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APOSTILA TEMA: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A intenção foi desafogar as varas cíveis, no sentido de que as causas de menor alçada pudessem ter solução mais breve e assim satisfazer melhor a expectativa das partes de verem solucionado um litígio. O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as causas mais simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei desde 1984 já instituía um procedimento informal, que privilegiava o acordo entre as partes e o contato direto delas com o juiz, sem a necessidade de contratação de um advogado. O processo se tornava ágil e rápido, mas sem perder a segurança, o que fez do "Pequenas Causas" um verdadeiro instrumento do exercício da cidadania. A lei de 1995 veio aprimorar o sistema, ampliando a competência do Juizado tanto com relação à matéria, quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão comum encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências cotidianas, aquelas que antes ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de impunidade. O caráter didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido na atitude da pessoa comum que, diante de uma injustiça, não deixa de "procurar seus direitos". Recentemente, a Lei n. 9.841, de 1999, estendeu o procedimento do Juizado também as microempresas, diante do interesse

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APOSTILA TEMA: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

A intenção foi desafogar as varas cíveis, no sentido de que as causas de menor

alçada pudessem ter solução mais breve e assim satisfazer melhor a expectativa das partes

de verem solucionado um litígio.

O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a

partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as causas mais

simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei desde 1984 já instituía um

procedimento informal, que privilegiava o acordo entre as partes e o contato direto delas

com o juiz, sem a necessidade de contratação de um advogado. O processo se tornava

ágil e rápido, mas sem perder a segurança, o que fez do "Pequenas Causas" um

verdadeiro instrumento do exercício da cidadania.

A lei de 1995 veio aprimorar o sistema, ampliando a competência do Juizado

tanto com relação à matéria, quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão comum

encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências cotidianas, aquelas que antes

ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de impunidade. O caráter

didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido na atitude da pessoa comum que,

diante de uma injustiça, não deixa de "procurar seus direitos".

Recentemente, a Lei n. 9.841, de 1999, estendeu o procedimento do Juizado

também as microempresas, diante do interesse dos empresários, que também queriam

contar com a eficiência do procedimento da Lei n. 9099/95. Não se pode negar hoje a

tendência de que a agilidade do procedimento do Juizado venha a ser incorporada ao

processo comum, dotando o juiz de um instrumento eficaz no combate a morosidade do

processo.

Os juizados especiais cíveis, dotados da incumbência de conciliar, julgar e

executar as causas de menor complexidade, tem sede na Constituição Federal em seu

artigo 98, I, e, seguindo os princípios da oralidade, informalidade, economia processual,

celeridade e simplicidade, cumprem a missão de abrir as portas do Poder Judiciário às

pessoas mais carentes, atendendo a uma demanda reprimida, mediante a oferta de um

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processo rápido, econômico e simples.

PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO JUIZADO

Qualquer processo, por mais simples que seja precisa seguir a certos

princípios com a finalidade de dar uma orientação ao processo legal. Note-se que a falta de

qualquer deles pode ensejar nulidades.

Os princípios orientadores do Juizado Especial Cível são: oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre que possível

a conciliação ou a transação (artigo 2º da Lei 9.099).

Oralidade

Nunca houve um processo nem totalmente oral nem apenas escrito. Sempre se

utilizaram atos orais e atos escritos em conjugação na atividade jurisdicional.

Quando se afirma que o processo se baseia no princípio da oralidade, quer-se

dizer que ele é predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de lentidão

do processo predominantemente escrito. Assim, processo inspirado no princípio ou no

critério da oralidade significa a adoção de procedimento onde a forma oral se apresenta

como mandamento precípuo, embora sem eliminação do uso dos registros da escrita, já que

isto seria impossível em qualquer procedimento da justiça, pela necessidade incontornável

de documentar toda a marcha da causa em juízo.

O processo dominado pela oralidade funda-se, destarte, em alguns

subprincípios que implicam uma decisão concentrada, imediata, rápida, e irrecorríveis suas

interlocutórias, além também o da identidade física do juiz. É o conjunto desses critérios que,

sendo adotados com prevalência sobre a pura manifestação escrita das partes e dos juízes,

dá configuração ao processo oral.

Pelo imediatismo deve caber ao juiz a coleta direta das provas, em contato

imediato com as partes, seus representantes, testemunhas e peritos.

A concentração exige que, na audiência, praticamente se resuma a atividade

processual concentrando numa só sessão as etapas básicas da postulação, instrução e do

julgamento, ou, pelo menos, que, havendo necessidade de mais de uma audiência, sejam

elas realizadas em ocasiões próximas.

A identidade física do juiz preconiza que o juiz que colhe a prova deve ser o

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mesmo que decide a causa.

E, enfim, a irrecorribilidade tem a função de assegurar a rápida solução do

litígio, sem a interrupção da marcha do processo por recursos contra as decisões

interlocutórias.

Na verdade, não se chega ao extremo de impedir a impugnação dos decisórios

sobre as questões incidentais. Satisfaz-se a exigência desse princípio privando o agravo de

sua eficácia suspensiva ou determinando que seja ele retido nos autos para exame e

julgamento, ao final do procedimento, de molde a não prejudicar o seu andamento normal.

Tudo isso deve orientar o aplicador da lei quando estiver manejando o

procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Civil. Por integrar a ideologia do instituto, a

intenção do legislador é, no texto do artigo 2º da Lei 9.099, criar um clima de ordem

psicológica que estimule juiz e partes a procedes em atividade de íntima colaboração na

solução rápida e direta do conflito.

Simplicidade

Este princípio se confunde um pouco com o princípio da informalidade, que o

processo deve ser simples, sem a complexidade exigida no procedimento comum. As

causas complexas, não se recomenda, processá-las perante os Juizados Especiais Cíveis,

considerando que as referidas causas, via de regra, exigem a realização de prova pericial, o

que não é recomendado pelo procedimento, salvo quando o reclamante já adunar à inicial a

prova técnica necessária para a comprovação de seu direito articulado na peça inaugural da

ação.

Porém importante se faz ressaltar que a simplicidade não pode também ser

confundida com a inexistência de autos; há necessidade de registros, ainda que sumários,

pois as partes precisam de elementos não só para a execução, como também para

possíveis recursos.

Informalidade

Os atos processuais são os mais informais possíveis, e, com base nesse

princípio, admite-se a propositura da reclamação de forma oral, através de termo lavrado

pelo cartório secretário, a presidência da audiência conciliatória por um conciliador, a

presidência da audiência de instrução e julgamento por um juiz leigo, o qual proferirá sua

decisão, a atribuição da capacidade postulatória sem assistência de advogado, quando o

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valor da causa for igual ou inferior a 20 salários mínimos.

O princípio da oralidade também pode corresponder ao registro do que seja

realmente necessário, bem resumido, sem os excessos inúteis, que, em regra, constam dos

autos dos processos.

Economia processual

O princípio da economia processual visa o máximo de resultados com o

mínimo de esforço ou atividade processual, aproveitando-se os atos processuais praticados.

Celeridade

A celeridade, no sentido de se realizar a prestação jurisdicional com rapidez e

presteza, sem prejuízo da segurança da decisão. A preocupação do legislador com a

celeridade processual é bastante compreensível, pois está intimamente ligada à própria

razão da instituição dos órgãos especiais, criados como alternativa à problemática realidade

dos órgãos da Justiça comum, entrevada por toda sorte de deficiências e imperfeições, que

obstaculizam a boa fluência da jurisdição. A essência do processo especial reside na

dinamização da prestação jurisdicional, daí por que todos os outros princípios informativos

guardam estreita relação com a celeridade processual, que, em última análise, é objetivada

como meta principal do processo especial, por representar o elemento que mais o diferencia

do processo tradicional, aos olhos do jurisdicionado. A redução e simplificação dos atos e

termos, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, a concentração dos atos, tudo, enfim,

foi disciplinado com a intenção de imprimir maior celeridade ao processo.

Devemos salientar a importância da efetiva aplicação dos princípios supra, de

forma a tender aos fins colimados com a criação dos Juizados Especiais, facilitando o

acesso das partes à prestação jurisdicional e à satisfação imediata dessa prestação,

contribuindo ainda para o descongestionamento do juízo comum.

É importante a aplicabilidade técnica dos princípios que orientam o

procedimento dos processos em trâmite pelos Juizados Especiais Cíveis, pois a observância

desses princípios pelo julgador, indubitavelmente, contribuirá para o desenvolvimento dos

órgãos e atenderá aos fins visados com sua criação.

COMPETÊNCIA

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Quanto ao valor de alçada

A Lei nº 9.099/95 em seu art. 3º inciso I, fixa o valor da alçada não excedente a

40 (quarenta) vezes o salário mínimo vigente à data à do ajuizamento da ação. Para apurar-

se o valor da causa, deve-se somar, o principal com os acessórios até a época da

propositura da ação.

É oportuno salientar que, superando o valor da causa ao valor da alçada e não

sendo logrado êxito, na conciliação das partes, importa, conseqüentemente, em renúncia

automática do crédito excedente, nada impedindo que o reclamante desista, naquele

momento, de prosseguir com a ação perante o Juizado, buscando a via judicial comum, isso

sem anuência da parte contrária, uma vez que o valor de alçada deve ser respeitado

somente para efeito de condenação e não para fins conciliatórios, conforme ilação do

disposto no art. 3º, § 3º, c/c com o art. 39 da mesma lei, que torna ineficaz a sentença

condenatória na parte que exceder o valor de alçada.

O conciliador, quando da presidência da audiência conciliatória, percebendo

que o crédito do reclamante é bem superior ao valor de alçada, não conciliando as partes,

deve alertar o reclamante no sentido de, insistindo este no prosseguimento da reclamação

perante o Juizado, estar ele renunciando, automaticamente, ao seu crédito excedente ao

valor de alçada.

Destarte, não pode o cartório deixar de receber e processar normalmente a

inicial que tenha valor da causa superior ao de alçada.

Quanto às matérias de competência do Juizado

O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e

julgamento das causas cíveis de menor complexidade assim consideradas:

I – as causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo;

II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

III – a ação de despejo para uso próprio;

IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao de

alçada.

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Compete ainda ao Juizado Especial promover a execução de seus julgados,

bem como dos títulos executivos extrajudiciais, no valor não superior a 40 vezes o salário

mínimo, observando o disposto no art. 8º da Lei nº 9.099/95.

Quanto às causas cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, temos aí

uma competência elástica do Juizado Especial Cível para processar e julgar as causas que

não envolvam matéria de competência específica de outros órgãos jurisdicionais, como as

ações de família, ações falimentares etc., nem aquelas excluídas da competência do

Juizado, por força do § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95.

No tocante a essa competência genérica do Juizado, firmada pelo inciso I do

art. 3º da lei, o valor de alçada é considerado apenas para efeito de condenação, o que não

obsta a propositura da ação mesmo quando o valor atribuído à causa, for superior ao de

alçada, sendo eficaz a sentença que homologar o acordo celebrado entre as partes em valor

superior ao de alçada, tendo em vista os fins conciliatórios colimados pelo Juizado. Somente

a sentença condenatória é ineficaz na parte que exceder a alçada estabelecida pela lei,

mesmo porque a opção pelo procedimento das ações perante o Juizado Especial Cível

importará em renúncia ao crédito excedente ao valor de alçada, excetuada a hipótese de

conciliação, como ressalva o § 3º do seu art. 3º.

