INFORMATIVO Esquematizado 75 TST - Site

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    INFORMATIVO esquematizado

    INFORMATIVO TST n. 75

    Perodo: 06 a 17 de maro de 2014

    por RAPHAEL MIZIARA

    Obs: foram includos neste informativo esquematizado todos os julgados publicados pelo

    TST. Este informativo no constitui repositrio autorizado de jurisprudncia.

    DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

    abusivo o exerccio do direito de greve na vigncia de sentena normativa se no

    demonstrado o descumprimento de clusula ou condio.

    Se no demonstrado o descumprimento de clusula ou condio, abusivo o

    exerccio do direito de greve na vigncia de sentena normativa (art. 14, paragrafo

    nico, Lei 7.783/89). A mera alegao de que a empresa teria descumprido clusula

    de sentena normativa no suficiente para ensejar a legalidade da greve, devendo

    ser comprovado o efetivo descumprimento da clusula.

    Comentrios

    Audincias - Vdeos Inicialmente recomendo aos leitores (principalmente aos que iniciaram recentemente os estudos na seara trabalhista) que assistam os vdeos das duas audincias relacionadas ao presente caso. Copie e cole os links abaixo em seu navegador: Audincia de Conciliao: www.youtube.com/embed/hEDyLUVcGkQ Audincia de Julgamento: www.youtube.com/embed/z2oup_E3yxQ A greve no direito brasileiro breves explanaes Conceito legal de greve: a suspenso coletiva, temporria e pacfica, total ou parcial, de prestao pessoal de servios a empregador (art. 2, Lei 7.783/89). Conceito doutrinrio de greve: a greve mecanismo de autotutela de interesses. De certo modo, exerccio arbitrrio das prprias razes, acolhido pela ordem jurdica. Direito de causar prejuzo (DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. So Paulo: LTr, 2014. pg. 1469). Principais tipos de movimentos grevistas Greve branca ou de braos cruzados: aquela em que os empregados param de trabalhar, mas ficam em seus postos.

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    Greve de braos cados ou operao tartaruga: os trabalhadores realizam o trabalho com lentido. Consiste na reduo do trabalho ou da produo, sem que haja suspenso coletiva do trabalho. Greve de zelo: a tnica o excesso de cuidado e capricho na prestao do servio. o excesso de zelo praticado nos afazeres de forma to meticulosa que retarda a produo, causando graves prejuzos. Greve de advertncia: durante as negociaes coletivas ela dura, via de regra, umas poucas horas e fica restrita a diversas empresas. Greve de ocupao ou de habitao: invaso da empresa para impedir o trabalho de outros trabalhadores (que se recusam a aderir ao movimento); a tentativa de paralisao da produo; a recusa de sair da empresa, mesmo aps o expediente. considerada ilcita ou abusiva (salvo posio de Godinho, que a considera lcita). Greve selvagem: iniciada e/ou levada adiante espontaneamente pelos trabalhadores, sem a participao ou revelia do sindicato que representa a classe. Cuidado para no confundir com sabotagem, que a prtica depredatria de bens do empregador. Greve ativa: consiste em acelerar exageradamente o ritmo de trabalho. Greve de advertncia: suspenso do trabalho por algumas horas, no intuito de alertar o empregador de que um movimento maior pode ser deflagrado. Greve intermitente: a cada dia num setor da empresa. Greve nevrlgica ou greve-trombose ou greve tampo ou greve seletiva: greve em determinado setor estratgico, cuja inatividade paralisa os demais setores. Greve Poltica: Aqui preciso distinguir a greve estritamente poltica da greve poltico-trabalhista. A primeira vedada. Por outro lado, temos a greve poltico-trabalhista, de contedo profissional. So permitidas desde que voltadas para a defesa de interesses trabalhista-profissionais, ou seja, desde que guardem relao com os interesses dos trabalhadores. Greve de Solidariedade: a greve que se insere em outra empreendida por outros trabalhadores, devendo haver relao de interesses entre as categorias. Exemplo uma paralisao de trabalho empreendida por trabalhadores de uma filial em apoio a uma greve dos trabalhadores da matriz, cujas reivindicaes, sequencialmente, sero encampadas pelos empregados de uma filial. Efeitos da greve nos contratos individuais de trabalho suspenso contratual e (im)possibilidade de dispensa de trabalhadores durante a greve1 De acordo com a Lei n. 7.783/89 (art. 7), (...) a participao em greve suspende o contrato de trabalho (...).

