemodiálise são do sexo masculino e 41,5% são do sexo feminino acresce
ainda que 61,5% dos doentes transplantados pertencem ao sexo masculino e 38,5%
ao feminino (Macário, 2015).
Trata-se de um grupo com uma média de idades de 49 anos, em que o mais jovem
tem 37 anos e o menos jovem 59. Este é um dado relevante e contrário aos dados
apresentados pela Sociedade Portuguesa de Nefrologia. Pois a partir dos dados
divulgados por esta Sociedade, os doentes submetidos a Hemodiálise têm uma idade
média de 67,17 anos, claramente superior aos resultados que se apuraram no nosso
estudo (Idem). A etiologia da DRC em Portugal, é maioritariamente associada a
diabetes mellitus tipo 2, HTA e à doença do rim poliquistico, o que permite
compreender esta média etária das pessoas em tratamento por hemodiálise.
Relativamente ao estado civil os participantes são maioritariamente casados (5) e os
restantes viúvos (2). Quanto ao nível de escolaridade a maioria (4) têm a 4ª classe
atualmente designada de 1º Ciclo. Quanto à situação laboral, (4) desenvolvem
atividade laboral e (3) encontram-se na situação de reformado.
No que se refere ao tempo médio de transplante dos participantes, este ronda os 12
anos, tendo como mínimo de 1 ano e oito meses e o máximo de 19 anos. Este espaço
temporal médio de transplante, está diretamente relacionado com a idade das pessoas
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
80
em diálise e consequentemente a idade de transplante, com a etiologia da doença
renal que maioritariamente aponta para a glomerulonefrite crónica, seguida da
diabetes e HTA, com menor expressão surgem as doenças hereditárias (Macário,
2014). A média do tempo de hemodiálise (retoma) após transplante situa-se nos 3
anos, com um máximo de 4 e mínimo de 1 ano, O tempo médio de transplante dos
participantes é semelhante à estatística da Sociedade Portuguesa de Transplantação
(Macário, 2014).
No entanto o transplante é sempre a terapia de substituição da função renal mais
desejada.
TRANSPLANTE
O transplante apesar de ser a terapia de substituição da função renal mais complexa e
incerta é a mais almejada sendo mesmo “ reconhecido por todos como o tratamento
de primeira linha dos doentes em IRC terminal” (Marchão et al 2011, p.76).
Segundo Macário (2014), em Portugal a lista de espera ativa para transplante renal é
grande, cerca de duas mil pessoas aguardam transplante. O tempo médio de espera
dos doentes em lista ativa para transplante é de 4 anos. No entanto, importa
referir que a partir do momento em que o doente entra na lista ativa de espera para um
rim de dador cadáver, o período de demora é relativo a cada pessoa, dependendo da
colheita de um rim compatível e culminando numa chamada telefónica de convocação
para o transplante.
Segundo o estudo realizado por Xavier e Santos, as pessoas com DRCT integradas
na lista ativa para transplante, vivenciam predominantemente sentimentos negativos
como: “insegurança, incerteza, falta de autonomia, dependência, medo, falta de
clareza, falta de perspetiva, dificuldade de enfrentar, conflito interior, desesperança e
inconformismo” (2012, p.2836). No entanto, também vivenciam sentimentos positivos
nomeadamente “esperança de felicidade, vontade de viver, bem-estar, superação de
dificuldades, desejo de manutenção da vida e busca de qualidade de vida” (Ibidem).
Emoções Primárias Associadas à Noticia de Transplante
Quando a pessoa com DRCT recebe a notícia que irá realizar o transplante renal, por
ter sido encontrado dador compatível, as emoções associadas são
predominantemente positivas desde a surpresa, felicidade/alegria, embora que, após o
estado de êxtase surja o medo/receio.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
81
A espera de um dador compatível, pela pessoa com DRCT, deixa a maioria das vezes
transparecer a sensação de que o dador é utópico (Knihs et al, 2013). Quando essa
utopia se torna realidade há um sentimento de surpresa, incredibilidade, corroborado e
vivenciado por quatro participantes do nosso estudo.
A notificação/chamada para o transplante significa o fim de um capítulo de dias,
meses e/ou anos na expectativa de um telefonema para a sua realização. A
felicidade/alegria é a emoção que transparece na grande maioria (6) dos relatos dos
participantes deste estudo. Significa o fim da angústia e ansiedade da busca de algo
que acreditam ser melhor para as suas vidas (Quintana, Weissheimer e Hermann,
2011; Knihs et al, 2013). É a notícia que desejam e esperam …”vislumbrando
atravessar a barreira entre o sofrimento e o bem-estar” (Xavier, Santos 2012, p.2838).