Já o inciso II do aludido artigo firma a competência do Juizado Especial Cível

para processar e julgar as ações sumárias elencadas no art. 275, inciso II, do Código

Nacional de Ritos.

Assim, são de competência do Juizado Especial Cível as causas específicas de

valor não excedentes a 40 salários mínimos, para fins de condenação:

a)      - de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b)      - de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao

condomínio;

c)      - de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

d)     - de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos,

ressalvados os casos de processo de execução;

c)      - de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente

de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;

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e)      - de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o

disposto em legislação especial;

f) - nos demais casos previstos em lei.

Causas excluídas do Juizado Especial em razão da matéria:

alimentar, falimentar, fiscal, e interesse da Fazenda Pública, relativas a

resíduos, estado e capacidade das pessoas

O Juizado Especial não atua em causas de natureza alimentar. Causa de

natureza alimentar é o que decorre da obrigatoriedade de prestação de alimentos, em razão

de parentesco ou afinidade. Não são causas, de natureza alimentar aquelas que objetivam

indenização por ato ilícito, sob forma idêntica à prestação de alimentos.

Também não estão sujeitas ao Juizado Especial as causas de falências e

concordatas.

O juízo de falências e concordatas, são indivisíveis e competentes, para todas

as ações e reclamações sobre interesses e negócios da massa falida, processadas na forma

da Lei de Falências. A massa falida, por outro lado, não pode ser parte no Juizado Especial.

Em conseqüência, além da própria declaração de falência, todas as causas que envolvem a

massa falida ficam excluídas do Juizado Especial.

As causas relativas a acidentes do trabalho também não podem ser julgadas

no Juizado Especial.

Causas relativas a acidentes do trabalho são todas aquelas que encontram

respaldo na Lei nº 8.213/91. O simples fato de a pessoa sofrer acidente, quando está

trabalhando, não caracteriza o acidente do trabalho, no sentido técnico-jurídico, se não

ocorrer a relação de dependência prevista na referida lei. Assim, o autônomo que,

trabalhando para alguém, vier a sofrer qualquer acidente, em decorrência de culpa de

outrem (o que não é exigido para a “ação acidentário”), pode, perfeitamente, socorrer-se do

Juizado Especial, desde que respeitem os limites determinados no art. 3º.

Diz a lei, que as causas relativas ao estado e capacidade das pessoas não

serão objeto do Juizado Especial, “ainda que de cunho patrimonial”. A lei, por ser cautelosa

em demasia, estabeleceu condição que não carecia de referência. Se a lide tem por objeto o

estado ou a capacidade, nunca terá cunho patrimonial. Estado e capacidade poderão ser

questões que emergem no processo, mas, se não constituem objeto da lide, são

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perfeitamente solucionáveis no Juizado Especial. O contrato de venda de coisas móveis

poderá, por exemplo, ser declarado nulo, ou anulado, por ser o vendedor, ou o comprador,

incapaz.

A capacidade pode ser de direito ou de exercício do direito. Quem tem

capacidade de direito chama-se pessoa. O atributo de gozo de direitos é a personalidade.

Há pessoas que têm capacidade de exercício de seus direitos, embora tenham

personalidade de direito chama-se pessoas. A incapacidade pode ser plena ou relativa. No

primeiro caso, o incapaz é representado; no segundo, simplesmente assistido.

As causas relativas ao estado da pessoa relacionam com o estado político,

cuja definição se limita a indagar se a pessoa é nacional ou estrangeira, com o estado

familiar, ou seja, a posição da pessoa em família, nela se incluindo as questões de

paternidade, maternidade, parentesco, adoção, casamento, divórcio, separação etc.

Causas de natureza fiscal são todas aquelas que dizem respeito a dívidas

tributárias e não tributárias para com a Fazenda Pública, e causas de interesse desta as que

podem afetar diretamente o patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios. As causas

referentes a empresas públicas, a fundações públicas e as sociedades de economia mista

não afetam diretamente os patrimônios referidos; logo, portal razão, não se excluem do

Juizado, se bem que as empresas públicas da União ficam excluídas em razão da pessoa

por disposição expressa, e as sociedades de economia mista só podem atuar como rés, já

que pessoas jurídicas não podem ser autoras.

Da competência do Juizado Especial Cível para a ação monitória

É perfeitamente cabível a propositura da ação monitória perante o Juizado

Especial Cível. Essa ação visa a pré-constituição do título de crédito extrajudicial originário

de uma simples confissão de obrigação de pagar determinada soma em dinheiro, entrega de

coisa fungível ou de determinado bem móvel, revestido o título das formalidades legais que

o fazem tornar hábil à execução.

A ação monitória é uma ação preparatória para a ação de execução e,

considerando a competência do Juizado Especial Cível para a execução de títulos

extrajudiciais e em vista dos fins da ação monitória de pré-constituição de um título

extrajudicial hábil á execução, tratando-se de causa de valor não superior a 40 salários

mínimos, é cabível sua propositura perante o Juizado, mesmo a lei orientando que os

embargos na ação monitória independem de prévia segurança do juízo e serão processados

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nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.

Da absorção das matérias dos Juizados de Pequenas causas pela Lei nº 9.099/95

É oportuno ressaltar que as matérias de competência dos Juizados de

Pequenas Causas e do Consumidor foram absorvidas pelos Juizados Especiais Cíveis, tais

como as que se seguem:

1) Pedido de condenação ao pagamento de quantias em dinheiro em valor não

superior a 40 (quarenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País.

2) Pedido de condenação à entrega de coisa certa móvel ou obrigação de

fazer, a cargo de fabricantes ou fornecedor de bens e serviços.

É grande a procura do Juizado para dirimir os conflitos decorrentes da relação

de consumo, reclamando o consumidor a entrega de mercadoria prometida; visando à troca

de objetos entregues com defeito de fabricação; pleiteando a rescisão contratual com a

evolução do preço pago pela mercadoria adquirida no comércio; repetição de indébito com o

reembolso da importância para a maior, e outros conflitos sociais envolvendo uma relação

jurídica.

Cabe salientar que, tratando-se de conflitos decorrentes de defesa do

consumidor, o valor de alçada não é observado. Portanto, não há limite quanto ao valor da

causa para efeito de condenação do Juizado Especial para dirimir os conflitos inerentes à

relação de consumo, sem fazer alusão ao valor de alçada atribuído pela lei 9.099/95, que

regula o procedimento perante aquele órgão jurisdicional.

1)     Pedido de desconstituição e de declaração de nulidade de contrato de coisas

móveis ou semoventes.

2)   Em contratos nulos, pode ser proposta a reclamação visando à decretação de

uma nulidade relativa, cujos efeitos da sentença que reconhecer os vícios são ex nunc (ou

seja, produzirá seus efeitos a partir do seu trânsito em julgado) ou a declaração de nulidade

absoluta, produzindo efeitos ex tunc, (Isto é, a partir da celebração do ato jurídico inquinado

do vício).

Cabe ainda a reclamação perante o Juizado Especial Cível, quando houver

descumprimento do contrato por qualquer das partes da relação contratual, visando,

destarte, á rescisão do contrato celebrado, desde que nas hipóteses supra – elencadas,

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tenha o contrato por objeto coisas móveis ou semoventes.

3)      Ação declaratória para reconhecimento de débito real

Insta ressaltar inicialmente que a ação colocada à disposição do devedor que

está sendo cobrado em valor superior ao devido para compelir o credor a receber o débito

real é a ação de consignação em pagamento, para a qual, é adotado um rito processual

especial, regulado no Código de Processo Civil. Portanto, não cabe no âmbito do Juizado a

propositura de tal tipo de ação, tendo em vista a especialidade do rito processual adotado.

Por outro lado, para amenizar essa situação e atrair a competência do Juizado

Especial Cível, o devedor, na prática, que pague o valor cobrado a maior e promova perante

o órgão jurisdicional citado ima ação de repetição de indébito, a fim de obrigar a parte

contrária ao reembolso da importância cobrada a maior, atualizada monetariamente. Nesse

caso, o objeto da ação é uma condenação ao pagamento de quantia em dinheiro, cuja

competência está declinada pelo inciso I, do art. 3º da Lei nº 9.099/95.

Pode ainda o devedor, não pretendendo se utilizar do mecanismo prático

citado, a que muitas vezes é compelido, tendo em vista a exorbitância dos valores cobrados

a maior, buscar então a prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível para promover

uma ação declaratória, a fim de o juiz declarar por sentença o débito real, condenando o

credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença o débito real, condenando

o credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença, que tem a natureza

declaratória e condenatória.

Da competência em razão do local

Na forma do art. 4º, da lei que regulamente o procedimento das ações

propostas perante o Juizado Especial Cível, a competência ratione loci, ou seja, em razão do

local, é fixada conforme a seguir:

1)     Pelo Juizado do foro do domicílio do réu ou a critério do autor, do local

onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento,

filial, agência, sucursal ou escritório.

Assim, o consumidor que adquire um produto de uma loja situada no Estado de

São Paulo, que tem filial em Belo Horizonte, onde mora o comprador, poderá propor a

reclamação perante o Juizado Especial Cível de São Paulo, onde foi adquirido o produto, ou

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ante o Juizado de Belo Horizonte, onde está situada a filial da loja.

2)      Pelo juizado do foro do lugar onde a obrigação deva ser cumprida.

Utilizando-se do exemplo acima, morando o comprador no rio de Janeiro, cujo

local foi destinado para a entrega do objeto adquirido, mesmo não possuindo a loja filial no

Rio, poderá ele promover a reclamação perante o Juizado de qualquer um dos três Estados

mencionados.

3)                 Pelo juizado do foro do domicílio do autor ou do local do ato ou

fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.

A exemplo de um abalroamento de veículos, cujo acidente ocorreu na Comarca

de São Gonçalo (RJ), morando o causador dos danos em Niterói (RJ) e o experimentador

dos referidos danos no Rio de Janeiro, poderá este promover a reclamação para pleitear

indenização diante do juizado de qualquer uma das aludidas Comarcas, como ressaltamos

abaixo.

Em qualquer das hipóteses acima epigrafadas, poderá a ação ser proposta no

foro do domicílio do réu, como autoriza o parágrafo único do aludido art. 4º da lei que

regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado Especial Cível. 

Fixação da competência quando houver foro de eleição no contrato

Havendo previsão no contrato do foro de eleição, este deverá ser respeitado.

Portanto, o juizado competente para apreciar o conflito será o do foro eleito pelas partes.

No Juizado Especial Cível, o momento oportuno para argüir a exceção de

incompetência relativa é o da audiência de instrução e julgamento, pois é quando a parte

contrária oferece sua contestação. Nada impede, porém, seja argüida a exceção na própria

audiência conciliatória, devendo, devendo o conciliador que presidir a audiência fazer

constar do termo de assentada a argüição da exceção, recomendando a conclusão dos

autos ao juiz para apreciar o pedido.

