Diplomova_praca- Fraseologia e Clichê

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    MASARYKOVA UNIVERZITA

    Filozofick fakulta

    stav romnskch jazyk a literatur

    Portugalsk jazyk a literatura

    Bc. Eva Mikoviov

    Avaliao e outras funes das unidades fraseolgicas nos gneros publicitrios

    do jornalismo portugus

    Magistersk diplomov prce

    Vedouc prce: Mgr. Iva Svobodov, PhD.

    Brno 2010

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    Prohlauji, e jsem diplomovou prci vypracovala samostatn s vyuitm uvedench pramen a literatury.

    ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

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    Za vstcnost, ochotu, vnovan as, trplivost, cenn rady a pedevm odborn veden tto prce pimn dkuji Mgr. Iv Svobodov, PhD.

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    ndice ndice ............................................................................................................................... 4

    1. Introduo................................................................................................................... 7

    2. Fraseologia e o seu objeto de estudo .................................................................... 9

    2.1. Objeto de estudo fraseolgico: a unidade fraseolgica ........................... 10

    2.2. Caracterstica de unidade fraseolgica ....................................................... 11

    2.2.1. Fixidez............................................................................................................ 12

    2.2.2. Idiomaticidade............................................................................................ 13

    2.3. Classificao das unidades fraseolgicas .................................................... 14

    2.3.1. Locues idiomticas ................................................................................ 14

    2.3.2. Colocaes ................................................................................................. 18

    2.3.3. Provrbios..................................................................................................... 20

    2.3.4. Comparaes fixas .................................................................................... 23

    2.4. Variedade e tranformao ............................................................................. 24

    3. Caracterstica do estilo funcional jornalstico ...................................................... 26

    3.1. Diferenciao interior do estilo jornalstico.................................................... 27

    3.1.1. Periodismo informativo............................................................................... 27

    3.1.2. Periodismo literrio...................................................................................... 29

    3.1.3. Literatura periodstica................................................................................. 30

    3.2. Expressividade e avaliao............................................................................. 32

    3.3. Automatizao e actualizao...................................................................... 33

    3.4. Clich .................................................................................................................. 34

    4. Parte analtica .......................................................................................................... 35

    4.1. Caracterstica e mtodos da recolha ........................................................... 35

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    4.2. Funo das unidades fraseolgicas............................................................... 36

    4.2.1. Funo de avaliao ................................................................................ 37

    4.2.2. Funo de argumento .............................................................................. 53

    4.2.3. Funo de recapitulao ou de sumrio............................................... 56

    4.2.4. Funo de recomendao...................................................................... 58

    4.2.5. Funo de glosa......................................................................................... 61

    4.2.6. Unidade fraseolgica como meio de humor lingustico ...................... 62

    4.3. Unidades fraseolgicas nos gneros jornalsticos......................................... 65

    4.3.1. Notcia .......................................................................................................... 65

    4.3.2. Reportagem ................................................................................................ 70

    4.3.3. Ttulo .............................................................................................................. 72

    4.3.4. Lead.............................................................................................................. 73

    4.3.5. Editorial ......................................................................................................... 74

    4.3.6. Comentrio.................................................................................................. 74

    4.3.7. Entrevista ...................................................................................................... 74

    4.3.8. Faits-divers.................................................................................................... 75

    4.3.9. Crnica......................................................................................................... 76

    4.3.10. Opinio....................................................................................................... 76

    4.3.11. Fotolegenda.............................................................................................. 79

    5. Recursos lingusticos ................................................................................................. 80

    5.1. Metfora e metonmia ..................................................................................... 80

    5.2. Comparao e personificao...................................................................... 90

    6. Exemplos para clich .............................................................................................. 93

    7. Estatstica da recolha .............................................................................................. 95

    7.1. Nmero total das unidades fraseolgicas recolhidas ................................. 95

    7.2. Nmero das unidades fraseolgicas encontradas em certo gnero ...... 96

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    7.3. Nmero das unidades fraseolgicas pertencentes a particulares funes (no texto) ................................................................................................................... 97

    7.4. Unidades fraseolgicas documentadas........................................................ 98

    7.5. Unidades fraseolgicas no documentadas, metforas de autor......... 103

    8. Concluso ............................................................................................................... 104

    Bibliografia................................................................................................................... 106

    Apndice..................................................................................................................... 110

    O ontem e hoje da imprensa portuguesa.......................................................... 110

    Industrializao ....................................................................................................... 112

    O sculo XX na imprensa portuguesa................................................................. 114

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    1. Introduo Nos ltimos anos, a imprensa peridica diria mudou desde o meio de agitao para o meio de informao, mas sem desistir do esforo de influenciar o leitor. Os meios de comunicao dominam a sociedade, influenciam a formao de opinio e apoiam a difuso da lngua. No h dvida que no futuro ser muito interessante observar a posio que a imprensa diria ter entre outros meios de informao, como a rdio, a transmisso televisiva e a internet. Actualmente o jornalismo continua a formar uma parte significante da nossa cultura, influenciando significativamente a evoluo, o pensamento e a criao de opinies da sociedade. Tambm por este motivo, alm de paixo pelo jornalismo, decidimos recolher volumes de Correio de Manh, Dirio de Notcias, Pblico, Viso e 24 horas e dedicar o nosso estudo linguagem especfica do jornalismo que deve servir no apenas para transmitir uma mensagem ao leitor, mas tambm, para atrair ao leitor do ponto de vista da forma textual. Uma delas, qual centraremos o foco da nossa ateno, so as chamadas unidades fraseolgicas.

    As unidades fraseolgicas usuais ou actualizadas so um barmetro disponvel e acertado de situaes e fenmenos sociais. Ao mesmo tempo, podem ser graciosas e populares entre os leitores. Embora no formassem incontinente o nosso cdigo tico, certamente ajudam a exprimi-lo; ou atravs de acordo com a unidade fraseolgica, ou, por outro lado, de distanciamento e discordncia dela. De qualquer maneira, o repertrio das unidades fraseolgicas compreende uma escala de normas e atitudes de pessoas de certa sociedade, num determinado tempo, e de forma mais adequada e prxima de linguagem. Tambm as mutilaes propositadas das unidades fraseolgicas ou as glosas humorsticas da fala, que aludem a verdade popular, demonstram o conhecimento delas entre os portugueses. Uma parte do nosso estudo ser dedicada ento s unidades fraseolgicas, que achamos pertinente para a aproximao da problemtica ao leitor. Como no existe nenhuma escola que tratasse desta problemtica, fizemos uso de trabalhos particulares de alguns linguistas (Vinogradov, Corpas Pastor, Zuluaga, Nunberg, Tchobnova, entre outros), que nos serviram de fonte principal de informao.

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    continuao dedicaremos uma parte ao estudo das caractersticas do estilo funcional publicitrio, concretamente aos gneros publicitrios (partindo da diviso segundo Anabela Gradim), aos processos de automatizao e actualizao, expressividade e avaliao, e ao processo de formao de clich.

    Da parte analtica pretenderemos provar as funes avaliativas das unidades fraseolgicas (locues idiomticas, comparaes fixas e provrbios) e procurar os meios lingusticos concretos que veiculam o processo de avaliao, recomendao, recapitulao. Pretenderemos acentuar a importncia das unidades fraseolgicas para tal funo, tentando explicar o sentido delas do ponto de vista semntico e propondo uma denominao no figurada para cada um.

    Em ltima parte iremos enumerar e explicar os exemplos recolhidos, acompanhando-os com a estatstica do aparecimento deles na prensa jornalstica portuguesa.

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    2. Fraseologia e o seu objeto de estudo Antes da anlise que pretendemos fazer sobre as unidades fraseolgicas fixas

    usadas em dirios portugueses, consideramos imprescindvel fazer algumas aluses fraseologia em geral e determinao e classificao das unidades fraseolgicas.

    Leonor Ruiz Gurrillo [1997: 17] na introduo do seu livro Aspectos de fraseologa terica espaola define a situao em que se encontra esta disciplina, que se encontrava durante anos margem dos estudos lingusticos, com as seguintes palavras:

    La fraseologa ha sido desde siempre la tierra de nadie a la que acudan investigadores de todas las escuelas, movidos por el inters que despertaban en ellos las combinaciones fijas de palabras.

    A fraseologia uma disciplina lingustica recente, visto que parece datar dos tempos da antiga Unio Sovitica nos anos cinquenta do sculo XX devido obra do linguista V.V. Vinogradov [Corpas Pastor; 1997: 11]. No entanto, de esperar que existem vrias hipteses acerca da origem da fraseologia. Uma delas atribui as origens da presente disciplina ao fundador da lingustica moderna - Charles Bally, aluno de Ferdinand Saussure, quem supostamente definiu o termo da fraseologia j no ano de 1909 no seu trabalho Trait de Stylistique Franaise.

    Relativamente questo de definir a fraseologia existem trs correntes:

    1. Fraseologia uma cincia situada no mesmo plano que a morfologia, a lexicologia e a sintaxe (segundo linguistas soviticos),

    2. Fraseologia uma subdisciplina da lexicologia [Corpas Pastor; 1997:15],

    3. Fraseologia um ponto de snteses ou de coexistncia com outros campos disciplinares da lingustica [Ruiz Gurrillo; 1997: 33-44].

    A fraseologia pode diferenciar-se de outras disciplinas lingusticas pelo seu objecto de estudo: as unidades fraseolgicas (a seguir UFs), isto , as combinaes de palavras que mostram um alto grau de fixao (estabelecimento) na sua forma o no seu significado.

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    O Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea [2001: 1815] define a dita disciplina como:

    1. Gram. Estudo de frases peculiares pertencentes a um domnio, a um escritor, a uma lngua, ...; 2. Gram. Conjunto de expresses de uma lngua que funcionam semntica e sintacticamente como uma palavra. e, finalmente, 3. Utilizao excessiva de palavras pomposas, sem sentido.

    El Diccionario de la Real Academia Espaola define a fraseologia como:

    1.Conjunto de frases hechas, locuciones figuradas, metforas y comparaciones fijadas, modismos y refranes, existentes en la lengua, en el uso individual o en el de algn grupo. 2. Parte de la lingstica que estudia las frases, los refranes, los modismos, los proverbios y otras unidades de sintaxis total o parcialmente fijas.

    Em qualquer caso, a unidade fraseolgica parece ser um termo genrico que est a impor-se cada vez mais para denominar o conjunto de expresses denominadas com os termos acima citados. Tambm ns optamos por usar este termo, unindo-nos assim maioria dos linguistas que defendem o uso desta denominao1, que uma das mais aceites e segundo a nossa maneira de ver um termo suficientemente amplo que inclui diferentes tipos de expresses sem se confundirem com outros subtipos. Qualifiquemos ento, continuao, a unidade fraseolgica como um elemento fundamental da fraseologia.

