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HADITHI NJOO organização: Odé Amorim Projeto OFICINATIVA setembro 2013 segunda coletânea de afrohistórias (e outros escritos)

Coletânea HADITHI NJOO 2

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Page 1: Coletânea HADITHI NJOO 2

HADITHI

NJOO

organização:

Odé AmorimProjeto OFICINATIVA

setembro 2013

segunda coletâneade afrohistórias

(e outros escritos)

Page 2: Coletânea HADITHI NJOO 2

_____________________________Projeto OFICINATIVACaixa Postal 73Ribeirão Pires, SPCEP 09400 970

[email protected]____________________________

Imagens dessa edição: ENLACES SOLIDÁRIOS Cuba (Santiago de Cuba e Havana), registros de JULHO 2013

Como a sabedoria se espalhou pelo mundo.......3A menina de barro..................5A Serpente Cósmica...............8Provérbios................................9

materiais consultados:- livro Poesía anónima africana (tomo II),

Rogelio Martinez Furé- livro Cuentos y leyendas populares africanos

- site Casa África España (cuentos de Zimbabwe)

E a FESTA continua nesse segundo número da coletânea organizada pelo Festival Internacional de AfroContação de Histórias HADITHI NJOO. O anterior foi muito bem recebido e daí surgiram mil outras ideias, desejos. Assim vamos nos recriando dia a dia, como as próprias narrativas...

Assumimos de vez nosso caráter e formatos itinerante, ativista e educativo – sempre com ressalvas ao que convencionalmente entendemos por tais conceitos – e já estamos trocando e espalhando nossas sementes em diferentes espaços e possibilidades. Fazemos algo juntos?

AfroAbraços

Odé Amorim

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Coletânea de AfroHistórias HADITHI NJOO# 3 #

Como a sabedoria se espalhou pelo mundo

Em tempos remotos, remotíssimos, vivia em Taubilândia um homem que possuía toda a sabedoria do mundo. Esse homem se chamava Ananzi e sua fama tinha se estendido pelo país até os lugares mais afastados. Por essa razão, de todos os cantos chegava gente para lhe pedir conselhos e para com ele aprender.

Mas alguns dos visitantes se comportaram indevidamente. Ananzi ficou bravo e pensou numa maneira de castigá-los. Após longas e profundas reflexões, decidiu privar-lhes da sabedoria, escondendo-a num lugar tão fundo e pouco suspeito que ninguém poderia encontrá-la. Guardou o conhecimento numa jarra e logo foi buscar um esconderijo. Por último, se dispôs a levar seu tesouro até o local escolhido.

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Coletânea de AfroHistórias HADITHI NJOO# 4 #

Mas Ananzi tinha um filho chamado Kweku Tsjin, que não era bobo. Quando viu seu pai andando com segredos e tanta cautela de um lado a outro com seu recipiente, pensou consigo:- “Coisa de grande importância deve ser essa”. E como era esperto, ficou de olho vigiando o que estava acontecendo.Bem cedo, o pai saiu de casa silenciosamente. Então, Kweku saltou da cama e o seguiu com precaução para que ele não o percebesse. Kweku notou que o pai levava uma jarra grande e estava bastante curioso para saber o que havia nela.Ananzi atravessou o povoado tão cedo que todos ainda dormiam. E se enterrou nas profundezas da mata. Quando chegou a um maciço de palmeiras altas feito o céu, procurou a mais esbelta e começou a subir, com a jarra da sabedoria presa por uma cordinha em seu pescoço. Sem dúvida queria escondê-la na copa da árvore, sua parte mais elevada, onde nenhum mortal poderia pegá-la. A subida era difícil e pesada mas seguia trepando e olhando para baixo. Mesmo com a altura não se assustou e continuou sua missão.A jarra que continha toda a sabedoria do mundo, balançava de um lado ao outro, da direita para a esquerda como um pêndulo e outras vezes de seu peito para o tronco da árvore. A subida era complicada mas Ananzi era muito teimoso! Não parou de trepar até que Kweku Tsjin, que bem lá embaixo observava com curiosidade, já não o conseguia enxergar.- “Pai, por que não leva essa jarra preciosa amarrada nas costas? Assim como está fazendo é mais difícil e arriscado”!Ananzi apenas escutou essas palavras, se virou para olhar a terra que estava a seus pés.- “Eu acreditava ter colocado toda a sabedoria do mundo nesta jarra e agora descubro que meu próprio filho me dá lições. Não tinha o jeito certo para carregar esse recipiente sem risco e com comodidade até lá em cima, mas meu filhinho foi bem sábio para me alertar”.Sua decepção foi tão grande que, com todas as suas forças, jogou a jarra o mais longe que pode. Essa se chocou a uma pedra e se quebrou em mil pedaços. E como se imagina, toda a sabedoria do mundo que ali dentro estava guardada, derramou e se espalhou por toda a terra.