Na prática, o ideal é que a exceção seja apreciada na audiência de instrução e

julgamento, evitando assim a dilatação do rito processual adotado.

Tratando-se de competência relativa, não pode o juiz decliná-la ex officio,

devendo ser apreciada apenas quando argüida a exceção pela parte contrária no primeiro

momento de estar no processo, que no Juizado Especial Cível ocorre na audiência de

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instrução e julgamento, pois é nessa fase processual que deve ser oferecida a contestação.

Reconhecida a incompetência do Juizado, deve então ser julgado extinto o

processo, sem julgamento do mérito, e não declinada a competência para outro Juizado,

como determina o art. 51, inciso III, da aludida lei.

Competência para execução de acordo extrajudicial homologado e para

execução de título extrajudicial de acordo referendado pelo Ministério Público

Qualquer que seja o valor do acordo extrajudicial poderá, ser homologado, no

juízo competente, independentemente de termos, valendo a sentença como título judicial

(art. 57).

Essa regra alcança não apenas os Juizados Especiais como também qualquer

outro órgão jurisdicional. Para o Juizado Especial, no entanto, há particularidade importante

no que se relaciona coma competência para a execução.

Assim como o Juizado Especial não está impedido de homologar conciliação

de valor superior a 40 (quarenta) salários mínimos, também não deve estar para a

homologação do acordo em tais condições. Tanto em um caso como no outro, porém, a

execução nunca poderá ser processada no Juizado Especial, a não ser que ocorra a

renúncia pelo excesso. De valor possível, no entanto, a execução, em qualquer das

hipóteses, se instaura, seguindo-se o procedimento específico.

Qualquer que seja o valor do acordo homologado, desde que, em razão da

matéria, o Juizado Especial seja competente para dela conhecer, a execução pode ser

instaurada, mas o acordo homologado em outro juízo não pode ser executado no Juizado

Especial, ainda que, pelo valor ou pela matéria, pudesse ser ali processado, já que o juízo

na homologação passa a ser o competente para a execução.

Em razão do valor, o acordo, assim como a conciliação, pode ser homologado

em qualquer juízo, inclusive no Juizado Especial, mas, quando se tratar de acordo

extrajudicial de natureza tal que se exclui da competência deste – e mesmo de outros juízos

– apenas valerá como título se homologado no juízo competente.

Os acordos referendados pelo Ministério Público são executáveis também no

Juizado Especial, desde que se guarde limite do valor ou haja renúncia do excesso.

PARTES

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Partes são as pessoas que pedem (autores) e contra as quais se pede (réus),

em nome próprio, a tutela jurisdicional.

O Juizado Especial Civil é uma instituição que foi criada especificamente para a

tutela das pessoas físicas, no que diz respeito às suas relações patrimoniais, tendo como

objetivo predominante a pacificação do litígio por meios negociais.

O art. 8º da lei 9.099 enumera taxativamente, as pessoas que não podem

figurar como partes em sede de Juizados Especiais.

Dessa forma, não podem figurar tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da

relação processual: o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas

públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.

Justifica-se a exclusão dessas pessoas em razão da simplicidade e

informalidade que norteiam os procedimentos nos Juizados Especiais. Nos processos em

que figuram como partes aquelas pessoas excluídas de litigarem nos Juizados Especiais

devem ser observadas algumas formalidades incompatíveis com o procedimento

simplificado desta lei.

No pólo ativo da relação processual somente são admitidas a postular nos

Juizados Especiais as pessoas físicas, excluindo-se aquelas que venham a postular sobre

direitos que constituem, inequivocamente, cessão de direito de pessoa jurídica.

A capacidade plena da pessoa física para postular perante o Juizado é atingida

após completar 18 anos de idade, independentemente de assistência; é tão somente

admitida para que o mesmo venha a ser autor, pois no pólo passivo só após completar 21

anos de idade. É de se observar que havendo formulação de pedido contraposto contra o

autor maior de 18 anos, será necessária a intervenção do Ministério Público.

Quanto à pessoa jurídica, cabe relevar que, na hipótese de figurar ré na ação,

poderá, em sua defesa, formular pedido contraposto em seu favor. Neste caso, sendo o

pedido contraposto julgado procedente, efetivamente poderá a pessoa jurídica que o

formulou promover sua execução nos Juizados Especiais.

Situação idêntica pode ocorrer no caso de, por exemplo, sendo o réu, pessoa

jurídica, haver a conciliação homologada por sentença, em que o autor assuma a realização

de uma obrigação.

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Neste caso, é plenamente viável que o réu, mesmo sendo pessoa jurídica,

promova a execução do acordo, no caso de inadimplemento, perante o órgão do Juizado

Especial no qual o mesmo foi homologado.

O dispositivo em comento foi inovado com o advento da Lei 9.841 de

05.10.1999, que instituiu o Estatuto da Microempresa e das Empresas de Pequeno Porte,

dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado. A inovação consiste na aplicação do

disposto no § 1º do art. 8º da lei dos Juizados Especiais às microempresas, definidas como

tal, nos moldes do sobredito diploma legal.

Desta forma, poderá as microempresas figurar no pólo ativo da relação

processual junto aos Juizados Especiais, demandando causas no âmbito de sua

competência específica, consoante disposição do art. 3º da Lei 9.099/95, se optarem por

este procedimento. Como ocorre com as pessoas físicas, a opção pelo procedimento

perante os Juizados Especiais constitui faculdade da parte.

Entretanto, é vedado ás microempresas postular direito que lhes foi transferido

por cessão de pessoa jurídica que não se enquadre na definição da nova lei. Verificando-se

a ocorrência de tal fato no curso da ação, deve ser o processo extinto.

Cabe ressaltar que, no curso de processo perante os Juizados Especiais

ocorrer o desenquadramento da microempresa postulante, passando ela à condição de

empresa de pequeno porte, é caso, também, de extinção do processo.

Alguns critérios elementares deverão ser observados quando uma empresa

propuser uma ação junto aos Juizados Especiais. Tratando-se efetivamente de pessoa

jurídica, será sempre necessário que a microempresa, ao formular seu pedido junto aos

Juizados Especiais, apresente o seu estatuto social devidamente registrado na Junta

Comercial, o qual deverá ficar acostado aos autos. Necessário verificar ainda, pelo estatuto

social, quem tem condição legal de representação da microempresa em seus atos,

especificamente para representá-la em juízo.

O condomínio, mesmo não possuindo CNPJ, não pode ser definido como

pessoa jurídica, apesar da divergência doutrinária que o considera como uma pessoa

jurídica quando inscrito no CNPJ. Na realidade, o condomínio tem a natureza jurídica de um

órgão despersonalizado, não podendo assim figurara no pólo ativo da ação.

Entretanto, Luiz Cláudio Silva, em seu livro afirma que “Os condomínios devem

ser admitidos a reclamar no Juizado Especial Cível, mesmo porque estão constantemente

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se defendendo nesse órgão jurisdicional em ações que lhe são propostas pelos próprios

condôminos. A admissibilidade de o condomínio postular perante o órgão acima é em

beneficio dos próprios condôminos, pois quando o condomínio necessita de reclamar em

juízo, as despesas com advogado e custas processuais são rateadas entre os mesmos.”

O espólio, apesar de não ser considerado pessoa física, vem sendo admitido

tanto no pólo ativo como no passivo das ações de competência do Juizado.

O pólo passivo da relação processual pode ser ocupado tanto por pessoa

natural (desde que maior e capaz) como por pessoa jurídica, mas somente as de direito

privado.

Não podem ocupar nem o pólo ativo nem o passivo as pessoas jurídicas de

direito público e as empresas públicas da União. Igual restrição aplica-se às massas

patrimoniais personalizadas pelo Código de Processo Civil, de modo que não podem figurar

no processo desenvolvido no Juizado Especial a massa falida e o insolvente civil.

A respeito das sociedades de economia mista, o Supremo Tribunal Federal,

através da Súmula nº 556, fixou a competência da Justiça comum para julgar as causas em

que figure como parte esse tipo de sociedade. Portanto, não há nenhum óbice para que

sociedade de economia mista, como a exemplo a Telerj, figure no pólo passivo das ações de

competência do Juizado Especial Cível. 

Posicionamento quanto a pessoa jurídica de natureza privada reclamarem nos

juizados especiais

O art. 8ª da lei 9.099/95 é expresso quanto à proibição de serem partes: os

incapazes, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União,

a massa falida e o insolvente civil. Portanto, não faz qualquer alusão à pessoa jurídica de

direito privado.

Já no § 1º do aludido artigo, consta que somente as pessoas físicas capazes

serão admitidas a propor ação perante o Juizado, excluídos os cessionários de direito de

pessoas jurídicas.

É com base no referido parágrafo que alguns intérpretes concluem pela

impossibilidade da pessoa jurídica propor ações perante o Juizado. Na realidade, o

legislador quis excluir apenas os incapazes e os cessionários de direito de pessoas jurídicas

de direito público, sendo totalmente omisso quanto às pessoas jurídicas de natureza privada.

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Portanto, na omissão da lei, devemos nos orientar de acordo com os princípios que norteiam

sua aplicação, principalmente no tocante aos fins sociais por ela colimados.

A lei que regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado visa a

facilitar o acesso das partes à prestação jurisdicional do órgão, sem o desembolso de custas

processuais e honorários de sucumbência, bem como a não necessidade de serem

assistidas por advogado, salvo quando o valor atribuído á causa for superior a 20 vezes o do

salário mínimo, o que na Justiça comum são os principais obstáculos ao acesso à Justiça.

Colima ainda, primordialmente, a realização da conciliação das partes por um conciliador ou

juiz leigo, a celeridade, informalidade e simplicidade dos atos processuais,

descongestionamento do Juízo comum, de forma a atender satisfatoriamente aos interessas

das partes.

Sabemos que a maioria das pessoas jurídicas privadas existentes em nosso

país é formada por microempresas, cujo suporte financeiro é ínfimo, sendo obrigadas a

abster-se de buscar a prestação jurisdicional para questionar seus direitos, seja relativo à

cobrança de dívida, indenizações etc., pelo fato de não disporem de numerários para

contratar advogados e suportar o ônus das custas processuais. Com isso, o próprio

consumidor abusa dessa situação, deixando de satisfazer pequenos débitos, pois sabe que

o ônus financeiro para efetivar a cobrança judicial é maior.

Ainda que tenhamos uma empresa de grande suporte econômico utilizando-se

do Juizado Especial Cível, essa empresa representa um mínimo dentro de um universo de

pequenas empresas que necessitam da prestação jurisdicional do órgão.

Insta salientar, ainda, que dificilmente iremos ter uma grande empresa

buscando a prestação jurisdicional do Juizado, tendo em vista que o valor de alçada é de, no

máximo, 40 salários mínimos, considerando que, em sua maioria, realiza operações

financeiras que superam esse valor de alçada.

