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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A)SOBN° ACÓRDÃO IWIIIWIIIIIIIIM Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal, No. 01055197.3/8-0000-000, da Comarca de Osasco, em que é(são) APELANTE(s) GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA, sendo APELADO(s) MINISTÉRIO PÚBLICO, sendo CO-RÉU(s) GIVANEIS GOMES DE MORAES. ACORDAM, em 2 a Câmara do 1 o Grupo da Seção Criminal, proferir a seguinte decisão: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PARA REDUZIR AS PENAS DE GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA PARA 5 (CINCO) ANOS E 6 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO, E 14 (CATORZE) DIAS-MULTA, NO VALOR UNITÁRIO MÍNIMO, MANTIDA, NO MAIS A R. SENTENÇA MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS E JURÍDICOS FUNDAMENTOS. V.U. ", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento foi presidido pelo(a) Desembargador(a) ALMEIDA BRAGA e teve a participação dos Desembargadores ANTÔNIO LUIZ PIRES NETO. São Paulo, 08 de outubro de 2007 ©E-SOÜZA Relator 49

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO

PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA

REGISTRADO(A)SOBN°

ACÓRDÃO IWIIIWIIIIIIIIM

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal, No. 01055197.3/8-0000-000, da Comarca de Osasco, em que é(são) APELANTE(s) GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA, sendo APELADO(s) MINISTÉRIO PÚBLICO, sendo CO-RÉU(s) GIVANEIS GOMES DE MORAES.

A C O R D A M , em 2a Câmara do 1 o Grupo da Seção Criminal, proferir a seguinte decisão: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PARA REDUZIR AS PENAS DE GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA PARA 5 (CINCO) ANOS E 6 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO, E 14 (CATORZE) DIAS-MULTA, NO VALOR UNITÁRIO MÍNIMO, MANTIDA, NO MAIS A R. SENTENÇA MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS E JURÍDICOS FUNDAMENTOS. V.U. ", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento foi presidido pelo(a) Desembargador(a) ALMEIDA BRAGA e teve a participação dos Desembargadores ANTÔNIO LUIZ PIRES NETO.

São Paulo, 08 de outubro de 2007

©E-SOÜZA Relator

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

APELAÇÃO CRIMINAL n° 1.055.197.3/8-00 COMARCA - OSASCO Vara: 3a Criminal - Processo n° 1542/2004-A APELANTES - GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA APELADO - MINISTÉRIO PÚBLICO

V O T O N° 3295

Pela r. sentença de fls. 201/204, cujo relatório se adota, GUILHERME NOGUEIRA DA SILVA foi condenado às penas de 5 anos, 7 meses e 6 dias de reclusão, em regime inicial semi-aberto, e pagamento 14 dias-multa, no valor mínimo legal, por infração ao artigo 157, § 2o, incisos I e II, c.c. o artigo 29, ambos do Código Penal. As penas-base foram fixadas no mínimo legal. A seguir, acrescidas de 2/5, ante a presença de duas qualificadoras (emprego de armas e concurso de agentes), perfazendo o total final de 5 anos, 7 meses e 6 dias de reclusão, e 14 dias-multa.

Inconformado, dela recorre o sentenciado e, escorado nas razões de fls. 216/228. pugna pela absolvição por insuficiência probatória ou, subsidiariamente, a fixação do regime prisional inicial em semi-aberto.

Recurso regularmente processado e respondido (fls. 232/236). Nesta instância, a douta Procuradoria de Justiça opinou pelo improvimento do recurso (fls. 242/250).

Autos desmembrados com relação ao co-réu Givaneis Gomes de Moraes (fl. 87).

É o relatório.

O reclamo defensivo merece parcial provimento.

Consta da denúncia que no dia 10 de maio de 2004, por volta das 07:20h, no interior do "Supermercado La Fama", localizado na Avenida Brasil, n° 1585, bairro Rochdale, cidade de Osasco, o apelante e o co-réu Givaneis Gomes de Moraes, vulgo "Zóio", agindo em concurso e com unidade de propósitos com um terceiro indivíduo não identificado, subtraíram, para eles, mediante grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, a quantia de R$ 16.000,01) (dezesseis mil reais), constituída de tickets, dinheiro e cheque, bem como jb veículo GM Vectra, placas DAE-6116, no interior do qual havia um tmã<yaf\^

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cheques do Banco Itaú, cartão da Caixa Econômica Federal, cédula de identidade e outros documentos, todos pertencentes a Marcelo Noleto Cruz.