    1 Parte desse assunto j foi abordado no Informativo TST n. 72.

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    Ademais, estabelece o pargrafo nico deste artigo que vedada a resciso do contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratao de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrncia das hipteses previstas nos arts. 9 e 14. Estando suspenso, consequentemente, no poder haver dispensa sem justa causa. A vedao da dispensa no perodo de suspenso cede na hiptese de justa causa, bem como se decorrente do abuso do direito de greve, individualmente apurado. Pagamento dos dias parados Gustavo Filipe aponta duas correntes:

    1 corrente: na greve abusiva os salrios referentes aos dias de greve no so devidos (OJ n. 10 da SDC do TST); diversamente, se a greve no abusiva, os salrios do perodo de paralisao passam a ser devidos. 2 corrente: entende que os salrios do perodo de greve no so devidos, seja a greve abusiva ou no, por se tratar de suspenso do contrato de trabalho, conforme definio legal, devendo os empregados correr o risco de sua deliberao.

    A adeso greve fato capaz de ensejar o despedimento? Trata-se de exerccio regular de um direito, no podendo o paredista ser punido. Simples adeso greve no constitui falta grave (Smula 316 do STF). E se for adeso greve abusiva2? A abusividade da greve fato capaz de ensejar o despedimento por justa causa? 1 Corrente: No. O que configura a falta grave do grevista o ato por ele praticado individualmente, o qual dever ser devidamente apurado.. 2 Corrente: Sim. Parte da interpretao literal do pargrafo nico do art. 7 da Lei n. 7.783/89, a simples adeso greve abusiva, mesmo que pacfica, configuraria justa causa motivadora da resciso contratual.

    O CASO CONCRETO Servios ou atividades essenciais (art. 9, 1, CR/88): No se probe a greve em tais seguimentos, mas se cria para o movimento paredista imperiosos condicionamentos em vista das necessidades inadiveis da comunidade.

    Art. 10. So considerados servios ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de gua; produo e distribuio de energia eltrica, gs e combustveis; II - assistncia mdica e hospitalar; III - distribuio e comercializao de medicamentos e alimentos;

    2 Art. 14: Constitui abuso do direito de greve a inobservncia das normas contidas na presente Lei, bem como a manuteno da

    paralisao aps a celebrao de acordo, conveno ou deciso da Justia do Trabalho.

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    IV - funerrios; V - transporte coletivo; VI - captao e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicaes; VIII - guarda, uso e controle de substncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a servios essenciais; X - controle de trfego areo; XI - compensao bancria.

    ATENO: NO ESTO NESSE ROL servios bancrios (exceto compensao, com o processamento de dados a ela vinculados); servios de comunicao (exceto telecomunicaes e o respectivo processamento de dados); servios de carga e descarga (exceto transporte coletivo); escolas; servios de correios. No caso foi deflagrada greve, segundo a representao da categoria profissional, por descumprimento de sentena normativa que exigia, para a alterao do plano de sade da empresa, a elaborao de estudos atuariais por comisso paritria. A princpio o sindicato dos trabalhadores valeu-se da previso do inciso I do art. 14, pargrafo nico, da Lei de Greve. Ocorre que a sentena normativa a que se referem os trabalhadores foi substituda pela subsequente, que, embora mantendo a mesma redao da clusula anterior, fundou-se em que o modo de gesto do plano de sade questo afeta ao poder diretivo-organizacional do empregador. Nesse prumo, se a matria comporta interpretao diversa daquela adotada pelos trabalhadores, no h falar em descumprimento da clusula e, por consequncia, a greve abusiva. Assim, abusiva a greve deflagrada pelos empregados da ECT (Correios) sob a alegao de que a empresa teria descumprido clusula de sentena normativa. Na verdade, a matria tratada na clusula (gesto do plano de sade dos empregados) comportava interpretao diversa daquela adotada pelos trabalhadores, no havendo que se falar em descumprimento da clusula.

