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A Indisciplina no Processo de Ensino Aprendizagem em Turmas do Projovem Urbano Zuilca Mª Travassos de Aguiar Recife – 2010 Universidade Federal de Pernambuco Centro de Educação Núcleo de Pesquisa em Política Educacional, Planejamento e Gestão da Educação Curso de Especialização em Gestão da Educação e Política de Juventude

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A Indisciplina no Processo de Ensino Aprendizagem em Turmas

do Projovem Urbano

Zuilca Mª Travassos de Aguiar

Recife – 2010

Universidade Federal de Pernambuco Centro de Educação Núcleo de Pesquisa em Política Educacional, Planejamento e Gestão da Educação Curso de Especialização em Gestão da Educação e Política de Juventude

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A Indisciplina no Processo de Ensino Aprendizagem em Turmas do Projovem Urbano

ZUILCA Mª TRAVASSOS DE AGUIAR

Recife – 2010

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão da Educação e Política da Juventude da UFPE, Como pré-requisito para obtenção do título de especialista, sob a orientação da Professora Mestra Darci Barbosa Lira de Melo. .

Universidade Federal de Pernambuco Centro de Educação Núcleo de Pesquisa em Política Educacional, Planejamento e Gestão da Educação Curso de Especialização em Gestão da Educação e Política de Juventude

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3

2. ATENDIMENTO ESCOLAR AO JOVEM E AO ADULTO: RETROSPECTIVA

HISTÓRICO-LEGAL ................................................................................................................. 4

3. PROJOVEM ENQUANTO POLÍTICA DA JUVENTUDE ................................................ 12

3.1. Projovem Original .......................................................................................................... 12

3.2. Projovem Urbano ........................................................................................................... 16

4. A INDISCIPLINA EM TURMAS DO PROJOVEM URBANO..........................................21

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 24

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................ 25

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 36

8. REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 39

9. ANEXOS .............................................................................................................................. 41

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1. Introdução

A indisciplina, atualmente é reconhecida como um dos principais problemas

enfrentados pelos professores das escolas públicas, privadas e também do Projovem Urbano.

Considerando como indisciplina, as ações contra a moral, a autoridade, a ordem, o respeito, as

tradições das instituições, palavras, atitudes, gestos e reações que fogem das regras vigentes

nas salas de aulas, como também na escola como um todo, parece-nos relevante saber o que

pensam os jovens desse programa de inclusão, sobre a indisciplina.

O comportamento inadequado do aluno, geralmente, é compreendido como uma das

causas da dificuldade de lecionar, no entanto, de acordo com Vichessi (2009, p. 79), “ele é

resultado da falta de adequação no processo de ensino”. Na verdade, a indisciplina é a

transgressão de dois tipos de regras; as morais, construídas a partir dos princípios éticos que

objetivam o bem comum; e as convencionais, estabelecidas por instituições específicas.

Nessa pesquisa, pretendemos verificar o que dizem os alunos do Projovem Urbano

sobre a indisciplina no cotidiano escolar. Neste sentido, definimos o seguinte objetivo geral

para estudo: Investigar qual a concepção dos alunos do Projovem Urbano sobre a indisciplina

no cotidiano escolar e como objetivos específicos: Fazer um levantamento bibliográfico sobre

os possíveis fatores que contribuem para a indisciplina no cotidiano escolar; Verificar a

opinião dos alunos sobre a indisciplina e uma avaliação do programa.

Nesse sentido, esse trabalho considerado como pesquisa de campo segue a seguinte

organização. A primeira parte será formada por uma retrospectiva histórica da educação de

jovens e adultos no Brasil colônia até a atualidade, destacando os programas de alfabetização;

a segunda parte abordará a criação e funcionamento do Programa Nacional de Jovens e

Adultos – Projovem - Original e Urbano; dando sequência faremos uma explanação sobre a

indisciplina na educação. Tendo em vista as dificuldades de aprendizagem causadas pela

indisciplina é que desenvolvemos nosso tema, visando entender a relação entre aprendizagem

e indisciplina em sala de aula.

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2. Atendimento escolar ao jovem e ao adulto: retrospectiva histórico-legal

No Brasil colônia, a educação formal era de responsabilidade dos jesuítas. O ensino

jesuíta tinha como principal preocupação a propagação da fé e da obediência. O catecismo era

ensinado através de métodos como teatro, danças e músicas. Os padres jesuítas foram os

primeiros professores do Brasil. Antes do descobrimento aqui viviam os ameríndios e que

antes da Companhia de Jesus, existia outras educações menos repressivas em relação ao

modelo europeu trazida pelos portugueses que durou aproximadamente 210 anos, de 1549 a

1759. Com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, (Período Pombalino, 1760 –

1808), que pensou numa escola voltada aos interesses de Estado. Quando os europeus

chegaram à terra que viria a ser Brasil, encontraram uma população ameríndia bastante

homogênea em termos culturais e linguísticos, distribuída ao longo da costa e na bacia dos

rios Paraná – Paraguai (Fausto, 2002, p. 37).

No período Joanino (1808 – 1821), com a expulsão dos jesuítas, houve uma

desestruturação na educação. Com a chegada da família real foram abertas Academias

Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e a Imprensa

Régia a qual permitiu que os acontecimentos fossem publicados e que a população letrada

discutissem os fatos preparando terreno para questões políticas do período seguinte da

História do Brasil.

No Brasil Império (1822 – 1888), com D. João VI, D. Pedro I e com D. Pedro II, a

educação pouco avançou em organização, foi instituído quatro graus de instrução e a

administração do ensino primário e secundário ficou a cargo das províncias. Surgiu a primeira

Escola Normal do país, em Niterói e foi criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar

modelo para o curso secundário.

Já no Período da Primeira República (1889 - 1929), a educação, após várias reformas,

não atingiu os resultados esperados em termos de organização, desencadeando protestos

estudantis intensos contra o governo de Arthur Bernardes. Em virtude disso, ocorreu a

reforma de João Luiz Alves, que introduziu a disciplina Moral e Cívica com a intenção de

combater os protestos. Na década de vinte a educação brasileira ficou marcada pelas reformas,

como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1025, de

Francisco Campos e Mário Casassanta, em 1927, de Fernando de Azevedo, no Distrito

Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e de Carneiro Leão, em Pernambuco, também em

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1928.

No período da Segunda República (1930 – 1936), foi criado o Ministério da Educação

em 1931 e organizado o ensino secundário. Em 1932, um grupo de educadores lança o

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, considerado como marco da renovação

educacional do Brasil. Logo após a revolução de 1930, defendendo uma escola pública

obrigatória e gratuita, ideia essa, que teve a oposição da Igreja Católica que detinha o controle

da maioria das escolas particulares. O objetivo do Manifesto era ter uma educação voltada

para todos sem discriminação de classe social. Esse manifesto foi redigido por Fernando de

Azevedo.

Em 1934, a Nova Constituição determina que a educação é direito de todos, devendo

ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. Ainda em 1934, foi criada a

Universidade de São Paulo, a primeira a ser criada e organizada segundo as normas do

Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.

No período do Estado Novo (1937 – 1945), foram feitas reformas no ensino, chamadas

de Lei Orgânica do Ensino, composta por Decretos-Lei, criando o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial – SENAI, valorizando o ensino profissionalizante e deixando o

ensino secundário de ser somente preparatório para o curso superior.

Durante o período da Nova República (1946 – 1963), o Ensino Primário torna-se

obrigatório, voltando o preceito de que a educação é um direito de todos, ficando

regulamentado o Primário e o Normal, além de ser criado o Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial – SENAC.

No período seguinte, o do Regime Militar (1964 – 1985), foi criado o MOBRAL,

instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971, que tinha

como característica marcante, dar a formação educacional um cunho profissionalizante. As

questões educacionais perderam seu sentido pedagógico e assumiram um caráter político.

Na época da Abertura Política (1986 – 2003) aconteceu a extinção do Conselho

Federal de Educação e criado o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da

Educação e Cultura. Foram criados o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e Médio – FUNDEF; o Programa de Avaliação Institucional – PAIUB; o

Sistema Nacional da Educação Básica – SAEB; o Exame Nacional do Ensino Médio –

ENEM; os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs; e o Exame Nacional de Cursos –

ENC. Trata-se de um período em que a Educação Brasileira, acumula um número acentuado

de Programas. Todos executados ao mesmo tempo na mesma administração.

Nessa época, exatamente em 1988, foi encaminhado à Câmara dos Deputados, um

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Projeto de Lei, para uma nova LDB. Após oito anos de apreciação e debates, tal projeto foi

aprovado em dezembro de 1996. Apesar de toda essa evolução e rupturas inseridas no

processo, a educação brasileira não evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade. As

avaliações, de todos os níveis, foram priorizadas na aprendizagem dos estudantes. O que

podemos notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da Educação, é que os

estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar. Somente uma avaliação

realizada em 2002 mostrou que 59% dos estudantes que concluíam a 4ª série do Ensino

Fundamental não sabiam ler e escrever.

