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ROSANE APARECIDA MACIEL AYRES
FORMAO OU CAPACITAO DO PROFESSOR? UMA ANLISE DAS TEORIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM SUBJACENTES OBRA
TEACHING AND LEARNING ENGLISH - A COURSE FOR TEACHERS
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre, pelo Curso de Ps-Graduao em Letras - rea Estudos Lingsticos, do Setor de Cincias Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paran.
Orientadora: Prof.3 Dr.a Sandra Lopes Monteiro
CURITIBA
2003
u m
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA SETOR DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES COORDENAO DO CURSO DE PS GRADUAO EM LETRAS
Ata ducentsima quadragsima sexta, referente sesso pblica de defesa de dissertao para a obteno de ttulo de Mestre a que se submeteu a mestranda Rosane Aparecida Maciel Ayres. No dia cinco de novembro de dois mil e trs, s quatorze horas e trinta minutos, na sala 1020, 10 andar, no Edifcio Dom Pedro I, do Setor de Cincias Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paran, foram instalados os trabalhos da Banca Examinadora, constituda pelas seguintes Professoras Doutoras. Sandra Lopes Monteiro Presidente, Blanca Beatriz Diaz Alva e Clarissa Menezes Jordo designadas pelo Colegiado do Curso de Ps-Graduao em Letras, para a sesso pblica de defesa de dissertao intitulada "FORMAO OU CAPACITAO DO PROFESSOR. UMA ANLISE DAS TEORIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM SUBJACENTES OBRA TEACHING AND LEARNING ENGLISH - A COURSE FOR TEACHERS", apresentada por Rosane Aparecida Maciel Ayres. A sesso teve incio com a apresentao oral da mestranda sobre o estudo desenvolvido. Logo aps a senhora presidente dos trabalhos concedeu a palavra a cada um dos Examinadores para as suas argies. Em seguida, a candidata apresentou sua defesa. Na seqncia, a Professora Doutora Sandra Lopes Monteiro retomou a palavra para as consideraes finais. Na continuao, a Banca Examinadora, reunida sigilosamente, decidiu pela aprovao da candidata. Em seguida, a Senhora Presidente declarou APROVADA, a candidata, que recebeu o ttulo de Mestre em Letras, rea de concentrao Estudos Lingsticos, devendo encaminhar Coordenao em at 60 dias a verso final da dissertao. Encerrada a sesso, lavrou-se a presente ata, que vai assinada pela Banca Examinadora e pela Candidata. Feita em Curitiba, no dia cinco de novembro de dois mil e trs.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Dr.a Sandra Lopes Monteiro
Dr.a Clarissa Meneze Jordo Rone Apare aciel Ayre hS-o
AGRADECIMENTOS
A voc, Ary Ayres Junior, meu marido, companheiro de todas as horas, presena, amor, incentivo em minha vida.
Ao meu filho, Ary Ayres Neto, minha grande tese e maior alegria.
Aos meus colegas de trabalho, em especial s amigas Ana Maria, e Vnia Mara, pelo carinho e incentivo.
Ao meu sogro e amigo, Ary Ayres, pelo apoio em todos os momentos.
Aos meus pais, que mesmo de longe, sempre se fazem presentes.
As professoras, Mariza Riva Almeida e Jeane Marie Paran, pelas informaes e entrevistas as quais foram muito importantes para o desenvolvimento desse trabalho.
Meu especial agradecimento orientadora Profa. Doutora Sandra Lopes Monteiro pela pacincia, compreenso, dicas, conselhos, e liberdade que me proporcionou na pesquisa; pela orientao segura e competente, cujos ensinamentos e atitudes serviram e serviro de referncia para minhas escolhas.
ii
Quando vivemos a autenticidade exigida pela prtica de ensinar-aprender participamos de uma experincia total, diretiva, poltica, ideolgica, gnosiolgica, pedaggica, esttica e tica, em que boniteza deve achar-se de mos dadas com a decncia e com a seriedade.
(Paulo Freire - Pedagogia da Autonomia)
i i i
SUMRIO
LISTA DE ABREVIAES v
RESUMO vi
ABSTRACT vii
1. INTRODUO 1
2. PERFIL DO CURSO DE CAPACITAO 13
2.1 Os Professores-alunos 17
2.2 A Open University 18
3. APRESENTAO DO LIVRO: Teaching and Learning English 20
4. EMBASAMENTO TERICO 30
4.1 Aquisio e Aprendizagem: Teorias de Aquisio de Segunda Lngua 30
4.2 Educao a Distncia e o uso das Novas Tecnologias 37
4.3 Formao / Capacitao do Professor 43
5. ANLISE DO LIVRO 51
6 CONSIDERAES FINAIS 84
REFERNCIAS 92
ANEXOS 98
i v
LISTA DE ABREVIAES
NAP - Ncleo de Assessoria Pedaggica.
SEED - Secretaria de Educao.
UFPR - Universidade Federal do Paran.
EAD - Educao a Distncia.
OU - Open University.
TIC - Tecnologia da informao e comunicao.
vi
RESUMO
Esta pesquisa tem como finalidade investigar os pressupostos tericos que norteiam o ensino/aprendizagem do Ingls como lngua estrangeira e a sua relao teora-prtica dentro do Curso de Capacitao E590 (curso de educao a distncia). Este curso foi oferecido pela Open University, em formato piloto para professores de Lngua Inglesa da Rede Pblica do Ensino Fundamental e Mdio do Estado do Paran. O trabalho tem como objeto de estudo a anlise do livro texto "Teaching and Learning English" (editado pela Open University) adotado no referido curso. Os objetivos que norteiam essa pesquisa so: (a) reconhecer quais as teorias relacionadas ao ensino/aprendizagem de lngua estrangeira encontram-se subjacentes obra Teaching and Learning English; (b) definir, a partir do corpus analisado, como as teorias presentes se articulam com a prtica, ressaltada a especificidade das atividades que decorrem da EAD; (c) identificar como as teorias da reflexo crtica (Zeichner, Shn, Smyth) articulam-se com as atividades propostas pelo referido curso. Os resultados deste estudo indicam que as atividades sugeridas pelo material do curso contm elementos para uma abordagem reflexiva, embora algumas delas enfoquem apenas os nveis tcnico e prtico, no permitindo que o professor alcance o nvel crtico dentro das suas aes pedaggicas.
Palavras-chave: Aquisio/aprendizagem de lngua estrangeira; Educao a Distncia; Capacitao do professor.
v i
ABSTRACT
This research aims the investigation of the theoretical implications that guide the teaching and learning of English as a foreign language and the relationship between theory and practice within the "Curso de Capacitao E590"( distance education course). This course was offered by the Open University, in a pilot program, to the English language teachers of the public schools in the state of Paran, from "Ensino Fundamental e Mdio". This study intends to analyse the text book Teaching and Learning English , published by the Open University and used in the course. The purposes that guide this research are: (a) recognize which theories related to the teaching and learning process of a foreign language underlie the contents of the book Teaching and Learning English; (b) define, through the analysed corpus, how the presented theories are linked to the practice, emphasizing the specific nature of the activities resulting from the EAD; (c) identify how the critical reflection theories (Zeichner, Shn, Smyth) are linked to the activities proposed by the mentioned course. The findings of this study indicate that the activities suggested by the course book present elements of a reflective approach even though some of the activities are focused on technical and practical levels which do not allow the teachers to achieve a critical level in their pedagogical action.
key-words: foreign language acquisition; distance education; teachers improvement.
v i i
1
1.INTRODUO
"Construir a profisso do professor de lnguas estrangeiras (LE), inclui no apenas o aperfeioamento contnuo da capacitao dos seus agentes, mas tambm a conscientizao da sociedade e dos polticos da rea da educao". Markus J. Weininger.
De acordo com estudos realizados por Frahm1 (2000) sobre o currculo
bsico das escolas pblicas do Paran, os estados tornaram-se responsveis
pela educao formal bsica com a descentralizao do ensino no incio dos
anos 60, que at ento era de responsabilidade do governo federal. Com isso,
alguns estados se engajaram em um movimento pela melhoria da qualidade do
ensino pblico, atravs de uma reforma nos currculos que compe a atual
educao bsica.
A melhora da qualidade do ensino na proposta implantada pela SEED-
PR recai sobre um investimento no professor, pois acredita-se que
instrumentalizando-o ele ser o agente encarregado com vistas melhoria da
qualidade do sistema de ensino ou, "segundo conceitos usados no mundo
empresarial, a qualidade do produto do sistema educativo". (Demailly, p.152.
1995).
' Frahm, Gertrud F. Ghange/innovation education in Paran, Brasil. Tese de doutorado. Lancaster University Lancaster, Inglaterra, 2000.
2
A partir dos anos 80, a SEED-PR passa a ver a educao bsica com
a preocupao de repensar os contedos bsicos das disciplinas, iniciando
assim uma fase de discusso para reestruturao curricular, questionando os
objetivos da educao formal bsica existente. Como resultado dessas
discusses apresentado um novo projeto poltico-pedaggico - Currculo
Bsico para a Escola Pblica do PR, 1990 - visando a melhoria na qualidade do
ensino para responder s necessidades sociais e histricas que caracterizam a
sociedade brasileira. Segundo os organizadores do novo currculo, tinha-se,
naquele momento, a necessidade de repensar os contedos de base das
disciplinas no que se referia aos aspectos terico-metodolgicos em cada rea
do conhecimento, o que possibilitaria atravs de estudos e cursos de
aperfeioamento, o aprofundamento das questes relativas concepo, aos
contedos, ao encaminhamento metodolgico e avaliao de cada disciplina,
fundamentando-se teoricamente nos princpios bsicos da pedagogia histrico-
crtica.
Entre as disciplinas que formam o currculo implantado em 1990, para
as de lnguas estrangeiras a proposta que se ensine enfatizando o trabalho
com a expresso escrita, atravs da leitura, compreenso e produo de textos.
O documento prope um momento de reflexo sobre os resultados da
aprendizagem para que no se corra o risco de ver a lngua estrangeira
excluda da sua grade curricular (1o. grau)2, porm no faz qualquer meno
em investir nos profissionais desta rea para tentar melhorar a qualidade de
ensino; e quanto atualizao dos professores reconhece que no h
investimento nesta rea.
