69
LADO A (20/05/02) Neste primeiro bloco, eu não aconselho ir além da modernidade e seus constitutivos. Peço que vocês avancem nas leituras. Se a minha formulação acerca da modernidade e seus constitutivos tem algum sentido, cabe questionar isso o âmbito da teoria social, antes, especificamente, de tematizar aquilo que nos estamos chamando de campo pós-moderno. Então, o que eu pretendo discutir hoje com vocês é, em primeiro lugar, o que tem a teoria social com modernidade para passar imediatamente à configuração do campo pós-moderno, porque essa configuração há de incidir diretamente não concepção de teoria social. Eu, primeiro, gostaria de sinalizar algo que todos vocês tem alguma experiência lá nos cursos que vocês fizeram de sociologia e, com isso, eu quero resgatar um pouco o início da minha conversa ao situar o problema da modernidade. Todos vocês quando fizeram um curso qualquer de introdução à sociologia ou na medida em que vocês recorrem a um manual de sociologia, vai-se encontrar dois dados. O primeiro é o seguinte: a sociologia surge no século XIX, não importa qual seja o autor a que vocês estejam recorrendo, a sociologia emerge no século XIX e, ao falar de sociologia, no fundo se está falando, e logo em seguida eu vou mostrar a diferenciação, de teoria social. Então, não importa qual é o autor, mas a referencia é que esta digna matrona surge no século XIX. Este é o primeiro dado, mas há um segundo dado. Para uns precursores, isso depende do custo gastronômico de cada um. Durkheim, por exemplo, ia localizar o pai da sociologia em Montesquieu. Outros pensadores começam um processo de resgate e vão parar na República de Platão. Santa inquisição(??), que surge no século XIX, mas tem

AulaJoséPauloNetto1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Transcrição aula sobre pós-modernidade.

Citation preview

190

LADO A (20/05/02)

Neste primeiro bloco, eu no aconselho ir alm da modernidade e seus constitutivos. Peo que vocs avancem nas leituras. Se a minha formulao acerca da modernidade e seus constitutivos tem algum sentido, cabe questionar isso o mbito da teoria social, antes, especificamente, de tematizar aquilo que nos estamos chamando de campo ps-moderno. Ento, o que eu pretendo discutir hoje com vocs , em primeiro lugar, o que tem a teoria social com modernidade para passar imediatamente configurao do campo ps-moderno, porque essa configurao h de incidir diretamente no concepo de teoria social.

Eu, primeiro, gostaria de sinalizar algo que todos vocs tem alguma experincia l nos cursos que vocs fizeram de sociologia e, com isso, eu quero resgatar um pouco o incio da minha conversa ao situar o problema da modernidade. Todos vocs quando fizeram um curso qualquer de introduo sociologia ou na medida em que vocs recorrem a um manual de sociologia, vai-se encontrar dois dados. O primeiro o seguinte: a sociologia surge no sculo XIX, no importa qual seja o autor a que vocs estejam recorrendo, a sociologia emerge no sculo XIX e, ao falar de sociologia, no fundo se est falando, e logo em seguida eu vou mostrar a diferenciao, de teoria social. Ento, no importa qual o autor, mas a referencia que esta digna matrona surge no sculo XIX. Este o primeiro dado, mas h um segundo dado.

Para uns precursores, isso depende do custo gastronmico de cada um. Durkheim, por exemplo, ia localizar o pai da sociologia em Montesquieu. Outros pensadores comeam um processo de resgate e vo parar na Repblica de Plato. Santa inquisio(??), que surge no sculo XIX, mas tem paz na Antigidade Grega. uma coisa que est errada. De fato, h por trs desse debate um problema essencial, que o seguinte: quando que a reflexo, estamos tratando sempre da reflexo de um intervalo, quando que a reflexo ocidental povoa a sociedade, pouco importa o contedo semntico que se atribui a esse termo, sociedade. Aqui, no nosso caso, vamos considerar que no h polmicas em torno desse contedo. O problema est em saber quando a reflexo ocidental povoa a sociedade como objeto especifico em reflexo. O sintoma est dado na analise de sociologia, no sculo XIX. O problema rastrear as razes daquilo que vai se configurar no sculo XIX. Ns s podemos falar de teoria social se entendermos aqui: um conjunto de enunciados transmissveis, comunicveis, eventualmente verificados com referncia exclusiva, especifica sociedade. O que significa isso? Que no se pensa em sociedade como continuidade e distino da natureza. Vou chamar de teoria social o conjunto de enunciados, eventualmente verificados, transmissveis, racionalmente comunicveis acerca da sociedade. Essa a teoria social que toma a sociedade como objeto de reflexo, de pesquisa, de anlise em si mesma. Isso aqui o produto tpico da transio do sculo XVIII para o XIX. Aonde est o carter mistificador de boa parte dos manuais de sociologia? Reside no fato de buscar em formulaes que dizem a respeito sociabilidade razes dessa teoria social. obvio que se for na cultura grega antiga, por exemplo, na Repblica de Plato ou no conjunto de textos de Aristteles que ficou conhecido como metafsica. Cuidado com essa palavra, metafsica de Aristteles no tem nada haver com a dos autores do sculo XVIII e XIX que impugnaram o pensamento especulativo. Metafsica, em Aristteles, aquilo que estava alm da fsica. Se ns buscarmos nos textos da metafsica de Aristteles ou na Republica de Plato ou nos dilogos de Plato, claro que vamos encontrar reflexes sobre a sociedade, como tambm o verificaremos na Idade Mdia, na alta, na mdia e na baixa Idade Mdia. Entretanto, em todas essas elaboraes, a sociedade se punha com divisas, com fronteiras extremamente largas, difusas por partes da reflexo da natureza. Dois exemplos nos servem: tomamos dois expoentes da reflexo ocidental, pensem em Aristteles. Por Aristteles, a instituio da escravatura jamais foi posta em questo. Para Aristteles, a escravatura um elemento de ordem natural. Ele no pe em questo a escravatura, no pelo eventual fato de ele ser um conservador. Observem que a caracterizao dele ser um conservador extremamente problemtico e polemico. Ainda que admitamos isto, Aristteles no um conservador por consagrar a escravatura. Essa instituio foi consagrada na sua reflexo porque lhe parece um elemento da ordem natural que mostra a divisria entre o que sociedade e o que natureza. Isso invivel ao tempo histrico de Aristteles.

Ou pensemos j na dissoluo da Idade Mdia, j no trnsito ao Renascimento na figura de Maquiavel, que vai pela represso poltica stricto sensu, pois tem ainda em Maquiavel que fundador da teoria poltica moderna, que toma como foco o poder como tal. Ainda em Maquiavel, a suavidade de forma a caracterizar O Prncipe no qualidade social ou histrica. Lembrem-se, por exemplo, do conceito de fortuna de Maquiavel.

Na verdade, ns vamos encontrar ao longo da tradio ocidental, desde a sua constituio que chama polis grega, uma reflexo sobre a sociedade. Entretanto, s na transio do sculo XVIII ao XIX que se pode apreender a sociedade como um objeto especfico, como algo que no extenso da natureza, como um ente, como uma processualidade, que no se deve natureza. algo distinto. E por isso que noto em chamar a teoria social quela reflexo que toma por parte figurando essa especificidade da sociedade.

E a partir da transio do sculo XVIII ao XIX, que possvel tomar a sociedade como objeto especfico. Antes disso, ns encontramos reflexes sobre a sociedade, mas no encontramos a reflexo sobre a sociedade entendida esta como um sistema de relaes especficos, particulares, que no uma extenso da natureza. Com este sentido e neste sentido que ns vamos us-lo, teoria social algo especfico da transio do sculo XVIII ao XIX. Se vocs tem um presente(??) quela minha primeira discusso, est mais ou menos claro que a imerso da teoria social, mais exatamente as condies para o seu surgimento ou de maneira mais estreita ainda as condies que permitem tomar a sociedade como objeto especfico se d no mbito do marco da sociedade.

Ns traamos um pouco o diagrama da modernidade como um processo ideal que arrancava da cultura Renascentista e vai encontrar o seu auge, o seu apogeu no final do sculo XVIII. Vocs lembram disso? Ao mesmo tempo, eu sinalizei que ns temos ainda o diagrama da revoluo da burguesia, no processo da Revoluo burguesa. Ora, mais precisamente a constituio da sociedade burguesa que permitir isso. E por qu? Porque apenas na ordem burguesa e exclusivamente nesta ordem se pode formar a sociedade como pura resultante da interao humana.Olhem para c e faam um esforo de imaginao. Isso aqui o recorte da Frana contempornea. Pennsula Ibrica para c, Alpes aqui, a Alemanha. Mais ou menos aqui, perto de um rio chamado Sena, numa ilha onde comea a surgir uma cidade. Vamos imaginar um sujeito que nasceu aqui, mais precisamente em 1100, com a abertura do sculo XII. 80 anos se passaram. Todas as indicaes geogrficas caram, a esperana mdia de vida caiu em torno de 30 anos. Nestes 80 anos, o que esse cara viu? Em primeiro lugar, ele no tinha sado de onde ele estava. A mobilidade espacial dele era muito reduzida, no mximo ele podia correr pelo castelo do seu senhor e, dentro do castelo se ele fosse perseguido, ele entrava na Igreja, onde era acolhido. A mobilidade espacial desse piegue(??) era nenhuma. Como esse piegue lia o percurso temporal? Atravs da sucesso das estaes, atravs das modificaes do gado que ele criava, do porquinho, do carneiro, da vaca, do cavalo, ou das espcies vegetais que ele eventualmente cultivava. O seu ritmo de vida era determinado pelo ritmo natural, o ritmo das estaes. No outono e inverno, ele trabalhava muito pouco. Ele dependia da luz solar. O grande trabalho dele, de jornada de trabalho, era na primavera e no vero.

S duas coisas podiam interromper a continuidade da vida desse homem. Grandes tragdias naturais, uma seca horrorosa que fizesse a fome, uma praga na agricultura, grandes cheias, inundaes ou ento a guerra. O percurso da vida desse piegue, ao longo dos seus 80 anos, no lhe permitia percepcionar nenhuma mudana substantiva na sua vida. Isso no significa que no houvessem mudanas substantivas na sua vida. Aqui a sociabilidade estava dada, a histria transcorria e era feita. Mas a experincia vital do indivduo era uma experincia que no permitia a percepo clara das fronteiras entre o que era jogo social e o que era jogo natural, interao social ou natural. At porque, o seu senhor, ele o recebia como uma expresso do poder espiritual. Lembro vocs que neste momento a vida social no tinha nenhum nvel de elasticidade. O seu senhor no era apenas um proprietrio de terra. Era tambm aquele de cuja famlia saam os padres, os bispos, o papa. Agora, imaginem esse mesmo Pedro situado nesta mesma cidade, nascido na mesma condio camponesa, vivendo 80 anos, mas nascido em 1770.