A reflexão sobre a educação de jovens e adultos dentro das atuais perspectivas

democráticas remete-nos ao estudo da totalidade do sistema educativo no Brasil, uma vez que

ela é sempre um movimento comprometido com a trajetória política do país e tem um papel

de confirmar o entendimento da educação como exercício da cidadania.

A história mostra que não havia no Brasil Colônia um projeto educacional, pois o

modelo econômico, extrativista, latifundiário e escravocrata vigente na época não exigia mão

de obra qualificada. A educação trazida pela Companhia de Jesus visava, sobretudo, a difusão

da fé católica, por meio da catequese. Foram os jesuítas que iniciaram a alfabetização de

adultos, primeiramente de indígenas e depois de escravos. Para que a Companhia Jesuítica

não se transformasse num “Estado dentro do Estado”, os jesuítas foram expulsos do Brasil,

extinguindo-se assim o único sistema de educação deste período.

No Império, a instrução popular realizou-se de forma precária, pois a grande maioria

da população vivia e trabalhava no campo e não via a instrução como forma de ascensão

social. O ensino para adultos tinha como uma das finalidades “civilizar” as camadas populares

consideradas no século XIX como perigosas. No período republicano, a educação, de modo

geral não teve melhorias, aumentando o número de pessoas não escolarizadas. Educadores

como Sampaio Dória (1923), Anísio Teixeira (1924), Carneiro Leão (1929) e Lourenço Filho

(1949), tentaram estruturar um sistema educacional, sem evidenciar as questões sociais,

solicitando mais escolas e melhor qualidade do ensino brasileiro.

Com a decadência do regime escravocrata e a substituição da mão de obra escrava pela

assalariada, aconteceram, no Brasil, mudanças econômicas e sociais importantes entre as

quais destacamos a contestação sobre o regime eleitoral vigente, que dava direito de voto

apenas aos alfabetizados. A partir de então, para ser eleitor, o cidadão precisava saber ler e

escrever. Consequentemente, a instrução passou a ser vista como ascensão social e o

analfabetismo como atraso, ignorância e incompetência.

Por não existir um número suficiente de escolas, durante o Estado Novo (1930-1945),

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poucas mudanças ocorreram na educação e a quantidade de jovens e adultos analfabetos

atingiu grandes proporções. Em 1947 foi aprovado o Plano de Campanha de Educação de

Adolescentes e Adultos, atendendo a UNESCO, tendo como idealizador e primeiro

coordenador, o educador Lourenço Filho, houve uma mobilização nacional em favor dessa

Campanha contra jovens e adultos analfabetos. A primeira LDB – Lei de Diretrizes e Bases é

promulgada em 1846 (Nº 4024/61), que instiga o desencadeamento de vários debates sobre o

tema. Já no período da redemocratização (1946-1964), a escola pública cresceu na qualidade,

porém as mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas esperadas não se concretizaram

e as campanhas no combate ao analfabetismo não tiveram muito sucesso.

No início dos anos 60, a educação é atrelada às condições sociais e políticas,

determinando o desenvolvimento brasileiro. Numerosos grupos de estudantes, professores e o

Estado Populista engajaram-se na promoção de uma educação para as camadas pobres. Em

1963, aconteceu no Recife, o I Encontro Nacional de Cultura e Educação Popular, com 74

participantes, sendo alguns professores de adultos. Foi nesse contexto, que o “Método Paulo

Freire” e o Plano Nacional de Alfabetização (PNA) tornaram-se conhecidos. No Plano

Nacional de Educação, em tem um dos objetivos e prioridades:

Era pretensão do governo de João Goulart alfabetizar e conscientizar seis milhões de

brasileiros, os quais se tornariam eleitores. Nessa época, fazer educação popular era investir

na educação de adultos que, tornando-se eleitores, fariam de seus votos um instrumento de

mudança da estrutura social de um país marcado pela exclusão. Porém, com o golpe militar de

64, os grupos que trabalhavam na Educação Popular foram desarticulados e muitos de seus

integrantes foram exilados. O Estado passou a ter o controle sobre a educação, professores,

alunos, currículos e tudo o mais.

Após a anistia, fazer Educação Popular significava trabalhar com jovens e adultos.

Nos anos oitenta, esse trabalho se volta para as necessidades, os valores, a cultura da maioria

da população, podendo esta maioria ser constituída por homens, mulheres ou crianças, jovens

ou adultos, trabalhadores ou não, sindicalizados ou não, do campo ou da cidade, pois todos,

Garantia de ensino fundamental a todos os que não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como ponto de partida e intrínseca desse nível de ensino. A alfabetização dessa população é entendida no sentido amplo de domínio dos instrumentos básico da cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial da constituição brasileira. Envolve, ainda, a formação do cidadão responsável e consciente de seus direitos. PNE, 2001. p. 16

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independente de suas diferenças, passaram a ser respeitados.

A nova LDB (Lei Nº 9394/96), foi alvo de debates por seis anos, teve como relator o

deputado Darcy Ribeiro e foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20

de dezembro de 1996, baseada no princípio do direito universal da educação para todos,

possui 96 artigos, organizados de forma que o Capítulo II se refere a Educação Básica e a

Seção V tem dois Artigos relacionados, especificamente, à Educação de Jovens e Adultos:

Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso

ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.

§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não

puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,

consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho,

mediante cursos e exames.

§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador

na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

Art. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a

base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter

regular.

§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I. no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de

quinze anos;

II. no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito

anos.

§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais

serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

Hoje, várias experiências da Educação Popular estão sendo vivenciadas no país. O

analfabetismo que era visto como causador de todas as mazelas nacionais, passou a ser

preocupação da sociedade e dos meios educacionais que tem como objetivo formar uma

escola unitária igual para todos, por considerá-la um meio de espalhar a fé e cultivar os

valores necessários para o exercício da cidadania. Tanto o capitalismo como o marxismo

tomaram a escolarização universal, como um princípio básico da ação política (SACRISTAN,

1999).

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Entendendo que a organização política da sociedade, transforma a realidade social

fazendo com que a mesma se torne mais humanizada. A Educação, como um processo de

desenvolvimento do conhecimento, favorece essa transformação e a realização de ser humano

a partir da sua própria experiência. Segundo Paulo Freire, “...ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção”. O

conhecimento se constrói através do diálogo coletivo, no qual são consideradas as vivências

de cada ser humano, onde todos aprendem e todos ensinam. Ainda de acordo com o autor a

Educação socializadora coletiva e na competência crítica de todos, de forma a romper com as

ideologias conservadoras, fazendo uma conscientização para a libertação do oprimido e para a

mudança de sua realidade social. Ao afirmar que ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a

leitura e a escrita como meio de tomar consciência da realidade e transformá-la, Paulo Freire

tornou-se um revolucionário da alfabetização libertadora. Fez-se conhecido ao se aprofundar

na temática da alfabetização, reconheceu a necessidade de redefinir o conceito de

alfabetização, a partir uma aprendizagem reflexiva, crítica, contextualizada, com liberdade de

pensamento. Paulo via na “investigação”, “tematização” e “problematização” etapas

necessárias a uma alfabetização que tem por finalidade, além de ler e escrever, constituir-se

em formação de consciência crítica.

Assim, vale salientar que a Educação básica de adultos teve impulso no Brasil a partir

das transformações ocorridas com a industrialização e a concentração da população nos

centros urbanos, na década de trinta. A Campanha de Adultos, em 1944, veio da necessidade

de aumentar as bases eleitorais para sustentação do governo central e aumentar a produção.

Seria uma alfabetização em três meses, o curso primário em quatorze meses mais uma etapa

voltada à capacitação profissional e desenvolvimento comunitário. Essa Campanha obteve

bons resultados por pouco tempo, pois começaram as críticas que convergiam para uma nova

visão sobre o analfabetismo, culminando com a apresentação do novo modelo pedagógico

proposto por Paulo Freire, que oportunizava a inserção dos jovens e adultos no processo de

desenvolvimento como cidadãos produtivos e integrados socialmente.

Em 1963, o Ministério da Educação encerrou essa Campanha de Educação de Adultos,

iniciada em 1947, e o educador pernambucano Paulo Freire, pelo êxito nas suas experiências

no nordeste do Brasil foi encarregado de elaborar e coordenar um programa nacional de

alfabetização, que considerou oportunidade única de conduzir os marginalizados da sociedade

a uma posição de dignidade, e em 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização que

previa levar a todo o Brasil programas baseados na proposta conscientizadora de Paulo Freire,

porém tal programa foi interrompido pelo golpe militar, que reduziu a alfabetização ao

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processo de aprender a desenhar o nome.

Constata-se assim, que o método de Paulo Freire valorizava a cultura popular e a

utilização de temas geradores. Esses movimentos procuravam a conscientização, participação

e transformação social, por entenderem que o analfabetismo é gerado por uma sociedade

injusta e não igualitária.

