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Ju Iza Dose Speciai s Federai s

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    ANTNIO CSAR BOCHENEKJuiz Federal, Doutorando na Universidade de Coimbra, Professor da Escola da Magistratura

    Federal do Paran (ESMAFE-PR)

    MRCIO AUGUSTO NASCIMENTOJuiz Federal, Ex-Auditor Fiscal da Receita Federal, Professor de Direito Previdencirio em

    cursos de ps-graduao

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    Como citar esta obra:

    BOCHENEK, Antnio Csar; NASCIMENTO, Mrcio Augusto.Juizados Especiais Federais Cveis.E-book. Porto Alegre: direitosdos autores, 2011.

    Bibliografia.ISBN 978-85-63654-91-5

    1. Direito 2. Juizados Especiais Federais Cveis 3. Doutrina 4. Casustica 5. E-book

    Edio digital: janeiro de 2012

    Arquivo ePub produzido pela Simplssimo Livros

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    Agradeo a Giorgia, Pedro Augusto, Antnio Bencio.

    Aos meus pais, Ludovico e Monica.

    Antnio Csar Bochenek

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    A Deus que amor, e cujo amor me uniu com a Liliam.

    Liliam que a minha estrela da sorte, a minha alma gmea, o amor da minha vida.

    Aos meus filhos, Rebeca, Giovanni e Rafael, aos meus pais, Augusto e Elza, com imensocarinho e gratido.

    Aos meus amigos juzes, servidores e estagirios que trabalham (ou j trabalharam) comigo nasSubsees Judicirias de Londrina , Campo Mouro e no mbito de toda a Justia Federal.

    O conhecimento o nico tesouro que os ladres no roubam e que se pode levar para qualquerlugar, por isso minha gratido aos professores e funcionrios das instituies que me deram

    instruo e, sobretudo, educao: Escola Municipal Diogo Antonio Feij (Assa-PR); ColgioEstadual Conselheiro Carro (Assa-PR); Colgio Estadual Vicente Rijo (Londrina-PR);

    Instituto de Educao Estadual de Londrina (IEEL); Colgio Mxi (Londrina-PR); UniversidadeEstadual de Londrina-PR (UEL); Escola da Magistratura do TRF da 4. Regio (EMAGIS).

    Mrcio Augusto Nascimento

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    APRESENTAO

    Prezados leitores,

    A obra que apresentamos comunidade jurdica fruto de um processo de formao de

    ideias calcadas na democratizao do acesso ao conhecimento.

    O livro gratuito e o acesso irrestrito de todos o desejo dos autores.

    Queremos ser pioneiros ao apresentar uma obra gratuita, virtual, eletrnica, no formato e-

    book.

    Sobretudo almejamos que todos possam ter acesso s nossas reflexes e pensamentos.

    A casustica pretende familiarizar e auxiliar os profissionais e alunos de Direito com os

    casos concretos que se enfrentam no dia-a-dia dos juizados especiais federais cveis. No

    esgota, por bvio, o universo de aes, mas traz as principais matrias debatidas naquele

    mbito.

    As nossas ideias esto expostas e a partir de agora queremos iniciar um debate e aperfeioar

    esses conhecimentos. Para tanto, lanamos junto com a obra o blog

    http://juizadosespeciaisfederais.blogspot.com/, para continuarmos a discutir os temas tratadosnessa obra e principalmente para promovermos as atualizaes necessrias, visto que o mundo,

    a legislao e os tribunais so dinmicos e transformam a cada momento.

    Ainda, somos conscientes de que no esgotamos os temas da obra e precisamos avanar.

    Esperamos que todos apreciem sem moderao a obra e contribuam para o seu

    aperfeioamento.

    Os autores.

    [email protected] e [email protected]

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    JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CVEIS

    SUMRIO: 1 Apresentao da Justia Federal 2 A litigiosidade nos juizados especiais

    federais - demanda reprimida 3 Histrico dos Juizados Especiais Federais 4 Opo

    legislativa: aplicao subsidiria 5 Inovaes e peculiaridades 6 Competncia cvel dos

    Juizados Especiais na Constituio: procedimento obrigatrio e causas de menor complexidade

    7 Princpios orientadores dos Juizados Especiais: 7.1 Autocomposio; 7.2 Princpio da

    equidade; 7.3 Princpio da oralidade; 7.4 Princpio da simplicidade; 7.5 Princpio da

    informalidade; 7.6 Princpio da economia processual; 7.7 Princpio da celeridade 8

    Competncia dos Juizados Especiais Estaduais 9 A competncia de juzo absoluta nos

    Juizados Especiais Federais 10 Os entes que podem litigar nos Juizados Especiais Federais:

    10.1 Pessoas autorizadas a compor o polo ativo da relao processual 10.2 Pessoas que no

    podem ocupar o polo ativo da relao processual; 10.3 Pessoas autorizadas a compor o polo

    passivo da relao processual; 10.3.1 Unio; 10.3.2 Entidades autrquicas federais; 10.3.3

    Conselhos de fiscalizao profissional; 10.3.4 Ordem dos Advogados do Brasil e seus rgos;

    10.3.5 Fundaes pblicas federais; 10.3.6 Empresas pblicas federais 11 Interveno de

    terceiros e litisconsrcio; 11.1 Amicus curiae 12 Consequncia da falta de citao do

    litisconsorte passivo necessrio; 12.1 Peculiaridades do processo litisconsorcial nos juizadosespeciais federais cveis 13 Limite de alada de 60 salrios mnimos dos Juizados Especiais

    Federais 14 Causas excludas da competncia dos Juizados Especiais Federais Cveis; 14.1

    Aes com procedimento especial esto excludas da competncia dos Juizados 15

    Competncia territorial 16 Fase de conhecimento no procedimento sumarssimo; 16.1 Dos

    atos e prazos processuais; 16.2 Despesas; 16.3 Fase postulatria; 16.4 Petio inicial; 16.5

    Medida cautelar e antecipao da tutela; 16.5.1 Antecipao da tutela de ofcio 16.6 Citao e

    intimao; 16.6.1 Citao por edital 16.7 Carta precatria e rogatria; 16.8 Despacho inicial;

    16.9 A busca da conciliao nos Juizados Especiais Federais; 16.9.1 A figura do conciliador;16.9.2 Crtica conciliao; 16.10 Resposta do ru; 16.11 Produo de prova; 16.12 Provas e

    regras de experincia comum; 16.13 Dever de produzir prova do ente pblico federal; 16.14

    Limite de testemunhas; 16.15 Determinao judicial para realizao de justificao

    administrativa; 16.16 Exame tcnico realizado por mdico; 16.16.1 Diferenciao entre exame

    tcnico e percia judicial; 16.17 Prova de exerccio de atividade especial; 16.18 Prova pericial

    complexa; 16.19 Audincia de instruo e julgamento; 16.20 Fase decisria; 16.20.1 Aplicao

    do art. 285-A do CPC aos Juizados; 16.20.2 Os precedentes no processo civil; 16.21 Fase de

    execuo; 16.21.1 Competncia para o cumprimento das sentenas; 16.21.2 O 4.. do art. 17

    (fracionamento do RPV); 16.21.3 Obrigao de fazer; 16.21.4 Obrigao de pagar quantia certa;

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    16.22 Embargos do devedor 17 Dos recursos: 17.1 Fungibilidade dos recursos; 17.2 Recursos

    nos juizados especiais federais cveis; 17.2.1 Embargos de declarao; 17.2.2 Recurso

    inominado das decises interlocutrias; 17.2.3 Recurso inominado da sentena; 17.2.4 Recurso

    adesivo; 17.2.5 Incidente de uniformizao de jurisprudncia; 17.2.6 Processamento do pedido

    de uniformizao decorrente de divergncia entre turmas de regies diversas; 17.2.7

    Processamento do pedido de uniformizao em razo de divergncia da deciso da TNU com

    smula ou jurisprudncia dominante do STJ; 17.2.8 Recurso especial; 17.2.9 Recurso

    extraordinrio 18 Reclamao 19 Ao rescisria e querella nullitatis 20 Competncia

    funcional horizontal; 20.1 Competncia para apreciar as medidas cautelares antecipatrias; 20.2

    Competncia para o cumprimento das sentenas; 20.3 Competncia para execuo da sentena

    criminal de composio dos danos civis e da sentena criminal de natureza cvel indenizatria;

    20.4 Competncia para a execuo de ttulo extrajudicial 21 Competncia para apreciar

    mandado de segurana contra as decises proferidas no mbito dos Juizados Especiais Federais

    22 Sobrestamento dos processos com reconhecimento de repercusso geral no STF ou no STJ.

    23 Conflito de competncia 24 Competncia para a correio parcial 25 Limitao da

    competncia 26 A redistribuio dos feitos 27 A necessidade de ampliao dos Juizados

    Especiais 28 Casos prticos: principais matrias discutidas nos Juizados Especiais Federais;

    28.1 Reviso do art. 29, 5o. da Lei 8.213/1991; 28.2 Devoluo de valor excessivo da anuidade

    exigida pelo Conselho Regional de Odontologia; 28.3 Diferenas de atualizao monetria da

    caderneta de poupana do Plano Collor I (abril e maio de 1990; 28.4 Gratificao que tem

    carter genrico extensiva aos aposentados - GDATA e GDASST - Gratificao de

    Desempenho de Atividade da Seguridade Social e do Trabalho; 28.5 Danos morais contra a

    Caixa Econmica Federal por demora excessiva no atendimento ao consumidor; 28.6

    Fornecimento de remdios no disponibilizados na rede pblica de sade para pacientes de

    baixa renda; 28.7 Restituio de Imposto de Renda pago indevidamente sobre frias indenizadas

    e respectivo um tero; 28.8 devida a restituio do imposto de renda incidente sobre verbas

    pagas em programa de aposentadoria incentivada (PAI), prmio aposentadoria ou programa de

    demisso voluntria (PDV); 28.9 Aposentadoria por tempo de servio ou de contribuio; 28.10Aposentadoria por idade rural; 28.11 Averbao de tempo rural; 28.12 Averbao de tempo

    urbano; 28.13 Aposentadoria por idade urbana com carncia congelada na data do

    cumprimento do requisito etrio pelo segurado; 28.14 Atividade especial forma de

    comprovao e agente agressivo rudo; 28.15 Atividade especial servidor pblico; 28.16

    Reviso do benefcio para utilizao de PBC mais favorvel ao segurado; 28.17

    Desaposentao; 28.18 Concesso de Auxlio-acidente por qualquer natureza em ao cujo

    pedido era de auxlio-doena ou aposentadoria por invalidez princpio da fungibilidade das

    aes previdencirias; 28.19 Salrio-maternidade situao de desemprego da me; 28.20Auxlio-doena e aposentadoria por invalidez; 28.21 Tese nova para dispensar a filiao e

