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O Poder Extraordinário do Pensamento Negativo - Bob Knight

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Introdução

Introdução

Muitos de nós não estamos a par de nossas tendências otimistas...Estatísticas demonstram claramente que a maioria das pessoassuperestima suas perspectivas de realização pro issional; espera queseus ilhos sejamextraordinariamente talentosos; calculamal a própriaexpectativa de vida; espera ser mais saudável do que seus pares;subestima imensamentesuaprobabilidadedesedivorciar, ter câncereicar desempregada; e, demaneira geral, acredita irmemente que suavida será melhor do que a de seus pais. Isso é conhecido como viésotimista—a tendênciade superestimaraprobabilidadede sedepararcom eventos positivos no futuro, e de subestimar a probabilidade devivenciareventosnegativos.

TheOptimismBias:ATouroftheIrrationallyPositiveBrain(TaliSharot,PantheonBooks,2011).

Admito que boa dose do humor que usei no título escolhido para este

livro é umaóbvia referência aoque tem sidoumaespéciedeBíblia paragrande parte dos Estados Unidos durante quase toda a minha vida:Opoderdopensamentopositivo,deNormanVincentPeale.Esselivrofoilançadoem1952,quandoeuestavanoensinofundamental.

Vendeumaisdedoismilhõesdeexemplaresnoprimeiroano,eaindavemsendo impresso, totalizando cinco milhões de livros vendidos. Adotar aposição oposta me coloca na rabeira da corrida editorial em algunsmilhões. Ainda assim, sinto-me à vontade sendo do contra e a irmandomeusargumentosparaOpoderextraordináriodopensamentonegativo.Eunãosabia,atéfazerumabrevepesquisaparaestelivro,queNorman

Vincent Peale também é do norte do estado de Ohio. Duas gerações nosseparam,nascemosecrescemosa1.600quilômetrosdedistância;eleédo

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oestedoestado,eu,do leste. Issonos tornaprodutosdamesmaculturaementalidade de cidade pequena, bem mediana, ambos tendo, inclusive,recebido uma formação dentro da Igreja Metodista. Ele passou para oprotestantismo reformado holandês; eu sou uma pessoa um tanto semteologia,embora,decididamente,maiscrentedoqueumateu.Apesardetodasasvendas,pregações,conferênciasesucessotelevisivo,

oreverendoPeale teve láosseusdescrentes.Seualiadoemalguns livrosdepsicologia-teologiadesfezaparceriaemOpoderdopensamentopositivo.Achouinclusivequeolivropoderiaserperigoso.Conta-se que o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos

AdlaiStevensonfoiinformadoantesdeumdiscursonumaigreja,emplenacampanha, de que provavelmente não conseguiria nenhum voto naqueledia porque o pastor Peale havia sugerido aos seus seguidores votar embloco no candidato republicano Dwight D. Eisenhower. Demonstrandoconhecimentos bíblicos— e sagacidade—, Stevenson retrucou: “Paulo éinteressante,Pealeéinteresseiro.”Eu era jovem demais para votar naquela época, mas tenho certeza de

queteriavotadoemEisenhowercontraStevenson,nasduasvezesemqueseenfrentaram.Aindaassim,reconheçooméritodeStevenson:elesabiaoqueeraestarporbaixo,masmantinhaosensodehumor.Com ironia, e revirando Peale pelo avesso, Sharot apresenta uma tese

quetenhodefendidoháanos.Aautoraédescritanacontracapacomoumapesquisadora especializada em “otimismo, memória e emoção”, com“doutoradoempsicologiaeneurociênciapelaUniversidadedeNovaYork”,tendoumabolsadepesquisanotradicionalinstitutoWellcomeTrust,entreoutras posições acadêmicas. Em Orrville, Ohio, isso provocaria certoceticismo,maséumareferênciainteressanteparaumtécnicodebasquete.EmseulivroTheOptimismBias[Oviésotimista],Sharotafirma:A verdade é que a maioria das pessoas se vê como superior ao ser

humano comum... Uma sondagem realizada emmeados dos anos 1970revelou que 85% se classi icavam entre os 50% mais hábeis emrelacionamentossociais,e70%dosentrevistadosresponderamomesmo

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quanto à habilidade de liderança... Outra sondagem revelou que 91%acreditavamestarentreos50%commelhorhabilidadecomomotorista...Impossível. Amaioria das pessoas não tem condição de sermelhor doque a maioria das pessoas... Entretanto, nós podemos acreditar queestamosentreosmelhoresnamaiorpartedosatributospositivos,e,defato,acreditamos.Issoéconhecidocomoilusãodesuperioridade.NãoconcordototalmentecomasconclusõesdeSharot.Souumtécnicode

basquetequedependedeexperiênciaeinstintoparaverdemaneiramaisclara o que ela descreve intelectualmente. Mas concordo que nós,enquantopessoasenação,tendemos,pornatureza,avertudodemaneiraotimista—acimaealémdequalquerexageronessesentidoporpartedoreverendo Peale. E vejo, sim, perigos nisso, como vi durante mais dequarentaanoscomotreinadordebasqueteuniversitário.Oquepareceserbom demais para ser verdade costuma ser mesmo; existe umanecessidade real de ser cauteloso, de olhar para os dois lados antes deatravessarasruasdavida.Prestaratençãonoladonegativoédi ícil,maséuma qualidade essencial para se obter sucesso duradouro, em qualqueratividadeousituaçãofamiliar.Ao longo deste livro vou falar, já que sou um técnico, em termos de

treinamento e de basquete. E como a minha especialidade era basquetemasculino, usarei mais o pronome “ele” do que “ela”. Mas pretendo quetudosejainterpretadodemaneiramaisabrangente,paraambosossexosemetaforicamente, porque os princípios que estabeleci e segui na minhaexperiência como treinador se adaptam perfeitamente à forma comoacredito que a liderança funciona melhor nos negócios ou em qualqueroutra área da vida. Ser um técnico é ser líder, e o líder é líder, seja naacademia,noescritório,numasaladeaulaouemcasa.Queroserbemclaro:nãoestouassumindoaposiçãodepessimistatípico,

queandaporaícomumacaraazeda,sempretentandoveroladonegativodas coisas, esperando recolher fracassos sempre. Não é essa a minhaintenção.Muitopelocontrário.Estou dizendo que estar alerta aos possíveis lados negativos em

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qualquersituaçãoéamelhormaneiradeconseguirresultadospositivos.Eo contrário também é verdade: ignorar ou falhar em reconhecerantecipadamente os riscos potenciais torna o fracassomais provável. Porexemplo, estou falando sobre estar cientedequepode chover. Vocêpodeplanejaromelhoreventodomundoaoar livre—comida, jogos,diversão,decoração—,mas seumapancadade chuvapuderatrapalhar tudo, e sevocê não levar em consideração o fato de que ela pode acontecer, estarácorrendooriscodeumdesastreporcausadeumotimismocego.Nãopensequealgovaifuncionarsóporquevocêachaquevaifuncionar.Planejarémelhordoqueremediar.Eumbomplanejamento evita anecessidadede se colocar emaçãoum

esquematáticoquenãotenhalevadoemcontaeventuaisperigos.Pare e pense. Frase que todos já usamos para introduzir uma nova

maneiradeencararalgo,paraconvenceradarumpassoparatráseolharparaumasituaçãosobnovaluz.Pareepense:digoqueessaé amelhorabordagemantesdeavançara

passoslargoscomzeloreforçado.Uma das qualidades mais louváveis é a habilidade de pensar rápido.

Numa emergência, ela é ótima. Mas também é arriscada. Quando se temtempo, é bem melhor ter certeza de que se está pensando com clareza.Quantas vezes nós lemos ou ouvimos falar de alguém que tomou umadecisãoprecipitadaeque,agora,enfrentaprocessosjudiciais,ouperdeuoemprego,ousofreurupturasfamiliaresporcontadeatosimpensados?Hátantas consequências indesejadas em qualquer decisão importante queprecisamos, ao menos, levar em conta — a exemplo dos melhoresjogadores de xadrez— como nossa próxima jogada pode produzir umareaçãoemcadeiainesperada.Estoumanifestandoapreocupaçãocomtercerteza;comnãoacharqueo

sucesso é garantido; com fazer aquela mamogra ia ou exame retalperiódico; com proteger a saúde, a vida, a propriedade com apólices deseguro; com planejar a aposentadoria mesmo pagando muitos impostos;em resumo, com a sabedoria e o valor representados pelo simples bom-sensodopoderextraordináriodopensamentonegativo.

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Queroquevocêse sintaprovocadoporeste livro,para talvezaprendercom ele, e, com certeza, que se divirta namedida em quemudamos suareceitadeóculosparalentescor-de-rosa.

TreinadorBobKnight

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“N

1DeixeaPoliananobancodereservas

ãosepreocupe,querido,vaificartudobem.”É provável que a primeira vez que você ouviu isso tenha sido de sua

mãe,quandoestavacomtrêsouquatroanosde idade.Éperigosocriticarqualquer conselho materno, mas sejamos honestos quanto à seguintefrase:“Deixaeudarumbeijinhoquepassa.”Averdadeéque,anãoserquemamãetivesseumabocacheiade iodo,

provavelmente o beijinhonão resolveria nada.Mesmoque algo levasse aum sentimento de conforto, não iria fazer nada icar bem, até que algumremédio—enãoumcarinho—fosseusado.Desde a mais tenra infância, somos inundados de ideias banais que

podem fornecer uma distração curta, mas que não funcionam a longoprazo. Não, o temponão cicatriza todas as feridas. Não sozinho. O tempopode,seusadoparaoreconhecimentodoquecausouasferidas,fazeralgoparaeliminaracausadosofrimento.Melhorainda,podemosevitá-la.Negá-la.Porissootítulo:Opoderextraordináriodopensamentonegativo.OpoderquetemosdedeixarPolianaexistirsomentenahistóriainfantil

tornaránossa vidamuitomelhor coma eliminaçãodas falsas ilusõesquecriamoucompõemosproblemas,aofingirmosqueelesnãoexistem.AcreditoquehámuitodePoliana,ouseja,umotimismoinabaláveleuma

tendência a vero ladobomde tudo,no títulodo livroquedeuaNormanVincent Peale dinheiro farto e fama eterna. O poder do pensamento dePoliana, se praticado indiscriminadamente, pode ser nefasto e perigoso.PorquenãoqueremosPolianananossaequipe?Falocomoumtreinadorcuja crença, de longa data, tem sido a de não pensar navitória, mas na

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derrota.Eusempreviaaspartidasqueseaproximavamevisualizavatodasas formas de perdermos para o próximo adversário. Algumas delas —talvez a maioria — não tinham absolutamente nada a ver com oadversário, mas envolviam o que tínhamos de corrigir na nossa própriaexecução,afimdeevitarquenósmesmosnosderrotássemos.Pensenumapartidacomoumgrandeescultorolhandoparaumblocode

mármore.Elequerraspartodaamatériadesnecessáriaatéemergiremoscontornos certos.Omaterialnegativoéeliminadopara se criarumaobradearteharmoniosa.Quando eu me preparava para cada partida e cada temporada, meu

primeiropensamentosempreera:“Quaissãoasnossasvulnerabilidades,eoquepodemosfazerparaminimizá-lasenosdarumapossibilidademaiorde vencer?” Como eliminar a energia desperdiçada e os errosdesnecessáriosparaconstruirumaequipedesucessoecoesa,queconsigajogardeacordocomsuasforças?Eu colava cartazes nos vestiários esclarecendo o que queria enfatizar,

algunsprincípiosbásicosàvistadecadajogadordaminhaequipe,todososdias, desde o início dos treinos até o último jogo do ano. Eles icavam tãoirme e claramente gravados na mente dos jogadores que se tornavamumasegundanatureza.O cartaz que eu colava primeiro, por considerá-lo o mais importante,

dizia: “A vitória favorece a equipe que comete menos erros.” Todas asequipesquelidereisevestiamparatreinosoupartidassobumcartazquediziaisso.Outrodemeusfavoritos:quandoosloganpublicitáriodoBurgerKingera“Peçadoseujeito”,eudiziaaosmeusjogadores:“IstoaquinãoéoBurgerKing.Vamosfazerdomeujeito.”Obasquete, assim comoa vida,é um jogodeerros.Apesardemilhares

de anos demelhorias, os seres humanos não jogam nada com perfeição.Enquanto treinador,vocêdeveentenderquenãoéodesenvolvimentodoseu ataque ou da sua defesa que vai fazer do seu time um provávelganhador; é a eliminação dos erros, daqueles detalhes que prejudicam orendimentonumapartidadebasquete:

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Manejodebolasemqualidade;Arremessosforçados;Recuperaçãolentanatransiçãodefesa-ataque;Faltas desnecessárias e mau aproveitamento na cobrança delanceslivres;Bloqueiosineficazesnosrebotes;Defesassemcoberturaedescoordenadas.

São erros individuais que levamum time a falhar. Pense em termos de

um negócio: no sucesso, o diretor da empresa ou do departamentomaisaudacioso ica com os louros da glória; e, no fracasso, coloca a culpa nosoutros. Claro, os colegas do líder icam ressentidos, o que, a certa altura,levaaotrabalhomalfeito.Emjargãoesportivo,elestiramoolhodabola,ouseja, daquilo que é essencial para o resultado da empresa. Enquantotreinador ou líder, você é responsável por fazer brotar omelhor na suaequipe,enãogeraropior.Antes de poder inspirar os seus jogadores a “ganhar”, você precisa

mostraraelescomonãoperder.Nobasquete, faltasprejudiciaisestãonotopo daminha lista demaus hábitos. Uma falta desse tipo vem da poucaconcentraçãodeumjogadorresponsávelporrealizarumatarefadefensiva—eleagarra,segura,violatodasasregrasbásicasquepassamoshorasehorasensinandoduranteostreinos,sobreotrabalhocomjogodepernas,postura defensiva correta, atenção, antecipação. É uma falta quesimplesmente não devia ter sido cometida, um atalho — como tantosoutrosfeitosparasedesviardeprocedimentoseregras—,umatalhoquenão deveria ser tomado, de maneira alguma. No basquete, ela dá aoadversáriodoislanceslivres,masnosnegóciostrata-sedaincapacidadedeassumirumaresponsabilidadepessoal,quecolocaemriscotodooesforçocoletivo.Eliminaressetipodefraquezanotimesemprefoimeuobjetivoaotratar

a quadra de treino como uma sala de aula, exigindo atenção econcentração máximas. Eu queria que a sala de aula de basquete fosse

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maisexigentedoquequalqueroutrocursodauniversidade.Na quadra, não havia somente princípios a ser aprendidos, como não

havia umaprática imediata que aplicasse as teorias. Esses exercícios nãopretendiam ser divertidos. Às vezes, os técnicos falam sobre a “diversão”da prática, e a “diversão” na preparação para uma partida. Nunca sentique qualquer uma delas fosse “divertida”. A diversão vem com a vitória.Um dos meus jogadores preferidos, Mike Gyovai, ícone de tenacidade,nossopivôde1,95mnotimedoExército, tocounessaquestãoquando fezalgunscomentáriosduranteumjantarnaacademiadeWestPoint.— Posso lhes dizer que, nos treinos, não nosdivertimos jogando

basquete.Aliás,tambémnãomedivertiaqui,parasersincero—disseele.— Não vim aqui para me divertir. Vim para jogar basquete e ganharpartidas,emetornarsoldado,efoioquefizemos.Eleaprendeuavencer.O ato de vencer, a arte de vencer e de saber como vencer foram

atributoscruciaisparaumfuturoo icialdoExército.Evenceréoobjetivo,a marca de inidora do sucesso, em quase qualquer trabalho— imaginoqueatéentreossacerdotes.

Asíndromedo“Ese...?”

Tantas coisasnegativaspodemacontecernumapartidadebasquetebolque se tem de examiná-las nos termos dessa síndrome, que está nocoração do seguinte manifesto positivo de negação da conquista: Nãotemosamenorpossibilidadedeganharse...Vamos levarumasurraa nãoserque...Não podemos jogar assim... Isso é uma coisa que vocênão devefazer... para ganhar.A sensaçãomais frustrante para quemperde é a do“teria/poderia/deveria”. Prepare a sua equipe para executarcorretamente as movimentações, para reduzir os erros, e as maisdolorosasconsequênciasdeumaderrotaserãominimizadas—masjamaisevitadas.Assistiragravaçõesde jogoscomomeutimefoiumaótimamaneirade

atacar os erros. Alguns treinadores gostam de usar essas sessões parachamar a atenção sobre as boas jogadas. Eu queria indicar os erros,sobretudo os padrões dos erros, para que não acontecessemnovamente.

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Ganhamos muitos jogos, muitos campeonatos ao longo dos anos,aprimorandoascoisasquenossaequipefaziabem,massempretreinandocom o foco, principalmente, em evitar perder. Isso incluía nosconcentrarmos no que o outro time poderia fazer para nos vencer —quandoeletinhaapossedebola,quandonóstínhamosapossedebola,ouquandoabolaestavanoar, livreparaser tomada,eaposseerapossívelparaambosostimes.

Todostêmdesejos

Minhalistadebanalidadesconsagradasincluiaideiadeque“vocêpodefazer qualquer coisa que realmente queira”. A verdade é que você nãopode. Talvez a culpa seja do plano do Grande Criador, que faz o mundointeiro funcionar em estado de interdependência, mas o fato é que cadaumdenóstemmaiscoisasquenãoconseguefazerbemdoqueocontrário.Éporissoqueasociedadetemmédicos,bombeiros,eletricistas,mecânicosetantosoutrosprofissionaisqueseencontramnaspáginasamarelas.Ninguémdeumais durodoque eu ao tentarmotivar e inspirar nossos

jogadoresajogarcompaixão,eatentarmanterofocodotimenaexecuçãodas “pequenas” coisas, que são, na verdade, coisas enormes: luta, desejo,emoção, garra e determinação. Se você jogar com paixão, também éprovável que jogue com precisão, porque quanto mais os jogadoresinvestirememesforçoeenergianatentativadeganharumapartida,maisesforço e energia eles terão. Mas eu me preocupo todas as vezes que olocutordiz,nosúltimossegundosdeumapartidaapertada:“Agoravamosverquetimequermesmoganhar.”Alguém vai ganhar, alguém vai perder,mas não venhame dizer que a

diferença é, sempre, porque o ganhador queria vencer mais do que operdedor.Deixe-medarumexemplo recente:Duke contraButler, no campeonato

masculinodaNCAA(NationalCollegiateAthleticAssociation—AssociaçãoNorte-AmericanadeEsportesUniversitários)de2010.Quase todomundoestava apoiando o time de Butler, magni icamente treinado pelo jovemBradStevensevindodeumadasligasmenores,passandoportimesmais

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tradicionaisdesdeoiníciodatemporadaatéchegarà inal.Jámedisseramque todos detestam o Duke porque ele ganha muitos campeonatos. Euadoro o Dukeporque ele ganha muitos campeonatos , porque, sob ocomandodeumtreinadorquetenhosempreemmente,MikeKrzyzewski,elegeralmentejogaapartidaumpoucomelhordoquetodosostimesquederrota. Naquela noite, eu sentia grande admiração por ambos os times,pois estava realmente impressionado com o que o Brad Stevens e seusgarotostinhamrealizado.Então, recostei no assento e iquei assistindo às duas equipes que

jogavamcommuitoempenho,enfrentando-secomdefesasbem-planejadasebem-executadas.Equandodois arremessosdoButlernoúltimominutofalharam— um possível e o outro improvável, do meio da quadra, queraspouoaro—Dukeganhou,nãoButler.Agora,umsujeitonatelevisãovaitentarmedizerqueapartidaterminou

dessa forma porque o Dukequeria mais ganhar? Hoje também estou natelevisão, mas tento não dizer bobagens desse gênero. Ninguém poderiaquerer ganhar aquele jogo mais do que os meninos do Butler... ou os doDuke.Sóquerernãofaznadaacontecer.Fazer, sim.O timedeDuke, naquelanoite,fez umpoucomais.Ou, como

gosto de dizer, ele cometeumenos erros e jogou dentro de seu plano dejogo,afimdelevarataçaparacasa.Depois, quando Brad Stevens e sua equipe técnica se sentaram e

assistiramàgravaçãodojogo—coisanãomuitofácildesefazerapósumagrandedecepção,mas parte crucial de todo treinamento—, aposto comoaqueles arremessos errados no imnem sequer estavamentre as razõesdacomissãotécnicaparaexplicaraderrotadoButler.Minha de inição de disciplina, particularmente no basquete, mas

aplicável de maneira muito mais abrangente, entra em jogo nessa hora:“Disciplina é reconhecer o que tem que ser feito, fazê-lo da melhormaneirapossível,efazê-loassimotempotodo.”É claro, você não dá omelhor de si o tempo todo. A disciplina envolve

tentarfazeromelhorpossívelotempotodo.Adiferençaentresaberoque

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vocêdeviafazeretentar,repetidamente,éamesmaquesalientoemoutrademinhasmáximas:“Tervontadedeganharnãobasta.Todostêm.Oqueimportaétervontadedeseprepararparaganhar.”Essavontadedeseprepararserefereaoquequerofocaraqui.O poder extraordinário do pensamento negativo entra em jogo ao

reconhecer,focareremoverosobstáculosàvitória.

Perderécoisade...perdedor

Jávitodotipodelivrossobrecomovencer,frequentementedeatletasougrandes executivos, cujo histórico de vitórias (ou lucros) ao longo dacarreiraédúbio.Aindanãovinenhumlivrointeligentesobrecomoperder.Deveriahaver,porque todo treinador—e todapessoa—precisa lidar

comaperda.Aprimeiracoisaa se teremmente,demaneiraclara,éumesquemaparaserecuperardepoisdeumaderrota,paraaprendercomela,paraeliminaraquiloqueacausou.Entretanto, aprender com a derrota não faz dela uma boa derrota. Aoinaldatemporada1975-1976,quandodirigiaaequipedeIndiana, tenhocertezadequeAlMcGuire,àfrentedotimedaUniversidadedeMarquette,osegundonaclassi icaçãonacionalnaqueleano,estavasendofrancoenãotentandomanipularpsicologicamenteonossotime,quandodissequeseriamelhorparanós,visandoaganharocampeonato,perderumapartidadatemporadaregular,a imdealiviara“pressão”deumalongasequênciadevitórias. Eunão concordei comele na época, e continuonão concordandoagora,tantosanosdepois.Estou certo de que aqueles jogadores da equipe de Indiana de 1975-

1976 têm tanto orgulho quanto seu treinador de termos sido a últimaequipe universitária masculina de uma grande liga a não aliviar a“pressão”. Todos os campeões desde então perderam pelo menos doisjogos.Maseusempresentique,quandoseperde,éimperativoaprendercoma

derrota.Porqueperdemos?Seperdemossimplesmenteporqueosoutrostinham jogadoresmelhores,nósdeveríamosrecrutar jogadoresmelhores.Mas,namaioriadasvezes, trata-sedeerros.Énelesque se temde focar

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constantemente.Os treinadores colocam a culpa de uma derrota, secreta ou

publicamente, em erros de arbitragem, lesões, ou coisas estranhas queaconteceramduranteo jogo,quandoaverdadeirarazão foramas jogadaserradas. Um comentário típico de declarações em coletivas, feitas portreinadores que perderam uma partida, é: “Eles converteram todas asbolas”.Masaverdadeirarazãopelaqual“eles”converteramfoiqueasuadefesa permitiu que eles arremessassembem.Ou: “Não acertamos nada;hoje nossos arremessos não foram e icientes”, e a verdade foi que “nós”forçamos muito arremessos inadequados, “nós” não trabalhamos paraarremessar bem — qualquer time é suscetível de errar arremessosforçados.Todos os times precisam jogar com con iança, mas perder é uma

possibilidaderealnaqualémelhorpensararespeito—numatemporadaou em qualquer partida, assim como um banqueiro ou um investidor dabolsadevepensarnosperigosdeuminvestimentoarriscado.Deixe-meserbemclaro:preparar-separanãoperdervisaaajudarea

estimular a ganhar.Oobjetivoaqui é ganhar.Detestarperdernãoéumafalhadecaráter.Ouve-seconstantementequeperderéumapartedoesportequesetem

deaprenderaaceitar.Eufaziaumesforçodeliberado,depoisdederrotas,paracompreenderoqueooutrotécnicoouaoutraequipe,ouumjogadorespecí ico,tinhafeitoparticularmentebem,masnãoédesurpreenderqueeu não engolia a derrota. Jamais! Nunca quis ser ou depender de umapessoaquenãoseincomodacomasderrotas.Paramim,umbomperdedoré,provavelmente,alguémquetemmuitaexperiênciaemperder.

Ganhamos,ótimo,agoravamosparaapróxima

Quempensapositivotendeacurtirumagrandevitória,parabenizarasimesmo,a suacomissão técnicaeos seus jogadores,e costumasedeleitarcom o fato de que ele e seu time venceram! Quem pensa negativo jáesqueceuessavitóriaecomeçouatrabalharparaapróximapartida.Étãofrequentequechegaaserprevisível:umtimejogabemeconsegue

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realizar o que todos consideram um grande feito, e, então, põe tudo aperder e é derrotado na partida seguinte, não raro, por um adversárioinferior.Eu tinha uma opinião tão forte sobre essa situação especí ica que até

apelidei a minha maneira de lidar com ela: a Teoria da ÚltimaPartida/Próxima Partida. No basquete, quando eu achava que tínhamosumavantagemmuitodi ícildesersuperadano imdeumapartida,sobreum timemuito bom, eu chamava os nossos cinco titulares e, enquanto apartida ainda estava sendo disputada, falava com eles no banco sobre opróximojogo:euosfaziapensaremquemelesteriamquemarcar,noqueiríamos enfrentar, em superar aquela partida. Eu não queria que eles segabassem por ter jogado bem durante uma partida que já estavapraticamenteterminada.Isso não signi icava negar-lhes a satisfação merecida por um trabalho

bem-feito. Um técnico não deve, nunca, esquecer-se de parabenizar seusjogadores numa vitória bem-jogada, mas não deve hesitar em lhes dizerquandoelesjogarammal—sejanumaderrotaounumavitória.A marca do sucesso, ou da derrota, ao lidar com a vitória é o que

acontece entre um jogo e outro. Os melhores times sempre conseguempassardeumapartidaparaaseguinteeseprepararpara jogar.Aminhaexperiência me diz que quem pensa positivo tem uma verdadeiratendência a saborear os frutos da vitória, fazer perdurar seu grandesucesso,e,claro,oseutimetambémfazomesmo.Esse é um ponto essencial do pensamento negativo, no qual ele faz a

diferençaentreganhareperder:terconsciênciadecomoaquelemomentofelizpode tevencernapróximapartida.Sigaparaapróxima.Curtaesses“grandes”sucessosquandoatemporadaacabar.Lembre-se deles e sorria quanto quiser,mas não enquanto aquele seu

“grande” sucesso estiver dando ao seu próximo adversário ainda maisvontadedederrotarvocêedesebene iciarcomasuaconquista.Sempretenteienfatizarissocommeustimes:“Nãodeixequeessapróximaequiperoube de vocês o que ganharam na última partida.” A maior vitória éeliminadapelafaltadecontinuidade.

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Umapartidanãoéuma temporada.Oprazer, adiversão, o sucesso sãoefêmeros. O sucesso é um moinho em movimento. É perseverança. Eleoperaemumaltoníveldeatuação,sobreumabaseconstante.Essesorrisodavitóriaseguidodeumtropeçoperdedorpodeacontecer

nos negócios também.Nem os bons nem os ótimos baixam a guarda. JimCollins,ogurudomundodosnegócios,observouque“oboméoinimigodoótimo”,porquequandoficamossatisfeitosfacilmente,perdemosobonde.

Sofreréperder

OtreinadordebeisebolaposentadoTonyLaRussaéumdaquelesótimosque nunca perdem o bonde. Já faz muito tempo, desde a sua época emOakland, que considero Tony um grande e bom amigo. E o admiroimensamentepelamaneiracomorealizaseutrabalho—suahabilidadeemserobjetivamentecríticocomseusjogadoreseconsigomesmo.Fiquei eufórico quando ele treinou o St. Louis Cardinal durante a Série

Mundial de 2011, e mais eufórico ainda quando, poucos dias depois,anunciou sua aposentadoria. Ele estava saindo no auge, no ápice dacarreira. Outro grande técnico e grande amigo de LaRussa, Jim Leyland,doDetroitTigers,dissequeconsideravaTonyomelhortreinadordetodosostemposnahistóriadobeisebol.Eeuconcordocomele.OstimesdoTonyganharam mais partidas do que quaisquer outros nos últimos sessentaanos. Ele venceu três campeonatos nacionais. Pense nesse único dado.Quantos outros sujeitos ganharam campeonatos desse gabarito sem oaportederecursosfinanceirosastronômicoseestrelascaríssimas?Seus críticos dizem que ele treinava demais. Eu acho que ele ganhava

demais.Sentei na beirada do campo com o Tony durante jogos amistosos de

primavera. Ele sentou no meu banco durante partidas, treinos, reuniõescom as equipes. Jantei com ele uma centena de vezes. Conversei sobrebeisebol,instruçõespararebatidas,estratégias,atéideiaspoucoortodoxassobrelançamentosdebola.ObserveiTonydepoisdevitóriasedederrotas.Umamigomeutambémo

viunessesmomentosextremos,edissequeachavaquenãoconheciaoutrapessoanomundoalémdemimquechegasseao fundodopoçodepoisde

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umaderrota,atéveroTonyepensar:“Essecarajoga162partidasporanoe sofre desse jeito?” Eu o adorava por toda aquela paixão, toda aquelaemoção.E,então,liumascoisasqueeledissenodiaemqueseaposentou:Treinadoresme dizem o tempo todo: “Você não curte as vitórias comosofre comasderrotas”, e issoébemverdadeiro. Sevocêperde,nãodápara esquecer no dia seguinte, se você ganha, sim, porque estápreocupadocomopróximojogo.Tony enfrentara um dos mais duros desa ios nesse sentido em seu

penúltimojogo:eraasextapartidadaquelegrandecampeonatode2011eos Texas Rangers estavam ganhando do St. Louis Cardinals — trêspartidas contra duas. O jogo estava quase terminando, um jogo quepoderialhesdaravitórianaSérieMundial.OsCardinalsestavamnafrenteatéoSt.Louis fazerumhomerun genial.Porduasvezesapartidaesteveempatada contra todas as expectativas, até, novamente, umhome runfenomenaldoSt.Louisdefinirojogonosúltimosinstantes.Depoisdisso,ostimes icaramempatadoscomtrêsvitóriascada,eno im

daquela sexta partida as pessoas começaram a falar de um grandeclássico, como se tivesse sido o maior jogo da história da Série Mundial.Mas é claro que ainda havia a sétima partida, que traria todos os louros.Em1975,oBostonRedSoxreagirademaneiramiraculosaparavencerasexta partida, mas perdeu o campeonato no dia seguinte. Era com esseprecedente que Tony estava preocupado antes mesmo de chegar aovestiário, depois da vitória contra os Cardinals e da comemoração davitóriana sextapartida.Eeleatestou issodemaneirabemclaraemseuscomentáriosnodiadesuaaposentadoria,quandodescreveuseuestadodeespíritodepoisdasextapartidaeantesdasétima:A primeira tarefa que temos hoje é colocar o ontem de lado, paralembrardeledepois.Ganhar um jogo desses é mais di ícil, sobretudo pelo seu signi icado.

