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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA
O PERFIL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 4 A 5 ANOS
MARINEIDE DIAS RAMALHO MARCOLINO
NOVA CRUZ-RN
2016
MARINEIDE DIAS RAMALHO MARCOLINO
O PERFIL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 4 A 5 ANOS
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Ms. Andressa Lenuska Sousa de Macedo.
NOVA CRUZ-RN
2016
O PERFIL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 4 A 5 ANOS
Por
MARINEIDE DIAS RAMALHO MARCOLINO
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profa. Ms. Andressa Lenuska Sousa de Macedo (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Profa. Ms. Andreza Souza Santos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Profa. Ms. Maria Deuza dos Santos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO
O trabalho consiste em apresentar reflexões acerca do “perfil do professor da
educação infantil de 4 a 5 anos”. Objetiva traçar um panorama histórico da
educação, abordando a importância desse profissional e o perfil exigido para a
sua prática. Utilizamos como metodologia, a revisão bibliográfica e observação
reflexiva. A temática se divide em três partes: na primeira parte, o texto traz um
breve relato da trajetória da instituição da modalidade de educação infantil, bem
como, as modificações que ocorreram nesse espaço ao longo do tempo, nesse
tópico também serão abordadas a importância e as exigências que se fazem
necessárias à formação do professor na perspectiva atual da educação infantil.
Mais adiante, indagaremos a respeito da relevância desse profissional como
facilitador do processo de aquisição do conhecimento, assim como da sua
prática para o desenvolvimento infantil, que deve se aliar a métodos lúdicos, para
proporcionar ao educando um aprendizado eficaz e prazeroso. Também será
possível refletir a respeito do perfil desse profissional e até que ponto sua postura
pode vir a interferir na aprendizagem da criança; Finalizo o trabalho com
impressões e considerações acerca da temática.
PALAVRAS-CHAVE: Educação infantil. Perfil do educador infantil.
Formação de professores da educação infantil.
ABSTRACT
The work is to present reflections on the "teacher profile of early childhood education 4-5 years." It aims to draw a historical overview of education, addressing the importance of this work and the required profile for your practice. We used as methodology, literature review and reflective observation. The theme is divided into three parts: the first part, the text provides a brief account of the history of the institution of early childhood education mode, as well as the changes that occurred in this area over time, this topic will also be addressed the importance and the requirements that are necessary to the training of teachers in the current perspective of early childhood education. Further, inquire about the relevance of this professional as a facilitator of the process of acquiring knowledge, as well as its practice to children's development, which should combine playing methods, to give the student an effective and enjoyable learning. You can also reflect on the profile of this work and to what extent your posture can come to interfere with the child's learning; I finish working with impressions and considerations on the theme. KEYWORDS: Early childhood education. Profile of child educator. Teacher training of early childhood education.
INTRODUÇÃO
O presente artigo consiste numa contextualização e reflexão acerca da
educação infantil, dos seus processos históricos, além das leis que asseguram
o direito de toda criança a educação. Ressalta a formação continuada do
professor que atende ao público de crianças na faixa etária de 4 a 5 anos de
idade, como uma necessidade para a qual esses profissionais devem se
adequar, sobretudo a especialização, vista como um instrumento de qualificação
do processo pedagógico, essencial para uma prática satisfatória. O estudo traz
ainda, reflexões acerca do perfil desse profissional.
Vivemos em uma realidade com grandes avanços tecnológicos, e o que
se esperava do professor décadas atrás, já não condiz com as necessidades
educacionais da contemporaneidade. Nesse sentido, compreendemos que
adentrar no universo da educação infantil significa assumir responsabilidades,
superar desafios. É, sobretudo, viver em constante busca pelo conhecimento e
aperfeiçoamento da prática pedagógica. No esteio desse raciocínio, achei
pertinente abordar esse tema porque durante os estágios realizados no decorrer
do curso de pedagogia, presenciei situações em sala de aula que me causaram
inquietações a respeito da postura do profissional docente.
As observações realizadas no campo do estágio me fizeram refletir a
respeito do perfil do professor. Assim, formulamos o seguinte questionamento
quanto à prática desse profissional: que postura o professor deve assumir e até
que ponto essa postura pode interferir ou contribuir para a aprendizagem da
criança? A partir dos questionamentos, buscamos reunir informações, tomando
como metodologia a pesquisa bibliográfica, baseando-nos em publicações de
teóricos como Paulo Freire, Parâmetros Curriculares, LDB 9394/96 e RCNEI,
visando obter respaldo teórico para as respostas às questões formuladas.