Apurou-se que, por ocasião dos fatos, a vítima estava chegando em seu estabelecimento comercial denominado "Supermercado La Fama", quando foi abordada pelo apelante e seus comparsas, os quais anunciaram o assalto e determinaram que a vítima ingressasse no estabelecimento e desligasse o alarme. Ato contínuo, os assaltantes conduziram a vítima até o escritório e exigiram o dinheiro, tendo Marcelo dito que não tinha. Os meliantes vasculharam aquele local e encontraram os valores mencionados. Em seguida, fugiram, levando o veiculo GM/Vectra de Marcelo. Acionados, os policiais lograram encontrar, posteriormente, o veículo GM/Vectra abandonado na avenida Cruzeiro do Sul, próximo à rua Manaus, bairro Rochdale, sem a frente do toca-cd, com os fios do módulo cortados e sem as chaves.

A materialidade restou demonstrada pelo boletim de ocorrência de fls. 06/08 e auto de reconhecimento fotográfico de fls. 37/38 e 43.

O apelante negou a autoria do delito a ele imputado, asseverando que já ouviu falar do co-réu Givaneis, vulgo *kZóio" que mora no mesmo bairro. Declarou não o motivo pelo qual está sendo acusado, afirmando que foi detido quando compareceu espontaneamente na delegacia após intimação. Só então ficou sabendo que estava sendo acusado (fls. 130/133).

Sua negativa caiu no vazio diante do conjunto probatório produzido no curso da instrução criminal.

A vítima Marcelo Noleto Cruz esclareceu que é dono do Supermercado La Fama e, no dia dos fatos, estava abrindo a porta de seu estabelecimento, por volta das 07:I5h da manhã, quando foi abordada por três elementos que anunciaram o assalto, sendo que um deles portava arma de fogo. Declarou que dois dos meliantes entraram junto com ele no estabelecimento e o terceiro não identificado ficou do lado de fora. Asseverou que exigiram dinheiro dando a entender que sabiam da existência de dinheiro no escritório, ameaçando o declarante de morte o tempo todo. Afirmou que no decorrer da ação delituosa reconheceu os roubadores, pois não usavam capuz e eram moradores da região. Relatou que ficou por cerca de vinte minutos em poder dos assaltantes que se apoderaram dos bens conforme descritos e, logo após. empreenderam fuga no veículo GM/Vectra do ofendido. Declarou, ainda, que não recuperou todos os bens subtraídos e que antes dos fatos já havia sido alertado por moradores do bairro a respeito do co-réu Giavaneis Gomes da Silva, vulgo "Zóio", como sendo ladrãft. Relatou que por ocasião dos fatos dirigiu-se à delegacia para registrar o Ü ^ O ^ reconheceu através de fotos o ora apelante como sendo um dos autores do/dJflitk

Apelação Criminal n.° 1.055.197.3/8-00 ^ - ~ " í "

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em questão. Esclareceu que recebeu um telefonema em seu Supermercado de um homem que não se identificou, dizendo que o réu deste processo estaria prestes a ser capturado e propôs um acordo, mencionando o nome do interlocutor (Guilherme). O declarante desconversou respondendo que não conhecia nenhum Guilherme e nem do que se tratava. Afirmou , que o ora apelante foi o assaltante que adentrou o supermercado junto com "Zoio", apontando Guilherme como sendo aquele abriu as gavetas a procura de dinheiro (fls. 152/153).

Assim, diante das declarações da vítima que foram harmoniosas ao narrar os fatos, bem como pelas demais provas existentes nos autos, não há dúvidas que o apelante foi um dos autores dos crimes em questão.

Nem se alegue que as palavras do ofendido não servem para demonstrar a autoria do crime.

Aliás, a jurisprudência é pacífica no entendimento de que: PROVA. DECLARAÇÕES DA VÍTIMA. DELITOS CONTRA O

PATRIMÔNIO. VALOR PROBANTE. Em crimes contra o patrimônio, as declarações da vítima merecem toda credibilidade porque, com raras exceções, a ação dos roubadores é levada a efeito de maneira dissimulada a fim de evitar a presença de testemunhas e, além disso, suas palavras são contra pessoa que, eventualmente, venha a conhecer de um roubo, não se podendo cogitar de parcialidade."(TACRIM, Ap. n° 1.005.795/0 - Rio Claro, 15a Câm., rei. Juiz Décio Barreti, J. 21.3.96, v.u.).

No mesmo sentido: "ROUBO. PALAVRA DA VÍTIMA. VALOR PROBANTE. Não há desmerecer o valor da palavra da vítima; ao revés, sua condição de protagonista do evento delituoso é a que a credencia sobre todos, a discorrer das circunstâncias dele. Tão só em casos excepcionais, de manifesta contravenção da verdade sabida, será lícito opor restrições ao teor de suas palavras. No geral, a palavra da vítima é a primeira luz que afugenta as sombras, sob que se pretende abrigar a impunidade."(TACRIM; Ap. n° 1.047.937/5 - São Paulo, 15a Câm., rei. Juiz Carlos Biasotti, 3.4.97, v.u.)".

