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 1 Introdução “O de que mais se precisa no preparo dos juristas de hoje é fazê -los conhecer bem as instituições e os problemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o papel que representam na atuação daquelas (instituiçõ es) e aprender as técnicas requeridas para a solução destes (problemas)”(Bodenheimer)  • Apresentação do curso. Orientações gerais.  • Obra básica do curso: Elementos de Teoria Geral do Estado, de DALMO DE ABREU DALLARI (ed. Saraiva). • Leitura obrigatória para o semestre: O que é participação política, de DALMO DE ABREU DALLARI (Coleção Primeiros Passos, ed. Brasiliense). • Programa da disciplina, bibliografia, resumos e textos complementares em: http://professormarum.blogspot.com/ • Por que e studar Política e Estado num cu rso de Direito? • Para Goffredo Telles Jr., o Direito como disciplina da convivência humana e garantia da liberdade. Para que as pessoas possam conviver em sociedade, são necessárias algumas regras, pois onde há fracos e fortes, a liberdade oprime, a lei é que liberta (Lacordaire) • O que é política? Política é tudo que diz re speito à polis (cidade ou Estado em grego): leis, governo, obras e serviços públicos, polícia etc. • Definição: “Política é o complexo de atividades que se realizam na prática para a lcançar, exercer ou manter o poder estatal” (REINALDO DIAS). • A disciplina da convivência humana (Direito) é elaborada e imposta pelo Estado, por meio da Política. • A Ciência Política é o conhecimento e o e studo sistematizado da Política  • A importância da participação política. “Quem não se interessa pela política condena -se a ser g overnado pelos que se interessam” (Toynbee)  "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o c usto de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra e corrupto. O analfabeto político é lacaio dos exploradores do povo." (Bertold Brecht) “Primeiro, eles vieram pegar os comunistas, mas eu nã o era comunista e não falei nada. Depois vieram pegar os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum dos dois e não falei nada. Logo vieram pegar os judeus, mas eu não sou judeu e não falei nada. E, quando vieram me pegar, não sobrava mais ninguém que pudesse falar por mim” (Texto atribuído a Bertold Brecht, mas que na verdade é de Martin Niemoller, pastor protestante que sobreviveu aos campos de concentração nazistas).

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1 – Introdução

“O de que mais se precisa no preparo dos juristas de hoje é fazê-los conhecer bem as instituições e osproblemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o papel que representam na atuação

daquelas (instituições) e aprender as técnicas requeridas para a solução destes(problemas)”(Bodenheimer) 

• Apresentação do curso. Orientações gerais. 

• Obra básica do curso: Elementos de Teoria Geral do Estado, de DALMO DE ABREU DALLARI (ed.

Saraiva).

• Leitura obrigatória para o semestre: O que é participação política, de DALMO DE ABREU DALLARI(Coleção Primeiros Passos, ed. Brasiliense).

• Programa da disciplina, bibliografia, resumos e textos complementares em:

http://professormarum.blogspot.com/

• Por que estudar Política e Estado num curso de Direito?

• Para Goffredo Telles Jr., o Direito como disciplina da convivência humana e garantia da liberdade. Para

que as pessoas possam conviver em sociedade, são necessárias algumas regras, pois onde há fracos e fortes,a liberdade oprime, a lei é que liberta (Lacordaire)

• O que é política? Política é tudo que diz respeito à polis (cidade ou Estado em grego): leis, governo, obras

e serviços públicos, polícia etc.

• Definição: “Política é o complexo de atividades que se realizam na prática para alcançar, exercer oumanter o poder estatal” (REINALDO DIAS).

• A disciplina da convivência humana (Direito) é elaborada e imposta pelo Estado, por meio da Política.

• A Ciência Política é o conhecimento e o estudo sistematizado da Política 

• A importância da participação política.

“Quem não se interessa pela política condena-se a ser governado pelos que se interessam” (Toynbee) 

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentospolíticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato edo remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que estufa o peito dizendoque odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menorabandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra e corrupto. O analfabetopolítico é lacaio dos exploradores do povo." (Bertold Brecht)

“Primeiro, eles vieram pegar os comunistas, mas eu não era comunista e não falei nada. Depois vierampegar os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum dos dois e não falei nada. Logo vieram pegaros judeus, mas eu não sou judeu e não falei nada. E, quando vieram me pegar, não sobrava mais ninguémque pudesse falar por mim” (Texto atribuído a Bertold Brecht, mas que na verdade é de Martin Niemoller,

pastor protestante que sobreviveu aos campos de concentração nazistas).

