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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ª VARA FEDERAL DO RIO DE JANEIRO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelas Procuradoras da República abaixo assinadas, no uso de suas atribuições legais, com fundamento no art. 5º da Lei nº 7.347/85, vem ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face da: UNIÃO, representada pelo Procurador Regional da Procuradoria Regional da União 2ª Região, com endereço na Av. Rio Branco, nº 135, 13º andar, Centro, nesta cidade, CEP 20.040-005, e da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO), fundação pública vinculada ao Ministério da Educação, na pessoa de seu representante legal, com endereço na Av. Pasteur, 296, Urca, nesta cidade, CEP 22.290-240, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos: I – INTRODUÇÃO A presente inicial trata de fatos apurados nos Inquéritos Civis nº 1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) e nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02), instaurados na Procuradoria da República do Estado do Rio de Janeiro. O Inquérito Civil nº 1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) foi instaurado em razão do Ofício nº 5ªPJCID/0342/12 (fl. 10 do DOC. 01), através do qual o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro encaminhou representação anteriormente dirigida ao Ministério Público do Trabalho, com o intuito de apurar 1

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Ação Civil Pública

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ª VARA FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelas Procuradoras

da República abaixo assinadas, no uso de suas atribuições legais, com fundamento

no art. 5º da Lei nº 7.347/85, vem ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face da:

UNIÃO, representada pelo Procurador Regional da Procuradoria Regional da União

2ª Região, com endereço na Av. Rio Branco, nº 135, 13º andar, Centro, nesta cidade,

CEP 20.040-005, e da

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

(UNIRIO), fundação pública vinculada ao Ministério da Educação, na pessoa de

seu representante legal, com endereço na Av. Pasteur, 296, Urca, nesta cidade, CEP

22.290-240, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

I – INTRODUÇÃO

A presente inicial trata de fatos apurados nos Inquéritos Civis nº

1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) e nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02),

instaurados na Procuradoria da República do Estado do Rio de Janeiro.

O Inquérito Civil nº 1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) foi

instaurado em razão do Ofício nº 5ªPJCID/0342/12 (fl. 10 do DOC. 01), através do

qual o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro encaminhou representação

anteriormente dirigida ao Ministério Público do Trabalho, com o intuito de apurar

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possíveis irregularidades no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), quanto à existência de

médicos terceirizados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do referido

hospital, não obstante a existência de médicos aprovados em concurso público

realizado pela citada universidade e ainda não convocados (fl. 06 do DOC. 01).

Posteriormente, com a juntada do OFÍCIO-CIRCULAR Nº 84/2012/PFDC/MPF, de

14/11/2012 (fl. 54 do DOC. 01), o objeto do referido inquérito civil foi ampliado

para apurar, também, possíveis irregularidades na exigência de contratação da

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), por parte da UNIRIO,

tendo por objeto a transferência da gestão do HUGG para a referida empresa.

Já o Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02) foi

instaurado a partir de representação que noticia a presença de grande quantidade de

funcionários no HUGG da UNIRIO com vínculos precários e sem garantia dos seus

direitos trabalhistas - denominados “bolsistas” (fl. 06 do DOC. 02) -, com o

objetivo de apurar as circunstâncias do sucateamento da força de trabalho do

HUGG, que resultou na redução da oferta dos serviços de saúde prestados pelo

referido hospital ao SUS e no prejuízo à atividade de ensino realizada na

universidade.

De fato, as investigações desenvolvidas pelo Ministério

Publico Federal, no âmbito dos referidos inquéritos civis, entre outros documentos,

revelaram:

A) irregularidades na contração de recursos humanos para o HUGG da

UNIRIO, mostrando-se insuficientes, inadequadas ou ilegais as medidas

administrativas apresentadas ao longo do período para a composição dos recursos

humanos do referido hospital, não obstante reiteradas decisões do Tribunal de

Contas da União (TCU), no sentido da necessidade de regularizar a questão com a

substituição dos trabalhadores terceirizados por servidores aprovados em concursos

públicos;

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B) a redução drástica da oferta dos serviços de saúde prestados no HUGG da

UNIRIO, com prejuízo ainda ao ensino, por falta e/ou inadequação de recursos

humanos, considerando as dificuldades financeiras enfrentadas pelo referido

hospital universitário para pagamento de pessoal;

C) a precariedade dos vínculos atualmente existentes entre a UNIRIO e

diversos profissionais de saúde em atividade no HUGG, em afronta às normas

que regem os concursos públicos e às normas trabalhistas, inclusive, de índole

constitucional;

D) a inviabilidade de execução da proposta apresentada pela UNIÃO para a

solução dos problemas de recursos humanos nos hospitais universitários,

mediante a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH; seja

porque a própria criação da empresa é objeto de questionamento em sede de

controle concentrado de inconstitucionalidade (ADI nº 4.895); seja porque, diante

de todas as controvérsias existentes, não é vista como solução definitiva a curto

prazo, como reconhece o próprio TCU; seja porque a contração da EBSERH ainda

não foi objeto de deliberação pelo Conselho Universitário da UNIRIO, no regular

exercício da autonomia universitária, prevista no caput do art. 207 da Constituição

Federal;

E) a existência de concursos públicos em vigência com candidatos aprovados e

ainda não convocados para provimento nos cargos de médico, enfermeiro, técnico

de enfermagem, auxiliar de enfermagem e técnico em radiologia do HUGG da

UNIRIO.

Revela-se necessária, portanto, a obtenção de decisão judicial

que obrigue a UNIRIO e a UNIÃO a adotar medidas administrativas

pertinentes, dentro das suas competências, para regularização dos recursos

humanos do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), pautadas nas

normas constitucionais e legais que vinculam os entes administrativos, pelos fatos e

fundamentos jurídicos que se passa a expor:

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II – DOS FATOS

II.A – Das Irregularidades no Processo de Contratação de Profissionais das

Áreas da Saúde e Administrativa dos Hospitais e Unidades de Saúde das

Universidades Federais em geral:

As irregularidades existentes no processo de contratação de

profissionais de saúde e da área administrativa para o HUGG da UNIRIO não é

problema recente, tampouco restrito ao referido hospital. Neste ponto, destaca-se

que o TCU teve a oportunidade de constatar a existência de irregularidades na

contratação de trabalhadores no âmbito de toda a Administração Pública Federal,

incluindo, portanto, os hospitais universitários ligados às universidades federais,

como é o caso do HUGG, ligado à UNIRIO.

O Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), proferido

nos autos da TC nº 020.784/2005-7, decorreu de representação formulada pela

Secretaria-Geral de Controle Externo do TCU e teve por objeto a análise de

proposta apresentada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para a

substituição gradual dos postos de trabalho ocupados irregularmente por

funcionários terceirizados, no âmbito da Administração Pública Federal.

Cumpre ressaltar que a iniciativa, ou seja, a citada proposta do

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão veio em razão de determinação

exarada pelo TCU no Acórdão nº 276/2002-TCU/Plenário, de 31/07/2002, que, ao

analisar a prestação de contas da Universidade Federal de Santa Catarina relativa ao

exercício de 1994, estabeleceu prazo para que, em atenção à regra do concurso

público, prevista no art. 37, inciso II, Constituição Federal, a referida entidade

afastasse os funcionários de fundações de apoio dos cargos públicos de provimento

efetivo que estivessem ocupando, sendo que o subitem 8.7 deste último acórdão

estendeu tal determinação às instituições que se encontrassem em situação

semelhante (item 1.2 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC.

03).

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Dessa forma, no que tange à terceirização de atividades no

serviço público, o TCU esclareceu que, embora a terceirização seja autorizada pelo

Decreto nº 2.271/97, tal regra encontra como limite a disposição trazida no art. 37,

inciso II, da Constituição Federal, que institui a obrigatoriedade de aprovação prévia

em concurso público para a investidura em cargo ou emprego público. O TCU então

manifestou-se no sentido de que a terceirização no serviço público não é admitida

para a prestação das atividades finalísticas dos órgãos e entidades públicos, sendo

aceita tão somente para as atividades materiais acessórias, instrumentais ou

complementares de tais órgãos e entidades (itens 2.6 a 2.12 do Relatório do Acórdão

nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03).

Ao analisar a questão das contratações irregulares no serviço

público federal, o TCU também destacou que os gestores das entidades e órgãos

públicos, de forma unânime, justificaram que a utilização de terceirizados foi a

única alternativa encontrada para dar continuidade à execução dos serviços

públicos, uma vez que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão não

autoriza a realização de concursos públicos para a contratação de servidores, ou

então autoriza em quantidade de vagas insuficiente ao atendimento da demanda

(itens 6.1 a 6.7 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03).

É o que se verifica no trecho abaixo transcrito:

“6. ANÁLISE6.1 Preliminarmente, deve-se observar que a matéria sob exame apresentaproposta de solução para o problema da terceirização ilegal de serviçospúblicos restrita aos órgãos da administração pública federal direta,autarquias e fundações, todas sob subordinação técnica ao Órgão Central doSistema de Pessoal Civil do Poder Executivo – SIPEC, função oradesempenhada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Assim,não são alcançadas empresas públicas e sociedades de economia mista etampouco os órgãos dos Poderes Judiciário, Legislativo e do MinistérioPúblico da União.6.2 No que toca à utilização de trabalhadores terceirizados realizandoatividades em dissonância com as disposições legais, resta evidente tratar-sede realidade factual na Administração Pública Federal. Evidências nessesentido são abundantes: diversas atuações deste Tribunal sobre a questão; oaumento dos gastos do governo federal com terceirização; a redução doquantitativo de servidores concursados; e, por fim, a admissão do fato pelopróprio Ministério do Planejamento.

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6.3 Deparamo-nos, portanto, com uma situação inusitada. Contrataçõesirregulares são realizadas por órgãos públicos ao arrepio da lei, que adotam amedida embora seja reconhecida a ilegitimidade na utilização do instrumentoda terceirização como forma de substituição de mão-de-obra.6.4 As justificativas oferecidas pelos gestores responsabilizados perante oTCU parece esclarecer a causa do problema. Os gestores são unânimes aoalegarem que a utilização de terceirizados é a única alternativa possível paranão gerar problemas de continuidade na execução de serviços públicos, umavez que o MP não autoriza a realização de concursos públicos para acontratação de servidores, ou então autoriza quantidade de vagasinsuficiente ao atendimento da demanda.6.5 Os gestores se vêem então em situação na qual a solução do problemareside em esfera alheia ao seu grau de decisão, o que pode levar ao impasseentre o cumprimento de eventuais determinações desta Corte de Contas, oumesmo da Justiça, e a descontinuidade dos serviços prestados à sociedade.(...)” (sem grifo no original) (itens 6.1 a 6.5 do Relatório do Acórdão nº1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03)

Além do TCU ter reconhecido a situação citada acima, apontou

também para a necessidade de substituição da mão de obra contratada

irregularmente, no âmbito da Administração Pública Federal, para atender as leis

trabalhistas, o princípio da legalidade - norteador de toda a Administração Pública -

e a regra constitucional do concurso público (itens 6.8 a 6.10 do Relatório do

Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03). Na mesma decisão, o TCU

atentou ainda que, embora seja demonstrada pelo Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão a existência de quantidade suficiente de cargos para

substituir os terceirizados existentes, é necessário que seja finalizado o

levantamento sobre o quantitativo de postos terceirizados de forma irregular na

Administração Pública, bem como que seja avaliada a possibilidade de remanejar

cargos excedentes de um órgão para outro onde não há quantitativo suficiente

para agilizar a substituição de todos os contratados irregularmente,

considerando que a criação de novos cargos depende de lei específica (item 6.28

do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03), consoante

abaixo transcrito:

“(...) 6.8 No entanto, como todo ato administrativo, a terceirização de serviçosdeve-se pautar nos aspectos legais. Assim, ao mesmo tempo em que se devebuscar meios mais econômicos para aplicação dos recursos públicos, em face

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do princípio da economicidade, também deve-se atentar para o princípio dalegalidade, norteador da Administração Pública.6.9 Resta inequívoco que a contratação de trabalhadores terceirizados para oexercício de tarefas próprias de servidores públicos é afronta direta aoprincípio da seleção mediante concurso público, além de afronta à leitrabalhista, que restringe as possibilidades de terceirização às atividades-meiode qualquer organização, púbica ou privada, e, ainda assim, condicionada àinexistência de relação de pessoalidade e subordinação direta.(…)6.28 Deve-se ainda atentar para a necessidade de criação de cargos,conforme aventado na proposta. Embora a tabela de cargos preenchidos evagos encaminhada pelo Ministério (fls. 9/15) demonstre a existência dequantidade suficiente de cargos para substituir os terceirizados, acomplementação do cronograma pode revelar casos em que o número decargos previsto não seja suficiente para substituir os terceirizados. Nessecaso o MP poderia avaliar a possibilidade de remanejar cargos excedentesem um órgão para outro onde não há quantitativo suficiente. Tal medida sejustificaria pela agilidade, uma vez que a criação de novos cargos depende delei específica, com tramitação no Congresso Nacional. (...)” (sem grifo nooriginal) (itens 6.1 a 6.5 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário- DOC. 04)

Por fim, o TCU, por meio do Acórdão nº 1.520/2006-

TCU/Plenário (DOC. 03), decidiu aceitar a proposta de cronograma oferecida

pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para a substituição dos

terceirizados por servidores públicos concursados (item 9.1.1 do Acórdão do

Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03), tendo deliberado no sentido de

prorrogar, até 31/12/2010, os prazos fixados por todas as suas decisões

anteriores que tenham determinado a órgãos e entidades da Administração

direta, autárquica e fundacional a substituição de trabalhadores terceirizados

por servidores concursados (item 9.1.4 do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário -

DOC. 03).

