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MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS DO SERVIÇO DE ENFERMAGEM DE SAÚDE PÚBLICA Odete Barros de Andrade * RSPU-B/284 ANDRADE, O. B. de — Manual de normas e procedimentos do serviço de en- fermagem de saúde pública. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:455-66, 1975. RESUMO: São apresentadas sugestões para elaboração de um manual de normas e procedimentos para serviços de enfermagem de saúde pública a nível local. A metodologia proposta descreve os procedimentos para cada fase, in- cluindo: análise da situação através da coleta, análise e interpretação de in- formações para determinar o conteúdo do manual; determinação das categorias de informações incluindo detalhamento e correção; organização com detalhes quanto à estruturação do conteúdo informativo e ordenação, seleção dos re- cursos materiais requeridos e montagem; considerações sobre utilização, ava- liação e atualização do manual. UNITERMOS: Serviço de enfermagem de saúde pública. Organização e administração. Manual de normas e procedimentos. * Da Disciplina Enfermagem de Saúde Pública do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil. l — INTRODUÇÃO Em serviços de saúde pública, como em qualquer organização modernamente es- truturada, os manuais são hoje amplamen- te reconhecidos como um dos importantes meios para o eficiente desenvolvimento dos programas. Assim, também, em serviço de enfer- magem de saúde pública, especialmente de nível local, a utilização de manual, compreendendo normas e procedimentos, é condição indispensável ao desempenho do trabalho, em termos do alcance dos objetivos da organização. Ele se torna ainda mais importante pelo fato do tra- balho de enfermagem ser, por sua natu- reza, polivalente envolvendo ação integra- dora de todas as áreas responsáveis pela assistência à população, implicando, por- tanto : a) conhecimento de um conjunto de normas e procedimentos técnico-ad- ministrativos variado e de caráter multiespecializado; b) adequada aplicação de normas e pro- cedimentos em diferentes situações de saúde. A característica polivalente da enfer- magem e suas implicações justificam e tornam indispensável a utilização de ma- nual, uma vez que ele, adequadamente es- truturado, oferece condições para melhor transmissão das normas e procedimentos ao pessoal de enfermagem durante o trei- namento em serviço, e uniformidade na interpretação destas informações na con- tinuidade do trabalho para reafirmação e

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MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS DO SERVIÇODE ENFERMAGEM DE SAÚDE PÚBLICA

Odete Barros de Andrade *

RSPU-B/284

ANDRADE, O. B. de — Manual de normas e procedimentos do serviço de en-fermagem de saúde pública. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:455-66, 1975.

RESUMO: São apresentadas sugestões para elaboração de um manual denormas e procedimentos para serviços de enfermagem de saúde pública a nívellocal. A metodologia proposta descreve os procedimentos para cada fase, in-cluindo: análise da situação através da coleta, análise e interpretação de in-formações para determinar o conteúdo do manual; determinação das categoriasde informações incluindo detalhamento e correção; organização com detalhesquanto à estruturação do conteúdo informativo e ordenação, seleção dos re-cursos materiais requeridos e montagem; considerações sobre utilização, ava-liação e atualização do manual.

UNITERMOS: Serviço de enfermagem de saúde pública. Organização eadministração. Manual de normas e procedimentos.

* Da Disciplina Enfermagem de Saúde Pública do Departamento de Prática de Saúde Públicada Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil.

l — I N T R O D U Ç Ã O

Em serviços de saúde pública, como emqualquer organização modernamente es-truturada, os manuais são hoje amplamen-te reconhecidos como um dos importantesmeios para o eficiente desenvolvimentodos programas.

Assim, também, em serviço de enfer-magem de saúde pública, especialmentede nível local, a utilização de manual,compreendendo normas e procedimentos,é condição indispensável ao desempenhodo trabalho, em termos do alcance dosobjetivos da organização. Ele se tornaainda mais importante pelo fato do tra-balho de enfermagem ser, por sua natu-reza, polivalente envolvendo ação integra-dora de todas as áreas responsáveis pelaassistência à população, implicando, por-tanto :

a) conhecimento de um conjunto denormas e procedimentos técnico-ad-ministrativos variado e de carátermultiespecializado;

b) adequada aplicação de normas e pro-cedimentos em diferentes situaçõesde saúde.

