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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 154. A separação da alma e do corpo é dolorosa? – Não. O corpo muitas vezes sofre mais durante a vida do que no momento da morte: a alma não participa disso. Os sofrimentos pelos quais algumas vezes se passa no mo- mento da morte são uma satisfação para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio. Na morte natural, a que acontece pelo depauperamento dos órgãos devido à idade, o homem deixa a vida sem sentir: é uma lâmpada que se apaga por falta de manutenção. 155. Como se efetua a separação da alma e do corpo? – Sendo rompidos os laços que a retinham, ela se desprende. 155a. A separação se produz instantaneamente e numa transição brusca? Há uma linha de demarcação nitidamente estabelecida entre a vida e a morte? – Não, a alma se desprende gradualmente, não foge como um pássaro cativo a que subitamente se devolveu a liberdade. Os dois estados se tocam e se confundem; assim, o Espírito se desliga pouco a pouco dos seus laços: eles se desatam, não se partem. Durante a vida, o Espírito fica preso ao corpo por seu envoltório semimaterial, ou perispírito. A morte é a destrui- ção do corpo somente, não do segundo envoltório, que se separa do corpo quando nele cessa a vida orgânica. A ob- servação prova que no momento da morte o desligamento do perispírito não se completa subitamente; ele se efetua gra- dualmente, e com uma duração que varia muito conforme os indivíduos. Em alguns é bastante rápido, podendo-se dizer que o momento da morte e o da libertação é quase o mesmo, ou poucas horas depois. Em outros, principalmente naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desligamento é bem menos rápido, durando às vezes dias, semanas, meses até, o que não significa que haja no corpo a mínima vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que é sempre Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 4 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL Separação da alma e do corpo

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

154. A separação da alma e do corpo é dolorosa?– Não. O corpo muitas vezes sofre mais durante a vida

do que no momento da morte: a alma não participa disso. Os sofrimentos pelos quais algumas vezes se passa no mo-mento da morte são uma satisfação para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.

Na morte natural, a que acontece pelo depauperamento dos órgãos devido à idade, o homem deixa a vida sem sentir: é uma lâmpada que se apaga por falta de manutenção.

155. Como se efetua a separação da alma e do corpo?– Sendo rompidos os laços que a retinham, ela se desprende.

155a. A separação se produz instantaneamente e numa transição brusca? Há uma linha de demarcação nitidamente estabelecida entre a vida e a morte?

– Não, a alma se desprende gradualmente, não foge como um pássaro cativo a que subitamente se devolveu a

liberdade. Os dois estados se tocam e se confundem; assim, o Espírito se desliga pouco a pouco dos seus laços: eles se desatam, não se partem.

Durante a vida, o Espírito fica preso ao corpo por seu envoltório semimaterial, ou perispírito. A morte é a destrui-ção do corpo somente, não do segundo envoltório, que se separa do corpo quando nele cessa a vida orgânica. A ob-servação prova que no momento da morte o desligamento do perispírito não se completa subitamente; ele se efetua gra-dualmente, e com uma duração que varia muito conforme os indivíduos. Em alguns é bastante rápido, podendo-se dizer que o momento da morte e o da libertação é quase o mesmo, ou poucas horas depois. Em outros, principalmente naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desligamento é bem menos rápido, durando às vezes dias, semanas, meses até, o que não significa que haja no corpo a mínima vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que é sempre

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• Separação da alma e do corpo

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proporcional à predominância que o Espírito atribuiu à ma-téria durante a vida. Na verdade, é racional admitir-se que, quanto mais o Espírito se tenha identificado com a matéria, mais dificuldade tem para separar-se dela, ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos, efetuam um início de desprendimento ainda durante a vida do corpo e, quando a morte chega, esse desprendimento é quase instantâneo. Tal é o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos observados na hora da morte. Essa ob-servações provam também que a afinidade que, em determi-nados indivíduos, persiste entre a alma e o corpo, às vezes é muito dolorosa, pois o Espírito pode avaliar o horror da decomposição. É um caso excepcional e restrito a determina-dos tipos de morte; ocorre entre alguns suicidas.

