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“Mineradoras não são mais obrigadas a pagar R$ 1,2 bi por desastre de Mariana (MG) ” Informativo Mensal - Volume 37 A JUSTIÇA FEDERAL SUSPENDEU POR TEMPO INDETERMINADO A DECISÃO QUE OBRIGAVA A MINERADORA SAMARCO A PAGAR A MULTA. 1 de fevereiro de 2017. A Justiça Federal suspendeu por tempo indeterminado a decisão que obrigava a mineradora Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton a depositarem R$ 1,2 bilhão como garantia de futuras ações de recuperação e reparação dos danos socioambientais decorrentes da tragédia de Mariana (MG). A decisão ocorre após as mineradoras assinarem um Termo de Ajustamento Preliminar com o Ministério Público Federal (MPF). O prazo para depósito já havia sido prorrogado algumas vezes. Na última ocasião, a data estabelecida era 19 de janeiro. Em sua decisão, o juiz Mário de Paula Franco informou que a suspensão se deve à “demonstração de atitudes concretas e à postura cooperativa das partes, do MPF e das instituições envolvidas, em buscarem a solução da presente lide”. O Termo de Ajustamento Preliminar estabelece que as mineradoras irão contratar especialistas indicados pelo MPF para analisar o andamento dos programas de reparação dos danos da tragédia ambiental de Mariana, considerada a maior do país, que ocorreu em novembro/15. A VOZ DO TIETÊ Desde 2005 o Instituto Navega São Paulo tem o objetivo de atrair a atenção da população para o rio Tietê a partir do seu trecho mais degradado que é a região metropolitana de São Paulo. Conseguimos atingir nosso proposito por meio das navegações monitoradas na embarcação Almirante do Lago, entre as pontes dos Remédios e das Bandeiras. Agora nossa proposta com este informativo mensal é atrair sua atenção, levando até você informações sobre o nosso Tietê para que juntos identifiquemos o que fazer para revitalizar tão precioso patrimônio ambiental.

Informativo insp 37

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“Mineradoras não são mais obrigadas a pagar R$ 1,2 bi por desastre de Mariana (MG) ”

Informativo Mensal - Volume 37

A JUSTIÇA FEDERAL SUSPENDEU POR TEMPO

INDETERMINADO A DECISÃO QUE OBRIGAVA A

MINERADORA SAMARCO A PAGAR A MULTA.

1 de fevereiro de 2017.

A Justiça Federal suspendeu por tempo indeterminado a decisão que

obrigava a mineradora Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton a

depositarem R$ 1,2 bilhão como garantia de futuras ações de

recuperação e reparação dos danos socioambientais decorrentes da

tragédia de Mariana (MG). A decisão ocorre após as mineradoras

assinarem um Termo de Ajustamento Preliminar com o Ministério

Público Federal (MPF).

O prazo para depósito já havia sido prorrogado algumas vezes. Na última

ocasião, a data estabelecida era 19 de janeiro. Em sua decisão, o juiz

Mário de Paula Franco informou que a suspensão se deve à

“demonstração de atitudes concretas e à postura cooperativa das

partes, do MPF e das instituições envolvidas, em buscarem a solução da

presente lide”.

O Termo de Ajustamento Preliminar estabelece que as mineradoras irão

contratar especialistas indicados pelo MPF para analisar o andamento

dos programas de reparação dos danos da tragédia ambiental de

Mariana, considerada a maior do país, que ocorreu em novembro/15.

A VOZ DO TIETÊ

Desde 2005 o Instituto Navega

São Paulo tem o objetivo de

atrair a atenção da população

para o rio Tietê a partir do seu

trecho mais degradado que é a

região metropolitana de São

Paulo. Conseguimos atingir

nosso proposito por meio das

navegações monitoradas na

embarcação Almirante do Lago,

entre as pontes dos Remédios e

das Bandeiras. Agora nossa

proposta com este informativo

mensal é atrair sua atenção,

levando até você informações

sobre o nosso Tietê para que

juntos identifiquemos o que

fazer para revitalizar tão

precioso patrimônio ambiental.

DIA DO TIETÊ 22.09.2011 – PTE. DAS BANDEIRAS

0No episódio, a barragem de Fundão,

pertencente à Samarco, se rompeu e liberou

mais de 60 milhões de metros cúbicos de

rejeitos. Dezenove pessoas morreram.

Houve devastação da vegetação nativa,

poluição da Bacia do Rio Doce e destruição

dos distritos de Bento Rodrigues e de

Paracatu, além de outras comunidades.

