Grandes Enigmas y Misterios de la Historia · Título original: Grandes Enigmas y Misterios de la Historia Autor: Carlos J. Taranilla de la Varga Tradução: Isabel Alves Revisão:

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Título original: Grandes Enigmas y Misterios de la Historia

Autor: Carlos J. Taranilla de la Varga

Tradução: Isabel Alves

Revisão: Ana Rita Silva/Editorial Presença

Paginação: Gráfica 99, Lda.

Capa: Marcador Editora

Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.

Depósito legal n.º 459 434/19

1.ª edição, Lisboa, setembro, 2019

Grandes enigmas e mistérios da história - FINAL.indd 6 31/07/2019 18:40:31

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ÍNDICE

Prólogo ................................................................................... 13Preâmbulo .............................................................................. 17

enigmas bíblicos

Lilith, a primeira mulher? ....................................................... 21A Arca de Noé e o Dilúvio Universal ...................................... 24

O Dilúvio Universal .......................................................... 27A Torre de Babel, fusão do Céu e da Terra ............................... 31A arca da aliança, uma ou duas? .............................................. 32A mesa do rei Salomão: espelho secreto de Deus ...................... 38A estrela de Belém, muito mais do que um cometa .................. 43O cálice, o prato e o saleiro de Cristo ....................................... 45

O prato de Cristo .............................................................. 54O saleiro da Última Ceia ................................................... 56

As trevas de Gólgota ............................................................... 60A cruz de Constantino, símbolo de vitória ............................... 62As Virgens Negras, filhas morenas de Jerusalém ...................... 66A Bíblia Adúltera ................................................................... 68A Bíblia do Diabo (Codex Gigas) ............................................. 69O número do Diabo (666) e o de Cristo (888) .......................... 71

mortes estranhas

A morte de Tutancámon .......................................................... 77A morte de Nefertiti ............................................................... 80A morte de Júlio César ............................................................ 83A morte de Napoleão .............................................................. 85


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A morte da Grã -Duquesa Anastásia ......................................... 88A morte de Edgar Allan Poe ................................................... 96A morte de Hitler ................................................................... 99A morte de Bruce Lee ............................................................. 105A morte de Marilyn Monroe .................................................... 108A morte dos Kennedy ............................................................. 115

O assassínio de John F. Kennedy ........................................ 115O assassínio de Robert F. Kennedy .................................... 118

A morte do João Paulo I .......................................................... 123

enigmas da arte

O significado da pintura pré -histórica ..................................... 129As colossais cabeças olmecas .................................................... 134As deusas das serpentes ........................................................... 136As figuras obscenas dos templos cristãos .................................. 137As cenas eróticas (mithunas) dos templos hindus ...................... 139A Tempestade, de Giorgione ...................................................... 141O que estava Velázquez a pintar em As Meninas? ..................... 144O sorriso de La Gioconda ......................................................... 147O cadáver acéfalo de Goya ....................................................... 151O Pesadelo de Füssli ................................................................. 153

incidentes bélicos enigmáticos

O batalhão de Norfolk da Primeira Guerra Mundial ................ 157Dunquerque, a ordem incompreensível de Hitler para deter

o ataque ............................................................................ 160O último voo de Rudolf Hess .................................................. 161Clark Field: o segundo Pearl Harbor ....................................... 163

enigmas desconcertantes

A matéria e a energia escuras do Universo ............................... 167A origem da vida .................................................................... 170A origem do homem ............................................................... 172A extinção dos dinossauros ...................................................... 175A origem e os restos mortais de Cristóvão Colombo ................. 178A origem de Cervantes, «um lugar de cujo nome...»

não queria recordar -se ........................................................ 185


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GRANDES ENIGMAS E MISTÉRIOS DA HISTÓRIA