156. A separação definitiva da alma e do corpo pode acontecer antes da cessação total da vida orgânica?

– Na agonia, às vezes a alma já deixou o corpo: há ape-nas vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo, e no entanto ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimen-to; ele existe enquanto o coração faz o sangue circular nas veias, e para isso não necessita da alma.

157. No momento da morte, a alma tem, algumas vezes, uma aspiração ou êxtase que lhe faz entrever o mundo para o qual vai voltar?

– Muitas vezes a alma sente partirem-se os laços que a prendem ao corpo; então emprega todos os seus esforços para rompê-los por completo. Já desprendida, em parte, da matéria, ela vê o futuro desdobrar-se à sua frente e goza,

por antecipação, do estado de Espírito.

158. O exemplo da lagarta, que primeiro rasteja no chão, depois se fecha na sua crisálida, numa morte aparente, para renascer como um ser brilhante, pode dar-nos uma idéia da vida terrestre, a seguir, do túmulo, e, finalmente, da nossa nova existência?

– Uma pálida idéia. A comparação é boa, mas não se deve tomá-la ao pé da letra, como muitas vezes acontece con-vosco.

159. Que sensação a alma tem no momento em que se vê no mundo dos Espíritos?

– Depende; se praticaste o mal com o intuito de praticá--lo, no primeiro momento sentirás vergonha por tê-lo feito. Quanto ao justo, é bem diferente: a alma sente-se aliviada de um grande peso, pois não teme nenhum olhar inquiridor.

160. O Espírito reencontra imediatamente aqueles que conheceu na terra e que morreram antes dele?

– Sim, conforme a afeição que sentiam reciprocamente; muitas vezes eles vêm recebê-lo na sua volta ao mundo dos Espíritos, e ajudam-no a livrar-se dos restos da matéria: como também reencontra muitos que perdera de vista durante sua estada na terra. Vê os que estão na erraticidade, os que estão encarnados; visita-os.

161. Na morte violenta e acidental, quando os órgãos ain-da não estão debilitados devido à idade ou às doenças, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultane-amente?

– Geralmente é assim, mas, em todos os casos, o instan-te que decorre entre elas é muito breve.

162. Após a decapitação, por exemplo, o homem conser-va por alguns instantes a consciência de si mesmo?

– Muitas vezes a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica esteja completamente extinta. Mas também, frequentemente, o medo da morte faz com que perca a consciência antes do instante do suplício.

Trata-se, aqui, somente da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode então conservá-la por alguns instan-tes, mas que são de curtíssima duração, e ela cessa necessa-riamente com a vida orgânica do cérebro, o que não significa que o perispírito esteja inteiramente desligado do corpo. Ao contrário, em todos os casos de morte violenta, quando ela não é motivada pela extinção natural das forças vitais, os laços que unem o corpo ao perispírito são mais resistentes, e o desligamento completo é mais lento.

O Livro dos EspíritosAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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Considerações sobre a reencarnaçãoPERGUNTA: — Após abandonardes

o corpo físico, quais foram as primeiras reflexões que vos acudiram ao espírito?

ATANAGILDO: — Não senti grande diferença ao mudar-me para o Mundo Astral por ter-me devotado profunda-mente, em vida, à melhoria vibratória do meu espírito, do que resultou-me uma desencarnação bastante feliz.

Mesmo quando nos encontramos ainda no corpo carnal, já podemos viver parte do ambiente astral superior ou inferior, em que iremos penetrar depois da morte corporal. Os hábitos eleva-dos, cultuados na vida física, significam exercícios que nos desenvolvem a sensi-bilidade psíquica para depois nos sinto-nizarmos às faixas sutilíssimas das esfe-ras do Além, assim como o cultivo das paixões denegridas também representa o treino diabólico que, depois, nos afundará implacavelmente nos charcos tenebrosos do Astral inferior. Todo impulso de ascensão espiritual é conseqüente do esforço de libertação da matéria escravizante, assim como a preguiça ou o desinteres-se por si mesmo se transformam em perigoso convite para as regiões infernais. Os nossos desejos se rebaixam em virtude dessa habitual negligência espiritual para com o sentido educativo da vida humana, assim como também se elevam, quando acionados pelo combustível da nossa aspiração superior e mantidos heroicamente à distância do sensualismo perigoso das formas.

