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EX.MO SR DOUTOR JUIZ DA VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ/ CURADORIA DO MEIO AMBIENTE, por intermédio dos Promotores de Justiça que esta subscrevem, em litisconsórcio com o INSTITUTO DO MEIO ABIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS − IBAMA e INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE − ICMBio vêm perante Vossa Excelência propor AÇÃO CAUTELAR INOMINADA com pedido de LIMINAR contra o ESTADO DO PIAUÍ e WORLD ECOLOGIC CENTER PROJETOS TURÍSTICOS E ECOLÓGICOS S/A, nome de fantasia, ECOCITY BRASIL, CNPJ 07.637.932/0001-99, com endereço a Av. Martins Ribeiro, 4645, Labino, Ilha Grande – Piauí. CEP 64.224-000, pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos:

Ação Cautelar Proposta Contra o Licenciamento Ambiental Do ECOCITY BRASIL SA

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Ecocyty Brasil SA; Ministério Público Estadual; Piauí; competência material; licenciamento ambiental; IBAMA; impacto ambiental;Zona Costeira; APA; RESEX; Monumento Nacional; Unidades de Conservação; áreas de preservação permanente.

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EX.MO SR DOUTOR JUIZ DA VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ/

CURADORIA DO MEIO AMBIENTE, por intermédio dos Promotores de Justiça que

esta subscrevem, em litisconsórcio com o INSTITUTO DO MEIO ABIENTE E DOS

RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS − IBAMA e INSTITUTO CHICO

MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE − ICMBio vêm perante

Vossa Excelência propor AÇÃO CAUTELAR INOMINADA com pedido de LIMINAR

contra o ESTADO DO PIAUÍ e WORLD ECOLOGIC CENTER PROJETOS

TURÍSTICOS E ECOLÓGICOS S/A, nome de fantasia, ECOCITY BRASIL, CNPJ

07.637.932/0001-99, com endereço a Av. Martins Ribeiro, 4645, Labino, Ilha Grande –

Piauí. CEP 64.224-000, pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos:

I. DOS FATOS

Esta ação cautelar, preparatória de ação civil pública, procura

assegurar a suspensão do licenciamento ambiental do empreendimento ECOCITY

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BRASIL, levado o termo pelo órgão ambiental estadual, Secretaria do Meio Ambiente e

dos Recursos Hídricos – SEMAR.

O empreendimento, ora em discussão, refere-se a um complexo

turístico com uma área total é de 6.208 ha − parte dos 8.603 ha cedidos pela União por

intermédio de concessão de uso − a ser construído em Parnaíba e na Ilha Grande de Santa

Isabel, no Delta do Parnaíba, único delta em mar aberto das Américas, abrangendo áreas

pertencentes aos municípios de Ilha Grande de Santa Isabel e Parnaíba, no Estado do

Piauí, totalmente inserido dentro do perímetro da ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DO DELTA DO PARNAÍBA (APA DO DELTA) e abrangendo parte da RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO PARNAÍBA (RESEX DO DELTA) e sua

Zona de Amortecimento.

Primeiramente deve-se esclarecer que o projeto referente ao

empreendimento ECOCITY BRASIL foi apresentado informalmente em maio deste ano,

pela empresa WR – Consultoria e Planejamento Ltda. à Coordenadora do Centro

Operacional de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural e a Curadora do Meio Ambiente,

órgãos do Ministério Público Estadual.

Naquele momento foi questionado se havia sido feito o estudo de

impacto ambiental. A empresa informou que não. Então lhes foi comunicado,

verbalmente, que era necessário o estudo e que o empreendimento deveria ser licenciado

pelo IBAMA e/ou Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,

pois os potenciais impactos em nosso entendimento ultrapassavam os limites do Estado do

Piauí, repercutindo sobre toda uma região.

Contudo, em total desrespeito ao devido processo legal de

licenciamento ambiental iniciou-se o processo na esfera estadual, perante a Secretaria

Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMAR.

Segundo o RIMA, que é o estudo técnico que explica em linguagem

acessível ao público o conteúdo do EIA, o empreendimento assim se apresenta:

“3 – QUAL A CONCEPÇÃO DO EMPREENDIMENTO?

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Como está prevista a implantação do complexo turístico

Ecocity Brasil?

O plano global do empreendimento prevê sua implantação

num horizonte de 30 anos em cinco etapas, cada uma a ser executada num

horizonte de seis anos, além de Programas Complementares, conforme detalhado

a seguir:

No que concerne à construção de equipamentos turísticos e

correlatos (sistema viário básico, energia elétrica, saneamento básico), que

certamente dirigem os demais componentes do empreendimento, vislumbra-se a

implantação de um total de 25 (vinte cinco) hotéis de diferenciados padrões, tais

como: resorts, chalés, casas etc., a saber:

• ETAPA 01 (06 anos) Programa: Hotel Resort I, Golf Resort

I, ZEIS, Estrada de acesso e Rede Elétrica;

• ETAPA 02 (06 anos) Programa: Água Resort I e II, Golf

Resort II, Mangue Resort I, Oceano Resort I e II

• ETAPA 03 (06 anos): Programa: Hotel Resort II e II, Golf

Resort III a VI

• ETAPA 04 (06 anos): Programa: Oceano Resort III a V,

Dunas Resort I e II

• ETAPA 05 (06 anos): Programa: Hotel Resort VII a X, Golf

Resort III, Zona Especial, Zona industrial e não poluente.”

O ECOCITY BRASIL, segundo RIMA apresentado pelo

empreendedor, corresponde a um empreendimento hoteleiro de proporções espetaculares,

cuja execução se distende em um lapso temporal de trinta anos. Aliás, empreendimento

como antes nunca visto neste país. Dotado de vinte e cinco “hotéis de diferenciados

padrões”, campos de golf; marinas internas; sistema de abastecimento de água e sanitário

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com construção de estações de tratamento; sistemas de transmissão de energia e

subestações, estradas de acesso etc.

Não resta dúvida de que se trata de um empreendimento único e de

grande magnitude, cujos impactos advindos em razão de seu porte agregam ainda a

agravante ambiental de sua localização, pois se insere em Unidade de Conservação, em

Zona Costeira e às margens do Rio Parnaíba, em ecossistemas de praia e demais áreas de

preservação.