    Smulas Smula 316 STF. A simples adeso greve no constitui falta grave.

    OJs

    OJ-SDC-10 GREVE ABUSIVA NO GERA EFEITOS. incompatvel com a declarao de abusividade de movimento grevista o estabelecimento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partcipes, que assumiram os riscos inerentes utilizao do instrumento de presso mximo. OJ-SDC-38 GREVE. SERVIOS ESSENCIAIS. GARANTIA DAS NECESSIDADES INADIVEIS DA POPULAO USURIA. FATOR DETERMINANTE DA QUALIFICAO JURDICA DO MOVIMENTO. abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais comunidade, se no assegurado o atendimento bsico das necessidades inadiveis dos usurios do servio, na forma prevista na Lei n 7.783/89.

    Referncias

    legislativas

    Art. 9, CR/88

    Lei n. 7.783/89 (Lei de Greve)

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    Bibliografia

    CASSAR, Vlia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. So Paulo: Mtodo, 2013.

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. So Paulo: LTr, 2014.

    GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. So Paulo: Mtodo, 2014.

    MELO, Raimundo Simo. A Greve no Direito Brasileiro. 3. ed. So Paulo: LTr, 2011.

    Processo TST-DCG-1853-34.2014.5.00.0000, SDC, rel. Min. Mrcio Eurico Vitral

    Amaro, 12.3.2014.

    DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

    nula a clusula de ACT que possibilita, sem prvia autorizao individual de cada

    empregado, o desconto em folha de valor referente a pagamento de mensalidade

    (prmio) de seguro de vida.

    A contratao de seguro de vida, com rateio de custos entre empregador e

    empregado e o respectivo desconto em folha, ainda que prevista em clusula de

    acordo coletivo, depende de anuncia individual e expressa de cada empregado,

    nos termos da Smula n 342 do TST.

    Comentrios

    Princpio da intangibilidade salarial e suas excees

    Referido princpio probe que ocorram descontos ilegais e abusivos no

    salrio do empregado. Assim, em princpio, vedado ao empregador

    efetuar quaisquer descontos salariais, salvo os que resultarem de

    adiantamentos, dispositivos de lei ou conveno coletiva (CLT, art. 462).

    Esse preceito bsico veio a sofrer necessria modernizao por meio da

    fora renovadora da jurisprudncia, nos termos da smula TST n. 342.

    Podemos indicar os seguintes descontos pressupostamente autorizados:

    Adiantamentos ou vale; Dano causado pelo empregado, desde que expressamente previsto no

    contrato de trabalho, ou por outro instrumento que expresse a

    concordncia inequvoca do empregado, ou quando provado o dolo do

    empregado (CLT, art. 462, 1);

    Dispositivos de lei, a exemplo de tributos, taxas, contribuies, etc. Norma coletiva de trabalho, tais como contribuio assistencial ou

    confederativa;

    Benefcios extralegais, entre os quais seguros de vida, assistncia mdica, hospitalar e odontolgica. Nesse caso dever ter autorizao

    expressa do empregado; auferimento de benefcios por ele, ainda que

    potencialmente; inexistncia de vcios de vontade;

    Prestaes de financiamentos (Lei n. 10.820/03).

    (ZANGRANDO, Carlos. Princpios Jurdicos do Direito do Trabalho.

    So Paulo: LTr, 2011. pg. 312).