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“Diferentemente de qualquer outra comunidade, nós, atenienses, consideramos aquele que não participade seus deveres cívicos não como desprovido de ambição, mas sim como inútil” (Péricles, 430 a. C.) 

“Existe uma atividade política autêntica, necessária, voltada para o bem comum. Essa atividade tem alto

 valor moral, porque se inspira na solidariedade humana e na consciência de que todos os seres humanossão responsáveis pela defesa e promoção da dignidade humana” (Dalmo Dallari).

I – A Sociedade

“A sociedade é produzida por nossas necessidades e o governo por nossa perversidade” (Thomas Paine,Senso comum)

“A sociedade é feita e imaginada (...) portanto, ela pode ser refeita e reimaginada” (Roberto MangabeiraUnger, Política)

1. Origem da sociedade

• O homem: animal político. O ser humano é um ser social. Desde o nascimento, vive normalmente emsociedade: família, escola, clube, igreja, cidade, Estado (“país”), sociedade global. O ser humano isolado é

uma exceção. O que leva o homem a viver em sociedade?

• Por que vivemos em sociedade? Determinar o motivo pelo qual o ser humano se reúne em sociedade éimportante para se determinar a posição do indivíduo na sociedade: o ser humano foi feito para a

sociedade ou a sociedade foi feita para o ser humano? O que é mais importante, a coletividade ou oindivíduo?

• Teorias sobre a origem da sociedade:

a) sociedade natural – o ser humano é dotado de um instinto de sociabilidade que o leva naturalmente a viver em sociedade – o homem é um animal político (ênfase no todo, no coletivo: organicismo): Aristóteles,Cícero, S. Tomás de Aquino, Ranelletti.

“A sociedade que se formou da reunião de várias aldeias constitui a Cidade, que tem a faculdade de se

 bastar a si mesma, sendo organizada não apenas para conservar a existência, mas também para buscar o

 bem-estar. Esta sociedade, portanto, também está nos desígnios da natureza (...) É, portanto, evidente quetoda Cidade está na natureza e que o homem é naturalmente feito para a sociedade política” (Aristóteles – 384 a.C. - 322 a.C.)

 b) sociedade como ato racional – teorias contratualistas: negam o impulso associativo natural; a sociedadeé uma criação humana, fruto de uma decisão racional (ênfase no indivíduo - mecanicismo); partindo doestado de natureza, o homem, baseado na razão e por vontade própria, firma um contrato social,estabelecendo um governo e regras para a vida em sociedade.

• Os contratualistas:

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a) Thomas Hobbes(1588-1689): a natureza humana não muda, é sempre a mesma (“conhece-te a timesmo”); o homem é mau, invejoso, ambicioso, cruel e não sente prazer na companhia do outro; o estadode natureza é uma “guerra de todos contra todos”; o “homem é o lobo do homem”; sem lei nem autoridade,

todos têm direito a tudo; a vida é “solitária, pobre e repulsiva, animalesca e breve”; para fugir desse estado,

reúnem-se em sociedade e firmam o contrato social, estabelecendo uma autoridade soberana com poderilimitado e incontestável para impor a ordem (Estado – Leviatã); o pacto é de submissão e não pode ser

quebrado; justificação do absolutismo. Obra: O Leviatã.

“Porque as leis de natureza (como a justiça, a eqüidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aosoutros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para aparcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E os pactos sem a espada não passam de palavras(...) À multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração daquelegrande Leviatã, ou melhor (para falar em termos mais reverentes), daquele Deus Mortal, ao qual devemos,abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduono Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz deconformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os

inimigos estrangeiros” (Hobbes)

 b) John Locke(1632-1704): inspirador da “Revolução Gloriosa”, que estabeleceu a monarquia moderada naInglaterra (1688-89); estado de natureza pacífico, com os homens gozando dos direitos naturais à vida, àliberdade e aos bens; contrato social para a proteção desses direitos; o consentimento é a base daautoridade; Estado com poder limitado e baixo grau de intervenção na vida social (individualismo liberal);direito de rebelião caso o governo não cumpra o dever de proteger os direitos naturais. Influência naindependência dos EUA. Obra: Segundo tratado sobre o governo.