Durante o prazo de cinco anos estabelecido pelo TCU, foi

constituído processo para monitoramento do cumprimento do Acórdão nº

1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), que resultou no Acórdão nº 2.681/2011-

TCU/Plenário (DOC. 04), no qual o citado tribunal constatou a permanência de

grande número de terceirizados, de forma irregular, no âmbito da Administração

Pública Federal, sem que tenha se ultimado a sua substituição por servidores

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concursados, sendo que, segundo informações do próprio Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão, a maior parte dos postos de trabalho

ocupados irregularmente por empregados terceirizados encontrava-se nas

fundações e autarquias vinculadas ao Ministério da Educação, em especial, nas

universidades federais e em seus respectivos hospitais universitários (tópico

VIII do item 2 do Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04).

Dessa forma, diante da expiração do prazo estabelecido no

Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), da pendência da questão relativa

à substituição dos funcionários terceirizados na Administração Pública Federal, bem

como de pedidos de prorrogação de prazo realizados por uma série de órgãos e

entidades públicas - entre eles: por parte do Ministério da Educação em conjunto

com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por mais 2 (dois) anos

para a substituição de terceirizados alocados nos hospitais universitários, sob o

argumento de que “a demissão imediata dos contratados que atuam nos HUs

redundaria em graves prejuízos à saúde e ao interesse público, dado que se

refletiria em uma enorme diminuição de oferta de serviços de saúde à população

carente e milhares de famílias ficariam sem o seu sustento; mais especificamente,

ensejaria a redução de 4.100 leitos hospitalares, sem considerar os serviços

mantidos exclusivamente por pessoal terceirizado” (tópico IX do item 2 do

Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04) -, o TCU decidiu,

por meio do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário (DOC. 04), prorrogar até

31/12/2012 o prazo de substituição dos funcionários terceirizados irregulares

em todos os órgãos e entidades de toda a Administração Pública (item 9.1 do

Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04).

Com relação aos terceirizados dos hospitais universitários, o

Ministério da Educação e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão -

quando da solicitação ao TCU de prorrogação de prazo por mais 2 (dois) anos para

cumprimento do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), conforme citado

acima - mencionaram também como justificativa: “a edição, em 31 de dezembro de

2010, da Medida Provisória 520, que autoriza o Poder Executivo a criar a empresa

pública denominada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. - EBSERH”

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e que “o prazo adicional requerido seria necessário para a elaboração do estatuto

da empresa, bem como para a celebração de contratos com as universidades que

possuem hospital” (tópico V do item 2 do Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-

TCU/Plenário – DOC. 04).

Porém, a Medida Provisória nº 520, de 31 de dezembro de

2010, não foi convertida em lei, tendo seu prazo de vigência encerrado em 01 de

junho de 2011, conforme Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional nº 23

de 2011 (DOC. 05).

Posteriormente, veio a edição da Lei nº 12.550/11, que criou a

empresa pública denominada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

(EBSERH), com personalidade jurídica de direito privado (art. 1º) e com capital

social integralmente da União (art. 2º), tendo por finalidade a "prestação de

serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio

diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim como a prestação de serviços de

apoio às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres de

serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à

formação de pessoas no campo da saúde pública".

Contudo, saliente-se que a referida Lei nº 12.550/11 é objeto

de ação direita de inconstitucionalidade – ADI 4895, proposta pelo Procurador-

Geral da República e em tramitação no Supremo Tribunal Federal (DOC. 06), e

também não foi reconhecida pelo TCU como uma solução “definitiva a curto

prazo” para a precária situação dos recursos humanos dos hospitais universitários

das universidades federais, “por estar envolta em controvérsias”.

É o que ressaltou o TCU, no Acórdão nº 1.610/2013-

TCU/Plenário (DOC. 07), que consolida os resultados obtidos em auditorias

operacionais realizadas em vários hospitais universitários para avaliar os controles

internos da área de licitações e contratos:

“(...)

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9.1.8 Há que se ressaltar, entretanto, que a criação da referida empresa,como solução governamental para o incremento da gestão hospitalaruniversitária, não tem tido aceitação pacífica, com discussões focadas,especialmente, nas dúvidas acerca da possibilidade ou não de secompatibilizar o modelo de gestão proposto com a preservação da autonomiauniversitária.9.1.8.1 Reportagem no Brasil Econômico (SP) do dia 29 passado registrou quemuitos conselhos universitários têm resistido à adesão àquela empresa, poracreditarem se tratar, na verdade, de privatização dos HU, com perda daautonomia das universidades, uma vez que a equipe de gestores dosnosocômios ficará adstrita à nova empresa. Por outro lado, ressalte-se daaudiência pública realizada pela Procuradoria da República no Rio de janeiro(PR/RJ), no dia 3/5/2013, sobre o tema, o entendimento exposto por MarceloLand, coordenador do Complexo Hospitalar da UFRJ, que, na condição derepresentante do reitor da UFRJ, disse apoiar a contratação da Ebserh porentender não existir solução melhor para resolver os problemas dos hospitaisuniversitários, destacando, dentre eles, a não reposição salarial dosfuncionários e a evasão de médicos extraquadros, que saem dos hospitais embusca de salários melhores.9.1.8.2 Já o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) entrou,em 14/3/2013, com uma ação civil para anular o termo de adesão e o contratoassinados pela reitoria da UnB com Ebserh para administração do HospitalUniversitário de Brasília (HUB), por entender que tal contrato ofenderia aautonomia didático-científica, da administração, de gestão financeira e depatrimônio que os hospitais universitários possuem pela CF/88, além de fazerterceirização indevida da gestão do SUS.9.1.8.3 Destaque-se, ainda, que a Lei nº12.550/2011, que criou a Ebserh, éalvo de uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI nº 4895), propostapelo Procurador-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF),em 3/1/2013, na qual sustenta, que “a autorização para criação da EBSERHseria inconstitucional, diante da ausência de lei complementar federaldefinindo as áreas de atuação das empresas públicas, quando dirigidas àprestação de serviços públicos, consoante dispõe o art.37, XIX, da CartaMagna. Argui-se, ainda, que se tratando de empresa pública prestadora deserviço público de assistência à saúde, inserida integral e exclusivamente noâmbito do SUS, não seria possível “emprestar-lhes natureza diversa dapública”, submetendo-se, portanto, “ao conjunto de normas integrantes doart. 37 da CR, vocacionadas a organizar a prestação do serviço público”. Emrazão disso, seriam inconstitucionais as previsões de contratação deservidores pela CLT e de celebração de contratos temporários de emprego”(www.stf.gov.br).9.1.8.4 Como se denota, a medida governamental adotada para a resoluçãoda precária conjuntura dos HU está envolta em controvérsias que nãopermite vislumbrar, ainda, solução definitiva a curto prazo.(...)”(sem grifo e sublinhado no original) (fl. 46 do DOC. 07)

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Portanto, conclui-se que o problema da terceirização irregular já

se arrasta há anos no âmbito da Administração Pública Federal, com grande

contingente de terceirizados irregulares, sobretudo, nos hospitais universitários, e

entre eles: o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da UNIRIO. Não

obstante as inúmeras decisões do TCU determinando a substituição da mão de obra

terceirizada contratada irregularmente, é possível constatar que a situação

permanece irregular, notadamente, no HUGG da UNIRIO, em total afronta aos

preceitos constitucionais, e que, diante do caos instalado, já prejudica tanto à

assistência à saúde da população, como o ensino, a pesquisa e a extensão nestes

locais, conforme se verá a seguir.

II.B – Do Sucateamento, da Redução na Oferta de Assistência à Saúde, do

Prejuízo ao Ensino e das Irregularidades no Processo de Contratação de

Profissionais das Áreas de Saúde e Administrativa para o HUGG da UNIRIO:

Os hospitais universitários constituem unidades de formação de

recursos humanos e de desenvolvimento de pesquisas e também representam, no

campo da assistência médica, centros de referência para o Sistema Único de Saúde –

SUS (art. 45 da Lei nº 8.080/90).

A crise pela qual passa o Hospital Universitário Gaffrée e

Guinle (HUGG) da UNIRIO, no que toca aos recursos humanos, é fato notório de

amplo conhecimento e divulgação.

Os documentos anexados à presente inicial, por certo,

demonstram a situação prolongada e precária em que se encontram os recursos

humanos que atuam no HUGG da UNIRIO, que acarreta um desequilíbrio

financeiro para o referido hospital, bem como prejudica o ensino lá ministrado e

também a assistência à saúde da população que utiliza seus serviços.

Não há dúvida de que a situação irregular de contratação de

profissionais no âmbito da Administração Pública Federal, constatada pelo TCU e

relatada no item acima, também se repetiu no HUGG da UNIRIO, situação esta que

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foi objeto de inquéritos civis e procedimentos administrativos no âmbito da

Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro.

A Notícia de Fato nº 004579.2012.01.000/0-11 (DOC. 08),

protocolada inicialmente na Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região e

constante do Anexo I do Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02),

aponta que os profissionais da área de saúde que trabalham atualmente no HUGG da

UNIRIO “não recebem quaisquer direitos trabalhistas, tais como: assinatura da

CTPS, 13º salário e horas extras” (fl. 04 do DOC. 08).

De fato, as investigações promovidas pelo Ministério Público

do Trabalho no bojo da citada representação comprovam a ocorrência de

contratações irregulares no âmbito do HUGG da UNIRIO desde o ano de 2001,

conforme informações prestadas pela própria direção do referido hospital (fls. 19/21

do DOC. 08).

Segundo o atual Diretor do HUGG, inicialmente, a

terceirização das atividades-fim prestadas no âmbito do hospital ocorreu

mediante convênio firmado no ano de 2001 “entre a UNIRIO e a Fundação de

Apoio à Pesquisa, Ensino e Assistência à Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de

Janeiro e ao HUGG – FUNRIO, em cujos objetivos se encontrava o de

revitalização do HUGG”. Nessa época, uma das principais necessidades detectadas

foi a de “recomposição do quadro de recursos humanos, que se mostrava

deficitário”, fato este que “levou à contratação de prestadores de serviço pela

aludida Fundação de Apoio” (fl. 19 do DOC. 08).

O Diretor do HUGG informou, ainda, que posteriormente no

ano de 2005 ocorreu a celebração de um novo contrato de prestação de serviços,

desta vez entre o HUGG e a Fundação de Apoio à Universidade Federal do Estado

do Rio de Janeiro – FURJ, o qual também incluiu como objeto a alocação de

recursos humanos no HUGG. No mês de novembro de 2008, após a posse da

nova diretoria do HUGG, constatou-se “que permanecia a situação crítica quanto

aos recursos humanos, de forma que os servidores federais lotados na unidade não

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atendiam, em número, às demandas da mesma”, fato que levou à prorrogação do

contrato com a FURJ até o ano de 2009 (fls. 19/20 do DOC. 08).

