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ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ KAMILA ALESSANDRA MAIA INFORMAR O ÓBITO AOS FAMILIARES: significados e sentimentos dos médicos e enfermeiros ITAJUBÁ 2012

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ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ

KAMILA ALESSANDRA MAIA

INFORMAR O ÓBITO AOS FAMILIARES: significados e sentimentos dos

médicos e enfermeiros

ITAJUBÁ

2012

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KAMILA ALESSANDRA MAIA

INFORMAR O ÓBITO AOS FAMILIARES: significados e sentimentos dos

médicos e enfermeiros

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz como requisito parcial para a obtenção do título de Enfermeira com apoio do PROBIC/FAPEMIG.

Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra Soane.

Coorientadora: Profª. M.ª Aldaíza Ferreira Antunes Fortes.

ITAJUBÁ

2012

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M217i Maia, Kamila Alessandra. Informar o óbito aos familiares: significados e

sentimentos dos médicos e enfermeiros / Kamila Alessan- dra Maia. – 2012. 177 f.

Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra S. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Enfermagem) com apoio do Programa de Bolsa Científica – (PROBIC/FAPEMIG) Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - EEWB, Itajubá, 2012. 1. Morte. 2. Comunicação. 3. Médicos. 4. Enfermeiros. 5. Família. I. Título.

NLM: WY 87

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação elaborada pela Bibliotecária Karina Morais Parreira CRB 6/2777 da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a todas as famílias enlutadas ou que em

algum momento de sua vida já perderem um ente querido.

Este estudo foi realizado tão somente para evidenciar a

importância de se conhecer os significados e sentimentos dos

profissionais que estão informando o óbito e, através disso,

promover maior capacitação a eles para que a assistência

seja cada vez mais integral, com o enfoque não apenas no

paciente, mas também em sua família.

Kamila

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me conceder saúde e me capacitar a realizar essa

pesquisa com perseverança e força para prosseguir.

As professores Ana Maria Nassar Cintra Soane e Aldaíza Ferreira Fortes, que

sempre estiveram caminhando ao meu lado, oferecendo conhecimento,

compreensão e profissionalismo, me motivando a persistir.

A minha família, em especial minha mãe Dulcinéa e meu pai Marcos, pelo

incentivo e compreensão nos momentos de ausência ao seu lado, além de serem

aconchego nas horas difíceis e cansativas. E pelo incentivo, para que eu não

viesse a desistir.

Ao namorado Jeremias, pelas contribuições e auxílio durante a jornada,

também pela compreensão nos momentos de ausência ao seu lado.

A bibliotecária Karina Morais Parreira pelo auxílio técnico e pela

dedicação, doando seu tempo em prol da pesquisa.

A FAPEMIG por investir e acreditar no meu potencial.

E aos médicos e enfermeiros que participaram deste estudo, pela

disposição e contribuição na pesquisa, enriquecendo a produção

científica e fazendo deste sonho uma realização.

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“Quanto ao homem, os seus dias são como a relva, como a flor do

campo, assim ele floresce; pois soprando nela o vento, desaparece; e

não se conhecerá daí em diante, o seu lugar”.

Salmos 103.15-16

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RESUMO

Estudo qualitativo, exploratório, descritivo, transversal e de campo, com os objetivos de conhecer os significados e sentimentos de médicos e enfermeiros, de duas Instituições de Saúde, ao terem que informar o óbito aos familiares. Contou com 40 participantes (20 médicos e 20 enfermeiros), amostragem do tipo não-probabilística intencional. Realizada a coleta de dados por meio de entrevista semi-estruturada, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Na análise de dados foi utilizado o método do Discurso do Sujeito Coletivo, sob o referencial das Representações Sociais. Os resultados demonstraram que os significados de informar o óbito para os familiares, apresentados pelos médicos, foram: “Situação difícil”, “Condição inerente da profissão”, “Perda irreparável para a família e limitação para o médico”, “Transmitir um desfecho de maneira diferenciada”, “Fácil, se o óbito era esperado”, “Ser honesto e objetivo”, “Fazer as pessoas sofrerem”, “Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem” e “Algo técnico e mecanizado”. E para os enfermeiros foram: “Situação difícil”, “Resultado negativo”, “Insucesso”, “Experiência dolorosa”, “Responsabilidade”, “Depende do motivo do falecimento”, “Algo importante” e “Um ato de solidariedade”. Os sentimentos dos médicos apontados: “Triste”, “Impotência”, “Muito mal”, “Aceitação e alívio”, “Perda”, “Segurança e profissionalismo”, “Sem envolvimento emocional”, “Dor” e “Responsabilidade diante da família”, foram semelhantes aos dos enfermeiros: “Triste”, “Impotente”, “Mal”, “Alívio e conforto”, “Dor”, “Vazio e perda”, “De forma natural”, “Dificuldade”, “Muito constrangido”, “Culpado” e “Tenso”. Constatou-se que médicos e enfermeiros, na maioria das vezes, não se sentem preparados para lidar com situações que envolvam a morte. No entanto, se preocupam com a assistência à família enlutada. E, divergindo do senso comum, este estudo evidenciou que médicos e enfermeiros também sentem tristeza diante da morte de um paciente e ao informar o óbito aos familiares.

Palavras-chave: Morte. Comunicação. Médicos. Enfermeiros. Família.

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ABSTRACT

Qualitative, exploratory, descriptive, transverse and of field study, with the objectives of knowing the meanings and feelings of doctors and nurses of two institutions of health, of having to inform the death to one’s relatives. It counted with 40 participants (20 doctors and 20 nurses), sampling of the non-probabilistic intentional type. Accomplished the collection of data through semi-structured interview, after approval of the Committee of Ethics in Research. In the analysis of data the method of the Collective Subject's Speech was used under the referencial of the Social Representations. The results demonstrated that the meanings of informing the death to the relatives, presented by the doctors, were: "Difficult situation", “Inherent Condition of the Profession", “Irreparable Loss for the Family and Limitation for the Doctor", to "Transmit a closure in a differentiated way”, "Easy, if the death was waited", “To be honest and objective", "To make people suffer", "Failure in the therapeutic success, if the patient is young" and "Something technical and mechanical". And to the nurses were: "Difficult situation", "Negative Result", "Failure", "painful Experience", "Responsibility", "Depends on the reason of the death", "Something important" and "A solidarity action”. The feelings of the doctors' were pointed as: "Sad", "Impotence", "Very badly", "Acceptance and relief", "Loss", "Safety and professionalism", "Without emotional involvement", "Pain" and "Responsibility towards the family" were similar to the nurses: "Sad", "Impotent", "Bad", "Relief and comfort", "Pain", "Emptiness and loss", "In a natural way", "Difficulty", "Very embarrassed", "Guilty" and "Tense". It was verified that doctors and nurses, most of the time, do not feel prepared to deal with situations that involve death. However, they worry about the attendance to the family in mourning. And, diverging of the common sense, this study evidenced that doctors and nurses also feel sadness before a patient's death and having to informing the death to the relatives.

Keywords: Death. Communication. Doctors. Nurses. Family.

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LISTA DE FIGURA

Figura 1 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os médicos de

informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................68

Figura 2- Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos médicos ao informar o

óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012. .................................................................76

Figura 3 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os enfermeiros de

informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................84

Figura 4 - Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos enfermeiros ao

informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................92

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LISTA DE QUADRO

Quadro 1 - Ideias Centrais do tema: significados para os médicos de informar o

óbito aos familiares.................................................................................................62

Quadro 2 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes

do tema: significado para os médicos de informar o óbito aos familiares ........63

Quadro 3 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema:

significados para os médicos de informar o óbito aos familiares. (n=20) .........64

Quadro 4 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos médicos ao informar o

óbito aos familiares.................................................................................................69

Quadro 5 - Agrupamento das ideias centrais complementares ou semelhantes

do tema: Sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares............70

Quadro 6 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema:

sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares. (n=20) ...............71

Quadro 7 - Ideias Centrais do tema: significados para os enfermeiros de

informar o óbito aos familiares. .............................................................................78

Quadro 8 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes

do tema: significado para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. .79

Quadro 9 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema:

significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. (n=20) ...80

Quadro 10 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar

o óbito aos familiares. ............................................................................................84

Quadro 11 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes

do tema: Sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares......86

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Quadro 12 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema:

sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares. (n=20) .........87

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de

Itajubá- MG , 2012 (n=20) ........................................................................................60

Tabela 2: Características pessoais e profissionais de enfermeiros da cidade de

Itajubá- MG, 2012. (n=20) ........................................................................................77

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................16

1.1 INTERESSE PELO TEMA ................................................................................18

1.2 JUSTIFICATICA DO ESTUDO .........................................................................18

1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO................................................................................22

2 MARCO CONCEITUAL....................................................................................23

2.1 A MORTE..........................................................................................................23

2.1.1 Breve histórico............................................................................................... 23

2.1.2 Definições de morte....................................................................................... 26

2.2 A MORTE, O PROCESSO MORRER E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE .....28

2.3 A MORTE E A MEDICINA ................................................................................33

2.4 A MORTE E A ENFERMAGEM ........................................................................36

2.5 A COMUNICAÇÃO DA MORTE AOS FAMILIARES.........................................41

3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO ................................................45

3.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ........................................................................45

3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO .............................................................46

3.2.1 Figuras metodológicas.................................................................................. 47

3.2.2 Fases do DSC................................................................................................. 48

3.2.3 Passo a Passo do DSC.................................................................................. 49

4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ....................................................................51

4.1 CENÁRIO DE ESTUDO....................................................................................51

4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................53

4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO, NATUREZA DA AMOSTRA E

AMOSTRAGEM................................................................................................54

4.4 COLETA DE DADOS........................................................................................55

4.4.1 Instrumento para coleta de dados................................................................ 55

4.4.2 Procedimentos para coleta de dados .......................................................... 56

4.5 PRÉ-TESTE......................................................................................................57

4.6 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS DADOS.......................................................57

4.7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..........................................................58

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4.8 ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO..................................................................59

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.........................................................60

5.1 RESULTADOS REFERENTES AOS MÉDICOS ..............................................60

5.1.1 Características pessoais e profissionais..................................................... 60

5.1.2 Dados relacionados aos objetivos do estudo ............................................. 61

5.1.2.1 Significados de informar o óbito....................................................................... 62

5.1.2.2 Sentimentos ao informar o óbito ...................................................................... 68

5.2 RESULTADOS REFERENTES AOS ENFERMEIROS.....................................76

5.2.1 Características pessoais e profissionais..................................................... 76

5.2.2 Dados referentes aos objetivos do estudo.................................................. 78

5.2.2.1 Significados de informar o óbito....................................................................... 78

5.2.2.2 Sentimentos ao informar o óbito ...................................................................... 84

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................93

6.1 CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS .....................................93

6.2 QUESTÕES INERENTES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO.............................94

6.2.1 Significados de informar o óbito .................................................................. 94

6.2.2 Sentimentos ao informar o óbito................................................................ 101

7 CONCLUSÕES...............................................................................................111

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................114

REFERÊNCIAS..............................................................................................117

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada..............................123

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................124

APÊNDICE C - Carta de solicitação para coleta de dados da Santa Casa

de Misericórdia de Itajubá-MG.....................................................................126

APÊNDICE D - Carta de solicitação para coleta de dados do Hospital

Escola de Itajubá-MG...................................................................................127

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ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico -

Pergunta 1 .....................................................................................................128

ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico -

Pergunta 2 .....................................................................................................134

ANEXO C - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro -

Pergunta 1 .....................................................................................................142

ANEXO D - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro -

Pergunta 2 .....................................................................................................150

ANEXO E - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico -

Pergunta 1 .....................................................................................................160

ANEXO F - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico -

Pergunta 2 .....................................................................................................163

ANEXO G - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Enfermeiro -

Pergunta 1 .....................................................................................................167

ANEXO H - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD2) Enfermeiro -

Pergunta 2 .....................................................................................................170

ANEXO I – Parecer Consubstanciado de aprovação do trabalho pelo

Comitê de Ética em Pesquisa ......................................................................174

ANEXO J – Parecer Consubstanciado Nº 588/2010...................................176

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1 INTRODUÇÃO

A perda de um ente querido é uma das experiências mais dolorosas que o ser

humano pode sofrer. (SILVA, 1998 apud RODRIGUES, 2010). Esse caráter doloroso

é explicado pelo anseio da volta da pessoa perdida e a constatação de

irreversibilidade dessa perda, levando assim a uma dor inevitável. (RODRIGUES,

2010).

Para Gonçalves (1994), perder um ente querido é como enterrar uma parte de

nós.

A morte apaga lembranças e sonhos, quebra vínculos, desestrutura as pessoas,

é traiçoeira, não tem dia e hora, mas tem seu momento certo. (PINHO; BARBOSA,

2008) Apesar de ser vista por diferentes prismas, ela se traduz em separação e

perda. (KOVÁCS, 2009)

A morte constitui ainda um acontecimento que traz muito sofrimento e que

choca. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008, p.195)

Talvez seja devido a esse fato que Carvalho e Azevedo (2009) afirmam que

comunicar notícias difíceis ou más notícias é uma das mais penosas atribuições do

profissional de saúde.

A vida e a morte, sua inter-relação e interação, sem dúvida, é um dos pontos

centrais da teoria psicanalítica. Segundo a escola psicanalítica, no fundo de cada um

de nós, não se crê na própria morte. Nem sequer a imaginamos. Existe uma crença

de que só se pensa na morte do outro quem é mau. Porém, as pessoas, ditas como

normais, resistem esses pensamentos. Se alguém vem a falecer, passa-se a admirá-

la como herói, capaz de uma façanha extraordinária, diz Freud. (GONÇALVES,

1994). Mesmo quando se trata da morte de um parente mais próximo, após algum

tempo de luto supera-se e assim, estaremos reforçando a crença inconsciente na

nossa imortalidade.

Torres, Guedes e Torres (1983) completam que, de acordo com a psicanálise

existencial, todas as etapas do desenvolvimento são na verdade formas de protesto

universal contra a morte. Muito antes de adquirir a noção de morte, já se empenha

em fortalecer-se contra a sua vulnerabilidade. Este processo começa muito cedo,

desde a infância.

Carvalho e Azevedo (2009) dizerem que, o médico aprende em sua formação

acadêmica a comprometer-se com a vida, sua capacitação é orientada para curar e

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salvar o paciente. A formação acadêmica traz sempre a proposta de cura e não de

morte.

Mas isso não acontece só nas faculdades de medicina. Segundo Silva e Silva

(2007), a preparação dos profissionais na área da saúde atende ao modelo centrado

na doença e cura. Desde a faculdade, condiciona-se o aluno de enfermagem ao

compromisso da profissão que é a recuperação da saúde do doente e sua cura.

Dessa forma, somos formados apenas para salvar vidas. (OLIVEIRA; AMORIM,

2008).

Sendo assim, apesar da inevitabilidade da morte, os profissionais de saúde, em

geral, não estão preparados emocionalmente para lidar com a morte e processo de

morrer, uma vez que, tanto os profissionais como as próprias instituições de saúde

têm sua imagem vinculada à vida e à cura, e acabam depositando neles a

esperança de encontrá-la. (GALVÃO et al; 2010).

A preparação dos profissionais deve ter início na graduação, fazendo parte da

grade curricular das faculdades de medicina e de enfermagem. No entender de Silva

(2005), a Tanatologia é o estudo da morte e do morrer. Do grego: Thanatos = morte

e logos = estudo. Descrita por Souza (2009) como a ciência da vida e da morte,

estuda os processos emocionais e psicológicos que envolvem as reações às perdas,

à morte e ao luto, seja das pessoas comuns ou dos profissionais que vivenciam no

seu dia a dia questões relacionadas com a morte. É usada como instrumento para

facilitar o manejo dessas situações, as quais se tornam bastantes estressantes para

todos que a presenciam.

Sendo assim, torna-se essencial a introdução dessa disciplina na formação dos

acadêmicos de medicina e de enfermagem, para que estes possam saber lidar

melhor com o processo morrer e a morte, já que este tema se revela como um tabu

em nossa sociedade. Desde 1991, tinha-se essa preocupação de inserir uma

educação voltada para o tema da morte como necessidade de educar os

profissionais de saúde, é o que percebe-se nos dizeres de Boemer et al. (1991).

Segundo Ferreira (2004), uma das definições de morte é o ato de morrer, o fim

da vida animal ou vegetal, fim. Já a definição de óbito se caracteriza como sendo o

falecimento ou morte de pessoa. (FERREIRA, 2004)

Segundo este mesmo autor, comunicar é fazer saber, tornar comum, transmitir.

E a palavra informar tem como definição dar informe ou parecer sobre, comunicar,

dar notícia ou informação, avisar.

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Portanto, as palavras óbito e informar foram escolhidas para comporem o título,

uma vez que estas vem ao encontro da proposta deste estudo.

O desejo e investigação do tema, suscitou após uma docente ter relatado, com

base na experiência vivenciada na UTI, a preocupação de um médico em ter que

informar a morte aos familiares de um dos pacientes ali hospitalizados. Com isso,

veio à indagação: qual seria o real significado e sentimento dos médicos ao terem

que informar a morte de um ente querido aos seus familiares? Pois há uma ideia

coletiva de que informar a morte é algo automático para os médicos, já que eles

fazem isto por diversas vezes durante o exercício de sua profissão. Posteriormente,

surgiu uma nova indagação: qual seriam o significado e sentimento dos enfermeiros

ao terem que informar o óbito?

O tema “morte” sempre nos chama bastante a atenção, apesar de ser o tema

que, também, sempre provoca receio. E foi a partir daí que começou o

questionamento: como seria ter que informar a morte, sendo esta, ainda, um tabu na

nossa sociedade?

A morte faz parte do ciclo da vida de todas as pessoas, é algo inquestionável,

todos terão que passar por ela.

Para Eliopoulos (2005), a morte é uma experiência inevitável, inequívoca e

universal, sendo comum a todos os seres humanos.

Mas, apesar de sabermos disso, ainda temos dificuldade em recebermos uma

notícia de morte, principalmente quando se trata de algum familiar.

O tema morte vem sendo discutido ao longo dos anos. Ultimamente tem-se

observado um aumento crescente de estudos relativos a esta temática. (SPINDOLA;

MACEDO, 1994).

No entender de Eliopoulos (2005), a maioria das mortes ocorre em ambiente

institucional ou hospitalar.

Considerando o número de óbitos anualmente no município de Itajubá-MG,

Hospitais e Santa de Casa de Misericórdia, tem-se uma noção de quantas vezes os

1.1 INTERESSE PELO TEMA

1.2 JUSTIFICATICA DO ESTUDO

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médicos e/ou enfermeiros são postos frente à morte, e conseqüentemente ter que

informá-la aos familiares.

Os dados epidemiológicos, do DATASUS do Ministério da Saúde, demonstram

que no ano 2008 o número de óbitos em hospital no Brasil foi de 722.531, sendo a

região sudeste a que obteve maior índice com 368.119 óbitos. No estado de Minas

Gerais foram computados 73.584 óbitos em hospital.

Já em 2009, o DATASUS revelou que o número de óbitos em hospital no Brasil

foi de 743.777, com 375.818 óbitos na região sudeste, a qual obteve maior índice de

mortalidade e, em Minas Gerais foram computados 74.668 óbitos.

Os dados obtidos na Vigilância Epidemiológica do município de Itajubá referente

ao ano 4 de 2009 mostram que foram registrados 874 óbitos. Destes 748 (85,58%)

ocorreram em área hospitalar, sendo que 737 (98,52%) foram em rede privada

(Hospital Escola de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia de Itajubá) e apenas 11

óbitos (1,48%) em instituições de convênio (Ceam Brasil, Odontomed e Unimed). Em

área não hospitalar (outros estabelecimento de saúde, domicílio, via pública, outros

e ignorado) registraram-se 126 óbitos (14,42%).

E no ano de 2010, o DATASUS revelou um aumento na mortalidade em área

hospitalar. No Brasil foram registrados 765.624 óbitos em área hospitalar e mais

uma vez a região sudeste obteve o maior índice, registrando 387.550 óbitos. No

estado de Minas Gerais o número de óbitos chegou a 79.622.

Os dados coletados na Vigilância Epidemiológica de Itajubá, referentes ao ano

de 2010, também demonstraram um aumento na mortalidade em relação ao ano

anterior, foram registrados 930 óbitos no município. Destes 85,59% foram em área

hospitalar com total de 796 óbitos, 779 (97,86%) em rede privada (Hospital Escola

de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia de Itajubá) e 17 (2,14%) em instituições de

convênio (Ceam Brasil, Odontomed e Unimed). Em área não hospitalar totalizaram

134 óbitos (14,41%). Portanto, a mortalidade aumentou no município. A

porcentagem de óbitos em rede privada diminuiu, enquanto em instituições de saúde

aumentou, no entanto a somatória para área hospitalar manteve sua porcentagem,

assim como a área não hospitalar.

Em relação ao ano de 2011, o número de óbitos em itajubá foi de 936,

demonstrando, mais uma vez, um aumento no número de mortalidade em relação

ao ano anterior. Sendo que 798 ( 85,26 %) foi em área hospitalar, com 781 (97,87%)

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rede privada e 17 (2,13%) óbitos nas instituições de convênio. E em área não

hospitalar totalizaram 138 ( 14,74 %) óbitos.

A partir destes dados pode-se perceber a freqüência em que os profissionais da

saúde (médicos e enfermeiros) têm que informar a morte de um paciente aos seus

familiares. Além do mais, esta freqüência tem aumentando a cada ano que passa.

Sendo assim, se torna de extrema importância conhecer os significados e

sentimentos dos médicos e dos enfermeiros incumbidos de transmitir essa triste

notícia: a morte.

Não deve ser uma tarefa fácil relatar a uma família que seu ente querido faleceu.

As palavras devem ser escolhidas “a dedo” para que a informação seja passada o

mais sutil possível.

Nas instituições de saúde de Itajubá - Hospitais e Santa Casa de Misericórdia - a

informação do óbito é dado aos familiares por meio dos médicos e enfermeiros. Em

algumas unidades esta informação é dada em conjunto (médico, enfermeiro e

psicólogo), mas, na maioria das vezes, fica na responsabilidade do profissional que

estiver mais disponível e preparado no momento, seja a enfermeira ou o médico de

plantão. Por este motivo esta pesquisa será direcionada aos médicos e aos

enfermeiros.

Independente se seja o médico ou o enfermeiro (a) que esteja informando o

óbito, deve se pensar também que ambos são constituintes de uma equipe

multiprofissional, portanto, o que cabe aos médicos deve ser de conhecimento

também do enfermeiro e, vice-versa. Saber os significados e sentimentos do outro

profissional (seja o médico ou o enfermeiro) nos ajuda a conhecer melhor nossa

própria equipe. Conhecer a fragilidade do outro, ou talvez o despreparo dele em

relação a informar o óbito, é necessário para que haja uma boa interação entre a

equipe. Uma equipe bem estruturada promove um atendimento de melhor qualidade

Santos (2009) enfatiza que a morte faz parte do cotidiano de uma equipe

hospitalar e não tem como não falar dela quando a equipe começa a apresentar

angústias e dificuldades para lidar com seu sentimento e com a necessária notícia

da morte. Além do mais, o enfermeiro não deve estar presente apenas no

atendimento durante a vida, mas, também no apoio aos familiares perante a morte.

Quando o paciente morre, a enfermeira deve estar disponível para proporcionar

qualquer apoio necessário à família e aos amigos, respeitando seus desejos

pessoais. (ELIOPOULOS, 2005).

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Cada membro da equipe, ao trabalhar no seu dia a dia com a morte, tem seu

conjunto de sentimentos relacionados com essa experiência significativa.

(ELIOPOULOS, 2005). Sendo assim, é de extrema importância A interação

enfermeiro-médico e familiar no momento da informação do falecimento. Estudo

demonstra que há um certo despreparo dos médicos em comunicar o óbito aos

familiares. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005). Deve-se dar maior

importância à formação dos acadêmicos.

Em relação à formação acadêmica relacionada ao tema morte nas faculdades

de medicina, Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005) afirmam que, 30% a 60%

dos médicos aprenderam a lidar com o assunto durante a residência médica, na

prática ou ao observar outros mais “experientes”. No estudo realizado por estes

autores, foi observado que, quanto aos profissionais que deram a informação sobre

o óbito, a maior parte deles era, realmente, médicos residentes (82,8%). Já para

quatro famílias, quem deu as explicações sobre o óbito foi a equipe de enfermagem.

Apenas 7,5% dos profissionais entrevistados acham que não existem dificuldades

para falar com familiares sobre o tema. Porém as principais dificuldades, quando

existem, para se falar com familiares sobre o óbito, estão presentes nos casos de

pacientes jovens, casos agudos e familiares que não entendem o caso, sua

gravidade, sua evolução natural.

Outro dado deste estudo, no que diz respeito à forma como os familiares

foram informados do óbito, revelou que a maioria dos familiares ficou sabendo do

óbito pelo telefone (74,7%). E 4,7% descobriram o óbito por acaso: foram visitar o

paciente e ficaram sabendo, por isso ficaram insatisfeito com esta situação.

Quando a pergunta foi quanto ao grau de aceitação em relação as

explicações dada pelos profissionais aos familiares, obteve-se como resultado: 4,5%

dos familiares acharam essa comunicação inadequada, 12,4% a consideraram

parcialmente adequada, 19% não receberam nenhuma informação e se sentiram

rejeitados, demonstrando um abandono destas pessoas em uma hora tão difícil, e

7,4% também não receberam informação após o óbito, mas tiveram informações

antes de ocorrer a morte e já sabiam qual seria e a evolução do caso.

(STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005).

Estes mesmo autores, relatam também a participação ativa da enfermagem,

informando o óbito aos familiares. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE,

2005).

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O que desperta outro questionamento: será que o enfermeiro está preparado

para assumir tal responsabilidade?

Ao falarmos da morte, do morrer e da perda, aprendemos a cuidar de quem

morre e de quem perde. (SANTOS, 2009).

O autor supracitado reforça ainda que para os médicos, aceitar a morte é parte

de um processo difícil, pois, em sua área ela é sempre vinculada a perda e ao

insucesso, gerando a sensação de impotência.

Frente ao exposto, percebe-se a importância em ouvir os médicos e enfermeiros

sobre os significados e sentimento que vivenciaram ao serem incumbidos de

informarem a morte de um paciente hospitalizado para os familiares.

Os resultados desta pesquisa contribuirão para o esclarecimento, tanto da

sociedade, como dos demais profissionais de saúde, a respeito dos significados e

sentimentos para médicos e enfermeiros quanto a este tema, compreendendo suas

condutas diante desta situação. Também, auxiliarão na formação acadêmica dos

alunos que frequentemente irão presenciar a morte e observarão de perto essa

informação sendo transmitida aos familiares. Trarão enriquecimento nesta área, já

que os dados poderão servir de base para outros trabalhos, visto que existe uma

escassez de produção científica referente ao tema, não enquanto à morte, mas aos

significados e sentimentos ao informá-la, evidenciando assim, a percepção quanto a

importância de se realizar este estudo.

Diante deste contexto emergem as seguintes inquietações: quais os significados

para os médicos e enfermeiros de terem que informar a morte aos familiares? Quais

os sentimentos deles diante desta situação?

Esta pesquisa tem como objetivos:

Conhecer os significados para os médicos e enfermeiros da Santa Casa de

Misericórdia e do Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Itajubá-MG,

ao terem de informar o óbito aos familiares.

Conhecer os sentimentos destes médicos e enfermeiros diante desta

situação.

1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO

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2 MARCO CONCEITUAL

Para melhor compreensão do assunto e entendimento da importância deste

estudo, e se necessário abordar alguns tópicos que serão enriquecedores e que

trarão dados relevantes referentes ao tema.

Não é fácil ter que lidar com a morte, mas ela espera por todos. Deixar de

pensar nela, não a retarda, nem a evita. Pensar na morte pode nos ajudar a aceitá-la

e a percebe-la como sendo uma experiência tão importante e valiosa quanto

qualquer outra. ( ÁRIES,1977 apud SANTOS, 2009).

2.1.1 Breve histórico

Durante séculos ou milênio a morte era esperada no leito, considerada uma

cerimônia pública e organizada - muitas das vezes pelo próprio enfermo. O quarto

do doente transformava-se num lugar público, onde se entrava e saía livremente.

Estando presentes os parentes, amigos e vizinhos, até as crianças faziam parte do

cenário. A morte era familiar e próxima. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).

Silva e Simões (2010) relatam o mesmo dizendo que, no passado, a morte

acontecia no lar e era acompanhada por cerimônias, presididas pelo moribundo,

com a presença de seus entes queridos e das crianças.

Esslinger (2004) reforça esta ideia ao dizer que os homens, na primeira fase da

Idade Média, tinham uma participação mais ativa em seu processo de morrer,

caracterizando uma atitude de conformação e familiaridade. Esta primeira atitude

intitula-se como morte domada, pois, existia uma familiaridade dos parentes,

amigos, vizinhos e também das crianças com a doença e com o momento da morte.

(ÁRIES, 1977 apud ESSLINGER, 2004).

Outro autor ainda relata que:

Historicamente, no início da Idade Média, a morte não passava de um evento considerado natural. O doente cumpria uma espécie de ritual; ele pedia perdão por suas faltas, legava seus bens e em seguida, esperava que a morte o levasse. Não havia drama ou gestualidade excessivas. (SANTOS; BUENO, 2011, p.273)

2.1 A MORTE

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Porém, a morte mais temida era a morte repentina, não só pelo fato de não

haver tempo para o arrependimento, mas também, porque privava o homem de

conduzir sua própria morte. (ESSLINGER, 2004).

Conforme Silva (2005), no século V até o século XII, a morte não era

individualizada, quando alguém morria era enterrado em valas ou fossas comuns.

Todos os corpos ficavam amontoados. Apenas grandes personalidades como

sacerdotes e reis possuíam um local reservado em igrejas ou catedrais.

Esslinger (2004) relata outras atitudes com relação à morte, segundo Áries

(1977). A segunda atitude denominada de morte de si mesmo, a partir do século XIII,

era caracterizada por uma preocupação central com o juízo final, levando ao

enfermo uma reflexão consciente de seus atos em vida, tendo em vista o reino do

céu. Silva (2005) completa que nessa época havia uma preocupação como que

poderia vir depois da morte, o medo do julgamento final e a busca pelo paraíso

estava condicionada as transmissões de bens, as confissões dos pecados e as

missas de corpo presente. Nessa ocasião, eram comuns rituais, como os véus como

proteção da própria morte e da cor preta como disfarce, para o fantasma do morto

não fazer reconhecimento de quem o estava usando.

A terceira atitude era denominada de morte do outro, esta caracterizava a morte

como uma representação de ruptura, portanto, não mais tolerada e aceita como

anteriormente. E por fim, a morte invertida, atitude que marca a passagem para a

representação da morte , no século XX, como inimiga, oculta, vergonhosa, interdita.

(ESSLINGER, 2004)

Tais mudanças se deram a partir do final do século XVIII, devido às primeiras

descobertas feitas pelos médicos sobre regras de higiene, que passaram a

considerar o excesso de pessoas como um fator prejudicial ao enfermo, levando a

mudança no cenário anteriormente encontrado. E o que observa é um deslocamento

do lugar da morte. Já não se morre em casa, em meio aos entes queridos, mas

sozinho no hospital. (ESSLINGER, 2004) O que nos leva a uma forma de morrer

contextualizada, colocando os profissionais de saúde, bem como os estudantes da

área, em dificuldades quando precisam assistir a pessoa que morre. (VARGAS,

2010)

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Em decorrência do sanitarismo e pelas mudanças na forma de pensar, surgiram

também os cemitérios públicos, um local considerado sagrado e de reverência onde

residem os mortos. (SILVA, 2005).

A relação com a morte, tão presente no passado, vai se apagando e

desaparecendo. Passando a se tornar algo vergonhoso e objeto de interdição. E a

verdade começa a ser problemática. O enfermo não deve saber nunca que seu fim

se aproxima, tornando regra que o doente morra na ignorância de sua morte. A partir

de então, a morte virou um tabu em nossa sociedade. (PESSINI;

BARCHIFONTAINE, 1995; ARAÚJO; VIEIRA, 2004; SANTOS; BUENO, 2011).

Deixando de ser um fenômeno natural e transformando-se numa morte fria,

escondida e profundamente indesejada. (ÁRIES, 2003 apud SANTOS; BUENO,

2011).

Silva e Simões (2010, p.159), dizem que: “Ultimamente, a sociedade ocidental

transformou a morte em um interdito, ocultando-a das crianças e excluindo-a do

cotidiano das famílias”.

É valido lembrar que, tempos atrás, o que existia era a morte aguda, ou se

morria ou se ficava curado. As pessoas não ficavam “morrendo durante muito

tempo”. O espaço de tempo entre o adoecer e o morrer era de cinco dias. Hoje esse

espaço de tempo entre o momento da descoberta da doença até a morte, aumentou

de cinco dias para cinco anos. As conquistas da medicina e da tecnologia aplicadas

à saúde, têm contribuído para prolongar a morte. Por este motivo, mais do que se

falar em morte, fala-se do processo morrer. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).

Nos nossos dias, século XXI, fala-se em cuidados paliativos como meio de

promoção da qualidade de vida. Com foco no controle da dor e alívio dos sintomas,

estes cuidados são destinados aos pacientes e familiares, após diagnóstico de uma

doença crônica. (MELO; CAPONERO, 2009).

O processo morrer tem sido tratado com maior dignidade. Seja ele em pacientes

terminais com doenças crônicas ou com a pessoa idosa. Com o surgimento dos

“home care”, serviço de saúde prestado na residência do cliente, agora se tem a

opção de morrer em casa, como no início. (ARAÚJO; VIEIRA, 2004).

O estudo de Silva e Simões (2010), realizado com profissionais de saúde

representados por enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos e por pacientes

e membro da família, o qual investigava qual o significado de “boa morte” ou “morte

digna”, teve como ideia central mais frequente entre os sujeitos a morte sem

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sofrimento. Outra ideia também muito expressiva foi a morte humanizada. Estes

resultados vêm demonstrar justamente a face dos cuidados paliativos, despertando

a prática do mesmo pelos profissionais de saúde, pois é o que todo ser humano

precisa: uma morte digna. Mas para isso é preciso conscientizar estes profissionais.

Segundo Silva, Ribeiro e Kruse (2009), a morte e os cuidados paliativos

apresentados no período de 2000 a 2005, representaram uma importante mudança

de paradigma assistencial no contexto do cuidado no final da vida, fazendo desse

período um processo inteiramente natural.

Mas esta realidade, infelizmente, ainda não é privilégio de todos, pois ainda não

se utiliza dos cuidados paliativos na maioria das instituições hospitalares. Na nossa

realidade os cuidados paliativos têm sido mais observados nos serviços de home

care. Os serviços individualizados de home care são mais comuns apenas na classe

social mais favorecida, a qual tem condições financeiras de manter o doente em seu

domicílio, sem que este deixe de receber o atendimento de profissionais da saúde.

Muito tem-se discutido sobre cuidados paliativos , mas pouco se tem feito desses

cuidados.

2.1.2 Definições de morte

A definição clássica do instante da morte foi formulada por Hipócrates cerca de

500 anos antes do nascimento de Cristo. Encontrada no De Morbis, 2º livro, parte 5:

“Testa enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente, cercado de coloração escura.

Têmporas deprimidas, cavas e enrugadas, queixo franzido e endurecido, epiderme

seca, lívida e plúmbea, pelos das narinas e dos cílios cobertos por uma espécie de

poeira, de um branco fosco, fisionomia nitidamente conturbada e irreconhecível.”

(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).

Hoje, porém, definir a morte é bem mais amplo do que simplesmente observar

os aspectos físicos apresentados, enfoca-se em bases fisiológicas da pessoa.

