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Os Júbilos Planetários e a Origem do Significado das Casas e das Triplicidades Chris Brennan http://www.chrisbrennanastrologer.com/ Traduzido por: Lucas Barreto Resumo A finalidade deste trabalho é a demonstração de um plano, previamente desconhecido, que se faz presente de forma velada nos conceitos fundamentais da astrologia helenística. Eu vou demonstrar como esse esquema amarra diversos conceitos astrológicos fundamentais e, finalmente, mostra-se como motivo para alguns significados das casas astrológicas, assim como a lógica por detrás da associação dos quatro elementos aos signos zodiacais 1 . Os Júbilos Textos astrológicos escritos na região do Mediterrâneo entre o século I a.C. e o século VII d.C. frequentemente fazem referências a um arranjo que associa cada um dos sete planetas clássicos com uma das doze “casas” ou “lugares” (topoi). A casa com a qual cada planeta foi associado era chamada de lugar da sua “alegria”, onde ele teria o seu “júbilo”. Para o efeito deste artigo, esse esquema será chamado de sistema de júbilos planetários. De acordo com a maioria dos autores 2 , os júbilos dos planetas são os seguintes: O Sol se alegra na casa 9. A Lua se alegra na casa 3. Júpiter se alegra na casa 11. Vênus se alegra na casa 5. Marte se alegra na casa 6. Saturno se alegra na casa 12. Mercúrio se alegra na casa 1. Os júbilos parecem ter sido a base de uma convenção através da qual nomes foram dados a algumas das casas. Ao invés de se referir às casas pela posição numérica que elas possuíam relativamente ao ascendente (e.g. “casa 5”), elas são, algumas vezes, referidas por nomes 1 As descobertas apresentadas neste trabalho são, em grande parte, o resultado de uma série de discussões entre Chris Brennan e Benjamin Dykes que ocorreram em abril de 2012. Os resultados dessas descobertas foram apresentados publicamente em uma palestra feita por Brennan intitulada Hellenistic Astrology as a Study of Fate na “United Astrology Conference”, em Nova Orleans, Louisiana, no dia 27 de maio de 2012. Eu gostaria de agradecer a Charles Obert, Scott Silverman, Austin Coppock e Maria Mateus pelas conversas que tivemos depois das descobertas iniciais. Eu também quero dar o meu reconhecimento a Robert Schmidt pelos seus comentários sugestivos sobre os regentes das triplicidades e as tríades angulares. Katarche: 25 de dezembro, 2012, 2:38 PM, Denver, Colorado. (Este artigo foi originalmente publicado no “International Society for Astrology Journal”, Vol. 42, No. 1, April 2013.) 2 As fontes primárias dos júbilos são Paulus, Introduction, 24; Olympiodorus, Commentary, 23; Firmicus, Mathesis, 2, 15-19; Rhetorius, Compendium, 54. O único autor que parece seguir um arranjo diferente é Manilius, que será discutido abaixo. 1

Astrologia: Os júbilos planetários

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Astrology Astrologia Helenística júbilos planetários Chris Brennan Lucas Barreto Origem da Astrologia

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Page 1: Astrologia: Os júbilos planetários

Os Júbilos Planetários e a Origem do Significado das Casas e das Triplicidades

Chris Brennanhttp://www.chrisbrennanastrologer.com/

Traduzido por: Lucas Barreto

Resumo

A finalidade deste trabalho é a demonstração de um plano, previamente desconhecido, quese faz presente de forma velada nos conceitos fundamentais da astrologia helenística. Euvou demonstrar como esse esquema amarra diversos conceitos astrológicos fundamentaise, finalmente, mostra-se como motivo para alguns significados das casas astrológicas, assimcomo a lógica por detrás da associação dos quatro elementos aos signos zodiacais1.

Os Júbilos

Textos astrológicos escritos na região do Mediterrâneo entre o século I a.C. e o século VIId.C. frequentemente fazem referências a um arranjo que associa cada um dos sete planetasclássicos com uma das doze “casas” ou “lugares” (topoi). A casa com a qual cada planeta foiassociado era chamada de lugar da sua “alegria”, onde ele teria o seu “júbilo”. Para o efeitodeste artigo, esse esquema será chamado de sistema de júbilos planetários.

De acordo com a maioria dos autores2, os júbilos dos planetas são os seguintes:

O Sol se alegra na casa 9.

A Lua se alegra na casa 3.

Júpiter se alegra na casa 11.

Vênus se alegra na casa 5.

Marte se alegra na casa 6.

Saturno se alegra na casa 12.

Mercúrio se alegra na casa 1.

Os júbilos parecem ter sido a base de uma convenção através da qual nomes foram dados aalgumas das casas. Ao invés de se referir às casas pela posição numérica que elas possuíamrelativamente ao ascendente (e.g. “casa 5”), elas são, algumas vezes, referidas por nomes

1As descobertas apresentadas neste trabalho são, em grande parte, o resultado de uma série de

discussões entre Chris Brennan e Benjamin Dykes que ocorreram em abril de 2012. Os resultadosdessas descobertas foram apresentados publicamente em uma palestra feita por Brennan intituladaHellenistic Astrology as a Study of Fate na “United Astrology Conference”, em Nova Orleans,Louisiana, no dia 27 de maio de 2012. Eu gostaria de agradecer a Charles Obert, Scott Silverman,Austin Coppock e Maria Mateus pelas conversas que tivemos depois das descobertas iniciais. Eutambém quero dar o meu reconhecimento a Robert Schmidt pelos seus comentários sugestivossobre os regentes das triplicidades e as tríades angulares. Katarche: 25 de dezembro, 2012, 2:38 PM,Denver, Colorado. (Este artigo foi originalmente publicado no “International Society for AstrologyJournal”, Vol. 42, No. 1, April 2013.)2

As fontes primárias dos júbilos são Paulus, Introduction, 24; Olympiodorus, Commentary, 23;Firmicus, Mathesis, 2, 15-19; Rhetorius, Compendium, 54. O único autor que parece seguir umarranjo diferente é Manilius, que será discutido abaixo.

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específicos3. Os nomes mais comuns associados às casas, na tradição helenística, são osseguintes:

A casa 9 é chamada de “Lugar de Deus” ou, simplesmente, “Deus” (Theos).

A casa 3 é chamada de “Deusa” (Thea).

A casa 11 é chamada de “Bom Espírito” (agathos daimōn).

A casa 5 é chamada de “Boa Fortuna” (agathe tuchē).

A casa 6 é chamada de “Má Fortuna” (kakē tuchē).

A casa 12 é chamada de “Mau Espírito” (kakos daimōn).

A casa 1 é chamada de “Leme” (oiax), fazendo referência ao leme de um navio.

Às outras casas, ocasionalmente, também eram dados nomes, apesar destes não estaremdiretamente relacionados com os júbilos, já que nenhum planeta se alegra nelas:

A casa 2 era chamada de “Portão do Hades” (Haidou pulē).

A casa 8 era chamada de “Lugar Inativo” (argos).

A casa 10 era chamada de “Meio do Céu” (mesouranēma).

A casa 7 era chamada de “Poente” (dusis).

A casa 4 era chamada de “Lugar Subterrâneo” (hupogeion).

Os nomes dados para as casas 10, 7 e 4 são puramente descritivos da posição das mesmas,em termos astronômicos. No entanto, o nome de muitas das outras casas não possuinatureza astronômica e parece estar associado ao planeta que se alegra em cada umadessas casas.

Por exemplo, é dito que a casa 9 é a casa de Deus e que a casa 9 é o júbilo do Sol.Opostamente a esta casa, temos a casa 3, que é chamada de Deusa, e é nesta casa que aLua se alegra. Os dois planetas benéficos, Vênus e Júpiter, estão associados às duas boascasas, que são a casa da Boa Fortuna e a casa do Bom Espírito, respectivamente. De formaanáloga, os dois planetas maléficos, Marte e Saturno, estão associados às duas casasmaléficas, que são as casas da Má Fortuna e do Mau Espírito, respectivamente.

Essa associação bastante próxima entre o nome de certas casas e o significado astrológicodos planetas que se alegram nas mesmas parece indicar que existe uma relação entre osdois conceitos. Essa ligação pode ser confirmada pelo Firmicus Maternus, astrólogo doséculo IV d.C., que, em um dado ponto do seu Mathesis, disse que a casa 5 “é chamada deBoa Fortuna porque é a casa de Vênus.”4 De forma semelhante, ele diz que a casa 6 échamada de Má Fortuna “porque é a casa de Marte.”5 Mais na frente, no mesmo século,Paulus Alexandrinus chamou a casa 3 de “casa da Lua”, a 5 de “casa de Vênus”, a 6 de “casade Marte” e assim por diante6.

