Nocoes de Direito Constitucional 7 Ao 58

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    Este Ttulo o mais simples da Constituio e seus

    artigos esto entre os mais requisitados nas provas

    de diversos concursos pblicos. Convm que voc o

    leia cuidadosamente e vrias vezes.

    1. FUNDAMENTOSDAREPBLICAFEDERATIVADOBRASIL

    Ar t. 1o- A Repblica Federativa do Brasil, formada

    pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e

    do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democr-

    tico de Direito e tem como fundamentos:

    I - a soberania;

    II - a cidadania;

    III - a dignidade da pessoa humana;

    IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

    V - o pluralismo poltico.

    Pargrafo nico- Todo o poder emana do povo, que

    o exerce por meio de representantes eleitos ou dire-tamente, nos termos desta Constituio.

    Da leitura deste artigo depreende-se o seguinte:

    a)Forma de governodo nosso pas: RepblicaIsto significa:

    * Representantes eleitos pelo povo.

    * Mandatos eletivos temporrios.

    * Agentes polticos passveis de responsabilizao

    por seus atos.

    * Existncia de soberania popular.

    * Repartio de poderes.

    b)Forma do EstadoBrasileiro:Federao

    Ou seja: formado por um conjunto de Estados-mem-

    bros com relativa autonomia para se organizar polti-

    ca e juridicamente e regular os assuntos compreen-

    didos por suas atribuies.

    Existem, ento, pelo menos duas ordens jurdicas que

    se sobrepem: uma nacional, uniforme para todos

    os habitantes, e outra regional, vigorando apenas no

    interior de cada territrio.

    O conceito moderno de federao surge com a forma-

    o dos Estados Unidos da Amrica, quando as treze

    colnias se uniram em um s pas para fazer frente s

    metrpoles da poca, se inserindo no cenrio mundial.

    Cabe tambm ressaltar que confederao no uma

    forma de Estado, pois cada parte integrante dela pos-

    sui o direito de soberania (elemento de Estado).

    Embora a Federao por excelncia seja aquela em

    que convivem as ordens jurdicas da Unio e a dos

    Estados-membros, a Constituio Federal de 88 in-

    seriu os Municpios e o Distrito Federal como entes

    federativos.

    Importante, ainda, frisar que tais entes esto ligados

    indissoluvelmente, ou seja, no existe direito de se-

    cesso ou separao.

    Contudo, observa-se que o poder constituinte origi-

    nrio no tem limite, pois ele parte da vontade dopovo, ou seja, o poder constituinte originrio pode,

    por exemplo, instituir a pena de morte em tempos de

    paz, como tambm criar a secesso da federao.

    c) A Repbl ica Federativa do Brasil um EstadoDemocrtico de Direito

    Estado de Direito : Todos esto submetidos lei confeccionada por re-

    presentantes do povo, inclusive o prprio Estado;

    Os poderes do Estado esto repartidos, e exercem

    mtuo controle entre si;

    Os direitos e garantias individuais so solenemente

    enunciados.

    Estado Democrtico: Fundado no princpio da soberania popular, ou seja,

    o povo tem participao efetiva e operante nas deci-

    ses do governo;

    Fundado na idia da defesa dos direitos sociais, ou

    seja, busca de superao das desigualdades sociais

    e regionais e realizao de justia social.

    Pluralidade partidria, pois em Estados de Exceo

    h a presena de um nico partido, o partido que

    institucionaliza a arbitrariedade.

    1. PRINCPIOSFUNDAMENTAISDACONSTITUIODOBRASIL

    1. Fundamentos da Repblica Federativa do Brasil2. Tripartio dos poderes

    3. Objetivos fundamentais

    4. Relaes Internacionais

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    d)Com relao aos fundamentosda Repblica Fe-derativa do Brasil expressos nos incisos I, II e IV,cabem os seguintes comentrios:

    Soberania - segundo Miguel Reale, o poder de

    organizar-se juridicamente e de fazer valer, dentrode seu territrio a universalidade de suas decises,

    nos limites dos fins ticos de convivncia.

    Pode-se entender soberania como o direito incontestede poder na seara interna de cada Estado.

    Cidadania- o status da nacionalidade brasileiraacrescido dos direitos polticos, isto , do direito departicipar do processo governamental, seja enquan-to candidato ao governo, seja enquanto eleitor. Con-forme ver-se- no artigo 15, so excepcionalssimasa perda e a suspenso dos direitos polticos.

    Valores sociais do trabalho - so todos os direitosque possibilitam que o trabalho seja realizado comdignidade, entre eles, obrigao de uma remunera-o justa e condies mnimas para o desenvolvi-mento da atividade.

    Livre-iniciativa- significa que as pessoas possueminteira liberdade para possuir bens e para tentar de-senvolver empreendimentos de qualquer tipo, desdeque respeitem as normas legitimamente existentes.

    uma caracterstica existente na economia de mer-cado, ou seja, economia capitalista. A livre-iniciativa um de seus elementos essenciais.

    e) Com relao ao pargrafo nico, nos termos daatual Carta, o povo exerce o poder indiretamenteaovotar, de maneira direta e universal, para eleger osmembros do Poder Executivo (Presidente da Rep-blica, Governador, Prefeito) e os do Poder Legislativo(Congresso Nacional, Assemblia Legislativa, Cma-ra Municipal e Cmara Distrital).

    Por outro lado, existe tambm a possibilidade de opovo exercer diretamenteo poder ao decidir sobera-namente certas matrias que lhe so propostas.Como vimos anteriormente, na atual Constituio hpelo menos trs institutos que garantem ao cidadoo exerccio direto do poder: o plebiscito, o referendoe a iniciativa popular.

    A presena dos mecanismos diretos e indiretos departicipao popular no processo decisrio configu-ra o regime poltico de nosso pas como uma demo-cracia representativa semi-direta.

    2. TRIPARTIODOSPODERES

    Ar t 2o- So Poderes da Unio, independentes e har-

    mnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judi-

    cirio.

    Assinala este artigo a triparti o dos poderes:

    a)Poder Executivo, na esfera da Unio- exerci-do pelo Chefe de Governo que, no Brasil, assim comoem todos os pases presidencialistas, o Presidenteda Repblica. A sua funo tpica, essencial, admi-nistrar, mas tambm pode legislar (por exemplo: ela-borao de Medidas Provisrias ou de Leis Delega-das) e julgar ( o caso dos Tribunais Administrativos,como por exemplo, o Tribunal de Impostos e Taxas).

    b)Poder Legislativo- exercido pelo parlamentoque, no Brasil, corresponde ao Congresso Nacional,composto pelo Senado Federal e pela Cmara dosDeputados. Sua funo tpica a elaborao das leis,mas tambm administra (exemplo: possibilidade decriao ou extino de cargos, empregos e funesrelacionadas aos seus servios) e julga (compete Cmara dos Deputados autorizar instaurao de pro-cesso contra o Presidente e o Vice-Presidente daRepblica e os Ministros de Estado; compete ao Se-nado Federal processar e julgar, nos crimes de res-ponsabilidade, essas mesmas pessoas e mais: osMinistros do Supremo Tribunal Federal, o Procura-

    dor-Geral da Repblica e o Advogado-Geral daUnio).

    c) Poder Judicirio - exercido pelos juzesdesembargadores e ministros do judicirio; alm dejulgar, o Judicirio pode, de forma atpica, legislar (porexemplo: elaborao de seu regimento interno) eadministrar (organizao de suas secretarias e ser-vios auxiliares).

    3. OBJETIVOSFUNDAMENTAIS

    Ar t 3o- Constituem objetivos fundamentais da Rep-blica Federativa do Brasil:

    I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;

    II - garantir o desenvolvimento nacional;

    III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir

    as desigualdades sociais e regionais;

    IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de

    origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-

    mas de discriminao.

    Este artigo, de contedo programtico, fixa metas aserem alcanadas em longo prazo. As enumeraes

    desses objetivos fundamentais fornecem diretrizesno apenas para o cidado comum, mas, sobretudo

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    para as polticas governamentais.

    O candidato deve observar uma importante diferena

    entre o art.1 e o art.3 da Constituio, pois o art.1

    define os fundamentos, isto , requisitos que j per-

    tencem ao pas, enquanto que o art. 3 define objeti-vos, metas, normas que devem ser cumpridas ao lon-

    go do tempo. Tem-se a idia de que o direito um

    agente transformador da sociedade para torn-la mais

    justa.

    4. RELAESINTERNACIONAIS

    Ar t. 4o- A Repblica Federativa do Brasil rege-se

    nas suas relaes internacionais pelos seguintes prin-

    cpios:

    I - independncia nacional;II - prevalncia dos direitos humanos;

    III - autodeterminao dos povos;

    IV - no-interveno;

    V - igualdade entre os Estados;

    VI - defesa da paz;

    VII - soluo pacfica dos conflitos;

    VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;

    IX - cooperao entre os povos para o progresso da

    humanidade;

    X - concesso de asilo poltico.

    Pargrafo nico - A Repblica Federativa do Brasil

    buscar a integrao econmica, poltica, social e cul-

    tural dos povos da Amrica Latina, visando forma-o de uma comunidade latino-americana de naes.

    Cabem aqui algumas observaes:

    Diferena entre defesa da paz e soluo pacficados conflitos:Por defesa da paz entende-se como sendo o respeito

    ordem, ao status quoestabelecido, j a soluo

    pacfica significa o repdio guerra como meio de

    se evitar as mudanas. Pensemos: Hitler queria apaz, mas com ele no poder. No era ele um defensor

    da soluo pacfica dos conflitos.

    Independncia nacional: a no-submisso daRepblica Federativa do Brasil a qualquer

    ordenamento jurdico estrangeiro.

    Autodeterm inao dos povos: pode ser traduzidacomo respeito soberania dos demais pases.

    No-interveno: por interveno deve-se enten-der, sobretudo a invaso armada de um pas estran-

    geiro, medida esta que tende a ser recusada pelo

    legislador constituinte.

    Repdio ao terrorismo: o legislador refere-se, aqui,ao terrorismo internacional, que no encontrar gua-

    rida no solo brasileiro (neste sentido, h, por exem-

    plo, a previso, em nosso ordenamento jurdico, de

    que o terrorista estrangeiro seja extraditado para o

    pas de origem).

    As ilo po lt ico: a proteo oferecida pelo EstadoBrasileiro aos estrangeiros que estejam sofrendo

    perseguio poltica em sua terra natal ou no pasem que estiverem. O oferecimento de asilo poltico

    se coaduna com princpio, que vigora internamente, da

    livre manifestao do pensamento (art. 5o, IV, da CF).