Conforme definições oferecidas pelos dicionários, a morte é o término da vida, a

cessação de todas as funções vitais, o ato ou o fato de morrer. A definição das

Estatísticas Vitais das Nações Unidas diz que a morte é o desaparecimento total dos

sinais vitais. (ELIOPOULOS, 2005).

Santos (2009) propõe quatro abordagens à definição e determinação da morte,

são elas: perda irreversível do fluxo de fluídos vitais; perda irreversível da alma do

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corpo; perda irreversível da capacidade de integração corporal e perda irreversível

da capacidade de interação da consciência ou social.

No ponto de vista das pessoas, a morte é a consagração, o terror ou,

simplesmente, o fim da vida, e esta acompanha o homem em todo o seu

desenvolvimento pessoal. (SANTOS, 2009).

Esta morte na patologia é chamada de morte somática, que significa a morte do

indivíduo como um todo. Sendo caracterizada pelo somatório de uma série de

fenômenos como: perda da consciência; desaparecimento dos movimentos

respiratórios e do batimento cardíaco; perda da ação reflexa a estímulos táteis,

térmicos e dolorosos; parada das funções cerebrais. A morte somática é

conceituada como sendo a rotura do equilíbrio biológico e físico-químico

fundamentais à manutenção da vida. Atualmente o critério decisivo para se dizer que

alguém está morto é a parada definitiva das funções cerebrais, documentada

clinicamente e por eletroencefalografia (traçado isoelétrico). (MONTENEGRO;

FRANCO, 1999; PROCHET, 2009). A morte cerebral, segundo o Conselho Federal

de Medicina, é a ausência de atividade elétrica encefálica e de pressão arterial,

irresponsividade aos estímulos internos e externos, com ausência de reflexos

superficiais e profundos, com presença de flacidez muscular generalizada e

dilatação pupilar bilateral. (PROCHET, 2009).

Já para um geneticista é a saída do mundo vivo, corresponde a parada de um

conjunto dos processos bioenergéticos e das funções que eles subentendem, sendo

o conjunto dirigido pelo nosso patrimônio genético. Na nossa morte, esse patrimônio

torna-se mudo, ele para de dar ordens. (SANTOS, 2009).

O conceito de morte é sempre relativo, pois é influenciado pelo contexto

situacional, social e cultural e se relaciona com o comportamento. Tornando-se

complexo, mutável, e muita das vezes, obscuro, ambíguo, e até mesmo em

evolução. (KASTENBAUM, 1983 apud SANTOS, 2009).

À luz da sociologia, a morte é ambígua: considerada, por um lado, como o mais

natural de todos os fenômenos, assim como o nascimento, a sexualidade, a fome, a

sede e o riso; por outro lado, social e cultural, como qualquer episódio da práxis

humana, e, portanto, trabalhada pela experiência da idade, classe, religião, vivida

sob uma aparência que deve servir para explicá-la e justificá-la. Apesar de a morte

ser um acontecimento que atinge a todos os homens, ela ocorrerá em situações

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sociais específicas, determinadas para cada um, por sua classe, família, raça,

cultura e religião. (TORRES; GUEDES; TORRES, 1983).

“A diferença entre as pessoas em geral e os profissionais de saúde é que, na

vida destes, a morte faz parte do cotidiano, tornando-se companheira de trabalho.”

(KOVÁCS, 2009, p.55)

A morte é o final da vida material. Sendo o último acontecimento importante da

vida e que ninguém pode privar-se. (SILVA, 2005).

Para Araújo e Vieira (2004), o morrer é um processo que ocorre ao longo da

vida, pontuado por sucessivas mortes que antecedem a morte final. Silva (2005) diz

que o morrer está ocorrendo em qualquer um a cada momento, morremos um pouco

a cada minuto e um dia este processo chegará ao fim. Diz ainda que, a curva do

homem-corpo obedece ao percurso de nascer, crescer, amadurecer, envelhecer e

morrer.

O estudo da morte e do processo morrer, a Tanatologia, teve início nos Estados

Unidos, por volta dos anos 60, tendo como uma das pioneiras no estudo a Drª.

Elisabeth Kubler Ross, uma médica que convivia com pacientes terminais. E

segundo Procher (2009), o estudo da Tanatologia chegou ao Brasil por volta de

1970, que foi baseado nos estudos de Kubler-Ross.

O processo morrer é mais evidenciado, quando falamos em pacientes terminais.

No entender de Silva (2005), uma doença terminal é aquela cuja recuperação está

aquém de uma expectativa razoável. Ao saber que a morte é algo inevitável e

iminente, os pacientes tendem a vivenciar vários estágios.

Embora o processo morrer seja variado em cada pessoa, algumas reações em

comum foram observadas nesses pacientes. Após vários anos de experiência com

pacientes à morte, Elisabeth Kubler-Ross definiu os 5 estágios do processo morrer:

negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Porém, a esperança, permeia

todos os estágios do processo morrer. Contudo, os estágios descritos nem sempre

evoluem em uma sequência ordenada em todos os pacientes de igual modo, alguns

chegam a não apresentar uma das etapas. (ELIOPOULOS, 2005; SILVA, 2005;

ARAÚJO, 2009).

2.2 A MORTE, O PROCESSO MORRER E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

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Durante este momento, o enfermo deve ser assistido da melhor maneira

possível, pois o ser humano tem direito de morrer com dignidade. A American

Journal Of Nursing Company publicou em 1975 a cerca dos direitos da pessoa

preste a morrer. Entre eles, citamos: o cuidador deve ser sensível e especializado,

deve compreender as necessidades do enfermo, para que ele obtenha satisfação e

possa enfrentar a morte. (SILVA, 2005).

Este mesmo autor afirma que, o assistir ao morrer dos pacientes terminais

conduz os profissionais a uma reflexão em relação a finitude da vida humana.

Há uma aura de silêncio que rodeia entre os profissionais quando o tema é a

morte, o que pode ser penoso. (KOVÁCS, 2009)

Quando se fala em processo morrer, é valido lembrar a colocação de Salgado et

al. (2009) que dizem que a morte desencadeia sentimentos não apenas naquele que

está morrendo, mas também nos médicos e nos profissionais responsáveis pelo

cuidado. Esta colocação nos traz uma indagação, quais seriam estes sentimentos?

Seriam estes, os mesmos sentimentos vivenciados após a morte do paciente?

Alguns estudos relatam quais seriam os sentimentos e significados para os

profissionais que convivem com pacientes terminais.

A morte suscita os mais variados sentimentos. Os sentimentos estão presentes

diante do ato de morrer e se intensificam diante do ser morto. A perda, a dor, a

angústia, o medo, o estresse permeiam o estar com o outro que está morrendo.

(SPINDOLA; MACEDO, 1994; SILVA, 2005). A morte não é vista como um

acontecimento natural, e sim como um acontecimento que causa frustração,

sensação de fragilidade e de incapacidade. (FERNADES; FUJIMORI; KOIZUME,

1984 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999).

Os sentimentos de impotência, o receio de transmitir seus medos, suas

angústias, sentimento de mal-estar ao paciente e a dificuldade porque se envolveu

emocionalmente, são algumas dificuldades sentidas pelo profissional de

enfermagem. (FERRAZ et al; 1986 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999)

Para Silva (2005), os sentimentos mais frequentes nos profissionais de saúde

diante do cuidado de um paciente terminal incluem a tristeza, talvez pela impotência

mediante a algo mais forte e inevitável; o apego e o envolvimento, devido a

convivência durante o tratamento, sendo necessário para humanizar o morrer; a

aceitação, este sentimento é explicado pela experiência do profissional diante do

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morrer, em seu cotidiano, o que leva a morte a ser encarada como algo comum,

surge na mesma proporção que os sentimentos de saudade e esperança.

Se por um lado a morte é percebida pelos profissionais como um momento

difícil, por outro acaba fazendo parte do cotidiano destes, sendo encarada com

naturalidade. Ainda há aqueles que participam do morrer dos pacientes

questionando sua atuação, algumas vezes, sentem-se culpados, acreditando que

falharam na prestação da assistência. (SPINDOLA; MACEDO, 1994).

Spindola; Macedo (1994) e Silva (2005) informam que vários estudos

demonstraram que os profissionais de saúde criam alguns mecanismos de defesa

ao lidar com a morte, como forma de suportar as tensões do cotidiano inerente ao

seu serviço. Como exemplos desses mecanismos têm o distanciamento e negação

de sentimentos.

O despreparo leva ao distanciamento, sendo melhor isolar-se do que encarar a

situação por puro desconhecimento e despreparo. O que ocorre é uma fuga

defensiva, onde os enfermeiros hesitam em entrar no quarto do moribundo e os

médicos arranjam qualquer pretexto para sair o mais rápido possível. E quando há

aproximação do cliente, o comportamento é frio ou o próprio corpo fala diante do

moribundo, as ações falam por si. Fica claro que lidar com os sentimentos a respeito

da morte, por alguns profissionais é um sistema delicado e difícil de se conduzir, o

que pode até não ser aceito pela consciência do profissional, mas que emerge de

sua inconsciência e é evidenciado em seus atos. (SPINDOLA; MACEDO, 1994;

SILVA, 2005).

Outros, porém, usa da negação de seus sentimentos, como forma de defesa.

Nesse mecanismo os sentimentos têm que ser controlados. Há aqueles que

costumam retrucar ao dizer que não sente qualquer angústia nestas situações.

Revelando uma aparente insensibilidade diante do morrer. (SPINDOLA; MACEDO,

1994; SILVA, 2005).

Segundo D’ Assumpção (1998) apud Silva (2005), o ser humano tem grande

capacidade de criar máscaras para usar diante de cada situação, como forma de

disfarçar seus verdadeiros sentimentos. O profissional de saúde vive uma “mentira”,

não que seja frio e calculista, mas para “não deixar recair”. Joffe (1995) apud

Martins, Alves e Godoy (1999) completa ao dizer que, tornar o objeto que dá medo

em algo com uma feição familiar, é uma forma de lidar com o desconhecido.

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O que percebemos é que quanto mais mortes ocorrem, mais comum a morte

parece ser, levando a sua banalização nos hospitais. Para Martins, Alves e Godoy

(1999) há uma diferença entre a negação e banalização da morte com a elaboração

e aceitação. A negação e banalização oferecem apenas uma solução passageira

para a questão da morte, o que é preciso para os profissionais de saúde continuar

exercendo suas funções sem sucumbir. Mas, as defesas podem falhar e a angústia

permanece sem via de expressão. Enquanto a elaboração e a aceitação fazem parte

de um processo de desenvolvimento pessoal, que reflete no desenvolvimento

profissional.

Vemos assim que a realidade hospitalar parece não comportar a vivência destes

profissionais que não encontram espaço para a expressão de sua dor e angústia, se

defendem racionalizando, negando, distanciando e encobrindo sentimentos, pois, a

expressão dos mesmos desqualifica o desempenho profissional. (MARTINS; ALVES;

GODOY, 1999).

E essa dificuldade dos profissionais em lidar com a morte tem atingido

diretamente o sistema de saúde público e privado do país, especialmente em virtude

do adoecimento de seus profissionais. (POPIM; BOEMER, 2006 apud SANTOS;

BUENO, 2011).

Adoecimento este, decorrente do desgaste emocional, que favorece o

desenvolvimento da Síndrome de Burnout, descrita como reação final do indivíduo

face às experiências estressantes acumuladas ao longo do tempo de determinada

atividade laboral. (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004 apud SANTOS; BUENO, 2011).

Kovács (2009, p.56), já dizia que:

O luto não autorizado dos profissionais de saúde é uma das razões pela qual a depressão atualmente, os tem acometido. O luto mal elaborado está, tornando um problema de saúde pública, dado o grande número de pessoas que adoecem em função da carga excessiva de sofrimento sem elaboração. Este mal vem afetando os profissionais de saúde, que cuidam do sofrimento alheio, muitas vezes, sem espaço para cuidar de sua dor.

Para Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), na ocasião da morte deve-

se encorajar a ventilação dos sentimentos. Se esta expressão emocional for inibida,

muito provavelmente estes sentimentos serão expressos posteriormente de um

modo mais intenso.

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Conforme citação feita por Vargas (2010), a formação dos profissionais da

saúde foca a cura e o sucesso no tratamento, dando a impressão aos futuros

profissionais de que terão poder suficiente para enfrentar a morte.

Oliveira; Quintana e Bertolino (2010) completam ao dizer que os profissionais,

tais como os enfermeiros e médicos, relatam que não gostam de discutir os

assuntos relacionados à morte, pois foram formados para salvar vidas.

Percebe-se, portanto, que a formação dos profissionais de saúde ainda é

direcionada e intensificada no cuidado para a promoção, recuperação e preservação

da vida. (OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)

Aguiar et al. (2006, p.132) relata que:

No entanto, a formação acadêmica pode deixar lacunas e o profissional é impulsionado a creditar que somente a cura e o restabelecimento são características de um bom cuidado. Os hospitais e sua tecnologia, a dinâmica da luta incessante pela vida não permitem nem abre espaços para questionar, conversar e pensar na morte.

Silva e Simões (2010) completam dizendo que as pesquisas demonstram a

necessidade de uma educação para morte e sinalizam a escola como um lugar de

reflexão dessa temática.

Porém, há necessidade de uma educação que seja efetiva para lidar com a

morte. (COSTA; LIMA, 2005; BELLATO et al; 2007; OLIVEIRA; AMORIM, 2008;

SANTOS; BUENO, 2011).

Os autores Oliveira e Amorim (2008) sugerem a criação de grupos de

discussões sobre tanatologia, que tragam aos discentes subsídios para o exercício

profissional.

“Nesse âmbito, professores e alunos podem interagir na discussão sobre o

tema, manifestando suas dúvidas, inquietações, dificuldades e questionamentos.”

(SILVA; SIMÕES, 2010, p.159).

Porém, não se deve colocar toda a responsabilidade no processo de formação

da graduação, mas talvez seja necessário repensar também no processo de

formação familiar e no processo educacional, o qual deveria ter início no ensino

fundamental e médio. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008)

E mais, as discussões e reflexões a respeito da morte deveriam adentrar não só

nas faculdades de enfermagem e medicina, mas também nas instituições de saúde.

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33

Para KOVÁCS (2009, p. 50), “a discussão dos temas relacionados com morte e o

morrer dentro dos hospitais é de fundamental importância”.

Kovács (2009) relata, porém, que tem entrado em ação o projeto Falando de

Morte, que é composto de quatro filmes de caráter educativo com abordagens

específicas: falando de morte a criança, ao adolescente, ao idoso e aos profissionais

de saúde. O filme falando de morte com profissionais de saúde, tem duração de 50

minutos e se propõe a criar espaços de facilitação para discussão do tema em

instituições de saúde e educação, sendo divulgado entre profissionais e estudantes

das áreas de saúde e educação, nas disciplinas de graduação, pós-graduação,

cursos de extensão, palestras, congressos e workshops, distribuídos pelo Brasil.

Porém, o que ainda ouvimos nas instituições de saúde e educação é que seus

profissionais não estão preparados para lidar com morte. (KOVÁCS, 2009)

Não se esquecendo também dos docentes de enfermagem, pois para Oliveira e

Amorim (2008) não se resolverá o problema sem que haja uma atenção voltada

quanto a preparação dos docentes em relação ao tema.

O que se espera é que o tema morte e morrer seja, futuramente, um tema

comum como qualquer outro, e não mais cause tanto pânico e temor em nossa

sociedade, mas que seja encarado como parte da vida.

A cultura ocidental tende a negar a morte e seu impacto. Como resultado desta

postura, temos profissionais formados apenas para lidar com a vida e a cura.

(OLIVEIRA; SOUZA, 2001).

Santos (2009) concorda com a fala anterior ao dizer que, a angústia da morte

presente na sociedade ocidental reflete-se na educação médica e nas atitudes dos

médicos perante a morte. Os recursos dos quais hoje a medicina dispões colocam a

morte como inimiga e o médico como tendo o papel de “adversário da morte”.

(ZAIDHAFT, 1990 apud ESSLINGER, 2004).

Esslinger (2004) reforça a ideia dizendo que, embora o local onde

predominantemente a morte ocorra seja o hospital, a cultura médica não aceita a

morte como algo que faz parte de um ciclo natural, mas aparece impregnada de

ideias de cura.

2.3 A MORTE E A MEDICINA

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Tanto o médico quanto o estudante de medicina têm sérias dificuldades em lidar

com a morte, talvez por desenvolverem um “complexo tanatolítico”, numa crença de

que está um passo a frente do ser comum em sua capacidade de postergar, deter

ou até mesmo anular a morte. (NORDON, 2009).

O médico tendo como função o diagnóstico e o tratamento, vê a doença como

sua inimiga e o corpo do paciente como um campo de batalha. Nesse confronto, a

morte se configura como um fracasso, considerando como algo que não faz parte de

sua prática habitual, mas como algo inesperado que assinala a fragilidade de seu

poder. E justamente por não estarem preparados para lidar com a morte, estes

lançam mão de diversos mecanismos para evitar o confronto com a morte de seus

pacientes; e o mais comum deles é a negação. Este mecanismo é expresso através

de diversos comportamentos, sendo o principal deles não ver o paciente como uma

pessoa, mas como um objeto portador de um mal a ser extirpado. (SALGADO et al;

2009).

Estes autores acrescentam dizendo que, não é uma característica individual que

traduz a frieza e a utilização de mecanismos de defesa tão intensos nos médicos e

nos outros profissionais de saúde, mas o convívio com a morte.

Para Nordon (2009), o médico não deseja de modo algum que o paciente morra,

pois isto sustenta o complexo tanatolítico. Mas, ao mesmo tempo, há certo alívio

quando ele morre, pois estando presente a morte no outro, quer dizer que ele

próprio não morreu. E a cada morte, o médico ganha “um pouco mais de vida” e,

com o decorrer do tempo, ele passa a se acostumar com a morte.

Levando em consideração o exposto, Esslinger (2004) ressalta que todas as

mudanças no âmbito científico e tecnológico justificariam a inclusão, nos cursos de

formação de profissionais de saúde, de disciplinas que discutissem aspectos ligados

ao processo de morte e do morrer.

De acordo com Nordon (2009) os cursos de medicina do Brasil em geral não

possuem uma disciplina de Tanatologia - a maioria sequer menciona o assunto. O

único curso de Graduação no qual o estudo da morte faz parte do currículo, nos

mais de 177 cursos de medicina no Brasil, é o da Universidade Federal de São

Paulo, coordenado pelo Prof. Dr. Marco Túlio de Assis Figueiredo e pela Dra. Maria

das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo.

Porém, Santos (2009) afirma que o Brasil possui, não apenas uma, mas, duas

faculdades de medicina que oferecem aos seus alunos a disciplina de Tanatologia,

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como optativa na graduação: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

e a Faculdade de Medicina do ABC, sendo que na FMUSP é oferecida a disciplina

de tanatologia também na pós-graduação.

E mais recentemente, temos a Faculdade de Medicina de Itajubá, que desde

2010 incluiu a disciplina de Tanatologia e Cuidados Paliativos em sua grade

curricular, a qual é ministrada pela Dra. Maria das Graças Mota Cruz de Assis

Figueiredo.

Segundo o Plano de Ensino-2012 da Faculdade de Medicina de Itajubá, a

disciplina é administrada na 1º, 2º e 4º série, respectivamente, Tanatologia e

Cuidados Paliativos I, Tanatologia e Cuidados Paliativos II e Tanatologia e Cuidados

Paliativos III, com uma carga horária de 36 h.A metodologia de ensino é direcionada

por atividades teóricas e práticas. Sendo que as atividades teóricas incluem:

exposição oral dos temas intercalada por discussões de casos e de situações

cotidianas com intensa participação dos alunos; conferências; debates em classe;

mesas redondas; seminários; atividades de sensibilização. E as atividades práticas

dispõe de : visitas monitoradas a cemitérios , visitas a templos religiosos,

atendimento ambulatorial a pacientes em Cuidados Paliativos (CP), visitas

monitoradas em hospital a pacientes em visitas domiciliares, visitas de luto e visitas

as enfermarias do Hospital Escola.

Apesar de a disciplina ter sido introduzida na grade curricular apenas em 2010, a

Faculdade de Medicina de Itajubá, há tempos vem sensibilizando seus alunos com o

tema de Cuidados Paliativos através de vídeo fórum apresentado mensalmente no

auditório da faculdade, o qual era aberto ao público das demais faculdades de

Itajubá.

Apenas três faculdades, dentre as 144 citadas por Nordon (2009), incluindo a

Faculdade de Medicina de Itajubá, não são suficientes para a preparação dos

acadêmicos de medicina no Brasil.

Sendo assim, esse aprendizado se dá no campo da prática quando o

profissional começa a perder os pacientes sob seu cuidado. (SILVA, 2005).

Santos (2009) relata que 81,1% dos profissionais consideram inadequada a

formação acadêmica sobre o assunto. Outro estudo demonstra que 50,9% dos

médicos têm dificuldades para tratar este tema, 13,5% têm muita dificuldade e 1,9%

evita o assunto. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005).

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Como consequência deste despreparo, as reclamações mais comuns das

famílias, relatadas por Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), eram

informações superficiais ou vagas, uso de linguagem médica ou de difícil

compreensão, insegurança do profissional, informações secas ou com frialdade.

Já nos Estados Unidos, este cenário se mostra bastante diferente. Das 122

escolas médicas, 100% oferecem aulas sobre morte e morrer e 94% sobre cuidados

paliativos. O número médio de horas oferecido é de 12 horas sobre morte e morrer e

de 9 horas sobre cuidado paliativo. (DICKINSON, 2006).

Portanto diante dos dados apresentados resta apenas a reflexão: qual será as

consequências futuras deste despreparo em relação a morte e o morrer dos

profissionais de medicina?

“A prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de

saúde, sendo que a doença e a morte são elementos presentes na rotina e no

ambiente de trabalho desses profissionais.” (GALVÃO et al; 2010, p.27) Escolher ser

enfermeiro implica no desejo de estar próximo ao sofrimento e a morte. (LEONI,

1996 apud AGUIAR et al; 2006)

No estudo bibliográfico de Silva, Ribeiro e Kruse (2009) há quatro aspectos de

abordagens da morte pela enfermagem, organizadas por períodos. A primeira, no

período de 1937 a 1979, com enfoque na “morte silenciada e ocultada”, onde não se

podia se envolver e demonstrar os sentimentos. A segunda, no período de 1980 a

1989, retratada como a “luta contra a morte”, nessa época a enfermagem

presenciava o emprego de inúmeros aparatos tecnológicos a fim de prolongar a

vida. Em terceira abordagem, no período de 1990 a 1999, denominada de “a morte

em cena: multiplicidade de facetas”, referindo-se aos enfermeiros e a utilização de

mecanismos de defesa, tais como negação e a racionalização, por meio de um

relacionamento frio, rotinizado e regulado. E por fim, aborda-se a morte e os

cuidados paliativos, como mudança de paradigma, no período de 2000 a 2005.

O ambiente hospitalar exige dos profissionais adaptações constantes, uma vez

que lidam diretamente com o sofrimento do outro e acompanham as angústias dos

familiares, além de conviverem diariamente com a morte, um desafio frequente e

que acaba gerando estresse em seu cotidiano. (GALVÃO et al; 2010).

2.4 A MORTE E A ENFERMAGEM

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A morte e o processo de morrer têm grande contribuição para o desgaste ou

estresse do profissional. Por conta destas e outras questões a enfermagem foi

classificada como a quarta profissão mais estressante pela Health Education

Authority. (GALVÃO et al; 2010).

Estas situações estressantes, as quais os profissionais de enfermagem estão

expostos ao longo do tempo, acabam interferindo no cuidado, produzindo na saúde

enfermeiros frios e indiferentes. (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004 apud SANTOS;

BUENO, 2011).

Dessa forma, torna-se necessário auxiliar a equipe de enfermagem a entender o

processo de morte e morrer como uma etapa do ciclo vital e incentivar os debates

sobre os sentimentos emergentes nesse processo e na elaboração do luto, uma vez

que o sofrimento contínuo e diário pode levar o profissional ao adoecimento.

(GALVÃO et al., 2010)

No estudo realizado por Gutierrez e Ciampone (2007), a fé foi apontada como

um recurso utilizado pelos enfermeiros para o enfrentamento da morte.

O profissional de enfermagem é o único que assiste o ser humano em todas as

fases da vida, inclusive diante da possibilidade de morte. (SILVA, 2005).

Para que a equipe de enfermagem possa trabalhar juntamente com os médicos,

no que diz respeito ao processo morrer e a morte, esta também deve ser preparada

na sua formação acadêmica. (ROCKENBACH, 1985 apud MARTINS; ALVES;

GODOY, 1999).

Porém, Santos (2009) revela que a temática da morte parece perturbar os

enfermeiros na mesma proporção que os médicos, sendo observado um despreparo

técnico, educacional e mesmo existencial dos enfermeiros na abordagem de temas

ou assuntos relacionados com a morte e o morrer.

“O modelo médico de cuidado eficiente, mas essencialmente impessoal, exerce

influência não apenas sobre o médico, mas também sobre os enfermeiros.”

(SANTOS, 2009, p.16).

Um estudo realizado com alunos do primeiro ano do curso de graduação em

enfermagem demonstrou que estes, recém-ingressos, viam a morte como inimiga e

sinônimo de fracasso, acreditavam que deviam lutar contra ela para preservar a

vida. (SANTOS; BUENO, 2011).

O estudo de Vargas (2010) também demonstrou que os estudantes de

enfermagem possuíam pouco preparo para lidar com situações que envolvem a

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morte e o morrer. Esse estudo, realizado com estudantes de enfermagem do

segundo ano de graduação de uma faculdade privada de São Paulo, revelou que os

sentimentos elencados por eles diante de uma situação de morte, foi o de perda e

medo.

Conforme este mesmo autor, talvez a crença na onipotência da equipe explique

a existência de tais sentimentos nesses alunos, contribuindo para reforçar nos

estudantes os sentimentos de perda e fracasso diante da morte de um paciente.

Em um outro estudo realizado por Oliveira e Amorim (2008) verificou-se, junto

aos estudantes do último período de estágio do curso de graduação em

enfermagem, que a morte ainda é um acontecimento que choca e traz muito

sofrimento.

Portanto, lidar com morte é uma experiência que causa temor nos acadêmicos

do primeiro ao último período da graduação, e se estende aos profissionais de

enfermagem.

Segundo Galvão et al. (2010), as universidades e instituições, apesar de

contemplarem em suas propostas curriculares a abordagem integral da assistência,

na prática clínica parecem não dar muita ênfase a essa questão, priorizando um

ensino tecnicista. Muito pouco é trabalhado em relação ao impacto emocional dessa

experiência com o óbito e as estratégias de enfrentamento.

Para este mesmo autor, na formação acadêmica dos profissionais de

enfermagem a temática da morte é de certa forma negligenciada ou até inexistente.

A esfera humanística e filosófica da morte e do morrer não é contemplada em sua

totalidade, sendo abordada com superficialidade.

Segundo SANTOS (2009, p.17):

No Brasil, são poucas as faculdades de enfermagem que têm a temática da morte no seu currículo ou como disciplina optativa, entre elas pode ser citada a escola de enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a USP de Ribeirão Preto.

Não existem políticas públicas educativas dos Conselhos Federal e Estadual de

enfermagem em parceria com o Ministério da Educação (MEC) para a inserção da

Tanatologia ou da temática da morte nos currículos das faculdades de enfermagem

e dos cursos técnicos. (SANTOS, 2009)

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No estudo de Silva e Silva (2007) realizado com acadêmicos de enfermagem de

escolas brasileiras, constatou-se que 42% dos participantes revelaram não ter aulas

sobre o tema morte e morrer em suas escolas. Os que informaram a existência de

tais conteúdos, relataram que o assunto é abordado como um subtema de uma

disciplina ou matéria principal e varia entre 30 minutos e 10 horas/aula.

A realidade, portanto, se mostra cruel, dezenas de milhares de profissionais que

lidam diariamente com a morte, infelizmente, não receberam qualquer formação na

área. (SANTOS, 2009) E, segundo Silva (2005), o que se percebe é um despreparo

da enfermagem para enfrentar a morte e lidar com seus próprios sentimentos. Isso

repercutirá negativamente, resultando em sofrimento psíquico, existencial e

espiritual para os profissionais. (SANTOS, 2009).

No entanto, ao deparar-se com sucessivas experiências de morte no ambiente

labora, o profissional desenvolve recursos de enfrentamento nem sempre ideais,

porém que os auxiliam na adaptação a rotina de trabalho. Porém, tais recursos nem

sempre são suficientes para que o profissional elabore a experiência de forma

efetiva. (GALVÃO et al; 2010).

Daí a importância de uma reformulação dos currículos dos cursos de

enfermagem, visando inserir um treinamento nas áreas da perda, da dor e da morte,

para que possa ocorrer uma mudança em nível de comportamento frente à morte.

(TORRES et al. 1989 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999).

O que preocupa é que não só os discentes, mas também os docentes de

enfermagem não se sentem preparados para lidar com a morte. No estudo de Pinho

e Barbosa (2008), as enfermeiras docentes revelaram dificuldade para trabalhar com

os acadêmicos as questões da morte e do morrer. Acreditam que o tempo é curto, o

assunto é extenso e complexo para ser ensinado, e acima de tudo não sabem como

fazer. Estas autoras verificaram, ainda, que as docentes fazem a abordagem

superficial da temática morte, talvez para não causar impacto nos aluno ou mesmo

por não se sentirem capacitadas para tal. Porém, este panorama é resultado da

própria formação que estas enfermeiras receberam na graduação, pois segundo

elas, receberam o conteúdo, mas foram informações fragmentadas, sem conexão

entre as disciplinas.

E apesar das dificuldades, os educadores tentam demonstrar equilíbrio ao

vivenciar a morte em campo de estágio, porém muitas vezes sentem-se

despreparados, angustiados e temerosos, pois também não foram formados para

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aceitar ou vivenciar a morte. (CARVALHO; VALLE, 2006 apud SANTOS; BUENO,

2011).

Diante disso, vemos profissionais despreparados formando outros profissionais,

que também serão despreparados para lidar com questões a respeito da morte e o

morrer.

Para Vargas (2010), estudos têm sido publicados nos últimos anos abordando

as concepções, reflexões, sentimentos e o preparo de estudantes de enfermagem

frente a situações que envolvem a morte e o morrer, porém pouca atenção vem

sendo dada à temática na formação do enfermeiro, acarretando dificuldades e

inadequações no enfrentamento dessas situações em seu cotidiano de trabalho.

E mesmo com as reformas curriculares nas instituições, o currículo ainda não

tem garantido a inserção da temática de modo consistente. (SILVA; SILVA, 2007;

CARVALHO; MERIGHI, 2006).

O estudo realizado por Santos e Bueno (2011, p.275) confirma este fato ao dizer

que:

Verificou-se a unanimidade dos artigos em referir que as universidades ainda não foram capazes de introduzir na sua grade curricular, de forma crítico-reflexiva, a Tanatologia, ciência que estuda os mais diversos aspectos da morte. E que apesar de algumas universidades oferecerem disciplinas que abordam a temática da morte, todos os estudos demonstraram que os alunos carecem de reflexão e discussão, a fim de se desnudarem dos pré-conceitos socioculturais ocidentais vivenciados desde a infância.

Considerando este panorama, torna-se de extrema urgência a preparação dos

acadêmicos e futuros profissionais de saúde quanto a morte e o processo morrer.

Somente com uma boa preparação acadêmica, tanto dos médicos como dos

enfermeiros, será possível encontrarmos profissionais que saibam lidar com seus

próprios sentimentos e com os sentimentos dos outros. O que facilitará o

enfrentamento diante do tema “morte”, além de contribuir para que os profissionais

da saúde tenham mais facilidade de comunicar a morte de um paciente

hospitalizado aos seus familiares e promover à família enlutada um atendimento

mais humano.

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Santos (2009), autor e médico geriatra, expõe sua posição ao dizer que o

médico enquanto líder do sistema de saúde é o responsável direto por informar os

familiares sobre a morte.

Porém, segundo informações colhidas nas instituições de saúde, apesar de o

atestado do óbito ser de responsabilidade exclusiva dos médicos, a comunicação do

óbito aos familiares não é uma atribuição específica a nenhum profissional da saúde.

Por meio de uma busca, foi constatado que não há nenhum registro tanto no Código

de Ética Médico como no Código de Ética de Enfermagem designando qual o

profissional responsável por informar o óbito. Porém, habitualmente, quem acaba

informando é o médico de plantão ou médico que acompanhou o paciente e/ou o

enfermeiro de plantão, aquele que estiver mais disponível e preparado no momento.

Sendo muitas vezes determinado pela própria instituição por meio de protocolo ou

até mesmo por um consenso interno.

No entanto, dentro da mesma instituição pode haver variação. Em algumas

unidades fica por responsabilidade apenas do médico, em outras a enfermeira é que

exerce a função, ou ainda a informação é passada aos familiares pela equipe

(médico, enfermeiro e psicólogo) dependendo da necessidade do caso. Dessa

forma, os profissionais de saúde, sejam eles médicos ou enfermeiros (as) devem

estar qualificados para lidar com tal situação. Sendo que esta informação não é uma

tarefa nada fácil.

Refletindo com base na literatura, a comunicação da morte pode sofrer

influência por diversos fatores que circunda o momento da morte. Considerando três

pontos básicos relacionados à comunicação da morte, são eles: a situação

circunstancial do momento da morte, aquele que recebe a notícia e aquele que

informa a notícia. Sendo, portanto, a comunicação bastante variável, dependendo

dos fatores que interagem a esta situação de fatalidade.

Dentre os fatores que podem alterar ou modificar a forma de transmitir a notícia

podemos citar: idade, relação com o falecido, posição deste na família, forma da

morte, tempo de doença, natureza do vínculo, entre outros. Esses fatores, portanto,

são aqueles também responsáveis pela reação de luto da família. (SPINDOLA;

MACEDO, 1994).

2.5 A COMUNICAÇÃO DA MORTE AOS FAMILIARES

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Em cada caso há certa especificidade ao comunicar a morte, levando em

consideração os fatores citados, os quais poderão acentuar o sofrimento da família

enlutada, como também os sentimentos do próprio médico.

De acordo Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), a morte pode ser dividida

em “oportuna” e “inoportuna”. A morte oportuna implica que o tempo esperado de

vida e o período realmente vivido sejam aproximadamente iguais, ou seja, a pessoa

morre quando esse fato deveria previsivelmente ocorrer, aqueles que devem

suportar a perda não se surpreendem com a morte. Desta citamos: a morte

decorrente do envelhecimento, pacientes terminais ou sem prognóstico - na fase

adulta. A morte inoportuna refere-se a: morte prematura de pessoa jovem, morte

catastrófica, associada a um acidente ou por violência, ou morte súbita inesperada.

No entanto, a morte que gera uma experiência emocional mais intensa são aquelas

que ocorrem com crianças. Para Araújo e Vieira (2004) é muito mais difícil aceitar a

morte de uma criança.

Nos casos de morte inoportuna, se torna mais difícil para o médico ter que

anunciar a notícia aos familiares. Já na morte oportuna, a família já está mais

preparada para receber a notícia, o que facilita para o médico comunicar o óbito.

Silva (2005) diz que, a pessoa aceita a morte de um indivíduo por pensar na ideia de

que este já tenha sofrido bastante ou por ter vivido muito e experimentado da vida

de forma mais natural.

O prognóstico ruim parece “preparar”, também, o profissional para a morte de

seu paciente, entretanto a morte súbita ou de pacientes jovens acentuam os

sentimentos de impotência, identificação e culpa. (MARTINS; ALVES; GODOY,

1999).

