10
15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental AVALIAÇÃO DE FATORES AMBIENTAIS EM ÁREAS DE MOVIMENTO DE MASSA NO BAIRRO SION, JOÃO MONLEVADE (MG) Laís Emily de Assis 1 ; Aline Gonçalves de Azevedo 2 ; Marcos Antônio Gomes 3 ; Eduardo Antônio Gomes Marques 4 Resumo – O presente trabalho visou identificar os fatores ambientais que influenciam diretamente na ocorrência de movimentos de massa (áreas de risco) do Bairro Sion, Município de João Monlevade - MG, através da identificação, caracterização e valoração dos atributos físicos. Tal caracterização se realizou em função dos parâmetros de variabilidades ambientais que foram obtidos a partir de pesquisa em literatura, análises laboratoriais e intepretações visuais do tipo de solo, classes de declividade, uso e ocupação do solo e precipitação na área em estudo. Através do programa ArcGis ® , foram realizados processamentos de imagens e a produção dos mapas temáticos. A ferramenta Delphi foi utilizada para análise multicritério e apresentou grande relevância para a definição do mapa-síntese de susceptibilidade a movimentos de massa. O processo foi realizado através da investigação combinada dos fatores ambientais considerando-se pesos dados por especialistas e a álgebra de mapas, permitindo dessa forma a identificação das classes diversas. Abstract – This study aims to identify the environmental factors that directly influence the occurrence of mass movements (risk areas) of Sion neighborhood, Municipality of João Monlevade, Minas Gerais, through the identification, characterization, and appraisement of physical attributes. This characterization was performed through parameters of environmental variability that were collected from research literature, and visual interpretation, laboratory analysis of soil type, definition of slope classes and land use, and precipitation within the study area. Through processing of images in an ArcGIS ® software, thematic maps were produced. Delphi tool was used for multiple criteria analysis, which was of great relevance to the definition of the susceptibility map of susceptibilities for mass movement. The process was performed throughout combination of weighted environmental factors based on experts previous experience and through map algebra, thus allowing the identification of different classes investigation. Palavras-Chave – Movimento de massa, áreas de risco, fatores ambientais. 1 Eng. Ambiental, Mestranda em Engenharia Civil- Geotecnia, Universidade Federal de Viçosa (31) 9358.8903, [email protected] 2 Eng. Ambiental, Universidade do Estado de Minas Gerais, (31) 9475.9396, [email protected] 3 D.Sc., Eng. Agrônomo (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Viçosa, (31) 8840.6647 [email protected] 4 D.Sc , Geólogo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, (31) 38993096, [email protected]

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

  • Upload
    lamthuy

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

1  

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental  

AVALIAÇÃO DE FATORES AMBIENTAIS EM ÁREAS DE MOVIMENTO DE MASSA NO BAIRRO SION, JOÃO MONLEVADE (MG)

Laís Emily de Assis 1; Aline Gonçalves de Azevedo 2; Marcos Antônio Gomes 3; Eduardo Antônio Gomes Marques 4

Resumo – O presente trabalho visou identificar os fatores ambientais que influenciam diretamente na ocorrência de movimentos de massa (áreas de risco) do Bairro Sion, Município de João Monlevade - MG, através da identificação, caracterização e valoração dos atributos físicos. Tal caracterização se realizou em função dos parâmetros de variabilidades ambientais que foram obtidos a partir de pesquisa em literatura, análises laboratoriais e intepretações visuais do tipo de solo, classes de declividade, uso e ocupação do solo e precipitação na área em estudo. Através do programa ArcGis®, foram realizados processamentos de imagens e a produção dos mapas temáticos. A ferramenta Delphi foi utilizada para análise multicritério e apresentou grande relevância para a definição do mapa-síntese de susceptibilidade a movimentos de massa. O processo foi realizado através da investigação combinada dos fatores ambientais considerando-se pesos dados por especialistas e a álgebra de mapas, permitindo dessa forma a identificação das classes diversas.

