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MODIFICAES DA DINMICA HIDROLGICA DO SOLO EM RESPOSTA AS MUDANAS DE USO E COBERTURA: UM ESTUDO DE CASO NA REGIO SERRANA DO RIO DE JANEIROSarah Lawall (mestranda/PPGG-UFRJ/ [email protected]) Ana Carolina Ferraz dos Santos (graduanda/ DGEO-UFRJ/[email protected]) Pamela de Figueiredo Curvelo da Silva (graduanda/ DGEO-UFRJ/[email protected]) Patrcia de Oliveira da Mota ((graduanda/ DGEO-UFRJ/[email protected]) Nelson Ferreira Fernandes (Prof. Assistente DGEO - UFRJ/[email protected])

A infiltrao o processo de entrada da gua no perfil do solo. Ela sensvel s mudanas de uso e cobertura podendo alterar as propriedades fsicas do solo e intensificar o escoamento superficial. Isso se torna mais grave em reas de relevo acidentado, como o caso da Bacia Hidrogrfica do Bonfim a qual, possui marcadamente, trs tipos de uso e cobertura: florestal, agrcola e pastagem. Com isso, objetiva-se entender o processo de infiltrao e movimentao da gua no perfil do solo em diferentes reas na bacia do Bonfim. Como metodologia, na anlise do topo do solo utilizou-se infiltrmetros de anel duplo mantendo uma carga constante de 10 cm, obtendo-se a taxa de infiltrao bsica (TIB). J para as profundidades de 20 e 50 cm foi utilizado o Permemetro (tipo Guelph) modelo IAC (Instituto Agronmico de Campinas) mantendo uma carga hidrulica constante de 10 cm, permitindo assim, calcular a condutividade hidrulica saturada (Ksat). Paralelamente, foi descrito o perfil do solo in situ visando anlise da algumas propriedades como, textura e estrutura do solo. Como resultado pode-se observar que, tanto para TIB quanto Ksat tiveram uma reduo decrescente da infiltrao seguindo floresta, agricultura e pastagem. Os resultados da TIB nas florestas so de 2 a 15 vezes superiores s reas agrcolas. Para Ksat observou-se, nas profundidades de 20 cm, que a Ksat maior nas reas florestadas em relao agrcola e pastagem (na ordem de 5 a 20). No entanto, quando se analisa o poo a 50 cm, a Ksat na floresta foi menor em relao agricultura e a pastagem que mantiveram os valores encontrados em 20 cm ou tornaram-se maiores nessa profundidade. Isso pode ser justificado pela atuante atividade biognica na rea de floresta e o manejo inadequado para esses ambientes na pastagem e agricultura. Palavras-chave: infiltrao, uso e cobertura, mensurao.

The infiltration is the process that characterizes the entrance water in the soil. This process is affected by modifications in soil use and cover which may alter soil physical properties and increase surface runoff. These changes become more important in areas with a hilly topography, such as the Bonfim river drainage basin, which has three different types of usage and soil cover: forest, agriculture and grazing. The main purpose here is to characterize the processes of water infiltration and redistribution inside the soil profile in different areas of the studied basin. At the top of the soil profile, the basic infiltration rate (TIB) was obtained using a double ring infiltrometer with a 10cm constant head. For the upper portions of the soil profile (20cm and 50cm depths), in turn, the soil saturated hydraulic conductivity (K sat) was measured using a Guelph-type field permeameter, also under a 10cm constant head. In parallel, disturbed and undisturbed soil samples were collected to characterize some soil physical properties, like texture and

structure. The results show that both TIB and Ksat values decrease in the following order: forest, agriculture and grazing. TIB values for soils under forest are 2 to 15 times greater than the ones measured under agriculture. The results also show that Ksat values at 20cm depth, for soils under forest, are 5 to 20 times greater than the ones observed for soils under agriculture and grazing. However, for greater depths (50cm), Ksat values under forest are smaller than the ones measured at agriculture and grazing. The higher Ksat values observed for soils under forest at 20cm depths may be due to the characteristics of their A horizon and the intense associated biogenic activity. Key-words: infiltration, use and cover, measuring.

