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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Visite nosso site: geael.wordpress.com e baixe os números anteriores 22. Estando a existência, a sobrevivência e a individua- lidade da alma admitidas, o espiritismo se limita a uma só questão principal: As comunicações entre as almas e os vi- ventes são possíveis? Essa possibilidade é uma conclusão da experiência. Uma vez estabelecido o fato das relações entre o mundo visível e o mundo invisível, sendo conhecidos a na- tureza, a causa e o modo dessas relações, tem-se aí um novo campo aberto à observação e a explicação para uma porção de problemas, e, ao mesmo tempo, um potente elemento mo- ralizador, por fazer cessar a dúvida sobre o futuro. 23. O que lança dúvidas na mente de muitas pessoas quanto à possibilidade das comunicações de além-túmulo é a ideia errada que fazem do estado da alma depois da morte. Geralmente a imaginam como um sopro, uma fumaça, uma coisa vaga, apenas perceptível pelo pensamento, que evapora e se vai não se sabe para onde, mas tão distante, que é difícil compreender que ela possa voltar à Terra. Se, ao contrário, a considerarmos na sua união com um corpo fluídico, semi- material, com o qual forma um ser concreto e individual, suas relações com os vivos nada têm de incompatível com a razão. 24. Vivendo o mundo visível no meio do mundo invisível, com o qual está em perpétuo contato, resulta daí uma incessante reação de um sobre o outro; que, uma vez que existem ho- mens, existem também espíritos, e que, se estes últimos têm o poder de manifestar-se, devem tê-lo feito em todas as épocas e entre todos os povos. Entretanto, nos últimos tempos, as ma- nifestações dos espíritos se propagaram muito e adquiriram maior caráter de autenticidade, porque estava nos desígnios da Providência pôr termo ao flagelo da incredulidade e do materia- lismo através de provas evidentes, permitindo, àqueles que deixaram a Terra, virem atestar sua existência e revelar-nos sua situação feliz, ou in- feliz. 25. As relações entre o mundo visível e o mundo invisível podem ser ocultas ou evidentes, espontâneas ou provocadas. Os espíritos atuam sobre os homens de modo oculto, pelos pensamentos que lhes suge- rem e por certas influências; de maneira clara, por efeitos apreciáveis pelos sentidos. As manifestações espontâneas ocorrem re- pentinamente e de improviso; muitas vezes elas se apresentam entre as pessoas mais alheias às ideias espíritas e que, por isso mesmo, não conseguindo entendê-las, as atri- buem a causas sobrenaturais. As que são provocadas ocorrem por intermédio de certas pessoas dotadas, para esse fim, de faculdades especiais, e que são chamadas médiuns. 26. Os espíritos podem manifestar-se espontaneamente por ruídos, por pancadas; para eles, é um meio de atestar sua presença e chamar a atenção para si, exatamente como uma pessoa bate à porta para avisar que lá há alguém. Há alguns que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam ao ponto de fazer um barulhão semelhante ao de louças quebra- das, de portas que se abrem e fecham, ou de móveis derruba- dos; alguns chegam mesmo a causar uma perturbação real e verdadeiros estragos. 1 28. Embora invisível para nós no estado normal, o pe- rispírito não deixa de ser matéria etérea. O espírito pode, em 1 Revista Espírita, 1858: “O espírito batedor de Bergzabern”. – Idem, “O espíri- to batedor de Dibbelsdorf”. – Idem, “O trapeiro da rua des Noyers”. Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 16 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL Comunicações com o mundo invisível

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22. Estando a existência, a sobrevivência e a individua-lidade da alma admitidas, o espiritismo se limita a uma só questão principal: As comunicações entre as almas e os vi-ventes são possíveis? Essa possibilidade é uma conclusão da experiência. Uma vez estabelecido o fato das relações entre o mundo visível e o mundo invisível, sendo conhecidos a na-tureza, a causa e o modo dessas relações, tem-se aí um novo campo aberto à observação e a explicação para uma porção de problemas, e, ao mesmo tempo, um potente elemento mo-ralizador, por fazer cessar a dúvida sobre o futuro.

23. O que lança dúvidas na mente de muitas pessoas quanto à possibilidade das comunicações de além-túmulo é a ideia errada que fazem do estado da alma depois da morte. Geralmente a imaginam como um sopro, uma fumaça, uma coisa vaga, apenas perceptível pelo pensamento, que evapora e se vai não se sabe para onde, mas tão distante, que é difícil compreender que ela possa voltar à Terra. Se, ao contrário, a considerarmos na sua união com um corpo fluídico, semi-

material, com o qual forma um ser concreto e individual, suas relações com os vivos nada têm de incompatível com a razão.

24. Vivendo o mundo visível no meio do mundo invisível, com o qual está em perpétuo contato, resulta daí uma incessante reação de um sobre o outro; que, uma vez que existem ho-mens, existem também espíritos, e que, se estes últimos têm o poder de manifestar-se, devem tê-lo feito em todas as épocas e entre todos os povos. Entretanto, nos últimos tempos, as ma-nifestações dos espíritos se propagaram muito e adquiriram maior caráter de autenticidade, porque estava nos desígnios da Providência pôr termo ao flagelo da incredulidade e do materia-lismo através de provas evidentes, permitindo, àqueles que deixaram a Terra, virem atestar sua existência e revelar-nos sua situação feliz, ou in-feliz.