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    qualidade do segurado no pleito de benefcio por incapacidade - art. 151 da Lei 8.213/1991;

    28.22 Benefcio assistencial para deficiente (LOAS); 28.23 Benefcio assistencial para idoso

    (LOAS); 28.24 Benefcio Assistencial questes polmicas; 28.25 Auxlio-recluso; 28.26

    Benefcio de penso por morte pleiteado por menores impberes (prescrio); 28.27 Penso por

    morte reconhecimento de unio estvel; 28.28 Devoluo de IR pago sobre complemento de

    aposentadoria de 1988 a 1995; 28.29 Iseno ou reclculo do imposto de renda pago sobre

    parcelas recebidas acumuladamente; 28.30 No incidncia de IR sobre os juros de mora legais;

    28.31 No incidncia de IR sobre indenizao por dano moral; 28.32 Furto de carto de crdito;

    28.33 Concurso pblico portador de viso monocular; 28.34 Ordem de convocao do

    deficiente aprovado em concurso pblico; 28.35 Atualizao da condenao judicial; 28.36

    Impossibilidade de ao rescisria ou ao anulatria nos JEF; 28.37 Ordem judicial para

    realizao de justificao administrativa; 28.38 Pedido de restituio de contribuio ao

    FUNRURAL; 28.39 No incidncia de contribuio previdencirio sobre o adicional de 1/3

    sobre as frias; 28.40 Elevao do teto de benefcios pelas Emendas Constitucionais 20/1998 e

    41/2003 descompresso que gera direito ao pagamento de diferenas atrasadas. Bibliografia

    1 Apresentao da Justia Federal

    Com a revoluo militar que destituiu a monarquia brasileira e a proclamao da repblica

    em 15.11.1889, adotou-se a forma federativa de Estado. Antes mesmo da Constituio de 1891,

    o Governo Provisrio, inspirado na lei orgnica do judicirio norte-americano, criou o Supremo

    Tribunal Federal e instituiu a Justia Federal atravs do Decreto 848, de 11.10.1889.1

    Adotou-se a dualidade da justia: uma justia para os estados membros e uma outra para a

    Unio. Isso foi mantido at a Constituio de 1934, mas, na Carta de 1937, a Justia Federal foi

    suprimida. A Constituio de 1946 manteve a tendncia unificadora das justias, mas criou o

    Tribunal Federal de Recursos para desafogar o Supremo Tribunal Federal, opo que gerou a

    estranha situao de existir uma Justia Federal apenas de 2. grau. Em 1965, atravs do AtoInstitucional n. 2, foi reestruturada a Justia Federal de 1. grau. Retornou-se dualidade, a qual

    foi mantida na Carta de 1969 e na Constituio Cidad de 1988. Nesta ltima, criaram-se,

    tambm, cinco Tribunais Regionais Federais em substituio ao extinto Tribunal Federal de

    Recursos.Posteriormente, a Emenda Constitucional 22/1999 e a Lei 10.259/2001 criaram os

    juizados especiais federais no mbito da Justia Federal.

    Esta uma breve apresentao da histria da Justia Federal no Brasil.

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    2 A litigiosidade nos juizados especiais federais - demanda reprimida

    A litigiosidade nos tribunais est relacionada com a sua procura e o seu desempenho. A

    procura efetiva pelos tribunais federais aumentou significativamente nas duas ltimas dcadas,

    principalmente pelo ajuizamento de aes que antes estavam reprimidas ou suprimidas dosistema judicial. Os principais motivos do aumento da procura efetiva esto relacionados: ao

    aumento da populao, universidades, advogados e tribunais; ao aumento do protagonismo dos

    tribunais; redemocratizao; confiana do cidado no julgamento das aes ajuizadas contra

    o governo; Constituio Cidad e aos novos direitos; ao desenvolvimento econmico, social e

    cultural; a maiores e melhores informaes e conscientizao dos direitos e das formas de

    acesso aos direitos e justia.

    Por outro lado, o desempenho dos tribunais tambm reflete diretamente na taxa de

    litigiosidade. Quando o desempenho bom a taxa de litigiosidade tende a diminuir, ao

    contrrio, a aumentar. Conforme a anlise de dados, a produtividade dos tribunais federais

    aumentou nas duas ltimas dcadas. Apesar do panorama positivo, alguns fatores afetam o

    desempenho dos tribunais federais: a atuao dos atores judiciais (juzes, ministrio pblico,

    advogados, defensoria pblica, servidores judiciais), a atuao dos poderes executivo e

    legislativo; a (des)organizao administrativa; a legislao processual; os litigantes frequentes; a

    morosidade; os recursos excessivos; o procedimento das execues fiscais; a forma de resoluo

    de litgios de massa e de direitos difusos e coletivos; as novas demandas complexas.

    Apesar do objeto do presente trabalho no estar relacionado diretamente com as questes

    sociolgicas que envolvem a litigiosidade, relevante consignar que os fatores econmicos,

    sociais e culturais so de extrema importncia para se perquirir a atual situao dos juizados

    especiais federais. possvel citar os seguintes que dificultam ou afastam as pessoas,

    principalmente as menos favorecidas do judicirio: fatores econmicos (falta de dinheiro para

    contratar advogado, altas custas e despesas do processo, gastos com locomoo, impossibilidade

    de se afastar do trabalho), sociais (m prestao de servio e de informao pelos rgos

    pblicos previdencirios e, em geral, distanciamento e deteriorao da imagem do poderjudicirio, ausncia de orientao populao sobre seus direitos) e culturais (ignorncia, falta

    de estudos, medo de ser enganado, acomodao ou resignao diante da situao adversa).

    Por outro lado, existem vrias matrias de competncia da justia federal que resultam,

    geralmente, em pequeno valor econmico, mas que so de vital importncia para a populao

    menos favorecida. Podem-se citar como exemplos: aposentadoria rural ou urbana por idade,

    aposentadoria por tempo de contribuio, penso por morte, salrio maternidade, auxlio-

    1BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal, esse outro desconhecido. Rio de Janeiro: Forense,1968; PEREIRA, Milton Luiz. Justia Federal, primeira instncia. Editora Sugestes Literrias, 1969;

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    recluso, reviso no valores dos benefcios previdencirios, benefcios assistenciais aos

    deficientes e aos idosos, liberao de PIS ou FGTS de titular vivo, diferenas de planos

    econmicos na remunerao do FGTS ou das cadernetas de poupana, contratos do sistema

    financeiro da habitao (SFH) celebrados com a Caixa Econmica Federal ou com cobertura do

    FCVS (Fundo de Compensao pelas Variaes Salariais), danos morais e materiais de pequena

    monta, diferenas de remunerao de servidores pblicos ativos ou aposentados, fornecimento

    de remdios no disponibilizados na rede pblica de sade etc. Em todos os casos citados, deve-

    se observar a competncia da justia federal, que est fixada no art. 109 da CF/1988. Evidente

    que as causas mencionadas podem ser manejadas por pessoas da classe mdia ou rica, porm

    para essas no existem grandes obstculos no acesso justia.

    Elimina-se, assim, a pecha de que a justia federal elitista. Ao contrrio, ela julga causas

    que interessam diretamente a todo o povo brasileiro e principalmente aquelas demandas depessoas menos favorecidas. A instalao dos juizados especiais federais contribuiu

    significativamente para a alterao de concepo das tarefas realizadas pela justia federal. Se

    antes havia a preponderncia de matrias tributrias de empresas, agora h a predominncia de

    lides de pessoas fsicas, seja em matria tributria ou previdenciria. Nesse ltimo aspecto, em

    relao concesso ou reviso de benefcios previdencirios de pequeno valor, os juizados

    especiais federais promoveram nos ltimos anos efetiva redistribuio de renda com o

    pagamento dos valores mensalmente para a manuteno dos beneficirios, alm do pagamento

    de forma mais clere de valores no pagos na poca oportuna.

    3 Histrico dos Juizados Especiais Federais

    Ressalta-se que este estudo aborda os Juizados Especiais Federais para todas as causas que

    envolvem matrias cveis, excludas, portanto, as que envolvem matria criminal.

    A Constituio, na sua redao original, no previa a criao dos Juizados Especiais

    Federais. A Emenda Constitucional 22, de 18.03.1999, acrescentou o pargrafo nico ao art.

    98,2 dispondo expressamente sobre a criao dos Juizados Especiais no mbito da JustiaFederal, por meio de lei ordinria federal.

    Em outubro de 1999, no 16. Encontro Nacional dos Juzes Federais, realizado em Fortaleza,

    Estado do Cear, a Associao dos Juzes Federais (Ajufe) iniciou a discusso sobre os

    contornos da futura lei, exigida pela nova sistemtica constitucional. O Tribunal Regional

    Federal da 5. Regio promoveu um importante seminrio sobre o tema, de que resultou um

    anteprojeto.

    SILVA, Lus Praxedes Vieira da.Juizados especiais federais cveis. Campinas: Millennium, 2002. p. 156.

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    No ano de 2000 o Superior Tribunal de Justia, por intermdio de uma comisso de

    Ministros,3 elaborou o assim chamado anteprojeto Costa Leite, somadas as contribuies

    trazidas pela comisso nomeada pela Ajufe. O texto foi aprovado pelo Conselho da Justia

    Federal e pelo Plenrio do Superior Tribunal de Justia. Esse anteprojeto foi encaminhado para

    o Presidente da Repblica.

    Na proposta da Ajufe havia limitaes de certas matrias e procedimentos, mas no em

    relao parte autora. Na proposta do Superior Tribunal de Justia havia a limitao quanto

    parte autora inserida pelo art. 6.. Na discusso entre os dois projetos realizada no Conselho da

    Justia Federal foi analisado artigo por artigo. Mantiveram-se as limitaes propostas pela Ajufe

    e as limitaes quanto s partes, do Superior Tribunal de Justia, porm foram esquecidas de

    retirar as excees do art. 3.. A proposta foi encaminhada pelo Superior Tribunal de Justia e

    aprovada com a mesma redao, o que ocasionou repetio de determinaes legais.O Poder Executivo constituiu uma comisso de trabalho por meio da Portaria

    Interministerial 5, de 27.09.2000, composta por representantes da Advocacia-Geral da Unio

    (AGU), do Ministrio da Justia, da Secretaria do Tesouro Nacional e da Secretaria do

    Oramento Federal e do Instituto Nacional de Seguridade Social, com o objetivo de promover

    estudos acerca do anteprojeto de lei do Superior Tribunal de Justia, para analisar os impactos

    da proposta nas reas oramentrias e financeiras e os procedimentos a serem tomados para a

    implantao e a viabilizao no mbito prtico. Prosseguiram-se as negociaes e os debates

    visando a obter consenso entre as trs propostas apresentadas (Ajufe, STJ, AGU).

