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5/13/2018 Feudalismo_e_Feudalidade - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/feudalismoefeudalidade 1/3
QUESTÃO UM:
O autor medievalista Alain Guerreau propõe uma problematização da
história medieval a partir de conceitos chaves que descrevem e explicam o
funcionamento do sistema feudal e considera documentos da época para fundamentar a
discussão entre as fontes primárias1 e a teoria formulada sobre o feudalismo, para
³enunciar explicações da realidade histórica´ 2.
O método marxista de Guerreau, que Le Goff no prefácio do livro coloca
como ³autêntico ± saído de uma leitura directa de Marx e de uma reflexão pessoal a
partir não de um dogma ou pseudomarxismo, mas da utilização de um método em
muitos pontos sempre esclarecedor´ 3, analisa como o termo feudalismo ³foi cunhado no
século XIX e se refere à forma como a Teoria Marxista entendeu a Idade Média ´ 4, dentro da
lógica patrão/empregado (aplicada a senhor/camponês) e a definição de classe ao
³feudalismo´, pois engloba a relação de senhor que mantem armas e protege a
população produtora. O autor vê na ³feudalidade´5, um norte mais seguro, pois está
inserida na época em que aconteceu a Idade Média e não imaginada e enquadrada a
partir do presente.
O modelo de Guerreau para o feudalismo parte da proposta de quatro
possibilidades: a relação de dominium6, as relações de parentesco ± utilizado pela igreja
para coesão do sistema através dos casamentos, por exemplo, pois controlava e regulavaa prática e fazia com que os eclesiásticos fossem celibatários -, o ecossistema, que era a
³base material do sistema feudal, ou seja, sua produção e base produtiva´ 7, com a
1(...) sob a determinação do sentido de ponto primeiro, as fontes primárias, na investigação e na
pesquisa, seriam consideradas a matriz explicativa do objeto em estudo , estabelecendo, com tal objeto,
uma relação de dependência., Cury e Campos Fontes primárias: saberes em movimento, disponível
em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-25551997000100016&script=sci_arttext
, acesso em
19/11/2011.2
Prefácio de Jacques Le Goff , p. 12 em Guerreau, Alain: Feudalismo: Um horizonte teórico. Lisboa,
edições 70, 1980.3
Ibidem p. 11.4Trecho retirado do material de apoio do curso redefor , tema 6, Feudalismo e Feudalidade palavras
modernas (III) p. 3, disponível no endereço https://autoria.ggte.unicamp.br/unicamp-
redefor/pages/public/main.jsf , acesso em 19/11/2011.5
A Feudalidade, (...), seria definida em linhas gerais pelo contrato feudo-vassálico, em que um
aristocrata em condição de superioridade concede a outros direitos senhoriais, normalmente,
pertinentes a um bem fundiário (o benefício), e recebe, em troca, auxílio militar. Ibidem, palavras
modernas (II), p. 02.6
(...) que existia na idade Média apenas um só sentido que englobava simultaneamente poder sobre a
terra e poder sobre os homens; GUERREAU, op. Cit., p. 219.7
Op. Cit. REDEFOR, O modelo guerreaudiano de Feudalismo (III), p. 3.
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organização pela Igreja, por ser uma instituição que organizava toda a feudalidade
devido a sua grandeza nas relações igualada ao sistema feudal e que, na visão do autor,
não pode ser considerada como um ³simples apêndice da aristocracia´ 8.
QUESTÃO DOIS:
Na maioria dos livros didáticos, vemos sempre a referência do
feudalismo como um sistema econômico controlado pelas relações feudo-vassálicas em
que o servo produz ao seu senhor e a igreja aparece como uma instituição vinculada aos
nobres para controle dessa população explorada. Essa visão coloca o feudalismo como
um sistema econômico voltado a uma sociedade pré-capitalista e vinculado aos meios
de produção e de relação de venda da mão de obra9.
Ao confrontarmos essa visão com a proposta de Guerreau, podemos
criticar essa visão marxista vinculada ao século XIX, em que resume a Idade Média a
um conjunto de acontecimentos que levam a exploração do homem igual ao sistema
econômico atual. O que podemos trazer para o esclarecimento dos alunos sobre esse
período é a possibilidade de análise dentro do seu próprio tempo, sem tantas
comparações com as relações sociais que temos hoje. Ao apresentarmos o feudalismo10
não como um regime econômico, e sim, como um modelo utilizado por historiadores e
estudiosos do século XIX para entender o período de transformações que eram
vivenciados, podemos demonstrar as relações entre o poder e a história, que pode estar
vinculada a interesses que uma dada época tem para se afirmar 11 como mais civilizada
do que outras épocas mais antigas.
No livro didático12 que utilizamos em sala, é clara a associação ao
feudalismo como regime econômico, que descarta a possibilidade de feudalidade que o
8
GUERREAU,
op. Cit.,
p. 216.9No referido período, em troca de proteção militar do senhor feudal.
10Ou, como sugerido por Guerreau, Feudalidade, para demonstrar as relações sociais que englobam
também a vida econômica.11
Como já visto em outros temas do curso de medieval no tema 1: antiguidade e idade média da
historia como narrativa a história como vida , em https://autoria.ggte.unicamp.br/unicamp-
redefor/pages/public/main.jsf e também de teorias da história no tema 3: Historia e o século XIX
escrevendo história nas américas (I), em https://autoria.ggte.unicamp.br/unicamp-
redefor/pages/public/main.jsf . Acessado em 19/11/2011.12
COTRIM, Gilberto. História Global Brasil Geral Volume único 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
126-127.
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autor coloca para entender a Idade Média. Para esclarecimentos de temas tão distantes
da realidade dos alunos, sempre aplicamos uma comparação entre o passado e o
presente, que pode ser mais estimulada com a reflexão de como o tempo em que a
história é analisada e a escrita de cada época influencia na interpretação que vai ser
registrada. Após a demonstração das diferenças de pensamento do livro didático e dessenovo método de análise, poderíamos propor aos alunos que fizessem uma interpretação
das imagens e textos anexos ao livro que retratem documentos da época para retirarem
as próprias observações sobre o período13.
13Sabemos que tal proposta, na visão dos alunos, vai ser apresentada mais pela visão de idade Média
que os filmes e o senso comum tem do período , mas o intuito aqui é estimular a reflexão de
possibilidade de contestar o que está escrito e aplicar outra visão diferenciada a partir da própria
interpretação das fontes.