At em 1789, ele viveu igualzinho ao outro. Em 1789, o mundo dele ruiu. Trs anos depois, passaram a faca no delicado pescoo do Lus e da Antonieta. Instaura-se, em 1792, a ditadura jacobina. Aquilo que vocs viram nos livros de histria como o perodo do terror. O terror uma coisa horrenda. Ningum se pergunta contra quem ele era dirigido, embora a ditadura jacobina aparea como o terror. Mas, uma anlise mais cuidadosa, mostra que ali foi um dos raro momentos que a cultura ocidental viveu uma democracia direta de Marx. Mas nos nossos livros o terror. Todas as dvidas da famlia dele desapareceram com a queima dos cartrios. O Pedro pode ir para onde ele quiser. Ele j foi para Paris. Dois anos depois, ele viu as suas majestades sendo executadas. O Pedro j no est entendendo mais nada. Cinco anos depois, ele se apaixona por aquele sujeito, aquele cabo que tinha lcera e ficava o tempo todo passando a mo na axila, o Bonaparte. Ele corre o mundo da poca. Ele trs l do Egito o Obelisco, que est fincado l em Paris. Ele viu Poncio, em 1804, pegar a coroa e botar na cabea. No a restaurao do Imprio, outro tipo de imprio. Quando o papa se levanta para colocar a coroa na cabea do Bonaparte, o que ele faz? Ele recolhe a coroa e pe sobre a sua cabea. Esse gesto representa que o imperador pela sua fora real.

Olha l esse dado a, se Deus existe est cuidando das coisas celestiais, as daqui de baixo sou eu que cuido. A investidura de Napoleo uma ruptura, no um imperador como os imperadores do passado. O nosso amigo assiste, quatro anos depois, a populao emblemtica do Estado burgus que o cdigo civil. Um artigo fala sobre o trabalho, mais de cinqenta fala sobre propriedade. Ele vai ao Napoleo, assiste a derrota de 1814, em 1815 a ilha, em 1821 a morte de Santa Helena. Nosso amigo est vivo. Assiste em 1830 o Congresso de Viena e suas imposies, o obscurantismo sobre a Europa. Em 1830, ele assiste Restaurao da Monarquia de Jlio.

Mas ainda tem outras coisas, em 1830, ele no usa mais a camisa que a me dele fazia em 1770, desfiada no tear domstico. Agora ele est usando um pano que vem da Inglaterra, cujo fio vem do sul dos EUA.

Desde 1805 com o controle do gs e do carvo possvel a iluminao artificial para grandes espaos. Traduo disto que no tem mais jornada de trabalho controlada pela luminosidade natural. Agora possvel manter trabalhadores no espao como esse, acender a luz e trabalhar 24 horas por dia.

Estranho esse Pedro, mas ns estamos dando a ele 80 anos. Ele vai estar presente no surgimento do movimento socialista, vai resistir Revoluo de 1848, seu fracasso, sua derrota, se a gente desse mais um ano, ele ia Ter Napoleo perto dele.

O tempo e o espao desse nosso amigo, sabe qual a diferena de tempo com que Napoleo se deslocou de Roma Paris, na virada do sculo XVIII ao XIX, comparativamente a Anbal, que fez o mesmo caminho l na Antigidade, a diferena foi trs dias e no pode ser debitada na pressa. Anbal estava com elefantes e o nosso amigo Napoleo tinha cavalaria. Entretanto, em 1850, voc podia fazer esse trajeto em 18 horas.

A histria est correndo na vida dos dois Pedros. A diferena que esse (um) Pedro sabe que o rei no perdeu o pescoo pela vontade de Deus, ele pode saber que todo esse jogo no se deve foras da natureza ou do alm. O segundo exemplo que vocs conhecem para ns entendermos: eu acho bastante provvel que um agricultor de Caruaru, imagine que a sua vida miservel, seus filhos morrendo de fome tem baixssimo padro de consumo, suas necessidade contidas num nvel de elementaridade. Isso pode dever a Deus, porque Deus responsvel por isso.

Vai conversar com aquilo que restou de metalrgico do ABC Paulista e diga a ele que o seu salrio est assim porque Deus quer. Ele pode at acreditar em deus, mas ele tem a clareza que o salrio est assim porque a fora do sindicato dele relativa.

Eu quero sinalizar com esses dois exemplos: que apenas na ordem burguesa que possvel apanhar a sociedade como resultante da interao dos homens. Isso no quer dizer que Deus morreu. Um certo arquelogo nacionalista do sculo XIX diz que Deus est aqui, as pessoas vo l, exceto as seitas regressivas e restauradoras, desde o sculo XVI, desde a reforma protestante.

O que eu quero sinalizar aqui que s nesta sociedade que possvel aos homens tomarem essa sociedade como algo distinto da natureza. s nesta sociedade que possvel pens-la como resultante da interao de vontades, interesses, projetos so exclusivamente homnimos.O que prprio da dominao burguesa que ela rompe com a mistificao previa, aqui com dinheiro se compra a sade, a educao e tudo aquilo que em ordens sociais anteriores estava atrelada a um conjunto de instituies naturais ou sobrenaturais. Aqui aparece como resultado e iniciativa da interao dos homens, ou melhor, pode aparecer. nesta linha de reflexo que fica claro que o que apenas na transio do sculo XVIII ao XIX que surge uma teoria social. As condies para o teoria social so dadas apenas no momento da histria ocidental. isso no quer dizer a que antes no havia discusso sobre sociedade, pensa-se em Plato, Aristteles, dos pensadores renascentistas. Entretanto, em todos eles, mesmo nos mais avanados, ns vamos encontrar o esforo de uma fundamentao a natureza para pensar a sociedade. No casual aqui a emerso da prpria teoria liberal que um momento expressou o processo emancipador, no casual o seu contedo jus naturalista.O dilema da sociologia comea da teoria poltica ento. O fato dessa reflexo muito recente. E tem duas fontes: (acabou a fita)

LADO B (cont. 20/05)

Eu s posso fazer a teoria sobre algo que tem uma regularidade, algo que se apresenta como um conjunto de relaes estruturadas.Ns vamos destacar a inflao(?) uma noo assim histrica. H uma processualidade desse sistema de relaes. Todos os grandes autores do sculo XIX vo partilhar disso, eles vo supor, na medida que so autores diferentes, que esse sistema de relaes diferente. Mas todos eles vo pensar, o objeto da sua reflexo como um sistema. Ateno quando Marx fala do capitalismo como sistema, no tem inovao em Marx. Foi uma conquista do pensamento da modernidade. Quando Durkeim vai pensar as relaes sociais, ele vai pensar numa tica sistemtica.

Todos os autores do sculo XIX partilham dessa idia. A maneira como eles articulam esses trs nveis aqui vai ser particular em cada um deles. Mas todos eles, na medida em que fazem teoria social so pegos em representao.

At a, estamos entendidos?

Nos dois planos em que a teoria se prope como uma representao verdadeira, no plano intelectual e que esse sistema de relaes um sistema que tem permutabilidade. Portanto, se reproduz nos dois planos.

Mas alguma coisa?

Aristteles falou e eu estou falando o tempo todo o que sob a ordem burguesa que se pode apreender a sociedade como um conjunto de relaes. Eu no estou dizendo que se apreende, isso uma possibilidade. Posso seguir adiante?

Qual vai ser o embrio dessa teoria social? Vai ser a teoria poltica clssica, que vai se desenvolver desde finais do sculo XVII, vai atravessar o sculo XVIII e vai encontrar o seu clmax nos ltimos 30 anos do sculo XVIII e nos 20 anos do sculo XIX. Se vocs pudessem marcar o perodo ia puxar da economia poltica entre 1770 e 1820.Primeiro est diretamente ligado a isso. o ponto de arranque da Revoluo Industrial, mas tambm o momento em que a revoluo burguesa se conclui. Pensem nos autores clssicos, Adam Smith. A investigao sobre A riqueza das naes. Ele se prope a saber como um industrial maximiza seus lucros, como o sistema bancrio ganha dinheiro na bolsa de valores, nada disso e esse decorrer dele existe um tipo novo de riqueza, uma riqueza que no aquela que define os estatutos sociais do Antigo Regime e, como vocs sabem, era a riqueza imobiliria, a propriedade era a posse oligarquia diga-se de passagem da terra. Ele est preocupado com o outro tipo de riqueza, com aquela que mvel, com a riqueza que se expressa no capital, vai estudar essa nova riqueza, ele vai estudar a produo de valor.

Escuta, isso aqui no um curso para economistas, se vocs me permitem uma brincadeira, sabe qual o problema da economia poltica clssica? saber o seguinte: algum que dispe de condies para faz-lo, aluga ou compra esta sala, para isso vai pagar um tanto ao proprietrio da terra. Enquanto essa sala fizer parte de uma alquota, por aquela porta esse fulano compra serrotes, martelos, vernizes e madeiras e paga por isso. E tambm compra o tempo de trabalho de uns fulanos que durante o perodo que estaro aqui, faro com ele um contrato, vo vender a ele o seu tempo de trabalho e vo ficar aqui 12 horas por dia ou 6 ou 8 horas, vo receber um x por ms ou por semana ou por dia.

Toda essa gente aqui e por aquela porta sai cadeiras, guarda-roupas, mesas. Quero saber o que esse fulano pagou para a entrada que aqui vale x, vale um dinheiro mensurado. Quando sai daquela porta aparece um diferencial e se tem clareza que o acrscimo no enganao, no vigarice, sabe que o diferencial vem do trabalho. Foi o trabalho que gerou esse acrscimo, o elemento que gerou o valor foi o trabalho. Na continuidade de um dos pensadores, os clssicos da economia poltica elaboraro mais teoria do trabalho, o que gera valor, o que responde pela nova riqueza da nova sociedade vem do trabalho.

08002833105Eles estavam interessados em saber como funcionava essa sociedade e por isso eles elaboraram um quando analtico que englobava o conjunto dessa sociedade. Eles estavam preocupados em saber, nesse marco histrico, de onde que vinha a renda da terra. Estavam preocupados em sabem como que se gastava o lucro, de onde saa o salrio, com esse tipo de abordagem, eles estavam preocupados com as classes sociais. Aqui os proprietrios fundirios, noutro lugar tem os kistas, noutro os trabalhadores. A economia poltica clssica no est preocupada coma distribuio das mercadorias ou com a comercializao delas, a economia poltica clssica do final do sculo XVII at seu perodo de apogeu entre 1770 e 1820 nesse marco de 50 anos, nesse marco de construes tericas de Adam Smith, de Taylor, de Ricardo, esto interessados numa teoria da sociedade a partir da economia poltica. A economia poltica clssica isso, no escola da economia poltica. A economia poltica clssica tinha por objetivo compreender os fundamentos do novo regime, da ordem burguesa e claro que os autores em geral eram entusiastas dessa ordem.Adam Smith era um liberal. Sobre o pensamento Smith incide fortemente a teoria de Locke. Tratava-se aqui de defender a revoluo burguesa, de defender a ordem burguesa. Esses autores estavam convencidos que na Revoluo Industrial e na luta contra o absolutismo se abria uma nova etapa histrica. No eram cientistas neutro, eram analistas corrompidos pela paixo, uma paixo que no os conduzia a tapar o sol com a peneira. Smith, por exemplo, tinha clareza que esse processo a foi um processo de enorme pauperizao dos trabalhadores e ele o quis. Mas ele afirma que estava vivendo a alvorada de uma nova Era histrica. Isto est sim, mas vai mudar. O trabalho a fonte de toda riqueza e vai fazer com que os trabalhadores daqui a alguns anos se emancipem.

Nesse momento a propriedade tambm uma gesto, o capital de indstria, o burgus empreendedor. assim que nasce a teoria social.

Esse autores estavam convencidos de que sobre esta base seria possvel uma sociedade fraternal, igualitria e livre. E a vocs encontram um Adam Smith que diz que descreve uma sociedade que est apoiada na concorrncia, que tem um mercado, um espao onde cada um dos kistas vai tratar de lesar o outro. O mercado no precisa de nenhuma regulao, ningum precisa zelar por ele. No mercado, cada um trata do seu interesse privado. Mas existe uma mo invisvel, aquilo que metamorfoseia essa perseguio de riscos numa alavanca do obelisco geral. Esses autores por estarem no auge de uma poca histrica tinham iluses generosas e hericas.