Não importa que ainda permaneçamos no mundo de carne, pois, desde que sejam cultuadas as iniciativas dignas, também estaremos usufruindo o padrão vibratório do Astral superior, porque, em verdade, a entidade angélica que vive em nós, sintonizada aos mundos elevados, esforça-se para sobrepujar a organização milenária do animal instintivo. Sob esse treino mantido pelo exercício contínuo da ternura, da simplicidade, da simpatia, do estudo e da renúncia às seducões da matéria transitória, a desencarnação significa para nós um suave desafogo e mudança para melhor, que é o ingresso positivo no panorama delicado que já entrevíamos em nossa intimidade espiritual ainda reencarnada. E a vida humana, em lugar de significar o famigerado “vale de lágri-mas”, toma-se breve promessa de felicidade, assim como no céu plúmbeo e tempestuoso podemos entrever as nesgas de nuvens que hão de permitir a passagem dos primeiros raios do Sol da bonança.

Quando sentimos vibrar no âmago de nossa alma os primeiros reflexos do futuro cidadão celestial, modifica-se também a nossa visão da vida humana e do esforço criador da natureza; pouco a pouco, sentimo-nos unidos à florinha silvestre perdida na vastidão da campina, ao pássaro no seu vôo tranqüilo sob o céu iluminado e ao próprio oceano que

ruge ameaçadoramente. É a mensagem direta da vida cósmica que se expressa em nós, convidando-nos aos vôos mais altos e à libertação definitiva das formas inferiores, para nos integrar-mos ao espírito imortal que alimenta todas as coisas.

Quando me senti completamente desembaraçado do corpo físico, embora no meu perispírito ainda estrugissem os desejos e as paixões do mundo que deixava, não me deixei perturbar espiritualmente, porque já havia compreendido o sentido da vida material. Os mundos planetários, como a Terra, não passam de sublimes laboratórios dotados das energias de que a alma ignorante ainda precisa para tecer a sua individu-alidade, na divina consciência de “existir e saber”.

PERGUNTA: — E como sentistes a separação da família terrena?

ATANAGILDO: — A minha desencarnação significou--me a revelação positiva do mundo que já palpitava em mim, uma vez que já havia me libertado das ilusões provisórias da vida material. Embora eu ainda permanecesse operando num corpo de carne, em verdade o meu espírito participava demoradamente da vida astral do “lado de cá”, porque de há muito desistira de competir nos embates aflitivos do perso-nalismo da matéria, para apenas ser o irmão de boa vontade no serviço do bem ao próximo.

Encontrava-me no limiar dos vinte e oito anos e vivia sozinho, pois meu pai havia falecido aos quarenta e oito anos de idade, deixando-me criança, em companhia de uma irmã de quinze anos. Embora eu tivesse noivado poucas sema-nas antes de desencarnar, ainda não me deixara escravizar pela idéia fixa de só ser feliz constituindo um lar material. Eu considerava o casamento como grave responsabilidade espiritual, certo de que na vida prosaica do lar doméstico teria de por à prova a minha bagagem de afetos ou aversões, que ainda pudesse trazer de vidas pregressas. À medida que vamos nos libertando dos preconceitos, paixões e caprichos

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humanos, também desinteressamo-nos de garantir a identi-dade de nossa personalidade nas formas do mundo material. Compreendemos, então, que todos os seres são nossos irmãos, enquanto que o exclusivismo da família consangüínea não representa a realidade da verdadeira família, que é a espi-ritual. Embora os homens se diferenciem através dos seus organismos físicos e raças à parte, todos provêm de uma só essência original, que os criou e os torna irmãos entre si, mesmo que queiram protestar contra esta afirmativa.