2 " O professor poder privilegiar o texto escrito.No impossvel conseguir textos de revistas e jornais ou livros estrangeiros.Os pressupostos bsicos da abordagem comunicativa continuam valendo, mas ao invs de insistir em apresentar a seus alunos diferentes situaes de comunicao oral, o professor poder lhes apresentar diferentes situaes diferentes de "comunicao escrita"... Pensar o ensino da Lngua Estrangeira no Io. grau exige uma reflexo ampla sobre alguns problemas que enfrenta o ensino pblico hoje... E preciso ser revisto o modo como se est ensinando e para que se est ensinando outra lngua". ( Currculo Bsico para a Escola Pblica do estado do Paran, p. 189-190, 1990).
3
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - LDB de 1996
(Lei N. 9394/96) e a elaborao dos Parmetros Curriculares Nacionais -
PCNS de 1998 especficos para cada rea do conhecimento, estes documentos
propem uma formao de qualidade para o profissional da educao, bem
como a necessidade de capacitao constante para que o profissional tenha a
possibilidade de compreender, de investigar e criticar sua prpria atuao em
sala de aula, propondo mudanas sempre que necessrias, com base em um
conhecimento terico relevante.
" preciso que se invista na formao continuada de professores que j esto na prtica de sala de aula, como tambm daqueles que esto em formao, de modo que possam compreender estes parmetros para traduzi-los nas prticas de ensinar e aprender. Isso exige essencialmente o envolvimento do professor na reflexo sobre a sua prtica em sala de aula". (Parmetros Curriculares Nacionais: Lngua Estrangeira 1o. Grau, p.109, 1998).
Frahm (2000) argumenta que para melhorar a qualidade do ensino de
lngua estrangeira na escola pblica no basta ter somente documentos
norteadores que indiquem ao docente como deveria ser a pragmatizao do seu
trabalho (currculo). Sugere que se faa um slido investimento na qualificao
(educao continuada) dos professores de lngua estrangeira, devendo estar
presente um programa de melhoria da proficincia na lngua estrangeira, alm da
formao terico-metodolgica, uma vez que a pesquisa intitulada "Inovao e
Mudana no Currculo do Estado do Paran", (Frahm: 2000), realizada pela
autora, detectou que aproximadamente metade dos docentes atuantes na
disciplina de lngua inglesa da rede pblica apresentam baixa proficincia
lingstica na referida lngua. Em geral os professores de lngua estrangeira que
atuam na rede pblica de ensino so aqueles que, em princpio, concluram a
licenciatura em Letras. Poucos cursaram um instituto privado de lnguas ou uma
especializao e muitos esto prximos aposentadoria e no demonstram
interesse em se especializar. Entende-se que deva ser valorizado nestes
4
profissionais o domnio e o conhecimento do contedo na rea em que atuam em
detrimento de um lingstico perfeito.
A partir dos anos 90, aproximadamente, que a educao continuada
alvo de muitas discusses. Durante muito tempo a formao tradicional no
tem a preocupao de relacionar a teoria e a prtica docente. Inicialmente, os
professores, atravs de cursos rpidos e descontextualizados, eram apenas
reciclados. Mais tarde que passam ento a ser "treinados", tornando-se
capazes de realizar tarefas. Estes professores eram levados a executar
trabalhos e no a refletir sobre a sua prtica, impondo-se a eles modelos e
tcnicas de um fazer pedaggico provenientes de aes mecnicas. Buscando
superar a dinmica das formaes anteriores, surgem novos conceitos como
fazer/pensar tal processo, e introduz-se termos relevantes como:
"aperfeioamento" e "capacitao" de professores demonstrando uma
preocupao reflexiva com o fazer pedaggico. Aperfeioamento e capacitao
significando, o primeiro: melhoramento, acabamento, retoque; enquanto o
segundo: tornar capaz, compreender, persuadir, convencer-se.
Educao continuada sugere uma constante atualizao do professor
na qual ele deve buscar participar ativamente das mudanas dentro do seu
contexto pedaggico, por meio de questionamentos que possam auxili-lo
dentro do processo de ensino/aprendizagem. Portanto, seja no sentido de
aperfeioar-se, capacitar-se ou treinar-se o importante que ocorra um
crescimento profissional consciente que o torne capaz de provocar mudanas e
interagir com as mesmas, atravs de um trabalho de reflexo crtica sobre sua
atuao como profissional da educao.
Segundo Nvoa, "a formao no se constri por acumulao (de
cursos, de conhecimento ou de tcnicas), mas atravs de um trabalho de
reflexo crtica sobre as prticas de construo permanente de uma nova
5
identidade pessoal. Por isso to importante investir na pessoa e dar estatuto
ao saber da experincia". (Nvoa, 1993, p. 38).
O objetivo da educao continuada passa a ser ento o
desenvolvimento do professor pesquisador, respeitando-o como pessoa, como
um ser que est em um aprendizado constante, visando transformar-se para
entender melhor o seu fazer pedaggico, buscando compreender os processos
de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos. Professores e alunos
passam a fazer uma nova leitura da realidade, resultante dos conhecimentos
adquiridos.
Diferentes estudos realizados sobre educao continuada so de
consenso de que esta precisa ser institucionalizada para que a mesma no
acontea de forma isolada e descontextualizada, pois investimentos estruturais
e financeiros se tornam imprescindveis para a elevao da qualidade de
ensino.
"Quando o professor inicia a sua carreira, extremamente importante que esteja vinculado a recursos que possam contribuir para o seu desenvolvimento, aperfeioamento e atualizao, para que sua experincia de trabalho seja fortalecida e o processo de ensino aprendizagem possa ser mais produtivo e eficaz. Para isso, o professor deve buscar constantemente informaes e conhecimentos que possam auxili-lo na sua prtica pedaggica." (Tognato, 2002, p.9.)3.
Para Perrenoud (2000) a formao contnua fora do estabelecimento
procede de uma escolha individual e afasta o professor do seu ambiente de
trabalho; uma formao comum no estabelecimento faz evoluir o conjunto do
grupo em condies mais prximas do que vivem diariamente. Um projeto de
3 Tognato, Maria Izabel. Educao a distncia na formao continuada do professor de Ingls: O caso do curso E590 da Open University. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Londrina - Londrina Pr. p. 9, 2002.
6
formao contnua no estabelecimento pode reforar uma cultura de
cooperao entre os docentes.
O professor deve ser um sujeito ativo e responsvel pelo seu
desenvolvimento profissional, pois s atravs dele ter instrumentos para
pensar sobre a sua atuao, para tomar decises e investir na sua prpria
formao. A formao contnua conserva certas competncias que so
normalmente deixadas no abandono. Perrenoud (2000) prope algumas aes
que podem auxiliar o professor durante o processo de formao contnua:
1. Tematizar a prtica;
2. Utilizar a leitura e a escrita para o seu desenvolvimento
pessoal;
3. Trabalhar em equipe;
4.Gerenciar sua prpria formao.
Dewey (1979) argumenta que os programas de capacitao de
professores que enfatizam somente o conhecimento tcnico prestam um
desservio tanto natureza do ensino quanto a seus estudantes. Os
professores aprendem metodologias que parecem negar a prpria necessidade
de pensamento crtico, pois estas passam um conceito de receitas prontas que
podem ser aplicadas em qualquer sala de aula sem levar em considerao o
contexto real da comunidade escolar onde cada docente atua. Nos ltimos
tempos, os termos "prtica reflexiva" e "ensino reflexivo" tornaram-se "slogans"
na reforma do ensino e na educao do professor, provocando uma grande
confuso sobre seu significado. A comunidade educacional incorporou, no
discurso sobre prtica de um ensino reflexivo, termos como: ensinar, aprender,
educao, norma social.
O termo "prtica reflexiva" para autores como Richards (1996) e Shn
(1987) refere-se a um processo pelo qual uma experincia relembrada,
7
considerada e avaliada para um propsito mais amplo, condio essencial
para a transformao de um aprendiz prtico e crtico, que entende, reflete e
transforma situaes problemticas. A formao profissional deve ser entendida
como um processo contnuo e permanente de desenvolvimento, onde o
professor tenha tempo e condio para desenvolver sua prpria aprendizagem
para assim contribuir, de forma efetiva, na melhoria da qualidade de ensino. Isto
poder acontecer atravs de cursos de formao contnua, por exemplo, nas
modalidades presenciais e/ou a distncia.
Segundo depoimentos da equipe que coordenou o projeto de
capacitao para os professores de Ingls da rede pblica, a SEED-PR.,
apoiada nos resultados e estudos desenvolvidos por professores
pesquisadores da Universidade Federal do Paran - UFPR e do Ncleo de
Assessoria Pedaggica (NAP) sobre ensino-aprendizagem de lngua inglesa
nas escolas da rede pblica, prope um amplo programa de Capacitao
Continuada para os Professores de Lngua Inglesa que estejam atuando em
sala de aula. O programa foi estruturado, basicamente, visando aperfeioar o
desempenho metodolgico dos docentes e, conseqentemente, melhorar sua
proficincia lingstica. Foi denominado "Subprograma de Capacitao para
professores de Lngua Inglesa"4 e ofereceu diversas formaes como: Internet
English Course I e II, BBC World Service English, UK Immersion Course,
Faxinai Immersion Course e Open University Language e Proficiency Course5.
Aps o envolvimento com o Subprograma de Capacitao oferecido
pela Seed-Pr. (participei como aluna da primeira formao a distncia oferecida
pelo referido programa), senti-me motivada a proceder uma anlise dos
4 O Subprograma de capacitao em Lngua Inglesa foi criado pela Secretaria de Educao do Estado do Paran, no ano de 2000, oferecendo vrios cursos de educao continuada para professores da rede pblica de ensino, com o objetivo de aprimorar a qualidade do ensino do idioma nas escolas pblicas do Paran, os cursos continuaram a ser ofertados at 2002. 5 Estes cursos foram ofertados dentro do programa de 2000. Em 2001 e 2002 o programa foi ampliado com novas ofertas de cursos como: Pronunciation Course, FCE Course, Seminrios e atividades diversificadas envolvendo Textbook Project, Vale Saber ProjectGap Volunteer, Global Perspectives Project, Nap and Partners Activities.