A Datação dos Júbilos

A ligação que existe entre os júbilos e o nome das casas é importante porque ela nosfornece uma informação crucial para que possamos ter uma ideia da antiguidade dos

3Para consultar o nome das casas, ver Firmicus, Mathesis, 2, 15-17; Paulus, Introduction, 24; Sextus,

Againstthe Professor, V: 15-20; Valens, Anthology, 2, 16: 14

Firmicus, Mathesis, trad. Holden, 2, 21: 6. Ênfase adicional5

Firmicus, Mathesis, trad. Holden, 2, 21: 7. Ênfase adicional6

Paulus, Introduction, 24. Rhetorius faz afirmações semelhantes no capítulo 57 do seu compêndio

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Diagram 2:Joys and Angular Triads

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júbilos e determinar o quanto a sua utilização era difundida na astrologia helenística7. Parafazer isso, consideraremos que a doutrina dos júbilos é mencionada de forma implícita emqualquer lugar onde o nome das casas é mencionado, já que parece que os dois conceitosestão interligados.

Os júbilos aparecem muito cedo no que sobrevive da tradição helenística de astrologia. Asduas referências datáveis mais antigas encontram-se nos escritos de Thrasyllus e Manilius,dois contemporâneos das primeiras décadas do século I d.C.

Somente um resumo do tratado astrológico de Thrasyllus, chamado Tabela (Pinax),sobreviveu até hoje8. Nesse resumo, há um trecho em que Thrasyllus discute o significadodas casas e, então, refere-se à casa 12 como o “Mau Espírito”, à 6 como a “Má Fortuna”, à 5como “Boa Fortuna” e à 11 como “Bom Espírito” – esses são exatamente os lugares dejúbilo dos maléficos e benéficos. Quando ele menciona alguns dos nomes dessas casas,Thrasyllus cita outro texto atribuído a Hermes Trismegistus. Como nós sabemos queThrasyllus morreu no ano 36 d.C., temos que presumir que o texto no qual ele estava sebaseando, que era atribuído a Hermes, foi escrito algum tempo antes, provavelmente noséculo I a.C.9 Depois de Thrasyllus, praticamente todo astrólogo, cujo trabalho tenhasobrevivido até hoje, faz menção aos júbilos planetários de uma forma ou de outra, oureferindo-se a eles de forma direta, ou indireta, através do nome das casas, que é associadoaos júbilos10.

Manilius é o único autor antigo que descreveu um esquema alternativo para os júbilos, noqual Vênus se alegra na casa 10, ao invés de na 5, e Saturno se alegra na casa 4, ao invés dena 1211. Infelizmente, como o texto de Manilius é o único que apresenta essa variação, nãofica claro se esse arranjo representa uma genuína variação na tradição ou, simplesmente,um erro de transmissão textual, ou, ainda, uma adição idiossincrática do próprio Manilius.Argumentos pró e contra a consideração dessas variações colocadas por Manilius como umsistema legítimo foram defendidos por diferentes estudiosos nas últimas duas décadas12.

Os Padrões Básicos do JúbilosDos muitos padrões presentes no arranjo dos júbilos, existem dois que se destacam àprimeira vista. O primeiro deles está relacionado à doutrina das seitas.

7Para o efeito deste artigo, “Astrologia Helenística” é definida como o tipo de astrologia que

originou-se no Mediterrâneo por volta do século I a.C. e estendeu-se até aproximadamente o séculoVII d.C.8

Um resumo do Table de Thrasyllus está disponível no Catalogus Astrologorum Graecorum (daquiem diante, CCAG), Vol. 8, Parte 3 ed. Petrus Boudreaux, Bruxelas, 1912, pg. 99-101.9

Para a datação de Thrasyllus, consultar Pingree, Yavanajataka, Vol. 2, p. 444.10

As fontes principais dos júbilos são: Paulus, Introduction, 24; Olympiodorus, Commentary, 23;Firmicus, Mathesis, 2 , 15-19; Rhetorius, Compendium, 54. Existem algumas referências aos júbilosespalhadas em Valens, Anthology, 2, 5-16, e Dorotheus se referiu duas vezes à terceira casa como ojúbilo da Lua em Carmen, 1, 5: 3 & 1, 10:28. Referências indiretas aos júbilos via os nomes das casas,ver: Sextus, Against the Professors, V:15-20; Ptolomeu, Tetrabiblos, 3, 11; 4, 6; 4, 7; Hephaistio,Apotelesmatika, 1, 12; Michigan Papytus, Col. ix:12-19.11

Manilius, Astronomica, 2: 918-93812

Deborah Houlding argumentou a favor de considerar o sistema de júbilos colocado por Maniliuscomo sendo o genuíno no seu livro de 1998 The Houses: Templesofthe Sky, baseando-se,principalmente, na sua antiguidade (p.35). Por outro lado, Robert Schmidt desconsiderou asavaliações de Manilius sobre as casas por ser “pouco claro” e “bizzaro”, em termos do contexto doresto da tradição helenística, e questionou o argumento de Houlding, citando Thrasyllus como sendouma fonte mais confiável. Ver Schmidt, Facets of Fate, p.126, fn. 11.

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De acordo com essa doutrina, os planetas estão divididos em duas “facções” ou “seitas”(hairesis). Existe a seita do dia, ou diurna, que é liderada pelo Sol, e a seita da noite, ounoturna, que é liderada pela Lua. Os planetas clássicos são, então, divididos entre essasduas seitas, com cada seita tendo um benéfico e um maléfico. Júpiter e Saturno juntam-seao Sol como planetas diurnos, enquanto Vênus e Marte juntam-se à Lua como planetasnoturnos. Mercúrio é tido como neutro, podendo ser da seita diurna, quando for umaestrela matutina, ou da seita noturna, quando for uma estrela vespertina.13

Um dos padrões que fica imediatamente evidente na distribuição dos planetas no sistemade júbilos é o fato de que os três planetas diurnos são colocados juntos no hemisfériosuperior do mapa, acima da Terra. Isso parece estar associado a outra doutrina que temligação com as seitas, na qual é dito que planetas diurnos alegram-se acima da Terra,durante o dia, e abaixo dela, durante a noite; e, reciprocamente, os noturnos alegram-sedebaixo da Terra, durante o dia, e acima dela, durante a noite.14 Mercúrio, que pode fazerparte tanto da seita diurna quanto da noturna, alegra-se na casa 1, que é uma das duasúnicas casas onde o planeta pode estar em qualquer um dos dois lados do horizonte eainda estar na mesma casa (devido ao uso do sistema casa-signo na tradição helenística).15

Além desse padrão associado às seitas, é notável que os luminares, os benéficos e Mercúrioalegram-se nas chamadas “boas casas”, que estão configuradas com o signo ascendenteatravés de um dos aspectos clássicos (i.e. conjunção, sextil, quadratura, trígono e oposição),enquanto os dois maléficos alegram-se nas duas “casas más”, que não fazem aspecto aoascendente16.

Esses padrões simbólicos são bastante simples por serem oriundos de conceitos básicos,mas, recentemente, descobri algumas associações adicionais que ligam os júbilos a diversosoutros conceitos da astrologia helenística. Eles serão discutidos abaixo.

O Mistério Arredor dos Elementos e dos Signos

Durante os últimos 20 anos, houve um ar de mistério em torno de como os quatroelementos clássicos chegaram a ser associados a cada um dos signos nas tradiçõesastrológicas medieval e moderna. O esquema padrão, desde a Antiguidade tardia, é oseguinte:

Áries, Leão, Sagitário Fogo

Touro, Virgem, Capricórnio Terra

Gêmeos, Libra, Aquário Ar

Câncer, Escorpião, Peixes Água

Em 1993, na sua tradução do primeiro livro de Vettius Valens, Robert Schmidt e RobertHand notaram que Valens é o autor mais antigo que faz uso dessas associações entre osplanetas e os signos do zodíaco, que são tão familiares para todos, hoje em dia.17 Porexemplo, Valens diz que Áries é fogoso, Touro é terreno, Gêmeos é airoso, Câncer éaquoso, e assim por diante. No entanto, a maneira pela qual ele diz isso faz parecer que eletomou essas associações de uma fonte ainda mais antiga, já que ele se vale dessas

13Cf. Porphyry, Introduction, 4.