Em 15/04/2010, o Ministério Público do Trabalho, diante da

ilegalidade na prestação de serviços por funcionários terceirizados nas atividades-

fim do HUGG, firmou termo de conciliação judicial com a FURJ, nos autos da Ação

Civil Pública nº 00926.68.2008.5.01.0014, que tramitou perante a 14ª Vara do

Trabalho do Rio de Janeiro. Através de tal termo de conciliação judicial, a FURJ se

comprometeu a abster-se “de fornecer mão-de-obra a terceiros, assim

compreendida a prática de alocar trabalhadores nas atividades-fim de outrem, ou

sob o comando diretivo deste último”, a “cessar o fornecimento dos

trabalhadores, assim compreendida a prática de alocá-los nas atividades-fim de

outrem ou sob o comando diretivo deste último, que, nesta data, prestam serviços

à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e ao Hospital

Universitário Gafrée e Guinle até a data de 31/12/2010”, bem como a não

aumentar o efetivo de trabalhadores que já prestavam serviços à UNIRIO e ao

HUGG (fls. 69/70 do DOC. 08).

Verifica-se, portanto, que a necessidade de substituição dos

funcionários terceirizados, já determinada pelo TCU através do Acórdão nº

1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), foi reafirmada, especificamente no caso da

UNIRIO e do HUGG, através do termo de conciliação judicial homologado nos

autos da Ação Civil Pública – Processo nº 00926.68.2008.5.01.0014, que tramitou

perante a 14ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro.

Com a homologação do referido acordo junto à Justiça do

Trabalho, a terceirização dos profissionais no HUGG, por meio da FURJ, restou

inviabilizada.

Não obstante a rescisão do contrato com a FURJ, foi necessária

a manutenção dos funcionários, até então terceirizados, no HUGG para que suas

atividades de assistência à saúde e de ensino não sofressem solução de continuidade,

de modo que tais funcionários permaneceram no hospital, porém, “com vínculo

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precário de prestação de serviço oriundo desde o início do projeto de revitalização

do hospital com a FUNRIO em 2001, recebendo apenas bolsa auxílio”, ou seja,

diante da “impossibilidade de continuidade da Fundação de Apoio, o vínculo se dá

diretamente com o HUGG/UNIRIO” (fl. 15 do DOC. 08).

Observe-se, portanto, que embora o acordo na Justiça do

Trabalho tenha sido cumprido através da rescisão do contrato com a FURJ, o

HUGG manteve os trabalhadores que eram terceirizados, porém, sem qualquer

respaldo contratual, ou seja, tais funcionários atualmente prestam serviços

dentro do HUGG em situação precária com remuneração através de “bolsa

auxílio”, o que lhes conferiu a denominação de funcionários “bolsistas”, em

total arrepio das normas que regem os direitos trabalhistas (fl. 20 do DOC. 08).

No ano de 2010, com a instituição do Programa Nacional de

Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF pelo Decreto nº

7.082/2010 (DOC. 09), foi elaborado Plano de Reestruturação do HUGG (fls.

178/194 do DOC. 01), posteriormente encaminhado, no mês de setembro de 2010,

ao Ministério da Educação, após aprovação pelo Conselho Universitário –

CONSUNI/UNIRIO, através da Resolução nº 3.520/2010 (fl. 177 do DOC. 01),

conforme exigência do art. 6º do Decreto nº 7.082/2010 (DOC. 09).

Consoante informações do Reitor da UNIRIO e do Diretor do

HUGG, “as necessidades do HUGG foram formalmente explicitadas ao MEC

quando do envio do Projeto REHUF, cuja proposta elaborada pela Direção foi

submetida ao CONSUNI/UNIRIO e por este aprovada” (fls. 174/175 do DOC. 01).

O Plano de Reestruturação do HUGG (fls. 178/194 do DOC.

01) retrata a situação de sucateamento do hospital, inclusive, no que diz respeito às

irregularidades existentes na área de recursos humanos, explicitando ao Ministério

da Educação a necessidade de contratação de novos servidores para substituir os

denominados “bolsistas”, conforme se verifica no trecho abaixo transcrito:

"4. INFRA-ESTRUTURA FÍSICA

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4.1 EDIFICAÇÕES: Diagnóstico situacional e especificação dasnecessidades

4.1.1. Caracterização das Edificações(…)De modo geral, os revestimentos internos do HUGG estão fora dos padrõesatuais de acabamento, necessitando adequação às condições ideais deassepsia.Nas fachadas do prédio principal correm diversas instalações provisórias queacabaram por se tornar definitivas (elétricas, hidráulicas e sanitárias).Os pisos dos acessos e áreas de circulação ao ar livre estão bastantedeteriorados, tornando o caminho bastante irregular e até perigoso a todosaqueles que por ele circulam, especialmente aos pacientes.(…)4.2 INSTALAÇÕESAs instalações prediais, industriais e hospitalares do HUGG encontram-se emestado precário, principalmente pelo longo período em que os recursos para aconservação e manutenção de seu patrimônio foram exíguos.(…)4.3 METAS INSTITUCIONAISA partir dos levantamentos realizados, relacionamos a seguir as MetasInstitucionais que serviram de diretriz para o desenvolvimento do Plano deObras.4.3.1. Adequar Espaços Físicos (Áreas e Localizações) A clara inadequação das instalações do HUGG ao que determinam as normastécnicas atuais é notadamente um problema a ser sanado pelo plano proposto.Apesar de inúmeros serviços estarem em pleno funcionamento, a adequaçãodos espaços físicos, além de ser uma recomendação técnica, é uma medida derevitalização institucional que tem objetivo colateral motivar e possibilitar omaior desempenho de seus colaboradores.

4.3.2. Possibilitar o Aumento da ProdutividadeMuitos serviços oferecidos pelo HUGG estão com demanda reprimida porfalta de recursos físicos adequados. De acordo com o Plano Operativo Anual– firmado junto ao SUS – diversos serviços de média e alta complexidade quehoje poderiam ser realizados no HUGG não encontram meios para suarealização. Possibilitar o aumento produtivo é sem dúvida uma das Metasatravés da qual o Plano de Obras irá ajudar o HUGG a aumentar suaparticipação nos planos assistencial, de ensino e de pesquisa.

4.3.3. Restaurar e Modernizar as Instalações PrediaisO estado bastante degradado das instalações prediais do HUGG não condizcom o que deveria ser exemplo e referência para a sociedade. Ainda assim areestruturação e a modernização, propostas neste documento como Meta,objetivam exclusivamente permitir um funcionamento pleno do Hospital,dentro das normas técnicas e com segurança.

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(…)5. EQUIPAMENTOS HOSPITALARES(…)O sucateamento dos equipamentos, a dificuldade de reposição de peças(devido à interrupção da fabricação ou a inexistência de similares), e astecnologias que não correspondem às necessidades ou que não possam sermantidas em operação, por diversas razões, são causadores de prejuízos, nãomelhoram a atenção e o cuidado ao paciente e ainda resultam em máaplicação de dinheiro público. Além disso, impossibilitam que se garanta autilização dentro de padrões mínimos de segurança, tanto para pacientesquanto para os profissionais de saúde.A modernização do parque de equipamentos do HUGG é de crucialimportância para o atendimento eficiente e de excelência aos usuários quersejam eles os pacientes, os profissionais de saúde em atuação ou aqueles emformação.(…)6. RECURSOS HUMANOSTendo em vista a Missão e os Valores Institucionais do HUGG é necessáriopara alcançar tais objetivos um corpo técnico-administrativo em número equalificação condizentes. Nos últimos anos não houve ingresso em númerosuficiente para a recomposição do quadro de recursos humanos, fato este quetraz notórios prejuízos ao bom desempenho do Hospital nas suas diferentesáreas de atuação, quer na assistência, no ensino e na pesquisa.No quesito assistência, por exemplo, há número insuficiente de médicos emdiferentes especialidades, assim como existem apenas três Fisioterapeutaspara atendimento de todo Hospital, como também inexistem Fonoaudiólogosno quadro efetivo, além do reduzido número de Enfermeiros e Técnicos deEnfermagem. Contribui ainda para dificultar o bom funcionamento donosocômio a deficiência na área de apoio administrativo.A Necessidade de Acréscimo foi estabelecida a partir de levantamentosefetuados considerando por exemplo, na área de Enfermagem, o queestabelece a Legislação COFEN Nº 293/2004, que trata do dimensionamentodo quadro de profissionais deste segmento.Com base no exposto apresentam os a Necessidade conforme explicitado nastabelas de Nível Superior, Intermediário e Auxiliar.(...)” (sem sublinhado no original) (fls. 181/191 do DOC. 01)

Ressalte-se, neste ponto, que resta ao HUGG utilizar recursos

financeiros, que deveriam ser aplicados no custeio para a manutenção e o necessário

incremento do hospital universitário, para o pagamento de pessoal - “bolsistas” -,

despesa esta, contudo, de atribuição da UNIRIO e da UNIÃO, por meio do

Ministério da Educação.

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O referido Plano de Reestruturação do HUGG (fls. 178/194 do

DOC. 01), ao tratar da questão dos recursos humanos do hospital, reproduziu tabela

que contém a quantidade de funcionários efetivos, a quantidade de funcionários

“bolsistas” (contratados sem concurso público e com vínculo precário) e a

necessidade de acréscimo de funcionários, além dos já existentes, essenciais para o

bom funcionamento do hospital e a observância das regulamentações vigentes (fls.

191/193 do DOC. 01).

A título de exemplo, verifica-se que, na época, o HUGG

contava com: 85 enfermeiros, sendo 65 efetivos e 20 “bolsistas”, com necessidade

de acréscimo de 164 servidores públicos; 195 auxiliares de enfermagem, sendo

166 efetivos e 29 “bolsistas”; 150 técnicos em enfermagem, sendo 56 efetivos e 94

“bolsistas”, com necessidade de acréscimo de 315 servidores públicos; cerca de 135

médicos, sendo 92 efetivos e 43 “bolsistas”, com necessidade de acréscimo de 163

servidores públicos; 23 fisioterapeutas, sendo 3 efetivos e 20 “bolsistas”, com

necessidade de acréscimo de 20 servidores públicos; e apenas 1 fonoaudiólogo na

condição de funcionário “bolsista”, com necessidade de acréscimo de 10 servidores

públicos (fls. 191/193 do DOC. 01).

Dessa forma, no ano de 2010, o quadro de recursos humanos

do HUGG era formado por 961 funcionários, sendo 673 servidores efetivos e 288

funcionários “bolsistas”, com necessidade de acréscimo de mais 816 servidores

públicos, o que demonstra que, na época, já havia a necessidade de

complementação do quadro efetivo com 1.104 servidores públicos, que

corresponde a soma da quantidade de funcionários “bolsistas” a serem substituídos e

a necessidade de acréscimo de servidores públicos.

Constata-se, assim, além da falta de recursos humanos, a

presença de grande número de funcionários com vínculos irregulares no HUGG

(“bolsistas”), que correspondem a mais de 1/3 da força de trabalho do hospital, e,

portanto, evidente a grave situação vivenciada pelo nosocômio.

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Em fevereiro de 2013, a Direção do HUGG alertou quanto à

diminuição no quantitativo de servidores efetivos no hospital entre os anos de 2010

e 2012 e que, tal fato, contribuiu para que não fossem extintos os vínculos precários

com os funcionários “bolsistas” do hospital, sob pena de grave redução na sua

capacidade operacional:

“(...)O Projeto do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, em atendimento ao

referido decreto, foi aprovado pelos Conselhos Superiores, Resolução Nº3.520/2010 e enviado ao Ministério da Educação, incluindo a necessidade derecursos humanos para o Hospital.

No Projeto ficou demonstrado a necessidade de complementação doquadro efetivo com 1104 servidores, incluindo entre estes a substituição dosprestadores de serviço. Tal substituição foi determinada pelo TCU noAcórdão nº 1520/2006 e Acórdão nº 2681/2011, sendo um compromissoassumido pelo Governo Federal por intermédio do Ministério da Educação.

Cumpre salientar que estão sendo realizados investimentos de melhoriasdos espaços físicos, bem como a aquisição de equipamentos, como parte doREHUF, proporcionando um acréscimo nas atividades desenvolvidas, massem que até o presente momento o Hospital tenha sido contemplado comnovos cargos públicos efetivos. O quantitativo de servidores efetivos ao longodos últimos dois anos reduziu de 673, em 2010, para 642, em 2012.