“O poder político é o que cada homem possuía no estado de natureza e cedeu às mãos da sociedade e dessamaneira aos governantes, que a sociedade instalou sobre si mesma, com o encargo expresso ou tácito deque seja empregado para o bem e para a preservação de sua propriedade (...) Esse poder tem origemsomente no pacto, acordo e assentimento mútuo dos que compõem a comunidade (...) Digo que empregara força sobre o povo, sem autoridade e contrariamente ao encargo contratado, a quem assim procede,constitui estado de guerra com o povo, que tem o direito de restabelecer o poder legislativo ao exercício deseus poderes”(Locke) 

c) Barão de Montesquieu (1689-1755): estado de natureza pacífico; seres humanos se aproximam pelomedo e pela atração mútua; estado de guerra começa depois do surgimento da sociedade; necessidade doestabelecimento, por acordo, das leis e do Estado, que devem ser organizados de forma apropriada para

cada sociedade, pois as leis são as “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”. Influência noconstitucionalismo. Obra: O espírito das leis.

“O homem, no estado natural (...) pensaria na conservação do seu ser (...) Semelhante não sentiria a

princípio senão a sua fraqueza; sua timidez seria extrema (...) Nesse estado, cada qual sente-se inferior;mal percebe a igualdade. Nem procurariam pois atacar-se, e a paz seria a primeira lei natural (...) Mas asdemonstrações de um temor recíproco fá-los-iam logo aproximar-se. Seriam levados talvez pelo prazer quesente um animal à aproximação de outro da sua espécie (...) Os homens, tão logo se acham em sociedade,perdem o sentimento de fraqueza; a igualdade, que existia entre eles, cessa; e o estado de guerra começa(...) Esses dois tipos de estado de guerra [de nação contra nação e indivíduo contra indivíduo] fazemestabelecer as leis entre os homens (...) O governo mais conforme à natureza, deve admitir-se, é aquele cuja

disposição particular melhor corresponde à disposição do povo para o qual é estabelecido” (Montesquieu)

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d) Jean Jacques Rousseau (1712-1778): precursor do Romantismo; seres humanos livres, iguais e bons noestado de natureza; perda da liberdade após o estabelecimento de uma sociedade baseada na propriedade;necessidade de um contrato social legítimo, que garanta a liberdade e a igualdade de todos, com aprevalência da soberania do povo (vontade geral). Influência na Revolução Francesa. Obras:Discurso sobrea desigualdade e O contrato social.

“O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer: „Isto é meu‟, e encontrou pessoas

 bastante simples para crê-lo, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras,mortes, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando asestacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: „guardai-vos de escutar este impostor;estais perdidos se esquecerdes que os frutos são para todos, e que a terra é de ninguém!‟” (...) “Encontrar

uma forma de associação que defenda e proteja, com a toda a força comum, a pessoa e os bens de cadaassociado, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assimtão livre quanto antes. É esse o problema fundamental ao qual o Contrato Social dá a solução” (Rousseau)

• Conclusão: atualmente predomina a opinião de que o ser humano é naturalmente levado a viver emsociedade, sem que isso exclua a participação da sua vontade racional, conciliando, assim, as duas teorias. A teoria do contrato social, como um acordo entre pessoas livres e iguais que estabelece regras deconvivência social e para o exercício do poder, é utilizada como uma justificação racional para a existênciada sociedade e do Estado.

3 – Elementos da Sociedade: Finalidade

I – Da Sociedade (continuação)

2. Elementos característicos da Sociedade

“Todo Estado é uma sociedade, a esperança de um bem, que é seu princípio, assim como o de toda

associação, pois todas as ações dos homens têm por fim aquilo que consideram um bem” (Aristóteles,

Política, 355 a.C).

Definição de Sociedade. Sociedade é “toda forma de coordenação das atividades humanas objetivando um

determinado fim e regulada por um conjunto de normas” (Celso Bastos). Por essa definição podemos

identificar os elementos que compõem uma sociedade: atividades humanas coordenadas e reguladas por

normas, dirigidas a uma finalidade.

Elementos característicos da sociedade. Nem toda reunião de pessoas constitui uma sociedade: é precisoque estejam presentes os elementos característicos da sociedade. Esses elementos diferenciam uma

 verdadeira sociedade de um simples agrupamento de pessoas. Toda sociedade deve possuir os seguinteselementos: a) finalidade; b) manifestações de conjunto ordenadas; c) poder.

a) Finalidade.

Toda sociedade deve buscar uma finalidade, ou seja, deve ter um objetivo, que é definido por seusmembros, baseado naquilo que estes entendem como um bem (valor). A finalidade relaciona-se com aliberdade humana, porque só o ser livre e racional pode escolher objetivos com base em valores.