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Querodizer,édifícilmesmo.Nãoconsigoimaginarnadamaisdifícil.Então,comosouumdoscarasdacomissãotécnicaquepensaassim,a

partir do instante emque comecei amemexer (namanhã seguinte aojogo6,namanhãdojogo7),merecuseiapensarnanoiteanterior.Você controla a sua mente. É isso que tentamos fazer enquanto

equipe... essa é uma competição de vida oumorte, e você não pode sedistraircomanoiteanterior.Essa é a verdadeiramarca do campeão: esquecer a última vitória e se

preparar para a próxima. E este comentário deveria estar na parede detodosostreinadores:“Aprimeiratarefaquetemoshojeécolocaroontemdelado,paralembrardelemaistarde.”(TonyLaRussa,campeãodaSérieMundialde2011.)Um exemplo pessoal: nós ganhamos da equipe do North Carolina,

número um do ranking, na etapa regional do campeonato da NCAA de1984.Foiumagrandevitóriaparaosnossos rapazes.O jogo terminouàs23h30 de uma quinta-feira, acabamos de cumprir todas as obrigaçõesformais que se seguem a uma partida, voltamos ao hotel às duas damadrugadaeprecisávamosjogarcontraoVirginiaaomeio-diadesábado,comchancede irparaassemi inais.Essa foi,provavelmente,acoisamaisdi ícil que eu tentei fazer: devolver ao time a atitude mental para jogar“depoisdoNorthCarolina”.Não consegui. Simplesmente não fomos capazes de passar para a

próximapartida.Houveoutros fatores foradenosso controle, incluindoaagendairresponsáveldaNCAA,masomeutrabalhoeragarantirquemeutime “colocasseoontemde lado,para lembrardelemais tarde”e focassenopróximojogo.Osresultadosrevelaramquenãofizemosissodireito.Também há uma analogia com os negócios aqui, no surgimento e

explosão dasstart-ups da internet que aconteceram em torno de 2000.Muitas pequenas empresas de tecnologia estavam tentando embarcar nosucessodaAOLedeoutrasquecrescerammuitorápido,masperderamobarcoeafundaramcomseusjovenscriadores.Claro,emsuamaioriaessaspequenas empresas não ganhavammuito dinheiro (talvez nenhum),mas

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todosficarammuitoanimadoscomgrandiosasperspectivasdefuturo.Aíomercadoviroudeponta-cabeça.Aexpansãotecnológicaestagnoue

WallStreetteveumaquedavertiginosa—problemaqueteriasidoevitadocomprecauçãoeceticismo.Quandovocêsevangloriadassuasvitórias(oudos seus lucros), entrega sua própria cabeça numa bandeja. Como disseum observador sábio: “O fracasso precoce costuma sermelhor do que osucessoprecoce, porque a liçãodahumildadedurapormuito tempo, e otornamaiseficientealongoprazo.”Tentei ensinar ao meu ilho Pat uma lição, certa vez, quando ele era

pequeno—talvezaosoitoounoveanos—emeconvenceuajogarsinucacom ele. Ele não tinha absolutamente nenhuma possibilidade de ganhar,devido às nossas respectivas competências, mas não gostei da maneiradesleixada comqueele jogou.Encaçapei tudobemrápido.Ele começouajuntar asbolaspara jogardenovo, e eu simplesmentedei as costas e saíandando, dizendo: “Não, Pat, não quero jogar de novo até você jogarmelhor.Àsvezes,noesporteounavida,vocêtemumaúnicaoportunidade,eémelhorestarpreparado.Vocêaindanãoestápreparado.”Várias semanas depois, jogamos novamente, e o Pat ganhou de mim!

Fiqueipasmo.Penseiqueestivéssemosapenascomeçandoumarodadadeumahoraoumaisdepartidas,maselesevirou,subiuasescadasedisse:“Não,pai,àsvezesvocêsótemumaoportunidade.”Liçãoaprendida!

Nãodêinícioahábitosruins

Algumas coisas que se tornam hábitos muito ruins deveriam sereliminadas antes mesmo de iniciadas. E não estou falando somente debasquete.Porexemplo:comoéqueaspessoaspodemcontinuarafumarcomtoda

aevidênciamédicadoriscodecâncerededanosaospulmões?Ailusãodeque “não vai acontecer comigo” é o que considero como a forma maiselevada (e o riscomais evidente) do pensamentopositivo, ilusório. Beberaté icar bêbado é outra coisa que a sociedade tolera, e que eu nãoentendo. O uso de drogas é outro. O emprego da palavra “social” ou“divertimento” associado ao uso das drogas me deixa indignado. A frase“todoomundousa”éfortecandidataparaamaisrepelentecombinaçãode

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palavras,emqualquerlíngua.Nãopossoa irmarquepessoasque fumamoubebemsãoradicalmente

diferentes—oumaisburras—doquea longa listadepessoas(que,porvezes, me inclui) que comem até icarem obesas. Todos essescomportamentos têmumpontode início.É aí queopoder extraordináriodopensamentonegativopodeatenderaseuspropósitos.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Esterestauranteéespetacular!Nenhumcarro!Estacionamentofácil,eoserviçoérápido!

Jápercebeucomoécomumosrestaurantesqueservemcomidaruimteremmuitasvagasnoestacionamento?

Umaimagemvalepormilpalavras.

Dito(suponho)porummauescritorouumanalfabeto.

Opatrãonãovailigarseeuchegarumpoucoatrasado.

Oquevocêachaqueesteavisoprévioquerdizer?

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T

2Quepartedapalavra“não”vocênãoentende?

enho uma candidata para a vaga demelhor palavra de uma língua:Não.

Enãoimportaoquevocêtenhaaprendidonasaulasdegramática,chegaumahoraemqueéprecisorepetiranegativaeusá-laduasvezes.Já tive jogadores a quem disse repetidamente: “Não, não é isso que

queremos.” A palavra “não” é uma parte importante do poder dopensamento negativo, aliada a uma longa lista de imperativos tão irmesquantode initivos.Eunemsaberiadizerquantasvezesdisseaumjogador:“Quepartedapalavra‘não’vocênãoentende?”“Não faça” e “nãopode” são, evidentemente, enunciadosnegativos,mas

colocá-losempráticapode trazerresultadosmuitopositivos.Nãohánadade errado em dizer “não posso”. Ed Pillings, grande isioterapeuta queserviunoExército sobo comandodo coronelEarl “Red”Blaikduranteosseus excepcionais anosde futebol americano, equedepoismeajudounacarreiradetreinador,contou-meumahistóriaquereforçaovalorde“nãoposso”,dentrodecircunstânciasadequadas.O coronel Blaik, que acabei conhecendo bem durante meus anos na

Academia Militar de West Point, não deve ter havido outro jogador emquempensassemaisdoquePeterDawkins,queganhouoTroféuHeismande 1958 — prêmio dado ao melhor jogador universitário de futebolamericano. Outros dois ganhadores desse troféu, Doc Blanchard e GlennDavis, tambémeramdoExércitoeforamtreinadosporBlaik.Peteeratãoforte quanto bom, mas uma lesão na perna o afastou por certo tempo.Pillings lhe passou alguns exercícios num aparelho que fortaleceria suaperna,enãopôdefazermuitomaisalémdisso.OcoronelBlaikobservavaaquilo,atéseaproximarparadarumapoioextra:

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—Maisforça,Pete,maisforça.Maisforça!OPetejáestavaseesforçandoaomáximo,atéque,finalmente,estourou:—Caramba,coronel,nãoposso.AotreinadorBlaiknãoserespondiadaquelamaneira.Eeleconheciaseu

jogador. Então abanou a cabeça e saiu andando. Um “não posso” de PeteDawkins signi icava que ele não podia mesmo, e os dois homens eraminteligentes o bastante para saber que não fazia sentido ir além desselimite.AssimcomoocorreucomPeteDawkinsnoseuprocessoderecuperação,

podehaverummomentoemquevocêesteja emcondiçõesde fazer algo,mas“nãoposso”sejaamelhorconclusãoquandootimismoeteimosiatolosforem,nomínimo,contraproducentes.Você deve desenvolver o bom-senso su iciente para saber o que não

pode fazere focarnoquepode.Conheçaosseus limites.Senãoderparafazeralgo,nãofaça,edigaquenãopode,comooPetefez.Contusão não é a única coisa que exige uma avaliação da realidade. A

habilidade — ou a falta dela — também exige uma compreensão clara,independentemente de estar pensando em si mesmo ou, como treinadoroudiretor,emoutrapessoa.Umadasobrigaçõesdeumtreinadoré fazerseusjogadoresconheceremosprópriospontosfortesefracos,assimcomoosdosseuscolegas.Éassimqueumaequipeganha:jogandoemfunçãodeseus pontos fortes, evitando os fracos. Eu elaborei umadoutrina simples:osarremessadoresarremessam,ospassadorespassam,etodosdefendem.Kenny Rogers disse isso de umamaneira melhor, num refrão de uma

cançãosobreumjogador:Vocêtemquesaberquandoapostar...Temquesaberquandoparar.

DeixeaVirgemMariaempaz

O isioterapeuta Ed Pillings foi um grande conselheiro durante o meutempo emWest Point. Já contei várias vezes a história de meu primeirojogocomotreinador,naestreiadatemporadade1965-1966,emPrinceton.Novestiário, antesdemandaro timeentrar emquadra, eu tentava fazertodasascoisasqueachavaqueumtreinadordeveriafazer.Chameiotime

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e, juntos, rezamos o pai-nosso. Após a oração subimos as escadas até aquadra.EntãoEdveionaminhadireção,colocouobraçonomeuombroedisse:—Cáentrenós,vocêeasoraçõesnãocombinammuito.Nuncamaisrepetimosadose.E não estou querendo ser desrespeitoso.Não consigo invocarDeus em

qualquer tipode competição— seja pedindoou esperandoque ele torçaporumdostimes.Conheço bem a frase de Paulo na Carta aos Filipenses, capítulo 4,

versículo13:“Tudopossonaquelequemefortalece.”Enãocreioqueessapro issãode fé tenhaalgoavercomouniversomundanodobasquetebolouqualqueresportedecompetição.A verdade nua e crua é que não dá para se fazer tudo. Ponto inal.

TrazerDeusparaoâmbitodasexpectativaspessoais,sobretudotratando-sedecompetições,nasquaisavitóriadeumapessoasigni icaaderrotadeoutra,parece-meumainvasãodoslimitesalheios.Porisso,quandovejoumsujeitoqueacaboudefazerumhomerunparade inirapartidadizendooufazendo algum gesto que indique que o lance aconteceu porque Deusestava ao seu lado, penso cá commeusbotões: “Ele querdizer queDeusferrou com o arremessador?” Olho à minha volta e vejo coisasprofundamentetrágicasocorrendotodososdiaspelomundo,epensoqueEletemummontedecoisasmaisimportantesparafazerdoquesemetercomesportesefavoreceralguémaquiouali.Mas eu tive um jogador que fazia o sinal da cruz antes de cobrar cada

lance livre. Mandei que parasse com isso, não só porque o gesto meofendia: ele arremessava mal e eu lhe disse que estava criando umareputaçãoruimparaaigreja.Certa vez, durante uma festa, também pedi a um treinador de futebol

americanodeumaescolacatólicaquemantivesseaVirgemMaria foradadefesaequeadeixasseempaz:—Vocêvai ter resultadosmuitomelhores se trabalharpara ganhar as

partidas por si próprio, bloqueando e interceptando, ao invés de esperardesesperadamentequetudoaconteçaporaçãodivina.

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EmIndiana,chegueia levarumpadreaNotreDameeodeixeisentadono nosso banco durante um jogo contra o Irish, o time local.Mas iz issoporque o padre Jim Higgins era um grande torcedor e amigo, meu e devários jogadores, enãoporqueachavaqueorações sacerdotais iriamnosajudar—particularmenteemNotreDame.Sefosseumaquestãodeapoiodoclero,teríamosumadesvantagemdemilcontraum.

Desafiandoideiasbanaiscomumapergunta:porquê?

Minhalistadasideiasbanaismaisirritantescomeçacomalguémquevêumasituaçãobemdifíciledizemtomdesleixado:—Bom,amanhãosolvaibrilharsobrenós.Minharesposta:— É isso aí, e ele vai iluminar com novos raios a mesma velha

dificuldade,anãoserquevocêtomeumaatitude.Sempresintovontadedecontra-atacarosadoradoresdosol.Oqueestá

emquestãoaquinãoédependerdeDeus;édependerdevocê.A pergunta que se deve ter em mente quando esses panegíricos da

paciênciadesmioladoseotimistassãoproferidosa tortoeadireitoé:porquê?—Vaidartudocertoamanhã.—Porquê?—Vaiacabarficandotudobem.—Porquê?—Vamosganhardelesnapróximavez.Por quê? Pelo jeito, você perdeu dessa vez, portanto as evidências, até

agora, são de que não vai haver nenhuma mudança nesse quadro. Sehouverumarespostaboa,sensataparaessapergunta,aí,sim,vocêestaráfazendoalgumprogresso.Essedesa io simples— “porquê?”— contémumadasperguntasmais

importantes.Nuncahesiteemfazê-la,sobretudoasimesmo.

Prestesempreatenção

Háumafamíliadepalavrasquepodefazerumaenormediferençaparaevitar decisões precipitadas e suas consequências desagradáveis e

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indesejáveis.Seusaressaspalavrasantesde tomarumaatitude,vocêvaitermuitomenos arrependimentos, seja ao adquirir uma terra pantanosanoArizona,sejaaoarquitetarumprojetodemarketingparaolançamentodeumamarca:

Prevenção;Hesitação;Correção;Suspeita;Atenção;Reconhecimento;Reserva;Premeditação;Organização;Dedicação;Educação;Precaução;Rejeição;Preparação;Garra.

Eu devo ter esquecido um ou outro primo nessa lista. Talvez eu não

tenha sido atento o su iciente,mas, com certeza, não eraminha intençãoevitá-los.

Nãofaçaenãopodenaprática

Examinemos mais atentamente certas coisas que considerei vitais naminhamaneiradetreinar,evejamosquantaspoderiamfuncionartãobemnumescritório ou ao redordamesada cozinha, quando chega a horadetomar decisões que de inem rumos na vida. Enquanto eu estiver falandoemtermosdebasqueterealmentetécnicos,façaassuasprópriasanalogias

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com a vida em geral e veja comonão faça enão pode se aplicam aexperiênciasmaisconcretasdoaprendizadoedoensino.Pensando apenas no ataque: grande parte demeu treinamento residia

em inculcar a ideiadeque, comodisse o grande general chinês SunTzu:“Uma operação militar envolve dissimulação.” No esporte, melhoramosquase todas as jogadas ofensivas que realizamos ao montá-las com umprimeiromomentodedissimulação,uma intaouumareversão.Enquantotreinadoreselíderes,nósdizemos,repetidamente,duranteostreinos: não,nãopodemosefetuaressamovimentaçãosemfintarantes.Por exemplo:não,nãofaçaumarremessoimportantesempensarantes

numa intaparaarremessar.Sema inta,vocêprovavelmentearremessarápressionadoporumadversário.Usea intaevocêpoderáconseguirumafalta, ou, com um único drible, um arremesso completamente livre. Usaruma intadearremessooudepassecontribuiparaavitória,enãousá-lacostumaserarazãopelaqualseperdeumjogo.Está bem, reconheço que a dissimulação funciona muito melhor numa

arenamilitar ou esportivadoquenas salas de reuniãodeuma empresa,maselapodeser transferidaparaoplanejamentodequalquernovaaçãosigni icativa,quesefaçacombastantepreparação,autodisciplinaeaquelacara impassível de quem blefa no pôquer, quando necessário. Não épreciso expor sua melhor oferta numa negociação: deixe o outro ladorevelar suas intenções. Ao fazer uma inta no basquetebol, você força oadversárioamostraramãoprimeiro.Da mesma forma, é preciso descon iar dos primeiros lances do

adversário.Quasetodoprimeiroencontrodenegócioscomumparceiroempotencialécordiale,comfrequência,adoçadocomálcool.Aabordagemdaexposição das linhas gerais parece ser perfeitamente adequada. “Vamosfazer negócio” — esse é o princípio operacional — e “vamos deixar osadvogadoscuidaremdosdetalhes”.Nomeulivrodejogadas,estáescritoqueémelhor icardeolhoquando

as coisas parecem fáceisdemais. Alguns técnicos de basquete, que focamna construção da con iança do jogador, gostam de ensinar que “quandovocêacharqueestálivre,arremesse”ou“quandovocêacharquetemuma

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boaoportunidadeparaacertar,arremesse”.Souotipodetécnicoquelevantaabandeiravermelha.Muitosjogadores

têmumade iniçãomenoscoletivade“livre”doqueeu,eachamquetodasasoportunidadessãoboas.Elesprecisamaprenderoqueé,para eles,umaboa oportunidade para arremessar, de acordo com suas competências ehabilidades. Os grandes jogadores pro issionais, desde JerryWest e JohnHavlicek, daminha época, até craques de hoje, conseguem fazermais oumenosqualquer coisaquequiseremnumasituação-chave,mas jogadoresmenos hábeis precisam sermais cautelosos. Talento e oportunidade têmque combinar da mesma forma entre empregados de uma empresa ouequipesdevendas.Umrepresentantecomercialquetentaobterograndebônus de imde ano deve se perguntar se o contrato que está prestes afecharérealmentebomparaaempresa,alongoprazo,ouseestáabrindoum precedente que fará os executivos na sede precisarem lidar comclienteszangadosmaistarde,quevãoexigirasmesmascondições.Ensino às minhas equipes toda sorte de princípios no manejo da bola,

que,emessência,dizem:“Olheantesdeagir,entendaasituaçãoquevocêestá criando.” Por exemplo, os armadores que conduzem a bola pelaquadratêmtendênciaa fazeroprimeiropasseparaumcolegadeequipena linhade fundo, no canto.Minha instrução é: “Nãopasse a bola para alinhadefundo,anãoserqueoreceptorestejalivreparaoarremesso.”Porquê?Sevocêpassarparaumjogadormarcadoali,elepodeserbloqueadoporumaboadefesaeperderapossedebola.Amesma lógicaseaplicaao levarabolaatéopivô.Meuconselho: “Não

passe para o pivô sem avaliar bem quanto ele estámarcado.” Queremosque nosso pivô receba a bola sempre que der, porque ele arremessa dopontomaispertodacesta,masopassadortemqueaprendercomofazê-lo.Umpassediretoéfácildeserbloqueadoouinterceptado,efazeruma intaouumpassepicadoémais seguro, sobretudoseopivôpuderprotegerabolacomocorpo.Todas essas regras de jogo são simples e lógicas, e começam com uma

negativa—jamaisarriscarapreciosapossedebola.Oatleta inteligenteecauteloso faz,numa fraçãodesegundo,oqueum investidorpode terque

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fazernuminstantedeobservaçãodomovimentodabolsa,considerandoosriscos, calculando amelhor alternativa, para, então,mergulhar fundo emsuaação.Todas asnegativas iniciais sãoprocessadas instantaneamente aimdequeaescolha inalsejaacorreta.Nobasquete, issopodesigni icarpassar a bola para o jogador que se encontremais perto da cesta e commais condições de fazer um arremesso bem-sucedido. Espero que o seucorretor da bolsa de valores opere da mesma forma, descartando osmovimentos arriscados e encontrando frutos ao alcance dasmãos, comomaior percentual de sucesso (claro, gosto de quem contraria a multidãoquando os preços das ações estão in lados; esse é outro exemplo dejulgamento“negativo”quelevaaresultadosmuitopositivosnacarreira).

Saberquandoparar

Uma das situações mais di íceis para qualquer líder, treinador ouconsultor de investimento é deixar umamádecisão para trás—o que éduro, pois foi você quem a tomou. As grandes empresas tendem a terpráticas e procedimentos que se reforçam internamente, o que signi icaqueelasresistemaprodutoseaideiasque“nãosãocriadosládentro”.Damesma forma, indivíduos em posições hierarquicamente superiorestendem a construir suas decisões fundamentadas em seus própriospreconceitos ou em suas experiências passadas, o que pode ser muitoperigoso.A eliminação de pensamentos antiquados é essencial em qualquer

processo de crescimento e realização. Às vezes, isso signi ica eliminarcoisas que, em certo momento, foram consideradas válidas — algo que,talvez, vocêmesmoensinou.Nenhumapessoabem-sucedida e inteligentecontinuaafazerumacoisaquejánãofuncionamaissóporquesetratadesuaprópriaideia.A perseverança é um traço admirável, que pode ser positivo quando

orientadopelotipocertodepaixão.Masorientaressapaixãodiretamentepara o abismo é pura estupidez. Então seja inteligente e admita quandouma decisão de investimento der errado. Continuar aplicando dinheironum investimento ruim só o deixa ainda pior, ampliado pela estupidez. Amesmalógicaseaplicanopôquerquandovocêtentablefarcomumamão

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ruim.Aestupidezmultiplicaesaimuitomaiscaraquandouminvestimentodesperdiça tempo e esforço, assim como dinheiro. Uma perseverançateimosa se torna uma faca de dois gumes que o apunhala pelas costas.Quempensanegativoede forma inteligenteaplicaomesmoceticismoemcadainvestimento.Apessoabem-sucedidatemquesercapazdemudardeideia quando algo não está funcionando e tentar reduzir os danos, oumesmoencontrarumasoluçãomaiscriativa.Claro, jogar pôquer lhe oferece a oportunidade de apostar ou parar a

cadarodada,masavidanãoapresentaopçõestãofáceis.Quandovocênãoestá jogando pôquer, precisa dar mais duro e deixar a perseverançaoperaraseufavor.Porexemplo,observeasabedoriadosOakRidgeBoysquantoàmelhormaneiradesatisfazerasede:Cavemopoçoumpoucomaisfundo,meninos,Cavemopoçoumpoucomaisfundo.Sevocêsquiseremumbomgoledeáguafresca,Vocêstêmdecavaropoçoumpoucomaisfundo.Meupaicostumavamedizer:“Nãoseenganecomoqueestávendo”;Sevocêquiserchegaraofundodascoisas,precisaolharbem.Segundolugarnãobasta,filho,quemganhavemprimeiro.Não há nada pior do que ter de tomar uma bebida que te deixa com

sededepois.Aartede treinarconsisteemseafastardoesquemado jogoquandoas

coisasnãoestiveremfuncionandoduranteumapartida.Talvezumpedidodetempotécnicoouumasubstituiçãopossamvirarojogo.Comoquandoseaposta ou se recua em funçãodas cartasnamão.Mas amaior sabedoriaestánosegundorefrão,porquesevocêtemumtimesedentoeopreparoucavando mais fundo sua determinação, e dando as ferramentas paralimitarem seus erros, então o seu time terá uma chancemaior de acabarentreosvencedores.Omesmovaleparaosnegócios.A“estratégia”dasgrandesempresas—

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palavramuitopopularentreoscursosdeadministração—émesmomuitosimples. Signi ica aproveitar seus recursos (e seu pessoal) da maneiramais vantajosa, considerando aquilo de que você dispõe de fato. Hojechamamosnossosdepartamentospessoaisde“recursoshumanos”porquereconhecemos que qualquer organização possui empregados querepresentamachavedeseusucesso.Eisosinaldealertanegativo:otermo“recursos” também signi ica que existe um limite para o talento humanoemquestão,porissoofocoéimportante,evocênãodevedispersaressesrecursoscomfutilidades.Foi por isso que, enquanto treinador, sempre tentei eliminar os erros,

porque a posse de bola era um recurso limitado, e tínhamos que tentarlevá-laàcestasemperderaoportunidadedefazerumarremesso.Paraojogador,saberquandomanterabola,oupassá-la,ouarremessá-la,requereliminar o barulhodamultidão ou amãodo adversário na frente de seurosto, e tomar a decisão certa quase instintivamente. Por detrás desseinstinto estavam dias e semanas de treino para construir uma “memóriamuscular”doquesedevefazeremseguida—eoquenãosedevefazer.O jogador bem-preparado e bem-treinado pode ouvir Kenny Rogers

cantandodentrodesuamente.Para o treinador ou para o líder, a estratégia é saber como usar o seu

pessoalecomonãousá-lo.Saberquandoestádandotudocertoe,também,quando as coisas não estão acontecendo como você gostaria, e fazer osajustes.Saberquandoapostar,saberquandoparar.Saiba quando sair andando, saiba quando correr . Perceba se o que você

está fazendo não vai lhe permitir ganhar uma partida. Caso as coisasestejammesmoindomal,mudeagora!VocêprecisadeumplanoBpronto.Seelenãofuncionar,então...Se/entãoéoutracombinação,umenormefatornoesporteenavida.Se

acontecerA,entãofaçaB.SeBnãofuncionar,devemosestarprontosparaaplicar C, D e E. Precisamos de um planose/então para tudo o quefazemos.

Outracoisaateremmente

Uma competição nunca é estática. Não pense que o cara que está

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competindocomvocênãoestáplanejandoecriandoesquemasalternativosa im de levar seu time ou sua empresa à melhor condição possível devitória. Você tem que reconhecer quando o que está fazendo não estáfuncionando,eparardefazê-lo.Quandovocênãotemamelhorcartada—time,produto,talentos,sejalá

oquefor—,oqueoseparadosdemaiscomeçacomapreparação.Asortepodevencer, às vezes,masapreparaçãoéuma fórmulade sucessomaisconsistente. Boas equipes podem ter sorte e vencer; equipes ruins, não.Não se deixe tentar por ideias banais, como “nos esforçamos muito”. Sevocê se preparar damaneira correta com uma quantidade su iciente detalentos, você consegue vencer. O objetivo é vencer honestamente,seguindoasregras,masvencer.

Menosesperança,maissuor

Comeceiajogarbasqueteaos12anos,etodaaminhavida,desdeentão,resume-se a jogar, treinar ou assistir aos jogos de basquete. Não tenhocerteza se “conheço” algo além disso. Mas o basquete me ensinou umacoisa:háumabaitadiferençaentreganhareperder.Ganharéoprodutode uma boa liderança. Liderança é tirar as pessoas de sua zona deconforto.Todostemosumazonadeconforto.Gostamosdejogaroutrabalharnum

determinadoritmo.Umlídertemquesaberquandoesseritmonãoébomo bastante. Uma das coisas que sempre tentei fazer no início de cadatemporada era tirar meu time da zona de conforto e trabalhar para oaperfeiçoamento,individualecoletivo.O pensamento negativo— saber que umdesempenhomediano do seu

time e suapreparaçãomediananãodeverá assegurar a vitória num jogocontraumtimemuitobomquevocêestáprestesaenfrentar—pode lhedaramelhorchancedeganharessapartida.Opensamentopositivoqueseresumeameraesperançanãovailevarà

vitória. Não compartilho o lugar-comum “a esperança é a última quemorre”. Acredito que hoje, com excessiva frequência, a esperança temsubstituídoosuor.Paraganharumapartida,émelhortercertezadequeo

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seutime,evocê,estádandoasuadosedesuor.Quando você é o treinador e recebe a informação de que a próxima

equipeadversáriaéextremamenteboa,opensamento seguintedeve ser:“Nós temos que estar nanossa melhor forma. O nosso planejamentoprecisa ser um pouco diferente dessa vez. Não podemos fazer o quefazemos normalmente para ganhar.” Não dá sequer para contar comjogadas arriscadas que podem sair pela culatra. Independentemente doesquemadejogo,sobretudoquandohápouquíssimamargemparaerro,éprecisocontar,sobretudo,comofatode nossaexecuçãosermelhordoqueadeles.Numjogonormal,jamaisquisquemeusjogadorespensassem:“Estamos

bem porque temos jogadores melhores e somos os favoritos.” Eu queriaque a sensação de estarmos prontos para vencer viesse da conclusão dequenossoplanejamentoeramelhor,dequenossapreparaçãoeramelhor.E meu trabalho era garantir que fosse. Eu também queria que elessoubessemque,mesmobem-preparados,tínhamosqueexecutaromelhorpossívelparaganhardooutrotime.Euqueriaplanejarcada jogocomosefosse contra um bom adversário, porque na verdade era. Eu sentia quecadavezque jogávamos,o realadversárioeraopróprio jogo:quãopertodaperfeiçãopoderíamoschegarnaquelejogo?Costumo dizer às minhas equipes: “Rapazes, a única maneira de

perdermos para esse time é...” e,mais uma vez, voltamos ao se/então. Senós não izermos o que treinamos para esse jogo, então vamos perder.Esse tipo de abordagem negativa tem uma consequência tão óbvia quenemprecisa ser dita:se izermos essas coisas,então ganharemos.Mas eusempre quis que eles tivessem cautela, motivação, e percebessem queganharcomeçacoma“negativa”senósnão...

Criaçãodeimagensnegativas:senósnão...

O fato é que quem pensa negativo sempre sabe que tem umapossibilidadedeservencido,entãotrabalhaparareduziraomáximoessapossibilidade.Otreinadorempenhadoemdifundirmensagensboasecriar“imagens positivas” corre o risco de nunca deixar a verdadeirapossibilidadedeperderlhepassarpelacabeça.Entãoeletematendência

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desedescuidardeproblemasparaosquaisprecisasepreparar.Pre iro a imagem negativa do se/então: “Se não izermos essas coisas,

entãoestámaisdoquenacaraquevamosperder.”e“ Se tivermosmesmoaabordagemcorreta,apreparaçãocorreta,e jogarmosomelhorpossível,entãotemoschancedeganhar.”O modelose/então é construído sobre informações. Entender

exatamente o que “se” quer dizer, o que o time tem que fazer ou evitarfazer,éessencial.Umadasa irmaçõesmaisimportantesqueumtreinadorpoderepetirparasimesmoé:“Eunãosei,masvoudescobrir.”Fazerperguntaséaessênciadoaprendizado.Nodesa iodiáriodetentar

gerenciar, todo líder tem pontos cegos, assim como um quarterback, nofutebol americano, tem pontos cegos quando é perseguido por váriosdefensores demais de cem quilos. Para um treinador, é essencial tentardescobriroquepodeestar faltando.Porexemplo,oqueovídeoquevocêrevênãoestálhemostrando.Umtreinador,umlíder,nãopodetermedodeadmitirparasiouparaos

outrosquenãosabe.Osujeitopositivotendeadizer:“Tenhocertezadisso.”ou “As coisas são assim.” O sujeito cauteloso, que tem mais chances deganhar, será sempreaquelequediz: “Não tenhocerteza,nãosei.”Buscarsaber o que você não sabe é umadas liçõesmais importantes da vida. Épor isso que existem assistentes técnicos ou pessoas de con iança quepodemajudá-loadescobrir.Adoroasseisperguntasaquetodososjornalistastentamresponder:

Oquê?Onde?Quando?Como?Porquê?Quem?

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Nãoexisteumamaneiraabsolutamentecertaeumjeitoerradodefazeras coisas, mas costuma haver uma forma melhor, uma com grandepercentual de sucesso. Quem pensa positivo geralmente sente que suamaneira será a correta, e que nada vai dar errado se ele simplesmenteacreditar.Quempensanegativodesacredita.Ele toma todasasprecauçõesparaevitarqueoerradoaconteça,eao fazê-lo temumachancemaiordequeascoisasacabemdandocertonofinal.

RudyardKipling:oprimeirodossujeitosse/então?

AchoqueRudyardKiplingeraumsujeito se/então,eseuclássicopoema“Se” inclui alguns dos pensamentosmais profundos nesse sentido; sim, o“então”estáomitido,masclaramenteimplícito.Trechosdopoemadequegostomuito:SepuderesmanteracabeçaquandotodosemtuavoltaEstiveremperdendoassuaseteculpando;Sepuderesconfiaremtimesmoquandotodosduvidamdeti,Mastambémdesculpá-losporduvidarem;Sepuderessonhar—semfazerdossonhosteusenhor;Sepuderespensar—semfazerdospensamentostuameta,SepuderesencontraroTriunfoeoDesastreEtrataressesdoisimpostoresdeigualmodo;...SepuderesforçarcoraçãoenervosemúsculosAserviremaoteugestomesmoquejáesgotados,EaguentaresquandonãohouvernadaemtiAlémdaVontadequelhesdiz“aguentem!”;SepuderespreencherominutoimplacávelComsessentasegundosvalorososTuaéaTerraetudooquenelaexiste,E—oqueimporta—serásumHomem,meufilho!

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Uau!Kiplingteriasidoumtreinadoretanto!

Osmelhoresquejávi

TendoacrerqueoJohnnyBenchdevetersidoomelhorreceptorquejávestiu um uniforme de beisebol. Acho que o Michael Jordan é o melhorjogador de basquete de todos os tempos. Gosto de pensar que o TedWilliams foi o rebatedor mais puro e espetacular. Mas, um pouco comoquasetodomundo,tendoaacharqueosmelhoressãoosmelhoresque eupudever, e esse entendimentomeparece importante todas as vezesqueouço algum comentarista esportivo de inir, ao microfone, um jogo comfrases de efeito, falando em termos absolutos... “o maior de todos”, “semsombra de dúvida”! Ouço isso, balanço a cabeça, e penso: “Rapaz, vocênuncanemviufulano...nembeltrano.”Issodeveacontecercomaspessoashábastante tempo,porqueopoeta

romanoLucrécioescreveu,umséculoantesdeCristo:UmriodetamanhoregularparecevastoparaalguémqueJamaisviuummaior;omesmoocorrecomasárvores,comoshomens.Emtodososdomínios,oshomensconsideramcomograndesOsmaioresobjetosquejátiveramdiantedosolhos.