Conforme o demonstrado, foi imprescindível a continuidade dosterceirizados para o atendimento das demandas das atividades do HUGG.Assim, permanecendo estes com vínculo precário, de prestação de serviçooriundo desde o início do projeto de revitalização do hospital com aFUNRIO em 2001, recebendo apenas bolsa auxílio. Com a já citadaimpossibilidade de continuidade da Fundação de Apoio, o vínculo se dádiretamente com o HUGG/UNIRIO.

Destaque-se mais uma vez que, no presente momento, não se podeextinguir os vínculos atuais de imediato, devido a impossibilidade decontinuação das atividades, já que os prestadores de serviço representam nasua totalidade 40% da força de trabalho do hospital, bem como por se tratarde serviço de saúde, sendo inegável o perigo e as responsabilidadesenvolvidas. Estima-se que sem os prestadores de serviço, o hospital reduziriasua capacidade operacional em 75%, inviabilizando seu funcionamento.”(fls. 20/21 do DOC. 08)

Em reunião realizada pelo Ministério Público Federal, em 06 de

maio de 2013, com o Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG (fls. 200/215 do

DOC. 01), ambos reafirmaram a grave situação de recursos humanos vivida pelo

HUGG e informaram que, segundo dados de dezembro de 2012, o HUGG

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apresentava, no total, 1.105 servidores, sendo 647 servidores efetivos (58,5% do

total) e 458 funcionários “bolsistas” (41,5% do total) (fls. 200 e 212/213 do

DOC. 01). Afirmaram, ainda, que na hipótese de dispensa dos funcionários

“bolsistas”, dos 225 leitos ativos do hospital, apenas 68 deles permaneceriam em

funcionamento, com 100% de redução de leitos em alguns setores do hospital com o

fechamento do CTI, da Pediatria, da Ortopedia, da Terapia Renal Substitutiva e da

Fonoaudiologia e de seis salas do Centro Cirúrgico Geral, o qual permaneceria

somente com duas salas em funcionamento (fls. 200/201 e 214 do DOC. 01).

Quanto às possíveis soluções para o problema de recursos

humanos encontrados no HUGG, o Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG

colocaram, na mesma reunião, que, provavelmente, “a EBSERH apenas surgiu por

conta do problema de recursos humanos” e que, embora a adesão à EBSERH não

tenha sido uma “imposição”, como “o MEC não apresenta qualquer outra

alternativa para a situação dos recursos humanos que não seja a contratação da

EBSERH e nem abre espaço para negociação em qualquer outra alternativa”, caso

a UNIRIO não venha a aderir à EBSERH, não se vislumbra “qualquer outra

possibilidade de solucionar a situação dos extraquadros, o que, em última

instância, ocasionará o fechamento de serviços do HUGG” (fls. 200/203 do DOC.

01).

O Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG acrescentaram que

“na ocasião da apresentação do projeto do REHUF, foi indicado o quantitativo de

servidores necessários para a substituição dos funcionários extraquadros” e que

“a situação do HUGG relacionada a recursos humanos não conseguiu ser

resolvida pelo REHUF”. (fl. 200 do DOC. 01)

No mês de junho de 2013, “em decorrência de dificuldades

financeiras, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e a Direção do

Hospital Universitário Gaffrée e Guinle se viram obrigados a contingenciar

atividades assistenciais nele praticadas”, tendo adotado, dentre outras, as seguintes

medidas: (1) realização de reunião, em 24/05/2013, com os chefes e responsáveis

técnicos dos diferentes serviços para apresentar a situação do hospital; (2) realização

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de reuniões individualizadas para adequação dos serviços e setores à nova situação;

(3) realização de reunião com o colegiado do Centro de Ciências Biológicas e da

Saúde, em 06/06/2013, para apresentar a situação do hospital; (4) fusão das 7ª e 9ª

Enfermarias, 8ª e 10ª Enfermarias, 3ª e 5ª Enfermarias e 4ª e 6ª Enfermarias, o que

acarretou redução no número total de leitos; (5) manutenção dos leitos/atendimentos

no CTI Adulto, CTI Neonatal, Maternidade, Ortopedia, Neurocirurgia, Terapia

Renal Substitutiva e Centros Cirúrgicos; (6) manutenção das consultas ambulatoriais

encaminhadas pelo SISREG e consultas subsequentes, porém, com suspensão de

matrículas novas oriundas de demanda própria; (7) manutenção dos exames

complementares de pacientes já agendados, porém, com realização dos exames

complementares somente até o limite previsto no Plano Operativo Anual firmado

com gestor municipal; (8) dispensa de prestadores de serviço sem vínculo, de forma,

porém, a não infringir normas técnicas e mediante indicação das chefias imediatas

(fls. 226/228 do DOC. 01).

O Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG informaram, em

reunião com o Ministério Público Federal realizada em 09 de julho de2013 (fls.

263/266 do DOC. 01), que naquele mês “houve um contingenciamento, com a

dispensa de 82 funcionários extraquadros (três em razão de pedido de demissão),

ou seja, com a dispensa de cerca de 20% do quadro dos extraquadros do

HUGG”(fl. 264 do DOC. 01), diante do agravamento da situação financeira vivida

pelo HUGG, já que este hospital tem que utilizar recursos próprios para o

pagamento dos funcionários “bolsistas”.

A redução nos serviços de assistência à saúde com a dispensa

dos funcionários “bolsistas”, diante da situação financeira do hospital universitário

em questão, pode ser constatada, inclusive, nos indicadores de produtividade do

HUGG, que reduziu o número de leitos ativos de 222, no ano de 2011, para 157 no

ano de 2013, além de redução no número de consultas ambulatoriais e exames

complementares (fls. 86/87 do DOC. 02).

O contingenciamento feito no HUGG também foi citado em

reunião do Ministério Público Federal com servidores públicos e estudantes de

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Medicina da UNIRIO, realizada em 21 de junho de 2013 (fls. 229/259 do DOC.

01), quando estes ressaltaram que isto afetou de forma negativa a assistência à saúde

da população e o ensino médico e dos demais profissionais da área da saúde (fls.

229/234 e 250/253 do DOC. 01).

Além da redução numérica da quantidade de internações,

consultas ambulatoriais e exames complementares, o prejuízo à assistência à saúde

da população também pode ser exemplificado com o caso de uma paciente do

HUGG, portadora de carcinoma de mama direita, que teve atraso no início do seu

tratamento de saúde em razão do citado “contingenciamento (…) com a dispensa de

cerca de 20% do quadro dos extraquadros do HUGG” e que teve que recorrer ao

Poder Judiciário para fazer valer o seu direito individual, nos autos do Processo nº

0001764-47.2013.4.02.5117, que tramitou no 1º Juizado Especial Federal de São

Gonçalo, conforme consta do Procedimento Preparatório nº 1.30.020.000403/2013-

59 (DOC. 16).

O prejuízo ao ensino na área de saúde da UNIRIO é

exemplificado por aluno da faculdade de medicina, quando, em audiência pública

realizada pelo Ministério Público Federal em 25/10/2013, expõe que (fls. 560/579 e

637/660 do DOC. 01):

“(...) colocou que o internato é muito importante para fazer a ponte com arealidade e se mostrou preocupado com o fato do internato não ter atendido asdiretrizes curriculares por conta da falta de pessoal; que já houve orientaçãoverbal dos professores que são chefes dos serviços de enfermaria, para que osestudantes procurassem qualquer outro serviço para acompanhar, porque ohospital não tem condições de atender aos internos; (…) que faz pouco tempouma enfermaria clínica médica que deveria ter 14 pacientes tinha apenas 3pacientes para um universo de 20 internos; que isto é fato corriqueiro que éimportante ser colocado, ou seja, há dificuldade de aprendizado no hospital,posto que hoje é um ambiente no qual existe um universo muito pequeno depacientes para um número muito grande de alunos; que não há atendimentoem muitos setores do hospital, que se encontram fechados; (...)” (fl. 579 e 658do DOC. 01)

Em reunião conjunta extraordinária realizada pelo Colegiado da

Escola de Medicina e Cirurgia e pelo Colegiado da Coordenação do Curso de

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Medicina do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, ambos da UNIRIO, em 05

de dezembro de 2013, houve, mais uma vez, o reconhecimento do prejuízo ao

ensino e à assistência à saúde, diante da situação dos recursos humanos do HUGG

(fls. 714/722 do DOC. 01).

Posteriormente, em nova reunião realizada pelo Ministério

Público Federal, em 13 de março de 2014 (fls. 708/795 do DOC. 01), com o Reitor

da UNIRIO, o Diretor do HUGG, servidores da UNIRIO e estudantes de Medicina

da UNIRIO, no afã de obter mais elementos sobre o quadro de sucateamento da

instituição, restou novamente consignada a gravidade da situação vivida pelo

HUGG e caracterizada pela permanência de grande parcela de funcionários com

vínculo precário, pela crescente necessidade de contratação de novos servidores

efetivos e pelo prejuízo à assistência à saúde da população, ao ensino e à pesquisa

causado pela redução na oferta de serviços pelo HUGG (fls. 714/722, 723/739 e

760/769 do DOC. 01).

Conforme informado pelo Reitor da UNIRIO não existem,

atualmente, “recursos financeiros para a manutenção dos recursos humanos do

HUGG” e, ao mesmo tempo, “o Ministério da Educação coloca que a solução para

a questão é a adesão à EBSERH, de modo que não possui qualquer apoio do

governo para resolver a questão de outra maneira, posto que o governo coloca a

EBSERH como a única solução para essa questão” (fl. 709 do DOC. 01).

Contudo, é importante repisar que a Lei nº 12.550/11 é objeto

de ação direita de inconstitucionalidade – ADI 4895, proposta pelo Procurador-

Geral da República e em tramitação no Supremo Tribunal Federal (DOC. 06). Além

disso, some-se também o fato de que a adesão à EBSERH não foi reconhecida pelo

TCU como uma solução “definitiva a curto prazo” para a precária situação dos

recursos humanos dos hospitais universitários das universidades federais, “por estar

envolta em controvérsias” (fl. 46 do DOC. 07).

Além de não se caracterizar como solução definitiva a curto

prazo, a situação relativa à adesão da UNIRIO à EBSERH ainda não foi alvo de

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deliberação por parte do CONSUNI da referida universidade (fls. 708/713 e 754/760

do DOC. 01).

Sendo assim, o que resta certo é o descumprimento por parte da

UNIÃO da sua obrigação de prestar assistência e dotar os HUGG de corpo de

profissionais de saúde e de estrutura adequada para viabilizar o aperfeiçoamento dos

profissionais que estão se formando e também garantir uma assistência médico-

hospitalar efetiva, segura e com qualidade.

Entretanto, passa ano e entra ano, o processo de sucateamento

ganha força, permanecendo sem definição a situação crítica dos recursos humanos

no HUGG, em decorrência da política adotada nas últimas décadas pelo Estado, não

obstante as inúmeras decisões do TCU para que tal situação fosse regularizada com

a contratação de servidores por concurso público para a substituição dos

profissionais terceirizados que exercem funções da atividade-fim e não abarcadas

pelo Decreto nº 2.271/97, em afronta à disposição prevista no art. 37, inciso II da

Constituição Federal, bem como às normas do direito do trabalho.

Observe-se que, na reunião de 13 de março de 2014, antes

citada, foi colocado que os três segmentos da universidade (docentes, discentes e

servidores técnico-administrativos) apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento

contendo vários encaminhamentos e propostas “para solucionar os problemas

vividos pelo HUGG sem que se tenha que aderir à EBSERH”, entre eles: a

elaboração de um plano emergencial para o HUGG com a participação dos três

segmentos e a solicitação para realização de reunião dos três segmentos com o

Ministério da Educação (fls. 708/713 do DOC. 01).

É importante ressaltar que a situação caótica dos recursos

humanos do HUGG já foi reiteradamente comunicada pelo Reitor da UNIRIO tanto

ao Ministério da Educação, quanto à própria EBSERH (fls. 771/776, 777, 782/783 e

784 do DOC. 01).