Diante disto, tem-se a certeza de que os potenciais impactos

ambientais desbordam as fronteiras do Estado do Piauí atingindo o Estado do Maranhão,

sendo, portanto regionais, firmando com isto a competência do órgão federal para

licenciar, como se demonstrará ao longo da presente ação.

Abaixo, para melhor compreensão de Vossa Excelência quanto a

localização do empreendimento, segue mapa elaborado pelo ICMBio Parnaíba, indicando

a área da APA, da RESEX e do projeto ECOCITY BRASIL:

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II - DO MÉRITO

1. PRELIMINAR AO MÉRITO: DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

A ação está sendo proposta junto à Justiça Federal, nos termos do art.

109, I, da Constituição Federal, já que presente interesse de duas autarquias federais, o

IBAMA e o ICMBio.

No entanto, argumentando, não integrassem a lide as referidas

autarquias federais na qualidade de parte, ainda assim prevaleceria a competência federal

não somente porque os impactos do empreendimento atingem toda uma região, mas

também, porque a presente ação visa a proteger: praia, mar territorial, terrenos de

marinha e o Rio Parnaíba, bens da União, da mesma forma, que localizados em APA e

RESEX, Unidades de Conservação instituídas pela União, bem como, em Zona

Costeira, que é Patrimônio Nacional, o que justifica por si só o interesse federal (arts. 20 e

225 da CF).

Page 6: Ação Cautelar Proposta Contra o Licenciamento Ambiental Do ECOCITY BRASIL SA

Assim, além do interesse difuso de toda a coletividade em proteger os

bens ora em comento, existe também o interesse da União em proteger o seu domínio e

resguardar sua competência para licenciar dentro do Sistema Nacional de Meio Ambiente

− SISNAMA, previsto na Lei 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio

Ambiente, justificando o ingresso da presente ação na forma do artigo 109, da

Constituição Federal.

2. DO DIREITO

2.1. AS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E AS RESERVAS EXTRATIVISTAS

Tanto as RESEXs quanto as APAs são espécies do gênero Unidade de

Conservação, previstas na Lei 9.985/00, que cria o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação - SNUC.

O art.2˚, inciso I, da lei mencionada, define como sendo Unidade de

Conservação “o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas

jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder

Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de

administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.”

As Unidades de Conservação dividem-se em Unidades de Proteção

Integral e Unidades de Uso Sustentável. Nesta última é que se inserem as APAs e as

RESEXs.

O art. 15 da mencionada lei define a APA e seus objetivos: “é uma

área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos

abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de

vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a

diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade

do uso dos recursos naturais”.

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2. 1.1. A APA DO DELTA DO PARNAÍBA

Foi criada pelo Decreto Federal s/n˚ de 28.08.1996, englobando os

Estados do Piauí, Maranhão e Ceará. Localizada nos Municípios de Luís Corrêa, Morro da

Mariana e Parnaíba, no Piauí; Araioses e Tutóia, no Maranhão; Chaval e Barroquinha, no

Ceará, e nas águas jurisdicionais.

A criação da APA do Delta se deu por “sugestão de ambientalistas e

ecologistas visando proteger o ecossistema costeiro formado por mangues, dunas e

restingas” 1.

Segundo o Decreto s/n de 28.08.98, os objetivos da APA do Delta do

Parnaíba são: “proteger os deltas dos rios Parnaíba, Timonha e Ubatuba, com sua fauna,

flora e complexo dunar; proteger remanescentes de mata aluvial; proteger os recursos

hídricos; melhorar a qualidade de vida das populações residentes, mediante orientação e

disciplina das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico e a educação

ambiental; preservar as culturas e as tradições locais.”

Por se tratar de um empreendimento turístico transcrevemos tópico do

Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável do Pólo Piauí Costa do

Delta2, plano este elaborado por iniciativa do Estado do Piauí, no qual a é demonstrada a

importância inegável da APA do Delta para o desenvolvimento da região:

“Trata-se do único delta em mar aberto do Continente

Americano, que forma mais de 75 ilhas e ilhotas, além de ser um

santuário de reprodução de diversas espécies de peixes,

caranguejos, lagostas e camarões, que se reproduzem em sua rica

cobertura vegetal, principalmente de manguezais e igarapés. A

1 MATTOS, Flávia Ferreira Caderno e IRVING, Marta Azevedo. Caderno Virtual de Turismo, vol. 3, n˚ 4, 2003.Disponível em: http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/include/getdoc.php?id=137&article=44&mode=pdf2 Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável -PDIT / Pólo Costa do Delta Piauí – instrumento técnico para a gestão, coordenação e condução das decisões da política turística de longo prazo na Área de Planejamento, de maneira integrada entre as diversas instituições envolvidas com o turismo, além de se constituir no instrumento de orientação para o setor privado do PRODETUR/PI II, em continuidade ao PRODETUR/PI I, em fase final de conclusão.Disponível em: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/prodetur/downloads/gerados/pdits_piaui.asp Acesso em 08.09.2008.

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unidade protege também estuários onde se reproduz o peixe-boi

marinho.

O relevo da área da APA é plano, com acentuações leves

produzidas através da ecodinâmica da costa - dunas fixas - dunas

móveis e paleodunas. Verificam-se formações vegetais de caatinga

litorânea, restinga, manguezal e carnaubal. A fauna associada à

vegetação também é exuberante e tem representantes como a onça

vermelha, gato maracajá, veado mateiro, guaxinim, raposa, gambá,

tatu, paca, jacaré, sucuri, peixe-boi, garças branca e parda, guará,

socos, galinha d’água, pato selvagem, marrecos, putrião e

caranguejo-uçá.

Algumas atividades desenvolvidas na APA são conflitantes

com o objetivo da Unidade, como as salineiras, o desmatamento de

mangue para agricultura de subsistência e construção, a pesca

predatória, a especulação imobiliária e o turismo desordenado.”