Diantedeseusolhos.Haviapessoasfazendocoisasadmiráveisantesque

eu, você ou os mais idosos e sábios entre nós sequer existisse. Lucréciodeviasercoladonaparededetodasascabinesdenarraçãoeemtodasasmesasdeediçãodaimprensacomoaviso.

A“inteligênciaesportiva”nãoéumaevidência

Jamaissentiquepudessepartirdoprincípiodequeosnossosmelhoresjogadores tivessem aprendido por si próprios a serem bons pensadores.Talvez seja por isso que grandes jogadores raramente são grandestreinadores: porque o que eles supõemque fazem intuitivamente, outros—jogadoresdebasqueteinteligentes—tambémvãofazerintuitivamente.Masnemsemprefuncionaassim.

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Useiumaperspectivanegativadesdeoprimeirodiadetreinoatémesmodosmelhores jogadores: tudo bem, esses garotos têm boas competênciasatléticase,emgeral,realmentesabemjogar—anãoserpelofatodequecostumamchegaraoníveluniversitáriocomumaatitudeofensiva,eaindanãoforamlevadosa jogarnadefesaporseustreinadores, temendoqueojogadorsaiadapartidaporexcederonúmerodefaltas.Pude perceber que quem pontua muito costuma ter uma competência

inataparaserumbomdefensor.Umadasmelhoresformasdesemelhoraradefesadeum jogador é, simplesmente, comentar suamelhoria.Quandoosjogadoresmostramqueestãorealmentetreinandoparaaprimorarseusfundamentos emqualquerquesitodo jogo, essa é a horade encorajá-los,para que saibam que seu trabalho está sendo reconhecido. Essa é outramáximadaliderança.Semprecritiquejogadasnegligenteselouveatuaçõesdequalidade.Um caso que inferniza os principais treinadores de equipes

universitárias é do jogador recrutado para integrar o nível da eliteuniversitária, mas que não passou por muitas situações di íceis durantesuapassagempelotimedoensinomédio.Eusentiaqueomeutrabalhoeraensiná-losapensar,alerassituaçõeseareagiradequadamente.Ao recrutar, eu costumava levar em conta, prioritariamente, a

inteligência, e sempre trabalhei com um monte de garotos inteligentes.Mas, ao entrar para a universidade, eles estavam subindo de nível. Euqueria que eles percebessem, e entendessem, que tinham muito aaprender,quedeviamfazerascoisasdo jeitocerto:omeu.Tínhamosquetreinarparafazerascoisasdemaneirainstintiva,quenosfizesseganhar,eeliminar negligências ou jogadas arriscadas, que poderiam nos levar aperderempartidasmaisduras.Tínhamos que trabalhar para fazer coisas que nos levassem a ganhar, e

eliminar a negligência ou as jogadas arriscadas, que poderiam nos levar aperdernumapartidamaisdura.Se você for a pessoa no comando, numa quadra de basquete ou num

escritório, este é umparágrafo que você temque ler repetidas vezes.Nomundoempresarial,conheçomuitosexecutivosqueevitamrecrutaralunos

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dos cursos “de elite” de administração, porque os estudantes saem delesachando que estão formados e prontos para serem diretores executivos.Pessoalmente, eu gostava de recrutar garotos que vinham de escolasmenos conhecidas, onde haviam passado por maus bocados e estavampreparadospara arregaçar asmangas e se desfazerdehábitos ruins.Osatletas de famílias pobres poderiam, talvez, pensar na dupla jornada detrabalho de seus pais, nos dois empregos que garantiam o sustento dafamília.Essesrapazesfocavamnoessencialporquesabiamqueobasquetepoderiaserobilhetedeentradaparaosucessonavida.Eu queria fazer nossos jogadores jogarem melhor porque eles

“pensavam melhor” e reagiam melhor do que os do time adversário, etinhamorgulhodeteressavantagemaseufavoremsituaçõesdefinitivas.Se você, enquanto técnico, puder ensinar o seu time a pensar sob

pressão, a reagir bem àsmudanças, então não precisa de tantos talentosquantoosoutrostimes.Estamosdevoltaaopositivo-negativo.Novamente,aminhaabordageméanegativa.Não posso aceitar esses jogadores pelo que são na super ície, quando

chegam. O treinador positivo diz: “Tenho jogadores ótimos, vai dar tudocerto, e tudoo que tenhoque fazer é nãopôr tudo a perder.” Jamaismesenti assim. Sempre achei: “Tudo bem, temos talentos su icientes parasermosbons.”Mas já fazmuito tempoquedesenvolviaseguinte fórmula:“Omentalestáparao ísicoassimcomoquatroestáparaum.”Seeupuderensinar aosmeus jogadores como ganhar um jogomental, teremosmaischancesdevencer.Fazer as equipes jogarem demaneira inteligente todas as noites não é

algo automático. Umas duas temporadas atrás, Brent Musburger e euestávamos comentando, na ESPN, um jogo entre dois times altamenteconceituados, Kansas State e Baylor. Naquela noite, nenhum dos doisestavajogandocominteligência.Duranteoprimeirotempo,Brentdisse:— Treinador, você é um grande fã de beisebol. Você se lembra de

quando o treinador Casey Stengel perguntou: “Será que ninguém aquisabejogaressejogo?”Grandefrase.Maisparao imdapartida,depoisdemaisumasequência

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dejogadasruins,eufalei:—Brent, antes deme deitar hoje, vou parar e agradecer por todos os

jogadoresverdadeiramenteinteligentesquetive.

Nãopeçatempo

Depois de nossos jogadores serem treinados para pensar, havia umaindicação consistente de minha con iança neles. Durante as partidas, eucostumava deixar que eles resolvessem por conta própria as situaçõescomplicadassempedirtempo.Certa vez, umamigomedisse: “Quandovocê chegar ao céu, a primeira

coisaquesãoPedrovaicobrardevocêéomontedepedidosdetemponãousados.”Achoquefomoscampeõesnessequesito.Isso não era, exatamente, uma demonstração de con iança. Às vezes,

minhaintençãoeramaisumrecursodeensino.Aolongodatemporada,euqueria que os jogadores — individualmente e enquanto equipe —desenvolvessem a habilidade de pensar e trabalhar por seus própriosmeiosemmomentosdifíceisnaquadra.Quandoooutro timeestavaemumasequênciaboa, outro comentarista

de que gosto e respeitomuito, Dick Vitale, começava a berrar: “Tem quepedir um tempo, Bobby!” Não pedíamos. Em geral, justamente por essarazão: para ensinar nossos jogadores a pensar, para resgatar o quevínhamos trabalhandoduranteos treinos, desdeoprimeirodia, e aplicaros ensinamentos negativos, os princípios “se não”. Se eu não visse umamelhorarápida,entãoeupediaaqueletempo.EvoudizeraSãoPedroque,emretrospectiva,achoqueminha iloso ianos levouaganharmuitomaisjogosdoqueadeleterialevado(seiqueháalgunscínicosporaíquedizemqueaúnicamaneiradesãoPedroeeunosencontrarmoséseeledescerefizerumpasseiodebarcopelorioEstige).Houveumaexceçãoàminhateoriageraldenãomeapressarparapedir

tempos: os jogos de campeonato. A “loucura de março” da NCAA é umtorneio eliminatório. Não há nadamais doloroso do que uma eliminação.Sempre tentei manter a preparação normal para os jogos durante oscampeonatos, mas se as coisas começassem a icar fora de controle, umpedidodetempofaziasentido.Geralmente,entretanto,aminhateoriaera

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que se você esclarecesse a sua concepção bem o su iciente durante ostreinos, então não precisaria de tempos para reforçá-las. E maisimportante ainda: não tente fazer uma mudança brilhante quando ascoisasestiveremindobem.

Otempotécnicodoúltimoarremesso

Umaindicaçãoaindamaissigni icativaeconsistentedeminhacon iançaemmeus jogadoreseraqueelessabiamque,nossegundos inaisdeumapartida intensamente disputada, eu não queria que eles izessem o quetodososdemaisfazem:pedirumtempoparapensaroquegostaríamosdefazer,armarumajogada...Não!Sevocêconseguirapossesubitamente,comotemposeesgotando,

tem que fazer uma cesta, e você deveria saber,de antemão, o quequeremosfazer:setivertemposu iciente,organizenossaofensivaetenteomelhorarremessopossível.Setiverqueagirrápido,atravesseaquadrade imediato e aproveite que a defesa adversária está desarrumada.Nãopareorelógioparadeixarosadversáriosorganizaremadefesa.Vocêestácomabola,oseutimetemainteligênciacoletiva,todosestãoemtransição:ataque!Essa iloso ia nos levou a ganhar muitas partidas, inclusive um

campeonato nacional. E me rendeu um elogio que sempre prezei muito,por respeitar profundamente sua fonte. Depois de passarmos de umrebotedefensivoaumarremessovitoriososempedirmostempo,nanossapartida inalcontraoSyracuse,em1987,ograndecomentaristaesportivoda televisão Curt Gowdy apertou minha mão e disse: “Você é o únicotreinador que conheço que faria isso com um campeonato nacional emjogo.”Ter coragem é importante. Eu também tinha jogadores inteligentes.

Quandoabarrapesava,euachavaqueelesfariamacoisacerta,porquefoioqueaprenderamafazer.A hora de fazer mudanças substanciais durante o jogo é o intervalo.

Quem pensa positivo conta com a iloso ia do “não entre em pânico”,“estamos indobem,ainda temosvinteminutosnapartida”.Esperaaí,não

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está fácil atéagora, emuitoprovavelmentenãopassaráa icar, anãoserque façamos algumas modi icações. A habilidade de ajustar, de fazermudanças no que você previu de início, é extremamente importante.Agarrar-se a algo que não está funcionando não é a melhor opção paraquempensanegativo.“Saberquandosairandando,saberquandocorrer.”Temos que mudar o esquema do jogo, fazer substituições. Vire o jogo.Ajustaréoutradaquelaspalavrasdevalorincalculávelnumaliderança.

Cavandomaisfundoeencontrandorecompensas

Se você vai enfrentar uma equipe realmente boa, talvez até maistalentosa—nosnegócios,umaempresamaior,maisrenomadaecommaiscapital —, é melhor ter algo diferente no seu planejamento. O falecidoSteve Jobs, da Apple, é um exemplo clássico do líder que não tinhacondiçãoderivalizarcomaMicrosoft,masqueaprendeudeumjeitodi ícil(depoisdeserdemitido)eapareceucomumaideiaquefuncionou.Umpasso negativo importante foi eliminar as dúzias demodelos que a

Apple estava produzindo e focar num número menor, mais limitado, deprodutos que fossem passíveis de anunciar e vender. Ele era umperfeccionista que, certamente, conhecia a lição de cavar o poço maisfundo. Ele também acreditava que, se controlasse todos os aspectos doprocesso de produção— ao invés de terceirizar etapas—, eliminaria asfalhaseosbugsqueconstituemoflagelodaconcepçãodeprogramas.Ora,seiquejáfaleiqueapenasvontadenãobastaparaganharumjogo.

Mas também não é um recurso descartável. Nos minutos inais de umapartida bem-disputada, quando um lance pode de inir tudo e o seu timejogouduro edeu tudode si naquadrapara chegar a esseponto, nãohátreinadorquenãoolhenosolhosexaustos,numcírculodeolhosatentos,ediga:“Chegouahoradecavarbemfundoejogartudooquesabemos,semerros.”Cavemopoçoumpoucomaisfundo,rapazes.Perdiacontadasvezesemquealgunsótimosmeninosfizeramexatamenteissopornossostimes.

Osperigosdoexcessodeconfiança

Não tenho dúvidas de que tanto quem pensa positivo quanto quempensa negativo tem uma vontade muito forte de ganhar. Ambosquerem

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ganhar.Masquempensapositivoetemumagrandevontadedeganhartendea

conferir,noseupensamento,uma importânciademasiadamentegrandeàsua determinação. A determinação de ine muito menos do que apreparação.A “con iança” não é uma dasminhas palavras favoritas... Muitas vezes,

ela é o falso sentimento que você tem antes de entender a situação. AúltimabatalhadogeneralCusteréumexemplohistóricodisso(subestimaroinimigolhefoifatal).A pessoa com um entendimento negativo tem grande oportunidade de

capitalizaravulnerabilidadedemuitagente,porcausadeseupensamentopositivo ilusório sobre o que elas não entendem, ou ações que não têmcapacidade de executar. O jogador de basquete que pensa positivo temcerteza de que pode fazer um passe picado entre dois defensores, oupensa:“Perditrêslancesseguidos,estouacabado!”Eoutroequívocosurgequandoalguémdiz:“Vaificartudobem.”Porquevaificartudobem?Pensar positivo pode levar as pessoas a acharemquenãohánada que

não sejam capazes de fazer bem, se elas se visualizarem fazendo algodireito.TantooMichaelPhelpsquantooMarkSpitz—queeraumgrandenadador em Indiana quando comecei lá—podiam se visualizar nadandomaisrápidodoquetodososdemais,porqueestavamentreosatletasmaistalentosos que já entraram numa piscina. Para o restante de nós,pouquíssimaspessoas são capazesde fazer tudooque seus trabalhosouaspirações exigem. Conhecer as próprias de iciências tem permitido amuitagentedarosmelhorespassosrumoaosucesso.A insegurança pode ter bene ícios intangíveis. Ser capaz de se

autoanalisar e ser crítico de si próprio é muito importante. Você poderealizar coisas surpreendentes se izer perguntas e consultar outraspessoassobreáreasemquevocêprecisaseaperfeiçoar.Reconhecersuasde iciências exige consciência. É ridículo,mas há uns caras otimistas queseguememfrenteachandoquetêmtodasasrespostasporcontadealgumdomdivino,porque jáviramcoisassendofeitascomfacilidadee,por isso,nãoterãoproblemas.Eisoutro“nãofaça”:nãofaçacorpomolenahorade

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arrancarosfrutosdavitóriadasmãosdessescaras.

Conhece-teatimesmo

Entenderas limitações—dosseus jogadoreseas suas—éoprimeiropassoparasuperá-las.Certavez,contaram-meumahistóriadeumhomemde uns oitenta anos que tinha dominado uma arte que admiro: pesca delinha.Eleaindaeramestrenisso.Jábemidoso,entravanumrioe,comummovimento perfeito do punho, lançava o anzol no ponto exato quedesejava, e sua graciosidade e facilidade sempre deixavam seus jovensespectadoresimaginandoqueatletamaravilhosoeledeviatersido.Umdia,eleestavaempénomeiodeumrio,lançandooseuanzoldentro

daágua,quandoouviuumavozquevinhadealgumlugarperto,dizendo:—Ei,melevanta.Sua audição não continuara tão boa quanto sua habilidade de lançar,

então, depois de olhar em volta, sem ver ninguém, ele voltou a fazer oslançamentos,eouviunovamenteavoz:—Eufaleipramelevantar.Estouaquiembaixo.Aosseuspés.Eleolhouparabaixoeviuumsapoenorme.—Porfavor,melevanta,medáumbeijo,evouviraramulhermaislinda

que você já viu. Você vai conhecer prazeres com que nenhum homemsequersonhou,pelorestodavida.Você...Ele pegou o sapo, olhou-o por um instante e o colocou no bolso de seu

coletedepescaria.— Ei—O sapo gritou.—Você nãomeouviu? Eu falei prame dar um

beijo,eeuviroumalindamulher,etedou,pelorestodasuavida,todosostesourosqueumhomemsequersabequeexistem.Elecontinuoulançandooanzol.Avozgritounovamente.—VocênãomeOUVIU?FaleipraMEDARUMBEIJOe...Seu braço fez um arco e mais um perfeito lançamento de anzol foi

realizadoe,semolharparabaixo,eleinterrompeuosapo:—Podeatéser,mas,naminhaidade,euprefiropossuirumsapofalante.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

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Nãoestounemaíparameteorologia,nemparecequevaichover.

Umguarda-chuvanãoétãocaroassim,comparadoaumapneumonia.

Nemsempresepodeacreditarnoponteirodomostrador.Seiquetemoscombustívelsuficienteparachegarmosemcasa.

Lembreàpessoaquedisseissoquandoestiverandandotrêsquilômetrospelabeiradaestradaatéencontrar

umpostodegasolina.

Nãosepreocupe,pai.Aprovavaisermoleza.

Filho,umaideiamelhor:estude.

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O

3Umlimiteaonegativismo

líder—deumaequipedebasquetebol,deumaempresa,ououtro—precisaestabeleceropadrãoaumnívelalto,mastemdereconhecer,

imediatamente, um bom desempenho, bom de acordo com o objetivo doqueoindivíduoéfísicaoumentalmentecapazdefazer.O treinador e o líder devem reconhecer que seus jogadores e seu time

nunca serão bons em fazer coisas para as quais não estão isicamenteaptos. Eles podemmelhorar, como jogadores ou como equipe,mas quasesempre existem algumas limitações ísicas, ou mesmo mentais, que elesnãovãoconseguirsuperar,pormaisdeterminaçãoeforçadevontadequetenham.Naposiçãodojogador,reconheçaaquiloemquevocêébom,oque pode

fazer, e se aperfeiçoe ao máximo. Porém, ao mesmo tempo, reconheça oque vocênão faz bem agora, mas que pode trabalhar, e — muitoimportante—oquesimplesmentenãopodefazer,nemagoranemnunca.Nemtodaforçadevontadedomundopoderáfazeralguémsaltaracimadeuma barra a 2,13m. Enquanto líder, você precisa ajudar as pessoas areconhecereentenderisso—antesdetodososdemais.Agora posso surpreendê-lo com essa ideia. Entre todas essas negativasirmes que colocam as coisas nos eixos, um treinador, ou qualquer outrotipodelíder,jamaisdevedescartarapossibilidadedeserpositivo.Claro que sou um exemplo disso. Minha esposa, Karen, é a melhor

pessoa a me orientar nesse sentido, porque ela tem um grandeentendimento do jogo de basquete, tão bom quanto o de qualquerobservadordequalqueresporte.Umaadvertênciaqueelavive repetindoparamiméqueeunãosejanegativodemais—paraqueeuensineo jeitocerto de fazer, o melhor jeito, o que fazer, mas sem tirar dos rapazes a

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ideiadefazeremomelhorqueelespuderemfazer.Eolíder,nessecasoeu,sempre deveria ser rápido ao louvá-los quando eles izerem as coisasdireito.Évital,aotrabalhardiretamentecomaspessoas,reconhecereenfatizar

comoelassãoboasnaquiloquefazemmelhor.“Vocêépreciosoparanossotime quando faz isso,mas, quando começa a se desviar do que faz bem,então se torna mais um risco do que uma garantia.” Não é nenhumavergonhaserrealmentebomnumacoisaenãosertãobomnoutra.Reconhecimentoeeliminaçãodoquenãopodeser feito:esseéopoder

extraordináriodopensamentonegativo.Por exemplo, trabalhei durante três anos em Indiana com John Pont, o

treinador de futebol americano, e nunca conheci, em toda a minha vida,alguémmais otimista que ele: grande sujeito, divertidíssimo, apresentou-me a algumas pessoas que se tornaram amigos valorosos enquanto mefirmavaemIndiana.Umotimistaetanto!Pessoas como o John são a razão pela qual não quero que isso seja

considerado uma guerra contra os otimistas, pura e simplesmente. Johnmorreu aos oitenta anos, em 2008, e eu adorava aquele cara. Jamaisteríamos nos conhecido se ele não fosse um otimista incorrigível, porqueuniversidades como a Indiana jamais teriam um treinador de futebolamericanosenãohouvessegenteporaíqueolhaparaumasituaçãoevêesperançaondetudoindicaqueosucessoéimprovável.John conseguiu fazer as coisas funcionarem durante algum tempo. Em

1967,seuterceiroanoemIndiana,apósumacampanhacomduasvitóriase oito derrotas e outra com uma vitória, oito derrotas e um empate, elemontou uma equipe que contava com uma defesa de veteranosdesconhecidos e uma linha ofensiva composta por jogadores mais novosbrilhantes—garotos irrepreensíveisnasposiçõesdedestaqueequenãotinham sido condicionados a perder. Com margens de um, dois, três ouquatro pontos, eles en ileiraram oito vitórias consecutivas no início datemporada, acumulando pontos su icientes — geralmente nos últimossegundos — para que aquela brava defesa, quase despercebida, seintegrasseaoataquenasvitórias.Derepente,eleschegaramaogrupodos

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dezmelhores times e icaram à frente na temporada ao desbancar umadas melhores equipes de Purdue, cidade rival, e participaram do RoseBowl1—naúnicavez,nahistóriadaUniversidadedeIndiana,emqueissoaconteceu.Foi emPasadena, berçodoRoseBowl, que toda essa história dopoder

dopensamentonegativocomeçou,efoiootimistaJohnquemafezsurgir.Naturalmente, ele era o queridinho da mídia da Costa Oeste quando

chegoucomsuaequipeparaasemanadepreparaçãoantesdojogo.Numadas coletivas de imprensa, perguntaram a John como ele conseguiuconvencer aquelas jovens estrelas do seu ataque a virem para um timecomohistóricodeperdasdoIndiananofutebolamericano.— Falei a verdade para eles. Sim, vocês podem ir a outros lugares e

ganhar. Mas se vierem aqui e ganharem, icam na história. Vocês setornarãoheróisparaorestodavida,serãoosnomesassociadosàgrandeviradadoIndiana.—Mas,John—disseumjornalistadofundo—,vocêfalou:“Venhajogar

conoscoporque ainda não ganhamos.” Como você pode esperar quealguémtopealgoassim,tãonegativo?ArespostasuaveeclássicadoJohn:—Asempresasvendemsegurotodososdias.Pare e pense nisso. É exatamente isso que uma apólice de seguro

signi ica: o reconhecimentodeque,pormaisque sejamospositivos sobrenósmesmosetudooquenoscerca,arealidadeéquecoisas inesperadasacontecem,eémelhorestarmospreparados.Johnfezoinesperadoacontecer.E o que ele disse àquelesmeninos que levou à cidade de Bloomington

acabou se revelando absolutamente verdadeiro. Ao conversar sobre oRoseBowlcomqualquermembrodoBigTen(asprincipaisuniversidadescompetidoras), você temque serbemespecí ico:qual ano,qual time?EmBloomington, o Rose Bowl representa um ano, uma equipe: aquelatemporadaalucinadaeexultantede1967.Ponto inal.Eosnomesdaquelaequipesão,sim,heróishistóricosdofutebolamericanodeIndiana.

Opoderdopensamentonegativoempoucaspalavras

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Tem outra frase de que gosto muito, de Ronald Reagan— presidentenorte-americano do sorriso característico, o sujeito amigável conhecidocomo o “Grande Comunicador”, cujo lema nas negociações diplomáticasera:“Confie,masverifique.”Ora, essa é a minha ideia da personi icação do poder do pensamento

negativo.

Aschancesestãocontravocê

Há uma espécie de otimismo típico de corridas que pode encontrarespaçonomundoreal.Apostaremsucessosa longoprazoéumexemplo,quer se tratemde cavalos ruinsou carros ruins. Sim, alguns chegam lá erendemgrandesprêmios.Masnãocomfrequência.Existeumarazãoparaessaschances remotas.Amaiorpartedo tempo—aenormemaioriadasvezes, com chances de 50 contra 1— desa iar os grandes favoritos comumaapostaouuminvestimentoéjogardinheirofora.E o conselho subsequente, que você não ouve só nas pistas — “Da

próximavez,dobreaapostaerecupereoseudinheiro”—,éumamaneiraquase certa de acabar duas vezes mais encalacrado (pre iro o ditado“Quandovocêestáafundandonumburaco,paredecavar”).Háumavelhamáximadetreinadoresquevourepassarporqueseaplica

aqui:jogadasburrascostumamserseguidasdejogadasaindamaisburras.Investimentos burros que se repetem são investimentos duplamente

burros.Comoseucorretorounegociadordeapostas, jamaisesqueça: elesganham dinheiro na transação, não importa o que aconteça— esse é osegredo de toda jogatina.Você joga, a casa não, porque ela fatura naporcentagemmultiplicadapormilharesdelancesdedados.As chances nos jogos de azar são limitadas até no nível mais simples.

Pensenosjogosdebingo:quemficaricoéacasaouosjogadores?A frase de P.T. Barnum, “nasce um otário a cada minuto”, deveria ser

incluídanodicionáriocomodefiniçãode“apostaremjogosdeazar”.Participarde jogosdeazar—oconceitoeapráticadisso—causauma

repugnância particular no basquete universitário. O maior escândalo nahistóriadesseesporteestourouquandoeuaindaeracriança:adescobertadas partidas de resultados combinados, que avassalaram Nova York no

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início dos anos 1950 e vieram à tona, envolvendo algumas importantesinstituiçõesdebasquete.Eu estava no quinto ano, em 1951. Nessa época, meu pai já tinha me

sabatinado para eu nunca me meter em jogos de azar — NUNCA. Essaideia sempreme acompanhou, porque ele foi extremamente irme nesseponto. Namedida em quemeu interesse pelo basquetebol foi crescendo,iquei sabendo da má reputação das partidas armadas para favorecerapostadores,nobasqueteuniversitário.Entãopasseiaser treinador,e fuipara a região metropolitana de Nova York com minhas equipes daAcademiadeWestPoint.ConheciClairBee,brilhantetreinadorcujaamizadetornou-se,paramim,

um privilégio duradouro, pois iquei tão próximo dele quanto um ilho.Alguns de seus jogadores da Universidade de Long Island foramvinculados ao escândalo do início dos anos 1950 — embora o própriotreinador Bee, e os outros treinadores, não tenham sido envolvidos. Mastodos os treinadores dos jogadores denunciados icaram chocados eincrédulosdequealgoassimpudesseacontecerdentrodesuasequipes.Por mais que um treinador observe atentamente tudo o que ocorre

duranteumjogo,pormelhorqueseja,elenãotemcomodetectaratrapaçada manipulação dos resultados, sobretudo porque não poderia prevê-la,atribuindoos erros cometidosnaspartidas a bobagensqueos jogadores,às vezes, fazem mesmo durante um jogo, até os melhores — coisasabsurdas,masnãointencionais.Clair Bee e Joe Lapchick eram treinadores de universidades de Nova

YorkqueeureverenciavanosmeusdiasdeWestPoint.LapchicktreinavaoNewYorkKnicksquandoestourouoescândalo,mastrabalhouporcurtosperíodosnaUniversidadeSt. John, antes edepoisdesseacontecimento, e,portanto,conheciabemobasqueteuniversitário.Quandooescândaloveioà tona, ele constatou os estragos. Organizou um arquivo com recortes dejornalatéseaposentar,no imdadécadade1960.Criouohábitodepegaressearquivoemostrá-loaosseus jogadores todososanos, comoavisodequetudooquehádebomnavidadobasquetepodedesaparecer.Quando morreu, em 1970, sua esposa me presenteou com o arquivo,

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porquedissequeeueraumdos técnicospreferidosdele.EunãopoderiaterrecebidoumalembrançamaispreciosadotreinadorLapchick,porqueseioqueessearquivosignificavaparaele.Tudo isso reforça comome sinto diante de apostas e jogos de azar. Foi

umgrandeexemplodecomo,naminhaprópriacriação,meupairealmentesabia tudo. Quando você aposta em jogos de azar, já sai perdendo antesmesmodeconheceroresultado.

Umverdadeiroespecialistaemvitórias

O tempo passa na história do basquete universitário, mas um jogadordiscreto,emborafamoso,teveumefeitoduradourosobreamaneiradesejogar basquete. E não se trata de um treinador. Foi uma estrelamodestachamadaBillRussell.Bill era um jogador alto, que não arremessava muito bem, e que foi

cortadodotimedaEscolaMcClymonds,emOakland,quandoaindaestavanosegundoano.MasnaUniversidadedeSãoFranciscoliderousuaequipenacampanhadotítulodaNCAAde1955,natemporadade1955-1956—oprimeiro campeonato invicto da história da NCAA. Nesse período, eleintroduziunobasqueteaartedobloqueiodisciplinado:nãosomentedandotocos e jogando a bola longe, mas reagindo a um arremesso tãorapidamente,ebem,queabolaémantidaemjogoeemcondiçãodeiniciaruma posse ofensiva, frequentemente um contra-ataque. Antes de BillRussell,nãohaviasequerumacolunaparaarremessosbloqueadosnumatabeladeestatísticas;nãoháregistrosindividuaisouporequipeparaessetipodeestratégiaantesdesuachegadaaoesporte.Suaaltura, sua forçaeseu tempodebola também izeramdeleumdos

maioresjogadoresemrebotedefensivodetodosostempos,eeleaindafoipioneironodesenvolvimentodopasselongoparaaquadradeataque.Comoseissonãobastasse,Russelltambémjogavapensandoemganhar

—nuncasepreocupandocomospontos, comasestatísticas, somenteemganhar.Enissoeleestámuitoalémdoalcancedetodosquejájogaramumesporte coletivo: começando com esses dois campeonatos NCAA em SãoFrancisco, continuando com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos deMelbourne, em 1956, e passando por 11 campeonatos da NBA (National

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Basketball Association, principal liga de basquetebol pro issional norte-americana).Duranteumacarreirade13anosjogandopeloBostonCeltics,Bill Russell esteve em equipes que ganharam 14 campeonatosimportantes,em15anos.Ninguémmais,emqualqueresporte,chegapertodisso. E esse é um sujeito que atuava num esporte que idolatra osarremessadores, não sendo ele próprio um bom arremessador: era umexcelentejogador,masnãoumgrandearremessador.

Atéganharenvolverisco

Por mais quemeu treinamento tenha focado a vitória, sei que atéesseobjetivotemseusperigos.Osucessopodeser,porincrívelquepareça,umdosmaioresproblemasqueumtreinadoroulídertemqueenfrentar.Em abril de 2011, a revistaHarvard Business Review dedicou todo um

número mensal ao tema do fracasso — obviamente, o polo oposto dosucesso. Mas num artigo dessa edição intitulado “Por que os líderes nãoaprendem com o sucesso?”, os autores, Francesca Gino e Gary P. Pisano,citaram algo semelhante ao “viés otimista” de Tali Sharot. Uma dasprincipaisrazõespelasquaisosucessopodeproduzirresultadosnegativosalongoprazodeve-seaoquecaracterizao“viésdoexcessodeconfiança”:O sucesso aumenta nossa autocon iança. A fé em nós mesmos é umacoisa boa, claro, mas, em excesso, pode nos levar a crer que nãoprecisamosmudarnada.No artigo, Gino e Pisano classi icaram o “viés do excesso de con iança”

em segundo lugar numa lista de três empecilhos que o sucesso podecolocardiantedeumaempresa.O primeiro [empecilho] é a tendência a cometer o que os psicólogoschamam de “erros fundamentais de atribuição”. Quando somos bem-sucedidos, tendemos a concluir que nossos talentos e nossomodelo ouestratégiaatualsãoarazão.Damospoucocréditoàimportância(...)queeventoscircunstanciaispodemtertidonoresultado.

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E:

O terceiro empecilho é a “síndrome da incapacidade de perguntar porquê?”— a tendência a não investigar, sistematicamente, as causas daboaatuação.Quandoexecutivosesuasequipessofremdessasíndrome,eles não fazem as perguntas di íceis que os ajudariam a expandir seuconhecimento ou alterar suas suposições quanto a como o mundofunciona.Quase sempre cuidamos de descobrir por que perdemos, ou falhamos.

Raramenteostreinadorespensamemporqueganharam,mastrata-sedeumaperguntaigualmenteimportante,igualmenteinstrutiva.Porquê?Casoencerrado.

Oquê?Preocupação?