Isso comea a endurecem e em 1825 explode a primeira crise comercial capitalista. A partir da, um ciclo frentico a cada 7 anos, aquela nova forma de organizada vida scio-econmica que parecia to racional e adequada a essa nova sociedade comeou a mostra sua verdadeira face de superproduo, quebra, desemprego, falncia. Torna-se a partir de 1825 extremamente difcil de sustentar esse ordenamento econmico que vai ser equilibrada por uma mo invisvel que a mo que o regula. Mas pior que isso, alm das crises, os pensadores achavam que esperar e aos trabalhadores denunciavam que essa situao de pauperismo e miserabilidade vai ser superada. Esses caras no tiveram a lei da pacincia, pois um regime que na primeira dcada do sculo XIX, num pas que mais avana no processo de industrializao que se revela, consideram que as maquina os exploram e entram num processo generalizado de sabotagem e quebra-quebra. Dirigido por William Ludd e que vai ficar conhecido como luddismo, logo logo ser sabe que o inimigo no a maquina, mas sim o patro. Diriam as Trade Union da dcada de 20 e da dcada de 30 a coalizo operaria toma conta da Europa Ocidental e com o movimento cartista que tem ser apogeu entre a dcada de 30 e 50 na Inglaterra.

O marco histrico de tudo isso (j fizemos esse esqueminha s que sobre outra tica) a Revoluo de 48, que foi uma crise monumental. Ns puxamos aqui, antes, a crise da razo. Essa crise agora aparece de outra forma.

Observem a figura do senhor Antnio Ermlio de Moraes ou se vocs preferirem, tem a figura do senhor J.P.Guerdau. Duas figuras exponenciveis da burguesia brasileira. A propriedade deles est descolada da gesto, completamente diferente da situao daquele pequeno proprietrio onde ele est trabalhando com seus trabalhadores, completamente diferente da situao do burgus do final do sculo XVIII na Inglaterra que estava no batente. Para aquele burgus l, isso aqui uma maravilha. Ele estava trabalhando. No cometam tamanha injustia com o companheiro Moraes e Gerdau. A partir do memento em que a burguesia se torna vitoriosa e, mais que isso, ela condena o trabalho sob seu comando. O burgus se afasta casa vez mais da prtica do trabalho. Vocs no vo encontrar um burgus que trabalha.

evidente que essa teoria no vai mais manifestar as implicaoes. Dessa teoria tornam-se necessariamente implicaoes socialistas. No exato momento em que eu dou essa aulam em algum outro lugar da faculdade de economia, qualquer outra faculdade de economia, h um professor pronto para dizer que a teoria do trabalho falsa. Manter essa teoria claramente invocar concluses socialistas. Alis, no por acaso que os primeiros socialistas ingleses da dcada de 20 so todos ricardianos. Lembremos que se Smith um autor tpico do sculo XVIII, Ricardo publica sua obra em 1818, morre em 1821. Embora no haja documentao, vrios socilogos acham que depois de publicado o seu texto, Ricardo comea a extrair um vis socialista da sua obra, mas no h documento autgrafo que prove isso. De qualquer maneira essa idia reforada porque o socialismo e todos os autores socialistas so ricardianos. Depois de 48, essa teoria torna-se insustentvel para a burguesia.

1848 abre essa crise cultural. Eu j pus este esquema no quadro. S retomando, mas de outra forma, que em 48 voc tem a ruptura do socialismo e do irracionalismo do racionalismo formal, lembram-se? Agora retomo isso para a teoria social.

Essa economia poltica clssica explode e no h como cont-la. Qual o resultado dessa exploso? Primeiro, foi K. Marx, filho direto dessa tradio, que nos prope uma teoria social fundada na crtica da economia poltica. Marx no um filosofo, no um historiador, nada de recortes acadmicos se aplicam a Marx. O que existe em Marx no uma sociologia ou uma economia, o que existe a crtica da economia poltica. Marx sabe que isso aqui a grande expresso ideal na apologia burguesa. Marx faz essa crtica e chega a concluses socialistas e revolucionarias devido teoria do valor do trabalho. Ele vai buscar l na economia poltica clssica precisamente a teoria do valor do trabalho. Sem essa teoria impossvel identificar o carter explorador da ordem burguesa.

Marx no um socialista tico, no est preocupado se o kista mau, no existe nada disso. Marx mostra que essa ordem social exploradora. A discusso de Marx maduro no entre o conflito entre oprimidos e opressores, mas discute exploradores e explorados.

Primeiro, o resultado dessa exploso Marx, cuja economia naturalmente , tomada na sua integridade, incompatvel com qualquer perspectiva de manuteno da ordem burguesa, quando tomada na sua integridade, porque se eu arranco de Marx a teoria do valor do trabalho ou se eu arranco dele a idia de revoluo ou se eu arranco dele a proposio do mtodo dialtico, Marx fica um socilogo perfeito para os departamentos acadmicos de hoje. Mais ou menos igual a Durkeim, a Weber, ento podemos estudar todos juntos, com os pais da teoria social moderna. A obra de Marx funda sobre trs pilares. A teoria do valor do trabalho, a perspectiva da revoluo e o mtodo crtico dialtico. Ela se funda sobre esses trs pilares. Se tirar um dos trs pilares, o edifcio todo cai.

Mas, o que vem de Marx?

Se a teoria, de um lado, insustentvel do ponto de vista burgus, sobra que, do outro lado, a economia poltica clssica desaparece. quela tentativa de comprometer o conjunto da sociedade, surge uma disciplina acadmica regidamente modificada, que deixa de lado a reflexo da produo e reproduo da vida social e vai se interessar pela distribuio dos valores. uma economia que Marx chamara de economia vulgar.

Aqui surge uma economia que na verdade uma cincia dedicada s tcnicas, tecnologia, com especializaes cada vez mais estreitas. E na seqncia, a primeira das quais a sociologia, mas logo se constitui outras, todas elas com o mesmo trato, o trato da problemtica da produo e reproduo material da vida social. problema da economia, ento a sociologia se prope a ter o objeto o problema das relaes sociais.

Por que eu fao essa caminhada?

Para ver que a constituio da modernidade constitui as bases scio-materiais e culturais e ideolgicas para a constituio da teoria social, que encontra sua primeira expresso aqui. No por acaso assinalei o diagrama da constituio da modernidade com o diagrama da constituio do mundo burgus. A imploso a partir de 48 daquele racionalismo vai d no domnio da teoria social a imploso da teoria social na sua primeira verso que a economia poltica clssica. A partir da, a teoria social vai estar estabilizada. Em Marx, ela aparece com inspirao totalizadora dos clssicos.

FITA 2 LADO A (cont. dia 20/05)

Da histria da antropologia cultural, da teoria poltica, ns vamos encontras elementos claros da teoria social. Eu diria que fora do mbito da tradio marxista, ns vamos ter no sculo XX algumas claras expresses de teoria social ou da sociologia. Pensem em Nietshe e Parsons, mais recentemente pensem em Tourraine ou ento naquilo que eu chamaria de filosofia social, pensem em Habbeimas. Esses so exemplos privilegiados, o foco da teoria social, de fato ela comparece na psicologia social, na antropologia, na histria, no debate urbanstico e arquitetnico, ou seja, pulverizou-se perdendo sua amplitude na crtica da economia poltica.

Esse discurso aqui para sabermos porque o campo ps-moderno vai ter haver com a teoria social, o que h importantes pensadores que se situam na ps-modernidade e se prope uma discursicidade diretamente referenciada na teoria social. Vou ver se eu reconstruo: nosso primeiro movimento foi caracterizar os elementos constitutivos da modernidade, o movimento de hoje foi trazer esses movimentos para caracterizar a teoria social. Agora vamos pensar no campo ps-moderno e sobretudo quais so as diferentes relaes que deste campo so pertinentes teoria social.

A teoria liberal, na sua formao clssica luta para restringir o absolutismo. Sobre esse aspecto, Smith um liberal mercantilista, que diz para deixar o mercado funcionar que ele encontra um estatuto auto-regulados. e no Mercado, cada um vai l fazer sua parte. Entretanto, h um mecanismo misterioso, que no se sabe qual . uma mo invisvel que eqaliza, que regula as relaes econmicas. E isso desaparece em 1825. No d para deixar essa ao, seno vai haver uma crise atrs da outra.

No prprio sculo XIX, aqueles que ainda tendiam a persistir no vinculo liberal, vo para o sculo XX especialmente se voc pega os autores que vo dar sustentao s chamadas propostas neoliberais, mais especificamente em Hayek. Eles dizem que no d para deixar o Estado inerte, mesmo Hayek diz que o Estado tem que ter um papel. Essa mo invisvel no existe, mas os precrios equilbrios obtidos pelo mercado so os nicos eficazes.

Hayek no tem duvidas de que o Estado tem de ter uma interveno. Ele e outros pensadores defendem o mercado como instituio, mas preciso ter alguns mecanismos que potenciam as possibilidades auto-reguladoras do mercado.

Ningum sustenta mais cegamente a mo invisvel. Para Hayek, o Estado tem uma dupla funo: prover os meios que o mercado vai colher e uma outra funo norteadora. No h um neoliberal que no veja isso, mas so os neoliberais srios, no o Gustavo Franco. Voc tem um Hayek que quer que o Estado funcione e, por isso, aos neoliberais srios est sendo possvel na entrada do sculo XXI dizer que eles no tm haver com essa avacalhao que est a. Eles j esto fazendo esse movimento, s que as ultimas publicaes dos anos 90 dizem que esse negcio de desregulamentao absoluta no isso que se prope. No h um grande intelectual neoliberal dirigido ao Banco Central, mas tem o Gustavo Franco.

Est claro?

Talvez alguns tericos norte-americanos tenham uma viso imprecisa. Se voc acompanha a evoluo de Parsons, voc v que em um primeiro Parsons no d a menor bola para o Estado, defendendo a ausncia do Estado. Parsons dos anos 50, dos anos 60/70.

Parsons ps-guerra j obrigado a discutir o Estado, discutir uma interveno voltada ao equilbrio do mercado.

A noo de equilbrio aparece na economia, nas cincias sociais com noo de modernizao e regulamentao. A noo de equilbrio prpria da discusso da economia e agora vai estar no bojo do pensamento funcionalista. Os funcionalistas que acham que a sociedade tem mecanismos, no rigorosamente auto-reguladores, mas mecanismos que funcionem como controle social. Voc tem elementos de coesionamento. O problema do pensamento conservador d sociologia est no controle da ordem social. Eles no esto preocupados com a noo de equilbrio, mas com a noo de controle. Nenhum pensador desse sculo pensa no controle descolado de dinmica, nenhum deles pensa assim. E essa dinmica est subordinada aos mecanismos coesionadores da ordem social.

Parsons, j que pe isso na sua obra de 37, nos anos 50 vai ter de repensar isso. Ele vai introduzir algum elemento vinculado regulao estatal, porque ele no pode deixar de ignorar a Europa com o EBE social, no ignora os modelos econmicos.

O que faz o economista hoje?

Ele no questiona a teoria da mais valia. Ele questiona a teoria do valor do trabalho. Se voc tira isso, a outra no existe.