Finalmente o medo/receio foram identificados nas narrativas de três participantes do
nosso estudo. Estudos realizados por Flores e Thomé (2004), Aguiar e Braga (2011) e
Knihs et al (2013) consideram o transplante sinónimo de novas possibilidades, porém
temerosos em relação a um futuro incerto. Associam o medo/receio aos riscos
inerentes ao transplante, ao insucesso devido à possibilidade do não funcionamento
do enxerto, à possibilidade de rejeição, ao procedimento cirúrgico e complicações
inerentes ao mesmo, eventualidade de voltar à hemodiálise, ao medo da morte.
Ser transplantado: Reações Vivenciais
Perante os resultados obtidos na categoria Ser transplantado: Reações vivenciais, as
subcategorias identificadas foram: Liberdade; Mudança para uma vida normal; Bem-
estar pessoal e social; Bem-estar profissional e Desamparo após a cirurgia.
As vivências da pessoa enquanto transplantada, liberdade, mudança para uma vida
normal, bem-estar pessoal e social, bem-estar profissional, manifestadas nas
narrativas de quatro a cinco participantes do nosso estudo, estão relacionadas com o
fim do tratamento de hemodiálise e das restrições impostas por essa terapia. Os
estudos realizados por Quintana, Weissheimer, Hermann (2011) e Knihs et al (2013)
demonstram nos seus resultados, que o transplante é vivenciado como a libertação da
máquina, com o poder de desenvolver atividades associadas a uma vida normal, como
trabalhar, passear com a família, ir à praia, comer o que se deseja, beber água. É o
restituir da sensação de satisfação, autonomia e autocontrole nas suas vidas, dados
que corroboram com os do nosso estudo.
Arena, Orozco e Weber (2011) num estudo que realizaram, concluíram que o
transplante renal melhora a qualidade de vida das pessoas com DRCT,
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
82
independentemente da situação laboral, social, cultural, psicológica e económica em
que se encontravam antes e após o transplante, o que vem de encontro aos
resultados por nós obtidos.
Quanto ao momento pós cirúrgico em si, o desamparo foi evidenciado no relato de
apenas um dos participantes. Admitimos que, apesar dos riscos e sofrimento inerentes
ao evento cirúrgico, estes são considerados secundários, tendo em conta que
deixaram de padecer da dependência do implacável tratamento dialítico (Xavier e
Santos (2012).
Respostas em Situação de Falência de Enxerto
Perante os resultados obtidos na categoria Respostas em Situação de Falência do
Enxerto, as subcategorias identificadas foram: Sinais de alerta, Conhecimento,
Sofrimento, Confirmação e a Esperança.
A rejeição crónica é gradual e os sinais de alerta estão presentes no relato da
totalidade dos participantes, enumerados como sinais de infeção e elevação gradual
dos valores da creatinina, estando em coerência com Pascual et al (2013).
Segundo a Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, é do
conhecimento comum que um órgão transplantado não é definitivo e acaba por vir a
perder a sua funcionalidade, mas podem conseguir-se vidas prolongadas e com
grande qualidade após um transplante (Sampaio, 2014). Declaração que vem
confirmar os resultados deste estudo, em que o conhecimento da rejeição do enxerto
foi evidenciado nos relatos de cinco dos participantes.
Após o transplante a qualidade de vida sonhada e idealizada nem sempre se
concretiza devido à terapia imunossupressora e seus efeitos secundários, às
rejeições, à falência do enxerto, hospitalizações, alteração da imagem corporal, o
stresse entre outros fatores (Arenas, Orozco e Weber, 2011).
No nosso estudo é unanime, que a falência do enxerto acarreta momentos de grande
sofrimento, físico e psicológico, evidenciados nas narrativas de seis dos participantes
e corroborado pelos estudos realizados por Quellette, Achille e Pâquete (2009) e Gil e
Lowes (2014).
Quanto ao momento da confirmação da falência do enxerto, os participantes
vivenciaram reações emocionais negativas como tristeza, negação, desolação e
angústia, explícitas nos relatos de três participantes, à semelhança dos resultados dos
estudos realizados por Quellette, Achille e Pâquete (2009). Porém, a consciência da
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
83
inevitabilidade do acontecimento e o sofrimento a que foram expostos durante a
falência do excerto, levou-os à aceitação do seu estado de saúde, ou seja, à
reconciliação com as circunstâncias de saúde, o que se encontra explicito no relato de
três participantes.