Outra publicação,BottomLinePersonal, no númerode 15de agosto de2011, lançou nova luz sobre o que contribui para a saúde duradoura. Acapadarevistacontinhaaseguintemanchete:“Preocupar-seajudavocêavivermais.”Oautor,HowardS.Friedman,professordepsicologiadaUniversidadeda

Califórnia, com doutorado e renome, referiu-se a um “estudorevolucionário que acompanhou 1.528 norte-americanos, desde a tenrainfânciaatéamorte”,erelatou:Muitosdosconselhoshabituaisparaseviverumavidalonga—relaxeenão trabalhe demais — sãoequivocados... O estudo revelou que aspessoas que planejam e se preocupam tendem a se manter maissaudáveis e vivas pormais tempo do que as que não o fazem; e que otrabalhoduroeseusubsequenteestressesão,naverdade,benéficos.Eisoque,defato,estendeavida:serconsciencioso.Aspessoasquesãodetalhistas,responsáveiseorganizadasvivemmais

tempo do que as que não o são... As pessoas conscienciosas são mais

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prudentesemseushábitospessoais...Um mito: as pessoas que são realmente alegres tendem a ser mais

saudáveis e longevas do que as que veemomundo sem lentes cor-de-rosa. No estudo, as pessoas que eram descritas por seus pais comoextraordinariamente alegres e despreocupadas tendiam amorrermaiscedodoqueseusparesmenosotimistas.Vocêdiz“preocupe-se”,eudigo“pondere”.Vocêdiz“consciencioso”,eu

digo “prudente”. Você diz “quem é excessivamente otimista pode sesentir tão invencível que não toma precauções sensatas”. Eu digo quevocêtemrazão.Eis minha iloso ia, desde o início de minha carreira como treinador,

perfeitamentetranscrita.Osujeitoquesabetudoaoentrarnumjogo—ounuma prova, ou num desa io — em geral esquece tudo diante de umacrise.Em outras palavras: a preocupação tem perdidomuitomenos jogos do

queoexcessodeconfiança.

Apenasfaçaoseutrabalho

Todos corremos o risco de querer receber um tapinha nas costasquandoalcançamososucesso,portermosfeitonossotrabalhotãobem.Pareepensenisso.Seráquenósnão temosque fazê-lobem,outãobem

quantopossível?Jamais pedi aumento de salário depois de ganhar um campeonato

nacionalouregional.Tambémsupusquenãoteriaumareduçãodesaláriocasonãoganhasse.Percebi que minha linha de pensamento estava fora de moda, havia

muito tempo, quando iquei chocado ao ler que um contrato de umtreinadordefutebolamericanodeníveluniversitário ixavaseusalárioemmais de US$600 mil. E se ele ganhasse nove jogos receberia US$16 miladicionais. Eu pensei: por que meta estão pagando a ele os primeirosUS$600mil?Nãoestamosmuitolongedeacrescentarumzeroàdireitadessetipode

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contrato— um salário dez vezesmais alto, de US$6milhões por ano; osvaloresjáultrapassamosUS$5milhões.EapostocomoatéessescontratosdeUS$5milhões,pormaisabsurdamentealtosquesejam,tambémincluembônusporvencercampeonatos.Repito:paraqueraiosseráqueelesrecebemsaláriostãoaltos?Não vou nem entrar no mérito dos contratos, hoje comuns, que dão

milhares de dólares adicionais se o treinador formar seu time com osmelhores jogadores da classi icação nacional. Ou se certo percentual dosrapazesdaequipeseformar.Quandoaprimeirasituação—comoseusjogadoressãoclassi icadospor

autoproclamadosespecialistas—easegunda—seusjogadoresestudameseformam—deixaramdefazerpartedaresponsabilidadedotreinador,edeixaram de ter importância para quem era responsável, eu soube quetinhatrabalhadotempodemaiscomotécnicodebasqueteuniversitário.Tudo isso temavercomoqueeudizia sobre fazero seu trabalhosem

esperarportapinhasnascostas.Eu sempre disse aos meus jogadores: não esperem que eu dê um

tapinhaamistosonassuascostas; iquepreocupadoseeutederumchutena bunda. Coisas boas vão acontecer se jogar com inteligência e esforço.Você não está aqui, bene iciando-se de uma bolsa, para perder. Não orecruteiparaperder.Perdernãoénormal;perdernãoé comum;perdernãoéaceitável.Nãoéparaissoqueestamosaqui.Estamosaquiparajogardaformamaisinteligente,parajogaromáximopossível.Ganharvemdisso,eéissoqueconsideroaceitável.Euacreditavanisso.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Aquelesinaldetrânsitoficavermelhotempodemais.

Nãoportantotempoquantoalanternadeumguardadetrânsito.

Quecachorrinhofofinho.

Equedentesafiados.

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Háummotelmaisadiantenaestradacomquartossempredisponíveis.

ApalavraquevocêprecisaaprenderéRESERVA.

Tenhafédequetudovaidarcerto.

Arranjeumbommédico.

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N

4Maioresnegativasdahistória,

começandopelaBíblia

ão sou cara de pau a ponto de colocar Deus como partidário dopensamento negativo. Mas você já percebeu que sete dos Dez

Mandamentos começam com “não”? Não matar, não furtar, não pecarcontraacastidade,nãocobiçar...todosos“nãos”estãobemevidentes.Eostrêsrestantestambémpoderiamtersidoredigidosnanegativa.Indoaindamaisalém:asprimeirascoisasquenossospaisnosensinam

sãoasquenãodevemserfeitas.

Nãoatravessearuasemolharparaosdoislados;Nãováparaacamasemantesescovarosdentes;Nãoseesqueçadefecharabraguilhadacalça;Nãoseatrevaachegaratrasadonaescola;Não arrume encrenca com o professor, ou terá o dobro deencrencaemcasa.

Não fazer também funcionamais tarde na vida. O primeiro passo para

obterumbomempregoéeliminarasrazõespelasquaiscorreriaoriscodenão ser contratado. Se não ultrapassar o limite de velocidade, vocêconsegue fazer o carro durar mais e evita pagar multas. E pense emquantasvidasteriamsidopoupadasseaspessoastivessemdecididodizer“não!”aocigarroantesdeadquiriremessehábitoterrível.

Nãofazertambémfuncionanaliderança

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Paraquemquerserumlíder,eismeusprópriosDezMandamentos:

I.Nãoaceiteostatusquo.Busquealgomelhor,enquantoosoutrosjásesentemsatisfeitos.

II.Semprefaçaperguntas,eamelhordelasé:“Porquê?”III. Preocupe-se sempre. Se não conseguir se preocupar com

algumacoisa,preocupe-secomoexcessodeconfiança.IV. Encontre o que precisa ser melhorado, ou hábitos ruins que

devemsereliminados.Nãobebamuito,nãofumenunca,dadososriscoscomprovadosdecâncer.

V. Não aja sem provas nem compre sem veri icar os detalhes;antes de ir a entrevistas de emprego, elimine todas as razõespossíveisparanãosercontratado.

VI. Seja cético, descon iado. Em toda teoria, busque provas.Verifique.

VII. Faça seus jogadores ou seus empregados trabalharem emconjunto; encoraje-os, desa ie-os, inspire-os, mas deixe bemclaro que “tudo como antes”não é aceitável. Quando elesdisserem “o chefe nunca está contente”, considere isso umelogio (ouvi essa de um jogador domeu time, certa vez: “Elenãovai icarcontenteatéagenteacertar todososarremessosemassacrarooutrotime.”Elenãomeconheciabemobastante.Eles só precisavam ser alunos nota dez e nunca desperdiçarumapossedebola).

VIII. Jamais imagine que apenas o talento poderá determinar oresultado, seja num jogo contra um adversário ou numatransaçãodenegócios.Planejee treineasuaequipeparaqueelacometamenoserros.

IX. Não fale demais. Lembre-se disso quando estiver conversandocom os seus adversários, no esporte ou numa operação devendas.Nãohálugarparaautopromoçãoeostentação:deixeosseus produtos ou a sua atuação falarem por você. Odeioquando treinadores ou jogadores se gabamde seu time antesdeumgrandejogo.Issoincentivaoadversário.

X. Jamais deixe de buscar ideias novas. Seja autocrítico com suas

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convicções quando outras fornecerem alternativas possíveis.Lembre-se de que você não é o inventor da roda ou dainternet. Aprenda com a sabedoria dos outros, ouça quem játem estrada, como o dramaturgo George Bernard Shaw, quediz: “Algumas pessoas veem as coisas como são e perguntam‘por quê?’. Eu vejo as coisas como poderiam ser e pergunto:‘Porquenão?’”

Shawteriasidoumgrandediretor-executivo.Eletambéméoprotagonistanumademinhashistóriasfavoritas.Quando

uma peça dele estava prestes a estrear em Londres, Shaw enviou aWinstonChurchillumconviteparaaprimeiraapresentação—naverdade,doisconvites,paraqueChurchillviessee“trouxesseumamigo,setivesse”.Churchill agradeceu e respondeu que não poderia estar presente naestreia,acrescentando:“Ireinasegundanoite,setiver.”

Oprimeirotreinadordahistória?

Jábemnoiníciodeminhacarreiradetreinador,tomeiconhecimentodosensinamentosdogeneralchinêsSunTzu,dequefaleianteriormente,edeseu livroA arte da guerra . Percebi logo como o seu pensamento prático,quatro séculos antes de Cristo, adequava-se tão bem às técnicas detreinamento.Porexemplo:Os bons lutadores d’antanho colocavam-se, primeiramente, além dapossibilidade de derrota, e, então, aguardavam por uma oportunidadeparaderrotaroinimigo.E:A oportunidade de nos assegurar contra a derrota está em nossasprópriasmãos,masaoportunidadedederrotaroinimigoéprovidapelopróprioinimigo.Uma iloso ia bem simples: encontre maneiras de deixar o adversário

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derrotarasimesmo.

P.S.—Iniciaisdeoutrotreinadordetemposremotos

PoucosséculosdepoisdeSunTzuviveuPúblioSiro,umromanoquenoslegouditadossábiosqueperduramhámaisdedoismilanos.Porexemplo:“Seixoquerolanãocrialimo.”Naminhaposiçãodeconselheirotécnico,gostavaaindamaisdeste:“Quandovocêperdoaumaofensa,encorajamuitasoutras.”Etambém:“Nadapodeserfeitocompressaeprudênciaaomesmotempo.”“Qualquerumpodesegurarotimãoquandoomarestácalmo.”“Existemremédiosquesãopioresdoqueasdoenças.”“Apráticaéomelhordetodososinstrutores.”Oúltimoditadoémelhordoque“apráticalevaàperfeição”,porqueaqui

sepresumequeaprática,emsi,éboa.Apráticaéomelhordosinstrutoresse a pessoa que orienta a atividade souber que raios está fazendo.Melhorias,sobretudorumoàperfeição,sósãoconseguidasseapráticaforexigente, bem-concebida e construtiva, e se o treinador entender que aperfeiçãoabsolutaéinatingível—emborasejaoobjetivoconstante.EnãoésónotreinamentoqueaseguintefrasedePúblioSirofunciona:“Jámearrependidemeusdiscursos,nuncadomeusilêncio.”Essaéoutramaneiradedizer:“Vêseaprendeacalaraboca.”DetodasasfrasesdePúblio,estadeveseraminhapredileta:“Umplanoquenãoadmitemudançaséumplanoruim.”Todo empreendimento de sucesso começa com um plano. Aceite que

certas coisas não funcionam.Ajustar é uma ótima palavra. Por mais quetenhapensado e planejado algometiculosamente, um líder e iciente deveestarsempreprontoedispostoafazerajustes.Aprendi bem rápido, nos meus primeiros dias como técnico no time

masculino do Exército, que o título de treinador de basquete não tinhamuito prestígio emWest Point. Quando eu telefonava para um o icial daAcademia, o caboque atendia à ligaçãoperguntava: “Quemgostaria?”Deinício, eu respondia: “Bob Knight, o treinador de basquete.” A resposta,invariavelmente, era algo como: “Ele não está disponível no momento.

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Liguemaistarde.”Até que um dia li que havia 450 generais na ativa à época, e pensei:

“Eisenhower e MacArthur não poderiam conhecer todos eles.” Dei umaolhada na lista dos ativos, veri iquei os nomes, e escolhi um que nãoconstava.Então,inventeionúmero451.Daliemdiante,passeiafazerminhasligaçõesdizendosecamente,aoter

que me identi icar: “General Webster.” Eu ouvia um “sim, senhor”, econseguiafalarcomquemqueria.Ajustaréumapalavradeimportânciavital.

Porfalaremcitações...

Já notei que aqueles considerados os maiores discursos da históriainstameinspiramdemaneira,muitasvezes,negativa.Talvez o discurso mais importante feito nos Estados Unidos, e um dos

favoritosdopaís,sejaodeLincoln,emGettysburg.Eletempoucomaisde230 palavras, inclusive várias negativas, mas, no entanto, é uma dasmaiores declarações de nossos princípios positivos do governodemocrático.Mas, numa visão mais ampla, NÃO podemos dedicar, NÃO podemosconsagrar,NÃOpodemossanti icareste local (...)Omundomuitopoucoatentará,emuitopoucorecordará(...)esseshomensNÃOmorreramemvão (...) e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamaisdesapareçadafacedaTerra.O discurso inaugural de Franklin D. Roosevelt usou duas vezes uma

imagem negativa para registrar, de maneira memorável e histórica, seupontodevista:“Aúnicacoisaqueprecisamostemeréoprópriotemor.”OdiscursoinauguraldeJohnF.Kennedyélembrado,sobretudo,por:“NÃO pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que

vocêpodefazerpeloseupaís.”Dois dos mais respeitados presidentes norte-americanos, George

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Washington e Dwight Eisenhower, não são, de fato, lembrados pordiscursos proferidos enquanto exerciam o cargo, mas são reverenciadoshojeporsuasdespedidasproféticas.Omaismemorávelnessasdespedidasnão foram as demonstrações de euforia ou otimismo pelo país, mas suapreocupação,suasadvertênciasquantoaosperigosaseremvigiados.

Opresidente“pai”presciente

O discurso de despedida de George Washington — que não erarealmente um discurso,mas um documento de seismil palavras enviadoao Congresso em seus últimos dias na presidência — é comentado,sobretudo,porseuavisocontraoenredamentoemaliançasinternacionais,oqueerapertinenteparaajovemnaçãoestadunidensedeentão,equesetornou aindamais relevante uns duzentos anos depois. Formados com avisão preventiva de Washington, como deve se sentir o povo americanoquantoaoVietnã, ao Iraque, aoAfeganistão?Seuconselhonegativo sobrealiançasinternacionaisembaralhadaspermaneceumalertamuitopositivoparaanaçãonorte-americanahoje.Washington também fez um alerta contra o conceito geral de partidos

políticos.Novamente,eleestavamaisdeduzentosanosàfrentedamaioriadoscongressistasdemocrataserepublicanos:Odomínioalternadodeumafacçãosobreaoutra,aguçadopeloespíritode vingança, natural das rivalidades partidárias, (...) é, em si, umdespotismo temível (...) Ele serve, sempre, à distração dos conselhospúblicos e ao enfraquecimento da administração pública. Agita acomunidade com invejas infundadas e alarmes falsos, instiga aanimosidadeentreaspartes(...)Ele viu essas ameaças ao bom governo até mesmo sem conhecer as

despesas atuais com as campanhas eleitorais. Apenas em campanhaspresidenciais, o que é mais perdulário do que os milhões de dólareslevantados e gastos já nas prévias? Tudo indica que, hoje, osverdadeiramentemelhores emais brilhantes líderes nacionais potenciais

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não têm nenhum apetite para entrar na corrida dos longos meses dasprévias, levantando e gastando todos aqueles milhões, exaurindo odinheiroeasipróprios,tendosuascarreirasdissecadasejogadasnalama.Então,ovencedor “sortudo”quesurgenooutonoestá tãoenlameadoporseus rivais das prévias que o outro partido só precisa lançar mão dealguns trechos sobre o que os “amigos” do partido que ganhou disseramsobre ele ou ela. Um sistema e tanto, depois de mais de 230 anos deevoluçãodademocracia.Tenho duas sugestões que não têm nenhuma chance real de serem

colocadas em prática, mas que vale a pena levar em consideração.Primeiro, que sejam instauradas reuniões secretas para decidir ocandidatodecadapartido.Segundo,quesealtereaConstituição,a imdeque o presidente tenha um mandato de seis anos, sem possibilidade dereeleição.Assim,opresidenteeleitonãopassaráosprimeirosquatroanosdomandato preocupado com a reeleição, enquanto a oposição se esforçapara“enfraquecer”opresidente,comoalertouGeorgeWashington.

Asadvertênciasdedespedidadooutropresidente-general

Depois foi a vez do presidenteDwight Eisenhower.No seu discurso dedespedida do segundo mandato, em 1960, um dos grandes generais deguerradosEstadosUnidosfoioprimeiroausarotermo“complexomilitar-industrial”, ao alertar contra a inabilidadedo governo civil americano emcontrolarapoderosaaliançaentremilitaresegrandesempresas.As crises continuarão a existir (...) há uma tentação recorrente de seachar que uma ação espetacular e custosa poderia se tornar a soluçãomilagrosaparatodasasdi iculdadescorriqueiras(...)Mascadapropostadeve sermedida à luz de um entendimentomais amplo: a necessidadede manter o equilíbrio nos programas nacionais (...) Nossos esforços,recursosemeiosdevidaestãoemjogo;assimcomoaprópriaestruturadanossa sociedade. Devemos nos precaver contra in luências indesejadas,consentidas ou não, provenientes do complexo militar-industrial (...)Apenasumacidadaniaalertaeconscientepodecompeliroentrelaçamento

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adequado da grande maquinaria industrial e militar de defesa com osnossosmétodoseobjetivospacíficos.Mantenha em mente: um general do Exército disse isso. Eu poderia

acrescentarqueumpaísdeveseorgulhardeseusmilitares,pelacoragemdeseussoldados,masdeveriaterumavisãomuitonegativadodesperdíciodeseusrecursosemguerrassemsentido,queacabamcustandobilhõesdedólares e causam indizível pesar nas vidas de suas tropas e de suasfamílias.

Palavrasquejamaisenvelhecem

O trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos maisamadodiz:Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas: que

todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certosDireitos inalienáveis,entreosquaisestãoaVida,aLiberdadeeabuscadaFelicidade.E,maisadiante,diz:(...)semprequequalquerformadegovernosetornenefastaatais ins,

cabeaoPovooDireitodealterá-laouaboli-laeinstituirnovogoverno.Aqui não há nenhuma tolerância aostatus quo. Ninguém olhando para

cima,esperandoqueosolbrilhepara todosamanhã.Seumaorganizaçãoestáfracassando,éprecisoconsertá-la.Éhorademudar.Odiscursomais famosodeShakespeare, talvezodiscurso fúnebremais

conhecido de toda a literatura, é o deMarco Antônio no funeral de JúlioCésar. É uma sátira clássica, que coloca em cena negativa após negativa,desde o início: “Vim enterrar César, não louvá-lo” — e suscita ódio aosconspiradores Brutus e Cássio, com constantes referências sarcásticas a

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eles como “homens honrados”. Esse discurso é, também, uma declaraçãode indignação contra a facilidade com que perdemos nosso julgamentocoletivo e permitimos que ele seja minado por “bestas brutais”. Eis umaverdadeiraodeaoceticismoeàverificação:Omalpraticadopeloshomensperduradepoisdeles;Obemquefazeméenterradocomosseusossos;QueassimsejacomCésar.OnobreBrutusdisseavocêsqueCésareraambicioso:Seassimfora,pesadaseriaafalta;EpesadofoiopreçopagoporCésar.Aqui,pelasmãosdeBrutusedosoutros—PoisBrutuséumhomemhonrado;Eassimsãotodoseles,todoshomenshonrados—VenhoparafalarnofuneraldeCésar.Eleerameuamigo,fielejustocomigo:MasBrutusdizqueeleeraambicioso;EBrutuséumhomemhonrado(...)NãofaloaquiparadiscordardoqueBrutusfalou,Masvimfalardoquesei.Todosvocêsjáoamaram,enãosemrazão.Qualarazãoqueosimpede,agora,deprantearsuamorte?Oh,julgamento,estásnasmãosdebestasbrutais,Eoshomensperderamarazão!—Ouçam-me;Meucoraçãoestánocaixão,ali,comCésar,Edevosilenciaratéqueeleretorneparamim.

Diretamente da Bíblia, das páginas da história, de Shakespeare, as

grandesmensagens, os grandes ensinamentos, os grandes conselhos, atéas grandes lideranças provêm, frequentemente, de uma perspectiva

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negativa ou cautelosa.No entanto, nada tencionava oferecer uma soluçãonegativa.Pelocontrário.Oobjetivosemprefoiconstruirfortesparadesviardas balas, detectar logo escaramuças, evitar contratempos, enquanto seresisteajulgamentossabotadosporemoçõesequivocadasounecessidadesegoístas.Foi Abraham Lincoln quem levou o alerta deMarco Antônio um pouco

mais além, ao dizer: “Você consegue agradar algumas pessoas o tempotodo, e todas as pessoas por algum tempo, mas não consegue agradartodas as pessoas o tempo todo.” Essa foi uma projeção brilhante dafraquezainerenteànossasociedade,naqualospolíticosabandonamsuasresponsabilidades de liderança para tentar angariar favores, dinheiro evotos, lendo as sondagens e se acorrentando aos desejos semprecambiantesdeseuseleitores.EstaéumaúltimahistóriaparailustraroavisodeLincoln:Nocaminhodomercado,umvelhoeseunetinhoencontramumhomem

vindonadireçãooposta.Odesconhecidodiz:—Velho,osenhordeveriacolocaroseunetinhonolombodeseuburro.Entãoovelhocolocaonetomontadosobreoburro.Elesprosseguem,são

paradosnovamente,eoutrohomemdiz:—Garoto,vocêdeviadeixaroseupobreavôandarnoburro,enquanto

vocêpuxa.Entãoelestrocamdelugar,prosseguemmaisumpouco,esãomaisuma

vezparadosporumhomemquelhesdiz:—Vocêsdoisdeveriammontarnoburro.Então ambos montam e continuam na direção do mercado. Encontram

umquartohomemquediz:—Ei, vocês aí, não émuito caridoso estarem ambosmontados e sendo

umfardotãopesadoparaessepobreburro.Então eles saltam e prosseguem mais um pouco, até que um quinto

homemdiz:—Sabemdeumacoisa,vovôenetinho,achoqueesseburroestámuito

cansado.Vocêsdeveriamcarregá-lo.Entãooavôeonetolevantamoburroeovãocarregandopelocaminho.

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Quando estão atravessando uma ponte sobre um rio, o velho escorrega,elesperdemoequilíbrio, caemeacabamdeixandooburrocairdaponte,dentrodaágua,eeleseafoga.Oqueexempli icaa ideiadeLincoln:Sevocê tentaragradara todos, vai

acabarfazendopapeldeburro.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Estescigarrostêmfiltro.Ouvidizerquesãoseguros.

Evocêvaiconhecergenteextremamentesimpáticaquevaifumá-losnaaladospacientescomcâncer.

Vouconseguirpassarnosinalamarelo.

Eomotoristadaqueleenormecaminhãovindopelaruatransversaltambémdecideseanteciparaosinalverde.

Nestaépocadoano,ogelonestelagoaguentaatéopesodeumcarro.

Antigoprovérbioindígena:aoatravessarumlagocongelado,nuncavánafrente.

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A

5Napoleão,Hitlereoutrospensadorespositivos

credito que, no basquete, o técnico que se meter a visualizar boasperspectivas, desenvolver “imagens positivas”, corre o risco de nem

sequer pensar na possibilidade de perder. Ele tende a negligenciar osproblemasparaosquaisprecisasepreparar.O treinadorquereconheceapossibilidade, talvezaté, emdeterminados

casos, a probabilidadedeperder, trabalha commuitomais a inco.Omeuexemplo preferido disso provém da minha habilitação na faculdade, emhistória, e não de um livro de recordes de basquete: é a eleiçãopresidencialnorte-americanade1948.HarryTrumaneraovice-presidente.SenadordesconhecidodoMissouri

quandoFranklinRooseveltoescolheuparaocargo,em1944,foiohomemque assumiu a cadeira de Roosevelt — quando o presidente popularmorreunoterceiromêsdeseuquartomandato.Adecisãosobreabombaatômica e a vitória inal contra a Alemanha e o Japão ocorreram sobTruman,masoimpactodissotudojáseapagaraem1948.Umpaís que fora tão unido durante a guerra estava prestes a ruir em

tempos de paz, e a intranquilidade que reinava re letiu sobre apopularidade do homem que tornara famosa a aceitação de suaresponsabilidade, ao colocar sobre a escrivaninha um cartaz que diziaCHEGADEPASSARABOLA(“The buck stops here”).Muito antes do inícioda campanha de 1948, a imprensa— naquela época, jornais, revistas erádio— preferia Thomas E. Dewey, governador de Nova York que deramuito trabalho até a Roosevelt em 1944, em vez do desinteressanteTruman.EsseeraodilemaTruman,mesmoantesdeperderoscorreligionáriosda

esquerda de seu partido, quando Henry Wallace, o ultraliberal que

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Roosevelt descartara como vice-presidente em 1944, deixou o caminholivreparaTrumana imde liderarumterceiropartidonacionalchamadoProgressista.Truman perdeu os correligionários da direita, quando a campanha

contra a segregação racial, causa em ascensão nos Estados Unidos deentão, dividiu a convenção democrática, e um quarto partido,ultraconservador,foiformado:oPartidoDemocratadosDireitosdoEstado.Strom Thurmond liderou o partido, e sua grande popularidade nochamado “Deep South” (região conservadora do sul dos Estados Unidos)ameaçou o que vinha sendo um eleitorado iel do Partido Democrata no“SolidSouth”(expressãoquecostumadesignarodomíniodosdemocratasamericanosnaseleiçõespresidenciaisnosuldopaís).Ninguém achava que o pobre e simples Harry tivesse alguma chance

quando a fase inal da campanha começou, noDia do Trabalho de 1948.Truman se encontrava numa situação que omarechal francês FerdinandFoch, comandante-chefe das Forças Aliadas durante a Primeira GuerraMundial, reconhecera numa das mensagens mais famosas sobre oandamentodeumabatalha.Meucentroestácedendo,Minhadireitaestáemretirada;Excelentesituação!Vouatacar!

ComoFoch,queenviouessamensagemeinterrompeuoavançoalemão,

levando a uma reviravolta na guerra com sua contraofensiva no Marne,Truman, sem esquerda nem direita, atacou: com uma linguagem forte esimples, em discursos geralmente proferidos em fundos de vagões detrens,TrumandisparousemdónempiedadecontraDeweyecontraoquechamou de “o Congresso [republicano] que não move uma palha”. Foi aúltimaeleiçãoantesda televisão.Acampanhaespirituosado “eusozinho”de Truman visava diretamente aos eleitores norte-americanos, além daimprensa. Truman desancou a oposição, enquanto multidões cada vez

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maiores o apoiavam, como slogan “Faça eles penarem,Harry” (“ Give ‘emhell, Harry”) — e foi o que ele fez. Embora as sondagens de inal decampanha dissessem que ele não tinha a menor chance, Trumansurpreendeu e ganhou de virada (a prova cabal disso foi a famosa fotoerrada doChicago Tribune que anunciava, na primeira página: “DeweyderrotaTruman”).Primeiro,tantoDeweyquantoTrumantinhamqueavaliarsuassituações

e reconhecer comoé inútil simplesmentedeixar as coisas acontecerem, eentão arregaçaram asmangas. Ao im das convenções de partido, dandoinícioàcampanha,Trumanprocurousaberoqueassondagens,osjornaiseasrevistasestavamdizendo,econcluiu: “Nesteexatomomento,eleestánumaposiçãomelhor do que aminha. Preciso darmais durodo que ele,passarmaistempoesermaiseficazjuntoaopúblico...”Se/então.Seeufizerisso,entãotenhoumachance.Senão...E o Dewey, cheio de autocon iança, conseguiu perder uma eleição que

parecia já estar na mão. Ele só precisava assegurar o que já pareciapróximode conquistar, semassumir riscos.Ele e seusassessoresdeviamestarpensandoem todosaqueles clichêsqueosganhadores “garantidos”usam no seu caminho para a derrota. Em situações competitivas, até oresultadosair,osentimentodesegurançaéperigoso.O erro de Dewey, pelo menos, não gerou nenhum derramamento de

sangue.Ahistóriamilitarestácheiade falhas tolas, cometidaspor líderesnacionaisecomandantesdebatalhas,oriundasdeotimismosforadehoraquanto a assumir riscos para assegurar uma vitória. O custo humano einanceiroéquaseincalculável.Todosessesequívocos,comnossasguerrasmodernascheiasdearmasdealtatecnologiacontraosditamesdeSunTzu,e que parecem tão fáceis para os comandantes de gabinete que tomamdecisões bélicas sem qualquer risco pessoal, são os maiores perigos dopensamento positivo. Obviamente essa minha preocupação é constante,talvez tão pessoal por causa de todos aqueles rapazes formidáveis quetreinonoExército.Masnãosouoúnico.Naspalestrasquedeienasreaçõesqueobservei,

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possoa irmarquehámães,paiseavósporaícujoamorpelopaísnãoestáem questão, mas que detestam ver garotos voltarem para casa comovítimasdeumcompromissonacionalquenãoentendem,comumobjetivoque sequer conseguem imaginar. Alguém em Washington deveriacompreenderqueanaçãonorte-americananãovêvaloremtudooqueseinveste nessas guerras sem im, e que começaram com garantias tãopositivas.

OprincípioPogo

Minha frase preferida sobre dilemas foi escrita porWalt Kelly, na suatira de quadrinhosPogo, em que o personagem diz: “Acabamos deconheceroinimigo,eeleéagente.”Pogo é um sábio. Você pode interpretar essa frase em todo tipo de

situação.Porexemplo:“nós”nãotemostrabalhadoduroosu iciente,“nós”não temos re letidoobastante sobreoque temosque fazerpara vencer,então“nós”somosaprópriarazãoporestarmosperdendo.N óssomos nosso pior inimigo quando temos excesso de con iança,

quandonãodamos atenção aos pequenosdetalhes, quando achamosquevamosganharsóporquesomosquemsomoseporcausadoqueachamosque somos. Se é possível tirar algum ensinamento dos acontecimentosinternacionais dos dias de hoje, ele é o seguinte: devemos manter Pogosempre em mente. Não somos o Golias que pensamos ser, e por issoestamos levando uma surra. Ou, como dizia com frequência o grandetreinadordefutebolamericanoVinceLombardi,deforadocampo,quandooseutimejogavademaneiradecepcionante:“Quediabosestáacontecendoali?”Eleeraumrealistadurão,quecompreendiaqueascoisasnãomudamsozinhas.

UmhomemchamadoPirro

Àsvezes,nemmesmoavitóriaéobastante—daíaexpressão“ganhouabatalha,masperdeuaguerra”.Eaexpressãotematéumnome:“vitóriadePirro”. Por volta de 280 a.C., em Épiro, minúscula nação do SudesteEuropeu, que hoje icaria entre a Albânia e a Grécia, um rei corajosochamadoPirrolevouseuexércitoaumavitóriasangrentaecara,contraas

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forçasdovasto epoderoso ImpérioRomano.Naverdade,Pirronão tinhamuita escolha; sua pequena nação estava sendo atacada pelo grandeexército romano. Sua vitória foi planejada e realizada com brilho, numtriunfoespetacular.Mas ele sabia que era uma questão de adiar o inevitável,mais do que

realmente ganhar. Suas pesadas perdas humanas, mesmo em meio àvitória, e o interminável suprimento de soldados romanos que chegavamlogo em substituição (opondo-se à parca população de Épiro) deixaramPirro de cabeça baixa ao responder secamente — segundo o relatohistórico— às congratulações recebidas: “Mais uma vitória como esta eestareiperdido!”AssimnasceuaideiadavitóriadePirro.O que Pirro disse, cunhando a expressão, não foi nem pensamento

negativo nem positivo, apenas uma análise sábia de sua situaçãodesesperadora, o quemostrou a razão de ser um líder tão importante, apontodesetornarpersonagemdasVidasparalelasdePlutarco.Outro exemplo de uma vitória cara foi Pearl Harbor. Há uma cena noilmeTora! Tora! Tora! em que o almirante japonês Isoroku Yamamotocoloca as mãos na cabeça, em plena celebração do primeiro ataque-relâmpagodeseupaís,ediz:“Temoquenósapenasconseguimosacordarum gigante adormecido, e dar a ele com um terrível incentivo” (essaa irmaçãojamaisfoidocumentada,masháquemdigaqueelaseencontraemseudiário).Citaçãoverdadeiraounão,oataquesurpresaquedurouumdiafoipara

o império japonês uma vitória de Pirro: espetacular, hoje; cara, amanhã(bom,dentrodo ilãocinematográ ico,pre iromilvezesa frasede Patton,de1970,comogeneralPattondiantedeumabandeiraamericana,dizendoa seus soldados: “Quero que vocês se lembrem de que nenhum cara,jamais, conseguiu ganhar uma guerra morrendo por seu país. Ganha-sefazendo o outro cara infeliz morrer pelo dele.”). Lamentavelmente, sãopouquíssimos os generais que entenderam isso, e homensmorreram, emambososladosdequalquerguerra,emnomededecisõesmilitaresburras.Nadailustraessatragédiademaneiramaisvívidadoquedoisexemplos

históricos:NapoleãoeHitler,aoatacaremaRússia.