O lar tanto pode ser tranqüila oficina de trabalho para as almas afinadas desde o passado, como oportuna escola corretiva e de ensejos espirituais renovadores entre velhos adversários, que podem se encontrar algemados desde os séculos findos. Sem dúvida, o ninho doméstico é generosa oportunidade para a procriação digna de novos corpos físicos, que tanto auxiliam os espíritos desajustados do Além, aflitos para obterem o esquecimento num organismo de carne, a fim de atenuarem o remorso torturante do seu passado tenebroso.

Mas é evidente que, quando há grande capacidade do espírito para amar a todos os seres, isto lhe enfraquece a idéia fundamental de constituir família consangüínea e normalmen-te egocêntrica, sem que esta sua atitude represente um isola-cionismo condenável. Jesus manteve-se solteiro e foi o mais sublime amigo, irmão e guia de toda a humanidade. E durante a sua desencarnação, certamente não sofreu pela separação da família carnal, porque, em vida, o seu coração já se revelara liberto da parentela física. E ele bem nos comprova esse grande amor por todos, quando formula a sibilina indagação a sua mãe: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”

Deste modo, ser-vos-á fácil compreender que não passei pelo desespero e pelas angústias perturbadoras no momento da separação de minha família consangüínea, porque em vida física já me habituara à confraternização sincera com todos os seres que cruzavam o meu caminho, resultando que a minha saudade abrangeu uma família bastante extensa e paradoxalmente desligada da ilusão consangüínea.

PERGUNTA: — Poderíeis nos expor as conclusões filosó-ficas que vos auxiliaram a ter serenidade na hora amarga da separação da família, a fim de que isso nos sirva de orientação espiritual?

ATANAGIILDO: — Quando a nossa maturidade espi-ritual nos permite entrever todas as existências passadas, como se fossem várias contas coloridas, unidas pelo cordão da verdadeira consciência espiritual, verificamos que o nosso tradicional sentimentalismo humano está em contradição evidente com as qualidades de heroísmo e libertação do espírito divino, que nos dirige os destinos pelos caminhos do mundo planetário.

A evocação de nossas vidas pregressas, com o conse-qüente avivamento da nossa memória espiritual, também nos surpreende, constrangidos, ante os dramas exagerados que desempenhamos diante da morte do corpo físico que nos serviu no passado, em conseqüência da separação rotineira das várias famílias consangüíneas que temos constituído na Terra. Verificamos, então, que a morte física é apenas o fim de um período letivo de aprendizado do espírito na carne, como acontece com a criança que termina cada ano do seu

curso primário, preparando-se para as lições mais avançadas do porvir. A perda do corpo material não destrói as amizades nem os ódios milenários do espírito, porque este é sempre o eterno sobrevivente de todas as mortes.

Quando compreendemos a realidade da vida espiritual, rimo-nos sempre das tantas vezes que temos chorado sobre os vários corpos de carne de nossos familiares terrenos, verifican-do que foram apenas vestimentas provisórias, que tiveram de devolver periodicamente ao guarda-roupa prosaico do cemité-rio. E também não escapamos de sorrir, desconcertados, ante as recordações de que os nossos parentes também choraram, inconsoladamente, nas diversas vezes que tivemos de entregar o nosso traje de nervos, músculos e ossos à sepultura da terra. É um choro milenário a que as criaturas de todas as raças se entregam junto aos leitos dos enfermos e sobre os sepúlcros carcomidos, na mais crassa ignorância da realidade espiritual. A morte é libertação e o túmulo o laboratório químico que devolve à circulação as moléculas cansadas pelo uso. Quanto maior for a ignorância da alma, no tocante à morte física, que significa a renovação de oportunidades benfeitoras, tanto mais se tornará crítica e dramática a hora de a criatura devolver o corpo emprestado e então reclamado pelo armazém de forne-cimento da mãe-Terra.

É por isso que os reencarnacionistas — que são cons-cientes da realidade espiritual — quase não choram pelos que partem para cá nem temem a morte, porque reconhecem nela uma intervenção amiga para libertação do espírito, auxiliando-o a iniciar a sua nova caminhada no seu verda-deiro mundo, que é o Além. No entanto, a maior parte dos religiosos dogmáticos e as criaturas descrentes da imortalida-de da alma arrepiam-se diante da hora do “falecimento”; os primeiros, porque temem a “eternidade” do inferno, visto que nem sempre estão bem seguros de suas virtudes; os segundos, porque se defrontam com a idéia horrorosa do “nada”. Sem dúvida, para essas criaturas a morte sempre lhes parecerá coisa lúgubre, indesejável e desesperadora.