Educação Infantil: O professor e sua formação
Antes de nos determos ao eixo principal do texto “o perfil do professor da
educação infantil”, para compreendermos a importância e as exigências (reflexos
da LDB 9394/96) quanto a formação do educador infantil faremos uma
contextualização histórica acerca da instituição infantil.
A história da educação se inicia a partir do descobrimento do Brasil,
período em que pouco se fazia pela criança. Nesse contexto, muitas delas eram
enjeitadas e abandonadas em igrejas ou hospitais. A esse respeito, Oliveira
(2002) diz:
A roda dos enjeitados era uma espécie de cilindro giratório de madeira construído em muros de igrejas e hospitais de caridade. Ela permitia que bebês fossem deixados nesses locais sem que a identidade de quem os levasse fosse declarada. (Oliveira, 2002, p. 29)
Nessa época o abandono de crianças era algo comum de se ver, diante
dessa situação as instituições católicas de cunho caritativo as acolhiam. Mais
tarde com a chegada da Companhia de Jesus em 1549, tem-se uma
preocupação com a educação dessas crianças, o ensino empregado pautava-se
na instrução religiosa, mais do que qualquer outra coisa (como leitura e escrita),
assim essas que eram menos favorecidas recebiam ensino baseado em
instruções para o exercício de algum ofício. Até então, consideradas como
adultos em miniatura, não se dava uma efetiva importância às crianças. Assim,
o conceito de infância surge como forma de favor e de caridade.
A importância destinada à educação infantil se deu após a valorização da
infância, fase em que a criança necessita de cuidados e de atenção devido a sua
pouca experiência de vida, ou seja, trata-se da principal etapa do
desenvolvimento humano, fase das descobertas e ingenuidade. Os estudos de
Philippe Ariès (1981) destacam que o sentimento de infância surgiu no final do
século XVII, consolidando-se no final do século XVIII. O novo sentimento de
infância vê a criança como um ser frágil e inocente, vistas como entretenimento
dos adultos.
Rousseau (2004), resgata a criança da posição de adulto em miniatura e
traz à tona a ideia de que a criança é um ser integral e não incompleto, sendo
preciso contar com um profissional capacitado para tal atendimento. Seu
conceito de infância baseia-se na ingenuidade e inocência da criança, conclui
que os indivíduos nascem bons e quem os modifica é a sociedade. Ainda
segundo ele “a humanidade tem seu lugar na ordem das coisas. E a infância tem
o seu na ordem da vida humana” (Rousseau 2004, p. 69)
Para Montessori (1980) a fase da infância é uma espécie de fio condutor
para a fase adulta, ela é o que norteia a fase adulta. A autora também afirma que
“a infância constitui o elemento mais importante da vida do adulto: o elemento
construtor” (Montessori,1980, p.10).
Dessa forma, podemos dizer que a infância é uma fase peculiar na vida
da criança, pois é vista como ser integral que precisa vivenciar situações que
lhes possibilite evoluir e desenvolver novas habilidades e isso só ocorrerá por
meio da educação.
Diante desse contexto de valorização da infância, surge a partir da década
de 1870 as primeiras instituições de educação infantil no Brasil. Nesse momento,
a criança deixa de ser vista como um adulto em miniatura e começa a ser
entendida como um “SER” que necessita de lugar, tempo, espaço e cuidados
diferenciados perante a sociedade. Porém, essas instituições possuíam caráter
assistencial, preconizando apenas o cuidado, a higiene da criança.
O assistencialismo inicia-se na metade do século XIX, em decorrência do
surgimento das indústrias que passavam a necessitar de uma demanda maior
de mão de obra, essa que seria assumida pelas mulheres de classes
desfavorecidas, e com o intuito de aumentar a produção, os donos de indústrias
veem a necessidade de criar entidades (creches, asilos e internatos, lugares
onde realizavam um atendimento sem qualquer distinção) que pudessem
atender aos filhos das operárias enquanto cumpriam com sua jornada de
trabalho.