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    QUADROSINTICODOCAPTULO

    Soberania

    cidadania

    Fundamentos

    dignidade da pessoa humana valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

    pluralismo poltico

    construir uma sociedade livre, justa e solidriaObjetivos garantir o desenvolvimento nacionalFundamentais erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades

    sociais e regionais

    promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo,cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao

    independncia nacional

    prevalncia dos direitos humanos

    autodeterminao dos povosPrincpios no-intervenonas igualdade entre os EstadosRelaes defesa da pazInternacionais soluo pacfica dos conflitos

    repdio ao terrorismo e ao racismo

    cooperao entre os povos para o progresso da humanidade

    concesso de asilo poltico

    EXERCCIOSDEFIXAO

    01. Constitui objetivo fundamental da Repblica

    Federativa do Brasil :a) garantir o desenvolvimento nacional

    b) independncia nacional

    c) prevalncia dos direitos humanos

    d) autodeterminao dos povos

    e) no-interveno

    02. Assinale a alternativa correta:a) a Repblica Federativa do Brasil buscar a

    integrao econmica, poltica, natural e cultural dos

    povos da Amrica Latina, visando formao de uma

    comunidade latino-americana de naes

    b) a Repblica Federativa do Brasil buscar o inter-

    cmbio econmico, poltico, social e racial dos po-

    vos da Amrica Latina, visando formao de uma

    comunidade latino-americana de naes

    c) a Repblica Federativa do Brasil buscar a

    integrao econmica, poltica, social e cultural dos

    povos da Amrica Latina, visando formao de uma

    comunidade latino-americana de naes

    d) a Repblica Federativa do Brasil buscar a

    interao econmica, poltica, social e cultural dos

    povos da Amrica do Sul, visando formao de uma

    comunidade sul-americana de naes

    e) a Repblica Federativa do Brasil buscar o inter-

    cmbio econmico, poltico, social, artstico e cultu-

    ral dos povos do continente americano, visando

    formao de uma comunidade de naes

    03. A Repbli ca Federativa do Brasil rege-se nassuas relaes internacionais pelo(s) seguinte(s)princpio(s):a) erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir

    as desigualdades sociais e regionais

    b) promover o bem de todos, sem preconceitos de

    origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-

    mas de discriminao

    c) no-interveno

    d) construir uma sociedade livre, justa e solidria

    e) dignidade da pessoa humana

    04. So poderes da Unio, ________________ en-tre si, o Legislativo, o Executivo e o Judic irio.a) indissolveis e harmnicosb) independentes e indissolveisc) unidos e dependentes

    d) harmnicos e unidos

    e) independentes e harmnicos

    05. A independncia nacional e o pluralismo po l-tico so respectivamente:a) fundamento e princpio internacionalb) princpio internacional e fundamentoc) princpio fundamental e objetivod) objetivo e princpio internacionale) princpio internacional e meta

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    06. A cidadania :

    a) objeto da Repblica Federativa do Brasil

    b) objetivo da Repblica Federativa do Brasil

    c) meta da Repblica Federativa do Brasil

    d) fundamento da Repblica Federativa do Brasil

    e) princpio internacional da Repblica Federativa doBrasil

    07. Erradicar a pobreza e a marginalizao e re-

    duzir as desigualdades sociais e regionais so:

    a) objetivos da Repblica Federativa do Brasil

    b) fundamentos da Repblica Federativa do Brasil

    c) postulados da Repblica Federativa do Brasil

    d) metas a curto prazo da Repblica Federativa do

    Brasil

    e) princpios internacionais da Repblica Federativa

    do Brasil

    08. A Repblica Federativa do Brasil adota, comoforma de Estado e forma de governo, respectiva-

    mente:

    a) Repblica e Presidencialismo

    b) Presidencialismo e Federao

    c) Democracia e Repblica

    d) Federao e Repblica

    e) Repblica e Federao

    09. Qual a caracterstica fundamental do Estado

    Federal?

    a) participao dos cidados na escolha de seus re-

    presentantesb) participao dos Estados-membros na Cmara dos

    Deputadosc) repartio constitucional de competncias e parti-cipao da vontade dos Estados-membros na vonta-de nacional, atravs do Senado Federald) temporariedade dos mandatose) responsabilidade mandatria

    10. Assinale a alternativa correta:As ilo po lt ico :I. proteo oferecida pelo Estado ao estrangeiro queesteja a sofrer perseguio poltica no pas onde se

    encontraII. princpio internacional da Repblica Federativa doBrasilIII. sinnimo de extradio, ou seja, devoluo do es-trangeiro terrorista ao seu pas de origem, para ser

    julgado pelos crimes polticos que cometeuIV. instituto no reconhecido em nosso pasa) todas esto corretasb) todas esto erradasc) apenas I e II esto corretasd) apenas III e IV esto corretase) apenas I, II e IV esto corretas11. (TTN-92) Constitui um dos objetivos funda-mentais da Repblica Federativa do Brasil:

    a) autodeterminao dos povosb) no-interveno e defesa da pazc) soluo pacfica dos conflitosd) erradicar a pobreza e a marginalizao e reduziras desigualdades sociais e regionais

    e) concesso de asilo poltico

    12. (TRT/ES-90) O princpio da separao dos po-deres est inscrito na Consti tuio Federal, emdispos itivo que afirma que:a) a Repblica Federativa do Brasil formada pelaunio indissolvel dos Estados e Municpios e do Dis-trito Federalb) todo poder emana do povo, que o exerce por meiode representantes eleitos ou diretamente, nos termos

    da Constituioc) so Poderes da Unio, independentes e harmni-cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio

    d) assegurado aos brasileiros o direito de petioaos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou con-tra ilegalidade ou abuso de podere) a lei no excluir da apreciao do Poder Judici-rio qualquer leso ou ameaa a direito

    13. (TRT/ES-90) A Repblica Federativa do Bra-sil, em suas relaes internacionais, rege-se pe-los seguintes princ pios:a) independncia nacional e combate s drogasb) prevalncia dos direitos humanos e livre manifes-tao do pensamento, admitida a censura em casosespeciais

    c) autodeterminao dos povos e no-intervenod) repdio ao terrorismo, ao racismo e ao asilo poltico

    14. (TTN/92) A federao brasileira formada pelaunio:a) indissolvel dos Estados e do Distrito Federal

    b) voluntria dos Estados e Municpios e do DistritoFederalc) indissolvel dos Estados e Municpiosd) voluntria dos Estados e do Distrito Federale) indissolvel dos Estados e Municpios e do Distri-to Federal

    15. (TRT/ES-90) A Constituio estabelece comoobjetivos fundamentais da Repblica Federativado Brasil:a)desenvolver a livre iniciativa e estimular o uso so-

    cial da propriedade

    b) erradicar a pobreza e a marginalizao e aumen-

    tar as desigualdades sociais e regionais

    c) garantir o desenvolvimento nacional e o sistema

    financeiro

    d) promover o bem de todos, admitido o preconceito

    de sexo, bem como o de idade, para certos concur-

    sos pblicos

    e) construir uma sociedade livre, justa e solidria

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    Gabarito

    1. A 2. C 3. C 4. E 5. B

    6. D 7. A 8. D 9. C 10. C

    11. D 12. C 13. C 14. E 15. E

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    1. INTRODUO

    Iniciamos agora o estudo do Ttulo II da ConstituioFederal, que se reparte da seguinte maneira:a) Dos direitos e deveres individuais e coletivos (art.5o)b) Dos direitos sociais (arts. 6oa 11)

    c) Da nacionalidade (arts. 12 e 13)d) Dos direitos polticos (arts. 14 a 16)e) Dos partidos polticos (art. 17)

    Neste captulo estudaremos apenas o item (a). Osdemais ficaro para os captulos seguintes.

    Os dispositivos citados tratam, todos eles, de direitose garantias fundamentais.

    Direitosso as faculdades e prerrogativas que a Cons-tituio, por meio de disposies declaratrias, outor-

    ga s pessoas.Garantiasso disposies de proteo, ou seja, me-canismos jurdicos que procuram assegurar e fazercumprir os direitos previstos (de nada adiantaria o cons-tituinte nos conceder direitos se no nos fornecessemeios para proteg-los).

    2. DOSDIREITOSEDEVERESINDIVIDUAISECOLETIVOS

    Com 78 incisos, o artigo 5o um dos mais importan-tes da Constituio e trouxe grandes avanos em re-lao Carta Magna anterior. Sua redao, em deter-minados momentos, traduz uma reao contra abu-sos ocorridos no perodo ditatorial.

    A estrutura deste artigo mais ou menos a seguinte:os primeiros trinta incisos tratam, entre outras coi-sas, de liberdades diversas, como a liberdade de pen-samento, de culto, de expresso, de locomoo, dereunio e de associao, o direito propriedade, herana, direito autoral, etc. Aps estes incisos, soapresentadas disposies diversas sobre o Poder Ju-dicirio. Segue-se, ento, uma longa parte destinadaao Direito Penal (cerca de 30 incisos). Por fim, so

    apresentados os chamados remdios constitucionais

    (habeas corpus, mandado de segurana, mandado deinjuno etc.) e mais alguns incisos, versando sobreo Poder Judicirio e alguns direitos civis.

    Caput- Princpio da isonomia

    Art. 5- Todos so iguais perante a lei, sem distinode qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros eaos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidadedo direito vida, liberdade, igualdade, seguran-a e propriedade, nos seguintes termos: (...).

    Aparece aqui um princpio fundamental do direito: oprincpio da isonomia(todos so iguais perante a lei).

    necessrio, todavia, que se esclarea um porme-nor: a igualdade proclamada aqui a igualdade for-mal, ou seja, igualdade de todos perante a lei, j que

    a igualdade material(uma mesma situao econmi-ca, fsica, social, intelectual etc. para todos os indiv-duos) no existe.

    Alis, a se considerar a realidade materialdos indiv-duos, muitas vezes torna-se necessrio efetuar dis-criminaes, para que a igualdade formal possa seratingida. Neste sentido, o inciso LXXIV do artigo 5o,dir, por exemplo, que o Estado prestar assistnciajurdica integral e gratuita aos que comprovarem insu-ficincia de recursos.

    Vale aqui a famosa mxima de Ruy Barbosa, que diz

    que A isonomia no consiste em tratar todos da mes-ma maneira; consiste, isto sim, em tratar igualmenteos iguais e desigualmente os desiguais, na medidade suas desigualdades.

    Chamamos ateno, tambm, para o fato de que mui-tas vezes necessrio e permitido ao Estado efetuardeterminadas discriminaes em razo do interessepblico, para atender determinadas finalidades. Surgeassim a figura da discriminao-finalidade, que per-mite, por exemplo, a exigncia de determinados que-sitos discriminadores, como porte fsico, altura, pesoetc. em editais de concursos pblicos para cargos

    2. DOSDIREITOSEDEVERESINDIVIDUAISECOLETIVOS

    1. Introduo2. Dos direitos e deveres individuais e coletivos3. Direitos e garantias ptreos

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    nos quais tais qualidades so necessrias (cargo debombeiro, por exemplo).