A nossa parentela física, à medida que vai desencarnan-do, prossegue no Além as tarefas a que todos nós estamos ligados, para a ventura em comum. Assim, os que partem com antecedência preparam o ambiente feliz para aqueles que ainda se demoram na carne. Diante dessa verdade, não há justificativa alguma para os desmaios histéricos, os gritos estentóricos e as clássicas acusações escandalosas contra Deus pelo fato de roubar os nossos entes queridos e fazê-los apodrecerem em tristes covas de barro.

Eis por que necessitamos despertar em vosso mundo a verdadeira idéia da imortalidade, que é fundamento de nossa própria estrutura espiritual, trabalhando para que vos distancieis da ingênua presunção de que é preciso morrerdes no corpo físico, para só então sobreviverdes em espírito. Esse espírito está convosco a todo momento, em qualquer plano de vida; constitui o próprio “pano de fundo” de nossas individua-lidades, onde se encontra o Magnânimo Pai, que nos sustenta por toda a eternidade.

A Vida Além da SepulturaRamatís / Hercílio Maes

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24. Quando Jesus passava, viu um homem que era cego desde o seu nascimento; e seus discípulos lhe pergun-taram: Mestre, foi o pecado desse homem, ou o pecado dos que o puseram no mundo, a causa de ele ter nascido cego?

Jesus respondeu-lhes: Nem ele pecou, nem os que o puse-ram no mundo; mas foi para que se manifestassem nele as obras do poder de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou enquanto é dia; a noite vem, na qual ninguém pode trabalhar. – Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.

Dito isto, cuspiu na terra e, tendo feito lama com sua saliva, ungiu com essa lama os olhos do cego, – e lhe disse: Vai lavar-te na piscina de Siloé, que significa Enviado. Ele foi, lavou-se e voltou vendo.

Seus vizinhos e os que o tinham visto antes pedindo esmolas diziam: Não é este aquele que ficava sentado mendigando? Uns respondiam: É ele; outros diziam: Não, é alguém que se parece com ele. Mas ele lhes dizia: Sou eu mesmo. – Eles então lhe perguntaram: Como é que teus

olhos se abriram? – Ele respondeu: Aquele homem chama-do Jesus fez um pouco de lama, com ela ungiu meus olhos e disse: Vai à piscina de Siloé e lava-te. Eu fui, lavei-me e vejo. – Perguntaram-lhe: Onde está ele? Respondeu-lhes: Não sei.

Levaram então aos fariseus o homem que antes era cego. – Ora, era sábado o dia em que Jesus tinha feito a lama e lhe abrira os olhos.

Então os próprios fariseus também o interrogaram para saber como havia recobrado a visão. E ele lhes disse: Ele me pôs lama nos olhos, eu me lavei e vejo. – Ao que alguns fariseus disseram: Esse homem não é enviado de Deus, pois que não guarda o sábado. Mas outros diziam: Como poderia um homem mau fazer tais prodígios? E houve divergência entre eles.

De novo perguntaram ao cego: E tu, que dizes a respei-to desse homem que te abriu os olhos? Ele respondeu: Digo que é um profeta. – Mas os judeus não acreditaram que aquele homem houvesse sido cego e que tivesse recuperado

Cego de nascença

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a visão, enquanto não chamaram o pai e a mãe dele, – e os interrogaram, perguntando-lhes: É este o vosso filho que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora vê? O pai e a mãe responderam: – Sabemos que esse é nosso filho e que nasceu cego; – mas não sabemos como ele agora vê e não sabemos quem lhe abriu os olhos. Interrogai-o; ele já tem idade para responder por si mesmo.

Seu pai e sua mãe falavam assim porque temiam os judeus, porque estes, na sua totalidade, já haviam decidi-do que quem quer que reconhecesse a Jesus como sendo o Cristo, seria expulso da sinagoga. – Foi isso o que obrigou o pai e a mãe a responderem: Ele tem já idade, interrogai-o.