No Brasil, o assistencialismo perdurou por quase um século, perdendo
força quando a constituição de 1988 torna o segmento legal e com caráter
educativo, o que culminou no reconhecimento da educação infantil como um
direito da criança, e com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, nº 9394/96, a educação infantil passa a ser legalmente
concebida como primeira etapa da educação básica.
Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (LDB nº 9.394/96, título V, capitulo II, art. 29). A LDB 9394/96, demonstra valorização pela educação infantil, agora concebida como parte da educação básica. A referida lei traz em seu artigo 30 que a educação infantil será oferecida em: I – creches ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré – escolas para crianças de quatro a seis anos de idade. (LDB, 9394/96, p.21).
Ao inserir no contexto do assistencialismo uma intenção educativa, as
instituições passam a ser reconhecidas como espaço provedor de
conhecimentos e aprendizagens para crianças pequenas. No Brasil, a
responsabilidade pela oferta do ensino infantil é dos municípios. Regida por lei,
a educação infantil passa a assegurar não só o direito da criança ao acesso à
educação, bem como as experiências que esse ambiente deve garantir a todas
as crianças. De acordo com o artigo 9º das Diretrizes Curriculares Nacionais para
a educação infantil, as práticas educativas devem garantir experiências que:
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da
ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais
que possibilitem movimentação ampla, expressão da
individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;
(DCN 2010, p. 25)
Nesse sentido, ressaltamos que é dever das instituições, conceber,
proporcionar o desenvolvimento integral da criança e o ensino deve ser
ministrado em creches e pré-escolas, de acordo com a faixa etária.
Mediante as reformas educacionais que agora articula as funções do
cuidar e educar como indissociáveis no atendimento às crianças de 0 a 6 anos
de idade, surge um novo debate, agora quanto à formação do educador infantil.
O debate acerca dessa temática não é recente, porém nas últimas décadas, mais
precisamente a partir de 1990 se intensificou devido às iniciativas de
reestruturação curricular das escolas normais, que até então, tinham como
responsáveis pelo atendimento dessas crianças médicos, enfermeiros,
assistente social que realizavam um trabalho baseado na higiene infantil. Ou
seja, não havia preocupação, nem políticas educacionais que trabalhassem para
a formação desse profissional.
Porém, com as discussões que antecederam a LDBEN (BRASIL,1996) a
formação dos professores de creches e pré-escolas, se fez em nível secundário
e superior. E a partir do seu desdobramento, a Lei de Diretrizes e Bases nº
9394/96 traz exigências e políticas quanto a formação desses profissionais, e
apontam para a necessidade de criar um perfil profissional que atente para
atender as duas funções: cuidar e o educar. Diante dessa necessidade de
formação do educador infantil. Oliveira et al (2006) diz:
No caso da educação infantil, isso é particularmente importante por ser um campo de trabalho que, pelas condições históricas de sua constituição, muitas vezes, é assumido por leigos, dentro de uma visão de atendimento à criança pequena que prioriza proporcionando-lhe cuidados físicos mais do que seu desenvolvimento global. (OLIVEIRA, 2006, p. 550).
Dessa forma, vê-se a LDB 9394 como um importante segmento de
consolidação da educação infantil e articulador da formação dos professores das
series iniciais, essa agora exigida em nível superior, como estabelece o art. 62
que versa sobre a formação dos docentes que atuam na educação básica. Está
posto:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatros primeiros séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (LDB, 9394/96, p. 34, 35)
Percebe-se que a formação exigida em nível superior em cursos de
licenciatura em Pedagogia (principal eixo da formação inicial do educador
infantil) se faz mediante a preocupação com a qualidade do ensino ministrado
nos centros infantis.
Na atualidade, a educação infantil é vista como um importante segmento
educacional, visto que, sua expansão tem ocorrido de forma bastante crescente
nas últimas décadas. Em outras palavras, essa nova lei promove o entendimento
de que a melhoria na educação depende de inúmeros fatores, inclusive da
formação e da atuação dos professores na busca em desenvolver um trabalho
de qualidade. Esse trabalho desenvolvido com os pequenos, depende
principalmente de três ações que sustentam a prática do professor: formação
teórica; formação pedagógica e formação lúdica, todas elas diretamente ligadas
ao empenho desse profissional em articular a teoria à prática em suas ações
pedagógicas, como cita Libâneo (2004):
A profissão de professor combina sistematicamente elementos teóricos com situações práticas reais. É difícil pensar na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de uma realidade definida. Por essa razão, a ênfase na prática como atividade formativa é um dos aspectos centrais a ser considerado, com consequências decisivas para a formação profissional (LIBANEO, 2004, p.230).
