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Documentos da CNBB - 94

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  • Documentos da CNBB - 94

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  • Coleo Documentos da CNBB

    2 - Sou Catlico: Vivo a minha F

    3 - Evangelizao da Juventude

    84 - Diretrio Nacional de Catequese

    87 - Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil

    88 - Projeto Nacional de Evangelizao:

    O Brasil na Misso Continental

    89 - 20 Plano Pastoral do Secretariado Geral 2009 - 2011

    90 - Legislao Complementar ao Cdigo de Direito Cannico para

    o Brasil sobre a Absolvio Geral (aplicao do cn. 961)

    91 - Por uma Reforma do Estado com Participao Democrtica

    92 - Mensagem ao Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais

    de Base

    93 - Diretrizes para a Formao dos Presbteros da Igreja no Brasil

    94 - Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

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  • CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

    DIRETRIZES GERAIS DA AO

    EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL

    2011 - 2015

    Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6)

    49 Assembleia GeralAparecida-SP, de 4 a 13 de maio de 2011

    Texto aprovado09 de maio de 2011

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  • Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada

    em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita do autor - CNBB.

    3 Edio - 2011

    COORDENAO EDITORIAL: Pe. Valdeir dos Santos GoulartREVISO ORTOGRFICA: Dic. Ribamar de Moraes

    Lcia SolderaPROJETO GRFICO, CAPA: Fbio Ney Koch dos Santos DIAGRAMAO: Henrique Billygran da Silva Santos

    Edies CNBBSE/Sul Quadra 801 - Cj. B - CEP 70200-014Fone: (61) 2193-3019 - Fax: (61) 2193-3001

    E-mail: [email protected]

    C748d Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil / Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2011-2015. Braslia, Edies CNBB. 2011.

    Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2011-2015 / CNBB.112 p.: 14 x 21 cmISBN: 978-85-7972-090-1

    1. Igreja - Evangelizao - Misso. 2. Pessoa. 3. Comunidade. 4. Sociedade.

    CDU - 272

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  • S U M R I O

    SIGLAS .............................................................................................7

    OBJETIVO GERAL .........................................................................9

    APRESENTAO ........................................................................11

    INTRODUO .............................................................................15

    CAPTULO IPARTIR DE JESUS CRISTO ......................................................21

    CAPTULO IIMARCAS DE NOSSO TEMPO ..................................................31

    CAPTULO IIIURGNCIAS NA AO EVANGELIZADORA ...................39

    3.1. Igreja em estado permanente de misso ..............................423.2. Igreja: casa da iniciao vida crist ....................................473.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral ....503.4. Igreja: comunidade de comunidades ...................................563.5. Igreja a servio da vida plena para todos ............................60

    CAPTULO IVPERSPECTIVAS DE AO........................................................67

    4.1. Igreja em estado permanente de misso ..............................684.2. Igreja: casa da iniciao vida crist ....................................724.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral ...75

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  • 4.4. Igreja: comunidade de comunidades ...................................784.5. Igreja a servio da vida plena para todos ............................82

    CAPTULO VINDICAES DE OPERACIONALIZAO ........................93

    5.1. O plano como fruto de um processo de planejamento ......945.2. Passos metodolgicos .............................................................95

    CONCLUSOCOMPROMISSO DE UNIDADE NA MISSO ...................105

    NDICE ANALTICO ................................................................107

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  • 7S I G L A S

    AAS Acta Apostolicae Sedis

    ChL Papa Joo Paulo II, Exortao Apostlica Christifi deles Laici

    CV Papa Bento XVI, Encclica Caritas in Veritate

    DAp Documento de Aparecida

    DCE Papa Bento XVI, Encclica Deus Caritas est

    DGAE Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil

    DI Papa Bento XVI, Discurso Inaugural Conferncia de Aparecida

    DP Documento de Puebla

    EN Papa Paulo VI, Exortao Apostlica Evangelii Nuntiandi

    EV Papa Joo Paulo II, Encclica Evangelium Vitae

    GS Constituio Pastoral Gaudium et Spes

    LG Constituio Dogmtica Lumen Gentium

    NMI Papa Joo Paulo II, Carta Apostlica Novo Millennio Ineunte

    PO Decreto Presbyterorum Ordinis

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  • 8Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

    RM Papa Joo Paulo II, Encclica Redemptoris Missio

    SC Constituio Dogmtica Sacrosanctum Concilium

    SD Documento de Santo Domingo

    UR Decreto Unitatis Redintegratio

    VD Papa Bento XVI, Exortao Apostlica Verbum Domini

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  • 9O B J E T I V O G E R A L

    E VA N G E L I Z A R ,

    a partir de Jesus Cristo e na fora do Esprito Santo,

    como Igreja discpula, missionria e proftica,

    alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia,

    luz da evanglica opo preferencial pelos pobres,

    para que todos tenham vida,

    rumo ao Reino definitivo. (cf. Jo 10,10)

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    A P R E S E N T A O

    Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura!

    (Mc 16,15)

    A Igreja existe para evangelizar. Em meio s alegrias e espe-ranas, tristezas e angstias do ser humano de cada tempo, nota-damente dos que sofrem (cf. GS, n. 1), ela anuncia, por palavras e aes, Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).

    Para cumprir sua misso, a Igreja, impulsionada pelo Esp-rito Santo, acolhe, reza a Palavra que salva, escuta os sinais dos tempos, rev prticas pastorais e discerne objetivos e caminhos.

    Expresso desta incessante atividade missionria da Igreja no Brasil, as Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora, aprovadas na 49 Assembleia dos Bispos, so a tentativa de escutar os sinais dos tempos e os desafi os que neles se manifestam. Desejam ser uma resposta aos desafi os que emergem em nosso tempo de transfor-maes radicais na totalidade da existncia, que, s vezes, geram perplexidade, ameaam a vida em suas diversas formas e levam o ser humano a se afastar dos valores do Reino de Deus.

    Elas apontam um desafi o imenso, pois, em cada indi-cao, pedem o esforo de no nos assustarmos diante das

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    transformaes, mas, confi antes no Crucifi cado-Ressuscitado que tudo venceu, olharmos para o Horizonte novo, assumindo corajosamente o que a graa de Deus nos pede para os dias de hoje.

    Assim, voltados para o Senhor (Cap. 1), as Diretrizes no tiram os ps do cho da realidade (Cap. 2). Ao contrrio, iden-tifi cam as urgncias (Cap. 3) e propem caminhos para seu en-frentamento (Cap. 4). Em esprito de comunho, oferecem, por fi m, indicaes para que as urgncias sejam concretizadas nos planejamentos das Igrejas particulares (Cap. 5).

    So cinco as urgncias apontadas: Igreja em estado perma-nente de misso; Igreja: casa da iniciao crist; Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral; Igreja: comunidade de comunidades; Igreja a servio da vida plena para todos. Elas indicam um modo pedaggico de expressar um nico e grande passo ao qual toda a Igreja chamada em nossos dias: reconhe-cer-se em estado permanente de misso. Isso implica o anncio e o re-anncio de Jesus Cristo, possibilitando aos que no O co-nhecem ou que dEle se afastaram ouvir o ncleo da Boa Nova da Salvao. Aproximar Jesus Cristo do corao de pessoas e grupos implica, por sua vez, aproximar tambm a comunidade dos discpulos missionrios, construindo e fortalecendo uma intensa rede de comunidades cada vez mais prximas dos luga-res onde as pessoas vivem, se alegram e sofrem. Em tudo isso, a Igreja no Brasil se reconhece comprometida com a vida, em todas as suas manifestaes, especialmente a vida ameaada.

    Como partes de um nico passo, as urgncias necessitam ser assumidas em seu conjunto, no cabendo, durante os pla-nejamentos locais, a escolha de uma ou outra. Todas so igual-mente urgncias. Optar por algumas e postergar outras signifi ca afetar o conjunto.

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    Documento da CNBB - 94

    As Diretrizes so um convite para que toda pessoa bati-zada, como discpula-missionria, assuma o mandato de Jesus Cristo: Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura! (Mc 16,15). Elas podero ecoar na Boa-nova na medi-da em que cada Igreja Particular torn-las visveis, atravs dos planejamentos pastorais, do plano pastoral.

    Atravs das cinco urgncias, a Igreja do Brasil caminha-r na mesma direo. Nos planejamentos locais, a partir das Diretrizes, as urgncias se concretizaro em cada um dos espe-cfi cos contextos. Ficam, assim, respeitadas duas caractersticas indispensveis da Igreja: a unidade e a diversidade.

    Nestes tempos em que ainda estamos aprendendo a sa-borear as riquezas da Conferncia de Aparecida, celebrando o Jubileu de Ouro do Conclio Vaticano II e nos preparando para o Snodo sobre a Nova Evangelizao, reafi rmamos que estas Diretrizes foram elaboradas no desejo de que, cada vez mais, se creia que Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, se tenha a vida em seu nome (cf. Jo 20,31). Quer no acolhimento destas Diretrizes, quer nos planejamentos subsequentes, have-remos de reconhecer que o ponto de partida ser sempre o tes-temunho: O homem contemporneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres; ou, ento, se escuta os mestres, porque eles so testemunhas.1 Sejamos, pois, tes-temunhas do Ressuscitado. para isso que Ele nos envia.

    31 de maio de 2011 Festa daVisitao de Nossa Senhora

    + Leonardo Ulrich SteinerBispo prelado de So Flix do Araguaia

    Secretrio Geral da CNBB

    1 Papa Paulo VI, Discurso aos Membros do Consilium de Laicis (em 2 de outubro de 1974): AAS 66 (1974), p. 568, repe do na EN, n. 41.