Continuando revendo a questão do atendimento ao jovem e ao adulto no Brasil, em

1969, foi criado o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), suas ações são efetivadas

em 1971 e esse movimento foi extinto em 1985, juntamente com a Nova República e o fim do

Regime Militar. No Mobral, utilizava-se material padronizado constituído por livro texto,

livro glossário, livro de exercício de matemática, livro do professor e um conjunto de

cartazes, conhecido como Conjunto Didático Básico. A preocupação com a formação de mão

de obra e colocação no mercado de trabalho passou a fazer parte do Programa Mobral

Cultural, lançado em 1973, com o objetivo de mostrar a cultura do povo brasileiro, do

mobralense e da comunidade em que viviam. Mas a recessão econômica a partir dos anos

oitenta inviabilizou a existência do Programa que recrutava altos recursos para ser mantido.

Suas ações foram incorporados pela Fundação Educar, criada em 1985, com o objetivo de

fiscalizar as instituições que recebiam recursos financeiros. A Fundação foi extinta, no

governo Color, em 1990, Ano Internacional da Alfabetização, no lugar de se tomar a

alfabetização como prioridade, sem colocar outra entidade para assumir suas funções. Neste

período, foi sentida a ausência do Governo Federal como articulador nacional da política da

alfabetização de jovens e adultos no Brasil.

Em 1981, a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Bradesco, colocaram no ar o

Telecurso 1º Grau, destinado ao ensino fundamental, com o apoio do MEC e da Universidade

de Brasília. Em 1994 surge o Telecurso 2000, uma proposta inovadora, numa parceria da

Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) e a Fundção Roberto Marinho, tendo

beneficiado mais de 5,5 milhões de pessoas nas 27.714 telessalas por todo Brasil.

Assim, vai se identificar na Constituição Federal de 1988, que teve a participação da

sociedade civil organizada, dos fóruns em defesa da Escola Pública como um dos movimentos

democráticos na construção e aprovação desta Constituição, que estabelece para essa

modalidade que, Artigo 205 - “ a educação é direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para

o trabalho.” No Artigo 208, “ o ensino fundamental obrigatório e gratuito, para todos que a ele

não tiveram acesso na idade própria”. A Constituição deixa claro a responsabilidade do

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Estado, da família e da sociedade, em relação a formação do cidadão, como também sua

preocupação na qualificação profissional.

Em 1996, surge o PAS (Programa de Alfabetização Solidária), considerado como um

programa inovador, depois assistencialista, no governo de Fernando Henrique Cardoso em

parceria com empresas privadas, objetivando reduzir o analfabetismo entre jovens de 18 a 24

anos de idade, foi direcionado aos municípios com menor IDH e com porcentagem alta de

analfabetos.

A Emenda Constitucional nº 14/96, determinou que 60% dos recursos destinados à

educação fossem aplicados no desenvolvimento do ensino fundamental, criando o FUNDEF

(Fundo de Desenvolvimento ao Ensino Fundamental), este fundo seria proporcional ao

número de matriculados no ensino fundamental regular, excluindo a educação de adultos,

infantil, e o ensino médio, configurava-se o não cumprimento da Constituição Federal no seu

Artigo 208. Surge em 1998, o PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma

Agrária), com o intuito de atender os assentados, e em 2003, o governo Lula lançou o

programa Brasil Alfabetizado, com o objetivo de elevar a escolaridade de jovens, adultos e

idosos que não tiveram acesso a escola. Atende aos municípios que apresentam taxa de

analfabetismo igual ou superior a 25%. Em 2009, atendeu cerca de 2 milhões de

alfabetizandos, foi incluído neste programa todos os municípios do Nordeste brasileiro. Os

programas de alfabetização de jovens e adultos contribuem para redução das desigualdades

educacionais por meio da participação de grande parte dos cidadãos em políticas públicas que

assegurem a ampliação do acesso à educação.

Após as considerações feitas sobre as questões relacionadas ao atendimento dessa

clientela ao longo da história do Brasil, surge o Programa Nacional de Inclusão de Jovens –

PROJOVEM, sobre o qual trataremos no próximo tópico de nosso trabalho.

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3. Projovem enquanto política da juventude

3.1. Projovem Original

Com a perspectiva de criar condições necessárias para romper o ciclo de reprodução

das desigualdades e restaurar a esperança da sociedade em relação ao futuro do Brasil, em

2004, constituiu-se o grupo Interministerial da Juventude, que envolveu 19 ministérios,

secretarias e órgãos técnicos especializados, para elaborar um diagnóstico sobre a juventude

brasileira e mapear as ações governamentais que são dirigidas especificamente aos jovens,

tendo em vista a indicação de referências para uma política nacional de juventude. Este grupo

contou com a colaboração de técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),

na produção de informações estatísticas, incorporou resultados de pesquisas e consultas

realizadas pela UNESCO e pelo Projeto Juventude do Instituto de Cidadania, também serviu

de subsídio o trabalho desenvolvido pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados

destinada a acompanhar e estudar propostas de políticas para a juventude. De posse de todos

estes estudos o Governo Federal implantou, com a Lei nº 11.129, de 30 de Junho de 2005, um

programa emergencial e experimental, o Projovem, destinado a executar ações integradas que

proporcionassem aos jovens brasileiros, na forma de curso previsto no Art. 81- “É permitida a

organização de cursos ou instituições de ensino experimentais, desde que obedecidas às

disposições desta Lei”, da LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, como componente

estratégico da Política Nacional de Juventude.

Esta implantação se deu sob a Coordenação da Secretaria Nacional de Juventude, da

Secretaria Geral da Presidência da República em parceria com o Ministério da Educação, o

Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a

Fome. Hoje, Política Pública, considera a juventude como faixa social com direitos e como

protagonista do desenvolvimento nacional. Este grupo interministerial fez um diagnóstico das

necessidades dos jovens em relação às políticas públicas o que definiu a implantação de ações

que garantem os direitos dos jovens brasileiros.

O desenvolvimento do Projovem é um desafio constante e seu principal compromisso

é pela luta contra as desigualdades e a exclusão social. O Programa oferece aos jovens na

faixa etária de 18 a 24 anos, elevação do grau de escolaridade, conclusão do ensino

fundamental, qualificação profissional em nível de formação inicial, estimulando a inserção

produtiva cidadã e o desenvolvimento de ações comunitárias como práticas de solidariedade,

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exercício da cidadania e intervenção na realidade em que vivem.

De acordo com o Manual do Educador (Orientações Gerais) 2007, o Projovem deverá

contribuir especificamente para:

I - a reinserção do jovem na escola;

II - a identificação de oportunidades de trabalho e capacitação dos jovens para o

mundo do trabalho;

III - a identificação, elaboração de planos e desenvolvimento de ações comunitárias; e.

IV - a inclusão digital dos jovens, para que desfrutem desse instrumento de inserção

produtiva.

O Programa oferecerá aos seus participantes curso com proposta pedagógica integrada

que assegure a certificação de conclusão do ensino fundamental, da qualificação profissional

no nível de formação inicial e do desenvolvimento de ações comunitárias. Terá uma carga

horária total de mil e seiscentas horas, sendo mil e duzentas presenciais e quatrocentas não-

presenciais, cumpridas ao longo de doze meses ininterruptos.

O Projovem será organizado em quatro unidades, com duração de três meses cada

uma, denominadas de Unidades Formativas, por meio das quais os diferentes componentes

curriculares se integrarão em eixos estruturantes que estabeleçam, entre si, a progressão das

aprendizagens.

O processo de certificação far-se-á de acordo com normas da Câmara de Educação

Básica do Conselho Nacional de Educação.

Para habilitar-se à certificação, o jovem deverá freqüentar no mínimo setenta e cinco

por cento das atividades presenciais mensais de cada Unidade Formativa do curso, submeter-

se ao exame nacional externo e apresentar os trabalhos que dele sejam exigidos.

O Projovem terá sua dinâmica disciplinada pelo Comitê Gestor Nacional e será

implementado em locais adequados, que funcionarão diariamente, observada a seguinte

estrutura:

A unidade básica de atividades de aprendizagem e ensino será a turma, composta de

trinta jovens; cada grupo de cinco turmas comporá um Núcleo, que terá a finalidade de definir

e atender necessidades pedagógicas dos jovens, bem como planejar sua inserção produtiva

cidadã.

Cada grupo de oito Núcleos, por sua vez, comporá uma Estação Juventude, que terá a

finalidade de implementar os planos apresentados pelos Núcleos, desenvolvendo ações

comunitárias com práticas de solidariedade, exercício da cidadania e intervenção na realidade

local, bem como decidir, no seu âmbito, questões administrativas e pedagógicas, por meio de

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ato do coordenador da Estação Juventude; e cada Estação Juventude será articulada com um

Fórum do Projovem, instância colegiada consultiva de participação dos jovens na gestão do

programa, e deliberativa conforme procedimento definido pelo Comitê Gestor Nacional.

