Direito_Constitucional_-_19ª_aula_-_19.06.2009[1].pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    Assuntos Tratados

    1 Horrio PROCESSO LEGISLATIVO (Continuao) Deliberao (Continuao) Fase complementar Medida provisria

    2 Horrio PROCESSO LEGISLATIVO (Continuao) Medida provisria (Continuao) Lei Delegada Emendas Constitucionais

    1 HORRIO

    PROCESSO LEGISLATIVO (Continuao)

    Deliberao (Continuao)

    A Casa que tenha sido concluda a votao enviar o projeto de lei ao Presidente da Repblica, que, aquiescendo, o sancionar (art. 66, CF). O documento que representa essa verso final do projeto enviada para sano chamado de autgrafo. O Presidente da Repblica pode vetar o projeto, se o considerar no todo ou em parte, inconstitucional (veto jurdico espcie de controle de constitucionalidade poltico preventivo) ou contrrio ao interesse pblico (veto poltico). Para tanto, dispe do prazo de quinze dias teis, contados da data do recebimento, e comunicar, dentro de 48 horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto (art. 66, 1, CF). Decorrido o prazo de quinze dias teis, o silncio do Presidente da Repblica importar sano (sano tcita art. 66, 3, CF).

    Como visto, o veto pode ser total ou parcial. Vale notar que o veto parcial inveno brasileira, surgida com a finalidade de coibir abusos do Legislativo na insero, por meio de emendas, de matrias estranhas ao projeto original. Todavia, o surgimento da possibilidade de veto parcial deu espao a abusos do Poder Executivo, que passou a vetar palavras ou expresses constantes de dispositivos, muitas vezes alterando por completo o sentido original da norma. Para coibir tais abusos do Chefe do Executivo, a atual Constituio previu no seu art. 66, 2, que o veto parcial somente abranger texto integral de artigo, de pargrafo, de inciso ou de alnea. Vale lembrar que essa restrio no se aplica ao STF, no mbito da declarao parcial de inconstitucionalidade.

    O veto deve ser expresso e motivado; sempre supressivo e irretratvel; mas supervel. A necessidade de ser expresso decorre da prpria existncia da sano tcita. A motivao imposta pelo 1 do art. 66 da CF, que estabelece ainda que tais motivos sejam enviados ao presidente do Senado em 48 horas. Se os motivos no forem enviados dentro desse prazo, o veto no se aperfeioa e ocorre a sano tcita. Entretanto, uma vez remetida a motivao ao Presidente do Senado, o Presidente no pode mais se retratar. O veto deve ser sempre supressivo, nunca aditivo, uma vez que no cabe ao Presidente atuar como legislador positivo. supervel o veto porque pode ser rejeitado pelo Congresso, na forma dos 4 e 5 do art. 66:

    Art. 66 (...) (...)

  • 2

    4 - O veto ser apreciado em sesso conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, s podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutnio secreto. 5 - Se o veto no for mantido, ser o projeto enviado, para promulgao, ao Presidente da Repblica.

    Assim como o prprio veto, sua rejeio pode ser parcial ou total. Ou seja, o Congresso pode rejeitar apenas parte do veto (tenha sido ele prprio parcial ou total), restabelecendo apenas um ou alguns dentre os dispositivos vetados.

    Gustavo Binenbojm, capitaneando doutrina minoritria, defende que o veto jurdico (fundamentado na inconstitucionalidade) deve ser apreciado no pelo Congresso Nacional, mas pelo STF. Todavia, esse entendimento no admitido nem mesmo pelo prprio STF.

    Fase complementar

    Como visto, o processo legislativo dividido em trs fases: introdutria (composta apenas pelo ato da iniciativa), constitutiva (composta por deliberao, votao e sano ou veto) e complementar (composta por promulgao e publicao).