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    I N T R O D U O

    Fiel a Jesus Cristo, o Verbo de Deus, missionrio do Pai 1. (Jo 5,37; Jo 20,21), que se fez carne e habitou entre ns (Jo 1,14), a Igreja no Brasil, ao mesmo tempo em que escuta e acolhe a voz do Esprito Santo, reafi rma a importn-cia de conhecer a realidade e de traar metas especfi cas para a ao evangelizadora luz da Sagrada Escritura e da Tradio.2 Desde o Plano de Emergncia,3 a Igreja no Brasil no interrompeu o rico processo de planejamento pastoral, elaborando diretrizes e planos, tendo em vista corresponder melhor ao do Esprito numa realidade em constante transformao. Deseja, mais uma vez, con-templar o cotidiano do povo brasileiro, notadamente dos mais sofridos, voltar s fontes da f e indicar caminhos a serem trilhados.

    Diretrizes so rumos que indicam o caminho a seguir, abor-2. dando aspectos prioritrios da ao evangelizadora, prin-cpios norteadores e urgncias irrenunciveis. Os planos de pastoral das Igrejas Particulares percorrem um roteiro especfi co, contendo estudo e iluminao da realidade luz da f, objetivos, critrios e meios para sua concretizao na

    2 Cf. VD, nn. 17, 18 e 35.3 5 Assembleia Geral da CNBB, de 2 a 5 de abril de 1962; cf. Documento da CNBB 76.

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    prpria realidade. Realizar planos uma tarefa que cabe s Comisses Pastorais e s Igrejas Particulares, com suas parquias, comunidades, organismos, movimentos leigos, institutos de vida consagrada, em suma, todos os agentes de pastoral. Na interao entre as diretrizes e os planos, o objetivo geral assumido por todos os Bispos do Brasil, em suas Igrejas Particulares, preservando-se a unidade e a diversidade.

    A Igreja no Brasil, iluminada pela Conferncia de Apare-3. cida e celebrando o cinquentenrio do Conclio Vaticano II, louva e bendiz o Deus da Vida, do Amor e da Paz, pela tradio em planejar a ao evangelizadora. Ergue um canto de louvor por todas as pessoas que, nas mais diver-sas formas de viver a f, levam adiante o anncio do Reino de Deus, concretizando os planejamentos e suscitando novas propostas, algumas vezes, na satisfao de v-las realizadas, outras, no martrio que decorre da fi delidade ao Evangelho. Louva a Deus pela Palavra anunciada, a Eucaristia celebrada, a solidariedade concretizada, a vida defendida, o amor compartilhado, a unidade fortalecida e a fraternidade testemunhada. Eleva um canto de gratido pelas inmeras e diversifi cadas formas de viver a dimen-so comunitria, sem as quais planejamento algum pode se concretizar. Curva-se perante o Deus de Misericrdia, pedindo perdo por fraquezas, infi delidades e pecados de seus membros e implorando foras para viver, sempre mais intensamente, o discipulado missionrio que decorre do encontro com Jesus Cristo, alimentado pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos. Clama pela fi rmeza indis-pensvel para superar uma concepo de f restrita a um conjunto de prticas religiosas fragmentadas, a adeses

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    Documento da CNBB - 94

    parciais e participao ocasional.4 Reza, enfi m, para que, atravs destas Diretrizes e do empenho de todos, se supere o medocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a f vai se desgastando e degenerando em mesquinhez.5

    4 Cf. DAp, n. 12.5 DAp, n. 12, citando: RATZINGER, J. Situao atual da f e da teologia. Conferncia pronunciada no

    Encontro de Presidentes de Comisses Episcopais da Amrica La na para a Doutrina da f, celebrado em Guadalajara, Mxico, 1996. Publicado em LOsservatore Romano, em 1 de novembro de 1996.

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  • C A P T U L O I

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    P A R T I R D E J E S U S C R I S T O

    Toda ao eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para 4. Ele e para o Reino do Pai. Jesus Cristo nossa razo de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir. Nele, com Ele e a partir dEle mergulhamos no mistrio trinitrio, construindo nossa vida pessoal e comunitria. Nisto se manifesta nosso discipulado mis-sionrio: contemplamos Jesus Cristo presente e atuante em meio realidade, Sua luz a compreendemos e com ela nos relacionamos, no fi rme desejo de que nosso olhar, ser e agir, sejam refl exos do seguimento, cada vez mais fi el, ao Senhor Jesus. No h, pois, como execu-tar planejamentos pastorais sem antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo. Em atitude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos convoca-dos a responder, antes de tudo, a ns mesmos: quem Jesus Cristo? (cf. Mc 8,27-29). O que signifi ca acolh-lo, segui-lo e anunci-lo? O que h em Jesus Cristo que desperta nosso fascnio, faz arder nosso corao (cf. Lc 24,32), leva-nos a tudo deixar (cf. Lc 5,8-11) e, mesmo diante das nossas limitaes e vicissitudes, afi rmar um incondicional amor a Ele (cf. Jo 21,9-17)? A paixo por Jesus Cristo leva ao arrependimento, contrio (cf. Lc 24,47; cf. At 2,36ss) e verdadeira

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    Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

    converso pessoal e pastoral. Por isso, devemos sempre nos perguntar: estamos convencidos de que Jesus Cristo o Caminho, a Verdade e a Vida? O que signifi ca para ns, hoje, o Reino de Deus por Ele instaurado e comunicado?

    A Conferncia de Aparecida, marco referencial para a 5. Igreja na Amrica Latina e no Caribe, na esteira do cin-quentenrio de abertura do Conclio Vaticano II (1962), nos convida a olhar com ateno para Aquele que, sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer (cf. 2Cor 8,9).6 O discpulo missionrio, ao contemplar Jesus Cristo desco-bre o Verbo que arma sua tenda entre ns, o Filho nico do Pai, cheio de amor e fi delidade (cf. Jo 1,14); aquele que, sendo de condio divina, no se fecha em si mesmo, mas se esvazia at a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,5ss) e, dife-rena das aves do cu e das raposas, no tem sequer onde reclinar a cabea (Mt 8,20). Ele sempre precisa ir a outros locais (Lc 4,43) para anunciar o Reino, a graa, a justia e a reconciliao. Ele se preocupa com as ovelhas que no fazem parte do rebanho (Jo 10,16), mesmo que seja uma nica ovelha perdida, sofrida (Lc 15,4-7), para reanim-las diante da dor e da desesperana (Lc 24,13-35). este mesmo Jesus que vir, um dia, em sua glria, para julgar os vivos e os mortos (Mt 25,31-46).

    A recente Exortao Apostlica Ps-sinodal 6. Verbum Domini proclama, com toda clareza, que Deus nos fala, comunica-se conosco por meio de sua Palavra que Jesus Cristo, Verbo feito carne. Como nos mostra claramente o Prlogo de Joo, o Logos indica originariamente o Verbo eterno, ou seja, o fi lho unignito, gerado pelo Pai antes de todos os

    6 DAp, DI n. 3; DAp, n. 31.

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    sculos e consubstancial a Ele: o Verbo estava junto de Deus, o Verbo era Deus. Mas este mesmo Verbo afi rma So Joo fez-se carne (Jo 1,14); por isso Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, realmente o Verbo de Deus que Se fez consubstancial a ns. Assim a expresso Palavra de Deus acaba por indicar aqui a pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem.7

    Jesus Cristo Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro 7. de Deus verdadeiro, manifestao plena do amor radical, que se entrega pelos pecadores (cf. Rm 5,8). Seu desejo de salvao no simplesmente aguardar os que O buscam. Jesus Cristo incessante e eterna entrega, dom de si para o outro. contnuo convite aos discpulos missionrios e, por meio deles, a toda a humanidade para segui-lo, em meio a diferenas e desencontros. O encontro com Jesus Cristo acolhimento da graa do Pai que, pela fora do Esprito, revela o Salvador e atua, no corao de cada pessoa, possibilitando-lhe esta resposta.

    As atitudes de8. alteridade e gratuidade marcam a vida do dis-cpulo missionrio de todos os tempos. Alteridade se refere ao outro, ao prximo, quele que, em Jesus Cristo, meu irmo ou minha irm, mesmo estando do outro lado do planeta.8 o reconhecimento de que o outro diferente de mim e esta diferena nos distingue, mas no nos afasta. As diferenas nos atraem e complementam, convidando ao respeito mtuo, ao encontro, ao dilogo, partilha e ao intercmbio de vida e solidariedade. Fechar-se no isola-mento, no individualismo e em atitudes que transformam pessoas em mercadorias cair no pecado da idolatria e

    7 VD, n. 6.8 Cf. NMI, n. 43.

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    semear infelicidade. A vida s se ganha na entrega, na doao. Quem quiser perder a sua vida por causa de mim a encontrar! (Mt 10,39).

    Todo relacionamento , igualmente, chamado a acontecer 9. na gratuidade. semelhana de Cristo Jesus que, saindo de si, foi ao encontro dos outros, nada esperando em troca (cf. Fl 2,5ss), tambm o discpulo missionrio chamado a profeticamente questionar, atravs de suas escolhas e atitudes, um mundo que se constri a partir da menta-lidade do lucro e do mercado, no esquecendo que tais atitudes geram violncia, vingana, guerra e destruio (cf. Mt 6,24). Gratuidade signifi ca amar, em Jesus Cristo, o irmo e a irm, respondendo, atravs de atitudes fraternas e solidrias, a grande questo proposta a Jesus: quem o meu prximo? (Lc 10,29), querendo e fazendo bem ao outro sem nada esperar em troca. Signifi ca cortar a raiz mais profunda da violncia, da excluso, da explorao e de toda discrdia.

    Gratuidade e alteridade, como expresses do Amor, so 10. fontes de paz, reconciliao e fraternidade. So semen-tes da atitude crist mais radical: o perdo (cf. Lc 23,34), atitude que deve ser incessantemente testemunhada e transmitida (cf. Mt 18,21-22) a um mundo que se caracte-riza pelo crescimento da vingana e da violncia como so-lues s dores da vida. A radicalidade do Amor de Deus atinge sua extrema manifestao no amor aos inimigos. A reconciliao o pice da Nova Lei. Supera toda diviso que nos afasta de Deus e nos separa uns dos outros. O discpulo missionrio, ao contemplar Jesus Cristo e Cristo rucifi cado! , reconhece que a loucura e o escndalo (cf. 1Cor 1,18.21) do Reino de Deus chegam a seu pice na reconciliao (cf. Rm 5,6-8; Lc 23,34).