Outro aspecto importante que se torna relevante ao ter que informar a morte aos

familiares, é o próprio familiar.

Para Vila Nova (2000), família é a orientação e a regulamentação das relações

de parentesco, da procriação, das relações sexuais e da transmissão dos

componentes intermentais básicos da sociedade. As formas de organização da

família são bem variadas, com diversos critérios sociológicos para sua classificação.

Os principais tipos de família são a monogâmica (relação homem e mulher), a

poligínica (relação de um homem com duas ou mais mulheres) e a poliândrica

(relação de uma mulher com dois ou mais homens). No Brasil a família é

monogâmica.

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A forma de organização da família se baseia em cima de sua própria

sobrevivência. Nessa esfera temos: a família extensa ou patriarcal, está relacionada

à necessidade de braços para o trabalho agrícola que é o seu sustento,

compreendendo várias gerações de parentes por consanguinidade, por casamento

ou por agregação; e a família nuclear, composta do casal e dos filhos, geralmente

nas sociedades urbano-industrial. (VILA NOVA, 2000)

A natureza do vínculo, a relação com o falecido e a posição deste na família é

algo muito significativo, que deve ser levado em conta ao passar a informação de

morte. Gonçalves (1994), afirma que se fica mais comovido quando falece alguém

de nosso círculo de amizade, ou seja, as pessoas mais próximas. Por esse motivo,

se torna mais difícil transmitir a informação para uma pessoa da família do que para

qualquer outra pessoa. No geral, as pessoas da nossa família são aquelas que

consideramos mais “chegadas”, mais próximas, onde há um laço mais forte de

companheirismo, de carinho, de confiança e de proteção. Deve considerar ainda

que, se a relação entre os indivíduos da família era muito intensa ou, se a pessoa

falecida era, por exemplo, um pai de família, responsável pela renda familiar, a

comunicação torna ainda mais complicada.

Em relação ao profissional informante, muitos são os fatores relacionados que

podem prejudicar ou auxiliar na comunicação da morte, são eles: personalidade de

cada profissional, a formação médica, as experiências que cada um teve com a

morte de pessoas ligadas a ele no passado, ou a sua própria proximidade com a

morte, seu posicionamento filosófico e também a crença individual de cada um.

(SALGADO et al; 2009).

Para Nordon (2009), a religião permite aos mortais conviver com o fato de que,

depois da vida, vem a morte, e era para se esperar que os médicos fossem os mais

crentes; no entanto, são tanto os céticos, às vezes até mesmo os ateus, que veem a

vida como um simples funcionamento orgânico, e a morte como cessação dele, que

às vezes se esquece de que, ao contrário das pessoas descrentes e onipotentes, a

religião é algo essencial. Nota-se que, de uma maneira geral, quando os

profissionais possuem alguma crença, costumam suportar melhor as perdas.

(SILVA, 2005).

Independentemente dos fatores que interagem com a situação de morte. Para

Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005) após a família ser informada do óbito, é

muito importante que haja uma conversa com a equipe médica para esclarecimentos

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sobre o caso. No entanto, essa comunicação deve ser clara, em local adequado e

passando serenidade ao familiar que está vivenciando um momento tão difícil.

De acordo com os resultados do estudo destes mesmos autores, as reações

mais comuns da família no momento da morte são: aparecimento de culpa, revolta

contra a equipe que cuidou do paciente, raiva e choro.

Portanto, o médico e o enfermeiro deve estar preparado para saber lidar com

qualquer uma das reações possíveis, apresentadas pela família.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO

Nesta pesquisa será utilizado para a análise dos dados o Discurso do Sujeito

Coletivo (DSC), que está descrito após a Teoria das Representações Sociais (TRS),

visto que o DSC é um dos métodos de análise desta teoria.

De acordo com Arruda (1991), a TRS estabelece que a representação não seja

uma cópia da realidade, mas sim a sua reelaboração pelo sujeito, que é um sujeito

ativo. A representação é sempre social, porque é elaborada com categorias de

linguagem ou códigos de interpretação fornecidos pela prática social do sujeito.

As noções de Representação Social (RS) recobrem o sistema cognitivo e

simbólico, que constitui o conjunto de conhecimentos, crenças, imagens, opiniões e

significados relativos a um objeto circunscrito na realidade social. Tal atividade se

efetua a partir das informações que o sujeito recebe dos seus sentidos, quer dizer,

do que recolheu ao longo de sua história e permanece na memória, além das

relações com outros indivíduos ou grupos. (ALLOUFA, 1991).

A seguir será apresentado de forma mais abrangente as representações sociais

e o Discurso do Sujeito Coletivo com suas especificidades.

Nos últimos anos, o conceito de Representações Sociais (RS) tem aparecido

com grande frequência em trabalhos científicos de diversas áreas.

Este conceito atravessa as ciências humanas e não é patrimônio de uma área

em particular. Ele tem fundas raízes na sociologia, e uma presença marcante na

antropologia e na história das mentalidades. (ARRUDA, 2002).

As RS são uma forma de trabalhar com o pensamento social em sua dinâmica e

em sua diversidade. Auxiliam na construção de uma realidade comum de um

conjunto social. (ARRUDA, 2002).

Com esta sistematização há uma reabilitação do senso comum, do saber

popular, do conhecimento do cotidiano e do conhecimento pré-teórico. (ARRUDA,

2002).

A RS constitui um recurso muito importante para se viver em sociedade, haja

vista que engloba explicações, ideias e manifestações culturais que caracterizam um

3.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

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determinado grupo. Ela acontece a partir da interação das pessoas, apesar do

homem viver em um ambiente, ele não perde os atributos típicos de sua

personalidade. (ARRUDA, 2002).

Serge Moscovici, em 1961, elaborou a primeira base teórica do conceito das RS

utilizando estudos na área de psicanálise para chegar as suas conclusões. Para

entender as relações humanas, é necessário fazer uma análise do coletivo,

verificando assim a troca de conhecimentos que a RS é capaz de promover dentro

do grupo. (ARRUDA, 2002).

É válido lembrar que o estudo da RS se mostra importante para compreender o

avanço da sociedade e o comportamento da pessoa inserida num grupo. (ARRUDA,

2002).

Para Sá (2004), a RS tem como objetivo explicar os fenômenos do homem a

partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vista a individualidade.

Portanto, este mesmo autor, preconiza que, para o psicólogo social europeu

Serge Moscovici, a RS está relacionada com o estudo das simbologias sociais a

nível tanto de macro como de micro análise, ou seja, o estudo das trocas simbólicas

infinitamente desenvolvidas em nossos ambientes sociais, de nossas relações

interpessoais, e de como isto influencia na construção do conhecimento

compartilhado e da cultura.

A finalidade da RS é tornar familiar algo não-familiar, isto é, uma alternativa de

classificação, categorização e nomeação de novos acontecimentos e ideias, com a

quais não tínhamos contato anteriormente, possibilitando, assim, a compreensão e

manipulação destes à partir de ideias, valores e teorias já preexistentes e

internalizadas por nós e amplamente aceitas pela sociedade. (ARRUDA, 2002).

O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de

natureza verbal, obtidos por meio de depoimentos.( LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)

De acordo com Lefèvre e Lefèvre (2005), após fazer a pergunta aberta, se junta

os discursos individuais gerados de modo que expressem o pensamento de uma

coletividade sobre um dado tema, de forma que esta, fale diretamente.

3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

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Conforme estes mesmos autores é um discurso-síntese, redigido na primeira

pessoa do singular e composto por Expressões-chave (ECH), que tem a mesma

Ideia central (IC) ou Ancoragem (AC).

Este método utiliza-se de questões abertas com a intenção de aprofundar as

razões subjacentes a escolha por uma das alternativas de resposta. O que a difere

de uma pesquisa social, onde contém apenas questões fechadas que limitam a

expressão do pensamento dos pesquisados, o que não é o objetivo do DSC.

(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)

Por serem questões abertas, faz-se necessário a leitura das respostas e a

identificação de palavra, conceito ou expressão que saliente a essência do sentido

da resposta, após isso, temos o que se chama de categoria. A partir de então, é

possível enquadrar os vários discursos em uma das categorias e após podem ser

distribuídas em classes. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)

3.2.1 Figuras metodológicas

Para que o DSC seja confeccionado, faz-se necessárias algumas figuras

metodológicas que orientarão o trajeto deste método. São elas: ECH, IC e AC.

(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

Expressões-chave: são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso,

que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam

a essência do depoimento. A ECH é uma espécie de prova discursivo-empírica da

verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa.

Ideias centrais: são um nome ou expressão linguística que revela e

descreve, de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso

analisado e cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar início ao DSC. A IC não

é uma interpretação, mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um

conjunto de depoimentos. As ICs podem ser resgatadas através de descrições

diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito através de descrições

indiretas ou mediatas.

Ancoragem: é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou

ideologia, ou crença, que o autor do discurso professa e que na qualidade de

afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma

situação específica.

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O DSC é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular e

composto pelas ECH que têm a mesma IC ou AC. Um método que utiliza uma

estratégia discursiva, tornando clara a representação social.

O DSC pode estar em itálico ou em negrito ao mesmo tempo, para indicar que

se trata de uma fala ou depoimento do participante, não é necessário usar aspas,

pois não trata de uma citação. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

3.2.2 Fases do DSC

Lefèvre e Lefèvre (2005), explicam que o DSC é uma estratégia discursiva que

segue as fases descritas a seguir:

COLETA DE DADOS

Escolha do sujeito: Há três situações que se apresentam ao pesquisador: na

primeira, o pesquisador pode compor pessoalmente a sua amostra,

escolhendo todos ou quase todos os indivíduos a serem pesquisados. Na

segunda, é uma escolha intencional dos sujeitos a serem pesquisados, e o

pesquisador tem conhecimento aprofundado sobre os sujeitos. E a terceira é

quando o pesquisador não conhece ou conhece superficialmente os sujeitos.

Elaboração do roteiro de perguntas. Antes de formular uma questão, devem–

se definir os objetivos que se pretende atingir.

Preparo dos entrevistados: Faz-se a apresentação do entrevistador ao

entrevistado, seguindo rigorosamente as perguntas do roteiro. Não podendo o

entrevistador introduzir novas questões, modificar, opinar ou intervir na

entrevista que esta realizando. Pode-se apenas introduzir adendos como: O

que mais? Como assim? Tem algo mais a dizer.

Preparo do ambiente para a entrevista: Local ausente de ruídos, onde haja

privacidade.

Preparo do equipamento: Verificar funcionamento do aparelho com

antecipação.

Clima da entrevista: Deve transcorrer o mais informal possível, deixando o

entrevistado a vontade e descontraído.

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TABULAÇÃO DE DADOS:

Após a entrevista coletada, gravada e transcrita, alguns passos devem ser

seguidos rigorosamente, segundo Lefèvre e Lefèvre (2005):

Análise das questões isoladamente, copiando integralmente cada resposta

obtida.

Identificação e delimitação das ECH ou ICs e também as ICs da AC.

ICs e ACs separando–as.

Identificação e agrupamento das ICs e ACs do mesmo sentido ou em sentido

equivalente ou complementar.

Denominar cada um dos grupos por A, B, C e outras, todas as IC de mesmo

sentido.

Construir o DSC.

Estes passos serão descritos de forma mais detalhada no item 3.2.3.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Se houver mais de um DSC por questão, pode–se apresentar inicialmente um

quadro–síntese com as principais ideias surgidas na análise das questões. As

características pessoais não serão analisadas, fazendo parte do trabalho apenas

para enriquecimento deste.

3.2.3 Passo a Passo do DSC

Após serem gravadas todas as entrevistas e transcritas, realiza-se a tabulação

dos dados seguindo os seguintes passos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005):

Copiar, integralmente, o conteúdo de todas as respostas referentes à questão

1, no Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) (ANEXO A, B, C, D) na

coluna ECH do quadro de apresentação;

Identificar e sublinhar, em cada uma das respostas, as IC das ECH;

Identificar as IC a partir das ECH e agrupar as IC equivalentes;

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Denominar cada um dos agrupamentos A, B, C, D e outros, o que, na

realidade implica criar uma ideia central que expresse, da melhor forma

possível, todas as IC de mesmo sentido. Às vezes, todas ou várias IC têm o

mesmo título, ou nome, o que facilita o processo.

Construir o DSC. Para isso é necessário utilizar o Instrumento de Análise de

Discurso 2 (IAD2) (ANEXO E, F, G, H ). Deve-se construir um DSC, para cada

agrupamento das ICs, identificado anteriormente. Utilizando tantos IAD2s

forem os agrupamentos.

É importante ressaltar que estes passos devem ser seguidos rigorosamente. As

questões também devem ser analisadas isoladamente, ou seja, analisada questão 1

de todos os sujeitos entrevistados, a seguir a questão 2, e assim sucessivamente.

(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)

Para construir o DSC, a primeira etapa é copiar do IAD1 todas as ECH do

mesmo agrupamento e colocá-las na coluna das ECH do IAD2. A segunda etapa é

construir o DSC propriamente dito, conforme cada agrupamento. (LEFÈVRE;

LEFÈVRE; TEIXEIRA, 2002)

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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

A pesquisa em enfermagem é uma investigação sistemática, destinada a

desenvolver conhecimentos sobre temas de importância para a enfermagem,

usando de uma metodologia para se chegar a meta final da pesquisa. (POLIT;

BECK; HUNGLER, 2004).

No entender de Andrade (2003), metodologia constitui o conjunto de métodos

ou caminhos que serão percorridos na busca do conhecimento.

Esta parte do trabalho aborda os aspectos relacionados com o cenário de

estudo, caracterização do local de estudo, sujeitos, natureza de amostra e

amostragem, instrumento de coleta de dados, procedimento para a coleta dos

dados, estratégias de análise de dados, assim como os preceitos éticos da

pesquisa.

O estudo foi realizado em duas instituições de saúde no município de Itajubá-

MG: a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e o Hospital Escola de Itajubá.

A escolha foi direcionada para essas instituições hospitalares de Itajubá por se

enquadrarem no quesito maior número de óbitos, de acordo com os dados colhidos

na Vigilância Epidemiológica de Itajubá. O que, consequentemente, leva os médicos

e enfermeiros das instituições a informarem a morte com maior frequência. Outra

justificativa para a escolha destas instituições é pelo fato de apresentarem uma boa

receptividade, já que nós acadêmicos de Enfermagem da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz realizamos o ensino clínico e estágio em tais instituições.

O município de Itajubá está localizado no sul de Minas gerais, segundo dado do

IBGE a estimativa da população em 2009 é de 90.225. A cidade está ligada a 16

municípios vizinhos. Possui uma localização privilegiada devido a sua posição em

relação as grandes capitais da região sudeste: Belo Horizonte (445 km), São Paulo

(261 km), Rio de Janeiro (318 km), além de estar inserida numa rede urbana

formada por prósperas cidades de porte médio.

É centro de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da

chamada microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais

4.1 CENÁRIO DE ESTUDO

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credenciados para o Sistema Único de Saúde - SUS, Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, da Faculdade de Medicina de Itajubá, com

níveis de atendimento de atenção básica até alta complexidade. (PREFEITURA

MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2009).

Oferece, ainda, assistência na área privada de convênios com o Hospital Médico

e Odontológico (Odontomed), a Clínica Especializada em Assistência Médica

(SAÚDE CEAM), a Cooperativa de Trabalho Médico Ltda. (UNIMED de Itajubá) e o

Hospital Bezerra de Menezes, voltado à saúde mental. (PREFEITURA MUNICIPAL

DE ITAJUBÁ, 2009).

A assistência ambulatorial, além dos serviços privados, é realizada nos hospitais

credenciados do SUS, nas Unidades Básicas de Saúde do município e na policlínica

municipal.

A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá é um hospital geral, uma instituição

civil de direitos privados sem fins lucrativos, de caráter beneficente, filantrópico e

declarada de Utilidade Pública Estadual e Federal. Com prestação de serviços

terceirizados.

Classificada como hospital geral de médio porte. Possui cerca de 100 leitos

prestando serviços de atendimento ambulatorial e internações nas especialidades de

clínica médica, cirúrgica, pediátrica, ginecológica e obstétrica; ortopedia e

fisioterapia, maternidade, nefrologia, gastroenterologia, centro de terapia intensiva,

centro cirúrgico e pronto socorro.

É campo de estágio, ensino clínico e pesquisa para alunos de enfermagem,

medicina, nutrição, fisioterapia, residência médica em cirurgia. Seu corpo clínico é

composto em média por 100 médicos atuantes, contemplando 25 especialidades. E

sua equipe de enfermagem conta com 17 enfermeiros, sendo 13 assistenciais.

O Hospital Escola de Itajubá (HE) é um hospital geral, de caráter de ensino,

nível de atenção hospitalar de média e alta complexidade, além do nível ambulatorial

com atenção básica à saúde.

É uma instituição civil de direitos privados sem fins lucrativos, de caráter

beneficente, filantrópico e declarada de Utilidade Pública Estadual e Federal.

Disponibiliza cerca de 150 leitos, sendo distribuídos por: clínica médica, clínica

cirúrgica, pediatria, maternidade, centro de tratamento intensivo, centro cirúrgico,

pronto socorro e unidade de internação particular. Oferece atendimento, por

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demanda espontânea, aos habitantes de Itajubá e região, sendo 84% pelo Sistema

Único de Saúde (SUS), 13% através dos convênios e 3% particulares.

Possui serviços de atendimento ambulatorial e hospitalização nas

especialidades: cardiologia, nefrologia, clínica geral, neurologia, pneumologia,

gastroenterologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia, pronto socorro, ortopedia e

traumatologia, centro cirúrgico, centro de terapia intensiva e fisioterapia. Oferece,

também, serviços de apoio diagnósticos como: radiologia, laboratório de análise

clínica, tomografia computadorizada, ultrassonografia, mamografia e endoscopia. É

campo de estágio para alunos de medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição e

residência médica em áreas diversificadas. Seu corpo clínico é composto por 127

médicos (as), contemplando 38 especialidades. E seu departamento de enfermagem

conta com 26 enfermeiros (as).

Para conhecer os significados e sentimentos dos médicos e dos enfermeiros

sobre o tema, nesta pesquisa foi utilizada a abordagem qualitativa, do tipo

exploratória, descritiva, transversal e de campo.

Na perspectiva de Polit, Beck e Hungler (2004), o alvo da maioria dos estudos

qualitativos é descobrir significados, revelar crenças e realidades múltiplas.

O método escolhido, conforme descrito anteriormente, será o DSC, baseado na

Teoria das Representações Sociais (TRS). No entanto, não se utilizou da

ancoragem - figura metodológica - durante a formação do DSC.

Trata-se de pesquisa exploratória, aquela que se caracteriza pela preocupação

de identificar os fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos e por se

aprofundar no conhecimento da realidade e explicar o porquê das coisas. É o tipo

mais complexo e delicado, já que os riscos de cometer erros são aumentados

consideravelmente. (GIL, 2002).

Na pesquisa descritiva os fatos são observados, registrados, analisados,

classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Sendo uma das

suas características a técnica padronizada da coleta de dados, realizada

principalmente através de questionários e da observação sistemática.

4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO

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54

Os estudos transversais são aqueles em que os dados são coletados com um

ou mais grupo de sujeitos em um determinado tempo. (BREVIDELLI; DE

DOMENICO, 2006)

Já a pesquisa de campo é assim intitulada por permitir que a coleta de dados

seja efetuada “em campo”, onde ocorrem espontaneamente os fenômenos, uma vez

que não há interferência do pesquisador sobre eles. (ANDRADE, 2003).

Sendo estes os métodos que melhor se encaixam com o estudo em questão,

dando maior probabilidade de adquirir resultados efetivos, foram escolhidos de

acordo com a particularidade dos objetivos a serem atingidos.

Os participantes do estudo seriam, a princípio, apenas os médicos que

trabalhavam no Hospital Escola ou na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, MG,

de qualquer faixa etária e de ambos os gêneros, porém ao realizar a coleta de dados

com os médicos, ficou claro que não só os médicos, mas que também os

enfermeiros realizavam tal função: “informar o óbito aos familiares”, havendo assim a

necessidade de se incluir os enfermeiros na pesquisa. A partir de então, ao término

das entrevistas com os médicos foi também coletado os dados com enfermeiros das

referidas instituições de saúde.

De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), uma amostra é um subconjunto

dessa população. As entidades que constituem as amostras e as populações são os

elementos. E amostragem é o processo de seleção de uma porção da população

para representar toda a população.

Diante disso, o tamanho da amostra deste estudo, ou seja, o número total dos

entrevistados é determinado pelo método utilizado na pesquisa. O DSC determina o

mínimo de 20 sujeitos. Estas pesquisas contem dois DSC, sendo um o DSC dos

médicos e outro o DSC dos enfermeiros. Cada um com uma amostra de 20 sujeitos,

totalizando 40 sujeitos participantes da pesquisa. O tipo de amostragem foi não-

probabilística intencional. Segundo Polit; Beck; Hungler (2004), neste tipo de

amostragem os membros da amostra são selecionados de forma proposital, com

base nas necessidades de informação que emergem dos resultados preliminares.

4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO, NATUREZA DA AMOSTRA E

AMOSTRAGEM

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Os critérios para a inclusão dos participantes no estudo foram:

Ser médico (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá há pelo menos um ano;

Ser médico (a) que já tenha informado o óbito aos familiares;

Ser enfermeiro (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá há pelo menos um ano;

Ser enfermeiro (a) que já tenha informado o óbito aos familiares;

Concordar em participar do estudo.

A escolha de médicos que trabalham há pelo menos um ano deve-se ao fato

que estes tiveram uma oportunidade maior de informarem óbito aos familiares.

Os critérios para a exclusão dos participantes no estudo foram:

Não ser médico (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá há pelo menos um ano;

Ser médico (a) que não tenha informado o óbito aos familiares;

Não ser enfermeiro (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia

de Itajubá há pelo menos um ano;

Ser enfermeiro (a) que não tenha informado o óbito aos familiares;

Não concordar em participar do estudo.

Segue abaixo o instrumento e os procedimentos utilizados para a coleta de

dados do estudo em questão.

4.4.1 Instrumento para coleta de dados

O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro de entrevista

semiestruturada composto de duas partes, uma referente a caracterização pessoal e

profissional dos participantes do estudo e a outra contendo duas questões abertas

inerentes aos objetivos da pesquisa. (APÊNDICE A)

A entrevista é o procedimento mais utilizado no trabalho de campo. Através dela,

o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Essa técnica

se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem

4.4 COLETA DE DADOS

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56

e do significado da fala, servindo como meio de coleta de informações sobre um

determinado tema científico. (CRUZ NETO, 2002).

De acordo com Brevidelli e De Domenico (2006), a entrevista é uma das

principais técnicas utilizadas na pesquisa qualitativa e que requer maior

aproximação entre pesquisador e pesquisado. Matheus e Fustinoni (2006)

completam que na entrevista, o objetivo é descobrir o que é significativo na vida dos

entrevistados, suas percepções e interpretações, suas óticas e sua maneira de

traduzir o mundo.

A entrevista semiestruturada é uma articulação entre duas modalidades: a

entrevista estruturada e não-estruturada. A entrevista estruturada pressupõe

perguntas previamente formuladas. Na entrevista não-estruturada o informante

aborda livremente o tema exposto. (CRUZ NETO, 2002). Nesta modalidade, a

entrevista contém questões abertas direcionadas conforme o objetivo do estudo.

4.4.2 Procedimentos para coleta de dados

A coleta de informações foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em

Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB) da cidade de Itajubá-

MG, conforme Parecer Consubstanciado Nº 588/2010 (ANEXO I). Segue no ANEXO

J , o Parecer Consubstanciado que atualiza o anterior, para que o mesmo estivesse

em acordo com as mudanças ocorridas durante o trabalho, ou seja, a inclusão dos

enfermeiros como participante da pesquisa.

O agendamento da entrevista foi feito com cada participante de forma individual,

respeitaram-se os dias e horários que lhes foram mais viáveis, sendo que 16 das

entrevistas foram realizadas na própria instituição, em local reservado, os quais os

próprios entrevistados indicaram; e 4 entrevistas não foram realizadas nas

instituições selecionadas (Hospital Escola de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia

de Itajubá) e sim em outras instituições de saúde (nas quais os participantes

também atuavam), porém seguindo sempre os critérios de inclusão.

Anteriormente a entrevista, foram confirmados os critérios de elegibilidade, os

respondentes tomaram conhecimento dos objetivos do estudo, da garantia do

anonimato, do instrumento a ser aplicado, da gravação das respostas e posterior da

transcrição na íntegra das mesmas. Após esclarecimento das dúvidas, foi efetuada a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE B).

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57

No entanto, alguns participantes, sendo 9 enfermeiros e 2 médicos optaram por

responder na própria folha a segunda parte do questionário (referente aos objetivos

do estudo), alegando se sentirem mais a vontade dessa maneira e recusaram a

gravação das respostas. E ainda, um participante, sendo este médico, optou por

ditar sua resposta e ao mesmo tempo a pesquisadora transcrevesse na folha. Todas

as respostas dos participantes sejam elas gravadas, escritas ou ditadas, foram

transcritas na íntegra.

Cada entrevista durou em média de 10 a 30 minutos, em local reservado, e de

forma individual, deixando, dessa forma, os participantes a vontade.

O pré-teste foi realizado com o objetivo de averiguar o entendimento por parte

do entrevistado e fazer as correções necessárias no instrumento. Para Gil (2002) o

pré-teste é necessário para assegurar que o instrumento satisfaz o que se pretende

pesquisar.

Nesta pesquisa o pré-teste foi dirigido para três médicos que não fizeram parte

da amostra, mas que estavam de acordo com os critérios de inclusão, com a

finalidade de verificar qualquer ajuste ou modificação no roteiro, que se julgasse

necessária, para que ele esteja adequado aos objetivos da pesquisa e possa ser

aplicado com sucesso. Com o pré-teste verificou-se que não haveria necessidade de

mudanças, já as respostas estavam condizentes com o objetivo do estudo.

Os médicos e enfermeiros possuem o mesmo nível de escolaridade, optou-se

por não realizar pré-teste com os enfermeiros e, também, porque não houve

alterações no instrumento quando realizado com os médicos e nem problemas de

compreensão do instrumento durante a coleta de dados com enfermeiros.

Para análise dos dados da caracterização pessoal e profissional dos sujeitos do

estudo, referente à primeira parte do roteiro de entrevista semiestruturada,

inicialmente, foi feita a leitura integral das informações de cada participante com a

finalidade de melhor compreensão geral. Em seguida procedeu-se as releituras

4.5 PRÉ-TESTE

4.6 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS DADOS

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58

delas, com o intuito de identificar as características pessoais e profissionais dos

médicos e enfermeiros participantes da pesquisa.

Os dados identificados foram apresentados em forma de tabelas e comentados

no relatório final da concretização desta pesquisa, na parte que se refere à

apresentação e discussão dos resultados.

Os dados coletados com a gravação e manuscritos das respostas dos

participantes às questões abertas, da segunda parte do roteiro de entrevista

semiestruturada, seguiram os passos segundo o método DSC.

Depois de gravadas e transcritas, o seu conteúdo foi colocado no instrumento de

Análise de Discurso 1 (IAD-1, ANEXO A, B, C, D) na coluna ECH. Em cada uma das

ECH foram identificadas as IC, sublinhadas e posteriormente agrupadas as IC

equivalentes. Para construir o DSC, foi preciso utilizar o Instrumento de Análise 2

(IAD-2, ANEXO E, F, G, H) e finalmente para cada agrupamento identificado

construiu-se o DSC. Com o DSC concluído, foi apresentado e comentado no

relatório final da concretização desta pesquisa, na parte que se refere à

apresentação e discussão dos resultados, juntamente com os resultados da primeira

parte do roteiro da entrevista semiestruturada.

A apresentação dos resultados do DSC pode ser apresentado utilizando-se de

várias maneiras.

Na proposta apresentada neste estudo, as seguintes etapas foram seguidas:

após seu conteúdo foi colocado no instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD-1,

ANEXO A, B, C, D) na coluna ECH. Em cada uma das ECH foram identificadas as

IC, sublinhadas e posteriormente agrupadas as IC equivalentes. Para construir o

DSC, foi preciso utilizar o Instrumento de Análise 2 (IAD-2, ANEXO E, F, G, H) e

finalmente para cada agrupamento identificado construiu-se o DSC.

Nesta proposta, utilizou-se de dois Instrumentos de Análise de Discurso (IAD1 e

IAD2), até que se chegou ao resultado final - o DSC.

Para apresentação dos resultados do DSC foi exposto um painel de discursos

de sujeitos coletivos, enunciados na primeira pessoa do singular, sugerindo, assim,

4.7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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59

uma pessoa coletiva falando como se fosse um sujeito individual de discurso.

(LEVÈFRE; LEFÈVRE, 2005)

Pra este mesmo autor (LEVÈFRE; LEFÈVRE, 2005, p.32):

Essa forma de apresentação de resultados de pesquisa, é fácil de perceber, confere muita naturalidade, espontaneidade, vivacidade ao pensamento coletivo, o que contrasta fortemente com as formas clássicas de apresentação de resultados...

Dessa forma, os resultados são apresentados possibilitando a compreensão do

mesmo.

Este estudo respeitou a Resolução 196/96 de 10/10/1996 do Ministério da

Saúde, por meio do Conselho Nacional de Saúde, que refere-se às pesquisas

realizadas com seres humanos, sendo respeitada a livre decisão em participar da

pesquisa e o direito de desistir quando desejar, de maneira livre e espontânea. A

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE (APÊNDICE B)

oficializou a decisão do usuário em participar do estudo, respeitando dessa forma a

autonomia dos entrevistados. Assim sendo, duas das enfermeiras convidadas,

recusaram-se à participar do estudo, referindo falta de tempo e desinteresse em

responder os questionamentos, fazendo jus ao seu direito de escolha.

Também foram previstos os procedimentos que asseguraram a confiabilidade, o

anonimato das informações, a privacidade e a proteção da mensagem dos usuários,

garantindo-lhes que os dados obtidos não sejam utilizados em prejuízo de qualquer

natureza para eles.

O anonimato de cada participante foi assegurado utilizando, para a identificação

deles, a denominação Médico 1 (MED 1), Médico 2 (MED 2), Médico 3 (MED 3),

Enfermeiro 1 (ENF 1), Enfermeiro 2 (ENF 2), Enfermeiro 3 (ENF 3) e, assim

sucessivamente.

Para a realização da pesquisa nas referidas instituições, foi enviada ao diretor

técnico das mesmas, uma carta de solicitação para coleta de dados .

4.8 ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO

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5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Nesta parte do trabalho são apresentados os resultados da primeira e segunda

parte do roteiro de entrevista semiestruturada, referente aos dados dos médicos e

dos enfermeiros.

Os dados apresentados a seguir referem-se aos resultados da primeira e

segunda parte do roteiro de entrevista semiestruturada realizada com os médicos.

5.1.1 Características pessoais e profissionais

Os dados apresentados a seguir se referem aos dados dos médicos como:

gênero, idade, religião, tempo de formado e tempo de exercício da profissão. Sendo

estas as questões referentes à primeira parte do roteiro de entrevista semi-

estruturada.

Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de Itajubá- MG , 2012. (n=20)

Frequênciarelativa

Frequênciaabsoluta

Gênero- Feminino - Masculino

911

45%55%

Idade-20-29 anos -30-39 anos -40-49 anos -50-60 anos

10433

50% 20%15%15%

Religião- Católico - Evangélico

191

95% 5%

(continuação)

5.1 RESULTADOS REFERENTES AOS MÉDICOS

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Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de Itajubá- MG , 2012. (n=20)

(conclusão)

Tempo de formado -de 1 a 4 anos -de 4 a 7 anos -de 7 a 10 anos -mais de 10 anos

7319

35%15%5%45%

Tempo de exercíciode profissão:-de 1 a 4 anos -de 4 a 7 anos -de 7 a 10 anos -mais de 10 anos

8309

40%15%0%45%

Fonte: Instrumento da pesquisa

Observou-se que 55% dos médicos participantes do estudo eram do gênero

masculino e que 50% dos médicos tinham a idade entre 20-29 anos. A religião

predominante foi a católica com 95% dos participantes.

Em relação às características profissionais, pôde-se perceber que 45% dos

médicos tinham mais de 10 anos de tempo de formado e tempo de exercício de

profissão.

Destes participantes, 18 eram médicos do Hospital Escola de Itajubá e 2 eram

médicos da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo eles atuantes em Pronto

socorro, Clínica Médica, Unidade de Terapia Intensiva e Pediatria. A diferença de

participantes em relação ao Hospital Escola de Itajubá e a Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá foi devido a disponibilidade dos médicos durante a coleta de

dados.

5.1.2 Dados relacionados aos objetivos do estudo

A seguir, serão apresentados os resultados relacionados à segunda parte do

roteiro de entrevista semiestruturada, a qual inclui as duas questões problemas, o

quadro com suas ideias centrais, seus sujeitos, frequência e por último o discurso do

sujeito coletivo (DSC) dos entrevistados.

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5.1.2.1 Significados de informar o óbito

Para a primeira pergunta, que questiona os significados de informar o óbito,

temos as seguintes ideias centrais, conforme segue no Quadro 1:

Quadro 1 - Ideias Centrais do tema: significados para os médicos de informar o óbito aos familiares

Fonte: Instrumento da pesquisa

Nº IDEIAS CENTRAIS

1 Fazer as pessoas sofrerem

2 Coisa muito ruim

3 Coisa muito triste

4 Não sentir bem

5 Tristeza

6 Tarefa árdua, difícil

7 Um sofrimento pessoal

8 Bastante complicado

9 Situação desconfortável

10 Uma agressão

11 Duro demais

12 Momento mais difícil do profissional

13 Condição inerente da profissão

14 Fácil se o paciente é idoso

15 Fácil se o caso é grave

16 Ser honesto e objetivo

17 Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem

18 Transmitir um desfecho com tranqüilidade, cuidado, atenção, solidariedade

19 Um dever profissional realizado de maneira diferenciada

20 Minimizar as dores das famílias

21 Informar uma perda irreparável

22 Informar o fim do ente querido

23 Separação do ente querido

24 Limitação profissional

25 Impotência diante da morte

26 Algo técnico

27 Algo mecanizado

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As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou

complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).

Segue abaixo o Quadro 2 resultante dos agrupamentos das ideias centrais

complementares ou semelhantes:

Quadro 2 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema: significado para os médicos de informar o óbito aos familiares.

IdeiaCentral(IC) nº

Ideias Centrais complementares ou semelhantes

Ideia Central resultante do agrupamento

1º IC -Fazer as pessoas sofrerem Fazer as pessoas sofrerem

2º IC

-Coisa muito ruim -Coisa muito triste -Não sentir bem -Tristeza-Tarefa árdua, difícil -Um sofrimento pessoal -Bastante complicado -Situação desconfortável -Uma agressão -Duro demais -Momento mais difícil do profissional

Situação difícil

3º IC -Condição inerente da profissão Condição inerente da profissão

4º IC -Fácil se o paciente é idoso -Fácil se o caso é grave

Fácil se o óbito é esperado

5º IC -Ser honesto e objetivo Ser honesto e objetivo 6º IC -Falha no sucesso terapêutico, se o

paciente é jovem Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem

7º IC -Transmitir um desfecho com tranquilidade, cuidado, atenção, solidariedade- Um dever profissional realizado de maneira diferenciada -Minimizar as dores das famílias

Transmitir um desfecho de maneira diferenciada

8º IC -Informar uma perda irreparável -Informar o fim do ente querido -Separação do ente querido -Limitação profissional -Impotência diante da morte

Perda irreparável para a família e limitação para o médico

9º IC -Algo técnico -Algo mecanizado

Algo técnico, mecanizado

Fonte: Instrumento da pesquisa

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A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs

referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 3:

Quadro 3 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema: significados para os médicos de informar o óbito aos familiares. (n=20)

Fonte: Instrumento da pesquisa

Portanto, os resultados demonstram que os significados de informar o óbito para

os familiares, apresentados pelos médicos, foram: “Situação difícil” (45%), “Condição

inerente da profissão” (40%), “Perda irreparável para a família e limitação para o

médico” (30%), “Transmitir um desfecho de maneira diferenciada” (25%), “Fácil, se o

óbito era esperado” (10%), “Ser honesto e objetivo” (10%), “Fazer as pessoas

sofrerem” (5%), “Falha no sucesso terapêutico, se paciente é jovem” (5%) e “Algo

técnico e mecanizado” (5%).