14Valens, Anthology, Book 1, trad. Schmidt, ed. Hand, p. 8, fn. 1.

15Ver Hand, Signs as Houses (Places) in Ancient Astrology.

16Firmicus destaca este ponto dentro do contexto dos nomes das casas em Mathesis, 22 18-19.

17Valens, Anthology, Book 1, trad.Schmidt, ed. Hand, p.8, fn. 1.

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associações como sendo dadas, como se fossem conhecimento notório à época.18 Schmidtnotou que, em outras partes da Anthology, Valens tende a explicar ao leitor quando eleestá inovando, o que implica no fato de que não foi o próprio Valens que introduziu essarelação entre signos e elementos19.

Fontes ainda mais antigas, como Thrasyllus, Manilius e Dorotheus, não mencionam omesmo esquema com os elementos associados aos signos20, mas, ainda assim, dividem ossignos em quatro grupos de “triplicidades”, as quais são associadas a um grupo de regentesplanetários da seguinte forma21:

(As colunas são, na sequência: regentes diurno, noturno e cooperante)

Tabela 1 – Os Regentes das Triplicidades

Todavia, enquanto muitos astrólogos dividiam os signos em quatro triplicidades eassociavam cada uma a um conjunto de regentes planetários, nem todos associavam ossignos com os elementos. Ao invés disso, associavam as triplicidades e os seus regentes aosquatro ventos, que estão interligados às quatro direções cardiais, Norte, Sul, Leste eOeste.22 Portanto, a conexão entre os quatro elementos e os signos nem sempre foi umfato dado e geralmente aceito, como é hoje.

Ptolomeu, que era um contemporâneo mais velho de Valens, também não associou oselementos às triplicidades e, mesmo depois do tempo de Valens, o esquema de elementose triplicidades só é mencionado de uma forma inconstante por alguns autores helenísticos.Rhetorius, definitivamente, menciona esse esquema no seu compêndio, que foi escrito nofinal da tradição helenística, no século XI ou XII d.C..23 Firmicus Maternus também pareceter mencionado as triplicidades associadas aos elementos no seu texto do século IV, mas asevidências são mais esparsas, já que grande parte dos trechos do texto que teria discutido o

18Ver a discussão em Valens, Anthology, 4, 4.

19Schmidt, Definitions and Foundations, p. 94.

20Apesar de haver algumas circunstâncias nas quais Dorotheus menciona a Água ou a Terra como

propriedades de alguns dos signos (e.g. Carmen 5, 10: 2; 5, 23: 2-3; 5, 24: 4-6), ele parece estarusando um sistema diferente do que aquele que, posteriormente, se tornou o mais comum. Essesistema alternativo tem a ver com as imagens associadas às constelações e, também, foimencionado por outros autores como Manetho (e.g. Apotelesmatika, 5: 149-158; 6: 419-422) eOlympiodorus (e.g. Commentary, 38, p. 136:1-5).21

Valens, Anthology, 2, 1; Dorotheus, Carmen Astrologicum, 1, 1; Rhetorius, Compendium, 922

A discussão de Pingree para as diferentes direções associadas aos ventos e às triplicidades, veja oYavanajataka, Vol.2 pp. 223-227. Ver também a discussão de Ptolomeu sobre os ventos noTetrabiblos, 1, 11.23

Rhetorius, Compendium, Cap. 3.

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assunto foi perdida.24 Outros astrólogos helenísticos, como Porphyry, Hephaistio e Paulus,se omitiram a respeito do assunto, apesar do fato de que seria esperado alguma mençãoaos elementos em seus textos introdutórios se eles tivessem ciência desse esquema ou oempregassem25.

Disso, podemos concluir que as triplicidades não necessariamente têm que estar associadasaos quatro elementos, mas que podem estar. Essa associação pode representar algumaadição posterior ou, talvez, um ponto a respeito do qual nem todos os astrólogosconcordassem. A última opção parece ser a mais provável, já que Valens e Ptolomeu eramcontemporâneos e moravam no mesmo local, sendo que um empregava essas associações,enquanto o outro não.

Quanto à ampla adoção do esquema de elementos associados às triplicidades nos séculossubsequentes, sabemos que Rhetorius tirava muita coisa de Valens e o citou muitas vezesno seu Compendium, o que, possivelmente, faria de Valens a fonte da utilização doselementos às triplicidades26 por Rhetorius. Pingree demonstrou que o compêndio deRhetorius estava disponível para astrólogos como Masha’allah no início da tradiçãomedieval27. Em contrapartida, a Antologia de Valens foi traduzida para o Pahlavi (umalíngua persa) muito antes disso, possivelmente em torno do século III ou IV d.C., e partes dotexto foram passadas para autores árabes, independentemente de Rhetorius, de maneiraque podem ter havido múltiplos pontos de entrada dessa doutrina na tradiçãosubsequente28. Seja lá qual tenha sido a fonte, depois do século XIII, a associação dosquatro elementos aos signos do zodíaco tornou-se lugar comum nos textos astrológicos doOcidente.

Os Júbilos Associados às Tríades Angulares

O ponto de partida para a descoberta que estou prestes a apresentar foi uma observaçãofeita por Robert Schmidt, no início de 2008, de que os júbilos planetários são, na realidade,os regentes das triplicidades agrupados em torno das chamadas tríades angulares.29

Schmidt cunhou o termo “tríades angulares” para descrever uma convenção comum queera utilizada na tradição helenística, em que as casas eram agrupadas em quatro conjuntosde três, cada tríade centrada em torno de um dos ângulos ou pivôs (kentra).30 Cada tríadeangular consiste em uma casa angular no sistema de casas de signos inteiros acompanhadade mais duas casas de signos inteiros, uma de cada lado. Uma dessas duas casas é uma casacadente, que está se afastando do ângulo, também chamada de casa declinante (apoklima),

24A maior parte das descrições dos signos feita por Firmicus foram perdidas, mas, nos fragmentos

existentes, consta que Áries é fogoso (ignitium) e Peixes é aquoso (aquosum). Firmicus, Mathesis, 2,10.25

Eu não tenho certeza se as referências ao sistema de triplicidades-elementos no texto de Teucerda Babilônia, quando ele trata dos signos (CCAG 7, pp. 194-213), são legítimas por conta de possíveisinterpolações com os textos de Rhetorius. Holden marca esse material como tendo interpolações dePtolomeu no início da sua tradução. Ver Rhetorius, Compendium, trad. Holden, p. 165.26

Na edição de Holden, do Compendium de Rhetorius, Valens é citado nos capítulos 13, 64, e 97.27

Pingree, From Alexandria to Baghdad to Byzantium.28

Pingree, From Astral Omens to Astrology, p. 47ff.29

Comunicação particular, janeiro de 2008.30

Schmidt cunhou a frase no início de 2006. Uma das suas primeiras utilizações dessa expressão, emtextos impressos, foi no livro de Schmidt e Black, Peak Times and Patterns in the Life of DaneRhudhyar, p. 40. Ele discutiu as tríades angulares, mais recentemente, no Definitions andFoundations, p. 11. Para a tradução de kentron como “pivô” ver Schmidt, Definitions andFoundations, p. 281f.

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Diagram 3:Joys, Triads & Elements

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e a outra é a sucedente, que está se movendo na direção do ângulo, também chamada depós-ascensão (epanaphora).

Quando os júbilos são vistos dentro do contexto das tríades angulares, vemos que osplanetas estão posicionados de acordo com as regências das triplicidades (ver Diagrama 2).O Sol e Júpiter, que são os principais regentes da triplicidade composta por Áries, Leão eSagitário, estão em duas das casas que compõem a tríade da casa 10. Saturno e Mercúrio,que são os dois regentes primários da triplicidade composta por Gêmeos, Libra e Aquário,estão em duas das casas que compõem a tríade da casa 1. Na sequência, vemos a Lua eVênus, que são os regentes da triplicidade composta por Touro, Virgem e Capricórnio, emduas das casas que compõem a tríade da casa 4. Finalmente, o último planeta que resta éMarte, que é um dos regentes primários da triplicidade composta por Câncer, Escorpião ePeixes, e nós o encontramos em uma das casas compostas pela tríade angular da casa 7.