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    Por certo, a ao evangelizadora e pastoral da Igreja tra-11. balha pela reconciliao, o que no signifi ca pactuar com a impunidade, a corrupo e todas as formas de desres-peito aos direitos bsicos de toda pessoa. Diante de graves situaes que fazem os irmos sofrerem, o corao do discpulo missionrio se enche de compaixo e clama por justia e paz. Angustia-se diante da inrcia e mesmo da omisso. Quer atitudes que superem o mal existente e no permitam o surgimento de mais dor. Esta indignao, porm, no deve afastar o discpulo missionrio do ideal de perdo e reconciliao, pois o Reino de Deus s acon-tece efetivamente quando se responde ao mal com o bem (cf. Rm 12,17-21).

    Gratuidade e alteridade so, portanto, modos de compre-12. ender o que h de mais decisivo em Jesus Cristo: a sada de si, rumo humanidade marcada pelo pecado, fonte de dor e morte. Jesus nos mostrou que no se vence o pecado pelo pecado (cf. Lc 11,14-22). Este vencido pela graa derramada abundantemente nos coraes dos discpulos missionrios. A atuao da graa paz, justia, bondade, reconciliao, gratuidade e alteridade (cf. Gl 5,22). , pois, motivado pela atitude de constante ida ao encontro do outro que o discpulo missionrio contempla a realidade, no desejando que ela se encaixe em suas expectativas, mas nela se encarnando, discernindo a presena do Reino de Deus e trabalhando para que ele cresa cada vez mais. Jesus nos amou at o fi m! A fi delidade uma das maiores provas do amor. Num mundo onde tudo descartvel at mesmo as pessoas o compromisso fi el torna-se uma das caractersticas fundamentais do(a) discpulo(a) missionrio(a) (cf. Hb 10,38).

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    O discpulo missionrio sabe que no exerce esta sublime 13. misso isoladamente. Ao contrrio, ele a exerce na Igreja, grande comunidade de todos os discpulos missionrios, novo povo de Deus, conclamado para reunir-se na fraterni-dade, acolher a Palavra, celebrar os sacramentos e sair em misso, no testemunho, na solidariedade e no claro anncio da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo. Mesmo quando se encontra sozinho, em meio a quem no se compromete com os valores do Reino de Deus, o discpulo missionrio est unido a toda a Igreja. Sabe que, no mistrio do Deus-Comunho, ele ser sempre um irmo entre irmos.

    Cristo Cabea remete necessariamente Igreja Corpo 14. (cf. Cl 1,18). No h como ser verdadeiro discpulo mis-sionrio sem o vnculo efetivo e afetivo com a comuni-dade dos que descobriram fascnio pelo mesmo Senhor.9 Na Igreja, o discpulo missionrio percebe a fora de uma unio que ultrapassa raas, condies econmico-sociais, preconceitos, discriminaes (cf. Gl 3,28) e tudo que, de algum modo, tenda mais a separar do que a unir. Chamada a ser, na terra, sinal do Deus-Amor, do Deus-Comunho, do Deus-Trindade, a Igreja encontra sua razo de ser na vivncia e no anncio do Reino de Deus (cf. LG, n. 1). A unidade de todos os discpulos missionrios, em meio diversidade de dons, servios, carismas e ministrios (cf. LG, nn. 9-13), testemunha o amor trinitrio do Pai, pelo Filho, no Esprito. Ao testemunh-lo, interpela todas as formas de desfi gurao humana, tais como discrimina-o, excluso, explorao, separao, opresso, escravi-do, manipulao, protecionismo, injustia e ausncia de reconciliao.

    9 EN, n. 16.

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    Nestes tempos de agudo apelo ao individualismo hedo-15. nista e de fortssimo consumismo, nos deparamos com o surgimento de propostas religiosas que dizem oferecer o encontro com Deus sem o efetivo compromisso cristo e a formao de comunidade. Desaparece, ento, a imagem do Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo zelo por suas criaturas atento com as aves do cu, com os lrios do campo ou com um nico fi o de cabelo (cf. Lc 21,18). Surge a imagem do Deus da troca, do negcio, dando a impresso de que Ele se encontra mais preocupado com o que pode lucrar atravs de pedidos e reivindicaes, notadamente dos que sofrem. Em tudo isso, o discpulo missionrio reconhece que no pode existir caminho para o Deus revelado em e por Jesus Cristo, se no houver amor (cf. 1Jo 4,7.20-21). O discpulo missionrio sempre descon-fi ar (cf. 1Jo 4,1) das propostas religiosas que no brotem do amor nem levem a ele.

    Viver, pois, o encontro com Jesus Cristo implica necessa-16. riamente amor, gratuidade, alteridade, unidade, eclesiali-dade, fi delidade, perdo e reconciliao. Torna o discpulo missionrio fi rmemente enraizado e edifi cado em Cristo Jesus (cf. Ef 3,17; Cl 2,7), semelhana da casa que se cons-tri sobre a rocha (cf. Mt 7,24-27). Assim, cada discpulo missionrio, junto com toda a Igreja, comunidade dos dis-cpulos missionrios, torna-se fonte de paz, justia, con-crdia e solidariedade. Signifi ca contemplar Jesus Cristo em constante atitude de sada de si, de desprendimento e esvaziamento. Signifi ca acolher o mistrio divino como contnuo transbordar do amor do Pai pelo Filho, no Es-prito. Implica dilogo, unidade na diversidade, partilha, compreenso, tolerncia, respeito, reconciliao e, conse-quentemente, misso.

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    O discpulo missionrio sabe que, para efetivamente 17. anunciar o Evangelho, deve conhecer a realidade sua volta e nela mergulhar com o olhar da f, em atitude de discernimento. Como o Filho de Deus assumiu a condio humana, exceto o pecado, nascendo e vivendo em deter-minado povo e realidade histrica (cf. Lc 2,1-2), ns, como discpulos missionrios, anunciamos os valores do Evan-gelho do Reino na realidade que nos cerca, luz da Pessoa, da Vida e da Palavra de Jesus Cristo, Senhor e Salvador.

    O Conclio Vaticano II nos conclama a considerar atenta-18. mente a realidade, para nela viver e testemunhar nossa f, solidrios a todos, especialmente aos mais pobres. Sabemos, porm, que nem sempre fcil compreender a realidade. Ela sempre mais complexa do que podemos imaginar. Nela existem luzes e sombras, alegrias e preocu-paes.10 Da a contnua atitude de dilogo, de evanglica viso crtica, na busca de elementos comuns que permi-tam, em meio diversidade de compreenses, estabelecer fundamentos para a ao.

    10 DGAE 2008-2010, n. 12. cf. GS, n. 1.

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    A Conferncia de Aparecida nos oferece rica indicao,19. 11 ao recordar que vivemos um tempo de transformaes profundas, que afetam no apenas este ou aquele aspecto da realidade, mas a realidade como um todo, chegan-do aos critrios de compreenso e julgamento da vida. Estamos diante de uma globalizao que no apenas geogrfi ca, no sentido de atingir todos os recantos do planeta. Estamos, na verdade, diante de transformaes que atingem tambm todos os setores da vida humana, de modo que j no vivemos uma poca de mudanas, mas uma mudana de poca.12 O que antes era certeza, at bem pouco tempo, servindo como referncia para viver, tem se mostrado insufi ciente para responder a situaes novas, deixando as pessoas estressadas ou desnorteadas.13

    Mudanas de poca so, de fato, tempos desnorteadores, 20. pois afetam os critrios de compreenso, os valores mais profundos, a partir dos quais se afi rmam identidades e se estabelecem aes e relaes. Vrias atitudes podem, ento, surgir nestes perodos histricos. Duas, no entanto, se destacam. De um lado, o agudo relativismo, prprio de quem, no devidamente enraizado, oscila entre as in-meras possibilidades oferecidas. De outro, so os funda-mentalismos que, se fechando em determinados aspectos, no consideram a pluralidade e o carter histrico da rea-lidade como um todo. Estas duas atitudes desdobram-se em outras tantas como, por exemplo, o laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a Verdade do Evan-gelho; a irracionalidade da chamada cultura miditica; o amoralismo generalizado; as atitudes de desrespeito

    11 DAp, nn. 33-100 e DGAE 2008-2010, nn. 12-46.12 DGAE 2088-2010, n. 13.13 DGAE 2088-2010, n. 21.

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    diante do povo; um projeto de nao que nem sempre con-sidera adequadamente os anseios deste mesmo povo.

    Os critrios que regem as leis do mercado, do lucro e dos 21. bens materiais regulam tambm as relaes humanas, familiares e sociais, incluindo certas atitudes religiosas. Crescem as propostas de felicidade, realizao e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da solidarieda-de. No raras vezes, o individualismo desconsidera as ati-tudes altrustas, solidrias e fraternas. Por vezes, os pobres so considerados suprfl uos e descartveis.14 Desta forma, fi cam comprometidos o equilbrio entre os povos e naes, a preservao da natureza, o acesso terra para trabalho e renda, entre outros fatores. preciso pensar na funo do Estado, na redescoberta de valores ticos, para a supera-o da corrupo, da violncia, do narcotrfi co, bem como o trfi co de pessoas e armamentos. A conscincia de conci-dadania est comprometida. Em situao de contradies e perplexidades, o discpulo missionrio reage, segundo o esprito das bem-aventuranas (cf. Mt 5,1ss), em defesa e promoo da vida, negada ou ameaada por vrias formas de banalizao e desrespeito. Como no reagir diante da manipulao de embries, homicdios, prtica do aborto provocado, ausncia de condies mnimas para uma vida digna com educao, sade, trabalho, moradia, enfi m, da ausncia de efetiva proteo vida e famlia, s crianas e idosos, com jovens despreparados sem oportunidade para ocupao profi ssional?