Abstract – This study aims to identify the environmental factors that directly influence the occurrence of mass movements (risk areas) of Sion neighborhood, Municipality of João Monlevade, Minas Gerais, through the identification, characterization, and appraisement of physical attributes. This characterization was performed through parameters of environmental variability that were collected from research literature, and visual interpretation, laboratory analysis of soil type, definition of slope classes and land use, and precipitation within the study area. Through processing of images in an ArcGIS® software, thematic maps were produced. Delphi tool was used for multiple criteria analysis, which was of great relevance to the definition of the susceptibility map of susceptibilities for mass movement. The process was performed throughout combination of weighted environmental factors based on experts previous experience and through map algebra, thus allowing the identification of different classes investigation.

Palavras-Chave – Movimento de massa, áreas de risco, fatores ambientais.

                                                                                                                         1 Eng. Ambiental, Mestranda em Engenharia Civil- Geotecnia, Universidade Federal de Viçosa (31) 9358.8903, [email protected] 2 Eng. Ambiental, Universidade do Estado de Minas Gerais, (31) 9475.9396, [email protected] 3D.Sc., Eng. Agrônomo (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Viçosa, (31) 8840.6647 [email protected] 4 D.Sc , Geólogo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, (31) 38993096, [email protected]

Page 2: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

2  

1. INTRODUÇÃO

Os variados riscos associados a processos naturais, especificamente relacionados a

movimentos de massa em encostas, são considerados problemas urbanos que aumentam visivelmente, principalmente em períodos chuvosos. As cidades brasileiras, como João Monlevade-MG, são marcadas pela exclusão social e expansão urbana desordenada, nas quais a incidência de desastres naturais vem crescendo, como o reflexo das intervenções antrópicas em áreas impróprias à ocupação, devido às suas características geomorfológicas e geológicas, tais como desmatamento, cortes e aterros mal executados, alterações na drenagem, lançamento de lixo, construção de moradias sem infraestrutura adequada, que aumentam os perigos de instabilização (TOMINAGA, et. al. 2009). Nesse sentido, a proposta deste trabalho define-se na consideração de dados quantitativos para a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa da área em estudo, bem como uma análise mais aprofundada dos tipos de solos que são suscetíveis ao escorregamento, de forma a estabelecer parâmetros ambientais para o mapeamento de risco, com base nas localidades que apresentaram eventos nos últimos anos. Diante disso, procurou-se contribuir para a discussão e automatização deste processo, na busca de um padrão de mapeamento tecnicamente satisfatório, tendo como finalidade um produto de planejamento do uso do solo e gerenciamento de áreas com elevada suscetibilidade de risco na expansão da malha urbana de João Monlevade. Os objetivos específicos consistiram na identificação de possíveis pontos de deslizamento e as causas do movimento de massa localizadas por coordenadas geográficas através de GPS; classificação dos solos dos principais pontos em análise; processamento dos dados do Modelo Digital de Elevação (MDE) para obtenção dos mapas temáticos de declividade, solos, uso e ocupação; análise de dados de precipitação; sobreposição das informações no Sistema de Informações Geográficas, com atribuição de pesos para cada fator do meio físico e análise multicritério; e, finalmente, identificação de quais fatores ambientais, físicos e antrópicos combinados foram determinantes nas áreas em estudo para a ocorrência de deslizamentos.