Talvez possamos encontrar algum apoio textual para essa ligação entre os júbilos e astríades angulares na obra do cético Sextus Empíricus, do século II. Notem a decisão deSextus de listar os planetas de acordo com as tríades angulares na sua breve revisãoastrológica:

Ou, para falar de forma mais concisa, o “declínio” do signo do “Marcador dasHoras” é chamado de “Mau Espírito” e, a sua “pós-ascensão”, de “Ineficaz”; deforma semelhante, o declínio do “Meio do Céu” é “Deus” e a sua pós-ascensãoé a “Boa Fortuna”; e, da mesma maneira, o declínio do “Anti-meio do Céu” é a“Deusa” e a sua pós ascensão é a “Boa Fortuna”; e o declínio do“Descendente” é a “Má Fortuna” e a sua pós-ascensão é a “Inativa.”31

Nessa passagem, Sextus demonstra que as casas, às vezes, eram agrupadas nas chamadastríades angulares e é sugestivo que ele usou os nomes associados aos júbilos ao fazer isso.Essa associação, provavelmente, não é por acaso, mas pode indicar que o seu comentáriofoi baseado numa relação comumente sabida no século II entre os júbilos e essas tríades.

Ligando os Júbilos e os Regentes das Triplicidades aos Quatro Elementos

A primeira descoberta que fiz, relacionada aos júbilos, e, a principal que eu gostaria dedemonstrar neste trabalho, é a de que o arranjo dos júbilos planetários centrados em tornodas tríades angulares, na realidade, fornece a maneira com a qual os signos zodiacaischegaram a ser associados aos quatro elementos.

A minha observação é a seguinte: os júbilos foram distribuídos de forma que Júpiter e o Sol,que são os dois planetas que posteriormente chegaram a ser os principais regentes datriplicidade do Fogo, ficaram na parte superior do diagrama, posicionados na tríadesuperior, associada ao Meio do Céu ou à casa 10 (ver Diagrama 3). A Lua e Vênus, que sãoos dois planetas que posteriormente foram associados aos regentes principais do elementoTerra, estão na parte inferior do diagrama, colocados na tríade angular da casa“Subterrânea.” Saturno e Mercúrio, os dois planetas que são associados aos regentesprincipais da triplicidade do Ar, estão posicionados no lado esquerdo do diagrama, na tríadeangular do ascendente. O último planeta restante, Marte, que se tornou um dos principaisregentes da triplicidade da Água, está colocado no lado direito do mapa, em uma das casasque compõem a tríade angular do descendente ou poente.

31Sextus Empiricus, Against the Professors, V: 18-20, trad. Burry, ligeiramente modificado para que a

terminologia das casas seja consistente com as convenções adotadas neste trabalho.

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O resultado desse arranjo é que os planetas associados ao Fogo estão na parte superior domapa, os associados à Terra estão na parte inferior do mapa, os planetas do Ar estão àesquerda, e os planetas da Água estão à direita.

Assim, esse esquema é montado de uma forma a imitar ou reproduzir a doutrinaaristotélica do lugar natural. De acordo com Aristóteles,32 cada elemento tem umatendência natural de se movimentar para cima ou para baixo, se aproximando ou seafastando do centro do cosmos, com a Terra posicionada no centro. O Fogo sobe à regiãomais alta, enquanto a Terra desce à região mais baixa. O Ar sobe e se posiciona logo abaixodo Fogo, enquanto a Água se posiciona logo acima da Terra. A hierarquia dos elementos é,portanto:

1. Fogo2. Ar3. Água4. Terra

Essa ordem dos elementos, em termos das posições que se acreditava que possuíssem nocosmos, foi posteriormente adotada pelas escolas filosóficas estoicas e herméticas e, assim,teria sido de amplo conhecimento durante o período helenístico.33 O arranjo parece tersido proposital e o criador do sistema dos júbilos planetários parece ter tido a doutrina dolugar natural em mente quando associou os elementos às diferentes tríades.

Visto nesse contexto, o sistema dos júbilos descreve a doutrina do lugar natural com ospróprios planetas representando cada um dos quatro elementos no seu devido lugar docosmos. Os dois planetas associados ao Fogo estão no topo do cosmos, centrados em tornoda casa que é chamada de “Meio do Céu” (mesouranēma). Os dois planetas associados àTerra estão na parte inferior do cosmos, em torno da casa que é “Subterrânea”(hupogeion).Os dois planetas associados ao Ar estão colocados próximos à casa 1, que Thrasyllus chamade “A Ascensão” (anaphora) e “O Ascendente” (anatellon)34, porque os planetas se elevamsobre o horizonte, movimentando-se no sentido do Meio do Céu. A posição dos planetas deAr, aqui, é inteligente porque cria uma situação onde o Ar está simbolicamente sendoempurrado para cima, na direção do elemento Fogo. De forma semelhante, porém inversa,Marte (o planeta associado à Água) está colocado próximo à casa 7, chamada de lugar“Poente” (dusis), porque os planetas nesse setor do mapa estão se pondo e semovimentando para baixo no sentido da casa Subterrânea. O posicionamento do elementoÁgua, aqui, faz com que a Água esteja sendo empurrada para baixo no sentido do elementoTerra. O resultado é que o Fogo e a Terra formam os extremos superior e inferior, enquantoo Ar e a Água ficam com as posições intermediárias; mas o movimento diurno empurra o Arpara cima, no sentido do Fogo, e a Água para baixo, no sentido da Terra.

Se tomarmos esse esquema como proposital, o que é difícil de não fazer, ele oferece a baseoriginal para a aplicação dos quatro elementos ao zodíaco. Pressupõe-se que os signos jáestavam divididos em grupos de triplicidades e associados a alguns regentes planetários,

32Aristotle, On Generation and Corruption, 1: 2-3.

33Para ver a adoção estoica dessa hierarquia dos elementos, veja a obra de Diogenes Laertius, Lives

of Eminent Philosophers, 7: 137. Para a tradição hermética, veja a cosmogonia em CorpusHermeticum, 1: 4 (p. 1 em Copenhaver, Hermetica), onde é considerado que o Fogo e o Ar se

movimentam para cima e a Água e a Terra para baixo. Copenhaver (Hermetica, p. 98) interpreta que

a linguagem utilizada nesta passagem foi influenciada pela forma estoica de lidar com os elementos.34 Definitions and Foundations, trad. Schmidt, p. 343. Firmicusse refere-se ao ascendente como

ortus, que significa “em elevação.” Mathesis, 2, 15: 1.

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Page 12: Astrologia: Os júbilos planetários

mas que foi esse sistema que permitiu às triplicidades serem ligadas a cada um dos quatroelementos.

Adoção vs. Não Adoção do Arranjo dos Elementos

A associação dos quatro elementos às triplicidades já era conhecida por Valens no meio doséculo II d.C. Podemos presumir que era conhecida por Ptolomeu, também, já que os doishomens viveram no Egito na mesma época e, aparentemente, tinham fontessemelhantes35. Isso levanta a questão sobre o porquê de Ptolomeu não ter escolhido adotaro esquema de associação triplicidades-elementos se ele sabia da existência da ideia.

Potencialmente, uma resposta seria que Ptolomeu escolheu não usar o esquema detriplicidades-elementos porque isso causaria um problema conceitual para ele na formacom que os signos se posicionam no zodíaco. Ptolomeu se inclinava na direção do uso dasdoutrinas filosóficas e cosmológicas de Aristóteles na astrologia. Uma das doutrinasAristotélicas mais conhecidas é a da associação dos quatro elementos a quatro qualidadesdiferentes: quente, frio, molhado e seco. Nesse modelo aristotélico, o Fogo éessencialmente quente e é contraposto à Água, que é essencialmente fria. De formaanáloga, a Terra é essencialmente seca e o Ar é essencialmente úmido.36

Toda a abordagem aristotélica dos elementos é pautada na noção de que essas qualidadesficam em lados opostos do espectro, e que “os elementos se envolvem em relações mútuasde contrariedade porque as suas qualidades são opostas.”37 Esse arranjo de triplicidades-elementos, que parece ser derivada dos júbilos, é problemática, de um ponto de vistaaristotélico, porque faz com que os signos de Fogo fiquem, literalmente, em oposição aossignos de Ar e os signos de Terra, literalmente, em oposição aos signos de Água. Se ossignos fossem seguir a lógica aristotélica, os de Fogo deveriam se opor aos de Água, nozodíaco, e os de Ar deveriam se opor aos de Terra. No lugar disso, esse arranjo detriplicidades-elementos, que primeiramente aparece em Valens, segue um modelo que édefendido por uma escola filosófica rival, a dos estoicos. No sistema estóico, o Ar éconsiderado frio, oposto ao Fogo, que é quente, enquanto a Água é dita úmida, oposta àTerra, dita seca. Isso se encaixa no esquema baseado nos júbilos e é, de fato, o modeloestoico de qualidade dos elementos que é explicitamente descrito por Valens, quedescreveu o Ar como sendo frio e a Água como sendo úmida.38

Como Ptolomeu tendia a basear muito do seu modelo astrológico nas doutrinascosmológicas de Aristóteles, ele talvez não tenha querido adotar esse modelo de elementosadotado por Valens, mesmo que soubesse da existência do mesmo, já que esse esquemacontradiz uma das doutrinas básicas da cosmologia aristotélica. Outros autores queseguiam Ptolomeu ou a visão aristotélica dos elementos também não iriam querer adotaresse sistema por razões semelhantes, o que explica o pequeno número de astrólogos queincorporaram o sistema no final da tradição helenística.

