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Informativo Esquematizado TST n. 81 Período: 30 de abril a 12 de maio de 2014. Raphael Miziara (Prof. e Advogado) e Roberto W. Braga (Prof. e Juiz TRT 22ª Região) ÍNDICE Informativo TST nº. 81 de 30 de abril a 12 de maio de 2014. Direito Individual do Trabalho Bancário. Horas extras ajustadas em momento posterior ao da admissão. Inexistência de vínculo com a prestação de serviço extraordinário. Natureza jurídica de salário propriamente dito. Supressão. Prescrição parcial. Súmulas nº 199, II, e 294 do TST. Não incidência. Gueltas. Bonificações pagas por terceiros em virtude do contrato de trabalho. Natureza jurídica salarial. Súmula nº 354 do TST e art. 457, § 3º, da CLT. Aplicação por analogia. Ação rescisória. Professor universitário. Rescisão do contrato, sem justa causa, ao completar 70 anos de idade. Previsão em cláusula de acordo coletivo. Despedida não discriminatória. Direito Processual do Trabalho Município. Precatório. Opção pelo regime especial de pagamento. Redução do percentual de comprometimento da receita líquida oriunda do Fundo de Participação dos Municípios. Impossibilidade. Critérios legais vinculantes. Ação cautelar incidental à ação anulatória. Cominação de multa por descumprimento de ordem judicial. Superveniência de decisão na ação principal. Cessação dos efeitos da medida cautelar. Exclusão da penalidade imposta. Agravo de Instrumento. Ausência de traslado da intimação pessoal da União. Presença de elementos que possibilitam inferir a tempestividade do recurso. Orientação Jurisprudencial Transitória nº 18 da SBDI-I, parte final. DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO As horas extras do bancário ajustadas em momento posterior ao da admissão tem natureza jurídica de salário propriamente dito

Informativo Esquematizado TST n. 81 - ostrabalhistas.com.br esquematizado 81 TST.pdf · Direito do Trabalho Esquematizado. 4. ed. São Paulo: Método, 2014. Processo TST-E-ED-RR-213000-55.2007.5.09.0069,

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Informativo Esquematizado TST n. 81 Período: 30 de abril a 12 de maio de 2014.

Raphael Miziara (Prof. e Advogado) e Roberto W. Braga (Prof. e Juiz TRT 22ª Região)

ÍNDICE – Informativo TST nº. 81 – de 30 de abril a 12 de maio de 2014.

Direito Individual do Trabalho

Bancário. Horas extras ajustadas em momento posterior ao da

admissão. Inexistência de vínculo com a prestação de serviço

extraordinário. Natureza jurídica de salário propriamente dito.

Supressão. Prescrição parcial. Súmulas nº 199, II, e 294 do TST. Não

incidência.

Gueltas. Bonificações pagas por terceiros em virtude do contrato de

trabalho. Natureza jurídica salarial. Súmula nº 354 do TST e art. 457, §

3º, da CLT. Aplicação por analogia.

Ação rescisória. Professor universitário. Rescisão do contrato, sem

justa causa, ao completar 70 anos de idade. Previsão em cláusula de

acordo coletivo. Despedida não discriminatória.

Direito Processual do Trabalho

Município. Precatório. Opção pelo regime especial de pagamento.

Redução do percentual de comprometimento da receita líquida oriunda

do Fundo de Participação dos Municípios. Impossibilidade. Critérios

legais vinculantes.

Ação cautelar incidental à ação anulatória. Cominação de multa por

descumprimento de ordem judicial. Superveniência de decisão na

ação principal. Cessação dos efeitos da medida cautelar. Exclusão da

penalidade imposta.

Agravo de Instrumento. Ausência de traslado da intimação pessoal da

União. Presença de elementos que possibilitam inferir a

tempestividade do recurso. Orientação Jurisprudencial Transitória nº

18 da SBDI-I, parte final.

DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO As horas extras do bancário ajustadas em momento posterior ao da admissão tem

natureza jurídica de salário propriamente dito

Parcela que é recebida pelo bancário em momento posterior ao de sua

contratação, em valores mensais fixos e de forma desvinculada da prestação de

serviço extraordinário não se configura típica pré-contratação de horas extras,

ostentando, em verdade, a natureza de salário propriamente dito, ainda que paga

sob a rubrica “horas extras”.

Desse modo, havendo a supressão da mencionada verba, incide ao caso a

prescrição parcial, pois configurado o mero descumprimento da obrigação de

efetuar o pagamento do salário, e não a prescrição total de que trata o item II da

Súmula nº 199 do TST, pois não se trata de horas extras pré-contratadas.

Comentários

.

Duração do Trabalho do Bancário

Empregado Jornada Duração Intervalo Observações

Bancário e

economiário

Art. 224,

CLT.

a) 6h

contínuas nos

dias úteis;

b) com

exceção dos

sábados

(sábado = dia

útil não

trabalhado);

c) jornada de

trabalho entre

as 7:00 e

22:00

30h

semanais

De 15

minutos para

alimentação,

que não são

computados

na jornada

de até seis

horas (OJ n.

178 da SBDI-

1).

Estas regras não

se aplicam aos

que exercem:

- funções de

direção,

fiscalização;

- chefias ou

equivalentes;

- ou que

desempenham

outros cargos de

confiança

- e desde que o

valor da

gratificação não

seja inferior a 1/3

do salário do

cargo efetivo.

Imagine-se a seguinte situação:

Bancário contratado em março de 1988. Sete meses depois da admissão

do empregado, inicia-se, independentemente da efetiva prestação de horas

extras, pagamento de parcela fixa mensal a título de “horas

extraordinárias”. Em 2001, o banco para de pagar a parcela relativa a

horas extras.

Incide a prescrição total ou parcial?

No caso, não se configurou típica pré-contratação de horas extras (a

contratação das horas extras se deu após o início do contrato), razão pela

qual incide a prescrição PARCIAL, afastando-se a hipótese prevista no item

II, da Súmula 199, do TST.