    Na doutrina, tais discriminaes so chamadas deobjetivas, pois constituem condio sine qua nonpara

    o efetivo exerccio de determinada atividade. Contu-do, algumas diferenas so questionadas, pois noso objetivas, como, por exemplo, a obrigatoriedadede servio obrigatrio para a nao apenas para umsexo, tendo o direito de abolir tais discriminaes sub-jetivas.

    Alm dos direitos individuais enumerados no caput,temos outros, conforme se l nos incisos seguintes:

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obri-gaes, nos termos desta Constituio;

    Observa-se aqui um desdobramento do princpio daisonomia: as mulheres, pela primeira vez na histriaconstitucional brasileira, adquiriram total equiparao,perante a lei, aos homens, tanto em direitos quantoem obrigaes. Este inciso eliminou, por exemplo, aexclusividade da penso alimentcia para mulheres,assim como acabou com a exclusividade do homemna chefia da unidade familiar.

    Princpio da legalidade

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer

    alguma coisa seno em virtude de lei;

    Lei um preceito jurdico escrito, emanado pelo poderestatal competente, com carter de inovao, genera-lidade e obrigatoriedade. Entende-se que somente opoder legislativo, via de regra, deve elabor-la, sendoela obrigatria e para todos.

    V-se aqui a enunciao de um princpio basilar doEstado de Direito: oprincpio da legalidade.

    Embora determinados atos administrativos, como de-

    cretos e portarias, tambm obriguem os cidados, emltima anlise, isto s possvel porque alguma lei opermite.

    III - ningum ser submetido tortura ou tratamentodesumano ou degradante;Exemplos de tortura: utilizao de pau-de-arara, cho-ques, espancamentos, mutilaes, queimaduras, so-ros da verdade etc.

    Quanto proibio de tratamento desumano e degra-dante, ela diz respeito, sobretudo, aplicao de pe-nase, neste sentido, o inciso XLVII proibir, por exem-plo, penas de trabalhos forados e penas cruis.

    Ningum poder ser tratado sem o devido respeito. Olegislador constituinte, em 1988, era um legisladorescaldado com um Estado que no respeitava o indi-vduo.Muitos deles foram alvos de tortura, da a im-portncia dada ao tema. O direito integridade ba-

    sicamente o 1 direito humano elencado na Lei Maior.

    Liberdade de pensamento

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo ve-dado o anonimato;

    A prova pode pedir tal questo trocando a palavra an-nimo por apcrifo ou inominado, pois so sinnimos.

    Toda e qualquer pessoa pode manifestar seu pensa-mento, qualquer que seja este, mas isto no a eximede ser responsabilizada pelo que disser, se ofenderalgum. Da a proibio do anonimato: ele impede aidentificao do autor, para fins de responsabilizao.

    Direito de resposta

    V - assegurado o direito de resposta, proporcionalao agravo, alm da indenizao por dano material,moral ou imagem;

    Este inciso reflexo do anterior. Ao ofendido asse-gurado direito indenizao edireito de resposta. Esteltimo tem sido largamente utilizado nas campanhas

    eleitorais.

    Liberdade de conscincia, de crena e deculto

    VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de cren-a, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos reli-giosos e garantida, na forma da lei, a proteo aoslocais de culto e a suas liturgias;

    A Constituio assegura a todos escolher livrementea crena e a ideologia poltica ou filosfica que quise-

    rem. a chamada liberdade interna, tambm conhe-cida por liberdade subjetivaou liberdade moral.

    Quando esse direito se exterioriza, com a expresso,por exemplo, da crena atravs do culto, estamos di-ante da liberdade objetiva, que tambm resguarda-da pelo Estado.

    Evidentemente, essa liberdade no absoluta: pelainterpretao sistemtica, ela se mantm at ondeinicia a liberdade do outro. No se pode, por exemplo,fazer pregaes s duas horas da manh, pois isso

    interfere no direito de intimidade e privacidade do ou-tro.

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    Percebe-se um avano no respeito do Estado s liber-dades de conscincia e de crena, em comparao atextos constitucionais anteriores. No pode, qualqueragente pblico, no exerccio de suas funes fazerqualquer juzo de valor sobre a crena de qualquer

    pessoa, pois o Estado Laico.

    VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao deassistncia religiosa nas entidades civis e militaresde internao coletiva;

    O Estado Brasileiro laico, isto , no tem religiooficial. Portanto, a prestao de assistncia religiosa,segundo o texto, alm de ser regulamentada por lei,ser oferecida facultativamente por quem quiser. Enti-dades de internao coletiva so: penitencirias, re-formatrios, orfanatos, hospitais, quartis etc.

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo decrena religiosa ou de convico filosfica ou polti-ca, salvo se as invocar para eximir-se de obrigaolegal a todos imposta e recusar-se a cumprir presta-o alternativa, fixada em lei;

    comum, no caso de algumas religies, alegar-seescusa de conscincia (minha religio no permite)para a dispensa do servio militar obrigatrio.

    Nesses casos, deve ento a autoridade competenteconceder uma prestao alternativa, onde, ao invs

    do treinamento militar, que contraria a sua religio, osujeito ir fazer uma outra coisa (prestao de servioscomunitrios, execuo de servios de escritrio etc.).Deve agora o indivduo cumprir essa prestao alterna-tiva. Caso contrrio, a sim, perder seus direitos polti-cos, e deixar de ser cidado, isto , no poder maisvotarou se candidatar a uma eleio.

    Um cuidado se deve ter: s se pode alegar escusa deconscincia quando a obrigao legal a todos impostapermitir uma prestao alternativa. Caso contrrio, elano poder ser alegada. Quem presencia um crime,

    por exemplo, no pode dizer ao Juiz que no pode tes-temunhar por razes de conscincia - no h ato quesubstitua o depoimento dessa pessoa e, portanto, noh prestao alternativa que possa ser aplicada.

    Liberdade de expresso

    IX - livre a expresso da atividade intelectual, arts-tica, cientfica, e de comunicao, independente decensura ou licena;

    Censura, segundo Michel Temer, a verificao dopensamento antes de sua divulgao, com o intuito

    de impedir a circulao de certas idias. um crivo prvio do Estado sobre qualquer publicaoLicena(no presente contexto) a autorizao emiti-da por rgos oficiais para a publicao de jornais eperidicos.

    Estes dois institutos, utilizados exaustivamente noperodo da ditadura e demais estados de Exceo,hoje no tm mais lugar. lgico que o administradorfaa uma classificao, como disposto no artigo 220da CF:

    Art. 220, 3o- Compete lei federal:I - regular as diverses e espetculos pblicos, ca-bendo ao Poder Pblico informar sobre a naturezadeles, as faixas etrias a que no se recomendem,locais e horrios em que sua apresentao se mostreinadequada;

    II - estabelecer os meios legais que garantam pes-soa e famlia a possibilidade de se defenderem deprogramas ou programaes de rdio e televiso quecontrariem o disposto no art. 221, bem como da pro-paganda de produtos, prticas e servios que pos-sam ser nocivos sade e ao meio ambiente.X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a hon-ra e a imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrentede sua violao;

    A publicao ou a divulgao de fotos, segredos, car-tas ou informaes que firam a vida ntima, a privaci-dade, a honraou a imagemdas pessoas gera obriga-o de reparao.Direito imagem , no dizer de Celso Bastos, o direi-to de ningum ver o seu retrato exposto em pblicosem o seu consentimento.

    Inviolabilidade da casa

    XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningumnela podendo penetrar sem consentimento do mora-dor, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, oupara prestar socorro, ou, durante o dia, por determina-

    o judicial;

    Dia o perodo entre o nascer do sol e o pr do sol.

    No se pode pensar que no Brasil, pas com quatrohorrios oficiais, determinada hora significa dia ou noite.

    Noite o perodo em que no h luz solar.

    Durante o dia, somente poder-se- entrar na casa semconsentimento do morador em quatro situaes:

    1. flagrante delito (exemplo: o marido est espancan-

    do a mulher). Os exemplos dados em prova sempre

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    trazem o verbo no gerndio, p. ex.: est roubando acasa.2. desastre (o telhado est desmoronando);3. para prestar socorro (o morador quebrou a perna eno consegue se levantar);

    4. por ordem judicial (mandado de priso), ou manda-do de busca.

    Durante a noite, a invaso da residncia somente admitida nas trs primeiras hipteses. Uma ordemjudicial jamais poder autorizar, por si s, invaso decasa alheia noite.

    Inviolabilidade da correspondncia

    XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e dascomunicaes telegrficas, de dados e das comuni-caes telefnicas, salvo, no ltimo caso, por ordemjudicial, nas hipteses e na forma que a lei estabele-cer para fins de investigao criminal ou instruo pro-cessual penal;

    O direito assegurado neste inciso reflexo do direitode intimidade.

    A inviolabilidade das correspondnciase demais co-municaes telegrficas absoluta, mas a das co-municaes telefnicas, no, sendo permitido colo-car escutas e gravar conversas telefnicas, desde quehaja ordem judicial neste sentido, e apenas com fina-

    lidade de investigao criminalou de instruo pro-cessual penal.

    Observe que a redao deste inciso restritiva: no permitida a escuta telefnica, por exemplo, para ins-truir um processo civil.

    Liberdade de exerccio de profisso

    XIII- livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ouprofisso, atendidas as qualificaes profissionais quea lei estabelecer;

    A exigncia de qualificao profissional para o exerc-cio de determinadas profisses necessria. Imagi-ne, por exemplo, o que aconteceria se uma pessoa,sem diploma de mdico, sasse por a dando remdi-os e operando pacientes...

    Cada profisso regulamentada por uma lei especfi-ca. Para ser jornalista, por exemplo, no h a neces-sidade de diploma de nvel superior.

    Direito de acesso informao

    XIV - assegurado a todos o acesso informao eresguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao

    exerccio profissional;

    Os jornalistas, por exemplo, no so obrigados a re-velar suas fontes, mas devem, sempre, assinar a ma-tria, de modo que, se ofenderem algum, seroresponsabilizados pelo que tiverem publicado.

    Este disposto constitucional tambm usado para jus-tificar a legalidade dos servios de disque-denncia.

    Direito de locomoo

    XV- livre a locomoo no territrio nacional em tem-po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos dalei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seusbens;

    A expresso qualquer pessoa ampla e abarca noapenas os brasileiros como tambm os estrangeiros.

    A liberdade de ir e vir pode ser limitada pelo PoderPblico em caso de guerra.

    Direito de reunio

    XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem ar-mas, em locais abertos ao pblico, independentemen-te de autorizao, desde que no frustrem outra reu-nio anteriormente convocada para o mesmo local,sendo apenas exigido prvio aviso autoridade com-petente;

    As pessoas so livres para fazer passeatas, protes-

    tos, manifestaes etc., no necessitando de autori-zao do Poder Pblico para esse fim.

    A exigncia de prvio aviso atende a uma necessida-de administrativa, e foi feita para que a autoridade com-petente possa tomar as providncias necessrias,como, por exemplo, interditar o trnsito, liberar ruas,convocar fora policial para garantir a realizao dareunio etc.