O dueto solo e gua so, dentre os recursos naturais, elementos absolutamente imprescindveis para a manuteno da vida humana e desenvolvimento socioeconmico populacional. Porm, formas de produo e reproduo do espao geogrfico, especialmente em ambientes urbanos e agrcolas, vm comprometendo a qualidade e quantidade desse recurso deixando dvidas sobre a garantida desse bem para as geraes futuras. A degradao do solo por retirada da vegetao, manejo inadequado da produo agrcola e o pastoreio tem comprometido a qualidade das propriedades fsicas do solo e, por conseguinte, desequilibrando a relao infiltrao e escoamento superficial. Entende-se como infiltrao o processo natural de entrada em superfcie e movimentao de gua em superfcie para interior do solo (DUNE & LEOPOLD, 1978). O processo de passagem da superfcie para o interior do solo depende fundamentalmente da disponibilidade para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua superfcie e das quantidades de gua e ar, inicialmente presentes no seu interior. Os principais fatores reguladores desse processo so as caractersticas das precipitaes, as condies e caractersticas dos solos, umidade antecedente e cobertura vegetal (Coelho Neto, 1998; Tucci e Clark, 1998). Dentre os fatores reguladores, a cobertura vegetal tem seu papel de destaque uma vez que, pode influenciar de forma direta nos demais fatores. A vegetao reveste o topo do solo protegendo-o dos processos erosivos; fonte de matria orgnica que, quando transformada em hmus, garante o teor de gua nos horizontes superficiais e uma boa percolao. Esse verdadeiro manto que a cobertura vegetal faz no solo, age positivamente reduzindo o escoamento superficial e a eroso dos solos (Bertoni e Lombardi Neto, 2008). Neste contexto, a floresta como uma rea controle dos processos hidrolgicos e das propriedades dos solos, destacando que neste tipo de cobertura que se encontra o clmax na inter-relao cobertura vegetal-condies do solo-infiltrao (Tucci e Clark, 1998). Ento, compreende-se que uma vez substituda, imediatamente acarretar para o sistema, mudanas significativas na composio superficial dos solos e, por conseguinte, alteraes na dinmica hidrolgica local. As principais propriedades fsicas

e hdricas dos solos que tem relao direta com os processos hidrolgicos e, que servem como parmetros para avaliar as intervenes nos sistemas so: a textura, a estrutura, a densidade global das partculas e a permeabilidade. Alteraes e distrbios nesse processo esto freqentemente atrelados s bruscas mudanas e superposies de diferentes tipos de uso e cobertura do solo, condicionando desequilbrios no comportamento hidrolgico de determinadas bacias hidrogrficas. Esse cenrio de degradao tem sido freqentemente notificado em bacias hidrogrficas brasileiras, ampliando assim, a necessidade e o interesse por estudos relacionados ao monitoramento hidrolgico. O conhecimento do processo de infiltrao fornece subsdios para um eficiente manejo do solo e da gua, dimensionamento de reservatrios, estruturas de controle de eroso e inundao, canais e sistemas de irrigao e drenagem (Pruski et al. 2003). Visando entender a resposta hidrolgica dos solos em diferentes tipos de uso e cobertura, esse trabalho se fundamenta, de forma preliminar, no estudo hidrolgico de uma topossequncia selecionada na Bacia do Bonfim, regio serrana do Rio de Janeiro, submetida a dois tipos de usos e cobertura distintos, ou seja, agrcola e florestal. Nessa encosta foram avaliados alguns parmetros dentre os quais destaca-se, a capacidade de infiltrao da gua em superfcie (TBI), a condutividade hidrulica saturada que obtm dados acerca da permissividade do solo a passagem de gua e por fim, analise desse meio poroso atravs da caracterizao das fraes granulomtricas. Com isso, espera-se ressaltar a importncia do estudo da infiltrao amparada na forma como homem vem produzindo e reproduzindo o espao geogrfico e como conseqncia, vem deixando marcas que so ora reparveis ora irreparveis.