25. As relações entre o mundo visível e o mundo invisível podem ser ocultas ou evidentes, espontâneas ou provocadas.

Os espíritos atuam sobre os homens de modo oculto, pelos pensamentos que lhes suge-rem e por certas influências; de maneira clara, por efeitos apreciáveis pelos sentidos.

As manifestações espontâneas ocorrem re-pentinamente e de improviso; muitas vezes elas

se apresentam entre as pessoas mais alheias às ideias espíritas e que, por isso mesmo, não conseguindo entendê-las, as atri-buem a causas sobrenaturais. As que são provocadas ocorrem por intermédio de certas pessoas dotadas, para esse fim, de faculdades especiais, e que são chamadas médiuns.

26. Os espíritos podem manifestar-se espontaneamente por ruídos, por pancadas; para eles, é um meio de atestar sua presença e chamar a atenção para si, exatamente como uma pessoa bate à porta para avisar que lá há alguém. Há alguns que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam ao ponto de fazer um barulhão semelhante ao de louças quebra-das, de portas que se abrem e fecham, ou de móveis derruba-dos; alguns chegam mesmo a causar uma perturbação real e verdadeiros estragos.1

28. Embora invisível para nós no estado normal, o pe-rispírito não deixa de ser matéria etérea. O espírito pode, em 1 Revista Espírita, 1858: “O espírito batedor de Bergzabern”. – Idem, “O espíri-to batedor de Dibbelsdorf”. – Idem, “O trapeiro da rua des Noyers”.

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• Comunicações com o mundo invisível

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2 Conhecendo a Doutrina Espírita

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certos casos, fazê-lo sofrer uma espécie de modificação mo-lecular que o torna visível, e mesmo tangível; é assim que se produzem as aparições. Esse fenômeno não é mais extraordi-nário do que o do vapor, que é invisível quando muito rarefei-to e que se torna visível quando condensado.

Os espíritos que se tornam visíveis quase sempre se apre-sentam sob as aparências que tinham em vida e que permitem reconhecê-los.

29. A visão permanente e geral dos espíritos é muito rara, mas as aparições isoladas são muito frequentes, principal-mente no momento da morte; o espírito desprendido parece apressar-se para ir rever seus parentes e amigos, como se para avisá-los de que acaba de deixar a Terra e dizer-lhes que con-tinua vivendo. Se repassarmos todas as nossas lembranças, veremos quantos fatos autênticos dessa espécie, que não com-preendíamos, aconteceram conosco não somente à noite, du-rante o sono, mas em pleno dia e em perfeito estado de vigília. Outrora, tais fatos eram considerados sobrenaturais e prodi-giosos, e atribuídos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à imaginação; porém, desde que a ciência espírita os explicou, sabemos como se produzem e também sabemos que não se afastam da ordem dos fenômenos naturais.

30. Era com o auxílio do perispírito que o espírito atuava sobre seu corpo quando vivia; é ainda com esse mesmo fluido que ele se manifesta, atuando sobre a matéria inerte e pro-duzindo ruídos, movimentos de mesas e outros objetos que ele levanta, derruba ou transporta. Esse fenômeno nada tem de surpreendente se considerarmos que, entre nós, os mais potentes motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e, mesmo, imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.

É igualmente com a ajuda do seu perispírito que o es-pírito faz os médiuns escreverem, falarem ou desenhar; não possuindo corpo tangível para atuar ostensivamente, quando quer se manifestar ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos toma emprestados, fazendo-os agir como se perten-cessem ao seu próprio corpo, e isso pelo eflúvio fluídico que espalha sobre o médium.

31. No fenômeno designado pelo nome mesas girantes, ou mesas falantes, é pelo mesmo meio que o espírito atua sobre a mesa, seja para fazê-la mover-se sem um significado determinado, seja para fazê-la dar pancadas inteligentes, indi-cando as letras do alfabeto para formar palavra e frases, fenô-meno este que é conhecido como tiptologia. A mesa é apenas um instrumento de que ele se serve, como o faz com o lápis para escrever; ele lhe dá uma vitalidade momentânea pelo fluido de que a impregna, mas não se identifica com ela. As pessoas que, emocionadas, vendo manifestar-se um ser que lhes é caro, abraçam a mesa, têm uma atitude ridícula, pois é absolutamente como se abraçassem uma bengala de que um amigo se servisse para bater. O mesmo se pode dizer dos que falam com a mesa, como se o espírito estivesse dentro da ma-deira, ou como se a madeira se tivesse tornado espírio.

Quando comunicações ocorrem por esse meio, devemos imaginar o espírito não na mesa, mas ao lado dela, como fi-caria se estivesse vivo, e exatamente como o veríamos se, na-quele momento, pudesse tornar-se visível. O mesmo acontece

nas comunicações pela escrita: veríamos o espírito ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão, ou transmitindo-lhe seu pensa-mento por uma corrente fluídica.