    Em janeiro de 2001, o projeto de lei foi enviado ao Congresso Nacional, pelo Presidente da

    Repblica, sendo aprovado pelas Casas Legislativas no ms de junho do mesmo ano, com

    pequenas alteraes, e promulgado no dia 13.07.2001, sob o n. 10.259, com incio de vigncia

    seis meses aps a data de publicao (14.01.2002).

    A Lei 10.259 no foi alterada nos dez anos aps sua publicao, 5 mas a jurisprudncia

    trouxe novas luzes sobre questes polmicas e at ento abertas sobre sua interpretao e

    aplicao.

    2Art. 98, pargrafo nico: Lei federal dispor sobre a criao de juizados especiais no mbito da JustiaFederal.

    3Comisso integrada pelos Senhores Ministros Fontes de Alencar, Ruy Rosado de Aguiar, Jos Arnaldoda Fonseca, Slvio de Figueiredo, Ari Pargendler e Ftima Nancy.

    5 Embora no tenha ocorrido nenhuma alterao legislativa na lei que trata dos Juizados EspeciaisFederais, no dia 22 de dezembro de 2009, foi promulgada a Lei 12.153, com vigncia a partir de 22 de

    julho de 2010, que dispe sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pblica no mbito dos Estados, doDistrito Federal, dos Territrios e dos Municpios.

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    Existe um direito processual mnimo na Lei 10.259. Entende-se que a grande mudana

    necessria para a efetividade dos direitos a prevalncia do direito material sobre o direito

    processual. Se o direito material pode ser satisfeito pela via A ou pela via B, ento no se deve

    anular o processo apenas para privilegiar a forma ou a discusso terico-processual. Espera-se

    que a tendncia da Lei 10.259 irradie-se por todo o sistema jurdico para privilegiar o direito

    material e para que a forma processual tenha menos importncia. Isso j aconteceu, por

    exemplo, no instituto da antecipao da tutela, que teve alterada a redao do art. 273 do CPC

    para contemplar a fungibilidade da medida cautelar (em sentido estrito) e a medida

    antecipatria, j prevista no art. 4. da Lei 10.259. Outro exemplo a dispensa de reexame

    necessrio nas causas de valor de at 60 (sessenta) salrios mnimos que foi inserida no art. 475,

    inciso II, do CPC. Afinal, o processo instrumento e a finalidade a satisfao do direito

    material. O to esquecido princpio da instrumentalidade das formas (art. 244 do CPC)

    resgatado como ponto cardeal do processo civil.

    Outra observao relevante quanto utilizao da jurisprudncia no mbito dos Juizados

    Especiais refere-se a que no basta apenas a leitura rpida dos precedentes, smulas ou

    enunciados, mas deve-se estudar a fundo todos os fundamentos que levaram a declarao

    daquela ementa, precedente, smula ou enunciado. No se deve correr o risco grave de se ter

    uma interpretao de precedente ou smula que j interpretao da norma jurdica, entrando

    num crculo vicioso.

    4 Opo legislativa: aplicao subsidiria

    Com a edio da Emenda Constitucional 22/1999, no subsistiram mais as dvidas quanto

    criao dos Juizados Especiais na rea federal, mediante lei prpria. J existiam a Lei

    9.099/1995, que tratava do Juizado Estadual, e as disposies processuais gerais do Cdigo de

    Processo Civil.

    Em face da necessidade imperiosa da criao de um novo instrumento legislativo dispondo

    sobre os Juizados Especiais Federais, trs opes despontaram: uma, disciplinar de maneiraampla e completa a matria, no admitindo nenhuma espcie de aplicao subsidiria; duas,

    disciplinar o Juizado Federal em todos os seus aspectos e aproveitar as disposies comuns de

    processo do Cdigo de Processo Civil; trs, disciplinar as peculiaridades do Juizado Federal e

    recorrer subsidiariamente aos sistemas legais j vigentes: primeiro, Lei dos Juizados

    Estaduais, depois, ao Cdigo de Processo Civil. Optou-se pela ltima, aproveitando os

    instrumentos normativos, a filosofia e os princpios j implantados e consagrados, alm de

    indicar as particularidades das causas federais. A opo legislativa reconheceu a interligao

    dos sistemas, em que o especial prevalece sobre o geral, de modo que se aproveita toda a

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    construo doutrinria e jurisprudencial existente, ressalvadas as caractersticas prprias e

    peculiares do Juizado Federal.

    necessrio fazer algumas consideraes sobre as normas gerais e especiais.6Uma regra

    especial em relao outra quando, sem contrariar substancialmente o princpio nela contido, a

    adapta a circunstncias particulares.7No h revogao se a lei nova acrescentou consequncia

    jurdica, geral ou especial, ao regime anterior, sem haver contradio. Nova lei geral no revoga

    lei especial, pois o regime geral no leva em considerao as particularidades que justificaram a

    emisso da lei especial, exceto se a lei geral nova tiver a inteno de regular totalmente a

    matria contida na lei anterior especial, de modo a substituir o regime especial ento vigente.

    A especialidade formal distinta da especialidade substancial. Determinada norma contida

    em lei especial no significa automaticamente ser norma especial. Apesar de formalmente

    especial, substancialmente pode vir a no o ser, de modo que uma norma geral posterior pode

    revogar a lei s formalmente especial. A lei especial nunca pode revogar a lei geral, mas derroga

    a lei geral. Se a lei especial revogada sem ser substituda por nenhuma outra, voltam-se a

    aplicar os preceitos da lei geral, pois deixa de existir o obstculo resultante da vigncia de lei

    especial.8

    O Cdigo de Processo Civil regra geral, com os trmites processuais regulados de maneira

    uniforme, seja qual for o objeto da ao. Mas para certas finalidades o legislador aprimorou e

    especificou certos procedimentos, com vista a satisfazer ou corresponder mais adequadamenteao objeto litigioso (v.g., juizados especiais). Observe-se a relatividade da qualificao de uma

    situao como especial, isto , h possibilidade de termos uma norma especial em relao a uma

    norma que j especial, como no caso dos Juizados: as disposies da Lei 9.099/1995 so

    especiais em relao s disposies do Cdigo de Processo Civil, mas so gerais em relao s

    normas da Lei 10.259/2001, que por sua vez so especiais em relao s normas da Lei

    9.099/1995.

    O intrprete e o aplicador do direito devem traar um caminho para encontrar qual a

    disposio mais adequada, de acordo com a sistemtica legal, para o caso que lhe foi proposto,

    decidindo de modo mais justo e equnime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigncias do

    bem comum.9Se nas normas especficas que se referem ao Juizado Federal no se evidencia a

    soluo, o intrprete deve buscar subsdios na Lei 9.099/1995, em face da harmonia, origens e

    6 Ver sobre a matria: BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurdico. Trad. Maria Celeste Leitodos Santos. 10. ed. Braslia: Universidade de Braslia, 1999. p. 81-144. ASCENO, Jos deOliveira. O direito introduo e teoria geral uma perspectiva luso-brasileira. 11. ed. Coimbra:Almedina, 2001. p. 511-520.

    7Noutro sentido, fala-se em lei especial para designar simplesmente a lei especfica ou a lei extravagante.8BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 81-144.9Ver item 5.2.

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    finalidades existentes entre os dois sistemas. Posteriormente, na falta de norma especfica,

    recorre-se ao sistema geral do Cdigo do Processo Civil, desde que no viole os princpios

    orientadores dos Juizados. Persistindo alguma lacuna, aplicam-se a analogia, os costumes e os

    princpios gerais de direito.10Neste sentido foi editado o art. 1. da Lei 10.259/2001.11

    Na aplicao subsidiria da Lei 9.099/1995, o intrprete e o aplicador do direito devem estar

    atentos s peculiaridades referentes ao mbito federal. As demandas apresentam diferenas

    marcantes, sobretudo porque predominam na Justia Federal lides que tratam

    preponderantemente de matria de direito, enquanto o inverso ocorre no mbito estadual, em

    que h prevalncia da matria ftica. Outro aspecto relevante que deve ser levado em conta

    que na Justia Federal, quase na totalidade dos processos, em um dos polos da relao

    processual estar presente uma entidade de interesse pblico, versando as lides sobre direito

    pblico, enquanto na rea estadual prevalecem as relaes de direito privado entre particulares.12

    No decorrer deste estudo, sero citados enunciados do FONAJEF,13os quais, embora no

    vinculem os juzes, servem de orientao do que pensa a maioria dos membros participantes

    daquela reunio para debatese deliberaes.

    5 Inovaes e peculiaridades

    As principais modificaes introduzidas pela sistemtica dos Juizados Especiais Federais

    em comparao ao processo civil clssico at ento em vigor so as seguintes:

    a) eliminao dos privilgios processuais da Fazenda Pblica: no mbito dos Juizados no

    h prazo em qudruplo e em dobro para defesa e recurso, respectivamente, e o reexame

    necessrio (arts. 9. e 13);

    b) surgimento da figura do representante judicial terceiro designado pela parte autora

    para represent-lo, sem a necessidade de ser advogado (caput do art. 10). A OAB entrou com

    ao declaratria de inconstitucionalidade contra este artigo, alegando que o advogado

    indispensvel para o andamento do processo, mas o STF decidiu que o art. 10 constitucional

    10 Nos encontros dos magistrados que atuam nos Juizados Especiais Estaduais so editados enunciadosque representam a homogeneizao dos pensamentos dos magistrados acerca de determinadoinstituto ou evento em sede de Juizados Especiais Cveis. No constituem fonte jurisprudencial e novinculam o juiz, mas representam forte argumento para o embasamento de teses (OLIVEIRA,Francisco de Assis; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Op. cit., p. 15-16).

    11Art. 1. So institudos os Juizados Especiais Cveis e Criminais da Justia Federal, aos quais se aplica,no que no conflitar com esta Lei, o disposto na Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.

    12ALVIM, Jos Eduardo Carreira.Juizados especiais federais.Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 4.13 O FONAJEF - Frum Nacional dos Juizados Especiais Federais um evento anual realizado pela

    AJUFE (Associao dos Juzes Federais), no qual so discutidas questes polmicas ligadas aosJuizados Especiais Federais.