Deve ser destacado também que o Brasil é signatário da Convenção

sobre Biodiversidade Biológica – CDB, assinada em 1992. Com fundamento nesta

Convenção o Ministério do Meio Ambiente lançou em 2006 a atualização da lista de

Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição dos Benefícios da

Biodiversidade Brasileira, Decreto 5092/04, Portaria 126/04/MMA e 009/2007/MMA.

No litoral do Piauí, o mencionado documento indicou que a área da

Ilha Grande de Santa Isabel, ou seja, parte integrante da APA na qual se pretende instalar

o empreendimento possui importância biológica extremamente alta, devendo ser

prioritariamente instituídas ações de conservação à biodiversidade.

O mapa abaixo mostra os sistemas ambientais frágeis e o seguinte

indica com um círculo, a localização do empreendimento em área na qual deve ser

priorizada a conservação da biodiversidade. Ambos os mapas foram cedidos pelo

ICMBio.

Page 9: Ação Cautelar Proposta Contra o Licenciamento Ambiental Do ECOCITY BRASIL SA

Como já mencionado, a área em que se pretende instalar o

empreendimento é considerada frágil e de conservação prioritária, porque se encontra em

Zona Costeira que agrega diversos ecossistemas, que na forma da Lei 4.771/65, Código

Florestal, são consideradas áreas de preservação permanente, tais como: lagoas

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perenes, lagoas intermitentes, campo de dunas fixas e móveis, planície fluvial,

manguezais, restingas e áreas de praia, conforme atesta o Zoneamento Ecológico

Econômico − ZEE do Baixo Parnaíba (2002). Sobre estas áreas é instituída limitação

administrativa, sendo sua supressão somente admitida em caso de interesse social ou

utilidade pública, impossível, portanto, para os fins colimados pelo empreendimento.

A corroborar tal afirmação, explicita o próprio estudo de impacto

ambiental (EIA) apresentado pelo empreendedor, na página 21, que: “A área total é de

6.208 hectares, dos quais aproximadamente 20% são de preservação - como faixas de

dunas, reserva do frutíceto, faixas de amortecimento de mangues, faixa de preservação de

lagoas, as faixas de praia e as margens de rios.” A seguir mapa demonstrativo das áreas

de preservação permanente no litoral piauiense (Fonte ICMBio)

2.1.2. A RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO PARNAÍBA

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A Reserva Extrativista − RESEX, por sua vez, é “uma área utilizada

por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e,

complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno

porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas

populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.” Art. 18, Lei

do SNUC.

A Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba foi criada pelo

Decreto s/n˚ de 16/11/2000, com área de 27.560 ha, envolvendo os municípios de Ilha

Grande-PI e Araioses - MA e mais a sua Zona de Amortecimento3, art. 25 da Lei do

SNUC.

De acordo com o art. 2˚ do Decreto de criação da RESEX do Delta do

Parnaíba, esta tem por finalidade “garantir a exploração auto-sustentável e a conservação

dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista

da área”.

A população que vive no local tem por atividade de subsistência a

extração de recursos marinhos (pesca, cata do caranguejo, da ostra, do sururu etc.),

agricultura para o próprio consumo ou em pequena escala (cultivo de arroz). “Pode-se

considerar que a necessidade de conservação da região, somada à característica dessas

comunidades, propiciou a criação da referida Unidade de Conservação na categoria de

uso sustentável, sob a designação de Reserva Extrativista Marinha.” 4

Com facilmente se pode ver, Excelência, as áreas em questão

apresentam as características decisivas para o estudo e compreensão da tutela de urgência,

segundo MARCELO ABELHA RODRIGUES5:

“O primeiro aspecto é a ubiqüidade do bem ambiental, que o faz onipresente, lançando seus tentáculos para lugares imprevistos e inimagináveis. Como já dissemos, o bem ambiental espalha-se de tal

3 Conforme Lei do SNUC: Ar. 2˚ XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade;

4 Op. Cit. Nota 1.5 In Processo Civil Ambiental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008, p. 113/114.

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forma impossível limitar geograficamente os efeitos que lhe são causados. O bem ambiental não respeita limites geográficos ou políticos impostos pelo ser humano.

Já o segundo aspecto diz respeito à instabilidade (sensibilidade) do bem ambiental. Ora, sendo o equilíbrio ecológico um bem jurídico que depende de uma mistura química, física e biológica dos recursos ambientais, e sendo essa mistura formada por uma alquimia perfeita entre os recursos ambientais (...), a alteração de um dos fatores ambientais (...), leva, inexoravelmente, a um desequilíbrio ecológico. (...)

O terceiro ponto fundamental acerca do equilíbrio ecológico é a sua ‘essencialidade à sadia qualidade de vida’, ou seja, o bem ambiental é imprescindível à manutenção, ao abrigo e à proteção de todas as formas de vida.”

E assim é, porque "A conservação do meio ambiente não se prende

a situações geográficas ou referências históricas, extrapolando os limites impostos pelo

homem. A natureza desconhece fronteiras políticas. Os bens ambientais são

transnacionais" (REsp nº 588.022/SC, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de

05/04/2004).”

2.2. DO PLANO DE MANEJO

De acordo com a Lei do SNUC, as APAs e as RESEXs terão

necessariamente um Plano de Manejo que é o “documento técnico mediante o qual, com

fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu

zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos

naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade”,

artigo 2˚, XVII .

Do exame do dispositivo legal acima se conclui que a natureza

jurídica do “plano de manejo é normativa, significa dizer, está preordenado a disciplinar,

expressa e/ou tacitamente, as condutas proibidas e admitidas no âmbito de uma

determinada Unidade de Conservação.” 6. Não cabe ao Poder Público decidir se cumpre

6 A ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO COMO FOMENTADORA DE POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL: UM ENFOQUE NA APA DA MANTIQUEIRA (UMA APA DE “PAPEL”?) Omar Serva Maciel. Advogado da União. Representante do Escritório da PGU em Varginha-MG. Mestre em Direito Constitucional pela UFMG. Disponível em: http://www.escola.agu.gov.br/revista/2008/Ano_VIII_junho_2008/A%20Advocacia-geral%20da%20uni%C3%A3o-%20Omar%20Serva%20Maciel.pdf

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ou não o determinado na lei, isto porque sem o referido Plano, a proteção pretendida para

a área não existe e as unidades de conservação nada mais são do que “APA ou RESEX de

papel”.