Quando a mesa se levanta do chão e flutua no espaço sem ponto de apoio, o espírito não a ergue com força braçal, mas a envolve e a impregna de uma espécie de atmosfera fluídica que neutraliza o efeito da gravidade, como o faz o ar com os balões e as pipas. O fluido de que está impregnada dá-lhe mo-mentaneamente uma leveza específica maior. Quando a mesa está firme no chão, acha-se num estado análogo ao da campâ-nula pneumática sob a qual se fez o vácuo. Trata-se, aqui, de meras comparações para mostrar a analogia dos efeitos e não uma semelhança absoluta das causas.

Quando a mesa persegue alguém, não é o espírito que corre, porque pode continuar tranquilamente no mesmo lu-gar, mas é ele quem lhe dá o impulso, por uma corrente fluí-dica, através da qual faz com que a mesa se mova segundo a sua vontade. Quando pancadas são ouvidas na mesa ou em qualquer outro lugar, não é o espírito quem bate com a mão ou com algum objeto; ele dirige sobre o ponto de onde parte o ruído um jato de fluido que produz o efeito de um choque elétrico e modifica o som como se pode modificar os sons produzidos pelo ar.

A partir disso, compreende-se que, para o espírito, não é mais difícil erguer uma pessoa do que levantar uma mesa, transportar um objeto de um lugar a outro ou atirá-lo em qualquer parte; esses fenômenos se produzem pela mesma lei.

32. Pode-se ver, pelo pouco que foi dito, que as mani-festações espíritas, seja qual for sua natureza, nada têm de sobrenatural ao prodigioso. São fenômenos que se produzem em virtude da lei que rege as relações entre o mundo visível e o invisível, lei tão natural quanto as da eletricidade, da gra-vidade etc. O espiritismo é a ciência que nos revela essa lei, como a mecânica nos revela a lei do movimento, a óptica, a da luz. Estando na natureza, as manifestações espíritas se pro-duziram em todas as épocas; uma vez conhecida, a lei que as rege nos explica uma infinidade de problemas considerados insolúveis; é a chave para uma porção de fenômenos explora-dos e exagerados pela superstição.

33. Estando o prodigioso completamente afastado, esses fenômenos deixam de ter qualquer coisa que possa ser rejei-tada pela razão, porque vêm assumir seu lugar entre os outros fenômenos naturais. Nos tempos de ignorância, todos os efei-tos cuja causa não se conhecia eram considerados sobrenatu-rais. As descobertas da ciência restringiram sucessivamente o círculo do prodigioso; o conhecimento desta nova lei veio reduzi-lo a nada. Aqueles, pois, que acusam o espiritismo de ressuscitar o prodigioso, provam, com isso, que falam de algo que não conhecem.

34. As manifestações dos espíritos são de duas naturezas: efeitos físicos e comunicações inteligentes. Os primeiros são os fenômenos materiais e evidentes, como os movimentos, os ruídos, o transporte de objetos etc.; os outros consistem no intercâmbio regular de pensamentos através de sinais, da pa-lavra e, principalmente, da escrita.

35. As comunicações que recebemos dos espíritos podem

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ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou levianas, se-gundo a natureza dos que se manifestam. Os que dão provas de recato e sabedoria são espíritos adiantados, que progre-diram; os que demonstram ignorância e más qualidades são espíritos ainda atrasados, mas que progredirão com o tempo.

Os espíritos só podem dar respostas a respeito do que sabem, segundo seu adiantamento, e mais, sobre o que lhes é permitido dizer, porque há coisas que eles não devem revelar, por não ser ainda dado aos homens tudo conhecer.

36. Da diversidade entre as qualidades e aptidões dos espíritos, resulta que não basta dirigir-se a um espírito qual-quer para obter uma resposta correta a qualquer pergunta, porque, sobre muitas coisas, ele pode dar apenas a sua opi-nião pessoal, que pode ser certa ou errada. Se ele for sensato, confessará sua ignorância sobre o que não conhece; se for fútil ou mentiroso, dará respostas a tudo, sem se preocupar com a verdade; se for orgulhoso, dará sua opinião como verdade absoluta. É por isso que São João, o Evangelista, diz: “Não acrediteis em todos os espíritos; antes provai se são espíri-tos de Deus”. A experiência prova s sabedoria deste conselho. Haveria, pois, imprudência e leviandade em aceitar sem veri-ficação tudo que venha dos espíritos. Eis por que é essencial estarmos bem informados quanto à natureza daqueles com quem lidamos. (O Livro dos Médiuns, no. 267.)

37. Reconhece-se a qualidade dos espíritos pela sua lin-guagem; a dos espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradições; ela exala sabedoria, benevolência, modéstia e a mais pura moral; é con-cisa e sem palavras supérfluas. Entre os espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vazio das ideias quase sempre é compensado pela abundância de palavras. Todo pensamen-to evidentemente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial, ou simplesmente frívola, enfim, qualquer indício de maldade, de presunção ou de arrogância é sinal incontestável da inferiori-dade de um espírito.

38. Os espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes; seu horizonte moral é limitado, seu discernimento, restrito; frequentemente, têm das coisas apenas uma ideia falsa e in-completa; além disso, ainda estão sob a influência dos pre-conceitos terrestres, que às vezes tomam como verdades; por isso são incapazes de resolver certas questões. Eles podem induzir-nos a erro, voluntária ou involuntariamente, a respei-to do que eles próprios não compreendem.