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    nas aes de natureza cvel.14Importante observar que nas concluses do FONAJEF exige-se

    uma pertinncia subjetiva entre o representante legal e o detentor do direito, sob pena de se

    permitir que qualquer pessoa exera a advocacia, sem estar habilitada para tanto;15

    c) simplificao das providncias para a citao e intimao, entre elas a utilizao da via

    eletrnica, conforme previsto no art. 8. da Lei 10.259/2001, tal qual na Lei 10.419/2006, que

    regulamentou a informatizao de todos os processos judiciais, e no apenas nos Juizados

    Especiais Federais. Deve ser uniformizada a plataforma para utilizao de um nico processo

    eletrnico no mbito do Poder Judicirio (existe comisso formada por determinao do CNJ

    Conselho Nacional da Justia para esse fim), sob pena de haverem tantos sistemas quantos

    tribunais federais e tribunais estaduais, o que impedir ou dificultar o possvel trmite dos

    processos para o STF e o STJ;

    d) possibilidade de conciliao ou transao das partes, inclusive para o procuradorpblico (par. n. do art. 10);

    e) realizao do exame tcnico (percia) por pessoa habilitada, antes da audincia de

    conciliao (art. 12);

    f) inverso do nus da apresentao dos documentos que constituem a prova em favor do

    autor, devendo a entidade pblica r fornecer ao Juizado a documentao de que disponha para

    o esclarecimento da causa, apresentando-a at a instalao da audincia de conciliao (art. 11).

    Contudo, a inverso do nus da apresentao de documentos no absoluta ou irrestrita, pois razovel que o autor comprove que h ou houve a relao jurdica entre as partes, sob pena de

    transferir entidade r nus no previsto pela legislao e que inviabiliza o cumprimento da

    norma disposta no artigo 11. No caso de extratos bancrios de poupana dos planos econmicos

    Vero (1989), Collor I e II (1990 e 1991), razovel a exigncia de um mnimo da prova da

    existncia da caderneta de poupana ao tempo em que houve os expurgos inflacionrios, como,

    por exemplo, um comprovante de depsito ou algum extrato de um perodo anterior ou prximo

    ao pleiteado;

    g) eliminao do processo autnomo de execuo (arts. 16 e 17);

    h) cumprimento da sentena independentemente da expedio de precatrio, com

    pagamento efetuado no prazo de 60 dias, contados da requisio feita pelo juiz mediante ofcio,

    alm da possibilidade de o prprio juiz sequestrar numerrio das contas bancrias dos entes

    pblicos em caso de descumprimento (art. 17);

    14ADI 3168, Relator: Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2006.15Nesse sentido, a TR-SC anulou processo em que a parte autora foi representada por contador (Rel. Juiz

    Federal Joo Batista Lazzari). No Paran, h contadores que se autodenominam de consultoresprevidencirios e, muitas das vezes, querem exercer, ilicitamente, o papel de advogado, o que tem sidocombatido com rigor pelos juzes federais.

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    i) criao do incidente de uniformizao de interpretao de lei federal quando houver

    divergncia entre decises sobre questes de direito material proferidas por Turmas Recursais

    na interpretao da lei;

    j) novos rgos vinculados aos Juizados Especiais Federais: Turmas Recursais, Turmas

    Regionais de Uniformizao e Turma Nacional de Uniformizao (art. 14);

    k) atribuies jurisdicionais ao desembargador federal coordenador dos Juizados

    (integrante do Tribunal Regional Federal da respectiva Regio) e ao coordenador do Conselho

    da Justia Federal (Ministro integrante do Superior Tribunal de Justia que dirige o Conselho)

    (art. 14);

    l) a diminuio do nmero de recursos (art. 5.).

    A Lei 9.099/1995, que dispe sobre os Juizados Especiais Estaduais, aplica-sesubsidiariamente, consoante disposio expressa no art. 1. da Lei 10.259/2001. As inovaes l

    consagradas so aplicadas aos juizados especiais federais no que no estiverem em conflito,

    v.g., possibilidade de gravao dos atos processuais, inexistncia de condenao nas custas e

    nos honorrios em primeiro grau, salvo comprovada m-f, Turmas Recursais compostas de

    juzes de primeiro grau.

    Aplicam-se subsidiariamente aos Juizados Especiais Federais os princpios da oralidade,

    simplicidade, informalidade, celeridade e economia processual, buscando sempre a composio

    das partes. Esses princpios so de fundamental importncia e refletem a nova roupagem

    instaurada com a implantao dos juizados, notadamente pela valorizao do juiz de 1. grau

    (no h mais reexame necessrio) e do procurador pblico (possibilidade de celebrar

    conciliao, transao e desistir de recursos).

    No se trata de uma justia de segunda classe ou de menor importncia, mas sim de uma

    nova forma de prestao jurisdicional mais gil, eficiente, que procura responder com rapidez s

    demandas trazidas pelas partes.16A experincia recente comprova a significativa simplificao

    dos atos processuais. A satisfao e o contentamento dos jurisdicionados afastam a famosafama morosa do Poder Judicirio. H de ser eliminada a velha mxima de que os pobres s

    vo justia como rus.

    So considerveis os avanos processuais alcanados com a nova disciplina, notadamente

    quanto celeridade e efetividade da prestao da tutela jurisdicional. H aproximao do

    16No se pode esquecer que o juiz do juizado (e o prprio juizado em si) o rgo da jurisdio, dotadodos mesmos poderes e atribuies de qualquer outro juiz. O juizado especial no pode ser visto comoum rgo de segunda categoria, reservado como alternativa para a parte. ele rgo da jurisdio,caminho adequado para a soluo de conflitos de interesse de menor complexidade, sendo institutoadequado e devidamente instrumentalizado para tanto (ARENHART, Srgio Cruz; MARINONI,

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    jurisdicionado com o Poder Judicirio, facilitando o acesso Justia.

    6 Competncia cvel dos Juizados Especiais na Constituio: procedimento obrigatrio

    e causas de menor complexidade

    A Constituio, prev no art. 98, ao lado da diviso tradicional dos rgos jurisdicionais, 17a

    criao dos Juizados Especiais, providos por juzes togados, ou togados e leigos, competentes

    para a conciliao, o julgamento e a execuo de causas cveis de menor complexidade e

    infraes penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumarssimo,18

    permitidos, nas hipteses previstas em lei, a transao e o julgamento de recursos por Turmas de

    juzes de primeiro grau. O pargrafo primeiro19possibilita a criao dos Juizados Especiais no

    mbito federal.20

    Os Juizados Especiais foram previstos constitucionalmente dentro da estrutura do PoderJudicirio, sendo sua criao obrigatria (art. 98).21 So rgos jurisdicionais diferenciados

    pelas peculiaridades que envolvem o processo e o julgamento das causas de menor

    complexidade, por juzes togados ou togados e leigos.

    Tm sua competncia fixada por lei infraconstitucional, com o que se estabelece o respeito

    ao princpio do juiz natural. O referido princpio deve ser interpretado em sua plenitude, de

    forma a proibir-se, no s a criao de tribunais ou juzos de exceo, mas tambm de respeito

    absoluto s regras objetivas de determinao de competncia, para que no seja afetada a

    independncia e a imparcialidade do rgo julgador.22

    A previso constitucional dos juizados especiais revela a inteno do legislador constituinte

    na criao desses rgos de jurisdio ao lado dos demais rgos jurisdicionais, em condies

    de igualdade, apenas lhes atribuindo competncias diferenciadas, ou seja, nos casos dos juizados

    Luiz Guilherme. Manual do processo de conhecimento: a tutela jurisdicional atravs do processo deconhecimento. So Paulo: RT, 2001. p. 663).

    17Art. 92. So rgos do Poder Judicirio: I o Supremo Tribunal Federal; II O Superior Tribunal deJustia; III os Tribunais Regionais Federais e Juzes Federais; IV os Tribunais e Juzes do

    Trabalho; V os Tribunais e Juzes Eleitorais; VI os Tribunais e Juzes Militares; VII os Tribunaise Juzes dos Estados e do Distrito Federal e Territrios.

    18 Considera-se apego ao formalismo dos autores que insistem em denominar o procedimento desumarissimo (com i), porque houve mero erro de digitao na edio do texto legal. Simplesequvoco no pode implicar neologismo divorciado da inteligncia humana.

    19Anterior pargrafo nico transformado em pargrafo primeiro pela EC 45/2004.20 No regime constitucional pretrito, o critrio do valor da causa foi utilizado para determinar a

    competncia dos juzes com investidura limitada no tempo, para julgar causas de pequeno valor. Acompetncia do juiz togado vitalcio podia ser prorrogada para abranger as causas do juiz deinvestidura limitada, jamais o inverso (CARNEIRO, Athos Gusmo. Op. cit., p. 176).

    21 Integrantes da Justia ordinria, os Juizados Especiais possuem assento constitucional, comcompetncia ali delineada, sendo que o constituinte delegou ao legislador federal o elenco de causasque seriam submetidas aos novos rgos (SALOMO, Luiz Felipe. Juizado especial cvel -Competncia - Inconstitucionalidade da opo ao autor para ingressar nos juizados especiais.Revista

    Jurdica, Porto Alegre, ano XLV, n. 240, p. 9, out. 1997).

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    a competncia para o julgamento das causas de menor complexidade, enquanto que as demais

    demandas so da competncia dos demais rgos jurisdicionais.

    Passamos a expor os argumentos que sustentam a tese da obrigatoriedade da utilizao dos

    juizados especiais para as demandas de menor complexidade.

    A escolha, a bel-prazer do autor, do juzo monocrtico implicaria a escolha do rgo

    jurisdicional e, em consequncia, do respectivo rgo revisor, na hiptese de recursos,

    traduzindo-se em privilgio exacerbado a uma das partes em detrimento da outra, podendo ferir

    direitos constitucionalmente assegurados, v.g., o devido processo legal, a ampla defesa e o

    contraditrio.23

    Em nenhuma outra Justia prevista no texto constitucional h opo para ali ingressar ou

    no, nas causas de sua competncia. Soaria como rematado absurdo dizer que o ru pode (ou

    no) ser julgado por Jri Popular em acusao de homicdio, atendendo a escolha do MP.24

    Os Juizados, sendo rgos do Poder Judicirio, tm no s procedimento e caractersticas

    especiais, mas tambm estruturas prprias, previstas nas leis que os criaram.25O procedimento e

    o juzo so especificadamente criados um para o outro, com vistas a um determinado objetivo e

    no pressuposto de que a operao de um supe a presena do seu correspectivo, sempre visando

    facilitao do aceso Justia.26 Como foi visto, os prazos so diferenciados, os recursos

    restritos, os atos processuais so concentrados, o nmero de testemunhas menor, prevalece a

    22MORAES, Alexandre de. Op. cit., p. 108.23 Importa reafirmar que a competncia est inserida no conceito de devido processo legal e dele

    decorrente, constituindo-se, pois, em garantia constitucional de direitos individuais e coletivos. Nessamedida, de rigor que, previamente demanda, o jurisdicionado tenha conhecimento do rgo que irdecidir a controvrsia, imprimindo maior segurana s relaes jurdicas e assegurando aimparcialidade do julgador, requisito indispensvel perfeita concretizao do due process of law(PERRINI, Raquel Queiroz. Op. cit., p. 289).