Corroborando as declarações da vítima, o depoimento do policial civil, Eduardo Ramos de Amorim, narrando que estavam investigando um homicídio na cidade de Osasco e no decorrer das investigações descobriram que o co-réu Giavaneis, vulgo "Zóio" também teria roubado o Supermercado La Fama. Asseverou que levantaram o B.O. e conversando com os investigadores do 3o DP, foi informado que a vítima teria reconhecido "Zóio", bem como o fotografia, como sendo dois dos participantes da empreitada Supermercado La Fama (fls 154/155).

apelante, por crimint

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No tocante à credibilidade das declarações de policiais esta foi de há muito pacificada pelos pretórios.

Nem se alegue que os depoimentos dos policiais sejam suspeitos para embasar um decreto condenatório, pois isto somente ocorreria caso o acusado provasse que eles tinham a intenção de prejudicá-lo. Todavia, este fato não ocorreu nestes autos, tudo não indo além de especulações feitas pela em suas razões de recorrer.

Há muito tempo a jurisprudência já pôs um fim nessa questão ao decidir que: "O valor do depoimento testemunhai de servidores policiais -especialmente quando prestado em juízo, sob a garantia do contraditório -reveste-se de inquestionável eficácia probatória, não se podendo desqualificá-lo pelo só fato de emanar de agentes estatais incumbidos, por dever de ofício, da repressão penal. O depoimento testemunhai do agente policial somente não terá valor, quando se evidenciar que esse servidor do Estado, por revelar interesse particular na investigação penal, age facciosamente ou quando se demonstra - tal como ocorre com as demais testemunhas — que as suas declarações não encontram suporte e nem se harmonizam com outros elementos probatórios idôneos" (STF - Ia Turma -HC 74.608-0/SP - Rei. Min. Celso de Mello - DJU de 11.04.97, pág. 12.189).

As testemunhas de defesa em nada contribuíram para o deslinde do feito, denotando-se que tinham como objetivo exculpar o acusado de sua responsabilidade pelo delito praticado.

Portanto, a autoria ficou devidamente delineada. A prova oral colhida foi exaustivamente analisada na sentença recorrida, sendo suficiente para embasar a condenação.

E a condenação não contrariou a prova produzida nos autos, antes a ela se amoldou, devendo ser mantida sendo totalmente despiciendo o argumento do reconhecimento fotográfico.

As qualificadoras do emprego do concurso de agentes e emprego restaram bem demonstradas, pois a vítima foi firme ao declarar que três foram os indivíduos que abordaram-na e sob ameaça de anua de fogo anunciaram o assalto, não importando que arma utilizada não tenha sido apreendida, bastando apenas os relatos da vítima.

O entendimento jurisprudencial é no sentido de que a ausência de apreensão da arma não impede a configuração do crime de roubo, quando hoiivet

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nos autos outros elementos que comprovem ter sido o crime praticado com emprego de arma.

Nesse sentido:

"TACRSP: A não-apreensão da arma não impede o reconhecimento dessa qualiílcadora, desde que sua utilização reste demonstrada por outros meios e tenha ela atuado no espírito da vítima como fator inibidor de eventual reação" (RJDTACrim 31/115-6).

"No crime de roubo basta a prova oral para o reconhecimento da qualifícadora do emprego de arma, sendo dispensável a sua apreensão e conseqüente perícia ou exame" - Revisão n° 357.856/2 - Rio Claro - 6o Grupo de Câmaras - Relator: Luís Soares de Mello - 2/4/2001 - V.U. (Voto n° 6.531).No mesmo sentido: Apelação n° 1.243.011/1 - São Paulo - 3a Câmara - Relator: Ciro Campos- 17/4/2001 -V.U.

Entretanto, no tocante às penas aplicadas, em que pese o entendimento do MM. Juiz :'a quo", estas merecem reparos, uma vez que a elevação por duas qualificadoras deveria ser de 3/8, conforme entendimento jurisprudencial e acatado por esta Colenda Câmara, e não de 2/5 como constou do r. decisum.

Diante disso, mantidas as penas-base de 4 anos de reclusão e 10 dias-multa, acrescente-se 3/8 por duas causas de aumento (concurso de agentes e emprego de arma), totalizando finalmente em 5 anos e 6 meses de reclusão, e 13 dias-multa, no valor mínimo legal.

Com efeito, quanto ao regime imposto, observa-se pela r. sentença (fl. 204) que foi aplicado o inicial semi-aberto, devendo ser mantido por ser o mais adequado e suficiente para reprimir a conduta delituosa e contribuir para o processo de ressocialização do condenado.

Assim, há de prevalecer a respeitável sentença de Io Grau, quanto à condenação da apelante, já que provadas a autoria e a materialidade do roubo.

Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso para reduzir as penas de Guilherme Nogueira da Silva para 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão, e 14 (catorze) dias-multa, no valor unitário mínimo, mantida, no mais a r. sentença monocrática por seus próprios e jurídicos fundamentos. /

oberto MARTINS DE SOUZYA Relator

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