    2.1. Objeto de estudo fraseolgico: a unidade fraseolgica Acabamos de afirmar que o estudo da fraseologia se baseia nas investigaes relativas s unidades fraseolgicas. Consequentemente, propomos neste lugar o termo unidade fraseolgica, denominao que abrange todos os fenmenos como so as

    1 Um deles G. Corpas Pastor que no seu Manual de fraseologa espaola opta pela denominao UF por, segundo as suas prprias palavras una sencilla razn: este trmino genrico [...] goza de una gran aceptacin en la Europa continental, la antigua URSS y dems pases del Este, que son, precisamente, los lugares donde ms se ha investigado sobre los sistemas fraseolgicos de las lenguas[Corpas Pastor;1996:18-19].

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    expresses idiomticas, modismos, frases feitas, expresses fixas, idiomatismos locucionais, locues, refres, provrbios, etc.

    A unidade fraseolgica (UF), geralmente, no se pode caracterizar somente por uma qualidade; por exemplo a concepo mais divulgada da UF como a ligao firme de palavras, cujo significado no possvel deduzir do significado dos seus componentes, no corresponde a todos os tipos. Para a identificao prtica da UF pode servir a definio de Frantiek ermk [1985: 177] quem a define como

    um conjunto nico de, no mnimo, dois componentes, dos quais um (eventualmente nenhum) no funciona de maneira idntica numa outra expresso (respectivamente expresses), existindo eventualmente s em expresso nica (ou em algumas poucas). 2

    O significado individual das palavras perde-se e elas formam uma unidade indestrutvel na qual a coeso entre as palavras absoluta.

    Como j mencionmos, a fraseologia forma parte da lingustica, cincia de linguagem muito heterognea, que implica um grande renque de conceitos e hipteses que muitas vezes divergem, embora se refiram ao mesmo problema.

    2.2. Caracterstica de unidade fraseolgica Corpas Pastor [1997: 19-20] resume as caractersticas universais das UFs:

    - alta frequncia de uso e de aparecimento dos seus elementos integrais, - fixidez e especializao semntica, - idiomaticidade e variao potencionais (prescindvel), - distinto grau de todos estes aspectos em diferentes unidades fraseolgicas.

    2 ...jedinen spojen minimln dvou prvk, z nich nkter (pop. dn) nefunguje stejnm zpsobem v jinm spojen (resp. vce spojench), pop. se vyskytuje pouze ve vrazu jedinm (resp. nkolika mlo).

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    2.2.1. Fixidez Pela fixidez ou estabilidade formal entende-se a propriedade que tm certas

    expresses de serem reproduzidas na fala como combinaes previamente feitas [Zuluaga; 1975: 230], ou segundo o critrio de Manuel Seco [2005: 13] como

    combinaciones que, en su prctica del idioma, no son formadas libremente por el hablante, sino que se le den ya prefabricadas, como paquetes que tienen en la lengua un valor propio establecido por el uso tradicional.

    Segundo a opinio de Zuluaga3, a fixidez arbitrria desde o ponto de vista funcional, dado que no h explicao semntica nem sintctica do tipo de fixidez em cada caso concreto. Estas expresses tm a sua forma, porque assim foram fixadas devido ao uso repetido numa comunidade lingustica. Zuluaga [1975: 230] estabelece uma detalhada classificao da fixidez segundo quatro aspectos concretos:

    1. inalterabilidade da ordem dos componentes, 2. invariabilidade de alguma categoria gramatical (seja de tempo, pessoa,

    nmero ou gnero), 3. no modificabilidade do inventrio dos componentes (impossibilidade de os

    introduzir, omitir ou substituir) 4. insubstituibilidade dos elementos componentes.

    Porm, temos que ter em conta que a fixidez, apesar de ser uma das caractersticas mais frequentes, varivel e depende do grau de fixidez que cada UF tenha atingido. Assim uma tal expresso pode apresentar variantes. Para verificar o grau de fixidez de uma dada frase e para poder considerar uma expresso como fixa, os

    3 Um dos estudiosos que se ocupavam mais detalhadamente desta caracterstica das UF.

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    critrios que do resultados mais satisfatrios so os que se baseiam na anlise das distribuies nominas, como afirma Ranchhod [2002: 11], que explica a sua afirmao pelas seguintes palavras:

    Sempre que, numa dada posio nominal - Ni, no seja possvel comutar quer o N, ncleo do grupo nominal, quer os seus determinantes e modificadores por outros elementos da mesma classe, pode considerar-se que a expresso fixa.

    Assim, p. ex. a frase O Z esticou o pernil no permite variantes sem que lhe seja alterado o sentido, mas, por outro lado, a frase armar-se de pacincia pode apresentar-se tambm como revestir-se de pacincia. As variantes, que UFs podem apresentar, tambm faro parte do nosso objecto de investigao. .

    2.2.2. Idiomaticidade A fixidez no somente formal, tambm corresponde ao plano do contedo e, neste caso, recebe uma denominao especfica - a idiomaticidade. Como afirma Corpas Pastor [1977: 26-27], o termo idiomaticidade denomina uma especializao ou lexicalizao semntica no seu grau mais alto. As UFs podem ter dois tipos de significado denotativo: significado denotativo literal e significado denotativo figurado, metafrico, ou translato. precisamente o significado figurado que responsvel pela idiomaticidade que a maioria destas unidades tem, mas no o trao imprescindvel. deslocao semntica podemos chegar mediante o uso da ironia, nfase, etc.

    Em fim, partindo do que foi constatado anteriormente, importante destacar, primeiro que tanto a fixidez formal como a semntica no apresentam limites, porque os linguistas que se ocupavam delas concordam em existncia dos graus em ambos casos, e segundo que entre a fixidez formal e a semntica existe uma ordem hierrquica: a formal acompanha a semntica, mas no ocorre ao contrrio, o que significa que todas as UFs so fixas em maior ou menor grau, mas no todas so idiomticas.

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    2.3. Classificao das unidades fraseolgicas At agora podemos ver que existem vrias definies das UFs. A variabilidade reflecte-se tambm na terminologia que designa estes fenmenos lexicais. Assim existem muitas e diversas classificaes que se realizaram sob diferentes critrios como o semntico, estilstico, estrutural, sintctico, etimolgico, temtico, funcional, etc.

    Nos ltimos tempos h um grande acordo quanto essncia formal da unidade fraseolgica.

    Pela expresso idiomtica e fraseolgica consideramos, concretamente, a firme combinao de minimamente duas palavras de qualquer classe (resp. combinao de duas palavras que pertencem mesma classe), que se caracteriza pelo facto de (pelo menos) um dos seus componentes ser s reduzidamente, eventualmente nunca, capaz de se unir com outras palavras no texto, mantendo o mesmo sentido e a mesma funo. Isto significa, que essa palavra limita-se a existir no mesmo sentido e na mesma funo numa nica combinao. Outro trao (mas no imprescindvel) de tal unidade o seu raro sentido figurado, a sua deslocao semntica. [Mal; 2003]4

    No presente trabalho dividimos a unidade fraseolgica em trs subtipos: locues idiomticas, provrbios e comparaes fixas.

    2.3.1. Locues idiomticas Adoptamos a designao de locuo idiomtica (LI) para nos referirmos s estruturas frsicas em que existem fortes restries lexicais e sintticas entre um verbo e, pelo menos, um dos seus argumentos. Este grupo formam-no frases simples, que pertencem a registos variados, tm o sentido metafrico e podem ter tambm o sentido 4 Vcn se zde za idiomatick a frazeologick vraz povauje ustlen a minimln dvouslovn kombinace libovolnho slovnho druhu s jinm (ppadn kombinace stejnch slovnch druh), kter je pznan tm, e (aspo) jeden jej len je schopen se v danm vznamu a funkci spojovat s jinmi slovy v textu jen krajn omezen, pop. vbec ne; je tedy v tomto vznamu a funkci omezen pouze na tuto kombinaci. Druhm (avak nikoli nutnm) rysem takovho spojen bv jeho neobvykl penesenost, smatick posun.

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    literal. So fixas e lexicalizadas. Os estrangeiros facilmente encontram uma LI no texto, porque no conseguem entender uma mensagem que a orao, da que uma LI faz parte, pretende transmitir.

    K. Habovtiakov e E. Krolkov, no estudo lovek v zrkadle frazeolgie [1990: pp.6-21] (O homem no espelho da fraseologia traduo nossa), tratam de LI sob o aspecto semntico, que nos parece o mais importante para o presente trabalho. O estudo parte da classificao semntica de V.V. Vinogradov, fundador de primeira escola russa de fraseologia, que apresenta uma detalhada caracterstica da estrutura semntica de locues idiomticas e traa os princpios fundamentais para a sua classificao. O critrio no qual assenta esta classificao a correlao entre o

    significado de LI e o significado das palavras que a constituem.

    Vejamos agora a diviso segundo V.V.Vinogradov, que divide as LI entre as fuses fraseolgicas e as unidades fraseolgicas.

    Segundo V.V. Vinogradov, o ncleo do fundo fraseolgico formam-no fuses fraseolgicas (ou idiomatismos), o significado das quais no de nenhuma maneira motivado pelos seus componentes, no existe relao com o significado das palavras que o constituem e , ento, convencional e arbitrrio. Toda a expresso tem um significado novo. Como exemplo podemos apresentar idiomatismos: tirar o cavalo/ cavalinho da chuva (que significa desistir de um intento), meter os ps pelas mos (atrapalhar-se, contradizer-se, mentir), bater a bota (falecer, morrer), etc. A forma das fuses fraseolgicas estabilizada, os seus componentes no so substituveis, o seu significado no deduzvel e, no poucas vezes, aparecem nelas palavras que j no se usam, ou arcasmos gramaticais. (a trouxe-mouxe - de maneira desordenada, confusa, [NDEI: 376]5, sem dizer chus nem bus - sem dizer palavra; em completo silncio; sem responder, [NDEI: 68]) O significado deles pode ser reconhecido mediante a documentao histrica e etimolgica.

    V.V. Vinogradov chama o grupo consideravelmente mais extenso em cada lngua como unidades fraseolgicas, que so expresses figuradas, estabilizadas e de mais palavras, que tm tambm o sentido no figurado, literal, ou seja, no uso no 5 Novos Dicionrios de Expresses Idiomticas, Antnio Nogueira Santos

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    figurado tm valor de livres conjuntos sintagmticos. O significado da unidade fraseolgica est relacionado com o significado potencial dos constituintes. Podemos ilustr-las com alguns exemplos, como: arregaar as mangas; levantar os ombros; entrar com o p direito; ter os olhos fechados; remar contra a corrente; dar lngua, etc. So unidades que tm forte colorido expressivo e a sua compreenso est relacionada com a compreenso da imagem interna, com o significado potencial das palavras que formam a unidade. Entre o significado do fraseologismo global e o significado dos constituintes h certa motivao, mas muito ligeira, que apenas podemos captar. As unidades fraseolgicas so equivalentes potenciais de uma palavra.