A conversa entre Átila e o Papa Leão I ..................................... 188As palavras da Lua que não se ouviram na Terra ....................... 190Os gramas que a alma pesa ...................................................... 195A luz ao fundo do túnel .......................................................... 196A reencarnação ........................................................................ 200A criopreservação e a ressurreição ............................................ 201

lugares misteriosos

Os megálitos de Carnac, os últimos gigantes em pé ................. 205O cromeleque de Stonehenge, um relance para o sol ................ 208A inacabada naveta d’Es Tudons em Minorca............................. 213A Grande Pirâmide de Quéops, a última maravilha

da Antiguidade ................................................................. 215O labirinto de Cnossos, lenda ou realidade? ............................. 220O disco de Festo, uma fraude? ................................................. 222O Templo do Rei Salomão, o Céu na Terra ............................... 223As estátuas da ilha de Páscoa ................................................... 232A Calçada dos Mortos em Teotihuacan .................................... 235A misteriosa Tiauanaco ........................................................... 237As linhas de Nazca, em vista aérea ........................................... 242Avalon, como um reino de fadas .............................................. 245Explosões nucleares no Vale do Indo ........................................ 248Ofir, as minas do rei Salomão? ................................................. 251As bolas de Diquís .................................................................. 253A magia da Catedral de Chartres e os labirintos góticos ........... 256Tartesso, um reino algures ....................................................... 261

enigmas geográficos

O mapa de Piri Reis ................................................................ 269O mapa de Vinlândia .............................................................. 273O triângulo das Bermudas....................................................... 277Os círculos nas plantações, cada vez em maior número ............. 281Amásia dentro de mais de 100 milhões de anos ....................... 284

enigmas tecnológicos

Os quipos, uma tecnologia mnemotécnica ............................... 287A máquina de Anticítera, tecnologia de ponta ......................... 290


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A pilha, ou bateria, de Bagdade ............................................... 293As lâmpadas egípcias de Dendera ............................................ 295A máquina «Enigma» ............................................................. 297

personagens enigmáticas

Homero .................................................................................. 301O rei Artur ............................................................................. 303A Papisa Joana ........................................................................ 309Matusalém .............................................................................. 314O golem judaico ....................................................................... 315Maria Madalena ...................................................................... 319Os Reis Magos, astrólogos em viagem ..................................... 323O rei Meroveu ........................................................................ 326Fulcanelli e O Mistério das Catedrais ......................................... 327O autor do ilegível Manuscrito Voynich .................................. 331

seitas religiosas e povos misteriosos

Os essénios e a sua relação com Jesus Cristo ............................. 343Os templários, monges -soldados ............................................. 346Os cátaros, morrer na pureza ................................................... 350Os rosacruzes, de origem faraónica .......................................... 352Os mações, de origem bíblica .................................................. 354Os samurais, servidores da honra ............................................. 358Os ninjas, agentes secretos ...................................................... 361Os druidas e os seus arrepiantes sacrifícios humanos ................ 364Os citas e os seus cruéis ritos funerários ................................... 366Os dogons e a estrela Sírio B ................................................... 368As Amazonas, nascidas para a guerra ....................................... 370O vudu, a transformação em zombie .......................................... 372

as profecias

São Malaquias ......................................................................... 377Nostradamus .......................................................................... 380Os segredos de Fátima ............................................................ 382Os Maias e o fim do mundo .................................................... 387O apocalipse de S. João ........................................................... 388

Bibliografia ............................................................................ 391


Lilith, de John Collier, 1892.


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ENIGMAS BÍBLICOS

LILITH, A PRIMEIRA MULHER?

Diz -nos o Livro de Génesis: «E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou» (Gn 1:27).

Da leitura deste versículo ressalta que, ao mesmo tempo que criou o homem, Adão, Deus criou à sua imagem uma mulher («homem e mulher os criou»). Por conseguinte, existiu outra mulher antes de Eva, a qual foi criada mais tarde a partir do corpo do primeiro homem.

Foi mais tarde, depois de Deus dizer ao primeiro par: «Frutificai e multiplicai -vos…» (Gn 1:28), que Eva foi criada:

Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão e este ador-meceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela [tselá, em hebraico, que também significa «lado»], que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher; e trouxe -a a Adão.

Gn 2:21 -22

É então que Adão se refere nestes termos à sua nova companheira: «Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne» (Gn 2:23). Esta referência é a prova clara de que se encontrava diante de uma segunda mulher, distinta na sua origem da anterior, que como ele havia sido criada do pó, se bem que haja uma versão que afirma que não foi do barro da Terra, mas sim da imundície.