    Tal exigncia se justifica para se evitar a realizaode manifestaes antagnicas no mesmo horrio elocal.

    Direito de associao

    XVII - plena a liberdade de associao para finslcitos, vedada a de carter paramilitar;

    Assim como a liberdade de reunio, a liberdade deassociao tambm direito coletivo. A grande dife-rena entre reunio e associao reside na durao ena finalidade de ambas.

    Segundo Jos Afonso da Silva, a associao uma

    reunio estvele permanentede pessoas que visamum fim comum.

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    Associao paramilitar, proibida pela Lei Maior, aque se destina ao treinamento de pessoas no manejode armas, e que adota rigidez hierrquica semelhante do exrcito, com objetivos escusos, ilegais, comoos esquadres da morte, por exemplo.

    XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, ade cooperativas independem de autorizao, sendovedada a interferncia estatal em seu funcionamento;

    Em relao s cooperativas, h necessidade de leiordinria que regulamente sua criao, o que dever olegislador regular oportunamente.

    Tanto para as associaes como para as cooperati-vas, no se permite qualquer interferncia estatal emseu funcionamento, desde que estejam de acordo comas normas legais.

    H inovao, pois o Estado no mais interfere na sea-ra dos seus cidados, quando estes no ameaamsuas estruturas democrticas. Pela Constituio an-terior havia a necessidade de autorizao do Estado.

    XIX - as associaes s podero ser compulsoria-mente dissolvidas ou ter suas atividades suspensaspor deciso judicial, exigindo-se, no primeiro caso, otrnsito em julgado;

    Somente o Poder Judicirio, e apenas ele, poder

    decretar a suspenso das atividades de uma associa-o ou decretar sua dissoluo.

    Suspenso a paralisao temporria das atividadesda associao.

    Dissoluo o desaparecimento da sociedade, domundo jurdico.

    Se a deciso da justia for pela postura mais grave,ou seja, pela dissoluo da associao, dever, ne-cessariamente ter ocorrido o trnsito em julgado da

    deciso, ou seja, devero ter-se esgotado todos osrecursos possveis contra aquela deciso, que se tor-na, ento, definitiva.

    Exemplificando: o juiz, de um frum qualquer, decide,em sua sentena, pela dissoluo da sociedade. Osrepresentantes desta tm o direito de apelar destadeciso para um rgo de segunda instncia, superi-or a este juiz. Resolvem faz-lo e perde novamente asociedade. Ainda no ocorreu o trnsito em julgado,pois ainda h o direito de se entrar com recurso espe-cial, para o Superior Tribunal de Justia, ou recursoextraordinrio, para o Supremo Tribunal Federal (se

    matria constitucional).Perdendo novamente, a no

    haver mais recurso possvel: ocorreu o trnsito emjulgado, cujo resultado a coisa julgada, ou seja, asentena imutvel, no mais passvel de alterao.

    Liberdade de associao

    XX - ningum poder ser compelido a associar-se oua permanecer associado;

    O fato de se exigir a filiao de determinados profissi-onais aos respectivos Conselhos Regionais (CREA,CRM, CRP, OAB, CRC etc.), sob pena de exerccioilegal da profisso indica situao em que este incisono aplicado. Tal exigncia, entretanto, parece en-contrar respaldo constitucional no artigo 149 da CF,que outorga Unio competncia para instituir contri-buies de interesse das categorias profissionais oueconmicas.

    XXI- as entidades associativas, quando expressamen-te autorizadas, tm legitimidade para representar seusfiliados judicial ou extrajudicialmente;

    Observe, que a autorizao tem que ser expressa.Uma associao de funcionrios pblicos aposenta-dos, por exemplo, pode, mediante procurao de seusfiliados, mover um processo contra o Estado para ob-ter benefcios a que estes faam jus (representaojudicial). Da mesma forma, um sindicato de trabalha-dores pode entrar, em nome de seus filiados, em ne-gociao com o sindicato patronal para efetuar deter-

    minados acertos salariais (representaoextrajudicial).

    Direito de propriedade

    XXII- garantido o direito de propriedade;

    No o direito de ser proprietrio de quaisquer bens,pois este direito permitido em qualquer pas do mun-do. Entende-se que o corpo constitucional enfoca apropriedade privada dos meios de produo, com, porexemplo, fabricas, escolas, fazendas etc.. Na econo-mia planificada no h esta defesa.

    O direito de propriedade, enunciado aqui de forma ge-nrica, sofrer restries nos incisos seguintes.

    Funo social da propriedade

    XXIII - a propriedade atender a sua funo social;

    Ao se exigir o cumprimento da funo social da pro-priedade, teve o legislador constituinte a idia de quea propriedade urbana e a rural no mais poderiam ser-vir para o simples acrscimo patrimonial, mas simdeveriam ter um destino na sociedade.

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    Para se entender este inciso, necessrio esclarecerque a funo social da propriedade varia, conformeseja ela urbana ou rural.

    O art. 182, 2oda CF diz o seguinte: a propriedade

    urbanacumpre sua funo social quando atende sexigncias fundamentais de ordenao da cidade ex-pressas no plano diretor.

    O plano diretor um instrumento de poltica de desen-volvimento e expanso urbana, exigido pela CF paracidades com mais de 20.000 habitantes; nele soenumeradas as obrigaes dos proprietrios de im-veis urbanos e as punies que sofrero, caso no ascumpram.

    Em relao s propriedades rurais, o art. 186 da CFdiz o seguinte: A funo social cumprida quando apropriedade rural atende, simultaneamente, segundocritrios e graus de exigncia estabelecidos em lei,aos seguintes requisitos:I - aproveitamento racional e adequado;II - utilizao adequada dos recursos naturais dispo-nveis e preservao do meio ambiente;III - observncia das disposies que regulam as re-laes de trabalho;IV - explorao que favorea o bem-estar dos proprie-trios e dos trabalhadores.

    Aquelas propriedades que no cumprirem a sua fun-o social podero sofrer desapropriao, nos termosdo inciso seguinte:

    Desapropriao

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desa-propriao por necessidade ou utilidade pblica, oupor interesse social, mediante justa e prvia indeniza-o em dinheiro, ressalvados os casos previstos nes-ta Constituio;

    Desapropriao a transferncia compulsria da pro-

    priedade de um bem de uma determinada pessoa parao Estado, em razo de necessidade pblica, utilidadepblica ou interesse social.Necessidade pblica aquela que o Poder Pblicosente em relao a determinado bem e que s podeser resolvida com a transferncia deste.

    Utilidade pblicaafere-se pela convenincia da utili-zao do bem.

    Interesse socialocorre quando se visualizam benef-cios coletividade.

    Embora este inciso diga que a desapropriao dever

    ser precedida de pagamento prvio e justo em dinhei-ro, nem sempre assim. O texto constitucional enu-mera excees indenizao em dinheiro: nas desapropriaes para fins dereforma agrria, aindenizao ser feita mediante ttulos da dvida agr-

    ria(art. 184, da CF); no caso de desapropriao-sano(desapropriaoaplicada ao proprietrio de imvel urbano que no pro-mova o seu adequado aproveitamento), o pagamento feito mediante ttulos da dvida pblica(art. 182, 4, III).

    O art. 243, da CF, diz que o Estado dever tomar apropriedade que foi utilizada para plantio de plantaspsicotrpicas ilegais; neste caso, entretanto, no setrata de desapropriao, porque no h qualquer inde-nizao, e da essncia do instituto da desapropria-o que sempre haja indenizao.

    A Constituio utiliza a expresso expropriaodeforma inadequada, pois tal expresso tem o mesmosentido da palavra desapropriao.

    Requisio administrativa

    XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autorida-de competente poder usar de propriedade particular,assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, sehouver dano;

    Este inciso traz mais uma restrio ao direito de pro-priedade: a chamada requisio administrativaouutilizao de propriedade alheia.

    Diferentemente da desapropriao, neste caso no halterao no Cartrio de Ttulos e Documentos, umavez que no houve qualquer alterao de domnio(dono). O proprietrio perder apenas o direito de usar,perder o direito de posse, que, temporariamente,passar ao Estado.

    Ao trmino do perigo, deve a administrao pblica

    devolver o imvel. Se houver a constatao de dano,far-se- o ressarcimento posteriormente.

    Convm lembrar, ainda, que h uma outra requisioadministrativa, efetuada em situaes outras que noem iminente perigo. A Justia Eleitoral, por exem-plo, pode perfeitamente requisitar um prdio particularpara que nele sejam realizadas eleies.

    Proteo pequena propriedade rural

    XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida emlei, desde que trabalhada pela famlia, no ser obje-to de penhora para pagamento de dbitos decorren-

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    tes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobreos meios de financiar o seu desenvolvimento;

    A pequena propriedade rural, de acordo com o CdigoFlorestal, tem um tamanho varivel de acordo com a

    regio do pas onde se encontrar.

    Penhora o ato judicial pelo qual so apreendidos osbens do devedor para que por eles se cobre o credordo que lhe devido.

    Esse inciso protege o pequeno agricultor que poderiaperder sua propriedade em virtude do no-pagamentodos emprstimos que fez para o plantio.

    Para que a propriedade no seja objeto de penhora,ela dever ser pequenae ser trabalhada pela famlia;alm disso, a dvida dever ter sido contrada em fun-o da atividade produtiva.

    O favor constante nesse inciso no abrange dvidasfiscais, pelo que poder ser efetuada a penhora emdecorrncia do no-pagamento de tributos.

    Diz ainda, o legislador, remetendo o assunto a lei pos-terior, que haver normas para permitir o desenvolvi-mento desse pequeno produtor.

    Direito autoral

    XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo deutilizao, publicao ou reproduo de suas obras,transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

    Segundo a Lei 9.610/98, o direito do autor de explora-o exclusiva de sua obra vitalcio, ou seja, perdurapor toda sua vida. Perdura tambm, por toda a vida deseus herdeiros, se estes forem filhos, pais ou cnju-ges. Os demais sucessores do autor gozaro dos di-reitos patrimoniais que este lhes transmitir pelo pero-do de setenta anos, a contar de 1ode janeiro do anosubseqente ao de seu falecimento. Esgotados es-

    ses prazos, a obra cai no domnio pblico, passandoo seu uso a ser inteiramente livre.

    Direito participao individual em obra co-letiva

    XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:

    a) a proteo s participaes individuais em obrascoletivas e reproduo da imagem e voz humanas,inclusive nas atividades desportivas;

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econ-mico das obras que criarem ou de que participarem

    aos criadores, aos intrpretes e s respectivas repre-sentaes sindicais e associativas;

    O constituinte quis proteger a participao individualnas obras coletivas. Uma novela, por exemplo, com-

    posta da participao do autor, atores, diretores, as-sistentes e todo o corpo auxiliar.