8
pressupostos tericos que norteiam o ensino-aprendizagem do Ingls como
lngua estrangeira na modalidade de ensino a distncia, buscando reconhecer
que teorias encontram-se subjacentes obra "Teaching and Learning English:
a course for teachers". Para tanto, dentre os cursos oferecidos pelo programa,
tomarei como objeto de estudo neste trabalho o da Open University, realizado
no ano de 2000, por ter sido o curso que atendeu o maior nmero de docentes,
aproximadamente 800 dos 4.200 professores de Ingls do Estado do Paran.
Espero tambm contribuir para uma reflexo sobre a importncia da formao
continuada e do seu xito na modalidade a distncia. A educao a distncia e
o uso das novas tecnologias no s democratizam o saber, mas vencem as
barreiras geogrficas em um pas como o Brasil que tem o "status" de um
continente.
O material adotado no referido curso foi elaborado pela Open
University, uma instituio britnica especializada em ensino a distncia, que
adaptou o livro "Teaching and Learning English: a course for teachers" para o
Subprograma de Capacitao em lngua inglesa 2000-2002, gesto SEED-PR,
1999-2002, voltado para os profissionais da rede pblica do Estado do Paran.
Objetivos
O objetivo principal desta pesquisa analisar os pressupostos tericos
que norteiam o ensino/aprendizagem do ingls como lngua estrangeira e a
relao professor-aluno, na modalidade de Ensino a Distncia, em um curso da
Open University voltado para a capacitao metodolgica e lingstica de
professores de Ingls. Decorrem desse objetivo os seguintes objetivos
especficos:
a) definir, a partir do corpus analisado, como as teorias presentes se
articulam com a prtica, ressaltada a especificidade das atividades que
decorrem da EAD.
9
b) definir aquisio/aprendizagem de lngua estrangeira.
c) identificar como as teorias da reflexo crtica articulam-se s atividades
propostas pelo da Open University.
Delimitao do Corpus
O corpus a ser analisado nessa pesquisa constitudo do material
adotado pelo curso da "Open University", o livro Teaching and Learning English:
a course for teachers usado no "Subprograma de Capacitao de Lngua
Inglesa", oferecido pela Secretaria de Educao do Estado do Paran, SEED-
PR, para os professores da rede pblica de ensino, no ano de 2000.
Pressupostos Tericos
Como referencial terico para o desenvolvimento desta pesquisa a qual
encontra-se dentro da linha de pesquisa "Teorias de Aquisio de segunda
Lngua" apresentam-se estudos relativos ao ensino aprendizagem da Lngua
Inglesa sob o ponto de vista da relao humana (professor/aluno). Primeiramente
apresenta-se uma distino entre aquisio e aprendizagem da lngua
estrangeira e teorias que explicam como se realiza o processo de aquisio de
segunda lngua sob a perspectiva de autores como: Krashen 1981, 1982, 1997,
Brown 1994, Ellis 1994,1997, Vygostky 1987,1991, Chomsky 1968. Em um
segundo momento, far-se- um aprofundamento das teorias de ensino a
distncia haja visto o material do curso a ser analisado, o livro " Teaching and
Learning Englishter sido preparado para um programa de capacitao de
professores a distncia. Dentro deste contexto alguns autores apresentam a
relao da EAD com as TIC-Teorias da Informao e Comunicao como Belloni
1 0
2001, Rosa 2000, Chaves 2001. No terceiro momento priorizam-se os tericos
que servem como base para a anlise a que esta pesquisa se prope:
reconhecer como as teorias relacionadas aos processos de formao e
capacitao de professores atuam sobre a prtica pedaggica (Altet 2001,
Paquay 2001, Charlier 2001, Perrenoud 2000, 2001), e sob a perspectiva da
reflexo crtica como as atividades presentes na obra acima mencionada
articulam-se com a prtica durante o desenvolvimento das mesmas (Dewey
1977, Imbrnon 2002, Nvoa 1995, Zeichner 1993,1995, Garcia 1995, Shn
1983,1987, Smyth 1987,1992).
Procedimentos metodolgicos
Primeiramente realizei uma pesquisa bibliogrfica e leitura crtica de textos
tericos sobre a aquisio e aprendizagem de segunda lngua com o objetivo de
aprimorar e alargar os conhecimentos sobre o assunto, buscando, sobretudo,
compreender a extenso de ambos os termos.
Em seguida, aprofundei-me na pesquisa da literatura, restringindo-me
EAD (Educao a Distncia) e o uso das novas tecnologias neste processo de
ensino e as teorias que norteiam a formao e capacitao do professor, temas
estes que serviram de base para o desenvolvimento desse trabalho.
Paralelamente aos estudo das teorias base desta pesquisa, julguei necessrio
procurar alguns organizadores, tutores e alunos que estiveram envolvidos no
curso da Open University verso piloto para buscar informaes relevantes para
o desenvolvimento do presente estudo. As entrevistas foram feitas de maneira
informal atravs de depoimentos e portanto no se encontram transcritos neste
trabalho.
Finalmente, atravs de tericos que tratam dos temas capacitao e
formao de professores e as teorias da EAD, avaliei o corpus buscando
11
identificar se estas encontram-se presentes no livro Teaching and Learning
English: a course for teachers.
A ttulo de esclarecimento, definimos a seguir algumas das nomenclaturas
que sero adotadas no presente estudo:
Tutor: aquele que, aps as aulas presenciais, fica encarregado de
esclarecer as dvidas, orientar nos trabalhos, ou seja, fazer a
tutoria.
Professor: o agente responsvel pelo ensino-aprendizagem da
lngua inglesa em sala de aula sendo aqui referenciado enquanto
aluno do curso a distncia.
Docente: O mesmo que professor
Educador: O mesmo que professor
Aluno: o substantivo simples refere-se ao discente das aulas de
Ingls da rede pblica de ensino.
Essa dissertao composta pelas seguintes partes:
a) captulo I - Introduo;
b) captulo II - Perfil do curso de capacitao;
c) captulo III - Apresentao do livro: Teaching and Learning English;
d) captulo IV - Pressupostos tericos;
e) captulo V - Anlise do livro;
0 captulo VI - Consideraes finais;
g) Referncias Bibliogrficas;
h) Anexos.
Na introduo, apresentada a justificativa da escolha do tema dessa
pesquisa, bem como a natureza e a importncia do objeto a ser tratado, os
objetivos, a delimitao do corpus e apresentao dos pressupostos tericos que
1 2
nortearo o trabalho. Em seguida no captulo II, traado o perfil do curso bem
como dos participantes envolvidos. O captulo III traz uma apresentao do livro
quanto a sua estrutura, grupos de atividades e a diviso dos captulos (aqui
denominada de tpicos).
O corpo do trabalho formado pelos captulos IV, onde feita a reviso da
literatura: aquisio e aprendizagem: teorias de aquisio de segunda lngua,
educao a distncia e o uso das novas tecnologias, formao/capacitao do
professor. O captulo V traz a anlise do livro luz destas teorias.
Finalizando, no captulo VI sero apresentadas as consideraes finais,
sobre os resultados e as anlises realizadas, bem como as contribuies
advindas desse trabalho.
1 3
2. Perfil do Curso de Capacitao
Visando o "Subprograma de Capacitao de Lngua Inglesa" oferecido
pela Secretaria de Educao do Paran - SEED - PR, a Open University,
Universidade Britnica de EAD, organizou, especialmente para o estado do
Paran, um curso direcionado aos professores que trabalham no ensino
fundamental e mdio na rede pblica de ensino. Este curso leva o nome da
Open University tendo em vista o material ter sido elaborado por esta instituio
com tradio no ensino a distncia. O programa conta com a assistncia
tcnica do Conselho Britnico e tem como provedores as universidades
pblicas do Paran, atravs dos Ncleos de Assessoria Pedaggica (NAPS).
Este curso tem como objetivo aprimorar a capacidade metodolgica dos
professores no ensino de lngua inglesa e ampliar o conhecimento e o uso
desse idioma. Destina-se, sobretudo, aos professores em servio que desejam
melhorar seu desempenho em sala de aula, levando-os a compreender melhor
os processos de ensino/aprendizagem desse idioma e, conseqentemente,
oferecer um ensino de maior qualidade para os alunos que estudam na rede
pblica.
Dentre os cursos ofertados pelo "Subprograma de Capacitao",
trataremos especificamente do curso da "Open University". um curso de
aperfeioamento na modalidade a distncia, que objetiva aprimorar a
capacidade metodolgica para o ensino da lngua inglesa, levando o professor-
aluno a refletir sobre o seu fazer pedaggico. O curso possui carga horria de
130 horas, das quais 22 so presenciais e, por ser a distncia, atribui ao
professor-aluno a responsabilidade de estudar no tempo e lugar que melhor lhe
convier.
1 4
Os participantes deste programa so submetidos a um pr-teste que
define a que nvel de proficincia ele pertence. O nvel de proficincia,
doravante ser substitudo pela expresso "banda", denominao dada pelos
organizadores do programa para avaliar o nvel de conhecimento da lngua. No
final do curso o aluno submetido a um ps-teste para verificar se melhorou
seu nvel de proficincia da lngua. Quatro so as bandas de classificao:
Banda 1 (nvel elementar - score de 0 a 44 % ), Banda 2 (pr-intermedirio -
score de 45 a 67%), Banda 3 (intermedirio - score de 68 a 81%) e Banda 4
(Ps-intermedirio -score de 82 a 100%). Desde o incio do curso, no ano de
2000, j foram ofertadas mais de 800 vagas para os profissionais de todo o
Estado do Paran. Os professores-alunos devem participar dos encontros
mensais obrigatrios (90% de freqncia) que acontecem nos NAPs em
Curitiba, Londrina, Maring, Campo Mouro, Guarapuava, Ponta-Grossa e
Cascavel, e so aconselhados a dedicar pelo menos cinco horas semanais de
estudo autodirigido.
Este aperfeioamento, na modalidade de ensino a distncia, apresentou
algumas vantagens, como por exemplo: permitir ao professor-aluno permanecer
em sala de aula e ser avaliado a partir de suas atividades didticas, atravs de
seu plano de aula apresentado no final do curso (Project work) bem como do
relato de sua aplicao e o ps-teste. Embora todos estes facilitadores, nos
depoimentos obtidos atravs de conversa informal com professores-alunos e
tutores participantes do curso, estes mostram sentiram uma grande dificuldade de
adaptao a este modelo de ensino que se contrape ao presencial.
Aps formar a primeira turma, no ano de 2000, os organizadores do curso
viram a necessidade de adaptao no formato trabalhado neste ano. Assim, para
os cursos que se seguiram nos anos de 2001 e 2002 foram introduzidas
modificaes com base nas dificuldades mencionadas por tutores e alunos do
curso.