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Mautreinamento.Napoleão parecera invencível até invadir a Rússia com quinhentos mil

homens, e voltar com 27mil, numa empreitada de seismeses, em 1812,que dizimou seu exército, estraçalhou sua reputação e pôs im às suasconquistas na Europa. Esse erro de cálculo espantoso, porém, deu aomundo dois clássicos:Guerra e paz, de Tolstói (regra antiga: a história éescrita pelos vencedores) e aAbertura 1812, de Tchaikovsky (tãoalegremente triunfal e tocada com tanta frequência nas festas de 4 dejulho que a maioria dos norte-americanos deve achar que ela celebraoutraguerrade1812,aGuerraAnglo-Americana).HitlernãodeveterlidoTolstói,emboraseusconselheiros,sim.Invadira

Rússia? Nempense nisso, disseram-lhe. Que parte da frase “Quem nãoconsegue aprender com o passado está condenado a repeti-lo” você nãoentende, Adolf? Quase tudo, pelo jeito. Seu ego o levou a fazer o queNapoleãonãoconseguira,provavelmenteporqueNapoleãonãoconseguirafazê-lo. Só podemos agradecer por isso. É provável que um pouco depensamentonegativoporpartedeHitlernão tivessemudadoodesenlacefinaldaguerra,mas,certamente,teriaadiadoecustadoaindamaisvidas.TantoNapoleãoquantoHitlerpensavamqueseusexércitoserammuito

superioresaodaRússia,equenãoseriaumatarefamuitodi ícildominá-lo.Entretanto, nenhumdos dois realmente viu a competição nementendeu oterreno do combate, o enorme número de soldados que os russospoderiamcolocaremcampo,odesejoeadeterminação ferrenhadopovorussodevidaaoamorporsuaterranatal.E foramcegos, acimade tudo, à simples logística: comoo inverno russo

eraselvagem,adistânciaquesuastropasteriamdepercorrerparalutar,eo quanto teriam de caminhar para voltar. Hitler icara tão con iante emumavitóriarápida—antesdachegadadoinverno—queosuniformesdeseussoldadoseramlevesdemaisparaastemperaturas,quechegarama-30ºC.Seustanques icaraminoperantesnalamadoinvernorusso.Aperdahumana sofrida nas tropas deNapoleão foimera fração comparada à deHitler(edaRússia),masambossaíramdelácondenados,porcausadeumotimismocego, por causadoperigodopensamentopositivo, sem,de fato,

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pensaremtudometiculosamente.Por outro lado, antes deNapoleão, noduro invernode1776, o general

norte-americanoGeorgeWashingtonevitouumapotencialperdademuitasvidasentresuastropasemLongIsland,reteve-asforadocon lito,eatacoumais tarde na batalha que inverteu o rumo da guerra, em Trenton. Foiassim que ele sobreviveu para ver os Estados Unidos se tornarem umanação.Bravatas,muitomaisquecautela,conduzemafracassos.EmGettysburg,

a ambição desmesurada do general confederado Robert E. Lee levou aodesastroso ataque de três dias domajor-general George Pickett, no qualseus soldados foramaniquiladospelas forçasdaUnião.Nãoépreciso serum gênio em assuntosmilitares para observar os campos de batalha deGettysburg e ver como aquele ataque foi tolo, nunca deveria ter sidotentado — os riscos eram grandes por demais. Alguém que pensassenegativo,maiscauteloso,teriaatacadodandoavoltapeloexércitodaUniãoou, mais inteligente ainda, teria simplesmente partido, para lutar noutrodia.Ogeneral confederado JamesLongstreet,naverdade, implorouaLeeque deixasse o campo de batalha depois do segundo dia. Se Lee tivesseouvido...Depoisdeminhaprimeiravisitaao campodebatalhaconsagrado, senti

que o fato de Lee mandar os soldados de Pickett atravessaremmais dequinhentosmetrosdecampoaberto,avançandoaolongode ileirasemaisileirasyankees abrindo fogo,basta,porsi só,paraeliminá-lodequalquerlista de grandes generais americanos. Um livro publicado recentemente,escrito por um historiador militar pro issional, corrobora minhasimpressões e cita Sun Tzu como uma autoridade proeminente do gêniomilitar chinês.De fato,o títulodo livroéSunTzuatGettysburg, eoautor,BevanAlexander,diz:AbatalhadeGettysburgforneceilustraçãoesclarecedorasobrecomoosgenerais estimamo terreno e avaliam as disposições do inimigo. O queveem varia imensamente de indivíduo a indivíduo. Uma pessoaobservadoraqueolheapaisagemdeGettysburgnota, imediatamente,a

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proeminênciadocumeRoundTop,naextremidadesuldasequênciadecumes. A colina se sobrepõe aos outros elementos do relevo. Para umapessoacomalguma imaginação, sobretudoumo icialmilitarexperiente,que deveria ter conhecimento especializado sobre a tática de fogoen iado, ou seja, fogo direcionado longitudinalmente à linha inimiga,parece evidente que esse é o lugar ideal para canhões.Mas está claroqueLeenãoviuisso,ouignorouofato...SunTzupoderiaterfaladodeumasituaçãosimilaràqueaconteceuno

diamaisimportanteemGettysburg,3dejulho,quandoescreveu:“Quemsabe quando pode lutar, e quando não pode, será vitorioso.” Sun Tzuenfatiza que “há terrenos que não se podem disputar”. Não hámelhorexemplo de tal terreno do que as fortes posições da União, desdeCemeteryHilledeCulp’sHill,ao longodeCemeteryRidge,eancoradasemLittleRoundTop,nodia3dejulho.Leedeveriaterentendidoqueumataquefrontalmirandoomeioda linhadaUniãoemCemeteryRidge—“terreno que não se pode disputar”— era uma ação que seu exércitonãopoderiaenfrentar.Outroexcepcional treinadordebasquete,quemeprecedeuese tornou

umamigo,StuInman, foiquemmelevouacompreenderasboasdicasdetreinamento imbuídasnas teoriasde SunTzu, apesarde escritas em400a.C.Umadasregrasdeguerramaisimportanteséevitarconfrontosabertos,

preferindo sempre buscar fraquezas, pontos vulneráveis, a tentar sesobrepor ao inimigo pela força. Essa é a minha regra preferida,diretamenteaplicávelaoplanejamentoembasquete.Aáguamoldaoseucursodeacordocomanaturezadosolosobreoqualela lui;osoldadoseempenhapelavitórianarelaçãocomoinimigoqueestáenfrentando.Portanto, assim comoa águanão retémqualquer forma constante, na

guerranãohácondiçõesconstantes.

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Aquele que puder modi icar suas táticas na relação com o seuoponente e, ao fazê-lo, conseguir vencer pode ser chamado de capitãocelestial.Não consigo imaginarelogiomelhorparaum líderdoque ser chamado

de“capitãocelestial”.WestPoint,academiaqueproduziutodososprincipaislíderesdeambos

os ladosdaGuerraCivilNorte-Americana, nãopode ser responsabilizadapornão terensinadoas teoriasdeSunTzu, jáqueatéaSegundaGuerraMundial o livro permanecia desconhecido pelos estrategistasmilitares doOcidente. Embora datem de pouco tempo depois das conquistas deAlexandre,oGrande,osprincípiosdeSunTzusóforamtranscritosparaoidiomainglêsalgunsanosdepoisdeteremressurgidonaprópriaChina,eisso aconteceudoismil anos depois de terem sido escritos.MaoTsé-tungfoi o primeiro líder militar moderno que os usou, e incorporou a seuprópriomanualdetécnicasdeguerrilha,comoqualacaboudominandoaChina. Os princípios surgiram também no Vietnã, e em todos os lugaresonde forças locais numericamente minoritárias enfrentaram forçasexternasmuitomaispoderosas.Foi nos tempos da guerrilha na China, em1936, queMao escreveu, no

estilo de Sun Tzu: “Recursos engenhosos como fazer um ruído a leste eatacar a oeste, aparecer de repente ao sul e, depois, ao norte, e ações-relâmpago e noturnas, deveriam ser constantemente empregadas paradesorientar,enganareconfundiro inimigo.”Nofutebolamericano, issosechamamisdirection (desorientação); no basquete,cat-and-mouse (gato erato).Mas,nomeuentender,temummontedetreinadoresLeeporaí,emvários esportes, convencidos de que, por alguma razão, é pouco viril ouvalorosoganharsemsermedindoforçasfisicamente.O único general confederado que praticou os princípios de Sun Tzu foi

StonewallJackson,sobrequemBevanAlexanderescreveu:Se houve um descendente intelectual de Sun Tzu, esse foi StonewallJackson.Seusmétodosnascampanhasde1862corpori icaramtodosos

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principaisaxiomasdeSunTzu:evitaraforça;atacarasfraquezas;daravolta ao redor do inimigo; usar a dissimulação, e não a força, paradominar;tomaralgoqueo inimigoterádetentarrecuperar;e induziroinimigoaatacarposiçõesbem-preparadas,eserderrotado.Mas, de modo geral, as sugestões de Jackson foram rejeitadas ou

ignoradas por Lee, obcecado por confrontos diretos. Quando a guerrachegouaGettysburg, Jackson jánãoestavamaisdisponívelparadebates;morrerasemanasantesemChancellorsville.Alexander analisa que, se Lee tivesse dado a Jackson os cinco mil

homensquerequisitaraparaumainvasãoousada,tipoguerrilha,aonorte,ahistóriapoderiatersidooutra.Jackson (...) quis atacar o coração do poder da União, suas fábricas,cidadeselinhasdetrem.IssoexpressaomaisprofundoconselhodeSunTzu: destruir o próprio desejo inimigo de resistir. Um ataque ao norteteria trazido a vitória da guerra para os sulistas em poucas semanas.Mas Jackson não conseguiu levar o presidente confederado, JeffersonDavis, e seu conselheiro militar, Robert E. Lee, a apoiarem suacampanha.DaviseLeeabandonaramaguerrademanobradeJacksoneempreenderam uma longa guerra de atrito, que visava a baixarlentamente a resistência. Era uma guerra que o Sul, com onze vezesmenos poder industrial e um terço dos contingentes do Norte, estavafadado a perder (...) quando Davis e Lee rejeitaram os conselhos deJackson,odestinodosEstadosUnidosdaAméricafoiselado.Pickett, cujonome—enãoodeLee— icouassociadoaoerrocolossal

quemarcou Gettysburg, sobreviveu ao ataque a quemetade de seus 12mil homens sucumbiu. Ele sobreviveu e se tornou mais realista do quecertos treinadores que pensam positivo. Atribui-se a ele uma resposta,muitos anosmais tarde, para apergunta sobreoque teria acontecidodeerrado naquele dia: “Sempre pensei que os yankees tivessem algo a vercomisso.”

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Pickettteveumantecessor

Entre as bênçãos de minha infância em Orrville, cidade localizada noestado de Ohio, está o fato de que os jogos eletrônicos ainda não tinhamsido inventados.Quandoeunãoestava jogandobola, passavao temponabibliotecamunicipal, e tambémpude vasculhar o acervo da biblioteca daminhaescola,sobretudoasbiografias.Oúnicojogoquemelembrodejogarnaquela época eraAuthors (“autores”), que consistia em tentar acertar omaior número de obras de um grande escritor da história. Umdeles eraTennyson,eumdostrêscartõesdo jogocomnomesdeseus livrosera“Acargadabrigadaligeira”—umpoema.Quandoliopoema,deixeidevê-locomoummerocartãodejogo.Percebi

quenãosetratava,demaneiraalguma,deumaobraépicavangloriandooheroísmodossoldadoscorajosos,masoreconhecimentoimediatodeLordTennyson,enquantopoeta inglês laureado,do terrível erromilitarde seupaísemBalaclava,a25deoutubrode1854,duranteaGuerradaCrimeia,contraaRússia.OataquedePickett, emGettysburg,ocorreuumadécadamaistarde.Defato,BevanAlexander,noseuSunTzuatGettysburg,diz:O ataque de Pickett deveria ser visto como uma versão ampli icada doataque da brigada ligeira emBalaclava, na Guerra da Crimeia— comoum ato ensandecido ou perverso perpetrado por um comandante queignorouaconselhamentosegerouumacatástrofequepoderiaedeveriatersidoevitada.Ambososataquesenvolveramumaordemderealizaçãodeumamissão

impossível—adeTennyson,porumgrupodeelitedacavalaria,abrigadaligeiradeseiscentoshomens.Tennyson,depoisdehorasouvindodetalhesdeBalaclava,criou,paraograndedesastreinglês,algumasdasfrasesmaismemoráveisemtodaahistóriadaliteraturadeguerra:Meialégua,meialéguaMeialéguaadiante,ParadentrodoValedaMorte

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Cavalgaramosseiscentos.“Avante,BrigadaLigeira!“Empunhararmas!”,eledisse:ParadentrodoValedaMorteCavalgaramosseiscentos.“Avante,BrigadaLigeira!”Algumhomemtremeu?MasossoldadosnãosabiamQuealguémerrara:NãolhescabeargumentarCabe-lhesacataremorrer:DentrodoValedaMorteCavalgaramosseiscentos.Canhãoàdireita,Canhãoàesquerda,Canhãoàfrente,Rajadasetrovões;Atormentadosporbalaseestilhaços,Cavalgaramaudazes,diretoParadentrodasmandíbulasdaMorte,ParadentrodabocadoInferno(...)Poderá,umdia,suaglóriaesmaecer?Ah,oloucoataquequelançaram!Todosseespantaram.Honraàsuacarga,HonraàBrigadaLigeira,Nobresseiscentos.

“Meia légua, meia légua, meia légua adiante” (...) “Não lhes cabe

argumentar,cabe-lhesacataremorrer”(...)“ParadentrodoValedaMortecavalgaram os seiscentos” (...) “Canhão à direita, canhão à esquerda,

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canhãoà frente, rajadas e trovões” (...) “Masos soldadosnão sabiamquealguémerrara”.Seis segmentos do poema, 17 das 55 linhas, estão no livro de citações

clássicas e inesquecíveis de John Bartlett,Familiar Quotations, como ummonumentoàcoragem,sim,mastambémaliderarestupidamente.Lendoahistória desde os espartanos e os atenienses até a Primeira GuerraMundial,sempre icopasmocomonúmerodeataquesfrontais:uminimigoentrincheiradosimplesmenteatirandocontraosatacantes,queatravessamcampos abertos, ao cavalgarem ou correrem ou marcharem direto paradentrodeum“valedamorte”.

Conteconsigo

Às vezes, coisas que leio grudam na minha mente, e não consigoidentificarsuaorigem.Lincoln disse uma coisa importante que qualquer líder teria que

entender: faça o quevocê acredita sermelhor— imagino que depois depensarbastanteeviraroproblemapeloavesso.Eugostariadepensarqueaté Lincoln, com sua fé profunda, baseou seus julgamentos em algo alémdaorientaçãodivina.AlguémdeestaturaconsideravelmentemenordoqueadeLincolntinha

conselhosquasetãoprofundos:nãoiniciegrandesprojetoscompequenasideias.Tenhocertezadequevocênuncavaiencontrarissonolivrodecitações

deBartlett,maseugosto,ecomeçacomnão.Eis uma história de otimismo que aprecio. Um rapaz com tendências

pessimistas,quesonharaganharumpôneinoNatal,correuatéoceleirodafazenda da família naquela manhã e, no lugar onde lhe disseram queencontraria seu presente de Natal, estava apenas uma pilha enorme deestrume de cavalo. Ele bateu a porta do celeiro com força e voltou paracasa,aosprantos.Na fazenda ao lado, a mesma coisa aconteceu com um amiguinho

otimista.Aoabriraportadoceleiroeveramesmacoisa,eledeuumgritode alegria e correu em direção àquele fedor e clamou: “Onde tem tantococôdecavalo,emalgumlugar,temquehaverumpônei!”

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Eoutranãotãonegativadequegostoaindamais:Doistouros,umjovemeoutrovelho,olharamdotopodeumacolinapara

umapradariacheiadevacasjovenspastando.Otourojovemdisse:—Saiadomeucaminho,velho.Voudesceratélácorrendoepegaruma

vaca.Eovelhorespondeu:—Paciência,garoto.Desçadevagarepeguetodas.

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A

6Pensarnegativoéaprimeiratarefa

inda nem tinha 22 anos quando me formei pela Ohio State, mas jásabia o que queria fazer na vida: ser treinador de basquete. Tinha

pensadoemestudardireito.Meupai,quejamaisconseguiuverotrabalhode treinadorcomoalgosequerparecidocomumapro issão,muitomenosuma maneira segura de ganhar dinheiro, certamente teria preferido odireito.Mas saída faculdade sabendoquequeriamesmoser treinador, elogotiveaoportunidadedemetornarotécnicodotimedealgumasescolasdeOhio.Euestavaansiosocomoqualqueroutrogarotorecém-formadoqueentra

nomercadodetrabalho.Asofertasexistiam,porquetodooestadodeOhioconheciaosrapazesquetinhamfeitopartedagrandeeradebasquetedaOhio State, que Fred Taylor iniciara, com o tricampeonato da Big Ten(1960-1962), trêsparticipaçõesemcampeonatosnacionaiseumtítulodaNCAA. Outros caras da minha turma de formandos eram verdadeirasestrelas: Jerry Lucas, Jogador Universitário do Ano — a quem aindaconsideroomelhorjogadordaBigTendetodosostempos;JohnHavlicek,meu jogador de basquete preferido; eMelNowell, armador eleito para aseleçãodaBigTen,titularmesmonãosendoveterano—muitohabilidoso,muito rápido.Esseseramos “nomes”denossa turmanasequipesque sedestacaramnostítulos.Mastodooelencoeraconhecidonoestado.Nas semanas que se seguiram à nossa última temporada, nós, os

veteranos— Lucas, Havlicek, Nowell, Gary Gearhart e eu— izemos umgiro pelo estado em exibições contra times locais e ganhamos bastantedinheiro.Lucas,HavlicekeNowellatraíampúblico,maseuera oelementodo grupo que não estava se tornando jogador pro issional, oúnico quequeria ser treinador. Por isso, estava numa boa situação para ser

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contratado.Sem qualquer experiência, fui entrevistado para o cargo de treinador

numaescolabemconceituadadeOhio.Sentiqueseriaumexcelentelugarpara deslanchar e tinha motivos de sobra para acreditar que obteria oemprego,sequisesse.Eu tinha o ego in lado de um jovem que, naquela situação, se

considerariaprontoparaagarrartaloportunidade.Eujogarabasquetedasexta série até o último ano da faculdade, sob a orientação de algunstreinadores excepcionais. E tinha jogado comum técnicomuito ruim, queme ensinou outra coisa muito importante: o quenão fazer. No geral, izuma listadoqueeugostavaedoqueeunãogostavaemcadaumdessestreinadores,euseicomobaseparacomoeupretendiatreinar.A decisão que tomei naquelemomento foimeu primeiro entendimento

profissionaldopoderextraordináriodopensamentonegativo.Pormais ansiosoque estivesse, eu simplesmente achavaquenão sabia

comotreinar .Então,desistideprocurarumavagadetreinadorepasseiaprocurarumadeassistentetécnicodeumtreinadorveteranoemuitíssimorespeitado:Harold“Andy”Andreas,naescoladeCuyahogaFalls,pertodeAkron.Depois de cinquenta anos e uma vida inteira trabalhando como

treinador, considero essa a segundadecisãopro issionalmais importantequetomeinavida.Eujáhaviaaprendidomuitosobrecomo jogarbasquetecom os excelentes treinadores que tinha tido, mas minha verdadeiraformaçãoparatreinareensinaroesportecomeçoucomoAndy.Umadasprimeiras coisasqueelemeensinou foi entenderoquemeus

jogadores podiam fazer e — mais importante ainda — o que eles nãopodiam fazer, levando em conta as técnicas do jogo. Ele acreditava comtoda força em não sobrecarregar seus jogadores com informação, o quepoderia levá-los a não conseguir reagir de modo intuitivo ao que estavaacontecendonaquadra.Enquanto era aspirante a treinador, eu não sentia que poderia obter

informaçõessu icientesdele.Eupassavatodootempoquepodiafazendo-lhe perguntas. Minha tarefa incluía espionar os adversários do time

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principaletreinaraequipedenovatos.Quandoeufaziaumrelatórioparao Andy sobre o próximo oponente, ele me fazia todo tipo de pergunta,sobre todos osaspectos de tudo o que o adversário fazia: cada jogador, oaspecto coletivo, cada detalhe que ele pudesse conseguir de mim. Logoaprendi a analisarmelhor um time, para não icar sem graça comminhaincapacidade de responder às perguntas, mas também aprendi sobrecomo treinar: era imperativo estar bem-preparado, com conhecimentosobrecadajogoquedavaaoseutimemelhoreschancesdeganhar.Aprendi, comessaexperiência,quevocê jamaispoderiaseatreverase

sentir em condição de ganhar só porque os seus jogadores sãomelhoresdo que os do outro time,mesmo que sejam. Aprendi que você não podesair de uma atuação boa de fato sentindo que o seu time vai,automaticamente, jogar melhor na próxima partida, ou até no próximoquartodeumamesmapartida.

Mesmapartida,visãodiferente

Andyfoiafontedoquesetornouumadasminhasprincipaisconvicçõescomo treinador: os erros, mais do que as grandes jogadas, determinammelhor os resultados de partidas. Até então, eu era um jogador quepensavaquepoderíamosentrarnumaquadradebasqueteeapenasfazerjogadas que derrotariam o adversário. Ele e seu assistente, Bill Raybuck,me ensinaram que eu estava certo, mas não quanto acomo nósganharíamos. Nós ganharíamos fazendo o quenós fazemos melhor edepoisdeixando-osfazeroqueelesfazem.Houve um jogo do nosso time de calouros contra o de Barberton (time

invictoatéentão),umapreliminardo jogodasequipesprincipaisdosdoiscolégios. Cheguei para o Andy com um plano que tinha bolado: usarmetadedaquadracomozonadepressãodenossadefesa.Elemeouviuedisse:“Sevocênãoconseguirdescobrircomoganhardeumaequipecomanossa defesa homem a homem, você nunca será um bom treinador.”Entendiamensagem.Marcamoshomemahomemeganhamos.Havia uma iloso ia por trás do que ele estava dizendo. Pete Newell,

grande treinador de equipes universitárias, campeão do torneio NIT(NationalInvitationTournament—TorneioNacionalporConvite)em1949

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porSãoFrancisco,daNCAAem1959pelaequipedaCalifórniaemedalhade ouro nos Jogos Olímpicos de 1960, tornou-se, nos meus últimos anoscomo treinador, o que Harold Andreas fora nos primeiros anos: amigo epreciosoconselheiro.Certavez,Petemedisse, reforçando, semosaber,oqueAndy izeracomaquela insistênciadefensiva,quehaviadois tiposdetreinador:osquepreferiamasurpresaeamudançaeosquepreferiamasimplicidadeeaexecução—easequipesdasurpresaedamudançanãotreinavam em tempo algumpara ser e icientes em suas jogadas como asequipesdasimplicidadeedaexecução.Ora,Pete sabiaqueoscarasque faziamsurpresasemudanças sempre

impressionavamaimprensaeosfãscomonúmerodevariaçõesofensivasedefensivas queusavamnos jogos.Mas as equipes da simplicidade e daexecução — o Green Bay Packers do Vince Lombardi era um exemplosupremodisso—eramensinadasafazeroseumelhor,oqueminimizaoserros.AntesdeLombardi,houvePaulBrown,ídolodeminhainfância(euerafã

incondicional dos Cleveland Browns). Lombardi e Brown instituíram oconceito de eliminação de erros. Eu treinava basquetebol, eles treinavamfutebolamericano,maselaboreiboapartedeminha ideiade treinamentosegundo suasnoções—e segundoasnoçõesdeoutros fundamentalistasdo basquete no topo da lista dosmais famosos, comoPeteNewell,HenryIba, Clair Bee, Joe Lapchick, Everett Dean emeu treinador daOhio State,FredTaylor.Jamaishesiteiemfazerperguntasaqualquerumdeles.Um dos maiores elogios que recebi como treinador foi uma curta

mensagemdeDaveGavitt, treinadordaUniversidadedeProvidenceedaseleção olímpica dos Estados Unidos, que me chamou de “o maiorprofessor de treinamento dos dias de hoje”. Esse comentário, vindo dohomemqueconsideroopaidaConferênciadeBasquetedoBigEast,meémuitocaro,porquesempresentiqueminhaprincipalfunçãoera,sim,adeprofessor—adeumprofessorexigente.A chave para uma execução consistente é ser exigente. A palavra

exigência é importante para o sucesso na liderança.Exigência é umapalavra negativa, já que pressupõe uma falta crítica de ação ou de

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produção. Osmelhores professores e osmelhores líderes são as pessoasmais exigentes que conheço— inteligentemente exigentes. Não exija daspessoasoqueelasnãopodemfazer.Exijaoquepodemfazer.Lembre-se sempre de que as pessoas que você lidera vão icar

satisfeitas com omínimo do que você exige. Resultadosmáximos vêm deexpectativas máximas; não irrealistas, mas máximas. Pessoas tolerantesnão sãobons líderes.A liderançabem-sucedida consiste em ser di ícil deagradar—eosseusjogadoresouempregadossabembemdisso.Elesvãosecontentarcomoquevocêtolerar.Umgrandelíderéintolerante.Sempre quis fazer brotar nosmeus jogadores aquela qualidade de ser

capaz de exigir excelência de si mesmos. A começar pelas primeirasequipes que treinei em West Point, elas nunca elegiam capitães.Euescolhia o capitão entre os jogadores que tinham jogado com maiorempenho, segundominha consideração, ou com os quais eu sabia podercontar mais, e lhes dizia: “Não é só você jogar pesado. É você fazer osoutroscarasjogarempesado.Eunãopossofazerisso. Você temqueexigirdosoutroscarasque eles joguemmaispesado.Vocêtemque icarnacoladeles.”Sempre disse aos pais dos estudantes recrutados que eu seria o

treinadormaisexigenteparaoqualseus ilhosjogariam,equeaquiloteriaconsequências em todas as fases de suas vidas: seu trabalho acadêmico,suacarreira,suacondutacomohomemdefamília.Euqueriatercertezadequeeleeseuspaisentendessemissoantesmesmodecomeçarema jogarparamim.Era no ato de recrutamento que a exigência tinha de começar.

Perguntarammuitasvezesoqueeramaisimportanteparamim,aoavaliaros jogadorespotenciais.Éumaboapergunta,masnãoéaqueseencaixanaminhafórmula.Emprimeirolugar,euqueriajogadoresquefossemosmaisdi íceisdese

ter como adversários, por causa de sua habilidade atlética e damaneiradefensiva que eu imaginava que eles poderiam jogar, aprendendo eaceitando a minha estratégia de combate ao erro. Então, eu pensava nafalta de egoísmo. Eu também pensava nos fundamentos do jogo. Aqueles

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garotoseramtodosbonsatletas,portantosuaatitudeeramaisimportanteparamim.Issonãose limitavaaorecrutamento.Tambémfoiassimqueeucompus

duasequipesqueganharammedalhasdeouroemtorneiosinternacionais.Para conseguir isso e para recrutarminhas equipes universitárias, se euachasse que o garoto estivesse acostumado a fazer tudo do próprio jeito,era provável que eu não me interessasse. Às vezes, durante umrecrutamento,euapenasiaembora,dizendo:“Sabe,achoquevocêprecisajogarnoutro lugar.”Talvez fosseaatitudedogarotocomrelaçãoaospais.Eusemprejulgavaosjogadorespotenciaispeloseucarátergeral.Àsvezes,mesmodepoisdeiratrásdeumjogadoredeconsegui-lo,você

percebe que quer que ele seja melhor do queele quer ser. De modoessencial,essegarotonãovaidarduroosu icientepara fazerseutalentorender aomáximo, e,muitoprovavelmente, é alguém comquemvocê vaidesperdiçar o seu tempo. Identi icar isso com antecedência e evitar essetipo de situação é fundamental tanto para o treinador quanto para ojogador—oempregadoreoempregado.

WestPoint:minhagrandeoportunidadeemtreinamento

Umadascoisasprazerosasemteriniciadominhaatividadedetreinadorcom o Andy Andreas, na escola de ensino médio de Cuyahoga Falls, foipoder trazê-lo a Bloomington, mesmo depois de ele ter se aposentado.Assim, encerrou sua carreira para uma espécie de retribuição: ele sejuntou a mim como assistente técnico — um assistente valoroso eparticipativo—bememtempodeembarcarnamaiorempreitadaqueumtreinador pode ter: nosso campeonato nacional invicto na temporada de1976,emIndiana.Houve um passo fundamental, para mim, entre Cuyahoga Falls e

Bloomington.No imdaminhaprimeiratemporadacomoAndy,enfrenteiumadecisão

crucial: fazer um curso superior, talvez direito, ou continuar comotreinador?Àquelaaltura,euestavacom22anos,eaindatinhadeprestaroserviço militar — ainda não havia uma ameaça real do Vietnã, mas apossibilidadedeumalistamento.Leveimeupaiaodesespero,servindono

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Exércitodurantedoisanos,masofizcomumplanoespecífico.Nassemi inaisdocampeonatonacionaldaNCAAde1963,disputadoem

Freedom Hall, Louisville, pouco antes do jogo da decisão entre Loyola eCincinnati, eu estava conversando com o treinador Taylor sobre o quequeria fazeremseguida: voltarparaCuyahogaFalls e tentaruma funçãodetécnicomaisgraduada;ouentrarparaafaculdadeetreinaralgumtimepor lá? O técnico do Exército, George Hunter, era amigo do treinadorTayloreouviu,poracaso,nossaconversa.EledisseaotreinadorTaylor:—Seeleforconvocado,mediga,queotragoparaWestPoint.Isso não era muito provável de acontecer, dada a situação dos

alistamentosdeentão,maseudissediretamenteaotreinadorHunter:—Oqueaconteceriaseeumealistassecomovoluntário?— Trago você para treinar a equipe de novatos emWest Point— ele

disse.Cinquentaanosdepois, consideroessapergunta (“Oqueaconteceria se

eume alistasse como voluntário?”) a segundamais importante perguntaque iz na vida, só perdendo para quando pedi minha futura mulher,Karen,emcasamento.DepoisdaquelaconversacomotreinadorHunter,quando iqueisozinho

ecomtempoparare letir, izunscálculos.EutinhaganhadoUS$5.050nomeuprimeiroanoemCuyahogaFalls:US$4.600pordaraulasemquatroturmas e US$450 pela função na comissão técnica. Bill Raybuck, que eraassistentedoAndyeexcelentetécnico,partiuparaassumirumpostocomotreinador, então eu ia ser o assistente do time, o que signi icava maisdinheiro.Com isso, e um aumento salarial previsto para todos os professores, o

meu salário ia dar um pulo de 25%, para uns US$6.300. Além disso, eutinha a possibilidade de ganhar US$50 por partida, jogando contra umaequipe dos Cleveland Browns que fazia turnês fora de temporada pelonorte do estado competindo contra times locais — num total de, talvez,umas cinquenta partidas, então eu estava diante demaisUS$2.500, alémdos US$6.300. Para um garoto que não tinha nenhuma responsabilidademaior,aquiloeramuitobom,umamédiadeunsUS$165semanais.