A característica polivalente da enfer-magem e suas implicações justificam etornam indispensável a utilização de ma-nual, uma vez que ele, adequadamente es-truturado, oferece condições para melhortransmissão das normas e procedimentosao pessoal de enfermagem durante o trei-namento em serviço, e uniformidade nainterpretação destas informações na con-tinuidade do trabalho para reafirmação e

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esclarecimentos. Daí o nosso interesse emapresentar sugestões como subsídios paraa elaboração de um manual de normase procedimentos para o serviço de enfer-magem de saúde pública local.

2 — SI G N I F I C ADO

O manual de normas e procedimentosdo Serviço de Enfermagem de Saúde Pú-blica local é considerado

um recurso utilizado para reunir, demodo organizado, o conjunto de nor-mas e procedimentos técnico-admi-nistrativos estabelecidos para a exe-cução das ações de saúde, bem comooutras informações significativas pa-ra o adequado, eficiente e eficaz de-senvolvimento do trabalho de enfer-magem de saúde pública local. Omanual constitui uma fonte de re-ferência objetiva, clara e acessívelao pessoal de enfermagem, sempreque necessário, favorecendo melhorinterpretação das bases ou linhas deorientação requeridas em termos deelaboração de planos de ação, exe-cução, coordenação, controle, super-visão e avaliação das ações de en-fermagem de saúde pública.

3 — F I N A L I D A D E

Em enfermagem de saúde pública, ummanual de normas e procedimentos podeser elaborado para vários fins, tais como:

3.1 — geral — contendo normas técni-co-administrativas, procedimentose informações expressos para aexecução das ações de saúde, ela-borado com o fim de servir debase e orientação para o desen-

volvimento de todas as ações deenfermagem na unidade local;

3.2 — específico — contendo os aspec-tos de uma área do programa desaúde, quando esta requer da en-fermagem uma atuação mais am-pla em termos de extensão e com-plexidade. Como exemplo cita-mos a epidemiologia, quando in-clui investigação epidemiológica,controle de casos e vacinação, co-brindo uma área extensa e de altadensidade demográfica, apresen-tando variados problemas de saú-de;

3.3 — de "educação em serviço"* in-cluindo: normas, procedimentos,métodos, técnicas, bibliografia eoutros recursos utilizados no de-senvolvimento das atividades deensino.

Em serviços de saúde mais complexosque desenvolvem estas atividades de edu-cação em serviço e que também incluem,como um dos seus objetivos, estágio deestudantes e profissionais, é recomendadaa elaboração deste tipo de manual.

Os dois primeiros tipos de manual ser-virão para o uso de toda a equipe deenfermagem e de outros interessados; oúltimo será utilizado mais especificamentepelas enfermeiras responsáveis pelo trei-namento do pessoal de enfermagem daunidade e pelo estágio de estudantes deenfermagem.

4 — R E S P O N S A B I L I D A D E

A elaboração do manual de normas eprocedimentos do Serviço de Enfermagemde Saúde Pública local é parte do tra-

*Em enfermagem, o termo "educação em serviço" compreende um conjunto de ativi-dades de ensino para o seu próprio pessoal ou de estagiários, designado como: orienta-ção ao trabalho, treinamento de habilidade e educação continuada, ou seja, a oportuni-dade para a atualização ou aquisição de novos conhecimentos, novas habilidades ou me-lhoria das adquiridas.

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balho do enfermeiro responsável pela or-ganização do serviço de enfermagem.

Para melhor compreensão das respon-sabilidades atribuídas à enfermagem, apre-sentamos o esquema organizacional dosistema de enfermagem em órgãos desaúde pública, modernamente estrutura-dos em vários níveis.

Tendo como propósito prover a assis-tência de enfermagem à população, emfunção da sua participação nos programasde saúde, a enfermagem está represen-tada em todos os níveis da organização,através de suas unidades funcionalmenteestruturadas:

a) a nível central, constituindo a unida-de responsável pelo desenvolvimen-to da enfermagem em todos os níveisde atuação. Compete à enfermeiraestabelecer e propor as linhas básicasde enfermagem;

b) a nível regional, com a atribuição deadaptar aos diferentes níveis de atua-ção as diretrizes gerais e normas es-pecíficas estabelecidas no nível su-perior, em termos de organização,programação e desenvolvimento dotrabalho de enfermagem;

c) a nível local, constitui a unidade ope-racional estruturada com várias ca-tegorias de pessoal de enfermagem— profissional e auxiliar — variáveltambém em número, conforme as ca-racterísticas do programa desenvolvi-do em cada unidade de saúde. Com-pete a esta unidade o cumprimentoda função de prestação de assistên-cia de enfermagem requerida nosprogramas de saúde. Esta função éa que justifica a existência de todoo sistema de enfermagem e compreen-de um conjunto de atividades e ta-refas, as quais, de acordo com o graude complexidade e nível de julgamen-to requerido, são executadas pela en-fermeira ou delegadas ao pessoal au-

xiliar que as executa sob a supervi-são da primeira.