Logo, a prescrição aplicável é a parcial, eis que a lesão se renova no

tempo. Correta, portanto, a aplicação da prescrição parcial, na medida em

que se trata de lesão que se renova no tempo, nos termos da parte final da

Súmula 294 do TST.

ATENÇÃO: um erro comum, entretanto, é a aplicação da referida Súmula

294 a hipóteses que não configure alteração contratual. Com efeito, o TST

entende que tal verbete se aplica única e exclusivamente às situações

fáticas em que há alteração do pactuado. Portanto, sempre que o

empregador simplesmente deixa de pagar (ou de fazer, como no caso do

reenquadramento), mas disso não decorre alteração do pactuado, a

prescrição será parcial, se a parcela é de trato sucessivo (RESENDE,

Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 4. ed. São Paulo: Método,

2014. pág. 970) (GN)

No presente caso, houve supressão de horas extras?

Sim, houve supressão das horas extras prestadas, mas não de horas

extras pré-contratadas. Se fosse supressão de horas extras pré-

contratadas a prescrição seria total.

Assim, cabe observar, apoiando-se nas lições de Henrique Correia que,

citando a jurisprudência do TST, assim se pronuncia a respeito das horas

extras pré-contratadas:

a incidência da prescrição total pressupõe a circunstância de as

horas extras terem sido suprimidas. Se a ação judicial tratar de

pedido de nulidade da pré-contratação de horas extras que o

empregado vinha recebendo durante o contrato e de pagamento

da 7ª e 8ª horas de forma extraordinária (e não de horas extras

suprimidas), a prescrição será parcial, pois o pagamento de horas

extras está assegurado em lei, e o descumprimento dessa

obrigação configura lesão que se renova mês a mês (RR-713485-

27.2004.5.12.0034) (MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique.

Súmulas e Orientações Jurisprudenciais do TST: comentadas e

organizadas por assunto. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2014. pág.

517).

Em resumo, de acordo com a atual jurisprudência do TST:

- supressão de horas extras pré-contratadas: prescrição total

(item II, Súmula 199, TST);

- nulidade da pré-contratação de horas extras: prescrição parcial.

Prescrição total x prescrição parcial

- a prescrição bienal será sempre total;

- a prescrição quinquenal poderá ser total ou parcial;

Para diferenciar uma e outra o TST fundamenta-se no título jurídico

instituidor da parcela, ou seja, se preceito de lei ou não. É o teor da

Súmula 294:

PRESCRIÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL. TRABALHADOR

URBANO. Tratando-se de ação que envolva pedido de prestações

sucessivas decorrente de alteração do pactuado, a prescrição é total,

exceto quando o direito à parcela esteja também assegurado por

preceito de lei. (gn)

- a prescrição é total sempre que a parcela fundar-se em cláusula

contratual (contrato de trabalho) ou regulamentar (regulamento de

empresa) e não estiver assegurada em preceito de lei. A prescrição corre

desde a lesão (desde o surgimento da pretensão) e se consuma no prazo

quinquenal subsequente, se o contrato ainda estiver em vigor.

- a prescrição parcial não atinge o próprio direito que deu origem à

pretensão, mas apenas a exigibilidade das parcelas devidas há mais de

cinco anos, decorrentes de determinado direito fundado em preceito de lei.

Neste caso a actio nata incidiria em cada parcela especificamente

lesionada, a contar do vencimento de cada prestação periódica.

O que é o chamado “preceito de lei”?

Pela corrente majoritária, considera-se lei em sentido amplo, abrangendo-

se a norma jurídica, incluindo, portanto, acordos coletivos e convenções

coletivas de trabalho. (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do

Trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014. Pág. 259).

Súmulas

SUM-199 BANCÁRIO. PRÉ-CONTRATAÇÃO DE HORAS EXTRAS.

I - A contratação do serviço suplementar, quando da admissão do trabalhador

bancário, é nula. Os valores assim ajustados apenas remuneram a jornada

normal, sendo devidas as horas extras com o adicional de, no mínimo, 50%

(cinquenta por cento), as quais não configuram pré-contratação, se pactuadas

após a admissão do bancário.

II - Em se tratando de horas extras pré-contratadas, opera-se a prescrição total

se a ação não for ajuizada no prazo de cinco anos, a partir da data em que foram

suprimidas.

SUM-294 PRESCRIÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL. TRABALHADOR

URBANO. Tratando-se de ação que envolva pedido de prestações sucessivas

decorrente de alteração do pactuado, a prescrição é total, exceto quando o

direito à parcela esteja também assegurado por preceito de lei.

OJs

OJ-SDI1-178 BANCÁRIO. INTERVALO DE 15 MINUTOS. NÃO COMPUTÁVEL

NA JORNADA DE TRABALHO. Não se computa, na jornada do bancário sujeito

a seis horas diárias de trabalho, o intervalo de quinze minutos para lanche ou

descanso.

Referências

legislativas

Art. 224 - A duração normal do trabalho dos empregados em bancos, casas

bancárias e Caixa Econômica Federal será de 6(seis) horas continuas nos dias

úteis, com exceção dos sábados, perfazendo um total de 30 (trinta) horas de

trabalho por semana.

§ 1º - A duração normal do trabalho estabelecida neste artigo ficará compreendida

entre 7 (sete) e 22 (vinte e duas) horas, assegurando-se ao empregado, no

horário diário, um intervalo de 15 (quinze) minutos para alimentação.

§ 2º - As disposições deste artigo não se aplicam aos que exercem funções de

direção, gerência, fiscalização, chefia e equivalentes, ou que desempenhem

outros cargos de confiança, desde que o valor da gratificação não seja inferior

a 1/3 (um terço) do salário do cargo efetivo.

Referências

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São

Paulo: LTr, 2014.

MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique. Súmulas e Orientações

Jurisprudenciais do TST: comentadas e organizadas por assunto. 4. ed.

Salvador: JusPodivm, 2014.

RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 4. ed. São Paulo:

Método, 2014.

