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A AUTO OBSERVAO Conceitos iniciais Inicialmente, devem ser consideradas as diferenas que existem entre ver e observar. A viso fundamenta-se basicamente em dois processos: um que se apia na fisiologia dos rgos sensoriais associados, e outro que se apia no registro, interpretao e incorporao das imagens ou eventos que esto sendo vistos em certas reas do sistema nervoso central. No entanto, em alguns casos, esse segundo processo no acontece. Apesar das imagens serem captadas pelos olhos, elas no chegam a ser conscientizadas como se a pessoa, apesar de estar olhando para algum evento, no o registrasse realmente.

Por outro lado, a observao, alm de poder estar ou no relacionada apenas viso, implica em que, necessariamente, haja um agente consciente que registre e incorpore o que est sendo observado de forma ativa. Assim, durante a observao, a pessoa percebe o fenmeno que est acontecendo de forma atenta, procurando realmente reconhecer as mincias e detalhes que esto envolvidos nele. Como consequncia, o ato de observar um fenmeno implica em que ele seja incorporado pelo indivduo e passe a fazer parte de suas experincias e de seu modelo pessoal.

Porm, existe uma complicao a mais que precisa ser considerada acerca desse tema. A informao que cada indivduo recebe de seu meio processada pela personalidade, que impe seus prprios contedos sobre ela. Por isso se diz que no h uma apreenso objetiva da realidade, e sim uma apreenso pessoal. Aquilo que observado passa por uma srie de filtros que surgem ao longo do desenvolvimento de cada indivduo, de sua histria de vida e experincias prvias, e nesse processo, assume contornos muito especficos e pessoais.

nesse contexto que a tcnica da Auto Observao apresentada. Ela implica no desenvolvimento de uma atitude de observar a realidade e ao mesmo tempo, observar a si mesmo, permitindo, num primeiro momento, estudar como a personalidade reage frente aos eventos. Esse objetivo inicial consiste em adquirir uma maior conscincia dos filtros citados acima e perceber de forma imparcial, como os limites, condicionamentos e contedos da personalidade influenciam na percepo.

O segundo passo consiste em desenvolver um agente observador que seja capaz de localizar-se fora da dimenso da personalidade. Ou seja, essa prtica acarreta o desenvolvimento gradual de uma nova dimenso de ser que passa a atuar como um novo ponto de perspectiva a partir do qual a realidade pode ser observada de forma mais objetiva e menos poluda pelos contedos da personalidade. Essa nova estrutura formada ao longo do processo recebe o nome de Eu Observador, e passar a atuar como um repositrio da identidade, de forma a permitir que o indivduo mantenha-se livre do processo de identificao com a personalidade e com o ego. Pois, no estado chamado de identificao, que caracterstico do homem adormecido, ao entrar-se em contato com as coisas, perde-se a identidade, ou seja, a sensao de ser se confunde ora com elementos e eventos externos, ora com os processos internos que a personalidade mecanicamente desencadeia.

Disso decorre uma das definies possveis de conscincia que consiste na capacidade do indivduo estar ciente de si mesmo e ao mesmo tempo, ter uma cincia objetiva das coisas. O indivduo consciente deve ser capaz de manter sua sensao de ser ou sua

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identidade ao mesmo tempo em que observa a si mesmo frente aos eventos da realidade, que podem ento ser observados de forma livre dos limites e filtros que a personalidade impe.

Identidade e Identificao Apesar de ser possvel ao indivduo estar ciente de si mesmo e das coisas que acontecem ao seu redor, no estado de adormecimento, sua percepo, registro e incorporao das informaes e estmulos que chegam ou que surgem dentro dele muito limitada.

Como consequncia, esse estado apresenta algumas caractersticas. Uma delas que a capacidade de observao muito limitada, uma vez que necessrio que haja um mnimo de concentrao, ateno e permanncia, e nada disso possvel num estado de distrao ou devaneio. Por isso, h um registro muito pobre tanto do que acontece ao redor quanto dentro de si mesmo.

A falta de observao em relao ao que ocorre ao redor de si mesmo tem conseqncias bvias como se a vida pudesse ser aproveitada apenas parcialmente. As oportunidades nem sempre so aproveitadas, o aprendizado menor do que poderia ser, e tudo se passa como se a pessoa no fosse capaz de mergulhar de fato dentro da vida e tirar dos acontecimentos todo o conhecimento e vivncia que so intrnsecos a eles.

Da mesma forma, quando a pessoa no observa a si mesmo ela apresenta uma dificuldade maior em conhecer-se de fato. As pessoas acabam no percebendo, por exemplo, o quanto elas reagem de forma condicionada pelos traos da personalidade e o quanto as emoes e pensamentos muitas vezes so repetitivos e no conduzem a lugar nenhum. muito difcil controla-los ou mesmo, conecta-los ao momento presente. comum, muitas vezes, viver-se de pensamentos e emoes que se originaram em situaes passadas, ou que so projetados no futuro, e que se transformam em hbitos que colorem a realidade com seus prprios tons. Muito pouco de original e novo pode ser experimentado nesses casos.

medida que esse estado se impe e torna-se o nico estado vivido ao longo da vida, a pessoa passa a viver numa realidade que muito particular, ou seja, a viso de mundo, as perspectivas e pontos de vista se tornam por demais pessoais. Muitas vezes, isso tem como consequncia uma quase desconexo do indivduo com a realidade em si. A viso que a pessoa tem do mundo torna-se muito estreita e enviesada pelos prprios contedos pessoais - muito pouco pode ser aproveitado ou saboreado em termos de novas experincias e aprendizados.