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Finalismo x Determinismo. As teorias deterministas acreditam que o comportamento humano é regido porfatores materiais (geografia, economia etc.) ou sobrenaturais e, portanto, negam a possibilidade de escolhade finalidades, sendo, no fundo, incompatíveis com a liberdade humana (ex.: socialismo científicomarxista).

Finalismo. O finalismo, por sua vez, aceita a possibilidade de escolha da finalidade social com base na vontade livre e em valores racionalmente ponderados, pressupondo, portanto, a liberdade humana (ex.:contratualismo).

Goffredo Telles Jr. e a Liberdade. Monismo materialista (Tobias Barreto). Panteísmo (Spnioza). Dualidadeespírito-matéria intuída por Descartes e Kant e comprovada cientificamente por Bergson. O mundo éticocomo um estágio superior da natureza única que compõe a substância universal (Goffredo).

O ser humano é livre, mas livre não é aquele que faz tudo o que quer, e sim aquele que conhece a si mesmo,sabe o que é bom para si e age de acordo com o que verdadeiramente lhe convém, buscando o seu bem.

 Aquele que age movido pelas paixões não é verdadeiramente livre, mas sim escravo delas; portanto, não éfeliz, e sim padece.

Bem comum. Segundo Dallari, a finalidade da sociedade humana e também a do Estado deve ser o bemcomum, entendido como “o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o

desenvolvimento integral da personalidade humana”(João XXIII, Encíclica Pacem in Terris).

3 – Elementos da Sociedade: Finalidade

I – Da Sociedade (continuação)

2. Elementos característicos da Sociedade

“Todo Estado é uma sociedade, a esperança de um bem, que é seu princípio, assim como o de toda

associação, pois todas as ações dos homens têm por fim aquilo que consideram um bem” (Aristóteles,

Política, 355 a.C).

Definição de Sociedade. Sociedade é “toda forma de coordenação das atividades humanas objetivando um

determinado fim e regulada por um conjunto de normas” (Celso Bastos). Por essa definição podemos

identificar os elementos que compõem uma sociedade: atividades humanas coordenadas e reguladas pornormas, dirigidas a uma finalidade.

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Elementos característicos da sociedade. Nem toda reunião de pessoas constitui uma sociedade: é precisoque estejam presentes os elementos característicos da sociedade. Esses elementos diferenciam uma

 verdadeira sociedade de um simples agrupamento de pessoas. Toda sociedade deve possuir os seguinteselementos: a) finalidade; b) manifestações de conjunto ordenadas; c) poder.

a) Finalidade.

Toda sociedade deve buscar uma finalidade, ou seja, deve ter um objetivo, que é definido por seusmembros, baseado naquilo que estes entendem como um bem (valor). A finalidade relaciona-se com aliberdade humana, porque só o ser livre e racional pode escolher objetivos com base em valores.

Finalismo x Determinismo. As teorias deterministas acreditam que o comportamento humano é regido porfatores materiais (geografia, economia etc.) ou sobrenaturais e, portanto, negam a possibilidade de escolhade finalidades, sendo, no fundo, incompatíveis com a liberdade humana (ex.: socialismo científicomarxista).

Finalismo. O finalismo, por sua vez, aceita a possibilidade de escolha da finalidade social com base na vontade livre e em valores racionalmente ponderados, pressupondo, portanto, a liberdade humana (ex.:contratualismo).

Goffredo Telles Jr. e a Liberdade. Monismo materialista (Tobias Barreto). Panteísmo (Spnioza). Dualidadeespírito-matéria intuída por Descartes e Kant e comprovada cientificamente por Bergson. O mundo éticocomo um estágio superior da natureza única que compõe a substância universal (Goffredo).

O ser humano é livre, mas livre não é aquele que faz tudo o que quer, e sim aquele que conhece a si mesmo,sabe o que é bom para si e age de acordo com o que verdadeiramente lhe convém, buscando o seu bem.

 Aquele que age movido pelas paixões não é verdadeiramente livre, mas sim escravo delas; portanto, não éfeliz, e sim padece.

Bem comum. Segundo Dallari, a finalidade da sociedade humana e também a do Estado deve ser o bemcomum, entendido como “o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o

desenvolvimento integral da personalidade humana”(João XXIII, Encíclica Pacem in Terris).