Nesse sentido, entendemos que hoje mais do que nunca, o professor é
alvo de constantes cobranças quanto à sua prática; precisa estar atento as
mudanças, inovações tecnológicas, a incorporar e construir novas habilidades e
competências para atender a esse novo modelo de sociedade que se constrói a
cada dia. Pimenta (1999) aponta como saberes necessários à docência os
saberes de experiência, os conhecimentos específicos da matéria e os saberes
pedagógicos. Ou seja, a prática do professor não se realiza apenas com teorias,
as experiências rotineiras também se impõem como requisito importante para
ação desse profissional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº 9.394/96
apresenta em seu artigo 61 os critérios para a formação do educador:
Determina que haja uma articulação entre teorias e práticas no processo
de ensino e aprendizagem, levando em consideração as especificidades de cada
fase que a criança irá vivenciar na vida.
Nesse contexto contemporâneo trazemos para o embasamento desse
profissional as ideias de Maria Montessori, Friederich Froebel e celestin Freinet
que formam a tríade responsável por dar novo sentido a educação infantil, ambos
tem em comum a ideia de elaborar, criar um espaço que seja propício ao
desenvolvimento infantil, ressaltam ainda a importância do uso das brincadeiras,
jogos, da ludicidade como principal recurso didático de inspiração de sua
aprendizagem, nesse sentido, o professor torna-se um mediador de
conhecimento, um ouvinte, observador e facilitador do processo de ensino-
aprendizagem. Precisa estar preparado para criar, planejar e desenvolver
estratégias de ensino que visem desenvolver as potencialidades das crianças e
que ao mesmo tempo promova um aprendizado prazeroso e significativo.
Compreendemos que ser professor não é tarefa fácil, pois trata-se de uma
profissão repleta de desafio e responsabilidades, no entanto é essencial para a
formação do ser humano.
Entende-se que é uma função que demanda ter conhecimentos e
habilidades específicos para o exercício da prática, Porém não se conclui com a
formação no curso superior, é preciso situá-la como processo de contínua
aprendizagem, no qual se faz importante para o trabalho do educador infantil,
participar de projetos de formação continuada, essa concebida como uma
oportunidade de aperfeiçoamento teórico-prático, que vigora o desempenho
desse profissional, bem como possibilita alcançar resultados satisfatórios para a
vida em sociedade do educando. A formação continuada, para Libâneo (2004) é
assim definida:
Condição para a aprendizagem permanente e para o
desenvolvimento pessoal, cultural e profissional de professores
e especialistas. É na escola, no contexto de trabalho, que os
professores enfrentam e resolvem problemas, elaboram e
modificam procedimentos, criam e recriam estratégias de
trabalho e, com isso, vão promovendo mudanças pessoais e
profissionais (LIBANEO, 2004, p. 227).
Desse modo, a formação continuada se constitui como uma possibilidade
de o professor não só aprimorar seus conhecimentos, como também de rever e
identificar carências na sua formação e prática.
Nóvoa (2002) propõe que a formação continuada se dê a partir de três
eixos que julga ser estratégicos: a pessoa do professor e sua experiência; a
profissão e seus saberes e a escola e seus projetos. De acordo com ele:
A formação não se constrói por acumulação (de cursos de
conhecimento ou de técnicos), mas sim através de um trabalho
de reflexão crítica sobre a prática e de (ré) construção
permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão
importante investir na pessoa a dar estatuto ao saber da
experiência. (Nóvoa, 2002, p. 38).
Compreende-se que o processo de formação continuada destinada ao
professor, é um conjunto de práticas que buscam ressignificar, delinear novos
caminhos para o exercício de uma prática pedagógica eficiente. E por esta razão,
vimos a necessidade de trabalhar essa temática como assunto para o trabalho
de conclusão de curso de Pedagogia na modalidade a distância, na UFRN
campus de Nova Cruz- RN.