    Porm, s vezes no fica muito ntida a diferena entre as fuses fraseolgicas e as unidades fraseolgicas. Aqui nos vem a propsito o estudo chamado Multiword Expressions: A Pain in the Neck for NLP [pg. 4] onde encontramos a classificao segundo Nunberg (1994), que introduz a noo de composio semntica em relao a locuo idiomtica, a propsito de descrever como o sentido total da LI relacionado com os seus componentes. Segundo esta composio semntica Nunberg encontra entre as locues idiomticas (que chama semi-fixed expressions6): decomposable idioms (= unidades fraseolgicas) e non-decomposable idioms (= fuses fraseolgicas). Os segundos no podem ser sujeitos variabilidade sintctica, p.ex. alterao da estrutura sintctica interna (p.ex. no se admite a transformao de kick the bucket em kick the great bucket in the sky) ou transformao na passiva (shoot the breeze em the breeze was shot). A nica forma de variao lexical que podemos observar neste tipo a inflexo (variao da desinncia) e a reflexividade.

    Zuluaga no entra em to detalhada distino no interior do grupo das LI , designando-as a todas dichos o frases hechas, que fazem parte de enunciados fraseolgicos contextualmente marcados, que dependem do contexto lingustico ou pragmtico para funcionarem. [1980: 139].

    6 Lexicalized phrases have at least partially idiosyncratic syntax or semantics, or

    contain 'words' which do not occur in isolation; they can be further broken down into fixed expressions, semi-fixed expressions and syntactically-flexible expressions, in roughly decreasing order of lexical rigidity.

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    As locues idiomticas ocupam uma rea em espao lexical multidimensional, caracterizadas por um grande nmero de propriedades distintas (semntica, sintctica, potica, discursiva ou retrica). Quando dizemos que uma expresso como kick the bucket ou shoot the breeze um prottipo de LI, provavelmente fazemos este julgamento na base de numerosa, mais ou menos ortogonal propriedade da frase, que envolve, segundo Nunberg [1994: 492-493]:

    (i) convencionalidade

    (ii) inflexionalidade

    (iii)figurao

    (iv) proverbialidade

    (v) informalidade

    (vi) afecto

    (i) O significado de LI no podemos prever somente partindo dos seus componentes em isolamento.

    (ii) LI apresentam s limitado nmero de possveis construes sintcticas, em diferena de expresses livremente compostas.

    (iii)LI envolve metforas (fazer/ter olhos de carneiro mal morto), metonmias (ter o pssaro na mo e deix-lo fugir, contar as cabeas, mil e um), hiprbole (chover canivetes/picaretas), ou outro tipo de figurao. Naturalmente, os falantes no sempre percebem o motivo de tal figurao porque bater as botas se usa para morrer- mas geralmente percebem que a LI envolve alguma forma de figurao.

    (iv) LI so usadas tipicamente para descrever uma situao repetida e, implicitamente, para explic-la.

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    (v) Pela informalidade entende-se a associao de LI com o registo informal ou coloquial e com a cultura e o discurso oral.

    (vi) O uso de LI implica uma determinada avaliao ou postura afectiva para as coisas que denota. A lngua normalmente no usa LI para descrever uma situao que ocorre normalmente comprar bilhetes, ler livro embora possamos imaginar uma comunidade em que tais actividades eram suficientemente carregadas com o significado social para serem dignas de referncia idiomtica.

    2.3.2. Colocaes A colocao7 uma unidade lexical, pela qual designamos uma combinao de palavras fixa e relativamente recorrente. So colocaes as expresses tipo faixa etria, leite gordo, feira de ladra e afins, que carecem de uma caracterstica prpria para outras UFs idiomaticidade. Por carecer de idiomaticidade alguns linguistas no consideram as colocaes unidade fraseolgica.

    Assim, por exemplo, como afirma Tchobnova [2004; em Actas n. 20: 891] as colocaes

    no so UFs porque no possuem um dos traos distintivos fundamentais da UF o seu carcter semntico compacto. Do ponto de vista semntico as colocaes so unidades analticas e no sintticas. Nas colocaes, um significado novo, figurado, adquire-o s uma das palavras e no o sintagma, como um todo, como acontece no caso das verdadeiras UFs.

    Com esta afirmao pode no concordar Corpas Pastor [1996: 50], quem considera colocaes por UFs, envolvendo-as em esfera I, que constituem UFs fixadas somente em norma. Trata-se de sintagmas livres que devido ao repetido uso tm adquirido um certo grau de fixidez. A autora define-as como:

    7 A colocao tem sido referida em portugus como co-ocorrncia lexical restrita ou privilegiada, combinatria fixa, solidariedade lexical, semi-frasema, combinao recorrente, etc. que so tradues dos termos ingleses ou franceses .

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    unidades fraseolgicas formadas por dos unidades lxicas en relacin sintctica, [...] que, debido a su fijacin en la norma, presentan restricciones de combinacin establecidas por el uso, generalmente de base semntica: el colocado autnomo semnticamente (la base) no slo determina la eleccin del colocativo, sino que, adems, selecciona en ste una acepcin especial, frecuentemente de carcter abstracto o figurado [Corpas Pastor; 1996: 66].

    Para entender completamente a definio anterior, temos que ter em conta que a base pode ser p.ex. um 'verbo' que se combina com advrbios (dormir profundamente, recusar categoricamente) ou substantivos (declarar-se um incndio, levantar dinheiro, fazer uma pergunta), um 'substantivo' em combinao com outro substantivo (frum de discusso, sinal de trnsito, manada de vacas, rebanho de ovelhas), adjectivo (arte marcial, chuva torrencial), verbo (co ladra), ou 'adjectivo' combinado com advrbio (ligado estreitamente, gravemente ferido).

    Segundo LaBEL, a parte mais numerosa das colocaes constituda por nomes compostos8. Muitos pertencem ao vocabulrio corrente, outros so termos tcnicos e cientficos. Estas unidades lexicais so geralmente formadas a partir de palavras simples por meio de regras gerais de combinao de palavras. O seu significado , na maior parte, no composicional. As classes mais representativas dos nomes compostos so: Nome Adjectivo (via verde, batata doce), Nome de Nome (efeito de estufa), Adjectivo Nome (falsa modstia), Nome Preposio Nome (voto em branco), Nome Preposio Verbo (cano de embalar), Verbo Nome (ganha-po), Preposio Nome (sem-abrigo), Nome Nome (cara-metade), Nome Conjuno Nome (prs e contras), e outras (habeas corpus, modus vivendi) [Ranchhod; 2002: 4].

    A noo de colocao aparece j em trabalhos de Bally (1909) quando ele fala de agrupamentos usuais (fr. groupements usuels) e sries fraseolgicas (fr. sries phrasologiques) [Tchobnova, 2004, actas 20: 889].

    A noo aparece tambm nos estudos de V.V. Vinogradov (1947), que denomina este grupo de 'co-ocorrncias lexicais restritas' combinaes fraseolgicas e 8 Os dicionrios de nomes compostos do LaBEL, ainda incompletos, contm cerca de 50.000

    entradas; os nomes simples so cerca de 40.000 [Ranchhod; 2002: 3]

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    coloca aqui termos compostos tipo democracia partidria, jornal vespertino, ponto de interrogao, opinio pblica, etc. assim como as locues preposicionais e conjuncionais como em direco a, por causa de, mesmo que, apesar de que, ao mesmo tempo que, etc. [Tchobnova; 2004: 451]. As combinaes fraseolgicas representam uma combinao usual entre os elementos, que ilustramos com assunto delicado, situao delicada, circunstncia delicada, em que o adjectivo delicado aparece em combinao com um crculo restringido de substantivos. Assim no possvel dizer pensamento delicado, inteno delicada, etc. (Isto pode causar problemas aos no falantes nativos que costumam formar expresses traduzindo-as da sua lngua, que no poucas vezes difere do portugus).

    Contudo, a Gr-Bretanha o pas que deu origem a esse termo. O termo colocao aparece na dcada de cinquenta do sc. 20, nomeadamente nos trabalhos de J. R. Firth (Papers of Linguistics, 1939 1951).

    Perceba-se que as colocaes manifestam a propriedade de palavras de se combinar com um crculo muito restrito de outras palavras. Como o significado dos seus constituintes fica muito mais perto das combinaes livres do que de outros fraseologismos, consideramos que este grupo no pertence s UFs e no presente trabalho no daremos mais ateno a elas.

    2.3.3. Provrbios Os provrbios formam um grande subgrupo das unidades fraseolgicas e so

    vistos como um legado cultural que se transmite de gerao a gerao e que testemunho da sabedoria popular.

    Neste grupo reconhecemos os, pelos portugueses chamados, provrbios, aforismos, mximas, ditos, adgios, anexins, ditados, sentenas, parmias, etc.

    Antigamente estas designaes eram consideradas por unidade bsica de toda a fraseologia, ou a fraseologia at estudava somente este grupo de parmias. Depois

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    apareceram tendncias para exclu-las da fraseologia. Porm, do ponto de vista de fraseologia moderna, os provrbios formam parte da fraseologia [Habovtiakov Krolkov; 1990: 10].

    Zuluaga considera provrbios como unidades fraseolgicas, chamando-os refranes. Estes tm sentido completo e complexo, so autnomos e pertencem ao grupo que Zuluaga chama los enunciados fraseolgicos funcionalmente libres, que son considerados textos y no dependen de ningn tipo de contexto para ser comprendidos [1980:139]. Igualmente a Corpas Pastor, que alm disso divide enunciados fraseolgicos em paremias e frmulas rutinarias, sendo o primeiro grupo o dos provrbios [1996: 66].9

    Porm, este grupo no formado exclusivamente pelos provrbios. Dentro do grupo encontram-se mais subgrupos que so, em cada lngua, difceis de distinguir com mais exactido. Em geral, podemos considerar os provrbios como ditos metafricos que se referem a alguma situao, refres como um tipo especfico de provrbios que exprimem relao entre um perodo do tempo e fenmenos atmosfricos, adgios como citaes annimas que contm uma lio moral aludindo a uma experincia colectiva, e expresses proverbiais como citaes de histricos, polticos, pessoas famosas, etc. Todos estes subgrupos tm forma de orao, verbal ou no, respectivamente de orao composta. Para melhor orientao chamaremos todos subgrupos mencionados provrbios.

    Reconhecer um provrbio num texto no difcil. O provrbio pode ser mais ou menos ligado metfora (Quem semeia ventos colhe tempestades; Quem tem telhado do vidro no atira pedras ao vizinho) e geralmente veicula um ensinamento, um conselho moral ou prtico, uma lio didctica (Nunca digas: dessa gua no beberei; Mais vale prevenir que remediar; Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita). Se no est ligado metfora, forma outro subgrupo que podemos chamar ditado.10 (Gro a gro enche a galinha o papo; Os homens no se medem aos palmos). Alguns linguistas fazem questo em distinguir os provrbios dos ditados, sejam uns metafricos ou no.