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Em 15 de maio de 2013, o Reitor da UNIRIO encaminhou

ofício ao Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, alertando

para a existência de elevado número de funcionários sem vínculo contratual e para

necessidade de aporte de recursos orçamentários, sob pena de redução da atividade

assistencial do HUGG (fl. 771/776 do DOC. 01). Entretanto, o Ministério da

Educação não tomou qualquer providência para a resolução do problema, tendo

simplesmente apresentado com resposta a sugestão para que a UNIRIO convidasse a

EBSERH para uma visita “para esclarecimentos que subsidiem a tomada de

decisão da instituição” (fl. 777 do DOC. 01).

Em 17 de junho de 2013, o Reitor da UNIRIO fez indagação

ao Presidente da EBSERH sobre como a referida empresa pública pretendia repor os

recursos humanos que atuam no HUGG “de modo a possibilitar a manutenção de

suas atividades, caso o Conselho Universitário da UNIRIO se manifeste contrário e

decida pela não adesão à EBSERH” (fls. 782/783 do DOC. 01). A resposta obtida

foi de que, no caso de não adesão da UNIRIO à EBSERH, “a empresa não teria

autorização legal para adotar quaisquer providências relacionadas às atividades

de administração do HUGG, tal como reposição de recursos humanos” (fl. 784 do

DOC. 01).

Verifica-se, portanto, que no caso de não adesão da UNIRIO à

EBSERH, a UNIÃO não oferece qualquer outra medida no sentido de solucionar a

situação irregular de recursos humanos do HUGG, que persiste em total afronta à

disposição prevista no art. 37, inciso II da Constituição Federal, bem como às

normas do direito do trabalho.

Observe-se que nem a nomeação e posse de 40 (quarenta)

novos servidores no HUGG nos últimos anos (fls. 814/815 do DOC. 01), nem a

deflagração de concursos públicos “destinado ao provimento de cargos do Quadro

de Pessoal Técnico-Administrativo em Educação” da UNIRIO, notadamente,

através do Edital nº 110, de setembro de 2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), do

Edital nº 114, de 11 de outubro de 2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), do Edital nº

42, de 31 de julho de 2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e do Edital nº 002 da

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UNIRIO, de 16 de janeiro de 2014 (fls. 952/966 do DOC. 01), são suficiente para

suprir a demanda atual de recursos humanos do HUGG, já que os citados concursos

públicos oferecem no total apenas 05 (cinco) vagas para Médico, 1 (uma) vaga

para Enfermeiro, 1 (uma) vaga para Técnico de Enfermagem, 25 (vinte e cinco)

vagas para Auxiliar de Enfermagem e 2 (duas) vagas para Técnico em

Radiologia para lotação no HUGG (fls. 814/815 do DOC. 01).

Segundo informações prestadas pelo Vice-Reitor da UNIRIO,

em 03 de dezembro de 2013, o número de funcionários “bolsistas”, contratados

sem concurso público e em atividade no HUGG era de 322 (trezentos e vinte e

dois) profissionais da área da saúde e 372 (trezentos e setenta e dois)

profissionais de outras áreas, o que resulta em um total de 694 (seiscentos e

noventa e quatro) funcionários contratados sem concurso público e com

vínculo precário (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82 do DOC. 02), isto sem

contar o quantitativo de recursos humanos necessários em acréscimo para que o

HUGG funcione na sua capacidade plena, segundo o Plano de Reestruturação do

HUGG encaminhado em 2010 ao Ministério da Educação, no âmbito do REHUF

(fls. 177/194 do DOC. 01). Neste ponto, destaca-se que, em 15 de julho de 2013, o

HUGG informou que “a necessidade de recursos humanos permanece a mesma que

foi apresentada no Plano de Reestruturação do HUGG” (fls. 269/271 do DOC. 01).

Verifica-se, assim, que, do total de funcionários contratados

sem concurso público, prestam serviços no HUGG como “bolsistas”: 53 (cinquenta

e três) médicos, 47 (quarenta e sete) enfermeiros, 162 (cento e sessenta e dois)

técnicos em enfermagem, 10 (dez) auxiliares de enfermagem e 2 (dois) técnicos em

radiologia, entre outros (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82 do DOC. 02), o que

demonstra que os referidos concursos públicos não serão suficientes para atender às

necessidades do HUGG.

Conclui-se, portanto, que, diante da quantidade e da natureza

das atividades desempenhadas pelos funcionários “bolsistas” do HUGG da

UNIRIO, os atuais concursos públicos (Edital nº 110/2010 - fls. 819/870 do DOC.

01), Edital nº 114/2010 - fls. 871/883 do DOC. 01, Edital nº 42/2012 - fls. 884/951

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do DOC. 01 e Edital nº 002/2014 - fls. 952/966 do DOC. 01), em vigência para

provimento de cargos efetivos por servidores públicos submetidos ao regime

jurídico único, não serão suficientes para a completa substituição dos profissionais

que se encontram em situação irregular no referido hospital, nem para o acréscimo

dos recursos humanos que ainda é necessário para o funcionamento do hospital na

sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes, ainda mais

se for considerado o número de vagas ofertadas em cada certame (fls. 814/815 e

952/966 do DOC. 01).

Constata-se, dessa forma, que mesmo diante da comprovada

existência de grande número de funcionários com vínculo precário no HUGG e

da necessidade de contratação de novos servidores públicos efetivos mediante

concurso público, até o presente momento, não houve qualquer solução para a

questão de recursos humanos do hospital, o que coloca em risco não apenas a

população, que depende dos serviços de saúde ali prestados, mas também

importa grande prejuízo para o ensino e a pesquisa.

III – DO DIREITO

III.1 – Da Necessidade da Nomeação dos Candidatos Aprovados e ainda não

Convocados dos Concursos Públicos em Vigência para Cargos no HUGG da

UNIRIO (Edital nº 110/2010, Edital nº 114/2010, Edital nº 42/2012 e Edital nº

002/2014), da Necessidade de Contratação Temporária – Lei nº 8.745/93 e da

Necessidade de Outros Concursos Públicos para provimento de Cargos

Efetivos no HUGG da UNIRIO por Servidores Públicos submetidos ao Regime

Jurídico Único:

Diante do que foi exposto no item II da presente petição inicial,

está comprovada a situação precária em que se encontram os funcionários

“bolsistas” do HUGG, que lá prestam serviços sem qualquer respaldo contratual

com a UNIRIO ou com a UNIÃO (Ministério da Educação), e, portanto, sem

ter reconhecidos os seus direitos trabalhistas na sua plenitude, o que, ao final,

afronta não apenas o previsto pelo art. 37, inciso II, da Constituição Federal,

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mas também os princípios e normas do direito do trabalho, inclusive, de índole

constitucional.

Ademais, não se vislumbra qualquer ato por parte da

UNIRIO ou da UNIÃO, quer pelo Ministério da Educação, quer pelo Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão, para sanar as ilegalidades acima expostas a

curto prazo.

Além da inércia da UNIÃO em solucionar a questão dos

terceirizados na Administração Pública Federal por quase duas décadas, os

concursos públicos em vigência na UNIRIO, deflagrados pelos Editais da UNIRIO

nºs 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01),

42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01), não

contemplam todos os cargos, cujas funções são hoje exercidas pelos funcionários

“bolsistas”, e ainda possui um número de vagas (34 vagas – fls. 814/815 do DOC.

01) infinitamente inferior para a substituição da totalidade dos 694 (seiscentos e

noventa e quatro) funcionários “bolsistas” (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82

do DOC. 02) e em atividade atualmente no HUGG, bem como para a alocação de

novos profissionais que ainda se fizerem necessários para o funcionamento do

hospital na sua capacidade total e com a observância das regulamentações

vigentes.

Acrescente-se que a adesão à EBSERH, única proposta

apresentada pela UNIÃO, ainda não foi deliberada pelo Conselho Universitário da

UNIRIO e talvez nem o seja, considerando a autonomia universitária, prevista no

art. 207, caput, da Constituição Federal, bem como a articulação dos três segmentos

da universidade (docentes, discentes e servidores técnico-administrativos) que

apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento contendo vários encaminhamentos e

propostas “para solucionar os problemas vividos pelo HUGG sem que se tenha que

aderir à EBSERH”, como por exemplo: a elaboração de um plano emergencial para

o HUGG com a participação dos três segmentos e a solicitação para realização de

reunião dos três segmentos com o Ministério da Educação (fls. 708/713 do DOC.

01).

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Por certo, o Conselho Universitário da UNIRIO, caso assim

delibere, estará respaldado na sua autonomia universitária (art. 207, caput, da CF), a

qual deve ser entendida como autonomia administrativa, de gestão financeira e

patrimonial e didático-científica, para que tanto os profissionais de educação, como

os próprios estudantes, possam exercer as funções de ensino, pesquisa e extensão

sem qualquer embaraço, tendo garantidas, ao final, a livre manifestação do

pensamento e a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de

comunicação, independente de censura ou licença (artigos 5ª, incisos IV e IX, e 206,

inciso II, CRFB/88).

Considerando, portanto, que a grave situação dos recursos

humanos no HUGG já se prolonga além do aceitável e que a própria UNIRIO, desde

2010, ou seja, desde a apresentação do Plano de Reestruturação do HUGG no

âmbito do REHUF (fls. 177/194 do DOC. 01), pleiteia na esfera administrativa

junto à UNIÃO (Ministério da Educação) uma solução para regularizar tal situação

que também permita a manutenção das atividades de assistência, ensino e pesquisa,

inclusive no caso de não contratação da EBSERH, conforme consta ainda dos

ofícios de 15/05/2013 e 17/06/2013 (fls. 771/776, 777, 782/783 e 784 do DOC. 01),

sem que tenha obtido qualquer resposta positiva neste sentido, somente resta

recorrer ao Poder Judiciário para determinar que a UNIÃO e a UNIRIO assim

procedam e regularizem a situação.

A Constituição Federal, no art. 37, caput, e no seu inciso II,

consagrou as regras básicas da ampla acessibilidade aos cargos e empregos

públicos, consoante abaixo:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderesda União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aosprincípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência e, também, ao seguinte:(...)II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação préviaem concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com anatureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,

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ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livrenomeação e exoneração;”

A obrigatoriedade da realização de concurso público para

investidura em cargos ou empregos públicos, muito mais do que estabelecer um

procedimento de como o agente deve atuar na contratação de seus servidores,

objetiva dar concretude aos princípios da moralidade e impessoalidade, a fim de que

se obtenha uma administração transparente de acordo com as normas da probidade

administrativa, somente se admitindo, como exceção, também previstas na própria

Constituição Federal, “as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de

livre nomeação e exoneração” (inciso II, do art. 37) e a “contratação por tempo

determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse

público” (art. 37, inciso IX).

Por outro lado, também segundo a Constituição Federal, as

pessoas físicas que prestam serviços à Administração Pública direta, às autarquias e

às fundações públicas, ou são servidores públicos sujeitos ao regime jurídico único e

ocupantes de cargos públicos (art. 39, caput) - o que engloba os cargos em

comissão, previstos na parte final do art. 37, inciso II) -, ou são temporários,

contratados “por tempo determinado para atender à necessidade temporária de

excepcional interesse público” (art. 37, inciso IX).

No presente caso da UNIRIO, todos os funcionários “bolsistas”

que prestam serviços no HUGG não têm por finalidade atender uma necessidade

temporária da Administração Pública, nem foram providos em cargos em comissão.

Ao revés, tais funcionários “bolsistas” exercem funções

relacionadas a cargos de carreira de provimento efetivo e, ainda, correspondentes à

atividade-fim da instituição de ensino em questão, razão pela qual não se aplica

nesta hipótese o Decreto nº 2.271/97 – que versa sobre a contratação de serviços da

atividade-meio desempenhados na Administração Pública Federal direta, autárquica

e fundacional -, conforme expressamente destaca o § 2º, do seu art. 1º1 (DOC. 10).

1 “Art. 1º – No âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto deexecução indireta as atividades materiais acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituemárea de competência legal do órgão ou entidade.