15
Segundo tutores e professores-alunos participantes do curso em sua
primeira verso, as maiores dificuldades foram:
a) A questo do entendimento do curso por causa da deficincia no idioma.
b) O ensino distncia, pois culturalmente no temos a tradio de nos
organizarmos para desenvolver o auto-estudo, no temos o hbito de
estudarmos diariamente sozinhos.
c) A questo do conceito de "portfolio" (uma espcie de dirio onde os
professores fazem suas anotaes), no Brasil no costumamos trabalhar
com o "portfolio".
d) O tempo de durao do curso que foi planejado para acontecer em 22
horas presenciais. Segundo os tutores o material era muito denso,
apresentava muitos contedos para serem vistos em pouco tempo.
e) Observou-se que os professores-alunos deveriam ter uma preparao
melhor para desenvolver o projeto final, o qual foi desenvolvido apenas
seguindo as etapas sugeridas no modelo apresentado na unidade 7, de
forma puramente mecnica, sem levar os professores a pensar, a
questionar a refletir sobre o que estavam fazendo.
Para os tutores a instruo era de trabalhar com as unidades do course
book (Teaching and Learning English: a course for teachers) e complement-las
com as unidades gradativas do set book (English for the Teacher: A language
development course - livro complementar). Porm, os contedos trabalhados no
Course Book no correspondiam aos contedos sugeridos no Set Book.
Organizou-se ento uma forma de trabalho onde os contedos abordados pelos
dois livros tivessem uma ligao, ou seja, os tutores passaram a trabalhar com
16
uma 'check list'6, uma espcie de plano que trazia sugestes de quais unidades
deveriam ser trabalhadas entre um livro e outro.
Outra mudana significativa aconteceu no projeto final do curso (Project
Work), um dos itens no qual os alunos eram avaliados. Na primeira turma os
professores-alunos trabalharam com o Project Work na seqncia apresentada
pelo Course Book, ou seja, na ltima unidade. Porm, alguns sentiram muita
dificuldade na aplicao, pois o perodo para a realizao deste projeto coincidiu
com o final do ano letivo e muitos estavam fechando o bimestre e as mdias finais,
entre outras obrigaes inerentes poca, e no tiveram tempo hbil para a
aplicao e entrega do projeto final. A partir da segunda turma, o Project Work foi
antecipado quanto sua ordem na seqncia das unidades do livro: os
professores-alunos passaram a ver a unidade 7 (a ltima unidade) logo aps a
unidade 3 (methods for teaching english) pois se entendeu que assim
aproveitariam melhor a parte terica e teriam muito mais tempo na elaborao e
aplicao do projeto. Segundo os organizadores estas mudanas melhoraram no
sentido de que tanto professores-alunos como tutores tiveram mais tempo para
entender e desenvolver o projeto final (Project Work).
Apesar destas adaptaes, percebia-se ainda uma lacuna muito grande
entre o uso do material e o conhecimento lingstico de Ingls que os professores-
alunos apresentavam. Para tentar diminuir este problema, criou-se um "Prep
Course", um curso preparatrio para ingressar no curso da Open University com o
objetivo de instrumentalizar os alunos na parte da proficincia da lngua para
depois ento ser apresentado o enfoque metodolgico, sendo que o participante
deste "Prep Course" no precisariam mais fazer o "Pre-test".
Os professores das Universidades (j mencionadas no texto) envolvidos
neste projeto, durante todo o curso estiveram presentes no seu desenvolvimento
para dar suporte aos tutores e professores-alunos. Buscavam constantemente
6 Os modelos destas check list constam no Anexo III, s pginas 119 e 120.
1 7
conversar com ambas as partes no sentido de perceber se o curso proposto pela
SEED funcionava como previa o modelo para a turma piloto. Foi com base nestes
relatos e tambm pelo que vinham acompanhando que propuseram mudanas
nas outras edies do curso no sentido de corrigir as falhas identificadas na
primeira turma.
2.1 Os professores-alunos
Para participar do programa de "Capacitao de Lngua Inglesa",
oferecido pela SEED-PR. o professor precisa ter habilitao em Ingls, estar
atuando em sala de aula da rede pblica de Educao Bsica do Ensino
Fundamental e Mdio, alm de atender a outros critrios pr-estabelecidos
como: ter quatro anos de experincia no ensino da lngua estrangeira, obter
classificao mnima na Banda 3 (nvel intermedirio), ter compromisso e
disponibilidade para assistir aulas pelo menos uma vez por ms, fora do horrio
de trabalho, estudar por conta prpria, fora do horrio de trabalho, por pelo
menos cinco horas por semana.
De todos os professores pr-testados, 35% foram classificados na
Banda 1 (nvel elementar), 48% na Banda 2 (nvel pr-intermedirio) , 14% na
Banda 3 (nvel intermedirio) e apenas 3% atingiram a Banda 4 (nvel ps-
intermedirio). A princpio foram ofertadas 250 vagas para todo o Estado do
Paran, visando somente os classificados nas Bandas 3 e 47, por atingirem um
maior nvel de proficincia no idioma.
7 Hoje, aps uma experincia maior na administrao destes cursos, para que os professores realizem o aperfeioamento metodolgico e lingstico oferecido pela SEED, organizou-se um curso preparatrio para que os alunos classificados nas bandas 1 e 2, tornem-se aptos a atingir as bandas 3 e 4, estando portanto preparados a participarem do curso Open University.
1 8
2.2 A Open University
Muitas so as universidades que hoje operam inteiramente a distncia.
A Open University, fundada na Inglaterra em 1969, a pioneira no
desenvolvimento de educao a distncia de alta qualidade.
Possui mais de 200.000 estudantes distribudos nas mais variadas
reas de conhecimento. Os cursos so elaborados para que o aluno possa
estudar por conta prpria e de maneira efetiva: est previsto contato com um
tutor e outros estudantes.
A Open University - OU combina tecnologias relativamente tradicionais
como correio, com tecnologias mais modernas, como rdio, TV e internet. Em
princpio os cursos oferecidos pela OU tem parte de suas atividades
desenvolvidas de forma presencial, como por exemplo, reunio com tutores,
testes etc., e demais atividades a distncia, como por exemplo consulta ao tutor
via e-mail ou telefone. Segundo o texto encontrado no site www.open.ac.uk,
existe uma preocupao muito grande com a elaborao do material para que
seja de boa qualidade. O material auto-instrucional, na forma de livros textos
e embasado nos mtodos de ensino a distncia e teorias de aprendizagem
que permitem ao aluno estudar sozinho e gerenciar sua prpria aprendizagem.
Essa universidade apresenta uma longa histria de experincias bem sucedidas
em EAD. Ao longo de sua existncia, um grande nmero de pessoas
participaram dos cursos oferecidos, por razes, que variam da satisfao
pessoal aos diplomas universitrios.
Percebemos que uma das caractersticas da educao continuada que a
mesma deve ser institucionalizada para que os professores desenvolvam e
alcancem objetivos especficos que possam servir para melhorar suas prticas
pedaggicas. O curso da Open University atende a esta caracterstica, buscando
atravs da sua proposta de capacitao, instrumentalizar os professores em
1 9
servio dentro da rede pblica de ensino, para com isso melhorar a qualidade do
ensino/aprendizagem na rea de lngua estrangeira.
Procurou-se aqui apresentar o perfil deste curso de capacitao, assim
como o perfil dos alunos participantes e da Open Universty por ter sido esta a
organizadora do mesmo. O prximo captulo tem como objetivo apresentar de
forma detalhada a organizao do livro quanto a sua estrutura, bem como os
demais materiais usados no curso.
2 0
3. Apresentao do livro: Teaching and Learning English - a course for
teachers8.
Pretende-se aqui apresentar o corpus desta pesquisa, o livro Teaching
and Learning English: a course for teachers. O qual foi elaborado pela Open
University e adotado para o curso de capacitao a distncia de professores da
rede pblica de ensino do Paran.
Segundo seus autores, Hewings & McKinney (2000, p.5), o livro
Teaching and Learning - a course for teacher, apresentam dois objetivos: "levar
o professor a melhorar sua compreenso do processo ensino aprendizagem e
sua prtica de ensino da lngua Inglesa" e, "fazer com que o professor seja
capaz de melhorar seu conhecimento da Lngua Inglesa e seu uso no mundo
atual".
O course book faz referncia aos outros materiais usados no curso e
como devem ser usados pelos participantes, e comenta sobre suas principais
atividades:
Atividade para pensar (Something About), apresentam questes
para estimular a reflexo do professor, como por exemplo, analisar
sua prpria situao de ensino e compar-la com as situaes
apresentadas pelos professores nos depoimentos que constam no
livro. Ver anexo na pgina 133.
Atividades (Activities), pede que se executem tarefas especficas. As
mesmas so elaboradas para ajudar o docente a consolidar sua
aprendizagem e a avaliar seu progresso no entendimento e prtica do
material. As concluses sobre as atividades podero ser anotadas em
um caderno, que tem no curso a denominao de Portfolio.
8 Alguns exemplos das atividades Something to think about, activities, vdeo activities e classrroom activities encontram-se no Anexo IV nas pginas 131.
2 1
Atividades em vdeo (Vdeo Activities), apresentam tarefas
baseadas no vdeo que acompanha o curso. O professor-aluno
precisa assisti-lo para desenvolver algumas atividades no Course
Book.
Atividades em sala de aula (Classroom Activities), prope que o
professor-aluno experimente e teste algumas tcnicas de ensino,
fazendo observaes sobre a aprendizagem dos alunos em sala de
aula.
O livro preparado para que o professor-aluno seja capaz de organizar
seu tempo e estudar quando e onde melhor lhe convier, sendo, portanto, o
responsvel pela organizao do seu auto-estudo. Embora esteja previsto, em
algumas atividades, contato com outros participantes do curso e com o tutor, que
acontecero nos encontros presenciais e nos grupos de estudos, a
aprendizagem autnoma tem sido constantemente discutida no processo de
ensino-aprendizagem, uma vez que vivenciamos uma necessidade de formao
constante e no apenas mera atualizao de conhecimentos. Neste paradigma o
aluno deve ser capaz de construir e comparar novas estratgias de ao,
redefinindo e enfrentando os problemas cotidianos de seu universo de atuao.