Legitimatio ad processum

Nas causas de valor de até 20 salários mínimos, as partes podem comparecer

pessoalmente para propor a ação junto ao Juizado Especial Civil ou para respondê-la. A

representação por advogado é facultativa. Torna-se, porém, obrigatória a sua intervenção

quando o valor da causa ultrapassar o aludido limite.

Para assegurar o equilíbrio entre as partes, a lei dá ao autor que comparece

pessoalmente o direito, se esse quiser, à assistência judiciária (defensoria pública), quando

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o réu for pessoa jurídica ou firma individual. Para esse fim, deverá a lei local instituir serviço

advocatício assistencial junto aos Juizados.

Qualquer das partes poderá, também, valer-se da assistência judicial oficial

sempre que a outra comparecer sob patrocínio de advogado.

Determina, outrossim, o § 2º da Lei 9.099 que o juiz alerte as partes da

conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa recomendar, o que poderá

ocorrer pela dificuldade notada na conduta de um dos litigantes na audiência de conciliação.

A outorga do mandato judicial ao advogado não depende da forma escrita,

podendo ser verbal. Basta o comparecimento do causídico, junto com a parte à audiência,

para que se tenha como constituída a representação para a causa, mediante simples

registro na ata respectiva. No entanto, os poderes especiais a que alude o art. 38 do CPC

somente podem ser conferidos por escrito.

Com ou sem assistência de advogado, o autor sempre deverá comparecer

pessoalmente à audiência de conciliação. O réu também deverá, em regra, fazer o mesmo.

Mas, quando for pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por

preposto credenciado.

A busca da prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível sem a

necessidade de assistência de advogado quando o valor da causa não exceder a 20 vezes o

salário mínimo, facultando, inclusive, a propositura da reclamação de forma oral, mediante

termos lavrado pelo cartório, veio atender a um grande anseio social, pois muitos indivíduos

que tinham seus direitos resistidos deixavam de buscar a pretensão jurisdicional, tendo em

vista as dificuldades que encontravam para ter acesso a essa prestação, assegurada a

todos pelo órgão do Poder Judiciário, competente para dizer o direito, considerando o

pesado ônus financeiro com honorários advocatícios e custas processuais.

Indubitavelmente, os inadimplentes se beneficiavam, deixando e satisfazer

suas obrigações, na certeza de não serem compelidos pelo Judiciário, diante dos obstáculos

impostos ao titular do direito material resistido.

Legitimidade para a causa

A legitimidade para a causa é atribuída ao titular do direito material. Destarte,

num acidente de veículos, o legitimado para propor a reclamação visando o ressarcimento

dos danos materiais experimentados é o proprietário do veículo e nunca o motorista que

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estava dirigindo o auto no momento do evento danoso, devendo a reclamação ser proposta

em face do proprietário do outro veículo causador dos danos, tendo em vista a

responsabilidade res sid abendi, ou seja, em razão da propriedade. Nada impede que a

ação seja proposta também em face do condutor do veículo, figurando este como

litisconsorte passivo, tendo em vista a solidariedade na reparação dos danos.

De outro lado, sendo a ação proposta, em face apenas, do proprietário do

veículo causador dos danos, ficando ele obrigado à indenização, caber-lhe-á cobrar em ação

regressiva a ser promovida em face do motorista causador dos danos, o que pagou a título

de indenização.

INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Determina a lei, a intervenção do Ministério Público, como fiscal da lei

(art. 11), nos casos previstos, que só podem ser os do art. 82 do Código de Processo Civil.

Em razão da natureza das causas e da competência dos Juizados Especiais, a

necessidade de intervenção do Ministério Público cinge-se aos casos em que o réu for maior

de 18 e menor de 21 anos, nas ações de revogação de doações, nas causas em que o revel

for citado por hora certa, nas ações que versem sobre registros públicos e em casos de

anulação de escritura em razão de vício formal.

DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

O art. 10 da lei que regulamenta o procedimento perante o Juizado Especial

Cível coíbe expressamente, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro,

inclusive de assistência, admitindo-se tão somente o litisconsórcio, seja ele ativo ou passivo.

Portanto, a denunciação à lide não é cabível no procedimento dos feitos que

tramitam perante o Juizado. A recomendação prática, na hipótese de uma denunciação à

lide, como não é cabível, evitando acarretar prejuízo ao reclamado e denunciante, é no

sentido de o conciliador, na fase conciliatória, orientar a parte reclamante a requerer na

assentada da audiência, que deverá ser lavrada, o aditamento da inicial, a fim de se fazer

inserir no pólo passivo da reclamação o nome do denunciado, designado-se nova audiência

conciliatória, dando-se ciência às partes da designação.

ACORDOS EXTRAJUDICIAIS

Prevê o art. 57 da Lei nº 9.099 que o acordo extrajudicial, de qualquer natureza

ou valor, pode ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, para

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valer a sentença como título executivo judicial.

Esse direito à homologação do acordo é exercitável pelas partes junto a

qualquer juízo e não apenas perante o Juizado Especial Civil. Aliás, a nova redação dada

pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994, art. 584, inc. II, do Código de Processo Civil já incorporou

essa sistemática à legislação codificada.

Da mesma forma, a força de título executivo extrajudicial reconhecida ao

acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito referendado pelo órgão competente

do Ministério Público (Lei nº 9.099, art. 57, parág. Único), também já foi incluída pela reforma

operada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994, no Código de Processo Civil (art. 585, II).

O art. 58 da Lei 9.099, finalmente, prevê que a lei local possa ampliar a

conciliação do Juizado Especial para alcançar causas que não se incluam em sua

competência específica.

MEDIDAS CAUTELARES

Não há previsão de medidas cautelares no Juizado Especial. Por

subsidiariedade, porém, poderá o juiz determinar medidas provisórias que julgar adequadas,

quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao

direito da outra lesão grave e de difícil reparação. E, vigorando, no Juizado Especial, os

princípios da simplicidade e informalidade, tais medidas são concedidas independentemente

de processo cautelar, ainda que haja procedimento específico, previsto no Código de

Processo Civil.

COMPOSIÇÃO DO JUIZADO - Do conciliador, do juiz leigo e do togado

A função do conciliador

O princípio maior que rege o sistema dos Juizados Especiais é o da tentativa

de conciliação entre as partes, pela qual não só o litígio aparente, mas também o aspecto

subjetivo do conflito são resolvidos mediante concessões recíprocas.

A tentativa de conciliação, nos termos do art.22 da Lei n. 9.099/95, é conduzida

pelo juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.

Os conciliadores, que em regra atuam voluntariamente, exercem serviço

público relevante e tem a função precípua de buscar a composição entre as partes, sendo

que nesta capital do Estado de São Paulo obtêm êxito em cerca de 50% de suas tentativas

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de acordo e mostram-se imprescindíveis para o bom desenvolvimento do novo sistema.

No Estado de São Paulo, onde o sistema é regido pela Lei Complementar

Estadual n. 851/98, os conciliadores são recrutados pelo juiz diretor de cada juizado,

preferentemente entre bacharéis em Direito.

A prática, entre outros recursos para a aferição da idoneidade do conciliador,

que presta compromisso antes de iniciar suas atividades, exige-se-lhe a exibição de

certidões dos distribuidores cíveis e criminais.

A experiência deixou, provado que, este o conciliador, não apenas multiplicou a

capacidade de trabalho do juiz, na realização das sessões de conciliação, mas se mostrou

como a pessoa especializada na difícil arte de serenar os ânimos dos contendores, levando-

se à composição amigável dos conflitos de interesses.

Do Juiz Leigo

A figura do juiz leigo, uma das inovações da Lei n. 9.099/95, criada com o

escopo fundamental de funcionar na instrução processual, substituindo facultativamente o

juiz togado nesse múnus, é de avançado caráter prático. Obviamente, toda a direção da

instrução do processo ficará, em última análise, aos seus cuidados (do juiz togado), sempre

com o poder de supervisionamento do trabalho desses auxiliares, podendo mandar repetir

atos processuais ou produzi-los pessoalmente.

O juiz leigo, como mero auxiliar da justiça, responde pela fase instrutória do

processo, coletando provas e decidindo os incidentes que possam interferir no

desenvolvimento da audiência de instrução e julgamento, e como o próprio nome está a

indicar, não dispõe das garantias constitucionais inerentes aos magistrados, conferidas pelo

art. 95 da Constituição Federal, expressas na vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade

de vencimentos.

Tanto o juiz como o conciliador, representam, a participação popular na

administração da justiça, quebrando a tradicional e hermética estrutura do órgão

jurisdicional, com a inserção de elementos estranhos à hierarquia judiciária.

Do juiz togado

O juiz togado terá sempre o poder de supervisionar o trabalho destes auxiliares

(juizes leigos e conciliadores), podendo mandar repetir atos processuais ou produzi-los

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pessoalmente.

DO PROCEDIMENTO

Do Procedimento da Inicial

Recebida a inicial da reclamação pela secretaria do Juizado Especial Cível, o

servidor responsável pelo expediente procederá ao tombamento e à autuação do processo,

designando de imediato a audiência conciliatória. Esta deverá ser realizada nos 15 dias

subseqüentes ao da propositura da reclamação, dando-se ciência da designação à parte

reclamante e expedindo-se de imediato a carta de citação para a parte contrária. A carta

deverá ser instruída com a cópia da petição inicial, constando a designação da audiência.

A citação será remetida pelo correio, com a advertência de que, não

comparecendo a parte reclamada no dia e hora aprazados para a audiência, importará na

sua revelia, e conseqüente confissão ficta da matéria de fato, sendo tidos como verdadeiros

os fatos articulados na peça exordial da reclamação, conduzindo ao julgamento antecipada

da lide.

Ressalte-se ainda que, tratando-se de pessoa física, a postagem da carta

citatória no correio deve ser procedida mediante aviso de recebimento em “mãos próprias”,

considerando que a citação da pessoa física é sempre pessoal, sob pena de, recebida a

citação por terceiros e não comparecendo o reclamado em audiência, este não pode ser

considerado revel, uma vez que a citação encontra-se eivada de vício de nulidade absoluta,

o qual será espancado somente com o comparecimento espontâneo do reclamado à

audiência.

Do Pedido alternativo e cumulativo

Segundo o Código de Processo Civil, o pedido será alternativo quando, pela

natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de um ou mais modos art. 288

do CPC, e cumulados quando, num mesmo processo, o autor formular vários pedidos art.

292 do CPC.

Não obstante a simplicidade nos Juizados Especiais, a Lei n.º 9.099/95 permite

a formulação de pedidos alternativos e cumulados. Ressalva, apenas, que os pedidos

cumulados deverão ser conexos e que a soma de seus valores não poderá ultrapassar o

limite de alçada de 40 (quarenta) salários mínimos. Pedidos conexos devem ser entendidos,

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aqui, como aqueles compatíveis entre si ou coerentes.

Outro aspecto de grande relevância é a possibilidade de se pleitear provimento

cautelar em sede de Juizado Especial. Com efeito, por tratar-se de medida jurisdicional de

cunho auxiliar e subsidiário, prestando-se efetivamente à tutela do processo que protege o

direito, é perfeitamente cabível o pedido de cautelar nos procedimentos dos Juizados

Especiais.