Outro agravante que o adormecimento caracterizado pela perda constante da sensao de ser ou identidade. As pessoas em geral sentem que apresentam uma identidade bsica, constituda por uma srie de caractersticas, qualidades e vises de mundo que lhe conferem uma individualidade. No entanto essa identidade est geralmente, associada aos papis que so exercidos de forma mais ou menos acidental ao longo da vida. Por exemplo, uma pessoa que na vida adulta atinge certa estabilidade - constitui uma famlia, desenvolve um empreendimento ou assume alguma profisso, e que apresenta certas tendncias particulares tais como, gostar de esportes ou de msica acaba definindo a si mesma, a partir desses elementos. Ela sente como se ela fosse os papis que ela exerce. Ou seja, ela sente que o empresrio, o provedor da famlia, o msico, o esportista e assim por diante, dependendo da circunstncia com a qual ela se


envolve ao longo do dia. Isso embasa sua auto-imagem, uma vaga sensao de identidade que fundamentada nos contedos da personalidade e do ego e que acaba por representar, de forma distorcida, o que a pessoa acredita ser e no a dimenso real de si mesmo. No entanto, muitas vezes, no h uma identidade central, uma sensao nuclear de ser que independe das atividades ou papis exercidos. Por lhes faltar essa sensao nuclear de eu ou identidade, as pessoas s vezes tm dificuldade de sentir essa diferena entre o que elas de fato so e os rtulos com os quais elas definem quem elas acham que so.

Portanto, o que est sendo definido aqui como identidade tem relao com essa sensao nuclear e fundamental de ser, que apresenta uma continuidade ao longo do tempo, e permanece presente ao mesmo tempo em que os papis so exercidos e as atividades rotineiras so cumpridas. fundamental perceber que uma coisa no exclui a outra. No se espera que essa sensao nuclear de ser impea as atividades do dia a dia ao contrrio, ela dever trazer uma nova perspectiva para a vida e principalmente, ser sempre a pedra angular daquilo que cada um sente ser. Afinal, essa sensao de ser que deve conferir sentido aos papeis e a prpria e vida e no o contrario.

dentro desse contexto que surge o conceito de Identificao que foi introduzido acima. Na Identificao, ao experimentar as coisas, a sensao de ser ou a identidade se perde. A pessoa se identifica com o que est acontecendo de tal forma e em tal intensidade que sua sensao central de ser desaparece. Ela no capaz de sentir a si mesmo ao mesmo tempo em que exerce a atividade em questo. Essa sensao primeira de ser desaparece, e ela se envolve completamente com o que est acontecendo. E essa identificao pode acontecer tanto frente aos eventos externos quanto a contedos internos. Por isso, no estado de adormecimento no h uma apreciao da vida e uma relao consciente com os eventos e consigo mesmo, pelo contrario, existe apenas reao condicionada.

Por exemplo, um evento qualquer que deflagra uma emoo muito forte que acontece em um determinado momento do dia pode manter a pessoa presa a ele por um longo perodo de tempo. Ao longo do dia, ela revive muitas vezes o que aconteceu atravs de dilogos mentais ou padres emocionais, e se mistura de tal forma com o acontecimento que sua sensao de ser desaparece. Nessa situao como se a pessoa fosse as suas prprias reaes diante do evento, ou seja, ela no capaz de perceber que aquilo aconteceu a ela num determinado momento e que passou. Ao contrrio, isso tudo se transforma na totalidade daquilo que a pessoa ela no capaz de se desassociar da emoo ou do acontecimento em si. como se nos momentos de identificao mais extremos, a pessoa deixasse de ser ou de existir porque sua sensao de ser ou existir se perde. Tudo o que sobra de si mesmo a identificao com o evento e as reaes internas decorrentes. A sensao de que se algo dissociado disso, que experimentou essa ocorrncia, mas que existe e permanece existindo apesar dela, desaparece. E assim, ela sequer capaz de perceber que a prpria impresso dela frente este evento resultado de um processamento mecnico, tingido com aspectos emocionais e perspectivas intelectuais que no possuem relao com a realidade.

Porm, importante entender que a Identificao apresenta vrias vantagens e no deveria consistir em um problema em si. A Identificao faz parte da natureza da conscincia humana e ela que permite o aprendizado e o desenvolvimento pleno da individualidade. O fato de ser possvel se envolver com uma demanda real no sentido de resolve-la, ou de aprender algo a partir dela, obviamente consiste numa capacidade fundamental do ser humano. O problema est na perda dessa sensao nuclear de ser ou da identidade.