    O discpulo missionrio observa, com preocupao, 22. o surgimento de certas prticas e vivncias religiosas, predominantemente ligadas ao emocionalismo e ao

    14 DGAE 2008-2010, n. 25; DAp, nn. 65 e 402.

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    sentimentalismo. O fenmeno do individualismo penetra at mesmo certos ambientes religiosos, na busca da prpria satisfao, prescinde-se do bem maior, o amor de Deus e o servio aos semelhantes. Oportunistas manipulam a mensagem do Evangelho em causa prpria, incutindo a mentalidade de barganha por milagres e prodgios, volta-dos para benefcios particulares, em geral vinculados aos bens materiais. Exclui-se a salvao em Cristo, que passa a ser apresentada como sinnimo de prosperidade material, sade fsica e realizao afetiva. Reduzem-se, deste modo, o sentido de pertena e o compromisso comunitrio-insti-tucional. Surge uma experincia religiosa de momentos, rotatividade, individualizao e comercializao. J no mais a pessoa que se coloca na presena de Deus, como servo atento (cf. 1Sm 3,9-10), mas a iluso de que Deus pode estar a servio das pessoas.

    Importa discernir os motivos pelos quais uma iluso to 23. grave assim acaba por adquirir fora em nossos dias. As causas so muitas e interligadas. Dizem respeito s in-contveis carncias das mnimas condies que grande parte de nossa populao tem para enfrentar problemas ligados sade, moradia, ao trabalho e s questes de natureza afetiva. Dizem ainda respeito s incertezas de um tempo de transformaes, que levam algumas pessoas a buscarem tbuas de salvao, agarrando-se ao que mais imediatamente se encontra ao alcance. Assim, surgem os diversos tipos de fundamentalismo que atingem o modo da leitura bblica e os demais aspectos da vida humana e social. Quando aliado ao individualismo, o fundamenta-lismo torna-se ainda mais perigoso, pois impede que se perceba o outro como diferente. Este, contudo, tambm apelo ao encontro e ao convvio. O amor ao prximo,

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    especialmente aos mais pobres, tende a desaparecer destas propostas, que acabam se tornando uma espcie de culto de si mesmo.

    Tempos de transformaes to radicais, por certo, nos 24. afl igem, mas tambm nos desafi am a discernir, na fora do Esprito Santo, os sinais dos tempos.15 Mudanas de poca pedem um tipo especfi co de ao evangelizadora, a qual, sem deixar de lado aspectos urgentes e graves da vida humana, preocupa-se em ajudar a encontrar e estabelecer critrios, valores e princpios.16 So tempos propcios para volta s fontes e busca dos aspectos centrais da f. Esta a grande diretriz evangelizadora que, neste incio de sculo XXI, acompanha a Igreja: no colocar outro fundamento que no seja Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8).17 A espiritualidade, a vivncia da f e do com-promisso de converso e transformao nos orientam para a construo da caridade, da justia, da paz, a partir das pessoas e dos ambientes onde h diviso, desafetos, dis-putas pelo poder ou por posies sociais. Este um tempo em que, atravs de novo ardor, novos mtodos e nova expresso,18 respondamos missionariamente mudana de poca com o recomear a partir de Jesus Cristo.

    15 DGAE 2008-2010, n. 12.16 EN, n. 19.17 NMN, n. 29.18 JOO PAULO II, Homilia em 9 de maro de 1983, na Catedral de Nossa Senhora do Perptuo Socor-

    ro, em Porto Prncipe, Hai , por ocasio da abertura da 19 Assembleia Geral do Conselho Episcopal La no-Americano CELAM.

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    U R G N C I A S N A A O E VA N G E L I Z A D O R A

    Quando a realidade se transforma, devem, igualmente, 25. se transformarem os caminhos pelos quais passa a ao evangelizadora. Instrumentos e mtodos que deram certo em outros momentos histricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem no apresentar, em nossos dias, condies de transmitir e sustentar a f. Enquanto, em outros perodos da histria, os discpulos missionrios precisaram dar as razes de sua esperana como consequ-ncia de critrios fi rmemente aplicados, em nossos dias, so os prprios critrios que vm experimentando abalo. Para no poucas pessoas a incerteza sobre como julgar a realidade e com ela interagir muito grande. Por isso, estamos em uma mudana de poca, pois ela j no atinge somente este ou aquele aspecto concreto da existncia. As mudanas de poca atingem os prprios critrios de com-preender a vida, tudo o que a ela diz respeito, inclusive a prpria maneira de entender Deus. O nome de Jesus Cristo utilizado para expressar atitudes at mesmo opostas ao Reino de Deus, deixando confusos os que querem efetiva-mente viver o discipulado missionrio.

    Esta a razo pela qual a Conferncia de Aparecida nos 26. convoca a ultrapassar uma pastoral de mera conservao

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    ou manuteno para assumir uma pastoral decididamente missionria, numa atitude que, corajosa e profeticamente,chamou de converso pastoral.19 Assim como indica o desafi o da mudana de poca, Aparecida aponta a conver-so pastoral como caminho para a ao evangelizadora. Uma verdadeira converso pastoral deve estimular-nos e inspirar-nos atitudes e iniciativas de autoavaliao e coragem de mudar vrias estruturas pastorais em todos os nveis, servios, organismos, movimentos e associaes. Temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixo que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graa, justia, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida.20

    Por certo, ao reconhecer a mudana de poca como o maior 27. desafi o a ser atualmente enfrentado, o discpulo mission-rio no se esquece das ameaas vida de pessoas, povos e at mesmo de todo o planeta.21 Estas ameaas permane-cem e necessitam ser, corajosa e profeticamente, enfren-tadas. Contudo, neste enfrentamento, o discpulo missio-nrio se depara com a fragilidade dos critrios para ver, julgar e agir. Olhar, portanto, para a mudana de poca e para o necessrio (re)enraizamento de critrios, longe de signifi car o afastamento dos problemas concretos e urgen-tes da vida de nosso povo, signifi ca buscar uma base real-mente slida para enfrent-los. Caso contrrio, o discpulo missionrio poder ser como o construtor ou o chefe que, no reconhecendo os novos desafi os, v a misso fracassar (cf. Lc 10,28-32). Voltar s fontes e recomear a partir de

    19 DAp, n. 370.20 DGAE 2008-2010, n. 46.21 CNBB, A criao geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade

    2011.

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    Jesus Cristo,22 longe de signifi car a preocupao consigo mesma, coloca a Igreja no mesmo caminho do amor-servi-o aos sofredores desta terra. Porque deseja servir, a Igreja reconhece o momento histrico em que se encontra, sendo convocada a buscar caminhos para a transmisso e a sedi-mentao da f, mesmo que, para isso, precise abandonar estruturas ultrapassadas que j no facilitem mais a trans-misso da f.23

    , pois, neste sentido, que emergem algumas 28. urgncias na evangelizao que, por isso mesmo, devem estar presentes em todos os processos de planejamento e nos consequen-tes planos, independentemente do local onde as aes evangelizadoras aconteam. Tais urgncias dizem respei-to busca e ao encontro de caminhos para a transmisso e a sedimentao da f, neste perodo histrico de trans-formaes profundas. So o elo entre tudo que se faz em termos de evangelizao em todo o Brasil. Mostram uma Igreja em comunho com sua histria, com as concluses da Conferncia de Aparecida e, por isso mesmo, com as demais Igrejas no Continente e com a realidade perplexa e sofrida do povo.

    Por tudo isso, a Igreja no Brasil se empenhar em ser 29. uma Igreja em estado permanente de misso, casa da ini-ciao vida crist, fonte da animao bblica de toda a vida, comunidade de comunidades, a servio da vida em todas as suas instncias. Estes aspectos encontram-se ine-vitavelmente ligados, de tal modo que assumir um deles exige que se assumam os outros. Esto sempre presentes na vida da Igreja, pois se referem a Jesus Cristo, Igreja,

    22 DAp, nn. 12, 41 e 549.23 DAp, n. 365.

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    vida comunitria, Palavra de Deus como alimento para a f, Eucaristia como alimento para a vida eterna e para o servio ao Reino de Deus. Por seu testemunho e por suas aes pastorais, a Igreja suscita o desejo de encontrar Jesus Cristo. Este encontro se d atravs do mergulho gradati-vo no mistrio do Redentor. Da a importncia da inicia-o vida crist, a qual no acontece plenamente se no se tem contato com a Escritura.24 Alimentando, iluminando e orientando toda a ao pastoral, a Bblia transborda para a totalidade da existncia de pessoas e grupos, tornando-se luz para o caminho (cf. Sl 119,105). Transformados por Jesus Cristo e comprometidos com o Reino de Deus, os dis-cpulos missionrios formam comunidades que no podem fechar-se em si mesmas, ao estilo de guetos ou ilhas. Por suas atitudes fraternas e solidrias, trabalhando incessan-temente pela vida em todas as suas instncias, tornam-se sinais de que o Reino de Deus vai se manifestando em nosso meio (cf. Mt 11,2-6; At 2,42), na vitria sobre o pecado e suas consequncias.

    3.1. Igreja em estado permanente de misso

    Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!

    Quem crer e for batizado ser salvo! (Mc 16,15)

    Jesus Cristo, o grande missionrio do Pai, envia, pela 30. fora do Esprito, seus discpulos em constante atitude de misso (Mc 16,15). Quem se apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar Jesus Cristo, no testemunho e no

    24 VD, n. 23-25.

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    anncio explcito de sua Pessoa e Mensagem. A Igreja in-dispensavelmente missionria.25 Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se dimenso missionria implica fechar-se ao Esprito Santo, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (Jo 14,16; Mt 10,19-20). Em toda a sua histria, a Igreja nunca deixou de ser missionria. Em cada tempo e lugar, esta misso assume perspectivas distintas, nunca, porm, deixa de acontecer. Se hoje partilhamos a experin-cia crist, porque algum nos transmitiu a beleza da f, apresentou-nos Jesus Cristo, acolheu-nos na comunidade eclesial e nos fascinou pelo servio ao Reino de Deus.