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Não obstante, existem diversas leituras desta dupla versão do Livro de Génesis sobre a criação do homem e da mulher avançadas por cada uma das igrejas cristãs e pelas distintas tradições judaicas, sem esquecer as que se encontram à margem do religioso: alegóricas, pseudorreligiosas e de tipo científico académico.

Para quem defende a exatidão dos textos bíblicos, os chamados criacionistas, não existe nenhuma contradição entre os dois capítu-los; trata -se sim de uma dupla exposição sobre o mesmo tema, a primeira abreviada e a segunda elaborada, mais explícita, ou seja, trata -se do mesmo acontecimento relatado de duas formas diferentes por distintos narradores.

Mais ainda: no Livro de Génesis, 1:27, não se diz que o homem e a mulher foram criados simultaneamente, mas sim que foram criados no mesmo dia. Deste modo, o capítulo 2 não cai em nenhuma contradição com o capítulo 1, limitando -se a acrescentar pormeno-res não mencionados neste.

Para os defensores da posição académica, a contradição entre os capítulos 1 e 2 deve -se ao facto de o Livro de Génesis não ter sido escrito por Moisés, como sustenta a tradição baseada em relatos orais do primeiro ou segundo milénio a.C., segundo pretendeu demonstrar a arqueologia bíblica na primeira metade do século passado (posição esta não aceite por todos os autores), tratando -se antes de uma fusão das quatro fontes ou tradições distintas que conformam a Bíblia (javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal), escritas por diferentes pessoas em diferentes momentos e lugares. O capítulo 1 identifica -se com a tradição sacerdotal, posterior ao exílio na Babilónia, enquanto o capítulo 2 se enquadra na escola javista, muito mais antiga, da época dos reis de Israel. Os objetivos de ambos diferem porque, enquanto o primeiro pretende reforçar a ideia do judaísmo mais como uma nação do que uma religião, o segundo procura exaltar os valores de um povo nómada, centrado na vida no deserto.

No entanto, devemos reconhecer que, das palavras de Adão em Gn 2:23, não podemos deixar de inferir que esteja a referir -se a uma nova mulher, diferente da que tivera antes, já que emprega o advér-bio «agora», a que pode atribuir -se um significado temporal, ou seja, o chamado primeiro pai da humanidade exprime assim que se encontra diante de algo (uma mulher) distinto do que tinha antes.


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Por conseguinte, houve, de acordo com as suas palavras, um antes e um depois.

Quanto à primeira mulher, a versão rabínica mais antiga que existe sobre Lilith e Adão, associada ao Génesis, encontra -se no «Alfabeto de Ben Sira» (ca. 700 -1000), um midrash, isto é, uma ficção baseada teoricamente num acontecimento real, que se uti-liza para o estudo minucioso dos textos. Segundo essa versão, Lilith, que denotava uma forte influência cananeia nos seus com-portamentos sexuais, caracterizados pela liberalidade, recusava deitar -se debaixo de Adão durante o coito: «Porque hei de deitar--me debaixo de ti? Também eu fui feita de pó e, portanto, sou tua igual.» Ao ser forçada por Adão a permanecer nessa posição, pro-nunciou o nome de Deus, nasceram -lhe asas, elevou -se nos ares e desapareceu, abandonando por sua própria vontade o «marido» e o Jardim do Éden.

Perante as queixas de Adão, Deus enviou três anjos para a traze-rem de volta (Sansenoy, Semangelof e Senoy). Estes foram encontrá--la nas margens do Mar Vermelho, uma região infestada de demónios, com os quais se havia entregado à luxúria e procriado os Lilim, à razão de «mais de cem por dia». Advertiram -na de que, se não regressasse para junto de Adão, a afogariam, mas ela retorquiu que já não podia voltar a viver como uma mulher honrada depois da vida dissoluta que levava. Disse também que não podiam matá -la porque Deus lhe havia ordenado que cuidasse de todos os meninos até ao oitavo dia de vida, o da circuncisão, e das meninas até ao vigésimo. Afirmou ainda que, se observasse a efígie dos três anjos num amu-leto, um costume mágico da religião judaica para proteger os recém--nascidos, lhe seria poupada a vida. Contudo, Deus puniu -a por estas palavras, fazendo com que morressem todos os dias cem dos seus filhos e advertindo -a de que, se visse um amuleto protetor, explo-diria de cólera e mataria toda a sua descendência.