Materiais e Mtodos

rea de estudo

A topossequncia selecionada insere-se na bacia hidrogrfica do Bonfim est localizada na Regio Serrana do Estado do Rio de Janeiro, nos limites do distrito de Correas no municpio de Petrpolis. Ela uma das sub-bacias do rio Piabanha, que principal rio que corta a regio desembocando no Paraba do Sul.

Figura 01: Mapa de Localizao da Bacia do Bonfim, distrito de Correas-Petrpolis, regio serrana do Rio de Janeiro. Fonte: Coura, P.H.F. e Lawall, S. Conhecida localmente por vale do Bonfim, esta bacia tem como principais atividades o plantio de hortalias e o turismo (ligado ao turismo de aventura e ao ecoturismo). Parte de sua delimitao integra os limites do Parque Nacional da Serra dos rgos (criado de 1939), o que tem acarretado uma srie de conflitos fundirios locais. Em relao ao uso e cobertura do solo, a bacia do Bonfim bem compartimentada destacando em suas cabeceiras, reas preservadas com espcies nativas de mata atlntica. J no curso mdio do rio Bonfim, localiza-se as reas de agricultura intensiva (olericultura) e em pequena expresso, a pastagem. E por fim, no baixo curso, a expanso urbana dividindo-se em reas densamente ocupadas, por populao mais carente e, as casas de veranistas com luxuosos condomnios. O estudo preliminar da movimentao da gua no solo foi realizado em uma vertente tendo como uso predominante mata em estagio de regenerao (aproximadamente 10 anos) por atividade agrcola pretrita e agricultura (plantao de couve), conforme apresenta-se a figura 02.

Figura 2: rea de estudo na bacia hidrogrfica do Bonfim, RJ. Topossequncia com destaque para a mata e agricultura, coberturas estudadas. Quanto s caractersticas ambientais, esta localidade possui clima mesotrmico mido, com chuvas intensas e temperaturas amenas, tendo os maiores ndices pluviomtricos prximos aos divisores de drenagem, mdia anual de 2000 mm. Com topografia bastante acidentada, a bacia cercada por grandes macios arredondados de rochas aflorantes bem fraturas e ainda, presena de depsito de tlus distribudos ao longo da encostas e canais de drenagem. A geologia corresponde ao predomnio de rochas da Srie Serra dos rgos sendo estes Gnaisses Granitides, passando localmente a tipos Granticos e ainda, a Migmatitos de modo subordinado. Com relao aos aspectos geomorfolgicos, as feies locais so distribudas entre zonas colinosas, zonas montanhosas e, vertentes extremamente escarpadas, ngremes com paredes abruptos. Os vales, de formato V so bem encaixados e dissecados pela drenagem do Bonfim.

Em relao s classes de solos, h predomnio dos Neossolos Litlicos seguido de solos mais profundos no curso mdio do Bonfim, onde o vale se suaviza e forma-se condies favorveis ao desenvolvimento dos Cambissolos e Latossolos (Goulart, 1999; Martins, 2007). Cabe enfatizar que a Bacia Bonfim integra uma das bacias experimentais do Projeto EIBEX (Estudos Integrados de Bacias Experimentais Parametrizao Hidrolgica na Gesto de Recursos Hdricos das Bacias da Regio Serrana do Rio de Janeiro). Este projeto sendo desenvolvido com apoio do MCT/ FINEP/CT-HIDRO tendo como instituies executoras a COPPE-UFRJ e CPRM Servio Geolgico do Brasil, alm das instituies colaboradoras tais como, IGEO UFRJ e CATO-UERJ (COPPETEC, 2007). O EIBEX tem como objetivo maior entender a dinmica hidrolgica da regio, nas variadas escalas temporais e espaciais, sobre diferentes tipos de uso e ocupao do solo. Para tal, selecionou-se uma bacia representativa que a do Piabanha e trs experimentais, sendo uma delas a do Bonfim tendo como critrio, o uso e ocupao predominante, no caso da bacia em estudo, a agricultura.