    Segundo a corrente majoritria, um projeto que se transforma em lei com a sano (ou com a rejeio ao veto). Essa interpretao decorre da leitura dos arts. 66, 1 e 7 da CF. O 1 do art. 66, ao tratar da sano e do veto, utiliza o termo projeto, indicando que a lei no se forma antes da sano. J o 7 do art. 66, que dispe sobre os prazos para promulgao, adota o verbete lei, indicando que o ato da promulgao se faz j sobre uma lei:

    Art. 66 (...) (...) 7 - Se a lei no for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da Repblica, nos casos dos 3 e 5, o Presidente do Senado a promulgar, e, se este no o fizer em igual prazo, caber ao Vice-Presidente do Senado faz-lo.

    Sobre o 7 do art. 66, interessante notar que no h previso de prazo para o Vice-Presidente do Senado fazer a promulgao. Portanto, dentre as trs autoridades enumeradas no dispositivo em tela, apenas o Vice-Presidente do Senado est verdadeiramente obrigado a efetuar a publicao, sob pena de cometimento de crime de responsabilidade.

    A promulgao atesta a existncia de uma lei vlida, executvel e potencialmente obrigatria. J a publicao torna a lei obrigatria, em virtude da fico jurdica de que a lei, uma vez publicada, de conhecimento de todos.

    A publicao no tem regramento constitucional, estando disciplinada na Lei de Introduo ao Cdigo Civil (LICC). Todavia, nem mesmo a LICC prev prazo para a publicao. Essa falta de previso constitucional e legal gerou divergncia doutrinria entre Jos Afonso da Silva e Manoel Gonalves Ferreira Filho. O primeiro entende que se trata de uma lacuna tcnica, que deve ser suprida pela aplicao do prazo de 48 horas previsto para a promulgao; o segundo entende que se trata de um silncio eloqente, ou seja, que a no previso do prazo tem o propsito de dar quele que promulgou a lei a possibilidade de postergar o prazo para que a norma se torne obrigatria.

    Medida provisria

  • 3

    A medida provisria surge no ordenamento brasileiro constitucional de 1988 como sucessora do decreto-lei, instrumento de produo normativa emergencial dos governos ditatoriais de 1937 e 1967/1969. Por isso, um tipo normativo muito criticado pela doutrina, que v no instituto um resqucio de autocracia.

    O art. 62 da CF/88, que dispe sobre as medidas provisrias, inspirado no art. 77 da Constituio da Itlia de 1947. Todavia, importante destacar que vige na Itlia o sistema parlamentarista. Ou seja, o Chefe do Governo Italiano membro do Poder Legislativo e necessariamente representa a maioria parlamentar. Assim, caso o Primeiro Ministro Italiano adote uma medida emergencial que no conte com o respaldo do parlamento, ele ser responsabilizado politicamente e poder ter seu governo encerrado, atravs da dissoluo de seu gabinete. Essa constatao deixa claro que a adoo desse instituto tipicamente parlamentarista em um sistema presidencialista como o brasileiro pode dar margem a abusos por parte do Presidente da Repblica, o que de fato ocorre.

    Os pressupostos da medida provisria so simultaneamente fontes legitimadoras da atribuio normativa extraordinria e mecanismos deflagradores dessa atividade.

    So pressupostos materiais de edio de medida provisria os requisitos cumulativos (no regime anterior eram alternativos) de relevncia e urgncia. Vale notar que tais requisitos tm sido aplicados sem maiores critrios e restam hoje banalizados no Direito brasileiro.

    So pressupostos formais a edio pelo Presidente da Repblica e a submisso imediata ao Congresso Nacional. Vale aqui observar que as constituies estaduais e do DF podem prever a possibilidade de os respectivos governadores editarem medidas provisrias (ADI 2391 e art. 25, 2 da CF). Por fora do princpio da simetria, o mesmo se pode afirmar a respeito dos municpios.