De certa forma, possvel considerar que, na verdade, a pessoa deveria identificar-se justamente com essa sensao de ser, e ento viver o dia a dia a partir dessa perspectiva. Cada vivncia deveria ter como base esse ncleo de identidade cada evento ou situao no deveria anular essa sensao de identidade. Ela deve permanecer o ponto de perspectiva atravs do qual se relaciona com a vida e isso define seu aprendizado, crescimento e desenvolvimento. Ou seja, a essa identidade central deve ser conferida a liberdade de saborear e mergulhar, de fato, dentro das perspectivas da vida. Ela deve ser a base da sensao de ser, e no a auto-imagem e os papis que a personalidade desenvolveu ao longo de seu processo de crescimento.

Outro problema a ser considerado acerca da Identificao que, geralmente, ela totalmente desnecessria ela acontece diante de elementos ilusrios, que nascem dos julgamentos exagerados que so feitos frente s diversas situaes do dia e dia e mantm o indivduo aprisionado inutilmente, de forma descontrolada, em padres muito estreitos. Com o tempo, as pessoas nessas situaes acabam perdendo a dimenso de quem elas so, e quais so suas reais necessidades e funes diante da vida.

Por isso, resgatar essa sensao de ser ou uma identidade permanente, que mantida como um pano de fundo diante dos acontecimentos dirios torna-se fundamental para restabelecer o equilbrio do indivduo dentro da realidade.

Resumindo, o estado de adormecimento acarreta algumas conseqncias. Por um lado, uma falta de capacidade de relacionar-se com a realidade e consigo mesmo de forma mais eficiente e objetiva. Por outro, ele induz Identificao exacerbada, onde se perde com freqncia, a identidade que confere ao indivduo uma sensao de ser mais permanente e slida. Somente com o restabelecimento de uma nova sensao de ser o individuo poder se libertar de padres emocionais e mentais limitados. Conseqentemente poder ser ampliada sua capacidade de percepo da realidade e de si mesmo, possibilitando a ele relacionar-se com os elementos do dia a dia de forma mais saudvel. A Auto Observao consiste justamente, numa das prticas que visa corrigir esses exageros.

A Auto Observao e seus nveis A Auto Observao um processo desenvolvido de forma gradual e que pode ser dividido, para fins didticos, em alguns nveis (Figura 1).


Figura 1. Esquema dos nveis da Auto Observao

O primeiro nvel (A) consiste na capacidade bsica da observao, que visa retirar o indivduo de seu estado de sono e de identificao e desenvolver a capacidade de registrar de forma mais ativa, o que acontece ao seu redor. Isso implica inclusive, num trabalho direcionado aos prprios rgos sensoriais, especialmente a viso, de tal forma a realmente captar, registrar e tomar conscincia do que est sendo observado. Nesse processo o indivduo solicitado a observar atentamente o que est acontecendo ao seu redor e registrar seus detalhes e nuances.

O segundo nvel (B) consiste no treinamento da Auto Observao. A Auto Observao pode ser considerada como um tipo especial de observao onde, a motivao que d origem ao processo no mais apenas o objeto ou evento em si, mas tambm a prpria pessoa que o realiza. Na Auto Observao o foco se divide em dois: ao mesmo tempo em que a pessoa observa o que est acontecendo ao seu redor, ela observa a si mesmo.

Esse nvel, num primeiro momento, visa permitir ao indivduo mapear melhor suas respostas frente aos eventos externos. Com isso, a pessoa pode estudar e conhecer melhor a si mesma, suas reaes, preferncias, vieses, comportamentos, emoes e atitudes. As mudanas de seus estados internos frente aos eventos e acontecimentos do dia a dia so observadas cuidadosamente, como se fossem um espelho no qual refletido aquilo que est acontecendo externamente.

Nesse nvel tem incio o desenvolvimento da capacidade de observar a realidade e a si mesmo e registrar conscientemente o que est acontecendo, porm ainda a partir da perspectiva da personalidade. Pois, nessa fase, o que se observa da realidade ainda tingido pelos prprios contedos do ego. Nesse contexto pode ser aplicada a frase que diz que no vemos as coisas como elas so, mas sim, como ns somos.

Esta capacidade de gerar uma observao volitiva e consciente, que observa os fatos e eventos e a si mesmo, por si s um ato que diferencia a conscincia ou a identidade daquilo que est sendo observado. Ao mesmo tempo, d origem a uma nova sensao de ser que agora se liberta e se diferencia, paulatinamente, da identificao com o sono da Mquina.


Apesar de, nessa fase, o agente que pratica a Auto Observao ser ainda a personalidade, ela fundamental, pois ser a base do desenvolvimento do nvel seguinte. Para corrigir os exageros que a personalidade pode impor no processo da Auto Observao nessa fase, necessrio desenvolver a capacidade da Auto Observao Imparcial, um tema fundamental que ser tratado especificamente mais abaixo.

