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HERMENÊUTICA JURÍDICA E “GIRO LINGUÍSTICO” A palavra hermenêutica deriva do grego hermeneuein, com bases na mitologia grega em que Hermes, um mensageiro divino, transmitia o conteúdo das mensagens dos deuses aos mortais. Trata-se de uma intermediação. Neste sentido, pela hermenêutica, busca-se traduzir para uma linguagem acessível aquilo que não é compreensível. Trata-se de traduzir linguagens e coisas atribuindo-lhes primeiro um determinado sentido. Na área jurídica, hermenêutica é a ciência que criou as regras e métodos para interpretação das normas jurídicas fazendo com que elas sejam conhecidas com seu sentido exato e esperadas pelos órgãos que a criarem. Toda norma jurídica deve ser aplicada em razão de todo o sistema jurídico vigente e não depende da interpretação de cada um. Ela deve estar vinculada aos mandamentos legais de uma sociedade. A hermenêutica enfrenta uma crise, haja vista as teses da viragem lingüístico-ontológica, também conhecida por giro- linguístico ou turn linguistic, que são superadoras do esquema sujeito-objeto, compreendidas a partir do caráter ontológico prévio do conceito de sujeito e da desobjetificação provocada pelo círculo hermenêutico e pela diferença ontológica. Este giro lingüístico foi fundamental para um novo olhar sobre a hermenêutica jurídica, uma hermenêutica crítica deve procurar corrigir o equívoco das teorias da interpretação que incorrem no paradigma metafísico, ao elaborarem um processo de subsunção a partir de conceitualizações. No interior da virtuosidade do círculo hermenêutico o compreender não ocorre por dedução. Consequentemente, o método (o procedimento discursivo) sempre chega tarde, porque pressupõe saberes teóricos separados da realidade. Antes de argumentar, o intérprete já compreendeu. A compreensão antecede, pois qualquer argumentação. Ela é recondução de possibilidade. Apesar da revolução copérnica produzida pela viravolta jurídico-hermenêutica, esta não foi recepcionada pela hermenêutica jurídica praticada nas escolas de direito e nos tribunais.

Hermenêutica Jurídica e Giro Linguístico

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Breve dissertação.

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Page 1: Hermenêutica Jurídica e Giro Linguístico

HERMENÊUTICA JURÍDICA E “GIRO LINGUÍSTICO”

A palavra hermenêutica deriva do grego hermeneuein, com bases na mitologia grega em que Hermes, um mensageiro divino, transmitia o conteúdo das mensagens dos deuses aos mortais. Trata-se de uma intermediação. Neste sentido, pela hermenêutica, busca-se traduzir para uma linguagem acessível aquilo que não é compreensível. Trata-se de traduzir linguagens e coisas atribuindo-lhes primeiro um determinado sentido.Na área jurídica, hermenêutica é a ciência que criou as regras e métodos para interpretação das normas jurídicas fazendo com que elas sejam conhecidas com seu sentido exato e esperadas pelos órgãos que a criarem. Toda norma jurídica deve ser aplicada em razão de todo o sistema jurídico vigente e não depende da interpretação de cada um. Ela deve estar vinculada aos mandamentos legais de uma sociedade. A hermenêutica enfrenta uma crise, haja vista as teses da viragem lingüístico-ontológica, também conhecida por giro-linguístico ou turn linguistic, que são superadoras do esquema sujeito-objeto, compreendidas a partir do caráter ontológico prévio do conceito de sujeito e da desobjetificação provocada pelo círculo hermenêutico e pela diferença ontológica.Este giro lingüístico foi fundamental para um novo olhar sobre a hermenêutica jurídica, uma hermenêutica crítica deve procurar corrigir o equívoco das teorias da interpretação que incorrem no paradigma metafísico, ao elaborarem um processo de subsunção a partir de conceitualizações.No interior da virtuosidade do círculo hermenêutico o compreender não ocorre por dedução. Consequentemente, o método (o procedimento discursivo) sempre chega tarde, porque pressupõe saberes teóricos separados da realidade. Antes de argumentar, o intérprete já compreendeu. A compreensão antecede, pois qualquer argumentação. Ela é recondução de possibilidade.Apesar da revolução copérnica produzida pela viravolta jurídico-hermenêutica, esta não foi recepcionada pela hermenêutica jurídica praticada nas escolas de direito e nos tribunais.Resistente ao giro lingüístico, a hermenêutica jurídica vem possibilitando a sobrevivência das velhas teses positivadas normativistas acerca da interpretação como a subsunção, o silogismo, a individualização do direito na “norma geral” a partir de “critérios puramente cognitivos e lógicos”.Entretanto, em pleno pós-positivismo, uma hermenêutica jurídica capaz de intermediar a tensão inexorável entre o texto e o sentido do texto não pode continuar a ser entendida como uma teoria ornamental do direito, que sirva tão-somente para colocar “capas de sentido” aos textos jurídicos.Não se pode confundir hermenêutica jurídica com as teorias da argumentação jurídica, contudo, assim como estas, a hermenêutica tem um objetivo comum de superar o positivismo jurídico e o dogmatismo que se enraizou na doutrina e na jurisprudência responsáveis em grande medida pela inefetividade da Constituição.