Após a falência do enxerto, a esperança de um novo transplante é também um
objetivo e uma motivação para enfrentar novamente a hemodiálise e suas restrições
(Soldá et al, 2010). No nosso estudo, a esperança no re-transplante é descrita por um
dos participantes. Segundo Quellette, Achille e Vachon (2006) cerca de 30% dos
transplantados renais experienciam a rejeição do órgão, no entanto a sua maioria
gostaria de ser re-transplantada.
HEMODIÁLISE
A hemodiálise constitui a terapêutica de substituição da função renal mais frequente a
nível nacional e mundial (Marchão et al, 2011; Macário, 2015).
Segundo as narrativas dos participantes na categoria Readaptação à Hemodiálise:
vivências, as subcategorias identificadas: Aceitação, Tristeza/ angústia, Mal-estar
pessoal e social, Mal-estar profissional, Depressão, Dependência da máquina e
Privação de liberdade.
Após a rejeição do transplante a diálise além de indesejada por ser uma terapia
exigente e restritiva, nesta fase inicial, é também o recordar constante da rejeição do
transplante (Gill e Lowes, 2014). A tristeza e angústia pela perda ainda estão muito
presentes e são evidenciadas nas narrativas de quatro participantes do nosso
estudo.
Na presente investigação, quatro participantes referiram que a Hemodiálise lhes
proporciona um mal-estar pessoal e social, pelas restrições e imposições tanto
pessoais, como familiares ou sociais. Segundo Coutinho et al (2010) as pessoas com
DRC em HD sofrem restrições e apresentam uma qualidade de vida comprometida,
correlacionada com aspetos físicos, sociais, mentais e emocionais. À semelhança do
estudo anterior, Salati, Hossne e Pessi (2011) constataram que a vulnerabilidade do
doente com DRC em Hemodiálise é multifatorial devido às limitações provocadas pela
doença e pelo tratamento. A pessoa vê-se obrigada a alterar o seu quotidiano e pode
sofrer severas alterações físicas, emocionais, familiares, sociais e profissionais, o que
corrobora os resultados do nosso estudo.
Além do mal-estar pessoal e social, no nosso estudo também se verificou a presença
do mal-estar profissional, reconhecido nos relatos de cinco dos participantes. O estudo
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
84
realizado por Marchesan et al (2011) refere que no geral, a perceção de qualidade de
vida de doentes em hemodiálise é baixa, não só pela doença em si, mas também
pelas consequências que a terapia acarreta, o isolamento social, o não poder
trabalhar, devido aos horários do tratamento como testemunharam os nossos
participantes.
Keskin e Engin (2011) referem que a dieta, a restrição hídrica, as limitações físicas,
limitações do tempo, ansiedade por não poder cumprir as suas funções familiares ou
sociais, podem levar as pessoas com DRC em HD à depressão. Por outro lado, a
depressão pode ter a sua origem no trauma da rejeição do transplante e ser agravada
pela HD como comprova o estudo realizado por Gil e Lowes (2014). No nosso estudo,
a depressão foi identificada na narrativa de um participante, mas não se identificou a
origem.
A pessoa em HD tem conhecimento da importância da máquina, símbolo da terapia
hemodialítica mas não deixa de sentir emoções ambíguas como a raiva. Sabe que
está dependente desse sistema mecânico e, sente por ele ao mesmo tempo gratidão,
pois é quem o mantem vivo (Mattos e Maruyama, 2010). O sentimento de
dependência de uma máquina para viver está evidenciado na presente investigação,
no discurso de dois participantes.
Muito embora a hemodiálise seja encarada pelos doentes como sinónimo de
aprisionamento, para outros, ela significa a possibilidade de manutenção da
sobrevivência (Souza et al, 2015). A sensação de Privação de liberdade encontra-se
espelhada nos relatos de cinco participantes deste estudo.
No entanto, apesar da renitência em realizar diálise, com o tempo a pessoa acaba por
a aceitar a terapia como se pode constatar neste estudo pelo relato de seis dos
participantes, à semelhança do estudo desenvolvido por Gil e Lowes (2014). Rudnicki
(2014) onde é referido ainda, que as pessoas com DRC em HD mostraram
insatisfação em relação ao tratamento mas aceitaram -no e entenderam-no como um
prolongamento da vida.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
85
CONCLUSÕES
Após a apresentação e discussão dos resultados, importa agora apresentar as
principais conclusões deste estudo e suas implicações futuras.