Processo TST-E-ED-RR-213000-55.2007.5.09.0069, SBDI-I, rel. Min. João OresteDalazen,

8.5.2014.

DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

Gueltas: natureza jurídica salarial

Assim como as gorjetas, as gueltas – bonificações pagas ao empregado por

terceiros (pelo fabricante do produto comercializado pelo empregador) em

virtude do contrato de trabalho – decorrem diretamente do contrato de trabalho,

integrando a remuneração do empregado.

Comentários

Situação: Em virtude de contrato de trabalho celebrado com empresa

atacadista de produtos farmacêuticos, a reclamante percebia,

habitualmente, valores “extra recibo” decorrentes de bonificações pagas

por laboratórios a título de incentivo pela venda de medicamentos.

Qual a natureza jurídica dos valores pagos por terceiros (no caso, os

laboratórios) aos empregados?

Posição majoritária na doutrina e jurisprudência: natureza jurídica salarial,

pois o incentivo dado ao empregado beneficia diretamente o empregador,

em razão do incremento nas vendas e da repercussão no lucro do

empreendimento.

Assim, em certas atividades, os fabricantes ou fornecedores oferecem

valores para os empregados da empresa que distribui/comercializa seus

produtos no caso de cumprimento de determinadas metas ou ocorrendo o

aumento das vendas.

Tal situação geralmente ocorre em postos de gasolina, quando o frentista

vende determinados tipos de aditivo, ou produtos semelhantes; em

farmácias quando o balconista oferece algum tipo de produto ou ainda,

por exemplo, quando agentes de turismo indicam determinadas lojas,

serviços, bares ou restaurantes.

Esses valores são chamados de GUELTAS e tem a mesma natureza

jurídica das gorjetas, por aplicação analógica do art. 457, § 3º, da CLT.

Dessa forma, é bastante comum a prática pela qual o fabricante ou

prestador de serviços, com o objetivo de estimular a venda de sua marca,

oferece habitualmente uma gratificação ao vendedor para que ele ofereça

e convença o consumidor a adquirir seus produtos.

As gueltas, assim como as gorjetas, geram reflexos nas:

- férias mais 1/3;

- nos 13ºs salários;

- no FGTS mais 40%.

Porém, não servem de base de cálculo para as parcelas de:

- aviso prévio;

- horas extras;

- adicional noturno;

- repouso semanal remunerado.

Os valores devem ser oferecidos HABITUALMENTE.

A jurisprudência é bastante tranquila sobre a natureza jurídica da gueltas

(mas existem decisões isoladas em contrário):

A parcela denominada “gueltas”, pagas por terceiros, de forma

habitual, como vantagem pecuniária a título de incentivo ao

empregado, possui natureza salarial, semelhante às gorjetas,

impondo-se a aplicação por analogia do entendimento exarado na

Súmula n.º 354 do Tribunal Superior. (TRT/SP –

01507006220095020043 – Rel. SILVIA REGINA PONDÉ

GALVÃO DEVONALD – DOE 12/01/2012).

PAGAMENTO “POR FORA”. PAGAMENTO “POR FORA”.

GUELTAS. Predomina no âmbito desta Corte o entendimento de

que as gueltas possuem natureza jurídica idêntica à das gorjetas,

pois decorrem de pagamentos efetuados por terceiros que

integram a remuneração do empregado, nos termos do art. 457,

caput, da CLT, impondo-se a aplicação, por analogia, do disposto

na Súmula nº. 354 desta Corte. (TST-E-RR-224400-

06.2007.5.02.0055, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen,

8.5.2014).

Em contrário (posição minoritária), negando a natureza salarial, pelo

simples fato de ser quitada por terceiro alheio à relação empregatícia:

A parcela denominada guelta não tem natureza salarial quando a

prova dos autos sinaliza que era quitada pelos fornecedores no

intuito de fomentar as vendas de seus produtos comercializados

no estabelecimento comercial da reclamada através do incentivo

pecuniário aos vendedores que privilegiam determinada marca

em detrimento das demais, quando da oferta aos clientes.

Destarte, na forma do disposto no artigo 457 da CLT, não se

compreende na remuneração o pagamento de prêmios e

vantagens, mesmo que habituais, que não eram quitados

diretamente pelo empregador” (RO/16159/02 – TRT 3ª R – 7ª

Turma — rel. juiz Manoel Barbosa da Silva — DJMG 18-02-03).

A doutrina diverge. Em posicionamento minoritário, Gustavo Filipe

Barbosa Garcia afirma que as gueltas não se tratam de salário, tampouco

se equiparam à gorjeta:

É possível entender que a guelta também não se confunde com a

gorjeta, pois os fabricantes não pagam em razão do serviço

prestado, nem se confundem com cliente (art. 457, §3º, da CLT).

Portanto, os valores nem sequer integram a remuneração.

(GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho.

8. ed. São Paulo: Método, 2014. pág. 436).

O mesmo autor, reconhecendo que seu posicionamento é minoritário,

citando Valentin Carrion, assim arremata:

Gueltas são gratificações ou prêmios oferecidos por terceiros a

empregados pela produção, beneficiando estes terceiros [...] não

influem na relação empregatícia. Se os referidos pagamentos não

influem na relação empregatícia, é porque não integram a relação

de emprego e, por consequência, não integram a remuneração.

Súmulas

SUM-354 GORJETAS. NATUREZA JURÍDICA. REPERCUSSÕES. As

gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas

espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não

servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional

noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.

OJs Não há OJ relacionada diretamente ao caso julgado.

Referências

legislativas

Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os

efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como

contraprestação do serviço, as gorjetas que receber.

§ 3º - Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo

cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao

cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição

aos empregados.

Referências GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São

Paulo: Método, 2014.

Processo TST-E-RR-224400-06.2007.5.02.0055, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen,

8.5.2014.

DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

Idoso e dispensa não discriminatória.

Não implica conduta discriminatória a dispensa de professor universitário, sem

justa causa, ao completar 70 anos de idade, na hipótese em que a dispensa

decorreu do poder potestativo do empregador, realizado nos limites da

legalidade e sem abuso de direito, porque fundamentada em cláusula de acordo

coletivo.