As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior

freqüência, foram as seguintes: “Situação difícil” (45%), “Condição inerente da

profissão” (40%), “Perda irreparável para a família e limitação para o médico” (30%).

Seguem os DSC:

Nº Ideias centrais (IC) Sujeitos Frequência das Ideias Centrais

1 Situação difícil MED 1, MED 2, MED 5, MED 10, MED 11, MED 12, MED 16, MED18, MED 19

9

2 Condição inerente da profissão MED 2, MED 4, MED 6, MED 12, MED 14, MED 15, MED 17, MED 18

8

3 Perda irreparável para a família e limitação para o médico

MED 6, MED 8, MED 9, MED 13, MED 16, MED19

6

4 Transmitir um desfecho de maneira diferenciada

MED 6, MED 7, MED 10, MED 11, MED 17

5

5 Fácil, se o óbito é esperado MED 3, MED 5 2

6 Ser honesto e objetivo MED 3, MED 20 2

7 Fazer as pessoas sofrerem MED 1 1

8 Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem

MED 5 1

9 Algo técnico, mecanizado M18 1

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DSC

É uma das tarefas mais difíceis da prática médica, da prática de todo

profissional de saúde. É muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar

informando isso. Eu tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável.

Eu me sinto agredida de ter que informar. Acredito que esse é o momento mais

difícil da relação médico, paciente e familiares. É uma coisa triste. A primeira

vez, você fica como se você mesmo tivesse recebendo a notícia, fica meio sem

ação, é bastante complicado. A gente se coloca muito no lugar do familiar.

Então a gente sente com isso, dá um sentimento de tristeza. É duro demais, é

um sofrimento, significa sofrimento, porque além da gente passar pelo

sofrimento de estar perdendo o paciente, você ainda tem que tirar força. É uma

tarefa árdua, difícil, lógico que não sente bem.

2º Ideia Central: Condição inerente da profissão

DSC

Significa uma condição inerente da profissão médica e que faz parte do nosso

trabalho, da rotina da gente. É um cargo, uma responsabilidade, uma tarefa

que faz parte do serviço. É um dever meu, como outro qualquer. Informar o

óbito a um familiar é uma das tarefas da prática de um modo geral de todo

profissional de saúde. É inerente da prática do dia a dia.

3º Ideia Central: Perda irreparável para a família e limitação para o médico

DSC

É informar uma perda irreparável, informar que o ente querido foi embora e

não vai mais vai voltar, não vai mais fazer parte de sua vida. É o fim da linha do

ponto de vista médico. É o único momento na vida do ser humano que o

“nunca mais” cabe, nunca mais você vai ver a pessoa, nunca mais ela vai estar

presente na sua vida. Então informar pra família o óbito é informar o “nunca

1º Ideia Central: Situação difícil

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mais” do ser, do ente querido dessa pessoa. É informar o fim, uma separação,

simplesmente eles não estarão mais juntos e pra maioria das pessoas o fim é

muito doloroso. Então assim, de certa forma, você informa pra família que nós

também somos limitados, que gente tem um certo limite ,então você chego ao

seu limite e você não vai pôde fazer mais nada. Nós tentamos até o ponto que

foi possível. Significa a nossa limitação como médico, como ser humano, Nós

não somos deuses, a gente não consegue fazer além do limite nosso, e isso dá

um sentimento de impotência perante a morte. Então significa a perda pra

família e significa também a nossa limitação como ser humano, como médico.

4º Ideia Central: Transmitir um desfecho de maneira diferenciada

DSC

Significa transmitir um desfecho, mas sempre com um caráter humano e com

uma certa sutileza. O mais importante é minimizar as dores da família. Não é só

simplesmente informar, é tentar esclarecer e explicar o que aconteceu e o que

justifica aquela situação naquele momento. É ter um jeito especial pra

conseguir passar isso de uma forma mais amena pro familiar. O mais

importante mesmo é minimizar as dores dos familiares que estão perdendo um

ente querido. Então, significa cuidado, significa atenção, significa

solidariedade.

DSC

É mais fácil pra gente quando o paciente já é mais idoso, chega a morbidade

ou se os familiares já conheciam a gravidade. Então fica mais fácil pra gente,

pois óbito o já era esperado.

5º Ideia Central: Fácil, se o óbito era esperado

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DSC

Significa ser o mais honesto e objetivo possível. Se não havia gravidade, sou

objetivo: “o paciente foi a óbito.” Deve-se falar sempre a verdade, não

omitindo nenhum detalhe, sobre o quadro clínico e sobre o motivo que levou

ao óbito, e sem embromação. Embora seja um momento doloroso você não

pode fugir disso.

DSC

Significa que eu vou fazer uma, várias pessoas sofrerem. Então significa que a

gente está fazendo as pessoas sofrerem.

DSC

Quando o paciente é mais novo, pra mim é uma falha no sucesso terapêutico.

9º Ideia Central: Algo técnico e mecanizado

DSC

Era algo técnico demais, muitas vezes a gente não tinha entrado em contato

com o paciente, a gente só sabia que a criança tinha morrido. E assim que a

gente informava de uma forma bem mecanizada, a gente se afastava, a gente

não se envolvia com o sofrimento deles.

6º Ideia Central: Ser honesto e objetivo

7º Ideia Central: Fazer as pessoas sofrerem

8º Ideia Central: Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem

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A Figura 1 representa todas as ideias centrais referente aos significados para

os médicos de informar o óbito aos familiares:

Figura 1 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os médicos de informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012.

Fonte: Instrumento da pesquisa

5.1.2.2 Sentimentos ao informar o óbito

Para a segunda pergunta, que questiona os sentimentos ao informar o óbito aos

familiares, evidenciaram as ideias centrais apresentadas no Quadro 4:

Significados para os médicos de informar o

óbito aos familiares Fazer as pessoas

sofrerem

Condiçãoinerente da profissão

Fácil, se o óbito é esperado

Algo técnico, mecanizado

Transmitir um desfecho de

maneiradiferenciada

Falha no sucesso terapêutico, se o

paciente é jovem

Situação difícil

Perda irreparável para a família e limitação para o

médico

Ser honesto e objetivo

Algo técnico e mecanizado

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Quadro 4 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares.

Nº IDEIAS CENTRAIS

1 Chateado

2 Mal

3 Nada bom se a morte é de jovem

4 Não é muito bom

5 Péssimo

6 Muito mal

7 Desagradável

8 Agredida

9 Difícil de aceitar

10 Muito triste

11 Tristeza

12 Não gosto

13 Choro junto

14 Abalado

15 Triste

16 Angustiado

17 Sente muito, fica até sem palavras

18 Natural

19 Tranquilidade

20 Não me dá tristeza

21 Sem sentimento

22 Alívio, se a morte é esperada

23 Confortável quando a morte é inevitável

24 Aceitação melhor se está esperando

25 Tranquilidade por ter feito tudo que precisava

26 Dor

27 Responsabilidade muito grande

28 Incapacidade

29 Impotência

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30 Insucesso

31 Sentimento de perda

32 Segurança diante da família

33 Com certo profissionalismo

Fonte: Instrumento da pesquisa

As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou

complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).

Segue abaixo o Quadro 5 resultante dos agrupamentos das ideias centrais

complementares ou semelhantes:

Quadro 5 - Agrupamento das ideias centrais complementares ou semelhantes do tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares.

IdeiaCentral(IC)

Ideias Centrais complementares Ideia resultante do agrupamento

1º IC

-Chateado-Mal-Nada bom se a morte é de jovem -Não é muito bom -Péssimo-Muito mal -Desagradável-Agredida-Difícil de aceitar

Muito mal

2º IC

-Muito triste -Tristeza-Não gosto -Choro junto -Abalado-Triste-Angustiado-Sente muito, fica até sem palavras

Triste

3º IC -Natural -Tranquilidade-Não me dá tristeza -Sem sentimento

Sem envolvimento emocional

4º IC -Alívio se a morte é esperada -Confortável quando a morte é inevitável-Aceitação melhor se está esperando -Tranquilidade por ter feito tudo que precisava

Aceitação e alívio

5º IC - Dor Dor

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71

6º IC - Responsabilidade muito grande Responsabilidade diante da família

7º IC -Incapacidade -Impotência-Insucesso

Impotência

8º IC -Sentimento de perda Perda 9º IC -Segurança diante da família

-Com certo profissionalismo Segurança e profissionalismo

Fonte: Instrumento da pesquisa

A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs

referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 6:

Quadro 6 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares. (n=20)

Fonte: Instrumento da pesquisa

Sendo assim, os resultados demonstram que os sentimentos ao informar o óbito

para os familiares, apresentados pelos médicos, são: “Triste”(60%), “Impotência”

(30%), “Muito mal” (25%), “Aceitação e alívio” (25%), “Perda” (20%), “Segurança e

profissionalismo” (15%), “Sem envolvimento emocional” (15%), “Dor” (10%) e

“Responsabilidade diante da família” (5%).

Nº Ideias Centrais (Ic) Sujeitos Frequência das Ideias Centrais

1 Triste MED 2, MED 5, MED 9, MED 10, MED 13, MED 14, MED 15, MED 16, MED 17, MED 18, MED 19, MED 20

12

2 Impotência MED 2, MED 7, MED 11, MED 15, MED 17, MED 19

6

3 Muito mal MED 5, MED 7, MED 8, MED 13, MED 17, MED 19

5

4 Aceitação e alívio MED 4, MED 5, MED 8, MED 10, MED 17

5

5 Perda MED 7, MED 8, MED 16, MED 17 46 Segurança e

profissionalismoMED 6, MED 16, MED 17 3

7 Sem envolvimento emocional

MED 1, MED 3, MED 12 3

8 Dor MED 4, MED 8 29 Responsabilidade diante

da família MED 9 1

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Dentre as ideias centrais, as que obtiveram maior destaque devido a uma maior

frequência foram as seguintes: “Triste” (60%) , “Impotência” (30%), “Muito mal”

(25%) e “Aceitação e alívio” (25%).

Seguem os DSC:

1º Ideia Central: Triste

DSC

O primeiro sentimento é de tristeza mesmo. A gente fica muito triste, fica

angustiado; a gente se sente parte daquilo. É impossível ser imparcial,

dificilmente a pessoa sai bem, dorme bem, geralmente sempre fica chateado;

Fiquei uns três dias pensando nisso. A gente se sente emocionalmente

abalado, eu acho que eu abraço a notícia, tem hora que a gente chora junto,

tem hora que a gente não consegue falar, as vezes eu choro antes da família.

Apesar de as pessoas acharem que o médico não tem sentimento, que a gente

é muito frio, não é não, a gente sente muito nesse momento, às vezes a gente

fica até sem palavras.

2º Ideia Central: Impotência

DSC

É um sentimento de incapacidade, de impotência. É como se você tivesse tido

um insucesso no seu tratamento, porque a gente forma médico a gente quer

salvar, nunca a gente quer que a pessoa morra. E se você está cuidando de

um paciente, a hora que ele vai à óbito você vai dar essa notícia é como se

você não tivesse conseguido seu objetivo, você não conseguiu aquilo que é

tua função. Como médico eu não consegui dá conta, não teve jeito.

Infelizmente a gente se sente incapaz naquele momento, de ter que informar

aquilo pra família. Porque você queria dá de volta aquele paciente pra família,

mais às vezes não é possível. Sentimento de impotência, de não ter

conseguido salvar a pessoa, é esse o sentimento que fica.

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3º Ideia Central: Muito mal

DSC

Eu me sinto muito mal de ter que informar, mesmo sabendo que isso faz parte

do processo do óbito. É uma sensação bem desagradável, eu não me sinto

bem, eu me sinto agredida de ter que passar isso pra família, porque ninguém

gosta de dar notícias ruins pra ninguém. Quando é uma fatalidade, um

acidente automobilístico, um trauma e a pessoa estava não tinha nada ou era

um paciente jovem e foi a óbito assim muito abruptamente, isso pro médico é

muito difícil de aceitar. Não é um sentimento nada bom, mas ele faz parte do

nosso dia a dia. É péssimo.

4º Ideia Central: Aceitação e alívio

DSC

Quando a morte é esperada há um certo alívio em dar a notícia, porque é como

se houvesse o fim de um sofrimento. A gente tem um dever tranquilo de que

foi feito tudo pra tentar salvar a vida desse paciente. Quando é um paciente

idoso, uma doença terminal então a gente até se sente um pouco mais

confortado pelo fato de saber que aquilo não tem reversibilidade ou a

qualidade de vida depois daquele fato seria muito ruim, então assim, é um

pouco melhor aceito pela gente, pelo médico.

5º Ideia Central: Perda

DSC

É um sentimento às vezes de perda. Pro médico isso é uma perda, perda de

um paciente, tem pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas que não

lidam, que carregam isso pra sua vida pessoal. E essa informação de perda é

muito difícil.

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6º Ideia Central: Segurança e profissionalismo

DSC

Eu me sinto com segurança e com certo profissionalismo, a gente tem que

cumprir com o exercício daquilo que foi programado pra gente. Eu tenho que

me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos familiares, e sem deixar

aparecer os meus sentimentos como pessoa, como choro, feição de tristeza.

7º Ideia Central: Sem envolvimento emocional

DSC

De forma natural. A vivência nos traz entender o ato de nascer-morrer. Não me

dá tristeza porque já ficou assim tão rotina, por causa da frequência. Então

acontece, às vezes, duas, três vezes no dia de eu ter que dar notícia de óbito.

Então assim, se tornou uma rotina tão comum que pra mim, é mais uma tarefa,

faz parte do serviço, não mais aquela sensibilidade tudo. Pra gente, a gente é

um pouco frio, a gente lida com isso todo dia, então tem assim muitos casos

graves que a gente fala: olha descansou. É um papel que até a gente não sente

tanto porque não faz parte da família da gente. A gente vê que a família está

sofrendo, mas não aquele sentimento seu, é diferente se fosse um parente seu.

Então a gente sente mal por ter também esse sentimento, por ser tão frio, mas

se você não for assim, você não consegue trabalhar num serviço de urgência e

emergência, então você tem que ser. Porque se você começa sentir todo esse

sofrimento e se envolver demais com a família, você vai ser eternamente

deprimida. Eu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então se eu for envolver

muito emocionalmente, eu vou ter que fazer tratamento eterno com psiquiatra,

vou ter que tomar antidepressivo eternamente, não tem como assim, você se

envolver tanto. Então...não faz diferença pra mim, eu não me envolvo

emocionalmente.

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75

8º Ideia Central: Dor

DSC

Pra mim significa uma dor mesmo. Quando a morte não é esperada a

informação do óbito é dolorosa.

9º Ideia Central: Responsabilidade diante da família

DSC

A gente sente uma responsabilidade muito grande, porque o ser humano de

uma maneira geral enxerga nós médicos, uma pessoa assim que eles

entregaram seu ente querido pra gente devolvê-lo de uma maneira boa. E

nessa hora a família chora, se desespera e nós temos que ficar forte diante

deles, porque eles tem na gente uma pessoa importante nesse horário. Então,

é uma responsabilidade muito grande.

A Figura 2 representa todas as ideias centrais referente aos sentimentos dos

médicos ao informar o óbito aos familiares:

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76

Figura 2- Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012.

Fonte: Instrumento da pesquisa

Os dados apresentados a seguir referem-se aos resultados da primeira e

segunda parte do roteiro de entrevista semiestruturada realizada com os

enfermeiros.

5.2.1 Características pessoais e profissionais

Os dados apresentados a seguir, na tabela 2, se referem aos dados dos

enfermeiros como: gênero, idade, religião, tempo de formado e tempo de exercício

da profissão. Sendo estas as questões referentes à primeira parte do roteiro de

entrevista semiestruturada.

5.2 RESULTADOS REFERENTES AOS ENFERMEIROS

Sentimentos dos médicos

ao informar o óbito aos familiares

Muito mal

Segurança e profissionalismo

Impotência

Dor

Perda

Semenvolvimento

emocional

Triste

Aceitação e alívio

Responsabilidadediante da família

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Tabela 2: Características pessoais e profissionais de enfermeiros da cidade de Itajubá- MG, 2012. (n=20)

Freqüênciarelativa

Freqüênciaabsoluta

Gênero:- Feminino - Masculino

173

85% 15%

Idade:-20-29 anos -30-39 anos -40-49 anos -50-60 anos

9524

45% 25%10%20%

Religião: - Católico - Evangélico

164

80% 20%

Tempo de formado: -de 1 a 4 anos -de 4 a 7 anos -de 7 a 10 anos -mais de 10 anos

11126

55% 5%10%30%

Tempo de exercício de profissão:-de 1 a 4 anos -de 4 a 7 anos -de 7 a 10 anos -mais de 10 anos

11126

55% 5%10%30%

Fonte: Instrumento da pesquisa

Os resultados demonstraram que 85% dos participantes eram do gênero

feminino. E a idade prevalente, com 45% dos enfermeiros, estava entre 20-29 anos,

com predominância da religião católica em 80% dos participantes.

Em relação as características profissionais, observou-se que 55% dos

enfermeiros tinham de 1 a 4 anos de tempo de formado e tempo de exercício e

profissão.

Destes participantes, 11 eram enfermeiros do Hospital Escola de Itajubá e 9

eram enfermeiros da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo eles atuantes em

Pronto Socorro, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Unidade de Terapia Intensiva,

Pediatria, Hemodiálise e Maternidade.

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78

5.2.2 Dados referentes aos objetivos do estudo

A seguir, serão apresentados os resultados referentes à segunda parte do

roteiro de entrevista semiestruturada, a qual inclui as duas questões problemas, o

quadro com suas ideias centrais, seus sujeitos, frequência e por último o discurso do

sujeito coletivo (DSC) dos entrevistados.

5.2.2.1 Significados de informar o óbito

Para a primeira pergunta, que questiona os significados de informar o óbito,

temos as seguintes ideias centrais apresentadas no quadro 7:

Quadro 7 - Ideias Centrais do tema: significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares.

Nº IDEIAS CENTRAIS

1 Parte importante do óbito

2 Parte importante da enfermagem

3 Situação difícil e complicada

4 É muito complicada

5 Momento delicado

6 Não é só chegar e falar, não é tão simples assim

7 Você não sabe como dizer

8 Não teve uma vitória

9 Eu não consegui resolver o problema do paciente

10 Pode ser uma falha que a gente tenha cometido

11 Sensação de impotência

12 Significa que você não conseguiu

13 Passar um resultado negativo para a família

14 Uma frase de tristeza e de pesar

15 Tirar a esperança do familiar

16 Notícia ruim

17 Significado muito pesado, muito forte

18 Experiência dolorosa

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79

19 Muita dor

20 Algo que mexe ainda com o sentimento

21 Uma responsabilidade

22 É mais fácil se estava esperando

23 É mais difícil se não estava esperando

24 Um ato de atenção, solidariedade e respeito para com a família

Fonte: Instrumento da pesquisa

As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou

complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).

Segue abaixo o Quadro 8 resultante dos agrupamentos das ideias centrais

complementares ou semelhantes:

Quadro 8 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema: significado para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares.

IdeiaCentral(IC) nº

Ideias Centrais complementares Ideia resultante do agrupamento

1º IC -Parte importante do óbito -Parte importante da enfermagem

Algo importante

2º IC -Situação difícil e complicada -É muito complicada -Momento delicado -Não é só chegar e falar, não é tão simples assim-Você não sabe como dizer

Situação difícil

3º IC -Não teve uma vitória -Eu não consegui resolver o problema do paciente-Pode ser uma falha que a gente tenha cometido-Sensação de impotência -Significa que você não conseguiu

Insucesso

4º IC -Passar um resultado negativo para a família -Uma frase de tristeza e de pesar -Tirar a esperança do familiar -Notícia ruim -Significado muito pesado, muito forte

Resultado negativo

5º IC -Experiência dolorosa -Muita dor -Algo que mexe ainda com o sentimento

Experiência dolorosa

6º IC -Uma responsabilidade Responsabilidade

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7º IC -É mais fácil se estava esperando -É mais difícil se não estava esperando

Depende do motivo do falecimento

8º IC -Um ato de atenção, solidariedade e respeito para com a família

Um ato de solidariedade

Fonte: Instrumento da pesquisa

A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs

referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 9:

Quadro 9 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema: significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. (n=20)

Fonte: Instrumento da pesquisa

Os resultados demonstram que os significados de informar o óbito para os

familiares, apresentados pelos enfermeiros, foram: “Situação difícil” (45%),

“Resultado negativo” (25%), “Insucesso” (15%), “Experiência dolorosa” (15%),

“Responsabilidade” (15%), “Depende do motivo do falecimento” (10%), “Algo

importante” (10%) e “Um ato de solidariedade” (10%).

As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior

freqüência, foram as seguintes: “Situação difícil” (45%) e “Resultado negativo”

(25%).

Seguem os DSC:

Nº Ideias Centrais (Ic) Sujeitos Frequência das Ideias Centrais

1 Situação difícil ENF 2, ENF 7, ENF 8, ENF 9, ENF 10, ENF 11, ENF 12, ENF 13, ENF 18

9

2 Resultado negativo ENF 4, ENF 8, ENF 12, ENF 13, ENF 14

5

3 Insucesso ENF 4, ENF 5, ENF 13 3

4 Experiência dolorosa ENF 10, ENF12, ENF 17 3

5 Responsabilidade ENF 6, ENF 15, ENF 20 3

6 Depende do motivo do falecimento

ENF 2, ENF 16 2

7 Algo importante ENF 1, ENF 3 2

8 Um ato de solidariedade ENF 11, ENF 19 2

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1º Ideia Central: Situação difícil

DSC

É uma situação difícil, complicada e delicada para o enfermeiro, porque, assim,

morreu dentro do hospital, dentro do seu ambiente de trabalho. É muito

complicado dar a notícia de óbito, não é simplesmente chegar e falar que a

pessoa morreu, não é só isso, existem outras coisas envolvidas no óbito. Eu

preciso falar o que aconteceu, o que foi feito, o que não foi feito, o porquê que

morreu, você tem que falar tudo. Você tem que estar completamente

respaldada de coisas, mas nem sempre estamos respaldados e nem

preparados para responder a todas as perguntas que poderão ocorrer, mas a

situação exige que você esteja preparado pra falar e também esteja preparado

psicologicamente. Além de ser um momento delicado, porque a gente não

sabe qual que é reação da família, a gente não sabe se era aquilo que a família

estava esperando. É uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar

isso. Lidar com os sentimentos humanos é muito complexo, não é tão simples

assim, haja vista o grau de aceitação, compreensão do sofrimento. E às vezes

a gente também acaba se envolvendo no sofrimento do familiar. É uma

situação muito delicada, bem complicada, bem difícil, não é fácil de dizer.

2º Ideia Central: Resultado negativo

DSC

Significa que nós estamos passando um resultado negativo, uma notícia ruim,

e que não tem como reverter. Então é um significado muito pesado, muito

forte. É você tirar a esperança de alguém que estava com esperança de você

resolver o problema. Então o que significa é você tirar a esperança de vida,

porque eles chegam com uma esperança que você vai resolver o problema, e

você o chama e aquela esperança não tem mais, o paciente já foi a óbito. Na

verdade é como comunicar o nosso próprio fim, uma frase de tristeza e de

pesar.

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82

3º Ideia Central: Insucesso

DSC

Informar o óbito pros familiares é você chegar para a família e falar: “não teve

uma vitória”, o que nós esperávamos de sair vitoriosos perante a situação,

perante o processo morrer, não deu. É um sentimento de... “eu não consegui”

resolver o problema seu, resolver o problema de seu ente querido. Traz uma

sensação, um pouco, de impotência, às vezes parece ser uma falha que a

gente cometeu. Então é um significado de que você não conseguiu, que você

fez tudo, mas não conseguiu.

4º Ideia Central: Experiência dolorosa

DSC

Significa muita dor. Ser portadora de uma notícia tão dolorosa para a família, é

uma experiência também dolorosa para mim. Apesar de muito tempo na

profissão, significa algo que ainda mexe com o sentimento.

5º Ideia Central: Responsabilidade

DSC

Significa ter uma responsabilidade muito grande, pois não sei como os

familiares podem reagir, devido ao momento de perda. Além do mais os

familiares tem que entender o que levou ao óbito, e é muito difícil às vezes pra

eles compreenderem que foi realizado de tudo para evitar o ocorrido. E

também é uma necessidade que a gente tem de ter que informar o mais rápido

possível a partir do momento que aconteceu.

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83

6º Ideia Central: Depende do motivo do falecimento

DSC

Depende do motivo do falecimento, pois quando já esta em sofrimento muitas

vezes os familiares aceitam de forma mais serena, e outras vezes mesmo

assim acham que poderíamos ter feito mais pelo paciente. É mais difícil dar a

notícia pra aquela pessoa que não estava esperando do que aquela que já

estava esperando.

7º Ideia Central: Algo importante

DSC

Eu acho que pra parte da enfermagem é importante, porque a gente está ali, a

gente pode dar todo apoio. Eu vi que é importante que o enfermeiro esteja

junto para informar e dar toda ajuda pro familiar, porque envolve muita coisa.

Talvez seja uma das partes mais importantes do óbito.

8º Ideia Central: Um ato de solidariedade

DSC

Informar o óbito significa um ato de atenção para com a família, um ato de

solidariedade perante uma situação desagradabilíssima, pois é um momento

doloroso para o familiar e que deve ser respeitado. Então, procuro ser mais

humana e empática possível ao passar a notícia do óbito.

A Figura 3 abaixo representa todas as ideias centrais referente aos

significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares:

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Figura 3 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012.

Fonte: Instrumento da pesquisa

5.2.2.2 Sentimentos ao informar o óbito

Para a segunda pergunta, que questiona os sentimentos ao informar o óbito aos

familiares, temos as seguintes ideias centrais apresentadas no quadro 10:

Quadro 10 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares.

Nº IDEIAS CENTRAIS

1 Triste

2 Tristeza, angústia

3 Entristecido

4 Infinitamente triste

Significado paraos enfermeiros de

informar o óbito aos familiares

Algoimportante

Situaçãodifícil

Insucesso

Resultadonegativo

Experiência dolorosa

Responsabilidade

Depende do motivo do

falecimento

Um ato solidariedade

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85

5 É desagradável

6 Sentimento ruim

7 Sentimento não é bom

8 Sinto mal, não estou preparada

9 Pouco culpado

10 Culpado

11 Sinto bem quando dou apoio a família

12 Alívio

13 Confortado

14 Sentimento de dor

15 Muito doloroso

16 Impotente

17 Limitado

18 Um pouco frustrado

19 Sentimento natural, automático

20 Acostumado

21 Sinto a maior dificuldade

22 Muito constrangido

23 Sinto um vazio

24 Sentimento de perda

25 Tenso

Fonte: Instrumento da pesquisa

As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou

complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).

Segue abaixo o quadro 11 resultante dos agrupamentos das ideias centrais

complementares ou semelhantes:

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86

Quadro 11 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares.

IdeiaCentral(IC) nº

Ideias Centrais complementares Ideia resultante do agrupamento

1º IC -Triste-Tristeza, angústia -Entristecido-Infinitamente triste

Triste

2º IC -É desagradável -Sentimento ruim -Sentimento não é bom -Sinto mal, não estou preparada

Mal

3º IC -Pouco culpado -Culpado

Culpado

4º IC -Sinto bem quando dou apoio a família -Alívio-Confortado

Alívio e conforto

5º IC -Sentimento de dor -Muito doloroso

Dor

6º IC -Impotente -Limitado-Um pouco frustrado

Impotente

7º IC -Sentimento natural, automático -Acostumado

De forma natural

8º IC -Sinto a maior dificuldade Dificuldade

9º IC -Muito constrangido Muito constrangido

10º IC -Sinto um vazio -Sentimento de perda

Vazio e perda

11º IC -Tenso Tenso Fonte: Instrumento da pesquisa

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87

A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs

referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 12:

Quadro 12 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares. (n=20)

Fonte: Instrumento da pesquisa

Os resultados demonstram que os sentimentos de informar o óbito para os

familiares, apresentados pelos enfermeiros, foram: “Triste” (65%), “Impotente” (30%),

“Mal” (25%), “Alívio e conforto” (15%), “Dor” (15%), ”Vazio e perda” (15%), “De forma

natural” (15%), “Dificuldade” (10%), “Muito constrangido” (5%), “Culpado” (5%) e

“Tenso” (5%). As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior

frequência, foram as seguintes: “Triste” (65%), “Impotente” (30%); Mal (25%).

Seguem os DSC:

Nº Ideias Centrais (Ic) Sujeitos Frequência das Ideias Centrais

1 Triste ENF 1, ENF 3, ENF 5, ENF 6, ENF 7, ENF 10, ENF 11, ENF 12, ENF 14, ENF 15, ENF 16, ENF 18, ENF 19

13

2 Impotente ENF 4, ENF 6, ENF 9, ENF 10, ENF 13, ENF14

6

3 Mal ENF 1, ENF 2, ENF 8, ENF 12, ENF 14

5

4 Alívio e conforto ENF 2, ENF 12, ENF 18 3

5 Dor ENF 3, ENF 12, ENF 17 3

6 Vazio e perda ENF 4, ENF 17, ENF 19 3

7 De forma natural ENF 2, ENF 7, ENF 15 3

8 Dificuldade ENF 8, ENF 12 2

9 Muito constrangido ENF 9 1

10 Culpado ENF 2 1

11 Tenso ENF 20 1

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88

1º Ideia Central: Triste

DSC

Eu me sinto triste, angustiada, porque a gente imagina como se fosse com um

parente querido nosso, como se fosse ter que informar minha própria família.

Mesmo não conhecendo muitas vezes os familiares, sentimos tristeza, pois

todos nós já perdemos alguém querido e isso é de grande sofrimento. A gente

acaba vendo a tristeza da família e isso normalmente mexe muito com a gente,

eu me coloco no lugar dos familiares. É complicado porque você tem que

informar e você está ali, vê a reação deles, mas não pode fazer nada. A única

coisa que você pode fazer é pegar na mão. Você tem que ter uma estrutura

psicológica muito boa pra você não ficar aborrecido porque se não você fica,

tão quanto os familiares e você acaba em vez de apoiar deixando eles mais

apreensivos. É muito triste, muito angustiante, você não pode se envolver,

mas você acaba se envolvendo, eu pensei no ocorrido durante muito tempo,

demorei pra tirar da minha cabeça a lembrança de todo acontecido, da notícia,

da reação deles. Me sinto triste e angustiada pelo familiar e por não ter sido

possível salvar o paciente ou recobrar a sua saúde.

2º Ideia Central: Impotente

DSC

Me sinto impotente, limitado, por não ter ajudado. Geralmente a gente

pergunta aonde foi a falha, embora a gente saiba que muitas vezes não tem.

Traz uma sensação de ter feito tudo e ao mesmo tempo não ter feito nada para

que não tivesse ocorrido o óbito. É uma situação de risco que você não tem

como resolver, mas a gente como profissional a gente se sente impotente.

Então são estas situações assim que às vezes deixa a gente um pouco

frustrado, porque você não consegue resolver tudo e a morte não dá pra

controlar, principalmente em situações inesperadas. E você sente uma

sensação de voltar-se para o seu interior, de pensar, com essas situações.

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89

Você se volta pra dentro, começa pensar na sua vida também. Me sinto

impotente.

3º Ideia Central: Mal

DSC

Eu sinto muito mal, já teve dia de ficar sem dormir, por achar que eu podia ter

feito isso e não fiz. Essas mortes traumáticas é muito ruim, a gente fica com

um sentimento, assim, meio ruim dentro da gente. O sentimento não é bom,

não é bom mesmo. É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte

não. Ah! Eu não me sinto muito bem.

4º Ideia Central: Alívio e conforto

DSC

Você sente um alívio também junto com a família, olha o paciente foi a óbito

mais fizemos tudo que poderia ser feito. Então, a situação é uma situação de

alívio, então a gente fica até gratificado com isso , a gente sabe tudo que a

gente fez, terminou em óbito terminou, mas era pra ser assim. O fato de tentar

dar todo o suporte, atenção e cuidado possível à família me conforta. E eu me

sinto bem quando eu consigo apoiar a pessoa, e as pessoa agradecem, falam

obrigada por tudo que vocês fizeram, pela assistência que meu pai, meu avô ,

meu filho teve aqui.

5º Ideia Central: Dor

DSC

É um sentimento de dor. Eu me coloco no lugar dos familiares e sofro por

dentro junto com eles. É muita dor.

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90

6º Ideia Central: Vazio e perda

DSC

É um sentimento de perda mesmo. Eu sinto um vazio dentro de mim quando

vou informar a família sobre o óbito. É uma sensação de... você começar

projetar essa perda para vida particular.

7º Ideia Central: De forma natural

DSC

A gente dá tanta informação pros familiares que acaba sendo natural, a morte

infelizmente virou uma coisa natural dentro da área da enfermagem, da área da

saúde. Você meio que começa a acostumar e a lidar com ela da melhor

maneira possível. Infelizmente a gente acostuma com essa situação. Depois a

gente vai e volta, continua fazendo nosso trabalho como se nada tivesse

acontecido.Com o decorrer do tempo, é meio que automático, um momento

natural.

8º Ideia Central: Dificuldade

DSC

Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu tenho,

eu ainda tenho muita dificuldade. Além da dificuldade de passar por isso, eu

tenho dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre aquilo e como me

comportar junto. Eu não tenho palavra, porque é sempre uma pessoa que está

sempre convivendo, falando, informando o quadro e a hora que acontece isso

é difícil. Eu não consigo mesmo, tenho dificuldade. Foi muito difícil todas as

vezes que eu tive que fazer isso.

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91

9º Ideia Central: Muito constrangido

DSC

Muito constrangido.

10º Ideia Central: Culpado

DSC

Eu me sinto culpada, às vezes, de não ter dado mais atenção por causa do

nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção pra aquela família daquele

paciente, de não ter dado assistência, mais assistência pra aquela pessoa, por

causa do nosso corre-corre aqui. Então, não é com todo mundo de que eu

tenho a chance de sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu isso,

aconteceu aquilo, sabe, de sentar e dar aquele apoio espiritual, não dá, não dá,

porque o nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes eu me sinto até um

pouco culpada de não ter dado uma atenção maior pra aquela pessoa que às

vezes estava necessitando também, e às vezes passa batido na gente, por

causa do corre-corre.

11º Ideia Central: Tenso

DSC

Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras dependendo da reação dos

familiares.

A Figura 4 representa todas as ideias centrais referente aos sentimentos para os

enfermeiros de informar o óbito aos familiares:

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Figura 4 - Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012.

Fonte: Instrumento da pesquisa

Sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares

Mal

Tenso

Culpado

Muito constrangido

Vazio e perda

Triste

Dor

Dificuldade

De forma natural

Alívio e conforto

Impotente

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6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta parte do trabalho serão apresentadas as discussões referentes aos

resultados apresentados.

Segundo Moreira (1999), a enfermagem é considerada uma profissão

predominantemente feminina, pois, representa uma extensão do lar, de um feminino

dócil, que cuida e educa.