A Lógica da ordem dos Regentes das Triplicidades

35Por exemplo, Hephaistio (Apotelesmatika, 2, 22: 8) disse que Ptolomeu consultou os textos de

Petosiris quando tratava do assunto de filhos e Valens frequentemente menciona e frequentementecita Petosiris em diversos assuntos.36 Aristotles, On Generation and Corruption, 2, 1-10.37 Aristotles, On Generation and Corruption, 2, 4, 331a 14-16, ed. Barnes, p. 541.38 Valens, Anthology, 4, 4: 20-31.

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Após essa descoberta inicial sobre os júbilos e a lógica de associação entre os elementos eas triplicidades, Dykes e eu começamos a tentar descobrir se haviam outras doutrinasintrínsecas a esse arranjo. A descoberta seguinte parece explicar a ordem em que osregentes das triplicidades estão colocados.

Na tradição helenística, os regentes das triplicidades eram usados para diversas coisas. Umadas aplicações específicas era a de dividir a vida do nativo em duas partes. A primeira parteera regida pelo primeiro regente da triplicidade e, a segunda parte, era regida pelo segundoregente da triplicidade.39 Era dito que o terceiro cooperava com o primeiro e o segundoregente ao longo de toda a vida.40 Mais uma vez, as divisões são as seguintes:

(As colunas são, na sequência: regentes diurno, noturno e cooperante)

Tabela 2 – Os Regentes das Triplicidades

Valens tenta explicar a associação dos planetas a alguns elementos, apesar de não dar umaexplicação do porquê da ordem dada aos regentes das triplicidades.41 Nenhuma explicaçãológica é dada quanto ao porquê do Sol ser o regente principal da triplicidade do Fogo, dedia, e Júpiter o secundário, ou por que a Lua é o regente primário da triplicidade da Terra ànoite e Vênus a secundária, e assim por diante. Só Ptolomeu tenta explicar a ordem dadesignação dos regentes das triplicidades, mas a sua lógica não explica completamente osesquemas usados por Dorotheus e Valens.42

Quando os júbilos são vistos no contexto das tríades angulares, o padrão emerge. Tanto natriplicidade do Fogo quanto na do Ar, o regente principal do dia cai na casa cadente e oregente secundário cai em uma das casas seguintes da mesma tríade, no movimento anti-horário (ver Diagrama 4). Essa sequência segue a distribuição das regências dastriplicidades em que, por exemplo, o Sol vem primeiro de dia na triplicidade do Fogo eJúpiter vem na sequencia, ou na triplicidade do Ar, em que Saturno vem primeiramente dedia e Mercúrio vem em segundo.

Parte da lógica, aqui, é que as casas cadentes eram consideradas as primeiras na sequênciadas três casas que compõem as tríades angulares porque o signo do zodíaco associado a

39Valens, Anthology, 2, 1-2; Dorotheus, Carmen, 1, 22.

40Na tradição Medieval, esse arranjo foi mudado de forma que a vida foi dividida em terços, em que

cada terço era regido por um dos três regentes das triplicidades; astrólogos da tradição helenísticaparecem ser bastante consistentes em só dividir a vida em duas partes.41

Valens, Anthology, 2, 1.42

Ptolemeu, Tetrabiblos, 1, 19.

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Diagram 4:Triplicity Lord Sequence

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essas casas era, há pouco tempo, o próprio ângulo, mas, agora, está se afastando devido aomovimento diurno (da rotação da Terra). A casa cadente é, então, seguida pela casa angulare, depois, pela casa sucessora ou de pós-ascensão. Assim, a sequência é sempre: 1) casacadente → 2) casa angular → 3) casa sucedente. A ordem das distribuições de regências dastriplicidades e das diferentes partes da vida parece ser baseada no lugar que o planetaocupa na sequência das tríades angulares.

Esse padrão se mantém para os regentes das triplicidades da Terra e da Água, exceto queos regentes noturnos estão colocados na frente nas casas cadentes. Afinal, estes regentesde triplicidades estão colocados abaixo da Terra, na região que é idealizada como noturna.Então, esse padrão segue estabelecendo a sequência de regentes noturnos dastriplicidades. Assim, a Lua está numa casa cadente e, por isso, é regente primário datriplicidade da Terra à noite e, depois, Vênus a segue e, por isso, torna-se regentesecundária da Terra à noite. Marte é o ultimo planeta que falta e está colocado na sextacasa cadente, tornando-se o regente principal da triplicidade da Água à noite.

Esse arranjo talvez explique parte da lógica da designação do terceiro regente participantetambém. É notável que, em todos os casos, o regente participante (de uma triplicidade) é oplaneta mais próximo aos demais da mesma seita. Por exemplo, o Sol e Júpiter são osregentes principais da triplicidade do Fogo e Saturno é o regente participante porque é oplaneta mais próximo a eles. Saturno e Mercúrio são os regentes da triplicidade do Ar eJúpiter é o participante porque ele é o planeta mais próximo a eles. A Lua e Vênus são osregentes da triplicidade da Terra e Marte é o regente que coopera com eles porque é oplaneta mais próximo. Marte e Vênus são os regentes principais da Água e a Lua é oregente participante porque é o planeta mais próximo.

Essa descoberta sobre a conexão entre os júbilos e a ordem dos regentes das triplicidades éimportante porque ela parece fornecer uma lógica teórica muito mais consistente para asregências das triplicidades – especialmente para os regentes participantes – do que asconhecidas até hoje, como a que é oferecida por Ptolomeu.43 Robert Hand haviamencionado, quando tratava do assunto da designação dos regentes das triplicidades, queera pouco claro como os regentes participantes foram designados, e parece que os júbilospodem esclarecer esse problema, apesar de que nesse processo é levantada uma dúvidainteressante sobre o que veio primeiro: os júbilos ou os regentes das triplicidades.44

Configurações

O criador do esquema dos júbilos planetários parece ter tido familiaridade com uma sériede conceitos astrológicos básicos e pode-se demonstrar que esses conceitos foram levadosem conta na formulação desse arranjo.

Um conceito que fica bastante evidente no sistema dos júbilos é a doutrina dos aspectos ouconfigurações, já que existem alguns padrões que podem ser identificados quando oesquema é analisado sob essa ótica.

O diagrama é montado de tal forma que os luminares estão configurados aos seuscompanheiros de seita (ver o Diagrama 5). Por exemplo, o sol esta configurado por sextilcom Júpiter e por quadratura com Saturno, enquanto a Lua está configurada por sextil comVênus e por quadratura com Marte. Esse desejo de ter os planetas configurados com os

43 Ptolemeu, Tetrabiblos, 1, 19.44 Hand, Night & Day: Planetary Sect in Astrology, p. 28.

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Diagram 5:Sect-mate Configurations

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seus companheiros de seita é, provavelmente, uma das razões pelas quais os planetasocupam as casas que eles ocupam, no diagrama dos júbilos. Por exemplo, se o júbilo do Solfosse a casa 11 e o júbilo de Júpiter se mantivesse na casa 11, o Sol não estaria configuradoa Júpiter e os dois estariam em aversão um ao outro. Então, existe alguma necessidadeconceitual de posicionar os planetas em casas que garantam que essas configuraçõesestejam presentes entre os planetas.

Além disso, o autor do esquema dos júbilos parece já ter noção da natureza ou qualidadedos aspectos, já que os luminares estão configurados por sextil com os benéficos e porquadratura com os maléficos. Isso está de acordo com a convenção de que o sextil é umaspecto mais fácil ou favorável, enquanto a quadratura parece ser mais difícil oudesfavorável.45 Algumas pessoas acreditam que a qualidade dos aspectos foi parcialmentederivada da configuração dos planetas no Thema Mundi, conforme descrito por FirmicusMaternus,46 mas o diagrama dos júbilos fornece uma lógica alternativa ou, pelo menos,complementar à ideia de que sextis são positivos e quadraturas negativas.