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Sendo assim, imperioso o provimento de cargos efetivos na

UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único (Lei nº

8.112/90), para o exercício das funções desempenhadas pelos funcionários

“bolsistas” do HUGG, após aprovação em “concurso público de provas ou de

provas e títulos”. Até porque a existência de tais profissionais “bolsistas”, por mais

de uma década, em situação irregular, no exercício de atividades típicas de

servidores, demonstra a inércia da UNIÃO e da UNIRIO em adotar medidas

corretivas efetivas para tanto, embora ambas tenham sido instadas pelo TCU.

Em primeiro, portanto, os candidatos aprovados nos

concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao

Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do

DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, mas que

ainda não foram convocados, devem ser imediatamente convocados e

empossados nos cargos destinados ao HUGG.

Isto porque não há qualquer argumento para que se mantenha a

precarização dos vínculos dos “bolsistas” que atualmente exercem funções no

HUGG, sem qualquer respaldo contratual e sem terem resguardados seus direitos

trabalhistas; ou, ainda, que se permita o fechamento de mais serviços de saúde no

referido hospital em prejuízo ao ensino e à assistência a saúde da população, quando

há concursos públicos válidos e em vigência, com candidatos ainda não convocados,

a permitir, dessa forma, a atenuação a grave situação existente e comprovada.

Além disso, como a nomeação e posse de todos os candidatos

aprovados nos concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870

do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012

(fls. 884/951 do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da

UNIRIO para provimento dos cargos no HUGG, não permitirá a substituição dos

(…)§ 2º – Não poderão ser objeto d execução indireta as atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas

pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargoextinto, total ou parcialmente, no âmbito do quandro geral de pessoal.”

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profissionais “bolsistas” que se encontram em situação irregular, nem permitirá o

funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a observância das

regulamentações vigentes, imprescindível, ainda, a deflagração de novos

concursos públicos.

Por certo, contudo, a realização de concurso público para a

substituição de todos os funcionários bolsistas do HUGG por servidores públicos,

submetidos ao regime jurídico único é procedimento que demanda tempo, ao

mesmo tempo em que a atual situação precária de tais funcionários “bolsistas”

não mais se sustenta.

Assim, vislumbra-se que a contratação temporária, prevista

no art. 37 inciso IX da Constituição Federal e regulamentada pela Lei nº

8.745/2003, é o meio mais adequado, nos termos da legislação vigente, para

regularizar de imediato a situação dos recursos humanos do HUGG, diante da

necessidade de aguardar a deflagração/conclusão dos concursos públicos

necessários para o provimento de cargos efetivos por servidores públicos,

submetidos ao regime jurídico único.

Se por um lado a situação irregular de todos os funcionários

“bolsistas” sem respaldo contratual no HUGG não mais se sustenta, por outro, a

dispensa de todos estes funcionários sem a reposição imediata dos recursos humanos

no mesmo quantitativo trará graves prejuízos à saúde, ao ensino e ao interesse

público, posto que reduzirá sensivelmente a oferta de serviços de saúde prestados

pelo HUGG, os quais estão inseridos no SUS.

Nesse contexto, a propósito, observe-se como exemplo que a

contratação temporária foi justamente a solução adotada, pelo Ministério da

Educação, para o Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina,

em situação semelhante a presente, para cumprimento de decisão judicial proferida

nos autos de ação civil pública, proposta na Seção Judiciária de Santa Catarina da

Justiça Federal da 4ª Região, Processo nº 2008.72.00.012168-4/SC (DOC. 11 e

DOC. 12).

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A contratação temporária, nos moldes da Lei nº 8.745/93,

também foi a solução temporária para a regularização dos recursos humanos no

Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense – UFF,

localizada em Niterói, que passa pelos mesmos problemas do HUGG da UNIRIO,

consoante decisão proferida pelo Desembargador Federal Luiz Paulo da Silva

Araújo Filho, nos autos das apelações interpostas pelo Ministério Público Federal,

pela União e pela UFF, Processo nº 0002668-54.2009.4.02.5102, em tramitação na

07ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, enquanto não julgados os recursos

interpostos (DOC. 13).

Acrescente-se que as dificuldades financeiras por que passa o

HUGG foram agravadas em razão do descaso da UNIÃO em não efetuar a reposição

regular dos recursos humanos ao longo dos últimos anos na unidade de saúde em

questão, ocasionando o desvio de verbas destinadas ao custeio de manutenção,

funcionamento e incremento do hospital universitário para o pagamento de pessoal,

no caso: pagamento dos funcionários “bolsistas”.

Ora, as despesas com pessoal, temporário ou não, devem ser

repassadas pela UNIÃO à UNIRIO para pagamento da folha salarial dos servidores

públicos lotados na referida universidade, bem como em seu hospital de ensino,

consoante previsto na Lei nº 9.394/96, aplicável ao presente caso, uma vez que os

hospitais universitários estão vinculados ao Ministério da Educação e inseridos no

âmbito da educação superior.

Vale destacar, neste ponto, o disposto no § 2º do art. 46 e no

caput do art. 55, ambos da Lei nº 9.394/96, conforme abaixo transcrito, já que se

está diante de um hospital universitário, voltado para a educação superior:

“Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como ocredenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados,sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação.(...)

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§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo responsável por suamanutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá recursosadicionais, se necessários, para a superação das deficiências.(…)Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral,recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das instituições deeducação superior por ela mantidas.”

A UNIÃO, nos últimos vinte anos, omite-se quanto à sua

responsabilidade de viabilizar o funcionamento dos serviços públicos de ensino e

saúde prestados nas dependências do HUGG, repassando a terceiros, ou seja, ao

próprio hospital e à UNIRIO, obrigação que é exclusivamente sua, no caso:

pagamento de salários dos profissionais que exercem atividade-fim no HUGG.

A omissão da UNIÃO, ao revés, compromete o funcionamento do hospital

universitário em questão que tem que aplicar verbas de custeio repassadas ao

hospital no pagamento de pessoal.

Diante disso, não há dúvida que cabe à UNIÃO transferir à

UNIRIO e ao HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda despesa

relativa ao pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal

decorrente da contratação temporária, prevista no art. 37, inciso IX, da Constituição

Federal e regulamentada pela Lei nº 8.745/2003, ora pleiteada, para a substituição

dos funcionários “bolsistas” do HUGG, que atualmente prestam serviços em

situação precária e sem respaldo contratual, bem como para a alocação de novos

profissionais que ainda se fizerem necessários para o funcionamento do hospital na

sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes.

III.2 – Da Necessidade de apresentar o Quantitativo de Cargos atualmente

destinados ou que deveriam ser destinados ao HUGG da UNIRIO, bem como

Projeto com o Dimensionamento dos Recursos Humanos Necessários para a

Substituição dos Funcionários Extraquadros e/ou Temporários e para o Pleno

Funcionamento do HUGG:

Conforme visto acima, não há dúvida de que os concursos

públicos em vigência, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01),

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ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951

do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, não

suprirão a força de trabalho existente atualmente de forma irregular na unidade de

saúde da UNIRIO, nem para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e

com a observância das regulamentações vigentes.

Também é certa a existência de cargos vagos na medida em que

há concursos públicos em vigência.

O Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em

Educação no âmbito das Instituições de Ensino, encontra-se disciplinado na Lei nº

11.091/2005 (DOC. 14), e está estruturado em 5 (cinco) níveis de classificação2: A,

B, C, D e E, de acordo como Anexo II da referida lei.

O art. 4º da Lei nº 11.091/2005 estabelece que “caberá à

Instituição Federal de Ensino avaliar anualmente a adequação do quadro de

pessoal às suas necessidades propondo ao Ministério da Educação, se for o caso,

o seu redimensionamento, consideradas, entre outras, as seguintes variáveis: I –

demandas institucionais; II – proporção entre os quantitativos de força de

trabalho do Plano de Carreiras e usuários; III – inovações tecnológicas; e IV –

modernização dos processos de trabalho no âmbito da Instituição”, enquanto que

seu parágrafo único prevê que “os cargos vagos e alocados provisoriamente no

Ministério da Educação deverão ser redistribuídos para as Instituições Federais

de Ensino para atender às suas necessidades, de acordo com as variáveis

indicadas nos incisos I a IV deste artigo e conforme o previsto no inciso I do § 1º

do art. 24 desta Lei”.

Com relação ao quantitativo dos cargos dos níveis de

classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-

Administrativos em Educação, de que trata a Lei nº 11.091/2005, o Decreto nº

7.232/2010, no seu Anexo I (DOC. 15), prevê para a UNIRIO 1.762, 3.425 e 3.050

cargos para os Níveis de Classificação “C”, “D” e “E”, em um total de 8.2372 Art. 2º, inciso II, da Lei nº 11.091/2005: “nível de classificação: conjunto de cargos de mesma hierarquia,classificados a partir do requisito de escolaridade, nível de responsabilidade, conhecimentos, habilidades específica,formação especializada, experiência, risco e esforço físico para o desempenho de suas atribuições”.

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cargos. Embora o art. 4º, do citado decreto, preveja que “o Ministério da Educação

publicará, em janeiro e julho de cada ano, versão atualizada do Anexo I,

contemplando as redistribuições de cargos que tiverem sido realizadas no período

imediatamente anterior, demonstrando, para cada universidade, o total de cargos

dos níveis de classificação “C”, “D” e “E””, o Ministério Público Federal não

logrou localizar ato normativo neste sentido, posterior ao citado Decreto nº

7.232/2010, para aferir o quantitativo de cargos atualmente destinados ou que

deveriam ser destinados à UNIRIO e demais instituições federais de ensino superior

e, ainda, aqueles que estão vagos e que deveriam ser redistribuídos pelo Ministério

da Educação às citadas instituições de ensino superior.

Acrescente-se ainda que a falta de publicação periódica da

atualização de tais quantitativos de cargos pelo Ministério da Educação, conforme

previsto no Decreto nº 7.232/2010, ainda impede que se exija das universidades

federais o cumprimento do § 1º, do art. 4º, do mesmo decreto, ou seja, a divulgação

de “listagem contendo relação discriminada de cargos ocupados e vagos em seus

sítios na rede mundial de computadores”.

Assim sendo, indispensável a apresentação pela UNIÃO da

relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo

dos cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de

Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a Lei

nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da Educação e nas universidades

federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação daqueles destinados ao HUGG,

bem como apresentação dos cargos que estão vagos nos citados órgãos.

Da mesma forma, o redimensionamento atual e adequado

dos recursos humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital universitário,

para que este funcione na sua capacidade total e com a observância das

regulamentações vigentes - com a organização e o planejamento das atividades a

serem desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos serviços de saúde

realizado por tal unidade da saúde - é de fundamental importância para, nos

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termos do art. 4º da Lei nº 11.091/2005, possibilitar inclusive a redistribuição de

cargos.

O próprio TCU, conforme visto acima, no item 6.28, do

Acórdão nº 1.520/2006 – Plenário (DOC. 03), aponta para “a existência de

quantidade suficiente de cargos para substituir os terceirizados”, mas que na

hipótese de não se mostrarem suficientes para substituir os terceirizados, o

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão ainda poderá “avaliar a

possibilidade de remanejar cargos excedentes em um órgão para outro onde não há

quantitativo suficiente”, dispensando assim a necessidade de criação de novos

cargos por lei específica.

Dessa forma, patente a necessidade da UNIÃO apresentar a

relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo dos

cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E” - vagos ou não - que integram o

Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a

Lei nº 11.091/2005, tanto no Ministério da Educação, como nas universidades

federais, com indicação daqueles destinados ao HUGG; bem como a necessidade da

UNIRIO apresentar, em um prazo razoável, um plano atual de redimensionamento

da força de trabalho da sua unidade de saúde necessária para o funcionamento na

sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes.

Imprescindível ainda que a UNIÃO e a UNIRIO, dentro das

suas respectivas competências, promovam a nomeação e posse de aprovados nos

concursos públicos em curso, realizem a contratação temporária, bem como

promovam novos concursos públicos para o provimento de cargos efetivos na

UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único, tendo por

objetivo final restabelecer a legalidade no que diz respeito à política de recursos

humanos do hospital universitário da UNIRIO.