    Quem de alguma forma colaborou na elaborao deuma produo dever ser contemplado com uma por-centagem da venda dessa obra.

    Estendeu-se, tambm esse direito reproduo daimagem e da voz humanas e s atividades desportivas.

    Privilgio de inveno industrial

    XXIX - a lei assegurar aos autores de inventos in-dustriais privilgio temporrio para sua utilizao, bemcomo proteo s criaes industriais, propriedadedas marcas, aos nomes de empresas e a outros sig-nos distintivos, tendo em vista o interesse social edesenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas;

    Caso o direito do inventor contrarie o interesse coletivo,este ltimo prevalecer, pois o interesse coletivo su-premo e indisponvel em relao ao individual.

    O privilgio de inveno industrial, no caso, consisteno direito de obter patente de propriedade do invento e

    no direito de utilizao exclusiva desse invento. Poreste inciso, tal privilgio dever ser temporrio, isto ,a lei ordinria que for regul-lo no poder torn-loperptuo.

    Direito de herana

    XXX- garantido o direito de herana;

    Ao assegurar o direito de herana, a Constituio im-pede que o Estado se aproprie dos bens do falecido.

    XXXI - a sucesso de bens de estrangeiros situadosno Pas ser regulada pela lei brasileira em benefciodo cnjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que nolhes seja mais favorvel a lei pessoal do de cujus;

    De cujus a pessoa que morreu. Se for estrangeira, asucesso dos seus bens pode ser regulada por duasmaneiras: ou pela lei do seu pas de origem, ou pela leido pas onde esto situados os seus bens. Se os bensestiverem no Brasil, aplicar-se- sempre a lei que formais favorvel aos filhos ou cnjuge brasileiros.

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    Defesa do consumidor

    XXXII- o Estado promover, na forma de lei, a defesado consumidor;

    A regulamentao deste inciso adveio com a promul-gao do Cdigo de Defesa do Consumidor, Lei n8.078/90.

    XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pbli-cos informaes de seu interesse particular, ou deinteresse coletivo ou geral, que sero prestadas noprazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalva-das aquelas cujo sigilo seja imprescindvel seguran-a da sociedade e do Estado;

    Excetuando-se as informaes que coloquem em ris-co a segurana da sociedade e do Estado, a respostaao pedido de informao obrigatria, sob pena deser aberto processo administrativo contra o funcion-rio competente.

    Alm disso, em havendo recusa em fornecer dadosligados pessoa do requerente, poder-se- obrigar oPoder Pblico a entreg-los, utilizando-se o institutodo habeas data, consagrado no inciso LXXII.

    Direito de petio

    XXXIV - so a todos assegurados, independentemente

    do pagamento de taxas:a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defe-sa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obteno de certides em reparties pblicas,para defesa de direitos e esclarecimento de situaesde interesse pessoal;

    Neste inciso temos a consagrao do direito de peti-o, ou direito de representao. Por ele qualquerpessoa, tanto fsicaquantojurdicapode fazer um re-querimento endereado aos rgos do Poder Pblico,pleiteando um direito individual ou demonstrando que

    contra si ou seu interesse (seja individual ou coletivo)cometeu-se uma ilegalidade (violou-se a lei) ou algumabuso de poder, por parte de um agente pblico.

    Poder Pblico toda e qualquer entidade governa-mental, seja da Unio, dos Estados-membros, dosMunicpios, do Distrito Federal, dos Territrios, dasautarquias e fundaes pblicas, seja do Poder Exe-cutivo, Legislativo ou Judicirio.

    Certido o documento onde um funcionrio pblico ates-ta algo que se encontra em seus livros e registros.

    Muito embora o legislador quisesse garantir o

    asseguramento da obteno de certides, junto sreparties pblicas, independentemente de qualquerpagamento, isto no ocorre na prtica porque se co-bram os valores do papel, da tinta gasta, do carbono edo tempo despendido pelo servidor, sob a denomina-

    o de emolumentos, ou custas judiciais.

    Jurisdio universal ou Jurisdio nica

    XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Ju-dicirio leso ou ameaa a direito;

    Esse princpio consagrado como princpio dainafastabilidade do controle jurisdicional ouprincpioda universalidade da jurisdio.

    Qualquer pessoa que sinta que seu direito est sendoameaado, ou que entenda que sofreu uma lesomerecedora de reparos, tem o direito de ir ao Judici-rio buscar uma soluo, na forma de uma sentenaproferida pelo juiz.

    Houve aqui um enorme ganho em relao redaodeste princpio na Constituio de 1967, que dizia queo ingresso em juzo poderia ser condicionado a quese exaurissem previamente as vias administrativas. Aregra, hoje, que qualquer pessoa pode recorrer aoJudicirio, independentemente de abrir ou no processoadministrativo. Excepciona, o legislador constituinte,apenas em relao justia desportiva (art. 217, 1o).

    XXXVI- a lei no prejudicar o direito adquirido, o atojurdico perfeito e a coisa julgada;

    Busca-se garantir aqui a segurana jurdica, conce-dendo-se s pessoas estabilidade nas suas relaesjurdicas com o Estado. Normas supervenientes(ouseja, que sobrevenham posteriormente) no podemsuprimir atos consumados.

    Ato jurdico perfeito,segundo o art. 6, 1 da Lei In-troduo ao Cdigo Civil, o ato consumado de acor-do com a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Como

    todo ato jurdico, deve obedecer aos seguintes requisi-tos: agente capaz, vontade livre, objeto lcito e formaprescrita ou no defesa (proibida) em lei.

    Coisa julgada,segundo o art. 6, 3 da Lei Introdu-o ao Cdigo Civil, a deciso judicial de que j nocaiba recurso.

    Direito adquirido aquele que permite gozar dos efei-tos de lei no mais em vigor, por j ter sido incorpora-do ao patrimnio do seu titular, isto , j ser de suapropriedade.

    importante notar que no se pode alegar direito ad-

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    quirido se o prejuzo for decorrentedeemenda consti-tucional ou de dispositivo da prpria Constituio 1. Olegislador deixa claro, no incio do inciso que a vedaoem causa se destina lei, isto , ao ordenamentoinfraconstitucional.

    XXXVII - no haver juzo ou tribunal de exceo;

    Probe-se a criao de tribunais ou juzos que nosejam aqueles previstos no art. 92 da CF. Os julga-mentos somente podero ser realizados por juzes outribunais pertencentes estrutura do Poder Judici-rio, a saber: Supremo Tribunal Federal, Superior Tri-bunal de Justia; os Tribunais Regionais Federais eJuzes Federais; os Tribunais e Juzes do Trabalho;os Tribunais e Juzes Eleitorais; os Tribunais e JuzesMilitares; os Tribunais e Juzes dos Estados e do Dis-trito Federal e Territrios.

    O mais famoso tribunal de exceo da histria foi oque julgou os oficiais nazistas com o trmino da 2Grande Guerra, o Tribunal de Nuremberg. Noordenamento brasileiro no haver casos a serem jul-gados fora dos poder judicirio, por mais hediondo queseja o crime.

    XXXVIII- reconhecida a instituio do jri, com aorganizao que lhe der a lei, assegurados:a) a plenitude de defesa;b) o sigilo das votaes;

    c) a soberania dos veredictos;d) a competncia para o julgamento dos crimes dolososcontra a vida;

    Jri o rgo julgador formado por sete pessoas dopovo, destinado a julgar crimes dolosos contra a vida,a saber: homicdio (matar algum), infanticdio (mataro prprio filho logo aps o parto, em virtude do estadopuerperal), aborto, e instigao, induzimento ou aux-lio ao suicdio.

    Ao jurado compete apenas examinar os fatos e dizer

    se o ru dever ser condenado ou absolvido. O votoemitido pelo jurado secreto. Ao final da votao dado conhecimento ao ru de sua sentena. O juradono aplica a pena, funo esta que cabe exclusiva-mente ao juiz. No inciso acima, soberania dos veredic-tosquer dizer que o juiz obrigado a acatar a decisodos jurados, mesmo que no concorde com ela.

    Ao ru dever ser assegurada a mais ampla defesa,ou seja, no sero admitidos quaisquer atos que im-peam ou cerceiem seu direito de defesa. No pode ojuiz indeferir uma prova ou uma testemunha, sob penade violao desse preceito constitucional.

    Princpio da anterioridade da lei penal

    XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina,nem pena sem prvia cominao legal;

    Toda conduta, para ser considerada criminosa, deverestar previamente descrita em lei enquanto tal; asso-ciada a essa conduta dever vir a cominao legal dapena, ou seja, a previso legal de qual sano seraplicada.

    Para que haja um crime, necessrio que a lei que odescreve esteja em vigor antesde o ato ser praticado.Se lei posterior vier a prever uma conduta como crimi-nosa, seus efeitos sero da data de sua publicaopara frente. A lei penal, portanto, jamais retroagir, isto, jamais alcanar atos praticados antes de sua pu-blicao, exceto na situao seguinte:

    Princpio da retroatividade da norma penalmais benfica ao infrator

    XL- a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar oru;

    Depreende-se que somente retroagir a lei penal queno mais caracterizar determinada conduta como cri-minosa ou que diminuir a pena a ser aplicada ao crimi-noso, pois, nestes casos, o ru ser beneficiado.

    XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatriados direitos e liberdades fundamentais;

    Esse inciso no um dispositivo auto-executvel, pre-cisando da expedio de lei regulamentando-o.

    Repdio ao racismo

    XLII - a prtica do racismo constitui crime inafianvele imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos ter-mos da lei;

    Fiana o direito subjetivo que permite ao acusado,mediante cauo (depsito em dinheiro nos cofrespblicos) e cumprimento de certas obrigaes, con-servar sua liberdade at a sentena condenatriairrecorrvel.

    Dizer que o racismo crime inafianvelsignifica di-zer que o acusado no poder responder ao processo

    1O art. 17, do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias,

    por exemplo, diz o seguinte: Os vencimentos, a remunerao,

    as vantagens e os adicionais, bem como os proventos de

    aposentadoria que estejam sendo percebidos em desacordo

    com a Constituio sero imediatamente reduzidos aos limites

    dela decorrentes, no se admitindo, neste caso, invocao

    de direito adquirido ou percepo de excesso a qualquer

    ttulo.

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    em liberdade, atravs de fiana.

    Prescrio a perda do direito do Estado de punir,em razo do tempo excessivamente grande deman-dado na apurao do caso. Conforme diz Maximilianus

    Fhrer, se a pena no imposta ou executada dentrode determinado prazo, cessa o interesse da lei pelapunio, passando a prevalecer o interesse pelo es-quecimento e pela pacificao social.

    Dizer que o crime de racismo imprescritvel significaque o Estado poder levar o tempo que for necessriopara efetuar a sua apurao, que a prescrio noocorrer. Aps a apurao e devida sentena penalcondenatria, o infrator cumprir sua pena.

