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A escola estoica recebe esse nome do local onde foi fundada (“Stoa Poikile”, pórtico pintado), em Atenas, por Zenão de Cício, por volta de 300 a.C.
O estoicismo considerava que a ética e as questões morais, ou seja “a arte de bem viver”, eram mais importantes do que as questões teóricas. Costumem dizer que assemelham aos autores de autoajuda contemporâneos, na medida em que propunham maneiras de se atingir esse “bem viver”. Mas não é bem assim ...
O estoicismo o obrigaria a encarar a realidade de sua situação, e então tomar as medidas que estiverem a seu alcance, em vez de se queixar das circunstâncias como se elas não devessem existir.
“O pepino está amargo? Deixe-o de lado”, aconselha Marco Aurélio. “Há espinheiros no caminho? Desvie. Basta isso, sem perguntar ao mesmo tempo: “Como essas coisas puderam vir ao mundo?”
As coisa são como são não lamente o que você não pode controlar.
Para os estoicos, portanto, a única coisa que podemos controlar são nossos juízos a respeito do mundo. Mas também é tudo que precisamos controlar para sermos felizes; a tranquilidade resulta de substituir nossos conceitos irracionais por outros, racionais.
Cogitar a pior hipótese possível, a “premeditação dos males”, é, muitas vezes, o melhor jeito de conseguir isso — a ponto de, sugere Sêneca, vivenciar propositalmente esses “males”, de modo a compreender que eles não são tão ruins quanto você teme irracionalmente.
A abordagem da felicidade focada no otimismo, obcecada por metas, do pensamento positivo é exatamente o tipo de coisa que o ego adora. O pensamento positivo é uma questão de identificar-se com seus pensamentos, em vez de “desidentificar-se” com eles.
E o “culto do otimismo” é questão de desejar um futuro feliz ou bem-sucedido, reforçando, assim, de forma sutil a mensagem de que a felicidade está em outro momento, não no presente.
Sem perceber, tratamos o futuro como intrinsecamente mais valioso que o presente.
E, no entanto, parece que o futuro nunca chega.
Entrando no jogo da autoavaliação: implicitamente, você está pressupondo que você é um único “eu”, ao qual se pode dar uma nota geral. Quando você dá uma nota alta a seu “eu”, na verdade você cria a possibilidade de avaliar mal a si mesmo; você está reforçando a ideia de que seu “eu” é algo que pode, antes de tudo, ser “bom” ou “mau”. E essa sempre será uma generalização ruim.
Para uma civilização tão obcecada em alcançar a felicidade, somos incrivelmente
incompetentes nisso.
Existem bons motivos para acreditar que a noção de “buscar a felicidade”, em si, já nasce problemática. Antes de tudo, quem foi que disse que a felicidade é uma meta válida?
“Pergunta a ti mesmo se és feliz”, observou o filósofo John Stuart Mill, “e
deixarás de sê-lo.”
Tudo isso torna tentador concluir que “como podemos ser felizes?” é simplesmente uma pergunta errada: que é melhor nos resignarmos a nunca buscar a resposta e, em vez disso, cuidar de coisas mais produtivas.
E que nossos esforços para eliminar tudo que é negativo — insegurança, incerteza, fracasso ou tristeza — é o que nos faz inseguros, ansiosos, indecisos ou infelizes.
É o que fundamenta a tradição medieval do memento mori, que celebrava o quanto faz bem à vida não esquecer que a morte existe.
Afirmam os estoicos, e no fim você terá que concluir que esses eventos externos não são, em si, “negativos”. O fato é que nada externo à sua mente pode ser apropriadamente descrito como negativo ou positivo. O que realmente causa o sofrimento são as suas convicções a respeito desses fatos.
Marco Aurélio:“Nossas perturbações vêm somente
daquilo que está dentro de nós”.