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III. 3 – Da Omissão e da Necessidade da Tutela Jurisdicional

Não surpreenderá, entretanto, se a UNIÃO e a UNIRIO, diante

dos pedidos contidos na presente inicial, suscitarem a surrada tese da ofensa à

separação dos poderes e que o Judiciário estaria a estabelecer prioridades

orçamentárias. Sobre esse aspecto, não se pretende administrar, mas apenas

corrigir vícios administrativos passíveis de correção pela via judicial. De fato,

não há ingerência, pois a tutela pretendida objetiva coibir e consertar uma distorção

sistemática que a Administração Pública não corrigiu em mais de uma década, tendo

tido inclusive decisões do TCU neste sentido, após solicitações de prorrogações de

prazo pela própria UNIÃO para solucionar a questão.

O que não se pode mais tolerar, desse modo, é a permanência

de pessoas contratadas em situação precária no HUGG, que lá prestam serviços sem

qualquer respaldo contratual, sem o reconhecimento dos seus direitos trabalhistas na

sua plenitude e ainda em afronta ao art. 37, inciso II, da Constituição Federal. O que

ainda torna mais grave a situação é que a medida que os funcionários “bolsistas” são

dispensados ou solicitam demissão, não há reposição de recursos humanos, o que

ocasiona a redução e o fechamento de serviços que prestam assistência à saúde da

população, em regra, menos favorecida economicamente, já que no âmbito do SUS,

bem como prejudica o ensino lá ministrado.

De fato, foi isto o que ocorreu em junho de 2013, quando houve a

fusão de enfermarias do HUGG, o que resultou na redução do número total de

leitos, além de redução na realização de exames complementares, em grave prejuízo

à assistência à saúde, ao ensino e à pesquisa (fls. 226/228, 229/234, 250/253 e

263/266 do DOC. 01 e fls. 86/87 do DOC. 02).

Risível também qualquer alegação com base na tese da reserva

do possível. No caso específico, é plenamente possível adotar as providências

administrativas visando à efetiva substituição. Recursos obviamente existem, tanto

que todo mês são canalizados recursos para o pagamento dos terceirizados.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ademais, nunca foi apresentada qualquer prova de que os gastos com servidores

sejam superiores aos despendidos com os funcionários terceirizados.

Se cabe ao Poder Executivo e às suas entidades vinculadas a

precípua tarefa de governar e administrar os recursos humanos para gerir seus

órgãos, inclusive, hospitais que atendem no âmbito do SUS, é certo também que há

limites para essa discricionariedade, diante ainda da patente irregularidade

perpetrada em afronta às regras constitucionais, administrativas e do direito do

trabalho.

Nas circunstâncias do caso concreto, o exercício do poder

discricionário da administração tem funcionado como um cheque em branco,

autorizando a UNIÃO a decidir livremente quando, como e se deve agir para

restaurar a legalidade, ou melhor, se adequar à própria Constituição Federal.

Não há direitos ou poderes absolutos. Toda atividade

administrativa, inclusive sua tarefa de gerenciar recursos humanos, deve manter-se

em harmonia com demais preceitos constitucionais, dentre eles o de respeitar os

direitos trabalhistas, o de observar e restaurar a regra de ingresso no serviço público

através de concurso e o dever de prestar serviços de saúde e de ensino com

qualidade e eficiência.

Não faltou oportunidade para a UNIÃO e a UNIRIO, dentro das

suas esferas de competência, ultimarem a substituição dos funcionários “bolsistas”

no HUGG, de vez que a situação é conhecida há mais de uma década.

A propósito, observe-se que as decisões do TCU, proferidas

notadamente nos Acórdãos nº 1.520/2006 e 2.681/2011 (DOCs. 03 e 04), ambos do

Plenário, que acolheram proposta da UNIÃO e concederam prazo, respectivamente

até 31/12/2010 e, após, até 31/12/2012, para que a substituição dos terceirizados de

forma irregular na Administração Federal direta, autárquica e fundacional,

ofereceram tempo e condições suficientes para que tal substituição pudesse ser

implementada paulatinamente. Possibilitou-se, assim, tempo e condições para que a

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

UNIÃO e a UNIRIO, em conjunto e de acordo com suas competências, executassem

um planejamento estratégico, com previsão de impactos financeiros, ajustes

orçamentários, criação de cargos e organização de concursos, tudo de modo a

viabilizar uma gradual transição do modelo de contratação irregular então

vigente e sem riscos de ruptura ou descontinuidade para o serviço de saúde e

para o ensino.

Portanto, não se pode cogitar em surpresa ou falta de

previsão para as substituições, tendo em vista que as irregularidades há muito foram

detectadas e que foram estabelecidos extensos prazos e condições para assegurar

uma solução gradativa em tempo extremamente razoável.

No caso dos hospitais universitários e demais unidades de saúde

das universidades federais, vinculadas ao Ministério da Educação, a única solução

apresentada para a questão dos recursos humanos, ressalte-se, apenas no ano de

2012, foi a adesão/contratação da EBSERH. Ocorre que não só a

constitucionalidade da criação da EBSERH é objeto de questionamento (DOC. 06),

como também, o próprio TCU, no Acórdão nº 1610/2013 – Plenário (DOC. 07), não

considera a referida empresa pública como solução a curto prazo (DOC. 07), sendo

que a adesão da UNIRIO à EBSERH não foi deliberada pelo seu Conselho

Universitário e talvez nem o seja, considerando a autonomia universitária, prevista

no art. 207, caput, da Constituição Federal, bem como a articulação dos três

segmentos da universidade (docentes, discentes e servidores técnico-

administrativos) que apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento contendo

vários encaminhamentos e propostas “para solucionar os problemas vividos pelo

HUGG sem que se tenha que aderir à EBSERH”, como por exemplo: a elaboração

de um plano emergencial para o HUGG com a participação dos três segmentos e a

solicitação para realização de reunião dos três segmentos com o Ministério da

Educação (fls. 708/713 e 754/760 do DOC. 01).

Acrescente-se ainda que a UNIÃO, através do Ministério da

Educação, embora afirme ser facultativa a contratação da EBSERH, aponta que “as

universidades que não aderirem à empresa não terão condições de cumprir o

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

acórdão do TCU na substituição do pessoal terceirizado, considerado irregular”

(fls. 114 do DOC. 01), o que foi confirmado, no caso específico do HUGG da

UNIRIO, quando o Presidente da EBSERH, após questionamentos do Reitor da

UNIRIO, coloca não haver outra solução para os recursos humanos do referido

hospital universitário, caso não haja a contratação da EBSERH (fls. 782/783 e 784

do DOC. 01).

Em outras palavras, a UNIÃO, mesmo tendo passado todos

esses anos, ainda se nega a solucionar a situação precária dos recursos humanos

em exercício no HUGG e a reativação dos leitos e serviços desativados por falta

de pessoal, ao longo de mais de uma década, apesar da urgência e da gravidade

da situação. Nesse caso, é evidente que a solução para a substituição da força de

trabalho, em situação precária, continuará a ser indefinidamente prorrogada.

Por certo, a discricionariedade encontra limites na

razoabilidade. Com efeito, não é razoável não haver nem mesmo um processo

de substituição dos funcionários “bolsistas” com prazo de duração

determinado, ficando a população, última prejudicada, à mercê da leniência do ente

federativo. Com todas as oportunidades e condições para agir e restabelecer a ordem

constitucional, em prazo mais que razoável para o planejamento, sem que tivessem,

contudo, adotado providências efetivas e eficientes para solucionar a questão, a

UNIÃO e a UNIRIO solaparam a boa-fé e a segurança jurídica, ambas

derivadas do solene compromisso de cumprir os prazos que a própria UNIÃO

propôs ao TCU. Nessa situação, o descumprimento anos a fio da obrigação

caracteriza inequívoca mora administrativa.

Uma vez constatada a omissão, em situação na qual o Poder

Público está obrigado a agir, pode o Judiciário suprimi-la através de decisões que

imponham ao Estado uma obrigação de fazer.

Ora, onde há dever legal, não pode haver opção discricionária

pela omissão. O administrador que descumpre a lei não age no exercício da legítima

liberdade discricionária, mas sim no campo da ilegalidade e da arbitrariedade: não

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Page 41: ACP HUGG

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

existe discricionariedade contra legem. Se há determinação legal, não existe opção

legítima pelo non facere.

Portanto, não se cogita, na hipótese, de violação ao princípio

constitucional da separação de poderes. A atuação do Judiciário apenas

preencherá uma lacuna não preenchida pela Administração Pública Federal,

restabelecendo a submissão do administrador à lei, o que é um imperativo em

um regime constitucional de “freios e contrapesos”. Se o administrador pretende

submeter o cumprimento da lei ao seu juízo discricionário de conveniência e

oportunidade, é o Poder Executivo e as entidades a ele vinculadas que estão a violar

a separação dos poderes, as normas do direito do trabalho e do concurso público e

ainda os direitos à saúde e à educação, consagrados na Constituição Federal.

Diante desta anomalia, o Judiciário pode ser acionado para suprir a omissão estatal,

não para impor novas diretrizes políticas, mas para restabelecer o regime de

legalidade afrontado pela ilegítima omissão estatal3.

Nesse sentido já decidiu o Supremo Tribunal Federal,

consoante trecho do r. voto condutor do acórdão proferido pela 2ª Turma do

mencionado tribunal, no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº

393175/RS, tendo como Ministro Relator Celso de Mello, abaixo transcrito:

"(...) entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à saúde, que sequalifica como direito subjetivo inalienável, assegurado a todos pela própriaConstituição da República (art. 5º, caput e art. 196), ou fazer prevalecer ,contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundáriodo Estado, entendo - uma vez configurado esse dilema - que razões de ordemético-jurídica impõem ao julgador uma só e possível opção: aquela queprivilegia o respeito indeclinável à vida e á saúde humanas.(...) O sentido de fundamentalidade do direito à saúde - que representa, nocontexto da evolução histórica dos direitos básicos da pessoa humana, umadas expressões mais relevantes das liberdades reais ou concretas - impõe aoPoder Público um dever de prestação positiva que somente se terá porcumprido, pelas instâncias governamentais, quando estas adotaremprovidências destinadas a promover, em plenitude, a satisfação efetiva dadeterminação ordenada pelo texto constitucional.

3 Neste sentido já decidiu o STJ (2ª Turma, REsp 429.570-GO, Min. Rel. Eliana Calmon, publicada no DJ 22/03/2004,p. 277 e no RSTJ vol. 187, p. 219).

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos direitos sociais-que traduz estágio necessário ao processo de sua afirmação constitucional eque atua como pressuposto indispensável à sua eficácia jurídica (JOSÉAFONSO DA SILVA, "PODER CONSTITUINTE E PODER POPULAR, p.199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) -, recai, sobre o Estado, inafastávelvínculo institucional consistente em conferir real efetividade a taisprerrogativas básicas (...).Não basta, portanto, que o Estado meramente proclame o reconhecimentoformal e um direito. Torna-se essencial que, para além da simplesdeclaração constitucional desse direito, seja ele integralmente respeitado eplenamente garantido, especialmente naqueles casos em que o direito - comoo direito à saúde - se qualifica como prerrogativa jurídica de que decorre opoder do cidadão de exigir, do Estado, a implementação de prestaçõespositivas impostas pelo próprio ordenamento constitucional. Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito à saúde fez comque o legislador constituinte qualificasse, como prestações positivas derelevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), em ordem alegitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário naquelashipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente, deixassem de respeitar omandamento constitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficáciajurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outrainaceitável modalidade de comportamento governamental desviante (...)"(sem grifo no original) (STF, 2ª Turma, AgR nº 393175/RS, Min. Rel. Celso deMello, publicado no DJ em 02/02/2007, p. 140)

Assim também o Superior Tribunal de Justiça:

"ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRASDE RECUPERAÇÃO EM PROL DO MEIO AMBIENTE. ATOADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO.Na atualidade, a Administração Pública está submetida ao império da lei,inclusive quanto à conveniência e oportunidade do ato administrativo.omissis.O Poder Judiciário não mais se limita a examinar os aspectos extrínsecos daAdministração, pois pode analisar, ainda, as razões de conveniência eoportunidade, uma vez que essas razões devem observar critérios demoralidade e razoabilidade.Outorga de tutela específica para que a Administração destine do orçamentoverba própria para cumpri-la.(...)" (sem grifo no original) (STJ, 2ª Turma,REsp 429.570-GO, Min. Rel. Eliana Calmon, publicada no DJ 22/03/2004, p.277 e no RSTJ vol. 187, p. 219)