Mtodos

1- Unidade Morfopedolgica A seleo dos pontos de ensaios de campo contou, em primeiro momento, com a distino dos ambientes tendo como critrio, a forma das encostas e a classe de solos. Com isso, tentou-se ressaltar para o estudo da infiltrao, a participao de diferentes tipos de uso, tendo como principais na encosta a mata em regenerao e agricultura. Como suporte a esta seleo dos ambientes foram utilizados mapas de Geomorfologia e Solos produzidos por Goulart (1999); MDT (Modelo Digital do Terreno) e mapa de declividade gerado sobre dados altimtricos da Carta Topogrfica de Petrpolis, todos com escala 1:10.000. Dentre as unidades pr-selecionadas, elencou-se para este estudo preliminar uma unidade como as seguintes caractersticas: solos mais rasos, Neossolo Litlicos com vertentes retilneas, declividade varivel entre 20 a 45%. Foram realizados ensaios de infiltrao, permeabilidade e coletas de amostras de solo em trs pontos distintos na rea de mata (F1 A,B,C) e trs a parte agrcola (A1, A,B,C). Estes pontos so representados no esquema a seguir juntamente com a fotografia da encosta.

Figura 3: Encosta escolhida para ensaios de campo no estudo da Infiltrao.

2- Taxa de Infiltrao Bsica Para a determinao da taxa bsica de infiltrao (TBI) utilizou-se o infiltrmetro de anel duplo tendo como foco a anlise dos primeiros centmetros do solo. Durante a realizao dos ensaios procurouse manter uma lmina de gua de 5 centmetros em ambos os cilindros, sendo recarregados manualmente. As leituras foram feitas atravs de uma rgua graduada ligada a uma bia colocada no cilindro interno, em intervalos de tempo que variaram em cada ensaio, de acordo com a velocidade em que a gua infiltrava no solo. Os ensaios foram realizados at que a quantidade de gua infiltrada fosse aproximadamente constante com o tempo (mnimo de 2,5 h). Os dados obtidos foram tabulados em uma planilha, para facilitar os clculos. A taxa bsica de infiltrao foi obtida atravs da equao (1): TBI (cm/h) = Variao de leitura (cm) X 60 Intervalo de tempo da leitura (min)

(1)

3- Condutividade Hidrulica Saturada de Campo Para aferir a Condutividade Hidrulica Saturada (ksat), utilizou-se o Permemetro de Carga Constante de Campo (tipo Guelph) com carga hidrulica constante de 10 cm. Esses ensaios foram feitos

nas profundidades de 20 e 50 cm, buscando estabelecer uma correlao com as mudanas de manejo e as propriedades fsicas do solo em superfcie e subsuperfcie. Os dados de campo so anotados em planilha especifica e aps ensaios so obtidos os valores de Ksat em cm/s atravs do uso da equao de Elrich et al. (1989), representada a seguir.

(2) onde, Ksat = Condutividade Hidrulica saturada (L/T) C = constante de proporcionalidade adimensional Q = vazo constante (L3/T) a = raio do furo (L) H = Carga constante aplicada (L) = parmetro de correo do meio poroso (L) 4- Amostras Deformadas e Indeformadas Como suporte as dados de TIB e Ksat, foram coletadas amostras deformadas para exame de granulometria atravs do mtodo Embrapa (1996) nas profundidades de 0-10, 20-30, 40-50 cm. Para indeformadas, foram utilizados extratores do tipo Uhland com anis volumtricos de 100 cm3, coletadas nas profundidades de 0-5, 20-25 e 45 a 50 cm. Dessas amostras pretende-se extrair dados de macro e microporosidade, porosidade total, densidade global e de partculas que sero submetidas ao Mtodo da Mesa de Tenso (Embrapa, 1996). Resultados e Discusses

Os resultados obtidos tanto da Condutividade Hidrulica Saturada quanto da Taxa Bsica de Infiltrao foram organizados na tabela 1 a seguir.