4 – Elementos da Sociedade: manifestações de conjunto ordenadas

I – Da Sociedade (continuação)

2. Elementos característicos da Sociedade (continuação)

 b) Manifestações de conjunto ordenadas.

“A lei é um sinal da imperfeição humana e é, ao mesmo tempo, sinal de que os homens almejam a

perfeição” (Miguel Reale)

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Não basta apenas a finalidade. Para que exista uma sociedade, é preciso haver também manifestações deconjunto ordenadas, ou seja, é necessário que as atividades do grupo se desenvolvam com

• reiteração 

• ordem 

• adequação

Reiteração. A finalidade social é um objetivo permanente, a ser buscado sempre, ou seja, de formareiterada, e por todos os membros da sociedade, cada um desempenhando o seu papel, como, por exemplo,um time de futebol nos diversos campeonatos que disputa.

Ordem. A atuação da sociedade deve ser ordenada, ou seja, organizada segundo normas, tendo como

objetivo a finalidade social. Segundo Goffredo Telles Jr., ordem é a disposição conveniente das coisassegundo uma lei. Para ele, tudo está em ordem, porque o que chamamos de desordem é apenas a ordemnão desejada, pois tudo que ocorre no universo é regido por leis.

Leis. Segundo Montesquieu, “lei é a relação necessária que deriva da natureza das coisas”. Essa definição se

aplica tanto às leis naturais(mundo físico, o “dado”) como às leis ou normas sociais (éticas, culturais,

elaboradas pelo ser humano, o “construído”).

Causalidade x Imputação. As leis naturais (mundo físico, do “ser”) são regidas pelo princípio da

causalidade: se “A” é (condição) – “B” é (conseqüência que sempre se realiza, caso contrário a lei perde a validade). As leis sociais (mundo ético, do “dever-ser”) são regidas pelo princípio da imputação: se “A” é

(condição) – “B” deve ser (conseqüência que deve se realizar, mas que, se não ocorrer, não invalida a

norma).

Moral x Direito. As normas éticas, ou seja, as normas sociais, feitas pelo ser humano e que regem ocomportamento, dividem-se em duas espécies: a Moral (que é imperativa, porque pretende determinarcomportamentos, mas é unilateral, porque não pode ser imposta) e oDireito (imperativo-atributivo e

 bilateral, porque determina comportamentos e estabelece uma relação que autoriza a parte lesada a buscaruma sanção em caso de descumprimento da norma).

 Adequação. Além da reiteração e da ordem, é também necessário que as ações do grupo sejam adequadaspara atingir o fim almejado (bem-comum). A superexaltação (exagero) de um fator em detrimento deoutros (ordem pública, fatores econômicos etc.) gera desvios e, portanto, inadequação das atividadessociais em relação à finalidade, prejudicando a busca do bem comum.

5 – Elementos da Sociedade: poder

I – Da Sociedade (continuação)

2. Elementos característicos da Sociedade (continuação)

c) Poder

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“Se procurarmos o que é permanente no poder enquanto passam as figuras que exercem seus atributos,

 vemos que ele não é tanto uma força exterior que viria pôr-se a serviço de uma idéia quanto a própria forçadessa idéia” (Burdeau) 

Poder. O terceiro elemento característico da sociedade, depois da finalidade e das manifestações deconjunto ordenadas, é o poder. Trata-se de um dos conceitos mais importantes da Ciência Política e daTeoria do Estado. Pode ser definido genericamente como a possibilidade de uma pessoa determinar ocomportamento de outra ou de outras pessoas.

Características do poder. O poder é um fenômeno social, porque está presente em qualquer sociedade:família, escola, igreja, Estado etc. É também fenômeno bilateral, porque implica sempre uma vontadepredominante e outra submetida. Pode ser analisado como relação (sujeitos) ou como processo (dinâmica,funcionamento). É necessário? O que o justifica?

 Anarquismo.

“Anarquia” vem do grego e significa ausência de governo (arkê). As teorias anarquistas negam anecessidade e a legitimidade do poder.

 Anarquistas gregos: Na Grécia antiga, os cínicos pregavam a vida de acordo com a natureza; os estóicospregavam a igualdade e a fraternidade universal; os epicuristas pretendiam viver segundo o princípio doprazer. Nenhuma dessas correntes aceitava como legítimo o poder de um homem sobre outro.