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Uau!Todas as razões que de modo normal in luenciariam a decisão de um

jovem, a começar pelo salário líquido, pesavam contra a escolha que iz.Mas nem pestanejei. Entrei para o Exército com o compromisso depermanecer e servir por dois anos. Todos disseramque eu estava doido,sobretudomeupai.Maseu lhedisse: “Se funcionar, éamelhorcoisaquepossofazeremumacarreiradetécnicodebasquete.Éomeusegundoanodepois de formado, e já estarei envolvido com treinamentos de equipesuniversitárias.”Então,GeorgeHunterfoidemitido,e iqueimeioabalado.Eujátinhame

alistado,assinadopapéiserecebidoumadataparameapresentar.Talvezeu pudesse ter pulado fora, não sei. O treinador Taylor ligou para otreinador Hunter, e Hunter lhe assegurou que as coisas já estavamencaminhadas para que eu fosse trabalhar com o novo treinador doExército,seuantigoassistente,TatesLocke.QuandochegueiaWestPoint,descobriquenãoerabemassim—havia

dois ou três outros sujeitos do Exército rondando o posto e que tinhamouvidoamesmapromessa.MasTates,quetambémerajovem,apenasumpoucomaisvelhoqueeu,tinhajogadonaOhioWesleyannaépocaemqueeuestavanaOhioState.Assim,elesabiadeondeeuvinhaequeeutinhaestadocomotreinadorTaylor.Então,deutudocertoparamim.Conseguioempregoeaquelesoutroscaras icaramnoExército,avernavios.SempreagradecidofundodocoraçãoporTatesterumpassadoemOhiotambém,como eu, porque estou certo de que isso o in luenciou a me darpreferêncianaquelaescolhaentretantosrapazes.Portanto, foi a melhor jogada pro issional que eu poderia ter feito,

mesmoqueexigissepaciência—característicaquejamaisforameupontoforte.Tudocomeçoucomdezsemanasdetreinamentomilitarintensosobosol escaldante do verão no Forte Leonard Wood, Missouri, enquanto osmeus amigos de Orrville e da faculdade estavam em casa se divertindo.Nãonegoquehouvedias, naqueleperíodo, emque cheguei a sentir umaponta de arrependimento. Mas nunca duvidei de minha escolha damaneira como a maioria das pessoas costuma analisar um emprego,

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pensando de forma simplista. Em caráter estrito de salário, eu tinhacometido uma burrice. O máximo que vim a receber nos dois anosseguintes foi US$98 por mês. Em West Point, os jogadores de esportesmenos populares icavam hospedados num dormitório, junto comtreinadoresalistados, comoeu,devários esportesdistintos.Eumorava lácomtrêsoutrossujeitos:umeratreinadordelacrosse;outro,defutebol;eoutroerapreparadorfísico.Naqueles dois anos com o Tates como treinador, e sendo eu seu

assistentetécnico,ganhamosquarentapartidaseperdemos15.Chegandoaotérminodemeucompromissodedoisanos, tiveaoportunidadedeiraoutros lugares trabalhar como assistente: Cincinnati e a Marinha. Eletambémrecebeupropostas,maseu sugerique icassemaisumano, eeutambém icaria.Nóstambémíamossermuitobonsnoanoseguinte,oquesigni icaqueeleteriatrêsexcelentesanosconsecutivosemseucurrículoequeestariaemcondiçãodearrumarumótimoemprego.Ele cometeu o que considero um grande erro, partiu para a Miami of

Ohio — nem sequer como treinador, mas como assistente, e com apromessa de umótimo emprego depois (que ele obteve). Issome deixoucomo treinadordoExército, no inaldas contas.Mas estou convencidodeque apenas o diretor atlético que tomou essa decisão, o coronel RayMurphy, me contrataria aos 24 anos, sem nenhuma experiência comotreinador.EleofezporquesentiuqueeraacoisacertaparaobasquetedoExército.De repente, eu era técnico de basquete! E nos primeiros dois meses

como tal, cumprindo meu compromisso de dois anos como soldado deprimeira classe, e ainda recebendo US$98 pormês— graças ao coronelMurphy, comcuja soviniceeu faziamuitagozação.Maseleeraobstinado:euentraraparaoExércitoem11dejunhode1964;fuinomeadotreinadordotimeem1odeabrilde1966;saídoExércitoem10dejunhode1966—eentãoomeusaláriopassouparaUS$6.500,alémdamoradiaincluída.Eu izeraexatamenteacoisacerta.Senãotivessefeitoaescolhaque iz,

quemsabequaldireçãominhacarreirapoderiatertomado,comoascoisasteriamterminadoparamim?Assumiumrisco.

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Aprendi muitíssimo sobre treinamento de equipes universitárias emWestPoint.Nãoé fácil recrutarumatletaparaaequipedequalquerdasForças Armadas por causa da obrigação da pós-graduação militar, quetodo cadete tem de enfrentar. A própria natureza do que o Exércitorepresenta tornaWestPointo lugarmaisdi ícilpara tal tarefa.Epor sertãodifícilrecrutarali,issomeajudounosrecrutamentosdofuturo.Tatestrabalhavaduroeacreditavanopoderequalizadordeumagrande

defesa.Temumprincípiodopoderdopensamentonegativoenvolvidonasimples percepção disso: quando você é treinador, precisa pensar deforma negativa parapensar na supremacia de defesa sobre o ataque,porqueissosigni icadizer,e,talvez,admitir:“Nósnãocontamoscomfazermaispontosqueeles;temosdepensarnumamaneiradepará-los.”

ConselhosdeumhomemchamadoBud

Tates era outro homem que, como Andy Andreas, memostrou como aboapreparaçãoévitalparaganhar.Eissoincluiadefesa,oataqueetodasas fases que existem em ambos. O sucesso das equipes do Tates noExército e o que se seguiu nos meus seis anos lá são os maiorestestemunhos que posso citar para corroborar este credo, que era omaisimportante para mim: “Ter vontade de ganhar não é o bastante. O queimportaétervontadedeseprepararparaganhar.”Existeumahistóriaportrásdessa iloso ia. Jáno imdaminhacarreira,

depois que o século XXI já tinha começado e eu tinha deixado aUniversidadedeIndiana, izumapalestranoClubedaImprensaNacional,em Washington, e o juiz da Suprema Corte Clarence Thomas estavapresente.Játínhamosconversadoantes,eelemedisseraquecarregavanacarteira um recorte de jornal que atribuía essa citação a mim. Eleacreditava muito nessa iloso ia e me cumprimentou por ela. Fiqueilisonjeado. Contei a ele que minhas ideias nesse sentido tinham origemnumaconversaquetivecomumantigotreinadordefutebolamericanodoOklahomachamadoBudWilkinson,emboraafrase,emsi,fosseminha.Bud foi um dos grandes treinadores da história do futebol americano

universitário — na história de qualquer esporte. Suas equipes, noOklahoma, de 1953 a 1957, ganharam 47 jogos consecutivos. Pense só

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nisso:duranteesseperíodo,houveumrodíziototaldoelenco.Osjogadoresqueganharamaúltimadúziadejogoserambemdiferentesdoscarasqueganharamaprimeiradúzia.Esta, acredito eu, é amarcadeum treinadorbom de verdade. E deve sermesmo, porque nenhuma outra equipe, emmais de 140 anos de futebol americano universitário, ganhou quarentapartidasseguidas.MuitotempodepoisdeBudseaposentar,euoconhecipessoalmenteeo

visitei várias vezes. Numa visita em particular, ele me disse duas coisasquesetornarammáximasabsolutasnaminhaabordagemdotreinamento.Aprimeira foi: quandoo timeatingiaomeioda temporada, ele se reuniacom seus jogadores e pedia a cada um que escrevesse a quantidade detempoquedeveriasergastonotreinodaquelatarde.Então,semalteração,elepegavaonúmeromaisbaixodeminutossugeridos.Omaisaltopoderiater sido duas horas emeia, omais baixo, uma hora e quarentaminutos.Elestreinavamporumahoraequarentaminutos.Isso era o pensamento negativo posto emprática. As pernas de nossos

jogadores estão cansadas. Temos que treinar, e treinar duro, mas nãopodemos treinar tanto quanto nos últimos dois ou trêsmeses. Mais umavez,apalavra“não”—aqui,comotantasvezesquandoéapalavra-chaveea palavra certa, sinônimo de “contraproducente”. O que estava sendorejeitado—maistempodetreino—teriafeitomaismaldoquebem.Apartirdeentão,encurteiotempodetreinodenossostimes,namedida

em que o ano avançava. Não era fácil, porque as semanas inais de umatemporadasãoomomentoemquehámaiscoisasemjogo:restamapenasuma ou duas partidas, que podem determinar o campeonato; reduzir otrabalhocontrariao instinto,queéode trabalharcommaisa inco.Maséabsolutamente essencial. Jogadores cansados não pensam ou jogam tãobem quanto jogadores descansados— nem de longe. Há uma citação dogrande Vince Lombardi nesse contexto: “O cansaço nos torna a todoscovardes.”Como resultadodaquela conversa comBudWilkinson, depois dapausa

doNatalestabeleciumlimitedeumahoraevinteminutosparaostreinos,enquanto outros times que conhecia estavam treinando três horas, três

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horas e meia, até quatro horas. Acredito que essa escolha foi o fatorresponsável por termos ganhado muitas das partidas-chave de im detemporada, porque nos últimos dez minutos, tínhamos pernas maisdescansadas;nãotínhamosexauridoosnossosgarotosapontodeelesnãoconseguirem jogar quarenta minutos de basquete no ritmo que o jogoexige.Océrebrodelestambémsebene iciavadisso.Mentescansadasnãocostumamtomarboasdecisões,emqualquersituaçãodavida.Pensamentonegativo—“nãopodemostreinarmuitotempoaessaaltura

docampeonato”—nãoproduziu47vitóriasconsecutivasparanós,comoofez para BudWilkinson, mas nossas equipes de Indiana, nos anos 1970,ganharam,sim,34partidasconsecutivasumavez,e33outravez,nasduasmaioresondasdevitóriadahistóriadoaltamentecompetitivoBigTen.

Umachaveparasucessos

O segundo assunto sobre o qual conversei comBudWilkinson naquelemesmo dia foi a importância da preparação: fazer um time entrar emquadrabem-preparadoeraacoisamaisimportantequeumtécnicotinhaafazer.Era um grande equalizador quando a vantagem da quantidade de

talentos era do outro time. Muitas das vezes, o que a palavra “sucesso”signi ica envolveum timemenormuitobem-preparadoqueganhadeumtimemaistalentoso,quenãoestavabem-preparado.O quão duro você trabalhou na preparação lhe dá a garra de vencer.

Caso tenha se preparado corretamente, você tem uma motivaçãosuplementar para obter um retorno satisfatório do próprio investimentodetrabalho,suorefoco.Costumocontarahistóriadobomatletaquetinhaacabadodeseformar

na faculdade e tinha umamentemuito inquisitiva. Antes de aceitar umadas muitas ofertas que lhe foram feitas para entrar no mundo dosnegócios,eleresolveufazerumaviagemaoredordomundo,paraconhecê-lo.NaÁfrica do Sul, ele foi contratado comoparte de uma expedição poráreas selvagens. Ficou entusiasmado, iria ver uma parte do mundo e omundoanimal,quenuncatinhavistonavida.Noprimeirodia, comomembromais jovemdogrupo, ele estavano im

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da ila e carregando um embrulho que pesava 18 quilos. Atravessandopaisagensselvagens,elecaminhoucomesforçoefoi icandocadavezmaispara trás do grupo. Fez uma curva no caminho, olhou para cima, e viu,sobreotopolisodeumapedra,umleãoadultoagachadoeprontoparadarum pulo — sobre ele. O leão saltou! As técnicas do jovem atleta forampostasemuso:eleseabaixoubematempodedeixaroleãopassarvoandoporcima,efugiu.Quandoo leãoseguiuseucaminho,o jovemassustadoserecompôsese

juntou ao resto do grupo. Naquela noite, ele se afastou de todos paraentrar, de novo, na loresta. Dessa vez, levou um ri le para se prepararmuito melhor se o leão voltasse a aparecer. Longe do acampamento, eletreinou o que faria como ri le e suanova vigilância:mirounumarbusto,então, num tronco de árvore, e, depois, escolheu um alvo e atirou,simulandoumataque, sepreparandopara se tornarumguiamelhor.Eleestava começando a se sentir à vontade em sua preparação intensa,quandofezumacurvanocaminhoe...Acima, bem à sua frente, estava o mesmo leão. Treinando pulos mais

curtos.Moraldahistória:nemmesmoavontadedeseprepararsigni icaqueo

seu adversário não está se preparando também. E se ele estiver, e vocênão,avantagemserádele.

Prepararéensinar

Tudooqueaconteceucomosótimosrapazesque tínhamosnoExércitoreforçou aquela prioridade que eu tinha em mente: preparação,preparação, preparação. Lá e em todos os lugares onde fui treinador, eusabiaqueensinaraganhareraumagrandepartedemeutrabalhoe,semdúvida, era ainda mais importante no desenvolvimento de um futuroo icial.MaisdequarentaanosdepoisdemeusdiasnoExército,umhomemque respeito demais por minha condição de observador de basquete,HowardGar inkel, criadordoFiveStarCamp,dissequeminhaestadaemWest Point foi o melhor trabalho de um técnico em toda a história, porcausa do calibre dos times que nós enfrentávamos e dos quais, com

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frequência,ganhávamos.Foiumdosmaioreselogiosquerecebinavida,maséprecisoenaltecera

disposição daqueles meninos de West Point para serem treinados. Elesacreditaramnofatodequeopoderdopensamentonegativoeraabasedetudo o que eu ensinava: nossos jogadores gostavam de di icultar aomáximoapontuaçãodos adversários, e issoos tornavaoponentesmenosdivertidos e muito di íceis de serem derrotados. Nossos lemas lá, e quesemprepermaneceramcomigo:Ganharcomtalentonãoénecessariamenteaúnicamaneiradevencer.Hácoisasquevocêpodefazerecoisasquevocênãopodefazer.Aeliminaçãodoserrosémaisimportantedoqueavontadedeganhar.Nuncadeixeostatusdotimeadversárioafetaranossamaneiradejogar.

Ser bom durante qualquer período é um fator de esgotamento para

qualquerlíder.Vocêtemdemanteroseutimenumnívelelevado,sempre.Nãodesanime.Nãopercaofoco.Opensamentonegativoquemeajudoutantonoiníciodeminhacarreira

foiaindamaisapropriadonapartefinaldeminhacarreira.Meusprimeiros16anosnaUniversidadedeIndianaforamsobatuteladeumúnicoreitor,JohnRyan.Duranteosúltimosanosdeminhaestadade29anos lá, senti,cadavezmais, que a administraçãoda faculdade e eunão estávamos emgrandesintonia,nãofalávamosamesmalíngua.Continuávamos ganhando muitos jogos, ainda contando com alguns

excelentes rapazes.Euaindaconseguia retribuir àuniversidadedomodocomo mais importava para mim: formando nossos jogadores, trazendoinanciamentos de peso para a biblioteca da universidade. O meupensamento positivo quanto ao que havíamos feito e que continuaríamosfazendome convenceudeque tudopermanecerianamesma, pelo tempoqueeudesejasse.Pensamentonegativoteriaretiradoosantolhos,abertomeusolhospara

o que alguns bons amigos e sábios conselheiros — Pete Newell, o

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comentaristaesportivoCurtGowdy,atéotreinadoradversárioAlMcGuire—tentavammemostrar.Euprecisavadizeramimmesmo:“Nãogostodaatual administração, não consigo e não vou me entender com ela... essasituaçãonãovaimelhorar,aliás,émuitoprovávelquesedeteriore.”Eumesentia confortável lá, e o conforto é uma coisa perigosa. Pensar o futurocompositividade—comumpositivismocego,semconsiderarasmudançasdecircunstâncias—podeserumgraveerro.QuatroanosdepoisdeeuteridoparaoTexasTech,aconteceramcoisas

parecidas. Tínhamos constituído uma trajetória de relativo sucesso, outravez com alguns excelentes garotos e um formidável apoio administrativo.Sentindo-me muito positivo em relação aos rumos de nossas atividades,recuseiumaofertaparasertreinadornaUniversidadedoTennessee.Essefoiomeusegundomaiorerro.Eudeviaterpensadonoqueestavafazendo,sobreaenormediferençaentreessesdoislugaresemtermosdebasquete—TexasTecheTennessee,LubbockeKnoxville.Fiqueipreocupadocomoquanto eu devia ao Texas Tech, quando, na realidade, minha dívida jáestavamaisdoquepaga.Lubbock é um lugar di ícil para se recrutar jogadores, pois o basquete

não é de suma importância para as pessoas de lá. Falo muito sobremáximas e provérbios. Um deles é “a grama é sempre mais verde nojardim do vizinho”— não precisa pular a cerca. Mas a derivação é “nãoseja cego a ponto de não notar o quanto a grama do seu jardim estáicando rala”. Não seja cego às negativas. Jamais permita que coisas quevocê considera positivas subjuguem sua habilidade em determinar osaspectos negativos de uma situação. Esses aspectos negativos sempre serevelarão mais importantes do que o que parece “certo” num emprego.Vocêpodeseenganarquantoaoqueécerto.LideimuitobemcomminhapartidadeWestPoint.Tiveaoportunidade

de ir embora no im de cada um dosmeus seis anos lá. Haviamuito emjogo quando eu estava naquele emprego, inclusive aminha gratidão pelaoportunidade que me fora dada quando eu ainda nem sequer tinhacredenciaisparaserumtreinador.Eeuadoravatrabalharlá—gostavadodesa io de trabalhar com os rapazes formidáveis que entram para o

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Exército.Eu sabiaque,umdia, eu teriadepartir,masesperei atéqueascondições ideais se apresentassem, o lugar certo aonde ir—e era isso oque Indiana representava quando fui para lá. Não há qualquer dúvidasobreisso:eraumexcelentelugarparamim,olugarperfeito,pormuitoemuitotempo.Lubbock tinha alguns atrativos adicionais para mim, sobretudo as

pessoas que conheci lá. Uma das melhores foi, provavelmente, o maiorjogadordefutebolamericanoqueaescolaproduziu:E.J.Holub,umgarotodeLubbockqueveioaserumAll-American,umdosmelhoresjogadoresdocampeonato,membrodoSalãodaFamadofutebolamericanouniversitáriode Tech, e que fez, então, algo ainda inigualável no Super Bowl: foilinebacker titular de Kansas City no Super Bowl I, e, do outro lado docampo, comocenter, na equipe do Chiefs que derrotou o Minnesota noSuperBowlIV.E.J.erameutécnicodelinguagemtexanaemeensinouumapalavraque

teriameeconomizadomuitassílabasseeuativesseouvidoantes:foda.Naprimeiravezquenosencontramos,estávamosatravessandoocampus.Eleapontouparaumcaraedisse:—Cuidadocomele.Eleéfoda!Poucodepois,elemeapresentouaumsujeitoedepoisdisse:—Esseaíéumcaralegal.Eleéfoda!—Altolá.Comoéquefodapodeserumcarabomeruim?—perguntei.Ele apenas riu e se tornou tão bom amigo nosmeus anos em Lubbock

quantoeraprofessordeidioma.Mas,apesardetodasaspessoaslegaisqueconhecieaquemmeafeiçoei

em Lubbock, em termos de amor e gosto pelo basquete, aquilo lá era ocontráriodeBloomington.Umexemploqueprovaissodemaneirapatenteparamimocorreuduranteoperíodoemqueestivesobosholofotes,jáqueestávamosprestesaganharojogoque,emnúmeros,medeuorecordedevitóriasnahistóriadeumtécnicodaNCAA.OquequerqueeudigasobreodesinteresseessencialdeLubbockpelo

basquete, issonão icouevidentenorecessodeNatalde2006.Nósaindanão tínhamos começado a temporada da nossa Conferência; os grandes

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times por todo o país estavam numa espécie de calmaria natalina; e osholofotes do basquete da universidade estavam apontados para algo quenãotinhanadaavercomasapostasoucomareta inaldocampeonatodaNCAA:ofatodeque,depoisdeunsquarentaanoscomgrandesjogadorese grandes equipes, eu estava a uma vitória do recordede 879queDeanSmith estabelecera em um período similar, com grandes jogadores egrandesequipesenquantotreinavaoNorthCarolina.JogamosemcasacontraoBucknell.Umaequipemuitoboa,masquenão

estavaentreasseisprincipais.ElestinhamvencidoKansaseArkansasemanossucessivosnocampeonatodaNCAA.AESPNlheshaviagarantidoqueum jogo seria transmitido na tevê, em cadeia nacional, e ninguém queriaenfrentá-los. Nós os enfrentamos com casa cheia. Nós ganhamos. Nósjogamosbem.Todosestavamanimados.Aanimaçãodetodosprovinhadofatodequeaquiloeraum“acontecimento”,enãoporqueerabasquetebol.O jogo contra o Bucknell garantiu o recorde. Jogamos contra a UNLV

(UniversidadedeNevada, LasVegas) emseguida, comapossibilidadedeestabelecerorecorde,eperdemos—nãojogamosmuitobem,mas,repito,fora um jogo de casa lotada. Poucos dias depois, no dia de ano-novo, emrede nacional, com o Dick Vitale e todos os grandes nomes do meio,jogamoscontraoNovoMéxico—denovo, casa lotada,emboraaindanãohouvesse estudantes no campus. Nós ganhamos. Todos foram à loucura.Minha equipe icou feliz. Acho que eles gostaram de fazer parte daquilotudo; eles sentiram, e com toda a razão, que tinham uma participaçãoimportante naquela superação de recorde. Houve um entusiasmoformidável,umafestae tanto,o tributopessoalmaiscalorosoegentilqueeupoderiaterrecebido.Masatémesmoemmeioaissotudoeunãotivecomonãoperceberque

não era pelo basquete em si; foi um “acontecimento” que gerara aquilotudo.O que eu já vinha intuindo antes se tornou uma certeza naquele dia.

Estava na hora de ir embora, de encontrar um lugar onde eu meencaixassemelhor.Naverdade,jápassaradahora.Não me interpretem mal: eu adorava as pessoas em Lubbock. Eu

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adoravaoquemeeraoferecidoemáreasquemeagradavamtanto:caça,pesca,golfe.DomesmojeitoqueeugostavadaspessoasemBloomingtoneosamigosdacaça,dapescaedogolfedelá,eoslugaresaondeir.Vocêpode icarassoberbadocompensamentossentimentais:“Quegente

legal que tem aqui, eles têm sido maravilhosos comigo.” Mas, em setratandodedecisõesdevida,temdeseroqueémelhorparavocêeparasuahabilidadeemfazeroseutrabalho;nãosedevedeixarlevarporcoisasquenãotêmnadaavercomasuapro issão.Oconfortoentranoprocessodedecisão,eissoésempreperigoso.Vocêprecisadecidirqualéamelhorcoisaafazer,nãoqualé“a”coisa“certa”,deumpontodevistateórico.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Seiqueestátarde,masnãogostodojeitodaquelelugar.Podemoscomeralgonapróximacidade.

Sevocêgostardecomidadasmáquinasdepostodegasolina.

Aestradanãopareceestarcobertadegelo.

Tardedemaissevocêdescobrirqueestáquandocomeçaradeslizarnapista.

Estaarmanãoestácarregada.

Quantotempolevaparasetercerteza?

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Q

7Caminhosnegativosparagrandesvitórias

uando me mudei de West Point para Indiana, olhando de fora,parecia que “Indiana vinha tendo jogadores e equipes excepcionais

por um longo tempo; o basquetebol é um esporte commuitos torcedorespor todo o estado; muitos grandes jogadores vieram daqui”. Nisso tudo,pareciaqueIndianaiaserumaexcelenteexperiênciaparamim.Mas eu tinha a ideia ixa de que a defesa ganha jogos. As equipes de

basquetedeIndiananãoeramoquesepodechamarde famosasporsuadefesa.Eu sabiaquenãoestavaapenaspedindoaos jogadoresquepensassem

em termosdeumaperspectiva todanova. Para os torcedores, também, aênfase que euqueria colocar nadefesa e na escolhados arremessos erabem diferente do que eles pensavam para o basquete de Indiana —basquete“apressadinho”,bemtipicamentelocal—havianãoapenasanos,masdécadas.Certashoras,eupensava:“Noqueéqueestoumemetendo?”“Possovencernessasituação?”“Achoquevocêjogabasquetedeumjeito.Elesestãoacostumadosaver

oesportejogadodeoutro,queelesadoram.”Eu estava, de fato,muito inseguro quanto à probabilidade de aceitação

doquenósíamosjogar,ese,como iqueisabendomaistarde,umcaradeBloomingtonquesetornougrandeamigomeuestavacertoquandodisse,àépoca: “Nãosei comoessaspartidasde51-50vão serdisputadaspor lá.”Jogos em torno dos cinquenta pontos não eram incomuns quando asnossasequipesdoExércitoestavamliderandoanaçãonadefesa.AnormaemIndianaerampontuaçõesdessetipojánointervalodoprimeiroparao

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segundo tempo; por oito vezes, em dez anos, justo antes de eu chegar,aqueles “apressadinhos” haviam ganhado ou perdido partidas em queambosostimeshaviamfeitocempontos.Maseusabiaquetinhadefazeroqueconsideravamelhorparaotipode

basquetequequeria jogar.O treinadoraquemsucedi,LouWatson, tantojogara quanto treinara naquele sistema de contra-ataques, mas ninguémpoderiatermetratadomelhoroumeacolhidodejeitomaisabertodoqueele. Em vários almoços e jantares, ele me apresentou como “o cara quetirouapressadosapressadinhos”,eeugostavadisso.Eu não sabia se seria bem-aceito pelo público em geral, mas achava

então, como sempre achei emmomentos como aquele: “O que é que elessabem, na verdade, do assunto? Acho que sei melhor o que leva a umavitória do que qualquer um naquela quadra. Tenho de fazer o que forpreciso.”Meu primeiro verdadeiro teste aconteceu no meu quarto jogo como

treinadordeIndiana—emLouisville,contraoKentuckyeoAdolphRupp,meu primeiro clássico Indiana-Kentucky. Como nativo de Ohio, vindodiretamentedeWestPoint como treinador, eunão tinhauma ideiamuitoprecisa de quanto as pessoas em Indiana e emKentucky se odiavamporcontadaquestãodasupremacianobasquete.Não conheço outras duas universidades de estados vizinhos cuja

rivalidade acirrada nos esportes comece tão cedo — antes de seusjogadores sequer entrarem para a faculdade. O campeonato Indiana-Kentucky All-Star de verão das escolas secundárias não tem igual nosEstadosUnidos.MuitoantesdetermosumMcDonald’semqualquerlugardomundo, esseAll-Star (temporadaque reúneosmelhores jogadoresdoensinomédiodopaís) teve inícioem1940,emaisdesetentaanosdepoisainda continua. Antes mesmo de jogar uma partida universitária, RalphBeard,WahWahJones,ClydeLovelette,FrankRamsey,CliffHagan,OscarRobertson,CottonNash,TerryDischinger,DickeTomVanArsdale,LouieDampier,Wes Unseld, George McGinnis, JimMcDaniel, BobbyWilkerson,Darrell Grif ith, Kent Benson, Jack Givens, Steve Alford, Allen Houston,Glenn Robinson, Damon Bailey, todos eles e ummonte de outras futuras

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estrelasuniversitáriasjogaramnessecampeonato.QuandochegueiaBloomington,asUniversidadesdeIndianaeKentucky

não tinham uma longa tradição de rivalidade acirrada. Da temporada1944-1945 a de 1964-1965, elas não se enfrentaram. Elas haviamreabertoocampeonatoecomeçaramumencontroanualnaépocaemquefui para lá, mas a Indiana não ganhava uma partida desde 1943, e seustorcedores estavam commuita fome. A partida de 1971-1972 foi emLouisville, não em Lexington, porque a Kentucky jogava suas partidasdomésticas no campeonato da Indiana, na maior quadra disponível— aFreedomHall,bemdooutro ladodorioOhio,nocoraçãoda Indianamaisferrenhamenterival.Tínhamosabertoomeuprimeiroanocom trêsboasvitórias, sobreBall

State, Kansas e Miami of Ohio, tudo isso em seis dias. Foram as trêsprimeiras partidas jogadas no então novíssimo Assembly Hall. Senti quetinha sido um ótimo começo para nossa temporada, mas para aquelestorcedores de Indiana, sobretudo os torcedores sulistas, aquelas escolasquevencemosnãoeramKentucky,eaquelesoutrostreinadoresnãoeramoAdolphRupp.EláestávamosnósindoparaLouisville,paraenfrentarnãoapenasoodiadorivalestadual,masaequipequeeratalvezamaisfamosarepresentantenopaísdobasquete“apressado”queoslocaisamavam.Peguei a estrada com minha equipe, descendo a Interstate 65,

atravessandoapontesobreorioOhio, semnemmesmosaberseonossomelhor jogador, Steve Downing, teria condições de jogar. Steve tinhamachucadoo joelhonapartida contraMiamiumasemanaantes, e, desdeentão,nãotinhapodidotreinardireito.Naquela partida, Steve teve a melhor performance que já vi em um

jogador. Disputou todos os cinquenta minutos de uma partida com duasprorrogações,marcou 47 pontos e pegou 25 rebotes. Ganhamos de 90 a89.Àsvezes,resultadospositivosvêmdesituaçõesnegativasporpuraforça

devontade.EraoqueStevetinhanaquelanoite.Elefoimentalmenteforteo su iciente para superar uma condição ísica séria que envolvia o seujoelho.

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TereiumaeternadívidacomoSteveeaqueleprimeirotimedaIndiana,é claro, mas ainda mais para com o diretor atlético Bill Orwig e opresidenteJohnRyan,oscarasquemecontrataram.Elesderamumpassobem questionável ao me levarem para lá — com apenas trinta anos deidade, treinador por seis anos, um bom recorde, mas sem ter levadoqualquerdosmeustimesaoúnicotítuloque,defato,importavaemIndianaenoMeioOeste, aNCAA.Eunemqueria tentar lhes explicarporque,noExército,nóschegamosarecusarumconviteparaocampeonatodaNCAA,afimdeparticipardomenosprestigiosoNIT.A Universidade de Indiana e seus torcedores não tiveram um único

técnicodebasquetequenãofossedaescolaporquasecinquentaanos,eláestava eu, vindo da Ohio State — que o pessoal da Indiana odiava deverdade desde minha época de jogador. Bill Orwig e o dr. Ryan apenasacharamqueeueraomelhorsujeitoparaoserviço,embora,muitasvezes,isso não seja um fator prioritário nesse tipo de decisão. Lembro-me dedizeraosr.Orwig,caminhandoemdireçãoàportadodr.Ryan:“Issoéatémeio interessante: um cara do Michigan [o Bill era um grande atleta lá]contratandoumcaradaOhioStatepara ser treinadorda Indiana.”Eelesreceberam, sim, muitas críticas, não só por isso, mas porque eu erabastante desconhecido e vários nomes de maior destaque tinham sidoconsideradoscomopossíveisantesdeeuserselecionado.