    No atual perodo da histria, marcado pela mudana 31. de poca, a misso assume um rosto prprio, com, pelo menos, trs caractersticas: urgncia, amplitude, incluso. A misso urgente em decorrncia da oscilao de crit-rios. ampla e includente, porque reconhece que todas as situaes, tempos e locais so seus interlocutores. At mesmo o discpulo missionrio , para si, um destinatrio da misso, na medida em que est inserido nesta mudana de poca, com referncias fl cidas e valores nem sempre efetivamente sedimentados (Mt 13,5-6.20-21). Trata-se, portanto, de suscitar, em cada batizado e em cada forma de organizao eclesial, uma forte conscincia mission-ria, sem a qual os discpulos missionrios no contribuiro efetivamente para o novo que haver de surgir na hist-ria. A atual conscincia missionria interpela o discpulo missionrio a sair ao encontro das pessoas, das famlias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e com-partilhar o dom do encontro com Cristo.26 Estamos num

    25 DAp, n. 347.26 DAp, n. 548.

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    tempo de urgente sada em todas as direes para procla-mar que o mal e a morte no tm a ltima palavra,27 um tempo de esquecer o que fi cou para trs e correr em busca dAquele que j nos alcanou (cf. Fl 3,12-14), um tempo que deve levar a uma forte comoo missionria.28

    Na medida em que as mudanas de poca atingem os cri-32. trios de compreenso, os valores e as referncias, os quais j no se transmitem mais com a mesma fl uidez de outros tempos,29 torna-se indispensvel anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e fora testemunhal, quem Ele e qual sua proposta para toda a humanidade.30 No se trata, por certo, de estabelecer uma espcie de concorrncia religiosa, ingressando na competio por maior nmero de fi is. Tampouco se trata de busca de privilgios para a Igreja que, em todos os tempos, chamada a ser serva humilde e despojada (cf. Lc 17,7-10). Trata-se de se reco-nhecer que o distanciamento em relao a Jesus Cristo e ao Reino de Deus traz graves consequncias para toda a hu-manidade. Estas consequncias no so percebidas apenas pela reduo numrica dos catlicos. Elas so igualmente sentidas principalmente nas inmeras formas de desres-peito e mesmo de destruio da vida. Todas as formas de violncia e excluso revelam o distanciamento de Jesus e do Reino. So as ameaas vida, frutos de uma cultura de morte,31 que questionam os discpulos missionrios a anun-ciarem, principalmente atravs do testemunho, a beleza do Reino de Deus, que vida, paz, concrdia, reconcilia-o (cf. Gl 5,22s). Os discpulos missionrios sabem que

    27 DAp, n. 548.28 DAp, n. 362.29 DAp, n. 38-39.30 DAp, n. 348.31 DAp, n. 358.

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    no lhes cabe a exclusividade na construo da nova poca que est para surgir. Esta conscincia, no entanto, no lhes exime da responsabilidade por testemunhar e anun-ciar Jesus Cristo e o Reino de Deus, fazendo-o oportuna e inoportunamente (2Tm 4,2).

    Neste redescobrir missionrio, emerge, em primeiro lugar, 33. o papel de cada pessoa batizada em todos os lugares e situaes em que se encontrar. Trata-se do testemunho pessoal, base sobre a qual o explcito anncio haver de ser construdo.32 Perodos histricos com menores doses de incerteza e oscilao oferecem aos discpulos mission-rios referncias de valores que desaparecem nas mudan-as de poca, deixando-os sozinhos em meio grande di-versidade de valores e crenas. Este, portanto, um tempo do testemunho! Em virtude do enfraquecimento das insti-tuies e das tradies, cresce a responsabilidade pessoal. Em outras pocas, instituies e tradies protegiam bem mais os indivduos. Nesta mudana de poca, instituies e tradies tendem a ser socioculturalmente julgadas com base na ao dos indivduos. Ningum, em s conscincia, deseja colaborar para o mal. Em tempos de perplexidade e incertezas, os discpulos missionrios sabem que neces-sitam de rigor ainda maior naquilo que sentem, pensam e fazem. Devem verifi car se, em razo das perplexidades e incertezas, no esto, de algum modo, deixando de real-mente defender, promover e testemunhar a vida em todas as suas instncias.

    Em segundo lugar, surge a urgncia de pensar estruturas 34. pastorais que favoream a realizao da atual conscin-cia missionria. Esta deve impregnar todas as estruturas

    32 EN, n. 21.

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    eclesiais e todos os planos pastorais,33 a ponto de deixar para trs prticas, costumes e estruturas que, ao corres-ponderem a outros momentos histricos, j no tm atual-mente grandes condies de favorecer a transmisso da f, como lembra Aparecida.34 No se trata, portanto, de negar tudo que j foi feito em outras pocas, mas de reconhecer que, nesta mudana de poca, preciso agir com fi rmeza e rapidez. neste sentido que se entende a convocao de Aparecida converso pastoral, atravs da qual se ultrapas-sam os limites de uma pastoral de mera conservao para uma pastoral decididamente missionria.35

    Surgem, deste modo, imperativos que colocam a Igreja em 35. estado permanente de misso.36 No se trata, portanto, de conceber a atitude missionria ao lado de outros servios ou atividades, mas de dar a tudo que se faz um sentido missionrio, estabelecendo, neste conjunto de atividades desenvolvidas, algumas urgncias que ajudem todos os batizados a efetivamente se reconhecerem como missio-nrios. A Igreja no Brasil refora, assim, seu compromisso com a Misso Continental.37

    Este o grande servio que a Igreja, discpula missionria 36. de Jesus Cristo, chamada a prestar neste momento da histria. Em atitude de dilogo, cabe-lhe anunciar e rea-nunciar a pessoa e a mensagem de seu Mestre, conclaman-do comunho todos os seres humanos, para a busca da cultura da vida, a caminho do Reino defi nitivo.

    33 DAp, n. 365.34 DAp, n. 365.35 DAp, n. 370.36 DAp, n. 551.37 DAp, nn. 550-551, DGAE 2008-2010, nn. 211-212.

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    3.2. Igreja: casa da iniciao vida crist

    Paulo e Silas anunciaram a Palavra do Senhor ao carcereiro e a todos os da sua casa.

    E, imediatamente, foi batizado, junto com todos os seus familiares

    (At 16,32s)

    A f dom de Deus! No se comea a ser cristo por uma 37. deciso tica ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que d um novo ho-rizonte vida e, com isso, uma orientao decisiva.38 Por sua vez, este encontro mediado pela ao da Igreja, ao que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura. A descoberta do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, dom salvfi co para toda a humanidade, no acontece sem a mediao dos outros (Rm 10,14).

    Cada tempo e cada lugar tm um modo caracterstico 38. para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos coraes o se-guimento apaixonado no a algo, mas sua pessoa, que a todos convida para com Ele vincular-se intimamen-te.39 A admirao pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais ntimo do corao do discpulo.40 Todavia, como resposta, a adeso a Jesus Cristo implica anncio, apresentao, proclamao. Em outras pocas, a apresentao de Jesus Cristo se dava atravs de um mundo que se concebia cristo. Famlia, escola e socie-dade em geral, ao mesmo tempo em que ajudavam a se

    38 DCE, n. 1, DAp, nn. 12, 243-244.39 DAp, n. 131.40 DAp, n. 136.

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    inserir na cultura, apresentavam tambm a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo.

    Sabemos que, em nossos dias, meios utilizados em outros 39. tempos para o anncio de Jesus Cristo j no possuem a mesma efi ccia de antes. Olhemos, por exemplo, a famlia, chamada a ser a grande transmissora da f e dos valores.41 Tamanhas tm sido as transformaes que a instituio familiar j no possui o mesmo flego de outras pocas para cumprir esta misso indispensvel. O mesmo ocorre com outras instituies importantes. Esta situao exige uma radical transformao no modo de concretizar a ao evangelizadora. Em outras pocas, era possvel pressupor que o primeiro contato com a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo acontecia em sociedade, possibilitado pelos diversos mecanismos culturais, fazendo com que a ao evangelizadora se preocupasse mais com a purifi cao e a retido doutrinais, com a moral e com os sacramentos. A mudana de poca exige que o anncio de Jesus Cristo no seja mais pressuposto, porm explicitado continuamente. O estado permanente de misso s possvel a partir de uma efetiva iniciao vida crist.

    Esta a razo pela qual cresce o incentivo iniciao vida 40. crist, grande desafi o que questiona a fundo a maneira como estamos educando na f e como estamos alimentan-do a experincia crist.42 Trata-se, portanto, de desen-volver, em nossas comunidades, um processo de iniciao vida crist que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior com Jesus Cristo,43 atitude que deve ser assu-mida em todo o continente latino-americano e, portanto,

    41 DAp, n. 432.42 DAp, n. 287.43 DAp, n. 289.

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    tambm no Brasil.44 Este um dos mais urgentes sentidos do termo misso em nossos dias. o desafi o de anunciar Jesus Cristo, recomeando a partir dele, sem dar nada como pressuposto ou descontado.45 preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo.

    A Conferncia de Aparecida, alm de elevar a iniciao 41. vida crist categoria de urgncia, lembra que ela deve acontecer no apenas uma nica vez na vida de cada pessoa. A iniciao crist no se esgota na preparao aos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. Ela se refere adeso a Jesus Cristo. Esta adeso deve ser feita pela pri-meira vez, mas refeita, fortalecida e ratifi cada tantas vezes quantas o cotidiano exigir.46 Ela acontece, por exemplo, quando chegam os fi lhos, quando o adolescente busca sua identidade, quando o jovem prepara suas escolhas futuras, no noivado e no matrimnio, nas experincias de dor e fragilidade. Nossas comunidades precisam ser comunida-des diuturnamente mistaggicas, preparadas para permi-tir que o encontro com Jesus Cristo47 se faa e se refaa permanentemente.