A importância do professor na educação infantil
Achei pertinente abordar esse tema, porque durante os estágios
realizados no decorrer do curso de pedagogia, no primeiro e segundo semestre
de 2015 do curso de pedagogia da UFRN, durante esse período acompanhei
professoras da Creche Municipal Diva Barbalho situada na cidade de
Goianinha/RN, que atuavam na educação infantil, (em observações) com
crianças da faixa etária de 4 a 5 anos de idade. Essa etapa da minha formação
possibilitou observar a atuação das profissionais da educação infantil em sua
ação pedagógica, o que propiciou vivenciar a realidade escolar, e refletir de
forma crítica a respeito da dinâmica das relações que existem entre educador e
aluno. Porém o que chamou minha atenção, foi a forma divergente como cada
uma desenvolvia sua prática. Aqui intituladas como professora A e B, farei um
breve relato das metodologias utilizadas:
A professora A, carinhosa e atenciosa com as crianças, inicia a aula de
forma descontraída, com uma cantiga de “bom dia”. A organização da sala é feita
em círculo ou em pequenos grupos e nunca em fileiras, pois a professora
acredita que fileiras dificulta a interação entre as crianças. Nas aulas, procurava
desenvolver atividades lúdicas com jogos, contação de história, brincadeiras
livres ou dirigidas. A mesma, via a necessidade de trazer o lúdico para a sala de
aula como uma forma de inserir a criança no contexto educativo de forma
prazerosa e divertida.
A professora B, da mesma forma se mostrava bastante carinhosa, porém
desenvolvia uma rotina improvisada, iniciava com o acolhimento (com cantigas
e uso dos crachás para identificação dos nomes), passava atividades xerocadas
e na maioria das vezes utilizava vídeos infantis para entreter as crianças. A sala
era enfeitada com as atividades feitas pelas crianças e organizada sempre da
mesma forma (limitando o espaço das crianças). Ao ser questionada sobre o uso
do lúdico, dizia ser importante para o desenvolvimento infantil, mas não era algo
que se via com frequência em suas aulas.
Essas divergências de práticas me fizeram refletir a respeito do perfil, da
postura que o professor deve assumir em sala de aula, pois percebe-se que a
prática desenvolvida pela professora B, ainda possui traços marcantes do ensino
tradicional, algo que já não condiz com o tipo de ensino que se almeja nos dias
atuais. Assim sendo, diante do importante papel que o professor desempenha
na formação do cidadão, práticas como essa reafirmam a necessidade de uma
formação sólida e continuada.
Levando em conta que a criança de 4 a 5 anos encontra-se na fase pré-
operatória, para Piaget, nessa fase, a criança demonstra egocentrismo, há o
surgimento da linguagem, uma confusão entre aparência e realidade, é a fase
dos “porquês?” pensando nessas especificidades, o professor precisa articular o
seu trabalho de acordo com as capacidades que se pretende desenvolver nas
crianças. Oferecer um repertório com múltiplas possibilidades, significa,
sobretudo, promover um aprendizado integral das crianças. Trata-se de uma
fase de construção de valores. Assim, espera-se que conquistem graus mais
elevados de autonomia no que diz respeito ao aprendizado, as interações com
o outro, na exploração do ambiente e materiais disponibilizados, enfim na
construção de sua identidade.
Na educação infantil, o trabalho desenvolvido com as crianças na faixa
etária de 4 a 5 anos de idade deve se estruturar por meio de atividades lúdicas,
como brincadeiras, jogos, dinâmicas, entre outras. O lúdico é considerado um
facilitador da aquisição do conhecimento, uma ferramenta dinâmica que
proporciona benefícios para as crianças e professores. Para o RCNEI (1998, p.
22) “brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da
identidade e da autonomia”. Ao brincar as crianças se realizam, fantasiam,
interagem e desenvolvem novas habilidades. Ao professor a brincadeira
possibilita, por meio de observações, diagnosticar o estágio de desenvolvimento
da criança; serve para orientar seu trabalho; além de possibilitar a compreensão
das vantagens de educar brincando.
O professor desempenha um importante papel na educação infantil, visto
que ele é o responsável pelo desenvolvimento global da criança, principalmente
nessa fase em que estão descobrindo o mundo e a si mesmo, fase das
descobertas, o professor torna-se mediador entre a criança e o conhecimento.
Dessa forma, compromete-se com o processo que privilegia o desenvolvimento
e a aprendizagem das crianças, impondo-se como observador e pesquisador
das especificidades destas.