Neste sentido menciona OMAR SERVA MACIEL que:

“É perfeitamente possível estabelecer uma equivalência entre o plano de manejo e as leis de uso e ocupação dos solos urbanos, instrumentos que promovem o ordenamento de uso de territórios urbanos por pessoas físicas e jurídicas.

O plano de manejo funciona, quando nada, como “lei material”, na medida em que, como indispensável instrumento de gestão, delimita e circunscreve o direito de uso e fruição de propriedade existente no âmbito de uma Unidade de Conservação, a par de direcionar as atividades suscetíveis de desenvolvimento no seu entorno, perseguindo, com isso, a meta de sustentabilidade.”7

Contudo, até a presente data não foi concluído Plano de Manejo para

nenhuma das duas Unidades de Conservação, apesar do prazo legal ser de no máximo

cinco anos, após a criação das Unidades já ter se exaurido.

Mas mesmo não tendo sido elaborado o Planejo de Manejo da área,

está vedada por expressa disposição do art. 28, da Lei do SNUC, qualquer alteração,

atividades ou modalidades de utilização, em APA ou RESEX que esteja em desacordo

com os seus objetivos e regulamentos.

Em uma análise preliminar do EIA/RIMA procedida pelos técnicos

do ICMBio, em anexo, constata-se que o complexo turístico que ora se pretende instalar

prevê, dentre outros, a implantação de projetos de urbanização; realização de obras de

terraplanagem, com a abertura de estradas e canais; esgotamento sanitário e construção de

marinas internas na ilha, diversos campos de golf que irão necessitar de irrigação no tempo

da seca modificando a qualidade hidrogeológicas da região. Tudo isto modifica as

condições ambientais da área, de grande importância ecológica, extremamente frágil, e em

grande parte, constituída de áreas de preservação permanente, em que tais atividades estão

7 Ibid.

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vedadas, sendo ainda consideradas santuário de diversas espécies, inclusive área de desova

de tartarugas marinhas, que fazem parte da lista do IBAMA dos animais em extinção.

Ora, as atividades acima elencadas contrariam o disposto no art. 5˚ do

Decreto de criação da APA, que veda dentre outras a: “a) implantação de projetos de

urbanização, realização de obras de terraplenagem, abertura de estradas e de canais e a

prática de atividades agrícolas, quando essas iniciativas importarem em alteração das

condições ecológicas locais, principalmente das zonas de vida silvestre; b) o exercício de

atividades capazes de provocar erosão ou assoreamento das coleções hídricas; c) o

exercício de atividades que impliquem matança, captura ou molestamento de espécies

raras da biota regional, principalmente do Peixe-boi-marinho; d) despejo, no mar, nos

manguezais e nos cursos d'água abrangidos pela APA,de efluentes, resíduos ou detritos,

capazes de provocar danos ao meio ambiente; c) retirada de areia e material rochoso nos

terrenos de marinha e acrescidos, que implique alterações das condições ecológicas

locais.”

De outra banda, destaque-se que nem mesmo o Plano de

Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável -PDIT / Pólo Costa do Delta Piauí8,

que é documento do próprio Governo do Estado do Piauí, foi atendido. Dispõe este que

para desenvolver o turismo no Delta do Piauí deverão ser tomadas as seguintes medidas:

1. Realizar o zoneamento ambiental na APA;

2. Implementar atividades economicamente viáveis e sustentáveis de

geração de emprego e renda;

3. Elaborar e implementar o programa de manejo de caranguejo;

4. Elaborar e implementar um programa de manejo florestal sustentável;

5. Elaborar e implementar um plano de manejo dos solos e dos recursos

hídricos e elaborar legislação para disciplinar e controlar a captura do

cavalo marinho e de outras espécies nativas.

Por fim, é necessário ainda que seja atendido o principio

constitucional da função sócio-ambiental da propriedade, pois mais de 60% (sessenta por

cento) do espaço total do Município de Ilha Grande de Santa Isabel foi cedido pela União,

8 Disponível em: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/prodetur/downloads/gerados/pdits_piaui.asp Acesso em 08.09.2008

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sob a forma de concessão de uso ao empreendedor e, considerando-se que o restante do

Município compreende áreas já urbanizadas, conclui-se que as remanescentes que não

estejam na posse do empreendedor são de preservação permanente não restando, portanto

áreas para o crescimento futuro do Município.

Acresce ainda que a instalação do empreendimento impedirá o uso

que a população faz atualmente da área como, por exemplo, a pecuária extensiva, colheita

de frutos, pesca e coleta caranguejos. Estas se constituem em atividades de subsistência

para grande parte das comunidades do Município, sendo inclusive a colheita de frutos

objeto da criação da RESERVA EXTRATIVISTA DO CAJUÍ, requisitada pela

população local, anteriormente ao surgimento do presente empreendimento. O

processo de criação da Reserva encontra-se em análise junto a Diretoria de Unidades de

Conservação de Uso Sustentável e Populações Tradicionais – DIUSP/ICMBio, conforme

Parecer Técnico 07/2008, do ICMBio, ora em anexo.

Portanto em sendo implantado o empreendimento, deixam de ser

atendida não somente a finalidade com que foi criada a APA, mas também os motivos que

ensejaram a instituição RESEX do Delta do Parnaíba que fez com que esta fosse declarada

de interesse social tendo por objetivo “garantir a exploração auto-sustentável e a

conservação dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pela população

extrativista da área”, conforme Decreto s/n de 16.11.2000.

A APA e a Reserva Extrativista Marinha do Delta do Paranaíba não

podem ficar condenadas a serem Unidades de Conservação previstas tão somente no

papel. A sua efetiva implementação como área de proteção ambiental e de reserva

extrativista dependem fundamentalmente da elaboração do seu Plano de Manejo.

Daí porque qualquer processo de licenciamento ambiental na região

em foco deve ser precedido do Plano de Manejo das multicitadas Unidades de

Conservação, de competência da União, por meio do IBAMA e supletivamente pelo

ICMBio.