Assim, em serviços de saúde estrutura-dos em vários níveis, a responsabilidadepela elaboração do manual é atribuída àenfermeira de nível regional ou central.

Em serviços de estruturas mais simples,o manual poderá ser elaborado sob a res-ponsabilidade da enfermeira da unidadesanitária com mais preparo e experiência.

Em ambos os casos, outros membros daequipe poderão participar na elaboração.

Na revisão e atualização do manualdeve ser adotado o mesmo critério de res-ponsabilidade utilizado na sua elabora-ção.

Igualmente nesta fase todos os membrosda equipe poderão participar ativamentena manutenção do manual analisando,avaliando, sugerindo e informando.

5 — A ELABORAÇÃO DO MANUAL

Neste trabalho pressupomos a elabora-ção de um manual de normas e procedi-mentos geral requerido em um serviço deenfermagem de unidade local.

O manual de normas e procedimentospode ser elaborado partindo de duas si-tuações:

a) quando o serviço está em fase deorganização e programação de suasatividades. Neste caso a elaboraçãopoderá ser iniciada logo após as de-cisões quanto à estruturação e pro-gramação. A apresentação do ma-nual para uso poderá ser simultâneacom a implantação do programaaprovado;

b) quando o serviço, já em funciona-mento, não utiliza um meio adequadode apresentação escrita das normase procedimentos estabelecidos. Estasituação requer um estudo da práti-ca de enfermagem, podendo resultar

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em decisões quanto à: atualizaçãodas normas e procedimentos, elimi-nação daqueles que não se ajustamàs condições ideais ou na introduçãode outros.

6 — METODOLOGIA DA ELABORAÇÃO

Em ambas as situações descritas acima,a mesma metodologia pode ser aplicadana elaboração do manual, compreendendoas seguintes fases:

a) análise da situação — envolve le-vantamento de informações sobre oserviço, visando a determinação doconteúdo do manual;

b) determinação e especificação de as-suntos básicos. Serviços já em fun-cionamento deverão incluir eventuaiscorreções ou atualizações;

c) organização do manual — compreen-dendo ordenação dos assuntos, escolhados recursos requeridos, revisão dacópia provisória, distribuição no co-lecionador, determinação de um cri-tério para localização;

d) aprovação;

e) apresentação para uso;

f) revisão e avaliação.

Como sugestão, focalizaremos a abran-gência de cada uma das fases:

6.1 — Análise da situação

6.1.1 — Levantamento

O levantamento de informações develimitar-se ao que é significativo para ofim proposto. Requer:

6.1.1.1 — Determinação da extensãodas informações a serem co-letadas

As informações deverão cobrir aspectosda situação de enfermagem na unidadesanitária, em termos de sua colocação naestrutura do serviço, quanto ao sistemaadministrativo, às metas propostas, à pro-gramação das ações de saúde a serem de-senvolvidas para o alcance dos propósitose aos recursos requeridos para execuçãodas atividades.

6.1.1.2 — Elaboração de uma relaçãoindicando as informações aserem coletadas para estudo

As características do conteúdo técni-co-administrativo de um manual depen-dem do tipo de serviço para o qual eleestá sendo preparado. Em termos gerais,os serviços de saúde pública, estrutural efuncionalmente organizados de acordocom modernas técnicas metodológicas,podem apresentar características básicascomuns, como por exemplo: filosofia eobjetivos definidos; estrutura apresentan-do um esquema básico comum; adoção deuma política de saúde; programas de saú-de elaborados para atender necessidadesde saúde da população; sistema adminis-trativo para o desenvolvimento do traba-lho. Entretanto, dependendo de muitosfatores como: localização do serviço; ca-racterística da população da área queatende; diferenças locais quanto aos pro-blemas de saúde que requerem diferentesprogramas para atendê-los; recursos dis-poníveis — os aspectos básicos gerais decada serviço podem ser expressos de mo-do diferente.