    Recluso uma modalidade de pena privativa de li-berdade, que se aplica a crimes dolosose, portanto,maisgraves, e cujo incio de cumprimento de pena sedar em regime fechado (preso), ou semi-aberto (tra-balha em colnia penal agrcola de dia, e se recolhe noite na cela para dormir) ou aberto (fica em sua pr-pria casa).

    Como o legislador nos diz que a pena para o crime deracismo de recluso, o incio de seu cumprimentoser atrs das grades, ou seja, em regime fechado,podendo mudar posteriormente para o semi-aberto ebem mais tarde, para o aberto.

    XLIII- a lei considerar crimes inafianveis e

    insuscetveis de graa ou anistia a prtica da tortura,trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o terro-rismo e os definidos como crimes hediondos, por elesrespondendo os mandantes, os executores e os que,podendo evit-los, se omitirem;

    Graa o ato de competncia privativa do Presidenteda Repblica, pelo qual se defere pedido individual deperdo ou de diminuio da pena do crime cometido.Se for concedida, ela extingue a punibilidade, ou seja,reconhece-se que houve crime, mas a ele no se apli-car a pena.A anistiase dpor leielaborada pelo Congresso Naci-onal, onde se perdoa o ato criminoso, extinguindo-setodas as aes penais a ele referentes. No pode oanistiado recusar a anistia, uma vez que esta o es-quecimento da prpria infrao, apagando-a, como seela nunca tivesse existido.

    Oscrimes hediondosso enumerados pela Lei 8.930,de 6.09.94, conforme segue:a) homicdio quando praticado em atividade tpica degrupo de extermnio, ainda que cometido por um sagente, e homicdio qualificado;b) latrocnio (roubo seguido e morte);

    c) extorso mediante seqestro;d) extorso qualificada pela morte;

    e) estupro;f) atentado violento ao pudor;g) epidemia com resultado morte;h) genocdio.

    Como se v, a prtica da tortura, o trfico ilcito deentorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os cri-mes hediondos no podero se beneficiar de fiana,graa ou anistia. Alm disso, todos os que participa-ram da conduta criminosa e os que, podendo evit-la,se omitiram, respondero ao processo sob pena derecluso.

    XLIV- Constitui crime inafianvel e imprescritvel aao de grupo armados, civis ou militares, contra aordem constitucional e o Estado Democrtico;

    O inciso em pauta vem reforar a defesa do regimepoltico adotado neste pas, que a democracia, e a

    defesa da ordem constitucional.

    Princpio da personalizao da pena

    XLV- Nenhuma pena passar da pessoa do condena-do, podendo a obrigao de reparar o dano e a decre-tao do perdimento de bens ser, nos termos da lei,estendidas aos sucessores e contra eles executadas,at o limite do valor do patrimnio transferido;Quando o autor de um determinado crime falecer, suafamlia no ir para a cadeia cumprir o que resta dapena por ele. este o princpio da personalizao dapena. Tal regra difere de outros ordenamentos do mun-

    do em que a famlia sofre pelo ilcito cometido por umde seus membros, com casas demolidas, por exem-plo.

    H, entretanto, uma segunda questo envolvida a, que de natureza patrimonial. Qualquer crime cometidoimplicar em reparao de dano, e a obrigao deindenizar, esta sim, passar aos familiares do de cujus,mas somente at o limite do que receberam na su-cesso, resguardados os direitos do cnjuge-meeiro(aquele que fica com a metade dos bens).Exemplificando: Carlos cometeu crime de falsidade e

    foi condenado a uma pena de 5 anos. Cumpre 2 anose falece. Sua mulher e filhos no respondero crimi-nalmente. Enquanto estiveram casados, Carlos e aesposa auferiram, de forma lcita, uma casa e um te-lefone, que equivalem a 100 mil reais. 50 mil deCarlos e 50 mil da viva. S a parte de Carlos quedeve indenizar os prejuzos ocasionados a terceiros,pelos documentos falsificados, e no o patrimnio in-teiro.

    Perdimento de bens, no sentido original, era a devolu-o aos cofres pblicos de quantias subtradas do pr-prio errio, ou em decorrncia de enriquecimento ilci-to gerado pelo exerccio de cargo, funo ou emprego

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    na administrao direta ou indireta. A ConstituioFederal, entretanto, no exige que o infrator seja fun-cionrio pblico para ser-lhe aplicada a pena deperdimento de bens. Basta que cause prejuzo aoEstado.

    Princpio da individualizao da pena

    XLVI- a lei regular a individualizao da pena e ado-tar, entre outras, as seguintes:a) privao ou restrio da liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) prestao social alternativa;e) suspenso ou interdio de direitos;

    Individualizao da pena significa dizer que o juiz de-ver aplicar a pena coerentemente com o crime co-metido e com as condies do infrator. No deve ojuiz agir de forma arbitrria, perseguindo os fracos eprivilegiando os mais fortes. Ou ainda, determinandoa mesma quantidade da pena independente do grauda participao individual em um ilcito coletivo.

    A determinao da pena deve ter por base uma rela-o de proporcionalidade, aferida por dois critrios: oqualitativo e o quantitativo. O critrio qualitativo nosdiz que crimes mais graves devem ter penas maisseveras. O critrio quantitativo nos diz que a penadever ser aplicada em maior ou menor grau, confor-

    me a maior ou menor culpabilidade do infrator.

    Alm dessas duas relaes devemos analisar os an-tecedentes criminais do ru, sua personalidade, suaconduta social e familiar, os motivos determinantesdo crime, gravidade da conduta etc.

    Somente a lei pode criar penas e o legislador enume-ra alguns tipos, podendo perfeitamente ser criadasoutras, uma vez que a enumerao meramenteexemplificativa:a) privao ou restrio de liberdade

    O Cdigo Penal divide essa pena em deteno e re-cluso. Na recluso, o preso inicialmente cumprirsua pena em regime fechado, em isolamento celular,ou seja, preso em uma cela. Na deteno, poderiniciar o cumprimento de sua pena em regime semi-aberto, ou seja, trabalha durante o dia em colnia pe-nal agrcola, ao ar livre, e noite, recolhe-se cela.

    b) perda de bens;

    a perda em favor da Unio dos instrumentos do cri-me ou do produto do crime ou qualquer bem ou valorque constitua proveito auferido pelo infrator com a pr-

    tica de fato criminoso.

    c) prestao social alternativa;

    Essa pena consiste na atribuio ao condenado de

    tarefas gratuitas junto a entidades assistenciais, hos-pitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos.

    d) suspenso ou interdio de direitos;

    Implica na perda permanente (interdio) ou tempor-ria (suspenso) de direitos. Perfaz-se, por exemplo,com a proibio para o exerccio do cargo, funo ouatividade pblica, ou mandato eletivo; com a proibiodo exerccio de profisso, atividade ou ofcio que de-pendam de habilitao especial, de licena ou autori-zao do poder pblico; com a suspenso de autori-zao ou de habilitao para dirigir veculos etc.

    XLVII - no haver penas:a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nostermos do art. 84, XIX;b) de carter perptuo;c) de trabalhos forados;d) de banimento;e) cruis;

    A pena de morte, prevista no Cdigo Militar, umaexceo regra, s sendo permitida em perodo deguerra.

    No h penas de carter perptuo, uma vez que estasprivam o homem de sua condio humana, e no lhepermitem a reeducao, que objetivo do legislador.

    Tambm no se permite a imposio de trabalhos for-ados. Os trabalhos forados, por sua prpria nature-za, so gratuitos. Nos presdios brasileiros, os pre-sos que trabalharem sero sempre remunerados.

    Banimento a expulso de brasileiro do territrio na-cional. A Constituio tambm no o admite.

    XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentosdistintos, de acordo com a natureza do delito, a idadee o sexo apenado;

    Isto significa que presos de menor periculosidade de-vero ficar com os de menor periculosidade. Os maisjovens devero ficar separados dos mais velhos. Asmulheres ficaro em presdios femininos, e os homens,nos masculinos.

    XLIX- assegurado aos presos o respeito integrida-de fsica e moral;

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    O Estado detm a custdia do preso e responsvelpela sua integridade fsica e moral. Se uma pessoa forassassinada, estuprada ou maltratada numa priso,cabe ao de indenizao contra o Estado.

    L - s presidirias sero asseguradas condies paraque possam permanecer com seus filhos durante operodo de amamentao;

    Os filhos das presidirias no podem ser punidos pe-los erros de suas mes; portanto, devem ser criadoscom condies mnimas. Se no houvesse esta ga-rantia, estaria havendo uma apenao dessas crian-as, constitucionalmente proibida.

    LI - nenhum brasileiro ser extraditado, salvo o natu-ralizado, em caso de crime comum, praticado antesda naturalizao, ou de comprovado envolvimento emtrfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na for-ma da lei;

    Extradio a transferncia compulsria de pessoaque est no territrio nacional para outro pas, a pedi-do deste, para que responda a processo ou cumprapena naquele pas.

    O brasileiro natonunca poder ser extraditado.

    O brasileiro naturalizadosomente ser extraditadose estiver envolvido em trfico ilcito de entorpecentes

    ou, para crimes comuns, se os tiver cometido antesde sua naturalizao(ou seja, quando ainda era es-trangeiro).

    LII - no ser concedida extradio de estrangeiro porcrime poltico ou de opinio;

    Vimos anteriormente que a concesso de asilo poltico um dos princpios que regem as relaes de nossopas com os demais. Da a vedao contida neste inciso.Para se considerar o crime como poltico, entretanto,devero ser analisados vrios fatores, tais como: os

    motivos do crime, a psicologia do autor, o ambientepoltico existente no Estado reclamante etc.

    LIII - ningum ser processado nem sentenciado se-no pela autoridade competente;

    Dada a complexidade de nosso ordenamento jurdico,o processo e o proferimento da sentena devero serfeitos por um juiz que tenha competncia para julgar aquesto. Desta forma, h um juiz competente parajulgar questes tributrias, outro para julgar questesde famlia, outro para julgar questes trabalhistas etc.Busca-se, assim, assegurar que a justia seja feita.

    Princpio do devido processo legal

    LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seusbens sem o devido processo legal;

    O devido processo legal uma garantia processualpenal. a seqncia de atos necessrios para se che-gar sentena final, sendo que, necessariamente, neledevero estar presentes as garantias seguintes:

    Princpio da ampla defesa e do contraditrio

    LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-trativo, e aos acusados em geral sero asseguradoso contraditrio e ampla defesa, com os meios e recur-sos a ela inerentes;

    Contraditrio a possibilidade de refutao da acusa-o e se d quando as partes so colocadas em pde igualdade, dando-se igual oportunidade ao acusa-do de opor-se ou dar outra verso aos atos produzidospela outra parte contra ele.

    Ampla defesa o direito do acusado de apresentar,no processo, todos os meios lcitos necessrios paraprovar sua inocncia (testemunhas, documentos etc.).