J o terceiro nvel (C) consiste no desenvolvimento de uma nova estrutura de ser que servir de repositrio para a identidade. Essa capacidade est associada com o conceito de Eu Observador que passar a fornecer uma sensao de ser mais permanente e que atuar como um novo ponto de perspectiva a partir do qual se exercer a Auto Observao. Ou seja, aos poucos, a base da Auto Observao passa a ser esse Eu Observador e no mais a personalidade. Isso traz como consequncia no s a permanncia da identidade frente aos eventos do dia a dia, como tambm liberta a percepo da realidade dos vieses e limites da personalidade.

Retomando o que foi discutido acima sobre a identidade: no incio do treinamento, o indivduo est imerso nos contedos da personalidade e, portanto, no existe uma identidade ou sensao de ser distinta do ego. Nesse caso, como quase no h conscincia, a sensao de ser, os contedos da personalidade e o prprio objeto se confundem no que foi chamado acima de Identificao. Uma das conseqncias desse tipo de associao a flutuao em termos dos humores, emoes, opinies e idias - como no h uma identidade permanente, a sensao que se tem de si mesmo muda de acordo com as mudanas do ambiente externo ou dos humores internos.

Com o treinamento, porm, esse quadro comea a mudar. Uma nova perspectiva torna-se possvel nos momentos em que, volitivamente, o indivduo se desidentifica e liberta a sensao de ser da personalidade, e capaz de sentir a si mesmo observando as coisas. Essa nova sensao fundamental, e ela s se tornar permanente com um treinamento prolongado e no esforo em manter por longos perodos essa forma de interagir com a realidade e de sentir a si mesmo. E esse estado mais permanente que corresponde formao do Eu Observador, que passar a servir como uma alternativa ao estado de Identificao.

Um dos questionamentos mais comuns frente a esse treinamento consiste no receio de que o desenvolvimento da Auto Observao acarrete um distanciamento em relao aos fenmenos da vida. Mas necessrio compreender que a relao condicionada e repetitiva que a personalidade estabelece com a realidade, e que fundamenta o estado de Identificao, consiste no maior grau possvel de distanciamento. Uma vez que este o nvel mais baixo de expresso da conscincia, a relao que estabelecida nesta perspectiva, no uma relao com a vida e com seus fenmenos, mas uma relao com as vises pessoais, fantasias e opinies fundamentadas na prpria personalidade. Somente a partir da libertao do indivduo desses contedos subjetivos que so impostos realidade e a si mesmo que se tornar possvel uma relao menos ilusria e mais profunda com a realidade e consigo mesmo.

O incio da Auto Observao e suas constataes Para fins didticos, no incio do processo, o foco da Auto Observao pode ser relacionado com as trs principais dimenses do funcionamento da personalidade: o corpo, as emoes e os pensamentos. Isso permite ao indivduo conhecer os traos caractersticos de sua personalidade e como eles influenciam sua relao com a realidade e consigo mesmo.


Assim, frente aos estmulos diversos do dia a dia, o praticante busca observa-los e ao mesmo tempo, observar como seu corpo reage, por exemplo, suas tenses, tiques nervosos, respirao, movimentao e posturas mais comuns. Isso permite observar os limites e condicionamentos corporais que definem a sua relao com a realidade nesse nvel.

O mesmo vale para as emoes, por exemplo, reaes de medo, alegria, raiva e ansiedade podem ser o foco da observao pessoal, ao mesmo tempo em que a pessoa se relaciona com os eventos dirios. Geralmente, a personalidade apresenta uma gama muito restrita de expresses emocionais condicionadas e repetitivas, o que faz com que a forma de se relacionar emocionalmente com a realidade e consigo mesmo seja limitada e igualmente repetitiva. Isso pode ser facilmente percebido nessa fase de estudos associados Auto Observao.

No que se refere aos pensamentos, as perspectivas pessoais relacionadas ao intelecto geralmente, restringem-se aos contedos aprendidos e reforados ao longo da formao da personalidade. Isso determina a forma com que cada um compreende e interage com a realidade e consigo mesmo. muito freqente, ao observar a atividade mental, perceber uma estreiteza de viso e de limites pessoais, bem como, fantasias, devaneios e projees que poluem e limitam a relao com a realidade.

Essas trs dimenses da personalidade compem um conjunto de hbitos que geralmente so exercidos inconscientemente ao longo do dia, frente maioria das situaes rotineiras. Com o incio da prtica, torna-se possvel observ-los de forma mais acurada, e perceber o quanto o dia gasto em funo quase que exclusivamente da repetio deles. E o quanto tambm, a maioria dos comportamentos que nascem a partir dos contedos da personalidade reativo e condicionado. Ou seja, muito pouco existe em termos das relaes que as pessoas estabelecem com a realidade que no seja baseado nesses hbitos. Assim, a Auto Observao poder conduzir a uma constatao muito bsica, mas fundamental, de que cada um vive seu dia a dia, atravs desses hbitos e o quanto eles limitam a apreenso de si mesmo e da vida.