2. CARACTERIZAÇÕES DA ÁREA ESTUDADA

O município de João Monlevade localiza-se na parte central do estado de Minas Gerais, sendo polo da região do médio Piracicaba. Segundo dados do IBGE (2010) o município possui uma extensão territorial de 99,65 km², localiza-se a 105 km da capital Belo Horizonte e possui 73.610 habitantes, com um total de 21.665 domicílios (IBGE, 2010). De acordo com Trindade (2007), trata-se de uma região de topografia acidentada, com o predomínio morfológico de mares de morro. Segundo essa autora, o município possui clima com verões quentes e duas estações bem definidas, classificado como tropical de altitude (tipo Cwa, conforme classificação climática de Köppen-Geiger), devido à sua altitude média de 900m acima do nível do mar e da sua localização (latitude de 19,8ºS e longitude de 43,17ºW). Têm sido registradas chuvas e temperaturas elevadas, o que vem acarretando múltiplos problemas à cidade ao longo dos últimos anos; o inverno é caracterizado por baixas temperaturas, pouca precipitação e ventos úmidos e frios. Otrabalho foi desenvolvido no bairro Sion Figura 1, região periférica e vetor de crescimento da cidade, na área delimitada (bacia hidrográfica). O bairro é ocupado principalmente pela população de classe baixa, e as construções, no geral, são realizadas de forma desordenada e sem projetos de engenharia. A esse fator soma-se a questão da declividade acentuada, e de solos Câmbicos com estrutura física deficiente, somatório que expõe a da população aos deslizamentos, comuns nos períodos de chuva.

Page 3: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

3  

(a)

(b) (c) Figura 1. Mapa de Localização da bacia do bairro Sion no município de João Monlevade (a); Área com exposição do solo e declividade acentuada (b); e Processo avançado de loteamento em solos câmbicos (c). Fonte: Marco Antônio Gomes (2013). ·.

3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Descrições, Análise e Classificação de Solos

Foram realizadas visitas a campo para seleção das áreas de amostragem, abertura e

descrição de dois perfis de solo. As amostras coletadas nestas áreas foram encaminhadas para um laboratório pertencente ao Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no qual se realizou as análises físicas e químicas para a caracterização analítica. As descrições dos perfis e a coleta de amostras foram realizadas conforme descrito por Santos et al. (2005) e consistiram, resumidamente, nas seguintes etapas: I - Análises físicas: densidade do solo e de partículas e argila dispersa em água, realizadas pelo método da pipeta (EMBRAPA, 2011). II - Análises granulométricas realizadas de acordo com a metodologia da EMBRAPA (op. cit.), modificado por Ruiz (2005); III - Análises químicas: pH (água e KCl); carbono orgânico total; P-disponível; Ca, Mg e Al trocáveis; K; acidez potencial (H + Al) (EMBRAPA, op. cit.). Os solos foram classificados até o quarto nível categórico, conforme o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006).

Page 4: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

4  

3.2 Geração dos Documentos Cartográficos No SIG foram realizados os processamentos de imagens e a produção de mapas temáticos.

As imagens foram obtidas do Google Earth Pro e processadas pelo ArcGis 10.0. O mapa de solos foi originado a partir de avaliações e análises laboratoriais dos solos presentes em dois perfis descritos neste trabalho (Perfil 1 e Perfil 2), das imagens de satélites e da interpretação visual, com base na paisagem local, respaldada nem atributos tais como altitude, declividade, geomorfologia e vegetação. A seguir vetorizou-se os limites dos polígonos deste mapa, que foram subdivididos nas seguintes unidades de mapeamento, de acordo com a caracterização analisada: Argissolo Vermelho- Amarelo, Cambissolo Háplico e Latossolo Vermelho-Armarelo.

O mapa de declividade foi obtido a partir do sítio da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) no qual foi realizado o recorte da shapefile para a visualização somente da declividade da área de interesse. Os dados utilizados na obtenção do MDE (Modelo Digital de Elevação) do projeto foram as curvas de nível disponibilizadas pela prefeitura do município e os pontos coletados com o GPS nos locais de extração de amostras de solo. Através da observação da imagem e dos elementos cartográficos, as classes de usos do solo urbano foram classificadas visualmente por vetorização. Também foram realizadas visitas à área de estudo, a fim de validar os dados gerados. Esta etapa foi processada manualmente em tela, sendo a área subdividida em quatro classes: Solo exposto, vegetação rasteira, mata densa e área urbana.

3.3 Metodologias Utilizadas para as Combinações dos Dados

Alguns autores vêm utilizando a Análise Multicritério como forma de tratamento de diversas informações, devido à possibilidade de julgar matematicamente dados quantitativos e qualitativos, atribuindo uma hierarquia de decisão com base no grau de importância de determinada variável (BAPTISTA, 2005). Desta forma, esta foi metodologia utilizada para a combinação dos elementos e estes fatores, juntamente com os critérios das análises serviram como dados de entrada para o método de Combinação Linear Ponderada (WLC em inglês) e agregados pela Média Ponderada (OWA), que resultaram em cenários de adequabilidades para o deslizamento de massa.