    9 O seu estudo aborda uma disciplina prpria paremiologia, independente da fraseologia. 10

    poekadlo

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    G. Corpas Pastor [1996: 137] determina cinco critrios para distinguir os provrbios de outras categorias afins como as locues idiomticas, as colocaes, as frmulas do discurso, as citaes, etc. So os seguintes:

    (i) lexicalizao,

    (ii) autonomia sintctica

    (iii)autonomia textual

    (iv) valor de verdade geral

    (v) carcter annimo

    (i) Quanto lexicalizao, tanto as locues idiomticas como os provrbios so lexicalizados, cristalizados, o que podemos explicar como processo lingustico pelo qual uma determinada combinao de palavras se fixa e adquire um significado prprio e independente dos seus constituintes. [DLPC; 2001: 1028]

    (ii) Aqui j notvel a diferena entre as locues idiomticas e os provrbios, visto que os provrbios entram no contexto exclusivamente como unidade total e j no se precisam formar gramaticalmente, porque todas as posies esto ocupadas, inclusive a do sujeito.

    (iii)Os provrbios so autnomos e, ao serem inseridos no discurso falado, pronunciam-se com uma entaoo distinta e so introduzidos por uns apresentadores (p.ex. como diz o provrbio; dizem os velhos; costuma-se dizer, etc.)

    (iv) As parmias oferecem um alto grau de generalizao em comparao com as locues idiomticas, que se referem a situaes concretas. Devido a esse facto, apresentam-se, geralmente, em forma de indicativo, ou at imperativo ou futuro.

    (v) Quanto a este critrio, os provrbios, to como as LI, tm carcter annimo o que os distingue das citaes e expresses proverbiais.

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    2.3.4. Comparaes fixas Existem muitos problemas polmicos no que diz respeito essncia das comparaes fixas (CFs), a sua denominao, o seu lugar em fraseologia, o seu tratamento lexicogrfico, etc. Assim, por exemplo, I. Meuk (1988, 1997) considera-as um tipo de colocaes e chama-as semi-frasemas [em Tchobnova; 2004: 3]. No seguimento de Casares (1950) Gloria Corpas Pastor [1996: 50] inclui-as dentro das locues idiomticas. O mesmo faz L. Gonzles Rey (2002) mas denomina-as expresses idiomticas [em Tchobnova; 2007: 649]. Contudo, para V.V. Vinogradov [em Habovtiakov Krolkov; 1990: 10] as CFs representam um grupo bastante autnomo, que forma uma unidade funcional, formal e semanticamente inseparvel. Segundo ele se trata de comparaes normalizadas pelo uso, atravs das quais nomeamos uma realidade indirecta e metaforicamente (teimoso como uma mula; fiel como um co; trabalhar como um escravo; etc.)

    Do ponto de vista formal, as CFs esto sujeitas a menos restries morfossintcticas e lexicais e podem sofrer uma srie de alteraes, ao contrrio de locues idiomticas que, em geral, no permitem expanso, substituio, nem cmbios morfolgicos e converso na passiva. A sua estrutura binria (esperto como uma raposa), cujo elemento esquerda ou o elemento que comparamos (comparado, tertium comparationis) serve de base da comparao, enquanto o elemento direita o elemento com que comparamos (comparando, comparandum) ou a imagem. A ligao entre os dois elementos faz-se mediante um nexo comparativo (comparator), que portador da relao de comparao: como, que nem, que s, pior que, feito, etc. (nexo comparativo de igualdade), ou mais...que, menos...que (nexo comparativo de superioridad e inferioridade). [Tchobnova; 2007: 650-652]

    As comparaes fixas podem apresentar vrias funes, como:

    (i) intensificadora ou hiperbolizada; que apresenta maior grau de qualidade (lindo como os amores, magro como um espeto),

    (ii) explicativa; (ir-se como um passarinho, estar/ficar como um tolo no meio da ponte),

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    (iii)irnica; quando se parte da aco contrria a que queremos designar (fazer tanta falta a algum como uma viola num enterro) tem a funo negativa.

    As CFs com funo irnica podem ser consideradas por locues idiomticas, visto que a ironia resultado da incompatibilidade entre o comparado e o comparando e que acusam assim uma dessemantizao completa [Tchobnova; 2007: 653]. Porm, ns decidimos considerar todas as CFs por locues idiomticas e no presente trabalho daremos ateno a elas.

    2.4. Variedade e tranformao Apesar de a 'fixidez' ser uma das caractersticas de UFs, estas podem apresentar certo tipo de variedades e modificaes.

    No SFI [ermk; 1983: 13] tomam-se em conta variedades e transformaes de UFs. Pela variedade percebemos por um lado a variedade sintagmtica, que denomina a possibilidade de omitir algum componente da unidade em certo contexto, sem a unidade perder o seu sentido (ter (alguma coisa) debaixo do nariz, as vezes denomina-se assim tambm um tipo de transformao), e por outro lado a variedade paradigmtica, que designa a possibilidade de substituio de um componente da unidade por outro (tambm sem alterao do significado).

    A transformao de unidade fraseolgica a mudana que no muda o sentido, mas sim a funo sintctica e textual da UF [SFI: 10]. Por exemplo em comparaes chega-se assim a transformaes seguintes: comparativizao (brincadeira de crianas como brincadeira de crianas), nominalizao (estar limpo como um brinco estar um brinco), adjetivao (ser teimoso como uma mula teimoso como uma mula), verbalizao (jogar o ltimo trunfo ser o ltimo trunfo), adverbializao (ser teimoso como uma mula teimosamente como uma mula), etc. [ermk; 1994: 18-19].

    No presente trabalho no estaremos atentos a mencionadas modificaes, porque as modificaes so muito comuns na jornalstica e descrev-las todas seria um trabalho

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    muito exausto para abordar aqui, facto que no nos parece assim to importante e interessante em comparao com a investigao que pretendemos fazer.

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    3. Caracterstica do estilo funcional jornalstico Com o termo jornalismo designamos a actividade profissional que consiste em

    lidar com notcias, dados factuais e divulgao de informaes. O jornalismo orienta-se para colectar, redigir, editar e publicar informaes sobre eventos actuais, pertencendo esfera de comunicao social, que se destina ao recipiente atravs dos meios de comunicao (mass media). [Bartoek; 2001: 5] A linguagem e os textos do jornalismo pertencem ao estilo jornalstico.

    O estilo jornalstico o estilo funcional autnomo que no faz parte de outro estilo algum. Porm, entrelaado com o estilo retrico, sobretudo na fala, e tem tambm traos de outros estilo funcionais. O estilo oratrio considerado como um predecessor do estilo jornalstico. A caracterstica comum dos dois , sobretudo, a de exercerem influncia no leitor, isto , a funo persuasiva. O que tem em comum com

    outros estilos p.ex. o uso de tecnicismos e a inteno de preciso e clareza de mensagem, bem como o uso da linguagem coloquial e no literria, os dois em funo de informar. O uso de metforas e de procedimentos narrativos fazem referncia ao estilo de textos artsticos, em que encontramos o maior espao para realizao de estilo individual do autor [Beka; 1973: 7].

    A misso bsica do jornalismo, no sentido mais amplo, informar o leitor sobre o tema escolhido. A informao deveria ser dada com maior ou menor objectividade e, ao mesmo tempo, deveria impressionar e captar a ateno do leitor. A funo informativa bsica, mas no nica no estilo jornalstico.

    Entre outras funes mencionemos a funo persuasiva, a de captar o leitor e a de o afectar. Os jornalistas pretendem levar o leitor a que leia o texto e, muitas vezes, a que tome uma posio quanto ao tema. O jornalista usa tais meios de expresso para que o leitor esteja de acordo com o autor do texto. Esta postura pode levar at a manipulao com o leitor, que encontramos sobretudo na imprensa sensacionalista11 e nas revistas dedicadas ao grupo social ou a faixa etria especial.

    11 Exemplos do estilo sensacionalista: O Crime e 24 horas.

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    3.1. Diferenciao interior do estilo jornalstico As peas jornalsticas do periodismo escrito tm seus traos caractersticos e

    podemos dividi-las em grupos individuais (independentes). Trata-se do estilo do periodismo informativo, periodismo literrio e o estilo da literatura periodstica.

    3.1.1. Periodismo informativo Os textos deste gnero formam a maior parte do jornalismo actual da imprensa

    diria. A mensagem de gneros informativos motivada pelo esforo de atingir a maior objectividade e preciso possveis. O destino primordial orientar o leitor em dada problemtica. Principalmente, os autores trazem s informaes bsicas e no entram em processo mais profundo de elaborao de matria. Bartoek caracteriza este esforo com mais propriedade, dizendo que a notcia responde s perguntas de Quem, o Qu, Quando, Onde, Como (as vezes porqu) [Bartoek; 2004: 43]. O leitor recebe assim s uma viso bsica do assunto, sem pormenorizadas anlises e mais profundos conhecimentos do problema. Surge o texto que impregnado de informaes e caracterizado por concretizao e, s vezes, at conciso.

    Os autores dos gneros informativos usam o portugus literrio, sem sotaque emocional, que completam com umas palavras do portugus coloquial, com arcasmos, neologismos e estrangeirismos (sobre tudo palavras de ingls). Raras vezes usam o vocabulrio de calo, de linguagem no-literria. Antes com os recursos lingusticos, pretendem impressionar com um tema escolhido e com a acessibilidade a este por parte do leitor. , sobretudo, nos gneros jornalsticos onde podemos observar o deslocamento da actualizao automatizao. (Veja captulo 3.3.)

    O gnero informativo representativo , sem dvida, a notcia.

    A notcia , em princpio, tudo aquilo que um jornal publica; mas em sentido tcnico, enquanto o gnero, a definio da notcia mais restrita. Como afirma Anabela Gradim [2000: 16]:

  • 28

    refere-se a textos eminentemente informativos, relativamente curtos, claros,

    directos, concisos e elaborados segundo regras de codificao bem determinadas: ttulo, lead, subttulos, construo por blocos, e em forma pirmide invertida.

    As caractersticas essenciais da notcia incluem a veracidade, actualidade e a capacidade de interessar, sendo que os valores que imprimem interesse a factos actuais e verdadeiros so a importncia, a proximidade, o contedo humano e a originalidade.

    A composio da notcia ajuda ao leitor a uma melhor orientao na leitura. Talvez o mais importante seja o ttulo, que deve chamar ateno do leitor e convenc-lo para ler o resto.12 No menos importncia tem o lead, o primeiro pargrafo da notcia, onde o leitor deve encontrar resposta a seis questes fundamentais: O Qu, Quem, Quando, Onde, Porqu e Como, sendo que as duas ltimas questes Porqu e Como podem omitir-se e aparecer no pargrafo subsequente. Assim o leitor recebe um resumo de artigo seguinte, onde as informaes do lead sero mais desenvolvidas. A tcnica mais comum de construo das notcias pirmide invertida, cuja base consiste em colocar o nexo mais importante da notcia no topo, enquanto todas as restantes informaes so dadas por ordem decrescente de importncia (ao contrrio, por exemplo, de construo de novela, drama ou conto).