Assim, uma das conseqncias da Auto Observao nessa fase ser a de permitir o praticante flagrar certas associaes entre corpo, emoo e pensamento. Ou seja, muitas vezes, posturas corporais muito habituais e que podem envolver inclusive, tenses exageradas, esto associadas a padres emocionais igualmente habituais e tambm, associadas a estruturas mentais.

Por exemplo, a emoo da tristeza pode estar associada a uma srie de idias bem especficas sobre a vida e tambm, com uma postura corporal especfica, por exemplo, mais encurvada, onde se olha freqente para baixo. J a emoo de raiva, por exemplo, em casos crnicos, pode conduzir a uma tenso exagerada na regio dos ombros ou do abdmen e determinar tambm uma srie de pontos de vista e opinies correlatas sobre os acontecimentos da realidade. E estas associaes crnicas de corpo-emoo-mente so impostos frente ao que acontece na realidade de tal forma que, aquilo que percebido tingido por essas associaes. Assim, independente do que de fato esteja ocorrendo, tudo o que a pessoa consegue experimentar da vida tem relao com a tristeza, no primeiro exemplo, e com a raiva, no segundo. A pessoa pode estar diante de um evento novo e desconhecido, mas ela no capaz de se relacionar objetivamente com a realidade e acaba ficando presa repetio de seus padres mais habituais.

Assim, comum esse trabalho revelar ao praticante uma vida, em quase sua totalidade, condicionada e repetitiva, limitada por padres corporais, emocionais e/ou mentais dos quais parece ser impossvel escapar ou mesmo controlar. Dessa forma, a relao que


cada um estabelece com a realidade freqentemente poluda por esses processos, uma vez que, sobre a realidade, so projetados esses contedos da personalidade.

Observar esses aspectos da personalidade e compreender quais so os elementos pessoais que mantm cada indivduo preso a suas limitaes fundamental para que seja possvel libertar-se deles.

A Auto Observao Imparcial As constataes citadas no item anterior conduzem o indivduo a perceber o quanto ele est separado e distanciado de uma apreenso objetiva da realidade, e o quanto isso decorrente de seus prprios limites e condicionamentos. Isso tem como consequncia um desconforto no somente frente a essa situao, mas principalmente frente observao e constatao dos mecanismos internos que o mantm preso a isso.

Para que o processo tenha continuidade fundamental suprimir a tendncia mecnica de julgar e interpretar aquilo que est sendo observado - e isso vale tanto para aquilo que est sendo observado acerca da realidade quanto acerca de si mesmo.

O indivduo deve evitar impor um julgamento sobre aquilo que observado na realidade porque esse julgamento ainda nascer poludo pelas perspectivas mecnicas da personalidade. De fato, o julgamento em si um resultado dessa mecanicidade apenas, por mais elevado ou justo que ele possa parecer.

importante notar que essa imparcialidade no consiste em um comportamento distante ou aptico. Essa atitude visa permitir que surja uma capacidade de observar a realidade de forma mais neutra, direta e objetiva, sem impor a ela uma qualificao, seja de que ordem for. Uma metfora que talvez possa ajudar na compreenso da necessidade pela imparcialidade comparar essa atitude com a observao da realidade que uma criana pequena faz. Ela se relaciona de uma forma mais direta com as coisas, exercendo uma certa curiosidade, pois tudo tem um sentido implcito de novidade e lhe desperta o interesse. Afinal, na infncia a personalidade ainda est em processo de formao e aprendizado, portanto, consiste numa estrutura mais flexvel. justamente esse estado que buscado nessa fase, onde tudo observado com intensidade sem que o indivduo se deixe levar por seus processos mecnicos de julgamento, aprendidos e condicionados ao longo de sua vida.

Para algumas pessoas ser mais difcil exercer a Auto Observao Imparcial em relao aos estados internos percebidos do que em relao aos eventos externos. Em alguns casos perceber a prpria mecanicidade e a falta de controle sobre os processos habituais relacionados aos padres emocionais, mentais e/ou corporais muito doloroso e deflagra uma srie de emoes e julgamentos que s com muita dificuldade podero ser controlados. Mas fundamental observar esses processos internos com a mesma imparcialidade, pois apenas dessa postura que surgir uma nova estrutura realmente livre das identificaes e imposies da personalidade. O que se busca durante essa fase mapear a si mesmo da forma mais acurada possvel. Quanto mais imparcial for o processo, mais fcil ser flagrar todos os mecanismos que determinam os padres pessoais de comportamento, sentimento e percepo.

Assim, a Auto Observao deve acontecer sem que se desperte nenhum desejo e impulso de alterar os eventos externos, ou as emoes, atitudes e pensamentos observados. Esta imparcialidade fundamental para o desenvolvimento pleno do processo de Auto Observao e da formao do Eu Observador.


Somente a partir do treinamento dessa imparcialidade que surgir uma perspectiva livre dos vieses e hbitos da personalidade, que do contrrio, voltar a poluir novamente o processo com novos condicionamentos e mecanicidade. Alm disso, corre-se o risco das mudanas acabarem tendo como origem, apenas a vaidade do prprio ego. Assim, o esforo que deveria ser dirigido ao desenvolvimento de uma conscincia plena, acaba por tornar-se um processo que fortalece ainda mais o ego, ao invs de diluir sua influncia.