No caso dos autos, pleiteia-se a tutela jurisdicional adequada

para suprir a inércia da UNIÃO e da UNIRIO e determinar: em primeiro, a

nomeação e posse de todos os candidatos aprovados nos concursos públicos,

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Page 43: ACP HUGG

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referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010

(fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e ao

Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, para provimento dos

cargos no HUGG, que ainda não foram convocados; em segundo, a contratação

temporária, nos termos da Lei nº 8.745/2003, para a substituição dos funcionários

“bolsistas” do HUGG, que atualmente prestam serviços em situação precária e sem

respaldo contratual e para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e

com a observância das regulamentações vigentes, devendo a UNIÃO, para tanto,

transferir à UNIRIO e ao HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda

despesa relativa ao pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal

decorrente de tal contratação temporária; em terceiro, a apresentação pela UNIÃO

da relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo

dos cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de

Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a Lei

nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da Educação e nas universidades

federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação daqueles destinados ao HUGG,

bem como apresentação dos cargos que estão vagos nos citados órgãos; em

quarto, a apresentação do redimensionamento atual e adequado dos recursos

humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital universitário - com a

organização e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas para evitar mais

retrocessos no ensino e nos serviços de saúde realizado por tal unidade da saúde e

para que funcione na sua capacidade total; e, em quinto, a realização de

concursos públicos, tantos quanto forem necessários, para o provimento de

cargos efetivos na UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime

jurídico único, com a substituição de todos funcionários “bolsistas” e/ou

temporários que exercem atividades-fim no HUGG e com o seu funcionamento

na sua capacidade total, que inclui a reativação de todos os leitos e reabertura de

todos os serviços paralisados por falta de pessoal ao longo da última década, tudo

isto para restabelecer a legalidade no que diz respeito à política de recursos

humanos do HUGG e da UNIRIO e evitar mais retrocessos, paralisações e

prejuízos na qualidade dos serviços de saúde prestados por tão essenciais

serviços de saúde do SUS e do ensino realizado. Para tanto, é indispensável que a

UNIÃO e a UNIRIO, no âmbito de suas respectivas competências, providenciem a

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Page 44: ACP HUGG

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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reposição do contingente de servidores, a fim de garantir serviços eficientes e

assegurar o acesso universal e tratamento integral à população, já tão carente

de serviços públicos de saúde de qualidade no Rio de Janeiro, bem como

garantir a qualidade do ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos no HUGG.

IV – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL

PLEITEADA

O Código de Processo Civil, no seu art. 273 e inciso I, autoriza

o juiz a antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela jurisdicional pleiteada,

desde que presentes a verossimilhança das alegações e o fundado receio de dano.

Por se tratar de obrigação de fazer, as medidas protetivas específicas encontram

abrigo no art. 461 do CPC, abaixo transcrito:

“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazerou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, seprocedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultadoprático equivalente ao do adimplemento. (…)§ 5o

Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático

equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidasnecessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca eapreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimentode atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.”

Acrescente-se ainda que a concessão da tutela específica das

obrigações de fazer é a regra em nosso ordenamento jurídico, contudo, existem

casos em que há necessidade de o juiz ordenar o cumprimento de outras medidas

que assegurem o resultado equivalente ao buscado na demanda, abrindo-se exceção

ao princípio da congruência entre a sentença e o pedido, consoante § 5º acima

transcrito.

Conforme demonstrado à exaustão, em que pese a existência

concursos públicos em vigência com candidatos aprovados e ainda não nomeados e

a existência de cargos vagos na UNIRIO e também no Ministério da Educação, que

poderiam ser remanejados para a referida universidade, funções que deveriam ser

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

desempenhadas por servidores concursados no HUGG são exercidas por

funcionários “bolsistas” de forma precária e sem qualquer respaldo contratual e,

portanto, sem suporte legal e com ofensa a normas constitucionais, administrativas e

trabalhistas, tudo a comprovar verossimilhança do direito narrado na exordial.

É certo também que a UNIÃO e a UNIRIO, não obstante a falta

de uma política adequada de recursos humanos para o HUGG por mais de uma

década, não apresentam solução legal para a precariedade da situação em que se

encontram tal estabelecimento de saúde e para a regularização dos funcionários

“bolsistas”, razão pela qual patente o perigo de se prolongar tal situação irregular

tendo por consequência fechamento de novos serviços e redução de leitos ativos no

HUGG, como ocorreu em junho do ano de 2013, com prejuízo, ao final, para os

estudantes da área da saúde da UNIRIO e para toda a população que apenas conta

com o SUS para garantir seu direito à saúde.

Exatamente nesse sentido, é preciso ponderar e relativizar a

discricionariedade administrativa de modo a afastá-la, tendo em vista que o

contexto probatório não permite considerar verossímil que iniciativas sejam

tomadas voluntariamente pela UNIÃO e pela UNIRIO para resolver a situação

em futuro próximo, diante do contexto atual. Por tais razões, somente resta recorrer

ao Poder Judiciário.

É indispensável (i) a nomeação e posse de todos os

candidatos aprovados – que ainda não tenham sido convocados - nos concursos

públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao Edital nº

114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do DOC.

01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, para

provimento dos cargos no HUGG, cujas funções estão sendo exercidas por

funcionários “bolsistas” do referido hospital; (ii) a contratação temporária, nos

termos da Lei nº 8.745/2003, para a substituição dos funcionários “bolsistas” do

HUGG, que atualmente prestam serviços em situação precária e sem respaldo

contratual e para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a

observância das regulamentações vigentes, enquanto se aguarda a conclusão e

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

realização de concursos públicos, devendo a UNIÃO transferir à UNIRIO e ao

HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda despesa relativa ao

pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal decorrente de

tal contratação temporária; (iii) a apresentação pela UNIÃO da relação

atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo dos cargos

– discriminando os que estão vagos - dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que

integram o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em

Educação, de que trata a Lei nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da

Educação e nas universidades federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação

daqueles destinados ao HUGG; bem como (iv) a apresentação do

redimensionamento atual e adequado dos recursos humanos da UNIRIO, no

que toca ao seu hospital universitário - com a organização e o planejamento das

atividades a serem desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos

serviços de saúde realizado por tal unidade da saúde e para que funcione na sua

capacidade total, inclusive, com a reabertura de todos os serviços paralisados

por falta de pessoal ao longo da última década.

Assim sendo, requer o Ministério Público Federal a

antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pleiteada, com a cominação de pena

de multa diária para o caso de descumprimento, conforme art. 11 da Lei nº

7.347/85 e art. 461, § 4º, do CPC, para:

a) determinar à UNIRIO e à UNIÃO, dentro das suas respectivas competências, no

prazo máximo de 60 dias, que promovam a nomeação e posse imediata de todos os

candidatos aprovados nos concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls.

819/870 do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº

42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC.

01) da UNIRIO, que ainda não foram convocados, para provimento dos cargos no

HUGG em substituição dos “bolsistas” que exercem as mesmas funções no referido

hospital sem qualquer respaldo contratual;

b) determinar à UNIRIO e à UNIÃO, dentro das suas respectivas competências, no

prazo máximo de 60 dias, que adotem todos os atos necessários para que, satisfeitos

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

os requisitos da Lei nº 8.745/2003, seja realizada a urgente e imediata contratação

temporária de profissionais, para a substituição dos funcionários “bolsistas” do

HUGG, que atualmente exercem funções da atividade-fim, bem como para o

funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a observância das

regulamentações vigentes, devendo a UNIÃO transferir à UNIRIO e ao HUGG a

verba orçamentária necessária para pagar toda despesa relativa ao pagamento de

salários, benefícios e outros encargos de pessoal decorrente de tal contratação

temporária;

c) determinar à UNIRIO e à UNIÃO que, no prazo de 30 dias, apresentem um

cronograma para o cumprimento das letras “a” e “b” acima;

d) determinar à UNIÃO e à UNIRIO, considerando o disposto no art. 4º e parágrafo

único da Lei nº 11.091/2005, que, no prazo de 30 dias, apresentem (d.1) planilha

com todos os cargos ocupados e também vagos na UNIRIO e no Ministério da

Educação, de forma discriminada por órgão ou entidade, níveis de classificação e

funções, bem como (d.2) planinha com todos os funcionários “bolsistas” do HUGG

com as respectivas funções;

e) determinar à UNIRIO que apresente, no prazo de 60 dias, o redimensionamento

atual e adequado dos recursos humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital

universitário - com a organização e o planejamento das atividades a serem

desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos serviços de saúde

realizado por tal unidade da saúde e para que funcione na sua capacidade total,

inclusive, com a reabertura de todos os serviços das mesmas paralisados por falta de

pessoal ao longo das duas últimas décadas.

V – DO PEDIDO DEFINITIVO

Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer:

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1) a intimação da UNIÃO e da UNIRIO para, no prazo de 72

horas, se manifestarem sobre a presente ação, nos termos do art. 2º da Lei nº

8.437/92;

2) a citação da UNIÃO e da UNIRIO para oferecerem

contestação;

3) a procedência dos pedidos indicados nas letras “a” a “e” do

item IV acima, confirmando a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional ora

pleiteada;

4) a condenação da UNIÃO e da UNIRIO para que - com a

apresentação do redimensionamento da força de trabalho do HUGG de que trata a

letra “e” do item IV acima - concluam, autorizem e promovam, dentro das suas

competências, concursos públicos para o provimento de cargos efetivos na UNIRIO

por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único (Lei nº 8.112/90), para

a substituição de todos funcionários “bolsistas” e/ou temporários que exercem

atividades finalísticas no HUGG e para a reativação dos leitos fechados e reabertura

de todos os serviços paralisados por falta de pessoal ao longo dos últimos anos.

5) a cominação de pena de multa diária de até R$ 50.000,00

(cinquenta mil reais), ou de outro valor que vier a ser arbitrado por esse Juízo (art.

11, da Lei n. 7.347/85 e 461, parágrafo 4º, do Código de Processo Civil) para o caso

de descumprimento de quaisquer das decisões e determinações, referentes à

antecipação da tutela jurisdicional e à sentença de procedência do pedido;

6) a destinação de todo o valor arrecadado, em virtude de

cominação das multas ora postuladas, ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos

Difusos, referido no art. 13, da Lei nº 7.347/85, e a sujeição desses valores à

atualização monetária e juros.

7) a condenação no pagamento das verbas de sucumbência em

favor do Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos (art. 13 da Lei nº 7.347/85).

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Protesta o Ministério Público Federal pela produção de todos os

meios de prova em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2014.

ROBERTA TRAJANO S. PEIXOTO MARINA FILGUEIRA

Procuradora da República Procuradora da República

RELAÇÃO DE DOCUMENTOS:

DOC. 01 – principais peças do Inquérito Civil nº 1.30.001.004556/2012-12;

DOC. 02 – principais peças do Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56;

DOC. 03 – Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário;

DOC. 04 – Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário;

DOC. 05 – Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional nº 23 de 2011;

DOC. 06 – Petição Inicial e parecer da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI

nº 4895, proposta pelo Procurador-Geral da República;

DOC. 07 – Acórdão nº 1.610/2013-TCU/Plenário;

DOC. 08 – Cópia da Notícia de Fato nº 004579.2012.01.000/0-011, protocolada

inicialmente na Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região do Ministério

Público do Trabalho e, após, encaminhada ao Ministério Público Federal em

declínio de atribuição;

DOC. 09 – Decreto nº 7.082/2010;

DOC. 10 – Decreto nº 2.271/97;

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DOC. 11 – Cópia da sentença proferida nos autos da Ação Civil Pública nº

2008.72.00.012168-4/SC, em tramitação na Seção Judiciária de Santa Catarina da

Justiça Federal da 4ª Região;

DOC. 12 – Portaria Interministerial MP/MEC nº 282/2009, de 03/09/2009;

DOC. 13 – Cópia de decisão proferida nos autos das apelações interpostas pelo

Ministério Público Federal, pela União e pela UFF, Processo nº 0002668-

54.2009.4.02.5102, em tramitação na 07ª Turma Especializada do TRF da 2ª

Região;

DOC. 14 – Lei nº 11.091/2005;

DOC. 15 – Decreto nº 7.232/2010;

DOC. 16 – principais peças do Procedimento Preparatório nº 1.30.020.000403/

2013-59.

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