Lilith fugiu para o Oriente e a sua liberdade sexual difundiu -se entre as mulheres cananeias que, na sua adoração pela deusa Anat, tinham o hábito de manter relações sexuais antes do matrimónio, prática vedada às mulheres hebraicas, como consta do Deuteronó-mio: «Não haverá rameira de entre as filhas de Israel, nem haverá sodomita de entre os filhos de Israel» (Dt 23:17).


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A tradição judaica considera Lilith uma mulher sedutora, de arrebatadora beleza, representada com uma abundante cabeleira ruiva, que lhe envolve quase todo o corpo, terminado em cauda de serpente. A iconografia medieval aparentou -a aos súcubos, demónios tentadores, sensuais, que povoam as fantasias masculinas.

A única menção na Bíblia a Lilith surge no texto massorético do profeta Isaías: «E os cães bravos se encontrarão aí com os gatos bra-vos; e se juntarão aí os sátiros. Também aí Lilith descansará e encon-trará o seu lugar de repouso» (Is 34:14).

Na Vulgata de S. Jerónimo, o seu nome foi traduzido como Lamia. Lutero, na sua Bíblia, chamou -lhe Kobold. Outras versões traduzem o termo hebraico li.lith por «criatura noturna» ou «coruja», pelo que se coloca a dúvida de se tratar ou não de um nome próprio ou comum, uma vez que não é novamente mencionado, como referimos, em toda a Bíblia.

É este o mistério que encerram os textos sagrados sobre a pri-meira mulher da humanidade.

A ARCA DE NOÉ E O DILÚVIO UNIVERSAL

Como explicaremos mais adiante, a existência da Arca de Noé, como a da Aliança, continua a ser um enigma porque até hoje não se descobriu o seu paradeiro. Não obstante, os dados pormenorizados que a Sagrada Escritura apresenta sobre as suas dimensões, embora não especifique o seu formato, levam aqueles que perseveram na sua busca a pensar que se trata de um objeto que existiu na realidade:

E desta maneira a farás: de trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinquenta côvados a sua largura e de trinta côvados a sua altura; farás na arca uma janela e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far -lhe -ás andares baixos, segundos e terceiros.

Gn 6:15 -16

Nunca se extinguiu o desejo de encontrar os destroços da arca. Já no ano de 330 d.C. existia um relato que falava de um patriarca da igreja oriental, de nome Jacob, a quem um anjo entregava os


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destroços da arca na sua primeira ascensão ao monte Ararate, onde, segundo o relato bíblico, o barco de Noé encalhou quando as águas do Dilúvio Universal começaram a baixar de nível. «E a arca repou-sou, no sétimo mês, no dia dezassete do mês, sobre os montes de Ararate» (Gn 8:4).

Este pico é um acidente geográfico situado na Anatólia, na atual Turquia, que naquele país se conhece como o Agri Dagi, um vulcão inativo de sopé largo, perpetuamente coberto de neve, o qual tem dois cumes, o mais baixo, o pequeno Agri, com 5135 m de altitude, e o mais alto, o grande Agri, com 5165 m. Em arménio, este último é conhecido como monte Masis, enquanto o primeiro é o monte Sis.

A origem do seu nome turco não é clara; pode aludir a uma antiga aldeia, Agori, desaparecida em 1840 durante uma avalancha, ou então derivar das expressões Agir Dag («montanha pesada») ou Egri Dag («montanha curva» ou «oca»).

Quanto às tentativas para encontrar a Arca de Noé, já no século XIII houve aventureiros famosos que chegaram, nas suas viagens, ao monte bíblico: o monge franciscano flamengo Willem van Ruys-broeck (conhecido em português como Guilherme de Rubruck), em 1254, e o veneziano Marco Polo, em 1273.