2.3. DOS ÓRGÃOS GESTORES DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO − APA E RESEX DO DELTA E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

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Tanto a RESEX quanto a APA do Delta do Parnaíba foram instituídas

por decreto federal, cabendo a implantação e a gestão ao IBAMA quando de sua criação,

passando esta com o advento da Lei 11.516/07 ao ICMBio e, supletivamente ao IBAMA.

Com o advento da Lei do SNUC as APAs e as RESEXs passaram a

ser geridas em conjunto pelo ICMBio e um Conselho Gestor, composto por órgãos

públicos, de organizações da sociedade civil e das populações residentes e tradicionais. Os

conselhos terão respectivamente natureza consultiva para a APA e deliberativa no caso da

RESEX.

Na espécie, nenhum dos dois conselhos foi ouvido para que iniciasse

a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMAR o processo de

licenciamento ambiental do empreendimento como o fez.

Neste sentido, dispõe o art. 20, inciso VII, do Decreto 4.340/02 que

regulamenta a Lei do SNUC que, “compete ao conselho de Unidade de

Conservação manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto

na Unidade de Conservação, em sua zona de amortecimento, mosaicos ou corredores

ecológicos”.

Assim, ao ser convidado para Audiência Pública, comunicou o

Ministério Público do Estado do Piauí ao Secretário de Meio Ambiente do Estado que não

compareceria a mesma, porque não reconhecia o órgão estadual como órgão legitimado a

expedir as licenças ambientais e que deveria, antes de tudo, serem ouvidos os conselhos

das respectivas unidades de conservação. Respondeu a SEMAR através de ofício em

anexo que os Conselhos seriam ouvidos na própria Audiência Pública.

Ora, a submissão ao crivo dos Conselhos das Unidades é instância

anterior ao início do processo de licenciamento, mesmo porque o Conselho da RESEX,

além da função consultiva que possui o da APA, delibera.

Os Conselhos compõem-se de um colegiado que deve ser consultado

e decidir de per se quanto à viabilidade do empreendimento, enquanto que a função da

Audiência Pública, na forma da Resolução CONAMA 009/87, de 05.07.90, é expor aos

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interessados, a população em geral, o conteúdo do EIA/RIMA. O órgão licenciador não

está vinculado ao que ali for decidido diferentemente do que for decidido por um conselho

deliberativo.

De outra banda, deve-se salientar que o ICMBio e, supletivamente o

IBAMA, detém o poder de polícia sobre as Unidades de Conservação instituídas pela

União, portanto não cabe ao órgão estadual de meio ambiente licenciar o empreendimento.

Neste sentir, dispõe a Lei 11.516/07 que:

Art. 1o  Fica criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de:

I - executar ações da política nacional de unidades de conservação da natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União;

II - executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União;

III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental;

IV - exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União; e

V - promover e executar, em articulação com os demais órgãos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso público e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas atividades sejam permitidas.

Parágrafo único.  O disposto no inciso IV do caput deste artigo não exclui o exercício supletivo do poder de polícia ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.

(grifou-se)

Desnecessário dizer que no exercício do poder de policia ambiental,

ou seja, da competência material, incluem-se não só a fiscalização, mas também o próprio

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licenciamento ambiental, como ferramenta que permite o controle da viabilidade

ambiental dos empreendimentos a serem instalados.

Não fossem as leis que criam o SNUC e o Instituto Chico Mendes

especiais − como afirma o velho brocardo “lei especial derroga lei geral”− e se existisse

apenas a Resolução CONAMA 237/97, que trata das competências para licenciar nos três

níveis da Federação, ainda assim a competência licenciatória caberia ao ente federal, pois

o art. 4˚, da Resolução menciona que tal competência se faz presente quando: a) os

potenciais impactos forem regionais, o que sempre ocorrerá com a APA e a RESEX do

Delta do Parnaíba, que englobam mais de um Estado da Federação; ou b) a Unidade de

Conservação for do “domínio” da União, entendido este não como sendo unidade

“propriedade” da União, mas sim, no sentido de Unidades que foram instituídas por ato do

Poder Público federal.

A jurisprudência é pacifica, neste sentido:

(...) "Diante do exposto: (...) b) julgo parcialmente procedente o pleito declaratório formulado pelo Parquet (pedido "b" do item V.2 da petição inicial - folha 33), declarando o IBAMA como órgão competente para proceder licenciamento ambiental e conceder licença e/ou autorização, sem prejuízos de licenças estaduais ou municipais acaso exigíveis em cada caso concreto, para instalação ou execução de obras, empreendimentos e construções de qualquer espécie em Unidades de Conservação Federais e em suas respectivas áreas de influência e zonas de amortecimento. (...)(Sentença proferida pela Justiça Federal de Alagoas na Ação Civil Pública nº 2004.80.00.0000612-8, em 29 de junho de 2007, DOE, fls. 41/43)

Na mesma linha de raciocínio:

“Nos termos do § 4º, do art. 10, da Lei nº 6.938/81, com a redação dada pela Lei nº 7.804/89, compete ao IBAMA o licenciamento no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. A Resolução CONAMA nº 237/97, de seu turno, determina que nesse quadro se compreendem as "localizadas e desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras

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indígenas ou em unidades de conservação de domínio da União" (art. 4º, I).”(TRF – 5ª Região. Agravo Regimental na Suspensão de Segurança, 20060500000128802/PB, Relator Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, maioria, DJU 11/07/2006 – P. 792)

No entanto, ad argumentando, não fosse instituída a APA ou a

RESEX do Delta do Parnaíba na área onde pretende se instalar o empreendimento, ainda

assim, prevaleceria a competência dos órgãos ambientais federais tendo em vista que os

bens que se pretende proteger: praia, mar territorial e terrenos de marinha, são bens da

União e se localizam em Zona Costeira, considerada Patrimônio Nacional, por expressa

disposição constitucional.