Comentários

O que é discriminação?

De acordo com a Convenção 111 da OIT, o termo “discriminação”

compreende:

a) toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor,

sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem

social, que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de

oportunidade ou de tratamento em matéria de emprego ou

profissão;

b) qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha

por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou

tratamento em matéria de emprego ou profissão que poderá ser

especificada pelo Membro interessado depois de consultadas as

organizações representativas de empregadores e trabalhadores,

quando estas existam, e outros organismos adequados.

Vale lembrar que, de acordo com o item 2 da mesma Convenção, as

distinções, exclusões ou preferências fundadas em qualificações exigidas

para um determinado emprego não são consideradas como discriminação.

Doutrinariamente se diz que o ato discriminatório traz consigo uma

distinção ilegítima que promove diferenças entre duas pessoas ou entre

dois grupos. Discriminar é, no dizer de Lyon-Caen, distinguir pessoas ou

grupos, negando-lhes um tratamento igual em relação a outras pessoas

ou a outros grupos. (LIMA, Firmino Alves. Teoria da Discriminação nas

Relações de Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. pág. 25) (gn).

Modalidades de Discriminação (abordaremos as principais):

Classificação das discriminações pela intencionalidade

Discriminação intencional ou direta: é a prática intencional ou

consciente de discriminação contra um indivíduo ou grupo.

Discriminação não intencional (ou discriminação indireta ou disparate

impact): não há intencionalidade. Não é necessário comprovar-se

qualquer motivação discriminatória para a censura judicial de uma

medida aparentemente neutra, que, todavia, tem impacto diferenciado

sobre indivíduos ou grupos. A própria Convenção 111 da OIT

contempla a discriminação indireta quando faz referência a distinções,

exclusões, restrições ou preferências que tenha o propósito OU

EFEITO de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício

em pé de igualdade, de direitos. É dizer, não precisa ser intencional,

basta a causa, o efeito, para que se configure a discriminação indireta.

São medidas aparentemente neutras, mas efetivamente

discriminatórias. (cf. RIOS, Roger Raupp. Direito da Antidiscriminação:

discriminação direta, indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Livraria

do Advogado, 2008. pág. 149).

Classificação das discriminações pela prejudicialidade

Discriminações negativas: são aquelas que podem tratar alguém de

maneira menos favorável que outra pessoa ou grupo, bem como

implicam em exclusão ou prejuízo acentuado para determinada pessoa

ou grupo e carregam uma noção de prejudicialidade.

Discriminações positivas (ou discriminação reversa1 ou ações

afirmativas): previstas no art. 5º, item 1 e 2, da Convenção 111 da OIT

e são aquelas deliberadamente adotadas, por meio de atitudes

diferenciadoras, para procurar promover socialmente determinados

grupos historicamente prejudicados, conferindo-lhe maior igualdade de

oportunidades. São positivas pelo fato de promover uma equalização

social desses grupos. (cf. LIMA, Firmino Alves. Teoria da Discriminação

nas Relações de Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. pág. 212).

Imagine-se a seguinte situação:

Professor universitário que tem rescindido o contrato, sem justa causa, ao

completar 70 anos de idade. A despedida é discriminatória?

O TST entendeu que não. Segundo o entendimento do Tribunal Superior

do Trabalho, reputa-se não violado o art. 1º da Lei 9.029/95 no caso em

que cláusula normativa estabelece a possibilidade de dispensa por idade,

pois se trata de critério genérico de afastamento de pessoa do trabalho

firmado com base em negociação coletiva e, portanto, oriunda da vontade

da categoria profissional.

Vê-se que, no caso concreto, o TST ressalta a existência de cláusula

normativa que previa a dispensa por idade, com base em critérios

genéricos.

Data venia, a posição do TST vai de encontro ao princípio da

dignidade da pessoa humana e aos ditames do princípio da

isonomia. Em que pesem opiniões em contrário, cláusula normativa

desse teor não pode prevalecer, sob pena de afronta ao princípio da

igualdade. O fato de existir cláusula normativa prevendo a dispensa não é

fator idôneo a conferir ares de legalidade à dispensa perpetrada.

1 A expressão discriminação reversa foi utilizada na obra “A Economia da Justiça”, de Richard A. Posner.

Dispensa discriminatória em razão da idade: ABUSIVIDADE x

DIREITO POTESTATIVO DE DEMITIR

Nas palavras de Bandeira de Mello

o ponto nodular para exame da correção de uma regra em face do

princípio isonômico reside na existência ou não de correlação

lógica entre o fato erigido em critério de descrímen e a

discriminação legal decidida em função dele.

Em outras palavras, a lei (no caso, a norma coletiva) não pode dar

tratamento mais vantajoso ou mais gravoso para determinado

grupo, classe ou categoria de pessoas levando em conta pura e

simplesmente as diferenças existentes entre tais grupos.

É preciso, que a diferença porventura existente tenha uma

correlação lógica com o regime jurídico estabelecido pela lei.

Assim, por exemplo, não se pode vedar aos mais idosos o acesso

a cargos públicos, apenas porque são mais idosos, mas é

possível, sem atentar contra o princípio da igualdade, vedar o

acesso de pessoas mais idosas a cargos públicos que exijam um

esforço incompatível com as limitações físicas derivadas do

avanço da idade. (in Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade.

3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007).

Ademais, entende-se (minoritariamente) que o art. 7º, I, da CR/88 tem

aplicabilidade imediata, em face dos princípios da máxima efetividade

constitucional e da força normativa (Konrad Hesse).

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região conta com diversas

decisões jurisprudenciais onde, uma vez comprovado que a demissão tida

como imotivada em verdade se deu em virtude da idade do empregado, o

empregador é obrigado a proceder à indenização por danos morais em

razão da discriminação, configurada como ato ilícito.

Este é o entendimento da ementa abaixo transcrita (03138-2000-052-02-

00-7):

DISCRIMINAÇÃO POR IDADE. OCIOSIDADE IMPOSTA.