O anarquismo cristão. Os primeiros cristãos, por influência dos estóicos, não aceitavam a autoridadeterrena, embora Jesus tivesse feito a distinção entre o que é de César e o que é de Deus. São Paulo pregavaque todo poder vem de Deus, mas recomendava a submissão ao poder de Roma. Santo Agostinho, na IdadeMédia, escreveu “A Cidade de Deus”, em que o chefe seria o Cristo.

O movimento anarquista no século XIX.

O anarquismo de cátedra. Para Léon Duguit, o poder é um fato, mas é ilegítimo e desnecessário.

 Anarquismo militante. Objetivos comuns: eliminação do Estado, da propriedade privada e da religião, erelações sociais livres, fundadas na solidariedade humana. Proudhon: toda propriedade é um roubo.Bakunin pregava a revolução por meios violentos. Kropotkin preferia a via pacífica. Os anarquistaspraticaram atos terroristas no final do século XIX e início do século XX. No Brasil, promoveram a grevegeral de 1917. Declínio no século XX.

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O poder necessário

 A maioria dos teóricos entende que o poder sempre existiu e é necessário para manter a ordem e a coesãona sociedade, bem como para dirigi-la na busca do bem comum. Importa, assim, estudar o fundamento em

que se baseia (origem, justificação) e verificar a sua legitimidade (aceitação social).

Fundamento do poder

Força. Nas sociedades primitivas, o poder era baseado exclusivamente na força (primeiro material, doguerreiro mais forte, depois econômica). Todavia, segundo Rousseau: “o mais forte nunca é

suficientemente forte para ser sempre o senhor, senão transformando sua força em direito e a obediênciaem dever”.

Divindade. Já na antiguidade, passou-se a fundamentar o poder na divindade, surgindo os impériosteocráticos (Egito, Babilônia etc.). O mesmo ocorreu no início do Estado Moderno, com as monarquiasabsolutistas, que sustentavam o direito divino dos reis ao poder.

Povo. Desde a Idade Média, há uma linha de pensamento, que tomou força com o Estado Moderno, queconsidera povo como titular do poder. Dessa linha resultaram o contratualismo e democracia, em que a

 vontade do povo (vontade geral) é o fundamento do poder.

Poder x Direito. A partir do século XIX, com a consciência de que o poder usa a força mas não se confundecom ela, surge a aspiração de fazer coincidir o poder (fenômeno de fato, político) com o direito (regras elimites para o exercício do poder).

Culturalismo Realista. Segundo Miguel Reale, poder e direito não se confundem, mas são fenômenosconcomitantes, que sempre coexistiram nas sociedades, variando apenas o grau de juridicidade, conformeo estágio de evolução cultural de uma sociedade (culturalismo). Assim, se numa sociedade primitivaprevalece a força, esta sempre é exercida segundo uma regra, mesmo que seja aquela imposta pelo maisforte.

Legitimidade do Poder.

Max Weber (1864-1920) considera que existem três formas de poder legítimo: o tradicional (próprio dasmonarquias, independe da lei formal); o carismático (exercido por líderes autênticos, que interpretam ossentimentos e as aspirações do povo, muitas vezes contra a lei); e o racional (autoridade derivada da lei,única forma em que poder e direito necessariamente coincidem).

Georges Burdeau (1905-1988). Segundo Burdeau o que legitima o poder é a sua atuação. Poder legítimo é opoder consentido, aceito pela comunidade, porque encarna a força da idéia de bem comum.

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Despersonalização e racionalização do poder. Busca-se, atualmente, a objetivação (despersonalização) e aracionalização do poder (governo baseado na lei, fruto da vontade popular e não da vontade dogovernante).

6 – Sociedades políticas

I – Da Sociedade (continuação)

3. As sociedades políticas

“De fato, os homens vivem na sociedade e em sociedades. Vivem na sociedade global e vivem nos grupossociais de que a sociedade global é constituída” (Goffredo Telles Jr.)

Sociedades humanas. Goffredo Telles Jr. ensina que, ao contrário do que ocorre com os animais gregários,no ser humano a sociedade énatureza e é contrato. O ser humano tem necessidade de viver em sociedade,mas decide racionalmente quando e como vai fazer isso. Para os animais, a sociedade é um fim em simesmo. Para o ser humano, a sociedade é um meio para satisfazer suas necessidades e atingir seusobjetivos.

Processo de integração social. Goffredo Telles Jr. ensina que as sociedades primitivas eram muito simples ehomogêneas. Com a evolução, veio a divisão de tarefas e a formação de grupos, num processo dediferenciação dentro de uma mesma sociedade, que vai se tornando mais complexa. Porém, os grupos sãointerdependentes e daí surge a necessidade de uma coordenação entre eles, estimulando a solidariedade,na busca do bem comum.