Sobre a Zona Costeira dispõe a Lei 7.661/88 e seu decreto

regulamentador Decreto 5.330/04, que dispõe no art. 12, inciso IX, que:

Art. 12.  Ao IBAMA compete:

I - executar, em âmbito federal, o controle e a manutenção da qualidade do ambiente costeiro, em estrita consonância com as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA;

(...)

IX - conceder o licenciamento ambiental dos empreendimentos ou atividades de impacto ambiental de âmbito regional ou nacional incidentes na zona costeira, em observância as normas vigentes;

(negritou-se)

Sobre a competência do IBAMA para o licenciamento ambiental de

atividade que afeta a zona costeira e o mar territorial, o Superior Tribunal de Justiça

assim se pronunciou, mutatis mutandi:

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESASSOREAMENTO DO RIO ITAJAÍ-AÇU. LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DO IBAMA. INTERESSE NACIONAL.1. Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação e para os Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.

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2. O confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito ambiental deve receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de preservar a qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger patrimônio pertencente às presentes e futuras gerações.3. Não merece relevo a discussão sobre ser o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece fronteiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. A preocupação que motiva a presente causa não é unicamente o rio, mas, principalmente, o mar territorial afetado. O impacto será considerável sobre o ecossistema marinho, o qual receberá milhões de toneladas de detritos.4. Está diretamente afetada pelas obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu toda a zona costeira e o mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de prévios EIA/RIMA. A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva. Somente o estudo e o acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos ambientais públicos e privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado pelas dragagens no rio, pelo depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes marítimas, sobre a orla litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o homem que vive e depende do rio, do mar e do mangue nessa região.5. Recursos especiais improvidos.(REsp 588.022/SC, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17.02.2004, DJ 05.04.2004 p. 217- negritou-se)

Idem, o TRF – 1ª Região:

AMBIENTAL. LICENCIAMENTO DA OBRA DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITUMIRIM. EMPREENDIMENTO CUJO IMPACTO EXTRAPOLA OS CONTORNOS DO ESTADO DE GOIÁS EM RAZÃO DE SUA REPERCUSSÃO NO PARQUE NACIONAL DAS EMAS. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - RIO/92. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA). INSTRUMENTO DE POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. LEI Nº 6.938/81. RESOLUÇÃO CONAMA 1/96. DECRETO Nº 99.274/90. RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL. IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E PREVISÃO

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DOS IMPACTOS SIGNIFICATIVOS, POSITIVOS E NEGATIVOS. IBAMA: ÓRGÃO EXECUTOR DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA. COMPETÊNCIA PARA LICENCIAMENTO DE OBRAS DE SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL, DE ÂMBITO REGIONAL OU NACIONAL. COMPETÊNCIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO IBAMA. IMPOSSIBILIDADE. APELAÇÕES IMPROVIDAS.1. O impacto da Usina Hidrelétrica de Itumirim, no Rio Corrente, sudoeste do Estado de Goiás, extrapola os contornos do estado em razão de sua repercussão em uma Unidade de Preservação Federal: o Parque Nacional das Emas. A construção da usina gerará a formação de reservatório que alagará parcela importante do denominado "corredor de fauna" ou "corredor ecológico" formado pelos Rios Jacuba, Formoso e Corrente.2. Diante do risco ou da probabilidade de dano à natureza, e não apenas na hipótese de certeza, o dano deve ser prevenido. Trata-se do princípio da precaução, fruto do aperfeiçoamento dos convênios internacionais celebrados no final da década de 80 e objeto da Declaração do Rio (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio/92).3. Ao aplicar o princípio da precaução, "os governos encarregam-se de organizar a repartição da carga dos riscos tecnológicos, tanto no espaço como no tempo. Numa sociedade moderna, o Estado será julgado pela sua capacidade de gerir os riscos." (François Ewald e Kessler in "Lês noces du risque et de la politique" apud Paulo Affonso Leme Machado, in Direito Ambiental Brasileiro).4. O estudo de impacto ambiental (EIA) é um dos instrumentos da política nacional do meio ambiente, previsto no já transcrito inciso III do art. 9º da Lei nº 6.938/81. Compreende o levantamento da literatura científica e legal pertinente, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria redação do RIMA.5. O RIMA reflete as conclusões do estudo de impacto ambiental e define os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos (área de influência do projeto), considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza. (Resolução CONAMA 1/96, arts 5º, III e 9º). 6. O Decreto nº 99.274/90, que regulamenta a Lei nº 6.938/81, e a Resolução CONAMA nº 1/86 prevêem a necessidade de que o EIA/RIMA contenha a identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativos, devendo ainda indicar e testar as medidas de correção dos respectivos impactos.7. O IBAMA constitui-se órgão executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), com a finalidade

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de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.8. A Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, dispõe em seu artigo 10, caput, que a implantação de empreendimentos que envolvam a utilização de recursos naturais e que possam causar, de qualquer forma, a degradação do meio ambiente, dependerá de prévio licenciamento do órgão estadual competente e do IBAMA, em caráter supletivo. Entretanto, reserva a competência da autarquia federal quando se tratar de licenciamento de obras que envolvam significativo impacto ambiental, de âmbito regional ou nacional.9. Apelações da Companhia Energética Itumirim e da Agência Goiana de Meio Ambiente improvidas.(AC 2000.35.00.016782-9/GO, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Quinta Turma, DJ p.26 de 14/12/2007 – destacou-se)

Idem, o TRF – 2ª Região:

DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. VALE DO PARAÍBA DO SUL. ASSENTAMENTO AGRÍCOLA EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL. NECESSIDADE DE LICENCIAMENTO PRÉVIO PELO IBAMA. EIA E RIMA. NULIDADE DE PROJETO CONDUZIDO POR ESTADO E MUNICÍPIO, SEM A PARTICIPAÇÃO DE ÓRGÃO FEDERAL.I – Estado do Rio de Janeiro e Município de Campos dos Goytacazes apelam de sentença em que foi julgado procedente o pedido formulado em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, gerando a anulação do ato da Comissão Estadual de Controle Ambiental que autorizou o assentamento de agricultores em ilhas situadas no Rio Paraíba do Sul.II – Alegação de incompetência da Justiça Federal corretamente repelida na sentença, por versar a espécie ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal, com assistência litisconsorcial do IBAMA – autarquia federal – e interesse diretamente relacionado ao ecossistema do qual faz parte o Rio Paraíba do Sul, que banha mais de um estado e que pertence à União Federal.III - Também por isso, não convence o argumento de que, por serem bens do Estado do Rio de Janeiro as ilhas fluviais em que assentados os agricultores, os órgãos responsáveis pela autorização em discussão seriam, exclusivamente, a