Ponto do ensaio

Cobertura e uso do solo

Ksat (10 -5cm/s) 20 cm

Ksat (10 -5cm/s) 50 cm

Taxa Bsica de Infiltrao (cm/h)

A1-A

Agrcola

0,54

0,22

12

A1-B

Agrcola

0,12

0,12

48

A1-C

Agrcola

5,39

2,94

72

F1-A

Florestal

4,57

0,28

180

F1-B

Florestal

4,20

1,22

144

F1- C

Florestal

11,5

4,9

s/d

Tabela 1: Resultados de Ksat em cm/s (condutividade hidrulica saturada) e TBI em cm/h (Taxa Bsica de Infiltrao) nos determinados pontos seguindo os dois tipos de uso escolhidos, agricultura e floresta.

Em geral, como observado na tabela, pode-se denotar que tanto a condutividade hidrulica saturada quanto a taxa de infiltrao bsica so maiores em ambientes florestados. Isso pode ser atribudo, primeiramente, a um sistema radicular mais bem desenvolvido na superfcie e associada a significante serrapilheira (aproximadamente 5 a 7 cm de espessura) em ambientes florestais, que distribuem o fluxo de gua que chega nessa regio mantendo a umidade do solo nos horizontes subjacentes (Coelho-neto, 1998). Cabe ressaltar tambm a existncia das biocavidades, como as formadas por formigas e minhocas, como exemplo, que tambm podem funcionar como fluxos preferenciais, destacado pelo artigo de Morais e Bacellar (2008).

Alm desse fator, a grande quantidade de matria orgnica fornecida pela mata, ajuda no aumento da macroporosidade da parte mais superficial do solo e na estabilidade dos agregados formados, assim como a cobertura vegetal exerce uma proteo contra o impacto direto das gotas de chuva no solo, resultando em maiores taxas de infiltrao, como verificado no trabalho de Souza et al (2004). A influncia positiva da cobertura vegetal na capacidade de infiltrao dos solos demonstrada em vrios trabalhos tais como Souza et al (2004) que estudou a infiltrao em diferentes sistemas de manejo e floresta na Amaznia, Jordan et al. (2008) que avaliaram a resposta hidrolgica de reas degradadas e de floresta natural em uma encosta na Espanha e ainda, Tian et al (2008) com acompanhamento do crescimento de pinheiros na China e sua relao com o aumento da infiltrao. . A TBI nas reas de florestas foram de 2 a 15 vezes superiores que nas reas agrcolas, devido a fatores como os acima mencionados. Os resultados encontrados so similares ao trabalho de Yimer et al (2008), que ao estudar os efeitos na capacidade de infiltrao decorrentes da passagem de florestas para reas cultivveis na Etipia, encontraram uma reduo de 70% da TIB das reas agrcolas comparadas s florestais. Arajo et al. (2007) encontraram uma TBI um pouco mais elevada do que este trabalho para reas de Cerrado Nativo (204 cm/h), assim como um menor valor para rea de produo de gros (2,1 cm/h). Lipiec et al. (2006), tambm para cultivos de gros em um solo franco-siltoso, encontraram uma TIB de 17 cm/h. A capacidade de infiltrao nas reas agrcolas apresentou as maiores diferenas entre si. O ponto localizado na parte inferior da encosta (A1 A) o que possui menor valor de TIB, enquanto os outros dois (A1 B e A1 C), localizados no tero mdio da encosta, apresentam valores mais elevados. Uma possvel hiptese para esse resultado, que a encosta estudada se trata de um colvio, e logo, apresenta grande heterogeneidade de materiais, influenciando na diversidade dos dados de infiltrao. Alm disso, com o passar do tempo, o material mais fino tende a ser depositado no seu tero inferior tornando as camadas mais superficiais mais argilosas e reduzindo a macroporosidade. Porm, essa hiptese s poder ser confirmada com a realizao da anlise granulomtrica em laboratrio das amostras recolhidas em campo. Nos resultados de condutividade hidrulica saturada, para as reas de cobertura vegetal florestal a Ksat foi maior na profundidade de 20 cm em relao de 50. A participao da atividade biognica nas camadas mais superficiais intensa, permitindo a formao de macro e megaporos no solo, por onde a gua flui por fluxo preferencial. Nos primeiros 5 cm do solo, encontra-se razes fasciculares onde os gros dos solos so fixados formando pequenos grumos que auxiliam a percolao da gua dentro do perfil. Em Mesquita et al (2004) encontra-se a relao entre a Ksat e os atributos fsicos do solo em diferentes ambientes, responsabilizando o aumento do fluxo de gua no solo pela conexo e formao de pequenos dutos por atividade biognica.