    24 Alm do mais, entregar a opo apenas ao autor feriria de morte outro ordenamento constitucional,qual seja igualdade das partes perante a lei e perante o processo (art. 5., LV, da CF/1988), porquantoo ru no dispe de escolha para litigar, ficando ao talante do autor (SALOMO, Luiz Felipe. Op.cit., p. 9).

    25 Sobre processo e procedimento: ARRUDA ALVIM., Manual..., cit., v. 1, p. 125-137; CINTRA,

    Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel. Op. cit., p.301-331; DINAMARCO, Cndido Rangel. A instrumentalidade do processo. 9. ed. So Paulo:Malheiros, 2002. p. 126-137; GRECO FILHO, Vicente. Op. cit., v. 2, p. 79-87; SILVA, Ovdio A.Baptista da. Curso..., cit., p. 111-156; WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flvio RenatoCorreia de; TALAMINI, Eduardo. Op. cit., p. 146-149.

    26 Ao lado dos procedimentos especiais de que temos at aqui tratado, cuja justificao se encontra naespecificidade da relao jurdico-material a ser tratada, vem se impondo rapidamente uma novacategoria, aquela dos procedimentos que, a mais de serem especiais, devem ser conduzidos por juzostambm especiais. No se trata de simples acrscimo categoria dos processos que se precisavamacomodar formalmente configurao diferenciada do rgo julgador (feitos da competncia doTribunal do Jri, processos da competncia originria dos colegiados etc.): aqui, procedimento e juzoso especificadamente criados um para o outro, com vistas a um determinado objetivo e nopressuposto de que a operao de um supe a presena do seu correspectivo. Tal o caso dos juizados

    especiais e de pequenas causas, umbilicalmente ligados ao procedimento que para eles se criou,especial e exclusivamente (FABRCIO, Adroaldo Furtado. Justificao terica dos procedimentosespeciais.Revista Forense,Rio de Janeiro, v. 330, p. 7, abr.-maio-jun. 1995).

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    autocomposio, no se admite a reconveno, vedada a ao rescisria, entre outras diferenas.

    A matria de procedimento27 de ordem pblica e de natureza cogente.28As partes no tm

    a faculdade de escolher o procedimento que mais vantajoso, nem dispor quanto a eles ou

    subtrair-se das suas consequncias, sob pena de ofensa ao princpio da igualdade. A forma de

    procedimento no posta no interesse das partes, mas da efetiva prestao jurisdicional.29

    Tambm no h possibilidade de mesclar os diversos procedimentos previstos, criando um

    procedimento heterogneo, ainda que as partes concordem.30

    Observe-se que nem as leis que tratam dos Juizados Especiais nem a Constituio contm

    disposio que autorize o emprego de um rito processual no lugar do outro. Ainda que houvesse

    consenso das partes, no se poderia substituir um procedimento por outro, porque a adoo de

    um determinado rito atende a relevantes interesses de ordem pblica, seja da mais rpida e

    eficaz prestao jurisdicional, seja da natureza especial de certas matrias. Se a lei determinouum tipo de procedimento para certo tipo de ao, porque considerou mais adequada e eficiente

    a prestao jurisdicional.31

    Em posicionamento contrrio ao esposado, proclama-se a inconstitucionalidade do

    pargrafo 3. do art. 3. da Lei 10.259/2001, sob os argumentos de que o microssistema dos

    27Com efeito, o processo o conjunto mesmo dos atos entre si encadeados e orientados no sentido dasoluo do litgio, ao passo que por procedimentose designam a forma, a ordem e a disposio dosmesmos na srie, variveis segundo as exigncias da relao de direito material a ser tratada ou

    segundo outras necessidades e convenincias que ao legislador tenham impressionado. Com efeito,variveis e multifrios so os provimentos jurisdicionais que podem resultar do processo civil, e a essamultiplicidade corresponde, por vezes, a necessidade de tambm variarem a quantidade, a substncia ea disposio dos atos conducentes quele resultado. O nmero, a natureza e a posio relativa que taisatos assumem no conjunto afeioam-se s diferenciadas necessidades, determinando ritos ouprocedimentos. O procedimento , pois, o contedo cujo continente o processo; aquele em relaoa este como a dezena em face do nmero concreto que pode ser menor do que a dezena, ou contermais de uma (FABRCIO, Adroaldo Furtado. Justificao..., cit., p. 4).

    28 As normas sobre procedimentos so de ordem pblica como, de resto, todas as normas processuais.Elas esto colocadas no no interesse pura e simplesmente das partes litigantes, muito menos nointeresse do autor ou do ru isoladamente. Esto colocadas no interesse da Justia. Porque no s spartes que se d essa vantagem; as normas de procedimento tambm so ditadas em funo do juiz;tambm so ditadas em funo das pessoas que nem esto perante o Judicirio, mas que tm o direito

    de, quando acorrerem ao Judicirio, encontr-lo desafogado, aberto para que a sua pretenso sejadesde logo apreciada (FORNACIARI JR., Clito. Do processo e do procedimento. Os diversos tiposde procedimentos. A escolha do processo e do procedimento. Revista do Advogado, Associao dosAdvogados de So Paulo, ano 2, n. 7, p. 9, out.-dez. 1981).

    29THEODORO JR., Humberto. Op. cit., p. 340.30FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias; TOURINHO NETO, Fernando da Costa.Juizados especiais federais

    cveis e criminais: comentrios Lei 10.259, de 10.07.2001. So Paulo: RT, 2002. p. 100.31 Sobre a opo do autor pelos Juizados Especiais Federais, Teori Albino Zavaski bem esclarece que

    isso facilita, porque se disser: proponha onde quiser facilita tudo; porm, penso, sinceramente, serum absurdo a soluo dada ao juizado especial estadual. Matria de procedimento no matria quepossa ficar a critrio do autor. Se o autor escolher um procedimento que tem mais recursos, penso queesse tratamento seja desigual para a parte. No pode ficar a critrio do autor escolher o procedimentoe, sobretudo, escolher se cabe recurso e de que tipo, ou se a causa vai ou no para o STJ. Trata-se dematria de ordem pblica (ZAVASKI, Teori Albino. Juizados especiais cveis competncia. In:

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    Juizados Especiais Federais Cveis limita o nmero de recursos, no permite ao rescisria

    contra seus julgados, limita a produo de provas e estabelecido por opo do legislador e no

    pela natureza do direito material. Esta corrente afirma que o demandante pode escolher se

    pretende ajuizar sua demanda perante um Juizado Especial Federal Cvel ou perante a Vara

    Federal comum.32

    A Constituio somente determinou que os Juizados Especiais tenham competncia para

    apreciar as causas de menor complexidade, mas no estabeleceu um rol de quais seriam estas

    causas nem mencionou os critrios dessa escolha, tarefa que incumbe ao legislador

    infraconstitucional em obedincia ao escopo constitucional. Os arts. 3., 4. e 8. da Lei

    9.099/1995 definem a competncia do Juizado Estadual Cvel. Na esfera federal, a Lei

    9.957/2000 estabelece a competncia do procedimento sumarssimo na Justia do Trabalho e os

    arts. 3., 6. e 20 da Lei 10.259/2001 preveem a competncia do Juizado Especial Federal Cvel.A Lei 10.259/2001 no fez meno expressa ao critrio de menor complexidade da matria,

    objeto do litgio, para fixar a competncia originria dos Juizados Especiais Federais. Da

    interpretao do texto constitucional no art. 98, I, combinado com o seu pargrafo primeiro,33

    subsume implicitamente que o critrio orientador da definio da competncia dos Juizados

    Federais o da menor complexidade da causa, verificado segundo a interpretao conjunta de

    todo o microssistema.34

    O legislador infraconstitucional, ao estabelecer a competncia dos Juizados, presume a

    menor complexidade para as causas de pequeno valor, misturando duas realidades distintas que

    podem levar a aberraes e desconfortos nos casos de matria probatria complexa ou de alta

    indagao jurdica. No se confundem as causas de pequeno valor com as de menor

    complexidade. A menor complexidade no est relacionada ou ligada ao valor da causa, mas

    sim ao contedo e matria discutida no processo. Uma causa pode ser de elevado valor e de

    pouca complexidade. As pequenas causas so aquelas de reduzido valor econmico, mas que

    podem ser extremamente complexas. A redao das Leis 9.099/1995 e 10.259/2001, ao

    estabelecer a competncia em razo do valor, aparentemente elimina essa dualidade.

    SEMINRIO JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS INOVAES E ASPECTOS POLMICOS. 2002,Braslia.Anais..., Braslia: Brbara Bela, 2002. p. 172).

    32 CMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais: uma abordagemcrtica, 4 ed., Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2008, p. 212 e 213.

    33Anterior pargrafo nico transformado em pargrafo primeiro pela EC 45/2004.34Assim, o art. 3. da Lei em exame abre um leque enorme para o ajuizamento de demandas perante os

    Juizados Especiais Federais, porquanto genrico ao definir quais seriam essas causas. Obviamenteque esse inciso haver de ser interpretado em sintonia com todo o microssistema e, em particular, coma linha mestra definida no art. 98, I, c/c o seu pargrafo nico da CF, que delimitam os contornos dacompetncia s causas de menor complexidade (FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias; TOURINHO

    NETO, Fernando da Costa.Op. cit., p. 121). , por isso, absoluta a competncia do juizado especial,quanto as causas arroladas no art. 3., desde que seja de menor complexidade a questo(ARENHART, Srgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme.Op. cit., p. 663).

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    Com fundamento na redao do pargrafo nico35 do art. 98 da CF, inserida pela EC

    22/1999, que estabeleceu que: Lei federal dispor sobre a criao de juizados especiais no

    mbito da Justia Federal, existe corrente que defende que a Constituio Federal outorgou a

    disciplina integral da matria dos Juizados Especiais Federais para a legislao ordinria, com

    isso a complexidade ftica ou jurdica da causa, no mbito federal, no seria, do ponto de vista

    constitucional, critrio norteador da competncia.36Esse o entendimento da Turma Recursal

    do Juizado Especial Federal Previdencirio de So Paulo que expediu o Enunciado 25, do

    seguinte teor: A competncia dos Juizados Especiais Federais determinada unicamente pelo

    valor da causa e no pela complexidade da matria (art. 3. da Lei 10.259/2001. Argumenta tal

    corrente, ainda, que caso se considere que a maior complexidade delimita a competncia dos

    Juizados Especiais Federais, poder-se-ia concluir que o art. 3,, 1., da Lei 10.259/2001, ao

    contrrio do que fez a Lei 9.099/1995, optou por definir as causas de maior complexidade,

    arrolando as hipteses de excluso nos incisos I, II, III e IV. No estando o caso concreto

    enquadrado em algum daqueles incisos, e sendo o valor da causa igual ou inferior a sessenta

    salrios mnimos, a competncia dos Juizados Especiais Federais.37

    35Anterior pargrafo nico transformado em pargrafo primeiro pela EC 45/2004.36 SANTOS, Marisa Ferreira dos. CHIMENTI: Ricardo Cunha. Juizados especiais cveis e criminais

    federais e estaduais, tomo II, Coleo sinopses jurdicas, v. 15, 6. ed., So Paulo: Saraiva, 2008, p. 2

    e 3.37 SANTOS, Marisa Ferreira dos. CHIMENTI: Ricardo Cunha. Op. cit., p. 3. CMARA, AlexandreFreitas. Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais: uma abordagem crtica, 4 ed., Rio deJaneiro: Lmen Jris, 2008, p. 210 e 211.