Atualmente, são muitos os saberes que englobam o perfil desse
profissional, deve ser: pesquisador, investigador, mediador, facilitador,
planejador, crítico e reflexivo da sua prática, essas são competência que
privilegiam o exercício da docência. Dentro dessa temática Cunha (2004, p. 37),
enfatiza que “assumir a perspectiva de que a docência se estrutura sobre
saberes próprios, intrínsecos a sua natureza e objetivos, é reconhecer uma
condição profissional para a atividade do professor”.
Entende-se que os saberes, conhecimentos e competências são
necessários a essa profissão, visto que tem a intenção de melhorar a ação do
professor, porém é preciso reconhecer que é na ação diária e nas vivências que
de fato se constitui a docência, o perfil do professor.
O perfil que se almeja para o exercício da profissão de educador infantil,
está ligado a um conjunto de habilidades e competências profissionais que em
grande parte são adquiridas no âmbito da formação de professores e nas
experiências rotineiras. Assim entende-se que a ação do profissional da
educação infantil deve articular-se aos conhecimentos teóricos e práticos,
buscando organizar intencionalmente situações de aprendizagem que
possibilitem ampliar os conhecimentos das crianças.
Na busca por respostas quanto ao perfil, postura ideal do educador
infantil, trago um trecho da palestra de Mário Sergio Cortella, na 24º Assembléia
Geral FIUC FEI (realizada no período de 23 a 27 de julho de 2012), que retrata
muito bem a ênfase que é dada ao papel que o professor deve desempenhar.
Cortella cita a frase do autor Norte-americano Ralph Nader que diz: “O
verdadeiro líder não forma seguidores, forma outros líderes”. Essa frase nos leva
a perceber o quão é importante o comprometimento do professor com sua
prática, porque enquanto docentes precisamos formar, preparar pessoas que
ultrapassem nossas perspectivas, para que aquilo que almejamos venha a se
concretizar, pois do contrário continuaremos na mesma, nada mudará.
Pensando pela ótica do autor Ralph Nader, percebe-se que o educador
precisa desenvolver sua prática de acordo com o tipo de cidadão que se
pretende formar, um cidadão capaz de exercer um papel crítico e participativo
perante a sociedade.
A postura que o professor desenvolve em sala de aula pode interferir tanto
positivamente quanto negativamente na aprendizagem e no desenvolvimento do
educando, uma vez que expressa sua visão de mundo, seu modo de pensar e
agir. A esse profissional que trabalha com o público infantil cabe proporcionar-
lhes experiências diversificadas e enriquecedoras, como meio de fortalecer sua
autoestima e habilidades.
A autoestima infantil se fortalece mediante as relações que se
estabelecem entre o professor e a criança, é preciso criar vínculos de carinho,
afeto, respeito, confiança, as crianças precisam sentir-se protegidas, pois
atitudes de preferência por esta ou aquela criança, indiferença e apelidos
(manhoso, burro, tagarela etc.), são sem dúvidas atitudes que contribuem para
um sentimento de insegurança e desamparo, são práticas que prejudicam o
desenvolvimento infantil, uma vez que é dever do professor manter uma postura
ética, de modo a não permitir que a criança seja exposta ao ridículo ou que
passem por situações constrangedoras. Uma postura condizente é aquela em
que há respeito pela criança e suas especificidades.
Compreender as atitudes, os sentimentos das crianças não é tarefa fácil,
pois da mesma forma que para os pais a criança não vem com manual de
instrução. Para o professor a situação torna-se mais complexa, pois não se trata
de uma ou duas crianças, são várias, cada uma com gostos, jeitos e
personalidades diferentes. Diante dessa complexa tarefa cabe ao educador
desenvolver um minucioso trabalho de observação diária e de interação com
estas.
O professor precisa estar atendo a ação que desenvolve em sala de aula,
tendo em vista que para a criança ele é referência, um modelo a ser seguido. A
esse respeito, Zabala(1998) diz que:
É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja, incide em maior ou menor grau na formação de nossos alunos. A maneira de organizar a aula, o tipo de incentivos, as expectativas que depositamos, os materiais que utilizamos, cada uma destas decisões veicula determinadas experiências educativas, e é possível que nem sempre estejam em consonância com o pensamento que temos a respeito do sentido
e do papel que hoje em dia tem a educação (ZABALA, 1998, p. 29).