39. Nem por isso os espíritos inferiores são todos essen-cialmente maus; há os que são apenas ignorantes e levianos; outros que são apenas brincalhões, espirituosos, divertidos, e que sabem manejar a ironia fina e mordaz. Como na Terra, ao lado disso encontramos no mundo dos espíritos todos os tipos de perversidade e todos os níveis de superioridade intelectual e moral.

40. Os espíritos superiores só se ocupam com comuni-cações inteligentes que visam à nossa instrução; as manifes-tações físicas ou puramente materiais estão, mais especifica-mente, entre as atribuições dos espíritos inferiores, comumen-te chamados espíritos batedores, como entre nós as façanhas

ficam a cargo dos saltimbancos e não dos sábios.41. As comunicações com os espíritos devem ser sempre

feitas com calma e concentração; jamais se deve perder de vista que os espíritos são as almas dos homens e que seria inconveniente fazer disso um passatempo ou objeto de brin-cadeiras. Se respeitamos os restos mortais, devemos respeitar mais ainda os espíritos. As reuniões frívolas, com propósitos fúteis, não cumprem, pois, um dever, e os que delas partici-pam deveriam pensar que de um momento para outro podem entrar no mundo dos espíritos, e não gostarão de ver-se trata-dos com tão pouca consideração.

42. Outro ponto igualmente essencial a considerar é que os espíritos são livres; comunicam-se quando querem, com quem lhes convém, e quando podem, pois eles têm suas ocu-pações. Eles não estão à disposição de quem quer que seja e não se submetem aos seus caprichos, e a ninguém é dado fazê--los vir contra a vontade, nem fazê-los dizer o que desejam ca-lar; de modo que ninguém pode afirmar que um espírito qual-quer atenderá ao seu chamado num momento determinado, ou responderá a esta ou àquela pergunta. Dizer o contrário, é prova de ignorância total dos mais elementares princípios do espiritismo; só o charlatanismo tem fontes infalíveis.

43. Os espíritos são atraídos pela simpatia, pela seme-lhança de gostos e de caráter, pela intenção dos que desejam sua presença. Os espíritos superiores não vão às reuniões fú-teis, como um sábio da Terra não compareceria a uma assem-bleia de jovens inconsequentes. O simples bom senso diz que não pode ser de outro modo; ou, se às vezes comparecem, é para dar conselho benéfico, combater os vícios, procurar reconduzir ao bom caminho quem dele se tenha desviado; se não forem ouvidos, retiram-se. Teria uma ideia totalmente errada quem supusesse que espíritos sérios podem prestar--se a responder a futilidades, a perguntas supérfluas, que não provam nem simpatia nem respeito por eles, e nem o real desejo de instruir-se, e menos ainda que possam vir exibir-se para entreter os curiosos. Se não faziam isso quando viviam, também não o fazem depois da morte.

44. A frivolidade das reuniões tem por resultado atrair os espíritos levianos, que buscam apenas ocasiões para enganar e mistificar. Pela mesma razão que os homens austeros e sé-rios não comparecem às assembleias superficiais, os espíritos sérios só vão às reuniões sérias, cujo objetivo é a instrução, não a curiosidade; é nessas reuniões que os espíritos superio-res gostam de ministrar seus ensinamentos.

45. Do que foi dito, conclui-se que toda reunião espírita, para ser proveitosa, deve, como primeira condição, ser séria e realizada num ambiente de recolhimento, devendo tudo passar-se nela respeitosamente, religiosamente e com digni-dade, se se quer obter a colaboração habitual dos bons espí-ritos. Não se deve esquecer que se esses mesmos espíritos aí tivessem comparecido quando viviam, ter-se-ia por eles toda consideração a que, após a morte, eles têm mais direito ainda.

Que é o Espiritismo?Allan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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4 Conhecendo a Doutrina Espírita

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Todo o espírito que deseja progredir, trabalhando na obra de solidariedade universal, recebe dos espíritos mais elevados uma missão particular apropriada às suas aptidões e ao seu grau de adiantamento.

Uns têm por tarefa receber os homens em seu regresso à vida espiritual, guiá-los, ajudá-los a se desembaraçarem dos fluidos espessos que os envolvem; outros são encarre-gados de consolar e instruir as almas sofredoras e atrasa-das. Espíritos químicos, físicos, naturalistas, astrônomos prosseguem suas investigações, estudam os mundos, suas superfícies, suas profundezas ocultas, atuam em todos os lugares sobre a matéria sutil, que fazem passar por prepa-rações, modificações destinadas a obras que a imaginação humana teria dificuldades em conceber; outros se aplicam às artes, ao estudo do belo, sob todas as suas formas; e os espíritos menos adiantados auxiliam os primeiros em suas tarefas variadas e servem-lhes de auxiliares.