Evidentemente que, tratando-se de medida preparatória ou incidental, haverá

de se amoldar aos procedimentos e princípios da lei em comento.

O deferimento da medida cautelar estará adstrito, como não poderia deixar de

ser, à demonstração do periculum in mora e do fumus boni juris, que constituem

condições especialíssimas desta espécie de provimento jurisdicional.

Vale lembrar, ainda, que somente serão admitidos pedidos cautelares cuja a

natureza da ação principal for da competência dos Juizados Especiais. Assim, por exemplo,

incabível medida cautelar que tenha por objeto a pessoa, posto que pertinente a ações que

não são da competência do Juizado Especial.

A cautela constitui-se de um poder implícito dentro da jurisdição em que a

efetividade do processo pode, muitas vezes, depender de provimento incidental ou

preparatório que o assegure. É, pois, neste peculiar aspecto que não se pode dissociar o

procedimento cautelar do processo sob o rito da Lei dos Juizados Especiais.

Este pedido, pode, ser feito de forma que o responsável pelo dano possa ter

uma ou mais alternativas para poder satisfazer a pretensão que se busca, ou seja, fazer o

pedido da entrega da coisa ou o seu valor. 

Do pedido simples e genérico 

A informalidade da Lei dos Juizados Especiais veio, efetivamente, viabilizar ao

cidadão acesso à jurisdição às classes sociais menos favorecidas.

Constata-se uma das grandes diferenças entre a realização da jurisdição nos

Juizados Especiais e na Justiça comum: o jus postulandi, isto é, o direito de praticar todos

os atos postulatórios e de andamento do processo; a capacidade de requerer em juízo. Esta

é uma característica marcante também no processo do trabalho, tendo por finalidade facilitar

o acesso do cidadão ao Poder judiciário.

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É de se notar a simplicidade da formulação do pedido, podendo ser

verbalmente ou oral, como já mencionado anteriormente.

O pedido poderá ser genérico quando não for possível, de imediato, aferir a

extensão da obrigação.

Assim, compete ao Juiz promover uma verdadeira depuração quanto à

pretensão deduzida em juízo pelo autor, de forma a verificar a real pretensão do

demandante. Não significa isto que o Juiz pode julgar além dos limites da pretensão do

autor.

O julgamento deve cingir-se ao objeto do pedido do autor em consonância com

o que dispõe o art. 460 do CPC, que veda o julgamento extra e ultra petita, e com o princípio

da adstrição a que está vinculado o Juiz.

A parte liga que comparece sozinha ao Juizado, não tem a obrigação de expor,

com precisão, os fundamentos jurídicos do seu pedido, pelo que basta que a mesma narre

os fatos e exponha as suas pretensões, cabendo ao julgador aplicar a lei a adotar a decisão

que reputar mais justa e equânime, mesmo que o pedido do autor não seja claro, desde que

não prejudicada a defesa do réu e a decisão seja coerente com a pretensão formulada. 

Comparecendo as partes à secretaria do Juizado, será dispensado registro

prévio do pedido, bem como a citação, instalando-se, de imediato, a sessão de conciliação.

Neste caso, se houver pedidos contrapostos, fica também dispensada a

contestação formal, devendo ser os pedidos apreciados na mesma sentença.

Do pedido contraposto 

No procedimento do Juizado Especial Cível, não se admite nenhum tipo de

intervenção de terceiros. Por outro, para amenizar a situação do reclamado que está sendo

acionado quando, em algumas hipóteses, foi ele quem sofrera a lesão patrimonial, admitir-

se-á então o que conceituamos de reconvenção indireta ou de pedido contraposto,

respeitando-se para efeito de condenação o valor de alçada, que não poderá exceder a 40

vezes o valor do salário mínimo à época da propositura da reclamação, apesar do pedido

contraposto ser formulado na própria contestação, que é oferecida na audiência de

instrução e julgamento, devendo ser apreciado pela mesma sentença.

Formulando o reclamado pedido contraposto, como autoriza o artigo 31 da Lei

nº 9.099/95, deve ele fundamentá-lo nos mesmos fatos que constituem o objeto da

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controvérsia, acostando naquele momento a prova material que demonstre sua pretensão.

É facultado ao reclamante responder ao pedido do reclamado na própria audiência ou

requerer o adiamento desta, a fim de lhe ser permitido tempo para contestar o pedido

formulado pelo reclamado, recomendando-se a designação de nova audiência, dando

ciência aos presentes da designação, em respeito ao princípio da ampla defesa.

É aconselhável, na prática, que, sendo oferecido pedido contraposto e havendo

pedido de adiamento da audiência, seja suspensa a produção de prova testemunhal,

devendo as testemunhas ser ouvidas na próxima audiência. Evita-se assim a subversão da

ordem processual, uma vez que a prova testemunhal é produzida após a fase de

contestação e o reclamante manifestou o desejo de contestar o pedido contraposto na

próxima audiência.

Sendo procedida a oitiva das testemunhas antes da contestação, certamente

eivará o processo de vícios de nulidade, por subversão da ordem processual e cerceamento

de defesa, os quais poderão ser alegados pelo reclamante. 

Das Modalidades de citação

Da Citação Postal 

A citação postal, de forma ampla, é atualmente a usual no direito processual

civil brasileiro, sem que se tenha notícia de prejuízo ao direito da ampla defesas, a citação

pelo correio tem-se afirmado, dentre as três formas de citação previstas na lei processual

civil comum, como a mais consentânea com os imperativos de simplicidade e celeridade, daí

por que o legislador a colocou dentro do processo especial dos Juizados Cíveis, como a

forma ordinária de citação, sobrando a que se faz por intermédio de oficial de justiça como

forma excepcional de citação, somente devendo-se recorrer a esta última modalidade

quando a primeira delas se mostrar ineficaz ou impossível de ser realizada. Ao utilizar de

expressão “sendo necessário” no inciso III do art. 18, o legislador afasta a opcionalidade

entre uma forma e outra de citação, não podendo a parte autora requerer, ao ingressar com

seu pedido junto ao Juizado, que a citação do réu se realize por outra forma que não a

postal, como ocorre no processo civil comum, salvo em casos justificados. A citação que se

perfaz por meio de oficial de justiça, como forma excepcional, só deve ser admitida nos

casos em que a citação postal se revelar inadequada aos fins a que se propõe de dar pleno

conhecimento ao réu dos termos da demanda que contra ele está sendo movida. Somente

nessas situações, portanto, quando o chamamento pelo correio se mostrar inviável, é que o

juiz deve determinar a sua realização por intermédio de oficial de justiça, é dessa situação a

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circunstância de o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de

correspondência. 

Citação através de Oficial de Justiça 

A citação através de oficial de justiça independe de, mandado ou carta

precatória, como reza o inciso III do art. 18. Como se sabe, os mandados são ordens,

expedidos pelo juiz com fins específicos, e previamente identificados. No processo especial,

a citação se perfaz sem necessidade da condenação de mandado judicial em que conste a

determinação para a prática do ato de chamamento formal do demandado para comparecer

a juízo e oferecer sua resposta.

A desnecessidade do mandado judicial decorre da circunstância de que, no

processo especial, o próprio secretário do Juizado é que se encarrega de providenciar a

citação do réu (art. 16), sendo despicienda qualquer ordem judicial prévia, em forma de

despacho inicial nesse sentido. É suficiente que a Secretaria do Juizado providencie, para a

perfeição do ato citatório, a cópia do pedido inicial e qualquer impresso com informações

sobre o processamento da demanda em juízo, especialmente a indicação para o réu

comparecer em dia e hora marcados e a advertência de que, não comparecendo,

“considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais”. 

Citação com hora certa 

Quanto à citação por hora certa, é perfeitamente cabível, apesar de alguns

doutrinadores entenderem de forma adversa, pois não será possível admitir que o citando

venha obstar a citação, através do Correio e se oculte à citação por meios de oficial de

justiça, sob pena de tornar a prestação jurisdicional desacreditada, até porque a Lei que

regulamenta o procedimento do Juizado é omissa quanto a essa modalidade de citação,

aplicando-se, destarte, a regra geral prevista nos arts. 227 a 230 do Código de Processo

Civil. 

Dispensa da citação 

Comparecendo a parte contrária em cartório e tomando ciência dos termos da

inicial, ou comparecendo á audiência conciliatória, ficará suprida a necessidade da citação,

sanando possíveis vícios. 

Das Intimações 

As intimações se processam da mesma forma adotada para as citações, ou por

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qualquer outro meio idôneo de comunicação.

Conforme a regra insertada no § 2º, do art. 19 de Lei n.º 9.099/95, as partes

comunicarão ao juízo as mudanças de endereço ocorridas no curso do processo, reputando-

se eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente indicado, na ausência da

comunicação, que deve ser feitas antes ao do ato processual.

Da revelia 

Ultima a citação válida, a ausência do réu à audiência importa no

reconhecimento da revelia, cujo efeito é a presunção de que foram aceitos pelo réu, como

verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.

A Lei estabelece que a ausência do demandado à audiência de conciliação ou

de instrução e julgamento importa no reconhecimento da veracidade dos fatos contidos no

pedido inicial, salvo, se o contrário resultar da convicção do juiz.

É possível que o réu citado apresente a sua contestação já na audiência de

conciliação ou a qualquer tempo, antes da realização da sessão de audiência de instrução e

julgamento, o que não será possível reputá-lo revel,. consoante dispõe o Código de

Processo Civil em seu art. 319, e o entendimento doutrinário, a revelia deve ser, entendida

como a ausência de contestação.

Desta forma, seu o réu apresentar contestação antes da audiência de

instrução e julgamento e vem a faltar a esta sessão de audiência, não há que ser

considerado revel.

Poderá ocorrer, também, que o réu citado regularmente não compareça à

audiência de conciliação e, havendo necessidade de realização da audiência de instrução e

julgamento, a esta o réu compareça e apresente sua defesa, o que neste caso também, não

há que ser reconhecida a revelia, porque o réu contestou o pedido do autor na oportunidade

prevista no art.20.

Como prevê a própria Lei dos Juizados Especiais, havendo elementos que

levem o juiz formar seu convencimento, a revelia não será decretada. 

Na hipótese de ausência de ambas as partes 

Feito o pregão da audiência e certificada a ausência de ambas as partes na

audiência conciliatória, apesar de ciente a parte reclamante e citado o reclamado, tem como

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conseqüência a extinção do feito, sem o julgamento do mérito e a não decretação da revelia

do reclamado, uma vez que, ausente o reclamante, resta configurada a desistência tácita da

reclamação, lavrando-se a assentada. 

Da audiência conciliatória

No Juizado Especial Cível a conciliação será proposta assim que aberta a

sessão, devendo o juiz togado ou leigo ou o por conciliador sob sua orientação, que deverão

esclarecer as partes sobre as vantagens e desvantagens da conciliação, mostrando-lhes os

riscos e conseqüências, inclusive quanto são limite que poderá ser cobrado, que é de 40

(quarenta) salários mínimos.