3.4 Modelagem para análise de grau de influência – Método Delph

O Método Delph foi o mais indicado para a avaliação dos critérios designados para a análise do grau de influência de cada variável no fenômeno de movimentação de material. Este método foi desenvolvido pelos cientistas Theodore Gordon e Olaf Hemer e tem como propósito a obtenção de um parecer ou estimativa baseado em evidências existentes, removendo, contudo os impedimentos que ocorrem no grupo de trabalho quando se busca um consenso entre os especialistas dele participantes. É um método sistemático e interativo de estimativa que se baseia na experiência independente de cada especialista. Os peritos são rigorosamente selecionados por suas reconhecidas experiências e conhecimentos e respondem a um questionário.

Este método distingue-se essencialmente por três características básicas: 1) o anonimato entre os participantes - a fim de se reduzir a influência de um sobre o outro, porque eles não se intercomunicam durante a realização do painel; 2) A interação com "feedback" controlado, que permite a condução do experimento numa série de etapas ("rounds") e a comunicação dos participantes através de um resumo da etapa precedente, evitando assim que o painel se desvie dos pontos centrais do problema; 3) A utilização de uma definição estatística da resposta do grupo que é uma maneira de reduzir a pressão do grupo na direção da conformidade, evitando, ao fim do exercício, uma dispersão significativa das respostas individuais. Vale ressaltar que algumas variações podem implicar na eliminação de uma ou mais características do método, ou na criação de procedimentos diferentes, que são admitidos, desde que sejam conservadas as características básicas. Uma vez em detenção das notas, os dados são computados e ao final calculam-se a mediana e o desvio padrão.

Page 5: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

5  

3.5 Grupo de Avaliadores

Com o intuito de realizar o julgamento dos mapas foi proposto duas fichas de avaliações em que foram convidados profissionais e especialistas das áreas afins para preenchê-las. Estes avaliaram os mapas de acordo com os fatores ambientais: declividade, precipitação, uso e ocupação do solo e tipos de solo. Na primeira ficha foi feita a análise das classes representativas de cada um desses elementos e atribuídos pesos , em uma escala entre 0 a 10, sendo que quanto mais próximo de 0, menos a classe interferiria no movimento de massa. Na segunda ficha, foram definidos os percentuais de influência para cada um desses elementos, com valores entre 0 e 100%), para a ocorrência de movimentos de massa. Os pesos foram atribuídos com os graus de importância em formato decrescente e posteriormente foram realizadas as médias das notas. A avaliação resultou no mapa de risco das áreas potenciais para movimentos de massa no bairro Sion em João Monlevade-MG.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Solo

 

As análises morfológicas dos perfis abertos em campo e os resultados físicos laboratoriais apresentados na Tabela 1 permitiram inferir na ocorrência de duas principais Classes de Solos: Latossolo Vermelho-Amarelo Tb distrófico alumínico (LVA) no perfil 1 e Cambissolo Háplico Tb distrófico (CX) no perfil 2.

Tabela 1. Resultado das Análises Físicas.

O mapa de solos gerado representado na Figura 2 é constituído por três classes: Latossolos Vermelho-Amarelo Tb distrófico Alumínico, Cambissolo Háplico Tb distrófico com base em caracterização analítica e o Argissolo Vermelho-Amarelo, inferido através de análise visual, percebendo-se menor ocorrência deste último.

Classe Horizonte Areia Silte Argila Classe Textural

Densidade do

Solo g.cm-3

Grossa Fina - - - - - - - - - - - - - % - - - - - - - - - - -

LVA A 9 5 9 77 Muito Argilosa 0.90 B 10 4 10 76 Muito Argilosa 0.97

CX A 24 21 4 51 Argilosa 1.00 AB 23 19 9 49 Argilosa 1.00 B 24 15 13 48 Argilosa 0.98

Page 6: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

6  

Figura 2. Mapa de Solos do bairro Sion, João Monlevade-MG.