Grande número de espíritos se consagra aos habitan-tes da Terra e dos outros planetas, estimulando-os em seus trabalhos, fortalecendo os ânimos abatidos, guiando os hesitantes pelo caminho do dever. Aqueles que exerceram a medicina e possuem o segredo dos fluidos curativos, repara-dores, ocupam-se mais especialmente dos doentes.1

Mais bela entre todas é a missão dos espíritos de luz. Descem dos espaços celestes para levar às humanidades os tesouros de sua ciência, de sua sabedoria e de seu amor. Sua tarefa é um sacrifício constante, porque o contato dos mundos materiais é penoso para eles, mas afrontam todos os sofrimen-tos por dedicação aos seus protegidos, a fim de os assistirem em suas provações e de infiltrarem em seus corações grandes e generosas intuições.

É justo atribuir-lhes os lampejos de inspiração que ilu-minam o pensamento, as expansões da alma, a força moral que nos sustenta nas dificuldades da vida. Se soubéssemos a quantos constrangimentos se impõem esses nobres espíri-tos para chegarem até nós, corresponderíamos melhor suas solicitações, empregaríamos esforços enérgicos para nos desa-pegarmos de tudo o que é vil e impuro, unindo-nos a eles na comunhão divina.

Nas horas de atribulações, é para esses espíritos, para meus guias bem-amados que voam meus pensamentos e meus apelos; é deles que sempre me têm vindo o amparo moral e as consolações supremas.

Subi a custo os atalhos da vida; dura foi minha infância. Cedo conheci o trabalho manual e os pesados encargos de família. Mais tarde, em minha carreira de propagandista, mui-tas vezes me feri nas pedras do caminho; fui mordido pelas serpentes do ódio e da inveja. E agora chegou para mim a hora crepuscular; vão subindo e rodeando-me as sombras; sinto que minhas forças declinam, e os órgãos se enfraquecem. Nunca, porém, me faltou o auxílio de meus amigos invisíveis; nunca minha voz os evocou em vão. Desde meus primeiros passos neste mundo, sua influência me envolveu. É às suas inspira-ções que devo minhas melhores páginas e minhas expressões mais vibrantes. Compartilharam minhas alegrias e tristezas, e, quando rugia a tempestade, eu sabia que eles estavam firmes ao meu lado, no meu caminho. Sem eles, sem seu socorro, há muito tempo que eu teria sido obrigado a interromper minha marcha, a suspender meu labor, mas suas mãos estendidas têm me amparado e dirigido na áspera via. Às vezes, no reco-lhimento do entardecer ou no silêncio da noite, suas vozes me falam, embalam, confortam; ressoam na minha solidão como vaga melodia ou, então, são sopros que passam, semelhantes a carícias, sábios conselhos ciciados, indicações preciosas sobre

1 Os casos de curas feitas por espíritos são numerosos; achar-se-ão descrições deles em toda a literatura espírita (consultar, por exemplo, o caso citado por Myers, em Human personality, II, p. 124). A mulher de um grande médico, de reputação europeia, sofria de um mal a que seu marido não pudera dar alívio. Ela foi curada radicalmente pelo espírito de outro grande médico. Veja-se também o caso de Claire Galichon, curada por magnetizações do espírito de cura d’Ars. O fato é contado por ela própria, em sua obra Souvenirs et problèmes spirites, p. 174 e seguintes.

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as imperfeições de meu caráter e os meios de remediá-las.Então, esqueço as misérias humanas para comprazer-

-me na esperança de tornar a ver um dia meus amigos invi-síveis, de reunir-me a eles na luz, se Deus me julgar digno disso, com todos aqueles que tenho amado e que, do seio dos espaços, me ajudam a percorrer a via terrestre.

Ascenda para todos vós, espíritos tutelares, entidades protetoras, meu pensamento agradecido, a melhor parte de mim mesmo, o tributo de minha admiração e de meu amor.

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A alma vem de Deus e volve a Ele, percorrendo o ciclo imenso de seus destinos; mas, por mais baixo que tenha des-cido, cedo ou tarde, pela atração, sobe de novo para o infi-nito. O que ela procura ali? O conhecimento cada vez mais perfeito do Universo, a assimilação cada vez mais completa de seus atributos – beleza, verdade e amor – e, ao mesmo tempo, uma libertação gradual das escravidões da matéria, uma colaboração crescente com a obra de Deus.

Cada espírito tem, no espaço, sua vocação e segue-a com facilidades desconhecidas na Terra; cada um encontra seu lugar nesse soberbo campo de ação, nesse vasto laboratório universal. Por toda a parte, tanto na amplidão como nos mundos, objetos de estudo e de trabalho, meios de elevação, de participação na obra eterna se oferecem à alma laboriosa.

Já não é o Céu frio e vazio dos materialistas, nem mesmo o Céu contemplativo e beato de certos crentes; é um Universo vivo, animado, luminoso, cheio de seres inteligentes, em via constante de evolução. Quanto mais os seres espirituais se elevam, tanto mais se acentua sua tarefa, tanto mais aumen-tam de importância suas missões. Um dia, tomam lugar entre as almas mensageiras que levarão aos confins do tempo e do espaço as forças e as vontades da Alma Infinita.

Para o espírito ínfimo, assim como para o mais eminen-te, o domínio da vida não encontra limites. Qualquer que seja a altura a que tenhamos chegado, há sempre um plano superior a alcançar, uma nova perfeição a realizar.