Essa imparcialidade necessria para que essa nova estrutura, por ser formada fora dos limites da personalidade e dos vieses do ego, possa abrigar a identidade de forma mais permanente. Gera-se um novo ponto de perspectiva, onde despertada uma identidade livre da associao com os elementos que a personalidade produz e o ego sustenta, em termos de viso de mundo e auto-imagem. E nessa fase, essa identidade inicial e permanente fundamenta-se justamente na experincia da pessoa sentir a si mesma praticando a Auto Observao. Apesar dela estar apoiada ainda em algo muito simples (a sensao de sentir-se observando as coisas), isso ser o embrio de uma identidade mais plena que poder se desenvolver a partir de outras prticas mais especficas.

importante compreender que a Mquina busca atingir uma eficincia mxima em termos da rotina, de forma a fazer aquilo que for necessrio com um mnimo de esforo. Uma vez aprendidos, certos comportamentos bsicos no necessitam mais de uma concentrao volitiva da ateno e da observao eles acontecem de forma totalmente inconsciente.

Por exemplo, no momento em que uma pessoa est aprendendo uma habilidade, como guiar um carro, necessrio uma concentrao absoluta sobre o que est acontecendo. Porm, depois que o aprendizado se encerra, tudo acontece por si s, de tal forma que o motorista quase nem precisa prestar mais ateno aos gestos necessrios para controlar o automvel.

Isso algo positivo quando se refere a algumas atividades rotineiras, especialmente de ordem motora, porm, o problema surge quando esse processo acaba englobando a maioria do funcionamento da personalidade. Assim, as emoes, pensamentos e, portanto, a prpria relao do indivduo com a realidade e consigo mesmo, acabam acontecendo sem que haja a participao da conscincia, e isso que caracteriza o estado de adormecimento.

Assim, no se trata exatamente de erradicar os comportamentos mecnicos, porque a maioria deles fundamental para a vida do dia a dia, mas sim de desenvolver novos nveis de conscincia. E o primeiro passo nesse sentido consiste justamente em sentir a si mesmo praticando a Auto Observao imparcialmente.

Quanto maior for a imparcialidade e ausncia de julgamentos durante a Auto Observao, mais seguro ser o processo de criar um novo ponto de perspectiva fora da personalidade, uma vez que haver um maior discernimento. importante perceber que o foco no consiste em mudar os comportamentos da Mquina e sim, desenvolver uma nova sensao de ser que a complemente e supere. Desse ponto surgiro novas perspectivas, e delas, novas expresses emocionais e intelectuais, que iro gerar novos comportamentos e valores. medida que a identidade for se estabelecendo nessa nova estrutura, muitos dos mecanismos condicionados perdero sua fora e significado, por isso desnecessrio lutar diretamente contra eles nessa fase do processo.

Outro fator importante que se a Auto Observao no for imparcial corre-se o risco de limit-la apenas aos aspectos que a pessoa julga serem bons ou ruins, dependendo de


suas tendncias psicolgicas. Ou seja, algumas pessoas, que tendem a supervalorizar aquilo que elas acham que so seus aspectos mais negativos tendero apenas a observar esses aspectos, inserindo assim um vis em termos da observao global de si mesmas. Ao contrrio, as pessoas que supervalorizam aquilo que acham ser seus aspectos positivos tendero a observ-los apenas. Como o objetivo estabelecer a identidade fora dos limites da personalidade e do ego, este tipo de postura apenas afirma e justifica o envolvimento com certos aspectos parciais dessas estruturas. Portanto, para observar-se objetivamente em todos os aspectos possveis, fundamental a ausncia de qualquer tipo de julgamento. Afinal, o intuito no mudar o que est sendo observado, mas estabelecer um ponto de perspectiva fora da personalidade, capaz de gerar uma nova forma de sentir a si mesmo e assim uma nova estrutura para a identidade, dissociada das velhas referncias.

O desenvolvimento desse processo conduz a uma percepo de que existe algo mais em termos de identidade que no se resume aos comportamentos habituais condicionados. Esta nova expresso de identidade aponta para uma sensao de ser que mais constante, menos catica e dispersa. Isso pode ser considerado como um bom indcio do incio da formao do Eu Observador que, aos poucos, abrir as portas para novas dimenses de ser.

Existem outros indcios importantes desta etapa de desenvolvimento, porm, muitas vezes, eles geram incmodo nas pessoas, fazendo-as esmorecer, ou at abandonar o processo. Estas perturbaes geralmente surgem do atrito entre essa nova estrutura que est sendo formada e a estrutura vigente, que desencadeia um questionamento profundo e a sensao de perda de identidade. Na verdade, esses elementos demonstram que o contato com uma identidade real est tendo incio e, medida que os demais passos forem dados, ela poder se desenvolver plenamente.