    Esta perspectiva eminentemente catecumenal de nossas 42. comunidades apresenta uma srie de consequncias para a ao evangelizadora. Em primeiro lugar, o processo per-manente de iniciao apresenta uma srie de exigncias para a evangelizao: acolhida, dilogo, partilha, bem como maior familiaridade com a Palavra de Deus e a vida em comunidade. Em segundo lugar, implica estruturas,

    44 DAp, n. 294.45 DAp, n. 549.46 DAp, n. 288.47 DAp, nn. 246-257, 278.

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    isto , grupos de estilo catecumenal nos mais diversos lugares e horrios, sempre disponveis a acolher, apre-sentar Jesus Cristo e dar as razes da nossa esperana (1Pd 3,15). Implica, assim, um novo perfi l de agente evan-gelizador, no qual o Ministrio dos(as) introdutores(as)48 e catequistas assuma papel preponderante. Eles so a ponte entre o corao que busca descobrir ou redesco-brir Jesus Cristo e Seu seguimento na comunidade de irmos, em atitudes coerentes e na misso de colaborar na edifi cao do Reino de Deus.

    No servio do acolhimento, que inicia ou reinicia no en-43. contro com Jesus Cristo e com a comunidade dos disc-pulos, a ao evangelizadora se pe em dilogo com o atual momento da histria, que pede o anncio explcito e contnuo de Jesus Cristo e o chamado comunho, como atitude decorrente para a vivncia de f e para a vida em geral.

    3.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral

    Toda Escritura inspirada por Deus e til para ensinar, para argumentar,

    para corrigir, para educar conforme a justia (2Tm 3,16)

    Deus se d a conhecer no dilogo que estabelece conos-44. co.49 Quem conhece a Palavra divina conhece plenamente tambm o signifi cado de cada criatura50 A Palavra divina,

    48 Pessoa que conhece o candidato ao Ba smo, acompanha e testemunha de seus costumes, f e dese-jo de receber os sacramentos. No necessariamente o padrinho ou madrinha (Cf. Ritual de Iniciao Crist de Adultos, n. 42).

    49 DV, n. 15; VD, n. 6.50 VD, n. 10.

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    pronunciada no tempo, deu-Se e entregou-Se Igreja defi -nitivamente para que o anncio da salvao possa ser efi -cazmente comunicado em todos os tempos e lugares [] Disto conclui-se como importante que o Povo de Deus seja educado e formado claramente para se abeirar das Sa-gradas Escrituras na sua relao com a Tradio viva da Igreja, reconhecendo nelas a prpria Palavra de Deus.51

    Vinculado iniciao vida crist, o atual momento da 45. ao evangelizadora convida o discpulo missionrio a re-descobrir o contato pessoal e comunitrio com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo.52 Na alvorada do terceiro milnio, no s existem muitos povos que ainda no conheceram a Boa Nova, mas h tambm muitos cristos que tm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamen-te a fora do Evangelho.53 A Igreja hoje tem conscincia de que particularmente as novas geraes tm necessi-dade de ser introduzidas na Palavra de Deus atravs do encontro e do testemunho autntico do adulto, da infl u-ncia positiva dos amigos e da grande companhia que a comunidade eclesial.54

    No se trata, por certo, de nos voltarmos para a Palavra de 46. Deus como atitude momentnea, fruto do atual perodo da histria. Trata-se de redescobrir, mais ainda, que o contato profundo e vivencial com as Escrituras condio indispensvel para encontrar a pessoa e a mensagem Jesus

    51 VD, nn. 17-18.52 DAp, nn. 247-249.53 VD, n. 96.54 VD, n. 97.

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    Cristo e aderir ao Reino de Deus.55 Deste modo, iniciao vida crist e Palavra de Deus esto intimamente ligadas. Uma no pode acontecer sem a outra, pois ignorar as Escrituras ignorar o prprio Cristo.56 Este um tempo muito rico para que cada pessoa seja iniciada na contem-plao da vida, luz da Palavra e no empenho para que ela seja efetivamente colocada em prtica (Tg 1,22-25).

    , pois, no contato eclesial com a Palavra de Deus que o 47. discpulo missionrio, permanecendo fi el, vai encontrar foras para atravessar um perodo histrico de pluralis-mo e grandes incertezas. Bombardeado a todo o momento por questes que lhe desafi am a f, a tica e a esperana, o discpulo missionrio precisa estar de tal modo familia-rizado com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra que, mesmo abalado pelas presses, continue solidamente fi rmado em Cristo Jesus e, por seu testemunho, conver-ta os coraes que o questionam (cf. At 16,16-34). No h, pois, discpulo missionrio sem efetivo contato com a Palavra de Deus, um contato que atinge toda a vida e que transmitido aos irmos e irms. Esse encontro gera solidariedade, justia, reconciliao, paz e defesa de toda a criao. Dirige-se a crianas, jovens, adultos, idosos, mi-grantes, doentes, pobres e pecadores.57

    Nosso tempo traz em si uma ambiguidade. Estamos num 48. tempo de muitas falas, muitos rudos, muito barulho, incer-tezas e crise de referncias. O mundo fala, mas tem sede de palavra que guia, tranquiliza, impulsiona, envolve, ajuda a discernir. O mundo tem sede, portanto, da Palavra de Deus. Nosso tempo carece de conhecer verdadeiramente

    55 DAp, n. 247.56 S. Jernimo, Prlogo ao Comentrio sobre o Livro do Profeta Isaas, N 1.2: CCL 73, 1-3.57 VD, nn. 99-108.

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    a Palavra, deixar-se apaixonar por ela e, com ela, cami-nhar pelas sendas do Reino. O mundo informatizado tem contribudo com o enriquecimento dos conhecimentos e a conscientizao da realidade. Tem igualmente sobrecarre-gado a vida das pessoas de informaes, muitas delas con-traditrias, distorcidas e no ticas. Este um dos graves rudos que tem atingido a todos, principalmente os jovens. O atual excesso de informaes no contempla uma forma-o adequada que os auxilie na sntese, no discernimento, nas escolhas. O desafi o para o jovem assim como para todos os que aceitam Jesus como caminho escutar a voz de Cristo em meio a tantas outras vozes.58

    Infelizmente, em meio a tantos rudos, tambm podemos 49. constatar que a Bblia, algumas vezes, no usada como luz para a vida. Ao contrrio, instrumentalizada at mesmo para engodo. Cabe ao discpulo missionrio no se abater diante de tamanha manipulao da Escritura. Se, por amor, Jesus Cristo, Palavra eterna do Pai, se entregou para a nossa salvao, como se abater ao constatar que a Escritura parece refm de quem busca apenas o benefcio prprio? Assim como Ele venceu a morte e o pecado, o discpulo missionrio de hoje chamado a ultrapassar as teias da manipulao bblica e fazer a Palavra brilhar (Mt 5,14-16), como fonte de vida, justia e paz.

    Neste contato, o discpulo missionrio haver de reco-50. nhecer e testemunhar que a Palavra de Deus e como tal deve ser acolhida e praticada. Isto signifi ca assumir que, no contato com a Palavra, no se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliana no um ato de entendimento

    58 CNBB, Evangelizao da Juventude; Documento 85, n. 60.

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    entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus.59 No o discpulo missionrio que indica Palavra o que ela deve dizer. Antes, o discpulo missionrio um ouvinte da Palavra (Is 50,5). Ele a acolhe na gratuidade e na alteri-dade, deixando-se apaixonadamente interpelar.

    Ao se curvar diante da Palavra, o discpulo missionrio 51. sabe que no o faz isoladamente. Ele acolhe o dom da Palavra na comunho com esta mesma Palavra e com todos que tambm a acolhem. Acolhe o dom da Palavra na Igreja e com toda a Igreja. Assim, a Palavra saboreada na alteridade, na gratuidade e tambm na eclesialidade. Quanto bem tem feito, pelo Brasil afora, nas mais diver-sas realidades, a leitura da vida luz da Palavra! Quantas comunidades se nutrem dominicalmente da Palavra de Deus, experimentando a fora deste alimento salutar!60 Quanta riqueza evangelizadora acontece nos Crculos B-blicos, nos Grupos de Refl exo, nos Grupos de Quadra e outros similares!

    So vrios os mtodos de leitura da Bblia.52. 61 A Confern-cia de Aparecida destacou a Leitura Orante como caminho para o encontro com a Palavra de Deus. Nela, o discpu-lo missionrio acolhe a Palavra como dom, mergulha na riqueza do texto sagrado e, sob o impulso do Esprito, as-simila esta Palavra na vida e na misso. Em meio agi-tao cotidiana, notadamente nas grandes cidades, onde o tempo se tornou uma questo crucial, a Leitura Orante permite ao discpulo missionrio estabelecer uma relao com a Palavra de Deus a qualquer momento e em qual-quer lugar. Assim como dois amigos so capazes de se

    59 VD, n. 22.60 DAp, n. 253.61 VD, n. 29.

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    identifi car em meio multido, o discpulo missionrio, atravs do exerccio da Leitura Orante, aprende a esta-belecer contato com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra, ainda que em meio agitao diria.

    Por tudo isso, o discpulo missionrio compreende a ex-53. presso do salmista, quando diz que a Palavra de Deus luz para sua vida (Sl 119,105). Ao fazer esta experincia, ele une profundamente sua palavra Palavra de Deus. Reza com a Palavra, reza a Palavra. Eis por que podemos dizer que a animao bblica de toda a pastoral vai alm de uma pastoral bblica especializada,62 quer nos condu-zir a uma iluminao bblica de toda a vida, porque um caminho de conhecimento e interpretao da Palavra, um caminho de comunho e orao com a Palavra e um caminho de evangelizao e proclamao da Palavra. O contato interpretativo, orante e vivencial com a Palavra de Deus no forma, necessariamente, doutores. Forma san-tos.63 Esta perspectiva deve orientar tambm a formao inicial e permanente dos presbteros.