Para toda a alma, mesmo a mais inferior, um futuro grandioso se prepara. Cada pensamento generoso que come-ça a despontar, cada efusão de amor, cada esforço que tende para uma vida melhor é como a vibração, o pressentimento, o apelo de um mundo mais elevado que a atrai e que, cedo ou tarde, irá recebê-la. Todo o ímpeto de entusiasmo, toda a palavra de justiça e todo o ato de abnegação repercutem em progressão crescente na escala de seus destinos.

À medida que ela se vai distanciando das esferas inferiores, onde reinam as influências pesadas, onde se agitam as vidas grosseiras, banais ou culpadas, as existências de lenta e penosa educação, a alma vai percebendo as altas manifestações da inteligência, da justiça e da bondade, e sua vida se torna cada vez mais bela e divina. Os murmúrios confusos, os rumores discordes dos centros humanos pouco a pouco vão se enfraque-cendo para ela, até se extinguirem de todo; ao mesmo tempo, começa a perceber os ecos harmoniosos das sociedades celestes. É o limiar das regiões felizes, onde reina uma eterna claridade e paira uma atmosfera de benevolência, serenidade e paz, onde todas as coisas saem frescas e puras das mãos de Deus.

A diferença profunda que existe entre a vida terrestre e a vida do Espaço adquire o sentido de libertação, de alívio, de liberdade absoluta de que os espíritos bons e purificados desfrutam.

Desde que se rompem os laços materiais, a alma pura desfere voo para as altas regiões. Lá, goza de uma vida livre, pacífica, intensa, ao pé da qual o passado terrestre lhe pare-ce um sonho doloroso.

Na efusão das ternuras recíprocas, em uma vida livre de males e necessidades físicas, a alma sente multiplicarem--se suas faculdades, adquirindo penetração e extensão, das quais os fenômenos de êxtase nos fazem entrever os velados esplendores.

A linguagem do mundo espiritual é a das imagens e dos símbolos, rápida como o pensamento; é por isso que nossos guias invisíveis se servem de preferência de representações sim-bólicas para nos prevenir, no sonho, de um perigo ou de uma desgraça. O éter, fluido brando e luminoso, toma com extrema facilidade as formas que a vontade lhe imprime. Os espíritos se comunicam entre si e compreendem-se por processos diante dos quais a arte oratória mais consumada e toda a magia da eloquência humana pareceriam apenas um grosseiro balbuciar.

As inteligências elevadas percebem e realizam sem esforço as mais maravilhosas concepções da arte e do gênio. Contudo, essas concepções não podem ser transmitidas inte-gralmente aos homens. Mesmo nas manifestações medianí-micas mais perfeitas, o espírito superior tem de se submeter às leis físicas de nosso mundo; e só vagos reflexos ou ecos enfraquecidos das esferas celestes, algumas notas perdidas da grande sinfonia eterna, é que ele pode fazer chegar até nós.

Tudo é graduado na vida espiritual. A cada grau de evo-lução do ser para a sabedoria, a luz, a santidade, corresponde um estado mais perfeito de seus sentidos receptivos, de seus meios de percepção. O corpo fluídico, cada vez mais diáfano, mais transparente, deixa passagem livre às radiações da alma. Daí uma aptidão maior para apreciar e compreender os esplendores infinitos; daí uma recordação mais extensa do passado, uma familiarização cada vez maior com os seres e as coisas dos planos superiores, até que a alma, em sua marcha progressiva, tenha atingido as máximas altitudes.

Chegado a essas alturas, o espírito tem vencido toda a paixão, toda a tendência para o mal, tem se libertado para sempre do jugo material e da lei dos renascimentos. Trata-se da entrada definitiva nos reinos divinos, de onde só volunta-riamente descerá ao círculo das gerações para desempenhar missões sublimes.

Nessas eminências, a existência é uma festa perene da inteligência e do coração; é a comunhão íntima no amor com todos aqueles que nos foram caros e conosco percorreram o ciclo das transmigrações e das provas. Ajuntai a isso a visão constante da eterna beleza, uma profunda compreensão dos mistérios e das leis do Universo e tereis uma fraca ideia das alegrias reservadas a todos aqueles que, por seus méritos e esforços, alcançaram os Céus superiores.

O Problema do Ser e do DestinoLeón Denis

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6 Conhecendo a Doutrina Espírita

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PERGUNTA: — Por que motivo as diversas obras sobre a vida de Jesus silenciam quanto à sua existência entre os doze e os trinta anos de idade?