Então chamaram pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e lhe disseram: Dá glória a Deus; sabemos que esse homem é um pecador. – Ele lhes respondeu: Se é pecador, eu não sei; tudo o que sei é que eu era cego, e agora vejo. – Perguntaram-lhe de novo: Que te fez ele, e como te abriu os olhos? – Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e vós ouvistes; por que quereis ouvi-lo mais uma vez? Porventura quereis tornar-vos seus discípulos? Então o cobriram de injúrias e disseram-lhe: Sê tu seu discípulo; quanto a nós, somos discípulos de Moisés. – Sabemos que Deus falou a Moisés, mas, quanto a esse aí, não sabemos de onde saiu.

O homem lhes respondeu: É de estranhar que não saibais de onde ele é, e que me tenha aberto os olhos. – Ora, sabemos que Deus não atende aos pecadores; mas, se alguém o honra e faz sua vontade, a esse Deus atende. – Desde que o mundo existe, jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. – Se esse homem não fosse um enviado de Deus, não poderia fazer de tudo que tem feito.

Eles lhes retrucaram: Tu és todo pecado desde o ventre da tua mãe, e queres ensinar-nos? E o expulsaram (João, 9: 1-34).

25. Esta narrativa, tão simples, tão singela, traz em si um cunho evidente de verdade. Nada de fantástico ou prodigioso; é uma cena da vida real apanhada no ato. A linguagem do cego é bem a desses homens simples, nos quais o bom senso supre a falta de saber, e que rebatem os argumentos dos seus adversários com simplicidade, e com ponderações a que não faltam justeza, nem oportunidade. O tom dos fariseus não é o dos orgulhosos, que nada admitem acima da sua inteligência e se enchem de indignação à simples ideia de que um homem do povo possa admoestá-los? Afora a cor local dos termos, dir-se-ia que é a narrativa de um fato do nosso tempo.

Ser expulso da sinagoga equivalia a ser posto para fora da Igreja; era uma espécie de excomunhão. Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo interpretada segundo o progresso atual das ciências, são tratados como os judeus que reconheciam Jesus como o Messias; ao excomungá-los, põem-nos fora da Igreja, como os escribas e os fariseus fizeram com os seguidores de Jesus. Assim, eis aí um homem que é expulso porque não

pode acreditar que aquele que o curou esteja possuído pelo demônio, e porque louva a Deus pela sua cura! Não é isso que fazem com os espíritas? O que eles obtêm: sábios conselhos dos espíritos, retorno a Deus e ao bem, curas, é tudo obra do diabo e lançam-lhes a excomunhão. Já não se viram padres dizerem, do alto do seu púlpito, que é melhor manter-se incrédulo do que voltar a crer por meio do espiritismo? Não se ouviram alguns dizerem a doentes que não deviam fazer-se curar pelos espíritas que possuem esse dom, porque é um dom satânico? Outros pregarem que os necessitados não deviam aceitar o pão distribuídos pelos espíritas, por ser o pão do diabo? Que outra coisa diziam os sacerdotes judeus e os fariseus? Aliás, está dito que tudo deve acontecer hoje como no tempo do Cristo.

Essa pergunta dos discípulos: Foi o pecado desse homem a causa de ele ter nascido cego? indica a intuição de uma exis-tência anterior, caso contrário, não teria sentido, pois o pecado que seria a causa de uma enfermidade de nascença deveria ter sido cometido antes do nascimento e, consequentemente, numa existência anterior. Se tivesse visto aí uma ideia errada, Jesus lhes teria dito: “Como este homem poderia pecar antes de ter nascido?” Em vez disso, disse-lhes que aquele homem não era cego por ter pecado, mas para que o poder de Deus nele se manifestasse, isto é, porque ele devia ser o instrumento de uma manifestação do poder de Deus. Se não era uma expiação do passado, era uma prova que devia servir para o seu adiantamen-to, porque Deus, que é justo, não podia impor-lhe um sofrimento sem compensação.