    A notcia no o nico gnero que transmite os acontecimentos ao leitor. Muito

    prximo notcia encontra-se tambm a reportagem. A principal diferena entre os dois gneros consiste em que a reportagem adopta uma estrutura diferenciada da notcia, procurando tratar o assunto exaustivamente, segundo o ponto de vista adoptado, e em mais profundidade. A reportagem podemos consider-la por uma prosa de grande flego, como diz Gradim, que conta uma histria com o mximo de pormenores possveis, incluindo muitas notas de cor local, procurando levar os leitores o mais prximo possvel do acontecimento. Deve ser um trabalho normalmente preparado com certa antecedncia nas redaces, seguida pela recolha de informao in loco por parte do jornalista; em comparao com a notcia, onde a recolha de informaes 12 Como o ttulo presente em todos os gneros, prestar-lhe-emos ateno mais adiante.

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    efectuada atravs duma volta telefnica efectuada mais vezes por dia em agncias de informao, polcias, hospitais, estaes, etc. [Wolf; 2003: 221]. A reportagem no tem pirmide invertida, porque no a necessita. Encontra-se aqui mais espao para o estilo individual do jornalista e para a sua liberdade potica.

    Faamos aluso ainda legenda que um pequeno texto informativo, muitas vezes apenas uma frase, colocado ao p da fotografia, ilustrando-a, explicando ou, simplesmente, chamando ateno para ela.

    3.1.2. Periodismo literrio Os gneros do periodismo literrio no se ocupam somente com transmisso de informaes, o trao caracterstico do periodismo informativo. Aqui muito mais palpvel a presena do autor no texto. A mensagem enriquecida por atitudes do autor, explicaes e anlises, com avaliao de problemtica em questo. Os jornalistas assumem todas as escalas de posturas diante os temas escolhidos, que passam desde posturas de matiz positivo, por meras anlises, at sarcasmo. Os autores do periodismo literrio pretendem aumentar a atractividade do texto, que atingem mediante o uso do lxico actualizado ou atravs das construes que quebram de propsito as convenes estabelecidas.

    Os textos jornalsticos mencionados so representados, sobretudo, por editorial e comentrio.

    O editorial um texto relativamente curto, escrito pelo director do jornal, que acompanha cada nmero da publicao e que se debrua sobre os acontecimentos actuais ou os da edio do peridico. O editorial deve pronunciar-se em cada volume sobre um nico tema de interesse geral, coment-lo, analisar, argument-lo no corpo do texto e concluir pela posio inicialmente adoptada. Pretende dar uma opinio do jornal, porque os leitores esperam que o seu jornal se pronuncie sobre as grandes questes que agitam o mundo, o Pas ou a sua aldeia, e por isso um editorialista deve assumir essa tarefa de exprimir opinies e orientaes rigorosas [Gradim; 2000: 32 ]. O editorial sempre tem de tomar partido, ter a sua opinio que dirige as opinies dos leitores, tem de dizer em voz alta o que pensa. A mesma funo desempenhada pelos comentrios,

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    notas e textos que acompanham outras seces do jornal, que so de autoria colectiva e que documentam uma opinio colectiva relacionada com uma tomada de posio.

    Chamamos a entrevista o gnero bsico de toda a praxis jornalstica. Isto significa que a entrevista abastece os dados e informaes para quase todos os gneros jornalsticos. Entendendo a entrevista em sentido tcnico mais restrito, designa o gnero jornalstico conhecido como entrevista pergunta-resposta. A prpria entrevista tem que ser preparada cuidadosamente e com devida antecedncia, tem que ser escolhido o tema que faa parte de interesses e preocupaes estabelecidos dos leitores, e as perguntas feitas personagem entrevistada devem ser pertinentes e certeiras. A funo bsica da entrevista presentar ideias e atitudes de certa pessoa ou personalidade.

    rea dos textos tcnicos pertencem a crtica e a recenso. A funo delas chamar ateno do leitor a uma realidade e cultiv-lo em relao a essa, o que fazem mediante posturas ntida e claramente formuladas do autor, que se apresenta, a um certo ponto, como uma autoridade em relao ao fenmeno analisado.

    Nos jornais pode haver glossrios que so formados por notcias de menor importncia e de valor informativo inferior. Costuma ter lugar margem da pgina.

    Cada jornal contm os chamados faits-divers que so, como o prprio nome indica, pequenas notcias de temtica muito diversificada que relatam aspectos curiosos do quotidiano (roubos, acidentes, casos de polcia, e tudo o que suficientemente curioso) [Gradim, 2000]. A sua funo primordial no dar uma informao, mas sim relatar os factos interessantes, exemplares, extraordinrios, raros, extravagantes ou burlescos para distrair e desanuviar os leitores.

    Tambm a j mencionada reportagem pode pertencer ao periodismo literrio. Depende dos meios de expresso que utiliza.

    3.1.3. Literatura periodstica Nos gneros jornalsticos deste tipo encontra-se tambm, alm das funes j mencionadas, a funo esttica, que uma funo muito essencial na literatura

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    periodstica. Os autores dos textos deste gnero expressam-se mediante o seu prprio estilo, usando muitas vezes expresses metafricas e figuras retricas.

    Um dos gneros tpicos que abrangem a funo esttica o artigo de opinio. Trata-se dum texto jornalstico de extenso variada em que o autor exprime pontos de vista subjectivos, e tem por objectivo lanar debate, afirmar determinadas posies pessoais, apresentando argumentos a esse favor, e pretende levar os outros a partilharem ou adoptarem tais teses ou concluses. No serve para fornecer informaes novas, ou para dar notcias; procura apenas chamar a ateno para determinados aspectos das notcias que inclinam a passar despercebidos e que no podem, por qualquer razo, ser tratados em prpria notcia.

    Existe um gnero muito prximo e parecido opinio que muitas vezes at se confunde com ela. A crnica, como o prprio nome alude,

    um relato de acontecimentos e factos curiosos do quotidiano, fazendo apelo imaginao e s potenciais estticas da linguagem. As crnicas muito raramente exprimem opinies, como raramente tm por fim convencer um auditrio. Trata-se de textos de leitura leve e agradvel. A diferena fundamental entre opinio e crnica consiste em que a primeira utiliza sempre dados ancorados no real, enquanto a segunda apenas toma o real como pretexto, permitindo-se liberdades poticas, criadoras e imaginativas (ironia, humor, etc.) que no so toleradas em nenhum outro gnero. [Gradim; 2000: 38]

    Uma boa crnica nos prende, prope, diverte e fonte de prazer e estmulo intelectual.

    Depois de ter caracterizado brevemente os gneros jornalsticos, resta mencionar o ttulo que anuncia o texto jornalstico e costuma ser o primeiro, s vezes tambm nico, em que o leitor repara quando se debrua sobre as pginas de um jornal. Tendo em conta este facto, escolher um bom ttulo se nos apresenta como uma tarefa difcil. Regra geral, o ttulo tem de ser concreto e tem de estar relacionado com o assunto de que fala o texto. Serve para informar, cativar, prender o leitor, despertando a sua ateno e curiosidade. Os ttulos dos gneros informativos devem ser objectivos e

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    exactos, devem informar sobre o que se passou, levando ou no o leitor para uma leitura posterior do texto. Nos ttulos de outros gneros pode haver resumo do texto, ou apenas meia informao, ou tambm expresses metafricas e duplo-sentido.

    A lista dos gneros jornalsticos acima mencionada no exaustiva, maneira que alguns textos se encontram na zona fronteiria entre os gneros informativos, literrios e literatura periodstica. Porm, a lista mencionada ajuda-nos a orientar-nos em textos principais e discursos de estilo jornalstico.

    3.2. Expressividade e avaliao Uma considervel parte do presente trabalho consiste numa anlise do nvel de expressividade das unidades fraseolgicas escolhidas. Para efectuarmos esta anlise inspiramo-nos na diviso bsica das marcas de expressividade segundo SFI13; onde se diz que a expressividade pode ser acentuada ou suprimida, dependentemente do contexto concreto. Segundo SFI, a expressividade marcada formam oposies elogioso/desprezador, jocoso/escarnecedor, acariciador/grosseiro; e as marcas surpreendente, de advertncia e irnico. [ermk;1983: 15] 14 Em presente trabalho no obedeceremos estritamente esta diviso, mas sim lev-la-emos em considerao e us-la-emos quando for necessrio.

    Apesar de a unidade fraseolgica pertencer a certo tipo de expressividade, segundo a frequncia de uso dela, este facto no significa que uma tal unidade no se possa encontrar num outro nvel. [Ibidem: 15] O elemento de avaliao aparece por um lado em substncia prpria da UF, e por outro lado resulta do contexto concreto. A expressividade e as marcas da expressividade sero categorizadas em nossas unidades fraseolgicas encontradas em relao sua funo avaliativa, que pode ter avaliao positiva, negativa ou de mera intensificao.

    13 Slovnk esk frazeologie a idiomatiky 14

    Expresivita je v zvislosti na konkrtnm kontextu zvrazovna, nebo naopak potlaovna. Pznakovou expresivitu tvo opozice pochvaln / hanliv, ertovn / posmn, mazliv / zhrubl, pop. vulgrn; dle jsou to rysy pekvapiv, varovn a ironick.

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    Tambm poderemos ver que a expressividade extrai a sua fora principal no s dos reajustamentos semnticos e das relaes positivas/negativas, mas tambm dos reajustamentos metafricos e metonmicos (ter o pssaro na mo e deix-lo fugir) que muitas vezes vm acompanhados pela personificao do reino animal (ovelha negra/ ranhosa; lobo/ leo do mar), ou com o pleonasmo (defender-se com unhas e dentes; dizer cobras e lagartos de algum; por montes e vales; etc.), com um tipo de sindoque chamado pars pro toto (parte pelo todo) (contar as cabeas; de mos vazias; de mo em mo, ter dedo para alguma coisa).

    3.3. Automatizao e actualizao Para estilo jornalstico so caractersticas duas tendncias contraditrias: por um

    lado realiza-se aqui uma constante automatizao de meios lingusticos, e por outro, um processo de actualizao.

    Por automatizados consideramos os meios lingusticos que fazem parte da norma literria geral e que durante o acto de comunicar no chamam ateno nem dos falantes nem dos recipientes. So to automatizados na nossa subconscincia lingustica que a mensagem transmitida clara, legvel, de fcil percepo e interpretao por recipiente [Osvaldov; 2005: 120].15 Trata-se de automatizao dos meios lingusticos, devido ao abuso dos j automatizados, ou dos criados recentemente. Um exemplo extremo so expresses publicsticas - expresses, locues e colocaes fixas, que foram criadas por jornalistas e que se limitam s esfera jornalstica, da que se podem espalhar e afectar p.ex. linguagem falada ou escrita. (Um publicismo tpico , p. ex. palavra chave, alvo, etc.)