Correspondentemente, também, as ca-racterísticas do manual de normas e pro-cedimentos podem apresentar variações deum serviço para outro em termos de es-pecificação do conteúdo correspondente acada serviço. Portanto, para que o ma-nual seja adequado é importante que to-dos os assuntos nele apresentados corres-pondam àqueles que foram aprovadospara o respectivo serviço.

Considerando as diferenças existentes,apresentamos, a seguir, alguns aspectos

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gerais técnico-administrativos que pode-rão servir como sugestão para ser elabo-rada uma relação das informações a se-rem coletadas para a análise e compreen-são da situação de enfermagem de saúdepública na unidade sanitária. Deste mo-do, a enfermeira poderá selecionar os as-suntos mais significativos para o tipo demanual a ser elaborado.

As informações a serem coletadas de-vem cobrir o seguinte:

a) sistema organizacional do serviço desaúde pública onde a enfermagem es-tá integrada; descrição geral das fi-nalidades das características dos dife-rentes níveis hierárquicos;

b) categoria da unidade sanitária en-volvida: finalidade, unidades estru-turais, atribuições e dimensionamen-to de pessoal; metas e programaspropostos para atender às necessida-des de saúde da população; plano deação para o desenvolvimento dosmesmos; objetivos, atividades, recur-sos, normas e procedimentos; popu-lação e extensão da área atendida;

c) organização estrutural e funcional daenfermagem dentro da estrutura daunidade de saúde:

— objetivos;— hierarquização administrativa e

técnica:— definição da infra-estrutura;— categoria e dimensionamen-

to de pessoal;— definição das funções, ati-

vidades e tarefas adminis-trativas — coordenação, su-pervisão, controle, avaliação— e treinamento de pessoal;

d) programação de enfermagem, incluin-do as características da assistênciade enfermagem prestada à populaçãoem cada programa: atividades, ta-refas e respectivos instrumentos re-

queridos para sua execução, norma-lização, procedimentos, tipos de mo-delos utilizados para registro de da-dos e instruções para seu uso.

6.1.1.3 — Determinação das técnicase procedimentos a serem uti-lizados na coleta de dados

As técnicas e procedimentos para a co-leta de informações dependem da situa-ção envolvida utilizando as que mais seajustam às condições. Dentre elas, cita-mos:

6.1.1.3.1 — Entrevista — adequa-damente utilizada, é uma técnica por meioda qual a enfermeira poderá obter infor-mações importantes para orientar decisõesquanto ao conteúdo e montagem dos as-suntos. Ela poderá ser realizada com osespecialistas e principalmente com o pes-soal de enfermagem do próprio serviçoe de outros que já se utilizam de um ma-nual. As informações sobre a utilizaçãodo manual servirão de base para umaadequação dos mesmos à situação envol-vida.

6.1.1.3.2 — Estudo de informações es-critas existentes sobre oserviço de saúde pública:

a) quando o programa de saúde aindanão foi implantado, este estudo po-derá cobrir aspectos da estruturaproposta para a unidade sanitária eda programação das ações de saúdejá aprovadas para implantação. Se-rá um estudo de uma situação teó-rica que, na realidade, não expressaa prática de enfermagem na unidadesanitária. Mas a enfermeira poderácomplementar o estudo destas infor-mações com o levantamento de in-formações sobre a experiência do usodo manual em outros serviços;

b) nas unidades sanitárias em funcio-namento, o estudo das informaçõesé mais objetivo porque, sendo reali-

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zado em uma situação real de traba-lho, as informações refletem muitoda prática de enfermagem de saúdepública.

As informações escritas poderão serobtidas através de vários recursos, comopor exemplo:

— representação gráfica e apresentaçãodescritiva do organograma da unida-de sanitária;

— modelos utilizados para registro dedados estatísticos, de atividades e ta-refas executadas pelo pessoal de en-fermagem de saúde pública;

— consultas a documentos preliminaresde estudos, tais como projetos de nor-mas, de regulamentos;

— levantamento bibliográfico sobre ma-nuais.

6.1.1.3.3 — Questionário — é umrecurso utilizado para coleta de informa-ções que poderá ser de grande utilidadequando adequadamente elaborado. Os mo-delos contendo as perguntas, por meio dasquais as informações necessárias serãoobtidas, devem ser objetivos, simples, cla-ros, compreensíveis. Quando há disponi-bilidade para tabulação mecânica, a es-truturação do questionário merece aindamaior atenção. Para facilitar a tabula-ção e análise cada item deve ser codifi-cado.