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Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) e a FEEMA.IV – A permissão a que atividades inadequadas sejam desenvolvidas nas ilhas gera degradação no meio em que estão situadas, sofrendo com isso o Rio Paraíba do Sul com a problemática indicada em laudo acostado aos autos, dela se destacando a erosão dos solos; a poluição física da água ou sua turbidez; o assoreamento do leito do rio; a redução e a extinção das formas vegetais nativas e da fauna silvestre, terrestre e aquática; e a redução e extinção das espécies de pescado que buscam tais áreas para reprodução, alimentação e abrigo, em prejuízo aos que subsistem da pesca.V – Sendo o Vale do Paraíba do Sul área de proteção ambiental – APA (Decreto nº 87.561/82), mostra-se evidente que a medida adotada em conjunto pelo Estado do Rio de Janeiro e pelo Município de Campos dos Goytacazes, consistente na instalação de programa de assentamento agrícola em ilhas fluviais do Rio Paraíba do Sul, deveria ter sido precedida de licenciamento pelo IBAMA, e, como bem ressaltou o magistrado sentenciante, ponderados os efeitos dessas atividades por intermédio de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (art. 225 IV da CR/88).VI – O fato de haver sido olvidada a participação do IBAMA na avaliação dos riscos que o programa de assentamento traria ao meio-ambiente, em violação ao disposto no art. 10, caput e §4º, da Lei nº 6.938/81, confere à referida Autarquia legitimidade para perseguir em juízo a não-execução do projeto, em cumprimento a seus objetivos institucionais, daí resultando a validade de sua intervenção no feito e o conseqüente improvimento do agravo retido interposto da decisão judicial correlata pelo Município de Campos dos Goytacazes.VII – Além de a sentença de procedência ter sido proferida há quase dez anos (1998), os apelantes já estavam, desde o longínquo ano de 1993, impedidos de continuar a assentar agricultores nas ilhas do Paraíba do Sul, por força de decisão liminar que restou mantida por este e. Tribunal, do que resulta que eventual dificuldade material no cumprimento da sentença, caso venha a ocorrer, será resultado de inobservância do comando judicial liminar a que os apelantes se submetem desde o ano de 1993. VIII – A Turma considerou excessiva a multa cominada para o caso de haver atraso no cumprimento do julgado, reduzindo-a pela metade (50.000 UFIR). Restou vencido o Relator, que manteve o valor arbitrado pelo juízo a quo.IX – Apelações conhecidas e parcialmente providas. Agravo retido conhecido e improvido.

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(EDAC nº 9902035612/RJ, Rel. Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO, Quinta Turma Especializada, v. u., DJU 21/05/2008, P. 175 – destacou-se)

Diante do acima exposto, é pacifico o entendimento de que o poder de

polícia para licenciar a atividade em questão é dos órgãos federais IBAMA e ICMBio,

portanto a pretensão do Estado do Piauí em liderar o processo de licenciamento ambiental

constitui-se em usurpação da competência federal e seus atos, tais como audiências

públicas e licenças porventura concedidas, revestem-se de ilegalidade e são nulos de pleno

direito!

2.4. DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Consagrado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento no Rio de Janeiro (1992), o Princípio da Precaução foi incorporado ao

ordenamento jurídico brasileiro, em matéria ambiental, seja por tratados internacionais,

como também no art. 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal, que exige na instalação

de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio

ambiente estudo prévio de impacto ambiental.

Nesse trilhar, sempre que houver incerteza científica sobre

plausibilidade da ocorrência de danos ambientais graves, mister se faz a aplicação do

Princípio da Precaução, que vai ao encontro da causa de pedir da presente cautelar.

2.5. CONCLUSÃO

Não se pretende com esta ação atrasar ainda mais o desenvolvimento

sócio-econômico do Estado mais pobre da Federação. Não resta dúvida que talvez o único

meio viável de desenvolver a região do Delta do Parnaíba seja a promoção do turismo

ecológico, mas desde que de acordo com o ordenamento jurídico ambiental.

Atualmente, nem o mais otimista dos indivíduos, pode negar que se

vive uma crise ambiental sem precedentes, resultado não só do modus vivendi do homem

comum, mas principalmente das escolhas insensatas do Poder Público.

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Já há algum tempo, a ordem dos fenômenos naturais não é mais

previsível, porque a natureza sofre as conseqüências da opção pelo desenvolvimento a

qualquer custo, cujo resultado é um enorme passivo ambiental e que se expressam nas

mudanças climáticas que colocam em risco a própria sobrevivência da humanidade.

Todavia, em nome do “progresso” o que se tem visto neste Estado são

inúmeros atentados ao direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum de toda a coletividade, tanto das presentes quanto das futuras gerações.

Basta que se lembre das rumorosas ações civis públicas propostas para paralisar

empreendimentos que estavam dilapidando os cerrados piauienses, como JB Carbon na

Serra Vermelha e Bungen Alimentos, ambas vitoriosas e intentadas junto a esta Seção

Judiciária.

Assim, entende-se em síntese que:

1. Como condição sine qua non para o licenciamento ambiental

naquela região, é necessário que o Poder Público federal elabore e implemente o Plano de

Manejo das Unidade de Conservação por ele instituídas. Não basta a mera previsão legal,

pois dispõe o art. 225, inciso III, da Constituição Federal que, tem o Poder Público o dever

de: “definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes

a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente

através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos

que justifiquem sua proteção”.