RESCISÃO INDIRETA. DANOS MORAIS. A ociosidade imposta é

uma das mais graves ofensas ao trabalhador. Ainda mais ao

intelectual que por longos anos contribuiu para o

engrandecimento do nome da empresa. Não bastasse tal situação

humilhante, a ela fora levada a autora por motivos discriminatórios

em razão de sua idade. Superaram-se os limites do poder

potestativo da empresa, ferindo-se, não somente a dignidade da

trabalhadora, mas princípios constitucionais, éticos e sociais. A

ociosidade imposta à autora se dera com a finalidade de esta

deixar a empresa e se firmara em bases discriminatórias,

infringindo normas expressas na Constituição Federal e na Lei

9029/95. Devida a indenização por danos morais.

Ou como na decisão do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais –

3ª Região, nos autos 00854-2007-037-03-00-0:

EMENTA: DISPENSA IMOTIVADA - DIREITO POTESTATIVO –

LIMITES CONSTITUCIONAIS - MOTIVAÇÃO DISCRIMINATÓRIA

- ABUSO DE DIREITO – REPARAÇÃO CIVIL. O direito

potestativo de dispensa imotivada, como de resto todas as

prerrogativas conferidas pela ordem jurídica, encontram limites

nos valores encampados pelo texto constitucional, dentre eles, a

proibição de discriminação em razão da idade (art. 3º, IV, CR/88).

Logo, havendo indícios de dispensa por mera questão etária,

injustificável em face das atribuições do empregado, configura-se

o ato ilícito por abuso de direito (art. 187 do Código Civil),

ensejando a condenação do ex-empregador à reparação dos

danos morais experimentados em razão da conduta

discriminatória.

Conclui-se, pela análise dos julgados, que a proteção maior é a

integridade psicológica do individuo, em prevalência ao direito de demitir

do empregador.

O entendimento mais razoável e consentâneo com o discurso

constitucional é aquele que faz presumir discriminatória a dispensa contra

o idoso. No entanto, como se viu, esse entendimento não foi acolhido pelo

TST no julgamento ora comentado.

Súmulas Não há Súmula relacionada diretamente ao caso julgado.

OJs Não há OJ relacionada diretamente ao caso julgado.

Referências

legislativas

Art. 1º da Lei 9.029/95. Fica proibida a adoção de qualquer prática

discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua

manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar

ou idade, ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao menor previstas

no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.

Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso.

Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas

suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.

Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a

discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos,

ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.

Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a

idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.

Referências

MELO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da

Igualdade. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007

LIMA, Firmino Alves. Teoria da Discriminação nas Relações de Trabalho.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. Trad.: Evandro Ferreira e

Silva. São Paulo: Martins Fontes.

RIOS, Roger Raupp. Direito da Antidiscriminação: discriminação direta,

indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

Processo TST-RO-27-40.2012.5.18.0000, SBDI-II, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann,

red. p/ acórdão Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 6.5.2014.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Precatórios e impossibilidade de redução nos descontos do Fundo de Participação

Municipal (FPM).2

A estipulação do percentual de comprometimento da receita líquida oriunda do

Fundo de Participação dos Municípios - FPM ofertada para pagamento de

precatórios em razão da opção pelo regime especial (art. 97 do ADCT e

Resolução nº 115/2010 do CNJ) segue critérios legais vinculantes. Assim sendo,

não há margem para que a autoridade gestora da conta especial de precatórios

trabalhistas defira requerimento de redução do percentual do FPM destinado ao

regime especial de precatórios, ainda que o Município alegue dificuldades

financeiras, prejuízo à coletividade e comprometimento dos serviços públicos.

Comentários

Natureza da atividade desenvolvida pelo Presidente do Tribunal no

processamento de precatórios

Os atos praticados por Presidentes de Tribunais no tocante ao

processamento e pagamento de precatórios judiciais, a linha da firme

jurisprudência do STF, têm natureza administrativa, não jurisdicional.

“(...) 2. Recurso extraordinário: descabimento: natureza administrativa e,

não jurisdicional, da decisão proferida pelo Presidente do Tribunal no

processamento de precatório, bem como da proferida pelo mesmo Tribunal

em agravo regimental contra aquela interposto: precedentes.” (AI 437.009-

AgR/PE, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei)

2 Julgado de menor relevância para concursos públicos da área trabalhista.

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA.

PRECATÓRIO. ATIVIDADE ADMINISTRATIVA.

I. - A atividade do Presidente do Tribunal de Justiça desenvolvida no

processamento de precatório tem natureza administrativa e não

jurisdicional, não se qualificando, assim, como causa a desafiar o manejo do

recurso extraordinário.

II. - Agravo não provido.” (AI 409.331-AgR/SP, Rel. Min. CARLOS

VELLOSO - grifei)

“Recurso extraordinário. Precatório. Atividade administrativa do

Tribunal. Inexistência de causa como pressuposto do recurso

extraordinário.

- O Plenário desta Corte, ao julgar o AGRRE 213.696, decidiu que a

atividade do Presidente do Tribunal no processamento do precatório não é

jurisdicional, mas administrativa, o mesmo ocorrendo com a decisão da

Corte em agravo regimental contra despacho do Presidente nessa atividade.

Inexiste, assim, o pressuposto do recurso extraordinário que é o da existência

de causa decidida em única ou última instância por órgão do Poder Judiciário

no exercício de função jurisdicional.

Recurso extraordinário não conhecido.” (RE 338.849/SP, Rel. Min.

MOREIRA ALVES - grifei).

No caso concreto, decidiu-se que a autoridade gestora da conta especial

de precatórios trabalhistas não pode deferir requerimento de redução do

percentual do FPM destinado ao regime especial de precatórios, ainda

que o Município alegue dificuldades financeiras, prejuízo à coletividade e

comprometimento dos serviços públicos.

O Município pretendia a redução do repasse de 7% do Fundo de

Participação dos Municípios destinado ao pagamento das dívidas judiciais

trabalhistas.