Além das perguntas sobre as informa-ções requeridas, o modelo deve incluirinstruções sobre a finalidade das mesmase outros aspectos necessários para obten-ção de respostas satisfatórias.

O questionário poderá ser mais satis-fatório se precedendo à sua aplicação omodelo elaborado for submetido a um tes-te de comprovação de sua validade, e opessoal envolvido for preparado para uti-lizá-lo.

6.1.1.3.4 — Observação da práticade enfermagem — quando o tempo dis-ponível para o levantamento das informa-ções permitir, a enfermeira poderá ob-servar a execução do trabalho de enfer-magem na unidade sanitária. Este re-curso oferece condições para:

a) verificar como as normas e procedi-mentos estão sendo aplicados;

b) identificar as possíveis dificuldadesde comunicação existentes, as neces-sidades do pessoal quanto ao seu pre-paro para executar as atividades etarefas da sua atribuição;

c) obter outras informaçções que pode-rão servir de base para orientar aelaboração do manual proposto.

6.1.2 — Análise e interpretaçãodas informações

A análise das informações coletadaspermite conhecer a situação envolvendoa enfermagem e serve de base para asdecisões quanto ao conteúdo do manual.Para serem significativas, as informaçõescoletadas devem ser arranjadas de modoa facilitar a análise e interpretação emtermos do que se pretende.

No primeiro exemplo citado, quando aprogramação das ações de saúde já foiaprovada mas ainda não implantada, afase de análise, principalmente quando aenfermeira participou da programação desaúde, corresponde mais a um estudo ourevisão de decisões tomadas com base empadrões recomendados. Algumas dúvidaspoderão ser esclarecidas com os outros es-pecialistas.

No segundo exemplo, incluindo infor-mações que expressam a prática de en-fermagem em situação real, a análise émais complexa, pois o levantamento po-derá proporcionar informações que nãose ajustam às modernas técnicas de saúdepública. Neste caso poderá haver ne-

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cessidade de reformulação de normas eprocedimentos, antes da montagem domanual. As decisões que se fizerem ne-cessárias a este respeito devem ser toma-das em conjunto com os outros membrosda equipe de saúde, para tanto autori-zados.

Os critérios geralmente utilizados paraa análise e interpretação das informaçõescoletadas são: apreciação objetiva quepermite comparação e dimensionamentode realidades já conhecidas e testadas;e o julgamento profissional que deveráser usado com cautela para evitar os ris-cos decorrentes de uma apreciação subje-tiva. Quando a apreciação subjetiva esti-ver envolvida, deve-se considerar que elapoderá servir de base útil para uma in-terpretação realista das informações co-letadas desde que utilizada sem o envol-vimento de preconceitos, valores e padrõestradicionalmente aceitos.

6.2 — Determinação dos assuntosbásicos

A decisão quanto à seleção dos compo-nentes que constituirão o conteúdo domanual poderá ser melhor orientada pormeio de:

6.2.1 — Elaboração de uma relaçãodas categorias gerais dos componentes dasituação, dos quais pode ser extraída asnecessárias informações para o conteúdodo manual de enfermagem, como porexemplo:

— organização da unidade sanitária— programas de saúde desenvolvidos— enfermagem de saúde pública

6.2.2 — Especificação dos assuntos

Cada categoria geral relacionada de-verá ser o suficientemente detalhada, emtermos da extensão que melhor atenda àsespecificações requeridas para a orienta-ção do trabalho do pessoal que vai utili-

zar o manual. Para este detalhamento aenfermeira deverá considerar que:

a) o manual deverá conter assuntos sig-nificativos referentes ao serviço desaúde pública, especialmente àquelesenvolvendo decisões técnico-adminis-trativas nas quais são baseados a ela-boração e o desenvolvimento das açõesde enfermagem. Particular atençãodeve ser dada às funções, atividades,tarefas, procedimentos, normas, me-todologia e recursos de enfermagem;

b) os assuntos do manual devem corres-ponder àqueles aprovados pelo ser-viço;

c) a redação dos assuntos deve ser cor-reta, clara e objetiva, para transmitirde modo definido o significado dese-jado:

— deve ser evitada ambigüidadepara que as informações sejamadequadamente transmitidas;

— as normas que possam dar mar-gem a mais de uma interpreta-ção, como por exemplo, suges-tão e decisão, devem ser corri-gidas.