    38 H quem sustenta a subsistncia no texto constitucional de dois Juizados: do art. 98 (menorcomplexidade), com competncia em razo da matria, e do art. 24, X (criao, funcionamento eprocesso do juizado de pequenas causas), com competncia em razo do valor (FRIGINI, Ronaldo.Comentrios lei de pequena causas. So Paulo: Livraria e Editora de Direito, 1995. p. 45-46). H,no entanto, a possibilidade de se manter essa distino, aceitando-se a tese de que os juizados de quetrata o artigo 24, inciso X, so juizados de conciliao, sem atividade jurisdicional, denominados de

    juizados informais de pequenas causas (JIPC), ou cuja jurisdio se exerce somente quando houverexpressa opo das partes. Nessa hiptese, frente ao que estabelece o artigo 24, inciso X, ficaria porconta dos Estados-membros, de forma concorrente com a Unio, a competncia para legislar em

    matria de processo, anteriormente referida, entendendo-se, nessa situao, a palavra processo emsentido amplo (includos os equivalentes jurisdicionais) e no no sentido estrito de processo

    jurisdicional, haja vista que esses juizados no teriam, regra geral, atividade propriamentejurisdicional, mas principalmente conciliatria e de mediao (RODRIGUES, Horcio Wanderlei.Juizados especiais cveis: inconstitucionalidades, impropriedades e outras questes pertinentes.Genesis, Curitiba, n. 1, p. 24, jan.-abr. 1996). Essa concepo que separa os Juizados de PequenasCausas dos Juizados Especiais no , regra geral, apresentada pelos doutrinadores. Parece haver apreferncia pela interpretao de que houve na redao do texto constitucional um erro tcnico. Nessainterpretao, em realidade, a referncia aos Juizados de Pequenas Causas equivaleria a umareferncia aos Juizados Especiais. O principal argumento nesse sentido o de que os Juizados dePequenas Causas no constam do captulo da Constituio destinado ao Poder Judicirio. Se foremconsiderados como distintos dos Juizados Especiais, continuaro eles, consequentemente, comcompetncia por opo do autor, bem com sua criao pelos Estados no ser obrigatria. A

    interpretao que estabelece serem ambos os Juizados (de Pequenas Causas e Especiais) a mesmainstituio evita esta possibilidade (RODRIGUES, Horcio Wanderlei. Lei n. 9.099/95: aobrigatoriedade da competncia e do rito.Ajuris,n. 67, p. 189-190, jul. 1996).

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    Em contra-argumentao, pode-se objetar que no se pode interpretar o pargrafo primeiro39

    do art. 98 da CF de forma divorciada do seu caput. Seria como querer analisar um fruto sem

    levar em conta a rvore que o gerou. Assim, em que pese o art. 3. da Lei 10.259/2001 no

    mencionar expressamente o critrio da menor complexidade da matria objeto do litgio para

    fixar a competncia originria dos Juizados Especiais Federais, cuida-se de aspecto implcito

    que decorre do prprio texto constitucional (CF, art. 98, I c/c pargrafo primeiro).40

    Existe quem sustente a subsistncia no texto constitucional de dois Juizados: o do art. 98

    (menor complexidade), com competncia em razo da matria, e do art. 24, X (criao,

    funcionamento e processo do juizado de pequenas causas), com competncia em razo do

    valor,41o que no se afigura a melhor interpretao. O aparente conflito de normas resolvido

    da seguinte maneira: H, no entanto, a possibilidade de se manter essa distino, aceitando-se a

    tese de que os juizados de que trata o artigo 24, inciso X, so juizados de conciliao, sematividade jurisdicional, denominados de juizados informais de pequenas causas (JIPC), ou cuja

    jurisdio se exerce somente quando houver expressa opo das partes. Nessa hiptese, frente

    ao que estabelece o artigo 24, inciso X, ficaria por conta dos Estados-membros, de forma

    concorrente com a Unio, a competncia para legislar em matria de processo, conforme

    anteriormente referido, entendendo-se, nessa situao, a palavra processo em sentido amplo

    (includos os equivalentes jurisdicionais) e no no sentido estrito de processo jurisdicional, haja

    vista que esses juizados no teriam, regra geral, atividade propriamente jurisdicional, mas

    principalmente conciliatria e de mediao.42

    Comunga-se das seguintes assertivas: Essaconcepo que separa os Juizados de Pequenas Causas dos Juizados Especiais no , regra geral,

    apresentada pelos doutrinadores. Parece haver a preferncia pela interpretao de que

    houve na redao do texto constitucional um erro tcnico.Nessa interpretao, em realidade,

    a referncia aos Juizados de Pequenas Causas equivaleria a uma referncia aos Juizados

    Especiais. O principal argumento nesse sentido o de que os Juizados de Pequenas Causas no

    constam do captulo da Constituio destinado ao Poder Judicirio. Se forem considerados

    como distintos dos Juizados Especiais, continuaro eles, consequentemente, com competncia

    por opo do autor, bem como sua criao pelos Estados no ser obrigatria. A interpretao

    que estabelece serem ambos os Juizados (de Pequenas Causas e Especiais) a mesma instituio

    evita essa possibilidade.43

    A Constituio disps sobre a criao dos Juizados Especiais Federais no mbito federal,

    39Alterado para 1 pela EC n 45/2004.40FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias; TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 119 e 120.41 FRIGINI, Ronaldo. Comentrios lei de pequena causas. So Paulo: Livraria e Editora de Direito,

    1995. p. 45-4642

    RODRIGUES, Horcio Wanderlei.Juizados especiais cveis: inconstitucionalidades, impropriedades eoutras questes pertinentes. Genesis, Curitiba, n. 1, p. 24, jan.-abr. 1996

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    mas no quanto a sua finalidade, que proporcionar julgamentos cleres para causas de menor

    complexidade. O valor dado causa no pode ser considerado critrio nico e absoluto para se

    apurar o que seja causa complexa. A interpretao do critrio menor complexidade no pode ser

    subjetiva, mas sim objetiva, pautada nos critrios dispostos na legislao.

    Nesse sentido foi editado o art. 51, II, da Lei 9.099/1995,44que possibilita ao juiz togado do

    Juizado verificar a adequao do pedido do autor com o procedimento e, se o caso for de maior

    complexidade, extinguir o processo sem julgamento do mrito, afirmando a competncia

    absoluta dos Juizados Especiais que declarada de ofcio pelo juiz. Apesar da previso legal de

    extino de processo, se considerarmos que o processo esteja regular e suficientemente instrudo

    para tramitao em vara comum, nada impede a remessa dos autos ao juiz competente nos

    moldes do processo civil tradicional, em consonncia com os critrios orientadores do Juizado

    Especial, especialmente o princpio da celeridade e a economia processual.Incumbe s partes e ao juiz velar pela regularidade procedimental segundo as normas e

    princpios consagrados pelo legislador. Assim, as aes que apresentam questes jurdicas de

    alta complexidade ou necessitam da produo de provas mais detalhadas (cartas rogatrias,

    citao por edital, elevado nmero de testemunhas) no so de menor complexidade e esto

    excludas da competncia do Juizado, pois essa a interpretao que se coaduna com a

    determinao constitucional e os objetivos e os princpios norteadores dos Juizados Especiais.

    Entendimento diverso implica inmeros incidentes processuais. Para Bochenek, a sentena

    proferida em processo de competncia do juzo da vara comum, julgado pelo juzo do Juizado

    Especial e vice-versa, inexistente, suscetvel de ao rescisria no juzo comum, conforme o

    art. 485, II, do CPC. Imagine-se um segurado da previdncia social que ajuza uma ao a fim

    de que seja reconhecido seu direito aposentadoria e o valor da causa ultrapasse o limite de

    alada. Uma vez processada e julgada a ao no Juizado Especial Federal, cuja competncia

    absoluta, a sentena transitada em julgado inexistente. Se a sentena for improcedente, nada

    impede que o segurado ajuze a mesma ao na vara comum. Se procedente, a autarquia

    previdenciria poder ajuizar ao declaratria de inexistncia,

    45

    uma vez que inadmissvel aao rescisria nos Juizados Especiais46para desconstituir o julgado.

    Com o devido respeito, discorda-se da Turma Recursal do Paran que vem adotando o

    posicionamento de cortar o excesso da sentena recorrida que tenha condenado a parte r em

    43RODRIGUES, Horcio Wanderlei. Lei n. 9.099/95: a obrigatoriedade da competncia e do rito. Ajuris,n. 67, p. 189-190, jul. 1996

    44 Art. 51. Extingue-se o processo, alm dos casos previstos em lei: (...) II quando inadmissvel oprocedimento institudo por esta lei ou seu prosseguimento, aps a conciliao.

    45Sobre ao declaratria de inexistncia, WAMBIER, Tereza Arruda Alvim.Nulidades do processo e da

    sentena.4. ed. So Paulo: RT, 1998. p. 349-382.46 Art. 59 da Lei n. 9.099/95: No se admitir ao rescisria nas causas sujeitas ao procedimento

    institudo por esta Lei.

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    valor superior a sessenta salrios mnimos, sob o fundamento de que ineficaz o captulo da

    sentena que extrapola o limite de alada dos Juizados Especiais Federais, fundada no art. 39 da

    Lei 9.099/1995, ainda que a parte autora no tenha renunciado expressamente ao valor que

    supera aquele limite por ocasio do ajuizamento da ao. Com isso, segundo a citada Turma,

    aproveitam-se os atos processuais j praticados e decide-se o recurso de forma imediata,

    prestigiando-se os princpios da simplicidade, da economia processual e da celeridade. A Turma

    Nacional de Uniformizao reformou a deciso proferida pela Turma Recursal do Paran, sob o

    fundamento da aplicao da coisa julgada e da Smula 17 da TNU que no admite renncia

    tcita em relao aos valores excedentes para fins de fixao do valor da causa (TNU. PEDILEF

    200833007122079. Rel. Jos Eduardo do Nascimento. J. 13.09.2010. P. 11.03.2011).

    Contudo, considerar, simplesmente, ineficaz a sentena transitada em julgado na parte

    excedente ao limite de alada importaria num injustificvel prejuzo para a parte que norenunciou expressamente ao valor que ultrapassasse sessenta salrios mnimos. Nessa hiptese,

    e, como no se trata de falta de jurisdio, mas de jurisdio exercida alm da alada, a soluo

    mais razovel consider-la totalmente vlida; mesmo porque, ainda que houvesse nulidade

    absoluta, seria incabvel contra ela ao rescisria.47

    De acordo com a Lei 10.259/2001, que delineia os contornos da determinao constitucional

    de causas de menor complexidade do art. 109, a competncia dos Juizados Federais aferida

    tomando por base os critrios: pessoal, valorativo, material, procedimental, territorial e

    funcional.