Pensamentonegativoparaumcampeonato

Em retrospectiva, vendo quantas vezes eu apliquei o poder dopensamento negativo num plano de jogo, o melhor exemplo que possooferecerfoianoitenaFiladél ia,em1976,quando,nomeuquintoanoemIndiana,nósvencemosMichiganeconquistamosocampeonatonacional.Fomosparaaquelejogopelocampeonatodemododiferentedetodosos

outrostimesdahistóriadoscampeonatosdaNCAA,tendoderrotadonossoadversário das inais duas vezes durante a temporada. Nunca tinhaacontecido isso antes, porque era a primeira vez que duas equipes damesmaConferênciadisputavamumafinal.Umadenossas vitórias sobreMichigan, a deBloomington, que jogamos

emcasa, foiumjogoemquetivemosmuitasorte.QuinnBuckner,quenão

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vinhaarremessandobem, fezsuaprimeiracestadodianoúltimominuto,nosdeixandoadoispontos.Então,eleserraramum lance livre,eonossojogador JimmyCrewssalvouumarremessoperdidoqueestavasaindodaquadraejogouabolanadireçãodacesta.KentBensonpontuounoúltimoinstante e empatamos. Jogamosmelhor na prorrogação e ganhamos (72-67),masnãoexisteoutraexplicação.Tivemosmesmomuitasorte.Depois jogamoscontraaquelemesmo timepelo campeonatonacional, eiz a preparação para a partida de uma maneira muito negativa. Minhaprimeira coisa ação foi rever o ilme daquele jogo da prorrogação comnossos jogadores. Vimos e revimos, conversando sobre como eu achavaque tínhamos jogado mal na defesa. Aquele era, sempre, o julgamento-chaveparamim,mastambémnãotínhamosjogadobemnoataque.Nossosarremessos foramhorríveis. ScottMayerrou19, omáximode todaa suacarreira.TomAbernethy,BucknereBobbyWilkersontiveram, juntos,umaproveitamento de 2 em 22 arremessos, e tivemos 22 bolas perdidas.Arremessamos 37% naquele dia, comparados a 51,7% em toda atemporada (52,3% sem contar aquela partida). Por maior que fosse omérito do Michigan, sabíamos que teríamos de ser uma equipe muitomelhornafinaldoquetínhamossidonaquelanoite.Um técnico pode icar maluco tentando entender o porquê daquela

partida fora de esquadro.Havíamos ganhadodoMichigan emAnnArborantes,por80-74,masnaquelaveznós tínhamos tidovantagemdepontosdesde o início, começando com uma diferença de 16-2, sem perder ocontroledoplacaraolongodojogo.Agora,osegundojogoaconteceramaisoumenos ummês depois, emBloomington, e não tínhamos perdido paraninguém. Estávamos em casa, nossa torcida seria ótima, talvez — ostreinadores sempre se preocupam com coisas desse tipo —, e nossosjogadores sentiam que tudo o que precisávamos fazer era entrar emquadraeganhardoMichigandenovo.Nuncaéassimqueacontece.Enãoaconteceuassim.Aquelefoiumdiamuitolongoedifícil.Entãoveioaterceirapartida,pelocampeonatonacional.Acheiquetinha

dedesenvolver um resultadopositivo para aquela situação. Para tal, useiuma abordagem negativa: senós fôssemos Michigan, deveríamos estar

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pensandoquetínhamosboaschancesdeganharde Indiana,combasenaúltimapartida.Toda a minha abordagem foi: “Não podemos jogar como jogamos da

última vez. Cada um de vocês tem de dar omelhor de si, para podermosganhar.Elesnãosãoumaequipeinferior.”Eelesvinhamdeumaboafase.Tinhamchegadoàs inaisdandouma surranaequipedoRutgers—queestivera invicta e ocupava o quarto lugar no ranking— e ganhando deduasequipesmuitoboasnotorneioanterior,NotreDame(23-5,como All-American Adrian Dantley, em sétimo no ranking) e Missouri (26-4,campeão do Big Eight, em décimo). Fiz questão de que soubessem dissotudo: “Eis um time que está numa boa fase. Elestêm que pensar quepodemnosvencer.”Então, com dois minutos de jogo, perdemos nosso armador Bobby

Wilkerson, homem-chave da defesa que tornava o time tão bom. Bobbybateuacabeçacomforçanochão, icoudesacordadoeprecisouserlevadodiretoparaohospitalcomumaconcussãoséria.Nós não jogávamos bem sem ele e icamos para trás, 35-29, até o

intervalo. Não falei sobre o Bobby— ele está fora, não precisamos falarsobre o Bobby não estar presente, embora isso fosse uma coisaextremamente negativa. Ele não era apenas um grande jogador, tambémerabomamigodetodos,sobretudodeMayedeBuckner.MasaquelanãoerahoradesentirpenadoBobbyoudenós.Eraahora

dedizer:“Escuta,oscarasqueestãonestevestiáriotêmdeconseguir.E,anãoserquenósjoguemosdamaneiraquesomoscapazesdejogar,vamosacabarperdendo.”A imdetransformarissonumacoisapositiva,tínhamosde ter ótimo empenho tanto do Jimmy Crews e do Jimmy Wisman, queestavasubstituindooBobbyWilkerson,quantode todososdemais.Enãotínhamos feito issonoprimeiro tempo, por isso estávamospara trás.Nãoprecisavaserumapartidadecampeonatonacionalparaqueeuabordasseumasituaçãocomoaquelameperguntandose iríamosconseguir, fazendoduasperguntas: primeira: “Comoéquepodemos estar jogando tãomal?”Segunda:“Comopodemosmudarisso?”Assim que me aproximei deles, perguntei: “Estamos jogando o melhor

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quepodemos?Cadaumdevocêsprecisase fazeressapergunta.Eentão,vocêsestãojogando,comoindivíduos,jogandoomelhorquepodem?Certo,o que estamos fazendode errado?Não estamos sendomuito precisos noque estamos fazendo. Nossos cortes e nossos bloqueios necessitam deprecisão.Étudoumaquestãodeexecução,meninos.Senãoconseguirmosmelhorar nossa execução na ofensiva... enão podemos deixar oMichiganobterumavantagemgrandeno iníciodopróximoperíodo, senãovai icarmuitodifícilalcançá-los.”Pensandobem,tudooqueeudisseaelesnotempofoise enão.Nãofui

dizendo “oi, gente, estamos indo bem”, porque não estávamos indo bem.“Vai icar tudo bem” — não,não vai icar tudo bem, a não ser que nósmudemos algumas coisas, e a não ser quemudemos demodo drástico ecomrapidez,vamosnosvernumasituaçãoemquenãovamosmaispoderrecuperaradiferençaqueelesimpuseram.Nãoameaceinemmeenfureci.Eumefixeinose/não.Nãotínhamossofridotantospontos:35—nadaexcelente,masaindaera

possível ganhar com aquela defesa. Mas nosso ataque: 29 pontos... “Nãopodemos ganhar esse jogo com nosso ataque atuando como no primeiroperíodo.”Eisapalavranão.Conseguimoschegara51-51faltandodezminutosparao inal,e,então,izemos tudo o que dissemos que tinha de ser feito. Jogamos tão bem apartir de entãoquenosúltimos cincominutos o jogo estava virtualmentedecidido. Um exemplo de nossa concentração naqueles últimos dezminutosfoiqueBuckner,quenãoeraumgrandearremessadordelanceslivres,acertouseisseguidos.Nóstambémestávamosfazendotudodojeitomaismaravilhosopossível.Fizemos57pontosnosegundoperíodo.Ninguémcomentounadasobre

isso na época, e, na verdade, nunca vi qualquer comentário desde então,mas isso, 57 pontos, estabeleceu um recorde que ainda não foi batido: omáximo de pontos que qualquer time jamais fez em qualquer tempo deumapartidadecampeonatodaNCAA.Isso é, para mim, espantoso, porque aquele não era um time

marcadamenteofensivo.Masque tributoparaaequipee seus jogadores:

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sofrendoummáximodepressão,elesjogarammelhor,numperíodocrítico,epontuarammaisdoquequalqueroutrotimejamaispontuou.Pense nisso: 35 pontos em apenas dez minutos, os dez minutos que

definiramocampeonato,a35-17,contraumaequipemuitoboa,queestavavivendooseumelhormomentonotorneio.Eu lhes dissera justo antes de voltarem à quadra, depois do intervalo:

“Temos vinteminutos para jogar basquete tão bemquanto pudermos. Senãojogarmos,vamossersómaisumtimequeperdeua inaldaNCAA.Massejogaremosvinteminutosquesãocapazesdejogar—se izeremisso—,vocês serão uma equipe histórica. Vocês serão uma equipe da qual aspessoas vão se lembrar sempre, não só como um campeão nacional,mascomoumaequipequenãoperdeuumapartida.”Jáfazquasequarentaanos,e,desdeentão,ninguémseequiparouaeles.E as pessoas, sobretudo as de Indiana, lembram. Claro, reconheço que,

nessejogo,aofensivapredominousobreadefesa.

BreveintroduçãoaMichaelJordan

O pensamento negativo, mesmo quando vai contra alguns de meusprincipais preceitos, foi essencial para ganhar outra partida docampeonatodaNCAA,quandoavantagemdo talentopareciaestar comonosso adversário — que também era um adversário bem-treinado aoextremo.MinhafamiliaridadecomoMichaelJordancomeçouquandoonossotime

de Indiana de 1984 jogou contra ele e o time do North Carolina, naprimeiranoitedoregionaldaNCAA,emAtlanta.Nãotínhamostidoumexcelenteano,eelessim.Eleseramosprimeiros

norankingnacionalao inaldatemporada,eoJordanfoioJogadordoAnodeBasqueteUniversitário.Pormelhorqueelefosse,elenãoeratudooqueaquele time do North Carolina tinha de bom. Aquela partida também foiminhaoportunidadedeconheceroutrogrande jogador,SamPerkins,quese tornounosso titularna equipeolímpica e, depois, jogadordedestaqueda NBA. James Dougherty estava há pouco tempo nessa equipe, mas foiescolhidonaprimeirarodadadaNBA.TerryHolland,treinadordeVirginia,chamaraaequipedoNorthCarolinade,talvez,“omelhortimedebasquete

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universitáriodetodosostempos”.As negativas foram postas em prática no meu planejamento daquela

partida,emboranãodamaneiraquesepoderiasupor,enemdelongedamaneira como eu conversara com minha equipe naquela semana. Nãolembro ao certo, mas me contaram que comecei o primeiro encontro denossa equipenaquela semanade jogo indo aoquadro e dizendo: “VamosderrotaroNorthCarolinaeeiscomo.”Se foiassim,então, foidiferentedohabitual,masnóstínhamosumatarefadiferente.O pensamento negativo estava por trás de qualquer otimismo que eu

retratei.Antesde tudo,naquele jogo,eu tinhacertezadequenão iríamosconseguirpararoJordan.E,comcerteza,nãoconseguiríamosjogarcontrao North Carolina aseu modo — veloz. Dean Smith foi um dos grandestreinadores da história do basquete. Seus times eram sempre bem-preparados, eles sempre executavam bem. Era óbvio que gostavam dejogarnumritmorápido—eerambonsnisso—,ejogavamdaquelaformatantonoataquequantonadefesa.Naquele primeiro dia, conversando com nosso time, comecei com o

Jordan: “Tem duas coisas quenão podemos deixá-lo fazer.Não podemosdeixar que ele pegue rebotes ofensivos e não podemos deixar que elepasseportrásdadefesa,nobackdoor.”Naquela partida, Dan Dakich, jogador de 1,95m, trabalhou muito bem

cumprindoessamissão.E, lógico,eletevealgumaajuda.Naqueleprimeirodia,eudissera:“Olha,

nósnãovamospararo Jordana todomomento,masquandoelecolocarabola no chão e tentar penetrar na defesa, nóstemos que ajudar com umsegundo defensor — assim que a bolatocar no chão, aquele segundodefensor precisa deixar quem ele estiver marcando e colar nele.” Paramim, aquilo era uma coisa bem negativa: encarregar dois jogadores deimpedirqueumpenetrassenadefesa.“Vamosdaraeleoarremessode longe,porque, se tentarmos tirar isso

dele,elevai terumaoportunidademelhordepenetrarnadefesaepegarrebotes—eelevaiconseguircortarpelofundodadefesaeencestar.”Bastava evitar que o Jordan izesse o que ele sabia fazer melhor.

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Tínhamosessasduasprioridades:nãodeixá-locortarnadireçãodacestanemchegarpróximoàtabela.Nempoderíamosjogarnossojogoofensivohabitual.Nãoéramosumaequipequejogassenumritmorápido,eeunãoachava

que,nessapartida,nósconseguiríamosdesaceleraroNorthCarolina.Nósreforçamos, nessa partida, algo para o que estamos sempre atentos:manusearbemabola.Nossaequipemanuseavamuitobemabola,masoNorthCarolina,sobocomandodeDeanSmith,sempregostoudecercarededefenderdoiscontraum:umpasseerafeito,osdefensoresdeixavamoadversário e corriam para o passe, e pressionavam quem estava com abolaafazerumpasseruim.Comexcelentesatletasportodaaquadra,essatáticadefensivaeasroubadasdebolaqueproduzreforçavamoqueelesfaziamnoataque.Mudamos nossa tática para combater sua estratégia. Em vez de usar

nossahabitualofensivadecortesebloqueios,esperamosquecadajogadorquerecebesseumpassesoubesseondenossosoutros jogadoresestavamsituados e icassem prontos para um passe rápido para um dos colegas.Nosso principal foco de ataque naquela noite era procurar pelo homeminevitavelmente livre contra a defesa dois contra um do North Carolina.Acreditoquenossoúnicotrunfo,ahabilidadedemanusearbemabola,foiamaiorrazãopelaqualpudemosganharojogode72-68.Não cometemos muitos erros e izemos bons arremessos. Steve Alford

aindaeranovatonaquelejogo,emarcou27pontos—muitosporqueelesmarcavam dois contra um, o que deixava até ele, nosso melhorarremessador,livre.Paramim, reduzirminha ênfase costumeira nos cortes e nos bloqueios

foi o máximo em termos de pensamento negativo. Eu não acreditava dejeito nenhum que nós conseguiríamos jogar o nosso jogo com grandee iciência contra aquela defesa. O resultado de nos afastarmos de nossoponto forte foi tão positivo naquela noite— a beleza do campeonato daNCAA é que você não precisa derrotar um time quatro vezes em sete,bastauma—quenósatéconseguimospontuardemaneiraconsistenteaolongo da partida e obter uma vantagem bastante folgada nos minutos

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inais. Aqueles minutos foram longos. Erramos um número irritante delances livres, mas acertamos o su iciente no inal para evitarmos ummassacreporpartedoNorthCarolinanosúltimosinstantesdojogo.

Umarmadorentreosgigantes

TínhamosjogadocontraoutraequipeexcepcionaldoNorthCarolinatrêsanos antes, no jogodo campeonatodaNCAAde1981,naFiladél ia—noSpectrum, mesma quadra onde o nosso time de 1976 vencera ocampeonato.Haviatantoumasituaçãonegativaquantoalgumpensamentonegativoenvolvidosnaquelapartidade1981,queganhamosde63-50.A situação negativa eramuitomaior do que o jogo de basquete. Umas

seis horas antes do início da partida, do lado de fora de um hotel emWashington,opresidenteRonaldReaganreceberaumtiro.Quandoanotíciaseespalhou,estávamosconcentradosnospreparativos

paraapartida.Nãocreioquesequerestivesseapardoacontecidoatéastrêsdatarde,e,àquelaaltura,aCasaBrancaestavatransmitindotodasasmensagens tranquilizantes que podia: “O presidente não está correndoperigo, a bala não causou nenhum risco demorte, ele e a nação tiverammuita,muitasorte...”No im das contas, aquilo era mentira. Ele esteve, sim, correndo sério

riscodehemorragia interna,mas, por razões de segurança internacional,só se soube disso vários anos depois. Enquanto isso, os presidentes doNorth Carolina e do Indiana se encontraram e resolveram, combase nasmensagenspositivasdeWashingtonsobreacondição ísicadopresidenteReagan, que o jogo do campeonato da NCAA deveria prosseguir como oplanejado.O que Dean Smith e eu não tínhamos como saber era o quanto aquilo

tudoforaumadistraçãomentalparaosnossosjogadores.Seoassuntodatentativa de assassinato chegou a ser comentado na minha palestra aosjogadoresantesdapartida,tenhocertezadequefoisó“olha,gente,temosde disputar um jogo de basquete”. Concentrei-me no basquete, e tenhocerteza de que os jogadores também. Sua juventude contribuiu demodopositivo. Apesar de todas as mensagens tranquilizadoras, não creio queelesforamafetadoscomomuitosadultosforam.

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O jogoemsi teveumelementopouco convencional. Foi aúnicavez, emsuas duas temporadas conosco, que jogamos com o melhor armador dopaís, IsiahThomas,nacabeçadogarrafão,decostasparaacestaondeospivôsemgeraljogam.Não foi algo que nós planejamos,mas já tínhamos feito aquilo algumas

vezes em jogos da temporada regular emuitas vezes durante os treinos.Isso foi importante. A surpresa é sempre uma grande arma se tiver sidotestada de jeito meticuloso. Surpresas não testadas tendem a criar umdesastrosoefeitobumerangue.Isiah era muito di ícil de ser marcado ali — não estava, de fato,

acostumadoa jogardecostasparaacesta,masperfeitamentecapaz, semdúvidamuito hábil nomanejo de bola, indo rápido em qualquer direçãopara levar a bola até a cesta, excelente passador caso um arremessadorestivesselivrenoperímetro.Ele fezquatropontosnoprimeiro tempo, jogandona suaáreahabitual.

No segundo tempo, elemarcou19pontos, e fomosde27-26no intervaloparaumavitóriade63-50.Basicamente,acheiqueelesnãoconseguiriamsegurá-loalidentro,enãoconseguirammesmo.Ele foi nomeado JogadorExcepcional do jogo, e as razõesmais comuns,

mencionadas para tal, foram as duas roubadas que ele converteu embandejas, abrindo o segundo tempo e criando uma vantagemmaior paranós. Mas foi sua posição de pivô, para um armador de 1,85m entregigantes como JamesWorthy e SamPerkins (que seriam futuras estrelasda NBA), que nos permitiu usar um terceiro armador no jogo, chamadoJimmyThomas.Jimmyfezumgrandetrabalhodefensivonooutroaladeles,AlWood,quemarcara39pontosnavitórianasemi inaldeNorthCarolinacontraVirginia.OJimmyjogoutãobemnosnossosdoisjogos inais,quefoinomeadoparaaequipeAll-Final-Four,umdosrarosjogadoresreservasareceberemtalhonra.Comanossaescalaçãomenoremaisrápida,refreamosocontra-ataque

doNorthCarolinaeganhamosojogocomadefesa.ApesardetudooqueoIsiah conseguiu fazer como pivô, os jogadores, depois, ressaltaram que amarcaçãotinhasidoodiferencial.

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Umfimdesemanadeideiaspositivassobreopensamentonegativo

Nosso terceiro campeonato nacional em Indiana representou toda umasériedeconsequênciaspositivasresultantesdecontrariaralgunsdemeusprincípiossobrecomo jogar,umadasdecisõesmaisdi íceisquequalquerlíder temde tomar— sobretudo um tão irme em suas convicções sobrecomojogar,comoeu.Foi em 1987 e envolveu não uma partida, mas duas — os jogos da

semi inaleda inalno imdesemanadesábadoasegunda-feiranoFinalFour, no Superdome de Nova Orleans. Cada jogo apresentou o própriodilema.Nas semi inais de sábado, o Syracuse jogou primeiro e teve muita

facilidadeemganhar,pela terceiraveznoano,doadversáriodaBigEast,Providence.Nósentramosnaquadraemseguidaparaenfrentaraequipenúmeroumnorankingnacional,aUNLV.Jerry Tarkanian era um treinador tremendamente defensivo, e sua

equipedaUNLVde1987eramuitoduradeenfrentarnosdoisextremosda quadra: os “Running Rebels”, que tinham amaior pontuação do país,média de 92,6, recebiamquase toda a atenção. Ao longo dos anos, fomosumtimequecostumavanãoseapressar,queusavacortesebloqueioa imde icarmoscomnossosmelhoresarremessadoreslivresparaarremessosque eles converteriam pelo menos metade das vezes. Esse era o nossoplanoparaquasetodososjogos.Ao jogarmos contra aUNLV, éramosumbom time,um time respeitado,

com 29-4, e co-campeões da Big Ten. Mas, naquele ano, icamos maisconhecidospornossosarremessosenossoataquedisciplinadodoquepornossa marca registrada habitual: a defesa. Não que eu tivesse mudadominhaspreferências,masonossopontofortenaqueleanoerammesmoosarremessos.Então, os caras que tinham a minha atual função — os analistas

desportivos dos jornais e da tevê— concluíram que nossa única chancenaquelejogoseriajogarcomumaestratégiadegatoerato,parareduziraUNLVaumritmoqueosirritasse,jogandocomextremaprecaução,tirando

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vantagemdagrandenovidadedobasqueteuniversitárionaqueleano—oarremesso de três pontos e o grande arremessador de três pontos quetínhamos, SteveAlford.Façam issoe, ah, sim, tambémo seguinte: àmodadeVillanova, comona sua vitória do jogo do campeonato deGeorgetown,em1985,acertandoquasetodososarremessos.Emmuitos jogos, senti que era isso mesmo: manter a bola nas nossas

mãos a maior parte do tempo era a melhor maneira de enfrentar umaequipetalentosaerápida.Maseunãopenseiissonaquelaocasião.QuantomaiseuviaovídeodaVegas,mais euachavaqueessaeraamaneiradenão jogar comela.Minha ideia comrelaçãoàquele jogoera adequenãopoderíamosganhardaquelejeitoporcausadesuadefesa.Senti que teríamosmelhores condições de vitória usando o seu tipo de

jogocontraaprópriadefesa—sejogássemosnumritmolento,osgrandesatletas jogando com uma excelente defesa nos engolfariam, e teríamosdi iculdades para pontuar. Quanto mais passássemos, mais riscoscorreríamosdeperderabola.Erapensamentonegativodeminhaparte,oinverso total do que costumo planejar para cada jogo: senti queprecisávamosjogarnoritmoqueelesqueriam,muitorápido, fazermuitospontose,éprovável,perdermuitosoutrostambém.Agora, o planejamento estava feito, mas o melhor planejamento não

presta sem a execução dos jogadores. Com a regra de nossos “quatropasses” suspensa temporariamente, nossos garotos ainda disciplinaramsuaseleçãodearremessosbemobastanteparaarremessar61,7%(aindaumrecordedesemi inaldoFinalFour).AUNLV,noentanto,foimelhoremarremessos de três (recorde do Final Four de 35, 13 cestas; umde seusmarcadores,FreddieBanks,bateuumrecordeindividualdecestasdetrêsdoFinalFour:10).E o nosso time?Durante toda a noite só izemos quatro arremessos de

três, todosdeAlford,queencestoudoise fez33pontos.Nãoconvertemos93pontos—emqualqueroutrojogo,issoteriamedeixadofurioso—,masmarcamos 97, e essa pontuação atípica nos levou ao jogo da disputa docampeonato.Ótimo!Queempolgantefoiaquiloparaosnossosmeninos,naquelanoite.

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Sobosholofotesmais iluminadosdobasqueteuniversitário,nós tínhamosganhadodaequipenúmeroumdopaís.Mas...Nossos jogadores estavam cansados. Exaustos. Emocionalmente

esgotados.Enóstínhamosdejogaroutrapartida.Logo.Pelocampeonatonacional.Minha teoria último jogo-próximo jogo, e o desa io de colocar uma

enormevitóriade ladode imediatopara focarnopróximodesa io, nuncafoitestadatãoasério.Não era umproblemaparamim.Assimqueaquele jogo contraaUNLV

acabou,meuúnicopensamentofoiqueaindatínhamosumjogoadisputar,e Syracuse eramuito bem-treinado pelo JimBoeheim, que também tinhaatletas formidáveis.Os talentosdeSyracusenãoeram tão comentadosnaimprensaquantoosdaUNLVporcausadaprimeiracolocação,mastrêsdeseus melhores jogadores (o ala Derrick Coleman, de 2m05, o pivô RonySeikaly,de2m13,eoarmadorShermanDouglas)foramparaaNBA,ondetiveram,todos,carreirasdemaisdedezanos.Soutreinador.Euqueriairlogoparaaquadraeprepararotimecontra

oSyracuseeazonadedefesaqueBoeheimensinamelhordoqueninguémnosEstadosUnidos.Elesempretemessazonatãobem-executadaporsuasequipes, que Syracuse, há muitos anos, e até hoje, é um dos times maisdifíceisdeseprepararparaenfrentar.Maseutambémsabiaquetrabalhoduronotreinamentoemquadraera

a única coisa que meus jogadores, recém-saídos do jogo contra a UNLV,não poderiam fazer. Olhei para eles no vestiário depois daquele jogo desábado à noite e vi pura exaustão — entusiasmo, mas exaustão. Nãotrabalhamos isicamente por umminuto sequer naquelas 48 horas antesdo jogodocampeonatonacional.Nosreunimos.Conversamossobreoquequeríamos fazer.Masnãotrabalhamosnaquadra.Paramim,aquiloeraomáximodopensamentonegativo: sim,nósprecisamos trabalharnoqueoSyracusefaz,masnãopodemos.Eles jogaram bem, dominaram amaior parte do segundo tempo. Keith

Smartfezmuitasjogadasótimas,quenosmantiveramvivosatéosminutos

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inais, uma delas fazendo falta no pior arremessador de lances livres emquadra,quandoelesestavamàfrenteporumponto,commenosdetrintasegundosparaterminaro jogo.FoioColeman,novatonaquelaépoca,masjáumjogadorimpressionante.Eleerrou,pegamosorebotee...Outraabordagemnegativa.Todospedemtemponessahora.Perdendoporumponto, comorelógio

marcando trinta segundosparao término, eumcampeonatonacional emjogo, pede-se tempopara estabelecer exatamenteoqueo treinadorquerfazerparaarmarumarremessocrucial.Nósestávamoscomapossedebola,etínhamostrabalhadooanointeiro

para icar numa posição em que os jogadores soubessem o quenósqueríamos fazer, nós sabíamos que tipo de defesa eles colocariam emprática,nós estávamos na melhor posição possível para decidir nossodestino. E entender isso era normal para nós, embora fosse uma disputadecampeonatonacional,e,paramim,estavatudobem.Sempreacheiqueamelhor maneira de combater a pressão de um jogo é agir comnaturalidade.Um treinador sonha em conseguir isso de todos os cinco jogadores em

quadrasobcondiçõessemelhantes.Nãotenhoexemplomelhorentremaisde 1.300 jogos que treinei do que esses segundos inais da disputa docampeonatodaNCAAde1987 contra Syracuse, que ganhamosde74-73,quando o Keith Smart conquistou a imortalidade nos campeonatosuniversitários, acertando um arremesso a cinco segundos do im dapartida.“O Arremesso”— foi como icou conhecido. Adoro o Keith. Ele era um

jovem formidável com quem trabalhei, e se tornou uma grande pessoa etreinador da NBA. Mas aquela única jogada foi muito mais do que “OArremesso”, e o Keith nem é o meu herói pessoal da jogada. É o DarylThomas. “Quem?”, perguntam os profundos conhecedores do basqueteuniversitário. E um monte de decisões negativas precede até mesmo aatuaçãodoDaryl.Um gesto básico contra o pensamento padrão: “Com o jogo em xeque,

coloqueabolanasmãosdoseumelhorjogador.”TínhamosoSteveAlford

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na quadra, o melhor arremessador do país. Tínhamos o Keith Smart,sensacional com a bola naqueles últimos 11 minutos — ele marcou 15pontos e fez duas grandes assistências. “Como jogo em xeque”... nós nãocolocamosabolanasmãosdenenhumdessescaras.Umterceiroarmador, JoeHillman,umreservamentalmenteseguroque

viera da Califórnia, foi o homemque trouxe a bola pela lateral esquerda,sempressa,orelógiojámarcandovintesegundosparaofim...Quinze...TodossabiamquequeríamosqueoAlford icasselivre,eelefoifazendo

osseuscortesparadentrodazonadoSyracuse,usandobloqueiosparasedeslocarparao ladodireito e atraindoomáximodaatençãodoSyracusepara si. Nãome entendammal:nós também queríamos que ele izesse ograndearremesso—seeleestivesselivre.OSyracusefezoquepôdeparaqueelenãoficasse,comumagrandedefesa.Então, oHillman e o Smart pensaram demodo negativo,mantiveram a

possedebola,seafastaramdoAlfordepassaramabolaparadentro,parao Daryl Thomas— a essa altura, com o relógiomarcandomenos de dezsegundosparaofim.Pensem na situação do Thomas. Que garoto nos Estados Unidos não

sonhou com uma situação dessas? Campeonato nacional em xeque,faltandoumponto,bolanamão,achancedefazeroarremessovencedor...Daryl,decostasparaacesta,compreendeuasituaçãoenãogostoudas

probabilidades de fazer um bom arremesso contra a dupla cobertura doColemanedoSeikaly.Então,ele fezuma intaepassouparaoSmart,quefez uma boa inta até o meio, depois uma reversão para conseguir umaaberturaefazerumarremessodequatrometrosemeio—sóumataquenormal,oquesempretentávamosfazer.Minha concepçãode seleçãode arremessos era limitar as tentativasde

arremessos àqueles que o jogador acertaria em situações normais, pelomenos, 50%das vezes. Foi o que tornouo arremessodoKeith Smart tãoespecial paramim: nomomentomais crucial de toda a temporada, nossotimearmou,eeleobteveumbomarremesso,umarremessoqueeletinhaboaschancesdeencestar.Semmilagres,nadaespetacular,apenasdojeito

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exato o que ele estava tentando obter. Isso e tudo o mais que estavaimplícito, com certeza inclusive circunstâncias de forte pressão, tornaramesse arremesso o melhor exemplo possível de minha de inição dedisciplina. Nessa sequência especí ica, o passe do Daryl foi o primeiromomento-chave;afaltadeKeithemcimadoColemanfoiosegundo.EoarremessodoKeith?“OArremesso”, emboranão tivesse sidoumarremessodi ícil, foi ótimo.

Entrou na cesta com um “chuá” e ganhou o campeonato nacional. Oarremesso do Keith Smart será sempre uma das imagens icônicas dosgrandesmomentosdocampeonatodaNCAA.Masnadafoimaisimportantedo que o Daryl reconhecendo que ele não poderia conseguir um bomarremessodeondeestava.Essa foi a última de tantas decisões de cunho negativo que tomamos

naquelefimdesemanaequelevaramatodaasequênciafinal:

AcelerarcontraaUNLVparaevitar jogarnossoataquehabitualcontraasuagrandedefesa;Dispensar o treino antes do jogo pelo campeonato e reforçar odescanso;Nãopedirtemponofinal;A jogadadecisiva:odiscretoHillman,quecomandoua jogada;aestrelaAlford,queconcentrouaatençãodadefesa,atravessandoa zona;Thomas, quedeixoude fazerumarremessodedebaixodacestaparalançarabolaparaoSmart...“OArremesso”.

Aquelenão foionossomelhor time.Aquelanão foinossa campanhadecampeonato mais impressionante. Mas está entre as minhas execuçõesfavoritasdecomoqueríamos jogarbasquete, sobummáximodepressão.Noqueumaexecuçãotemdeessencial:aeliminaçãodeerros.

Falandodeárbitros...

Souconsideradoumdoscarasquemaisreclamamdosárbitros,masissojamais foi verdade. Todos os anos, acredito que nossa equipe tenha feitomenos faltas técnicas na Big Ten. Já ouvi treinadores, e ummonte de

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comentaristas da televisão, alguns deles ex-treinadores, falando detreinadores que arrumam faltas técnicas propositais para agitar seustimes, ou para in luenciar futuros pedidos de tempo, ou qualquer outracoisadentrododomíniodapsicologia. Só seideduas coisas.Primeira: eunãotive,nemde longe, todasas faltas técnicasqueamaioriadaspessoaspensa que tive; e, segunda: eununca obtive uma demaneira intencional,porqualquerrazãoquefosse.Ereclamardoárbitro?Tenhomuito respeitoporbonsárbitros, e eles sabemqueacreditoque

bonsjuízessãopreciosos.Comotodasascoisasraras.