Segundo as narrativas dos participantes a readaptação à hemodiálise implica que a
pessoa, apesar de triste e angustiada, aceita e está consciente da necessidade da
terapia hemodialítica para viver e se sente obrigada a modificar novamente as suas
rotinas, o seu modo de vida indispensável às limitações e condicionantes da técnica,
introduzindo alterações negativas no âmbito emocional, profissional, pessoal e social.
Os participantes referem sentimentos negativos em relação à hemodiálise, pois esta
provoca restrições de ordem física e psicossocial, no entanto estão conscientes que
este tratamento melhora a condição física e a sua sobrevivência depende de uma
máquina.
Relativamente à dimensão do transplante renal pode concluir-se que emoções
associadas à notícia de transplante são ambíguas mas há uma significativa ênfase nas
positivas como surpresa, felicidade/alegria, contudo emoções de medo e receio
perante a situação são respostas frequentemente percebidas. Enquanto pessoas
transplantadas com um funcionamento renal adequado, as reações vivenciais também
são predominantemente positivas, em geral descritas como Liberdade, mudança para
uma vida normal; bem-estar pessoal, social e profissional. No entanto esta situação só
ocorre a partir do período pós cirúrgico dado que este é relatado como uma fase
menos positiva um período em que a pessoa vivência sentimentos de desamparo. Em
oposição, o transplante bem-sucedido, é um garante de qualidade de vida e
independência num determinado período de tempo. As vivências associadas a esta
situação fazem com que, quando há rejeição, a esperança de um novo transplante
seja e um fator de motivação e resiliência para enfrentar novamente este tratamento e
suas restrições. Quanto às respostas em situação de falência de enxerto, as causas
da rejeição crónica foram variadas e os sinais de alerta vão desde infeção, a elevação
dos valores da creatinina e diminuição do filtrado glomerular. Salienta-se que todos os
participantes estavam esclarecidos sobre a inevitabilidade do acontecimento, isto é,
houve um processo de educação da pessoa sobre a probabilidade de rejeição como
uma ameaça real e, a consequente inevitabilidade de regresso à HD como alternativa
terapêutica. A vivência pelos participantes de grande sofrimento físico e psicológico
associado à fase de rejeição do transplante renal e ao seu diagnóstico de confirmação
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
86
é a face mais negativa de todo o processo. Em oposição, o transplante bem-sucedido,
é um garante de qualidade de vida e independência num determinado período de
tempo. As vivências associadas a esta situação fazem com que, quando há rejeição, a
esperança de um novo transplante seja e um fator de motivação e resiliência para
enfrentar novamente este tratamento e suas restrições.
Pode-se concluir que a pessoa com DRCT em terapia hemodialitica relata reações
vivenciais e emoções predominantemente positivas associadas ao transplante, em
oposição à hemodialise em que, embora aceitando a situação, há um predomínio de
emoções e vivências negativas, tais como a tristeza/ angústia, mal-estar pessoal e
social, mal-estar profissional, depressão, dependência de uma máquina e privação de
liberdade.
Ao concluir este percurso e fazendo um trabalho de análise sobre ele importa salientar
algumas limitações. A inexperiência da investigadora terá dificultado a realização de
entrevistas com uma maior profundidade e com eventual inclusão da perceção sobre
os cuidados de enfermagem, pela pessoa com DRCT em HD após rejeição do
transplante. Esta evidência permitiria orientações mais concretas para a intervenção
dos profissionais de enfermagem junto destas pessoas, refletindo um contributo
científico e na prática clínica diferenciado
A escassez de estudos semelhantes encontrados sobre as vivências dos doentes com
DRCT em reinício de HD após rejeição de transplante e a sua perceção sobre a
prestação de cuidados de enfermagem foi também uma limitação, dado que,
condicionou a possibilidade de uma discussão dos resultados obtidos mais rica.
Como sugestões, com vista a estudos posteriores, considera-se importante avaliar a
perceção dos cuidados de enfermagem pela pessoa com DRCT no seu acolhimento
no reinício do tratamento dialítico.