O Eu Observador e os mltiplos eus Se a Auto Observao for feita de forma correta, logo se perceber que existem certos comportamentos ou hbitos que so mais comuns e que esto conectados entre si, formando teias encadeadas de respostas mais ou menos automticas. Esses conjuntos de hbitos encadeados formam certas estruturas de identidade que podem ser consideradas como mltiplos eus, um termo utilizado por Gurdjieff e seus seguidores para discutir certos aspectos da conscincia. Cada um desses eus funciona praticamente como um personagem, que o indivduo assume frente a diferentes situaes.

Esses eus so formados a partir de um conjunto de elementos externos que so aprendidos, reforados e condicionados. Por exemplo, as relaes com os amigos, familiares, emprego, a influncia dos meios de comunicao, formas tradicionais de ensino, presso cultural, entre outros, definem padres de comportamento, emoes e de pontos de vista que se instauram nas pessoas e surgem frente s situaes comuns.

Por exemplo, um desses padres pode consistir no eu que lida com as situaes de trabalho (hierarquia, liderana, presses em relao aos prazos, competio interna); um outro eu pode ser o que lida com questes de famlia (relao com esposa/marido e filhos); um outro ainda, o que lida com situaes de amizade (viagens, interaes sociais, passeios) e assim por diante.

Novos eus podem so gerados apenas medida que o indivduo cresce em direo maturidade e entra em contato com situaes novas para as quais ainda no dispe de um eu capaz de lidar com elas. Mas esse processo no consciente, ou seja, os eus


so gerados de forma inconsciente, a partir do teste, seleo e repetio de comportamentos que parecem resolver os problemas ou que so bem sucedidos. No entanto, na vida adulta esse processo praticamente cessa - cada pessoa acaba apresentando um conjunto de mltiplos eus que so compostos de condicionamentos e comportamentos que definem um tipo de reao frente a alguma solicitao do meio. Mesmo que a situao mude ligeiramente, por exemplo, a pessoa troca de emprego e assume um novo cargo, o antigo eu que lida com essas questes poder passar por alguns ajustes, mas geralmente, ele manter seus padres. Somente em casos muito pouco comuns, um novo eu ser formado. A consequncia mais imediata disso que muitas vezes, frente a situaes novas, as pessoas acabam exibindo os mesmos comportamentos antigos elas repetem aquilo que foi cristalizado nelas ao longo do tempo e nem sempre conseguem apresentar atitudes mais flexveis, novas e criativas.

Assim, esses eus que so desenvolvidos e testados ao longo da vida adulta, acabam se cristalizando e so eles que, em parte, acabaro por atuar como um dos fundamentos do estado de sono e de mecanicidade. Eles se sucedem ao longo do tempo, em resposta aos conjuntos de estmulos externos que surgem no dia a dia. Esses estmulos so reconhecidos como fazendo parte de um padro experimentado anteriormente e desencadeiam o surgimento de um dos eus. Quando os estmulos mudam, outro eu assume o comando e permanece atuando at que as condies mudem novamente - e isso geralmente acontece de forma reacional e, portanto, quase inconsciente.

Cada eu, ao se expressar a partir de um conjunto de estmulos exteriores, perde a noo da natureza mltipla dos eus e, temporariamente, enquanto se encontra no controle, acredita ser nico e permanente. Se a conscincia de viglia (ou o estado de adormecimento) o mximo que o indivduo foi capaz de atingir em termos do desenvolvimento de sua conscincia, ele apresentar pouca capacidade de centralizar-se e de manter uma identidade que seja contnua e permanente, de tal forma a se tornar um foco e referncia. Desta maneira, quando um dos eus se expressa a partir de um elemento reacional desencadeador, o indivduo se confunde com esse eu que, devido ao estado de adormecimento, lhe parece ser nico. E isso conferir ao indivduo um tipo muito tnue e fragmentrio de identidade cuja fundamental caracterstica a impermanncia. Porm, o ego fornece ao individuo uma falsa sensao de ser apoiada naquilo que ele acredita ser, uma auto-imagem que impede com que ele contemple essa fragmentao e impermanncia.

Esses mltiplos eus costumam ser mais ou menos coerentes. Somente em casos mais extremos possvel flagrar algum tipo de desconexo mais exagerada. Por exemplo, suponha um indivduo bem educado que tenha como padro de comportamento ser polido, paciente e preferir conversar educadamente ao invs de discutir. possvel que, quando um indivduo que exibe esse conjunto de comportamentos esteja sobre algum tipo de presso maior, ele possa demonstrar certos padres de resposta que no lhe so caractersticos. Por exemplo, ele pode ter atitudes desconexas como esbravejar, ou esmurrar a mesa, ou mesmo ter uma crise de choro. Mas o que freqentemente se observa, que mudanas grandes de comportamento como essas no acontecero em circunstncias comuns.