Esclarecimento de uma Questão Conceitual Envolvendo as Seitas

Existe também um conceito adicional intrínseco aos júbilos que parece esclarecer umaantiga questão associada ao conceito de seita.

No primeiro livro do Tetrabiblos, Ptolomeu tenta explicar as seitas de acordo com a sualógica racionalista, em que os planetas têm significados astrológicos diferentes de acordocom as suas capacidades de produzirem calor e umidade.47 Ptolomeu tenta explicar aconsideração de que Saturno faz parte da seita diurna dizendo que ele é naturalmente frioe que ele tem sua frieza moderada pelo calor do Sol numa carta diurna e, assim, podefuncionar de forma mais positiva ou construtiva. De forma semelhante, Marte é associado àseita noturna por ser naturalmente seco; então, quando colocado em uma carta noturna,ele é umidificado e se torna mais temperado. No modelo Ptolomaico, é o excesso de frio oude calor que torna um planeta maléfico, enquanto o que é temperado ou moderado é tidocomo benéfico.48

O problema com a lógica de Ptolomeu é que ela dá a entender que a natureza de Saturnonão é inerentemente diurna, mas que ela se torna benéfica em termos funcionais no mapadiurno. Da mesma forma, Marte não teria afinidade alguma com a seita noturna, mas ele setorna funcionalmente benéfico em um mapa noturno. Assim, essa lógica não explica de queforma os planetas chegaram a ser associados às suas seitas e, também, não explica de queforma Saturno pode ser inerentemente diurno e Marte inerentemente noturno. No lugardisso, a única coisa que a lógica de Ptolomeu explica é como os maléficos devem serinterpretados em termos funcionais, mais ou menos positivos.

Esse sério problema conceitual nos argumentos de Ptolomeu parece indicar que a suaexplicação não é a razão original para a associação dos planetas a cada uma das seitas. Issose confirma pelo fato de que outros autores, como Porphyry, apresentam outra explicaçãopara as seitas, como a frequência com que os planetas surgem e desaparecem debaixo dosraios do Sol.49 De acordo com esse ponto de vista, Júpiter e Saturno são da seita diurnaporque eles se põem sob os raios solares com relativa infrequência, enquanto Vênus e

45 Porphyry, Introduction, 8.46 Firmicus, Mathesis, 3, 2: 1-7.47 Ptolemeu, Tetrabiblos, 1, 7.48

Ptolemeu, Tetrabiblos, 1, 5.49

Porphyry, Introduction, 4.

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Marte passam mais tempo escondidos sob os raios do Sol. Assim, por conta dessecomportamento astronômico, Júpiter e Saturno estariam associados à visibilidade e à luz,enquanto Marte e Vênus estariam associados ao escondido e à escuridão. Essa lógicaalternativa parece explicar melhor de que forma cada planeta se associa a cada seita deforma inerente, e não só funcional. Por isso, pode representar algo que se aproxima maisdo raciocínio originalmente utilizado na designação das seitas.

Ao longo das nossas discussões, Dykes notou outro conceito que foi integrado ao esquemados júbilos. A forma com que os planetas estão arrumados é parcialmente pautada narevolução diurna, já que as próprias casas estão baseadas nesse ciclo, no qual planetasnascem, culminam, se põem e chegam à anti-culminação a cada dia. Nesse contexto,parece haver uma progressão em que os planetas diurnos estão se movimentando doascendente à casa 9 e os noturnos estão se movimentando do descendente à casa 3. Issoparece transmitir uma ideia simbólica de progressão, na qual os planetas de cada seita setornam progressivamente mais e mais diurnos ou noturnos, dependendo em qual lado dohorizonte estão posicionados ( ver o Diagrama 6).

No lado diurno do horizonte, a progressão começa com Saturno, que parece ser o menosdiurno dos três planetas que compõem a seita. O próximo, na ordem, é Júpiter, que járepresenta uma progressão a um estado mais diurno. O próximo e ultimo planeta, naordem, é o Sol, no qual a progressão se completa e alcança aquele que é claramente oplaneta mais “diurno” do mapa – O Sol, sendo a própria manifestação do dia.

No outro lado do horizonte, no lado noturno, começamos com Marte, que, de formasemelhante a Saturno, parece estar fora do lugar, em termos de qualidade planetária,quando comparado aos demais companheiros de seita. O próximo planeta é Vênus, que édiscutivelmente mais noturno do que Marte e, assim, representa uma progressão a umestado mais noturno. Finalmente, chegamos à Lua, que é o planeta mais noturno do mapa,e a sequência está completa.

Tanto a progressão noturna quanto a progressão diurna parecem representar uma espéciede processo de purificação, em que os planetas iniciam com pouca afinidade com a suaseita e terminam com muita afinidade. O que é interessante nessa abordagem é que elapode explicar o problema conceitual dos maléficos que Ptolomeu tentou explicar de formanão completamente satisfatória com o seu modelo. Nesse contexto dos júbilos e domovimento diurno do céu, o que salta aos olhos quanto aos maléficos é que eles são osdois planetas que mudaram de hemisfério mais recentemente.

Se Saturno está colocado na casa 12, isso significa que ele só recentemente atravessou aprimeira casa e cruzou a linha do ascendente, saindo do lado noturno do mapa e chegandoao lado diurno, acima do horizonte. Se fôssemos usar a lógica naturalista de Ptolomeu,talvez disséssemos que Saturno é o planeta que mais recentemente saiu do hemisfério frio,escuro e noturno, abaixo da Terra, e chegou ao hemisfério quente, claro e diurno, acima daTerra. Nesse sentido, poderíamos dizer que ele é intrinsicamente diurno, porque estáfirmemente no lado do dia do mapa. No entanto, ele é o menos diurno dos três planetasdiurnos, já que ele só “mudou de lado” recentemente e se juntou aos planetas do dia nohemisfério diurno.

O mesmo argumento é verdadeiro para Marte. Se Marte está posicionado na sexta casa,então ele seria um planeta noturno que recentemente trocou de hemisférios, tendorecentemente deixado de estar acima do horizonte após ter passado pelo grau dodescendente na casa 7. Mais uma vez, usando a lógica naturalista de Ptolomeu para deixarclaro o ponto, podemos dizer que, simbolicamente, Marte está firmemente colocado no

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campo noturno, já que está debaixo da Terra; no entanto, como ele só recentemente saiudo lado quente, claro e diurno do cosmos e entrou no lado escuro, frio e noturno, ele aindaestá no processo de se tornar mais noturno e muitas das qualidades diurnas ainda estãoproeminentes nele.

Reconheço que o nível de pensamento simbólico que esse modelo exige, juntamente com afalta de textos que apoiem explicitamente essa teoria, pode dificultar a validação ou até aaceitação desses argumentos para a origem das seitas como sendo plausível. No entanto,sinto que esse esquema é sugestivo demais para ser considerado uma mera coincidência,especialmente porque ele resolve um claro problema conceitual da doutrina das seitas quenem Ptolomeu, no século II, conseguiu resolver.

A Origem das Casas

Uma das grandes diferenças entre a tradição helenística e as tradições astrológicasmesopotâmicas anteriores é a introdução do conceito das doze casas. Até o presentemomento, não há evidências da existência ou uso de casas nas mais antigas tradiçõesmesopotâmicas. No entanto, as casas aparecem desde as primeiras fontes que temos daastrologia helenística.

Em 2010, Dorian Greenbaum e Micah Ross argumentaram que o uso do ascendente, Meiode Céu, e, consequentemente, o resto das casas na tradição helenística foi motivada emparte pelo uso dos decanos na tradição egípcia.50 Elas montam um argumento bastanteconvincente para o desenvolvimento e a utilização das quatro casas angulares, apesar deque os seus argumentos não explicam de onde vem o significado das outras 8 casas. Essalacuna pode ser preenchida pelos júbilos.