    O lado oposto da automatizao lingustica a actualizao expressiva, que o produto de desvio da expresso estndar. Pode criar-se mediante a renovao das expresses esquecidas (arcasmos), mediante a criao das expresses novas e originais, 15 Automatizovan je zpsob vyjden pro dan komunikan cl natolik ustlen, e nebud pozornost. Ustlenost ve vyjdovn je jednm z aspekt pehlednosti textu, usnaduje pjemnci vnmn a interpretaci.

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    metforas do autor, ironia, e mais. A actualizao leva dinamizao do discurso e chama ateno do recipiente.

    A actualizao e a automatizao so os processos incessantes, dinmicos, (tambm mtuos), mediante as quais uma lngua torna viva e dinmica.

    3.4. Clich As UFs permitem ao autor fazer uma avaliao mais intensiva na hora de expressar informaes novas. Segundo Mal (2003), as UFs tm o potencial de chamar mais ateno do recipiente e de serem tambm uma rica fonte de humor e stira.

    No jornalismo actual acontece s vezes uma grande conjuntura das UFs, o que pode causar um fenmeno oposto originalidade, expressividade e intensificao da mensagem. As UFs aparecidas repetidamente so sentidas como triviais, gastas e como clich. Esta situao caracterstica sobretudo para certos tipos de expresses de baixo grau de idiomaticidade, para colocaes tipo ter palavra, fazer papel, ser chave, ser alvo, etc. Tambm UFs (com metfora/metonmia) que antes serviam como meios de actualizao estilstica, so marcadas, hoje, por certo desgaste, sobretudo nos gneros do periodismo informativo, como p.ex.: abrir as portas, dar o primeiro passo, ter alta, porta fechada.

    Para que este fenmeno no acontea, os jornalistas inventam variedades e modificaes das UFs, jogos de palavras mediante locues idiomticas ou provrbios. O fenmeno clich acontece, na maioria das vezes, nos textos jornalsticos onde a subjectividade do jornalista patente comentrio, reportagem, opinio, etc. Nestes gneros, onde prevalece originalidade, fantasia e persuaso, prevalecem tambm UFs modificadas. Os fraselogos distinguem entre expresses que se encontram nos dicionrios e entre modificaes, que so consideradas por expresses originais e ocasionais do autor, e que contm jogos de palavras, aluses, redues ou complementaes. As modificaes servem para atingir o efeito desejado do texto.

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    4. Parte analtica

    4.1. Caracterstica e mtodos da recolha O material lingustico fora extrado mediante a recolha de dirios, semanrios e

    ocasionrios desde Outubro 2009 at Maio 2010. Prestmos a nossa ateno exclusivamente s revistas impressas, que mencionamos a seguir:

    Dirio de Notcias: sexta-feira, 30 de Outubro de 2009, ano 145, n 51 342

    Dirio de Notcias: sbado, 31 de Outubro de 2009, ano 145, n 51 343

    NS notcias sbado: 31 Outubro 2009, n 199 (faz parte integrante do DN)

    Correio de Manh: sbado 31/10/2009, ano XXXI, n 11 108

    Correio de Manh VIDAS: semana de 31. 10. a 6. 11. 2009

    Correio de Manh: tera-feira, 09/02/2010, ano XXXI, n 11 207

    Dirio de Notcias: tera-feira, 9 de Fevereiro de 2010, ano 146, n 51 442

    Pblico: tera-feira, 9 de Fevereiro de 2010, ano XX, n 7250

    O Diabo: 9 de Fevereiro de 2010, ano XXXIII, n 1728

    Pas Positivo: Fevereiro 2010, n 34

    24 horas: quarta-feira, 12/5/2010, edio n 4.367

    Viso: 6 a 12 de Maio 2010, n 896

    Durante a recolha foram lidos todos os gneros jornalsticos sem excepo, com os seus ttulos, subttulos e leads; discursos directos e indirectos.

    No campo semntico foi observado o contedo dos textos particulares. Dentro dos textos foram procuradas as unidades fraseolgicas, posteriormente foram analisadas

  • 36

    as suas funes dentro do texto e, no caso de funo avaliativa, tambm as marcas de expressividade. O ltimo captulo da nossa anlise dedicado aos recursos lingusticos, mediante os quais se forma a maioria das UFs. Observmos a sua semntica e tentmos propor equivalentes que no tivessem sentido figurado.

    O problema de frequncia e usualidade das unidades fraseolgicas, que no relevante no caso das metforas de autor, nem no caso das unidades actualizadas, foi resolvido mediante a consulta em Dicionrio de Frases Feitas de Orlando Neves e, sobretudo, em Novos Dicionrios de Expresses Idiomticas de Antnio Nogueira Santos. No caso das unidades fraseolgicas no documentadas surgiu-nos a questo se estas so usadas e conhecidas em geral. Aqui obedecemos a nossa experincia de leitor e mencionmos s as UFs conhecidas e verificadas em www.google.com. Todas as unidades fraseolgicas mencionadas no presente trabalho encontram-se recolhidas no fim, sendo as no documentadas explicadas com prprias palavras.

    4.2. Funo das unidades fraseolgicas As unidades fraseolgicas tm trs funes:

    (i) Funo de informar,

    (ii) Funo de persuadir,

    (iii) Funo de actualizao.

    As UFs apresentam meios lingusticos que tm significados lexicais e no texto so portadores de certa informao; denominam concisamente objectos e fenmenos da realidade extralingustica. Na maioria das UFs entram em primeiro plano os traos pragmticos de significado; sobretudo a avaliao e a expressividade que reforam significativamente a funo persuasiva [Filipec ermk; 1985: 69].16 As unidades

    16 Frazmy pedstavuj jazykov prostedky, je maj svj lexikln vznam a jsou v textu nositeli urit informace. Frazeologick jednotky pojmenovvaj ve strunosti pedmty a jevy mimojazykov reality. U vtiny frazeologickch jednotek vystupuj do poped tak pragmatick rysy vznamu. Jedn se zejmna o evaluativnost a expresitivu, je v textu vznamn pispvaj k poslen funkce persvazivn [Filipec ermk; 1985: 69].

  • 37

    fraseolgicas tradicionalmente encontramo-las devido actualizao ou intensificao de mensagem, que pode ser causa das tendncias de perturbar e modificar a estas.

    Alm das trs funes bsicas, as UFs nos gneros jornalsticos podem ter mais funes parciais, especficas. Estas funes no se encontram no texto isoladamente, mas acompanham as funes j mencionadas. Trata-se de tais funes como: de avaliao, de argumento, de recapitulao, de recomendao, de glosa e de meio de humor lingustico. No mbito da funo de actualizao as UFs fazem parte da criao de humor lingustico. As funes acima mencionadas no tm fronteiras estritamente definidas, que significa que uma UF pode ter mais funes ao mesmo tempo.

    4.2.1. Funo de avaliao Para dar opinio e atitude, os jornalistas muitas vezes usam expresses avaliativas. Normalmente usam denominaes estilisticamente no marcadas, ou seja, neutrais, mas quando querem reforar um aspecto positivo ou negativo da realidade em questo, fazem uso dos meios estilisticamente marcados. As mais apropriadas parecem-lhes as UFs, visto que a capacidade de avaliar est presente na maioria destas. [Filipec ermk; 1985].17 As UFs tm diferentes variantes para exprimir uma atitude avaliativa, que emana da semntica de cada unidade fraseolgica, e tambm tm relao com um carcter estilstico dos componentes usados nas UFs. Podemos us-las quando queremos simplesmente atribuir uma caracterstica a uma pessoa, a um certo grupo de pessoas, instituio, etc. Trata-se dos casos em que seria possvel fazer uma avaliao usando um equivalente no-fraseolgico e de uma palavra: p.ex. ser bicho-do-mato = ser insocivel. Neste caso o sentido da unidade fraseolgica claro e perceptvel sem ser necessrio acudir ao contexto. Em contraste com a unidade no-fraseolgica, as UFs destacam-se pela marca de expressividade, forte ou fraca, e a avaliao , portanto, mais sugestiva.

    17 Publicist pi vyjadovan svch nzor a postoj uplatuj velmi asto hodnotc vrazy. Vtinou uvaj pojmenovn stylov nepznakov, avak chtj-li zeslit pozitivn nebo negativn strnku hodnocen skutenosti, vol prostedky stylov pznakov. Z tch se jev jako zvlt vhodn frazmy, nebo schopnost hodnocen je potenciln ptomna ve vtin z nich [Filipec ermk; 1985].

  • 38

    Como se trata de funo avaliativa, em todos os exemplos deste captulo atribuiremos uma marca de expressividade positiva ou negativa (2 grau de intensificao); caso a UF tivesse uma marca de expressividade muito fraca, avali-la-emos como intensificadora sem valor aderente (1 grau de intensificao). Esta diviso acompanh-la-emos ainda com outras especificaes (p.ex.: avaliao positiva e levemente jocosa, negativa cnica, negativa escarnecedora, irnica, de advertncia, etc.) Como os dicionrios da lngua portuguesa no fazem referncia maioria destas marcas de expressividade, no presente trabalho fazemos ditas avaliaes subjectivamente; caso haja referncia, mencion-la-emos como est no dicionrio.