A reparação dos danos foi negociada em um

acordo entre a Samarco, a Vale, a BHP, o

governo federal e os governos de Minas

Gerais e do Espírito Santo. O documento

estima um investimento de R$ 20 bilhões ao longo de 15 anos. As partes estão levando adiante os programas

combinados, mas a Justiça ainda analisa se homologa esse acordo. O MPF contesta os termos. Em uma ação

impetrada na Justiça Federal, que tramita paralelamente, o Ministério Público calcula os prejuízos em R$ 155

bilhões.

De acordo com o Termo de Ajustamento Preliminar, a análise dos programas de reparação dos danos poderá

fundamentar, em junho, um Termo de Ajustamento de Conduta Final (TACF). Se as mineradoras e o MPF chegarem a

um consenso, a ação de R$ 155 bilhões poderá ser extinta.

O Termo de Ajustamento Preliminar também sugere a substituição do depósito de R$ 1,2 bilhão pela garantia

provisória de R$ 2,2 bilhões. Essa garantia seria composta por aplicações financeiras, seguro e bens da Samarco.

“É importante destacar que nosso propósito de levar está informação até você é para que este assunto seja

debatido na mesma proporção dos estragos provocados e não seja esquecido, pois acreditamos que esta dentre

outras inadimplências ambientais, como com o nosso Rio Tietê, não tem preço que pague e precisão ser evitadas.”

PARA RECORDAR: INFORMATIVO INSP VOLUME 23 (10.12.2015)

É com o sentimento de luto, que propomos falar no último informativo deste ano, sobre o irreparável desastre

ambiental e social ocorrido no distrito de Bento Rodrigues, o qual deixou um rastro de destruição matando grande

parte do maravilhoso Rio Doce e seu entorno. Mais um Rio que perdemos! Este é sem sombra de dúvidas, o maior

acidente ambiental que criamos...

Acreditamos que devemos abordar este doloroso assunto, pois entendemos que compreender o acidente em

Mariana (MG) e seus impactos ambientais servem como um alerta para a criação de medidas mais eficazes de

proteção e preservação dos nossos patrimônios naturais.

OS FATOS

Em 05 novembro de 2015, ocorreu o pior acidente da

mineração brasileira no município de Mariana, em

Minas Gerais. A tragédia ocorreu após o rompimento

de uma barragem (Fundão) da mineradora Samarco,

que é controlada pela Vale e pela BHP Billiton.O

rompimento da barragem provocou uma enxurrada

de lama que devastou o distrito de Bento Rodrigues,

deixando um rastro de destruição à medida que

avança pelo Rio Doce. Várias pessoas ficaram

desabrigadas, com pouca água disponível, sem contar

aqueles que perderam a vida na tragédia. Além disso,

há os impactos ambientais, que são incalculáveis e,

provavelmente, irreversíveis.

PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS

O acidente em Mariana liberou cerca de 62 milhões

de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que

eram formados, principalmente, por óxido de ferro,

água e lama. Apesar de não possuir, segundo a

Samarco, nenhum produto que causa intoxicação no

homem (ainda duvidosa esta informação), esses

rejeitos podem devastar grandes ecossistemas.

A lama que atingiu as regiões próximas à barragem

formou uma espécie de cobertura no local. Essa

cobertura, quando secar, formará uma espécie de

cimento, que impedirá o desenvolvimento de

muitas espécies. Essa pavimentação, no entanto, demorará certo tempo, pois, em virtude da quantidade de rejeitos,

especialistas acreditam que a lama demorará anos para secar. Enquanto o solo não seca, também é impossível

realizar qualquer construção no local.

A cobertura de lama também impedirá o desenvolvimento de espécies vegetais, uma vez que é pobre em matéria

orgânica, o que tornará, portanto, a região infértil. Além disso, em virtude da composição dos rejeitos, ao passar por

um local, afetarão o pH da terra e causarão a desestruturação química do solo. Todos esses fatores levarão à

extinção total do ambiente presente antes do acidente.

O rompimento da barragem afetou o rio Gualaxo, que é afluente do rio Carmo, o qual deságua no Rio Doce, um rio

que abastece uma grande quantidade de cidades. À medida que a lama atinge os ambientes aquáticos, causa a

morte de todos os organismos ali encontrados, como algas e peixes. Após o acidente, vários peixes morreram em

razão da falta de oxigênio

dissolvido na água e também em

consequência da obstrução das

brânquias. O ecossistema

aquático desses rios foi

completamente afetado e,

consequentemente, os

moradores e indígenas que se

beneficiavam da pesca.