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Coletânea de AfroHistórias HADITHI NJOO# 5 #

A menina de barroHavia uma mulher que não teve filhos. Um dia pensou um plano e se perguntou:- “Se faço minha própria criança com argila, terei alguém com quem brincar, terei alguém que viva em minha casa quando eu morrer”?Então foi buscar o barro em uma colina. Modelou uma menina e a levou para casa dizendo:- “Terei alguém que me faça companhia pois realmente se parece a uma pessoa”.Quando terminou de falar, observou que os olhos da figura piscaram. Era um ser que podia se comunicar e a mulher exclamou:- “Oh, minha filha de barro já é uma pessoa! Minha nossa! Minha filha, meu bebê. Na verdade você veio para me salvar”.A filha foi crescendo ao lado de sua mãe até que chegou a idade de se casar. Os rapazes começaram aos montes a visitar a moça mas a cuidadora recusava todos dizendo:- “Vocês não tem capacidade de manter a minha filha. E esta é a razão: se a chuva lhe molhar ela se desfaz”.Um dia, um jovem chamado Mukwambo se aproximou e já foi saudando com palmas:- “Olá”!- “Bem vindo”, disse a mãe.Entrou na casa e começaram a conversar. Logo a filha o observou também e foi logo se confidenciar com a genitora:- “Mãe, esse rapaz se chama Mukwambo e eu me apaixonei por ele”.A mulher respondeu:

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- “Quer que ele se case com você, não? Mas ele será capaz de evitar que a chuva te molhe? Durante a estação úmida não pode deixar que você saia de casa. Conseguirá fazer isso”?- “Não sei mamãe mas amo muito esse rapaz”.Então a mãe foi falar com Mukwambo e lhe perguntou:- “Você Mukwambo deseja minha filha, não é? Mas será capaz de conservá-la”?E o jovem confirmou:- “Sim, minha senhora, eu poderei conservar sua filha“.- “É que minha filha não pode se molhar com a chuva. Deverá permanecer em casa durante toda a vida para que não haja aguaceiro inesperado que a encharque”. - “Eu a conservarei, senhora”.Mukwambo se encantou com a bela moça e logo se casaram. Ela saiu da casa de sua mãe para viver na aldeia do esposo.Viveram juntos e Mukwambo fez todo o possível para que sua esposa nunca se molhasse. Mas um dia, quando parecia que a estação das chuvas tinha terminado, Mukwambo e sua amada saíram em viagem. De repente, enquanto caminhavam, começou a chover muito forte.Mukwambo não sabia o que fazer. E lembrou:- “Sua mãe me disse que não podia se molhar mas o que devo fazer quando chove inesperadamente? Não vejo por aqui nenhuma casa onde possamos nos proteger”.Mukwambo começou a recolher folhas para cobri-la. Tirou folhas de diferentes árvores, tentando que não se encharcasse de água. Arrancou a própria roupa e a cobriu. Mas a chuva disse: - “Não, hoje acontecerá”!Tanto as folhas como as roupas que a envolviam se molharam. A moça começou a se dissolver voltando a forma da argila que a mãe tinha usado para lhe dar vida. Logo não sobrou nada. Mukwambo disse:- “Que vou fazer agora? Que direi a sua mãe que tinha receio de deixá-la casar com alguém que não pudesse protegê-la”?Nesse exato momento, a mãe da garota sentiu o coração bater mais forte e saiu em direção à casa de Mukwambo. E cantava:

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"Tu, Mukwambo, Mukwambocaminha cada vez, chove maisestou pensado nela, corre..."