    A clusula

    No caso concreto, o MPT pretendia a anulao parcial da clusula 13.

    do acordo coletivo, cuja redao a seguinte:

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    CLUSULA DCIMA TERCEIRA SEGURO DE VIDA. A empresa acordante se

    compromete a contratar aplices de seguro de vida e acidentes pessoais para

    os seus empregados abrangidos pela representatividade do Sindnorte, de

    acordo com as bases mnimas estabelecidas abaixo, podendo a empresa optar

    por manter o contrato de seguro de vida que tiver, resguardando as mesmas

    garantias. Pargrafo quarto. O funcionrio beneficirio contribuir

    mensalmente para custear parte das despesas com o seguro o valor de R$2,00

    (dois reais) e a diferena ser custeada pela Transportadora Figueiredo Ltda.

    Pretendia-se apenas a anulao parcial para declarar a nulidade apenas

    no tocante ao nus imposto ao trabalhador, sem sua expressa

    anuncia.

    O TST, por maioria de votos, entendeu que referida clusula nula, por

    afronta Sumula 342 e ao artigo 462 da CLT e, por consequncia,

    reformou a deciso acima transcrita.

    A SDC, em ateno ao princpio da intangibilidade salarial, interpreta

    com restries o art. 462 da CLT, de maneira a preservar parte da

    remunerao do empregado e exigir expressa autorizao do

    empregado para implementao desse desconto, ainda que oriundo

    de negociao coletiva.

    Esquematizando:

    A norma do art. 462 da CLT deve ser interpretada cum grano

    salis para se exigir que o desconto:

    a) preserve parte da remunerao do empregado (OJ 18

    SDC);

    b) seja precedida de prvia e expressa autorizao do

    empregado (Smula 342 SDI-1 do TST)

    Com esses fundamentos, a SDC, por maioria, deu provimento ao recurso

    ordinrio em ao anulatria para, sanando o vcio apontado pelo

    Ministrio Pblico do Trabalho da 17 Regio, recorrente, vincular o

    desconto salarial a que alude o pargrafo quarto da Clusula 13

    Seguro de Vida anuncia do trabalhador.

    Votos vencidos:

    Os Ministros Fernando Eizo Ono, Walmir Oliveira da Costa e Ives

    Gandra Martins da Silva Filho, entendiam que a aquiescncia pblica e

    expressa da categoria ao teor da clusula do acordo coletivo

    suficiente para autorizar a efetivao do desconto em folha.

    Smulas

    Smula 342 TST. DESCONTOS SALARIAIS. ART. 462 DA CLT. Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a autorizao prvia e por escrito do empregado, para ser integrado em planos de assistncia odontolgica, mdico-hospitalar, de seguro, de previdncia privada, ou de entidade

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    cooperativa, cultural ou recreativo-associativa de seus trabalhadores, em seu benefcio e de seus dependentes, no afrontam o disposto no art. 462 da CLT, salvo se ficar demonstrada a existncia de coao ou de outro defeito que vicie o ato jurdico.

    OJs

    OJ 18, SDC do TST. DESCONTOS AUTORIZADOS NO SALRIO PELO TRABALHADOR. LIMITAO MXIMA DE 70% DO SALRIO BASE. Os descontos efetuados com base em clusula de acordo firmado entre as partes no podem ser superiores a 70% do salrio base percebido pelo empregado, pois deve-se assegurar um mnimo de salrio em espcie ao trabalhador.

    Referncias legislativas

    Art. 462, CLT. Ao empregador vedado efetuar qualquer desconto nos salrios do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo (na verdade acordos e convenes coletivas). 1 Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto ser lcito, desde de que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrncia de dolo do empregado. 2 vedado empresa que mantiver armazm para venda de mercadorias aos empregados ou servios destinados a proporcionar-lhes prestaes in natura exercer qualquer coao ou induzimento no sentido de que os empregados se utilizem do armazm ou dos servios. 3 Sempre que no for possvel o acesso dos empregados a armazns ou servios no mantidos pela empresa, lcito autoridade competente determinar a adoo de medidas adequadas, visando a que as mercadorias sejam vendidas e os servios prestados a preos razoveis, sem intuito de lucro e sempre em benefcios dos empregados. 4 Observado o disposto neste Captulo, vedado s empresas limitar, por qualquer forma, a liberdade dos empregados de dispor do seu salrio.