    A submisso imediata ao Congresso Nacional, prevista no art. 62 da CF, est regulada na Resoluo n 01/2002 do Congresso Nacional, da qual vale destacar o 1 do art. 2:

    Art. 2 Nas 48 (quarenta e oito) horas que se seguirem publicao, no Dirio Oficial da Unio, de Medida Provisria adotada pelo Presidente da Repblica, a Presidncia da Mesa do Congresso Nacional far publicar e distribuir avulsos da matria e designar Comisso Mista para emitir parecer sobre ela. 1 No dia da publicao da Medida Provisria no Dirio Oficial da Unio, o seu texto ser enviado ao Congresso Nacional, acompanhado da respectiva Mensagem e de documento expondo a motivao do ato.

    So vedaes expressas edio de medidas provisrias: art. 62, 1, CF; art. 73, ADCT; 246, CF; art. 25, 2, CF; art. 2, EC 8/95; art. 3, EC 9/95. So vedaes implcitas os arts. 49, 51 e 52 da CF, que dispem sobre as competncias do Congresso Nacional, da Cmara e do Senado.

    Vale conferir o texto do art. 62, 1 da CF:

    Art. 62 (...) 1 vedada a edio de medidas provisrias sobre matria: (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) I - relativa a: (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) a) nacionalidade, cidadania, direitos polticos, partidos polticos e direito eleitoral; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) b) direito penal, processual penal e processual civil; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

  • 4

    c) organizao do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico, a carreira e a garantia de seus membros; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) d) planos plurianuais, diretrizes oramentrias, oramento e crditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, 3; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) II - que vise a deteno ou seqestro de bens, de poupana popular ou qualquer outro ativo financeiro; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) III - reservada a lei complementar; (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001) IV - j disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sano ou veto do Presidente da Repblica. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

    Ainda sobre vedaes expressas, vale destacar tambm o art. 246 da CF, que teve sua redao modificada pela Emenda Constitucional n 32, 11 de setembro de 2001:

    Art. 246. vedada a adoo de medida provisria na regulamentao de artigo da Constituio cuja redao tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1 de janeiro de 1995 at a promulgao desta emenda, inclusive. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

    2 HORRIO

    PROCESSO LEGISLATIVO (Continuao)

    Medida provisria (Continuao)

    Para analisar a edio de medidas provisrias em matria tributria preciso ler o art. 62, 2:

    Art. 62 (...) (...) 2 Medida provisria que implique instituio ou majorao de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, s produzir efeitos no exerccio financeiro seguinte se houver sido convertida em lei at o ltimo dia daquele em que foi editada. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

    Em primeiro lugar, observa-se que no h restries quanto aos impostos que no respeitam, por expressa previso constitucional, o princpio da anterioridade tributria: Imposto de Importao II (art. 153, I), Imposto de Exportao IE (art. 153, II), Imposto sobre Produtos Industrializados IPI (art. 153, IV), Imposto sobre Operaes Financeiras IOF (art. 153, V) e Imposto Extraordinrio de Guerra IEG (art. 154, II). Quanto aos demais, a utilizao das medidas provisrias acaba por ficar extremamente mitigada, j que ela s produzir efeitos no exerccio financeiro seguinte se houver sido convertida em lei at o ltimo dia daquele em que foi editada.

    Apesar de estar prevista no art. 59, a medida provisria ato pessoal e monocrtico do Presidente da Repblica e, portanto, no tem qualquer procedimento de elaborao juridicamente previsto. O que se estuda, dentro do processo legislativo, o processo de converso da medida provisria em lei.

    As medidas provisrias perdero eficcia, desde a edio, se no forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias (contados da publicao), prorrogvel uma vez por igual perodo (art. 62, 3, CF). Essa prorrogao automtica (o Presidente do Congresso apenas a declara e publica), ou seja, para que ocorra basta que a votao no tenha se ultimado no prazo de sessenta dias

  • 5

    contados da publicao da medida provisria (art. 62, 4 e 7, CF). Esse prazo suspenso durante os perodos de recesso do Congresso Nacional (art. 62, 4, CF).