2. O órgão que tem competência para licenciar − por expressa

disposição de diversas normas − qualquer empreendimento em Zona Costeira ou em

Unidade de Conservação instituída pela União é o IBAMA e, supletivamente o ICMBio. A

uma, porque o impacto é presumivelmente regional, pois tanto a APA quanto a RESEX do

Delta do Parnaíba foram criadas englobando mais de um estado; a duas, porque ambas as

unidades de conservação foram instituídas por ato do Poder Público Federal a quem cabe o

exercício do poder de polícia sobre as mesmas; a três, por que o empreendimento pretende

se instalar em Zona Costeira, Patrimônio Nacional no qual a competência para o

licenciamento é do IBAMA, de acordo com a Lei de Gerenciamento Costeiro; a quatro,

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porque o empreendimento se utiliza de áreas consideradas de preservação permanente, que

não se prestam ao pretendido.

III. DO PEDIDO LIMINAR

Até que seja proferida a decisão final, após a tramitação regular desta

ação cautelar, o que naturalmente demanda tempo, prosseguirá a SEMAR com o

licenciamento ambiental do empreendimento ECOCITY BRASIL, cujo procedimento é

complexo, composto por três licenças, sendo que a primeira, licença prévia, já foi

expedida. A etapa seguinte do processo licenciatório é a expedição da licença de

instalação, que permitirá o início da obra.

As obras para instalação do empreendimento serão iniciadas, sem que

tenham sido tomadas as medidas precaucionais já mencionadas ao longo desta cautelar,

tais como, ouvir os Conselhos das respectivas unidades de conservação; implementar o

Plano de Manejo da APA e da RESEX; acatar as propostas ambientais inseridas nos

diversos planos governamentais de gestão da área, tais como, o ZEE do Baixo Parnaíba e

PDITS do Pólo Costa do Delta Piauí, bem como não intervir em áreas de preservação

permanente.

Deve ser reprisado mais uma vez que os potenciais impactos causados

por empreendimento desta magnitude desbordam os limites do Estado e, neste sentir, o

empreendimento, ora discutido, se implantado afetará a Zona Costeira, Patrimônio

Nacional, áreas de preservação permanente, bens da União e unidades de conservação

instituídas pela Poder Público federal e assim, em não sendo concedida a liminar pleiteada

o processo de licenciamento ambiental prosseguirá sob os auspícios de órgão ambiental

incompetente, e, portanto sem que seja acatado o devido processo legal.

Deste modo, comprovada a existência de uma legislação que ampara

a demanda e o pedido, e presentes, portanto, os pressupostos necessários para a concessão

da medida liminar, pois inegável a presença da fumaça do bom direito e do perigo da

demora, requeremos a V.Exa. que se digne expedir ORDEM LIMINAR, inaudita altera

pars, a fim de que:

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1. Declare a Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Piauí –SEMAR

como órgão incompetente para proceder ao licenciamento ambiental

do empreendimento ECOCITY BRASIL ou qualquer outro, que se

pretenda instalar em Unidade de Conservação instituída pelo Poder

Público federal no Estado do Piauí, em Zona Costeira e/ou em área de

preservação permanente;

2. Declare nulas quaisquer licenças ambientais porventura já expedidas

para o empreendimento turístico ECOCITY BRASIL pela SEMAR;

3. Seja declarado o IBAMA e, supletivamente o ICMBio, como órgão

competente para proceder doravante ao licenciamento ambiental dos

empreendimentos em Unidades de Conservação federal no Estado do

Piauí;

4. Determine ao empreendimento ECOCITY BRASIL que se abstenha

de qualquer intervenção na área até a decisão final da demanda;

5. Institua, com fundamento no princípio da precaução, a inversão do

ônus da prova ab initio litis, a fim de que todos os estudos e perícias

necessárias para instrução do processo fiquem a cargo dos Réus.

Em sendo concedida a liminar, requerem os Autores a Vossa

Excelência a fixação de multa diária para o caso de descumprimento da mesma.

IV. DO PEDIDO PRINCIPAL

Requer a confirmação da Liminar requerida e que seja julgada

procedente a presente ação para que o empreendimento ECOCITY BRASIL seja

licenciado pelo IBAMA e/ou supletivamente pelo ICMBio.

Requer ainda que doravante, qualquer empreendimento em Unidade

de Conservação federal somente seja licenciado após a implementação do Plano de

Page 28: Ação Cautelar Proposta Contra o Licenciamento Ambiental Do ECOCITY BRASIL SA

Manejo, em especial na APA do Delta do Paranaíba e na Reserva Extrativista Marinha do

Delta do Parnaíba.

O descumprimento da obrigação requerida no pedido principal

importará, na pena de execução específica ou de cominação de multa diária, na forma do

art. 11, da Lei 7.347/85.

Por fim, informa-se que a ação principal será proposta

tempestivamente tendo por objetivo questionar a própria viabilidade ambiental do

empreendimento ECOCITY BRASIL.

V. CUSTAS, EMOLUMENTOS E VALOR DA CAUSA

Requer na forma da Lei 7347/85, art. 18, a dispensa do pagamento de

custas emolumentos e outros encargos e a CITAÇÃO dos requeridos, para querendo

contestar a presente ação, sob pena de revelia, isto após a efetivação da medida liminar.

A INTIMAÇÃO do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e do

SERVIÇO DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO – SPU, para querendo habilitarem-se no

presente feito como Litisconsortes Ativos.

Para fins de cumprimento do disposto no art. 39 do CPC, o ICMBio e

o IBAMA e o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL receberão as intimações nesta

capital, respectivamente, à Avenida Homero Castelo Branco, nº. 2240, Jóquei Clube, e

Rua Álvaro Mendes, 2294, sala 107.

Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado

reverterá ao fundo de que trata o art. 13 da lei 7.347/85.

Protesta e requer as seguintes provas: testemunhal, documental,

pericial e demais que se fizerem necessárias no decorrer do processo.

Dá-se a causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), para

efeitos legais, já que se trata de interesse difuso, portanto de valor inestimável.

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N. Termos,

P. Deferimento.

Teresina, de setembro de 2008.

MARIA CARMEN ALMEIDAMinistério Público EstadualCuradora do Meio Ambiente

SÉRGIO TABATINGA LOPESProcurador Federal IBAMA / ICMBio

SIAPE 1480127