O cuidar se tornou uma função feminina, algo que aprendemos desde a infância,

que inicia com o cuidado das bonecas e posteriormente o exercemos como mãe,

que protege, cuida, fornece o alimento e oferece carinho. É algo inato da mulher.

Sendo assim, o resultado da pesquisa vem ao encontro com a literatura, pois a

pesquisa realizada com enfermeiros demonstra que 85% dos participantes eram do

gênero feminino e 15% do gênero masculino.

O que já difere das faculdades de medicina, onde as porcentagens do gênero

feminino e masculino se aproximam. E que segundo a pesquisa, apresentou 45% o

gênero feminino e 55% o gênero masculino.

A religião católica também foi predominante entre os participantes da pesquisa.

Retratando o catolicismo, o qual é a religião de predominância no Brasil. E em

seguida a religião evangélica, a qual também vem crescendo em número

gradativamente.

Em relação ao tempo de formado e tempo de exercício da profissão, prevaleceu

o tempo de mais de 10 anos para os médicos e de 1 a 4 anos para a enfermagem.

Talvez isto seja devido a alta rotatividade de enfermeiros nas instituições de saúde,

fazendo com que profissionais recém formados assumam os serviços de

enfermagem com uma nova visão do cuidado. Já com os médicos essa rotatividade

acontece em menor escala, até porque, faz-se necessário a presença de médicos

com maior experiência para exercer a responsabilidade de preceptor para os

residentes em medicina.

Por outro lado, 50% dos médicos têm idade entre 20-29 anos e 50% têm idade

entre 30- 60 anos, demonstrando desta forma que a proporção entre médicos jovens

6.1 CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS

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94

e médicos com maior experiência se encontram iguais. Com os enfermeiros a idade

prevalente também permanece na faixa dos 20-29 anos com 45% dos participantes,

o que reafirma a grande porcentagem (55%) de enfermeiros recém formados (de 1 a

4 anos).

A prevalência da idade de 20- 29 anos entre os enfermeiros e médicos também

demonstra que se tem alcançado a graduação cada vez mais cedo, devido às

diversas possibilidades para o estudo que se tem atualmente, diferente de décadas

atrás, nas quais a graduação era conquistada por poucos e às vezes tardiamente.

Quando questionados, quanto aos significados e sentimentos em ter que

informar o óbito aos familiares, as respostas tanto dos médicos como dos

enfermeiros não se divergiram muito. Deste modo, a discussão desta etapa foi

realizada abordando simultaneamente os significados e os sentimentos dos médicos

e enfermeiros.

6.2.1 Significados de informar o óbito

Segundo Salomé, Cavali e Espósito (2009), a morte pode ter vários significados,

de acordo com a formação estrutural, cognitiva e religiosa de cada pessoa.

Sendo assim, cada indivíduo encara a morte e o processo morrer de formas

diferentes. O que enriquece a pesquisa.

Para os médicos, os significados de informar o óbito nada mais é do que :

“Situação difícil”, “Condição inerente da profissão”, “Perda irreparável para a família

e limitação para o médico”, “Transmitir um desfecho de maneira diferenciada”, “Fácil,

se o óbito era esperado”, “Ser honesto e objetivo”, “Fazer as pessoas sofrerem”,

“Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem” e “Algo técnico e

mecanizado”.

Para os enfermeiros os significados de informar o óbito foram bem

semelhantes aos citados pelos médicos, sendo eles: “Situação difícil”, “Resultado

negativo”, “Insucesso”, “Experiência dolorosa”, “Responsabilidade”, “Depende do

motivo do falecimento”, “Algo importante” e “Um ato de solidariedade”.

6.2 QUESTÕES INERENTES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO

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95

Estes significados podem ser encontrados na literatura, a qual confirma os

resultados obtidos.

Apesar de ter um significado de algo negativo, o óbito é visto pelos enfermeiros

como algo importante devido a complexidade e envolvimento de muitas ações,

tornando indispensável a presença desse profissional no processo morrer

A morte é considerada ruim para os que ficam, pois traduz apenas em

sofrimento.

Ao dizer que informar o óbito aos familiares significa fazer as pessoas

sofrerem, os médicos participantes da pesquisa retratam a fala de Oliveira e

Amorim (2008, p.195), que dizem: “a morte constitui ainda um acontecimento que

traz muito sofrimento e que choca”. Carvalho e Azevedo (2009, p. 174) completam a

ideia ao falarem que: “a morte, para muitos, é somente sofrimento”.

A separação de pessoas que amamos nos leva ao sofrimento, pois deixa para

traz momentos especiais, vivência e troca de afeto, momentos estes que restam

apenas nas lembranças de quem fica.

A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente

dolorosas que o ser humano pode sofrer. (BOWLBY, 1985 apud OLIVEIRA;

BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007).

E não há sofrimento maior que a morte de um filho. A morte de um filho é como

uma mutilação para os pais, que causa um imensurável sofrimento. É como se todos

os sonhos simplesmente desaparecem naquele instante. Sendo esta uma perda

devastadora para os progenitores. (ALVENS, 2005 apud CARVALHO; AZEVEDO,

2009).

Essa perda irreparável pela família associada ao significado de limitação para

o médico, também foi evidenciada nesta pesquisa.

Para Souza et al. (2009), os profissionais da saúde precisam estar preparados

para lidar com o sentimento de perda e com o sofrimento vivenciado pela família que

perderam o ente querido.

Essa perda irreparável para a família é justificada pela individualidade que cada

um possui, ninguém pode substituir ninguém, cada ser é único, e a morte de um

ente querido é uma perda para a família.

“E querendo ou não; a medicina tem seus limites, o que não é ensinado nas

escolas médicas”. (KUBLER-ROSS, 1997, p.102 apud KÓVACS, 2003, p.23).

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96

Portanto além de saber lidar com as perdas do outro, o médico ainda precisa saber

lidar com sua própria limitação.

Mas o médico, geralmente, não consegue lidar de forma positiva com os limites

da medicina e suas próprias limitações. O que torna muito difícil para ele ter que

encarar a finitude e os limites do ser humano, pois também acaba se identificando

como um ser limitado e imortal. (PAIVA, 2009)

No hospital, quando a prioridade é salvar o paciente a qualquer custo, a morte

torna-se uma ocorrência que faz do trabalho da equipe de saúde algo frustrante,

desmotivador e sem significado. Não conseguir evitar ou adiar a morte, pode trazer

ao profissional a vivência de seus limites, que, na maioria das vezes, é

acompanhado de sentimentos de impotência e finitude, o que pode ser

extremamente doloroso. (KOVÁCS, 2009)

Talvez seja por isso que os enfermeiros participantes deram o significado de

experiência dolorosa à experiência de informar o óbito aos familiares.

A morte é vista como um fracasso e pode refletir como inadequação e limitação

do profissional da área da saúde. (KAPLAN; SADOCK; GREB, 1997 apud SILVA;

SILVA, 2007)

Os enfermeiros participantes da pesquisa relataram o significado de insucesso,

o que está de certa forma atrelada ao significado de limitação citado pelos médicos,

os quais são consequentes da formação profissional, que faz com que os

profissionais encarem o óbito como uma derrota que evidencia sua fragilidade.

Essa limitação, faz com que a situação se torne difícil, complicada,

desconfortável, triste e de agressão para o profissional, o que foi evidenciado na

pesquisa com o relato dos médicos. Não apenas dos médicos, mas também pelo

dos enfermeiros, que acrescentou dizendo que a situação além de ser difícil e

complicada é também uma situação delicada.

Essa situação difícil é vista pelo fato de ser uma atribuição de grande

responsabilidade e complexidade, pois é o momento de prestação de contas à

família de tudo que foi feito àquele paciente e, o profissional ainda é posto frente à

reação e sentimentos destes familiares. O que podemos observar em trecho do

DSC:

[...] Eu preciso falar o que aconteceu, o que foi feito, o que não foi feito,

o porquê que morreu, você tem que falar tudo. Você tem que estar

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completamente respaldada [...] para responder a todas as perguntas que

poderão ocorrer [...] Além de ser um momento delicado, porque a gente não

sabe qual que é reação da família [...] Lidar com os sentimentos humanos é

muito complexo, não é tão simples assim [...]

Carvalho et al. (2006) confirma ao dizer que o enfrentamento da morte é difícil e

angustiante para quem a vivencia. Ainda mais para os profissionais, fruto de uma

formação que ressalta a onipotência e eficiência, ter que encarar a morte é aceitar o

fracasso e perder para a doença, portanto algo muito difícil de ser vivenciado por

eles. (FIGUEIREDO, 1994 apud GALVÃO et al.; 2010)

Talvez seja por isso que os participantes demonstraram não gostar de informar o

óbito, o que podemos perceber em trechos de dois DSC :

[...]É muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar informando isso. Eu

tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável[...]

[...]É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte não[...]

E esta situação se agrava ainda mais se a morte está associada a um paciente

jovem, pois conforme a pesquisa, para os médicos participantes, isto significa falha

no sucesso terapêutico.

“A morte súbita de pacientes jovens causa grande sofrimento, pois eles

costumam se identificar com a situação e sentem que precisam recuperá-los a

qualquer custo”. (ZIMERMAM, 1993 apud SHIMIZU, 2007, p.259)

Por isso, para os profissionais, a morte súbita é mais difícil de ser elaborada,

pois a sensação é de que poderiam ter feito mais. (MARTINS; ALVES; GODOY,

1999)

Sendo assim, quando ocorre a situação de morte, o sentimento que fica é que

não se realizou intervenções eficazes para salvar a vida do indivíduo que estava sob

seus cuidados. (SILVA; SILVA, 2007)

Porém esta situação se inverte se o óbito já era esperado, tornando mais fácil

a tarefa de o informar aos familiares, até porque nestas situações os familiares já

estão de certa forma preparados para receber a notícia.

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No entender de Shimizu (2007), a morte de pacientes mais idosos ou com

doença terminal é mais aceita pelos profissionais de saúde, pois fazem parte do

percurso natural da vida.

Semelhante aos resultados obtidos com os médicos, os enfermeiros relataram

que o significado de informar o óbito depende do motivo do falecimento. Como já

foi dito pelos médicos: paciente idoso e paciente terminal tornam-se mais fácil,

crianças e jovens tornam-se mais difícil.

No estudo de Costa e Lima (2005) constatou-se que o sofrimento é menor

quando a internação foi rápida e não houve tempo para estabelecimento de

vínculos, e, portanto não houve envolvimento emocional.

Para os médicos, independente da situação que seja, informar o óbito aos

familiares é considerada uma condição inerente da profissão, uma tarefa não

muito agradável, mas que faz parte da rotina de sua profissão. Os enfermeiros veem

esta atribuição com uma responsabilidade. Portanto, as respostas de ambos se

completam, pois de uma forma ou de outra informar o óbito é uma responsabilidade

inerente da profissão.

O profissional médico ou enfermeiro quando recebe o paciente na unidade, de

certa forma toma uma responsabilidade para si em relação à vida do paciente. E

quando o paciente vai a óbito esta responsabilidade se intensifica, pois terão que

prestar contas aos familiares de tudo que foi feito e do que não foi feito em relação

ao paciente.

A morte faz parte do cotidiano dos profissionais de saúde atuantes em área

hospitalar. (Santos, 2009) E, portanto, ter que informar o óbito torna-se uma tarefa

corriqueira. Uma atribuição que não tem como fugir dela, pois ela faz parte do dia a

dia destes profissionais, por mais desagradável que seja.

Carvalho e Azevedo (2009) ressaltam que, uma das dimensões na qual o

profissional de saúde mais almeja desenvolver habilidades é a comunicação de

notícias difíceis, tais como informar a morte para os familiares. Por isso, é preciso

investir mais na formação dos profissionais, para que possam saber lidar com as

famílias em situações de morte e luto.

Até porque, não basta apenas informar o óbito. Não dá pra informar o óbito

como se estivesse informando um acontecimento qualquer. Esta atribuição requer

muito mais do profissional, pois na sua frente vai estar uma família preste a receber

uma notícia muito dolorosa, e que poderá influenciar de forma direta naquele

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contexto familiar, principalmente se o óbito se refere a um pai de família ou uma mãe

com filhos pequenos.

E por mais difícil que seja para o profissional e por maior que seja a dificuldade

que ele tenha em realizar tal tarefa, essa informação deve ser passada de uma

forma diferenciada.

Transmitir um desfecho de maneira diferenciada foi outro significado citado

pelos médicos participantes da pesquisa. Para os enfermeiros este significado

recebeu outra denominação: um ato de solidariedade.

Para Carvalho e Azevedo (2009), não se trata apenas de transmitir informações,

mas sim o modo como essas informações são transmitidas. Trata-se de expressar

não só com palavras, mais com atitudes que demonstram atenção e cuidado,

utilizando gestos de afeto e estimulando a expressão de sentimentos. O ouvir

quando necessário, e não apenas escutar.

Estes mesmos autores completam, ainda, ao dizerem que, as palavras utilizadas

nas conversas com as famílias são de extrema importância, pois elas podem trazer

encorajamento e conforto, porém quando utilizadas sem sensibilidade também

podem ferir.

Portanto, para estes autores, ao informar o óbito aos familiares deve haver uma

combinação entre falar, ouvir e acolher. Falar e não ferir, ouvir e não apenas

escutar, acolher e não apenas informar.

Sendo assim, percebe-se que os profissionais médicos e enfermeiros também

se preocupam com a família em questão, demonstrando humanidade na atuação

profissional.

A preocupação desses profissionais em amparar, apoiar e amenizar o

sofrimento dos familiares foi citado por ambos os profissionais e pode ser percebido

em trechos dos DSC, como:

[...]O mais importante é minimizar as dores da família... É ter um jeito

especial pra conseguir passar isso de uma forma mais amena pro familiar[...]

Então significa cuidado, significa atenção, significa solidariedade.

[...]Significa um ato de atenção para com a família, um ato de

solidariedade perante uma situação desagradabilíssima, pois é um momento

doloroso para o familiar e que deve ser respeitado[...]

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Outro ponto citado pelos médicos, e que está de certa maneira atrelada ao

significado anterior, é o de ser honesto e objetivo ao transmitir essa notícia.

A família que está recebendo a informação não quer nada além do que a

honestidade e objetividade do profissional, saber a verdade a respeito do

acontecimento e as informações necessárias, como o motivo real da morte e qual foi

as medidas tomadas em favor do seu ente querido, é o que basta.

O muito falar em nada contribuirá para amenizar a dor destes familiares.

Prolongue apenas se for questionado pela família, se não for o melhor a fazer é

apenas acolher e deixar com que a família expresse seus sentimentos.

De acordo com Carvalho e Azevedo (2009), as informações devem ser

passadas de forma clara e objetiva.

No entanto, também foi encontrado na pesquisa “o outro lado da moeda”, ou

seja, o informar o óbito como algo técnico e mecanizado, significado relatado pelos

médicos participantes.

Talvez essa atitude tecnicista e mecanizada seja por conta do despreparo dos

profissionais para lidarem com situações como esta.

Para Oliveira, Brêtas e Yamaguti (2007) e Bernieri e Hirdes (2007), o preparo do

estudante ainda enfatiza o lidar com a vida no que tange aos aspectos técnicos e

práticos da função profissional, com pouca ênfase em questões emocionais e na

instrumentalização para o duelo constante entre a vida e a morte.

O despreparo técnico para lidar com o processo da morte e do morrer foi um

aspecto observado na narrativa dos profissionais participantes do estudo de Galvão

et al. (2010), mostrando que existe uma lacuna importante a ser preenchida desde a

formação e capacitação da equipe. Com isto, é de extrema importância atentar para

que as questões da morte e do morrer sejam trabalhadas numa perspectiva

interdisciplinar, a fim de minimizar a distância entre uma postura tecnicista e

humanística da assistência em todas as áreas de abrangência da profissão.

Muitos profissionais sentem-se despreparados para lidar com a morte, devido a

falta de reflexão e total silêncio por parte das faculdades, que se detém no

tecnicismo, deixando que a vivência da prática os conduza. (AGUIAR et al.; 2006)

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6.2.2 Sentimentos ao informar o óbito

Os profissionais são seres humanos e não podem isolar suas emoções do

trabalho. (LEONI, 1996 apud AGUIAR et al.; 2006)

E a morte, como limite, é capaz de aflorar sentimentos negativos. (OIGMAN,

2007)

Ao receber más notícias os familiares podem reagir e suas reações podem

deixar o profissional frustrado, defensivo ou até irritado. (PHIPPS; CUTHILL, 2002

apud CARVALHO; AZEVEDO, 2009)

Sendo assim, torna-se relevante captar os sentimentos vivenciados na prática

dos profissionais. (AGUIAR, 2006)

Para os médicos, quando questionados a respeito dos sentimentos ao informar o

óbito aos familiares, as respostas obtidas foram: “Triste”, “Impotência”, “Muito mal”,

“Aceitação e alívio”, “Perda”, “Segurança e profissionalismo”, “Sem envolvimento

emocional”, “Dor” e “Responsabilidade diante da família”. Estas respostas vão ao

encontro com a própria literatura.

Para os enfermeiros os sentimentos ao informar o óbito foram bem semelhantes

aos citados pelos médicos, sendo eles: “Triste”, “Impotente”, “Mal”, “Alívio e

conforto”, “Dor”, ” Vazio e perda”, “De forma natural”, “Dificuldade”, “Muito

constrangido”, “Culpado” e “Tenso”.

Era bem provável que a reação fosse realmente de não aceitação e de agressão

para o profissional, sentimento citado pelos médicos, visto que a morte desafia sua

própria finitude e sua onipotência, fazendo com que ele se sinta mal diante de tal

situação, sentimento também citado pelos enfermeiros.

A inevitabilidade da morte resgata a percepção do profissional em relação à

finitude humana, e que nem sempre é aceita com facilidade (GALVÃO et al., 2010).

Geralmente as mortes de crianças e jovens são menos aceitas, pois tanto os

profissionais como a própria sociedade, entendem este fato como não sendo parte

do percurso natural da vida, uma vez que estão apenas começando a viver.

(SHIMIZU, 2007)

A tristeza, divergindo do senso comum, demonstrou estar presente de forma

considerável entre os profissionais (enfermeiros e médicos), ocupando o 1º lugar dos

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sentimentos vivenciados ao informar o óbito. Sentimento este muito citado no estudo

de Aguiar et al. (2006).

Morim (2009) afirma que até mesmo os profissionais da saúde, quando tocados

pela mensagem da morte, não conseguem permanecer imparciais, insensíveis ou

arredios diante dessa profunda reflexão e invasão a que a morte nos concita.

A tristeza é um sentimento intrínseco do ser humano, todas as pessoas a

sentem em algum momento de suas vida, e o profissional por estar muito próximo

às situações críticas, também está mais vulnerável a ela. O contato constante com a

morte angustia profundamente, talvez seja porque ela retira as defesas construídas

durante toda a vida para negar a morte. (SHIMIZU, 2007)

Os médicos sentem uma profunda angústia diante da inevitabilidade da morte,

resultado da educação médica presente na sociedade ocidental (SANTOS, 2009).

Quando a palavra morte é pronunciada, é desencadeada uma grande tensão

emocional, além das mais diversas reações emocionais, como exemplo, a tristeza.

(HENNEZEL, 2006 apud OLIVEIRA; QUINTANA; BERTOLINO, 2010).

A relação desses profissionais com a morte torna-se uma relação de angústia,

visto que está relacionada a uma experiência de temor interiorizado. (AGUIAR et al.;

2006).

No entanto, o fato de se deparar diariamente com os limites e a finitude traz

sofrimento e angústia, conscientes ou não, e faz com que esses profissionais

utilizem de defesas psicológicas que os ajudem a enfrentar a situação. (PAIVA,

2009)

Acredita-se que os profissionais se defendem contra a angústia da morte,

gerada pelo seu trabalho, por meio de três mecanismos: negação, racionalização e

isolamento das emoções. (QUINTANA; CECIM; HENN, 2002 apud SANTOS, 2009).

Enfocando a formação médica para lidar com a morte, observa-se que a

negação é um dos mecanismos de defesa usados por parte do médico.

(SCHLIEMANN, 2009)

Porém, a negação tem sido um dos mecanismos utilizados não só pelos

médicos como também pelos estudantes e profissionais de enfermagem no

enfrentamento de situações que envolvem a morte. (VARGAS, 2010)

“Negar a morte é uma forma de não entrar em contato com experiências

dolorosas”. (KOVÁCS, 2009, p.55)

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Outro sentimento evidenciado na pesquisa foi o de naturalidade, citado pelos

enfermeiros, e o não envolvimento emocional, citado pelos médicos, ambos com

significados semelhantes.

O não envolvimento emocional também age como um mecanismo de defesa ao

sofrimento. (SOUZA et al.; 2009).

Além do mais, existe no ambiente hospitalar certa “regra” que diz que o bom

profissional não deve se envolver emocionalmente. Essa cultura hospitalar também

é citada por Martins, Alves e Godoy (1999). Desta forma, eles acabam não

encontrando espaço para expressar sua angústia e fraqueza. Então, o profissional

nega e encobre seus sentimentos. Havendo a necessidade desses profissionais de

desenvolver meios de autodefesa, como manter a distância, manifestar

comportamento de frieza frente a situações ou ainda um aparente equilíbrio, na

tentativa de manejar de forma mais adequada a situação (AGUIAR et al. ; 2006)

O que se observa é que os profissionais não estão se permitindo vivenciar o

luto, eles acreditam que sua postura deva ser firme e que reconhecer o sofrimento

significa ferir sua índole. Ainda há a visão que o profissional deva ser “frio” ou

indiferente na situação de morte. (COSTA; LIMA, 2005) Fazendo da frieza algo

necessário para evitar o sofrimento. Porque apesar de ser compreendida como algo

inevitável, a morte é tratada com certo distanciamento do profissional a fim de

minimizar a dor, a perda e, indiretamente, o fracasso. (GALVÃO et al.; 2010)

Por isso acabam se tornando frios com o passar dos anos de profissão, pois,

quando expressam suas emoções são considerados imaturos profissionalmente.

(SALOMÉ; CAVALI; ESPÓSITO, 2009)

Segundo os artigos pesquisados no estudo de Silva, Ribeiro e Kruse (2009), a

figura do médico aparece como alguém que lida com a morte de forma impessoal,

fria e objetiva, por meio de sentimentos ilusórios de soberania no controle das

situações de vida-morte.

Para Santos e Bueno (2011), a indiferença com que os enfermeiros tratam a

morte é consequência de um mecanismo defesa a fim de se manterem mentalmente

sãos, pois além da falta de despreparo para lidarem com a morte, muitos destes

profissionais ainda enfrentam longas jornadas de trabalho, enfermarias superlotadas

e sucateadas, o que agrava ainda mais o estresse ao qual estão submetidos.

Em um outro estudo, realizado por Costa e Lima (2009), verificou-se que os

profissionais da equipe de enfermagem não se permitem vivenciar o luto diante da

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morte de pacientes. Tal reação pode ser advinda da tentativa de autoproteção ou

por não estarem preparados para conviver com o processo de luto e suas

manifestações emocionais. Para poder se defender do sofrimento do luto, os autores

assinalam que os profissionais armam-se de uma postura de firmeza, frieza ou

indiferença.

Talvez seja por conta do próprio convívio diário, que faz com que os

profissionais encarem a morte com naturalidade, ou ainda com frieza e indiferença.

(AGUIAR et al.; 2006).

A indiferença nos mostra um mecanismo de defesa adotado consciente e até

inconscientemente, na tentativa de autopreservação, a fim de evitar sentimentos

indesejáveis. (OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)

Martins, Alves e Godoy (1999) afirmam que no ambiente hospitalar questões

referentes à morte são discutidas com “naturalidade” pelos profissionais de saúde.

No entanto, “naturalidade” também seria uma forma de negação e banalização da

morte para que o profissional consiga exercer sua função. Seria, portanto, um

mecanismo de defesa em relação à situação de morte.

Por outro lado, há aqueles que demonstram um sentimento de dor ao ter que

passar essa informação, o qual foi citado pelos médicos e enfermeiros participantes

da pesquisa.

A morte, no mundo ocidental, é considerada como uma das experiências mais

dolorosas e frustrantes. (KOVÁCS, 1996 apud GALVÃO et al; 2010)

Os profissionais que lidam com a morte em sua prática hospitalar, o fazem de

forma dolorosa e convivem com a busca do equilíbrio entre o cuidar de si e o cuidar

do outro. (AGUIAR et al.; 2006)

Desta forma, dor, sofrimento e morte rompem a fronteira familiar e passam a ser

compartilhados com profissionais da área de saúde. (GALVÃO et al.; 2010)

O luto é um processo penoso, tido como um sentimento de dor diante da morte.

(LOUREIRO, 1998 apud AGUIAR et al.; 2006).

A morte de uma pessoa que se torna querida na enfermaria pode abalar

profundamente aqueles profissionais mais dedicados. (BOTEGA Org; 2002 apud

AGUIAR et al.; 2006).

O luto não vivenciado pode colocar o profissional em posição tão vulnerável

como qualquer outra pessoa. (FRANCO, 2003; GALVÃO et al.; 2010)

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O luto também é entendido como uma experiência de resposta ao rompimento

de um vínculo, ou seja, de relações significativas. (FRANCO, 2003)

A situação de vida/morte gera sofrimento na equipe, por conta do caráter

humano da assistência, e que torna esse envolvimento afetivo inevitável. (COSTA;

LIMA, 2005)

O profissional que trabalha em hospital acaba estabelecendo uma relação

diferenciada com alguns pacientes tidos como especiais. E é a morte destes

pacientes que provoca o luto no profissional de saúde, como se fosse por uma

pessoa com a qual mantém relações de outra ordem, que não a profissional.

(FRANCO, 2003)

Com isso, percebemos que o vínculo é o maior responsável pelo sentimento de

dor e perda.

O sentimento de perda também foi relatado pelos médicos desta pesquisa. Além

da perda os enfermeiros também relataram sentimento de vazio.

“As situações de perda geram sensação de vazio nos trabalhadores de

enfermagem”. (SHIMIZU, 2007, p.259)

A morte como perda nos fala, em primeiro lugar, de um vínculo que se rompe de

uma forma irreversível. (KOVÁCS et al.; 2004).

Para Shimizu (2007), muitas vezes, os trabalhadores de enfermagem sentem a

perda do paciente como se fosse de alguém de sua família. Como conseqüência, o

sofrimento por eles vivenciado é similar ao da perda de alguém que amam muito.

Quando um vínculo é interrompido, como é no caso da morte, provoca um

sofrimento e um sentimento de perda, ou seja, o luto, que é uma reação esperada

frente à separação. (BROMBERG, 2000 apud COSTA; LIMA, 2005)

Segundo Costa e Lima (2005), o profissional vive a perda e se enluta com a

morte do paciente que lhe é querido e que estabeleceu vínculo. Os participantes

descreveram a perda como sendo algo difícil de aceitar porque eles mantinham

vínculo afetivo e esse foi rompido com a morte. Sendo que uma das causas desse

vínculo seria devido ao tempo de internação, o que contribuiu para intensificar o

sentimento de perda. E quando o tempo de internação era menor, percebeu que o

sofrimento também era menor, por não ter tido tempo para o envolvimento afetivo.

O sentimento de perda e saudade, relacionados com o envolvimento e com o

vínculo criado durante o tempo de internação, também estiveram presentes no

estudo realizado por AGUIAR et al. (2006).

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Porém os autores, Pinho e Barbosa (2008, p. 247), discordam ao dizerem que:

“toda situação de perda gera sofrimento e transtornos ao profissional de saúde,

independentemente do cuidado dispensado à pessoa”.

De qualquer forma, há necessidade da equipe profissional estar em contato com

sua história pessoal de perdas, para que consiga assimilar melhor a experiência de

perdas de pacientes significativos, de maneira a não comprometer sua ação

profissional e sua vida pessoal. (FRANCO, 2003)

Seguidos da tristeza, os outros sentimentos mais citados por parte dos médicos

e enfermeiros participantes foram os de impotência.

“A morte apresenta-se como um fracasso ao profissional treinado para impedi-la.

A própria competência profissional passa a ser questionada, gerando, muitas vezes,

a sensação de culpa”. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008, p.192)

De acordo o estudo de Costa e Lima (2005) a morte tem despertado nesses

profissionais, sentimentos de frustração, medo e insegurança.

Carvalho et al. (2006) relatam que a falta de reflexão leva a frustração do

estudante e reforça o sentimento de fracasso frente à ação principal de manter a

vida.

“O médico, em sua formação, é treinado para curar e salvar e quando isso não é

possível, muitas vezes, acaba enfrentando a situação de modo a sentir-se impotente

e fracassado”. (PAIVA, 2009, p.84)

Por isso, reações e sensações de impotência, de culpa e de insatisfação consigo

mesmo são vivenciadas pelo profissional. (SCHLIEMANN, 2009)

O sentimento de impotência é resultado da onipotência, uma consequência da

própria formação direcionada a recuperar a vida, pois para os profissionais de saúde

a morte é tida como inimiga, e quando o paciente morre, significa que a batalha foi

perdida, portanto traz um sentimento de derrota. (SPINDOLA; MACEDO, 1994;

AGUIAR et al.; 2006; OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)

“Na mentalidade da morte interdita, esta é vista como erro e fracasso”.

(KOVÁCS, 2009, p.49) Trazendo ao trabalhador um sentimento de impotência, o

qual faz questionamentos sobre o que poderia ou o que deixou de fazer para

recuperar ou manter a vida. (COSTA; LIMA, 2005)

A vivência de sentimentos de grande impotência e fracasso pessoal e

profissional é sempre uma situação geradora de sofrimento para os trabalhadores de

enfermagem (SHIMIZU, 2007).

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Apesar de todo o esforço na tentativa do resgate à vida, o profissional sente-se

como não tendo cumprido o seu objetivo de “salvar vida”. (SALOMÉ; CAVALI;

ESPÓSITO, 2009). Talvez seja por isso que os enfermeiros relataram se sentirem

constrangidos.

Os médicos e enfermeiros chegam a se sentirem constrangidos quando um

paciente morre. (KUBLER-ROSS, 1975 apud OLIVEIRA; QUINTANA; BERTOLINO,

2010) Outras vezes até mesmo culpados, sentimento também citado pelos

enfermeiros.

Para Spindola e Macedo (1994), os profissionais de saúde participam do

processo do morrer dos pacientes questionando a sua atuação. Algumas vezes

chegam a se sentir culpados, acreditam que falharam na prestação da assistência.

Os médicos, ao informar o óbito, também têm um sentimento de

responsabilidade diante da família.

Para Paiva (2009), em um hospital, o referencial do paciente ainda é o médico e

se por um lado, isso faz com que ele se sinta importante, por outro é uma carga

muito pesada, pois deposita em suas mãos a sua vida e a sua morte. Segundo

Oliveira, Quintana e Bertolino (2010), as famílias confiam seu doente ao médico e à

equipe de saúde por não se sentirem aptas para tal enfrentamento.

Sendo assim, informar o óbito de um ente querido a seus familiares traz à tona

um sentimento de responsabilidade.

Os enfermeiros participantes da pesquisa também verbalizaram sentir- se tenso.

Essa tensão talvez possa ser explicada pela responsabilidade que recaí sob o

profissional, e ainda pela falta de preparo que o mesmo tem em lidar com situações

que envolvam a morte.

Porém, quando o óbito já é de certa forma esperado pela equipe de saúde e

pela própria família, traz ao profissional um sentimento de aceitação, alívio, e

conforto, citado por médicos e enfermeiros da pesquisa. Os enfermeiros

acrescentaram que também se sente bem, quando consegue dar apoio à família.

Estes sentimentos foram uns dos sentimentos positivos relatados pelos

participantes quando tiveram que informar o óbito aos familiares.

No estudo de Costa e Lima (2005), os participantes relataram que têm melhor

aceitação da morte quando esta está relacionada ao idoso ou quando representa o

fim de todo sofrimento e dor.

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A morte é aceita quando seguida da velhice; considerando que a pessoa já

cumpriu sua jornada e só assim estaria “pronta” para morrer. (BOEMER; ROSSI;

NASTARI, 1991 apud OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)

O paciente que morre aos poucos, dá a oportunidade para a equipe e familiares

de assimilar a perda e ter a sensação como se tivesse feito o possível pelo paciente.

(AGUIAR et al; 2006).

Dependo do sofrimento a que o ser humano está exposto, o profissional é capaz

aceitar a situação de morte como alívio para o que parece ser cruel e doloroso.

Nesse caso, a morte, torna-se algo positivo, por ser a única maneira de atenuar o

sofrimento, ao mesmo tempo torna-se o enfrentamento da morte menos doloroso

também para quem cuida. (KÓVACS, 2003; CARVALHO et al; 2006)

Para Gutierrez e Ciampone (2007) a aceitação também pode ser influenciada

pela crença religiosa, pela experiência profissional e/ou pelo amadurecimento

pessoal.

Em contrapartida os médicos também afirmaram sentir segurança e um certo

profissionalismo, ao informar o óbito aos familiares. Estes sentimentos

demonstram de certa forma um preparo técnico em relação à morte, pois mostra o

saber fazer e a segurança no que está se fazendo. Porém, não se encontra um

preparo emocional, pelo contrário, na própria fala é evidenciada uma necessidade

de inibir os sentimentos. Como mostra a seguir trechos do DSC:

[...]A gente tem que cumprir com o exercício daquilo que foi programado

pra gente. Eu tenho que me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos

familiares. E sem deixar aparecer os meus sentimentos como pessoa, como

choro, feição de tristeza[...]

A inibição dos sentimentos foi algo evidenciado na pesquisa, através de

relatados dos participantes da pesquisa, e não são poucos os profissionais que

usam desta estratégia para driblar o sofrimento. Esta estratégia acaba revelando a

negação dos sentimentos, o qual já foi discutido anteriormente.

GALVÃO et al. (2010, p.28) dizem que:

Assim como a maioria das pessoas, a equipe de saúde também tenta

inibir sentimentos de luto gerados pela perda de pessoas sob seus

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cuidados, enfatizando os tratamentos vitoriosos e encarando a morte

como uma vilã a ser evitada, algo fora e distante do ciclo vital.

Enfermeiros relataram sentir maior dificuldade de informar o óbito, apesar do

tempo de exercício da profissão. O que pode ser percebido no trecho do DSC que

segue:

Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu

tenho, eu ainda tenho muita dificuldade[...]

Apesar desse confronto com a morte em seu cotidiano de trabalho, os

profissionais encontram dificuldade para encará-la. (VIEIRA, SOUZA, SENE, 2006)

Em um estudo realizado por Gutierrez e Ciampone (2007), as autoras constatam

que, mesmo os profissionais mais experientes, dificilmente se habituam à situação

de morte, e que muitos reprimiam os sentimentos advindos da situação vivida e não

compartilhando essa angústia com os outros componentes da equipe.

A pesquisa acima, além de exemplificar o fato da vivência muitas vezes não

levar ao costume, também vem reafirmar a repressão dos sentimentos dos

profissionais.

Em outra pesquisa realizada por Bellato et al (2007), com uma amostra de 34

docentes enfermeiros, revelou que estes profissionais demonstram os mesmo

sentimentos de todo e qualquer profissional de enfermagem, independentemente do

tempo de atuação.

Porém o estudo de Shimizu (2007), revelou que talvez os trabalhadores com

maior tempo de experiência profissional estejam mais preparados pra enfrentarem a

situação de morte de um paciente. Possivelmente seja pelo fato de existir diferenças

individuais nas defesas criadas contra o sofrimento.

Portanto, percebe-se que o tempo de experiência pode não ser o fator

determinante para o preparo dos profissionais, mas sim a individualidade de cada

profissional, a qual é reflexo das experiências pessoais vivenciadas e até mesmo da

espiritualidade de cada um.