Os especialistas designados para avaliar o trabalho, estipularam pesos apresentados na Tabela 2, de acordo com o grau de influência ao risco de movimento de massa que cada tipo de solo possui. Foram levados em consideração aspectos relacionados principalmente à drenagem. O LVA, com textura muito argilosa confere, naturalmente, grande capacidade de retenção de água. Entretanto, sabe-se que é uma classe que se desenvolveu ao longo do processo pedogenético e apresenta estrutura subangular pequena a média, com consistência média (seca e friável (úmida)). O encaixe entre estruturas, na descrição morfológica, indica espaços entre blocos estruturais, o que confere maior potencial de drenagem do solo. Desta forma, os Latossolos Vermelho-Amarelo ganharam peso menor, pois são solos bem drenados e facilitam no processo de infiltração da água, além de ser mais resistentes e ter pouca influência nos movimentos de massa. Porém deve-se levar em consideração os outros fatores ambientais de interferência, sem excluir totalmente a possibilidade de ocorrências. Em contrapartida, os Argissolos Vermelho-Amarelo possuem baixa condição de infiltração, por terem grande presença em argila no horizonte B, influenciando fortemente no escoamento superficial da precipitação, sendo de influência considerável para o fenômeno de movimento de massa. Já os Cambissolos Háplicos apesar de bem drenados, são solos pouco evoluídos no processo pedogenético, possuem o horizonte A e B pouco espesso e quando expostos a cortes e taludes são extremamente erodíveis. Com a influência da precipitação e por estarem presentes em sua maior parte no relevo forte ondulado, este solo recebeu um peso bem mais alto, influenciando sistematicamente na suscetibilidade a movimento de massa para a área de estudo.

Tabela 2. Classe de solos e seus respectivos pesos.

4.2 Relevo

As características do relevo qualificam as condições de declividade, referentes ao comprimento de encostas e à configuração superficial dos terrenos, definindo as formas topográficas e facilitam as inferências sobre a susceptibilidade à erosão e aos tipos de movimento de massa do meio ambiente. No que tange à declividade da área, os processos erosivos e as susceptibilidades à movimento de massa são intensificados, como mostrado na Figura 3 e na

Classes dos solos Média dos pesos Desvio padrão Limites Latossolo Vermelho-Amarelo 3,25 0,96 2,29 - 4,21 Argissolo Vermelho-Amarelo 5,75 1,89 3,86 - 7,64

Cambissolo Háplico 9,50 1,00 8,50 - 10,50

Page 7: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

7  

Tabela 3. Segundo os resultados obtidos através dos pesos estipulados pelos especialistas, a declividade, acima de 20%, na área em estudo, pode ser determinante para possíveis ocorrências de movimentos de massa. Como já ponderado, as características de relevo para o Latossolo Vermelho-Amarelo Tb distrófico alumínico (Perfil 1) encontra-se em relevo ondulado e sua estrutura faz com que ele seja mais resistente aos processos erosivos e aos movimento de massa como já discorrido. Já o Cambissolo Háplico Tb distófico (Perfil 2) em estudo se encontra em um relevo forte ondulado sendo mais susceptível à ocorrência de movimento de massa.

Figura 3. Mapa de Declividade do bairro Sion, João Monlevade-MG.

Tabela 3. Método de Avaliação e pesos para graus de declividade.

4.3 Uso e ocupação do solo

O mapa de uso e ocupação do solo, mostrado na Figura 4, foi avaliado segundo a análise dos especialistas, para atribuição à cada classe de uso uma propensão à erosão hídrica e ao desenvolvimento de tensões subsuperficiais devido ao sistema radicular, resultando nos pesos de influência mostrados na Tabela 4. A área apresenta visivelmente maior ocupação por vegetação rasteira com uma cobertura vegetal aparentemente deficiente, mas que ainda providencia uma função de retenção de água e redução dos processos erosivos. Porém, com o passar do tempo, à medida que houver ampliação da malha urbana dentro do terreno, poderão ocorrer maiores taxas de escoamento superficial concentrado e consequentemente deslocamento de massa principalmente nos solos câmbicos, como já discorrido no mapa de declividade.