O ingresso no Projovem dar-se-á por meio de inscrição pública, sorteio quando for o

caso e posterior matrícula. Para se inscrever, o jovem deverá ter entre dezoito a vinte e quatro

anos completos, ter concluído a quarta série e não ter concluído a oitava série do ensino

fundamental, nem ter vínculo empregatício, na data da inscrição.

Caso o número de inscrições supere o de vagas oferecidas pelo Projovem em uma

localidade, será realizado sorteio público para preenchê-las, em local, data e horário

devidamente divulgados e com a presença obrigatória de agente público representante de

órgão de fiscalização da administração pública federal.

Fica assegurada ao jovem portador de deficiência a participação no Projovem e o

atendimento de sua necessidade especial, desde que cumpridas às condições previstas neste

artigo. O jovem será alocado, preferencialmente, em turma próxima de sua residência.

A União concederá um auxílio financeiro mensal de R$ 100,00 (cem reais) por aluno

por um período máximo de doze meses ininterruptos, enquanto estiver matriculado no curso

e atender às condições do art. 24.

Art. 24. O pagamento do auxílio financeiro mensal fica condicionado à

obrigatoriedade, por parte do jovem matriculado, de comparecer a pelo menos setenta e cinco

por cento das atividades presenciais do mês, incluindo a ação comunitária programada para o

período, e à apresentação dos trabalhos exigidos observadas as demais normas definidas pelo

Comitê Gestor Nacional.

É vedada a acumulação de recebimento do auxílio financeiro mensal com benefícios

de natureza semelhante recebidos em decorrência de outros programas federais, permitida a

opção por apenas um deles.

O Coordenador Nacional do Projovem informará ao Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome os dados cadastrais dos jovens devidamente matriculados para

início da concessão do auxílio financeiro.

A concessão do auxílio financeiro mensal tem caráter temporário e não gera direito

adquirido.

A gestão do pagamento e da manutenção do auxílio financeiro mensal é de

responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que, para

tanto, utilizará os recursos orçamentários destinados ao Projovem, cuja movimentação será

operacionalizada por instituição financeira oficial.

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O pagamento do auxílio financeiro mensal fica condicionado à obrigatoriedade, por

parte do jovem matriculado, de comparecer a pelo menos setenta e cinco por cento das

atividades presenciais do mês, incluindo a ação comunitária programada para o período, e à

apresentação dos trabalhos exigidos, observadas as demais normas definidas pelo Comitê

Gestor Nacional.

Será suspenso o auxílio financeiro mensal dos jovens matriculados no Projovem que

não cumprirem mensalmente o previsto no art. 24 deste Decreto, conforme procedimentos

definidos pelo Comitê Gestor Nacional.

Os alunos que tiverem seus benefícios suspensos poderão requerer revisão dessa

decisão, em até dez dias da suspensão do benefício, em petição dirigida ao coordenador da

respectiva Estação Juventude, que se manifestará no prazo máximo de três dias úteis do

protocolo.

Parágrafo único. Da decisão que mantiver a suspensão do benefício caberá recurso, no

prazo de cinco dias da sua divulgação ao Fórum do Projovem, que atuará como instância

colegiada e última de deliberação sobre o assunto.

O Fórum do Projovem deverá remeter o seu parecer, no prazo de cinco dias, à

Coordenação Municipal para conhecimento de sua deliberação e encaminhamento final sobre

a situação de manutenção ou suspensão do benefício do aluno.

O monitoramento e a avaliação do Projovem serão supervisionados pelo Coordenador

Nacional do Projovem e exercidos por uma rede de instituições acadêmicas especializadas,

denominada Sistema de Monitoramento e Avaliação.

Compete ao Sistema de Monitoramento e Avaliação o acompanhamento da gestão e

execução do Projovem, visando ao seu aperfeiçoamento e à avaliação da qualidade do curso,

conforme disciplinado pelo Ministro de Estado Chefe da Secretaria Geral da Presidência da

República.

A Secretaria Geral da Presidência da República disponibilizará sistema informatizado

de registro e processamento de dados, integrando e produzindo a informação necessária aos

núcleos, estações juventude, coordenadores locais e Coordenador Nacional, para fins

acadêmicos e administrativos.

O controle e participação social do Projovem deverão ser realizados, em âmbito local,

por conselho formalmente instituído pelos entes federados, assegurando-se a participação da

sociedade civil.

Por decisão do Poder Público local, o controle social do Projovem poderá ser realizado

por conselho ou instância anteriormente existente, preferencialmente que atuem com a

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temática da Juventude, garantida a participação da sociedade civil. Cabe aos conselhos de

controle social do Projovem, acompanhar e subsidiar a fiscalização da execução do Projovem,

no âmbito local; acompanhar a oferta dos serviços necessários à operacionalização do

Projovem; e estimular a participação comunitária no controle da execução do Projovem, no

âmbito local.

A fiscalização do Projovem será realizada pelos órgãos referidos no caput do art. 5o,

no âmbito de suas competências e respeitadas as atribuições dos órgãos de fiscalização da

administração pública federal e dos entes federados parceiros. Qualquer cidadão poderá

requerer apuração de fatos relacionados à execução do Projovem, em petição fundamentada,

dirigida ao Coordenador Nacional, que a encaminhará à autoridade competente, na forma da

lei.

Sem prejuízo de sanção penal, o beneficiário que dolosamente receber o auxílio-

financeiro será obrigado a efetuar o ressarcimento da importância recebida, no prazo máximo

de sessenta dias, contados a partir da data de notificação ao devedor, acrescida de juros

equivalentes à taxa referencial do Sistema de Liquidação e de Custódia - SELIC, e de um por

cento ao mês, calculados a partir da data do recebimento.

Constatada a ocorrência de irregularidade na execução local do Projovem, caberá ao

Coordenador Nacional, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis e penais:

Recomendar a adoção de providências saneadoras do Projovem ao respectivo ente

federado; e propor à autoridade competente a instauração de tomada de contas especial, com o

objetivo de submeter ao exame preliminar do Sistema de Controle Interno e ao julgamento do

Tribunal de Contas da União os casos e situações identificados nos trabalhos de fiscalização

que configurem a prática de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de que resulte dano ao

Erário, na forma do art. 8o da Lei no 8.443, de 16 de julho de 1992.

3.2. Projovem Urbano

A partir de 2009, houve uma reformulação, ou seja, um aprimoramento do Programa

Nacional de Inclusão de Jovens, superando dificuldades e obstáculos observados nas edições

originais, tendo para isso que se utilizar dos resultados da avaliação interna e externa,

salientando os aspectos bem sucedidos, passando a chamar-se Projovem Urbano (Manual do

Educador (2008). O Programa passou a atender jovens de 18 a 29 anos que não concluíram o

ensino fundamental, que saibam ler e escrever, com o objetivo de promover a inclusão social

dando-lhe a oportunidade do exercício da cidadania, já que a população brasileira nesta faixa

etária chega a 40 milhões, dos quais 35 milhões estão em áreas urbanas, caracterizando a

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evolução do peso da população jovem no Brasil, fator que definiu o público alvo do Projovem

Urbano. O novo modelo contempla também jovens que estejam cumprindo pena em regime

fechado e aos que estejam na faixa etária de 15 a 21 anos e se encontrem em instituições

socioeducativas sem liberdade.

O Projovem Urbano apresenta uma proposta curricular baseada na expressão “viver a

juventude” nos dias de hoje, sendo necessário entender o mundo contemporâneo, onde há um

processo de globalização e uma crescente desigualdade social, a qual leva a exclusão,

precisamos entender a juventude em suas relações com outros grupos sociais, sendo preciso

um diálogo intergeracional que produza novas aprendizagens. Esse diálogo entre jovens e

adultos (ex-jovens) significa o relacionamento que ocorre nas famílias, na escola, no mundo

do trabalho, nos espaços públicos de cultura e lazer, nas instituições de abrigo e carcerárias, e

em todos os lugares sociais onde exista jovens e adultos. Podemos considerar que os adultos

de hoje acumularam experiências e conquistas, quando jovens, que podem ser repassadas aos

atuais jovens, pontos importantes para o protagonismo juvenil. No Brasil, como em todo

mundo, a juventude é atingida pelas transformações sociais, que favorecem a exclusão e

mutação do mercado de trabalho e a violência que está instalada na sociedade desde o final do

Século XX e continua neste início do Século XXI. Os jovens brasileiros, de forma geral, estão

afastados socialmente entre si, como pela origem de classe, em relação a campo e cidade,

pelas disparidades regionais, pela geografia das grandes cidades com preconceitos e

discriminação de favelas e periferias.

O Projovem Urbano apresenta propostas de gestão intersetorial, compartilhada por

quatro ministérios, e de implantação em regime de cooperação com os estados, municípios e

distrito federal; Projeto Pedagógico Integrado (PPI, 2008), que representa um novo paradigma

de educação, articulando conclusão do ensino fundamental, qualificação profissional inicial e

experiências de participação cidadã, como base para o alcance da finalidade pretendida;

materiais pedagógicos especialmente produzidos para atender a essas características do

programa, constando de guias de estudo, manuais e vídeos destinados a: alunos, educadores,

gestores, instituições de formação de educadores. (Manual do Educador: Orientações Gerais,

2008).