Veja a expanso comercial inglesa sem a sua majestade. No h dvida do papel significativo do Estado para o desenvolvimento do capitalismo. Agora esse papel indispensvel no ps 48 e isso pe e faz com que certos autores digam: que falando de capitalismo monopolista de Estado, o Estado sempre teve um protagonismo no desenvolvimento capitalista. Esse personagem no ps 48 uma centralidade.

No por acaso que essa economia vulgar faz questo de no dizer uma palavra sobre o Estado. Tudo aquilo que importante ela sonega.

No debate contemporneo hoje mostra isso. O debate contemporneo mostra o seguinte: que voc s est constituindo um Estado minimalista na medida em que no tem um Estado. Dem uma olhada na reforma do Estado no Brasil.

Valeria apenas hoje vermos de onde vem as figuras que compem o executivo do aparelho do Estado.

Nesta semana, dem uma olhada nessas figuras e no fiquem olhando s para a sociedade civil organizada como eles querem.

A mundializao, globalizao no reduziu a soberania dos Estados, mas reduziu a soberania de alguns estados, enquanto os plos decisivos das grandes corporaes continuam nacionalizada.

Eu recomendo uma autora chamada Helen N. Gue. uma americana, mulher e tima. Ela no comeou agora. Ela foi editora da New Letter. Ela j est pensando, pelo texto dela acho que ela sai da universidade no final dos anos 70. Guardem esse nome porque ela tem uma formulao sobre a ps-modernidade que brilhante.

Ela tem uma tese que est torcendo a minha cabea e a do Carlos Nelson e que estamos discutindo. Ela vai dizer que a restrita democracia grega incorpora o componente do trabalho, no do trabalho escravo, tinha poder de regulao econmica maior que a democracia moderna. Por democracia voc pode abrir a democracia poltica e manter o regime de propriedade. No vamos discutir o grau de desenvolvimento. Mas que isso no altera, rebate no ordenamento das relaes proprietrias.

Essa observao pertinente quando se diz que a mundializao derruiu o Estado, porque quem tira o Estado do debate tira a possibilidade de qualquer transformao substantiva da ordem social.

Notem que estou falando da teoria ps-moderna, no falo do processo ps-moderno, falo do ps-moderno. E como vemos hoje, extremamente difcil circunscrever aquilo que hoje conhecemos pela mdia. Com essa tecnologia, o debate que se trava como essa tecnologia. um debate recente.

Retomemos rapidamente Liottard, porque de alguma forma matriza alguns dos eixos do debate. No final da dcada de 70, mais ou menos 76/77, Liottard que era um consagrado filosofo francs que participava daquela coisa nebulosa chamada ps-estruturalismo, Liottard nome consagrado do circuito acadmico internacional que o contratava com um grupo de universitrios canadenses para elaborar uma pesquisa acerca das condies contemporneas da produo de conhecimento. Depois de fazer essa pesquisa, ele elabora um relatrio e transporta esse relatrio em um pequeno livro A Condio Ps-moderna, o qual o objeto de Liottard uma discusso de natureza epstemolgica. O debate dele um debate epstemolgico. Ele quer responder a questo central que lhe foi colocada por aqueles: quais so as condies contemporneas da produo do conhecimento?

Nessa pesquisa, ele diz que desde os anos 30, percebe-se um deslocamento das condies tanto sociais do ponto de vista da poltica econmica e investimento e fomento pesquisa, quanto das condies dos parmetro intelectuais.

Dir ele que o conhecimento cada vez mais valor de troca. Notem que ns j sabemos disso e isso ele diz explicitamente. Logo o conhecimento est submetido s leis mercantis, mas a grande mudana no a mudana de naturezas sociais. A grande mudana a de natureza epstemolgica.

A grande mudana nos parmetros intelectuais da produo do conhecimento. Diz ele que depois de 30 anos, mas especialmente nos anos 60/70 derruram-se todas as condies que o sustentavam. Qualquer construo do conhecimento a fiel, ele chama de grande narrativa ou metanarrativa. O que tem haver a grande narrativa ou a metanarrativa? todo o conhecimento que se produz.

Trs caractersticas:

Primeira: uma preocupao com a totalizado. Na tica dessa crtica epstemolgica, as preocupaes totalizadoras acabam sendo sempre dirigidas por filsofos das histrias tecnolgicas e finalistas. E por outra parte elas segregam um risco poltico do mais serio, o risco do totalitarismo.

Antes de prosseguir, queria chamar a ateno de vocs para o fato de que as cincias sociais so prdigas e prolas do cretinismo. Apontemos alguns: o fato de autores consagrados, chancelarem com essa tecnologia no significa nada, a no ser que voc viva na Idade Mdia e supe que o argumento de autoritarismo um argumento consistente.

No Brasil, Vargas foi comunista, Lacerda tambm e esto dizendo por a que o Garotinho comunista. Vamos admitir, mas so coisas to dspares, e as coisas vo se multiplicando, o conceito capaz de abarcar tantas diversidades. Esse conceito serve para alguma coisa? Serve, quando ns estudamos certos fenmenos polticos da Segunda metade do sculo XIX na Europa central e ocidental. Essa palavra est perfeita.

Tambm vale para certos processos polticos no meio oeste norte-americano na transio do sculo XIX ao XX. Agora dessa gente toda, eu sugiro a vocs que suspeitem disso.

LADO B

Foi objeto de uma pesquisa fecunda dirigida por dois autores que eram da escola de Frankfurt da Segunda gerao, personalidade autoritria que um estudo dirigido por Adorno e Hokemheim l nos anos 50, onde eles querem dizer o seguinte: que estrutura de poder familiar contribuiu na Alemanha nazista para o nazismo. Eles vo chegar ao conceito de personalidade social. A isso vem para o mbito das cincias sociais e diz que a ditadura brasileira um regime autoritrio, a ditadura paraguaia autoritria , a uruguaia tambm, Pinochet autoritrio. No tem limite para essa coisa chamada autoritarismo, os partidos de esquerda dizem que FHC autoritrio, de que vale isso? E no entanto est a.

No mesmo naipe est o conceito de totalitarismo, gestado a partir dos anos 40pelos liberais para dizer o seguinte: a humanidade est ameaada por dois totalitrios, o de direita e o de esquerda. um processo de nivelado do nazismo e do estalinismo. Tambm usado por pensadores sociais do nvel de Jarbas Passarinho, um importante filosofo brasileiro que eventualmente desempenhou vrios papeis que estava aqui para recusar o totalitarismo. Isso serve a vocs que comecem a pensar nos termos que usa.

Aqui quando se vincula categoria ontolgica-reflexiva de totalidade com noo totalitria toma cuidado. Os ps-modernos todos, fazem essa revelao.

que o conjunto, o substrato, eles identificam na esquerda o debate da totalidade com a perspectiva da ortodoxia e derivam da ortodoxia aquela relao no por outra razo que surgiu a leitura do marxismo ortodoxo de Lukcs. Espero que com essa leitura vocs distingam claramente a ortodoxia de dogmatismo.

Freqentemente um enorme dogmatismo est penetrando formulaes que aparentemente so livres, dogmatismo no est apenas na reflexo sistemtica de determinados princpios que so tomados como axiomas. Tambm h dogmatismo na recusa liminar e palmaria daquilo que a teoria reiteradamente tem indicado como correta. Eu s sugiro a vocs que escolham bem suas canoas, no importa o porto que voc se destine.

Volto na argumentao, disse Liottard, conhecimentos fundados na pretenso da totalidade que introduz freqentemente a um teleologismo, a um finalismo, caracterizam grandes fundamentaes.E mais que alm de serem fundados e terem a pretenso da totalizado, tem a pretenso de reproduzir a verdade. Mas que conhecimentos que tem a pretenso de dar conta de algo que extremo representao, ou seja, toda aquela noo de verdade.

O que um pensador moderno quer?

Ele quer obter uma imagem, um movimento intelectual que represente com veracidade aquilo que o antecede. H uma preocupao na ilustrao de que as imagens mentais, as representaes, os conceitos, as categorias ou tudo aquilo que se produz intelectivamente responde e corresponde a um time que lhe exterior.

Dir o Liottard, esse cnone metodolgico faz parte da grande narrativa. Conhecimentos assim produzidos j no responsem, segundo ele, as exigncias epstemolgicas contemporneas.

esta mudana que no uma mudana qualquer. esta mudana que vai configurar o que ele chama de condio ps-moderna. O conhecimento j no pode ser mais isso, j no mais isso. Ento, o que o conhecimento? Por que a resposta epstemolgica o agora?Ele dir: o conhecimento agora valor de troca, perguntado e antes de mais nada um jogo de linguagem. Ele no tem pretenso de verdade untica. Ele quer ser uma retrica, no sentido grego da palavra. Quer persuadir e o que se pretende no mais nenhuma verdade. H consensos.

O que se prope o conhecimento de alguns e o conhecimento que seja capaz de persuadir por uma argumentao que no uma argumentao que seja impositiva de verdade. O que essencial a ele que a racionalidade moderna fundou aqueles parmetros l de cima. Mas as condies contemporneas de produo de conhecimento so essas daqui. Isso constitui um trnsito. H um outro territrio, uma outra quadra, h um outro momento do ponto de vista epstemolgico. Aqui ele diz: isso a o ps-moderno. Esse ponto de arranque do debate. Quero insistir nesses termos e esse o ponto de arranque do debate de natureza epstemolgica. Notem que aqui eu estou falando estritamente de epstemologia. Isso vai concluir a esttica, a poltica, a sociologia. Do ponto de vista estritamente epstemolgico, essa distino vai se beneficiar de uma discusso que prvia, que no est no domnio da epstemologia stricto sensu. Est no domnio da sociologia da cincia. outro territrio, mas com esse gancho aqui, por esse caminho que vai se incorporar o debate da sociologia e da cincia.

Mais especificamente, a sociologia da chamada nova filosofia da cincia que vai romper o debate do ps 45, que comeou com Popper, envolveu Lacatus, registrou a relao entre faeramento e vai ser de alguma maneira historiada e vulgarizada por Thomas Kum. Notem que aqui no h discusso de paradigma. A discusso a sociologia da cincia, sociologia da fsica. Est l em Thomas Kum na sua obra de 1969, que a estrutura das evolues cientficas. A discusso de Kum no uma discusso esptemolgica. No mbito das cincias sociais, o ponto de arranque epstemolgico. Est l em Lokatcer em 69, que vai permitir o passeio para uma bibliografia anterior, que de outra rea, que vai trazer essa incorporao do debate das teorias sociais.

Valeria a pena, vocs darem uma olhada no livro do Sokalm e do Mike Mohr , uma mistura de intelectuais. Esse livro interessante porque boa parte dessas argumentaes que ocorreram no debate da nova filosofia da cincia. O livro marcado pelo ponto de partida com esta terminologia e com o mbito da epstemologia comea em 69.

FITA 3 LADO A 20/05 E 21/05Eu sinalizei a vocs que os termos desse debate, mais exatamente esse debate nestes termos eclode em 79, na mbito da cultura francesa, mais especificamente no mbito da epstomologia, com aquele texto do Liotard, a condio ps-moderna divulgado em 1979.