Segundo Moraes (1996) este tipo de formao deve levar em conta que o
professor-aluno deve aprender a aprender e isto se manifesta na capacidade de
refletir, analisar e tomar conscincia do que se sabe, se dispor a mudar os
prprios conceitos, buscar novas informaes, substituir velhas verdades por
teorias transitrias, adquirir novos conhecimentos que vem sendo requeridos
pelas alteraes existentes no mundo, resultantes da rpida evoluo das
tecnologias da informao. Os ambientes de ensino-aprendizagem, desde o
ensino presencial at o ensino distncia, sofrem profundas alteraes em
decorrncia do novo paradigma informacional.
2 2
necessrio que a autonomia, no sentido de uma maior
responsabilidade, tanto quanto daquele que ensina como daquele que aprende,
ocupe um lugar maior na educao, possibilitando que ocorra a aprendizagem
para o aprender. Quando se reprime ou ignora a autonomia, o que ocorre muitas
vezes apenas a imposio da opinio dominante do saber institucionalizado. A
aprendizagem independente cultiva a responsabilidade individual no
desenvolvimento do conhecimento, a autonomia permite ao aluno exercer o seu
direito de escolher a direo e os contedos de sua aprendizagem.
Os professores-alunos do curso da Open University, ao trabalharem com
o material proposto no curso, tiveram a oportunidade para desenvolver seu auto-
estudo, sua autonomia, construindo dessa forma um processo inicial de reflexo
sobre seu fazer pedaggico.
O Course Book traz orientaes sobre como o professor-aluno deve
desenvolver seu auto- estudo em cada um dos tpicos/captulos, alm de fazer
apresentaes sobre o uso dos demais materiais: o set book, a fita de vdeo e a
fita de udio. Ele apresenta a carga horria de forma que o professor possa
planejar seu auto-estudo durante o curso. Prope 130 horas de estudo, as quais
no envolvem o projeto final a ser desenvolvido. Sugere que dois teros deste
tempo sejam utilizados com o Course Book e o vdeo, e um tero com o set book
e a fita de udio. Para o auto-estudo do professor, sugere que utilize de 10 a 13
horas por semana durante o prazo total do curso de 10 a 12 semanas. Os
contedos do curso so divididos em tpicos e apresentados juntamente com os
objetivos especficos de cada um. O professor-aluno recebe tambm informaes
sobre o modo como ser avaliado e informaes adicionais sobre os temas que
sero estudados atravs de uma sugesto bibliogrfica de livros e dicionrios
como um recurso a mais no aprendizado da lngua inglesa.
Especificamente em relao aos contedos do curso, estes esto
divididos em sete tpicos.
2 3
O primeiro tpico discute o papel da lngua inglesa no Brasil e no
mundo hoje e traz como ttulo The World of English Language Teacher.
Apresenta tambm as diferentes variedades que existem na lngua inglesa e as
razes pelas quais as pessoas ensinam e aprendem Ingls, com depoimentos de
algumas pessoas que ensinam o idioma pelo mundo. Segundo Tognato (2002) o
participante pode pensar sobre sua prpria situao de ensino e as necessidades
de uso da lngua dos seus alunos no ensino fundamental e mdio, percebendo as
similaridades existentes entre suas prprias circunstncias e os casos descritos
pelos professores. O livro "Teaching and Learning English: a course for teachers
prope atividades reflexivas, solicitando do professor que discuta com os colegas
sobre o processo de ensino aprendizagem da lngua inglesa,
O professor-aluno do curso ainda pode discutir com seus alunos sobre a
importncia de aprender a lngua Inglesa hoje e deve fazer anotaes em seu
portfolio o que foi relatado.
Este tpico discute ainda alguns fatores que influenciam a aprendizagem
de uma lngua estrangeira como: motivao, disponibilidade de tempo, exposio
do aluno ao idioma fora de sala de aula, a proficincia de seus professores,
nmero de alunos e recursos disponveis para o ensino.
O segundo tpico traz como ttulo Teaching and Learning Languages. O
objetivo discutir e apresentar como ocorre o processo de aprendizagem de
lnguas e os fatores que afetam tal processo. So apresentados alguns princpios
ao quais o professor-aluno deve estar atento:
Fazer com que seus alunos se envolvam ativamente no
processo de aprendizagem.
2 4
Levar em conta a realidade do aluno e aproximar o mximo
possvel o novo conhecimento daquele que ele j tem.
Dar apoio aos alunos durante o processo de ensino-
aprendizagem.
Desenvolver atividades interativas que envolva-os na lngua
alvo.
Levar o aluno durante a interao a imaginar, a perceber o
significado das palavras que no conhece.
Repetir os diferentes aspectos que envolvem o uso da lngua
para que o aluno tenha a oportunidade de estruturar e
reestruturar seu uso.
Usar atividades diferenciadas que possam despertar a ateno
dos seus alunos, levando em conta que em uma sala de aula
existem alunos com diferentes habilidades, que devem ser
respeitadas durante o processo de aquisio de um novo
conhecimento.
O professor levado a pensar no seu prprio processo de aprendizagem
da Lngua Inglesa, em como este ocorreu e quais foram os processos pelos quais
passou.
O terceiro tpico se refere aos mtodos usados no ensino da lngua
inglesa e apresenta um plano de aula. Sugere que o professor-aluno experimente
e avalie alguns mtodos que so apresentados no captulo, trazendo modelos de
atividades que podem ser realizadas com os alunos, em sala de aula. A primeira
atividade proposta referente ao primeiro mtodo, solicita do professor que reflita
sobre o mtodo que usa em sala de aula e descreva quais esto presentes na
2 5
sua forma de ensinar. Este varia de acordo com os objetivos do ensino da lngua
e do como ela ensinada. O planejamento das atividades do professor pode
envolver e integrar diferentes mtodos, de forma que esta variedade facilite o
aprendizado do aluno. Os mtodos apresentados so: o da gramtica e traduo,
o audiolingual, o comunicativo, o TBL qprendizagem baseada em tarefa (Task-
Based Learning).
O quarto tpico apresenta os processos para ensinar o como trabalhar
com o "speaking and listening". Inicialmente, trata de alguns aspectos tericos
que o professor-aluno deve observar ao tentar desenvolver em seus alunos a
oralidade e a audio. Em seguida, sugere algumas tcnicas que podem ser
usadas para facilitar a aquisio da oralidade e o desenvolvimento da audio
pelos alunos, ainda que o professor-aluno trabalhe com turmas de
aproximadamente 40 alunos, o que, na realidade, dificulta o desenvolvimento de
tais habilidades. O tpico tambm destaca alguns problemas comuns
encontrados no desenvolvimento destas habilidades, a saber:
Falta autoconfiana na sua pronncia, e a preocupao excessiva em
ensinar a pronncia aos alunos.
Turmas numerosas.
A falta dos aparelhos de udio e vdeo.
Manter o interesse e a concentrao dos alunos jovens.
A timidez dos adolescentes que no querem falar a lngua estrangeira
na sala na sala de aula.
O quinto tpico, semelhante ao anterior, enfoca as habilidades "reading
and writing". O captulo aborda o assunto em dois momentos: no primeiro, faz
uma introduo sobre os processos de ensinar e aprender a leitura atravs de
2 6
diferentes propostas e tcnicas; no segundo, explora as diferenas entre a lngua
falada e escrita com exemplos de atividades para aplicar em sala de aula, alm
de vrias estratgias que podem ser exploradas pelo professor-aluno ao ensinar
a escrita.
Como o sexto tpico refere-se avaliao dos alunos, o texto apresenta
um questionamento sobre como o professor-aluno pode avali-los. Por exemplo,
prope questes como:
O que avaliao e que tipos de testes so teis para o professor de
lnguas?
Quais so os efeitos positivos e negativos no uso de testes nas aulas de
lnguas?
Como preparar bons testes para seus alunos.
Como o teste trata as diferentes habilidades da lngua.
Como ajudar seus alunos a realizar um bom teste.
Apresenta ainda alguns tipos de testes que podem ser utilizados para
avaliar os alunos: testes de classificao, testes diagnsticos, testes de
progresso, testes de progresso final e testes de proficincia. Os autores ainda
sugerem como o professor-aluno pode aplic-los, Hewings & McKinney (2000)
apresentam os pontos positivos e negativos sobre o uso de cada um deles.
Tambm trazem alguns estudos de caso, em que professores-alunos de outros
pases relatam suas experincias, visando dar uma idia da aplicao de alguns
destes testes.
O stimo tpico traz como exemplo um plano de aula completo,
chamado de projeto final do curso. Sugere ao professor-aluno alguns passos
para que, a partir do modelo apresentado, construa seu prprio projeto,
2 7
escolhendo um assunto e determinando o pblico alvo em que ser aplicado.
Aps a efetiva aplicao dever ser feito um relato detalhado, por escrito, para
ser entregue ao tutor do curso, documento este que se constituir em parte da
sua avaliao no curso da Open University.
O curso da Open University prev ainda o uso de outros materiais os quais
complementam o uso do livro apresentado acima.
3.1 Apresentao dos materiais usados no curso da Open University.
Objetiva-se aqui apresentar de forma concisa os materiais usados no
curso da Open University - 2000 e os seus objetivos.
Constituem os materiais do curso:
a) O livro-texto; Teaching and Learning English: a course for teachers, o
qual tem como objetivo a apresentao dos mtodos e abordagens que
envolvem o ensino aprendizagem da lngua Inglesa, ao mesmo tempo em que
prope ao professor-aluno uma reflexo sobre o seu uso.
b) O livro complemetar: English for the Teacher da autora Mary Spratt
{set book), Cambridge University Press. O qual serve como auxilio no
desenvolvimento da lngua e contm atividades que so relevantes para os
professores-alunos. O livro est dividido em 15 unidades envolvendo temas
como: comunicao, aprendizagem de lngua, o professor, aulas na prtica,
livros didticos, planejamento de aula e do tempo, problemas em sala de aula,
caractersticas dos professores de lngua inglesa. Estas unidades ainda
dividem-se em nove sees: atividades iniciais, atividades de compreenso
auditiva, compreenso de texto ou leitura, atividades de oralidade, produo
2 8
escrita, gramtica, linguagem do aluno, instrues em sala de aula e
concluses.
c) O video: divide-se em duas partes:
- A primeira apresenta algumas seqncias que mostram alguns
professores de diversas partes do mundo ensinando Ingls .