O Projovem Urbano tem como finalidade:

- A formação básica com a conclusão do ensino fundamental e reinserção dos jovens no

processo de escolarização;

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- A qualificação profissional inicial dos jovens, com a identificação de oportunidades de

trabalho e capacitação para o mercado de trabalho;

- A participação cidadã com experiência de atuação social em ações coletivas de interesse

público;

- A inclusão digital e ampliação do acesso dos jovens à cultura.

O Projovem Urbano conta com um Comitê Gestor coordenado pela Secretaria Geral

da presidência da República/Secretária Nacional de Juventude e integrado pelos Ministérios

da Educação, do Trabalho e Emprego e do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. O

Projovem Urbano mantém a estratégia de acordos com as capitais, o Distrito Federal e os

municípios maiores de 200.000 habitantes, mais será também executado em parceria com os

estados, para atender municípios menores.

Cada estado, município ou DF que integre o Projovem Urbano conta com um comitê

gestor local, formado por representantes das secretarias, responsáveis pelas áreas de

juventude, educação, desenvolvimento/assistência social e trabalho; uma coordenação local,

composta por um coordenador executivo, um coordenador pedagógico e pessoal de apoio

técnico e administrativo, encarregada da operacionalização do programa para alcançar o

maior número de jovens excluídos, como também assegurar a permanência dos alunos no

curso. A coordenação local tratar de: gerenciamento do Projovem Urbano no nível estadual ou

municipal ou DF; definir os estabelecimentos escolares onde serão realizadas as atividades do

curso e das aulas práticas dos arcos ocupacionais; apresentação do Projovem Urbano aos

diretores desses estabelecimentos; recrutamento, seleção, contratação e formação inicial e

continuada dos educadores de formação básica, de qualificação profissional e de participação

cidadã; organização do recrutamento e da matrícula dos alunos; atendimento às solicitações

do Sistema de Monitoramento e Avaliação; definição das instituições certificadoras da

conclusão do ensino fundamental e ou da habilitação nos arcos ocupacionais.

Para melhor coordenar os trabalhos a nível local, existem pólos formados por 16

núcleos que acomodam os alunos (2400 até 3200), uma equipe composta por um diretor

executivo, um diretor pedagógico, pessoal de apoio técnico e administrativo e os educadores

que compõem os núcleos (educadores de formação básica, de qualificação profissional e

participação cidadã). Os núcleos têm cinco turmas, cada uma com 40 alunos, e cinco

educadores de formação básica, os de participação cidadã atuam em dois núcleos e os

qualificadores atuam em turmas reestruturadas conforme os arcos ocupacionais oferecidos em

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número de quatro. É permitida a existência de turmas com um mínimo de 20 alunos.

A equipe do Polo, subordinada à coordenação local, tem as atribuições: gerenciar o

Projovem Urbano no pólo, auxiliar na apresentação do Programa aos gestores e funcionários

dos estabelecimentos que funcionará o curso, atuar no recrutamento e seleção dos educadores,

no recrutamento e matrícula dos alunos, coordenar o trabalho pedagógico e administrativo dos

núcleos, promover reuniões semanais de planejamento integrado das atividades de ensino e

aprendizagem, programar atividades de formação continuada, supervisionar o trabalho, a

freqüência e a pontualidade dos educadores do pólo, manter registro atualizado do

aproveitamento e freqüência dos alunos e facilitar ao Sistema de Monitoramento e Avaliação

o acesso aos núcleos, aos educadores e aos jovens.

A formação de novas turmas é determinada pela Coordenação Nacional, com a seleção

dos alunos feita por meio de sistema informatizado e o acompanhamento do Sistema de

Monitoramento e Avaliação.

A concepção moderna de juventude tornou a escolaridade como à transição para a

maturidade. Diante da necessidade de pobres deixarem a escola para entrar no mercado de

trabalho informal como forma de sobrevivência, faz com que políticas públicas sejam

pensadas como forma de reconectar a escola com o mercado de trabalho, sabendo que os

diplomas ou certificados são imprescindíveis, e que se deve construir uma nova formação que

deve permitir ao jovem tanto se adequar às demandas do mercado de trabalho quanto buscar

formas de empreendedorismo individual, cooperativo e associativo. A descrença nos

programas e ações do governo, as dificuldades de acesso às informações e o receio de deixar

as precárias fontes de renda e a resistência emocional do jovem em se envolver com o

processo de aprendizagem.

Diante dessas circunstâncias, o Projovem Urbano tem desafios a serem transpostos,

utilizando muita criatividade, habilidade e dedicação por parte dos professores e

coordenadores, para despertar o potencial dos jovens e fazê-los acreditar nesse potencial e na

sua capacidade de buscar alternativas de inserção social, como também para lidar com o

processo de ensino e aprendizagem.

Entretanto, do ponto de vista da proposta curricular, é preciso valorizar e respeitar as

culturas e experiências dos jovens e que se criem contextos que lhe favoreçam na posição de

sujeitos, a efetiva apropriação crítica de conhecimentos e linguagens de outros grupos sociais

e do mundo do trabalho. Assim, o Projovem Urbano propõe aliar teoria e prática, formação e

ação, e para que a Formação Básica, a Qualificação Profissional e a Participação Cidadã

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possam fortalecer-se mutuamente, cada uma delas deve desenvolver-se plenamente e em

consonância com as demandas para uma inserção plena, criativa e produtiva na sociedade

contemporânea. E dessa forma o currículo do Projovem Urbano foi concebido nessa

perspectiva e pretende ultrapassar o campo das intenções para promover situações

pedagógicas que efetivamente favoreçam a construção do protagonismo juvenil, isto é, criar

estruturas, tempos e espaços de aprendizagem ligadas aos objetivos do programa.

O currículo é integrado entre as três linhas que fundamenta o programa, aliando a este

as experiências vivenciadas pelos alunos, construindo assim, a interdisciplinaridade.

O Projovem Urbano deve oferecer oportunidade para que os jovens experimentem

novas formas de interação, se apropriem de novos conhecimentos, reelaborem suas próprias

experiências e sua visão de mundo e, ao mesmo tempo, se re-posicionem quanto à sua

inserção social e profissional.

O público do Projovem Urbano é formado por pessoas que estão afastadas da escola

há algum tempo, por diversas razões. É um público especial, marcado pela exclusão e vítima

da ausência de assistência social, econômica, cultural e afetiva que age muitas vezes, com

indisciplina, devido aos vários problemas como também com a falta de formação.

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4. A Indisciplina em Sala de Aula

A escola não é, por natureza, local de indisciplina, deve ser o lugar onde os conflitos

se resolvem pela palavra. A onda de violência que atinge escolas no Brasil, também é vista em

outras partes do mundo sendo necessário intervir ao surgir algum conflito para que este não

gere a violência. Conflito é toda opinião diferente de ver ou interpretar algum acontecimento.

A elaboração das regras internas da escola e o contrato de convivência elaborado em sala de

aula devem incentivar o cumprimento dessas regras abrindo possibilidades ao diálogo. A

cooperação e a troca entre alunos, professores e demais elementos, devem ser vistos como

uma forma de superação de tensões e conflitos, esgotando-se todos os recursos pedagógicos

antes de se aplicarem eventuais sansões indisciplinares. Segundo Luís Carlos de Menezes,

(2007, p. 20), “Numa sociedade violenta, a escola deve se contrapor abertamente à cultura de

agressões”.

O desrespeito às normas instituídas vem se agravando de tal maneira que nem a escola

nem a família conseguem solucionar o problema. É necessária uma relação mais próxima

entre escola, família e o Estado, com o objetivo de criar formas de interferir ou erradicar esse

grave problema. De acordo com a definição de FERREIRA (1999, p. 1102),

a indisciplina é “procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião”. Assim, indisciplinado é aquele “que não tem disciplina. Que se insurge contra a disciplina; rebelde. Indivíduo indisciplinado”.

Ações indisciplinares são reflexos da realidade vivenciada pelos alunos, do seu

histórico social, de sua família, das relações com outros grupos sociais, do acesso aos

estímulos de consumo pelos meios de comunicação, dependendo da realidade na qual está

inserida. Os estudos sobre juventude têm destacado a complexidade desta fase da vida,

chamando atenção para o fato de que “não há uma juventude, mas várias, definidas e

caracterizadas segundo diferentes situações, vivências e identidades sociais” (ABRAMOVAY;

CASTRO, 2006, p. 9). “Segundo Bourdier (1998), o rendimento da ação escolar depende do

capital cultural previamente investido pela família e que o rendimento econômico e social do

certificado escolar depende do capital social – também herdado - que pode ser colocado a seu

serviço”.