Pensamos na tristeza como um processo de um único passo: algo no mundo exterior que causa tristeza em seu mundo interior. Na verdade, é um processo de dois passos: entre o acontecimento externo e a emoção interior há uma convicção. Se você não achasse ruim a doença de um parente, você ficaria aborrecido com ela? Claro que não.
Não é sugerir que as emoções negativas não existam. Os estoicos não afirmam nada disso; querem apenas explicar o mecanismo pelo qual surge toda tristeza.
O primeiro benefício de especular o quanto as coisas podem dar errado é direto. É consenso há muito tempo entre os psicólogos que um dos grandes adversários da felicidade humana é a “adaptação hedonista”.
Pensar na possibilidade da perda de alguma coisa que você aprecia traz de volta essa coisa do segundo para o primeiro plano da sua vida, e ela pode voltar a lhe dar prazer.
Sêneca conduz esse raciocínio até a conclusão lógica. Se visualizar o pior pode ser fonte de tranquilidade, que tal tentar deliberadamente sentir o gosto do pior? Ele aconselha: se aquilo que você mais receia é perder sua riqueza material, não tente convencer a si mesmo de que isso nunca. Em vez disso, tente agir como se você já tivesse perdido tudo.
Reserve um determinado número de dias durante os quais você deve se contentar com aquilo que há de mais barato e despojado, com as vestes mais rudes e grosseiras, enquanto diz a si mesmo: Esta é a situação que eu temia? Pode não ser lá muito divertido.
E o comportamento dos outros está ainda mais fora do nosso controle. Isso é um enorme problema. Quando tudo vai bem, é fácil esquecer o quão frágil é o nosso controle.
“Nunca confiei na Fortuna”, escreve Sêneca, “mesmo quando ela parecia estar em paz. Todos os seus butins generosos — dinheiro, cargos, influência —, eu os depositei onde ela pudesse pedi-los de volta sem me perturbar. “São coisas que estão além do controle de uma pessoa”.
Do ponto de vista dos estoicos, como já vimos, são nossos juízos que causam nossas penas. Logo, controlá-los é tudo de que precisamos para trocar o sofrimento pela serenidade.
“Se você aceita que o universo é incontrolável, você será bem menos
ansioso”.
Tudo altamente indesejável, é claro, mas não horroroso, e não fazia sentido teimar em fazer o universo inteiro se alinhar com seus desejos.
A negação da morte está enraizada fundo demais em nós, além de qualquer esperança de nos livrarmos dela. Além disso, se ela é a motivação para todo tipo de conquista extraordinária do homem.
Na verdade, o “culto do otimismo”, com seu foco na positividade a todo custo, pode, ele próprio, ser visto como um tipo de “projeto de imortalidade” — um projeto que promete uma antevisão da felicidade e do sucesso tão poderosa e abrangente que poderia, de certa forma, transcender a morte.
O argumento de Epicuro era o inverso. Se a vida não continua depois da morte, afirmou ele, é um excelente argumento para não ter medo dela, tampouco. Diz ele: “A morte não é nada para nós, porque, quando existimos, a morte ainda não veio; e quando ela vem, nós não existimos”.
Indiferença, renúncia e apatia estoica
O animal é guiado pelo instinto; o homem é guiado pela razão.
Cosmopolismo
Uma vez que a Natureza é governada pela razão divina, tudo tem um motivo para ser e nós não podemos mudar isso.
Nossa atitude diante das adversidades e da própria morte deve ser de serena resignação.
Assim, o ideal do estoicismo é atingir a ataraxia ou apatia, ou seja, a indiferença em relação a todas as emoções, o que se
alcança pela prática da virtude.
Os estoicos suportavam as adversidades com calma e dignidade, mas também acreditavam que as circunstâncias da vida de um homem podia se degradar a tal ponto que um suicídio indolor se tornava a coisa mais racional a fazer.
Séneca:Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo.
Oliver Burkeman Manual antiautoajuda – Felicidade para quem não consegue pensar positivo.
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