    Bibliografia ZANGRANDO, Carlos. Princpios Jurdicos do Direito do Trabalho. So

    Paulo: LTr, 2011.

    Processo TST-RO-40200-36.2012.5.17.0000, SDC, rel. Min. Maria de Assis Calsing,

    17.3.2014.

    DIREITO PROCESSUAL E COLETIVO DO TRABALHO

    Sindicato possui legitimidade ativa para substituio processual de um nico

    empregado na defesa de direitos individuais homogneos da categoria.

    Na hiptese em que o objeto da ao diz respeito a direitos individuais

    homogneos da categoria (intervalo intrajornada, horas in itinere e diferenas

    salariais), h de se reconhecer a ampla legitimidade do sindicato (art. 8, III, da

    CF) para atuar na condio de substituto processual, ainda que o substitudo

    seja um nico empregado.

    Comentrios

    Diferena entre direito individual homogneo x direito (meramente) individual. Os interesses individuais homogneos distinguem-se dos meramente individuais em virtude da origem comum, isto , um fato jurdico que atinge diversos indivduos concomitantemente e os coloca em situao assemelhada, propiciando tratamento uniforme das vrias relaes jurdicas que se formam em torno da mesma situao. (SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e Aes Coletivas. 3. ed. LTr, 2012. pg. 97). Legitimao sindical para a defesa dos interesses individuais homogneos

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    Hugo Nigro Mazzilli afirma que os sindicatos possuem legitimidade para a defesa de interesses coletivos ou individuais homogneos por meio de ao civil pblica ou coletiva. (MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juzo. 20. ed. So Paulo: Saraiva, 2007). A questo que se pe : tem o sindicato legitimidade para atuar na condio de substituto processual, ainda que o substitudo seja um nico empregado? Sim. No raramente, certo ato praticado pelo empregador e que venha a lesionar concretamente um s empregado, poder estender seus efeitos por toda a comunidade coletiva ou difusa de trabalhadores ou candidatos a emprego. O ato do empregador, apesar de afetar imediatamente um interesse singular, atinge tambm indivduos que esto em condies similares. Em outras palavras, h uma transcendncia coletiva de um interesse individual. (SANTOS, 2012) De fato, o TST hoje adota este entendimento. Significa dizer que aquilo que define a natureza das pretenses trazidas a juzo, caracterizando-as como individuais homogneas, o fato constitutivo do direito vindicado. Na esfera trabalhista, por exemplo, se um determinado ato ou conduta do empregador capaz de gerar consequncias na esfera jurdica de vrios dos seus empregados, fica caracterizada a origem comum dos direitos da decorrentes e, consequentemente, sua natureza homognea, hbil a justificar a defesa pelo sindicato na condio de substituto processual. Esse entendimento majoritrio O TST tem jurisprudncia praticamente pacfica nesse aspecto. Vejamos:

    RECURSO DE EMBARGOS. SUBSTITUIO PROCESSUAL. LEGITIMIDADE DO SINDICATO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGNEOS. CONSTITUIO DA REPBLICA. ARTIGO 8, INCISO III. AMPLITUDE. SUBSTITUIO DE TRS EMPREGADOS. Diante da tese da v. deciso embargada, que consagra a natureza homognea dos direitos individuais defendidos coletivamente, horas extraordinrias, dirias e horas in itinere, relacionando-os a conduta uniforme do empregador, caracteriza-se como leso coletiva e possibilita a atuao do sindicato como substituto processual. No caso em exame a homogeneidade resta assinalada pelo exame da fonte da leso, conduta uniforme da empresa, que alcana trs substitudos, sendo legtimo o Sindicato para representar os empregados. O interesse jurdico que legitima o sindicato a estar em juzo, em nome dos substitudos, justifica a existncia de aes trabalhistas em que h substituio de apenas um ou pequeno nmero de substitudos. Apenas haveria se falar em ilegitimidade do sindicato no caso em que no instruo da ao trabalhista o julgador entender necessria a oitiva do substitudo, situao que configura o interesse individual e, por consequncia, a necessidade de o empregado integrar o polo ativo da ao como parte. (E-Ag-RR-63900-89.2007.5.03.0102 , Relator Ministro: Aloysio Corra da Veiga, Data de Julgamento: 17/10/2011, Subseo I Especializada em Dissdios Individuais, Data de Publicao: 28/10/2011)