6.2.3 — Atualização ou correção dealguns assuntos

Em alguns serviços com programas emdesenvolvimento poderá haver normas,procedimentos ou outros aspectos que re-queiram atualização ou reformulação dasua redação. Este trabalho requer aparticipação de todos os especialistas en-volvidos.

A análise e interpretação dos aspectosde enfermagem são da responsabilidadedo enfermeiro, assim como são da res-ponsabilidade dos outros profissionais dasaúde, a análise e interpretação dos as-suntos específicos das respectivas áreas.Mas a decisão quanto às mudanças ou

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atualização de normas existentes, só po-derá ser tomada em conjunto com os res-ponsáveis pelo serviço e dentro do con-texto dos programas elaborados.

6.3 — Organização

O manual deve ser estruturado de mo-do a constituir um conjunto harmoniosode unidades informativas atualizadas, sig-nificativas e acessíveis ao pessoal que ne-cessita consultá-lo.

Para melhor atender a esta proposição,algumas sugestões são apresentadas quan-to à:

6.3.1 — estrutura do conteúdo infor-mativo

Uma cópia provisória dos assuntosdeve ser elaborada na ordem como devefigurar no manual, compreendendo:

6.3.1.1 — Ordenação dos assuntos

Os assuntos selecionados ou submetidosa estudo para atualização e aprovaçãodevem ser agrupados conforme categoriase em seqüência lógica de apresentação,como por exemplo:

a) Informações gerais sobre o Serviçode Saúde Pública:— Propósito— Política— Estrutura

b) Informações básicas sobre a unidadede saúde:

— Objetivos— Estrutura— Programas

— Saúde materna— Saúde da criança

c) Informações sobre a enfermagem:— Objetivos— Estruturação— Programação— Processos administrativos envol-

vidos: coordenação, supervisão,controle, avaliação

— Normas e procedimentos

d) Anexos (como por exemplo) :— Modelos utilizados e explicações

sobre utilização— Relação de abreviaturas— Bibliografia

6.3.1.2 — Apresentação dos assuntos— recomendamos:

a) adotar um sistema uniforme paradisposição dos itens. Quando houvernecessidade de subdividir um assun-to em diversos tópicos, o espaço parao parágrafo indicando estas subdivi-sões poderá ser maior. Deve-se ado-tar um só sistema de divisão e sub-divisão dos assuntos para todas asexposições do manual. Sugerimos anumeração progressiva usada paraindicar as várias partes de um do-cumento *;

b) as categorias de assuntos diferentes,com títulos escritos com letras maiús-culas, poderão ser agrupadas em"capítulos" ou "parte I, II, I I I . . . "Os títulos e subtítulos dos assuntosdevem refletir claramente grupamen-tos homogêneos;

c) grifar as palavras sempre que indi-cado;

d) evitar o uso de abreviaturas e/ousiglas, a menos que sejam estabele-cidas pelo serviço e usadas dentro doseu contexto. Recomenda-se incluirno conteúdo do manual, lista de abre-viaturas e siglas, como por exemplo:

* Ver Norma Brasileira NB-69/1963, publicada pela Associação Brasileira de Normais Técnicas.

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— V.A.V. — Vacina antivarió-lica

— V.D.P.T. — Vacina Diftérica,Pertussi, Tétano-Tríplice

— USP — Universidade de SãoPaulo

e) as informações sobre cada área de-vem ser escritas separadamente, evi-tando-se começar em uma mesma fo-lha a descrição de área seguinte;

f) Escrever os assuntos deixando mar-gem suficiente para perfurar as fo-lhas de modo a serem reunidas soltasem um colecionador.

6.3.2 — Estrutura física

6.3.2.1 — Tipo

O manual proposto neste trabalho ca-racteriza-se por apresentar o seu conteúdoem folhas soltas perfuradas de modo aserem reunidas em um colecionador pormeio de um dispositivo de metal. Visaa facilitar a substituição das folhas emsituações como revisão e atualização deassuntos ou dano de alguma folha, semque apresente solução de continuidade naordem.

Devidamente montado este tipo oferececondições para proporcionar:

— proteção ao conteúdo;— facilidade no seu manuseio e na lo-

calização dos assuntos;— economia de tempo e de material

quando requer atualização de infor-mações.

6 .3.2.2 — Recursos requeridos

A montagem do manual requer decisãoquanto ao tipo de papel, ao tipo e for-mato do colecionador e à apresentação ti-pográfica dos assuntos. A escolha de umvai determinar a decisão quanto aos de-mais.