No início do século XVIII, o francês Pitton de Tournefort, da Provença, tentou alcançar o cume, mas não logrou no seu intento nem tão -pouco, como os que o precederam, encontrou vestígios da Arca de Noé.

No século XIX, quando o Romantismo instigou um interesse pelo passado, dentro de uma nostalgia por vezes doentia por possuir o que havia sido extremamente relevante para o ser humano, tiveram lugar várias expedições que, partindo da Europa, se propuseram descobrir o barco sagrado. Em 1829, o alemão Georg Friedrich Parrot garantiu ter atingido o cume do Ararate, mas sem nada descobrir.

Foi em 1876 que o historiador britânico James Bryce (1838--1922), à cabeça de uma expedição, anunciou ter encontrado um fragmento da Arca, esculpido com um instrumento que também descobriu mais acima, quando subia ao cume do monte Ararate.

Convencido de ter dado com um vestígio da arca mais procurada de todos os tempos, Bryce permitiu -se tecer uma série de afirmações, a raiar a hilaridade, na sua obra Transcaucásia e Ararat:


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Se foi realmente [ali, no Ararate] que o homem voltou a pisar a Terra despovoada, podemos imaginar a grande dispersão que ocorreu quando as raças se extinguiram desde essas sagradas alturas ao longo dos cau-dais dos grandes rios, até ao Mar Negro e ao Mar Cáspio. Não é pos-sível imaginar um centro do mundo mais impressionante.

Alguns anos mais tarde, em 1916, outro explorador, o russo Vladimir Roskovitski, sobrevoando o cume do referido monte, declarou ter enxergado, encalhado no gelo, algo semelhante aos des-troços de um navio. Perante esta descoberta, o czar Nicolau II da Rússia, estimulado pela igreja ortodoxa e desejoso de despertar algum sentimento patriótico que atenuasse o descontentamento popular de um país submergido na mais absoluta miséria, ordenou o envio de uma expedição. No entanto, não tardou a deflagrar a revolução bolchevique e o assunto caiu no esquecimento.

Foi preciso esperar mais quase quarenta anos para que, em 1955, um explorador francês de nome Fernand Navarra anunciasse, ao cabo de duas expedições infrutíferas, que tinha em seu poder o fragmento de uma viga, um destroço que não podia ser senão da Arca, o qual encontrara no cume do monte Ararate. Mas, apesar de a análise do carbono 14 ter atribuído a esse pedaço de madeira de azinheira uma idade aproximada de 5000 anos, que podia tudo abarcar, uma segunda análise diminuiu a sua origem para o século III d.C., pondo assim termo a todas as preten-sões, uma vez que estes pedaços de madeira podiam perfeitamente per-tencer a peregrinos ou penitentes que, convencidos da existência da Arca, haviam percorrido aquelas paragens construindo e habitando cabanas.

Todavia, em 1960, um piloto turco chamado Ilhan Durupinar apresentou uma fotografia tirada pessoalmente em que se via uma espécie de embarcação de forma ovalada, e conseguiu convencer toda a gente de que havia feito a descoberta definitiva. Mas a verdade é que não se tratava de nenhuma obra humana, mas sim de uma obra da mãe natureza: uma caprichosa formação geológica que, como resultado do alvoroço sensacionalista desencadeado pela revista Life, que logo fez eco da notícia e a divulgou em todo o mundo, recebeu o nome do citado aviador turco: «formação Durupinar».

Ninguém se deu por vencido e já no nosso século um grupo de cientistas e exploradores turcos e chineses, no ano de 2010, afirmou


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que havia encontrado a cerca de 4000 m de altitude uma espécie de navio ou embarcação de madeira que, com possivelmente 4800 anos, poderia perfeitamente corresponder aos tempos bíblicos. Contudo, não passou de mais uma vergonhosa fraude porquanto o objetivo foi o de fazer publicidade a um parque de atrações de Hong Kong, com temática dedicada à Arca de Noé.