O debate aparece no mbito da epstemologia nestes termos, mas ao mesmo tempo sinalizei que essa discusso no data em 79. Digamos que o grande divisor de guas o ano 1968, quem no viveu no consegue perceber o que foi maio de 68. S h um texto, mais ou menos problemtico, mas que d a idia de maio de 68. o texto Lefevre entitulado A revoluo. Esse texto est traduzido em portugus, procurem esse texto que foi publicado aqui no Brasil em 68 mesmo pela editora Documentos de SP, com esse ttulo mesmo e rene alguns outros textos de interlocutores do evento de maio. No vou reconstruir isso a vocs, mas quero lembrar que no princpio do ano de 68, a maior parte do militar que a histria conheceu foi as Foras Armadas dos EUA, que foi derrotada em Saigon em janeiro. Isso no foi o fim de guerra, mas o Vietn invadiu Saigon. Os campi norte-americanos estavam direcionados para dois tipos de lutas: as lutas contra a guerra no Vietn e as lutas pelos direitos civis. tambm o tempo do blackpower, o perodo em que Angela Backer um cone dos estudantes americanos.

A este lembro que depois de maio, colapsa, com a ajuda fraternal dos tanques soviticos, a experincia tcheca que vinha de janeiro de 68.

Ns comunistas brasileiros, os do PCB, sustentaram que experincia em curso na Tchecoslovquia, tendo a frente Alexander Dussec, era socialista e falamos nisso at julho. O PCB tinha um jornal lanado e distribudo nacionalmente mesmo com toda represso. No nmero de julho, a ltima pgina do jornal foi assinada pelo camarada Antnio Almeida que era nada mais nada menos que Luis Carlos Prestes.

No dia 21 de agosto, as tropas soviticas vo dar sua fraternal ajuda ao povo da ento Repblica da Tchecoeslovquia. Ns contrastvamos com o que estava se passando na Frana, reportemos que em maio Charles Degaule foge da Frana. o general, o coveiro da repblica foi acusado pelo movimento estudantil, pelo movimento grevista de 10 milhes de trabalhadores e ele se refugia numa base da Alemanha.

Mas logo depois ele volta, normaliza o pas e ele ganha o povo. O tremor de maio ps na rua muito mais desejo que projeto revolucionrio.

Em 1970 no mesmo jornal, o mesmo companheiro Almeida, escrevia sua parte dizendo que na Repblica da Tchecoeslovquia, os inimigos do socialismo tinham se apoderado do processo renovados e a partir desse dia a figura do imperialismo era necessria. D para entender porque dez dias antes eu tive a minha crise antecipada. justamente em 68 que a Tchecoeslovquia, o Vietn, so os comunistas batendo continncia. Mas mais que isso. Che Guevara com sua generosidade, com seu gravssimo equvoco poltico de 1, 2, 3 mil vietns morrendo. 68 o assassinato do Edson Luis. No ficou s na Europa, s nos EUA, no ficou s no Vietn ou na selva boliviana. Foi aqui na passeata do RJ, na passeata dos 100mil que em 68 foi um terremoto. Mais que isso foi um terremoto que depois de algumas afirmaes tericas interessantssimas. Um importante livro publicado cerca de um ano e meio antes, um importante intelectual, um livro de grande impacto, um importante francs anunciava que a tarefa das cincias humanas era dissolver o sujeito. No havia mais sujeito histrico, era tudo sistema, o livro As palavras e as coisa e o autor M. Lewy.

Ao mesmo tempo que esse livro a expresso desse clima no pr-68, a idia da sociedade, da abundncia que est firmemente estabelecida, o estruturalismo dessa expresso real uma clssica manifestao das ideologias de segurana, o mundo capitalista vai bem, as taxas vo bem ,a estrutura inabalvel e a classe operria est inteiramente integrada e Marcuse dizendo que s os perifricos, s os no integrados podem romper com esta ordem.

Exatamente nesse quadro que 68 explode.

Logo depois do assassinato de Edson, o ano parecia que ia mudar contra todos os subornos, no tem sujeito. Lewi Strauss era o emblema dos intelectuais que estavam vendo alm da neblina. De repente acontece isso tudo, dos socialistas da face humana restam as fotos dos tanques soviticos. Das jornada de maro, abril e maio resta a vitria do general Degaule no plebiscito. Da vitria vietcongue em Saigon, que resta mais de seis anos de longa e dura guerra, 68 foi o terremoto que permitiu fazer vir tona anseios, desejos, projetos que pareciam derruir a ordem burguesa, pareciam que estavam pondo a ordem burguesa abaixo e no s a ordem burguesa. Doze meses depois, o Estado normalizado da para frente o reflexo muito mais tardio na periferia do mundo kista, da para a frente a palavra revoluo perdeu a tonicidade e ganhou sentido de utopia. Primeiro ela foi deslocada para utopia, depois no final de sculo parece que sucumbia e na esquerda emerge a expresso reinventar a utopia. Tem gente que acha isso mais bonito, tem gente que gosta de dar um passo para trs. Mas o que importa que aqui um certo mundo acaba e a gente s percebeu isso cerca de 20 anos depois. Acabou a o protagonismo efetivo dos grandes partidos de massa. A dcada de 70 vai registrar ainda o PCI que vai entrar numa linha de ocaso.

A social democracia com o que tinha de expressa manifesta-se exaure na Inglaterra. Nas periferias o ltimo suspiro foi a Revoluo Sandinista.

DIA 21/05- CONTINUAO

A discusso sobre o urbano invade os pases desenvolvidos, especialmente, nos europeus e mais solitariamente nos EUA. Essa discusso que est vinculada ao urbanismo vai se colar.

Castels e LojiKine dialogaram com Lefevre. Castels expressa a social-democracia socialista e Lojikine a expresso do Partido Comunista. So apenas dois dos vrios interlocutores.

Mas logo essa discusso sobre o urbano, sobre reforma urbana, sobre uso do espao urbano, sobre reconstrues urbanas, essa discusso vai se deslocar para questionar o sentido social disso. E no mbito da arquitetura essa discusso vai atingir o conjunto das artes plsticas e como uma bola de neve ela vai envolver o conjunto do debate esttico.

O problema que se pe como organizar e reorganizar o espao urbano. uma discusso urbanstica. Mas logo vai para a arquitetura que logo contamina o debate das artes plsticas que tambm contamina o espao das artes. O que era um debate scio-econmico sem perder o vis passa a ser um debate esttico e se torna um debate da relao entre modernismo e aquilo que eventualmente possa suced-lo.

Por favor, essa discusso se d independentemente. O debate vai ser formalizado em 79 pelo Liotard. Os espaos de ponta dessa discusso so os EUA, Canad Londres e um pouco Alemanha, mais tardiamente norte da Itlia e a Catalunha na Espanha. Por que a Catalunha? Lembre-se do problema nacional desse projeto. A unidade consistiu numa postura a ferro e fogo a partir do sculo XV e XVI. A Repblica liberou foras setrbunas setbrinas. A guerra civil e a imposio franquista e fascista reprimiu brutalmente essas tenses, mas a Catalunha se industrializou rapidamente. E foi uma das regies em que as polticas de integrao de Madri mais eficientemente se fizeram sentir. H um problema catalo at hoje, mas esse problema jamais interrompeu o problema que contrape Madri aos Pases Bascos.

Todo mundo conhece a ETA. H uma ETA catal, a Catalunha encontrou uma forma de insero do conjunto espanhol que lhe permitiu, apesar do conflito, conservar uma srie de valores. O norte da Itlia tem a concentrao industrial e urbana, sobretudo os recursos da massa crtica do pas. Tm vrias razoes para mostrar isso.

No mbito das artes plsticas, a partis da discurso em torno do humanismo, o mesmo debate vai fazer a epstomologia. J est posto em termos de modernismo e ps-modernismo.

No mbito das cincias puras, eu estou pensando especificamente na fsica, essa discusso j vinha dos anos 50. H algo que funda radicalmente o papel das cincias na conformao societal do ocidente e a sua recente incorporao dos aparatos produtivos. Ateno! No est em jogo a equivocada tese de que a cincia uma fora produtiva direta, cincia no uma fora produtiva direta.

O que muda especialmente na Segunda metade do sculo XX que a incorporao da cincia no aparelho produtivo pela via da mediao tecnolgica se torna cada vez mais rpida. Na raiz disso est a economia de guerra, est a indstria blica, est o projeto Manhatan que resultou na bomba atmica. A partir dos anos 50, h uma incorporao cada vez mais intensa que mesmo nas cincias puras, qumicas, fsicas, biologia, especialmente a fsica. Ela tem uma nova insero na produo societal.

Desde os anos 40, para no retomar as discusses l do incio do sculo, discute-se a crise da fsica, que envolvida em termos experimentais. Enquanto os tericos esto se indagando, o que a fsica, em termos experimentais, esto operando e produzindo e o que eles produzem incorporado pela maquina de guerra e pelo conjunto de vida social.

S para vocs terem uma idia, a chamada revoluo da microinformtica que aparece nos anos 70 nada mais que produto da corrida armamentista da guerra fria.

Entretanto, no mbito do debate das cincias puras h uma discusso de natureza claramente filosfica, o desenvolvimento dessas cincias j nos anos 40, mas fundamentalmente nos anos 50/60, tem a seguinte questo: o horizonte da filosofia responde ao desenvolvimento da lgica das cincias, da lgica cientfica.

H um monumental debate que vai ter vrios interlocutores j nos anos 40, v Popper. Essa discusso nos anos 50 vai se generalizar e, nesta mesma dcada, se desenvolve um tipo de documentao que no apenas a crnica desse debate. Desenvolve-se uma histria dessas cincias, cujo objetos so os confrontos filosficos do seu interior, ou seja, enquanto os fsicos esto olhando para a filosofia e dizendo que ela nos ajuda a pensar a fsica, preciso uma nova filosofia da cincia. Esse debate entre os fsicos / cientistas.

Historiadores, filsofos, cientistas sociais comeam a tomar a cincia como um objeto de pesquisa. Teremos aqui o surgimento de uma sociologia da cincia, que embora registre algumas aproximaes e construes na primeira metade do sculo. a partir dos anos 50 que isso vai se constituir.

Esse debate vai terminar no final dos anos 60 num documento que divulgado , no uma obra, mas freqentemente na histria das disciplinas cientficas so obras de divulgao que exercem papis importantes.

Quero me dirigir agora aos Assistentes Sociais. Hoje, ele e outros cientistas sociais que esto apontando um debate crucial: se h uma nova questo social. Se existe uma nova ou velha. Eu diria que o terico mais importante desse debate Robert Castels, porque quem quiser debater se a sociedade est lacrada e o Estado providncia est ou no em crise. Tem de ler Castels.

Curiosamente, no ele que influiu na formao do senso comum, como vai chamar senso comum acadmico, quem contribui efetivamente para isso Rosanvallon. Notem que pode-se descordar e aqui tem pessoa, discordo do tipo de anlise que faz R. Castels. Uma anlise sria que discorda dele, mas que no nega sua qualidade. E a Rosanvalon, um divulgador, mas na medida em que ele expe em termos imediatamente acessveis certas temticas que esto na ordem do dia, ele passa a ser muito mais influente do ponto de vista interventivo do que uma figura de R. Castels.

Essa obra que eu disse anteriormente no uma obra seminal, mas vai ter influncia no debate. a obra de Thomas Kum, publicada em 69 e generalizada, traduzida em vrias lnguas e entitulada A estrutura das revolues cientficas. Procurando resgatar e apresentar de maneira orgnica / sistemtica no debate das cincias puras, especialmente a fsica, Thomas Kum elabora uma discusso que preciso reiterar aqui aquilo que eu mencionei ontem acerca de Liotard. Kum dir o seguinte: a cincia moderna, ele fala em fsica, ele pensa em Galileu e em Newton, essa cincia constituiu um, ateno, um paradigma que matrizou a fsica moderna. Notem um desenvolvimento cientifico embasado. Eu tenho o que ele chama de cincia normal e chega um momento porem, notem que o objeto de tudo a estrutura das revolues cientificas, chega um momento em que um paradigma deixa de obter processualidade. Eu tenho um perodo de cincia normal quando um paradigma de cincia, quando esse paradigma obtm consenso e ganha portanto legitimidade naquilo que ele denomina a comunidade cientifica. Diz ele: um paradigma se afirma, torna-se consensual, ganha legitimidade e garante o desenvolvimento da cincia por um largo perodo. Esse o tempo de cincia normal.