    Iniciaremos uma larga lista de exemplos com as UFs com primeiro grau de intensificao, ou seja, sem atribuio de um valor aderente:

    Cidade catica que vive a dois tempos [Pblico; 9.2.2010, pg.6, ttulo sobre o sismo no Haiti] (meio expressivo que intensifica algum facto raro, no frequente que chama a ateno a uma situao estranha, difcil, vivida no Haiti)

    Em 27 anos a trabalhar na noite recorreu sempre ao mtodo dos dois dedos de conversa para travar os indesejveis e garantir a harmonia [...] [DN gente; 31.10.2009, pg. 2 e 3, reportagem] (meio expressivo que intensifica uma superficialidade de alguma conversa mas, ao mesmo tempo, uma disponibilidade a conversar)

    Pinto Monteira e Noronha do Nascimento vo dizer ao PR porque fecharam a sete chaves as denncias de crime feitas pelos magistrados do Face Oculta. [o Diabo; n1728, 9 de Fevereiro de 2010, pg.1, lead] (meio expressivo que intensifica algum facto que designa o fim de um processo)

    H unidades fraseolgicas onde imprescindvel conhecer o contexto para se entender se a UF tem uma marca intensificadora positiva (+) ou negativa (-). Chamemos estas UF contextuais (+/-):

  • 39

    Teero comea hoje a produzir urnio enriquecido a 20%, que peritos dizem ser tecnologicamente meio caminho andado para a bomba atmica. [CdM; 9. 2. 2010, pg.28, lead] (meio expressivo que intensifica algum facto, neste caso negativo e ameaador para o mundo) (-)

    No dos jogos mais difceis, embora consiga meter os cabelos em p at dos mais experientes. [NS, n199; 31.10.2009, pg.44, notcia em seco jogos] (meio expressivo que intensifica a intensidade da dificuldade de um jogo. Avaliao neste caso positiva +, mas poderia ser tambm negativa, noutros contextos) (-)

    Sei que no sou fcil. Sou controladora e quero tudo em ordem. A minha cabea anda a mil hora. Sei que posso ser chata. [CdM - Vidas; 31.10. a 6.11. 2009, pg.11, faits-divers] (meio expressivo que intensifica a capacidade mental de uma pessoa, suponhamos, positiva, mas que pode ter consequncias negativas. Aqui prevalece contextualmente negativa) (-)

    Mas nos seus cinco anos de pontificado, este homem que mede cada palavra j causou alguns embaraos ao Vaticano. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.100, reportagem] (meio expressivo que intensifica a capacidade mental de uma pessoa, suponhamos positiva, mas que pode ter consequncias negativas. Aqui prevalece contextualmente negativa) (-)

    Uma ideia roubada a ciclos de debate e a cadernos que se estendem desde 70, publicados e com data e com autores que figuram na lombada dos livros. Mas, aqui, o olho v e a mo pilha. Do mesmo modo os ciclos sobre o mar, agora to despertos, ignoram quem os comeou. [o Diabo; 9 de Fevereiro de 2010, pg.2, opinio] (aqui prevalece contextualmente negativa) (-)

    H casos em que a UF somente insinua uma avaliao, mas s com ler o resto da frase podemos saber se se trata de avaliao positiva ou negativa. Por exemplo, para que

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    a frase neutral documentada fazer figura de seja completa, temos que encontrar no texto o substantivo posposto:

    O Governo, remata o vice laranja, est a fazer figura de baro arruinado mas que quer manter as grandezas. [Viso; n896, 6 a 12 de Maio 2010, pg.42, reportagem] (marca de expressividade negativa, levemente escarnecedora) (-)

    O caso semelhante a unidade fraseolgica fazer uma perna, onde necessrio acrescentar ou completar uma situao:

    [...] o desfile de estrelas faz-se mesmo diante do nosso nariz e uma folha seria pouco para nomear todos os ilustres que fazem perninha neste cozinhado de amores no caldeiro de Nova Iorque. [CdM Vidas; semana de 31.10. a 6.11. 2009, pg.50, notcia em seco xito] (expresso intensificadora, levemente jocosa) (+)

    Os dois exemplos acima mencionados realam a importncia do contexto para a percepo do significado da UF.

    Alm das UF intensificadoras (com 1 grau de intensificao) e as UF contextuais (que sem contexto no as avaliaremos), temos outro grupo das unidades fraseolgicas, onde encontramos expresses com 2 grau de intensificao, que possuem um valor aderente - positivo ou negativo.

    Sou um bicho-do-mato. S me dou com a pessoa com quem vivo e mais com uma ou duas. [CdM Vidas; semana de 31.10. a 6.11. 2009, pg.10, notcia sensacionalista] (avaliao negativa de uma qualidade subjetiva) (-)

    [...] assim. Porque a crise apanhou-me de barriga cheia. Com tecto onde me proteger da chuva. Com uma cama para dormir. [Viso; n896, 6 a 12 Maio

  • 41

    2010, pg.64, reportagem] (meio expressivo que intensifica uma sorte, sorte subentende-se do contexto) (+)

    A Bblia diz que somos um todo e que quando morremos acaba tudo, no h uma alma imortal que vai para o Cu ou para o Inferno. Ficamos espera da Ressurreio, da segunda vinda de Jesus Cristo, altura em que voltamos a viver e em que nos reencontramos, em carne e osso, com todos os que j partiram, acrescentou. [Pblico; 2. 11. 2009, pg.20, crnica] (expresso intensiva de algum facto positivo) (+)

    [...] a cantora Katy Perry levantou o vu sobre os pormenores do enlace. [24 horas; 12. 5. 2010, pg.35, notcia sensacionalista] (meio expressivo que intensifica algum facto, neste caso subentende-se algum facto esperado, desejado) (+)

    o Estado bloqueado, sem sada. Onde as suspeitas de que um Governo ter tentado controlar a comunicao social ficaram na gaveta. [Pblico; 9. 2. 2010, pg.31, opinio] (meio expressivo que intensifica algum facto negativo com um tom levemente recriminativo) ()

    Claudia Shiffer posou para a objectiva tal como veio ao mundo. [24 horas; 12. 5. 2010, pg.35, notcia sensacionalista] (meio expressivo que intensifica algum facto positivo) (+)

    EUA. Popularidade do inquilino da Casa Branca [Obama] caiu a pique. At os pinscom o seu co, Bo, so mais procurados [DN; 30.10.2009, pg.4, lead] (meio expressivo que intensifica o facto negativo) ()

    Para Rocha Pris esta visita do Papa significar fechar com chave de ouro a sua carreira. Alis, j vai atrasado uns meses para a reforma. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.112, reportagem] (meio expressivo que intensifica algum facto positivo) (+)

  • 42

    Por outro lado, a dualidade de critrios destes senhores brada aos cus. [DN; 30.10.2010, pg.10, opinio] (meio expressivo que intensifica algum facto negativo) ()

    Dom Afonso de Coimbra, da nclita Gerao, viajado e experiente, homem das Sete Partidas, percebeu perfeitamente a problemtica das costas africanas...[o Diabo; 9 de Fevereiro de 2010, pg.2, opinio] (meio expressivo que intensifica uma qualidade positiva de um homem) (+)

    A palavra corao est muito em voga na hora de avaliar as pessoas, e quando vem acompanhada dos adjectivos grande, enorme, tem sentido positivo, nestes exemplos, acariciador:

    Um homem de corao grande. As palavras de Alcides Alves, presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, reflectem o sentimento da populao relativamente ao empresrio Manuel Jos Godinho ... [DN; 30.10. 2009, pg.7, notcia] (meio expressivo que intensifica qualidade positiva) (+)

    Era um menino de corao enorme generoso com as pessoas que o rodeavam, diz. [DN; 30.10.2009, pg.8, notcia] (+)

    Excelente pessoa, o conhecido actor fala sempre com o corao na boca. Fala e fala bem. [24 horas; 12.5. 2010, pg.34, notcia sensacionalista] (meio expressivo positivo, exprime qualidade positiva) (+)

    Os jornalistas fazem uso das unidades fraseolgicas tambm quando precisam denominar um acto ou um efeito / resultado de uma pessoa, uma instituio ou uma coisa.

    Para denominar o acto das pessoas foram encontradas as seguintes frases:

  • 43

    Quem diria que um casamento podia ditar o futuro de um concelho? Foi assim em Pedrgo Grande, quando, na dcada de 40, uma moa da terra juntou os trapos com um italiano feirante. [DN; 9.2.2010, pg.27, notcia] (avaliao positiva, levemente jocosa) (+)

    So bons na cama mas no gostam s de uma mulher, disse, confessando que um portugus lhe partiu o corao. [CdM; 31.10.2009, pg.26, notcia] (expresso de um acto negativo) ()

    Basta ver o puxo de orelhas que o colectivo de juzes do Tribunal Judicial de Lisboa deu a esta rapaziada passando-lhe o correspondente diploma no caso da permuta do Parque Mayer. [24 horas; 12 de Maio, 2010, pg. 64, opinio] (meio expressivo que intensifica, um facto levemente negativo) (-)

    Negcios de trfico de droga tero estado na origem do crime que vitimou homem de 32 anos, em Algueiro. Autores do assassnio andaram a monte dois meses e meio at serem apanhados. [DN; 30.10.2009, pg.22, lead] (desprezador, recriminativo) ()

    E pases sem armas atmicas, como o Egipto e a Turquia, torcem o nariz a

    inspeces enquanto Israel no aderir. [Viso, n896; 6 a 12 Maio 2010, pg.73, notcia] (exprime descontentamento ou dvida, negativo) (-)

    Agora a actriz decidiu abrir o corao e revelar o porqu de nunca ter apresentado publicamente o cantor como seu namorado. [CdM; 31.10.2009, pg.45, notcia] (a expresso intensifica um facto desejado, esperado, o que positivo) (+)

    espera de melhores dias: A crise toca a todos: um vendedor passa pelas brasas enquanto espera a chegada de clientes no mercado de antiguidades em Pequim, na China. [24 horas; 12.5.2010, pg.18, fotolegenda] (facto negativo, pode ser jocoso) ()

  • 44

    Moreno escadeou e esticou o cabelo de Iassmin Hosseni, que deu carta-branca ao hairstylist para melhorar o seu visual. [CdM Vidas; semana de 31.10. a 6.11.2009, pg.58, fotolegenda] (autorizao, elogioso para o hairstylist) (+)

    Na separao dos pais, Diana Pinto saiu em defesa da me, Carla Baa, virando as costas a Joo Pinto. [CdM Vidas; semana de 31.10. a 6.11.2009, pg.15, notcia sensacionalista] (negativo-desprezador) ()

    Nessa altura acabaram por meter a viola no saco. [DN; 9. 2. 2010, pg.7, opinio] (negativo, calar-se) (-)

    Ofende a reputao da directa trat-la como um esforo de ltima hora que feito porque se andou na pndega nos dias em que se deveria ter trabalhado. [Pblico; 9.2.2010, pg.31, editorial] ()

    Os actos das pessoas consequentemente daro resultados. S com o tempo sabemos se os resultados so positivos ou negativos. No presente trabalho as unidades fraseolgicas encontradas documentam resultados negativos, (embora no primeiro exemplo s hipoteticamente):

    No acho que se possa fazer grande coisa. Se incentivamos em eles a separar-se, teremos outro perna o resto da vida [...]Uma noite, por motivos vrios, ficam em casa sozinhos e o mundo cai-lhes em cima. [NS; n199, 31.10.2009, pg.74, opinio] (a primeira expresso exprime o sinal de medo de ter algum perna, a segunda expresso negativa) (-) (-)

    Desde que o meu Andr Cerqueira assumiu o cargo de director de programas da TV1, h pouco mais de um ms, que anda sem mos a medir com tantas tarefas. [24 horas; 12.5.2010, pg.46, entrevista] (exprime levemente o sentimento respeito a terceira pessoa) ()

  • 45

    Tal como pessoas, podem ser tambm grupos, instituies ou annimos a executarem uma actividade, como nos demonstram exemplos que se seguem:

    Muita tinta se gastou sobre os ordenados e prmios milionrios dos gestores pblicos. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.14, opinio] (reprovativo) ()

    O Parlamento Europeu (PE) dever hoje, reunido em sesso extraordinria em Estrasburgo, dar luz verde segunda Comisso Europeia (CE) comandada pelo ex-primeiro ministro portugus Jos Manuel Duro Barroso. [DN; 9.2.2010, pg.22, notcia] (autorizao) (+)