No final de 2011, o empresário norte -americano Daniel McGi-vern, presidente da Shamrock -The Trinity Corporation, e o fotó-grafo Pedro Venegas, anunciaram que «mediante as imagens captadas por satélites militares e da CIA, bem como através de um radar que penetra o solo, a Arca de Noé foi localizada a 5059 m de altitude nas vertentes do Ararate». Haviam sido feitas declarações semelhantes em 2004 e, na realidade, a descoberta consistia numa peça de madeira retangular com cerca de 7,5 m de largura e 37,5 m de comprimento, a 7 m de profundidade no interior de um glaciar com mais de 90 m de espessura. Dado que uma análise espetrográ-fica tinha identificado o material como madeira, tratando -se de uma montanha vulcânica desprovida de vegetação, ambos julgaram que haviam finalmente descoberto um destroço autêntico da Arca de Noé. Acrescentaram ainda que a prova de carbono 14 para confirmar a autenticidade do achado, assumindo que seria possível extrair algum resíduo do mesmo, não teria grande efeito devido às trans-formações sofridas ao longo de um período de tempo tão extenso. No entanto, a sua empresa tencionava produzir um filme, assim como lançar no mercado objetos e recordações sobre a arca em ques-tão, ou seja, fazer negócio.

Segue -se, pois, a descrição bíblica pormenorizada, que aguarda confirmação prática, caso se encontrem os destroços verdadeiros, o que muitos julgam possível num futuro mais próximo do que distante.

O Dilúvio Universal

Em relação ao Dilúvio Universal, existem referências idênticas nas mais distantes culturas do mundo: Ásia, África, Oceânia, América.

Segundo o Livro de Génesis (6, 7, 8), Deus quis castigar a huma-nidade, pela sua vida licenciosa, e decidiu acabar com ela afogando -a


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numa chuva contínua durante quarenta dias e quarenta noites, a qual inundou o planeta inteiro; assim pereceram todas as formas de vida, incluindo os peixes, algo de muito estranho já que o castigo era a água, exceto um homem justo de nome Noé que, advertido por Javé do que se avizinhava e incumbido de construir a arca que acabámos de descrever, nela se refugiou para se salvar, juntamente com a família e um par de animais de cada espécie, algo de verda-deiramente assombroso.

Então arrependeu -se o Senhor de haver feito o homem sobre a Terra, e pesou -lhe em seu coração. E disse o Senhor: Destruirei, de sobre a face da Terra, o homem que criei, desde o homem até ao animal, até ao réptil e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.

Gn 6:6 -8

Ao fim desse tempo deixou de chover, as águas baixaram de nível e a arca encalhou no monte Ararate, significando deste modo que o planeta era de novo habitável, pelo que os viajantes, tanto homens como animais, desceram do navio e voltaram a povoar a Terra, depois de comprovarem, soltando uma pomba pela segunda vez, que a vida era mais uma vez possível porque a ave regressou com um ramo de oliveira no bico, prova evidente de que crescia vegetação em algum lugar. Assim se consagrou esta ave como o símbolo da paz e da vida, enquanto o corvo o foi da morte porque quando Noé o lançou nos ares, antes da pomba, ele começou a debicar cadáveres ao invés de regressar à arca, para junto do seu amo.

Os relatos bíblicos baseiam -se, provavelmente, em períodos de inundações na era pós -paleolítica, quando se derreteram os últimos gelos que causaram o aumento desmesurado do nível dos oceanos, dando origem a grandes cheias. Transmitidos oralmente, geração após geração, formaram o substrato do episódio do Dilúvio Univer-sal nesta região do mundo. Em concreto, parecem existir provas científicas de que, por volta do sétimo milénio antes de Cristo, um enorme glaciar no Atlântico Norte derreteu, provocando uma subida espetacular do nível do mar (cerca de 1,5 m) e causando uma entrada maciça de água salgada no Mar Negro, que obrigou a grandes


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deslocações populacionais para a Ásia Menor a partir dessa área do sudeste da Europa. Além disso, escavações realizadas pelo Dr. Wol-ley em Ur, entre 1922 e 1929, desenterraram uma camada de sedi-mentos argilosos com mais de 2 m de espessura, com data de cerca de 3500 a.C., que só podia resultar de uma inundação de grande magnitude, correspondente a subidas excecionais dos rios Tigre e Eufrates ou a uma grande inundação regional.

No entanto, como atrás referimos, existem relatos sobre o dilú-vio nos quatro pontos cardeais.