Em relao mudana nos valores de condutividade hidrulica saturada ao longo do perfil na Floresta, observou-se em campo, uma mudana no gradiente textural e a estrutura identificada foi blocos subangulares. Os ensaios realizados em 50 cm afastam da zona de razes onde prevalecem s caractersticas pedolgicas do perfil. Essa mudana na textura e estrutura em relao aos primeiros centmetros, pode ter interferido na conduo da gua para o interior do perfil, reduzindo mais que a metade dos valores encontrados em 20 cm. Nos artigos de Wu et al (1993) Beven et al (1982) e Mesquita (2004) h uma discusso em torno da condutividade associada frao granulometria, afirmando a reduo dos fluxos em detrimento as fraes mais finas, intensificando essa queda quando no estruturados. Em se tratando dos pontos com presena de agricultura, a Ksat foi maior em 20 cm que em 50 cm nos pontos A1 A e A1 C. J no ponto A1 B ela se manteve constante ao longo das duas profundidades. O revolvimento do solo para o plantio pode ter aumentado a aerao e porosidade gerando condies para melhor percolao. Esse tipo de preparo melhora a qualidade do solo para a infiltrao em curto prazo, no entanto, em longo prazo, pode reduzir a permeabilidade pela modificao na densidade e porosidade como apontado por Cavalieri et al (2009) no estudo de solos com manejo e sem manejo no Paran. Com exceo do ponto A1 C, nota-se uma menor permeabilidade em relao floresta. O revolvimento do solo com arado a cada ciclo (em torno de 3 meses) de plantio e colheita das hortalias altera a estrutura do solo, influenciando nesses valores. Outro dado a ser confirmado com estudos das propriedades fsicas mais amide, a influencia desse manejo na densidade do solo e porosidade (macro e micro). Exemplos de alteraes dessas propriedades fsicas so verificados nos trabalhos de Silva et al (2005) que estudou a solos do Tabuleiro Costeiro com diferentes formas de manejo no plantio da cana-deacar comparando com ambientes florestados e, Souza (2004) que comparou essas mesmas propriedades em diversos sistemas de plantio em solos Amaznico, encontrado menor densidade global e maior presena de macroporos em solos sobre capoeira, guaran e floresta. Resumidamente, observa-se uma maior percolao na rea de floresta em relao a agrcola, tanto para TIB quanto para Ksat. Nos ensaios realizados em 50 cm, nas duas reas os dados so prximos, o que podemos destacar as maiores diferenas nas camadas mais superficiais. A anlise das propriedades fsicas permitir maior suporte para discusso desses resultados uma vez que as medidas de densidade e porosidade do o parecer de como o solo se comportar frente entrada de gua.

CONCLUSO Pode-se concluir com esse estudo preliminar que as mudanas no tipo de uso e cobertura do solo acarretam mudanas no comportamento da infiltrao e percolao da gua no solo. A relao entre degradao e falta de manejo adequado diretamente proporcional intensidade dos impactos sofridos pelos solos e estes, tornam-se potencialmente mais afetados quando em ambientes serranos (pela prpria ao gravitacional). O ambiente florestado possui condies ideais para conservao e regenerao das propriedades fsicas dos solos. A floresta tida como um timo nos estudos que envolvem a infiltrao. No entanto, ainda temos que evoluir positivamente na comparao de ambientes florestados e na afirmao do quanto ela um timo para a hidrologia. Tambm traarmos rumos na comparao de ambientes no somente florestados e com agricultura, mas, tambm, com pastagem e em outras unidades morfopedolgicas. Essa bacia hidrogrfica do Bonfim uma bacia experimental no estudo hidrolgico e na parametrizao e com isso, pretende futuramente, explorar mais pontos extrapolveis a escala da prpria Bacia e tambm, gerar modelos hidrolgicos aplicveis a ambientes serranos.

AGRADECIMENTOS

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