    A Igreja, como casa da Palavra deve, antes de tudo, pri-54. vilegiar a Liturgia, pois esta o mbito privilegiado onde Deus fala comunidade. Nela Deus fala e o povo escuta e responde. Cada ao litrgica est, por sua natureza, im-pregnada da Escritura Sagrada.64

    Como consequncia do servio que disponibiliza ainda 55. mais a Palavra de Deus, cada discpulo missionrio se descobre preparado para o dilogo com uma mentalida-de que, sob diversas formas, o interpela. Pela fi rmeza em

    62 DAp, n. 248; VD, n. 73.63 VD, nn. 49; 77.64 Cf. VD, n. 52.

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    seus valores e referncias, faz de sua vida um verdadei-ro anncio do que podem ser os novos tempos que esto para surgir, tempos de comunho, que brota da Palavra, gerando vida e paz.

    3.4. Igreja: comunidade de comunidades

    s Igrejas da Galcia, a vs graa e paz da parte de Deus, nosso Pai,

    e do Senhor Jesus Cristo (Gl 1,2s).

    O discpulo missionrio de Jesus Cristo faz parte do Povo 56. de Deus (cf. 1Pd 2,9-10; LG, n. 9) e necessariamente vive sua f em comunidade. A dimenso comunitria intrn-seca ao mistrio e realidade da Igreja, que deve refl e-tir a Santssima Trindade.65 Sem vida em comunidade, no h como efetivamente viver a proposta crist, isto , o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transfor-ma, envia em misso, restaura, celebra, adverte e sustenta. Ao mesmo tempo em que se constata, nesta mudana de poca, uma forte tendncia ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitria. Esta busca nos recorda como importante a vida em fraternidade. Mostra tambm que o Esprito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio s transformaes da histria, a sede por unio e solidariedade. Em nossos dias, alm das co-munidades territorialmente estabelecidas, nos deparamos com comunidades transterritoriais, ambientais e afetivas. Constatamos tambm o rpido crescimento das comu-nidades virtuais, to presentes na cultura juvenil atual.

    65 DAp, n. 304.

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    Estes fatos abrem o corao do discpulo missionrio a novos horizontes de concretizao comunitria.

    As Diretrizes anteriores afi rmavam: concretamente, para 57. a maioria dos nossos fi is, a relao com a Igreja se restrin-ge aos chamados servios paroquiais. a que a maioria das pessoas, atualmente, se relaciona com a Igreja. E con-cluam: por isso, as parquias tm um papel fundamen-tal na evangelizao e precisam tornar-se sempre mais co-munidades vivas e dinmicas de discpulos missionrios de Jesus.66

    A busca sincera por Jesus Cristo faz surgir a correspondente 58. busca por diversas formas de vida comunitria. Articula-das entre si, na partilha da f e na misso, estas comunida-des se unem, dando lugar a verdadeiras redes de comunida-des. Entre elas, encontram-se as Comunidades Eclesiais de Base67 e outras formas de novas comunidades,68 cada uma vivendo seu carisma, assumindo a misso evangelizadora de acordo com a realidade local e se articulando de modo a testemunhar a comunho na pluralidade.

    Comunidade implica necessariamente convvio, vnculos 59. profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. Um dos maiores desafi os consiste em iluminar, com a Boa Nova, as experincias nos ambientes marcados por aguda urba-nizao, para os quais vizinhana geogrfi ca no signifi -ca necessariamente convvio, afi nidade e solidariedade. Outro grande desafi o encontra-se nos ambientes virtuais, onde a rapidez da comunicao e a liberdade em relao

    66 DGAE 2008-2010, n. 154.67 DAp, nn. 178-180, 307-310.68 DAp, n. 180.

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    s distncias geogrfi cas tornam-se grandes atrativos. Estas situaes confi guram desafi os para a ao evangeliza-dora, na medida em que nada substitui o contato pessoal.

    No caminhar em busca de vida comunitria, constata-se a 60. presena das comunidades eclesiais de base, as CEBs, que, alimentadas pela Palavra, pela fraternidade, pela orao e pela Eucaristia, so sinal, ainda hoje, de vitalidade da Igre-ja.69 So tambm presena eclesial junto aos mais simples, partilhando a vida e com ela se comprometendo em vista de uma sociedade justa e solidria. Veem-se atualmente desafi adas a no esmorecer, mas a discernir, na comunho da Igreja, caminhos para enfrentar os desafi os oriundos de um mundo plural, globalizado, urbanizado e individua-lista. Tambm elas se deparam com os desafi os da mudana de poca.

    Num mundo plural, no se pode querer um nico modo 61. de ser comunidade. O Esprito sopra onde quer e nenhuma concretizao comunitria possui o monoplio da ao deste mesmo Esprito. Nenhuma deve chamar para si a primazia sobre as demais, pois todos os membros do corpo possuem igual valor (1Cor 12,12ss). A comunidade ecle-sial deve abrir-se para acolher dinamicamente os vrios carismas, servios e ministrios. De cada uma dessas co-munidades, exige-se que sejam aliceradas na Palavra de Deus, celebrem e vivam os sacramentos, manifestem seu compromisso evangelizador e missionrio, principalmen-te com os afastados, sejam solidrias com os mais pobres.70 O importante no confundir a natureza das comuni-dades71 e assim evitar concorrncias, desgastes inteis e

    69 Cf. CNBB, Mensagem ao Povo de Deus sobre as CEBs Documento 92.70 DAp, n. 179.71 Cf. DAp, n. 15.

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    ambiguidades. Todas as comunidades so convocadas a se unirem em torno das Diretrizes da Ao Evangelizado-ra da Igreja no Brasil e a assumirem os Planos Pastorais de cada Igreja Particular.72

    O caminho para que a parquia se torne verdadeiramente 62. uma comunidade de comunidades inevitvel, desafi an-do a criatividade, o respeito mtuo, a sensibilidade para o momento histrico e a capacidade de agir com rapidez. Mesmo consciente de que processos humanos e transfor-maes de mentalidade no acontecem de uma hora para outra, a Igreja no Brasil se compromete em acelerar ainda mais o processo de animao e fortalecimento de efetivas comunidades, que buscam intensifi car a vida crist por meio de autntico compromisso eclesial. A setorizao da parquia73 pode favorecer o nascimento de comunida-des, pois valoriza os vnculos humanos e sociais. Assim, a Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranas e a iniciao vida crist acontece no ambiente em que as pessoas vivem.

    Importa reconhecer que o investimento nestas pequenas 63. comunidades traz consigo o desafi o de se pensar naque-les que as vo pastorear, bem como na diversifi cao dos ministrios confi ados aos leigos. A pastoral vocacional se torna prioritria neste novo momento da histria da evangelizao, sobretudo para o ministrio ordenado e a vida consagrada e para a sempre crescente adequao da formao diaconal e presbiteral, inicial e permanente. Deve ser sempre mais valorizada a atuao do laicato na

    72 DAp, n. 179.73 DAp, nn. 197, 172 e 372.

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    animao das comunidades.74 No h como prescindir de sua participao na elaborao e execuo de proje-tos pastorais a favor da comunidade.75 Sob a orientao do bispo diocesano, presbteros, diconos, consagrados e leigos devem se unir em torno das grandes metas evan-gelizadoras e dos projetos pastorais que as concretizam. Uma Igreja com diversas formas de ser comunidade deve ser igualmente uma Igreja que testemunha a comunho de dons, servios e ministrios.

    Em tempos de incerteza, individualismo e solido, a pre-64. sena de uma comunidade prxima vida, s alegrias e s dores um servio, que urge apresentar a um mundo que necessita vencer a cultura de morte. Comunidades so escolas de dilogo interno e externo. So pontos de partida para o anncio do Deus da Vida, que acolhe, redime, puri-fi ca, gera comunho e envia em misso.

    3.5. Igreja a servio da vida plena para todos

    Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundncia

    (Jo 10,10)

    A vida dom de Deus! A grande novidade que a Igreja 65. anuncia ao mundo que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer partcipes da natureza divina (2Pd 1,4), e para que participemos de sua prpria vida. a vida trinit-ria do Pai, do Filho e do Esprito Santo, a vida eterna.76 O Evangelho da vida est no centro da mensagem de Jesus.

    74 DAp, nn. 99c; 211 e 213.75 DAp, n. 213.76 DAp, n. 348.

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    Amorosamente acolhido cada dia pela Igreja, h de ser fi el e corajosamente anunciado como Boa-Nova aos homens de todos os tempos e culturas.77 A Palavra de Deus ilumina o compromisso com a rede de comunidades e faz pulsar a vida do Esprito nas artrias da Igreja e em meio ao mundo. A misso dos discpulos o servio vida plena.78

    A Igreja no Brasil sabe que nossos povos no querem 66. andar pelas sombras da morte. Tm sede de vida e felicida-de em Cristo.79 Por isso, proclama com vigor que as con-dies de vida de muitos abandonados, excludos e igno-rados em sua misria e dor, contradizem o projeto do Pai e desafi am os discpulos missionrios a maior compromisso a favor da cultura da vida.80 Ao longo de uma histria de solidariedade e compromisso com as incontveis vtimas das inmeras formas de destruio da vida, a Igreja se re-conhece servidora do Deus da Vida. A nova poca que, pela graa deste mesmo Deus, haver de surgir precisa ser marcada pelo amor e pela valorizao da vida, em todas as suas dimenses. A omisso diante de tal desafi o ser cobrada por Deus e pela histria futura.

    Ao mergulhar nas profundezas da existncia humana, o 67. discpulo missionrio abre seu corao para todas as formas de vida ameaada desde o seu incio at a morte natural. Na medida em que nenhuma vida existe apenas para si, mas para outras e para Deus, este um tempo mais do que propcio para a articulao e a integrao de todas as

    77 EV, n. 1.78 DAp, cap. VII.79 DAp, n. 350.80 DAp, n. 358.

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    formas de paixo pela vida. S assim conseguiremos, de fato, vencer os tentculos da cultura de morte.81

    atravs da promoo da cultura da vida que os disc-68. pulos missionrios de Jesus Cristo testemunham verda-deiramente sua f. Num tempo que tende a privilegiar o indivduo, a ganncia e o culto ao corpo em detrimento do bem comum, o discpulo missionrio sabe que Jesus Cristo veio dar a vida em resgate de todos, voltando-se de modo especial para a ovelha perdida, desgarrada, fragilizada.82 pelo amor-servio vida que o discpulo missionrio haver de pautar seu testemunho, numa Igreja que segue os passos de Jesus, adotando sua atitude,83 sendo pobre, despojada, sem bolsa nem alforje, colocando sua confi ana unicamente no Senhor (Lc 10,3-9).