    Importante inovao a extenso do contraditrio eda ampla defesa para os processos administrativos.Revogou-se, assim, a lei ordinria anterior atual Cons-

    tituio, que permitia que os processos administrati-vos corressem em segredo de justia, muitas vezes, revelia do funcionrio, que s era notificado do resul-tado final, sem ter tido o direito de exercer o direito dedefesa.

    LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obti-das por meios ilcitos;

    A licitude dos meios usados na obteno das provas necessria para a transparncia e a seriedade pro-cessuais. Imagine o que aconteceria se o Poder Judi-

    cirio admitisse, nos processos, provas obtidas, porexemplo, mediante tortura, suborno de testemunhas,ameaas s pessoas ligadas ao acusado, escutastelefnicas sem autorizao do juiz, furto de corres-pondncia...

    Princpio da no-culpabilidade

    LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsi-to em julgado de sentena penal condenatria;

    Consagrou-se aqui a garantiadoprincpio da inocn-

    cia, ou como querem alguns doutrinadores, princpioda no-culpabilidade, instituto fundamental do Estado

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    de Direito.

    O acusado ser considerado inocente at que haja otrnsito em julgado da sentena condenatria.

    A Constituio, por este inciso, no recepcionou osartigos do Cdigo de Processo Penal que determina-vam que se mandasse o nome do acusado para o roldos culpados, aps a primeira deciso penalcondenatria. Muitas vezes o ru apelava desta sen-tena para o Tribunal e l ganhava a causa, sendoabsolvido; sofria, contudo, um prejuzo enorme, umavez que o seu nome j estava fazendo parte dos no-mes de pessoas com antecedentes criminais, portan-to, culpadas.

    LVIII - o civilmente identificado no ser submetido aidentificao criminal, salvo nas hipteses previstasem lei;

    A identificao criminal (coleta de impresses digitaisna delegacia de polcia) configura medida vexatriaimposta ao cidado indiciado, que a lei presume ino-cente at que sentena irrecorrvel diga o contrrio,no se justificando no caso de ele ter sido identificadono lugar em que o fato ocorreu.

    LIX - ser admitida ao privada nos crimes de aopblica, se esta no for intentada no prazo legal;

    Ao penal pblica aquela cuja iniciativa cabe priva-tivamente ao Ministrio Pblico (promotoria pblica).Uma vez que o direito de punir pertence unicamenteao Estado, a regra no direito processual penal que aao penal seja pblica. Este tipo de ao inicia-sepor uma pea chamada denncia e que somente opromotor de justia poder elaborar (art. 129, I da CF).

    A ao penal privada aquela cuja iniciativa cabe aoparticular ofendido. ele que ingressa nos autos comotitular da ao penal, para que se persiga e se puna oinfrator.

    Quem determina quais so os casos de ao penalpblica e quais so os casos de ao penal privada a lei. O crime de difamao, por exemplo, de aopenal privada, ao passo que o crime de homicdio deao penal pblica.

    O prazo que o promotor de justia tem para elaborar adenncia de 5 dias, para o ru que est preso, e15 dias, para o ru que est respondendo processoem liberdade. Mas pode ser que ele, por estar atarefa-do, perca o prazo. Neste caso pode o particular inten-tar a ao privada subsidiria da pblica. Mas s se

    permitir a ao privada subsidiria da pblicaquan-do o Ministrio Pblico, que quem deve propor a

    ao, no o fez dentro do prazo.

    Publicidade dos atos processuais

    LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos

    processuais quando a defesa da intimidade ou o inte-resse social o exigirem;

    Publicidade aquilo que garante a transparncia daatuao dos poderes pblicos. Em regra, os atos pro-cessuais devero ser pblicos, ou seja, qualquer pes-soa a eles ter acesso.

    H, todavia, situaes em que a lei assegura o sigilodos atos processuais, para resguardar o direito de in-timidade ou em razo do interesse social, como porexemplo, nos casos de guarda de menores, divrcio,investigao de paternidade, investigao de crimescontra a segurana nacional etc.

    LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito oupor ordem escrita e fundamentada de autoridade judi-ciria competente, salvo nos casos de transgressomilitar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

    Ns j definimos o flagrante delito nos comentrios aoinciso XI. A priso em flagrante delitopode ser decre-tada por qualquer pessoa, independentemente demandado.

    J a priso preventiva, que a captura do indiciado oua sua conservao em crcere, a fim de que estejapresente em juzo e no escape ao cumprimento dasentena, s pode ser decretada pelo juiz competen-te, o juiz criminal. Pode ser feita em qualquer fase doinqurito policial ou ao penal para se garantir a or-dem pblica, ou por convenincia da aplicao da leipenal, quando houver prova da existncia do crime eindcios suficientes da provvel autoria.As pessoas s podero ser presas: em flagrante deli-to ou por priso preventiva, decretada por um juiz com-petente, ressalvados os casos de crimes militares.Novamente, a Constituio revogou artigo do Cdigo

    de Processo Penal que permitia a priso administrati-va do civil para averiguaes.

    LXII- a priso de qualquer pessoa e o local onde seencontre sero comunicados imediatamente ao juizcompetente e famlia do preso ou pessoa por eleindicada;

    A comunicao ao juiz visa permitir o exame dos critri-os de legalidade da priso; se for ilegal, o juiz a relaxar,conforme previsto no inciso LXV, logo abaixo.

    A comunicao famlia tem por objetivo inform-lasobre o paradeiro do preso e permitir que tome as

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    providncias que julgar necessrias (constituio deadvogado, por exemplo).

    LXIII- o preso ser informado de seus direitos, entreos quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegu-

    rada a assistncia da famlia e de advogado;

    Ada Grinover nos diz que: o ru, sujeito da defesa,no tem obrigao nem dever de fornecer elementosde prova que o prejudiquem. Pode calar-se ou atmentir. Ainda que se quisesse ver no interrogatrioum meio de prova, isso s seria possvel em cartermeramente eventual, em face da faculdade dada aoacusado de no responder.

    O acusado contar, tambm, com a assistncia de suafamlia e de advogado. Sendo comprovadamente pobre,caber ao Estado fornecer-lhe assistncia jurdica.

    LXIV - o preso tem direito identificao dos respons-veis por sua priso ou por seu interrogatrio policial;

    Procurou-se, neste inciso, dar elementos ao acusadopara apurao de responsabilidades, se caso sofrerabusos no ato da priso ou no interrogatrio. umapena que essa garantia seja uma faca de dois gumes,uma vez que, com essa proteo, presos perigosospodem se voltar contra as famlias inocentes daque-las pessoas que os denunciaram ou os prenderam.

    LXV- a priso ilegal ser imediatamente relaxada pelaautoridade judiciria;

    O juiz determinar a soltura daquele que foi ilegal-mente preso, mesmo que no haja pedido de habeascorpus. A verificao de ilegalidade consiste, sobretu-do, no exame dos pressupostos do inciso LXI (exis-tncia de flagrante delito ou de mandado de prisoexpedido pelo juiz competente).

    LXVI- ningum ser levado priso ou nela mantido,quando a lei admitir a liberdade provisria, com ou

    sem fiana;

    Liberdade provisria o instituto pelo qual se permiteque o acusado permanea solto, respondendo em li-berdade ao seu processo.

    A priso, como se v, somente dever ser efetuadaem ltimo caso, isto , se a lei no admitir a liberdadeprovisria.

    LXVII - no haver priso civil por dvida, salvo a doresponsvel pelo inadimplemento voluntrio einescusvel de obrigao alimentcia e a do deposit-

    rio infiel;

    A priso civil admitida somenteem duas situaes:a) quando o sujeito, mediante sentena judicial, rece-beu a obrigao de pagar penso alimentciaa tercei-ro e, tendo condies, no o fez;b) no caso do depositrio infiel, isto , o indivduo que

    se incumbiu de guardar um bem com a obrigao derestitu-lo, e que no o faz, quando solicitado; o depo-sitrio infiel pode pegar pena de at um ano de priso.

    Remdios constitucionais

    Nos incisos LXVIII a LXXIII esto previstos os chama-dos remdios constitucionais. So instrumentos po-derosos de proteo jurdica a serem utilizados pararesguardar determinados direitos previstos na prpriaConstituio.

    Habeas corpus

    LXVIII - conceder-se- habeas corpus sempre quealgum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violn-cia ou coao em sua liberdade de locomoo, porilegalidade ou abuso de poder;

    A expresso habeas corpus de origem latina e sig-nifica tenha-se o corpo. Designa instituto jurdico quetem por finalidade precpua proteger a liberdade delocomoo, ou seja, de mover-se com o prprio cor-po. Protege, portanto, apenas o direito de pessoa f-sicaeviva(pessoa jurdica, ente abstrato definido em

    lei, no tem corpo e, portanto, no h como cercear asua liberdade de locomoo).

    H duas espcies dehabeas corpus:o preventivo e orepressivo.

    Habeas corpuspreventivo aquele utilizado nos casosem que o direito de locomoo est sendo ameaado(neste caso, ser concedido ao paciente um salvo-con-duto,assinado pelo juiz, sendo que uma cpia do mes-mo tambm ser enviada autoridade coatora).

    Habeas corpusrepressivo aquele utilizado quandoa violncia ao direito de ir e virj aconteceu, por ilega-lidade ou abuso de poder (ou seja, o indivduo j estpreso, detido etc.).

    A palavra ilegalidade, aqui, deve ser entendida emsentido amplo, ou seja, como presena de cercea-mento de defesa, acusao baseada em lei posteriorao fato ocorrido, instaurao de processo criminalperante juiz incompetente, ausncia de defesa emprocesso criminal etc.

    Abuso de poder o exerccio irregulardo poder, pelotransbordamento, por parte da autoridade, dos limitesde sua competncia.

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    O processamento do habeas corpus gratuito e podeser impetrado pelo prprio paciente, independentemen-te de interposio de advogado.

    Mandado de segurana

    LXIX - conceder-se- mandado de segurana paraobter direito lquido e certo, no amparado por habeascorpus ou habeas data, quando o responsvel pelailegalidade ou abuso de poder for autoridade pblicaou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribui-es do Poder Pblico;

    Mandado de segurana um instrumento que protegepor excluso, ou seja, protege direito lquido e certo,no amparadopor habeas corpusou habeas data.

    Direito lquido e certo o que no mostra dvida, pelaclareza e evidncia com que se apresenta.

    O mandado de segurana protege os direitos tanto depessoa fsica quanto de pessoa jurdica.

    oponvel contra qualquer autoridade pblica (agen-tes polticos, agentes pblicos, agentes delegados,notariais, agentes administrativos, oficiais dos regis-tros pblicos) ou contra qualquer agente de pessoajurdica privada, no exerccio de atribuio do poder p-blico ( possvel, por exemplo, impetrar mandado desegurana contra o diretor de um hospital particular).