    O processo de converso em lei se inicia sempre na Cmara dos Deputados. Se a medida provisria no for apreciada em at quarenta e cinco dias contados de sua publicao, entrar em regime de urgncia. Em conseqncia disso, todas as demais deliberaes legislativas da Casa em que estiver tramitando a medida provisria ficam sobrestadas, at que se ultime a sua votao (art. 62, 4, CF). Esse prazo nico para as duas Casas, ou seja, se no for cumprido na Cmara, o processo de converso j se inicia no Senado com o sobrestamento da pauta.

    Sobre o sobrestamento de pauta, vale destacar o posicionamento de Michel Temer, que, na condio de presidente da Cmara dos Deputados, determinou que as medidas provisrias somente impedissem a apreciao dos projetos de lei ordinria tipo normativo que a medida provisria substitui. Contra essa determinao do Presidente da Cmara, a oposio ajuizou, no STF, o MS 27931 que teve sua liminar indeferida (Informativo 540 transcries).

    Antes da EC 32/2001, sempre que ocorria edio de medida provisria no perodo de recesso parlamentar, ocorria convocao extraordinria do Congresso Nacional para apreci-la. Hoje isso no ocorre mais. Todavia, em compensao (apontada pela doutrina como retrocesso) foi alterado o art. 57 da CF, com a incluso do seguinte 8:

    Art. 57 (...) (...) 6 A convocao extraordinria do Congresso Nacional far-se-: (Redao dada pela Emenda Constitucional n 50, de 2006) (...) 7 Na sesso legislativa extraordinria, o Congresso Nacional somente deliberar sobre a matria para a qual foi convocado, ressalvada a hiptese do 8 deste artigo, vedado o pagamento de parcela indenizatria, em razo da convocao. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 50, de 2006) 8 Havendo medidas provisrias em vigor na data de convocao extraordinria do Congresso Nacional, sero elas automaticamente includas na pauta da convocao. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

    Aprovada Medida Provisria, sem alterao de mrito, ser o seu texto promulgado pelo Presidente da Mesa do Congresso Nacional para publicao, como Lei, no Dirio Oficial da Unio, sem que haja necessidade de sano do Presidente da Repblica (art. 12, Resoluo 01/2002 do Congresso Nacional). Todavia, se a medida provisria convertida em lei com alteraes, surge a figura do projeto de lei de converso que ser remetido sano presidencial. Para esse caso, o 12 do art. 62 da CF dispe que Aprovado projeto de lei de converso alterando o texto original da medida provisria, esta se manter integralmente em vigor at que seja sancionado ou vetado o projeto, no prazo de at 15 dias teis (art. 66, 1 e 3, CF).

    A rejeio da medida provisria pode ser expressa ou tcita (decorrente do decurso do prazo de 120 dias). Rejeitada a medida provisria, ocorre a perda de sua eficcia, desde sua edio (art. 62, 3, CF). Nessa situao, Congresso Nacional deve disciplinar, por decreto legislativo, as relaes jurdicas decorrentes da medida rejeitada (art. 62, 3, CF). Todavia, se o Congresso no editar esse decreto legislativo at sessenta dias aps a rejeio ou perda de eficcia de medida provisria, as relaes jurdicas constitudas e decorrentes de atos praticados durante sua vigncia conservar-se-o por ela regidas (art. 62, 11, CF). Frise-se que, nesse caso de aplicao do 11 do art. 62 da CF, a medida provisria no volta a regular todo o perodo em que esteve em vigor, mas apenas relaes jurdicas constitudas e decorrentes de atos praticados.

  • 6

    Segundo o STF, o Presidente da Repblica no pode retirar de tramitao uma medida provisria j editada e em tramitao no Congresso Nacional. Entretanto, pode o Presidente editar uma nova medida provisria tratando do mesmo assunto de maneira diversa, suspendendo assim a eficcia da primeira (ADI 1351).