Na tradição helenística, aparentemente, havia um texto sobre as 12 casas em circulaçãoque era atribuído a Hermes Trismegistus, já que nós temos diversas referências e alusõesfeitas a ele por outros autores. Por exemplo, no século I, Thrasyllus citou Hermes como asua fonte para o significado das casas astrológicas na sua Table. Também no século I,Dorotheus começou sua discussão dos significados das doze casas anunciando que osmesmos vieram do “honrado [e] louvável por três naturezas, Hermes, o Rei do Egíto.”51 Noséculo VI ou VII, Rhetorius menciona que Hermes deliberadamente designou que a casa 12estivesse associada ao assunto do parto.52 Firmicus Maternus usou um texto de delineaçãodas casas parecido com o de Rhetorius, apesar de que no seu texto, na passagem que fazparalelo a essa sobre a casa 12, ele se referiu de forma mais genérica a certos “homenssábios” (prudentissimiviri) que associavam essa casa com o parto.53 De novo, outro autor,Antiochus, cita um astrólogo anterior a ele chamado Timaeus, que, por sua vez, cita Hermescomo autor de um esquema específico das casas vantajosas (chremastistikos).54

50 Greenbaume Ross, The Role of Egypt in the Development of the Horoscope. Argumentossemelhantes, porém menos compreensíveis, sobre os decanos como sendo a motivação dodesenvolvimento das casas já haviam sido feitos por outros. Veja Pingree, Yavanajataka, vol. 2,p. 219; Tester, A Historyof Western Astrology, pp. 25-26; e Schmidt no prefácio da sua traduçãodo livro 3 doTetrabiblos, pp. viii-ix de Ptolomeu.51 Dorotheus, Carmen, 2, 20.52 CCAG 8, Parte 4, p. 131: 4-8.53 Mathesis, 3, 7: 24. Na sua tradução de Rhetorius, Holden, corretamente ,nota que issosignifica que Firmicus e Rhetorius estavam consultando a mesma referência quando delineandoas casas (Rhetorius, Compendium, trad. Holden, p. 47, n. 1).54 CCAG 8, part 3, p. 116: 3-12.

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Todas essas referências parecem indicar que havia um texto de muita influência que foiescrito em algum momento no início da tradição helenística e que foi atribuído a HermesTrismegistus. Como ele já foi citado por Thrasyllus, no século I, isso significa que deve tersido escrito em algum momento antes, talvez no século I a.C. Isso faria dele não só um dostextos mais influentes sobre as casas astrológicas na tradição helenística, mas também umdos mais antigos textos sobre as casas que conhecemos.

No entanto, o texto de Hermes não era o único dentre os textos sobre as casas. Existia umoutro, também, desde muito cedo atribuído a Asclepius, e esse texto aparentementedescrevia um sistema de significados para as primeiras oito casas astrológicas.55 Essesistema era chamado de octotopos, ou sistema de oito lugares.56 Schmidt apontou que aforma que se adotou no tratamento das casas na sequência parece representar uma síntesedos sistemas de oito e doze casas.57

É interessante notar que, em muitas das cronologias históricas que sobreviveram datradição helenística, Hermes é frequentemente citado como o autor mais antigo oufundador da tradição astrológica.58 Apesar de, talvez, termos o ímpeto de descartar essainformação como mitologia, as numerosas referências a um texto sobre as casas, porHermes, é talvez o suficiente para considerarmos a possibilidade de que realmente haviaum texto fundamental sobre o assunto que continha os princípios fundamentais dadoutrina. Mas o que mais esse texto poderia conter, e qual era a fundamentação teóricapor detrás dos significados das doze casas?

Os Significados das 12 Casas

Na tradição helenística, astrólogos não parecem ter seguido a convenção moderna deassociar casas específicas com certos signos do zodíaco e com os regentes desses signos.Por exemplo, na astrologia moderna, a primeira casa, normalmente, é equiparada com oprimeiro signo do zodíaco, Áries, assim como o regente desse signo, Marte. A segunda casaé associada com o segundo signo, Touro, e seu regente, Vênus. Frequentemente,astrólogos modernos pegam emprestado os significados de um signo, ou do regentedaquele signo, para explicar o significado de uma casa. Independentemente do quanto issoseja prática comum, hoje em dia, não existe nenhuma evidência de que esse foi o métodousado para determinar o significado das casas na tradição helenística.

Ao invés de fazer assim, os astrólogos helenísticos, aparentemente, tiravam o significadodas casas astrológicas de outras considerações, como a sua angularidade, sua posiçãodentro do arranjo das tríades angulares, sua configuração com o ascendente e a relevânciada casa em termos visuais ou astronômicos. Podemos chegar a alguns dos significadosbásicos das casas dessa forma. Mas existe uma quarta consideração que é pouco explorada:os júbilos planetários.

55 O fato de que o octatopos só representa a sequência das primeiras oito casas astrológicas nosistema casa-signo e não uma divisão do zodíaco inteiro em oito pedaços foi corretamenteindicado tanto por Goold (Manilius, Astronomica, pp. lxi-lxii) quanto por Schmidt (Definitionsand Foundations, p. 308f).56 Michigan Papyrus, Col. ix: 20-27; Valens, Anthology, 9, 3: 5.57 Schmidt, Kepler College Sourcebook, p. 77.58 Firmicus, Mathesis, 3, 1: 1 &4, proem: 5; Manilius, Astronomica, 1: 30-52; Anonymous of 379in CCAG 5, part 1, p. 204: 13-22; veja também os fragmentos de papiros anônimos do CCAG 8,parte 4, p. 95.

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Quando os astrólogos helenísticos discutiam o significado das casas, frequentemente haviaindicações de uma ligação entre os júbilos dos planetas e as casas. Isso é demonstradoexplicitamente por Valens:

[A casa de] Deus dá sinais quanto ao pai; a Deusa quanto à mãe; o BomEspírito quanto aos filhos; a Boa Fortuna quanto ao casamento; o MauEspírito quanto às lesões; o Lote da Fortuna e o Horoskopos quanto à vida eao viver; [o Lote do] Espírito quanto à mente; o Meio de Céu para as ações;[o Lote do] Amor para o desejo; [o Lote da] Necessidade para os inimigos.59

Uma das coisas de que me dei conta durante o curso dessa série de descobertas é a de quea natureza sistemática dos júbilos e forma com que eles amarram diversos outros conceitosastrológicos indica que esse esquema era alguma espécie de construção fundamental. É demaneira semelhante ao Thema Mundi, que parece ser uma construção teórica para explicara origem dos domicílios, a natureza dos aspectos, além de outros conceitos.60 Na verdade,Firmicus Maternus fala explicitamente que os astrólogos antigos desenvolveram o ThemaMundi como uma ferramenta de ensino para explicar alguns dos conceitos básicos daastrologia.61 Se isso for verdade, então não seria surpreendente encontrar outros esquemasou construções conceituais que fazem parte da tradição também.

Uma das consequências dessa descoberta sobre a correlação dos júbilos com diversosoutros conceitos é que isso implica que os significados das casas não foram determinadosprimeiro e os júbilos associados depois, baseado em alguma perceptível afinidade entre acasa e o planeta. Foi o contrário. Eu argumentaria que me parece mais provável que osjúbilos foram desenvolvidos primeiro, como parte dessa construção que descrevi ao longodeste trabalho, e que os significados das casas foram então desenvolvidos levando emconta os júbilos. Isso explicaria o porquê de algumas casas receberem os nomes quereceberam, já que os planetas associados a aquelas casas pelos júbilos estavam tendo umaparticipação significativa na formação dos significados das casas.

A observação de que algumas das significações das casas vêm dos júbilos não é nova, já queDebourah Houlding já havia apresentado esse argumento no seu livro sobre as casasastrológicas em 1998.62 O que é único, aqui, é o ponto de vista de que os júbilos fazemparte de uma elaborada construção que descreve um sistema, que apareceu muito cedo natradição helenística, presumidamente de um único texto, e que esse texto podepossivelmente representar a maior parte da lógica mais antiga de atribuições designificados das casas.

Derivando as Significações dos Júbilos

Quando as casas são analisadas no contexto dos júbilos, a motivação implícita de algunsdos significados das casas se torna mais clara. Os júbilos podem nos oferecer a lógicateórica para os significados gerais.

Ao gerar o significado das casas pelos júbilos, parece ter havido grande ênfase na divisão domapa em dois hemisférios, um acima da Terra e o outro abaixo dela.

59Valens, Anthology, 2, 16: 1, trad. Schmidt, ed. Hand, p. 18, com pequenas alterações.

60Robert Schmidt é quem mais desenvolveu essa área. Veja a análise de Schmidt do Thema Mundi

no Definitions and Foundations, pp. 106-12. Para uma análise anterior, veja Bouché-Leclercq,

L'astrologie grecque, p. 182ff.61

Firmicus, Mathesis, 3, 1-2.62 Houlding, The Houses: Temples of the Sky.