- A segunda apresenta um programa de televiso produzido pela BBC
da Open University chamado "Ingls de A a Z", o qual fala do idioma como
lngua internacional.
d) Fita de udio: esta fita acompanha o livro complementar, e d
instrues ao professor-aluno para desenvolver atividades contidas no Set
Book.
Durante o curso o uso destes materiais foram usados de forma
articulada. O livro Teaching and Learning English: a course for teachers foi
elaborado para que os alunos pudessem desenvolver suas atividades na sua
grande maioria, sozinhos, mas tendo a liberdade para trabalhar em grupo e
para entrar em contato com o tutor, j que este livro foi elaborado para um
curso a distncia. Os materiais elaborados para cursos a distncia geralmente
trazem em seus contedos algumas teorias e abordagens que definiro muitas
vezes a forma de pensar e agir do professor participante. Este no deve
resumir-se, portando, a um material instrucional que apresenta uma seqncia
ordenada de contedos, visando simplesmente ser assimilado pelo aluno, ao
contrrio, deve haver uma preocupao na articulao desses contedos. O
material deve buscar a insero do aluno no processo ensino aprendizagem, de
forma individual ou coletiva. No material do curso da Open University observa-
se este tipo de preocupao, pois o material apresenta atividades que o
professor precisa desenvolver isoladamente e outras que necessitam de
2 9
discusso em grupo, sendo que aps a discusses o professor-aluno dever
anotar suas concluses e pensamentos no portfolio.
O objetivo de tais atividades que o professor possa pensar
constantemente na sua prtica pedaggica, refletindo individual ou
coletivamente.
"O desenvolvimento e aplicao destas atividades so interessantes para o crescimento e amadurecimento do professor participante do curso. No entanto, importante analisar at que ponto o que os materiais propem relevante para que haja mudanas e, portanto, melhoria da qualidade de ensino no contexto educacional de cada professor(Tognato, 2002, p.47).
O desenvolvimento e aplicao das atividades propostas pelos materiais
podem contribuir para o crescimento e amadurecimento do professor. No entanto,
para que as mesmas sejam relevantes no sentido de provocar mudanas e
melhorar a qualidade de ensino conforme prope a autora, as mesmas no devem
ser aplicadas como se fossem simples receitas a serem seguidas, e/ou
desenvolvidas de forma puramente mecnica, cabe ao professor analisar e rejeitar
a viso de um ensino tcnico, como transmisso de um conhecimento acabado e
formal.
3 0
4. EMBASAMENTO TERICO DO ESTUDO
que, no fundo, uma das radicais diferenas entre a educao como tarefa dominadora, desumanizante, e a educao como tarefa humanizante, libertadora, est em que a primeira um puro ato de transferncia de conhecimento, enquanto a segunda o ato de conhecer (...) Ningum educa ningum, como tampouco ningum se educa a si mesmo: os homens se educam em comunho, mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire
4.1 Aquisio e Aprendizagem: Teorias de Aquisio de Segunda Lngua.
Objetivando apresentar o arcabouo terico que embasa o presente
estudo, este captulo abordar algumas consideraes sobre:
Aquisio/aprendizagem e teorias que explicam o processo de aquisio da
lngua estrangeira ( Krashen 1981, 1982, 1997, Brown 1994, Ellis 1994,
1997, Vygotsky 1991). A educao distncia e o uso das novas
tecnologias (Belloni 2001, Rosa 2000, Chaves 2001, Moran 2002, Zamudio
1997). A forma como o professor adquire e relaciona o seu saber terico
com a prtica ( Perrenoud 2001, Altet 2001, Paquay 2001 Charlier 2001,
Nvoa 1995).
3 1
Vista por prismas diferenciados, de acordo com o objetivo de cada
trabalho, a dicotoma aquisio/aprendizagem de LE foi, e ainda , material de
estudos e de pesquisas dentro da Lingstica Aplicada (Krashen 1981, 1982,
1997, Brown 1994, Ellis 1994, 1997). Estes dois termos - aquisio e
aprendizagem - possuem definies distintas, pois nem sempre so
empregados com o mesmo significado em situaes iguais e/ou semelhantes.
Imprescindvel se torna, pois, defini-los de modo a explicar o ponto de
vista e o propsito dos termos dentro de trabalhos lingsticos especficos, e
neste em especial, algumas teorias foram desenvolvidas mediante a dicotoma
referida anteriormente. Entre elas a de Krashen (1982) talvez seja uma das
mais controversas, pois distingue aquisio de aprendizagem. Segundo o autor,
aquisio consiste em um processo realizado em nvel do subconsciente, um
processo intuitivo, em que o aprendiz assimila e constri o sistema lingstico
da segunda lngua da mesma maneira como adquire sua lngua materna. Em
contrapartida, a aprendizagem passa por uma perspectiva diversa. Este termo
refere-se a um processo de conhecimento consciente, pelo qual os aprendizes
apreendem as regras da segunda lngua, doravante L2, para poder us-las.
Para Brown (1994), aquisio e aprendizagem ocorrem
concomitantemente. Para ele no so processos distintos, e o aprendizado e a
aquisio de segunda lngua no uma receita que pode ser seguida passo a
passo. O aprendizado um processo complexo que envolve um grande nmero
de variveis, como aspectos intelectual, emocional e fsico, pois, no
aprendizado de uma segunda lngua est implcito tambm que, alm de
aprender uma nova lngua, o aprendiz tambm ter acesso a uma nova cultura,
a uma nova forma de pensar, de agir e de sentir. J na teoria de Krashen no
existe uma sobreposio e uma transferncia entre aquisio e aprendizagem,
ou seja, so processos distintos e independentes. Eles consistem em um
processo de assimilao do conhecimento, o que contrasta diretamente com a
3 2
teora de Brown (1994). Para Krashen (1982) possvel separar aquisio de
aprendizagem de LE, basta analisarmos detalhadamente, de forma consciente
e individualmente, cada processo pelo qual o aprendiz passa em momentos
distintos de sua aprendizagem.
Especificamente em relao ao ensino de lngua estrangeira (L2),
Vygotsky (1991) considera que aprend-la um processo consciente e
deliberado e, por isso, relacionado com o desenvolvimento de conceitos
cientficos. Para ele, aprender uma LE com xito, requer um certo grau de
maturidade na lngua materna, facilitando a apropriao de significados e
havendo uma ajuda mtua para se entender as operaes lingsticas da(s)
lngua(s). Em outras palavras, o domnio de uma lngua ajuda a entender a
outra. Nesse sentido pode-se concluir que segundo os construios vygotskyanos
de ensino/aprendizagem, o uso da lngua materna para se aprender uma lngua
estrangeira seria no somente necessrio como benfico. Na seqncia, ser
abordada, de forma mais detalhada, como Krashen (1982) faz esta separao
entre aquisio e aprendizagem na sua teoria de aquisio de L2.
Krashen (1982), baseado nas teorias de Chomsky (1968), Piaget
(1982), e Vygotsky (1991), prope um modelo de aquisio de segunda lngua
que discute os mecanismos pelos quais os aprendizes relacionam sua
capacidade lingstica e os dados sobre os quais esta capacidade atua.
Segundo ele, o processo em que a mente exposta a dados externos da lngua
denomina-se input e quando a mente exposta a produo lingstica output.
Nesse modelo a aquisio e aprendizagem so vistos como processos
diferentes. O adulto adquire/aprende uma lngua estrangeira atravs de dois
processos independentes: a aquisio inconsciente da linguagem e/ou a
aprendizagem consciente do sistema metalingstico. A aquisio um
processo inconsciente, desencadeado por um impulso vital e inevitvel: a
necessidade de comunicao. O processo de aprendizagem, ao contrrio,
3 3
consciente e supe o conhecimento de regras, poder falar sobre elas e aplic-
las na prtica da lngua.
Esta distino entre a aprendizagem da lngua (language learning) e
aquisio da lngua (language acquisition) uma das hipteses mais
importantes estabelecidas por Krashen (1981) em sua teoria sobre o
aprendizado de lnguas estrangeiras. Para ele, a teoria de aquisio de
segunda lngua consiste em cinco hipteses: a) a distino entre aquisio e
aprendizagem de uma lngua, b) a hiptese da ordem natural, c) a hiptese do
monitor, d) a hiptese do input, e) a hiptese do filtro afetivo. O autor descreve
suas teorias sem no entanto apresentar modelos ilustrativos sobre cada uma.
a) Distino entre aquisio e aprendizagem: Krashen utiliza o termo
"aquisio da linguagem" para referir-se ao modo natural como as habilidades
lingsticas so internalizadas, sem uma ateno consciente, e se desenvolvem
num processo de construo criativa em que uma srie de etapas comuns a
todos os que adquirem uma determinada lngua passam e que resultado da
aplicao de regras universais. A aquisio um processo subconsciente e a
aprendizagem, ao contrrio, algo consciente, conseqncia de uma situao
formal de aprendizagem ou um programa de estudo individualizado. As
situaes de aprendizagem formal se caracterizam pela presena de correo
de erros e explicitao de regras. Os dois fenmenos so diferentes nas suas
origens e finalidades, podem ocorrer simultaneamente, mas no tm nenhuma
relao entre si.
b) A hiptese da ordem natural: o autor afirma existir uma ordem natural
para a aquisio de alguns morfemas gramaticais, defende que a ordem de
aquisio para uma segunda lngua no a mesma que a ordem de aquisio
para a primeira lngua. Entretanto, existem similaridades e, embora a lngua
inglesa seja a mais estudada nesse sentido, estudos com outras lnguas
3 4
tambm demonstram que existe uma ordem natural para aquisio de uma
lngua, seja ela materna, estrangeira ou segunda lngua.
c) Hiptese do monitor, esta hiptese se refere aprendizagem e prev
que o conhecimento consciente de regras gramaticais atua na produo do
falante de L2, levando-o a corrigir-se. O monitor posto em funcionamento
quando o foco colocado na forma e as regras so conhecidas. A natureza dos
erros de atuao em L2 depender se o monitor est sendo utilizado ou no.
Para Krashen, as formas mais idiossincrticas e as mais prximas do modelo
do nativo, possibilitam a auto-correo atravs do uso do monitor. Por outro
lado, os erros mais conscientes so os que se baseiam no sistema adquirido e
so independentes da lngua materna porque provm da aplicao de princpios
universais. Para que um falante possa usar as regras conscientemente, o autor
julga necessria trs condies: tempo, enfoque na forma, saber as regras.