Quanto ao meio empregado para curá-lo, é evidente que a espécie de lama feita com saliva e terra só podia ter proprie-dades pela ação do fluido curativo de que estava impregnada. É assim que as mais insignificantes substâncias, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo, ou, se quisermos, de reservatório.

A GêneseAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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Dissertação de um Espírito sobre a influência moral

230. A instrução sobre este assunto, que se segue, nos foi dada por um Espírito de quem já registramos diversas comunicações:

Já o dissemos: os médiuns, quando na sua função, têm apenas uma influência secundária nas comunicações dos Espíritos; seu papel é o de uma máquina elétrica, que trans-mite telegramas de um determinado ponto a outro ponto distante da Terra. Assim, quando queremos ditar uma comu-nicação, atuamos sobre o médium como o encarregado do telégrafo sobre seu aparelho, isto é, do mesmo modo que o tac-tac do telégrafo traça, a milhares de léguas, sobre uma tira de papel, os sinais que reproduzem a mensagem telegráfica, nós também, pelo aparelho mediúnico, transmitimos através das distâncias incomensuráveis que separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo imaterial do mundo encarnado, o que queremos ensinar-vos. Mas, assim como as influências atmosféricas atuam e freqüentemente interferem nas trans-missões do telégrafo, também a influência moral do médium às vezes atua e interfere na transmissão das nossas mensagens de além-túmulo, porque somos obrigados a fazê-las por um meio que lhes é desfavorável. Entretanto, na maioria das vezes essa influência é anulada pela nossa energia e pela nossa vontade, e não se constata qualquer transtorno. Na ver-dade, ditados de alto alcance filosófico, comunicações de uma perfeita moralidade, são às vezes transmitidos por médiuns pouco indicados para ensinamentos de ordem superior; enquanto que, por outro lado, comunicações pouco edifican-tes também chegam através de médiuns que se envergonham por ter-lhes servido de transmissores.Em tese geral, pode-se afirmar que os Espíritos de natu-reza igual atraem Espíritos semelhantes, e que raramente Espíritos de grupos elevados se comunicam por aparelhos maus transmissores quando têm ao seu dispor bons aparelhos mediúnicos, em resumo, quando dispõem de bons médiuns.Portanto, médiuns levianos e pouco sérios atraem Espíritos da mesma espécie; por isso suas comunicações são assina-ladas por banalidades, frivolidades, idéias sem nexo e fre-qüentemente muito heteredoxas, espiritualmente falando. É claro que podem dizer, e às vezes dizem, coisas proveitosas; mas é nesse caso, principalmente, que se precisa efetuar um exame severo e meticuloso, porque, em vez de coisas boas, alguns Espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e premeditada falsidade, fatos forjados, afirmações mentiro-sas, para iludir a boa-fé dos ouvintes. Deve-se então cortar sem piedade toda palavra, toda frase ambígua, e do ditado manter apenas o que a lógica aceita, ou o que a doutrina já tenha ensinado. Só os espíritas isolados, os grupos recentes, ou pouco esclarecidos, devem temer comunicações desse tipo, porque, nos grupos em que os adeptos estejam mais adiantados e tenham adquirido experiência, pouco importa que um pássaro qualquer se enfeite com penas de pavão, ele sempre será impiedosamente rechaçado.Não falarei dos médiuns que gostam de solicitar e ouvir comunicações obscenas; deixemos que fiquem bem à vonta-de na companhia dos Espíritos cínicos. Aliás, comunicações dessa ordem exigem, por si só, solidão e isolamento; defini-