6.3.2.2.1 — Tipo de papel para im-pressão

As folhas de papel para imprimir osassuntos devem ser uniformes no formato,espessura e cor.

Na escolha do papel deve-se dar pre-ferência a um tipo com característicasque ofereça boa visibilidade das palavrasimpressas e durabilidade. O papel sulfi-te branco, espessura 24 k, tamanho ofíciopoderá atender às especificações para omanual.

6 .3 .2 .2 .2 — Reforço de papel gomado

Será colado aos furos de cada folhaantes de serem reunidas ao colecionadorpara evitar que se rasguem.

6 .3 .2 .2 .3 — Colecionador

O colecionador deve ser do tipo que:

a) possua um dispositivo de metal fácilde abrir e fechar, que possibilite acolocação e retirada de cada folha,mantendo o conjunto em ordem;

b) ofereça a devida proteção às folhas.O tipo utilizado pelos estudantespreenche estes requisitos. Pode serencontrado em couro, plástico oupapelão, em diversos formatos, adap-tando-se a qualquer tipo de papelescolhido e não é dispendioso.

6 .3 .2 .2 .4 — Impressão tipográfica

Para a apresentação tipográfica dosassuntos deve-se escolher um tipo de im-pressão que ofereça uniformidade, cla-reza, boa visibilidade e que seja econô-mico e acessível sempre que houver ne-cessidade de atualização de informaçõesou inclusão de novas.

6.3.3 — Revisão da cópia provisória eimpressão definitiva

A cópia provisória dos assuntos deveser submetida a uma revisão. Alguns

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aspectos que ainda possam requerer cor-reção ou mudança na ordem serão corri-gidos antes de serem encaminhados paraa impressão definitiva.

Terminada a revisão, todos os assun-tos serão imprimidos de acordo com otipo de impressão escolhido. Uma vezprontos é necessária a correção para de-tectar possíveis enganos.

6.3.4 — Distribuição dos assuntosno colecionador

Depois de prontos, os assuntos serãodistribuídos no colecionador selecionado,levando em consideração o seguinte:

a) a distribuição dos assuntos no co-lecionador será feita conforme a or-dem mais lógica de apresentação eextensão dos assuntos de cada cate-goria ;

b) a extensão das informações referen-tes a cada área da saúde pode variar,dependendo dos serviços de saúdeprestados serem mais ou menos com-plexos. Daí decorre o maior ou me-nor número de folhas impressas quecompreenderão o conteúdo total domanual;

c) dependendo do total de folhas im-pressas, os assuntos poderão ser di-tribuídos em um ou mais de um co-lecionador que chamaremos de "vo-lume" ; o agrupamento volumoso defolhas em um só volume torna difícilo seu manuseio e localização dos as-suntos, além de danificar rapidamen-te as folhas;

d) quando a apresentação das informa-ções requer mais de um "volume",sugerimos numerar cada um delesem ordem seqüencial. Pode-se ado-tar os números arábicos ou romanos,mas para diferenciar da numeraçãoprogressiva dos assuntos em arábico,

preferimos, para numerar os "volu-mes", utilizar os algarismos roma-nos. Ex.: Volume I, Volume II;

e) cada "volume" poderá conter infor-mações referentes a uma, duas, oumais áreas do serviço de saúde agru-padas em "capítulos" ou "partes".Exemplo, no Volume I poderão serdistribuídas informações sobre es-truturação do serviço de saúde pú-blica, organização da unidade sani-tária, característica da área progra-mática; no Volume II informaçõessobre programa de Saúde Materna,Saúde da Criança;

f) entre cada categoria de informaçõesdo mesmo "volume" deverá haveruma página com indicador, separan-do-as ;

g) o uso de folhas soltas para imprimiros assuntos requer que sejam perfu-radas na altura dos dispositivos docolecionador para encaixá-las. Nestecaso recomenda-se reforçar os furosde todas as folhas com protetores es-pecíficos para este fim. Esta medidaevita que as folhas sejam rasgadase perdidas.