No Mahabharata hindu, o deus Vixnu, que assumiu a forma de peixe, avisa Manu sobre a chegada iminente de um enorme dilúvio que inundará toda a Terra, pelo que este constrói uma embarcação onde possam abrigar -se todas as espécies de animais terrestres. O barco também encalha num monte no final do dilúvio, quando as águas começam a baixar e, em algumas versões, passa -se igualmente o episódio do pássaro que regressa com um ramo no bico.

Na Austrália, foi uma deusa -rã que engoliu toda a água do mundo e, ato contínuo, vomitou -a de uma vez, porque uma enguia a fez rir (o riso é considerado como um sinal de vitalidade), inun-dando o planeta.

Na América do Sul, prevalece a versão em que os quatro deuses gémeos, Quetzalcoatl, Tezcatlipoca Negro, Tezcatlipoca Vermelho e Huitzilopochtli, entraram em disputa e um deles, ao desferir um tremendo golpe no solo com o seu poderoso pé, fez brotar todas as águas subterrâneas e estas submergiram a Terra. Existe outra versão em que, na sequência de um copioso dilúvio, todos os homens se converteram em peixes e os quatro irmãos reunidos, perante tal desastre, concordaram em reconstruir o mundo a partir de quatro homens novos que decidiram criar.

Em África, na região do Congo atual, existe uma versão muito interessante, segundo a qual o Sol, invejoso do brilho da Lua, lhe lançou barro para que se apagasse; seguiu -se um enorme dilúvio e os homens sobreviventes transformaram -se em macacos, dos quais, contrariamente à opinião de outras mitologias e até da ciência atra-vés do «elo perdido», descendem os humanos.

Na China, atribui -se a responsabilidade pela catástrofe ao deus Kong -Kong, o qual derrubou, com uma cabeçada, uma das colunas


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que sustinham a abóbada celeste, produzindo um violento aguaceiro no firmamento que provocou uma queda incessante de água sobre a Terra.

Na mitologia persa, o deus supremo Aúra -Masda mandou o pri-meiro homem, Yima, construir uma torre no cume de uma monta-nha para se refugiar com outros homens bons, animais e plantas, enquanto o resto do mundo era destruído por Arimã, o deus do mal.

A versão mais próxima do relato bíblico é a babilónica, devido, naturalmente, à proximidade geográfica e cultural. Segundo a «Epo-peia de Gilgamesh», Utnapishtim, que havia recebido o aviso por meio do sussurro do vento entre as canas, construiu, como Noé, uma barcaça em que embarcou com a família, posses e parelhas de ani-mais, antes de o obstinado dilúvio rebentar, o qual durou sete dias e sete noites; ao oitavo dia, soltou uma pomba e uma andorinha, que regressaram ao barco por não encontrarem onde pousar. Esperando mais algum tempo, soltou um corvo que não voltou. Depreendendo que as águas haviam baixado, os navegantes desembarcaram e repo-voaram a Terra. À exceção do episódio do corvo e da pomba, que ocorre cronologicamente de forma inversa do Génesis, as coincidên-cias são evidentes.

Entre as investigações que foram levadas a cabo para encontrar provas à face do planeta que pudessem lançar alguma luz sobre este acontecimento e as suas dimensões, contam -se as escavações arqueo-lógicas do Dr. Wolley, realizadas em 1929 na antiga cidade sumé-ria de Ur, em que se descobriu uma camada argilosa com mais de dois metros de profundidade, derivada de sedimentos depositados pela água e, por baixo destes, os vestígios de uma civilização ante-rior. Em outras regiões da antiga Mesopotâmia, foram feitas des-cobertas semelhantes, como nas cidades de Uruk, Babilónia, Kish e Nínive, embora as referências cronológicas variem, levando à conclusão de que não estaríamos perante um dilúvio, mas vários. Seria o mais provável, tendo em conta as diferentes fases de degelo que ocorreram na formação do clima durante as etapas finais do período holocénico, o segundo (após o pleistocénico) da era quater-nária, no termo da última glaciação europeia, conhecida por Günz, que teve início há cerca de 40 mil anos e se estendeu pela maior parte do globo.


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