tivamente, só poderiam provocar desprezo e asco entre os membros de grupos filosóficos e sérios. Mas, o momento em que a influência moral do médium se faz realmente sentir é quando ele substitui, pelas suas próprias idéias, as que os Espíritos se esforçam por sugerir-lhe, e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que ele próprio, de boa-fé, julga serem provenientes de uma comunicação intui-tiva. Quase sempre se pode apostar mil contra um que isso é apenas o reflexo do Espírito pessoal do médium. Acontece, mesmo, um fato curioso: é que às vezes a mão do médium se move quase mecanicamente, impelida por um Espírito secundário e zombeteiro. É contra essa pedra de toque que vão despedaçar-se as imaginações exaltadas, porque, arre-batados pelo ardor das suas próprias idéias, pelo falso brilho dos seus conhecimentos literários, os médiuns ignoram o modesto ditado de um Espírito sábio, e, trocando o certo pelo duvidoso, o substituem por um comentário empolado. É contra esse terrível escolho que vão chocar-se também as personalidades ambiciosas que, na falta das boas comu-nicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo produto desses Espíritos. Por isso é preciso que os chefes de grupos espíritas sejam dotados de um tato apurado e de raro discernimento, para distinguir as comunicações autênticas das que não o são, e para não magoar os que se iludem a si mesmos.Na dúvida, contenha-se, diz um dos vossos antigos provér-bios; só admitais, portanto, o que para vós seja de uma clare-za evidente. Quando surge uma opinião nova, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica, e rejeitai energicamente o que a razão e o bom senso repro-vam. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria errônea. Na verdade, sobre esta teoria poderíeis fundar todo um sistema, que desmoro-naria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitar-des hoje certas verdades porque não vos são demonstradas logicamente e com clareza, logo um fato decisivo, ou uma demonstração irrefutável, virá confirmar-lhes a autenticidade.Lembrai-vos, no entanto, ó espíritas, de que para Deus e para os bons Espíritos só há um impossível: a injustiça e a iniqüidade!O espiritismo hoje está bastante difundido entre os homens, e já moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua santa doutrina, para que os Espíritos não se vejam mais sujeitos a utilizar-se de maus instrumentos, de médiuns imperfeitos. Agora, portanto, se um médium qualquer, por sua conduta ou seus hábitos, por seu orgulho, por sua falta de amor e de caridade, der margem a uma legítima suspeita, rejeitai, rejeitai suas comunicações, porque há uma serpente escondida entre as ervas. Eis minha conclusão sobre a influ-ência moral dos médiuns.”

Erasto

O Livro dos MédiunsAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

Influência moral do médium

8 Conhecendo a Doutrina EspíritaSolicite a versão eletrônica pelo e-mail: [email protected]

12. No homem, a fé é o sentimen-to inato de sua existência futura. É a consciência que ele tem de suas imensas faculdades, cuja semente lhe foi depo-sitada, a princípio em estado latente, e que deve fazer desabrochar e desenvol-ver com o tempo, por força de sua von-tade enérgica.

Até hoje, a fé foi compreendida apenas em seu aspecto religioso, por-que o Cristo a preconizava como uma poderosa alavanca, e porque viam Nele apenas o chefe de uma religião. Mas o Cristo, que realizou milagres verdadei-ros, mostrou, com esses mesmos mila-gres, do que o homem é capaz quando tem fé, ou seja, quando tem determinação e vontade, e a certeza de que essa vontade pode levar à realização. Os após-tolos, assim como Ele, também não fizeram milagres? Ora, o que eram esses milagres senão efeitos naturais, cuja causa os homens desconheciam naquela época, e que hoje podem ser explicados e compreendidos perfeitamente pelo estudo do espiritismo e do magnetismo?

A fé é humana ou divina, conforme o homem aplique suas faculdades às necessidades terrenas ou às suas aspira-ções celestes e futuras. O homem talentoso que busca a re-alização de um grande empreendimento triunfa se tem fé, porque sente dentro de si que pode atingir o seu objetivo, e essa certeza lhe dá uma força enorme. O homem de bem que, acreditando em seu futuro celeste, pontilha sua vida de belas e nobres ações, extrai de sua fé a força necessária para seguir adiante, ciente da felicidade que o espera. E aí então realizam-se os milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há más tendências que não possam ser vencidas.

O magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz os fenômenos que outrora eram chamados de milagres.

Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarna-dos estivessem cientes da força que trazem dentro de si, e,

se quisessem pôr sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até agora chamamos de prodígios, e que na verdade nada mais são do que o desenvolvimento dos dons e das faculdades humanas. (Um Espírito protEtor, Paris, 1863).

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.