Classes de declividade Média dos pesos Desvio padrão Limites 0% a 3% 1,25 1,26 - 0,01 - 2,51 3% a 8% 2,75 1,50 1,25 - 4,25

8% a 20% 4,50 1,29 3,21 - 5,79 20% a 45% 6,50 0,58 5,92 - 7,08 45% a 75% 8,00 0,00 8,00 - 8,00

> 75% 10,00 0,00 10,00 - 10,00

Page 8: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

8  

Figura 4. Mapa de Uso e Ocupação do Solo do bairro Sion, João Monlevade-MG. Fonte: Elaborado pelos autores.

Tabela 4. Classes de uso e ocupação do solo e seus respectivos pesos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

4.4 Precipitação  

O município de João Monlevade quanto à respectiva área de estudo do bairro Sion apresenta uma precipitação anual média torno de 1200 a 1500 mm. As informações sobre dados pluviométricos disponíveis e avaliados, não permitiram avaliar as intensidades dos volumes precipitado diariamente. Esta informação é importante, pois permite avaliar o quanto de chuva ocorreu em determinado período de tempo, e o seu real impacto no solo, bem como o volume de escoamento superficial gerado. Os maiores índices pluviométricos foram observados entre os meses de outubro a março. O peso gerado de precipitação para o mapa de risco foi o resultado da ponderação de notas percentuais dadas pelos especialistas para essa quantidade média de precipitação.

4.5 Determinação dos pesos dos fatores ambientais condicionantes

Na análise dos mapas temáticos dos fatores ambientais acima apresentados e através de sua interpolação e associação das camadas pela equação algébrica designou-se o mapa síntese Figura 5, Equação 1 e Tabela 6. Pode-se afirmar que nas áreas em que declividade é classificada de plana a ondulada há predominância de LVA e Argissolos, assim como o uso e ocupação do solo se faz em sua maioria como vegetação rasteira, o que classifica essa região com o grau de baixíssima a baixa susceptibilidade ao movimento de massa. Esta área é identificada no mapa de suscetibilidade pelas cores verde claro e escuro, respectivamente.

A classe de risco moderado (cor amarela) tem declividade de ondulada à forte ondulada, uso e ocupação constituída majoritariamente por mata densa e em menor porção por vegetação

Classes de uso e ocupação

Média dos pesos Desvio padrão Limites

Mata densa 3,75 0.50 3,25 - 4,25 Vegetação Rasteira 4,75 1,26 3,49 - 6,01

Área urbana 6,75 0,96 5,79 - 7,71 Solo exposto 8,50 1,29 7,21 - 9,79

Page 9: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

9  

rasteira, área urbana e solo exposto. Podem ser identificados nesta área presença das três classes de solos CX, Argissolo e LVA. O risco de deslizamento está associado ao efeito de precipitações de grande intensidade e volume, ocasionando voçorocas profundas no CX, com posterior queda dos barrancos. Na porção noroeste do mapa síntese é possível visualizar um espaço correspondente à susceptibilidade alta (cor laranja), influenciada pela declividade montanhosa (45 a 75%). Nesta área a presença de LVA e Argissolo condicionam uma maior estabilidade ao ambiente, sendo os fatores de maior controle e redução dos riscos de vossoracamento e deslizamento de solo, mesmo nas condições de declividades mais acentuadas. A ocupação de solo nesta área é quase que totalmente por construções residenciais, o que evita a exposição do solo e os riscos associados aos deslizamentos de massa.