Segundo o professor Júlio Groppa Aquino (2003), a indisciplina, como toda criação

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cultural, não é estática, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto

de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa

mesma sociedade. A indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra, o primeiro é as

morais, construídas socialmente com base em princípios éticos, consideradas válidas para

todas as escolas em todas as situações. Por exemplo, não xingar, não bater. O segundo são as

regras convencionais, como uso do celular, uso do boné, a conversa em sala de aula de

assuntos alheios ao conteúdo que está sendo estudado. Hoje, a juventude vive situações de

violência relacionadas ao tráfico de drogas, uso de armas de fogo, comportamentos sexuais

“descuidados”, que contribuem para a ocorrência de gravidez na adolescência e doenças

sexualmente transmissível, falta de emprego e renda, desrespeito, os preconceitos, e a

ausência de policiais preparados na mediação dos conflitos com atitudes de tolerância,

responsabilidade e iniciativa que podem contribuir para lidar com jovens. Segundo Chripino

(2004), o conflito faz parte de nossa vida e está presente nas instituições. É melhor enfrentá-lo

com habilidade do que evitá-lo (HEREDIA, 1998 apud CHRIPINO, 2004). Por desestímulo,

muitos jovens deixam os estudos para poder trabalhar e ajudar a família. Com o passar do

tempo, acabam não voltando à escola e, sem diploma, ficam fora do mercado de trabalho –

que exige, cada vez mais, no mínimo, o ensino médio. Assim, entram no Projovem Urbano

com a intenção de recuperar o tempo perdido, e quando não se integram ao processo ensino

aprendizagem passam a apresentar comportamentos preocupantes à escola e professores. São

manifestações que surgem em forma de agitação ou, ao contrário, comportamentos de apatia e

descomprometimento. Cabe ao professor estar sempre atualizado na sua prática pedagógica,

para utilizar métodos capazes de estimular e desafiar os alunos a pensar construindo dessa

forma o conhecimento. Os alunos que não se envolvem no processo de aprendizagem têm

espaço para manifestações indisciplinares. Para Vasconcellos (2001), o ato pedagógico é o

momento de emergir das falas, do movimento, da rebeldia, da oposição, da ânsia de descobrir

e construir juntos, professores e alunos.

A indisciplina é um problema da escola atualmente e uma das maiores dificuldades

com que se confrontam professores, seja da escola pública, privada ou do Projovem Urbano.

Quando se pergunta, qual é o principal problema do Projovem Urbano? A resposta sempre se

refere à indisciplina. Mas, a atuação inadequada do professor na sala de aula, como por

exemplo, não ter o domínio do conteúdo estudado e a falta de estratégias eficientes para

ensiná-los, também causa indisciplina pelo fato do aluno buscar algo mais interessante para

fazer. Em investigação feita em 2006 por Isabel Leme, da Universidade de São Paulo (USP),

com 4 mil estudantes das redes públicas e privada de São Paulo, mais de 50% dos

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pesquisados afirmaram que os conflitos aumentaram mesmo nas escolas que estão cada vez

mais rígidas. No Projovem Urbano, o uso da farda é um instrumento de segurança, pois

permite identificar quem é ou não aluno do programa, já a proibição do uso do boné está

relacionado ao transporte de substâncias proibidas como também do cigarro para dentro da

escola.

Atos de violência acontecem e vem se agravando, tomando dimensões imensas, de tal

maneira que nem a escola nem a família conseguem solucionar esse problema, sendo

essencial saber como o ser humano se desenvolve moralmente para se detectar as raízes da

indisciplina. Talvez mais do que falar na juventude como fator de risco, faça sentido pensar

nos fatores de risco para os jovens hoje. Soares (2004, p. 138) menciona alguns fatores

trabalhados por autores em suas pesquisas:

A adolescência é uma época especialmente difícil da vida. Isso se aplica a todos. Mas é claro que tudo se complica e fica muito mais difícil quando às vicissitudes da idade somam-se problemas como a rejeição em casa, vivida à sombra do desemprego, do alcoolismo e da violência doméstica, e a rejeição fora de casa – a rejeição vivida em casa, por vezes, estende-se ao convívio com uma comunidade pouco acolhedora e se prolonga à escola, que não encanta, não atrai, não seduz o imaginário jovem e não valoriza seus alunos.

Podemos considerar como atos de indisciplina na escola atitudes do aluno, como por

exemplo: falar ao mesmo tempo em que o professor atrapalhando as aulas; responder com

grosserias; brigar com outros alunos ou mesmo entre professor e aluno; bagunçar; ser

desobediente; não fazer as tarefas escolares (OLIVEIRA, 1996), reações que contrariam as

normas vigentes na escola ou que representam atentados contra a moral, a autoridade, a

ordem, o espírito e as tradições da instituição.

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5. Procedimentos Metodológicos

O estudo sobre a indisciplina no processo do ensino aprendizagem em turmas do

Projovem Urbano foi norteado por uma pesquisa de campo numa abordagem quantitativa e

qualitativa. A escolha deste universo se justifica pelo fato de ser o espaço de atuação

profissional, onde se encontra alunos marcados pela exclusão e, portanto, mais propenso às

ações indisciplinares. Por outro lado, a facilidade do acesso, na condição de professora, às

turmas do Projovem Urbano também concorreu para essa escolha.

A pesquisa sobre a indisciplina no processo de ensino aprendizagem nas turmas do

Projovem Urbano foi realizada em dois núcleos do Projovem, localizados no Bairro do Ibura

e o período para a pesquisa e análise dos dados ocorrerá entre os meses de fevereiro e março

de 2010.

O instrumento para a coleta de dados será um questionário (anexo), com questões

objetivas e abertas versando sobre a vivência do aluno. O universo para o desenvolvimento da

pesquisa foram dois Núcleos do projovem ambos situados no Bairro do Ibura, com cinco

turmas. Os sujeitos da pesquisa foram os alunos, de ambos os sexos, matriculados nas várias

turmas dos dois referidos núcleos. Os instrumentos de coleta de dados foram documentais e

bibliográficos. O questionário foi baseado no método estatístico de amostragem aleatória

simples e foi aplicado após consulta aos alunos sobre seu interesse em responder a pesquisa,

totalizando 40 questionários. Entretanto, neste estudo, foram considerados 34 questionários

aplicados a alunos nas diversas turmas, pois os demais (6) foram devolvidos sem respostas ou

incompletos, somente a questão referente aos dados de identificação foi respondida. A

apuração e análise seguem o roteiro segundo a sequência do instrumento considerado: as

categorias trabalhadas como Projovem Original, Urbano e a Indisciplina na sala de aula.

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6. Apuração e Discussão dos Resultados

As respostas colhidas através do questionário foram agrupadas e nos deram uma visão

limitada do problema em questão, a indisciplina, levando-se em consideração a complexidade

do tema. Porém foi oportuno para o confronto das informações colhidas e principalmente para

nortear a pesquisa e suscitar idéias na busca de soluções.

A seguir apresentamos os gráficos correspondentes às questões na ordem em foram

respondidas e teceremos nossos comentários. As questões iniciais referem-se à identificação

do aluno pesquisado.

Gráfico 1: SEXO

Sexo

24%

76%

Masculino

Feminino

Analisando a primeira questão referente ao sexo dos participantes da pesquisa: 76 %

responderam ser do sexo feminino e 24 % do sexo masculino. Isso demonstra que nas turmas

do Projovem Urbano predomina um público feminino. Percebe-se um maior interesse do

público feminino em busca de mais conhecimentos para tornar-se assim, mais capacitado para

o mercado de trabalho, que está mais exigente, no mínimo o ensino fundamental, como

também referente a qualificação profissional e como conseqüência a independência

financeira.

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Gráfico 2: FAIXA ETÁRIA

Idade

12%

29%

59%

18 a 24

21 a 24

25 a 29

Na questão referente à faixa etária, obtivemos os seguintes percentuais: 12 % dos

alunos pesquisados se encontram com idade entre 18 e 20 anos; 29 %, entre 21 e 24 anos e 59

% responderam estar na faixa etária entre 25 e 29 anos. As respostas a essa questão indicam

que a maioria dos estudantes que procuram o Projovem Urbano está numa faixa de idade mais

próxima ao limite aceito pelo programa, e que, provavelmente, a maior parte dos pesquisados

está afastada da sala de aula por um tempo mais longo, sendo assim, a necessidade de uma

qualificação profissional, exigida pelo mercado de trabalho, e a proposta do Programa torna-

se atraente, além do estímulo financeiro.

Gráfico 3: ESTADO CIVIL

Estado Civil

58%

18%

24%

Solteiro

Casado

Outros

As respostas à questão referente ao estado civil mostraram que 58% são solteiros;

18% casados; e 24% encontram- se em outra situação. Podemos supor desses resultados que a

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maioria dos jovens alunos do Projovem são aqueles que dispõem de mais tempo, uma vez que

ainda não assumiram responsabilidades com família, apesar de que a maioria das solteiras são

mães, mas que dividem com a família a responsabilidade do(s) filho(s). Também podemos

inferir que esses são alunos que podem investir mais na qualificação profissional oportunizada

pelo Projovem Urbano, atendendo as necessidades vivenciadas por eles quando da procura de

emprego.