    7 Princpios orientadores dos Juizados Especiais

    Era muito arraigada no ensino jurdico, ainda na dcada de 90, a concepo de que a soluo

    jurdica deveria ser encontrada na legislao, doutrina e jurisprudncia, nessa ordem, e somente

    no caso de no se conseguir resolver o caso concreto que se partiria para o estudo dos

    princpios jurdicos. Isso foi alterado, modernamente, construindo-se uma nova forma de pensar

    o Direito, ultrapassando a tradio positivista que, em muitos casos, ainda est impregnada no

    ordenamento jurdico brasileiro.

    47ALVIM, Jos Eduardo Carreira; CABRAL, Luciana Gontijo Carreira Alvim. Op. cit., p. 178.52Trecho do voto da Turma de Uniformizao das Decises das Turmas Recursais dos Juizados Especiais

    Federais Coordenao-Geral Questo de Ordem 1 Rela. Liliane do Esprito Santo Roriz daAlmeida j. 12.11.2002 DJ02.12.2002, p. 611.

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    A Constituio Federal de 1988 provocou grande alterao no sistema jurdico, pois passou

    a ser a principal fonte de interpretao jurdica, superando o Direito Civil que era a vedete at

    ento, o que foi sedimentado pela doutrina e jurisprudncia.

    A criao e a instituio dos Juizados Especiais introduziu no ordenamento jurdico uma

    nova concepo no que diz respeito aos meios de resoluo dos litgios, orientados e informados

    pelos valores mais prticos, modernos e condizentes com o estgio atual da sociedade.

    A interpretao e a aplicao das disposies legais que tratam dos Juizados Especiais,

    inclusive quanto competncia, devem estar em consonncia e harmonia com esses princpios,

    sob pena de comprometer todo o sistema e desrespeitar o escopo constitucional.

    A eleio de tais princpios representa um complexo de ideias e de caracteres que servem

    para traduzir os valores que devem orientar o processo nos Juizados Especiais Federais. Seu

    norte principal deve ser a rpida e pronta resoluo do litgio, ou seja, deve representar uma

    aspirao de melhoria do funcionamento judicial, sob trs vertentes: a) uma vertente lgica, que

    pretende selecionar os meios eficazes e rpidos para pr fim ao litgio; b) uma vertente poltica,

    oferecendo o mximo de garantia social, com o mnimo de complicadores procedimentais; e c)

    uma vertente econmica, que torne o processo acessvel a todos, com reduo de custos e de

    durao.

    Tais vertentes ideais influenciam o processo dos Juizados, de modo que aqueles princpios

    eleitos na Lei 9.099/1995 deixam de se limitar ao campo terico, para perpassar toda adogmtica jurdica e apresentarem-se como um mote condutor da interpretao e da fixao de

    suas regras.52

    O ordenamento jurdico composto por um conjunto de normas (gnero) no qual so partes

    integrantes os princpios e as regras jurdicas (espcies),53que se situam em nveis distintos.54

    Os princpios possuem um grau maior de abstrao, so dirigidos a um nmero

    indeterminado de pessoas e circunstncias. As regras jurdicas so menos gerais, apresentam um

    grau maior de concretude, expressam um comando de tudo ou nada, sendo uma forma imediatade aplicao do direito. Os princpios, ao contrrio das regras, no contm diretamente uma

    ordem, mas apenas fundamentos direcionadores do sistema, critrios valorativos e axiolgicos,

    objetivos e prioridades que justificam e sustentam o ordenamento jurdico na formao,

    53BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 243-249.54 importante assinalar, logo de incio, que j se encontra superada a distino que outrora se fazia

    entre norma e princpio. A dogmtica moderna avaliza o entendimento de que as normas jurdicas, emgeral e as normas constitucionais, em particular, podem ser enquadradas em duas categorias diversas:as normas-princpio e as normas-disposio. As normas-disposio, tambm referidas como regras,

    tm eficcia restrita s situaes especficas s quais se dirigem. J as normas-princpio, ousimplesmente princpios, tm, normalmente, maior teor de abstrao e uma finalidade mais destacada

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    interpretao e aplicao do direito. As regras encontram-se expressamente na legislao,

    enquanto os princpios nem sempre esto expressos. Os princpios podem at ter aparncia

    normativa, expressa nas legislaes, mas no constituem propriamente regras jurdicas, pois no

    esto prescritos com fora coercitiva.55

    Estamos na fase ps-positivista, quando os princpios constituem cdigo de intenes, de

    interpretao e de aplicao do Direito em vista de seu fim, que a justia. O princpio no

    deriva da lei, mas sim, do senso de justia e tico; daquilo que vai sendo construdo

    paulatinamente no tempo, com a luta dos povos pelo seus direitos, nem sempre com progresso

    linear, passando por avanos e retrocessos. No h dvidas de que se a regra disser sim e o

    princpio dizer no, prevalecer o no. Vencer sempre o princpio quando em contradio

    com a regra, j que o acessrio deve seguir o principal e o inverso no verdadeiro.56

    O princpio jurdico norma de hierarquia superior das regras, pois determina o sentido eo alcance destas, que no podem contrari-lo, sob pena de pr em risco a globalidade do

    ordenamento jurdico. Deve haver coerncia entre os princpios e regras, no sentido de que o

    fluxo vital vai daqueles para estas.57

    Os princpios jurdicos so proposies genricas cuja funo consiste em integrar e

    harmonizar logicamente todo o sistema jurdico, dirigindo, orientando, iluminando e verificando

    a carga normativa das regras jurdicas, permitindo amoldar as previses legais acerca da

    dinmica dos fatos, ou seja, influenciam na plstica textual e redacional das regras jurdicas

    escritas existentes, potencializando-as. Os princpios atuam como bases, alicerces, estruturas do

    ordenamento jurdico.59

    A doutrina divide os princpios processuais em gerais e informativos. Os princpios

    informativos so considerados como axiomas, pois prescindem de demonstrao. No se

    baseiam em outros critrios que no os estritamente tcnicos e lgicos, no possuindo

    praticamente nenhum contedo ideolgico. So os princpios: a) lgico; b) jurdico; c) poltico;

    dentro do sistema (BARROSO, Luis Roberto.Interpretao e aplicao da Constituio.4. ed. rev.e atual. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 149).

    55CANOTILHO, J. J. Gomes.Direito constitucional e teoria..., cit., p. 1144.56RODRIGUES, Cassiano Garcia.Regras e princpios Alguns pontos de contato e de divergncia dasnormas jurdicas, Disponvel em:. Acesso em 20.08.2010.57 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de direito pblico. 4 ed. 2 tiragem. So Paulo:Malheiros, 2001, p. 143.

    59Miguel Reale ensina que os princpios se enquadram entre as verdades fundantes de um sistema de

    conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas tambmpor motivos de ordem prtica de carter operacional, isto , pressupostos exigidos pelas necessidadesda pesquisa e da prxis (Lies preliminares de direito. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 1977. p. 299).

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    e d) econmico. So princpios universais e praticamente incontrovertidos.60 Assim: a) o

    princpio lgico (seleo dos meios mais eficazes e rpidos de procurar descobrir a verdade e de

    evitar o erro); b) princpio jurdico (igualdade no processo e justia na deciso); c) o princpio

    poltico (o mximo de garantia social, com o mnimo de sacrifcio individual da liberdade); d) o

    princpio econmico (processo acessvel a todos, com vista ao seu custo e sua durao).61Os

    princpios gerais do processo servem para guiar o legislador, no trabalho de elaborao das

    normas jurdicas processuais. So aqueles princpios sobre os quais o ordenamento jurdico

    pode fazer a opo.62

    Em regra, o legislador no estabelece expressamente os princpios que se aplicam a

    determinada regra jurdica. Ao lado dos princpios gerais expressos h os no-expressos, ou

    seja, aqueles que se podem tirar por abstrao de normas especficas ou pelo menos no muito

    gerais: so princpios, ou normas generalssimas, formuladas pelo intrprete, que busca colher,comparando normas aparentemente diversas entre si, aquilo a que comumente se chama o

    esprito do sistema.63

    O art. 2. da Lei 9.099/1995 consagrou os critrios64 e princpios orientadores e

    informadores dos Juizados Especiais: oralidade, informalidade, simplicidade, economia

    processual, celeridade e autocomposio. So verdadeiros princpios processuais que constituem

    um complexo de todos os preceitos que originam, fundamentam e orientam o processo,65uma

    vez que os princpios antecedem aos critrios.66

    Alm desses princpios explcitos, verifica-se que no sistema implantado com os Juizados

    Especiais subsumem-se outros princpios implcitos, tais como: da equidade, do imediatismo, da

    concentrao, da identidade fsica do juiz, da irrecorribilidade das decises interlocutrias, alm

    dos princpios processuais assegurados constitucionalmente.67

    60NERY JR., Nelson. Princpios do processo civil na Constituio Federal.7. ed. So Paulo: RT, 2002.p. 30.

    61 CINTRA, Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel.Op. cit., p. 51.

    62WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flvio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo Op. cit., p.67.

    63BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 159.64 Considerando que os princpios processuais se traduzem em todos os preceitos que originam,

    fundamentam e orientam o processo, no h dvida de que o legislador, embora tenha utilizado nocitado dispositivo a expresso critrios, disps sobre alguns deles como ideais que representam umaaspirao de melhoria do mecanismo processual no que se relaciona especificamente com as causas decompetncia dos Juizados Especiais (MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais:princpios e critrios.Ajuris, Porto Alegre, n. 68, p. 7, nov. 1996).

    65FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias; TOURINHO NETO, Fernando da Costa.Op. cit., p. 89.66AMARAL E SILVA, Antonio Fernando Schenkel do. Juizados Especiais Federais Cveis: competncia

    e conciliao. Florianpolis: Conceito Editorial, 2007, p. 43.67WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flvio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo Op. cit., p.

    65.

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    7.1 Autocomposio

    Um dos principais objetivos dos Juizados Especiais que a resoluo dos litgios ocorra do

    modo mais eficaz e rpido possvel. A Exposio de Motivos da Lei 10.259/2001, no item 6,

    enaltece os objetivos dos Juizados Especiais Federais: propiciar o atendimento da enormedemanda reprimida dos cidados, que hoje no podem ter acesso prestao jurisdicional por

    fatores de custos, ou a ela no recorrem pela reconhecida morosidade decorrente do elevado

    nmero de processos em tramitao.