Súmulas Não há Súmula relacionada diretamente ao caso julgado.

OJs Não há OJ relacionada diretamente ao caso julgado.

Referências

legislativas

Art. 97 Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100

da Constituição Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na

data de publicação desta Emenda Constitucional, estejam em mora na quitação

de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta,

inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído

por este artigo, farão esses pagamentos de acordo com as normas a seguir

estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art. 100 desta Constituição

Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos

acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta

Emenda Constitucional. (Acrescentado pela EC-000.062-2009)

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios sujeitos ao regime especial

de que trata este artigo optarão, por meio de ato do Poder Executivo:

I - pelo depósito em conta especial do valor referido pelo § 2º deste artigo; ou

II - pela adoção do regime especial pelo prazo de até 15 (quinze) anos, caso em

que o percentual a ser depositado na conta especial a que se refere o § 2º deste

artigo corresponderá, anualmente, ao saldo total dos precatórios devidos,

acrescido do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança e

de juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de

poupança para fins de compensação da mora, excluída a incidência de juros

compensatórios, diminuído das amortizações e dividido pelo número de anos

restantes no regime especial de pagamento.

§ 2º Para saldar os precatórios, vencidos e a vencer, pelo regime especial, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios devedores depositarão mensalmente,

em conta especial criada para tal fim, 1/12 (um doze avos) do valor calculado

percentualmente sobre as respectivas receitas correntes líquidas, apuradas no

segundo mês anterior ao mês de pagamento, sendo que esse percentual,

calculado no momento de opção pelo regime e mantido fixo até o final do prazo a

que se refere o § 14 deste artigo, será:

I - para os Estados e para o Distrito Federal:

a) de, no mínimo, 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), para os

Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além do Distrito

Federal, ou cujo estoque de precatórios pendentes das suas administrações

direta e indireta corresponder a até 35% (trinta e cinco por cento) do total da

receita corrente líquida;

b) de, no mínimo, 2% (dois por cento), para os Estados das regiões Sul e

Sudeste, cujo estoque de precatórios pendentes das suas administrações

direta e indireta corresponder a mais de 35% (trinta e cinco por cento) da

receita corrente líquida;

II - para Municípios:

a) de, no mínimo, 1% (um por cento), para Municípios das regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste, ou cujo estoque de precatórios pendentes das suas

administrações direta e indireta corresponder a até 35% (trinta e cinco por

cento) da receita corrente líquida;

b) de, no mínimo, 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), para

Municípios das regiões Sul e Sudeste, cujo estoque de precatórios pendentes

das suas administrações direta e indireta corresponder a mais de 35 % (trinta

e cinco por cento) da receita corrente líquida. [...]

Referências -

Processo TST-RO-46-69.2011.5.22.0000, Órgão Especial, rel. Min. Hugo Carlos

Scheuermann, 5.5.2014.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Ação Cautelar incidental à ação anulatória: sentença superveniente no processo

principal. Efeitos.

A multa por descumprimento de ordem judicial (art. 461, § 4º, do CPC) aplicada

em ação cautelar incidental à ação anulatória não subsiste na hipótese em que,

ao julgar o mérito da ação principal, o TRT declarou a nulidade de todo o acordo

coletivo, com efeitos ex tunc, retirando do mundo jurídico a cláusula objeto da

medida cautelar concedida, porque nula de pleno direito.

Comentários

Antes de adentrarmos aos comentários da decisão propriamente dito:

qual a diferença entre medida cautelar, medida liminar, processo

cautelar, ação cautelar e antecipação dos efeitos da tutela?

Medida

cautelar

Medida

liminar

Processo

Cautelar

Antecipação

dos efeitos da

tutela

Ação

Cautelar

É o

provimento

jurisdicional

capaz de

assegurar a

efetividade de

uma futura

atuação

jurisdicional.

A medida

cautelar não

satisfaz, e

sim assegura

a futura

satisfação.

Tem como

requisitos o

fumus boni

iuris e o

periculum in

mora.

É qualquer

decisão

judicial

proferida no

início do

processo.

Inclusive

pode existir

medida

cautelar

liminar.

É o

instrumento

de que se

vale o

Estado-Juiz

para prestar

tutela

jurisdicional

(não

satisfativa),

consistente

em

assegurar a

efetividade

de um futuro

provimento

jurisdicional.

Ato por meio do

qual se adianta

ao postulante

os efeitos do

julgamento de

mérito, quer em

primeira

instância quer

em sede de

recurso. Tem

caráter

satisfativo,

embora seja,

também, uma

tutela

jurisdicional

prestada com

base em juízo

de

probabilidade

(cognição

sumária).

Requisitos: art.

273, do CPC.

É o poder de

pleitear ao

Estado-Juiz a

prestação da

tutela

jurisdicional

cautelar. Tem

as mesmas

característica

da ação em

geral

(autonomia e

abstração)

*cf. CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

Atenção para ordem dos fatos:

O MPT ajuizou ação cautelar incidental à ação anulatória com pedido

liminar, o qual fora deferido para suspender a eficácia de cláusula de

acordo coletivo, tendo havido a fixação de multa para garantir o efetivo

cumprimento da decisão.

Posteriormente, diante do julgamento da ação anulatória, a cláusula

impugnada foi declarada nula, juntamente com todo o instrumento

normativo que a continha, razão pela qual o TRT extinguiu a cautelar, sem

resolução do mérito, por perda do objeto, mas determinou que a multa

fosse depositada em favor do FAT.

A SDC, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário, e, no mérito, por

maioria, deu-lhe provimento para excluir a multa aplicada na ação

cautelar.