Assim, entende-se que toda ação empregada, desenvolvida em sala de
aula tem consequências, sejam boas ou ruins e cabe ao educador garantir que
estas propiciem o desenvolvimento infantil.
Considerações finais
O propósito deste trabalho foi o de apresentar uma contextualização
acerca do perfil do professor da educação infantil. Para tanto é preciso
compreender em que época e contexto social as exigências para o exercício
dessa profissão passaram a dar maior atenção ao desenvolvimento da criança.
A educação infantil passou por uma trajetória histórica de grandes
transformações, até que se fizesse reconhecida como primeira etapa da
educação básica. Foram muitas reformas na área educacional, até que o
assistencialismo que perdurou por quase um século, desse lugar a educação
nos moldes que conhecemos hoje (com intenção educativa).
Essa transição de conceito educacional que surge a partir da constituição
de 1988, amparada pela LDB, traz exigências quanto à formação do profissional
que trabalha com a criança pequena, a preocupação com a preparação e com a
formação do educador infantil se dá em função da qualidade do ensino que deve
ser ministrado na instituição infantil.
Saindo um pouco dessa contextualização histórica em que se deu todo o
percurso da instituição infantil, nos debruçando sobre o foco principal do trabalho
“O perfil do professor da educação infantil” percebemos que o texto nos
possibilitou refletir sobre a prática, o perfil e postura desse profissional. Quando
nos referimos ao perfil profissional, estamos querendo dizer que independente
de qual seja a profissão, trata-se de um conjunto de habilidades e competências
que o profissional possui e aplica no ambiente de trabalho, ou seja, o perfil do
educador infantil é formado por certas habilidades e competências que em parte,
são adquiridas nos cursos de formação e outros na prática (no ambiente escolar),
nas experiências diárias. Não há um modelo pronto de perfil ou postura a ser
seguido, existem documentos que orientam a prática do educador, pois a forma
como se comporta em sala tem muito a ver com sua personalidade.
Eu comparo o trabalho do professor infantil com o trabalho de um
agricultor. Antes de plantar, o agricultor precisa conhecer a terra, prepará-la para
receber as sementes, é preciso regá-las todos os dias e em seguida esperar que
cresçam e que deem frutos. Da mesma forma, ocorre com o professor que
precisa observar, conhecer as crianças, proporciona-lhes situações que
despertem o gosto por estar e permanecer na escola, em seguida é necessário
regá-las diariamente com novos conhecimentos e desafios a serem superados,
assim o crescimento será inevitável, os frutos que advém dessa plantação, são
a satisfação do professor em ter participado desse processo.
O estímulo precoce tem sido de grande importância para o
desenvolvimento futuro da criança e a prática. A ação que o professor
desenvolve em sala de aula é decisivo para o aprendizado dessa criança que
encontra-se em fase de construção, construção de sua identidade, valores e
autonomia.
O professor como mediador deve estar atento ao que propõe ao seu
aluno, que tipo de cidadão pretende formar, quais métodos utilizar e até mesmo
a forma de se comportar em sala, pois o perfil do professor se compõe além das
competência e habilidades adquiridas no decorrer da sua carreira, por uma forte
tendência de personalidade do educador, sendo necessário estar sempre atento
a sua postura, atitudes que bem ou mal tem influência sobre a criança, essa que
se espelha no educador.
Diante de todo o exposto no decorrer do texto, compreende-se que a
prática do professor da educação infantil reúne conhecimentos teóricos e
práticos, esses que compõem o perfil desse profissional. Percebe-se ainda o
quão é importante o comprometimento do educador em melhorar, aperfeiçoar
sua prática em função do desenvolvimento do seu aluno, que apresente uma
postura ética que respeite a criança e suas especificidades e ao mesmo tempo
seja capaz de demonstrações de carinho e afeto com seus pequenos.
Exercer a profissão de professor é uma tarefa nada fácil, exige muitas
responsabilidades, são muitos os desafios a serem superados, mais ao mesmo
tempo, é uma profissão apaixonante que nos permite participar do crescimento,
da evolução da criança.
REFERÊNCIAS:
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação
Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010.
Carmem Virgínia Moraes da Silva; Rosângela Francischini. O
SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA HISTÓRIA DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CRIANÇA NO BRASIL
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acesso em 22/05/2016
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