Já nas cores laranja e vermelho que representam os graus de alto a altíssimo no mapa síntese, observa-se a influência do relevo das encostas marcado pela presença de declive acentuado (relevo forte ondulado); da maior predominância de vegetação rasteira; e do solo exposto, nos quais há ocorrência de solos Câmbicos (CX) e que, devido sua fragilidade, contribuem efetivamente para ocorrência de movimentos de massas principalmente nos períodos chuvosos. Nessas áreas nota-se a divisão das terras em loteamentos que já apresentam processos erosivos em diversos graus de intensidade. Pelas análises realizadas, a indicação de uso e ocupação do solo é a formação de reservas florestais.

Figura 5. Mapa de susceptibilidade ao risco de movimento de massa do bairro Sion, João Monlevade-MG, sobreposto ao Google Eart.

IRM = (0,3625 mapa declividade reclassificado) + (0,2000×mapa de uso e ocupação do solo

reclassificado) + (0,1750×mapa de tipos de solo reclassificado) + (0,2625×mapa de precipitação reclassificado).

Eq. 1 Tabela 5. Determinação geral dos pesos e fatores ambientais.

Fatores de risco Média dos pesos (%) Desvio padrão Limites Declividade 36,25 7,50 28,75 - 43,75 Precipitação 26,25 6,29 19,96 - 32,54 Uso e Ocupação 20,00 0,00 20,00 - 20,00 Tipo de solo 17,50 8,66 8,84 - 26,16

Page 10: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/128.pdf · 2015-10-08 · A ferramenta Delphi foi utilizada para

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental    

10  

5. CONCLUSÃO

A avaliação dos fatores ambientais condicionantes de movimentos de massa permitiu identificar, caracterizar e mapear as áreas mais susceptíveis a essa ocorrência no Bairro Sion. O uso de SIGs e a utilização da análise de multicritério mostrou-se eficiente para a obtenção dos mapas temáticos de declividade, precipitação, solos, uso e ocupação e de suscetibilidade. O mapa de susceptibilidade ao movimento de massa da área em estudo apresentou nas porções de alto e altíssimo risco, evidências que grande parte das encostas íngremes e côncavas, bem como na direção das linhas de drenagem se encontra em processo de grande instabilidade, sujeitas a ocorrências de escorregamentos, decorrentes principalmente do fator de declividade, aliada aos eventos de precipitação, os usos e tipos de solo, especialmente os Câmbicos.

Por ser uma área consideravelmente perigosa, sujeitos a movimentos gravitacionais de massa, sua ocupação deve ser evitada pelo que se sugere que a mesma seja caracterizada como Área de Preservação Permanente (APP) e seja estimulada a formação de reservas florestais a fim de não ocorrer, de forma desordenada e inadequada, a extensão da malha urbana e futuros riscos aos habitantes. A extensão deste trabalho para o restante da área territorial do município pode ser integrado ao plano diretor de forma a orientar e minimizar os incidentes das áreas que apresentam riscos mais consideráveis.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo fomento à pesquisa e a UEMG e UFV pelo suporte oferecido ao trabalho.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, A.C. Análise da paisagem e identificação de áreas suscetíveis a movimentos de massa na APA Petrópolis – RJ: subsídio ao planejamento urbano. 2005. 110p. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2005.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGORPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2ª ed. Rio de Janeiro, 2006. 306p.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2ed. Rio de Janeiro, Embrapa solos, 2011. 230 (Documentos/Embrapa solos, 132).IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados do censo 2010. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em Março de 2013.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados do censo 2010. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em Março de 2013.

RUIZ, H.A. Incremento da exatidão da análise granulométrica do solo por meio da coleta da suspensão (Silte + Argila). R. Bras. Ci. Solo, 29 (2):297-300, 2005.

SANTOS, R.D.; LEMOS, R.C.; SANTOS, H.G.; KER, J.C. & ANJOS, L.H.C. Manual de descrição e coleta de solo no campo. Viçosa. Sociedade Brasileira de Ciências do Solo. 5ª ed., 2005. 100p.

TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. (Org.) Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009, 196 p.

TRINDADE, J, C. D. Paisagem e Desenvolvimento Econômico da Bacia do Rio Piracicaba. 154p. Monografia: Graduação em Geografia. FCESI/MG, 2007.