Chega, porem, um momento que um determinado paradigma se esgota, perda a legitimidade, deixa de ser o montador dos vrios consensos. Afirma Kum, quando um paradigma entra em crise: eu tenho uma revoluo cientfica, um perodo que funciona como um processo de fratura, onde paradigmas distintos entram em confronto e luta, at que um novo paradigma se afirme e se inicie um outro momento de desenvolvimento do processo normal da cincia.

O que , para Kum, um paradigma?

Ele vai tornar clssico o conceito de paradigma e usa o exemplo do jogo de quebra-cabea. Pega l a Monalisa e a desmonta em 1500 peas e vai montando. Notem, o que voc sabe que a partida, quando voc compra esse jogo, voc sabe que na caixa esto todas as peas e se voc conseguir encaixar todas as peas resolve o problema, ou seja, voc vai constituir/reproduzir o original. Mas o jogo tem regras. Primeiro, o sujeito que te vende, vende as 1500 peas. Segundo, essas peas todas so encaixadas e terceiro, no tem pea repetida. um conjunto de normas, valores, ritos, mtodos que impulsiona atividade com sentimento. E ateno, valores, normas, ritos, mtodos, procedimentos tm consenso to legtimos, por isso ele fala em comunidade cientifica so os pares que reconhece.

E quando os paradigmas entram em crise? A a anlise dele interessante. Podemos discordar do alcance da anlise.

Ele diz que comunidade cientifica so comunidades de poder e prestgio. Elas tm hierarquia, expresso, interesses de grupo, lealdade de grupos. Quando o grupo que calcionador de uma legitimidade cientifica no consegue absorver os novos quadros. sinal que o paradigma que esse grupo calciona comea a entrar em crise. Notem que curioso, ele mostra que a medida que cresce o numero de atores da comunidade cientifica cresce as disputas e voc tem que ter mecanismos de incorporao. O membro deve poder vir a tornar-se cientista, deve poder ter acesso dinheiro/recursos para fazer a pesquisa.

Ele trabalha com a cincia acadmica e diz que se quem detm as alavancas de comando das escolas e o prestgio dessa comunidade no comea a incorporar, a presso vai ser grande que os prestgios sero deslegitimados. E diz mais, se um grande paradigma no se exaure s por isso, ele se exaure quando seus procedimentos aceitos acatados j no permitem mais resolver os problemas que esto postos na cincia. como se l no jogo as peas j no encaixassem mais. E quando isso acontece o paradigma entra em crise e a cincia deixa de ter seu desenvolvimento normal at que se afirmo, ganhando consenso e legitimidade noutro paradigma.

O que ele nos diz que a estrutura das comunidades cientificas dinamizada pela flexibilidade dos paradigmas. Mas, ateno! Toda esta representao s vale para as cincias puras. E ele diz isso explicitamente em 1969. Ele diz isso, porque nas cincias humanas no existe nenhum paradigma que tenha obtido qualquer consensualidade e afirma ele que a estrutura das cincias humanas e sociais so pr-paradigmticas e ainda no alcanaram um paradigma consensualmente legitimado.

Ele deixa claro que toda a argumentao deixa de extrapolar as cincias humanas embora esteja na lgica de seu argumento que um dia essas cincias sero paradigmticas. Ele diz que as cincias humanas so, ele no fecha a porta, mas ele no diz que so, ele no fecha a porta para a construo de paradigma nas cincias humanas.

Essa discusso no feita pelos fsicos. Eles fazem a discusso no interior da fsica. Esse debate envolveu figuras importantes. Lembrem de Popper, Lacatus.

Os textos discutem isso, mas quem vai produzir esse olhar o socilogo.

Notem que em dez anos antes da formulao epstemologica de Liottard, voc tem um debate que j aponta para ela. Em nenhum momento da discusso do Kum, a questo se pe na comprovao objetiva do paradigma. claro que ele tem como suposto que o paradigma que no tem minimamente questes prtico-operativas no vai se manter. Entretanto, para ele o problema central o problema da consensualidade, da legitimidade.

Se todos os patologistas, todos, decidirem que o crescimento celular anmalo no mais anmalo, acaba o cncer. Mas os cientistas diro que isso a no patologia.

Est imbutida nessa discusso a noo de que a verdade, a razo objetiva, a verdade no a questo central. Eu sinalizava ontem isso com relao populao de Liottard, as questes de natureza ontolgicas no so relevantes nesse debate. Aqui, isso j aparece sem a formulao sofisticada de Liottard, mas aparece claramente. Esse um sinal importante. no marco da cultura contempornea as questes referentes ontologia elas no tm um abrigo, no so contempladas, no so consideradas relevantes. E esse o quadro cultural. Logo isso no um problema de meia dzia de intelectuais, ela sinaliza fenmeno social real.

LADO B (cont.)

A partir dos anos 60 que a simbolizao e depois a virtualizao da vida social se generaliza de tal modo que se passa a ter nos processos semiolgicos, processos de constituio da prpria realidade. No menciono aqui apenas a semiologia como disciplina cientifica, porque concorre para isso um forte elemento de subjetivismo que comea a marcar a vida social desde ento.

Subjetivismo, acho que enunciava a morte do sujeito. O Foucault dos anos 70 est atrs dos sujeitos e quer dar voz a ele. Esse movimento no um movimento individual, de um pensador representativo. O Foucault representativo porque expressou os movimentos que estavam alm dele. Ento um processo que nos anos 70 comea a ganhar fora em reas succnicas. Cuidado para no generalizar, em reas succnicas, em alguns anos da psicologia, das terapias de natureza psquica, em algumas reas da psicanlise.

Eu tenho uma conhecida que disse que j no agenta mais em qualquer projeto de interao social, freqentemente baseado numa ONG, quando vai subir o balano, ouvi-se: os participantes tiveram resgatada a sua auto-estima. Isso tudo limite da caricatura. Mas est aqui, alocada desde uma inclinao acadmica muito grande, muito forte. At um herbvoro, uma redirescncia de formas mgicas de pensar. Aqui se passa a ter um processo digno, no mais aquilo que est nos clssicos da teoria social de supor e constatar que no h vida social sem representao simblica. Aqui o processo ganha uma magnitude tal e as representaes simblicas passam a constituir o social. O que ocorre o processo crescente de semiologizao do domnio.

O que eu quero dizer a vocs que est tudo no vermelho. Est todo mundo dizendo: aquele nosso projeto de fazer cincia, vamos olhar a fsica, os paradigmas se colapsam, sobretudo num jogo. Trs elementos sero fundamentais para ns entendermos o que se passa no ps 79.

Vocs se recordam o que eu disse a pouco que ns estvamos achando que 68 marcava o inicio de um novo mundo. S foi possvel ver que era o incio do fim do mundo algum tempo depois.

Esqueam a fsica, esqueam o Kum, esqueam Liottard. Os 20 anos que vo no ps 68 vo marcar trs crises em escala planetria. Primeiro: isso para vocs Stanruce. Vocs so muito jovens. O fim do terceiro mundismo. Ningum mais fala no terceiro mundismo. No se trata do fim do terceiro mundo. Trata-se do fim do terceiro mundismo. Em 1955, eu vi Simbam Tungue l na frica, um grupo de lderes nacionais da Iugoslvia, da ndia e de alguns pases que pertenciam quela zona de sombra que ningum sabia exatamente onde que estavam. Eles diziam: ns no nos alinharemos. Isso em 55, onde voc j tinha constitudo o Pacto de Varsvia, estava constituda j a OTAN. Havia uma degolaridade clara entre Washington e Moscow e um grupo de lderes nacionais veio a pblico para dizer o seguinte: ns no estamos nem com Moscow, nem com Washingtos. Ns queremos uma via se seo territorial diferenciada, sobretudo associada. Nascia ali um Bandung o movimento dos no-alinhados.

Se eu no estou enganado, a conferencia dos no-alinhados foi em princpio dos anos 90. Eles hoje parecem mais velhos que marxistas e comunistas. Esse movimento foi importantssimo e gestou um contraponto nos anos 60 s formas de hegemonia que ento estavam instaladas ali.

Suponham os americanos que no terceiro mundo seria possvel encontrar projetos de desenvolvimento autnomos e alternativos. Tem gente que acredita nisso e por isso, o movimento foi extremamente importante.

Mas 20 anos depois, aqueles pases que eram estrategicamente importantes nesse universo do terceiro mundo, a ndia, o brasil, o Mxico o Ir. Esses pases chegaram at a se industrializar e urbanizar, no caso brasileiro e chileno, para no pensar na potncia nuclear que a ndia. A ndia no era pouca coisa. Entretanto, nenhum esforo desses pases permitiu-lhes conter a heteronomia econmica.

A idia de que voc teria processos de desenvolvimentos autnomos ou associados foi pelo ralo. O Ir tinha uma ditadura assassina, porm modernizadora. No creio que essa ditadura foi melhor como a ditadura terica. Quanto ao brasil, parece que o projeto de potncia no teve muito sucesso. Mas tambm nos 20 anos subsequentes, aquilo que nos era apresentado como um padro de regulao social exemplar sofre profundos cortes. Quero dizer que no final dos 60 e incio dos anos 70, Londres antes de Tatcher era um paraso, mas era difcil, at porque havia uma legislao que vinha da rainha Vitria.

O Estado de Bem Estar Social (EBES), forma de regulao poltica do mercado kista indiscutivelmente inibricou condies de vida bastante aceitveis, mas que 20 anos depois no tem um defensor, ou melhor, tem sim, a esquerda. A esquerda que de 45 70 dizia que isto que est a uma porcaria. No esqueam o que Keynes escreveu: a guerra clssica vai encontrar sempre do lado da burguesia letrada.

O EBES no resistiu a senhora Tatcher. A cultura do estado social ainda permanece. Entretanto, essa cultura encontra a forte ressonncia entre trabalhadores mais velhos. Os jovens operrios que disputam qualquer migalha no mercado de trabalho no ligam para o processo de sindicalizao e para qualquer forma de flexibilizao do trabalho. O seu projeto original, esse cidado coloca pelo ralo da mesma maneira que foi pelo ralo o projeto terceiro mundista e isso parou a.

Estou colocando que o que interessa nessa discusso no se era ou no socialismo, se era despotismo de Estado, se era burocratismo. Isso no interessa. O que interessa, de maneira muito grfica so dois exemplos. Primeiro: em 1956, a Inglaterra e a frana resolveram agredir o Egito. Durante trs dias, bombardearam e s durou trs dias, porque o poderio sovitico blico os encostou na parede e disse para acabar com esse bombardeio. Ou podamos lembrar a guerra da Coria, de 50 a 53. Os conselheiros de Brungman diziam: utilizemos a bomba atmica, foi como instrumento de chantagem. Vejam Hiroshima e Nagasachi.

Hoje, Bush diz que vai invadir o Iraque em janeiro e a Globo News repete e no acontece nada. Hoje, vejam quem o terror e como contemplam.