Ou seja, os eus geralmente apresentam certa coerncia e exibem conexes bsicas entre si que conferem ao indivduo aquilo que no Quarto Caminho costuma ser chamado de Trao Principal. Esse Trao pode ser entendido como um elemento central que caracteriza cada pessoa, e faz com que ela seja reconhecida como possuindo uma identidade central que a diferencia das demais. Muitas vezes, esse Trao condensa os aspectos com os quais a pessoa mais se identifica, ou seja, ela reconhece esse Trao


como sendo aquilo que ela . E muitas vezes tambm, dependendo do grau de identificao, ser esse o elemento de maior apego e que muitas vezes, implicar num trabalho mais intenso para que a pessoa reconhea que ela no esse Trao pelo qual ela se define.

Assim, a tcnica da Auto Observao consistir num passo inicial no estudo desses mltiplos eus e da forma como eles se organizam formando essa identidade mais fragmentria que se sobrepe a uma identidade central e permanente. Porm necessrio considerar que, o conjunto de eus que ser possvel identificar ao longo das prticas limitado frente ao nmero de eus que existem e ainda no foram detectados. Como o tempo para realizar esse trabalho finito, torna-se secundrio identific-los todos. O objetivo mais importante consistir em reconhecer o carter multifacetrio e fragmentrio daquilo que se considera a identidade e ento, dar o passo seguinte, que consiste em gerar o que chamado de Eu Observador.

O Eu Observador possui um papel fundamental. Ele consiste no desenvolvimento de uma nova sensao de ser que gerada a partir da prtica da Auto Observao e que tem como objetivo registrar tudo o que acontece com o indivduo no dia a dia. Como j foi dito, o Eu Observador tem como regra ser imparcial, e fazer esse registro sem estabelecer qualquer julgamento, juzo, comparao ou justificativa. Ele fundamentalmente neutro.

A imparcialidade e neutralidade, j citadas acima, so parte da natureza intrnseca do Eu Observador. Ele no tem o mesmo conjunto de valores da personalidade e por isso, no se envolve, valoriza e nem se identifica com eles. Enquanto ainda houver julgamentos sobre o que est sendo observado, sinal de que ainda se est identificado com os valores da personalidade, pois caracterstica intrnseca do Eu Observador a ausncia disso.

Assim, mais do que meramente coletar informaes, o processo de Auto Observao ir resgatar uma identidade central, ou seja, aos poucos o indivduo passar a sentir esse Eu Observador como sendo aquilo que ele . Sua identidade no mais estar fragmentada - ao contrrio, sua identidade agora se concentra ao redor do Eu Observador, e se mantm como um pano de fundo que observa de forma constante a si mesmo e o entorno, sem se identificar de forma mecnica com tudo o que acontece.

importante compreender que o Eu Observador ainda uma estrutura intermediria. Como foi dito acima, ele consiste em um primeiro repositrio da identidade, que de certa forma a protege de cair novamente prisioneira das identificaes. Espera-se que esse Eu ainda passe por uma srie de desenvolvimentos posteriores, para dar origem ao que no Quarto Caminho chamado de Eu Permanente. Ouspensky (Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido) definiu o Eu Permanente da seguinte forma: Em vez da atividade discordante e freqentemente contraditria de diferentes desejos, h um s eu, inteiro, indivisvel e permanente; h uma individualidade que domina o corpo fsico e seus desejos e pode superar suas averses e resistncias. Em lugar de um pensar mecnico h a conscincia. E h a vontade, isto , um poder no mais composto de desejos variados e geralmente contraditrios, pertencentes aos diferentes eus, mas um poder oriundo da conscincia e governado pela individualidade ou um Eu nico e permanente. S essa vontade se pode dizer livre, porque ela independente do acidente e no pode mais ser alterada nem dirigida de fora.

Assim, a tcnica da Auto Observao no apenas situa o indivduo dentro do processo de desenvolvimento pessoal, como indica a direo que esse desenvolvimento dever seguir. A formao do Eu Observador um ponto crucial para que os demais passos


possam ser dados em direo ao resgate e desenvolvimento de uma identidade que transcende e supera a Mquina e os condicionamentos mecnicos.

O Eu deve ser entendido como uma estrutura multidimensional, ou seja, ele no consiste nos aspectos mecnicos ou inconscientes e nem deve ser considerado como um sinnimo de mecanicidade. Como foi dito acima, a identidade individual surge ao longo do crescimento e amadurecimento, da soma de tudo aquilo que cada pessoa aprendeu, vivenciou, conheceu, experimentou e desenvolveu no sentido de tornar-se vivel na realidade. Os aspectos mecnicos e condicionados devem ser corrigidos, mas essa individualidade em momento algum dever ser descartada ou destruda. O que se busca, ao contrrio, conduzir esse Eu a sua perfeio inerente.

Nesse contexto, o Sufismo, da mesma forma que outras tradies, sugere certas gradaes do Eu. Nessa tradio o Eu chamado de nafs (uma palavra no singular) e passa por uma srie de estgios ao longo de seu aperfeioamento. Mas, como esse assunto j foi apresentado em outro texto, ele no ser detalhado aqui (ver http://www.imagomundi.com.br/espiritualidade/nafs.pdf). Autoria: ImagoMundi - http://www.imagomundi.com.br


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