Espécies de sociedades. A sociedade global é composta de inúmeras sociedades, que têm por fim satisfazeras necessidades e realizar os objetivos dos seres humanos. Existem várias espécies de sociedades.Resumindo as teorias de vários autores, Dallari divide as sociedades em duas espécies: a) sociedades defins particulares ou específicos (escolas, igrejas, clubes, empresas); b) sociedades de fins gerais, cujoobjetivo é criar condições para a consecução dos fins particulares (família, tribo, cidade, Estado etc.).

Estado. O Estado, portanto, é uma sociedade política, que tem por finalidade o bem comum dos seuscidadãos, isto é, através do seu funcionamento, segundo as regras do Direito, criar condições de vida socialpara que as demais sociedades de fins particulares nele contidas possam servir para a expressão e odesenvolvimento da personalidade humana em todos os seus aspectos.

7 - O Estado: origem e formação

II – Do Estado

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1 – Origem e formação do Estado.

“Ninguém nunca viu o Estado. Quem poderia negar que ele seja uma realidade? O lugar que ele ocupa emnossa vida cotidiana é tamanho que não poderia ser retirado dela sem que, ao mesmo tempo, ficassemcomprometidas nossas possibilidades de viver” (Burdeau)

 

Introdução. Atualmente, todos os seres humanos vivem num Estado ou, pelo menos, sob a autoridade deum Estado. O Estado é a sociedade mais importante e mais poderosa no mundo atual. Mas o que é oEstado? Quando surgiu? Por que ele existe? Qual o seu futuro?

Denominação. O que hoje chamamos de Estado já foi chamado pelos gregos de pólis e pelos romanos de

civitas. Já foi chamado também de república e império. Hoje, na linguagem informal, é chamado de país(do latim pagos e do italiano paese = lugar geograficamente delimitado e habitado por uma comunidade)

Estado. O primeiro teórico a utilizar a palavra Estado para denominar uma sociedade política foiMaquiavel, na obra O Príncipe, de 1513. A palavra vem do latim status, que significa “estar firme”, sendo

coerente com o anseio de Maquiavel de que a Itália da época, dividida em vários pequenos reinos erepúblicas, muitas vezes em guerra entre si, se unificasse sob um poder soberano e obtivesse estabilidadesocial e política.

Estado ou estado? Recentemente, a revista Veja anunciou que passaria a grafar a palavra “estado” cominicial minúscula, a fim de marcar sua posição pela mínima intervenção do governo na economia e nasociedade (liberalismo). Lembrou que os países de língua inglesa, onde essa idéia prevalece, a palavra égrifada com minúscula. Já onde há uma interferência maior do governo na sociedade e na economia, comono Brasil e na França, a palavra é grafada com maiúscula.

Quando surgiu o Estado? Há, basicamente, três teorias sobre aépoca de surgimento do Estado:

a) O Estado, assim como a sociedade, existe desde que o ser humano surgiu na Terra

 b) O Estado é produto da evolução natural da sociedade humana e foi precedido por outros tipos desociedades, como tribos, clãs etc.

c) O Estado surgiu somente quando adquiriu características bem definidas, principalmente a idéia desoberania (poder máximo e exclusivo sobre um determinado território habitado por um povo), que sóaparece no Estado Moderno. Alguns autores chegam a afirmar que a data do surgimento do Estado foi aPaz de Westfália, em 1648.

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Paz de Westfália. Independente de ser ou não o marco do surgimento do Estado Moderno, a Paz de Westfália (1648) foi um marco importante na história da política, porque, pondo fim à Guerra dos 30 anos,resultou no reconhecimento das fronteiras geográficas dos Estados europeus, dentro das quais estespoderiam exercer o poder de forma soberana, excluindo o poder do imperador e do papa e unificando anação.