RAMATÍS: — Realmente, os historiadores profanos, até os mais imaginativos, não puderam preencher essa lacuna na vida de Jesus; e também as próprias escolas ocultistas e principalmente a Rosa-cruz, por vezes, divergem até quanto à data da morte e à idade com que o Mestre desencarnou na cruz. Inúmeras conjeturas têm sido feitas para explicá-la, uma vez que os próprios discípulos, nos seus relatos evangélicos, também parecem ignorar o assunto. E assim, a pena dos escri-tores mais exaltados e místicos descreve Jesus como um ser mitológico, cuja vida fantasiosa discrepou completamente dos acontecimentos e das necessidades da vida humana. Noutro extremo, os inimigos figadais da fantasia e apegados fanatica-mente aos postulados “positivos” da ciência terrena, biografa-ram Jesus à conta de um homem comum e sedicioso, espécie de líder de pescadores e campônios, que fracassou na sua ten-tativa de rebelião contra os poderes públicos da época. Os mais irreverentes chegam mesmo a considerar que na atualidade o

caso de Jesus seria apenas um problema de ordem policial.É muito difícil, para tais escritores extremistas, com-

preenderem a situação exata de um anjo descido das esferas paradisíacas até situar-se em missão redentora no vale de sombras terrenas. Jesus não foi o homem miraculoso ou santo imaterial, cujos gestos, palavras e atos só obedeciam ao figurino celestial decretado por Deus; mas, também, não era um homem vulgar tomado de ambições políticas e desejoso das falsas gloríolas do mundo material. Nem criatura diáfana acima das necessidades humanas, nem arruaceiro buscando o triunfo nos bens terrenos. Em verdade, onde terminava o anjo começava o homem, sem romper o equilíbrio psicológico ou discrepar dos seus contemporâneos.

PERGUNTA: — E que nos dizeis sobre a infância de Jesus?RAMATÍS: — A infância do menino Jesus, aparentemente,

transcorreu de modo tão comum quanto a dos demais meninos hebreus, seus conterrâneos. Conforme já dissemos, ele discrepa-va dos demais meninos devido à sinceridade e franqueza com que julgava as coisas do mundo, sem sofismas ou hipocrisia. Algumas vezes causava aflições aos próprios pais, provocando comentários contraditórios entre aquela gente conservadora, que jamais poderia compreender o temperamento de um anjo exilado na carne e incapaz de se acomodar aos interesses pro-saicos do ambiente humano.

A vida de Jesus transcorreu adstrita aos costumes das famílias judaicas pobres e de descendência fértil, o que ainda é muito comum na Judéia atual. Os escritores que biografa-ram sua vida, quase sempre teceram comentários ao sabor de sua imaginação e absolutamente crentes de que ele foi uma criança submissa aos preconceitos e sofismas da época. Assim, a lenda e o absurdo transformaram a vida do ser incomum que foi Jesus, num Deus vivo imolado na cruz de redenção, depois de ter vivido existência incompatível com a realidade humana.

PERGUNTA: — Qual era o aspecto físico do menino Jesus?RAMATÍS: — Era um menino encantador, de olhos claros,

doces e aveludados, como duas jóias preciosas e de um azul--esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela beleza de Maria e cunhada pela energia de José. Vestia-se pobremen-te, como os demais meninos dos subúrbios de Nazaré, onde proliferavam as tendas de trabalho dos homens de ofício e as lavanderias do mulheril assalariado.

O menino Jesus tinha os cabelos de um louro-ruivo, quase fogo, que emitiam fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e flutuavam ao vento. Quando ele corria ladeira abaixo perseguido pelos cabritos, cães e aves, seus cabelos então pareciam chamas vivas esvo-açando em torno de sua cabeça angélica. A roupa íntima era

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de pano inferior, que depois ele cobria com uma camisola de algodão, de cor sépia ou salmão. Só nos dias festivos ou de culto religioso ele envergava a veste domingueira de um bran-co imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da Sinagoga.

Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha--lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida em Jerusalém, que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas amigas de infância.

Aos doze anos de idade o porte do menino era ereto e altaneiro, pois as roupas caíam-lhe majestosas sobre o corpo impecável, de anatomia tão admirável que causava inveja às mães dos meninos trôpegos ou defeituosos. Nele se justificava o provérbio de que o “belo e o bom não são imitados, mas apenas invejados”, pois tanto o invejaram pela fartura do seu encanto, pela prodigalidade de sua doçura e cortesia, como devido à sua dignidade e conduta moral mais própria de um sábio e de um santo. Embora fosse criatura merecedora de todos os mimos do mundo, nem por isso a maldade humana deixava de atingir o menino Jesus, em cuja fisionomia, esplên-dida e leal, às vezes pairavam algumas sombras provocadas pela maledicência, injustiça e despeito. Aliás, o que é delicado é mais fácil de ser maltratado, pois enquanto o condor esfa-cela um novilho, o beija-flor sucumbe sob o afago do menino bruto. Assim também acontecia com Jesus. Seu porte atraente, a sua beleza angélica, a sabedoria prematura e a meiguice invulgar, tornavam-no um alvo para a concentração de flui-dos de ciúme, de inveja e sarcasmo. Enfrentou, desde cedo, a maldade, a má-fé, a malícia e a hipocrisia humanas, o que é natural às almas sublimes exiladas no plano retemperador e educativo dos mundos materiais.

PERGUNTA: — Jesus permane-cia entre os meninos nazarenos, participando dos seus brinquedos e divertimentos comuns?