    Smulas Smula 310 do TST CANCELADA

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    OJs No h OJs relacionadas diretamente ao caso em comento.

    Referncias legislativas

    Art. 8, III, CR/88. livre a associao profissional ou sindical, observado o seguinte: [...] III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou administrativas. Art. 81, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vtimas poder ser exercida em juzo individualmente, ou a ttulo coletivo. Pargrafo nico. A defesa coletiva ser exercida quando se tratar de: [...] III - interesses ou direitos individuais homogneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

    Bibliografia

    MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juzo. 20. ed. So Paulo: Saraiva, 2007.

    SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e Aes Coletivas. 3. ed. LTr, 2012. pg. 97

    Processo TST-E-RR-1204-21.2010.5.03.0099, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corra da Veiga, 13.3.2014.

    DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

    invlida a clusula de acordo coletivo de trabalho que exime o empregador de pagar a

    totalidade das horas extras trabalhadas.

    invlida a clusula de acordo coletivo de trabalho que exime o empregador de

    pagar a totalidade das horas extras trabalhadas, sob pena de suprimir os direitos

    fundamentais sociais do empregado durao do trabalho, remunerao

    superior do servio em sobrejornada e reduo dos riscos inerentes ao

    trabalho.

    Comentrios

    Atividade externa e funo de confiana Para que sejam inseridos na exceo do art. 62 no basta que os empregados exeram atividade externa (inciso I), mas tambm que esta seja incompatvel com o controle de horrio. No a ausncia de controle de jornada que caracteriza a exceo do art. 62 I da CLT, mas a impossibilidade deste controle. O art. 62 da CLT inconstitucional? O entendimento majoritrio diz que no. Entretanto, h vozes a sustentar a incompatibilidade do preceito com a CR/88: Enunciado n. 17 da 1 Jornada de Direito Material e Processual na Justia do Trabalho:

    LIMITAO DA JORNADA. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO A TODOS OS TRABALHADORES. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 62 DA CLT. A proteo jurdica ao limite da jornada de trabalho, consagrada nos incisos XIII e XV do art. 7 da Constituio da Repblica, confere, respectivamente, a todos os trabalhadores, indistintamente, os direitos ao repouso semanal remunerado e limitao da jornada de trabalho, tendo-se por inconstitucional o art. 62 da CLT.

    Princpio da Adequao Setorial Negociada Segundo Maurcio Godinho Delgado: - o princpio da criatividade encontra limites. preciso saber harmonizar

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    as normas coletivas negociadas (normatizao autnoma princpio da criatividade jurdica da negociao coletiva) ao conjunto da normatividade estatal (heternoma) trabalhista. - orienta que as normas autnomas podem prevalecer sobre o padro geral heternomo, desde que satisfaam duas condies especficas, no cumulveis:

    a) quando as normas autnomas implementam/concedam direitos superiores ao padro geral oriundo da normatividade heternoma estatal: elevam o padro das vantagens trabalhistas, tomado em comparao com o padro bsico imperativo. b) quando as normas autnomas transacionem direitos trabalhistas de indisponibilidade apenas relativa: apenas aqueles direitos ou vantagens trabalhistas que admitem disposio.

    Limites objetivos: 1) No prevalece se concretizada mediante ato estrito de renncia

    (despojamento unilateral sem contrapartida do agente adverso).