No segundo conjunto de questões, as perguntas versaram sobre indisciplina. Foram

duas questões objetivas e duas abertas. Vejamos os gráficos referentes às respostas obtidas:

Gráfico 4: EXISTÊNCIA DA INDISCIPLINA NA SALA DE AULA

Indisciplina nas Salas

82%

18%

Sim

Não

Quando questionados sobre a existência de indisciplina nas salas de aula do Projovem

Urbano, 18 % dos alunos responderam “não”, ou seja, negaram haver tal existência. Já 82 %

dos projoveanos, como são conhecidos, responderam “sim”, confirmando a indisciplina. Isso

reflete a concepção de indisciplina desses alunos, visto que trazem para a sala de aula os

valores e atitudes que foi aprendido durante sua vida e que pode ser um reflexo da ausência de

condições para uma adequada educação familiar, podendo surgir também como uma

alternativa do seu insucesso escolar, procurando deste modo valorizar a sua relação com os

outros.

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Gráfico 5: RESPONSABILIDADE NA INDISCIPLINA NO PROJOVEM

Sobre a parcela de responsabilidade do aluno na indisciplina ocorrida na sala de aula

no Projovem Urbano; 82% responderam que “não” são responsáveis pela indisciplina e 18%

disseram que “sim”, assumindo seus próprios atos. A imaturidade, a vadiagem, a desatenção, a

incapacidade de fixação, o baixo rendimento escolar, a agressividade contribuem para a

efetivação da indisciplina na sala de aula por uma minoria, sendo necessária uma linguagem

adequada por parte do professor capaz de alterar alguns comportamentos.

Responsabilidade na Indisciplina

18%

82%

SimNão

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Gráfico 6: CAUSAS DA INDISCIPLINA NA SALA DE AULA DO PROJOVEM

Causas que contribuem para a indisciplina na sala de aula

31%

21%

15%

12%

6%

6%

6%3%

Falta de responsabilidade do próprio alunoFalta de educação e de princípios dos alunosFalta de rigidez do professorNenhuma causaFalta de infra estrutura (água, ventiladores)Alunos com interesse apenas no dinheiroFalta de comprometimento da coordenaçãoFormação de grupos (más companhias)

Quando pesquisados foram indagados sobre o que contribui para que os alunos do

Projovem sejam indisciplinados na sala de aula: 31% responderam que se tratava de falta de

responsabilidade do próprio aluno; 21% atribuíram a indisciplina à falta de educação e

princípios dos alunos; 15% afirmaram ser a falta de rigidez do professor que contribui para a

indisciplina dos alunos; 12% não citaram nenhuma causa; 6% associaram a indisciplina à falta

de infraestrutura (água, ventiladores); 6% relacionaram a indisciplina ao interesse apenas no

auxílio financeiro do programa; 6% à falta do comprometimento da coordenação; e ainda 3%

citaram a formação de grupos (más companhias). No que se refere as causas da indisciplina

nota-se um total de 61%, alegaram que os próprios alunos são os responsáveis pelos atos

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indisciplinares. Em relação a falta de rigidez por parte do professor, o aluno mais responsável

acredita que os indisciplinados deveriam ser castigados ou expulsos do programa o que foge

ao princípio de inclusão, que é uma proposta inovadora no contexto do Projovem Urbano.

Gráfico 7: COMO DIMINUIR A INDISCIPLINA NO PROJOVEM

Ações para diminuir a indisciplina na sala de aula

37%

24%

12%

12%

6%

6%3%

Trabalhar para uma maior conscientização dos alunosMaior rigidez do professorMelhorar as condições de trabalhoPromover maior diálogo entre os alunosAumentar a carga horária dos arcosMelhorar as aulas e tratar de assuntos polêmicosTer um responsável para controle fora da sala de aula

Analisando o item referente ao que pode ser feito para diminuir a indisciplina na sala

de aula do Projovem: 37% dos alunos responderam que para diminuir a indisciplina, os

professores deveriam trabalhar mais na conscientização dos alunos; 24% apontaram maior

Page 32: Monografia - A indisciplina no processo de ensino aprendizagem em turmas do projovem urbano - Zuilca Travassos Aguiar

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rigidez do professor; 12% melhorar as condições de trabalho; 12% promover maior diálogo

entre os alunos; 6% aumentar a carga horária dos arcos; 6% melhorar as aulas e tratar os

assuntos polêmicos; e 3%, a necessidade de ter um responsável, para controle, fora das salas

da aula. Apesar de haver um trabalho de conscientização por parte dos professores, durante

todo programa, em relação aos deveres, direitos, sempre apontando o “certo” e o “errado”, o

índice maior das respostas foi indicando a conscientização como solução para a indisciplina;

diante da conscientização ser um fato contínuo no Projovem, se percebe que os alunos não

diferenciam as atitudes corretivas dos professores numa linguagem adequada, das repressões

ou sansões da escola normal; melhorar as condições de trabalho, seria melhorar as salas de

aula no sentido de torná-las mais ventiladas; o aumento da carga horária dos arcos seria, ao

modo dos alunos, o que eles acham de mais inovador no programa e vibram com as aulas

práticas por exemplo; e os temas polêmicos são discutidos no dia a dia, nas aulas.

Gráfico 8: AVALIAÇÃO DO HORÁRIO DAS AULAS DO PROJOVEM

Na questão referente a opinião dos alunos sobre o seu cotidiano do Projovem Urbano

nos Núcleos, conforme se pode observar no gráfico acima, em relação ao horário das aulas,

65% responderam bom, 29% ótimo, 6% regular e nenhum respondeu deficiente. Pode-se

considerar que em relação ao horário das aulas a aceitação é ampla, chegando a 94%.

Horário das Aulas

29%

65%6%

0%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

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GRÁFICO 9: AVALIAÇÃO DO TEMPO DE DURAÇÃO DO CURSO

Tempo de Duração do Curso

35%

35%

18%

12%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

Já em relação ao tempo de duração do curso, que são dezoito meses, 35% disseram

achar ótimo, 35% bom, 18% regular e 12% deficiente. É interessante verificar que 70%

avaliaram a duração do curso como ótimo e bom, levando a entender que os dezoito meses é

um tempo reconhecidamente aceitável pelos alunos.

Condições das Salas

12%

18%

46%

24%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

Quando questionados sobre as condições físicas das salas de aula, 46% dos alunos

acharam que são regulares, 24% deficientes, 18% boas e 12% as consideraram ótimas. Neste

item se percebe que a falta de ventilação, de espaço e cadeiras mais confortáveis,

contribuíram para que só uma minoria respondesse ótima.

Page 34: Monografia - A indisciplina no processo de ensino aprendizagem em turmas do projovem urbano - Zuilca Travassos Aguiar

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Forma de Ministrar as Aulas

82%18%

0%

0%

ÓtimoBomRegularDeficiente

Quanto à forma do professor de ministrar as aulas, 82% responderam ótimo, 18%

bom, 0% regular e 0% deficiente. Com essa totalidade de ótimo e bom, fica visível que os

profissionais estão habilitados, que se enquadram no perfil exigido pelo programa, e que a

formação continuada concorre para o êxito do programa.

Sistema de Avaliação

47%

47%

6%

0%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

No que diz respeito ao sistema de avaliação (prova), 47% acharam ótimo, 47% bom,

6% regular e 0% deficiente, isto significa uma aprovação de 94%.

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Qualificação Profissional

59%

29%

6%

6%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

Em relação a qualificação profissional, 59% dos alunos acharam ótimo, 29% bom, 6%

regular e 6% a consideraram deficiente. Se percebe que 88% dos pesquisados consideram

ótimo ou bom a metodologia empregada nas aulas de qualificação profissional. Entre os 12%

que optaram pelas respostas regular e deficiente, entende-se que eles esperavam sair

profissionalizados já que o propósito do programa é que o aluno tenha uma iniciação

profissional.

Formação Básica

53%

47%

0%

0%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

Quando os alunos foram solicitados a avaliar à formação básica, 53% disseram achar

ótimo, 47% bom, 0% regular e 0% deficiente. Podemos verificar um dado extremamente

importante que retrata a percepção dos alunos em relação as aulas de formação básica. Os

dados mostram que 100% dos pesquisados, avaliaram como ótimo ou bom o desempenho da

Page 36: Monografia - A indisciplina no processo de ensino aprendizagem em turmas do projovem urbano - Zuilca Travassos Aguiar

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formação básica. Dois pontos merecem destaque para o resultado alcançado, o compromisso

efetivo do professor como agente transformador capaz de incentivar e despertar o interesse

dos alunos e a riqueza do conteúdo do material utilizado no programa.

Participação Cidadã

35%

59%

6%

0%

Ótimo

Bom

Regular

Deficiente

Finalmente, os alunos pesquisados deram sua opinião sobre a participação cidadã.

Neste item, obtivemos os seguintes índices: 59% acharam bom, 35% ótimo, 6% regular e 0%

deficiente. Mais uma vez deu a entender que o Projovem Urbano tem alcançado todas as

metas, o que mostra a eficiência do programa. 94% dos alunos avaliaram como ótimo ou bom

as aulas de participação cidadã, organização e execução do PLA (plano de ação comunitária),

mostrando assim, uma melhoria do nível de conscientização.