Outros pontos fundamentais apreciados na pesquisa, apesar de não serem

considerados significados nem sentimentos dos médicos e enfermeiros, foi a morte

levando à reflexão pessoal e o sofrimento profissional adentrando na vida pessoal.

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A morte do outro nos leva a interiorização e nos faz refletir a respeito da nossa

própria vida e nossa própria morte. Faz também com que revemos nossos valores.

A morte nos expõe e nos desnuda por completo. Frente a ela somos obrigados a

repensar a vida, nossos afetos, nossos valores e nossa visão de mundo. (MORIN,

2009) A perda de um paciente leva à reflexão de sua própria finitude (SILVA; SILVA,

2007).

O que pode ser confirmado através do trecho do DSC:

[...]E você sente uma sensação de voltar-se para o seu interior, de

pensar, com essas situações. Você se volta pra dentro, começa pensar na sua

vida também[...]

“A morte no ambiente hospitalar leva o profissional a refletir sobre os limites da

existência do ser humano”. (GALVÃO et al.; 2010, p.27)

Às vezes, a morte gera um sofrimento e um desgaste tão grande no profissional,

que torna-se impossível desvencilhar da vida pessoal.

“A intensidade do sofrimento é tão grande que costumam levar os sentimentos

de frustração para casa”. (SHIMIZU, 2007, p.260)

Este mesmo autor (SHIMIZU, 2007, p.261) completa dizendo que:

A morte gera desgaste emocional intenso, sendo percebida a necessidade de separar as emoções vividas no trabalho da sua vida particular, procurando não levar as dificuldades vividas no trabalho para casa.

A experiência de informar o óbito pode trazer diversos sentimentos e

significados para os profissionais, e são vários os fatores que irão determinar a

forma pelo qual cada um irá reagir em relação à situação de morte.

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7 CONCLUSÕES

Com a análise dos resultados obtidos por meio da abordagem qualitativa,

através do método do DSC, baseado na Teoria das Representações Sociais, foi

possível identificar os significados e sentimentos de médicos e enfermeiros ao

informar o óbito aos familiares.

Em relação à primeira parte da entrevista semi-estruturada relativo às

características pessoais e profissionais dos participantes, notou-se que 55% dos

médicos eram do gênero masculino, com idade prevalente entre 20-29 anos com

50% , religião predominante foi a católica com 95% , o tempo de formado e tempo

de exercício da profissão foi mais de 10 anos com 45%. Os enfermeiros (as) eram

predominantemente do gênero feminino com 85%, 45% estão entre a idade de 20-

29 anos, a religião que predominou foi a católica com 80% , o tempo de formado e

tempo de exercício da profissão foi de 1 a 4 anos com 55%.

Quanto aos objetivos do estudo, questionado na segunda parte da entrevista

semi-estruturada, permitiram-se as seguintes conclusões:

Os significados para os médicos de informar o óbito aos familiares foram:

Situação difícil;

Condição inerente da profissão;

Perda irreparável para a família e limitação para o médico;

Transmitir um desfecho de maneira diferenciada;

Fácil, se o óbito é esperado;

Ser honesto e objetivo;

Fazer as pessoas sofrerem;

Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem;

Algo técnico e mecanizado.

Para os enfermeiros os significados de informar o óbito aos familiares obtidos

foram:

Situação difícil;

Resultado negativo;

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Insucesso;

Experiência dolorosa;

Responsabilidade;

Depende do motivo do falecimento;

Algo importante;

Um ato de solidariedade.

Os sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares foram:

Triste;

Impotência;

Muito mal;

Aceitação e alívio;

Perda;

Segurança e profissionalismo;

Sem envolvimento emocional;

Dor;

Responsabilidade diante da família.

Para os enfermeiros os sentimentos de informar o óbito aos familiares

apresentados foram:

Triste;

Impotente;

Mal;

Alívio e conforto;

Dor;

Vazio e perda;

De forma natural;

Dificuldade;

Muito constrangido;

Culpado;

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Tenso.

Com os resultados encontrados pode-se concluir que os médicos e enfermeiros

não se encontram preparados para lidar com situações relacionadas com a morte,

reflexos de uma formação acadêmica voltada para técnicas, que faz com que estes

profissionais se sintam despreparados emocionalmente. Este despreparo é

percebido em alguns significados e sentimentos citados por eles.

Com tudo, mesmo se sentindo despreparados para exercerem tal atribuição,

estes profissionais tem se preocupado, em sua maioria, com o apoio à família

enlutada, apesar de terem dificuldade para lidarem com seus próprios sentimentos.

Os médicos e enfermeiros têm respeitado os sentimentos dos familiares.

Divergindo do senso comum, este estudo evidenciou que tanto os médicos como

os enfermeiros demonstraram de forma clara que também possuem sentimentos ao

informar o óbito aos familiares, e que mesmo não transparecendo, eles sofrem

diante do óbito de seus pacientes. Quando estes se demonstram “frios” perante a

morte, esta atitude nada mais é do que um mecanismo de defesa dos profissionais

de saúde para driblar as diversas situações estressantes advindas de sua profissão.

Diversos fatores contribuem para facilitar ou dificultar a informação do óbito aos

familiares. Situações com morte provinda de acidentes automobilísticos, paciente

jovens e crianças, foram apontadas pelos participantes como sendo situações

menos aceita por eles. Já em relação aos paciente terminais e idosos, a morte

destes são melhor aceita pelo profissionais.

Finaliza-se então, que os significados e sentimentos dos médicos e enfermeiros

ao informar o óbito aos familiares se assemelham. E que a variedade de significados

e sentimentos obtidos são resultantes dos inúmeros fatores relacionados a

experiência individual de cada profissional.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos da pesquisa foram alcançados, tendo grande aceitação dos

profissionais em participar do estudo. Sendo que apenas 2 enfermeiras se

recusaram a participar.

Não se sabe o motivo pelo qual estas enfermeiras demonstraram desinteresse

em responder aos questionamentos, talvez seja também devido a sobrecarga de

trabalho ou até uma tentativa de evitar assuntos a qual ela se sente despreparada

para responder. Ou ainda, seja por falta de conhecimento do valor que uma

pesquisa científica possui.

O fator tempo pôde ser percebido durante a coleta de dados.Nota-se que os

enfermeiros se encontram sobrecarregados, o que, muita das vezes, fez com que

houvesse espera de 15 a 30 minutos, para realização da coleta de dados com as

enfermeiras. E outras vezes, ainda, foi necessário reagendamentos por conta desta

sobrecarga, o que impedia que a enfermeira respondesse ao questionamento no

horário agendado para a coleta de dados. Por conta disso precisou-se de um

período grande de tempo para conseguir coletar os dados com os 20 enfermeiros.

Diversos relatos de participantes mostraram que eles acabam por aprender a

informar óbito na prática profissional, com o dia a dia, tendo o primeiro contato

durante sua residência.

Pode-se notar, durante a coleta de dados, que a maioria dos residentes

demonstraram ser mais tecnicista ao dar a informação. Talvez, seja devido a

formação acadêmica voltada apenas para o preparo técnico e não para o preparo

psicológico. O que já os diferencia dos profissionais com maior tempo de formado,

talvez devido ao fato destes profissionais terem mais experiências ao longo de sua

jornada profissional, fazendo deles profissionais menos técnicos e mais sensíveis a

situações como esta.

No entanto, percebe-se que nem sempre o tempo de exercício de profissão é

fator determinante para que o profissional se sinta preparado para exercer esta

tarefa. Obtivemos relatos de profissionais com mais de dez anos de formado

afirmando que apesar do tempo, ele ainda se sente despreparado para informar o

óbito.

Com as evidências encontradas neste estudo quanto ao despreparo dos

médicos e enfermeiros, torna-se essencial implantar nos cursos de graduação em

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enfermagem e em medicina a disciplina de Tanatologia, a fim de preparar os

acadêmicos para lidar com situações que envolvam a morte, como informar o óbito

aos familiares. Isso, para que sentimentos como frustração, impotência,

constrangimento, tensão, culpa não estejam mais presentes no momento de

informar o óbito, e sim o sentimento de dever cumprido, a partir do momento que

estes profissionais compreenderem a morte como parte do ciclo normal do ser

humano e passarem a aceitar sua própria limitação e finitude.

A Faculdade de Medicina de Itajubá, pensando nisto, já incorporou a disciplina

de Tanatologia em sua grade curricular.

Espera-se, que o mesmo seja feito em todos os cursos de graduação de

enfermagem de Itajubá. E que esta conscientização se espalhe por nosso país, visto

que não queremos ter profissionais despreparados em relação à morte. Deseja-se

compreender a vida e a morte, com o auxílio da educação para morte - a

Tanatologia.

Sugere-se que a disciplina de Tanatologia também faça parte da grade curricular

da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz , apesar da mesma já ter incorporado a

disciplina de Cuidados Paliativos e desenvolver anualmente o Seminário de Morte e

Morrer, dentro da disciplina de Metodologia do Cuidado de Enfermagem.

Ao comunicar a morte aos familiares, o profissional deve estar bem preparado

emocionalmente, para que este possa ser não apenas um transmissor da notícia,

mas, também, um apoio para a família neste instante tão doloroso.

GALVÃO et al. (2010) confirmam dizendo que, para que haja mudança é preciso

criar ações simultâneas nas instituições de formação e de saúde; incluindo

disciplinas sobre o assunto nas escolas e proporcionando reflexões sobre o

processo de morte e o morrer, por meio de educação permanente nas instituições de

saúde.

Considera-se, portanto, que é preciso investir na educação e na formação

destes profissionais, além de criar estratégias nas instituições com o propósito de

capacitar os profissionais e docentes de enfermagem para que estes saibam lidar

com situações de morte e se sintam mais preparados ao informar o óbito aos

familiares.

Sugere-se que as instituições de saúde disponham de um local apropriado para

abordar e acolher este familiar para informar o óbito. Uma vez que os profissionais

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relataram, durante a coleta de dados, que utilizavam da sala de triagem e outros

locais, tentando adaptar o local para promover o mínimo de privacidade.

Outro ponto notado, durante a coleta de dados, é que os profissionais, por se

sentirem despreparados para tal atribuição, não gostam de informar o óbito aos

familiares. Com isso tentam se esquivar da tarefa delegando para o companheiro de

trabalho, ou seja, os médicos preferem que os enfermeiros dêem a informação do

óbito, e os enfermeiros preferem que os médicos se responsabilizem pela

informação.

Almeja-se que outras pesquisas possam abordar o tema e enriquecer o

conhecimento revelado no estudo em questão. Levando em consideração o relato

dos enfermeiros participantes, que apontaram serem os profissionais enfermeiros

responsáveis pela maior frequência de informação do óbito. Sugere-se que futuras

pesquisas abordem a proporção da freqüência entre a informação de óbito dada por

médicos em relação aos enfermeiros, para que se conheça a real freqüência que um

e outro informam o óbito. Esclarecendo dessa forma qual o profissional mais

informa o óbito aos familiares. Uma vez que constatamos neste estudo que ambos

tentam se esquivar desta atribuição.

Independente se seja o médico ou o enfermeiro (a) que esteja informando o

óbito, deve-se pensar também que ambos são constituintes de uma equipe

multiprofissional, portanto, o que cabe aos médicos deve ser de conhecimento

também do enfermeiro, e vice-versa. Saber os significados e sentimentos do outro

profissional (seja o médico ou o enfermeiro) nos ajuda a conhecer melhor nossa

própria equipe. Conhecer a fragilidade do outro, ou talvez o despreparo dele em

relação a informar o óbito, é necessário para que haja uma boa interação entre a

equipe. Uma equipe bem estruturada promove um atendimento de melhor qualidade.

Este estudo trouxe uma maior reflexão sobre o tema por meio dos relatos das

experiências dos médicos e dos enfermeiros, enriquecendo o conhecimento e

contribuindo para a formação acadêmica da autora deste trabalho.

A realização deste estudo permitiu compreender os significados e sentimentos

dos médicos e enfermeiros ao informar o óbito aos familiares, contribuindo para o

esclarecimento da sociedade e dos demais profissionais de saúde, além de auxiliar

na formação acadêmica e trazer enriquecimento científico, em que os dados servirão

de base para outros trabalhos.

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1ª PARTE: Características pessoais e profissionais dos participantes do estudo

1. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

2. Idade: ___________anos 3. Religião:___________________

4. Tempo de formado:

( ) de 1 a 4 anos ( ) de 4 a 7 anos ( ) 7 a 10 anos ( ) mais de 10 anos

5. Tempo de exercício da profissão:

( ) de 1 a 4 anos ( ) de 4 a 7 anos ( ) 7 a 10 anos ( ) mais de 10 anos

2ª PARTE: Questões referentes aos objetivos do estudo

Sabemos que a perda de um ente querido é uma das experiências mais

dolorosas que o ser humano pode sofrer. Esse caráter doloroso é explicado pelo

anseio da volta da pessoa perdida e a constatação de irreversibilidade dessa perda,

levando assim a uma dor inevitável. Devido a esse fato, ter que comunicar o óbito é

um a atribuição muito delicada para o profissional de saúde. Refletindo sobre isto

diga para mim:

6. Para você, o que significa informar o óbito aos familiares?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

7.Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada

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Nós, Kamila Alessandra Maia, Ana Maria Nassar Cintra Soane e Aldaíza

Ferreira Antunes Fortes, discente e docentes, respectivamente, do Curso de

Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, desta

cidade, estamos realizando uma pesquisa intitulada INFORMAR O ÓBITO AOS

FAMILIARES: significados e sentimentos dos médicos e enfermeiros. Têm como

objetivos conhecer os significados para os enfermeiros e médicos da cidade de

Itajubá, Minas Gerais, de terem que informar o óbito aos familiares e conhecer os

sentimentos deles diante dessa situação.

Os resultados desta pesquisa contribuirão para o esclarecimento, tanto da

sociedade como dos demais profissionais de saúde, a respeito das percepções dos

médicos quanto a este tema, compreendendo suas condutas diante desta situação.

Também, auxiliarão na formação acadêmica dos alunos que freqüentemente irão

presenciar a morte e observarão de perto essa informação sendo transmitida aos

familiares. Trarão enriquecimento na área científica, em que os dados servirão de

base para outros trabalhos, o que se torna necessário, visto que existe uma

escassez de produção científica referente ao assunto, não em quanto à morte, mas

aos sentimentos ao informá-la, confirmando assim minha intuição quanto à

importância de se realizar este estudo.

Para isso, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista que

precisará ser gravada. Porém, gostaríamos de deixar claro que as informações

obtidas serão mantidas em sigilo e que você não será identificado (a) pelo nome.

Elas ficarão sob nossa responsabilidade e trabalharemos com os dados de forma

global, isto é, reunindo os dados de todas as pessoas que participarão do estudo.

É importante lembrar que a sua participação é estritamente voluntária, ou

seja, você é livre de aceitar ou não o convite que lhe fazemos e mesmo tendo

aceitado, a qualquer momento deste estudo, poderá desistir e pedir para retirar sua

participação.

Agradecemos, desde já, sua valiosa colaboração e colocamo-nos à

disposição para outros esclarecimentos que se fizerem necessária.

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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A seguir, será apresentada uma Declaração e, se você estiver de acordo com

o conteúdo dela, após sua leitura e concordância, deverá assiná-la, conforme já lhe

foi explicado anteriormente.

DECLARAÇÃO

Declaro para os devidos fins, que entendi tudo que me foi explicado a respeito

desta pesquisa, estou ciente dos seus objetivos, assim como do seu

desenvolvimento e da entrevista a qual serei submetido (a).

Diante disso confirmo minha participação nesta pesquisa e, para isto, lavro a

minha assinatura abaixo.

Itajubá, ___/___/___

Nome do (a) participante:

____________________________________________________________

Assinatura do(a)

participante:_________________________________________________________

Assinatura do

pesquisador(a):_______________________________________________________

__

Para outras informações e retirar dúvidas que possam futuramente surgir, você poderá utilizar o telefone do Comitê de Ética em Pesquisa, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: (035) 36220930, rama

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APÊNDICE C - Carta de solicitação para coleta de dados da Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá-MG

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APÊNDICE D - Carta de solicitação para coleta de dados do Hospital Escola de

Itajubá-MG

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QUESTÃO 1 - Para você, o que significa informar o óbito aos familiares?

SUJEITOS EXPRESSÕES-CHAVE IDEIAS CENTRAIS

1 Ah! a resposta é bem curta tá! Significa que eu vou fazer uma, várias pessoas sofrerem, entendeu? Então é uma coisa muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar informando isso, aqui no hospital geralmente a enfermeira chefe faz esse papel, só quando a família é muito próxima da gente a gente faz esse papel de informar o óbito, mas... é...significa que a gente está fazendo as pessoas sofrerem, isso é certo, entendeu?

1ª ideia: Fazer as pessoas sofrerem A

2º ideia: É uma coisa muito ruim B

2 Então, como eu respondi da primeira pergunta , éimportante o trabalho que faz parte...aliás, é umacoisa que faz parte do nosso trabalho,né! A gente tem que estar mais preparado pra esta passando essa informação ao familiar, procurar é... às vezes um contato anterior pra ver certinho, normalmente pedir pras pessoa sentar pra gente podê transmiti, é... essa informação, que na verdade é uma coisa triste comoeu acabei de falar, a gente se coloca muito no lugar do familiar também né!Acho que a questão fundamental é essa a gente ter respeito e se colocar no lugar das pessoas, acho que é esse o ponto fundamental.

1º ideia: Faz parte do nosso trabalho C

2º ideia: É uma coisa triste B

3 Da gravidade: se os familiares conheciam a gravidade é mais fácil, pois o óbito era esperado.Se não havia gravidade: sou objetivo: “o paciente foi a óbito”. É melhor o impacto da morte.

1º ideia: Se os familiaresconheciam a gravidade é mais fácilD

2º ideia: Se não havia gravidade sou objetivo E

4 É uma condição inerente a profissão médica, visto que a morte é um evento, muitas vezes, natural e em alguns casos esperado ou irreversível. Significaum cargo e faz parte do serviço e responsabilidade médica.

1º ideia: Condição inerente da profissãoC

ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico - Pergunta 1

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5 Pra mim significa... depende, depende de cada caso lógico, mais... quando o paciente é mais novo pra mim é uma falha no sucesso terapêutico, apesar que a gente ficar até com as mão atadas, muitos dos casos a gente não tem o que fazer mesmo,agoraquando o paciente já mais idoso chega a morbidade fica mais fácil pra gente atestar o óbito ao paciente, mas é lógico que nos dois casos a gente.. lógico que não sente bem.

1º ideia: Falha no sucessoterapêutico,quando paciente jovemF

2º ideia:Mais fácil quando o paciente é idoso D

3º ideia: Não sentir bem B

6 Informar o óbito a um familiar é uma das tarefas mais... mais difícil da prática médica, da prática de um modo geral de todo profissional de saúde,porque a gente sempre deve levar em consideração tudo aquilo que a família já está passando pelo processo de doença, tudo aquilo que o doente já está passando pelo processo de doença, mais pro outro lado é o fim da linha do ponto de vista médico. É...então informar é uma tarefa árdua, difícil ,mas que é, é inerente da prática do dia a dia, então a gente sempre tem que está tranqüilo pra informar isso, esperando todo tipo de reação da família.E significa...informar o óbito significa, é... principalmente a gente dar a notícia, mas sempre com um caráter humano e respeitando a dignidade, a individualidade do doente, do falecido e da família.

1º ideia: Tarefa árdua, difícil B

2º ideia: é o fim da linha do porto de vista médico H

2º ideia: Inerente a prática do profissionalC

3º ideia: Dar a notícia com caráter humano G

7 Significa transmitir da maneira mais tranqüila possível é... um desfecho de uma maneira que nem todos, ninguém gostaria que tivesse acontecido, nem a própria equipe médica que atendeu, muito menos o paciente que perde um ente querido. Então significa... cuidado, significa atenção, significa é...solidariedade frente aquela perda, então transformar isso na maneira mais serena possível.

1º ideia: Transmitir um desfecho comtranqüilidade, cuidado, atenção, solidariedadeG

8 Bom, informar o óbito aos familiares, significa pra família acredito que... eu nunca passei por esta experiência, mais pra família em si, eu acredito que é informar que aquele ente querido, né, foi embora, né, e você nunca mais vai vê-lo, então éinformar uma perda que é irreparável, né, é... isso inclui, influencia muito no sentimento que a família tem com relação ao paciente, né, às vezes, é... tem

1º ideia: Informar uma perda irreparávelH

2º ideia: Limitação profissional

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envolvidos também sentimento de culpa, e que a gente percebe na prática é que quanto mais existe algum tipo de sentimento de culpa em relação ao paciente, pode ser em relação a outro fato da vida do paciente com a família, ou em relação aquela doença em si, é...se existe algum sentimento de culpa da família essa perda é, é pior aceita pra família , quando a gente vai informar. Então, eu acho o que significa é que.. a gente está informando que houve uma perda e aquilo não vai, não existe mais volta. É...pro médico em si significa em certo ponto que existi, é... também um,uma...uma... como eu posso ti dizer... que é... não falha do médico em si,mas que é... tem também, a gente tem nosso ... nosso tratamento ele é.. .ele tem um certo limite, né, então você chegou ao seu limite e você não vai pode fazer mais nada,então assim ... informar pra família a nossa humanidade também, então nós tentamos até o ponto que foi possível e depois disso nós não podemos fazer mais nada. Então assim, de certa forma, você informa pra família que nós também somos... é.. nós somos limitados, né, até certo ponto.Então assim, de qualquer forma, isso significa pra família que aquela perda, que ela vai ter que, né, ela vai que entrojetar, né, e aceitar, né, e pra gente também significa a nossa limitação como médico, né, como ser humano, né. Nós não somos deuses, né, nós não somo deuses, a gente não consegue fazer além do limite nosso, né. Então a gente... significa a perda pra família, né, e significatambém a nossa limitação como ser humano, como médico, tá.

H

9 Kamila, informar o óbito significa informar o fim,né, e pra maioria das pessoas o fim é muito doloroso, independente de como seja, né. Então o fim, é ...a gente chega e fala:oh! é o fim , acabou, e aí, o pra nunca mais serve nessa hora, aí é nunca mais mesmo, então, nunca mais você vai ver a pessoa, nunca mais ela vai estar presente na sua vida, então, é o único momento na vida do ser humano que o “nunca mais” cabe. Então informar pra família o óbito é informar o “nunca mais” do ser, do ente querido dessa pessoa.

1º ideia: Informar o fim do ente queridoH

10 Acredito que esse é o momento mais difícil da relação médico, paciente e familiares,principalmente do vínculo que se inicia após o primeiro atendimento ao doente, então um momento

1º ideia: Momento mais difícil do profissionalB

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difícil. Nesse momento, o mais importante creio eu... minimizar as dores da família, sempre orientando sobre a real situação do paciente, e... mais importante é minimizar essa dor , porque é um momento muito difícil na vida desses entes que... que vão perder um ente querido, então omais importante mesmo é minimizar as dores dos familiares.

2° ideia: Minimizar as dores dos familiaresG

11 Bom, pra mim... eu acho que informar o familiar ,né, que o ente querido foi a óbito, é...é um sofrimento, significa sofrimento, porque... além da gente passar pelo sofrimento de estar perdendo o paciente também, a gente sente com isso, é... você ainda tem que tirar força e...e ter um jeito especial pra consegui passar isso de uma forma mais amena pro familiar, então a gente tem que... que aprender isso no dia a dia a lidar com situação assim, é...e é só no dia a dia fazendo mesmo que você vai conseguindo, porque a primeira vez, você fica ...como você...você mesmo tivesse recebendo a notícia, fica meio sem ação, mas é...é bastante complicado.

1º ideia: É um sofrimentopessoalB

2º ideia: Ébastantecomplicado B

3º ideia: ter um jeito especial para conseguirpassar isso de forma mais amenaG

12 Uma tarefa que faz parte do serviço, mais... quando eu posso evitar... que tem uma enfermeira que possa...ou uma psicóloga que possa fazer isso por mim eu tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável.

1º ideia: Parte do serviçoC

2º ideia: Situação desconfortávelB

13 Dar conhecimento de que aquele ente querido não mais vai voltar, não vai mais fazer parte de sua vida.

1º ideia: Dar conhecimento do fim do ente queridoH

14 É minha função como pessoa que constata o óbito, função do profissional, isso é o que significa.

1º ideia: Função do profissional C

15 Bom...hum.. acho que informar o óbito é... acho que faz parte da rotina da gente,é... a gente... é.. em certos momentos a gente não tem condição de salvar o paciente e isso aí nada mais é do que mais uma forma de consulta, uma rotina na vida da gente,né, acho que significa isso

1º ideia: Faz parte da rotina do profissionalC

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16 Pra mim como profissional da área médica, como médica informar o óbito é... traz um sentimento de impotência é...é em frente... perante a morte, impotência perante a morte. Traz também um sentimento de tristeza, principalmente na minha área , que eu sou pediatra, no caso o óbito seria o óbito de crianças, né.! É... sendo que eu me deparo muitas das vezes com o desespero dos pais, diante do óbito.

1º ideia: Impotênciaperante a morte H

2º ideia: Tristeza B

17 Bom... Primeiramente, o exercício profissional. Eu tenho.. é um dever meu, é.. comunicar qualquer familiar sobre o que está acontecendo e sobre o estado do paciente naquele momento. Então acima de tudo é um dever profissional meu, porém... tem que ser feito com uma certa sutileza, não é simplesmente ... é....dar a notícia, você tem que... dá a notícia de uma maneira diferenciada, cada ser humano vai reagir de um jeito, então não é só simplesmente informar o paciente, é tentar esclarecer e explicar o que que aconteceu e o que justifica para aquela situação naquele momento.

1º Ideia : ExercícioprofissionalC

2º ideia: Um dever profissional que é feito de maneira diferenciadaG

18 É ... o maior contato que eu tive com essa atividade, informar o óbito, foi durante minha residência, R1 e R2, então pra nós era um serviço como outro qualquer, nós éramos recrutados com se fosse um sistema,um plantão de rodízio e naquele momento era minha vez de informar o óbito, e isso era técnicodemais, muitas vezes a gente não tinha entrado em contato com o paciente, a gente só sabia que...que a criança tinha morrido, e o comunicado tinha que ser feito da forma mais educada possível, é.. de uma forma assim meio que, é...existia um afastamento,é como se ...por não te havido envolvimento com o paciente não haveria envolvimento com a família.E assim que a gente informava de uma forma bem mecanizada, a gente si afastava, a gente não si envolvia com o sofrimento deles, isso foi um treinamento. Aí com tempo,é... aí que foram pouquíssimas vezes, graças à Deus,é ... foi mais em área de neonatologia, então eu estava atuando na área, na neonatologia, e aí eraduro demais, então...(entrevistada se emociona)

1º Ideia: Umserviço como outro qualquer C

2º ideia: técnico demais, de uma forma bemmecanizada.I

3º ideia: Era duro demaisB

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19 Bom, informar o óbito aos familiares pra mim, significa... é.. chegar e dizer , pra mim no meu caso geralmente é a mãe ou pai , que vai ter uma separação. Infelizmente a mãe ou pai daquela criança nunca mais terá aquele ente querido com ele. Então isso significa pra mim é... dizer assim ,que haverá uma separação, simplesmente eles não estarão mais juntos. Aquela criança, aquele afeto, o ato de amor entre a mãe e a criança, infelizmente eume sinto agredida de ter que informar que não vai mais existir aquilo,entendeu? Os dois terão que ser separados, a criança do pai com a mãe.

1º ideia: Dizer que vai ter uma separação do ente querido H

2º ideia: Uma agressão para o profissionalB

20 Significa ser o mais honesto e objetivo possível não omitindo nenhum detalhe sobre o quadro clínico e sobre o motivo que levou ao óbito.Resumindo, falar sempre a verdade e sem embromação, embora seja um momento doloroso você não pode fugir disso.

1º ideia: Ser o mais honesto e objetivoE

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QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?

SUJEITOS EXPRESSÕES-CHAVE IDEIAS CENTRAIS

1 Aqui a gente se sente... pra nós que somos médicos, eu me sinto mal , porque pra gente a gente é um pouco frio, a gente lidar com isso todo dia, então tem assim muitos casos graves que a gente fala: olha descansou. Então a gente... é assim...é um papel que até a gente não sente tanto porque não faz parte da família da gente, né! Então a gente vê que a família tá sofrendo, mas não... não aquele sentimento seu, é diferente se fosse um parente seu. Então a gente sente mal por ter também esse sentimento, por ser tão frio, mas se você não for assim, você não consegue trabalhar num serviço de urgência e emergência, então você tem que ser.

1º ideia: pra gente a gente um pouco frioC

2º ideia: a gente não sente tanto, porque não faz parte da família da gente C

2 É, isso realmente a gente fica muito triste porque...é mais uma constatação que a gente não é...como fala....depende...é como se você tivesse tido um insucesso no seu tratamento, porque a gente forma médico a gente quer salvar, nunca a gente quer que a pessoa morra,mas a gente sabe que essa é uma evolução natural. Só que a nossa cultura ainda não aceita muito a morte né?! a gente gosta de comemorar a vida , o nascimento, né, batizado. Mas quando realmente um familiar ou até mesmo um amigo morre que a gente se depara então...oprimeiro sentimento é de tristeza mesmo.

1º ideia: muito tristeB

2º ideia: é como se você tivesse tido um insucesso G

3 De forma natural. A vivência nos traz entender o ato de nascer-morrer. Passamos por experiências, sofremos antes dos familiares e temos que ser realistas: o que está acontecendo agora com esses familiares, já aconteceu comigo ou iria acontecer.

1º ideia: natural C

4 Quando a morte é esperada há um certo alívio em dar a notícia, porque é como se houvesse o fim de um sofrimento. Mas quando a morte não é esperada a informação é dolorosa e há uma tentativa de se distanciar da dor de quem recebe a notícia.

1º ideia: alívio se a morte é esperada D

2º ideia: dor, se a morte não é esperadaE

ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico - Pergunta 2

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5 Então... depende da proximidade com os familiares,geralmente, também quando... quando, geralmente a gente não gosta mesmo, lógico, de atestar o óbito. E depende do contato familiar, que tem alguns que respondem melhor, que é mais fácil se está esperando, geralmente paciente idoso, tipo morbidade que tem uma resposta ,se tem uma aceitação melhor, agora já teve casos já, que eu tive que declarar óbito, atestar óbito a paciente jovem e não foi nada bom.Eu me senti... fiquei uns três dias...fiquei pensando nisso, e até hoje eu lembro, foram dois pacientes meu abaixo de trinta anos que fica guardado , sempre a gente lembra do caso, sempre...não teve uma boa aceitação pra gente médicos também não!Não só minha como dos meus preceptores também, preceptores também ficou muito triste, foi toda clínica ficou chocada assim.

1º ideia: tem uma aceitação melhor, se estáesperandoD

2º ideia: nada bom, se a morte é de paciente jovemA

3º ideia: não teve uma boa aceitaçãoA

4º ideia: muito tristeB

6 É... me sinto com segurança ,E... precisa que eu leve em consideração sempre, é que preciso passar a informação, passar a notícia sempre de uma maneira tranqüila, porque....a gente tem que se colocar do outro lado também da história , porque se um dia com a perda de um ente querido da minha família eu vou querer receber essa notícia de um modo tranqüilo ,explicando ...vou precisar, vou querer que me seja explicado o que é que aconteceu, porque que é que aconteceu e o que é que foi feito pra tentar reverter isso.Mas, de qualquer maneira , a gente sempre, é...eu tenho comigo ,que sempre informar o óbito a alguém, a algum familiar é uma tarefa muito difícil porque envolve não só a prática profissional, mas todo um lado emocional e que a gente acaba é... como médico, a gente acaba é... participando bastante desse lado emocional da família e do doente também. Então eu sempre procuro assumir esse lado emocional também, dando sempre o apoio pra família também quando ela precisa, quando ela requer.

1º ideia: segurançaI

7 Sentimento frente ao óbito no trabalho em medicina em geral, é a coisa que o médico menos gosta de fazer . É um sentimento às vezes de perda, de incapacidade, de impotência e que a gente sabe e tem a certeza que fez tudo ao máximo, mas gente não... não é um sentimento muito bom, mas ele faz parte do nosso dia a dia.

1º ideia: perda H

2º ideia: incapacidade G

3º ideia:

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impotência G

4º ideia: não é muito bom A

8 Eu acho que pro médico, por mais que a gente tenha experiência, por mais que tenha tantos anos de profissão, essa informação de perda é muito difícil,né. É... então eu acho que... eu, pessoalmente, eu me sinto muito mal de ter que informar. Eu acho que quando a gente é... chego a um certo limite e você fez tudo que você sabia que seria feito e que essa criança realmente, tô falando a criança porque eu sou pediatra, então essa criança realmente não teria como, né, é... voltar, né, é... ela iria morrer de qualquer forma, isso é um pouco melhor aceito pra gente, tá. Vou te dar um exemplo, uma criança que tenha uma cardiopatia grave, por exemplo, e ela depois daquilo ela... a qualidade de vida dela ,depois daquilo, daquele fato seria muito ruim ou ela sofreria muito,né, então assim , é um pouco mais,melhor aceito pela gente, pelo médico. Mas quando, por exemplo, é uma fatalidade, vamos supor, é um acidente automobilístico, um trauma,né, uma criança que evoluiu com uma infecção, uma criança até previamente hígida que não tinha nada,evoluiu com uma infecção grave e foi a óbito assim muito abruptamente, isso pro médico é muito difícil de aceitar. Tanto pro médico, acho que pior pra família, mas pro médico também é difícil de aceitar. Então assim, pra mim significa, é... uma dor mesmo ,também, né, então a gente vive... vive esse óbito, tá, independente si é um paciente que você já conheça a muito tempo ou um paciente que você atenda,é, de imediato, que você nunca viu. Então assim, pro médico isso é uma perda, tá, tem pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas que não lidam, né, que carregam isso pra sua vida pessoal enfim, eu tento não levar isso além do meu trabalho, tá, mais de qualquer forma é doloroso a informação do óbito e o óbito, a perda do paciente,ta.Certo?

1º ideia: perda H

2º ideia: muito malA

3º ideia: Melhoraceito pra gente, se ela iriade qualquer forma D

4º ideia: muitodifícil de aceitar, se óbito muitoabruptamenteA

5º ideia: dorE

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9 Independente de...olha! eu tenho 22 anos de formada ,né, e...assim, a gente que mexe com pronto socorro, com UTI, é um sentimento assim de... é uma...uma, o ser humano de uma maneira geral enxerga nós médicos, né, uma pessoa assim que eles entregaram seu ente querido pra gente, pra gente devolve-lo de uma maneira boa, vamos dizer assim, né, então...então kamila,é... a gente sente uma responsabilidade muito grande, né, porque é a hora em que a família chora, que a família se desespera e nós temos que ficar forte diante deles, né, porque eles tem na gente uma pessoa importante nesse horário, é Deus que dá pra gente uma força,um... como é que se diz , assim...é...nós somos iluminados por Ele e temos essa profissão, né, pra pode salvar, pra poder ajudar as pessoas. Então pros familiares nós somos uma pessoa muito importante nessa hora, então é... é um sentimento assim...é...difícil, tem hora que a gente chora junto, tem hora que a gente não consegue falar, eu várias vezes fui anunciar o óbito, principalmente quando é óbito de pessoas que não... que a família não espera, né, que iria morrer. Quando pessoas idosas que já são sequeladas de AVC, então né, a família entende com um pouquinho mais de...não sei si...não sei como a gente pode explicar,mais assim...você dá a informação de um óbito de um jovem que sofreu um acidente , que tava até então muito bem, vai sai pra uma festa e tem um acidente e morre, você informar o óbito dessa pessoa pra família, é muito difícil, é muito complicado, você várias vezes...eu choro antes da família. Então assim, a gente apesar de, né, as pessoas acharem que o médico não tem sentimento, que a gente é muito frio não é não, émuito difícil.