Obtida a conciliação, esta será reduzida a termo e homologada por sentença a

ser proferida por juiz togado. 

Da instrução e julgamento 

Não logrando o conciliador êxito na conciliação das partes em litígio, designa-

se a audiência de instrução e julgamento, de acordo com a disponibilidade de pauta do juiz

de direito vinculado ao Juizado, devendo as partes comparecer à audiência acompanhadas

de suas testemunhas, podendo cada uma delas ouvir, no máximo, três testemunhas, as

quais precisam estar arroladas nos autos.

A audiência de instrução e julgamento deve ser designada para os 15 dias

subseqüentes ao da audiência conciliatória. A audiência ora aludida será realizada pelo

sistema de gravação magnética, através de fita cassete de gravador simples, sendo

presidida pelo juiz de direito ou juiz leigo. Após o trânsito em julgado da sentença a ser

prolatada em audiência, será a fita desagravada, certificando o Cartório nos autos,

reaproveitando-a para a gravação de novas audiências a serem realizadas em outros

processos em trâmite pelo Juizado Especial Cível.

Aberta a audiência, o juiz renovará a proposta de conciliação das partes e, não

logrando êxito na sua realização, dará a palavra à parte reclamada ou ao seu advogado,

quando assistida, para oferecer sua contestação oral. Nada obsta que a contestação seja

oferecida em forma de memorial, ou seja, escrita, quando então será lida em audiência.

Encerrada a fase de contestação, passará o juiz, à produção de provas e,

entender necessário, tomará em primeiro lugar o depoimento pessoal das partes, passando

a seguir a inquirir, inicialmente, as testemunhas trazidas pela parte reclamante e, logo após,

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as da parte reclamada.

Finda a produção de provas, deve o juiz abrir os debates orais, dando a palavra

inicialmente à parte reclamante e a seguir, à parte reclamada, a fim de que ofereçam suas

razões finais. O suprimento dessa fase processual poderá acarretar vício de nulidade

processual por cerceamento de defesa. Daí a importância de o juiz não obstar esse direito

das partes de oferecerem suas razões finais em audiência.

Apresentadas as razões finais, o juiz passará a proferir sua sentença em

audiência; não se sentindo habilitado naquele momento, determinará a conclusão do feito

para a prolação da sentença, designando na mesma, assentada dia e hora para a leitura e

publicação da sentença a ser proferida, intimando-se os presentes para o ato, que será

realizado no Cartório do Juizado, que lavrará o termo respectivo quando da realização do

ato.

Cumpre observar que a prova testemunhal, a contestação quando oferecida

oralmente e as razões finais são feitas pelo sistema de gravação magnética, fazendo o juiz

transcrever para o termo de assentada, de forma objetiva, o ocorrido na audiência. Será

transcrita, ainda, a sentença ali proferida.

Ressalta-se que a sentença dispensa relatório, entrando o juiz diretamente na

fase decisória.

Transitada em julgado a sentença, o Cartório certificar-se-á no sentido de que

foi apagada a fita cassete na qual foi gravada a audiência, reservando a mesma para a

gravação de novas audiências em outros processos.

O trânsito em julgado da sentença ocorrerá no prazo de 10 dias, a contar do

seu ciente, e sua publicação é feita em audiência. Aplica-se a regra do Código de Processo

Civil para efeito da contagem do prazo, excluindo o dies a quo e incluindo o dies ad quem.

Não sendo prolatada a sentença em audiência e não tendo o juiz designado dia

e hora para a sua leitura e publicação, deverão as partes ser intimadas da mesma através

do correio, postando a carta de intimação mediante aviso de recebimento. Estando as partes

assistidas por advogados basta a intimação destes. Ressalta-se que, em primeiro grau de

jurisdição, as partes e seus advogados não poderão ser intimados por via editalícia, como

ocorre nas turmas recursais.

Recebidos os autos pelo Cartório com a sentença proferida pelo juiz,

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providenciará este de imediato o seu registro no livro ou na pasta própria destinada soa

registros de sentença, certificando nos autos o registro, fazendo referência ao número do

livro e da folha respectiva ao registro efetivado. 

DOS MEIOS DE PROVAS 

Serão admitidos todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não

especificados em lei, hábeis para demonstrar da veracidade dos fatos articulados pela parte

da relação processual, como autoriza o artigo 32 da Lei nº 9.099/95. 

Da prova documental 

Em relação à prova documental, deve o reclamante adunar à inicial os

documentos que visam a comprovar o direito ali articulado, não obstando a juntada aos

autos de novos documentos, mesmo no momento da audiência de instrução e julgamento,

pois é nessa fase processual que a parte contrária oferecerá sua contestação e manifestar-

se-á a respeito da documentação acostada nos autos.

Portanto, sobre qualquer documentação trazida ao processo antes da

audiência supra aludida, manifestar-se-á a outra parte no momento da audiência. Destarte,

não será ela intimada para se exprimir sobre a documentação que venha a ser acostada

durante a fluição do processo, diferentemente, como acontece no procedimento comum

regulado no artigo 398 do Código de Processo Civil, que obriga a intimação da parte

contrária para falar sobre os documentos juntados aos autos no prazo de 5 dias.

Na fase recursal, aplicamos a regra geral que não admite produção de provas

durante o recurso, salvo quando determinado pela Turma Recursal o cumprimento de

diligências, permitindo-se tão somente a transcrição da fita magnética na qual foi gravada a

audiência de produção de provas.

Tendo em vista a inviabilidade técnica de transcrição da fita magnética, uma

vez que os órgãos não dispõem de recursos mecânicos para processar a transcrição, e seu

processamento pelo meio manual põe em risco o conteúdo da gravação, considerando ser

inviável ouvir palavra por palavra e trasladar para o termo, a orientação do Tribunal é no

sentido da remessa da referida fita à Turma Recursal quando requerida a sua transcrição. 

Da prova pericial 

Esse meio de produção de prova é inviável no procedimento do Juizado

Especial Cível, tendo em vista os princípios que orientam o procedimento, principalmente os

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da informalidade e celeridade dos atos processuais.

Da prova testemunhal 

Quanto à prova testemunhal, cada uma das partes poderá indicar, no máximo

três testemunhas, sendo necessário o oferecimento do rol, devendo trazê-las para a

audiência de instrução e julgamento. Havendo necessidade de intimação das testemunhas

arroladas, deve a parte interessada requerer a intimação no prazo mínimo de 5 (cinco) dias

antes da audiência referida.

A testemunha intimada para a audiência e à ela não comparecendo sem

justificar sua ausência, ficará sujeita à condução coercitiva, que poderá ser determinada pelo

juiz processante, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública, sujeitando-se

ainda à responsabilidade criminal pelo crime de desobediência à ordem judicial.

A oitiva das testemunhas se processa pelo sistema de gravação magnética,

sendo seus depoimentos gravados através de um simples gravador de fita cassete.

O sistema de gravação magnética adotado no procedimento do Juizado

Especial Cível representa uma grande evolução da nossa legislação processual específica,

uma vez que contribui para autenticidade dos depoimentos prestados pelos inquiridos,

registrando toda sua manifestação oral em audiência, contribuindo ainda para a celeridade

da mesma.

No procedimento comum de inquirição de testemunhas, a morosidade das

audiências é desgastante para o juiz, para as partes, para as testemunhas e para o próprio

serventuário da Justiça que traslada para o termo de declarações prestadas, fazendo com

que os advogados e seus constituintes fiquem pelos corredores do Fórum aguardando por

longo tempo, sem o mínimo conforto a realização das mesmas. 

Do depoimento pessoal

No que se refere ao depoimento pessoal, pode ele ser requerido pela parte

interessada ou tomado ex-officio, também pelo sistema de gravação magnética.

Requerido o depoimento pessoal de qualquer uma das partes, sua presença é

indispensável à audiência, sob pena de lhe ser aplicada a pena de confesso, prevista no § 2º

do artigo 343 do Código de Processo Civil, ainda que presente à audiência se negue a

prestar o depoimento.

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Sentença

Estrutura e Liquidez da Sentença.

Define o § 1º do art. 162 do CPC, “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo

ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. As que apreciam o mérito são

denominadas sentenças definitivas ou sentenças de mérito. As sentenças que põem fim ao

processo sem decidir a lide são denominadas terminativas.

A sentença de mérito deve conter os seguintes requisitos:

I – do relatório, deve constar, o nome das partes, o resumo do pedido e da resposta,

bem como o registro das principais ocorrências, como referência aos debates;

II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III – o dispositivo ou conclusão, que é o acolhimento ou rejeição final do pedido

formulado pelo autor.

  Porém no processo especial, a estrutura da sentença é bem simplificada,

devendo compreender apenas os fundamentos e a parte dispositiva, ficando dispensado o

relatório (art. 38). Ao fundamentar a decisão, com base na prova testemunhal, o juiz tem

apenas de mencionar o que foi dito de essencial pelas testemunhas (art.36).

Poderá haver, conforme o caso, sentença condenatória, constitutiva ou

meramente declaratória, no processo especial. Em tendo caráter condenatório, será sempre

líquida. E essa exigência de que o valor da obrigação contida na sentença seja sempre

líquida decorre da circunstância de que, no processo especial dos Juizados Cíveis, não

existe uma fase própria destinada à liquidação da sentença. No processo especial, portanto,

a sentença será sempre, contendo a conversão em índice indexador da economia (Art. 52,

I). Com isso, evitam-se as complicações e demoras ocorrentes quando se trata de

implementar providências para a fixação do quantum debeatur, que, se adotadas no

processo especial, seriam sumamente prejudiciais à informalidade e celeridade do seu

procedimento.

Homologação, pelo juiz togado, da decisão do juiz leigo

Nas hipóteses em que o juiz leigo dirige a instrução probatória (art. 37), ele

mesmo profere a decisão na causa, a qual depende, sempre, da homologação pelo juiz

togado, para que adquira validade como ato jurisdicional típico. Essa nota especial com que

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a lei reveste a decisão do juiz leigo, exigindo a interveniência do juiz togado para que

adquira eficácia, levou Humberto Theodoro Júnior a afirmar que se trata de uma “decisão ad

referendum”.

O juiz togado pode repetir os atos processuais não se considerando seguro a

proferir um juízo de valor, pode determinar a realização de novas diligências probatórias,

para só ao depois, ao final delas, encampar a atuação do juiz leigo por meio do ato de

homologação, ou rejeitar sua decisão sobre a causa, caso em que deverá proferir sentença

substitutiva.

Já Alexandre Freitas Câmara prefere entender que o juiz leigo na verdade não

profere sentença, o que seria até mesmo inconstitucional (em razão do princípio da

indelegabilidade da jurisdição), mas tão-somente apresenta um “projeto de sentença”, ou em

outros termos, um esboço do que seria, a seu juízo, a solução da causa1[1]. Tal “projeto de

sentença” deverá ser levado ao juiz togado, que a ele não fica vinculado, sendo livre na

formação de seu convencimento. É natural, porém, que muitas vezes tal “projeto de

sentença” seja levado em consideração pelo juiz togado, uma vez que este não terá, nestes

casos, travado contato com as provas orais, que teriam sido produzidas em audiência

realizada sob a condução do juiz leigo.