    2) No prevalece a adequao setorial negociada se concernente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta. So parcelas imantadas por uma tutela de interesse pblico. Essas parcelas esto dentro daquilo que a doutrina chama de patamar civilizatrio mnimo que no concebe reduo. Assim se dividem:

    a) Normas constitucionais (salvo as excees acima) b) Normas de tratados e convenes internacionais vigorantes

    internamente. c) Normas infraconstitucionais que asseguram patamar mnimo de

    civilidade

    O caso concreto

    No caso vertente, conquanto o reclamante exercesse atividade

    externa, constatou-se que sua jornada de trabalho era controlada

    pelo empregador, razo por que se reputou invlida a previso em

    norma coletiva do pagamento fixo de cinquenta horas extraordinrias.

    No possvel reconhecer como vlida a norma coletiva que se contrape legislao atinente segurana e sade no trabalho. Deciso muito semelhante e que vale a pena ser transcrita:

    RECURSO DE REVISTA. CLUSULA DE ACORDO COLETIVO QUE FIXA 50 HORAS EXTRAS MENSAIS, COM ACRSCIMO DE 50%, INDEPENDENTEMENTE DA PRESTAO DO SERVIO EM LABOR EXTRAORDINRIO. A delimitao da jornada de trabalho e a remunerao superior em virtude de trabalho extraordinrio, assegurados pelo artigo 7, incisos XIII e XVI, da Constituio, so direitos do trabalhador de indisponibilidade absoluta, no podendo ser transacionados em negociao coletiva. Por isso no vlida clusula de norma coletiva que fixa 50 horas extras mensais, com acrscimo de 50%, independentemente da real prestao do

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    servio em labor extraordinrio, mormente quando ficou consignado pelo Regional que o autor, diariamente, laborava trs horas, no mnimo, no regime de sobrejornada, e as horas extras pr-fixadas no remuneram integralmente o labor extraordinrio por ele prestado. Recurso de revista no conhecido neste tema." (RR-198000-90.2004.5.15.0024, Relator Ministro: Jos Roberto Freire Pimenta, Data de Publicao: DEJT 25/03/2011).

    Smulas No h smulas aplicveis diretamente ao caso julgado.

    OJs No h OJs relacionadas diretamente ao caso em comento.

    Referncias

    legislativas

    Art. 62, CLT. No so abrangidos pelo regime previsto neste captulo:

    I os empregados que exercem atividade externa incompatvel com a fixao

    de horrio de trabalho, devendo tal condio ser anotada na Carteira de

    Trabalho e Previdncia Social e no registro de empregados;

    II os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gesto, aos

    quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes

    de departamento ou filial.

    Pargrafo nico O regime previsto neste captulo ser aplicvel aos

    empregados mencionados no inciso II deste artigo, quando o salrio do cargo

    de confiana, compreendendo a gratificao de funo, se houver, for inferior

    ao valor do respectivo salrio efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento).

    Bibliografia

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. So Paulo: LTr, 2014.

    MOURA, Marcelo. Consolidao das Leis do Trabalho para concursos. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2013. Pg. 123

    Processo TST-E-RR-1305900-13.2002.5.09.0652, SBDI-I, rel. Min. Renato de

    LacerdaPaiva, 13.3.2014.

    DIREITO INDIVIDUAL E PROCESSUAL DO TRABALHO

    Procede a ao rescisria de sentena homologatria de conciliao em ao de

    cumprimento de conveno coletiva se demonstrada a coluso entre as partes.

    O TST reconheceu a existncia de coluso em acordo judicialmente homologado

    em ao de cumprimento de conveno coletiva celebrado entre uma rede de

    restaurantes e o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Refeies Rpidas

    (Fast-Food). Por isso, com fundamento no art. 485, III, parte final, do CPC, o TST

    deu provimento ao recurso ordinrio em ao rescisria e desconstituiu a sentena

    homologatria.