    Observando este escopo andou bem o legislador ao estabelecer novos meios alternativos de

    resolues dos conflitos, por meio da autocomposio, deixando para um segundo momento a

    litigiosidade.

    A autocomposio se d mediante tcnicas de aproximao das partes e resoluo decontrovrsias de forma menos traumtica, na procura da composio amigvel, e se revela na

    forma mais eficiente de soluo de conflitos. Na autocomposio h manifestao de vontade

    espontnea das partes e aceitao mtua a respeito de questes conflituosas existentes entre elas,

    tendo por escopo a pacificao social dos conflitos e a maior satisfao dos envolvidos, pois a

    deciso no imposta por uma sentena pelo magistrado, mas obtida pelo acordo entre as

    partes.68

    Na conciliao, a autocomposio exige o comparecimento das partes perante o juiz ou

    conciliador e acontece durante uma audincia realizada exatamente para este fim. Na prtica, os

    Juzes Federais perceberam que melhor marcar a audincia de conciliao, instruo e

    julgamento, pois se no houver sucesso na conciliao, aproveita-se a presena das partes e

    realiza-se a colheita da prova oral. Soma-se a isso o fato do custo do deslocamento para a parte

    autora, na maioria das vezes hipossuficiente. O autor e suas testemunhas sequer tm dinheiro

    para o nibus urbano. J a transao a autocomposio que chega em juzo j formalizada,

    aps a iniciativa exclusiva das partes. Pode ocorrer antes mesmo que o conflito de interesse seja

    apreciado em juzo, ou caso a lide j esteja instalada, at que ocorra o trnsito em julgado da

    sentena; contudo, essa sempre acontece fora do juzo e apenas comunicada a esse, para que o

    processo seja finalizado ou suspenso at o seu cumprimento total.

    H manifestao do princpio da autocomposio no art. 98 da Constituio, nos arts. 3.,

    12, 18 e no pargrafo nico dos arts. 10 e 11 da Lei 10.259/2001 e nos arts. 7., 17, 21 a 26, 53,

    2., da Lei 9.099/1995.

    7.2 Princpio da equidade

    68ALVIM, J Jos Eduardo Carreira.Juizados..., cit., p. 33-34.

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    Na anlise de cada caso concreto submetido sistemtica dos Juizados Especiais, o juiz

    adotar a deciso que reputar mais justa e equnime,69 atendendo aos fins sociais da lei e s

    exigncias do bem comum (art. 6. da Lei 9.099/1995).70

    A deciso judicial fundamentada na equidade uma deciso despida das limitaes

    impostas pela precisa regulamentao legal, nos casos em que o legislador no traar de

    imediato a exata disciplina em determinados institutos, deixando folga para a individualizao

    da norma, para o caso concreto, mediante os rgos judicirios.71

    No significa decidir contra a lei, mas acrescentar deciso contedo social, conforme as

    circunstncias do caso concreto.72O juiz poder mitigar o rigor excessivo do teor legal, dentro

    dos limites interpretativos que a prpria legislao admite, quando sua aplicao oferecer

    consequncias indesejveis e resultados drsticos, imorais, incompatveis com os ditames da

    justia.73

    No processo civil tradicional, a equidade s pode ser aplicada nos casos expressamente

    previstos em lei (art. 127 do CPC), diferentemente do que ocorre no processo penal

    (individualizao da pena), na jurisdio voluntria (art. 1.109 do CPC), na arbitragem (art. 2.

    da Lei 9.307/1996) e nos Juizados Especiais Estaduais e Federais (art. 6. da Lei 9.099/1995).74

    A deciso justa e equnime deve atender aos fins sociais da lei e s exigncias do bem

    comum. Atender aos fins sociais significa aplicar a lei para resolver o litgio das partes,

    proporcionando a tranquilidade social e satisfazendo os interesses da sociedade. No deve o juizaplicar a lei com o fim exclusivo de atender aos interesses das partes em conflito, deixando de

    lado os interesses gerais da coletividade, que representam as exigncias do bem comum.75

    aplicao da Smula n. 2, quando no se encontrava o procedimento administrativo para

    realizao dos clculos e apurao de nova RMI (renda mensal inicial), foi utilizada Tabela de

    69Dentro de um contexto axiolgico e teleolgico, deciso justa no aquela que simplesmente subsumea norma jurdica ao caso concreto, resolvendo a lide jurdica dentro dos contornos articulados na peainaugural. A justia do julgamento transcende o plano objetivo do sistema nomoemprico prescritivo

    para adentrar o campo da pacificao social, medida que os conflitos intersubjetivos significam umsintoma patolgico nas relaes de direito material, pela leso ou ameaa de leso ao direitosubjetivado (FIGUEIRA JR., Joel Dias; LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Comentrios lei dos

    juizados especiais cveis e criminais. So Paulo: RT, 1995. p. 87).70 Sobre equidade e tendncias de acesso Justia, ver CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Op.

    cit., p. 112.71 CINTRA, Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel.

    Op. cit., p. 148.72Sobre os contornos da aplicao da equidade esclarece Joel Dias Figueira Jnior: No se confunda, da

    mesma maneira, a to bem empregada expresso com a escola do direito livre ou, muito menos, com omalsinado direito alternativo (FIGUEIRA JR., Joel Dias; LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Op.cit., p. 92).

    73BARBI, Celso Agrcola. Op. cit., p. 391.74SOUZA, Carlos A. Mota de. Juizados de pequenas causas: escolas de equidade. RePro, So Paulo,v. 2,

    p .58-116, abr.-jun. 1990.75ALVIM, Jos Eduardo Carreira.Juizados...,cit., p. 144-145.

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    Clculos elaborada pela Seo Judiciria de Santa Catarina, realizando-se justia por equidade

    com fundamento na cincia matemtica. Na prtica, muitas decises aplicam a equidade, em

    especial nas matrias de incapacidade para fins previdencirio ou assistencial.

    Acrescente-se que o juiz dirigir o processo com liberdade para determinar as provas a

    serem produzidas, para apreci-las e para dar especial valor s regras de experincia comum ou

    tcnica (art. 6. da Lei 9.099/1995).

    As regras de experincia comum surgem pela observao do que ordinariamente acontece e

    fazem parte da cultura adquirida pelo magistrado.76So ampliados os poderes do juiz acerca da

    investigao dos fatos, a fim de apreciar e valorar livremente as provas trazidas ao processo. 77

    Ao lado do exame jurdico, o juiz deve se valer das experincias sociais, polticas, ideolgicas,

    entre outras.78

    As regras de experincia tcnica fazem parte do conjunto de conhecimentos especializados

    em determinada cincia, arte ou profisso. No so de conhecimento geral, necessitando o juiz

    do auxlio tcnico. Se o juiz do Juizado tiver conhecimento tcnico ou conseguir estas

    informaes a partir de meio idneo, v.g., livros e revistas especializadas, poder avaliar a prova

    com base nesse conhecimento, caso contrrio, dever valer-se de exame tcnico.79

    7.3 Princpio da oralidade

    Quanto ao princpio da oralidade, h prevalncia da palavra oral como meio de comunicao

    das partes, visando simplificao e celeridade dos trmites processuais, sendo aplicado desde

    a apresentao do pedido inicial at a fase final dos julgados.

    H distino entre processo informado pelo princpio de oralidade e procedimento oral. Em

    verdade, o procedimento oral no absoluto na medida em que apresenta menos segurana e os

    atos processuais podem cair no esquecimento. Na prtica, so reduzidos forma escrita apenas

    os atos essenciais, caracterizando um procedimento misto, observando-se a predominncia da

    forma oral.

    80

    Neste sentido o processo oral no sinnimo de processo verbal.Com muita propriedade demonstra o mestre italiano Giuseppe Chiovenda que o princpio

    76 AMARAL SANTOS, Moacyr. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro:Forense, 1994. v. 4, p. 43.

    77 A distino que se verifica entre esse sistema especial e o do processo civil tradicional que, nesteltimo, as regras de experincia comum subministradas pela observao do que ordinariamenteacontece e ainda as regras de experincia tcnica so aplicveis, excepcionalmente, somente nos casosem que faltarem as normas jurdicas especficas hiptese sub iudice (art. 335), enquanto nosJuizados Especiais justamente o inverso (FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias; TOURINHO NETO,Fernando da Costa.Op. cit., p.154).

    78

    REINALDO FILHO, Demcrito Ramos. Juizados especiais cveis: comentrios Lei n. 9.099/95, de26.09.1995. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 1999. p. 97-99.79ALVIM, Jos Eduardo Carreira.Juizados..., cit., p.137-139.

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    em apreo no se esgota na possibilidade de manifestao oral em substituio escrita, como

    mera declamao acadmica, o que redundaria numa suprflua repetio de palavras. Em

    verdade, a explanao dos argumentos de forma oral torna o julgamento muito mais

    interessante, produzindo um entendimento diverso em relao ao que se teria com a simples

    leitura de razes e votos escritos. o poder da palavra oral, imprimindo maior convencimento

    aos sujeitos processuais e tambm ao pblico externo, ainda distante dos nossos Tribunais.81

    O legislador consagrou este princpio no art. 98 da Constituio e nos arts. 9., 3., 13,

    2. e 3., 14, 17, 21, 28, 29, 30, 36 e 49 da Lei 9.099/1995, que se aplicam subsidiariamente

    Lei 10.259/2001. O processo pode ser instaurado com a apresentao do pedido oral secretaria

    do Juizado, a defesa oral apresentada em audincia; reduo a termo (forma escrita) apenas o

    que for relevante para a resoluo da causa; a prova oral no ser reduzida forma escrita,

    devendo a sentena referir apenas no essencial os informes trazidos nos depoimentos. Ajurisprudncia dos Juizados Federais vem dando temperos novos acerca do registro da prova

    oral, questo que ser abordada no item 16.1.

    O mandato poder ser outorgado verbalmente ao advogado exceto quanto aos poderes

    especiais. Os embargos de declarao podero ser interpostos oralmente.

    O princpio da oralidade traz em seu bojo outros princpios complementares representados

    pelos princpios da concentrao, imediao, identidade fsica do juiz e da irrecorribilidade das

    decises. Esses princpios representam um todo incindvel, no sentido de que atuao de

    qualquer um deles necessria, a fim de que se torne possvel realizar um processo oral.82

    O princpio da concentrao manifesta-se pela proximidade dos atos processuais,

    imprimindo maior celeridade. O processo como instrumento de concretizao do direito deve

    realizar-se num perodo breve, reduzindo-se a poucos atos processuais em curtos intervalos