Não há previsão, ressalvada a litigância de má-fé, de condenação ao

pagamento de custas processuais e honorários de advogado (art. 55 da Lei n1 9.099). No

entanto, em caso de recurso, o recorrente deverá efetuar o preparo e, se não lograr êxito na

turma recursal, arcará com tais encargos calculados sobre o valor da condenação ou valor

corrigido da causa.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO SISTEMA RECURSAL

Vigora nos juizados especiais cíveis a regra da irrecorribilidade imediata das

decisões interlocutórias. Em sendo assim, não é admitido o recurso de agravo, nem mesmo

quando destinado a destrancar outro recurso. As partes que se julgarem prejudicadas,

diante dos casos de relevância e urgência, podem lançar mão do mandado de segurança,

como meio excepcional de impugnação, para atacar os atos judiciais no curso do processo.

As sentenças homologatórias de autocomposição ou do laudo arbitral não

desafiam qualquer recurso, nem os embargos de declaração.

O elenco recursal, dentro do espírito da celeridade processual que norteia os

1

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juizados especiais cíveis, não permite a aplicação subsidiária do CPC e se limita a dois

recursos: embargos declaratórios e recurso inominado.

Admissível, outrossim, o recurso extraordinário, para o Supremo Tribunal

Federal, desde que preenchidos os requisitos pertinentes.

Não são admissíveis embargos infringentes nem o recurso especial para o

Superior Tribunal de Justiça.

Os embargos declaratórios têm vez tanto da sentença de primeiro grau, como

do acórdão da turma recursal (art. 48 da Lei n1 9.099). Interposto contra sentença goza de

efeito suspensivo, apenas. Podem ser apresentados no prazo de cinco dias da ciência da

decisão que tiver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. Diferem-se dos embargos

semelhantes previstos no CPC (art. 535) quanto ao efeito (no Código, interruptivo),

contendo, ainda, um fundamento a mais, isto é, a dúvida, admitida a interposição oralmente

e por escrito.

O recurso inominado (como vem sendo chamado por força da praxe forense)

ou apelação - na preferência de alguns autores - submete-se à satisfação dos requisitos

intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, como qualquer recurso, merecendo destaque

os seguintes aspectos: obrigatoriedade de atuação dos advogados representando as partes;

formalização em petição escrita, contendo as razões do inconformismo; interposição no

prazo de dez dias a partir da ciência da sentença; preparo em quarenta e oito horas

contadas da interposição, independente de intimação; efeito, de regra, apenas devolutivo,

admitido, excepcionalmente, o suspensivo, para evitar dano irreparável à parte. Será

julgado, na dicção do art. 41, § 1º, da Lei nº 9.099, por uma turma recursal composta de três

juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado,

devendo as partes ser intimadas da data da sessão de julgamento, e este, fiel ao princípio

da simplicidade das formas, constará somente da ata, indicando-se a identificação do

processo, resumida fundamentação e dispositivo, anotando-se, ainda, que, no caso de

confirmação da sentença pelos próprios fundamentos, servirá de acórdão a súmula do

julgamento (art. 46 da Lei referenciada).

Cumpre ressaltar, finalmente, que o art. 59 da Lei n1 9.099 veda o manejo de

ação rescisória das sentenças proferidas nos procedimentos regidos por essa lei. As

peculiaridades do caso não autorizam tal ação, salientado-se, que, de um lado, as situações

de injustiça são menos freqüentes nos juizados, e, de outro, a ação rescisória não se presta

para corrigir injustiças. Eventuais irregularidades que, normalmente, permitiriam a rescisão

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do julgado (art. 485 do CPC), podem ser argüidas, como matéria de defesa, na execução,

através de embargos ou por outras ações capazes de realizar a correção, inclusive a

declaratória.

Não existe entendimento majoritário com relação se é cabível ou não o recurso

adesivo no procedimento do Juizado Especial Cível.

Por fim, uma breve reflexão quanto ao cabimento dos recursos especial e

extraordinário contra decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis.

No que diz respeito ao recurso especial, sua interposição, nos termos do art.

105 da Constituição Federal, só é admissível, quando a decisão recorrida for preferida em

única ou última instancia, por Tribunais, e, não constituindo as Turmas Recursais, um

Tribunal, não é o mesmo cabível nas causas que tramitam nos Juizados Especiais.

Quanto ao recurso extraordinário, cujo objetivo é preservar a ordem

constitucional, tem sido admitida sua interposição contra decisões proferidas pelas Turmas

Recursais, pois não se poderia deixar de submeter ao STF, questões em que houvesse a

possibilidade de violação da norma constitucional, e, ao contrário do que acontece com o

recurso especial, o legislador constituinte não especificou qual o órgão responsável pelas

decisões que seriam objeto de recurso extraordinário, pelo que, podem ser elas oriundas

das Turmas Recursais dos Juizados Especiais.

Já esposamos nosso entendimento pelo cabimento da impetração de mandado

de segurança na incidência da hipótese de decisão interlocutória, entendendo ainda pelo

seu cabimento contra a decisão do juízo de primeiro grau de jurisdição que deixar de

receber o recurso de apelo ou obstar seu seguimento, uma vez que não cabe recurso contra

essa decisão, devendo o mandado de segurança ser impetrado perante à Turma Recursal

do Juizado a quo, o mesmo acontecendo em relação à decisão da Turma Recursal que

deixar de receber ou negar seguimento aos recursos especiais e extraordinários interpostos

contra seus acórdãos, quando então o mandado de segurança deverá ser impetrado perante

o Tribunal de Justiça, por ferir direito líquido e certo amparado pela Constituição Federal.

Recurso Inominado

Nos Juizados Especiais Cíveis, a sentença não enseja apelação, mas

“recurso”, a ser julgado, com sucinta fundamentação, por um colégio recursal. A causa não

sobe ao Tribunal de Justiça, sendo revisada a decisão no âmbito do próprio Juizado, pelo

seu órgão competente para o julgamento dos recursos. Esse “recurso”, guardadas as

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diferenças procedimentais, equivale à apelação do Código de Processo Civil, porquanto seu

manejo volta-se ao ataque das decisões terminativas de feito, com apreciação de mérito ou

não. Poderia, por conseguinte, visando à uniformização, ter sido também denominado

apelação, só com a ressalva de endereçamento ao órgão recursal do próprio Juizado. A

desnecessidade de atribuir uma denominação a esse recurso resultou, todavia, da

circunstância de que, no micro sistema criado pela Lei dos Juizados Especiais, existe um

único recurso, e não variedade deles, como ocorre no sistema recursal codificado, em que

cada um recebeu um nome exclusivo.

Prazo Para a Interposição do Recurso 

O recurso deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias, a contar da intimação

da sentença, em geral costuma ocorrer na própria audiência, pois é nela que o juiz deve

proferir sua decisão sobre a lide (art. 28). Aplicando-se a regra geral para a contagem do

prazo. Assim, excluímos o dia do começo e incluímos o dia final do prazo recursal. Por

exemplo, intimadas as partes da sentença numa sexta-feira, o prazo somente passará a fluir

a partir da segunda-feira, salvo se esta não for dia útil, quando então o prazo passará a

transcorrer a partir do primeiro dia útil.

Findo o prazo num sábado ou domingo, prorrogar-se-á até segunda-feira, se

for dia útil.

Preparo do Recurso

O preparo resume-se ao pagamento, no tempo e modo apropriados, das

despesas processuais referentes ao processamento do recurso. A sua falta leva a deserção,

que significa o trancamento do recurso. A lei presume que, se o recorrente não efetua o

preparo, no prazo certo, desiste do julgamento do recurso, que, a partir daí, considera-se

deserto.

O preparo do recurso deve ser feito no prazo de quarenta e oito horas, após

sua interposição, sem haver necessidade do recorrente ser intimado para que o faça. Esse

prazo é preclusivo, ensejando a deserção do recurso por falta de preparo. Em caso tal, o

colégio recursal deverá, mesmo de ofício, não conhecer do recurso, em preliminar ao mérito.

A prova do preparo exige que o recorrente recolha a guia de depósito ainda dentro das

quarenta e oito horas, também sob pena de deserção.

Como o prazo foi fixado em horas, conta-se de minuto a minuto, de acordo com

a regra do art. 125, § 4º, do Código Civil, não se incluindo o dia da interposição do recurso.

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Por exemplo, se interposto ao meio-dia de uma segunda-feira, o termo final do prazo para o

preparo só ocorre no terceiro dia seguinte (quinta-feira), coincidindo exatamente com o

mesmo minuto em que foi protocolizada a petição (12h00). Interposto em sexta-feira

seguinte (exaurindo-se na quarta-feira, no minuto correspondente ao da interposição) por ter

aplicação à espécie a Súmula 310 do Supremo Tribunal Federal. Se o dia do vencimento

recair num feriado ou em dia em que não houver expediente forense, fica prorrogado para o

dia útil seguinte; se coincidir com um sábado ou domingo, fica prorrogado para a segunda-

feira seguinte.

EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO

No que tange à sentença terminativa, isto é, aquela que não contém resolução

do mérito, há que se lembrar que, além das hipóteses previstas em outras normas (dentre as

quais se destaca o artigo 267 do CPC), há casos específicos de “extinção do processo sem

julgamento do mérito” na lei dos Juizados Especiais (art. 51), e que são os seguintes:

-                    Ausência do autor a qualquer audiência do processo: o comparecimento

pessoal da parte, mesmo que assistida por advogado, é indispensável, a não ser que o réu

seja pessoa jurídica ou comerciante, quando, então, poderá ser representado por preposto

credenciado. Isso também vale para o réu que formula pedido contraposto e não comparece

à audiência de continuação da anterior.

-                    Quando inadmissível ou inadequado o procedimento sumaríssimo: a

qualquer momento, o juiz verificando a inadmissibilidade do procedimento, antes ou após a

conciliação, pode declarar extinto o processo. É de se notar que nestas hipóteses de

inadmissibilidade ou inadequação do procedimento sumaríssimo o juiz não poderá

simplesmente determinar a remessa do feito ao juízo competente. Tal impossibilidade

decorre até mesmo do fato de não haver necessidade de autuação do processo que tramita

perante o Juizado Especial, o que torna difícil seu aproveitamento por outro juízo.

-                    Quando o juizado for incompetente em razão do território: a

incompetência territorial, quando reconhecida, é causa de extinção do processo e não de

simples prorrogação para o juízo que seria competente..

-                    Quando qualquer das partes perder capacidade processual: havendo

vedação a que determinadas pessoas sejam partes no processo, o juiz, a qualquer

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momento, dela tomando conhecimento, poderá extingui-lo. 

A proibição de ser parte pode ainda ser superveniente. Qualquer das partes se

tornou incapaz; o comerciante faliu; a pessoa caiu no estado de falência ou insolvência. E

tais casos, o processo se extingue, caso não se tenha ainda proferido sentença. Se a

sentença, porém, já foi proferida, o processo não se extingue, mesmo que esteja em grau de

recurso, porque a decisão final, como ato jurisdicional, já surte normalmente seus efeitos. 