Segundo exemplo: maio de 1973. Eu estava ainda num hotel e tinha um sujeito do meu lado, o Hugo. Era seu nome na poca. Um latino magrinho, um profissional do partido comunista. Eu via a sola dos ps dele. Ele no dizia nada. Depois que ns samos, ele dizia que ns apanhamos aqui. Sabia que ia mudar, mas l acabou. O colapso daquele socialismo feio. Lembro que alguns companheiros meus do PT achavam Cuba lindo. O mundo real factual acabou, mas acabou todo o mundo ideal, acabou l. Precisamos de um lar e esse lar no existe mais.

O fim disso, dizem aqui, que o fim da histria. uma tentativa de laquear o kismo ou uma tentativa de civiliz-lo ou de super-lo. Regressemos ao bom domnio do mercado e dependemos de uma democracia representativa. Como toda a grade das cincias sociais daqui, lembram da teoria da dependncia? Para um plano geral da cultura, vocs lembram-se da teologia da libertao? Olha o Boffe, j no mais padre. Ele casou-se.

E a sociologia conservadora ou acadmica ou teoria poltica conservadora ou acadmica. Olha a frana. impensada sem a sada de Degaule e sua volta e o plebiscito, o que pensar ento da teoria poltica contempornea de Degaule.

E a discusso de onde est o sujeito revolucionrio. O que ele ? Onde esto os sujeitos? Vocs somam todos esses ingredientes e mais ou menos no final do sculo XX colocam problemas que a primeira vista so insolveis.

No s o fim da histria. Est em primeiro lugar aqui uma ofensiva do capital, aquele mesmo capital do nosso amigo Lnin, aquele mesmo quadro scio-poltico que Mao Ts Tung dizia que um timbre de papel, parece que vai bem das pernas. Se os estados esto falidos, as grandes corporaes beneficiando um processo de concentrao enorme chegaram a tornar o mundo igual. Quem freqenta o aeroporto, v que todas as cidades so iguais, tm os mesmos outdoors.

Bem, se fosse s isso, onde tem o contraponto, vou sinalizar o contraponto, um contraponto para suscitar qualquer postura distinta. Est mais ou menos claro que quando voc pensa na obra de Marx do sculo XIX, observem vocs numa leitura hipntica da vida social, se isso aqui em Marx que ele apoiado no proletariado que se torna revolucionrio.

Voc olha Durkheim. Ele est com os ps postos no solido cho que lhe oferece a terceira repblica.

Vocs se lembram do que foi esse pas entre 79 e 83? Eram os intelectuais desesperados para participar de alguma organizao de massa. Estavam loucos para ir ver o comcio do Lula. Oportunismo deles no. que naquele momento havia um movimento social que ganhava uma expresso partidria que oferecia um cho para os intelectuais de oposio. Era um cho, um suporte para os intelectuais. Quando voc olha esse movimento, onde est o contraponto que estes intelectuais podem pisar. Desculpem, mas tem um contraponto: as instituies especficas dos intelectuais. Nas cincias puras eles esto em um pensador, esto nos laboratrios das grandes corporaes e nos laboratrios acadmicos. E os outros? Aqueles cujos suportes/apoio desapareceu. Tem trs tipos de instituies. As produtoras de imagens, a indstria da cultura da comunicao ou os nichos acadmicos.

Foi uma profunda institucionalizao dos intelectuais. Est dado o caldo de cultura para trs formas de contraponto.

Estou concentrando agora o meu olhar sobre os intelectuais porque esta discusso uma discusso de intelectuais. Ateno! Nem todas as discusses so de intelectuais. Quando se discutia se o brasil era democrtico ou no foi uma discusso protagonizada por intelectuais.

21/05 (cont.) FITA 4 - LADO A

o primeiro caminho daqueles que por ventura no tempo a rendio. No preciso fazer grandes esforos, me poupem dos nomes. Em todas as latitudes e em todas as longitudes, alguns dizem que no tem jeito. Deixem-me cultivar as minhas rosas.

Segundo a resistncia, to mais complicada e difcil, quanto menores os suportes sociais da poca. Ela tem que derivar numa postura evidentemente doutrinria.

Acompanhem os ltimos escritos do meu velho mestre Florestan Fernandes. Tem de se recordar que a partir de 92/93 Florestan insiste em uma rendio dos princpios socialistas. Reponho-me obra to importante de Istevan Mezaros. Trilha-se com noo principista. Ateno! No confundam adeso com rendio.

A metamorfose mais ou menos assim: ora, no tempo devido, estvamos certos, mas vejam como o mundo contemporneo complexo. preciso encontrar a frmula de dimenso desta nova complexidade. preciso apurar os intempries, criar novos paradigmas de anlise. No que os paradigmas clssicos percam o seu valor, mas eles precisam ser complementados, criados, para perpetu-los.

no marco desse todo caldo de cultura que vai se constituir o campo ps-moderno. A natureza dessa constituio, quais seus cortes, o que os impedem de falar numa teoria ps-moderna.

O que aparece nesses ps-modernos? Vamos voltar l ao projeto da modernidade, ao projeto da iluminao. O que nos prometeram primeiro foi o controle racional da natureza. Est a o desastre ecolgico como possibilidade real, Chernobil, a unio na ndia, a questo bblica, as tartarugas, o mico-leo dourado. Mas isso no to grave. Mais tarde nos prometeram criar instituies luz da razo e mais que luz da razo, os prometeram introduzir a razo na interao social.

O EBES no foi toda a tentativa de, atravs do Estado como arrecadador de recursos, que se tratava de disciplinar a ordem do capital. Olha o resultado: o Estado quebrado, falido, pior ainda, criaram no s uma sociedade com o socialismo real, onde a produo era planejada, onde o desenvolvimento era planejado, onde suprimia o mercado como medidor de alocaes e recursos. Foi mais que isso. Havia um ilustrado projeto do partido nico que nos levou ditadura totalitria. ou no de suspeitar dessa razo. ou no de se acreditar que os problemas no seriam mais resolvidos.

Para os dois redimensionamentos, o projeto da modernidade no est colapsado, mas os meios modernos para pens-lo, esses se revelam hoje. Nesse campo encontramos Habbermas. Para os outros nem sequer o iderio moderno resiste a esse primeiro desmoronar. Esses ltimos foram chamados por Habbermas de neoconservadores. E onde est Liottard? Boaventura?

Na tipologia de Boaventura, esses ltimos so os ps-modernos de celebrao. Celebram o que est a. Ento, os primeiros so ps-modernos de oposio por essncia.

O campo da ps-modernidade vai ser formado por esses pontos. De qualquer modo preciso entender o que eles pensam e entender o que alguns de seus interlocutores pensam.

Antes disso, vemos o quadro de contextualizao. Que fique claro que isso no uma reduo substantiva do papel social em quais quer das suas direes que as instituies tm. O que eu quis sinalizar aqui que h um reflexo/afluxo de intelectuais para os mecanismos institucionais. Isso no quer dizer que os intelectuais se perderam ou se metamorfosearam. Mas que o campo de interveno vem mudando rapidamente e, claro, que afeta o raio da sua ao e isso no anula a sua ao, mas coloca novas possibilidades.

Um exemplo:

Parece mais ou menos claro que nas cincias puras, o problema da extenso universitria e da pesquisa no um problema angustiante. Nas cincias puras a pesquisa no problemtica.

Olha nas cincias sociais como o problema da pesquisa se pe hoje.

Nas cincias puras tm elementos de legitimao claros. Para sinalizar no trata de diminuir o potencial criativo /produtivo do processo de institucionalizao.

Nos anos 60, a estrutura da universidade era quase colonial eclesistica. Tinha uma torre de marfim na universidade, mas tinha tambm um movimento docente e discente que pressionava no s no Brasil.

No Brasil, na virada da dcada de 50/60, no debate da Leis de Diretrizes e Base (LDB) s foi promulgada em 61. Qual foi o debate pblico da LDB em 88? O debate se deu na Cmara dos Deputados em 59/60. Florestan correu o pas em defesa da escola pblica. Olha como o debate refluiu para essas instituies. Qual a idia poltica hoje? Qual o debate poltico que o PT coloca hoje? A despolitizao s favorece a gente sabe quem. Isso no significa que os intelectuais pararam de produzir. Em 68, todos os intelectuais estavam na rua. Nos anos 70 ainda havia participao deles.

Os quadros de localizao mudaram.

Quero dizer que o mundo mudou. Mudou em outro sentido. Por que eu estou enfatizando tanto os intelectuais? porque o espao scio-institucional dos intelectuais mudou.

Eu penso em Lefevre, sociologia urbana, teoria poltica do Estado, filosofia, vida cotidiana, esttica.

Em 1981, a UERJ fez um seminrio internacional, na mesa do Lefevre. Cada um se apresentou dizendo sua especialidade. O Lefevre disse que era o nico aqui que especialista em assuntos gerais.

Tenho a sensao que as palavras se desgastam, seja paradigma, seja processo. No d para discutir nada com objetividade, porque as pessoas esto visando as mesmas palavras com diversos significados.

O Boaventura acha que tem dois momentos claros. Ele diz que tem a ps-modernidade at a Segunda metade dos anos 90. O que ele diz, no que produz, da Segunda metade dos anos 90 para frente, que ele vai falar em transio ps-moderna, vejo que ele est mais cauteloso.

Ele tem referncias claras, me parece que ele conserva ou considera isso de maneira explcita e formal, que a condio emancipatria que vem por via racional do conhecimento, emancipao pelo conhecimento, eu estou convencido que isto um valor apenas ilustrado. Acho problemtico quando ele comea a retratar esses saltos atravs de proposies de natureza operativa-interventiva. O problema quando ele diz que emancipao emancipao pelo conhecimento.

Ele tem cuidado em dizer que o programa como tal no colapsou, o que ele afirma que os meios modernos so ineptos. Ele sugere o programam da ps-modernidade . isso uma polmica. Pelo que se sabe pela atividade cvica dele um cara que est do lado de c!

Havia uma discusso sobre como operar o sistema de Seguridade Social aqui e ele estava coordenando uma pesquisa com impactos de linhas de poltica que ele tenta ver sada para esse negcio.

LADO B AULA DO DIA 28/05/2002 (a)

um outro vis da epstemologia, vai estar ligada a uma certa concepo lingstica que vai dar nas descodificaes, nas desconstrues. Por a voc chega, no diria na ps-modernidade, mas voc chega a um patamar que vai abrir caminho para pensar no ps-moderno como pura e contnua desconstruo. Mas um terreno difcil. Quero dizer que no se aceita ser catalogado como ps-moderno.

A discusso dele abre caminho para a ps-modernidade, mas no ps-moderno. Mas, voc no pode dizer que no marco da forma estruturalista dos anos 60 at 68 h um deslocamento curioso que atinge inclusive figuras importantes da tradio marxista. O que deixa de ser cincia piloto a crtica da economia poltica, a linguagem vai tender a substitu-la. O debate dos anos 60 o debate da lingistica e, claro, que a antropologia de Levi Srauss tem haver com isso. Essa uma discusso que no tem p nem cabea como est hoje.

Notem uma coisa. Em 63/64, a polemica do campo mais a esquerda do pensamento francs curiosamente entre Sartre e Levi Strauss. Sartre, dando pancada no estruturalismo dizendo: vocs querem substituir o cinema pela lanterna mgica. O Levi Strauss diz que ele est enganado e marxista sou eu. O estruturalismo aplicao rigorosa do que est l na crtica de 1857. Imaginem como rendeu esse debate e que no est fechado at hoje. Esse debate algo que est at hoje e merece revitalizao.