6.3.5 — Meios para localizaçãodos assuntos

É importante adotar um meio adequa-do que facilite a localização dos assuntos.Alguns deles são sugeridos abaixo:

6.3.5.1 — Índice das divisões princi-pais

a) No caso do conteúdo do manual estardisperso em mais de um coleciona-dor, será necessário elaborar um ín-dice indicando as principais divisõesde cada volume.Este índice poderá figurar na pri-meira página do primeiro volume,conforme o seguinte:

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b) Outra alternativa será incluir noinício de cada volume um índice in-dicando os tópicos principais dosassuntos nele contido. Neste casonão haverá necessidade do mencio-nado no item a.

c) A adoção de qualquer um dos meiosindicados não exclui a utilidade demanter, em lugar de fácil acesso, umíndice indicando resumidamente osassuntos de cada volume, exemplo:

Volume I — Características doServiço de SaúdePública.

Volume II — Saúde Materna,conforme a distribui-ção adotada.

Esta medida facilita a localização doassunto a ser consultado, principal-mente para as pessoas que ainda nãoestão familiarizadas com o manual,como por exemplo, estagiários.

6.3.5.2 — Índice geral alfabético

Todas as informações significativas de-vem figurar em índice de assuntos, apre-sentado em ordem alfabética, na últimafolha do último volume. Neste caso de-ve-se considerar:

a) quando uma informação sugerir maisde uma indicação, cada uma delas

deverá figurar na folha correspon-dendo à respectiva letra, como porexemplo): Reação de Mantoux:

b) os assuntos correspondentes a cadaletra do índice devem figurar emfolhas independentes. Deste modo, ainclusão de novos itens facilitará aordenação alfabética do índice.

6.4 — Aprovação

Terminada a elaboração do manual,este deve ser submetido à aprovação porparte da autoridade responsável por estadecisão. Conforme a estrutura organiza-cional estabelecida para a elaboração domanual, a aprovação final poderá serresponsabilidade do dirigente da unidadesanitária ou de outra autoridade hierar-quicamente superior.

6.5 — Apresentação para uso

Uma vez aprovado, para melhor com-preensão do manual e estímulo do pessoalpara consultá-lo, procede-se:

a) à apresentação às enfermeiras e a ou-tros profissionais da unidade de saú-de, para tomarem conhecimento doseu conteúdo;

Page 12: MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS DO SERVIÇO DE ENFERMAGEM

b) ao preparo do pessoal auxiliar deenfermagem incluindo explicação dosignificado e objetivo e instruções deutilização.

6.6 — Utilização

Terminada a instrução do pessoal, omanual será entregue para utilização.Para facilitar o manuseio ele deve sercolocado em lugar acessível e conhecidode todos os usuários e interessados. Re-comenda-se que:

a) a localização seja em estante ou me-sa e nunca em armário fechado ougaveta;

b) a consulta seja realizada no própriolocal para evitar não ser encontradoquando necessário;

c) sendo necessário, manter mais de umacópia à disposição.

6.7 — Revisão e atualização

Elaborar o manual e apresentá-lo aopessoal de enfermagem para uso, não sig-nifica que o trabalho esteja terminado.A natureza do seu conteúdo requer:

6.7.1 — avaliação da utilidade do ma-nual;

6.7.2 — revisão periódica para mantera devida ordem nos volumes;

6.7.3 — atualização do conteúdo em si-tuações como por exemplo:mudança estrutural e de pro-gramação, divulgação de no-vos conhecimentos, métodos,novas técnicas significativas pa-ra a enfermagem. As mudan-ças do conteúdo devem ser co-municadas ao pessoal de enfer-magem e aos demais usuáriose interessados.

RSPU-B/284

ANDRADE, O. B. de — [A Manual of norms and procedures of Public HealthNursing services]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:455-66, 1975.

SUMMARY: Sugestions are presented on the organization of a manual forPublic Health Nursing services at the local level. The methodology describesthe procedures envolved in each stage including: analysis of the situationthrough data collection and their interpretation in order to determine thecontent of the manual; determination of categories of information needed,including specification and correction; organization giving details concerningthe struture of the total content, the ordering of information according to eachcategory, selection of required material resources and mounting of the manual;considerations on the utilisation, evaluation and means by which the informationis to be kept up to date are also presented.

UNITERMS: Public Health Nursing Services. Organization and Adminis-tration.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. HENDRICH, J. G. — Company manuals.In: LAZZARO, V., ed. — Systems andprocedures. Englewood Cliffs, N.J.,Prentice Hall, 1963. p. 248-70.

2. FREEMAN, R. B. — Techniques of super-vision in public health nursing. 2nd

ed. Philadelfia, Saunders, 1949. p.293-99.

Recebido para publicação em 01/07/1975Aprovado para publicação em 22 /09 /1975