CARTA-CIRCULAR N.º 6/2013, DE 24 DE OUTUBRO
CORRUPÇÃO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Na sequência da divulgação dos resultados da avaliação de Portugal realizada pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no quadro da aplicação
da Convenção sobre a Luta contra a Corrupção de Agentes Públicos Estrangeiros nas Transações
Comerciais Internacionais (Fase 3)1, o Instituto de Seguros de Portugal considera pertinente
comunicar o seguinte:
1. Em 2000, Portugal ratificou a Convenção sobre a Luta contra a Corrupção de Agentes
Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais, de 17 de dezembro de 19972,
instrumento de Direito Internacional que compele os países aderentes a, entre outros aspetos,
criminalizar a corrupção no comércio internacional.
2. A incriminação da “corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional” encontra-
-se, atualmente, vertida no artigo 7.º da Lei n.º 20/2008, de 21 de abril, como segue:
“Quem por si ou, mediante o seu consentimento ou ratificação, por interposta pessoa der ou prometer a
funcionário, nacional, estrangeiro ou de organização internacional, ou a titular de cargo político, nacional ou
estrangeiro3, ou a terceiro com conhecimento daqueles, vantagem patrimonial ou não patrimonial, que lhe não seja
1 O relatório do referido processo de avaliação de Portugal, adotado em 14 de junho último, encontra-se
acessível através da seguinte hiperligação: http://www.oecd.org/daf/anti-bribery/Portugalphase3reportEN.pdf.
2 As versões oficiais da Convenção (texto original em francês e inglês), bem como a respetiva tradução para
português foram publicadas no Diário da República, em anexo à Resolução da Assembleia da República n.º 32/2000,
aprovada em 2 de dezembro de 1999, que aprovou, para ratificação, o instrumento internacional em referência. A
Convenção veio a ser ratificada pelo Decreto do Presidente da República n.º 19/2000, de 31 de março.
3 Note-se que as alíneas a), b) e c) do artigo 2.º do referido diploma legal consagram os conceitos de
“funcionário estrangeiro”, “funcionário de organização internacional” e “titular de cargo político estrangeiro”. É de
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devida, para obter ou conservar um negócio, um contrato ou outra vantagem indevida no comércio internacional, é
punido com pena de prisão de um a oito anos.”
3. Considerando os riscos operacionais e reputacionais, assim como os riscos legais
associados ao fenómeno da corrupção – em particular, no contexto internacional – o Instituto de
Seguros de Portugal salienta a conveniência de as empresas de seguros, os mediadores de seguros
e as sociedades gestoras de fundos de pensões procederem à (re)avaliação da eventual exposição
aos riscos inerentes à realidade em apreço e, em especial, da sua permeabilidade ao referido crime
de corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional, diligenciando no sentido da
implementação, da manutenção ou do reforço de medidas adequadas à prevenção de condutas
ilícitas, à respetiva deteção e reporte, bem como à mitigação dos seus efeitos.
Desde logo, afigura-se fundamental que as entidades supervisionadas definam e adotem
princípios adequados4 nesta sede (que abordem, entre outros aspetos, o relacionamento com
funcionários, nacionais, estrangeiros ou de organizações internacionais, e, bem assim, com
titulares de cargos políticos, nacionais ou estrangeiros), incorporem tais princípios nas políticas e
nos procedimentos internos e procedam à monitorização da respetiva implementação e do seu
cumprimento de forma apropriada.
Importa igualmente salientar a importância de as referidas entidades promoverem o
conhecimento da incriminação da corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional e suas
consequências, de forma eficaz, a nível interno e, quando aplicável, externo (nomeadamente,
junto dos seus colaboradores, contrapartes, clientes e, se for o caso, canais de distribuição).
Por outro lado, os operadores devem assegurar a observância das políticas e dos
procedimentos internamente fixados no contexto da prevenção, deteção e reporte de condutas
suscetíveis de configurar o crime de corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional,
habilitando, para o efeito, os seus colaboradores (por exemplo, no plano da comunicação e da
formação) e considerando, quando aplicável, os seus canais de distribuição.
assinalar, ainda, que a Lei criminaliza a corrupção de funcionário nacional e titular de cargo político nacional no
contexto do comércio internacional.
4 Tendo em conta a natureza, dimensão e complexidade da sua atividade.
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Relembra-se, ainda, que as empresas de seguros, os mediadores de seguros e as sociedades
gestoras de fundos de pensões estão adstritos ao dever de participação às autoridades
competentes de quaisquer suspeitas de tentativa ou prática consumada do crime de corrupção
ativa com prejuízo do comércio internacional.
4. Adicionalmente, o Instituto de Seguros de Portugal alerta para o facto de que o crime de
corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional integra, por força do artigo 10.º da Lei
n.º 20/2008, de 21 de abril, o conceito de “corrupção” constante do artigo 368.º-A do Código
Penal, preceito que criminaliza o branqueamento de capitais5.
Nesta senda, em reforço de quanto resulta do enquadramento jurídico aplicável neste
domínio, adverte-se para a necessidade de as entidades sujeitas à supervisão do Instituto de
Seguros de Portugal adotarem, manterem ou reforçarem medidas adequadas à prevenção, deteção
e participação de condutas (nomeadamente, de clientes ou contrapartes) que suspeitem estar
relacionadas com o branqueamento de vantagens ilícitas, designadamente, advenientes da
atividade de corrupção ativa com prejuízo do comércio internacional.
O CONSELHO DIRETIVO: José Figueiredo Almaça, presidente ― Maria de Nazaré Barroso, vogal.
5 Refira-se que, em rigor, a consideração da corrupção ativa com prejuízo para o comércio internacional como
crime subjacente ao crime de branqueamento de capitais já resultaria do disposto no citado preceito da lei penal, por
referência ao critério relativo à moldura penal constante da parte final do n.º 1 do artigo 368.º-A do Código Penal.