1º ideia: uma responsabilidademuito grande F

2º ideia: tem hora que a gente chora junto e não consegue falar B

10 É um momento delicado, mas que faz parte também do ato médico, da profissão médica que a gente escolheu, primeiramente a gente se tem um dever tranqüilo de que se foi feito de tudo pra tentar salvar a vida desse paciente, mas realmente é muito difícil devido a esse vínculo que acontecesse entre o médico e paciente , a gente sente muito nesse momento, às vezes a gente fica até sem palavras pra falar pra família de tanto vínculo que a gente criou com esse paciente.

1º ideia: tranqüilidade D

2º ideia: a gente sente muito, fica até sem palavras B

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11 Bom, pra mim... é uma sensação de impotência diante do familiar, porque o objetivo da gente, a gente sabe que todo mundo vai morrer, que acontece tal, mas a gente nunca quer que morra. E se você está cuidando de um paciente e a hora que ele vai à óbito você vai dar essa notícia é como si você não tivesse conseguido seu objetivo, você não conseguiu aquilo que é tua função, uma das funções, né, que geralmente é tentar curar. Mas tem que lembrar que não é só isso, você consegui aliviar a dor também, e deixar o paciente descansar também faz parte, mas no primeiro momento é uma sensação de impotência, porque você queria dar de volta aquele paciente pra família, mas às vezes não é possível.

1º ideia: sensação de impotência diante do familiar G

12 Não...não me dá tristeza porque...já ficou...assim...tão...rotina, por causa da freqüência. Eu trabalho com terapia intensiva, por eu está na UTI, então acontece, às vezes, duas ,três vezes nu dia deu te que dá notícia de óbito, então assim, se tornou uma rotina tão comum que...pra mim é mais uma...é mais uma...é mais uma tarefa, faz parte do serviço, não mais aquela... sensibilidade tudo....é muito difícil a gente que convive com isso o tempo todo si envolve emocionalmente, porque...se você começa senti todo esse sofrimento e se envolve demais com a família, eu vou ser eternamente deprimida, porqueeu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então se eu for envolver muito emocionalmente, eu vou ter que fazer tratamento eterno com psiquiatra, vou ter que tomar antidepressivo eternamente, não tem como assim.. você se envolver tanto.Você tem que assim, acolher a família, respeitar aquele momento, né, e... evitar frases do tipo... “ah! eu sei como você está si sentindo”....você não sabe como tá sentindo!você não tá passando por aquilo, né. É confortar a família, acho que o momento que você não tem muito o que você falar, né. É o básico... tentar confortar e você assim.. respeitosa com aquele momento. É parte do meu serviço, não.. não faz diferença pra mim, eu não me envolvo emocionalmente.

1º ideia: não me dá tristeza, porque ficou tão rotina C

2º ideia: sem sentimentoC

13 Péssimo, angustiado. 1º ideia: Péssimo B

2º ideia: angustiado

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B

14 Situação delicada, momento difícil, tem que ter paciência, tem que ter jeito, é... a gente se sente parte daquilo não tem como você se desvencilhar,você tenta ser o mais... imparcial possível, mais... na verdade é impossível ser imparcial.

1º ideia: a gente sente parte daquilo,éimpossível ser imparcialB

15 Bom, acho que informar o óbito, acho que é a pior parte da profissão da gente, é extremamente desagradável, mas é um momento que a gente tem entender o lado do paciente, e ser o mais delicado possível pra tentar confortar um pouco a família, né. Mas é a pior experiência que tem nessa área. Sentimento de impotência de não ter conseguido salvar a pessoa ,é esse o sentimento que fica.Dificilmente a pessoa... se sai bem, dorme bem, geralmente sempre fica chateado, acho que é isso.

1º ideia: impotência G

2º ideia: chateado B

16 Apesar da tristeza sofrido, né, pela perda de um paciente, nesse momento eu tenho que me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos familiares. É... sem deixar aparecer os meus sentimentos como pessoa, como choro, feição de tristeza. Eu tenho que me colocar como profissional, mas, é.. ao mesmo tempo me mostrando solidária à tristeza da família.

1º ideia: tristezaB

2º ideia: perda de um paciente H

3º ideia: como profissional,semdeixar aparecer os meus sentimentos como pessoa, como choro, feição de tristeza. I

17 Primeiro é uma sensação bem desagradável, porque ninguém gosta de dar notícias ruins pra ninguém, mais, tem que ser feito com certo profissionalismo, então a gente tem que ser bem profissional, didático, esclarecedor nesse momento,mesmo sendo uma notícia ruim, então nãoé muito agradável, mas... a gente tem que cumprir com o exercício daquilo que foi programado pra gente. É um sentimento de tristeza né, de incapacidade, de não ter podido ajudar ou de não ter condições de não ter feito nada pra poder reverter a situação. Em alguns casos não tem

1º ideia: sensação bemdesagradável,nãome sinto bem A

2º ideia :com certo profissionalismoI

3º ideia: tristeza

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muito o que fazer, pacientes graves terminais é uma perda que... que não tem como, não tem tratamento,é uma doença terminal então a gente até se senti um pouco mais confortado pelo fato de saber que aquilo não tem reversibilidade, mas eu não me sinto muito bem. Eu não gosto dar essas notícias não.

B

4º ideia: incapacidade G

5º ideia: perda H

5º ideia: confortado quando a morte éinevitávelD

18 É... a medida, que você acumula os óbitos, né, na sua vida ,ao redor de você, com pessoas que realmente,é...se importam com você, que você se importa com eles,é... acho que não existi o médico que consiga responder de uma forma bem... mecanizada, né , artificial, igual um residente responderia.É ... nos dias de hoje eu me afastei dessa área de ter que me envolver com pacientes terminais, de ter que dar notícias, eu não lido mais com essa...com essa.. mas não é por fuga não, é porque essa área se afastou de mim também.Mais... eu tenho...por exemplo, eu tenho um avô que vai fazer 103 anos, sábado que vem, então eu tenho... eu não tenho facilidade pra conviver com essa parte dos óbitos, e isso meu! É uma coisa que dentro da minha medicina é o meu limite. Se eu tivesse que atuar em alguma especialidade que lidasse com oncologia, com os pacientes terminais mesmo, eu acho que eu me afastaria dessa área. O que eu gosto é do que eu gosto, que é lidar com vida, né. E pra mim, é a forma como eu dou a notícia, né, que é o que você quer saber, ah... eu acho que eu abraço a notícia, todas as vezes eu choro junto.

1º ideia: eu acho que eu abraço a notícia, todas as vezes eu choro junto.B

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19 Acabei respondendo a primeira questão. É... eu mi sinto agredida. É...me sinto muito mal tendo que informar , mesmo sabendo que isso faz parte do processo, do óbito. Mas assim, é... o dia que acontece isso é um dia estressante, a gente se sente emocionalmente abalada, porque tem que chegar e falar que a criança infelizmente, dependo da patologia, do acidente que ocorreu, não sobreviveu. E ...é.... e eu como médico não consegui dar contadaquela criança,não teve jeito, e a criança infelizmente foi. Então por mais que.. é ... às vezes a gente.. está além da nossa capacidade, infelizmente a gente se senti incapaz naquele momento, não consegui dar conta e tem que informar aquilo pra mãe. Então eu me sinto incapaz e ao mesmo tempo agredida de ter que passar isso pra família.

1 ideia : agredida A

2º ideia: muito mal A

3º ideia: emocionalmenteabaladaB

4º ideia: incapazG

20 É um dever da profissão. Eu me sinto como uma parte triste da minha profissão, mas que tem que ser informado, não posso fugir disso

1° ideia: triste B

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QUESTÃO 1: Para você o que significa informar o óbito aos familiares?

SUJEITOS EXPRESSÕES-CHAVE IDEIAS CENTRAIS

1 Ah! Às vezes parece que é simplesmente chegar e falar, né, o que que...que morreu e pronto, você não conhecia a pessoa, tudo. Mas... é uma parte muito importante, é uma das partes mais importante, né, até do .. do óbito mesmo , porque envolve muita coisa, né.

1º ideia: é uma parte muito importante do óbito A

2 Informar o óbito pros familiares é...é uma situação em que você precisa falar que a pessoa morreu, né. Então assim, é uma situação...é difícil, é complicado, porque ,assim , morreu dentro do hospital, dentro do seu ambiente de trabalho, né, então assim,é o que eu acabei de falar , a gente precisa estar respaldada do que que aconteceu com aquele paciente,o porque que ele veio a falecer, o que que a gente fez por ele, o que que a gente deixou de fazer por ele. Então assim, informar o óbito não é só chegar lá e falar: seu paciente, seu parente morreu, faleceu, não é só isso, existem outras coisas envolvidas no óbito, né. Então assim, eu preciso falar o que que aconteceu, o que que fez, o que que não fez, o porque que morreu. Muitas vezes a gente não sabe por que que morreu, são coisas da vida, que a medicina às vezes nem explica, né, às vezes o paciente entra aqui andando, bem, faz todos os exames, não apresenta nada nos exames e daqui a pouquinho ele para de uma hora pra outra e a gente não sabe, né, porque que aquela pessoa morreu, tem que mandar para a SVO, Sistema de Verificação de Óbitos, e a família não entende às vezes, geralmente a maioria não dá o termo de conscientização para a gente fazer, então assim, é muita coisa envolvida, não é simplesmente chegar lá e falar que a paciente morreu, tem muita coisa envolvida, e a gente tem que estar preparada pra isso, né. Então dar a notícia de óbito não é simplesmente chegar lá e falar que a pessoa morreu, né, então você tem que chegar lá preparado pra o que você vai falar, oh! Nós fizemos isso, aconteceu isso, isso, isso, tal, infelizmente, né, e ás vezes acontece que aquela

1º ideia: é uma situação em que você precisa falar que a pessoa morreuB

2º ideia: é uma situação difícil e complicado C

3º ideia: não é só chegar lá e falar, é preciso falar o que aconteceu ,como aconteceu,não é tão simples assim D

4º ideia: é mais difícil dar a notícia pra aquela pessoa que já estava esperando E

5º ideia: é mais difícil para quando não está esperandoF

ANEXO C - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro - Pergunta 1

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pessoa entrou, está bem e de repente para, teve alta e para aqui na porta, tendo alta, na porta do pronto socorro, e como é que você vai explicar pra família, ah! Ela entrou aqui,estava tudo bem, tomou um sorinho, estava com dor de cabeça, foi medicada, referiu melhora e na hora que estava indo embora,caiu dura aqui, parou, e não teve Cristo que fez voltar. Então assim, é complicado, então não é só a notícia de que o parente morreu, né, você tem que ver uma leva de coisas atrás, né,não é só a notícia do óbito em si, né, você tem que falar tudo ali, o que aconteceu, como que estava, como que não estava, o que que foi feito, o que que não foi feito, às vezes a pessoa não aceita,né, mais como assim, estava bem enfermeira, estava super. bem, né, e morreu! Que nem eu te falei, é mais difícil dar a notícia pra aquela pessoa que não estava esperando do que aquela que já estava esperando, né, ambas são difíceis, né, a família sofre , o familiar que vê o outro sofrendo, sofre e o sofrimento é muito maior também.Mas assim ,então, dá a notícia do óbito não é só simplesmente falar que a pessoa morreu, né, você tem que estar, assim,completamente respaldada de coisas, né, pra falar: olha! Morreu mas ele teve assistência, né, toda assistência necessária, aqui dentro da instituição tudo que tinha que ser feito por ele foi feito, então é um pouquinho complicado, né,não é tão simples assim.

3 Eu acho que pra parte da enfermagem é importante, porque a gente está ali a gente pode dar todo apoio, porque ás vezes o médico vai fala de qualquer jeito e nem apóia a família, né. E eu já passei por isso, fui junto com o médico pra informar, e eu vi que é importante ,tem que estar ali, tem que prestar, e dar toda ajuda pro familiar e tem que apoiar mesmo, é importante que o enfermeiro esteja junto para informar, pra dar o apoio.

1º ideia: Eu acho que pra parte da enfermagem é importanteA

4 Informar o óbito pros familiares é você...chegar para a família e falar: “não teve uma vitória”, o que nós esperávamos de sair vitoriosos perante a situação, perante o processo morrer... não deu.Então é... um sentimento de...quase assim de...”eu não consegui” resolver o problema seu, resolver o problema de seu ente querido, e agora nós estamos passando um resultado negativo,que muitas vezes um resultado negativo tem como você reverter, né, mas nessa situação não

1 ideia: chegar para a família e falar:“não teve uma vitória”B

2 ideia; eu não conseguiJ

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tem como, não vai ter volta. É você saber que vai dar uma notícia que normalmente as pessoas não estão preparadas para receber essa notícia, porque todo mundo pensa na vida, pensa em projetos, faz projetos, e quando você vê, tudo aquilo que ela projetou de repente vem por água a baixo, a pessoa foi a óbito.

3º ideia: passar um resultado negativo B

5 É uma sensação, pra mim, um pouco de impotência, assim, às vezes pode ser uma falha que a gente tenha cometido, alguma coisa... mas ao mesmo tempo eu sinto que eu posso está mais perto daqueles que conviveram com ele. Então na hora, eu procuro primeiro, conversar com o familiar, está falando com ele o que que o paciente estava passando, como o paciente se apresentava, pra depois dar a informação do óbito. E eu continuo dando apoio até a família estabilizar, porque na maioria das vezes é um choque pros pacientes, porque a área aqui do pronto socorro é uma área, assim, que às vezes chega muito politrauma. Então pra eles é um choque, não é uma pessoa que às vezes chega, tá doente e eles esperam a morte, muitas vezes é uma pessoa que eles nunca esperam ,esperavam que morresse tão logo, porque não tinha nenhum problema de saúde, foi mais por um trauma.

1º ideia; sensação de impotência J

2 ideia: conversar com o familiar, pra depois dar a informação do óbito.D

6 Significa uma responsabilidade muito grande, porque os familiares tem que entender o que levou ao óbito, é muito difícil às vezes pro familiar compreender que foi realizado de tudo para evitar o ocorrido.

1º ideia: Significa umaresponsabilidademuito grande G

7 Bom... É um momento muito delicado, que a gente tem que levar a notícia do óbito do paciente pra família. É um momento delicado, porque... a gente não sabe qual que é reação da família, a gente não sabe se era aquilo que a família tava esperando. Então é uma... uma situação muito... complicada pra gente também, porque a gente tem que está preparada psicologicamente prapoder dar esta notícia e... esperando, né, que a família entenda que tudo que foi possível foi feito em prol de seu ente querido.

1º ideia: É um momento muito delicado C

2º ideia: é uma situação muito complicada C

8 É... Não é uma notícia... Eu não me sinto bem em dar essa notícia. Eu acho que é uma notícia ruim,tá. Não... Não sei explicar pra você, mas é uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar isso.

1º ideia; eu não me sinto bem em dar a notíciaC

2 ideia: é uma

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notícia ruim, B

2º ideia:é uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar isso. C

9 Momento muito difícil, mesmo porque não estamos respaldados e nem preparados para responder a todas as perguntas que poderão ocorrer. Lidar com os sentimentos humanos é muito complexo, haja vista o grau de aceitação, compreensão do sofrimento.

1º ideia: Momento muito difícil C

10 Para mim significa um momento muito difícil. Serportadora de uma notícia tão dolorosa para a família, é uma experiência também dolorosa para mim.

1º ideia: significa um momento muito difícilC

2 ideia: é uma experiência dolorosaH

11 É um momento muito difícil pra mim, pois, sou uma pessoa muito emotiva e às vezes acabo me envolvendo no sofrimento do familiar que perdeu o seu ente querido e muitas vezes devido ao fato de o paciente ficar muito tempo internado, e por ser um setor fechado -UTI- acabam se estreitando os laços de afinidade. Procuro ser o mais humana possível ao passar a notícia do óbito, tento ser o mais empática possível, pois é um momento doloroso do familiar que deve ser respeitado.

1º ideia: É um momento muito difícilC

2º ideia: ser o mais humana possível D

12 Então, é uma coisa bem complicada. É uma tarefa bem difícil, porque assim que você dá a notícia tem todo um... uma não aceitação, né, ao que acontece. E pra mim significa, assim, muita dor, todas as experiências que eu já tive, não foram muitas, mas todas foram bem marcantes, foram casos assim bem sérios. Uma delas foi com uma gestante que eu tive que falar que o bebê dela tinha ido a óbito e a cesárea estava marcada para o dia

1º ideia: é uma coisa bem complicada C

2 ideia: É uma tarefa bem difícil C

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seguinte e a gente não conseguia auscultar o foco. E a outra, um rapaz de 20 e poucos anos que a mãe morreu saindo de uma histerectomia também, então ele deitava no chão, gritava, jogava o boné dele pra tudo quanto é lado. Então é um significado muito pesado, muito forte, é bem complicado.

3º ideia: é um significado muito pesado, muito forte C

4º ideia: significamuita dor H

13 É...Pra mim..quando a gente tem uma situação de emergência ,no meu caso,uma situação de emergência, onde a gente atuou durante pelo menos duas horas tentando ressuscitar o paciente e o paciente foi à óbito, né, Então ele foi trazido pela esposa, pelo irmão, e a esposa veio com três filhos.Os três filhos em torno da faixa etária de cinco, sete e oito anos, todos bem criança. Então é... a gente fez muita coisa, trabalhou bastante, eu e mais um médico tentando trazer esse paciente. Uma semana anterior, na sexta feira, ele chegou num quadro de hemorragia digestiva alta e recebeu orientação, foi medicado e voltou pra casa, aí o médico informou a ele que se ele não tomasse cuidado corria o risco dele ter um quadro mais grave e ir a óbito. Uma semana depois ele tava lá no pronto socorro com um caso de hemorragia alta severa e entrou em choque, num estágio irreversível do choque, e não teve como a gente ajudar ele, cessar, reverter esse quadro, então o paciente foi a óbito. E assim...o significado, é um significado, quando você vai informar né, que você não conseguiu né, que você fez tudo mas não conseguiu.E quando você vai informar, o principal significado ,né, não sei se é essa a palavra certa ,é... você tirar a esperança de alguém que estava com esperança de você resolver o problema, né, significa a falta de esperança que você leva pro familiar, que ele está com a esperança que o.. está no serviço de saúde, que ali vai ter profissionais que possam ajudar, né. Quando eu me informei, tava eu mais outro enfermeiro, juntos, e a gente falou pra esposa, né, que a gente gastou muito tempo tentando ressuscitar o paciente, duas horas em torno. Levei ele pro necrotério,como era caso de hemorragia, ele sangrava pelo nariz ,pela boca, então tive que tamponar este paciente, levar pro necrotério, tamponar e retornar pro pronto socorro.E antes de retornar pro pronto socorro, passei na recepção, como procedimento padrão, pego o atestado de óbito, e o médico vai preencher

1º ideia: significa você tirar a esperança dofamiliarI

2º ideia: é uma situação muito delicada, muito difícil, não é fácil de dizer.C

3º ideia: significa que você não conseguiuJ

4º ideia: situação que você não sabe como dizer C

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o atestado de óbito. Desci pra falar, né,a minha intenção não era falar pra esposa naquele momento, mais naquele momento ela abordou a gente dentro do pronto socorro e perguntou: e ai como é que meu esposo está?E ele já tinha ido a óbito, já tínhamos tamponado ele. Então é uma situação assim...é meio.. assim, você não sabe como dizer, né, você quer utilizar do não verbal, né, pra pessoa já ir entendendo, né. E não tem como você falar muito com a pessoa, né. Você tenta falar da melhor forma possível, pra que não cause tanto impacto,porque impacto vai causar do mesmo jeito,porque ela já está esperançosa ali, e você vai conseguir, e aí você pega, tenta tudo, não consegue e o paciente vai a óbito. Então, no momento que eu disse, ela já falou: Nossa mais como é que eu vou fazer agora?Eu tenho três filhos! E nós já tínhamos vistos os três filhos. E ela estava cheia de esperança, então o significado é você levar...tirar essa esperança, como se fosse isso, né. Então é uma situação muito delicada, muito difícil, não é fácil de dizer. Mas você sente assim, que você tirou essa esperança, mas que você fez tudo que poderia ter feito. Tem algumas situações ao extremo assim que você não vê muita coisa o que fazer. Mas mesmo assim a gente sente que não deixa de levar uma esperança de vida, por exemplo, se você ver uma criança nascer e ver uma pessoa morrer, é o sentimentos oposto, um você vê a vida o outro você deixou de responder, vamos dizer assim.Você chega numa conclusão que você deixou de fazer alguma coisa, você fica pensando, você revê todos os seus conceitos, né. Tem alguns casos como este especialmente, que você começa rever todos os seus conceitos, em relação a vida, a família, né é muito importante, né. Então o que significa, não sei se seria a palavra certa, é você levar...tirar a esperança de vida, porque eles chegam com uma esperança que você vai resolver o problema, e você chama ele e aquela esperança não tem, não tem mais esperança, o paciente já foi a óbito.

14 Na verdade é como comunicar o nosso próprio fim, uma frase de tristeza e de pesar. Porque a família por mais que saiba o estado crítico, ou a fragilidade do ente querido, não quer ver o seu fim.

1º ideia: é como comunicar o nosso próprio fim. B

2º ideia: uma frase de tristeza e de pesar.

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B

15 Eu acho que é uma necessidade, né, que a pessoa tem, a gente tem que informar o mais rápido possível a partir do momento que aconteceu. A gente tem que até antecipar, né, ver se consegue trazer a família antes da pessoa morrer, né, porque é muito chato quando o paciente já morreu e você ter que falar com a pessoa que já morreu, então se a gente puder preparar, chamar um pouquinho antes. No caso a gente que está na UTI é mais fácil, porque a família já está sabendo o que está acontecendo com o paciente, né, e assim.. você tendo um tempinho antes, você vai ter condições de dar uma assistência pra aquela família, não na hora que morreu , né, já morreu , pronto, né. Então eu acho, assim, que é uma necessidade que a gente tem.

1º ideia: é uma necessidadeG

16 Depende do motivo do falecimento, pois quando já esta em sofrimento muitas vezes os familiares aceitam de forma mais serena, e outras vezes mesmo assim acham que poderíamos ter feito mais pelo paciente.

1º ideia: depende do motivo do falecimento, quando já esta em sofrimento aceitam de forma mais serenaE

17 Apesar de muito tempo na profissão, significa algo que mexe ainda com o sentimento. Temos que ter uma postura de um profissional que convive com isto.

1º ideia; significa algo que mexe ainda com o sentimentoK

18 Significa passar aos familiares que seu ente querido faleceu, assim sendo é uma tarefa difícil para o enfermeiro. Temos que ser bastante humanos e esperar qualquer tipo de reação dos familiares e fornecer carinho, compreensão, tentando consolá-los com um abraço e cuidado com as palavras.

1º ideia: Significa passar aos familiares que seu ente querido faleceuB

2º ideia: é uma tarefa difícil para o enfermeiro C

3º ideia: Temos que ser bastante humanos

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D

19 Informar o óbito significa um ato de atenção para com a família; um ato de solidariedade perante uma situação desagradabilíssima.Gostaria de nunca ter que fazê-lo.

1º ideia: significa um ato de atenção esolidariedade para com a família D

20 Significa ter uma responsabilidade muita grande, pois não sei como os familiares podem reagir,devido ao momento de perda.

1º ideia: Significa ter uma responsabilidademuita grande G

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QUESTÃO 2: Com você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?

SUJEITOS EXPRESSÕES-CHAVE IDEIAS CENTRAIS

1 É um sentimento... na verdade é triste, porque a gente imagina como se fosse com a gente, como se fosse com um parente querido nosso, né. Então a gente...acaba vendo a situação da família, a gente acaba vendo a tristeza da família e... a maioria chora, né, e isso normalmente mexe muito com a gente,né. Então...é...é desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte não.

1 ideia: é triste A

2 Então...é... eu sou enfermeira do pronto socorro , da urgência , e aqui é uma situação é... diferente dos outros setores.Como eu disse pra você, aqui a gente tem a todo momento óbitos, ter que dar informações pra família de óbito em diferentes casos, desde crianças até adultos, em fases terminais, acidentes, né, então ,assim, é muito complicado, porque, assim, a gente tem que parar e respirar fundo mesmo, eu,assim,eu paro ,respiro fundo, sabe, falo: meu Deus como eu vou dar essa notícia pra essa família, coloca as palavras certas na minha boca, né, pra eu dar a informação da melhor forma possível, mas, assim, não tem melhor forma possível, né, a gente tem que falar, não tem como a gente não falar, né. Então ,assim, geralmente, a maioria dos casos quem dá a notícia de óbito aqui sou eu, a maioria; os médicos dão também, mas a maioria é a enfermeira, né. Essa pior parte fica pra gente, eles fogem mesmo, fogem, entendeu?Tem médico que dá? Tem, entendeu, mas assim é um ou outro, é pouco, a maioria é a gente. Então, assim, por aqui ser muito agitado, eu não tenho um espaço pra conversar com a pessoa, né, às vezes eu procuro um lugarzinho mais reservado, chamo a família, coloco a pessoa sentado primeiro, explico e falo: você sabe o que estava acontecendo, o que aconteceu, e já vou, assim, meio que tentando preparar a pessoa. É uma situação totalmente desagradável eu não gosto, não gosto de dar a notícia ,mas eu dou, eu tenho que dar. Eu falo as informações corretas, eu procuro dar assistência espiritual, confortar a família, né, na medida do possível, eu conforto, né. Olha não é agradável você dar a notícia de óbito para uma pessoa, para uma família, ainda mais naqueles estados que eu citei antes, é acidentes, pacientes jovens, morreu

1º ideia: sentimento ruimB

2º ideia: sinto um pouco culpado C

3º ideia: controle emocionalD

4º ideia: acostumadoD

5º ideia: sinto bem quando dou apoio a famíliaE

6º ideia: sentimento não é bom B

ANEXO D - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro - Pergunta 2

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abruptamente, a família não estava esperando, é os casos mais, assim, dramáticos que eu vejo aqui. Nos casos de acidentes, chega pacientes poli traumatizados, jovem, que morreu por acidente, a família entra em desespero. Teve um caso, que eu vou até citar aqui pra você, de uma moça de vinte e poucos anos que sofreu um TCE por acidente, chegou pra gente TCE grave, já agonizando, e fizemos todas as manobras que a gente fez pra ressuscitar ela, né, mas ela veio a óbito. E a família veio atrás em seguida achando que ela tinha sofrido um acidente bobinho, né, que ela bateu o carro. E está ali na frente o pai, a mãe e o irmão, aí eu falei: meu Deus do céu, como que eu vou falar. Aí eu cheguei na portaria, olhei, e eles estão ali rindo,sabe, assim, achando que não tinha acontecido nada de mais. Aí eu peguei, me preparei, pensei e falei: gente como que eu vou falar pra essa família sendo que ela está com o rosto deformado. Aí eu pedi licença para a triagem, falei para a enfermeira da triagem deixar a sala da triagem, chamei os três, coloquei os três dentro da sala, e ...coloquei os três sentados, né, porque eu falei: vai chocar. Aí eu falei: vocês estão sabendo da filha de vocês? Ah! A gente não está sabendo...Daí eu falei: olha , aconteceu um acidente grave com ela, o bombeiro trouxe ela, ela chegou assim, e comecei a relatar, né, ela chegou pra gente com TCE, o que que é TCE? é um traumatismo craniano,ela bateu a cabeça, aí nisso eles já foram ficando apreensivos, já mudaram totalmente a fisionomia.E depois que eu dei,eles choraram, tal ,mas assim, achei que a reação ia ser pior, ai eu falei: olha a filha de vocês ainda está aqui na sala de emergência, vocês gostariam de ver ela? Eu deixo, eu dou esta abertura pra família estar vendo.Tem família que vira e fala pra mim: não enfermeira eu não quero ver, eu prefiro não, a gente respeita.Mas eu mando segurar aqui até a família :não eu quero ver, né. E nesse dia os pais relataram que queriam ver não a gente quer ver a nossa filha, tal, e ela estava deformada, ela estava com o rosto deformado, estava com o rosto completamente deformado, aí eu entrei na sala com os dois, fechei a porta e acompanhei os dois também, porque eu acho que você tem que acompanhar, nesse momento também, porque você não pode simplesmente largar os dois pra ver e não estar junto.Eu, se eu não tenho chance de estar junto,eu prefiro que nem... ninguém entre pra ver, porque eu acho que tem que ter um profissional ou enfermeiro ou algum profissional do lado dessa

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família pra poder, né, prestar algum apoio ali naquele momento.E eles entram, e no que eles entram , eles olham pra menina e falaram pra mim: não enfermeira essa menina aqui não é a nossa filha.Aí eu falei: gente não é possível que eu dei informação pra família errada, não é possível ,né. Não , não é minha filha, dái eu falei: gente eu entreguei os pertences, eles reconheceram os pertences, tal, aí eu falei: meu Deus do céu o que que eu fiz ,né. Só que em um segundo os dois desabaram, assim, e comeram a chorar, ficaram em choque ,né, porque o rosto da menina deste tamanho,aí, eles entraram em choque, ai é que caíram em si, né, foi horrível, foi horrível. Essas mortes traumáticas assim é...é muito ruim, a gente fica com um sentimento, assim...meio ruim dentro da gente assim. Mas ao mesmo tempo, não sei, assim,com o tempo vai passando e a gente meio que vai se acostumando, é uma coisa, assim, é meio....é meio ruim de falar também, porque parece que o povo fala: nossa são frios, vocês tratam a morte assim... vocês são tudo frio, mas não é , você trata a situação, você meio que começa a acostumar e a lidar com ela da melhor maneira possível, entendeu? Isso não prejudica minha vida, da mesma maneira que, assim, é ruim, é ruim, mas eu também não levo isso pra minha vida, entendeu, eu saio pra fora daqui, eu saio com a missão de que eu...dever cumprido, eu fiz o que eu devia fazer, da melhor forma que eu devia fazer, entendeu. Às vezes eu me sinto culpada, às vezes, de não ter dado mais atenção por causa do nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção pra aquela família daquele paciente, né, que está ali quietinho, tal. E às vezes eu me sinto meio culpada de não ter dado assistência, mas assistência pra aquela pessoa, mais porque, por causa do nosso corre-corre aqui. Então, não é com todo mundo de que eu tenho a chance de sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu isso, aconteceu aquilo, sabe, de sentar e dar aquele apoio espiritual, não dá, não dá, porque o nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes eu me sinto até um pouco culpada de não ter dado uma atenção maior pra aquela pessoa que às vezes estava necessitando também, e às vezes passa batido na gente, por causa do corre-corre.Mas é uma coisa que, assim, a gente acaba se acostumando, a gente acostuma, infelizmente a gente acostuma com essa situação. É um sentimento, assim, ruim que dá na hora, assim, da

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gente falar: olha, infelizmente, né, a gente fez tudo que podia, mas não deu pra salvar. É muito ruim, é muito ruim mesmo na hora, na hora ali é muito ruim, mas depois a gente a vai e volta, continua fazendo nosso trabalho meio como se nada tivesse acontecido. Mas, assim, a gente não pode ficar chorando, entendeu, porque se não, a gente tem que ter estrutura, infelizmente a gente tem que ter uma estrutura emocional pra lidar com essa situação, porque se a gente não tem, a gente não dá conta, não dá conta de ficar no setor de emergência e ficar dando notícia de óbito a todo o momento, porque aqui é a todo momento, a todo momento, todo momento, você tem que ficar lidando com esse tipo de situação, então se você não tem um controle emocional pra isso, né, e chora, ah! tadinho, e chorar com todo mundo e desabar com todo mundo, né, não! você tem que ser firme na hora pra você ser o apoio pra aquela pessoa, eu penso assim, você tem que ter... você tem que ser um ponto de apoio.E as pessoas choram, te abraçam e agradecem e .. e conversam e começam expor os sentimentos dela, então você tem que estar preparada pra...pra ter respostas pra aquilo,entendeu, pra poder dar um apoio pra pessoa , seja lá de que maneira que for, você tem que está firme ali pra poder apoiar a pessoa. E eu me sinto bem quando eu consigo fazer isso, sabe, que as pessoa agradecem, fala obrigada por tudo que vocês fizeram, pela assistência que meu pai, meu avô , meu filho teve aqui, né. E eu sempre me coloco a disposição e aquelas pessoas que não tem condição, assim, tem uma condição financeira que não permite estar pagando o funeral pro paciente, então eu falo: vocês tem condições,a gente tem o serviço social aqui que pode estar ajudando vocês, então eu já encaminho, porque a pessoa fica totalmente desnorteada . Então a gente tem esse papel também de estar encaminhando, falando: oh! A gente tem um serviço aqui que pode estar ajudando você, agora você vai ter que fazer isso, isso e isso, porque tem gente que não está nem aí, né, se a pessoa tem condições de estar pagando o funeral pro paciente ou se não tem, não está nem aí, morreu, morreu e pronto acabou. E é o nosso papel estar passando isso, então eu procuro passar da melhor maneira possível, confortar, porque morte é uma coisa muito complicada, né, lidar com a morte de parente, de ente querido, a gente tem que parar e se por no lugar, como se fosse meu pai, minha mãe,

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como que eu gostaria de ser tratada nesse momento. Então eu procuro me colocar no lugar e estar firme e forte pra poder é.. passar da melhor maneira e dar assistência pra pessoa. O sentimento não é bom, não é bom mesmo, mas assim, com os anos que eu tenho de profissão a gente meio que acaba acostumando mesmo. É uma situação que a gente acostuma.

3 Ah! Eu sinto... é um sentimento de dor também , de tristeza ,né, muita angustia, porque é complicado você tem que informar e você ver a reação deles e você está ali e você não pode fazer nada, a única coisa que você pode fazer é.. pegar na mão, né, é..... é triste!

1º ideia: sentimento de dor F

2º ideia: sentimento de tristeza, angústiaA

4 Me sinto... impotente, geralmente a gente pergunta aonde foi a falha, embora a gente saiba que muitas vezes não tem, né. É uma situação de risco que você não tem como resolver, mas a gente como profissional a gente se sente impotente, e ao mesmo tempo é uma sensação de...é você começar projetar essa perda para vida particular sua.

1º ideia: me sinto impotenteG

5 Eu procuro não absorver a situação no momento, né, pra mim poder ter forças pra estar falando,porque muitas vezes é uma mãe, é um pai, que está perdendo um filho jovem, que..não queria estar recebendo aquela notícia, nem naquela hora e nem tão cedo. Então...apesar de ficar assim...triste, agente tem que ficar neutro, pra gente conseguir dá apoio pra esse familiar, que nesse momento ta precisando tanto desse apoio.

1º ideia: eu procuro não absorver a situação no momento, ficar neutroD

2 º ideia: triste A

6 A gente... eu me sinto triste, angustiada , me coloco no lugar dos familiares, que poderia ser um ente querido meu. E a gente fica com aquele sentimento de impotência, de ter feito tudo e ao mesmo tempo não ter feito nada para que não tivesse ocorrido o óbito. É muito...muito triste.

1º ideia: eu me sinto triste, angustiada A

2º ideia: a gente fica com aquele sentimento de impotência G

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7 Então...é um momento de tristeza.É...é bem complicado pra gente falar, só que com o decorrer do tempo, com o...né, a gente dá tanta informação ,assim, pros familiares que acaba sendo natural, a morte infelizmente virou uma coisa natural dentro da área da enfermagem,da área da saúde. Então é meio que automático, é um momento de tristeza, eu compreendo que é um momento de tristeza pra família, mas informar em si é um momento, assim, natural, virou automático, apesar de ser de tristeza.