RAMATÍS: — Nada ele tinha de vaidade ou orgulho que o distan-ciasse dos demais companheiros de infância, pois era cordial e afetuoso, amigo e leal. No entanto, inúmeras vezes, no auge do brinquedo diver-tido, o menino Jesus anuviava o seu semblante, pois seus sentidos espiri-tuais aguçados pressentiam a efer-vescência das ciladas ou das cargas fluídicas agressivas que se moviam procurando atingi-lo em sua aura defensiva. Era o anjo ameaçado pelos seus adversários sombrios, que não podiam afetar-lhe a divina contextura espiritual, mas tentavam ferir-lhe o corpo transitório, pre-cioso instrumento do seu trabalho messiânico na Terra. Esses espíritos diabólicos, que a própria Bíblia os

sintetizou tão bem na “tentação de Satanás”, recorriam às pró-prias cargas de inveja e de ciúmes que se formavam em torno de Jesus, por força do despeito dos próprios conterrâneos. Assim, manipulavam o material hostil produzido pelas mentes insatisfeitas diante da gloriosa figura daquele ser, com a inten-ção de turbar-lhe os sentidos nervosos e o comando cerebral.

Então, a sua respiração tornava-se aflitiva e o seu coração se afogueava; o sistema hepatorrenal apressava-se a eliminar qualquer tóxico que se materializasse decorrente de condensa-ção de fluidos ferinos. O menino Jesus, num impulso instintivo, corria, célere, para longe do bulício dos seus companheiros e se deitava, exausto, sobre a relva macia, ou à beira do regato, debaixo das figueiras, ou ainda entre os arbustos umedecidos, como se o orvalho e o perfume das florinhas silvestres pudes-sem lhe refrigerar a mente incandescida.

Mas em tais momentos ele era alvo dos cuidados e aten-ções do anjo Gabriel e de suas falanges, que então o aconse-lhavam a buscar o refúgio no seio da Natureza amiga duran-te suas crises emotivas ou opressões astralinas. Ali, esses sublimes amigos podiam manipular extratos vitalizantes e fluidos protetores apanhados dos duplos etéricos do regato, das flores e dos arvoredos benfeitores, que se transformavam em energias terapêuticas, imunizando-o contra os dardos ofensivos dos espíritos trevosos. Em breve se fazia o desejado desafogo espiritual e o menino voltava tranqüilo a retomar os brinquedos, sem poder explicar aos companheiros o motivo de suas fugas intempestivas.

O Sublime PeregrinoRamatís / Hercílio Maes

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8 Conhecendo a Doutrina Espírita

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É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

9. Não vos inquieteis pela posse do ouro, da prata, ou de qualquer outra moeda em vosso bolso. Não prepareis um saco para a viagem, nem duas vestes, nem sapatos, nem cajados, pois aquele que trabalha merece ser alimentado.

10. Em qualquer cidade ou em qualquer aldeia que entrar-des, procurai saber quem é digno de vos hospedar, e per-manecei com ele até partirdes. Entrando na casa, saudai-a, dizendo: “Que a paz esteja nesta casa!”. Se a casa for digna dessa saudação, vossa paz virá sobre ela; mas se não for digna, vossa paz retornará para vós.Quando alguém não quiser vos receber, nem escutar vossas palavras, sacudi a poeira de vossos pés ao sair dessa casa ou dessa cidade. Em verdade, vos digo que, no dia do julga-mento, Sodoma e Gomorra serão tratadas menos rigorosamente do que essa cidade. (Mateus, 10:9-15).

11. Essas palavras que Jesus dirigiu aos Seus apóstolos quando os enviou pela primei-ra vez para anunciar a Boa Nova nada tinham de estranho naquela época, pois estavam de acordo com os costumes patriarcais do Orien-te, onde o viajante sempre era acolhido sob a tenda. Naquele tempo, os viajantes eram raros, mas hoje, entre os povos modernos, o crescimento das viagens criou novos hábitos e os costumes antigos só são encontrados agora em regiões longínquas, onde o grande tráfego ainda não chegou. Se Jesus retornasse hoje à Terra, não poderia mais dizer aos Seus após-tolos: “Colocai-vos a caminho, sem provisões”.

Além de seu sentido próprio, essas pala-vras têm um conteúdo moral muito profundo: Jesus ensinava Seus discípulos a confiarem na Providência. Além do mais, quem os recebes-se não o faria por cobiça, uma vez que eles nada possuíam. Era uma forma de distinguir os caridosos dos egoístas. Eis por que Jesus lhes disse: “Procurai saber quem é digno de vos hospedar”, ou seja: “quem é suficiente-mente caridoso para abrigar o viajante que não tem com que pagar, é também digno de ouvir vossas palavras e é pela sua caridade que os reconhecereis”.

Quanto aos que não quisessem recebê-los nem ouvi-los, porventura Jesus recomendou que os amaldiçoassem, que se impusessem a eles, que usassem de violência e constrangimento

para convertê-los? Não! Ele simplesmente mandou que se fos-sem e que procurassem em outro lugar pessoas de boa vontade.

O mesmo diz hoje o espiritismo aos seus adeptos: “Não violenteis nenhuma consciência. Não forceis ninguém a aban-donar sua crença para adotar a vossa. Não amaldiçoeis os que não pensam como vós. Acolhei os que vêm a vós e deixai em paz os que vos rejeitam. Lembrai-vos das palavras do Cristo: ‘Outrora o céu era tomado pela violência, hoje o é pela doçura’. ” (Veja capítulo IV, números 10 e 11, desta obra).