    As medidas provisrias editadas em data anterior da publicao da EC 32/2001 continuam em vigor at que medida provisria ulterior as revogue explicitamente ou at deliberao definitiva do Congresso Nacional (art. 2, EC 32/2001, publicada em 12/09/2001). Assim, o art. 2 da EC 32/2001 acabou com a possibilidade de as medidas provisrias editadas at 12/09/2001 perderem sua eficcia por decurso de prazo. Tais medidas provisrias, portanto, ganharam uma vigncia temporalmente indeterminada (mas no se transformaram em lei, nem se tornaram definitivas). Em virtude disso, existem hoje medidas provisrias em vigor h quase oito anos. Caso o Congresso Nacional resolva apreciar uma dessas medidas provisrias, adotar o procedimento antigo (anterior EC 32/2001).

    importante frisar que A medida provisria no apreciada pelo Congresso Nacional podia, at a EC 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficcia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edio (Smula 651, STF). Entretanto, hoje, aps a EC 32/2001, vedada a reedio, na mesma sesso legislativa, de medida provisria que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficcia por decurso de prazo (art. 62, 10, CF).

    Tradicionalmente, entende o STF que a converso da medida provisria em lei convalida eventuais vcios quanto ausncia de relevncia ou urgncia (ADI 1.417). Hoje, contudo, essa posio tende a se modificar, com um movimento que considera a ausncia de relevncia e urgncia como vcios insanveis e no de apreciao exclusiva do Presidente e do Congresso.

    Lei Delegada

    A lei delegada, prevista no art. 68 da CF, espcie de delegao externa corporis, ou seja, trata-se de delegao feita para fora do corpo do Poder Legislativo. A chamada delegao interna corporis est prevista no art. 58, 2, I, da CF e diz respeito possibilidade de a apreciao de determinadas matrias ser delgada do Plenrio para rgos fracionrios (comisses).

    Hoje no Brasil, a delegao legislativa tem muito pouca relevncia prtica e terica, em virtude da prpria existncia das medidas provisrias e do regime de urgncia constitucional, que se apresentam como instrumentos mais interessantes ao Chefe de Governo.

    A delegao legislativa pode ser feita em branco (sem delimitao especfica) ou em preto (com especificao de limites, termos e contedo). No Brasil, somente se admite a delegao em preto, em virtude do princpio da separao entre os Poderes.

    No 1 do art. 68 da CF esto previstas as matrias que no podem ser objeto de delegao:

    Art. 68. As leis delegadas sero elaboradas pelo Presidente da Repblica, que dever solicitar a delegao ao Congresso Nacional. 1 - No sero objeto de delegao os atos de competncia exclusiva do Congresso Nacional, os de competncia privativa da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matria reservada lei complementar, nem a legislao sobre: I - organizao do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico, a carreira e a garantia de seus membros;

  • 7

    II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, polticos e eleitorais; III - planos plurianuais, diretrizes oramentrias e oramentos.

    A delegao legislativa, no Direito Brasileiro, pode ser tpica ou atpica. A delegao tpica a prevista no 2 do art. 68 da CF; j a atpica a que decorre da aplicao do 3 do mesmo artigo:

    Art. 68 (...) (...) 2 - A delegao ao Presidente da Repblica ter a forma de resoluo do Congresso Nacional, que especificar seu contedo e os termos de seu exerccio. 3 - Se a resoluo determinar a apreciao do projeto pelo Congresso Nacional, este a far em votao nica, vedada qualquer emenda.

    Caso o Presidente da Repblica exorbite a delegao tpica, o Congresso Nacional poder se valer do controle de constitucionalidade poltico repressivo previsto no art. 49, V, da CF:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional: (...) V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegao legislativa;

    J no caso da delegao atpica, alm da possibilidade de aplicao do art. 49, V, da CF, o texto produzido pelo Presidente, no exerccio da delegao, somente se transformar em lei aps a aprovao do Congresso Nacional (que poder apenas aprovar ou rejeitar o projeto integralmente, sem possibilidade de alterao ou rejeio parcial).