1 º ideia: é um momento de tristezaA

2º ideia: acaba sendo natural, automáticoD

8 É...assim...variedades, né, de paciente pra paciente, tem paciente que estava no quadro grave, muito tempo internado.Então hoje, a gente já tem uma preparação dessa família, psicóloga, né, a gente com o médico conversa,a gente já chega nele e fala: e ai? Como que está o quadro? O senhor já vai avisar a família? Né, porque às vezes ele já fala pra gente: o caso é grave, já avisa a família.E os que não fala a gente vai atrás e pergunta.Aqui na clínica médica quando os residentes estão aqui, eu sempre vou atrás dele e peço pra eles mesmo comunicar. Agora, quando não tem, eles não estão no hospital, aí a gente mesmo comunica. Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu tenho, eu ainda tenho muita dificuldade. Além da dificuldade de passar por isso, eu tenho dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre aquilo e como me comportar junto... entendeu? Eu não tenho palavra. Porque é sempre uma pessoa que está sempre convivendo, falando, informando o quadro, tal,e a hora que acontece isso é difícil.Eu me sinto... até hoje eu não estou preparada.Ah! eu sinto mal, já teve dia de ficar sem dormir, por.. ah eu podia ter feito isso e não fiz...mas eu não consigo mesmo, tenho dificuldade.

1º ideia: eu sinto a maior dificuldade H

2º ideia: eu sinto malB

9 Muito constrangido, limitado. 1º ideia: constrangido,limitadoG

10 Em todos casos de óbito, ao informar aos familiares, há sempre um sentimento de tristeza, impotência. Mas apesar de tudo isto, precisamos estar preparados para este momento, afim de apoiarmos os familiares nesta hora tão difícil.

1º ideia: sentimento de tristeza A

2º ideia; sentimento de impotência G

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11 Me sinto muitas vezes triste pelo familiar e por não ter sido possível salvar o paciente ou recobrar a sua saúde; tento encarar como sendo o sentido natural da vida,assim, algumas vezes se torna mais fácil.

1º ideia: me sinto muita vezes triste A

12 Ah! Eu me sinto muito mal, foi muito difícil todas às vezes que eu tive que fazer isso. É...dá uma tristeza, você tem que ter uma estrutura psicológica muito boa pra você não fica... porque se não você fica tão aborrecido quanto os familiares e você acaba em vez de apoiar deixando eles mais apreensivos.Foi umsentimento muito ruim , muito triste , eu pensei no ocorrido durante muito tempo, demorei pra tirar da minha cabeça a lembrança de todo acontecido, da notícia, da reação deles. É muita...muita... tristeza , é muita dor.

1º ideia: me sinto muito mal B

2º ideia: tristeza A

3º ideia: um sentimento muito ruimB

4º ideia; é muita dor F

13 Então, o óbito, né, acontece sempre, sempre está acontecendo, sempre tem um caso a parte assim. Algum caso que você espera, outro caso que você não espera. Então, é, por exemplo, a família interna um paciente e o paciente já está numa situação delicada, então o familiar já consegue reconhecer que o tempo de vida é mais curto, né. Somente Deus pra disser quando a pessoa vai morrer, realmente vai morrer, mas a gente tem que fazer tudo que puder. Mas quando o paciente já vem apresentando uma doença progressiva, né, vai deteriorando aos poucos, dia a dia, o familiar consegue reconhecer que realmente a morte pode ser a melhor opção para evitar o sofrimento do paciente, são questões altamente éticas, cada um tem um ponto de vista em relação a isso, né, a gente tem que ser o mais ético possível. Mas algumas outras situações o paciente realmente acontece é.. vamos colocar a situação do idoso e a situação do adulto. Paciente idoso evoluindo dessa forma como eu acabei de citar, grave, com alguma doença, já enfermo a muito tempo,então, esse paciente morreu quando você vai avisar, você às vezes leva um alívio pra pessoa, né, você leva um alívio pra pessoa,então, às vezes o paciente muitas vezes o paciente está internado, na minha situação o paciente está internado, o paciente vai a óbito e você vai avisar o familiar e o familiar já entende mais. Então, você, às vezes, leva um alívio, você leva um

1º ideia: alívio, quando foi feito tudo que poderia ser feitoE

2º ideia: sentimento de impotência G

3º ideia: um pouco frustradoG

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alívio para aquele sofrimento, e você já avisa e já dá o conforto pra família, então você consegue fazer isso muito bem. Então é uma situação que você já fez tudo, você já acompanhou, você já passa por um processo de luto , de perda ali e você aceita melhor e passa melhor pro familiar. Então essa situação às vezes é até agradável de passar. A família é claro,que o familiar é claro que vai sentir a falta daquela pessoa , daquela pessoa que eles amavam muito, mas é muito mais fácil da pessoa aceitar e você comunicar,então você sente um alívio também junto com a família ,olha o paciente foi a óbito mais fizemos tudo que poderia ser feito, até aborda a questão da espiritualidade. Foi necessário rezar com o paciente a gente rezou, foi necessário a gente chamar o familiares e encher o quarto, não é da instituição, você não pode subir com mais de uma pessoa, mas o paciente estava morrendo , não teria como fazer mais nada, e a gente trouxe a família dele e ele morreu com a família dele,então ótimo, é uma situação de alívio, às vezes você nem precisou avisar , todo mundo viu o que aconteceu, então você não precisou informar.Então, a situação é uma situação de alívio, então a gente fica até gratificado com isso , a gente sabe tudo que a gente fez, terminou em óbito terminou, mas era pra ser assim.Agora,você pega um paciente adulto , uma situação de um trauma, por exemplo no pronto socorro, paciente de acidente automobilístico, né, que acontece demais, só um acidente de moto, mas...ninguém espera que esse paciente vai morrer, o paciente não tem nenhuma doença crônica, não tem diabetes , não tem hipertensão, então está cheio de vida ali, cheio de esperança, cheio de planos,esse paciente é mais difícil, é muito difícil de informar. Então, esse paciente, né, a família esta esperando no convívio normal, cotidiano normal, vivendo uma vida normal cheio de esperança, quando sofre um acidente , e a gente aborda ele no pronto socorro , infelizmente às vezes vai a óbito, este paciente pra avisar é muito difícil,porque a família não consegue assim é...não enxerga esse paciente numa situação...nessa situação, porque sempre acha que vai acontecer com os outros, nunca vai acontecer com eles. E você chega é vai avisar a família, você vê que a família é uma dor muito grande. Alguns se revoltam com você, porque você não fez nada, eles se revoltam contra o serviço, porque que morreu , do que que morreu, acha que foi erro da gente,às vezes porque que você não ajudou, mas ele era tão cheio de vida , né. Então

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é uma situação que a gente sente assim é impotente também, por não ter ajudado, porque a gente sempre esta tendo aquela compaixão com o paciente, né, principalmente a gente que é enfermeiro. Então você olha para um paciente aos 20 , 25 anos morrendo por uma trauma, a gente analisa todo um contexto. Então na hora de informar a gente sente um sentimento de impotência; a gente carrega isso com a família, né , a família vem fala, vai falar né, nossa mas porque , 28 anos, cheio de vida;então você traz essa bagagem da família e você começa pensar, nossa será que agente fez tudo realmente, será que a gente poderia ter feito diferente .Como nós somos uma equipe multiprofissional, às vezes a gente pensa que o outro profissional poderia ter feito melhor, a gente mesmo poderia ter feito melhor.Então são estas situações assim que às vezes deixa a gente um pouco frustrado, porquevocê não consegue resolver tudo e a morte não dá pra controlar, principalmente em situações inesperadas.Então, quando a gente vai informar, você não se sente um alívio como naquela situação do idoso; na situação do adulto você sente uma situação de impotência, porque assim, você tem um crescimento interior assim muito grande de acordo com essas situações que vão acontecendo.Então você sente uma sensação de impotência, umasensação de voltar-se para o seu interior , de pensar, com essas situações. Agora depende muito do profissional, de como ele evolui dessa forma, de acordo com a situação, tem gente que cresce com isso , tem profissional que não, é uma pena né. Então, toda situação que a gente vai vivendo a gente vai crescendo, você sente.. é um sentimento de impotência, você se volta pra dentro, começa pensar na sua vida também, então tudo isso serve pra crescimento.Então, basicamente é isso , são duas situações que você vai avisar a família, e uma vocêvê realmente que você se sente impotente e outra você leva um alívio, então é isso. Considero essas as duas vertentes.

14 Particularmente não gosto, e acho que esta informação cabe ao médico, pois normalmente é ele que acompanha e conduz o caso, porém se eu tiver de informar , me sinto muito triste, mal e impotente.

1º ideia: me sinto muito triste A

2º ideia: mal B

3º ideia: impotente G

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15 Então, assim, é... complicado, né, principalmente quando é criança e jovem,assim, porque a gente está preparado pro idoso, mas pra essa faixa etária a gente não está preparada, né, e assim, é... quando também o paciente ficou muito tempo com a gente,assim, a gente começa conhecer a família, né, então, assim...é angustiante, assim, às vezes você se envolve, você não pode se envolver mas você acaba se envolvendo, né, é triste, né. Mas a gente também, assim... eu que trabalho a mais tempo a gente vai ,assim,vamos falar entre aspas “acostumando”, né, mas é..é bem difícil.

1º ideia: angustianteA

2º ideia: a gente vai acostumandoD

16 Mesmo não conhecendo muitas vezes os familiares, sentimos tristeza, pois todos nós já perdemos alguém querido e isso é de grande sofrimento.

1º ideia: sentimos tristezaA

17 É muito doloroso. Apesar de sentir que o paciente está sofrendo muito, ao informar a família sobre o óbito sinto um vazio dentro de mim. Me coloco no lugar dos familiares e junto com eles sofro por dentro e tento ao máximo confortá-los nem que seja com um abraço.

1º ideia: é muito dolorosoF

2º ideia: sinto um vazio dentro de mimA

18 Sinto muita das vezes entristecida, porém o fato de tentar dar todo o suporte, atenção e cuidado possível ao paciente me conforta. Às vezes nos apegamos ao paciente ou até mesmo a família, mas temos que não nos abalar e fazer a nossa parte, sermos profissionais, além de tudo.

1º ideia: Sinto muita das vezes entristecidaA

19 Sinto-me infinitamente triste como se fosse ter que informar minha própria família. Querendo ou não acontece o apego entre o profissional e o paciente, principalmente aquele que permanece internado por um longo período. É um sentimento de perda mesmo.

1 º ideia: Sinto-me infinitamente triste A

2º ideia: É um sentimento de perda mesmoI

20 Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras dependendo da reação dos familiares.

1º ideia: Me sinto bastante tenso J

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QUESTÃO 1 - Para você o que significa informar o óbito aos familiares?

1º IC: Fazer as pessoas sofrerem

Nº EXPRESSÕES CHAVES M1 Significa que eu vou fazer uma, várias pessoas sofrerem. Significa que

a gente está fazendo as pessoas sofrerem.

2º IC: Situação difícil, complicada, desconfortável e de agressão para o profissional

3º IC: Condição inerente da profissão

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 2 É importante o trabalho que faz parte, é uma coisa que faz parte do

nosso trabalho. M 4 É uma condição inerente a profissão médica, visto que a morte é um

evento. Significa um cargo e faz parte do serviço e responsabilidade médica.

M 6 Informar o óbito a um familiar é uma das tarefas da prática de um modo geral de todo profissional de saúde. É inerente da prática do dia a dia.

M 12 Uma tarefa que faz parte do serviço. M 14 Função do profissional, isso é o que significa.

ANEXO E - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico - Pergunta 1

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 1 É uma coisa muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar

informando isso.M 2 É uma coisa triste, a gente se coloca muito no lugar do familiar

também.M 5 Lógico que não sente bem. Informar o óbito a um familiar é uma das

tarefas mais... mais difícil da prática, é... médica, da prática de um modo geral de todo profissional de saúde. É uma tarefa árdua, difícil.

M 10 Acredito que esse é o momento mais difícil da relação médico, paciente e familiares.

M 11 É um sofrimento, significa sofrimento, porque... além da gente passar pelo sofrimento de estar perdendo o paciente também, a gente sente com isso, é... você ainda tem que tirar força. A primeira vez, você fica ...como você...você mesmo tivesse recebendo a notícia, fica meio sem ação, mas é...é bastante complicado.

M 12 Eu tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável.M16 Sentimento de tristeza.M 18 Era duro demais. M 19 Eu me sinto agredida de ter que informar

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M 15 Acho que faz parte da rotina da gente. Isso aí nada mais é do que mais uma forma de consulta, uma rotina na vida da gente.

M 17 O exercício profissional. É um dever meu. M 18 Era um serviço como outro qualquer.

4º IC: Fácil, se o óbito era esperado

Nº EXPRESSÕES CHAVESM 3 Se os familiares conheciam a gravidade é mais fácil, pois o óbito era

esperado.M 5 Agora quando o paciente já mais idoso chega a morbidade fica mais

fácil pra gente.

5º IC: Ser honesto e objetivo

Nº EXPRESSÕES CHAVESM 3 Se não havia gravidade, sou objetivo: “o paciente foi a óbito”. É melhor

o impacto da morte. M 20 Significa ser o mais honesto e objetivo possível, não omitindo nenhum

detalhe sobre o quadro clínico e sobre o motivo que levou ao óbito. Resumindo, falar sempre a verdade e sem embromação, embora seja um momento doloroso, você não pode fugir disso.

6º IC: Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem

7º IC: Transmitir um desfecho de maneira diferenciada

Nº EXPRESSÕES CHAVESM 6 Significa dá a notícia, mas sempre com um caráter humano e

respeitando a dignidade, a individualidade da família. M 7 Significa transmitir um desfecho. Então significa... cuidado, significa

atenção, significa é...solidariedade.

M 10 O mais importante creio eu... minimizar as dores da família. mais importante é minimizar essa dor ... na vida desses entes que... que vão perder um ente querido, então o mais importante mesmo é minimizar as dores dos familiares.

M 11 Ter um jeito especial pra consegui passar isso de uma forma mais amena pro familiar.

M 17 Então acima de tudo é um dever profissional meu, tem que ser feito

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 5 Quando o paciente é mais novo pra mim é uma falha no sucesso

terapêutico

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com uma certa sutileza, não é simplesmente dar a notícia de uma maneira diferenciada, cada ser humano vai reagir de um jeito, então não é só simplesmente informar o paciente, é tentar esclarecer e explicar o que aconteceu e o que justifica para aquela situação naquele momento.

8º IC: Perda irreparável para a família e limitação para o médico.

Nº EXPRESSÕES CHAVESM6 É o fim da linha do ponto de vista médico. M 8 Eu acredito que é informar que aquele ente querido, né, foi embora, né,

e você nunca mais vai vê-lo, então é informar uma perda que é irreparável. A gente está informando que houve uma perda e aquilo não vai, não existe mais volta. A gente tem um certo limite, né, então você chego ao seu limite e você não vai pode fazer mais nada, informar pra família a nossa humanidade também, então nós tentamos até o ponto que foi possível e depois disso nós não podemos fazer mais nada. Então assim, de certa forma, você informa pra família que nós também somos... é.. nós somos limitados, né, até certo ponto.significa a nossa limitação como médico, né, como ser humano, né. Nós não somos deuses, né, nós não somos deuses, a gente não consegue fazer além do limite nosso, né. Então a gente... significa a perda pra família, né, e significa também a nossa limitação como ser humano, como médico.

M 9 Informar o óbito significa informar o fim, né, e pra maioria das pessoas o fim é muito doloroso. Então o fim, é ...a gente chega e fala:oh! é o fim , acabou, e aí, o pra nunca mais serve nessa hora, aí é nunca mais mesmo, então, nunca mais você vai ver a pessoa, nunca mais ela vai estar presente na sua vida, então, é o único momento na vida do ser humano que o “nunca mais” cabe. Então informar pra família o óbito é informar o “nunca mais” do ser, do ente querido dessa pessoa.

M 13 Dar conhecimento de que aquele ente querido não mais vai voltar, não vai mais fazer parte de sua vida.

M 16 Impotência perante a morte. M 19 É.. chegar e dizer que vai ter uma separação. Infelizmente a mãe ou

pai daquela criança nunca mais terá aquele ente querido com ele. Dizer assim, que haverá uma separação, simplesmente eles não estarão mais juntos. Os dois terão que ser separados, a criança do pai com a mãe.

9º IC: Algo técnico e mecanizado

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 18 Técnico demais, muitas vezes a gente não tinha entrado em contato

com o paciente, a gente só sabia que a criança tinha morrido. E assim que a gente informava de uma forma bem mecanizada, a gente si afastava, a gente não se envolvia com o sofrimento deles.

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QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?

1º IC: Muito mal, agredido, não aceitação

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 5 Atestar óbito a paciente jovem e não foi nada bom, não teve uma boa

aceitação pra gente médicos também não. M 7 Não é um sentimento muito bom, mas ele faz parte do nosso dia a dia. M 8 Eu, pessoalmente, eu me sinto muito mal de ter que informar. Quando

é uma fatalidade, um acidente automobilístico, um trauma... uma...previamente hígida que não tinha nada... e foi a óbito assim muito abruptamente, isso pro médico é muito difícil de aceitar... pro médico também é difícil de aceitar.

M 13 Angustiado. M 17 É uma sensação bem desagradável, porque ninguém gosta de dar

notícias ruins pra ninguém... não é muito agradável ...eu não me sinto muito bem.

M 19 Eu me sinto agredida...me sinto muito mal tendo que informar , mesmo sabendo que isso faz parte do processo, do óbito... agredida de ter que passar isso pra família.

2ºIC: Triste

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 2 A gente fica muito triste, O primeiro sentimento é de tristeza mesmo. M 5 Eu me senti... fiquei uns três dias pensando nisso... muito triste. M 9 Tem hora que a gente chora junto, tem hora que a gente não consegue

falar... várias vezes...eu choro antes da família. apesar de,né, as pessoas acharem que o médico não tem sentimento, que a gente é muito frio não é não.

M 10 A gente sente muito nesse momento, às vezes a gente fica até sem palavras pra falar pra família de tanto vínculo que a gente criou com esse paciente.

M13 Angustiado. M 14 A gente si sente parte daquilo... é impossível ser imparcial. M 15 Dificilmente a pessoa sai bem, dorme bem, geralmente sempre fica

chateado.M 16 Tristeza. M 17 É um sentimento de tristeza. M 18 Eu acho que eu abraço a notícia, todas as vezes eu choro junto. M 19 A gente se sente emocionalmente abalada. M 20 Eu me sinto como uma parte triste da minha profissão.

ANEXO F - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico - Pergunta 2

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3º IC - Sem envolvimento emocional

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 1 Porque pra gente a gente é um pouco frio, a gente lida com isso todo

dia, então tem assim muitos casos graves que a gente fala: olha descanso. é um papel que até a gente não sente tanto porque não faz parte da família da gente. a gente vê que a família está sofrendo, mas não... não aquele sentimento seu, é diferente se fosse um parente seu. Então a gente sente mal por ter também esse sentimento, por ser tão frio, mas se você não for assim, você não consegue trabalhar num serviço de urgência e emergência, então você tem que ser.

M 3 De forma natural. A vivência nos traz entender o ato de nascer-morrer. M 12 Não...não me dá tristeza porque já ficou assim tão rotina, por causa da

freqüência. Eu trabalho com terapia intensiva, por eu está na UTI, então acontece, às vezes, duas ,três vezes no dia deu te que dá notícia de óbito, então assim, se tornou uma rotina tão comum que pra mim é mais uma tarefa, faz parte do serviço, não mais aquela... sensibilidade tudo.se você começa senti todo esse sofrimento e se envolve demais com a família, eu vou ser eternamente deprimida, porque eu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então se eu for envolver muito emocionalmente, eu vou ter que fazer tratamento eterno com psiquiatra, vou ter que tomar antidepressivo eternamente, não tem como assim.. você se envolver tanto. não faz diferença pra mim, eu não me envolvo emocionalmente.

4º IC- Aceitação, alívio

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 4 Quando a morte é esperada há um certo alívio em dar a notícia,

porque é como se houvesse o fim de um sofrimento. M 5 Mais fácil se está esperando, geralmente paciente idoso, tipo

morbidade... tem uma aceitação melhor. M 8 Quando... você fez tudo que você sabia que seria feito... realmente

não teria como... ela iria morrer de qualquer forma, isso é um pouco melhor aceito pra gente. A qualidade de vida dela, depois daquele fato seria muito ruim ou ela sofreria muito, né, então assim, é um pouco mais, melhor aceito pela gente, pelo médico.

M 10 Primeiramente a gente se tem um dever tranqüilo de que se foi feito de tudo pra tentar salvar a vida desse paciente.

M 17 É uma doença terminal então a gente até se senti um pouco mais confortado pelo fato de saber que aquilo não tem reversibilidade.

5º IC- Dor

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 4 Mas quando a morte não é esperada a informação é dolorosa. M 8 Pra mim significa uma dor mesmo, mais de qualquer forma é doloroso

a informação do óbito.

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6º IC - Responsabilidade diante da família

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 9 É um sentimento assim de ... o ser humano de uma maneira geral

enxerga nós médicos, né, uma pessoa assim que eles entregaram seu ente querido pra gente, pra gente devolve-lo de uma maneira boa, a gente sente uma responsabilidade muito grande,né, porque é a hora em que a família chora, que a família se desespera e nós temos que ficar forte diante deles, né, porque eles tem na gente uma pessoa importante nesse horário.

7º IC- Impotência

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 2 É como se você tivesse tido um insucesso no seu tratamento, porque a

gente forma médico a gente quer salvar, nunca a gente quer que a pessoa morra.

M 7 É um sentimento de incapacidade, de impotência. M 11 Bom, pra mim... é uma sensação de impotência diante do familiar,

porque a gente nunca quer que morra. E se você está cuidando de um paciente e a hora que ele vai à óbito você vai dar essa notícia é como se você não tivesse conseguido seu objetivo, você não conseguiu aquilo que é tua função. no primeiro momento é uma sensação de impotência, porque você queria dá de volta aquele paciente pra família, mais às vezes não é possível.

M 15 Sentimento de impotência de não ter conseguido salvar a pessoa, é esse o sentimento que fica.

M 17 É um sentimento de incapacidade, de não ter podido ajudar ou de não ter condições de não ter feito nada pra poder reverter a situação.

M 19 Eu como médico não consegui dá conta.. não teve jeito... está além da nossa capacidade, infelizmente a gente se senti incapaz naquele momento, não consegui dá conta e tem que informar aquilo pra mãe. Então eu me sinto incapaz.

8º IC- Perda

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 7 É um sentimento às vezes de perda. M 8 Essa informação de perda é muito difícil. Então assim, pro médico isso

é uma perda tem pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas que não lidam, né, que carregam isso pra sua vida pessoal. A perda do paciente.

M 16 Perda de um paciente. M 17 Em alguns casos ... é uma perda.

9º IC- Segurança e profissionalismo

Nº EXPRESSÕES CHAVES M 6 É... me sinto com segurança.

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M 16 eu tenho que me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos familiares. É... sem deixar aparecer os meus sentimentos como pessoa, como choro, feição de tristeza. Eu tenho que me colocar como profissional.

M 17 Tem que ser feito com certo profissionalismo, então a gente tem que ser bem profissional. A gente tem que cumprir com o exercício daquilo que foi programado pra gente.

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QUESTÃO 1 - Para você o que significa informar o óbito aos familiares?

1º IC: Algo importante

2º IC: Situação difícil

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 2 É uma situação...é difícil, é complicado, porque ,assim , morreu dentro

do hospital, dentro do seu ambiente de trabalho. informar o óbito não é só chegar lá e falar: seu paciente, seu parente morreu, faleceu, não é só isso, existem outras coisas envolvidas no óbito, né... Então assim, eu preciso falar o que que aconteceu, o que que fez, o que que não fez, o por que que morreu... Então dar a notícia de óbito não é simplesmente chegar lá e falar que a pessoa morreu, né, então você tem que chegar lá preparado pra o que você vai falar...Então assim, é complicado, então não é só a notícia de que o parente morreu, né, você tem que ver uma leva de coisas atrás, né, não é só a notícia do óbito em si, né, você tem que falar tudo ali, o que aconteceu, como que estava, como que não estava, o que que foi feito, o que que não foi feito... Dá a notícia do óbito não é só simplesmente falar que a pessoa morreu, né, você tem que estar, assim,completamente respaldada de coisas... então é um pouquinho complicado, né, não é tão simples assim.

E 7 É um momento muito delicado...É um momento delicado, porque... a gente não sabe qual que é reação da família, a gente não sabe se era aquilo que a família tava esperando. Então é uma... uma situação muito... complicada pra gente também, porque a gente tem que está preparada psicologicamente.

E 8 É uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar isso. E 9 Momento muito difícil, mesmo porque não estamos respaldados e nem

preparados para responder a todas as perguntas que poderão ocorrer. Lidar com os sentimentos humanos é muito complexo, haja vista o grau de aceitação, compreensão do sofrimento.

E 10 Significa um momento muito difícil. E 11 É um momento muito difícil pra mim, pois... às vezes acabo me

ANEXO G - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Enfermeiro - Pergunta 1

Nº EXPRESSÕES CHAVES E1 É uma parte muito importante, é uma das partes mais importante, né,

até do óbito mesmo , porque envolve muita coisa, né.

E 3 Eu acho que pra parte da enfermagem é importante, porque a gente está ali a gente pode dar todo apoio. Eu vi que é importante, tem que estar ali, tem que prestar, e dar toda ajudam pro familiar e tem que apoiar mesmo, é importante que o enfermeiro esteja junto para informar, pra dar o apoio.

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envolvendo no sofrimento do familiar. E 12 É uma coisa bem complicada. É uma tarefa bem difícil, porque assim

que você dá a notícia tem todo um... uma não aceitação, né, ao que acontece... é bem complicado.

E 13 Então é uma situação assim...é meio.. assim, você não sabe como dizer, né... Então é uma situação muito delicada, muito difícil, não é fácil de dizer.

E 18 É uma tarefa difícil para o enfermeiro.

3º IC: Insucesso

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 4 Informar o óbito pros familiares é você...chegar para a família e falar:

“não teve uma vitória”, o que nós esperávamos de sair vitoriosos perante a situação, perante o processo morrer... não deu... é... um sentimento de...quase assim de...”eu não consegui” resolver o problema seu, resolver o problema de seu ente querido.

E 5 É uma sensação, pra mim, um pouco de impotência, assim, às vezes pode ser uma falha que a gente tenha cometido.

E 13 É um significado, quando você vai informar né, que você não conseguiu né, que você fez tudo, mas não conseguiu.

4ºIC: Resultado negativo

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 4 Nós estamos passando um resultado negativo... um resultado negativo

tem como você reverter, mas nessa situação não tem como. E 8- É uma notícia ruim. E 12 Então é um significado muito pesado, muito forte. E 13 É... você tirar a esperança de alguém que estava com esperança de

você resolver o problema, significa a falta de esperança que você leva pro familiar... E ela estava cheia de esperança, então o significado é você tirar essa esperança... Então o que significa... é você tirar a esperança de vida, porque eles chegam com uma esperança que você vai resolver o problema, e você chama ele e aquela esperança não tem, não tem mais esperança, o paciente já foi a óbito.

E 14 Na verdade é como comunicar o nosso próprio fim, uma frase de tristeza e de pesar.

5º IC: Experiência dolorosa

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 10 Ser portadora de uma notícia tão dolorosa para a família, é uma

experiência também dolorosa para mim. E 12 Pra mim significa, assim, muita dor. E 17 Apesar de muito tempo na profissão, significa algo que mexe ainda

com o sentimento.

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6º IC: Uma responsabilidade

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 6 Significa uma responsabilidade muito grande, porque os familiares tem

que entender o que levou ao óbito, é muito difícil às vezes pro familiar compreender que foi realizado de tudo para evitar o ocorrido.

E 15 Eu acho que é uma necessidade, né, que a pessoa tem, a gente tem que informar o mais rápido possível a partir do momento que aconteceu.

E 20 Significa ter uma responsabilidade muito grande, pois não sei como os familiares podem reagir, devido ao momento de perda.

7º IC: Depende do motivo do falecimento

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 2 É mais difícil dar a notícia pra aquela pessoa que não estava

esperando do que aquela que já estava esperando. E 16 Depende do motivo do falecimento, pois quando já esta em sofrimento

muitas vezes os familiares aceitam de forma mais serena, e outras vezes mesmo assim acham que poderíamos ter feito mais pelo paciente.

8º IC: Um ato de solidariedade

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 11 Procuro ser o mais humana possível ao passa a notícia do óbito, tento

ser o mais empática possível, pois é um momento doloroso do familiar que deve ser respeitado.

E 19 Informar o óbito significa um ato de atenção para com a família; um ato de solidariedade perante uma situação desagradabilíssima.

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QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?

1º IC: Triste

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 1 É um sentimento... na verdade é triste, porque a gente imagina como

se fosse com a gente, como se fosse com um parente querido nosso... a gente acaba vendo a tristeza da família... e isso normalmente mexe muito com a gente.

E 3 É um sentimento de tristeza, muita angustia... porque é complicado você tem que informar e você ver a reação deles e você está ali e você não pode fazer nada, a única coisa que você pode fazer é.. pegar na mão, né, é..... é triste!

E 5 Ficar assim...triste. E 6 Eu me sinto triste, angustiada , me coloco no lugar dos familiares, que

poderia ser um ente querido meu... É muito...muito triste. E 7 É um momento de tristeza E 10 Em todos casos de óbito, ao informar aos familiares, há sempre um

sentimento de tristeza. E 11 Me sinto muitas vezes triste pelo familiar e por não ter sido possível

salvar o paciente ou recobrar a sua saúde. E 12 Dá uma tristeza, você tem que ter uma estrutura psicológica muito boa

pra você não fica... porque se não você fica tão aborrecido quanto os familiares e você acaba em vez de apoiar deixando eles mais apreensivos... um sentimento muito triste... eu pensei no ocorrido durante muito tempo, demorei pra tirar da minha cabeça a lembrança de todo acontecido, da notícia, da reação deles.

E 14 Me sinto muito triste. E 15 É angustiante, assim, às vezes você se envolve, você não pode se

envolver, mas você acaba se envolvendo, né, é triste. E 16 Mesmo não conhecendo muitas vezes os familiares, sentimos tristeza,

pois todos nós já perdemos alguém querido e isso é de grande sofrimento.

E 18 Sinto muita das vezes entristecida E 19 Sinto-me infinitamente triste como se fosse ter que informar minha

própria família.

2º IC: Mal

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 1 É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte não. E 2 Essas mortes traumáticas assim é...é muito ruim, a gente fica com um

sentimento, assim...meio ruim dentro da gente assim. O sentimento não é bom, não é bom mesmo.

E 8 Eu sinto mal, já teve dia de ficar sem dormir, por.. ah eu podia ter feito isso e não fiz...

E 12 Ah! Eu me sinto muito mal.

ANEXO H - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD2) Enfermeiro - Pergunta 2

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E 14 Me sinto mal.

2º IC: Culpado

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 2 Às vezes eu me sinto culpada, às vezes, de não ter dado mais atenção

por causa do nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção pra aquela família daquele paciente, né, que está ali quietinho, tal. E às vezes eu me sinto meio culpada de não ter dado assistência, mais assistência pra aquela pessoa, mais porque, por causa do nosso corre-corre aqui. Então, não é com todo mundo de que eu tenho a chance de sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu isso, aconteceu aquilo, sabe, de sentar e dar aquele apoio espiritual, não dá, não dá, porque o nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes eu me sinto até um pouco culpada de não ter dado uma atenção maior pra aquela pessoa que às vezes estava necessitando também, e às vezes passa batido na gente, por causa do corre-corre.

3º IC: Alívio e conforto

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 2 Você tem que está firme ali pra poder apoiar a pessoa. E eu me sinto

bem quando eu consigo fazer isso, sabe, que as pessoa agradecem, fala obrigada por tudo que vocês fizeram, pela assistência que meu pai, meu avô , meu filho teve aqui.

E 13 Então você sente um alívio também junto com a família ,olha o paciente foi a óbito mais fizemos tudo que poderia ser feito. Então, a situação é uma situação de alívio, então a gente fica até gratificado com isso , a gente sabe tudo que a gente fez, terminou em óbito terminou, mas era pra ser assim... você vai avisar a família... e outra você leva um alívio.

E 18 O fato de tentar dar todo o suporte, atenção e cuidado possível à família me conforta.

4º IC: Dor

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 3 É um sentimento de dor. E 12 É muita dor. E 17 É muito doloroso. Me coloco no lugar dos familiares e junto com eles

sofro por dentro. 5º IC: Impotente

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 4 Me sinto... Impotente, geralmente a gente pergunta aonde foi a falha,

embora a gente saiba que muitas vezes não tem, né. É uma situação de risco que você não tem como resolver, mas a gente como profissional a gente se sente impotente.

E 6 A gente fica com aquele sentimento de impotência, de ter feito tudo e ao mesmo tempo não ter feito nada para que não tivesse ocorrido o

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óbito.E 9 Limitado. E 10 Em todos casos de óbito, ao informar aos familiares, há sempre um

sentimento de...impotência. E 13 É uma situação que a gente sente assim é impotente também, por não

ter ajudado. Então na hora de informar a gente sente um sentimento de impotência. Então são estas situações assim que às vezes deixa a gente um pouco frustrado, porque você não consegue resolver tudo e a morte não dá pra controlar, principalmente em situações inesperadas. na situação do adulto você sente uma situação de impotência. Então você sente uma sensação de impotência, uma sensação de voltar-se para o seu interior , de pensar, com essas situações. É um sentimento de impotência, você se volta pra dentro, começa pensar na sua vida também. Você vai avisar a família... você vê realmente que você se sente impotente.

E 14 Me sinto impotente.

6º IC: De forma natural

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 2 Você meio que começa a acostumar e a lidar com ela da melhor

maneira possível, entendeu? É uma coisa que, assim, a gente acaba se acostumando, a gente acostuma, infelizmente a gente acostuma com essa situação. Depois a gente vai e volta, continua fazendo nosso trabalho meio como se nada tivesse acontecido.

E 7 Com o decorrer do tempo, com o...né, a gente dá tanta informação ,assim, pros familiares que acaba sendo natural, a morte infelizmente virou uma coisa natural dentro da área da enfermagem,da área da saúde. Então é meio que automático. Informar em si é um momento, assim, natural, virou automático.

E 15 Eu que trabalho a mais tempo a gente vai ,assim,vamos falar entre aspas “acostumando”.

7º IC: Dificuldade

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 8 Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu

tenho, eu ainda tenho muita dificuldade. Além da dificuldade de passar por isso, eu tenho dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre aquilo e como me comportar junto... entendeu? Eu não tenho palavra. Porque é sempre uma pessoa que está sempre convivendo, falando, informando o quadro, tal, e a hora que acontece isso é difícil. Eu não consigo mesmo, tenho dificuldade.

E 12 Foi muito difícil todas as vezes que eu tive que fazer isso.

8º IC: Muito constrangido

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 9 Muito constrangido.

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9º IC: Vazio e perda

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 4 É uma sensação de...é você começar projetar essa perda para vida

particular sua. E 17 Ao informar a família sobre o óbito sinto um vazio dentro de mim. E19 É um sentimento de perda mesmo.

10º IC: Tenso

Nº EXPRESSÕES CHAVES E 20 Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras dependendo da

reação dos familiares.

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174ANEXO I – Parecer Consubstanciado de aprovação do trabalho pelo Comitê de

Ética em Pesquisa

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ANEXO J – Parecer Consubstanciado N° 588/2010

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