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Tudo que está acima do horizonte pertence ao domínio do Sol, que o autor do arranjoparece ter associado ao espírito (daimōn). Por essa razão, a casa 11 é chamada de casa doBom Espírito e a 12 é chamada de casa do Mau Espírito. Astrólogos posteriores, comoValens e Firmicus, associavam o Sol ao conceito de espírito, que eles diziam ter a ver com aalma e a mente ou o intelecto.63 De forma parecida, tudo abaixo da linha do horizonte eraconsiderado do domínio da Lua, e era associado com o conceito de fortuna (tuchē). É porisso que a casa 5 é chamada de Boa Fortuna e a casa 6 é chamada de Má Fortuna. Valensassociava a fortuna ao corpo e à condição física da encarnação do nativo.64

Uma das implicações potenciais dessa divisão entre um hemisfério solar, na parte superiordo mapa, e um hemisfério lunar, na parte inferior do mapa, é que tudo que está na partesuperior do mapa está relacionado ao espírito e às coisas relativas à mente, enquanto tudoque está na parte inferior do mapa está associado ao corpo e às coisas materiais. Essa,talvez, seja alguma espécie de divisão hermética entre o espírito e o corpo. Comoconsequência, algumas significações específicas que são atribuídas às casas serãodirecionadas ao espírito ou ao corpo, dependendo em qual lado do horizonte a casa estejaposicionada.

Assim, temos dois princípios teóricos implícitos quando geramos os significados de casasespecíficas nas quais um planeta tem um júbilo:

1. A casa está acima ou abaixo do horizonte? Se estiver acima, estará relacionada coma alma. Se estiver abaixo, estará relacionada com o corpo.

2. O planeta associado a essa casa é benéfico ou maléfico? Se for benéfico, indicarácoisas boas. Se for maléfico, indicará coisas ruins.

Levando esses dois princípios em consideração, nós podemos explicar alguns dossignificados mais básicos que são associados às casas.

Por exemplo, vamos dar uma olhada na casa 5, que é chamada de casa da Boa Fortuna. Porser uma casa que fica abaixo do horizonte, sabemos que ela significará coisas associadas aocorpo. Também sabemos que, já que ela está associada ao planeta benéfico Vênus, as suassignificações devem ser positivas. Assim, chegamos à conclusão de que a casa 5 estáassociada a coisas boas relativas ao corpo. Coincidentemente, a quinta casa chegou a seruma das casas que, principalmente, significa crianças.

A sexta casa é a casa da Má Fortuna. Por estar debaixo da terra, está relacionada ao corpo.Por estar associada ao maléfico Marte, ela deve, então, significar algo ruim. Logo, a casa 6fala de coisas ruins associadas ao corpo e é a casa que ficou sendo associada a lesões.

A casa 11 é a casa do Bom Espírito. Por estar acima da Terra, ela se relaciona à alma ou àmente. Está associada ao benéfico Júpiter e, portanto, deve significar algo positivo. Assim, acasa 11 trata de coisas boas associadas à alma ou à mente. Uma das coisas que chegou a seassociar à casa 11 são as amizades, que eram vistas por filósofos como Aristóteles como aafinidade entre a alma ou o espírito de duas pessoas.

A casa 12 é a casa do Mau Espírito. Ela está colocada acima da Terra e, assim, estárelacionada à alma ou à mente. No entanto, por estar associada ao maléfico Saturno, devesignificar coisas ruins. Logo, a casa 12 significa coisas ruins associadas à alma ou à mente.Por isso, ela é associada a inimizades, assim como a outras coisas, como sofrimentos, quepodem ser caracterizados como aflições da alma.

63 Valens, Anthology, 4, 4: 1-2; Firmicus, Mathesis, 4, 18. Cf. Paulus, Introduction, 23.64 Valens, Anthology, 4, 4: 1-2. Cf. Paulus, Introduction, 23.

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Apesar desse sistema não poder ser utilizado para gerar o significado de todas as casasastrológicas, ele parece oferecer uma lógica convincente para a maior parte dossignificados das casas que coincidem com os júbilos planetários. É notável que, na maioriados casos, os júbilos não coincidem com as casas angulares, já que as casas angulares sãoaquelas que mais facilmente se atêm aos significados. Por exemplo, a casa 10 é o setor maisalto e mais visível do mapa, e é dito que representa a reputação do nativo. O oposto a essacasa é a quarta casa, que é a parte mais baixa e mais escondida do mapa, e é dito quesignifica coisas relativas à vida particular do nativo como sua casa. O significado dos ângulosé mais direto nesse sentido, porem é mais difícil extrair o significado das outras casas sópelo seu posicionamento astronômico, e é aí que eu acredito que os júbilos entraram.

O único ângulo que contém o júbilo de um dos planetas é a primeira casa, que é a casaonde Mercúrio se alegra. Os astrólogos helenísticos usavam o sistema casa-signo e, nessesistema, a primeira casa sempre estará parcialmente acima do horizonte e parcialmenteabaixo do horizonte; isso porque o ascendente marca o signo que se torna a primeira casa.Assim, Mercúrio se posiciona no ponto de encontro entre os dois hemisférios, onde o reinodiurno do espírito se encontra com o reino noturno da matéria. Não é de surpreender,então, que a primeira casa é significa tanto o corpo e a sua vitalidade quanto o espírito(pneuma) do nativo.65

A Origem dos Júbilos?

Como eu havia mencionado acima, a fonte mais antiga que temos para os júbilos é o textoatribuído a Hermes Trismegistus, citado por Thrasyllus. Thrasyllus, explicitamente, liga adoutrina das doze casas a Hermes e, nesse trecho do texto de Hermes, usa o nome dascasas, que possuem ligação com os júbilos. Sendo o caso, é possível que esse arranjo, emque os júbilos planetários representam, tenha sido introduzido nesse texto atribuído aHermes.

Mas como nós podemos ter certeza de que os júbilos já estavam presentes no texto deHermes, quando a única prova que temos é o nome das casas que foram mencionados? Euacredito que a resposta esteja em um dos significados que Thrasyllus cita e atribui aHermes.

De acordo com Thrasyllus, Hermes disse que um dos significados da primeira casa é“irmãos”. Essa atribuição não faz muito sentido no contexto da tradição subsequente, quetende a associar o assunto de irmãos à terceira casa. Mas isso passa a fazer sentido sim, nomomento em que consideramos que Mercúrio tem seu júbilo na casa 1 e que um dossignificados comuns de Mercúrio é irmãos.66 Disso, podemos, de forma provisória, concluirque os júbilos estavam, de fato, no texto de Hermes e que alguns dos significados das casasestavam sendo derivados dos júbilos. Se o texto de Hermes foi realmente um dos primeirostextos sobre as casas, então é possível que esse também tenha sido o texto que introduziuos júbilos planetários.

Conclusão

Espero ter demonstrado, neste trabalho, que o arranjo dos júbilos planetários representauma construção deliberada e muito elaborada, que amarra e fornece a motivação para asseguintes coisas:

1. A associação dos quatro elementos aos signos do zodíaco.

65Valens, Anthology, 4, 12: 1. Cf. Paulus, Introduction, 24; Rhetorius, Compendium, 57.

66Valens, Anthology, 1, 1: 38; Dorotheus, Carmen, 1, 18: 2;

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2. A ordem da sequencia dos regentes das triplicidades.3. Parte da lógica por detrás da associação dos planetas às suas respectivas seitas.4. A associação de alguns dos significados das casas.

Apesar de muitos desses argumentos serem de difícil validação textual, já que estamosdiscutindo um modelo conceitual ao qual são feitas menções implícitas em muitos textos,sinto que a natureza sistemática do modelo, e a forma com que ele consistentemente ligadiversas técnicas e conceitos, é um argumento contra essas associações terem naturezaacidental.

As implicações dessa descoberta são profundas, já que, aparentemente, o esquema dosjúbilos fornece o modo de pensar para diversos dos principais conceitos e técnicasastrológicas que têm sido utilizados por astrólogos desde a Antiguidade. Elas tambémsomam uma nova camada ao debate que tem ocorrido nas comunidades acadêmicas eastrológicas sobre a origem da astrologia helenística.67 Espero que este texto possa servirpara trazer um pouco mais de luz ao assunto e fazer uma contribuição significativa paraambos os lados do debate.

Conheça mais do trabalho de Chris Brennan:

http://www.chrisbrennanastrologer.com/

http://www.hellenisticastrology.com/

Contato do tradutor:

http://www.astrologiaeterna.blogspot.com.br/

67Isso é brevemente discutido no livro de Brennan, Hellenistic Astrology, pp. 15-17. Greenbaum e

Ross entraram no debate no The Role of Egypt in the Development of the Horoscope, pp. 149-153.

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