Justificação. Tentando justificar a formação original de Estados, há duas teorias:

a) formação natural ou espontânea: o Estado se forma naturalmente, por evolução de outras formas desociedade

 b) formação contratual: o Estado se forma por um ato de vontade, a partir de uma decisão racional(contratualismo)

Causas determinantes da formação de Estados. Estudando as causas que deram origem ao Estado, há asseguintes teorias:

a) Origem familial ou patriarcal: desde Adão e Eva, cada Estado surgiu a partir de uma família, chefiadapor um patriarca (teoria sustentada por Filmer para justificar o absolutismo e que foi refutada por Lockeno Primeiro Tratado sobre o Governo)

 b) Atos de força e dominação. Segundo autores como Oppenheimer, os Estados se formaram a partir dadominação de um grupo sobre outro, sendo criados para regular as relações entre vencedores e vencidos

c) Fatores econômicos ou patrimoniais. Teóricos como Platão e Marx & Engels sustentam que o Estadosurgiu por motivos econômicos ou patrimoniais. Platão afirma que o Estado deriva da necessidade decooperação e divisão do trabalho entre as pessoas. Marx e Engels sustentam que o Estado surgiu com aevolução da sociedade, a partir do estabelecimento da propriedade privada, como um instrumento para adominação de proprietários sobre não-proprietários. Segundo eles, o Estado está fadado a desaparecerquando for eliminado esse tipo de relação.

Engels. Em sua obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado, Engels, baseado nos estudos

antropológicos de Morgan, expõe a sua visão materialista da história, segundo a qual os meios de produçãodeterminam a organização social. Morgan divide a evolução social da humanidade em três grandesestágios: Selvagem, Barbárie e Civilização, cada um deles subdividido em três fases: inferior, média esuperior. Todos os povos passam por esses estágios em diferentes épocas da história.

Estágios da civilização. a) Selvagem: inferior (parcialmente nas árvores), médio (fogo, linguagem,instrumentos de pedra), superior (arco e flecha, aldeias). b) Barbárie: inferior (cerâmica, criação deanimais, cultivo de plantas), média (irrigação, criação de gado, construções de pedra e tijolo), superior(escrita, arado de ferro). c)Civilização: inferior (cidades, artes), média (indústria), superior (não atingida).

Evolução da família. Segundo Engels, no estágio selvagem, prevalecia a promiscuidade sexual no interiordas tribos. A partir da barbárie inferior, as tribos começam a ser divididas em gens (grandes famílias),

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segundo a linhagem feminina (matriarcado), com proibição do casamento endogâmico (no interior dasgens). A seleção natural privilegiou esses grupos. Nesse estágio a mulher desempenhava papelpreponderante, não havia divisão de classes sociais e a propriedade dos meios de produção era comum.

Surgimento do Estado. Na fase média da barbárie, com a criação de animais e a agricultura, surge a noçãode propriedade privada dos meios de produção, o homem passa a preponderar e a exigir fidelidade damulher para garantir a herança de sua prole (patriarcado). O Estado surge para legitimar essa novarealidade e garantir a divisão da sociedade em classes. Segundo Engels, as contradições desse sistemalevarão à sua destruição, com o conseqüente desaparecimento do Estado.

d) Formação do Estado pelo desenvolvimento natural da sociedade: O Estado se forma naturalmente, pelaevolução natural da sociedade, independentemente de fatores externos e sem preponderância de um fator(Lowie). É a teoria mais aceita atualmente.

Modos de formação. A doutrina distingue os seguintes modos de formação dos Estados:

a) modo originário: quando um Estado surge onde antes não havia Estado nenhum (casos estudadosacima, não existem exemplos atuais)

 b) modo derivado: quando novos Estados surgem a partir de Estado ou Estados pré-existentes. O mododerivado pode ocorrer porfracionamento (ex.: antigas colônias que se tornaram independentes; Rep.Tcheca e Eslováquia) ou por união (ex.: EUA)

c) modo atípico: formação artificial, imprevisível, por tratado ou por imposição de outras potências (ex.: Vaticano, as duas Alemanhas, Israel)

Momento do nascimento. Não há uma regra definida para garantir que um novo Estado foi criado.Basicamente, é necessário que haja viabilidade interna (estabilidade social, política e jurídica) ereconhecimento pelos demais Estados. Normalmente, quando esses dois fatores ocorrem, o novo Estado éaceito na ONU, mas isso não é condição essencial para a existência de um Estado.

O caso do Kosovo. O Kosovo é um território habitado por albaneses étnicos que fazia parte da FederaçãoIugoslava e foi palco de uma guerra civil nos anos 90, quando foi atacado pelo governo iugoslavo edefendido pela OTAN. Após negociações fracassadas, declarou unilateralmente a independência, sendoreconhecido como Estado por EUA e França, mas não pela Rússia e pela Espanha, e ainda não obteveingresso na ONU. Suas instituições governamentais ainda são precárias. Por isso, ainda não pode serconsiderado como um Estado consolidado.