A grande quantidade de lama

lançada no ambiente afeta os rios

não apenas no que diz respeito à

vida aquática. Muitos desses rios

sofrerão com assoreamento,

mudanças nos cursos, diminuição

da profundidade e até mesmo

soterramento de nascentes. A

lama, além de causar a morte dos rios, destruiu uma grande região ao redor desses locais. A força dos rejeitos

arrancou a mata ciliar e o que restou foi coberto pelo material.

Por fim, a lama que nos últimos dias atingiu o mar, afetou diretamente a vida marinha na região do Espírito Santo

onde o rio Doce encontra o oceano. Biólogos temem os efeitos dos rejeitos nos recifes de corais de Abrolhos, um

santuário, área de proteção ambiental com grande variedade de espécies marinhas.

Em entrevista o admirado amigo e médico patologista Paulo Saldiva, um dos grandes especialistas em poluição

ambiental do mundo, nos elucidou sobre dúvidas a respeito dos potenciais impactos do acidente.

Segundo o pesquisador, os rejeitos da Mina de Germano, no município de Mariana (MG), formarão um “tapete

mortal” no fundo do Rio Doce e seus afluentes. Além disso, podem penetrar o solo e infiltrar no lençol freático,

inviabilizando o plantio e o uso da água de poços.

O pesquisador também diz que a divulgação do tipo e do teor dos resíduos tóxicos contidos na mistura de rejeitos e

lama não poderia demorar tanto. “Isso impede a definição de medidas e agrava os riscos para o ambiente e à saúde

das pessoas. ”

Saldiva, entre outras atividades, dirige o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo, é membro do Comitê de Qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde e

pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

COMO SERÁ O FUTURO DA VIDA E A SAÚDE HUMANA NA REGIÃO AFETADA PELOS REJEITOS

DA MINERADORA SAMARCO?

Paulo Saldiva – Muito complexo. Essa lama não é normal, mas sim um rejeito de mineração. Deve ser rica em ferro,

mas há outros elementos. Dependendo do processo de mineração, por exemplo, os rejeitos contêm substâncias que

modificam o pH do solo e da água, que pode ser tornar muito básico ou muito ácido (em função do que se usa para

extrair o ferro). Isso afeta as espécies, mas a natureza consegue se reequilibrar. O problema é que o tipo e o teor dos

resíduos de metais pesados que podem estar nessa lama ainda não é conhecida com precisão. Isso atrasa a adoção

de medidas para lidar com o impacto ambiental, que é imenso.

POR QUE AINDA NÃO SE SABE O TIPO E TEOR DOS METAIS PESADOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS

PRESENTES NOS REJEITOS?

Impressiona que a informação não tenha sido divulgada claramente até agora. Eu não tive acesso a esses dados e

acho que ninguém teve. Entre as substâncias tóxicas que podem estar associadas ao ferro nos rejeitos podem estar

os metais chumbo, arsênico, cádmio e manganês.

ESSAS INFORMAÇÕES JÁ PODERIAM TER SIDO DIVULGADAS?

Seria muito importante que os dados já estivessem disponíveis para que os centros de pesquisa do País e

internacionais pudessem estudá-los e sugerir ações. Existe tecnologia disponível para identificar com segurança o

tipo e a quantidade dos resíduos tóxicos em situações como essa. Há um teste chamado espectroscopia de

fluorescência de Raio X que pode ser feito com máquinas portáteis no local. Aí você consegue saber com quais

substâncias e em qual quantidade se está lidando. A demora no conhecimento dessas informações multiplica os

danos e riscos à saúde das pessoas.

SEM SABER O QUE HÁ NESSA MISTURA DE LAMA E REJEITOS, É POSSÍVEL ESTIMAR OS

RISCOS PARA FAUNA E FLORA?

Essa lama vai, por assim dizer, “asfaltar” o fundo do rio. Isso significa que o Rio Doce e qualquer afluente onde ela se

depositar estarão mortos por muito tempo. E, consequentemente, o ecossistema a ele associado. É um desastre de

proporções gigantescas.

SERÁ POSSÍVEL PLANTAR NOVAMENTE NA ÁREA AFETADA DAQUI A ALGUM TEMPO?

Sem os dados do que há nos rejeitos e na lama, não podemos saber. Mas além de reduzir muito a fertilidade do solo

da região atingida, os elementos tóxicos podem se acumular e percolar para o lençol freático, lá permanecendo.

O QUE VAI ACONTECER COM AS ÁREAS QUE RECEBERAM O BANHO DE LAMA?