    Mandado de segurana coletivo

    LXX - o mandato de segurana coletivo pode serimpetrado por:a) partido poltico com representao no CongressoNacional;b) organizao sindical, entidade de classe ou asso-ciao legalmente constituda e em funcionamento hpelo menos um ano, em defesa dos interesses deseus membros ou associados;

    Os princpios estudados anteriormente para o manda-do de segurana se aplicam ao mandado de seguran-a coletivo, que um instrumento que visa protegerdireito lquido e certo de uma categoria.

    Este instituto foi uma inovao introduzida pela Cons-tituio atual e permitiu maior agilidade na soluopara determinados abusos cometidos pelo Poder P-blico.

    Mandado de injuno

    LXXI - Conceder-se- mandado de injuno sempreque a falta de norma regulamentadora torne invivel o

    exerccio dos direitos e liberdade constitucionais e dasprerrogativas inerentes nacionalidade, soberaniae cidadania;

    Eis outra inovao constitucional. A finalidade do man-

    dado de injuno obter, junto ao Poder Judicirio, acincia ao Poder omisso para que supra a sua inrciacriando a norma faltante, possibilitando ao impetrantea viabilidade de fruio de direitos e prerrogativas que,embora previstos em norma constitucional, no con-seguem produzir efeitos no mundo jurdico, por estara referida norma carente de regulamentao.

    Habeas data

    LXXII - conceder-se- habeas data:a) para assegurar o conhecimento de informaes re-lativas pessoa do impetrante, constantes de regis-tros ou bancos de dados de entidades governamen-tais ou de carter pblico;b) para a retificao de dados, quando no se prefirafaz-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

    O habeas dataassegura o acesso a informaes re-ferentes pessoa do impetrante guardadas em ban-cos de dados governamentais ou de carter pblico, epossibilita a retificao desses dados. direitopersonalssimo do titular dos dados, isto , s podeser exercido por este2, e sua interposio gratuita.

    Uma pessoa, por exemplo, cujo nome, por engano,conste na relao de maus pagadores do Servio deProteo de Crdito, poder impetrar habeas datacontra esta instituio, para que deixe de constar nocadastro de devedores.

    Ao popular

    LXXIII - qualquer cidado parte legtima para proporao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimniopblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao

    patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvocomprovada m-f, isento de custas judiciais e donus da sucumbncia;

    Cidado o sujeito que est em pleno exerccio dosseus direitos polticos. S pode ser cidado o brasi-leiro nato ou o naturalizado.

    A ao popular instrumento destinado a corrigir todae qualquer leso ao patrimnio pblico ou de entidadede que participe o Estado. Ela uma garantia consti-tucional no apenas judicial, mas tambm poltica,

    2A jurisprudncia do STF admite a interposio de habeas datapor parentes de pessoas mortas ou desaparecidas.

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    uma vez que possibilita a participao do cidado navida pblica.

    Jamais a pessoa jurdica tem legitimidade para prop-la, uma vez que a pessoa jurdica no pode ter direi-

    tos polticos, no pode ser cidad.

    O ato lesivo, passvel de anulao, o que atinge amoralidade administrativa(art. 37), o meio ambiente(art. 225), o patrimnio histrico e cultural(art. 216) eo patrimnio pblico ou de entidade de que o Estadoparticipe.

    O cidado estar agindo de boa-f se o fizer no inte-resse da comunidade; neste caso, no arcar com ascustas judiciais, que a verba que se recolhe ao Es-tado por se ter movimentado o Poder Judicirio, e nemcom o nus da sucumbncia, isto , os honorrios

    advocatcios, pagos por quem perde a ao.

    Havendo motivos escusos por parte do cidado, nocaso de perder a ao, que movida em seu nome,dever haver o recolhimento das custas judiciais e donus de sucumbncia.

    Os efeitos da ao popular se traduzem ou pela anula-o do ato lesivo praticado, ou pela sua sustao(casosua consumao esteja prestes a ocorrer), ou pela or-denao da sua prtica, na hiptese de omisso (aautoridade deveria ter praticado o ato e no o fez).

    Tutela jurisdicional aos hipossuficientes

    LXXIV - o Estado prestar assistncia jurdica inte-gral e gratuita aos que comprovarem insuficincia derecursos;

    Deve-se entender assistncia jurdicaaqui de uma for-ma ampla, envolvendo no apenas o provisionamentode advogados para mover aes, mas tambm as con-sultas para esclarecimento de situaes de direito.

    No se deve confundir necessidade com

    miserabilidade. Basta que o interessado no possaprover as custas do processo sem prejuzo do susten-to prprio e da famlia, para que se invoque o preceitoconstitucional.

    O rgo do Judicirio encarregado de realizar o pre-visto neste inciso a Defensoria Pblica, a respeitoda qual o artigo 134 da Lei Maior diz o seguinte: ADefensoria Pblica instituio essencial funojurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientaojurdica e a defesa, em todos os graus, dos necessi-tados, na forma do artigo 5o, LXXIV.

    LXXV - o Estado indenizar o condenado por erro ju-

    dicirio, assim como o que ficar preso alm do tempofixado na sentena;

    Estabelece, este inciso, a figura da responsabilidadepatrimonial do Estado, com previso de indenizao

    por erros judicirios.

    O montante a ser pago a ttulo de indenizao serapurado em via judicial, muito embora no haja vedaoexpressa, na Constituio, de indenizao adminis-trativa. O valor dever recompor a situao patrimonialdo lesado e o prprio dano.

    LXXVI - so gratuitos para os reconhecidamente po-bres, na forma da lei:a) o registro civil de nascimento;b) a certido de bito;

    Este inciso, de carter humanitrio ao que tudo indicavem atender, tambm, a uma necessidade adminis-trativa. O artigo 21, XV, da CF diz que compete Unioorganizar e manter os servios oficiais de estatstica.Constatou-se, todavia, uma defasagem muito grandedessa estatstica em reas muito pobres, onde a po-pulao no tinha dinheiro para registrar o nascimen-to ou a morte dos seus familiares. Da a gratuidadedesses assentamentos.

    LXXVII - so gratuitas as aes de habeas corpus ehabeas data, e, na forma da lei, os atos necessriosao exerccio da cidadania.

    Atos necessrios ao exerccio da cidadania, como aemisso do ttulo de eleitor, da carteira de trabalho oude documento de identidade, so gratuitos. Da mes-ma forma, as aes de habeas corpus e de habeasdata, ou seja, para estas ltimas no poder havercustas de preparo (custas judiciais, normalmente 1%do valor da causa), de distribuio, despesas com ofi-cial de justia etc.

    LXXVIII - a todos, no mbito judicial e administrativo, soassegurados a razovel durao do processo e os meiosque garantam a celeridade de sua tramitao.(includo pelaEmenda Constitucional n. 45 de 2004)

    A matria regulada no inciso traz importante inovaono tocante ao lapso temporal a ser considerado emum feito. A Constituio Federal passa a assegurar atodos (regra a no comportar exceo), o direito arazovel durao do processo, determinado, assim,que se estabeleam meios que garantam aceleridade de sua tramitao. O critrio fixado pelaLei Maior subjetivo, ou seja, no estabeleceu prazodeterminado para a concluso do feito, dada amultiplicidade e diversidade de causas e procedimentos

    que permeiam os milhares de processos existentes

  • 8/2/2019 Nocoes de Direito Constitucional 7 Ao 58

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    no pas. Relevante atentar que tal norma valetantopara esfera judicial como para a administrativa.

    1 - As normas definidoras dos direitos e garantiasfundamentais tm aplicao imediata.

    Desde a promulgao da Constituio Federal, quefoi em 05 de outubro de 1988, esses incisos estuda-dos acima devero estar no ordenamento jurdico pro-vocando efeitos.

    No esqueam, porm, que h incisos onde o prpriolegislador diz que lei os regular. Estes, muito embo-ra entrem em vigor tambm com a promulgao, sproduziro efeito plenamente quando devidamente re-gulamentados. De qualquer modo, para os casos con-cretos, se a falta de regulamentao prejudicar o exer-ccio de um direito constitucional, caber, conformevimos anteriormente, mandado de injuno.

    2 - Os direitos e garantias expressos nesta Consti-tuio no excluem outros decorrentes do regime edos princpios por ela adotados, ou dos tratados inter-nacionais em que a Repblica Federativa do Brasilseja parte.

    Manuel Gonalves Ferreira Filho, nos ensina, acerta-damente, que o dispositivo em exame significa sim-plesmente que a Constituio brasileira, ao enumeraros direitos fundamentais, no pretende ser exaustiva.

    Por isso, alm dos direitos explicitamentereconheci-dos, admite existirem outros, que implicitamentere-conhece, decorrentes dos regimes e dos princpiosque ela adota.

    Da mesma forma, aos direitos atualmente existentes,outros podero ser acrescentados em decorrncia detratados internacionais dos quais a Repblica Federa-tiva do Brasil seja signatria.

    3 - Os tratados e convenes internacionais sobredireitos humanos que forem aprovados, em cada Casa

    do Congresso Nacional, em dois turnos, por trsquintos dos votos dos respectivos membros, seroequivalentes s emendas constitucionais.(includo pelaEmenda Constitucional n. 45 de 2004)

    Este pargrafo fixa-nos a importncia e estabelece onvel hierrquico dos tratados e convenesinternacionais sobre direitos humanos dentro de nossoordenamento jurdico. Desde que tais pactos sejamaprovados, na Cmara dos Deputados e no SenadoFederal, em dois turnos, obtendo-se maioria qualificada(trs quintos), sero equiparados s emendasconstitucionais (tero a mesma relevncia jurdica).

    As emendas constitucionais incorporam-se LeiMaior, passando a pertencer, desta forma, ao corpo

    constitucional. Portanto, sob as condies acimaexpostas, os tratados e convenes - apenas aquelesque versarem sobre direitos humanos - tero statusconstitucional, uma vez que se encontraro no mesmograu de hierarquia das emendas constitucionais.

    4 - O Brasil se submete jurisdio de Tribunal PenalInternacional a cuja criao tenha manifestadoadeso.(includo pela Emenda Constitucional n. 45 de 2004)

    No tocante a tal matria, j h produo jurdica emnosso pas. O Tribunal Penal Internacional originou-sede uma Conferncia Diplomtica realizada na cidadede Roma, em julho de 1998, surgindo, assim, oEstatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. OBrasil, atravs do Decreto Presidencial n 4.388, de25.09.2002, promulgou o Estatuto de Roma do TribunalPenal Internacional, anteriormente ratificado peloDecreto Legislativo n 112, de 06.05.2002, oriundo doCongresso Nacional. Com a incluso deste pargrafono artigo 5, passamos obrigatoriamente a submeter-se sua jurisdio. Os delitos a serem julgados noTribunal Penal Internacional so aqueles consideradosgraves, que afetam a comunidade internacional no seuconjunto, a saber: crime de genocdio; crimes contraa humanidade; crimes de guerra e o crime de agresso.Vale ressaltar que a competncia do Tribunal PenalInte