    Comentrios

    Juzo rescidente x Juzo rescisrio Juzo rescindente (ou revidente ou de cassao): aquele que provoca a desconstituio da coisa julgada. Juzo rescisrio (ou revisrio ou de reforma): aquele que produz um novo julgamento. Coluso entre as partes, a fim de fraudar a lei Art. 485, III, do CPC A coluso o acordo estabelecido entre os litigantes com o fim de alcanar um resultado ilcito por meio do processo. Segundo Fredie Didier, considera-se fraudulento o processo quando as partes o utilizam em conluio para obteno de finalidade proibida por lei, tendo-se por simulado o processo quando as partes, em conluio, fazem uso dele para prejudicar

  • Informativo TST esquematizado Pgina 12

    terceiro. Apoiando-se nas lies de Barbosa Moreira, Fredie Didier ainda afirma que cabe a ao rescisria apenas em casos de processo fraudulento, no cabendo quanto aos casos de processo simulado3, exatamente porque o art. 485, III, do CPC, prev a ao rescisria na hiptese de coluso entre as partes, a fim de fraudar a lei. (DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. Volume 3. 10. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. pg. 419). Caso concreto Restou comprovado que o instrumento normativo firmado pelo sindicato Sindfast garantia menos direitos aos empregados que aquele firmado pelo sindicato Sinthoresp, o qual sequer fora includo no polo passivo da ao, apesar de seu legtimo interesse no objeto da demanda. Ademais, as provas documentais carreadas aos autos, e no impugnadas, bem como os instrumentos constitutivos das empresas revelam que o seu objeto societrio no se amolda restrita preparao de refeies rpidas. Assim, vislumbrando fraude ao inciso II do art. 8 da CF, que assegura o princpio da unicidade sindical, e, consequentemente, determina o alcance da representao sindical, a Subseo desconstituiu a sentena homologatria da conciliao proferida na ao de cumprimento e, em juzo rescisrio, com amparo no art. 129 do CPC, extinguiu o processo sem resoluo de mrito. Os detalhes do julgamento e as especificidades que nortearam o julgamento no so de grande relevncia. O que realmente interessa saber apenas a hiptese que enseja a resciso de sentena homologatria de resciso.

    Smulas No h smulas relacionadas diretamente ao caso comentado.

    OJs

    OJ n. 94 da SDI-2 do TST. AO RESCISRIA. COLUSO. FRAUDE LEI.

    RECLAMATRIA SIMULADA EXTINTA. A deciso ou acordo judicial subjacente

    reclamao trabalhista, cuja tramitao deixa ntida a simulao do litgio para

    fraudar a lei e prejudicar terceiros, enseja ao rescisria, com lastro em coluso.

    No juzo rescisrio, o processo simulado deve ser extinto.

    Referncias

    legislativas

    Art. 129 do CPC. Convencendo-se, pelas circunstncias da causa, de que autor e

    ru se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido

    por lei, o juiz proferir sentena que obste aos objetivos das partes.

    Art. 485, III, do CPC. A sentena de mrito, transitada em julgado, pode ser

    rescindida quando: [...] III resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da

    parte vencida, ou de coluso entre as partes, a fim de fraudar a lei; [...].

    Bibliografia DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. Volume 3. 10. ed. Salvador:

    JusPodivm, 2012.

    Processo TST-RO-1359800-14.2005.5.02.0000, SBDI-II, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de

    Fontan Pereira, red. p/ acrdo Min. Cludio Mascarenhas Brando, 11.3.2014.

    A deciso referente aos autos do processo TST-E-ED-RR-1581-78.2010.5.03.0038,

    SBDI-I, rel. Min. Dora Maria da Costa, 20.3.2014, foi republicada no Informativo TST

    n. 76, razo pela qual ser comentada no prximo nmero de nossos esquematizados.

    3 Esse posicionamento no pacfico, sendo que a maioria da doutrina e jurisprudncia entende cabvel a ao

    rescisria no caso de processo simulado e no somente nos casos de processo fraudulento.