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7. Considerações Finais

São muitos os casos em que alunos do Projovem Urbano são tomados como

indisciplinados. Ouvimos sempre de profissionais como policiais, algumas “gestoras” de

escolas, entre outros, que os projoveanos são vulneráveis ao crime. Daí é possível perceber

que a vulnerabilidade é resultante de um processo que envolve vários fatores e não pode ser

atribuída apenas aos alunos do Projovem Urbano que são vítimas da exclusão social, e que

precisam estabelecer uma luta constante para serem reconhecidos. As desigualdades sempre

estiveram presentes na história da sociedade brasileira. A pobreza é a conseqüência das

desigualdades e sempre representou uma ameaça.

Como dissemos, a indisciplina é vista como um dos principais problemas enfrentados

pelos professores das escolas públicas, privadas e também no Projovem Urbano e sempre vai

existir. Por isso, nossa preocupação, nesta pesquisa, foi investigar o que pensam os jovens que

procuram esse programa de inclusão sobre esse tema. Sabemos que se trata de um público

especial, marcado pela exclusão e, portanto, mais propenso às ações indisciplinares. Também

sabemos que tais ações refletem a realidade vivenciada pelos alunos, seu histórico social, sua

família, as relações com outros grupos sociais, o acesso aos estímulos de consumo pelos

meios de comunicação, etc. Portanto, não admira o fato do público do Projovem Urbano ser

formado por pessoas afastadas da escola há um bom tempo, por diversas razões, e sentem que

o programa serve de resgate a esse tempo perdido como também como forma de procurar

atender as exigências do mercado de trabalho que a cada dia aumenta mais.

Por outro lado, o Projovem Urbano tem como objetivo oferecer oportunidade para que

os jovens experimentem novas formas de interação, se apropriem de novos conhecimentos,

reelaborem suas próprias experiências e sua visão de mundo e, ao mesmo tempo, se re-

posicionem quanto à sua inserção social e profissional.

De acordo com os resultados de nossa pesquisa, podemos dizer que o público do

Projovem Urbano é na sua maioria pessoas do sexo feminino, com idade entre 25 a 29 anos e

solteiras, sendo que um grande número tem filhos. Os resultados da nossa investigação

também mostraram que 82% dos alunos pesquisados admitem a existência da indisciplina nas

salas de aula, isso reflete a concepção de indisciplina por parte desses alunos. Já sobre as

causas atribuídas para a ocorrência de ações desse tipo, as respostas foram bem diversificadas.

Percebemos que os alunos reconhecem na sua maioria (61%) que a indisciplina é

causada por eles próprios e que 15% alegam que a falta de rigidez por parte dos professores

Page 38: Monografia - A indisciplina no processo de ensino aprendizagem em turmas do projovem urbano - Zuilca Travassos Aguiar

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também tem influência no mau comportamento dos alunos. Esses esperam que o professor

seja extremamente severo na resolução de conflitos na sala de aula, retomando o

autoritarismo, o que hoje não se sustenta mais. Para diminuir a indisciplina, é muito

interessante observar as sugestões dadas por parte dos pesquisados, e na medida do possível,

introduzi-las no curso como forma de amenizar os atos indisciplinares, como por exemplo,

melhorar as condições de trabalho, certamente é uma referência às condições das salas de

aula.

Quanto à avaliação do programa por parte dos alunos, a nossa análise apontou para os

seguintes resultados: que quase a totalidade dos pesquisados aprovam o horário das aulas,

como também a duração de dezoito meses do curso; não sendo o mesmo que acontece em

relação às instalações físicas das salas de aula, onde a falta de ventilação é alvo de constantes

reclamações. De acordo com os alunos que participaram da nossa pesquisa, 100 % apontaram

como ótima e boa a forma que os professores ministram suas aulas, ficando registrado que o

empenho de cada profissional é fundamental para o êxito do programa e para isso, a formação

continuada exerce grande influência. O sistema de avaliação e as provas também tiveram uma

aceitação excelente. Em relação a qualificação profissional, os alunos sugerem uma carga

horária maior, demonstrando a carência sentida por eles.

No tocante a falta de profissionalização e o não entendimento que o Projovem Urbano

oferece uma iniciação profissional, quando solicitados para que avaliassem a formação básica,

todos os participantes da pesquisa acharam ótimo e bom, demonstrando dessa forma a

necessidade do ensino fundamental na vida de cada um. A avaliação da participação cidadã

também foi aprovada pelos alunos, o que pode ser analisado como uma prova de

demonstração da satisfação na execução de ações nas comunidades.

Interessante observar que a pesquisa revelou que o Projovem Urbano tem alcançado o

seu objetivo maior que é a formação básica, com a conclusão do ensino fundamental e levado

os jovens a reinserção escolar ao mesmo tempo em que oferece uma iniciação na qualificação

profissional, a participação cidadã como forma de acesso dos jovens à cultura e inclusão

digital, pois, na nossa avaliação, a indisciplina está presente no Projovem Urbano, assim

como, está presente em qualquer outra instituição de ensino regular, seja pública ou privada.

Por fim, esperamos ter contribuído para a discussão sobre a indisciplina gerada em

diversas situações, muitas das quais de grandes desigualdades entre os jovens brasileiros, que

possuem necessidades diferentes e que devem ser consideradas na criação de políticas

públicas para garantir o bem estar e a inclusão social desses jovens, minimizando seu

envolvimento em situação de risco. Esperamos também que a indisciplina existente no

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Projovem Urbano deixe de ser vista como esse enorme fantasma que assombra gestores,

professores iniciantes, salas de aula e a população mais favorecida economicamente e seja

entendida como o que de fato é: uma manifestação natural de jovens.

Esperamos ainda que novas pesquisas possam ser realizadas no Projovem Urbano em

continuidade a esta investigação, pois o grande desafio da sociedade moderna é a educação.

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8. Referências

Congresso Nacional. Constituição Federal de 1988.

Congresso Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96.

Brasil: Lei do Plano Nacional de Educação – Lei Nº 10.172/01.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6ª Ed.

São Paulo: Paz e Terra.

SOARES, Leôncio José Gomes, A Educação de Jovens e Adultos: momentos históricos e

desafios atuais. Revista Presença Pedagógica, v. 2, Nº 11, Dimensão, set/out 1996.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Educação no Brasil anos 60. O pacto do silêncio. São

Paulo: Loyola, 1988 (1985). 126 p.

LOPES, Eliana Marta. 500 anos de educação no Brasil. 2ª ed. Belo Horizonte, Autêntica,

2000.

Cadernos de Educação Popular Nº 10 e 11. Produção discente. Centro de Educação UFPB.

Programa de Pós Graduação em Educação.

FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1999.

VICHESSI, Beatriz. O que é indisciplina? IN: Nova Escola, 10/2009. Ed. Abril.

Revista de Administração Educacional. V 2, n. 8, jan/jun., 2008. Recife: UFPE. Ed,

Universitária.

AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina – o contraponto das escolas democráticas. 1ª ed. Ed.

Moderna, 2003.

AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 3ª ed.

Ed.Summus, São Paulo, 1996.

www.portal.mec.gov.br

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40

www.pedagogiaemfoco.pro.br

www.fe.usp.br/netnomat/PauloFreirePortugues.htm

www.monografias.brasilescola.com/educação

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9. Anexos

Questionário

Prezado aluno, solicito-lhe a gentileza de responder a este questionário da pesquisa da

minha Monografia do Curso de ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EDUCACIONAL E

POLÍTICA DE JUVENTUDE sobre o tema: A Indisciplina e suas conseqüências no processo

de ensino aprendizagem em turmas do Projovem Urbano. Espero contar com a sua

colaboração para a realização deste trabalho.

1. Dados de identificação Sexo Masculino ( ) Feminino ( ) Idade 18 a 20 ( ) 21 a 24 ( ) 25 a 29 ( ) Estado Civil Solteiro ( ) Casado ( ) Separado ( ) Outra situação ( ) 2. Dados Sobre Indisciplina 2.1. Você concorda que existe indisciplina no contexto do Projovem?

Sim ( ) Não ( )

2.2. Você tem alguma responsabilidade na indisciplina que ocorre no Projovem? Sim ( ) Não ( ) 2.3 Quais são as causas, na sua opinião, que contribui para o aluno do Projovem ser

indisciplinado na sala de aula?

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2.4 Na sua opinião, o que pode ser feito para diminuir a indisciplina na sala de aula do

Projovem?

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-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

2.5. Como você avalia as aulas do Projovem no que se refere a:

Itens Ótimo Bom Regular Deficiente

Horário das aulas

Tempo de duração do Curso

Condições das salas de aula

Forma do professor ministrar as aulas

Sistema de avaliação (prova)

Qualificação profissional

Formação Básica

Participação Cidadã

Muito Obrigada.