-                    Quando falecer o autor e a habilitação depender de sentença ou

demorar mais de trinta dias: falecendo o autor no curso do processo (e não versando a

demanda sobre direitos intransmissíveis), este deverá ser sucedido no pólo ativo do

processo por seus sucessores. Determina a lei, porém, que nos casos em que tal sucessão

demorar mais de trinta dias para se realizar (ou, em outros termos, se os sucessores do

autor demorarem mais de trinta dias para se habilitar no processo) deverá o juiz proferir

sentença terminativa, extinguindo o processo sem julgamento do mérito. O mesmo resultado

se produzirá quando a habilitação dos sucessores depender de sentença. 

Em tais casos, a extinção também só ocorrerá antes da sentença final, ficando,

em grau de recurso, apenas suspensa.

-                    Quando falecer o réu e a citação dos sucessores não for providenciada

em trinta dias da ciência do fato: o mesmo ocorrerá quando, falecido o réu, o autor não

promover a citação dos sucessores no prazo de trinta dias, a partir da ciência do fato.

A extinção do processo, em tais hipóteses, independe de prévia intimação.

EXECUÇÃO

O Juizado Especial é competente para a execução de seus julgados, com uma

diferença fundamental da Justiça Comum. Os processos de conhecimento e execução, no

Juizado Especial, se amalgamam em processo único, de forma que não há necessidade de

propositura de ação executória. O procedimento e os requisitos são, basicamente, os

mesmos do processo executivo disciplinado pelo Código de Processo Civil, aplicando-o

subsidiariamente.

O art. 52 da Lei 9.099 aponta quais são os pontos em que a execução de

sentença deva sofrer alguma alteração, em face do regime codificado:

a)                  não há liquidação de sentença porque a condenação, no juizado, é

sempre líquida (art. 38, parag. único). Nem mesmo o cálculo do contador será cabível. No

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tocante, por exemplo, á correção monetária, o art. 52, inc. I, prevê indexador oficial; e quanto

aos honorários, à conversão eventual de índices e a outras parcelas, como juros, multas

etc., o cálculo meramente aritmético será realizado por servidor da secretaria do juizado,

dispensando-se, dessa forma, a liquidação por cálculo do contador (art. 52, inc. II);

b)                 a informalidade da abertura da execução: Na audiência em que a

sentença é proferida, o juiz, de oficio, instará o vencido a cumprir a condenação advertindo-o

dos efeitos de seu descumprimento (art. 52, III). Não ocorrendo o cumprimento voluntário da

sentença transitado em julgado, terá início a execução forçada, bastando que o credor a

solicite. Não há nem mesmo petição inicial. O pedido pode ser formulado verbalmente junto

à Secretaria do Juizado. O mandado executivo será expedido sem nova citação. Desde logo,

expedir-se-á a ordem de penhora, se a execução for de quantia certa. (art. 52. inc. IV); 

c)                  na execução das obrigações de fazer ou não fazer, a cominação de

multa

pode sofrer elevação ou transformação em perdas e danos, arbitradas de imediato

pelo juiz, caso em que a execução passará a ser por quantia certa (art. 52, inc. V);

d)                 ainda nas obrigações de fazer, o juiz pode determinar o cumprimento por

outrem, fixado o valor que o devedor terá de depositar para as despesas, sob pena de multa

diária (art. 52, inc. V);

e)                  na alienação dos bens penhorados, o juiz poderá autorizar a venda

extrajudicial, por terceiro, pelo devedor ou pelo credor, a qual se aperfeiçoará em juízo até a

data fixada para a praça ou o leilão. Se o preço encontrado igualar ou superar o da

avaliação, o juiz ultimará a veda, sem mais delongas. Se for inferior, ouvirá previamente

ambas as partes. Havendo proposta de aquisição a prazo, a venda particular será garantida

por caução idônea, se móvel o bem, ou por hipoteca do próprio bem penhorado, se imóvel

(art. 52, inc. VII);

f)                   a publicação de editais em jornais é dispensada quando se tratar de

alienação de bens de pequeno valor, o que será aferido segundo o prudente arbítrio do juiz

(art. 52, inc. VIII);

g)                  os embargos do devedor, após seguro o juízo, correrão nos próprios

autos da execução (não há autuação apartada). A matéria argüível será restrita a (art. 52,

inc. IX):

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-                     falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;

-                     manifesto excesso de execução;

-                     erro de cálculo;

-                     causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente

à sentença.

Execução de título extrajudicial

Ao Juizado Especial compete também a execução de títulos extrajudiciais de

valor até quarenta vezes o salário mínimo sendo de aplicar-se, todavia, o § 3º do art. 3º,

permitindo-se ao credor, quando o título for a maior, optar pelo procedimento, desde que

renuncie ao excesso.

Os títulos executivos extrajudiciais encontram-se elencados no art. 585 do

CPC, observadas as restrições quando àqueles que são próprios de pessoas vedadas a

postular perante os Juizados Especiais, como é o caso das fazendas Públicas da União, do

Distrito Federal, dos Territórios, dos Estados e dos Municípios, os encargos de condomínio

comprovados em contrato, e ainda os títulos que representem crédito de pessoas jurídicas.

A regra, também, é a de que somente as pessoas físicas poderão figurar no pólo ativo das

ações executivas de títulos extrajudiciais, excluídas aquelas que sejam cessionárias de

direito de pessoas jurídicas (art. 8º, § 1º)

É previsto o procedimento especial na Lei do Juizado, mas o Código de

Processo Civil aplica-se subsidiariamente.

Até vinte salários mínimos a própria parte pode requerer a execução, por

escrito ou oralmente, com redução a escrito, mas o pedido deve sempre estar acompanhado

do título.

Se a execução for além de vinte salários mínimos, a assistência do advogado

será necessária, mas as custas e os honorários só serão devidos em grau de recursal, já

que a assistência da parte por advogado em primeiro grau não assegura direito à verba

advocatícia.

Citado para pagar em vinte e quatro horas (24h00) e não o fazendo, passa-se á fase

da penhora, com nomeação de bens pelo executado ou por oficial de justiça.

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O devedor será intimado, após penhora, para comparecer à audiência de

conciliação (art. 53, § 1º).

Na própria audiência, quando frustrada a conciliação, tudo certamente coma

presença do exeqüente, sob pena de extinção do processo, o devedor poderá oferecer

embargos, por escrito ou oralmente.

O art. 53, § 1º, faz remissão aos embargos previstos para os títulos judiciais,

mas evidentemente, a matéria de defesa não pode resumir-se ás previsões ali constantes, já

que nenhuma lesão de direito pode ser suprimida da apreciação do Poder Judiciário. A

defesa, portanto, é ampla.

Após a tentativa de conciliação e apresentação dos embargos, o procedimento

deve ser estabelecido pelo juiz, de forma tal que se busque rápida e eficaz solução do litígio,

mas, evidentemente, sem que se afetem os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Assim, se o credor pretender, poderá ser designada nova audiência para a apresentação de

sua impugnação, que, no entanto, poderá ser articulada de imediato. Se possível, ainda, a

produção de provas será feita também na audiência ou em fases subseqüentes.

O conciliador deve empenhar-se para evitar alienação judicial, propondo todas

as medidas possíveis, inclusive pagamento a prazo, dação em pagamento e adjudicação

imediata.

Não havendo conciliação nem sendo apresentados embargos, ou julgados

estes improcedentes, qualquer das partes poderá requerer que o pagamento se faça por

forma especial, conforme previsto no § 3º do art. 53. Não havendo embargos, o juiz decidirá

de imediato, e sua decisão, certamente, será recorrível, já que se trata de decisão

autônoma, não excluída do âmbito recursal. Se houver embargos, com requerimento da

parte, o juiz decidirá neles.

Se a opção de execução de bens for à alienação, poderá haver dispensa de

publicação de editais, na forma da execução judicial. Não haverá, necessariamente, o leilão

ou a praça.

Não sendo encontrado o devedor nem existindo bens a penhorar, a execução

se extingue, com o desentranhamento de todos os documentos (art. 53, § 4º).

DESPESAS PROCESSUAIS NO JUIZADO ESPECIAL CIVIL

As partes não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e honorários

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advocatícios, havendo sucumbência apenas na fase de recurso. Assim, a parte vencida que

desejar recorrer da sentença deverá recolher as custas processuais, o preparo do recurso

(2%), a taxa judiciária e a contribuição da OAB, sendo as custas calculadas com base na

tabela mensal, publicada no Diário Oficial, referente às ações sumárias. Portanto, dispensa-

se a remessa dos autos ao contador judicial para apuração do cálculo.

A sentença de primeiro grau de jurisdição, conforme ilação do disposto nos

arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95, não poderá condenar o vencido nas custas processuais e

honorários advocatícios, salvo nos casos de litigância de má-fé.

Já na fase recursal, a parte vencida ficará sujeita ao pagamento das custas

processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados entre 10% (dez por cento) e 20%

(vinte por cento) do valor da condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da

causa. É certo que esse valor não poderá exceder a 40 vezes o valor do maior salário

mínimo à época da propositura da ação, atualizado monetariamente a partir da citação.

Por outro lado, se a parte vencida no recurso foi o recorrido, no tocante às

custas processuais, deverá ele reembolsar ao recorrente e vencedor os valores colhidos a

título de custas processuais, preparo do recurso, taxa judiciária e contribuição da OAB.

Gozando a parte vencida dos benefícios da Justiça gratuita e da assistência judiciária, não

estará sujeita ao pagamento dessas despesas e nem de honorários de sucumbência. Sendo

somente a parte vencedora assistida pela assistência judiciária, deve a parte vencida ser

condenada ao pagamento de honorários advocatícios, os quais serão revertidos em favor da

Defensoria Pública ou do defensor dativo, conforme o caso.

O requerimento da assistência judiciária gratuita somente pode ser formulado

quando da interposição do recurso, porque o preparo constitui pressuposto de

admissibilidade do procedimento recursal. O pedido de assistência judiciária será apreciado

pela Turma Recursal competente para conhecer o recurso, uma vez que o juiz singular

esgota sua jurisdição com a prolação da sentença.

De forma alguma deve o juiz monocrático obstruir o seguimento do recurso

quando o recorrente invocar a prestação jurisdicional sob o manto da gratuidade. È que não

cabe qualquer recurso contra a decisão que negar o seguimento e, neste caso, a parte não

poderá ver reexaminada a sentença impugnada.

Assim, se o recorrente, ao interpor o recurso, requerer a concessão da

assistência judiciária gratuita é de se processar regularmente o recurso, remetendo-o à

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Turma Recursal, a quem compete decidir pelo deferimento ou não da pretendida assistência.

A execução de título judicial ou extrajudicial correrá sem custas e honorários,

salvo quando:

a)      for reconhecida a litigância de má-fé;

b)      forem julgados improcedentes os embargos do devedor;

c)      tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso

improvido do devedor.