Melhor esquematizando:

i. O MPT ajuizou Ação Anulatória pedindo a nulidade da cláusula “X”

de um acordo coletivo;

ii. O MPT também ajuizou ação cautelar incidental à Ação Anulatória

com pedido liminar objetivando suspender a eficácia da cláusula

“X”;

iii. A liminar foi deferida para suspender a eficácia da cláusula “X”, sob

pena de multa para garantia do cumprimento da decisão (art. 461, §

4º, do CPC);

iv. A decisão liminar foi descumprida;

v. A Ação Anulatória foi julgada procedente e a cláusula “X” e todo o

acordo coletivo que a continha foram declarados nulos;

vi. Diante do julgamento do processo principal, o processo cautelar foi

extinto, sem resolução do mérito, por perda do objeto;

vii. Em que pese a extinção do processo cautelar sem resolução do

mérito, o TRT determinou que a multa pelo descumprimento da

liminar fosse depositada em favor do FAT;

viii. A empresa interpôs recurso ordinário, inconformada com o

pagamento da multa;

ix. No TST, por maioria, foi dado provimento ao R.O. para provimento

para excluir a multa aplicada na ação cautelar.

Extinto o processo principal, o que acontece com a multa aplicada no

bojo do processo cautelar?

Art. 808. Cessa a eficácia da medida cautelar:

I - se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art.

806;

II - se não for executada dentro de 30 (trinta) dias;

III - se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou

sem julgamento do mérito.

Trata-se de dispositivo que não pode ser interpretado literalmente. É certo

que, sendo desfavorável ao demandante o desfecho do processo

principal, tenha sido ou não resolvido o mérito da causa, a medida

cautelar tem sua eficácia extinta e o processo cautelar também será

extinto.

Por outro lado, sendo procedente a sentença da ação principal (como

ocorreu no presente caso) o processo cautelar será sim extinto, mas a

eficácia da decisão proferida em seu bojo deverá permanecer.

Com efeito, a superveniência do trânsito em julgado da decisão

favorável exarada na ação principal não atinge a multa cominada, a

qual deveria ser apurada e, eventualmente, executada em ação

própria (este entendimento restou vencido: Ministros Kátia Magalhães

Arruda, relatora, e Maurício Godinho Delgado).

O projeto do novo CPC inclusive assim prevê: “Art. 311. Cessa a eficácia

da tutela concedida em caráter antecedente, se: (...) III – o juiz julgar

improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o

processo sem resolução de mérito.” (gn).

A jurisprudência do STJ também entende que a multa só não subsiste em

casos de improcedência do pedido principal – o que não é o caso:

Os efeitos da sentença proferida em ação cautelar - demanda de

natureza acessória e de efeitos temporários, cujo objetivo é

garantir a utilidade do resultado de outra ação - não subsistem

diante do julgamento de improcedência do pedido deduzido no

processo principal, o que inviabiliza a execução da multa lá fixada.

Precedentes. (REsp nº 1.370.707 – MT; Rel. Min. Nancy Andrighi;

j. 04.06.2013).

Observe-se que, a contrario sensu da decisão do STJ, em caso de

sentença de procedência do pedido no processo principal, a multa do

processo cautelar deverá permanecer.

É lícito concluir, portanto, que não subsistem motivos para que a multa

fixada na ação cautelar (autônoma, porém acessória) seja executada

quando a ação principal for decretada improcedente.

Diante do que se viu, a opinião constantes dos votos vencidos parece

mais consentânea com a sistemática processual. Não obstante, para

questões discursivas, os dois entendimentos deverão ser explicitados.

Súmulas Não há Súmula relacionada diretamente ao caso julgado.

OJs Não há OJ relacionada diretamente ao caso julgado.

Referências

legislativas

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou

não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o

pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente

ao do adimplemento.

[...]

§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de

ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou

mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada

ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor

multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for

suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para

o cumprimento do preceito.

§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático

equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas

necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e

apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento

de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso

verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

Art. 808, do CPC. Cessa a eficácia da medida cautelar:

I - se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art. 806;

II - se não for executada dentro de 30 (trinta) dias;

III - se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do

mérito.

Referências CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 22. ed. São

Paulo: Atlas, 2014.

Processo TST-RO-18-07.2013.5.05.0000, SDC, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, red. p/

acórdão Min. Walmir Oliveira da Costa, 12.5.2014.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Ausência de peças essenciais no Agravo de Instrumento.

Embora a certidão de intimação pessoal da União constitua peça essencial para a

regular formação do instrumento de agravo, sua ausência pode ser relevada

quando presentes nos autos outros elementos que possibilitem inferir a

tempestividade do apelo.

Comentários

Recurso de Agravo de instrumento

Cabimento e prazo: cabe agravo de instrumento, no prazo de 8 (oito)

dias, dos despachos que denegarem a interposição de recursos (art. 897,

b, da CLT).

Instrumentalização/formação do agravo: sob pena de não

conhecimento, as partes promoverão a formação do instrumento do

agravo de modo a possibilitar, caso provido, o imediato julgamento do

recurso denegado, instruindo a petição de interposição:

Obrigatoriamente:

com cópias da decisão agravada;

da certidão da respectiva intimação;

das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do

agravado;

da petição inicial;

da contestação;

da decisão originária;

do depósito recursal referente ao recurso que se pretende

destrancar;

da comprovação do recolhimento das custas; e,

do depósito recursal a que se refere o § 7º do art. 899 desta

Consolidação.

Facultativamente:

com outras peças que o agravante reputar úteis ao deslinde da

matéria de mérito controvertida.

E se, no agravo de instrumento, estiver ausente o traslado da

intimação pessoal da União (certidão da respectiva intimação)? A

princípio, sendo o documento de juntada obrigatória, o recurso não será

conhecido.

E se estiverem presentes nos autos outros elementos que

possibilitam inferir a tempestividade do recurso? Nesse caso, o TST

entendeu por dar uma interpretação maleável ao art. 897 da CLT.

No caso, constou do despacho de admissibilidade do recurso de revista a

data da publicação da decisão recorrida (13.5.2010) e do protocolo do

recurso (18.5.2010). Tais elementos permitiram concluir que, mesmo na

hipótese de se considerar a data da intimação pessoal a mesma em que

ocorreu a publicação do acórdão, o recurso estava tempestivo porque

interposto no prazo de oito dias contado em dobro.