Krashen afirma que existem trs tipos bsicos de usurios do monitor: 1)
Monitor Over-user; 2) Monitor Under-user, e 3) Optimal Monitor -user:
1 ) o monitor over-user, refere-se s pessoas que usam o monitor o tempo
todo e, constantemente, examinam a sua produo com seu conhecimento
consciente da segunda lngua. Este usurio, normalmente, possui fala hesitante e
preocupa-se demais em corrigir-se e no consegue falar fluentemente.
2) monitor under-user. refere-se as pessoas que no aprenderam sobre a
lngua, ou se aprenderam, preferem no usar o seu conhecimento consciente sobre
ela. Estas pessoas, normalmente, distinguem se a sua produo est ou no
correta, adquiriram a segunda lngua e no esto preocupadas se a sua produo
est formalmente correta.
3) optimal monitor-user, refere-se s pessoas que usam o monitor de forma
apropriada quando este no interfere na comunicao. Optimal users no usam o
monitor quando este ir interferir na sua produo. Krashen diz que Optimal users
usam a competncia aprendida como um complemento competncia adquirida.
3 5
d) hiptese do Input, esta hiptese se refere aquisio e defende a
necessidade de compreenso das mensagens transmitidas por meio de formas
lingsticas novas para o crescimento lingstico. O ideal seria que o input com
o qual a pessoa tenha contato seja compreensvel, relevante, interessante e em
quantidade suficiente, ou seja, tenha "algo mais" que possibilite a evoluo da
aquisio (input +1). Outro aspecto importante defendido por esta hiptese
que a fluncia na fala no pode ser ensinada e que o indivduo s fala quando
se sente apto a faz-lo, o que implica em variaes individuais. Da qualidade e
da quantidade de input oferecido depender a correo dos erros.
e) hiptese do filtro afetivo: esta hiptese atribui um papel importante a
fatores externos ao dispositivo de aquisio no processo de aquisio de L2.
Fatores afetivos influenciam na aquisio de uma segunda lngua porque os
aprendizes variam de acordo com a fora ou o nvel do filtro afetivo. A
motivao, a ansiedade e a autoconfiana, por exemplo, podem facilitar ou
impedir o recebimento do input. Se houver um baixo filtro afetivo, a aquisio se
realizar, caso contrrio, o filtro afetivo poder levar ao bloqueio da aquisio.
Alm dessas hipteses, Krashen (1997) estabelece quatro princpios
para o ensino-aprendizagem de lnguas estrangeiras, conforme o Natural
Approach. O primeiro princpio diz respeito compreenso. Para Krashen, a
compreenso precede a produo, isto , a escuta ou leitura precede as
habilidades de falar e escrever. Isto decorre das hipteses apresentadas
anteriormente, tendo em vista que a aquisio a base para a habilidade de
produo e, a fim de que ocorra aquisio, o aluno deve entender as
mensagens. Assim, o ponto inicial no ensino de lnguas ajudar os alunos a
entenderem o que est sendo dito para eles. Deste princpio decorrem algumas
implicaes citadas pelo autor como: primeiro, em sala de aula, o professor
sempre deve usar a lngua alvo, neste caso o Ingls. Segundo, o enfoque da
comunicao ser sobre um tpico de interesse do aluno e, terceiro, o professor
deve ajudar o aluno a entender aquilo que est em estudo.
3 6
O segundo princpio geral do Natural Approach se refere produo e
permite que esta acontea em estgios, que estgios consistem tipicamente
em: (1) resposta por comunicao no verbal, (2) resposta com uma nica
palavra, (3) combinaes de duas ou trs palavras, (4) frases, (5) sentenas e,
finalmente, (6) discurso mais complexo. A preciso gramatical muito baixa nos
estgios iniciais e aumenta lentamente com o aumento das oportunidades de
interao comunicativa e aquisio.
O terceiro princpio geral do Natural Approach que o currculo do
curso organizado por tpico, no por estrutura gramatical. Assim, um possvel
objetivo do curso que o aluno aprenda a comunicar-se em viagens, ou que
seja capaz de pedir um menu em um restaurante. A prtica especfica de
estruturas gramaticais no enfocada nestas atividades. Krashen afirma que a
gramtica ser efetivamente adquirida se os objetivos so comunicativos. Se os
objetivos so gramaticais, o aluno poder aprender um pouco de gramtica,
mas muito pouco ser adquirida. Assim, mesmo que estejamos interessados
em formar estudantes que possam falar com correo gramatical, a habilidade
comunicativa enfatizada em detrimento da preciso gramatical, dada nfase
na compreenso inicial e nos estgios de produo.
O ltimo princpio proposto por Krashen que as atividades feitas em
sala de aula que objetivam aquisio, inicialmente, devem diminuir o filtro
afetivo dos alunos. As atividades de sala de aula sempre devem enfocar tpicos
que so relevantes para os alunos e os encorajar a expressarem suas idias,
opinies, desejos, emoes e sentimentos. Um ambiente que conduz
aquisio deve ser criado pelo professor: baixo nvel de ansiedade, boa
harmonia com o professor, relacionamento amigvel com outros alunos.Tal
atmosfera benfica para que acontea a aquisio.
3 7
As hipteses de Krashen oferecem uma viso cientfica para as diferenas
entre conhecimento adquirido e aprendido, para a importncia de fatores afetivos
e para o papel dos "estmulos" na lngua estrangeira a que o estudante est sendo
exposto.
4.2 A Educao a Distncia e o Uso das Novas Tecnologias
A SEED-PR, preocupada em melhorar a qualidade do ensino da lngua
inglesa na rede pblica, rene um grupo de professores que trabalham nas
escolas pblicas do Estado e pesquisadores da rea do ensino do ingls como
lngua estrangeira para juntos definirem um modelo de curso de capacitao
para seus professores.
Este curso de atualizao se realiza no mbito da educao
continuada, na modalidade de ensino a distncia e visa atender s expectativas
dos professores no que diz respeito s questes metodolgicas e proficincia
lingstica.
Historicamente, estes foram os objetivos fixados durante o primeiro
"Seminrio de Ensino e Aprendizagem de Lnguas Estrangeiras no Setor
PtHico do Estado do Paran: A Proposta da Secretaria de Educao para o
Novo Milnio", que se deu de 29 de novembro a 03 de dezembro de 1999, na
Universidade do Professor, em Faxinai do Cu. Mais tarde, verifica-se que
dentre os cursos ofertados atravs da parceria SEED, British Council e
Universidades, o da Open University atende, em primeiro lugar, capacitao
didtico-pedaggica e, conseqentemente, capacitao lingstica do
professor, acontecendo na sua maior parte a distncia, para que atravs dessa
modalidade de ensino um grande nmero de professores em todo o Estado
3 8
tenham a oportunidade de participar do programa de capacitao ofertado pela
SEED.
Na modalidade de ensino a distncia (EAD) o professor estar
utilizando as Tecnologias da Informao e Comunicao - TIC que possibilita a
inovao dos procedimentos de ensino e o desenvolvimento de uma educao
"extra escolar"9. A tecnologia da informao faz uso dos meios eletrnicos,
possibilitando o acesso de novos pblicos ao conhecimento em locais distantes
e dispersos geograficamente, enquanto as tecnologias da comunicao
permitem hoje que os profissionais se atualizem atravs de cursos de EAD via
rede de computadores Estes recebem tambm os materiais escritos e
audiovisuais que compe no s a infra-estrutura mas so tambm
complementares a qualquer ensino a distncia. Este material deve estar de
posse do aluno, impreterivelmente, ao iniciar o curso.
Esta forma de educao vem hoje atender uma demanda educacional
decorrente de um modelo econmico em nvel mundial onde, "as mudanas nas
sociedades modernas ocorrem em ritmo acelerado, sendo especialmente
visveis no espantoso avano das tecnologias de informao e comunicao
(TIC)". (Giddens, apud Belloni, 2001, p.3).
A incorporao destas novas tecnologias no meio educacional
propiciam o desenvolvimento de aes cooperativas visando o crescimento
individual e coletivo, bem como aes interativas que buscam a iniciativa, a
flexibilidade e a autonomia do sujeito. Possibilitam tambm que as pessoas
troquem informaes, dados e pesquisas a qualquer hora e lugar.
Segundo Belloni (2001), nesta fase de modernidade tardia, a
intensificao do processo de globalizao gera mudanas em todos os nveis
9 O termo extra escolar aqui refere-se a educao que acontece fora do estabelecimento escolar.
3 9
da sociedade, criando novos estilos de vida e de consumo, e novas maneiras
de ver o mundo e de aprender. No que se refere ao sistema de ensino, este
desenvolveu-se pressionado, fundamentalmente, pelo processo de
industrializao, e pelo crescimento da populao urbana. A globalizao neste
contexto no apenas um fenmeno econmico, de surgimento de um
"sistema-mundo", mas tambm tem a ver com a transformao do espao e do
tempo. Com isso a educao assume um novo papel perante sociedade
quanto s suas finalidades e estratgias que vem sendo modificadas, de modo
que possa responder s novas demandas no acesso ao mercado de trabalho.
Para isso, faz-se necessria a introduo de meios tcnicos e uma flexibilizao
maior quanto s condies de acesso a currculos, metodologias e materiais.
As TIC compreendem uma grande variedade de bens e servios
associados ao tratamento, processamento e armazenamento de informaes e
a possibilidade de manipular dados eletronicamente, e distribu-los atravs de
redes de comunicao. Elimina barreiras de tempo e distncia, e a raiz do
processo de globalizao. Porm, para transformar informao em
conhecimento, preciso, em princpio, conhecimento para utilizar e transformar
a informao. O uso das tecnologias da informao e comunicao na
educao dependero de como o professor v e entende a transformao da
sociedade.