O debate entre marxismo e lingistica, um fulano morreu com mais ou menos 30 anos de idade. Era um antroplogo. Tornou-se um antroplogo esquecido na Amrica do Sul e radicalizou certas posies contidas em Levi Strauss. Ele estava convencido de que estrutura lingistica acaba com a estrutura socialista.

A noo de estrutura, no por acaso que aparece na psicologia estrutural, est colada no debate dos anos 70.

Nesse marco, o debate ganha uma absolutizao de tal ordem que se interrompe os fluxos de continuidade e descontinuidade com a palavra. H uma cultura. O fluxo dos processos so imobilizados que tudo presente. Logo, as noes de temporalidade profunda entre passado e futuro desaparece.

Isso redunda em novas geraes que no tem nenhuma memria histrica, mas no resultado de operaes de se apagar o passado. Mas algo que se torna tudo efmero que s existe quando est presente. E como este presente difundido, ele no deixa marca nenhuma. Do ponto de vista social, isso d na destemporalizao e, quando h futuro, uma mera reproduo ampliada do presente. Ento, h uma tautologia absoluta, uma mesmice renovada.

O que pensa a ps-modernidade? No h uma concepo de ps-moderniddade. Existem teorias da ps-modernidade. Essas teorias ou so elaboradas no interior do campo ps-moderno ou so concepes que se vincula ao campo ps-moderno em certas caractersticas.

Vou mencionar apenas duas concepes de ps-modernidade, porque so as mais significativas. Uma concepo majoritria: h um campo ps-moderno, cujo principal representante Vat. a grande expresso da ps-modernidade e no a nica, porque j falei antes de Liottard. Quero situar a tendncia da qual Vat de grande expresso. Nos tempos um processo que faz parte dos ltimos 30 anos do sculo XX, que atravs das tecnologias de informao por uma parte e, por outra parte, pelo papel dos meios de difuso das informaes. O que ocorre uma efetiva semiologizao do mundo social.

O que ele quer dizer?

Dimenses simblicas sempre foram constitutivas do mundo social. Tendncias a tomar as dimenses simblicas como realidade. Ns constatamos na evoluo das cincias sociais no final do sculo XIX. No isso que Vat defende. O que ele defende que nos ltimos 30 anos o mundo social em si mesmo o mundo demais. Mas essa semiologizao no atribuda, no se trata do pensamento em atribuir ao mundo o carter de representao. No isso. O que constitutivo do mundo contemporneo o seu carter de representao.

Essa distino eme parece absolutamente essencial, porque no se trata de processos que ocorrem ao nvel dos sujeitos que fazem anlises. No se trata, por exemplo, da tradio weberiana, segundo a qual o mundo social no tem sentido. Ento so os analistas e os sujeitos sociais que atribuem e julgam sentidos ao mundo.

No isso. O mundo social sistemas de sentidos e sentidos concorrentes. O mundo social a representao.

Nesta tica tem o domnio/controle das informaes e mais que isso, o enunciado das informaes que pe, que estatuem a realidade social.

A realidade social estatuda pelo repertrio de smbolos que se organizam e organizam as informaes que dispem as pessoas. Isso tem por detrs uma tradio intelectual. Nos anos 70, existiu a fantasmas que pensam tambm ser marxista na construo de uma crtica da economia simblica. A crtica da economia poltica seria deslocada para uma crtica de economia simblica. No fundo a liquidao da economia poltica como tal.

L no fundo vamos encontrar uma valha tradio irracionalista do sculo XIX, que de alguma maneira comea com Shopenhauer e encontra seu emblema em Nitche, de que sujeito que atribui sentido.

Mas aqui a discusso mais funda, o mundo social mais funda, o mundo social sentido, seu estatuto o estatuto simblico.

Quero dizer que os tericos, aqueles intelectuais cuja relao com a vida social se d no apenas com smbolos, a possvel retomada como expresso da vida social.

Diria que essa de maneira grosseira a mais generalizada discusso da ps-modernidade, porque ela no tem um elemento consistente, algum pode olhar e dizer que se trata claramente de uma ideologia no sentido stricto, segundo Marx e Engels em 45/46.

Se isso tem passagem nos setores das cincias sociais, eu diria que o campo das cincias sociais a discusso est fundamentada num intelectual chamado Boaventura Souza Santos.

No final do sculo XX est marcado pela derrocada, pela crise de 2 tipos de paradigmas, noo que vocs j conhecem.

Segundo ele (Boaventura) mais especificamente a partir da stima dcada do sculo XX, esgotamento, o exaurimento de 2 constelaes paradigmticas: so as constelaes societais e as constelaes epstemolgicas.

Aqui ele vai dizer que no mais possvel manter qualquer expectativa em torno do EBES, ou Estado Providncia, ou Estado Social. Ele diz que queiramos ou no a articulao societal j era, no existe mais.

Ao mesmo tempo, as experincias socialistas que tinham como centro nico, o Estado fundido com o aparelho partidrio, aquilo que grosseiramente se chama socialismo real ou socialismo estatal tambm fracassaram. Ento, daqui pode sair a barbrie, o neoliberalismo para expressar esse caminho.

Boaventura se contrape ou pe em oposies as tendncias minimalistas do Estado. Ele dir, notem, que esse paradigma um modelo moderno, seja o Estado de Bem Estar Social ou seja o chamado socialismo estatal ou real. Isso um paradigma da sociedade moderna, da razo moderna que apostou na possibilidade de compatibilizar o que ele chama de pilar da regulao como pilar da emancipao. So aquelas duas faces da razo moderna.

Dir ele, num ou noutro paradigma os caras se contratam um possibilidade sinttica entre emancipao dos homens e regulao das relaes sociais. Essas duas propostas fracassaram porque houve nessa passagem do seu pensamento a influencia de Habbermas, porque houve uma colonizao do pilar emancipatrio pelo pilar regulador. Diz ele aqui: no sabemos onde as coisas avo parar, aqui no possvel saber onde as coisas avo parar. E possvel saber que as solues esto postas na mesa do tipo do Estado mnimo conduzem regresso social.

Mas aquilo que Boaventura est interessado naquilo que ele chama de paradigma epstemolgico. Diz ele, do ponto de vista societal assistimos a uma transio, cujas perspectivas muito difcil antecipar. No caso da crise epstemolgica, possvel antecipar. Que paradigma esse que para ele entrou em crise? o paradigma moderno apoiado em trs suportes. Primeiro a concepo de que h uma diferena ontolgica entre as cincias da natureza e as cincias da sociedade.

Dir ele que a natureza crescentemente uma categoria social. Logo, o que fundou a distino entre natureza e sociedade do ponto de vista epstemolgico, torna-se cada vez mais carente de sentido. O que ele sustenta que da crise do paradigma moderno, onde havia uma clara distino entre cincia da natureza e cincia da sociedade, resultara numa cincia ps-moderna que vinculara essas duas dimenses e diluir essas diferenas. Esse foi o primeiro ponto.

Segundo: ele tem dito que a razo moderna que est na raiz do paradigma epstemolgica atribua cincia ou ao conhecimento cientifico o estatuto privilegiado. Diz ele que as experincias da sociedade moderna, sem desastres cientficos. A utilizao por exemplo da energia atmica mostra claramente que esse um grave equvoco quele que acredita no cientificismo, que acredita no imperialismo da razo cientifica. Dir ele que o conhecimento cientifico no to somente uma das vrias formas de inteligibilidade do mundo, mas mais que isso, no uma das formas privilegiadas. O saber popular no tem o estatuto inferior ao conhecimento cientifico. Dir ele que o conhecimento o cientifico a expresso epstemolgica de uma certa prtica social. Outras prticas sociais tero outras expresses epstemologicas.

Terceiro elemento: que o paradigma epstemolgico da modernidade se concentra existncia de uma verdade objetiva, uma verdade que seria a expresso efetiva, formulada pelos analistas sociais do movimento da realidade. Isso aqui nada mais nada menos que verdade objetiva que falavam os clssicos, de Aristteles a Hegel e Marx, dir isso Boaventura. A cincia ps-moderna da mesma maneira, notem, que ultrapassara a distino prpria de paradigma moderno entre cincia natural e da sociedade, da mesma maneira que vai ultrapassar o cientificismo supondo que a cincia mais um e no privilegiado meio de acesso realidade. Tambm essa cincia ps-moderna resultar no fracasso, como produto de um processo de interao social, a verdade um consenso de uma comunidade de sujeitos. Na verdade, essas atividades intelectuais so vistas como exerccio de retrica que busca persuadir. Ser verdade aquilo que sem imposio coersitria obtiver a validao, a legitimao dos membros de uma comunidade qualquer.

O tempo em que ns estamos vivendo, do ponto de vista terico o tempo de substituio desses parmetros, substituio desse paradigma epstemolgico, por um outro tipo de racionalidade cientifica que no vai buscar uma verdade objetiva que no vai buscar um metarrelato. Lembrem de Liottard, que no vai buscar uma metanarrativa. Mas busca no um sistema de legalidade que orientaria e parametraria o mundo natural ao mundo social, mas sim consideraria as mini-racionalidadesque desenvolvem nas mltiplas prticas sociais que homens e mulheres esto envolvidos. Ento no h conhecimentos privilegiados.

Cada expresso epstemolgica expresso de prticas sociais determinadas. Os homens esto na histria das suas vidas e interessante porque quando desdobra esse pensamento, Boaventura vi falar de um mundo domstico, de um mundo pblico e privado, mas d um estatuto especfico ao mundo domstico, ao mundo de casa que diz respeito reproduo do indivduo, no mbito da sua estrutura familiar.

No possvel que o desenvolvimento de uma razo terica que d conta de uma eventual razo macro-social, macro-histrica.

As expresses da racionalidade so as mini-racionalidades, das prticas sociais determinadas. A conseqncia desse paradigma epstemolgico uma distino fundamental do paradigma epstemolgico da modernidade.

Boaventura, na verdade vai vincular uma noo de Castro Bastelar, filosofo da primeira metade do sculo XX que teve uma significativa influncia sobre a filosofia da cincia, sobre a chamada epstemologia cientifica, que sustentava, que o passo elementar para a constituio de um conhecimento cientifico era a ruptura da lgica de anlise cientifica que faz do senso comum, senso comum no sentido gramisciano, ainda que o primeiro passo da atividade cientfica a ruptura com o conjunto de concepes prprias do senso comum.

03/06 (FITA 5) LADO A

Ao longo de todas as sees, com um objetivo de configurar o campo de pensamento extremamente heterogneo, cortado por tenses e caracterizado por alguns e essa foi a minha caracterizao como uma ideologia. Evidentemente, essa interpretao tem um objetivo de configurar fazendo um contraponto entre modernidade e ps-modernidade, espcie que eu chamaria de a cultura dominante contempornea. Aquilo que eu chamaria de uma corrente de pensamento dominante na cultura contempornea.

Por que todo esse percurso? Para chegarmos na configurao da crtica contempornea teoria social. Esse o ponto focal das nossas reflexes. prpria da modernidade a teoria social. A teoria social prpria da modernidade. Eu j fiz essa discusso com vocs e quero voltar.

O que ns entendemos por teoria social algo que no existe antes do sculo XVIII. Ns entendemos como teoria social algo que, do ponto de vista da sua constituio, natural da modernidade e alguns traos constitutivos da teoria social antes e depois de 1848, alguns traos so comuns a todas as construes da teoria social.

Que traos so esses? Traos que marcam a obra de Marx, mas marca tambm a obra de Durkeihm, de Parzons, claro que diferentemente, divers