Assim, se há nos autos elementos suficientes à comprovação da

tempestividade do recurso de revista, pois o despacho que lhe denegou

seguimento deixou expressamente registradas as datas da publicação do

acórdão do Tribunal Regional e da interposição do recurso de revista, não

há razão para dar prevalência ao instrumento em detrimento do direito

material.

Mais uma vez o TST decide em conformidade com o princípio da

instrumentalidade das formas. Segundo esse princípio, nenhuma

nulidade será declarada sem que exista um efetivo prejuízo. Nas palavras

de Bedaque, a noção de instrumentalidade das formas reflete mecanismo

destinado a conferir validade a atos processuais viciados – o que implica

valorizar o fim em detrimento da tipificação legal. É o predomínio do fim

sobre a forma. (BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do

Processo e Técnica Processual. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. pág. 60)

Súmulas Não há Súmula relacionada diretamente ao caso julgado.

OJs Orientação Jurisprudencial Transitória nº 18 da SBDI-I, parte final.

Referências

legislativas

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:

[...]

b) de instrumento, dos despachos que denegarem a interposição de

recursos.

[...]

§ 5º Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a

formação do instrumento do agravo de modo a possibilitar, caso

provido, o imediato julgamento do recurso denegado, instruindo a

petição de interposição:

I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão

da respectiva intimação, das procurações outorgadas aos advogados do

agravante e do agravado, da petição inicial, da contestação, da decisão

originária, do depósito recursal referente ao recurso que se pretende

destrancar, da comprovação do recolhimento das custas e do depósito

recursal a que se refere o § 7o do art. 899 desta Consolidação;

II - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar

úteis ao deslinde da matéria de mérito controvertida.

Referências BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do Processo e

Técnica Processual. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Processo TST-E-Ag-AIRR-1504-21.2010.5.09.0000, SBDI-I, rel. Min. Delaíde Miranda

Arantes, 8.5.2014.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1 – (Procurador MP/TCDF - Cespe 2013 – Adaptada) Julgue o item: No caso de cumulação

de pedidos de natureza declaratória e condenatória na mesma ação, somente o pedido

condenatório está sujeito aos prazos prescricionais previstos na Constituição da República.

2 – (Juiz do Trabalho – TRT 14ª Região – 2010) Sobre prescrição no Direito do Trabalho,

nos termos do entendimento sumulado do TST, assinale a alternativa correta:

a) Em se tratando de horas extras pré-contratadas do trabalhador bancário, opera-se a

prescrição total se a ação não for ajuizada no prazo de cinco anos, a partir da data em que

foram suprimidas.

b) A prescrição da pretensão relativa às parcelas remuneratórias não alcança o respectivo

recolhimento da contribuição para o FGTS.

c) A ação trabalhista, desde que não arquivada, suspende a prescrição somente em relação

aos pedidos idênticos.

d) Na ação que objetive corrigir desvio funcional, a prescrição só alcança as diferenças

salariais vencidas no período de 2 (dois) anos que precedeu o ajuizamento.

e) Respeitado o biênio subsequente à cessação contratual, a prescrição da ação trabalhista

concerne às pretensões imediatamente anteriores a cinco anos, contados do quinquênio

anterior à data da extinção do contrato e, não, da data do ajuizamento da reclamação.

3 – (Juiz do Trabalho – TRT 15ª Região – 2010) 21- Em relação à prescrição, assinale a

alternativa correta, de acordo com a jurisprudência:

a) tratando-se de demanda que envolva pedido de prestações sucessivas decorrente de

alteração do pactuado, a prescrição será parcial, pois a lesão ao direito do trabalhador se

protrai no tempo;

b) em se tratando de complementação de aposentadoria calculada erroneamente, a prescrição

aplicável é a total, computada a partir da data do primeiro pagamento incorreto;

c) a demanda trabalhista , ainda que arquivada, interrompe a prescrição para todos os titulos

decorrentes do contrato de trabalho;

d) o prazo de prescrição com relação à ação de cumprimento de decisão normativa flui a partir

da publicação da certidão de julgamento, uma vez que a exequibilidade é imediata (actio nata);

e) o termo inicial do prazo prescricional , na ação de indenização, é a data em que o segurado

teve ciência inequívoca da incapacidade laboral, conforme sedimentado no C. STJ;

4 – Julgue o item a seguir: Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada

pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente,

como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados.

5 – Julgue o item a seguir: De acordo com a jurisprudência sumulada do TST as gorjetas,

cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes,

integram o salário do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-

prévio, férias mais um terço, horas extras e repouso semanal remunerado.

6 – Julgue o item a seguir: Cabe agravo de instrumento, no prazo de 8 (oito) dias de

instrumento, dos despachos que indeferirem o pedido de antecipação dos efeitos da tutela.

7 – Julgue o item a seguir: Segundo o princípio da instrumentalidade das formas,

nenhuma nulidade será declarada sem que exista um efetivo prejuízo. A noção de

instrumentalidade das formas reflete mecanismo destinado a conferir validade a atos

processuais viciados – o que implica valorizar o fim em detrimento da tipificação legal. É o

predomínio do fim sobre a forma.

8 – Assinale a correta. O agravo de instrumento deve conter obrigatoriamente as

seguintes peças:

(a) cópia da decisão agravada, da certidão de respectiva intimação, das procurações

outorgadas aos advogados do agravante e do agravado, da petição inicial, da contestação, da

decisão originária, da comprovação do depósito recursal e do pagamento das custas;

(b) cópia da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação, da petição inicial, da

contestação, da decisão originária, da comprovação do depósito recursal e do pagamento das

custas;

(c) cópia da decisão agravada, das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do

agravado, da petição inicial, da contestação, da decisão originária, da comprovação do

depósito recursal e do pagamento das custas;

(d) cópia da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação, da procuração outorgada

ao advogado do agravante, da petição inicial, da contestação, da decisão originária, da

comprovação do depósito recursal e do pagamento das custas.

Gabarito

1 - V 2 - A 3 – E 4 – V 5 – F 6 – F 7 – V 8 – A