    Contemplando os diversos rostos de sofredores, desta 69. Terra de Santa Cruz, especialmente, os novos rostos dos pobres84 o discpulo missionrio enxerga, em cada um, o rosto de seu Senhor: chagado, destroado, fl agelado (Is 52,13ss).85 Seu amor por Jesus Cristo e Cristo Crucifi -cado (1Cor 1,23-25) leva-o a buscar o Mestre em meio s situaes de morte (cf. Mt 25,31-46). Leva-o a no aceitar tais situaes de morte, sejam elas quais forem, envolven-do-se na preservao da vida. O discpulo missionrio no se cala diante da vida impedida de nascer seja por deciso individual, seja pela legalizao e despenaliza-o do aborto. No se cala igualmente diante da vida sem alimentao, casa, terra, trabalho, educao, sade, lazer,

    81 DGAE 2008-2010, n. 142.82 DAp, n. 30.83 DAp, n. 31.84 DAp, n. 402.85 DAp, nn. 32, 65 e 402.

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    liberdade, esperana e f. Torna-se, deste modo, algum que sonha e se compromete com um mundo onde seja, efetivamente, reconhecido o direito a nascer, crescer, cons-tituir famlia, seguir a vocao, crer e manifestar sua f, num mundo onde o perdo seja a regra; a reconciliao, meta de todos; a tolerncia e respeito, condio de felici-dade; a gratuidade, vitria sobre a ambio. O discpu-lo missionrio reconhece que seu sonho por vida eterna leva-o a ser, j nesta vida, parceiro da vida e vida em ple-nitude. Da ratifi car e potencializar a opo preferencial pelos pobres,86 implcita f cristolgica naquele Deus que se fez pobre por ns, para nos enriquecer com sua pobreza.87 e que dever atravessar todas as suas estrutu-ras e prioridades pastorais88 manifestando-se em opes e gestos concretos.89

    De modo especial, ressalte-se a importncia da vida no 70. planeta, dilapidada, tanto tica quanto ecologicamente, pelo uso ganancioso e irresponsvel. Nestes tempos de crescente conscincia ecolgica, a Igreja no Brasil, em linha de continuidade com o que faz h quatro dcadas, reali-zou, em 2011, a Campanha da Fraternidade para alertar que, assim como os fi lhos e fi lhas de Deus sofrem desres-peito e ameaas, o planeta inteiro se depara, como nunca, com o risco de degradao talvez irreversvel.90

    Consciente de que precisa enfrentar as urgncias que de-71. correm da misria e da excluso, o discpulo missionrio tambm sabe que no pode restringir sua solidariedade ao

    86 DAp, nn. 396, 407-430.87 DAp, DI n. 3. 88 DAp, n. 396.89 DAp, n. 397, cf. DCE, n. 28 e 31.90 CNBB, A criao geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade 2011.

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    gesto imediato da doao caritativa. Embora importante e mesmo indispensvel, a doao imediata do necessrio sobrevivncia no abrange a totalidade da opo pelos pobres. Antes de tudo, esta implica convvio, relaciona-mento fraterno, ateno, escuta, acompanhamento nas difi culdades, buscando, a partir dos prprios pobres, a mudana de sua situao. Os pobres e excludos so su-jeitos da evangelizao e da promoo humana integral.91 Em tudo isso, a Igreja reconhece a importncia da atuao no mundo da poltica e assim incentiva os leigos e leigas participao ativa e efetiva nos diversos setores dire-tamente voltados para a construo de um mundo mais justo, fraterno e solidrio.92

    O servio testemunhal vida, de modo especial vida fra-72. gilizada e ameaada, a mais forte atitude de dilogo que o discpulo missionrio pode e deve estabelecer com uma realidade que sente o peso da cultura da morte. Na solida-riedade de uma igreja samaritana,93 o discpulo mission-rio vive o anncio de um mundo diferente que, acima de tudo, por amar a vida, convoca comunho efetiva entre todos os seres vivos.

    91 DAp, nn. 397-398. 92 Cf. AA 7; LG, n. 35; ChL 3; DCE, n. 28; DAp, nn. 99f, 100c, 210.93 DAp, n. 27.

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    P E R S P E C T I VA S D E A O

    De nosso olhar como discpulos missionrios sobre 73. marcas de nosso tempo (Cap. II), confrontado com as urgncias na ao evangelizadora (Cap. III), a partir de Jesus Cristo (Cap. I),derivam numerosos e complexos desafi os pastorais. Em nosso imenso Brasil, as particularidades de cada contex-to exigem que cada Igreja Particular responda a eles, a seu modo. Entretanto, em um mundo globalizado, alm de caractersticas comuns da realidade brasileira em suas diferentes regies, a fi delidade ao Evangelho no hoje de nosso tempo e o carter indispensvel do testemunho de unidade exigem uma ao orgnica em torno a alguns re-ferenciais comuns.

    A proposta de algumas74. perspectivas de ao quer contribuir, por um lado, com uma Igreja comunho e participao,94 despertando a criatividade e fornecendo subsdios s di-versas iniciativas de ao. Por outro, quer promover, nas Igrejas Particulares e entre elas, uma pastoral orgnica e de conjunto mais efi caz, pois, na perspectiva do Vaticano II, a Igreja Igreja de Igrejas.95 Trata-se de linhas e formas de ao, de critrios, que cada Igreja Particular precisar

    94 DAp, nn. 213, 368.95 Cf. LG, n. 23.

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    concretizar em processos de ao pastoral, segundo as condies e necessidades do prprio contexto.

    Ao pensar nas perspectivas de ao, ser til lembrar que 75. de 2012 a 2015, estaremos comemorando os 50 anos da re-alizao do Conclio Vaticano II, com vrias aes na Igreja no Brasil. O Conclio representa um acontecimento eclesial que marcou fortemente a caminhada da Igreja, promoven-do a atualizao de mtodos e de linguagem, verdadeiro Pentecostes do sculo XX. Vrias atividades sero progra-madas pela CNBB, atravs da Comisso constituda para este fi m, que precisaro ser integradas no processo de exe-cuo destas Diretrizes Gerais.

    4.1. Igreja em estado permanente de misso

    A Conferncia de Aparecida nos convocou a ser uma Igreja 76. toda missionria e em estado permanente de misso: Ai de mim se no evangelizar! (1Cor 9,16). A Igreja nasce da misso e existe para a misso. Existe para os outros e precisa ir a todos.96 No processo de evangelizao, o tes-temunho condio para o anncio. A prpria comunida-de crist precisa ser ela mesma anncio, pois o mensageiro tambm Mensagem. Os mensageiros de Jesus Cristo so, antes de tudo, testemunhas daquilo que viram, encontra-ram e experimentaram. Este fato implica irradiar a pre-sena de Deus, de Jesus Cristo, Deus-Conosco, e, na fora do Esprito Santo, proclamar com a palavra e com a vida que Cristo est vivo entre ns. Vendo a comunidade crist reunida no amor e em orao, as pessoas de hoje exclama-ro, como o visitante de quem fala Paulo aos Corntios: Verdadeiramente, Deus est entre vs! (1Cor 14,25).

    96 Cf. EN, n. 14.

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    A experincia de f faz transbordar o anncio para alm da comunidade crist, para cada um dos ambientes a onde os mensageiros so enviados a se fazer presentes como Jesus, cheio de graa e de verdade.

    Homens e mulheres de nosso tempo apreciam, principal-77. mente, o testemunho.97 Mas isso no dispensa a comunida-de como no dispensa cada cristo de prestar o servio da proclamao ou do anncio explcito,98 oferecendo s pessoas, grupos e a todo o gnero humano a pregao do Evangelho, nas variadas modalidades que o ministrio da Palavra pode assumir.

    Cabe a cada comunidade eclesial perguntar quais so 78. os grupos humanos ou as categorias sociais que merecem ateno especial e lhes dar prioridade no trabalho de evangelizao. Entre esses grupos esto os que tm pouco vnculo com a Igreja. s vezes so jovens; outras vezes, pessoas vivendo na periferia de nossas cidades, intelectuais, artistas, pol-ticos, formadores de opinio, trabalhadores com grande mobilidade, nmades etc. Importa ir ao encontro deles, no apenas nas famlias e nas residncias, mas em todos os ambientes. As misses populares, indo ao encontro do apelo da Misso Continental, tm se mostrado um caminho efi caz. As visitas sistemticas nos locais de trabalho, nas moradias de estudantes, nas favelas e nos cortios, nos alojamentos de trabalhadores, nas instituies de sade, nos assentamentos, nas prises, nos albergues e junto aos moradores de rua,99 entre outros, so testemunho de uma Igreja samaritana. A pastoral da visitao pode dar maior organicidade e efi ccia a este servio.

    97 Cf. EN, n. 21.98 Cf. EN, n. 22. 99 Cf. DAp, n. 407.

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    Entre os grupos humanos aos quais deve se dirigir o 79. anncio missionrio, a partir de nossas comunidades ecle-siais, esto tambm os povos indgenas e os afro-brasileiros, na perspectiva da evangelizao inculturada, pelas atitu-des do servio, do dilogo, do testemunho e do anncio explcito da mensagem crist.

    Contradiz profundamente a dinmica do Reino de Deus 80. e de uma Igreja em estado permanente de misso, a exis-tncia de comunidades crists fechadas em torno de si mesmas, sem relacionamento com a sociedade em geral, com as culturas, com os demais irmos que tambm creem em Jesus Cristo e com as outras religies. Inclusive eventos es-portivos, como a Copa do Mundo e as Olimpadas, que o Brasil vai sediar nos prximos anos, podem ser momentos de evangelizao, especialmente da juventude.

    Ateno especial merecem os nossos jovens. A beleza da 81. juventude e o