Segundo Rosa (2000), a prtica educacional com as TIC deve
proporcionar uma educao para a cidadania e contribuir para a construo de
uma sociedade verdadeiramente democrtica. O autor ressalta ainda que esta
dever ser uma prtica educativa global, inserida numa ampla estratgia
educativa centrada no aluno, tornando-o agente ativo e criativo, renovando com
isso, as formas de acesso ao conhecimento e oferecendo ao aluno, novas
formas de aprendizagem. Na EAD, as novas tecnologias de informao e
comunicao devem se integrar. Para Belloni (2001), estas novas tecnologias
4 0
no devem ser usadas apenas como meios para melhorar a eficincia dos
sistemas, mas principalmente como ferramentas pedaggicas, efetivamente a
servio da formao do indivduo autnomo, a educao centrada num
processo de auto-aprendizagem, com foco no sujeito que aprende, capaz de
gerir seu prprio processo de aprendizagem.
"A entrada das TIC na educao pressupe que sejam envolvidos, em paralelo, a formao de professores e o apetrechamento das escolas. As prioridades da formao de professores devem procurar proporcionar, mais do que uma competncia de manipulao de computadores, a capacidade de fazerem uma reflexo crtica sobre as TIC e sobre as suas possibilidades de utilizao pedaggica". (Rosa, 2000, p.3)
Para Chaves (2001), a questo que se coloca como educar cultural e
tecnolgicamente para que o aluno possa ter as habilidades necessrias para
ser capacitado social e profissionalmente, para que consiga sobressair-se num
mercado de trabalho onde a cada dia se exige mais conhecimento
multidisciplinar, tornando-se um profissional que saiba obter informaes em
mltiplas fontes, manter-se atualizado, processar esta informao e integr-la
ao conhecimento previamente adquirido. Com a mudana da sociedade
industrial para a sociedade do conhecimento, a EAD oferece vrias
possibilidades de atuao, como a democratizao do saber e a garantia de
condies mnimas de acesso a cultura a milhes de cidados atravs de:
Formao e capacitao profissional;
Capacitao e atualizao de professores;
Educao aberta e continuada;
Educao para a cidadania.
4 1
O autor no menciona, nos tpicos relacionados acima, a questo do
social. Contudo, a proposta estaria mais completa se fosse incluido tambm o
aspecto social ao lado do profissional. Assim, no que se refere s relaes
sociais entre professor/aluno, aluno/aluno, e instituio/aluno, o ensino
presencial propicia estas interaes promovendo alm da instruo, um
ambiente de socializao do aluno. Dificilmente um modelo de EAD ir propiciar
um ambiente de interao no mesmo nvel do ensino presencial, mas
estratgias que promovam a interao entre professor instrutor/aluno e
instituio devem ser disponibilizadas em qualquer que seja o modelo de EAD.
Neste contexto em que EAD vem sendo utilizada h uma nfase muito grande
na construo do conhecimento. Construir o conhecimento hoje significa para
Moran (1998) compreender todas as dimenses da realidade, captando e
expressando essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral.
Para que seja possvel ao aluno de EAD construir este conhecimento
necessrio que haja no curso um congressamento de diferentes competncias
no que se refere informao, ao planejamento, ao desenvolvimento e
avaliao de estratgias de ensino, tendo em vista que professor e aluno se
encontram separados fisicamente.
Esta modalidade de ensino traz consigo caractersticas prprias que
impe a necessidade de novas aprendizagens por parte de quem a planeja,
desenvolve e avalia, apresentando uma nova maneira de compreender o
processo de ensino-aprendizagem. Ela no tem o propsito de substituir a
educao presencial, mas sim ampliar as possibilidades de acesso ao
conhecimento, podendo ser at complementares. Moran (2002) relata algumas
experincias realizadas com educao a distncia as quais tem mostrado que
essa forma de ensino apresenta algumas vantagens:
pode alcanar um grande numero de pessoas;
adapta-se ao ritmo de aprendizado de cada um;
4 2
quando utilizada em grupo possibilita o exerccio de aprender a
ouvir, a discutir, a trabalhar em equipe;
se no incio, o investimento muito elevado, os custos sero diminudos
pela quantidade de pessoas que a utilizaro posteriormente;
favorece o uso de recursos tais como, rdio, televiso e computador e
desenvolve o autodidatismo, a independncia e a autonomia.
Quando a EAD est voltada para a capacitao do professor, Zamudio
(1997) argumenta que esta modalidade de ensino deve possuir como um dos
seus objetivos a auto-formao, pois a autonomia do indivduo, no seu sentido
pleno, um compromisso de todo processo educativo. Ainda sugere que para
construir para essa finalidade, os materiais pedaggicos produzidos devem
estar desde o incio no s acessveis, como em mos do aprendiz; devem ser
claros em seus enunciados de forma a introduzi-lo progressivamente ao
conhecimento, compreenso, anlise e aplicao do contedo a ser
trabalhado. "Como uma nova modalidade de ensino-aprendizagem a EAD
constitui, para o mundo da didtica tradicional, uma verdadeira revoluo, a
modificao do "Status" do aprendiz e do professor, da dinmica das relaes
professor-aluno, das fronteiras espao-tempo real, dos locais "lugares de
aprendizagem".(Zamudio, 1997, pg. 96).
preciso, porm, muita clareza sobre as condies de ter a EAD como
alternativa de democratizao do ensino. As questes educacionais no se
resolvem pela simples aplicao de tcnicas de um sofisticado sistema de
comunicao, num processo de "modernizao " do saber. Sob o ponto de vista
social, a Educao Distncia, como qualquer modalidade de educao, precisa
realizar-se como uma prtica social significativa e conseqente em relao aos
princpios filosficos de qualquer projeto pedaggico: a busca da autonomia, o
respeito liberdade e razo.
4 3
4.3 Formao/ Capacitao do Professor: o saber e a anlise do Professor
sobre a prtica.
Os saberes dos docentes a que se refere esta pesquisa no
correspondem a um conhecimento prvio no sentido usual desse termo. Eles se
referem mais a situaes especficas do trabalho prtico em sala de aula,
envolvendo questes como a autonomia do professor no controle das situaes
que envolvem o ensino-aprendizagem.
Altet (1994, p. 29) define o saber como "algo adquirido", construdo ou
elaborado atravs do estudo ou da experincia". Faz-se necessrio que o
professor adquira o conhecimento de princpios, leis e teorias que expliquem os
processos de ensino aprendizagem e ofeream normas e regras para seu uso
efetivo, para depois aplicar na prtica tais normas e regras, de modo que o
docente adquira as competncias e capacidades requeridas para uma
interveno eficaz quando necessria dentro do processo de ensino-
aprendizagem. Para tanto, Altet (2001) prope uma tipologia dos diferentes
saberes que o professor adquire na sua trajetria enquanto formado e formador:
1. Os saberes tericos, que dividem-se em:
saberes a serem ensinados: compreendem os disciplinares,
constituidos pelas cincias e os tornados didticos que permitem aos
alunos a aquisio de saberes constitudos e exteriores;
saberes para ensinar: incluem os pedaggicos sobre a gesto
interativa em sala de aula, os didticos nas diferentes disciplinas e os
saberes da cultura que est transmitindo;
4 4
2. Saberes prticos: provenientes das experincias cotidianas da
profisso, contextualizados e adquiridos em situao de trabalho, e tambm
chamados de saberes empricos ou da experincia. Estes, do ponto de vista da
psicologia cognitiva, dividem-se em:
saberes sobre a prtica: so saberes procedimentais sobre o "como
fazer" ou formalizados;
saberes da prtica: so os da experincia pessoal, produto das
aes desenvolvidas na prxis. Situa-se neste nvel o saber do
professor profissional que permite distinguir o novato do
especialista.
Estes saberes, referidos nesta tipologia esto subjacentes prtica
pedaggica do professor, provenientes de situaes de sucesso, bem como de
situaes que ainda que tenham sido previamente planejadas no obtiveram o
xito desejado. O professor muitas vezes usa estes conhecimentos de forma
no consciente, contudo, estes saberes pedaggicos so considerados pela
autora como empricos, uma vez que "os formadores dizem que sentem falta de
instrumentos apropriados para analisar as prticas e as situaes em que os
conceitos produzidos pela pesquisa didtica e pedaggica parecem-lhes
capazes de ajud-los a explicitar suas aes".(Altet, 2001, p.32).
Para tanto a autora prope dispositivos que oportunizem a anlise das
prticas e a pesquisa sobre o processo de ensino-aprendizagem que segundo
ela se constituem em duas formas que permitem ao professor construir seu
profissionalismo atravs do desenvolvimento do que ela chama de
metacompetncia: o saber analisar.
Os saberes necessrios para aquisio da prtica podem ser
construdos por profissionais detentores da prtica profissional, e este processo
de anlise da prtica poder permitir que o docente desenvolva uma postura
4 5
crtico-reflexiva em relao ao seu fazer pedaggico. Ela prope uma
articulao entre ao, formao e pesquisa uma vez que esses elementos
podem servir para o professor como instrumentos que lhe permitiro fazer esta
anlise crtica da sua prtica e apresenta uma trilogia entre os processos ao,
formao e pesquisa.
A Ao: Ensino - Aprendizagem
A formao atravs da anlise das prticas: o vaivm trialtico.
Prtica Teoria Anlise Prtica < -4 <
Conhecimentos conhecimentos conhecimentos conhecimentos
Prticos racionais instrumentais formalizados
Instrumentos de formalizao.
A pesquisa: produz saberes sobre os processos e saberes formalizados da prtica ao introduzir uma problematizao, uma leitura transversal para a anlise, para a relao entre as variveis, e a identificao dos mecanismos de funcionamento dos processos.
Figura 1.0 Articulao dos processos ao, formao e pesquisa. (Altet, 1994).
"A anlise das prticas um procedimento de formao centrado na anlise e na reflexo das prticas vivenciadas, o qual produz saberes sobre a ao e formaliza os saberes de ao. Pode ser realizada com a ajuda de dispositivos mediadores, como vdeo-formao, verbalizaes de recordaes por estmulo de entrevistas de esclarecimento que favoream a verbalizao, a tomada de conscincia e de conhecimentos". ( Paquay, Altet e Charlier, 2001, p.33).
4 6
Para Paquay, Altet e Charlier (2001, p.33), a relao prtica-teoria-
prtica " algo que se alimenta de saberes intermedirios para nomear,
interpretar, distanciar-se das prticas, das situaes, das interaes
pedaggicas, dos instrumentos de formalizao e de apropriao da realidade
produzidos pela pesquisa". Uma formao centrada na prtica procede da
prpria anlise, tornando-se importante tambm o confrontamento dos
conhecimentos cientficos com as experincias vivenciadas, utilizando para
tanto os instrumentos de formalizao construdos pela pesquis