O distrito da cidade de Mariana, Bento Rodrigues, provavelmente irá se acabar. Será uma área que morreu, assim

como pode acontecer com a cidade. Porque, economicamente, é quase impossível remover toda a camada de lama

que ficou e fazer os testes necessários para saber se será possível continuar vivendo ali. Você cavaria um poço para

tomar água, independentemente da profundidade, sem examinar a qualidade dessa água? Se a população não for

alertada sobre isso, é uma loucura.

O QUE PRECISA SER FEITO?

Como eu disse, é urgente determinar quanto de metais pesados e outras substâncias tóxicas há no solo e se ele

poderá ser propício à agricultura. Isso não diz respeito apenas à fertilidade. Vou dar um exemplo típico do que pode

acontecer para mostrar a extensão do problema. A cidade de Boston, nos Estados Unidos, começou a estimular as

hortas comunitárias. Como é uma cidade antiga e os seus encanamentos eram de chumbo, era de se imaginar que

houvesse algum teor de chumbo no solo de Boston. Mas as hortas nos quintais das casas mais antigas começaram a

ser feitas sem que essa informação merecesse maior preocupação. Como o solo estava contaminado de fato, os

problemas começaram a aparecer na década de 2000. Um estudo revelou, por exemplo, que as raízes de algumas

verduras e legumes chegavam até a profundidade em que havia acúmulo do metal, que não é eliminado pelo

organismo. As pessoas pensavam estar comendo algo saudável, mas na verdade era comida contaminada por metais

pesados. Nas áreas afetadas em Minas, pode acontecer o mesmo.

O QUE PODE ACONTECER COM A QUALIDADE DA ÁGUA NA CIDADE?

Se o encanamento for ruim ou diminuir a pressão no cano (como ocorre no racionamento) há uma pressão ao

contrário, de fora para dentro. Com isso, dependendo de onde passa o cano, se tiver um vazamento do esgoto ao

lado, ou se o solo estiver encharcado e com poluentes, a água se contamina ao longo do trajeto.

E COM A ÁGUA DE POÇOS ARTESIANOS, MAIS PROFUNDOS?

É necessário examinar essa água e o solo. Um exemplo será mais eloquente do que eu para dar um panorama da

situação: lembro-me do que ocorreu em Bangladesh, na Índia, quando as pessoas estavam morrendo de fome e

sede por causa desertificação. Isso motivou a Unicef e o Banco Mundial de Saúde a furar milhares de poços para

obter água nos anos 1960 e 1970. O que ninguém sabia é que o solo de Bangladesh continha muito arsênico. A

consequência foi que logo surgiram milhões de casos de arsenismo, insuficiência renal e câncer de pele. Quero dizer

que é absolutamente imprescindível conhecer o teor dos metais pesados do solo antes de tomar medidas como abrir

poços ou plantar alimentos na região.

É POSSÍVEL RECUPERAR O SOLO DESSA REGIÃO?

Para limpar essa camada de lama, você teria de retirar fisicamente o solo, o que é impossível. O que pode ser

pensado é um projeto de bioremediação. Dependendo da profundidade em que esses resíduos estão, é escolhido

um tipo específico de planta. Algumas espécies vegetais, como a mamona, conseguem retirar do solo os metais

pesados, sugando-os. Evidentemente, essas plantas não podem ser comidas. Isso nunca foi feito sistematicamente

aqui no Brasil, mas talvez seja uma chance.

COMO SE CALCULA A COMPENSAÇÃO A SER FEITA EM UM DESASTRE AMBIENTAL DESSE

PORTE?

Uma empresa do porte da Samarco é muito importante para a economia da região. Para onde irão os moradores

dessas cidades? Trabalhar em que? Com quais recursos, se muitos perderam tudo? O que vai acontecer agora é que

provavelmente o Ministério Público federal ou estadual irá contratar peritos e exigir um diagnóstico que a empresa

deve pagar. A Samarco, que pertence ao Grupo Vale do Rio Doce e à anglo-australiana BHP Billiton, deverá gastar um

bom dinheiro com o diagnóstico e as indenizações.

A verdade é que faltam algumas peças importantes para fazer essa avaliação. Mas há técnicas de valoração bem

estabelecidas para valorar essa contaminação do solo. Por exemplo, se a empresa não quiser examinar o solo e for

pagar o valor real da perda, o cálculo pode ser feito pegando-se o preço do metro quadrado de 500 quilômetros

lineares por três quilômetros de largura, que é o curso do rio de lama, e pagar o que isso custaria a cada

proprietário. Mas muitos deles envelhecerão antes de ver a cor da indenização.

Carta da Terra – Princípios

Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada a sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em

desenvolvimento.