Quando a mulher chegou a aldeia de Mukwambo, estava chorando e perguntou:- “Onde está Mukwambo”?Responderam:- “Saiu em viagem com sua esposa”.- “Verdade”?- “Sim”.Então a mulher se pôs a caminhar no mesmo sentido o qual havia saído sua filha. E cantava:

"Tu, Mukwambo, Mukwambocaminha cada vez, chove maiscorre, estou pensado nela..."

Encontrou Mukwambo no mesmo lugar onde havia desaparecido sua filha. Mukwambo começou a contar, soluçando:- “O que me disse, senhora, era verdade. No fundo, fracassei na missão de conservar sua filha. Dela apenas resta esse monte de barro ali”.- “Não posso acreditar. Minha filha não pode ter se dissolvido. É ela que está aqui”...Vagarosamente, retornaram juntos à casa de Mukwambo. Quando chegaram, todos indagaram chorando:- “Nossa nora desapareceu”?- “Sim, ela se desfez”, respondeu Mukwambo a seus pais.A mãe gritou:- “É impossível. Minha filha tem de estar viva. Vocês tem de me compensar por essa perda”.Assim a família de Mukwambo decidiu ajudar de alguma forma. Enviaram à senhora uma jovem bela que muito a agradou.

obs.: Mukwambo na língua shona significa filho

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A Serpente CósmicaO povo Fon, conta como a serpente cósmica, Aida-Hwedo, foi idealizada no início dos tempos pelo Criador, um deus andrógino com duas faces: Mawu, a lua (feminino), e Lisa, o sol (masculino).

Aido-Hwedo ajudou a mais bela obra de todos os tempo trazendo o próprio Criador em sua boca, enquanto o mundo se formava. Quando a obra terminou, o Criador viu que a Terra ficou extremamente pesada: muitas árvores, muitas montanhas, muitos elefantes, muito de tudo.Então, pediu a Aido-Hwedo que se encaixasse por debaixo da Terra sobrecarregada, como se fosse uma almofada, para suportá-la. Como Aido-Hwedo não gostava do calor que havia ali, o Criador fez o oceano para que ela vivesse tranquilamente.Aido-Hwedo, sentindo muita pressão sobre seu corpo, tem que mudar de posição vez ou outra para se aliviar. Exatamente nesses momentos acontecem os mais terríveis terremotos.

Aido-Hwedo come barras de ferro forjadas por alguns macacos vermelhos que vivem no fundo do mar. Quando o ferro se esgota, a fome faz com que ela coma o próprio rabo. Em seguida a terra, com toda a sua carga, desequilibra e cai no mar .Uma segunda Aido-Hwedo, a Serpente do Arco-Íris, vive no céu e manda para a Terra os raios luminosos dos deuses...

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Provérbios"Não há diferença entre envelhecer e viver a vida"

Kikuyu, Quênia

"A abelha não pica a abelha"Pigmeus, Gabão

"Aquele que come o ovo não imagina a dorpela qual passou a galinha"

Iorubá, Nigéria

"As palavras voam como flechasmas as escrituras permanecem"Mandinga / Diola / Fulbé, Guiné

"Não é possível fundir um coração com outro"Txonga, África do Sul

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"Hadithi Njoo" significa "história vem" ou "que

venha a história". É uma expressão em suaíle (swahili / kiswahili)

utilizada no leste africano - Quênia, Uganda,

Tanzânia, Congo - por contadores tradicionais

quando iniciam suas intervenções: hadithi, hadithi, hadithi njoo!

(história, história, eles dizem,

que venha a história, responde o público).

“Os paisque não contam

contos a seus filhos vão ficar carecas...“

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www.festivalhadithinjoo.blogspot.com.br

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