    Perante a crise, os Estados Unidos reagiram em ordem dispersa, numa espcie de salve-se quem puder. [DN; 9.2.2010, pg.51, opinio] (sente-se uma leve jocosidade, ironia, cinismo) ()

    Habituado a isso, o Povo riu-se amarelo outra vez, enquanto o Z Pagode de religio socialista, abraava fervorosamente a palma do martrio. [o Diabo; 9 de Fevereiro de 2010, pg.7, opinio] (irnico) ()

    A frase seguinte, alm da aco dos meios de comunicao, contm tambm um resultado o impacto sobre o indivduo:

    Os meios de comunicao, h que dizer, competiam por fazer o relato mais apocalptico do nosso futuro, o que piorava ainda mais as coisas. Originavam um clima de salve-se quem puder. Mas at ao dia em que esperei pelas moedas, ainda no o tinha sentido na pele. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.62, reportagem sobre a crise em Argentina] (-) (-)

  • 46

    O resultado de actividade da equipa ou do grupo documentamo-lo com uma frase que contem certa explicao, perdoamento no ter mos a medir; dar frutos certa alegria perante um resultado esperado):

    Logo aps a publicitao do incio do estudo, em Abril de 2009, a equipa de investigao do SexLab no teve mos a medir para tentar dar resposta s mais de trs centenas de contactos que em apenas trs semanas inundaram o laboratrio de UA. [24 horas; 12.5. 2010, pg.44, reportagem] ()

    A impresa apresentou recentemente os resultados do terceiro trimestre, tendo conquistado lucros de 2,4 milhes. Em comunicado, o grupo admitiu que o plano de restruturao comea a dar frutos. [CdM, 31.10.2009, pg.44, notcia] (+)

    s vezes os jornalistas conseguem escrever uma frase, j de propsito ou no, que no sabemos se explicar literalmente ou no, como aconteceu em seguinte ttulo:

    Iulia perdeu mas ainda no apertou a mo a Ianukovich [Pblico; 9.2.2010, pg.10, ttulo da notcia]. (pertinente o sinal de descortesia por motivos de no aceitar a perda. Pode ser explicada com que Timochenko ainda no apertou a mo a Ianukovich (isto , literalmente), bem como que a vencida ainda no reconheceu a vitria a Ianukovich) ()

    Em alguns casos os jornalistas usam as unidades fraseolgicas para especificar a circunstncia de certa actividade ou situao:

    Depois de maior queda semanal em 11 meses, a Bolsa portuguesa fechou ontem com ganhos de 1,29%, impulsionada pela forte valorizao das aces da Brisa e dos bancos. Mas, com o risco dvida pblica portuguesa em nveis recorde, o mercado vive no fio da navalha. A Brisa afastou, para j, o pessimismo a concesionria de auto-estradas, uma das empresas mias expostas ao agravamento

  • 47

    dos juros da dvida pblica ... [DN, 9.2.2010, pg.31, notcia da bolsa] (de advertncia de gravedade, momento crtico) ()

    O Iro deu ontem mais um passo em frente no tenso jogo do gato e do rato que mantm com a comunidade internacional ao anunciar para este ano o arranque da construo de mais dez centenas de enriquecimento de urnio. [CdM, 9.2.2010, pg.28, notcia] (escarnecedor advertncia levemente humorstica/hiperblica de que no se entendem as duas entidades, de que se relacionam pessimamente, que discutem e se hostilizam permanentemente) () (levemente risomho)

    A opinio partilhada por Joo Joanaz Monteiro que acusa: o avaliador no pode ter interesses partidrios ou financeiros, mas em Portugal isso acontece a torto e a direito. [DN, 30.10.2009, pg.7, notcia] (desprezador, de qualquer maneira, toa, irreflectidamente) () desprezo

    A McDonell, ali sediada, teve-o logo debaixo de olho, mas como trabalhava para a Armada, no podia contratar um alemo. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.26, notcia] (de advertncia de vigiar algum, no desviar a ateno de algum ou de alguma coisa, intensidade de vigia) (+)

    Um desses trabalhos passa pela viso artificial, que tem muitas vantagens, mas tambm limitaes, como lembram os especialistas. Estes lembram que apesar de ser uma luz ao fundo do tnel, para j servir apenas para uma nfima percentagem dos 37 milhes de casos de cegueira em todo o mundo... [NS, n199; 31.10.2009, pg.40, notcia da sade] (avaliao positiva, exprime certa esperana) (+)

    O jornalista no deveria exprimir s as suas prprias posturas avaliativas, quanto a uma realidade (excepto no caso da literatura periodstica, onde permitido exprimir

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    opinies). Igualmente pode oferecer informaes sobre posturas avaliativas de outrem. Tambm neste caso as unidades fraseolgicas vm a propsito, embora haja possibilidade de que a pessoa, para qual o jornalista chama ateno, no tivesse usado a UF na sua declarao original.

    A viver o grande amor da sua vida, a actriz e apresentadora da SIC s tem olhos para Yannick Djal [CdM Vidas; semana de 31.10. a 6.11.2009, pg.3, lead] (advertncia de interesse) (+)

    A PSP foi contactada e via com bons olhos. [DN; 9.2.2010, pg.33, notcia] (advertncia de uma maneira louvvel, desejada de realizao de contacto) (+)

    Ao opor-se a um referendo sobre os casamentos homossexuais, Lou demonstra que, para alm do Bloco e pouco mais, os portugueses no aceitariam de bom grado o que para muitos no passa de uma intromisso do Estado em assuntos que s dizem respeito a uma camada nfima. [CdM; 31.10.2009, pg.16, opinio] (advertncia de maneira desejvel mas no concretizada da concretizao de algum acto) (+)

    Nos exemplos acima mencionados, o jornalista caracteriza o estado de paixo de uma actriz, refere-se maneira elogiosa de o partido ter estado contactado e imita palavras de Lou, que se refere a uma possvel postura dos portugueses. No exemplo a seguir, um autor do programa do PS especifica uma postura do Governo frente aos socialistas:

    At no interior do PS o ambiente de tenso notrio. So poucos os socialistas que ousam criticar abertamente Scrates. Mas so tambm poucos aqueles que manifestam a sua solidariedade com o lder socialista. Mesmo Antnio Vitorino, autor do programa do PS, assumiu ontem noite na RTP que o Governo d-se mal com algum tipo de crtica da comunicao social. [Pblico; 9.2. 2010, pg.4, notcia do processo Face Oculta] (advertncia mais ou menos neutral de

  • 49

    que no se entendem as duas entidades, de que se relacionam pessimamente, que discutem e se hostilizam permanentemente) ()

    H expresses que tm uma posio especial no mbito dos meios de avaliao, porque so capazes de exprimir uma medida/um grau da avaliao. Entre as UFs existem incontveis grupos semnticos que expressam quantidade (milhares de), frequncia (quando o rei faz anos, vezes sem conta, anos a fio) ou intensidade (trabalhar como um escravo). Estas comparaes fixas so breves, acertadas, concretas e perceptveis, por isso convenientes para o jornalismo.

    J a banda sonora que acompanha os ases do volante assenta que nem uma luva. [NS; n199, 31.10.2009, pg.44, seco Jogos] (elogio) (+)

    A associao v essa promessa como uma casca de banana para os comerciantes e para os utilizadores do mercado. [DN; 9.2.2010, pg.20, notcia] (advertncia de uma trampa, cilada, ratoeira) ()

    Mohamed Al-Fayed fez correr rios de tinta nos jornais por ser dono dos famosos armazns londrinos Harrods ... [NS n199; 31. 10. 2009, pg.12, notcia] (intensidade, podemos consider-la como neutral, sem nenhum valor aderente)

    Durante a nossa investigao evidencimos que os jornalistas tm muito gosto em desviar-se da expresso estndar, inventando expresses novas e originais, usando metforas do autor, ironia, etc. Esta actualizao (ver captulo 3.3.) rompe a leitura rotineira e chama a ateno do recipiente, como no seguinte exemplo de comparao no-fixa, onde o jornalista fala sobre a telenovela Lua Vermelha:

    [...] meninas aos magotes, sempre juntas a conversar na casa de banho (em todos os tempos, sempre foi assim elas so como cerejas, vo sempre aos pares casa de banho...) e meninos com acne a babarem por gajas giras.

  • 50

    [DN; 9.2.2010, pg.39, crnica] (comparao risonha, podemos consider-la como neutral, sem nenhum valor aderente)

    Como se trata de comparaes actualizadas e, ainda, no-fixas, imprescindvel ter todas as trs componentes de uma comparao explicitamente ditas (comparado, comparando, nexo comparativo), para que a mensagem do autor seja transparente. O nexo comparativo mais utilizado nos exemplos encontrados , sem dvida, como:

    fechado sobre si mesmo como porco-espinho. O problema que facilmente a oposio se pica. [CdM; 31.10.2009, pg.31, opinio] (desprezo) ()

    Quando teve o primeiro nmero da Playboy nas mos, Hugh Hefner sentiu-se como Clark Kent a entrar numa cabine telefnica e a sair como Super-Homem. E depois transformei-me no Sr.Playboy. [DN; 30.10.2009, pg.61, notcia] (intensificao de uma qualidade, comparao) (+)

    As crises financeiras surgem ciclicamente na economia como acne num rosto juvenil. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, p.71, reportagem] (negativo, desprezo, humorstico e jocoso tambm) ()

    Ao contrrio das comparaes mencionadas ainda no-fixas, encontrmos uns exemplos onde se pode omitir o nexo comparativo, devido clareza e boa percepo da mensagem por todos:

    Voltaram a Lisboa com o rabo entre as pernas, cheiinhos de medo que o Rio Ave lhes estrague a festa. [Viso; n896, 6 a 12 Maio 2010, pg.12, faits-divers] (facto negativo - medo) ()

  • 51

    Foi um combate de David contra Golias. Felizmente, no final temos uma deciso importante que vai fazer jurisprudncia em Frana e na Europa. [24 horas; 12.5.2010, pg.13, notcia] (negativo) ()

    Aqui acontece o mesmo como no exemplo anterior, quando o autor parte do facto que todos conhecem David e Golias e as circunstncias do seu combate. Para aqueles que no o conheciam, talvez fosse bom exprimir tambm o comparado e o nexo comparativo (p.ex.: foi um combate to desigual como o de David contra Golias), mas o autor do exemplo preferiu, por motivos desconhecidos, no faz-lo.

    Eis outros exemplos que no mencionam o comparado nem o nexo comparativo:

    Snia Morais Santos diz que o programa espera uma interactividade com os ouvintes. Se os pais acharem que os filhos tm uma opinio sobre o mundo, a autora do programa quer que eles proponham temas e entrevistados de palmo e meio. [Pblico; 30.10.2009, pg.10, notcia] (advertncia a maneira desejvel, maneira positiva) (+)

    Dizem que motiva as suas tropas com gargalhadas, dizem que tem memria de ele