    Recebida a delegao, o Presidente da Repblica no est obrigado a produzir a lei delegada, nem fica restrito produo de uma nica lei sobre a matria delegada (desde que respeitados os limites materiais e temporais da delegao). J o Congresso Nacional, por outro lado, aps a delegao, revog-la ou ainda editar uma lei ordinria tratando sobre o assunto.

    Emendas Constitucionais

    O poder de emendar a Constituio possui limitaes de ordem formal subjetiva (art. 60, caput, CF), formal objetiva (art. 60, 2, 3 e 4, CF), circunstancial (art. 60, 1, CF) e material (art. 60, 4, CF).

    Art. 60. A Constituio poder ser emendada mediante proposta: I - de um tero, no mnimo, dos membros da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da Repblica; III - de mais da metade das Assemblias Legislativas das unidades da Federao, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. 1 - A Constituio no poder ser emendada na vigncia de interveno federal, de estado de defesa ou de estado de stio. 2 - A proposta ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, trs quintos dos votos dos respectivos membros. 3 - A emenda Constituio ser promulgada pelas Mesas da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo nmero de ordem.

  • 8

    4 - No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e peridico; III - a separao dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. 5 - A matria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada no pode ser objeto de nova proposta na mesma sesso legislativa.

    A limitao de ordem formal subjetiva se refere ao restrito rol de legitimados que detm a prerrogativa de propor a alterao da Constituio. Apesar de a iniciativa popular no estar expressamente prevista no art. 60 da CF, Jos Afonso da Silva defende que ela possvel, uma vez que o povo o titular do poder constituinte originrio.

    A limitao de ordem formal objetiva o procedimento especial previsto no art. 60, 2, 3 e 5, da CF, mais complexo e difcil que o previsto para todas as demais espcies normativas. importante frisar que no h sano presidencial nas emendas, e sua promulgao feita conjuntamente pelas Mesas da Cmara dos Deputados e do Senado Federal (no confundir com a mesa do Congresso Nacional). Tambm vale salientar que o disposto no 5 do art. 60 constitui limitao formal objetiva, e no temporal.

    Vale aqui lembrar que tambm ocorreu, em 1993, reforma da Constituio vigente com base no art. 3 do ADCT:

    Art. 3. A reviso constitucional ser realizada aps cinco anos, contados da promulgao da Constituio, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sesso unicameral.

    Apesar de isto no estar expresso no texto constitucional, entende-se que so aplicveis reforma por reviso os limites do art. 60 da CF.

    A limitao de ordem circunstancial diz respeito aos estados de legalidade extraordinria. Dos quatro estados de legalidade extraordinria previstos na Constituio (estado de stio, estado de defesa, interveno federal e interveno estadual), apenas em um deles (interveno estadual) possvel reformar o texto constitucional.

    Os limites materiais, arrolados no 4 do art. 60 da CF, so as chamadas clusulas ptreas. Vale destacar que somente esto vedadas as emendas tendentes a abolir tais princpios, direitos e garantias; ou seja, tais matrias no so imodificveis. Vale ainda destacar que, apesar de o texto constitucional falar apenas em direitos e garantias individuais, o STF reconhece que direitos difusos e coletivos tambm esto abrangidos na norma do 4 do art. 60 da CF. Alm disso, tais direitos podem estar em qualquer ponto do texto constitucional.

    Os novos direitos e garantias fundamentais acrescentados ao texto constitucional pelo poder constituinte derivado no ficam protegidos como limites materiais ao poder de reforma. Todavia, destaca-se que o inciso LXXVIII do art. 5 da CF, apesar de ter sido acrescentado pela EC 45/2004, pode sim ser considerado clusula ptrea, pois no direito novo, mas decorrncia de direitos j previstos no texto originrio (devido processo legal e acesso justia).

    Referncias

  • 9

    BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional, 4 edio. So Paulo: Saraiva, 2009.

    CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional, 2 edio, 2008.

    LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 13 edio. So Paulo: Saraiva, 2009

    MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 24 edio. So Paulo: Atlas, 2009.