Como contributo deste trabalho fica a chamada de atenção para a necessidade de um
acolhimento mais humanizado à pessoa com DRCT no reinício do tratamento de HD
após rejeição de transplante renal num processo contínuo de melhoria dos cuidados
prestados. Pois, embora a técnica hemodialítica e as suas condicionantes sejam do
conhecimento destas pessoas, o que à partida não exigiria um acompanhamento e
formação, por parte dos profissionais de saúde, muito sistematizado e aprofundado
contudo, o recordar e confronto constantes com a perda de qualidade de vida e o
trauma do processo de rejeição, exigem trabalho intencional e de proximidade
daqueles profissionais.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
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VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
TOPPA, Nívaldo – Anatomia Patológica da Rejeição de Transplantes In
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2832-2840
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
ANEXO I
Autorizações concedidas pelo Diretor Clínico da Fresenius Medical Care do
Entroncamento e pela Comissão de Ética para a Saúde da Fresenius Medical Care -
Portugal para aplicação das entrevistas
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
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VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
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APÊNDICE I
Guião da entrevista
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
GUIÃO DE ENTREVISTA
TEMA: Vivências da pessoa com rejeição de transplante renal.
OBJECTIVO GERAL: Identificar as vivências da Pessoa com rejeição de
transplante renal.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
Analisar as vivências manifestadas pela pessoa que sofreu rejeição de enxerto
renal;
Identificar as vivências da pessoa que efectua Hemodiálise;
Compreender os sentimentos referenciados pela pessoa que faz hemodiálise
após rejeição de enxerto.
Entrevista nº_____ Data:__/__/__ Hora de início:______ Hora de término:______
Dados sócio-demográficos
Idade: _______ Género: ________________ Estado Civil: ________________
Escolaridade: _____________
Situação Laboral: ________________________
Dados do tratamento da substituição da função renal:
Tempo de dialise: _____________________
Tempo de transplante:_____________________
Questões de investigação:
Como viveu a notícia que ia ser transplantado?
Em que aspectos é que a sua vida foi diferente enquanto viveu como
transplantado?
Diga como viveu a sua situação de rejeição de transplante?
Que alterações teve de introduzir na sua vida pessoal e/ou profissional após a
rejeição?
O que é que mais condicionou a sua vida?
Observações:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
APÊNDICE II
Termo de Consentimento livre e Informado aos participantes
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO
1. ____________________________________________________, está convidado(a)
a participar num estudo intitulado “ As vivências dos doentes com rejeição de
transplante renal” é pela execução de pesquisas que ocorrem os avanços no
desenvolvimento e qualidade do trabalho da enfermagem e sua participação é de
essencial importância.
2. O objectivo desta pesquisa é configurar as representações do tratamento substitutivo
da função renal e factores condicionantes no dia-a-dia da pessoa com Doença Renal
Crónica após falência de transplante.
3. Não haverá qualquer tipo de desconforto em consequência de sua participação no
estudo.
4. Esta pesquisa não envolve nenhum tipo de risco.
5. Contudo os benefícios esperados são: melhor conhecimento por parte da enfermagem
em relação ao tema.
6. A enfermeira: Mécia Maria Nicolau Calado é a autora da pesquisa e pode ser
procurada para maiores esclarecimentos caso considere necessário.
7. Estão garantidas todas as informações que queira, antes durante e depois do estudo.
8. A sua participação neste estudo é voluntária. Tem a liberdade de recusar a participar
do estudo, ou se aceitar a participar, retirar seu consentimento a qualquer momento.
9. Se qualquer informação for divulgada em relatório ou publicação, isto será feito sob
forma codificada, para que a confidencialidade seja mantida.
10. A sua participação nesta pesquisa não acarretará qualquer despesa.
11. Pela sua participação no estudo, não receberá qualquer valor em dinheiro. Terá a
garantia de que o estudo não acarretará nenhum problema.
VIVÊNCIAS DA PESSOA APÓS REJEIÇÃO TRANSPLANTE RENAL
MÉCIA MARIA NICOLAU CALADO
12. Quando os resultados forem publicados, não aparecerá o seu nome, e sim um
código.
Eu, ___________________________________________________________, li o texto
acima e compreendi a natureza e objectivo do estudo no qual fui convidado a participar,
a explicação que recebi menciona os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que sou
livre para interromper minha participação no estudo a qualquer momento sem justificar
minha decisão e sem que esta decisão afecte o meu tratamento. A minha assinatura
abaixo representa a minha concordância em participar do estudo.
Assinatura do participante________________________________________________
_________________, _____de _______________de 2012.