Pensamentosituacional

Ora,oferimentodoWilkersonem1976,oatentadoaoReaganem1981,odesa iodedisputarocampeonatonacionalcomumaequipecansadaem1987 — todas essas situações foram negativas, não exercícios depensamentonegativo,eháumagrandediferençaentreosdois.Lidarcomsituaçõesnegativasdemodoaobterresultadospositivosé,emsi,umaarteadmirável.Todos já vimos exemplos de como algumas pessoas que tiveram de

enfrentar sérias limitações ísicas, de alguma forma, superaram-nas econseguiram seguir com suas vidas. Pessoas que perderam um dossentidosmuitocedonavida—emgeralavisão,mas,àsvezes,aaudição,ou tanto a visão quanto a audição— compensam essa perda namaioriadasvezesaguçandoosoutrossentidosdemaneiraexcepcional.Umamigomeu,donodaminhalojadeequipamentodecaçaepescafavorita,contou-mesobreumhomemquecontrataracertavez:eleeracego,masmantinhaobalcãodevendasdalojaimpecável.Certa vez, meu amigo observou de seu escritório uma mulher que se

aproximou do empregado cego carregando uma vara de pescar e umacarretilhaqueiacomprarparadardepresentedeaniversárioaomarido.Quandoelapercebeuqueeleeracego,deuumpassoparatrás,semsaberdireitooquefazer,maselepercebeuelidoucomasituaçãocomosemprefazia:

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—Estátudobem.Apenasmeentregueamercadoriaqueasenhoraquerlevareeucuidodelaparaasenhora.Elaentregou;elepegouavaraeacarretilhaedisse:— Essa é uma vara Shakespeare de 1,94m para molinete, custa 25

dólares.EissoéumacarretilhaGarciaMitchell308,mais15dólares.Ela icoupasma.Inclinou-separapegarabolsaqueestavanochãopara

pagarosprodutose,semquerer,altoebomsom,deixouescapargazes—oqueadeixousemgraça.Enrubescendo,elaendireitouocorpo,olhouemvolta e viu que não havia ninguém mais por perto, e recuperou acompostura.Tirouotalãodechequesedisse:—Então,quantofoiototal?—Quarentaecincodólares—disseovendedor.—Esperaaí.Osenhortinhaditoquarentadólares.—Issofoiantesdeasenhoralevaroapitodechamarpato.

Aartedechamar

Oquemelembraoquantootempomemodi icou.Adoropescar.Issonãomudou.Adorocaçar—pássaros,nuncaanimaisdeterra.Comopassardotempo, desenvolvi o gosto pela caça ao peru. A arte está no chamado,simulandoumchamadodeacasalamentodafêmeaparaomacho,etornei-memuitobomnisso— tãobomquemudou todaa concepçãodoesporteparamim.Não consigodescreveroprazerda sensaçãode sair numbelodiadeprimavera,encontrarolugarperfeitoparameinstalarecomeçarachamar. Com paciência. Com arte. Então, você ouve outro chamado. Ummacho ouviu e está respondendo. Ele está a caminho. O segredo está emdeixá-lo se aproximar e atrai-lo paramais perto,mais perto... em terrenoaberto, apaixonadamente excitado com o que ele acha que está à suafrentee...No passado, eraPow! Soubomatirador, e sob as condições adequadas,

queincluíamtrazê-loparabemperto,haveriaumperumorto.Mas,agora,achotãodivertido,etãocompensador,conseguirludibriaro

perucommeuchamado,trazê-loparaperto,emterrenoaberto,edeixaro“jogo” terminar ali mesmo, sem tiro, sem morte. Não é necessário. Jáganhei. Já estraguei o dia do coitado do peru. Não preciso matá-lo. Não

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gosto de limpar peru morto. Não gosto de cozinhar peru morto. Se euquisercomerum,possoiraomercado.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Esqueceocasaco,essanoitevaiserquentinha.

Ok,eun-n-nãos-s-soudam-m-meteorologia.

Podeapostartudo,essecavaloégarantido.

Tudobem,agenterecuperaissonapróximacorrida.

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J

8Porseusalunos...

ulie Andrews, na personagem de Anna, professora primária britânicacontratada para ser tutora dos ilhos do rei do Sião no musical de

Rodgers e HammersteinO rei e eu , começa a cantar “Conhecendo vocêmelhor”comumagrandeobservaçãolírica:

ÉumditadomuitoantigoMasumpensamentosensato:AosetornarprofessorPorseusalunosseráensinado

Como Anna, um de meus jogadores me ensinou— ou demonstrou—

algoimportante.Em meados dos anos 1970, estávamos nos preparando para disputar

umapartidaemdezembrocontraumaequipemuitoboadeNotreDame.Otreinador Digger Phelps, amigo de muitos anos, estivera praticando comeles uma variedade de defesas. Nós os tínhamos observado bem e nosconcentramos nas maneiras especí icas e diferentes que queríamoscontra-atacar cada uma de suas formas de pressão. Durante o treino nasemanadapartida,meuassistente,BobDonewald,queestiveraanalisandoaestatísticadoadversárioparaaquelejogo,encontrava-senaquadracomnossos jogadores simulando a equipe de Notre Dame, mostrando-lhes oque teriam que buscar a im de reconhecer que tipo de pressão estavasendoaplicadacontranós.Um dos jogadores, o Quinn Buckner, icou de fora enquanto

trabalhávamosumsegmentoespecí icodaexplicação,eeuestavadepéaoseulado.Depoisdealgunsminutosouvindoeobservando,eleperguntou:

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—Treinador,osenhorconsegueveradiferençanessasdefesas?Nãoeraumaperguntaespertinha.Entendi,namesmahora,queumdos

mais inteligentes jogadoresque eu já tinha treinado estavadizendo,maisdoqueperguntando: “Estádi ícilveradiferença,commuitopoucotempopara fazê-lo, o que levaria a confusão e errospotenciais.” Logo após essapergunta,faleiparaoDonewaldparartudo,edisseaosjogadores:—Eisoquevamosfazer,poucoimportaapressãoqueelesmarcarem.Passamos a um plano de jogo básico, que nos permitiu jogar com

e iciênciacontraaquelasquatroformasdepressão,perderapossedabolaapenas uma vez e ganhar o jogo— porque o Buckner reconheceu umaestrutura negativa: ele estava tendo di iculdade em identi icar umadiferençagrandecomrapidezsu iciente.Eteveainteligênciadefazerumaexcelentepergunta.ComoasugestãodoBucknerdemonstrou,umadasmelhoressensações

queumtreinadorpodeteréquandoumdosseusjogadoresselembradeumacoisanoseutreinamentoefazalgoquevocêaindanãolhepediuquefizesse.Quase uma geração depois do Buckner, nosso time estava jogando em

Albuquerque por uma vaga no Final Four de 1992. Estávamos jogandocontra a UCLA, que, trêsmeses antes, tinha nos derrotado numa quadraneutra em Spring ield, Massachusetts, na nossa primeira partida datemporada,por87-72.Emgeral,reencontrosnãomeimpressionammuito:esse é um jogo todo novo, sob circunstâncias bem diferentes, nesse casocommaiscoisasemjogo.Mas,dessavez,haviaumalembrançaforte.No almoço do dia de nosso primeiro encontro, o anunciante era meu

grande amigo Red Auerbach, antigo treinador do Celtics, que, do pódio,dissequeaUCLAtinhamuitasortedejogarcontranósnaquelahora,poisseriamuitomais di ícil mais tarde, depois que aquela equipe da Indianativessejogadoumatemporadainteira.Nósestávamos,sim,muitomelhoresagora, mas a UCLA também não jogara nada mal desde então, tendoganhadoaconferênciaPac-10,numaumatemporada28-4,econseguidoaprimeiraposiçãonorankingregional.Poucasvezestiveumtimequerespondessemelhoraumdesa iodoque

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aquele time de Indiana. Começou um dia antes. Tínhamos tido um jogoisicamentedurocontraaFloridaStatenanoitedequinta-feira.Nasexta-feira,odiaentrejogos,tivemostempoparatreinonolocaldapartida,maspergunteiaoconjuntodotime:—Vocêsqueremtreinaroupreferemdescansar?Eu sabia que nossos jogadores queriam fazer todo o possível para

ganhar,mas eu também contava com sua honestidade. Greg Graham eraumveterano,quefaloulogo:—Treinador,achoqueémelhoragentedescansar.Natardeseguinte,saltamossobreaUCLAdesdeoinícioecontinuamoso

ritmoatéointervalo,chegandoa44-29.

Ojogopsicológico

Nosminutos inaisdaqueleprimeirotempobem-jogado,umpensamentoveio à minha mente, sobre um jogo psicológico que eu queria jogar. Noginásio The Pit, em Albuquerque, para sair da quadra em direção aosvestiários, ambos os times tinham que subir pela mesma rampa longa eascendente.Umadecisãodo árbitrobemno inaldo tempoocupoumuitoda minha atenção e eu fui conversar com ele, esquecendo o que queriafazercomosjogadores.Masolheiparacimaevique,dealgumaforma,oCalbertCheaney, líder

veterano daquele time, tinha lido minha mente. Calbert levou nossosrapazesrampaacimanumacorreriadesenfreada,passandopeloscarasdaUCLA, parecendo descansados, como se o jogo nem tivesse começadoainda. Já perdendo por 15 pontos, e vendo como nós estávamosdescansados, seiqueaqueles jogadoresdaUCLAdevem terpensado: “Sópode ser brincadeira...” Nossos jogadores saíram para o terceiro períododescansadosecorreramparaumavitóriade106-79,oqueéprovávelquetenha sidoomais pertodeuma surraqueuma equipedaUCLA já levounum torneio. E oCalbert iniciou aquela corrida afoita durante o intervalointeiramenteporcontaprópria.CalbertCheaneypode ser oprimeiro exemploquemevemàmente ao

refutaroutrodaquelesaxiomasquestionáveisqueserepetemporaí,equeaceitamoscontentes,sempestanejar:“Oslíderessãonatos,nãofeitos.”

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OCalbertCheaneyqueentrounanossaequipeeraumexcelentejogadorde basquete, com tranquilidade o melhor num grupo excepcional denovatos,maseleestava longedeserum líder:garotomuitodiscreto, teveque trabalhar seu desenvolvimento pessoal, até que se tornou um dosmelhorescapitãesveteranosquejátive.Eletambémeraumdosmelhoresjogadores: Jogador Universitário do Ano em seu último ano e aindadetentordorecordedepontuaçãoporcarreirados jogadoresdoBigTen,que permanece vigente quase vinte anos depois de ter se formado.Lembro-me de muitas de suas formidáveis contribuições para obasquetebol,masnadamefazsorrirmaispordentro,comocostumosorrir,do que pensar naquela corrida durante o intervalo que ele levou nossaequipeafazer,para,semqualquertrocadepalavras,daràUCLAavelhaeclássicaexibiçãodesuperioridade:“Vocêsaindanãoviramnada.”

Afaláciadasprimeirasimpressões

Calbert também contraria outro daqueles axiomas que costumamosouvir:“Aprimeiraimpressãoéaquefica.”Nãodiscordopor completo.Acreditoque seja importante, na realização

de um trabalho ou ao se apresentar para alguém, mostrar que você faztodoopossívelparacausaramelhorimpressão—nãocomfalsidade,masda melhor maneira possível. Na minha história com o Calbert, suasexpectativas não importaram na primeira vez que o vi. Eu tinha ouvidomuitos bons relatórios sobre aquele ala canhoto, que jogava no sudoestedo estado, na escola secundária de Evansville Harrison, então, voei paraver seu time jogar em casa contra o Jasper. “Grande arremessador”,disseram.Naquelanoite,elearremessoumalevezesdemais—eusempredigoqueeleacertou3em20,eelediz, “é, foimal,mas foimaispra7em25”, e talvez ele estivesse certo quanto aos números do jogo, porque euiquei tãopouco impressionadoeestava tão longedecasa,quesaídepoisdoterceiroperíodo.Disseàminhacomissãotécnicaeaoseutreinadorquenãoiríamosrecrutá-lo.Isso foiemfevereiro.Naqueleverão,euestavaconversandocomminha

comissão, falandodoscarasquequeríamosrecrutar,noqueestavasendo

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umano incrivelmentebomdeperspectivas para Indiana, quando alguémdisse:—Sei que você o viu e que não gostou dele,mas omelhor cara por aí

agoraéoCalbertCheaney.Analisamos de novo, achamos que ele era um bom jogador recrutável

quedefatoqueríamosconosco.Entramosemcontatoerecrutamos.Aquela experiência única removeu qualquer tendência que eu tivesse

comrelaçãoàbobagemqueexistenoditado“aprimeiraimpressãoéaqueica”.Umaolhada,umvislumbre,nãopodedizer,sempre,tudooquevocêprecisasaberparaanalisarumjogadordebasqueteouumempregadoempotencial.Quandonadúvida,continueavaliandoeestejadispostoamudardeideia,sehouverrazãoparatal.OdesenvolvimentoulteriordoCalbertCheaney,depoisqueelechegouà

nossa equipe, já tendo uma boa possibilidade inicial, não é uma exceção.Talveznopostodetreinador,comolíder,vocêváconheceralguémquefaztudo tão bem que não há nada, na verdade, a trabalhar, a aperfeiçoar.Nunca conheci uma pessoa assim, e olha que treinei Michael Jordan naequipeolímpicade1984.Eleeraexcepcional,omelhor jogadorqueeu játinhatreinado,masnãoeraum excelentearremessador...ainda.Eleeraumgrande atleta, formidável pontuador, espetacular nos rebotes, grandedefensor,rapidíssimo,fazendoquasetudooquefazdealguémumgrandejogadordebasquete.Comopro issional, eledesenvolveuseuarremessoàexcelência. É óbvio que não era algo que elenão pudesse fazer. Precisoutrabalhar, e, com isso, ele transformou algo negativo em positivo, como oCalbertCheaneynaáreadaliderança.

Senãoestiverquebrado,conserte

Sempre achei que um treinador com uma abordagem negativa de umjogo terámais probabilidades de fazermudanças demeio ou de inal dejogo—“ajustes” em linguagem televisiva—doquequempensapositivo,quetematendência,naminhaopinião,a icarpresoportempodemaisaomodocomopensou,comoelesabiaqueseriabomfazerparaganhar.Oaxioma“senãoestiverquebrado,nãoconserte”épositivodemaispara

mim,porqueo inaldeumapartidaécompletamentediferente,paramim,

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deumamaneiratáticaimportante.ClairBee,cujopercentualdevitóriasnacarreira,de82,6%,éomelhornahistóriadobasqueteuniversitário,disse-me que ele gostava de deixar seu time comuma desvantagemde um oudois pontos antes do intervalo, porque “quando estão em desvantagem,elesouvemmelhor”.Eunãochegavaa tanto;preferiaestaremvantagemsemprequepudesse.Mas eu entendia o seu ponto de vista. Uma das situaçõesmais di íceis

quetivedeenfrentarenquantoeratreinadorfoicomeçarosegundotempodepois de minha equipe jogar tão bem no primeiro, que ela abriu umadiferençagrande.Enadadeixaumgosto tãoamargoquantoaqueles,porsorte,poucosjogosemquenósabrimosvantagensde15ou20pontosatéo intervalo, e, depois, deitamos tudo a perder com um terceiro períodofraco e a derrota. Não foram muitos, mas jogos assim permanecem naminhalembrança.Experiências como essas explicam por que eununca disse “É isso aí,

gente!”depoisdeumtempobem-jogado.Atémesmodepoisdasmelhoresatuações deminhas equipes, eusempre tive algo a assinalar sobre o quepoderiam ter feitomelhor, ou sobre o que evitar nopróximoperíodo.Háváriosanos, izumcomercialparaMinuteMaid,emqueminhaequipesaíada quadra depois de uma boa atuação, é claro, e eu os recebia com umgrande sorriso, biscoitos e palavras gentis. Eu tive de ir até Los Angelesdoisdiasantessóparameprepararparaessaperformance.Fuibem-pago,maseladeveriatermerendidoumOscar.Qualquerquesejaapontuação,sempreenfatizeiqueosprimeiroscinco

minutos do segundo tempo são osmais importantes de toda a partida. Émuitocomumqueesse sejaomomentoqueestabeleceo tomdo restodojogo, e, muitas vezes, a não ser que um time tenha uma vantagemimpossíveldeserperdida,éaíqueojogosofreumareviravolta.Amoralqueaprendicomessesjogosfoi:nãoaceitejamaisapenasjogar

bem.Sempreseesforceparajogaraindamelhor.

Ganhandoacorridadasfaltascoletivas

Timingétudo.Essaéumamáximaquenãodiscuto,porqueéválidapara

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qualquertipodeprocedimentodeumaliderança.Os últimos cinco minutos de uma partida de basquete têm sua

importância.Qualquerquetenhasidooplanejamentodojogoatéentão,setivéssemosumavantagemnosúltimoscincominutosdeumjogo,euqueriaque nós usássemos essa vantagem e izéssemos do cronômetro nossocolega de equipe. Eu não queriame preocupar com fazer arremessos detrês pontos... eliminar arremessos rápidos... pensar menos sobrearremessos de dois pontos, e tentar in iltrações em direção à cesta,fazendo bandejas ou obtendo lances livres. Considero que chegar à linhade lance livre ao inal de partidasmuito disputadas é a chaveprimordialparaseganharumjogodessetipo.Issoé,emessência,umaabordagemnegativa:quandotemosapossede

bola e a vantagem no inal de uma partida, nosso maior objetivonão épontuar. Não estamos com pressa, vamos deixar o tempo passar, alinharnosso time na linha de fundo, liberar a quadra para dar espaço para osnossos jogadores mais habilidosos tentarem in iltrações, tentaremconseguir,semprequepossível,obterumafalta e fazeracesta,ouefetuarum passe picado para um jogador livre. Quanto mais tempo levamosfazendoisso,maisotimequeestáperdendo icaansioso.Vistoquepessoasansiosascometemmuitoserros,nósarremessávamosmuitoslanceslivres.Em qualquer partida, eu sempre queria que meu time ganhasse a

batalhadasfaltasporequipe,queelafosseaprimeiraacobrarlancelivreemsituaçãoumporum(regradaNCAAqueconcededoislanceslivres—osegundocondicionadoà conversãodoprimeiro—depoisda sexta faltasobre a equipe no mesmo tempo de jogo) e a primeira a fazerautomaticamente dois lances livres (depois da nona falta no mesmotempo). Acho que esse é um dos aspectos mais esquecidos e maisimportantes de um jogo de basquete universitário, porque não só colocapontosdoseu ladonoplacar,mas tambémacumula faltas individuaisnosjogadores, que acabam icando no banco. Tempo perdido no banco porjogadores-chavedotimeadversárioeradeumvalorincalculávelparanós(evice-versa).Essaéumadaschavessecretasdeumavitória,queocorreemqualquerempreitadacompetitiva.

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Sempre que eu recebia a tabela de estatísticas depois das partidas, aprimeira coisa que euprocurava era o númerode lances livres denossaequipe e o da equipe adversária. Nosso objetivo, não a cada jogo, mas acada ano, era obter mais lances livres do que nossos adversários. Issocobreumasériedemetasqueumtimeprecisaatingir.E,parafacilitarisso,umdenossosprincipais exercíciosde treinamentoera fazerdefesas comas mãos presas dentro da roupa. A defesa se joga com os pés, com oposicionamento.

Osvaloresocultosdecavarfaltas

Issoéalgodequeeunãotinhaconsciênciaquandoerajogador.Nomeuterceiro ano na Ohio State, nosso time jogou uma partida de temporadaregular,emdezembro,contraaUniversidadeSt. John,noMadisonSquareGarden— o festival de im de ano de Nova York— e eu estava sendomarcadopeloAll-Americandeles,oTonyJackson.In iltrei-menogarrafãoeiz uma cesta, marcado por Jackson, o que foi uma grande emoção paramim.A cesta foi invalidada porque ele fez uma falta contra mim no meu

avanço para a cesta — e eu iqueiextremamente desapontado porqueperdiumacestaquetinhaconvertidocontraoTonyJackson!Deram-me a oportunidade de cobrar os lances livres um por um e

acertei ambos. Mas como eu odiei perder a cesta em cima de umAll-American.Anosmais tarde, lembrei-medissocomumaperspectivabemdiferente.

Nossa equipe perdeu os dois pontos da cesta invalidada, mas osrecuperamosnoslanceslivres,efoiumafaltadoJackson—oqueodeixouumafaltamaispertodolimitedefaltaspessoais.Quando é jogador, você não entende, de fato, tudo o que é importante.

Então,quandocomeceiatreinar,revivinamenteessacena,emque iqueitãodesapontado comperdera cesta, quenempensei comoa jogada foramelhorparaanossaequipe,porcausadafalta.Essalembrançapessoalfoiuma razão importante para a teoria que tenho há anos sobre os lanceslivres: o valor de se obter mais lances livres do que os adversários;conseguirumasituaçãodecobrançade lance livreumporumcommaior

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rapidez do que eles; conseguir uma situação de dois lances livres commaiorrapidez;eacumularfaltasnosjogadores-chaveadversários,oqueoscolocanobanco.

Ensinar,ensinar,ensinar

Até as melhores equipes, de tempos em tempos, têm partidas em queimportantes lances livres são perdidos, às vezes muitos, e, de modoinevitável, alguns torcedores deixam a quadra resmungando: “Eles nemdevemtreinarlanceslivres.”Bom,todosostimestreinam,masabuscatemsidosemprepelamaneira

maise icazdesimularcondiçõesepressõesde jogo,paraqueo treinodelances livres seja mais e icaz. E a verdade é que, para a maioria dasequipesedostreinadores,éprovávelquenãosedediquetempodetreinosu iciente a arremessos de lances livres, ou no reforço do valor do lancelivre,ouemtentardescobriramaneiramaise icazdetreinarlanceslivrescomoseestivéssemosnumapartida.Nos treinos,minhasequipespraticavam lances livrescomoquase todas

as outras equipes: na parte inal do treinamento. Mas eu tambémcostumava tirarum jogadordogrupo, colocá-lodiantedosoutrosedizer:“Ok, Quinn, está na sua hora de fazer os lances livres. Acerte os dois outodomundo vai ter de correr cincominutos.” Isso não é uma penalidademuitograve,mascolocaumpoucodepressãoadicional,porqueoscolegasficamfuriososcomocaraqueerra.Em treinos pesados, era muito comum eu fazer minhas equipes

praticarem lances livres durante os intervalos de descanso, quando euachava necessário. Repetíamos, com insistência, por uns vinteminutos, eeu sempre tentava escolher ummomento de vibração— depois de umaexecução particularmente boa do que quer que estivéssemos treinando.Era aí que eu parava tudo e berrava: “Lances livres!” — por causa dotiming, era passado aos jogadores que eu estava contente com o que eutinhaacabadodever.Nosso procedimento nesses intervalos era formar duplas, que iam em

direçãoaváriascestasaoredordaquadra,cadajogadorarremessavadois

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lances livres cada, e, aí, esse grupo rodava depois de uns cincominutos.Sempre achei que isso levava a várias coisas: um descanso necessário,claro, e uma injeção de con iança, porque o time tinha acabado de fazeralgo direito. Além disso, eles praticavam lances livres quando estavamcansados,comoacontecequandosofremfaltaduranteumjogo.Elesnãoestavamlásóparatreinar lances livres;elesdeveriamsimular

a pressão de um jogo e tentar acertar cada arremesso. Para quem nãoestava arremessando, ocorre uma pausamental quando eles se alinhampara o rebote. “Lances livres!” signi icava uma oportunidade pararecuperar o fôlego, e eu esperavaque isso tivesseumvalor suplementarnomesmotipodepausaduranteojogo.Aomenos,euesperavaqueaquelafosseaassociaçãomentalqueelesfariamcomapausadotreinodelanceslivres,antesdemaisvinteminutosdetreinoduro.Amelhormaneirade todasde se conseguirqueumaboaequipe tenha

um alto percentual de lances livres é fazer os seus melhoresarremessadoresrealizaremoslanceslivres.Nãoestoubrincando.Esseéodesa io do treinamento: conseguir arremessos (origem da maioria doslances livres) para os seus melhores arremessadores, mantendo a bolafora dasmãos dos passadores ou arremessadoresmais fracos, em geralrealizandooóbviocomamaiorfrequênciapossível.Mas minhas teorias acerca do treino dos lances livres não eram

diferentesdaminha intençãoessencialparacada fasedotreinamento.Euqueriaminhasequipesemeusjogadoresdandoerecebendoalgumacoisaacadaminutodetreinoemquadraouemsaladeaula.E,comonumasaladeauladequalqueroutramatéria,euqueriaqueelessoubessemqueeuachavaqueahabilidadedepensar—de se concentrar emvencer—decadajogadoreramuitoimportante.Issoseaplicavaatodomundoemquadra,nãoapenasaosprincipiantes

ouaosquedeveriamestarjogandomaisnumapartida.Euachavaqueeraminhafunção,comotreinador,fazercomquecadajogadorsoubesseoquepoderiafazerparaajudaraequipeaganhar,mesmoqueapenascomoumjogadorparticipandodeumtreino.Enósganhamosalgumaspartidas,comcerteza alguns campeonatos, pelo que os jogadores, que ninguém na

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multidão associava à vitória na partida, izeram para estimular nossosjogadores principais em termos de esforço de simulação de partidaduranteostreinos.Tive um prazer especial depois do nosso título da NCAA de 1981, ao

ouviroIsiahThomasmencionarespeci icamenteoChuckFranz,seucolegahabitual durante os treinos, e outros do nosso time reserva, por suacontribuiçãoparaocampeonato.Sóosjogadoreseostreinadoresquetêmsorte su iciente, e são exigentes o su iciente, para obter esse esforço porpartede todosnumaequipe sabemquãovital é o tempodo treinamento.Considerominhamais importante função, como treinador, fazer com quecadajogadorsaibaoquantoelecolaborouparaumavitória.

Umaquestãodetempo

O tempo é um fator negativo que costuma ser muito negligenciado. Olíderdevevisualizarcadaprojetocomumacompreensãototaldoqueseránecessário, incluindo otempo necessário para que as coisas sejam feitasdireito, para icar pronto para o primeiro teste real. Um treinador, umjogador, um vendedor ambicioso ou um empregado de um escritórioprecisa compreender que ele não pode fazer tudo para alcançar umobjetivo em alguns poucos dias, e, talvez, nem mesmo num ano.Experiência e compreensão contam aqui, juntamente com a discrição e onão falar demais e prometer demais, que constituem problemas paramuitaspessoasnoesporte,muitasdasquaistreinadores.Certa vez, meu time de basquete estava se preparando para um jogo

fora de casa e, enquantomeus jogadores estavam aquecendo na quadra,namanhãdotaljogo,otreinadordefutebolamericanodaescola—queeuconhecia de uns eventos de golfe — veio e se sentou ao meu lado. Setivesse sido um treinamento, não teria icado de bobeira sentado econversando,mas era só um aquecimento, era diferente, e conversamos.Ele estava numa escola tradicional de ensino de futebol americano haviaalguns anos e estava icando preocupado com seu emprego. E meperguntou:—Bob,oquevocêachaqueeudevomudar?Eugostavadele,entãofuifranco:

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—Primeiro,vocêtemqueparardeelogiarosseusnovatostantoassim.Você vive dizendo aos torcedores que está recrutando o melhorquarterback do país, ou o maior outra coisa qualquer, e, depois de umtempo, é claro, todos esperam que todos esses maravilhosos calourosformemumtimemaravilhoso.Ficadebocacalada.Elefezquesimcomacabeça,muitosério,edisse:—Vocêestáabsolutamentecerto,Bob.Esseéumótimoconselho.Menos de cinco minutos depois, quando o assunto da temporada de

recrutamento, que estava começando, veio à baila— dessa vez foi culpaminha, porque eu me dei conta de que ela estava começando —, euperguntei,comcuriosidadesincera:—Porfalarnisso,comofoiafasedosrecrutamentos?—Bob, estamos recrutando omelhor jogador da Califórnia e omelhor

jogadordoTexas,edeNovaJersey...—disseele.Eusórevireiosolhos.Isso foi há vinte anos. Há pouco tempo, tive uma conversa, no im de

verão,comumamigoqueéumdostorcedoresdaquelaescola,eperguntei:—Comoéqueelesestãonesseoutono?Elejátinhapassadoporaquelasituaçãoalgumasvezeserespondeu:—Bom,seelestiveremmetadedotalentoqueotreinadordissequetem,

vaidartudocerto.E eles icaram desapontados com a estreia. Algumas pessoas, alguns

profissionaisnãoaprendemjamais.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Maisumacervejasónãovaifazermal.

Anãoserquevocêestejadirigindo.

Nãosepreocupe,nuncahámuitosguardasdetrânsitonessarua.

Bastaum.Diminuaavelocidadeenãopercadinheiro,oupontosnacarteira.

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J

9Horadegrandesaspirações

amaisquisqueos jogadores treinadospormim—nemos com talentoexcepcional, incluindo Michael Jordan e outros membros da equipe

olímpicade1984—pensassemquesuashabilidadesindividuaisbastavampara ganhar um campeonato. Eu queria que eles aprendessem a usar ograndetalentoquetinhamdamelhormaneirapossível.Euqueriaqueelesentendessem o que era necessário para ter sucesso numa competição,paraganhar.Amenteprecisafazertantoesforçoquantoocorpo,talvezatémais.Se você tiverumdaqueles anos emquevêque tem tudopara teruma

equipeformidável—comoeutivedurantemeusanosdetreinador—nãodiga:“Nossoobjetivoépermanecerinvicto.”Émelhordizer:“Aúnicacoisaquevaisatisfazeressetimeporcompletoé icar invicto.Temosdefazeromáximo,dentrodos limitesdenossashabilidades,e temosde jogarassimporquarentaminutos.”Foiexatamente issooqueeudisseàminhaequipedaUniversidadede

Indianade1975-1976,antesdonossoprimeirotreinodoano,naúnicavezemqueestabeleciumobjetivoassim,eaquelesgarotosestiveramàalturadesseobjetivonoquefoi—ainda,quasequarentaanosdepois—aúltimavez que uma das maiores equipes do basquete universitário foi campeãinvicta.Lembro-me de outra reunião com aqueles jogadores de 1975-1976,

diferente de todas as demais, porque eu estava conversando comjogadoresquehaviamfeitooquenenhumaequipedebasquetedoBigTenhavia feito até então: completado duas temporadas invictas consecutivas,inclusive uma por 36-0. Quando reuni os jogadores no vestiário antes deentrarmosnaquadraparanossoprimeiro treinonodia seguinte ao inal

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da temporada regular, tenho certeza de que eles estavam esperando umreenfoque,umlembretedequeonossorecordede36-0jánãotinhamaisimportância,equetodosnotorneioestavamcomeçandocom0-0,essetipodecoisa.Nãofoiissooqueouviram.Omelhortimedopaís icoudeorelhaquente.

Não deixei ninguém entrar no vestiário, além dos jogadores— nenhumassistente, gerente, ninguém. Eu de fato insisti sobre coisas que haviaobservado, sobre tudo o que não tinha funcionado direito. Eu queriacolocá-los numa posição em que, pelas semanas subsequentes, nada iriainterferirmesmo.Elestinhamdeiràaula,eelestinhamdejogar,eerasóisso que eu queria que eles tivessem em mente nas três semanasseguintes.Durantetodootempo,nãomencioneinenhumnome.Depois que acabei, fui até a quadra e esperei que eles saíssem para o

treino. Ainda me lembro da cena toda, com perfeição, todos esses anosdepois:euparado,recostadonosuportedacesta,quandoouviumaboladebasquete,alguémvinhadriblando.Oprimeirocaraquesaiu:ScottMay. All-Americanpordoisanos.Grandejogador.Ele passa andando pormim, driblando a bola. Então vira-se, olha para

mim,ediz:—Muitobom,treinador.Achoqueelesentenderamamensagem.Essa foi umadas coisasmais geniais queouvi deumdaqueles garotos:

“Achoqueelesentenderamamensagem.”Ele não pensou que alguma coisa do que disse fosse para ele. E ele

estavacerto.Nãoera.Eaqueletimeeramuitobom.Muitobommesmo.

Minhaestrelapreferida

Todogarotonumaequipedebasquetecrescefazendoarremessos.Nemtodossãoarremessadores.Talvez nenhum outro jogador meu exempli ique melhor essa ideia do

queumdosmenos louvados titularesdosnossosgrandes timesde1974-1975e1975-1976,emIndiana.BobbyWilkersoneraojogadorcomamaisbaixa pontuação daqueles times, mas ele foi o jogador mais valioso que

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treinei. Ele cumpriu o seu papelmelhor do que qualquer um que já tivesobmeucomando.Foiopapelmaisversátilquejádeiaumjogador,porqueashabilidadesísicas do Bobby eram enormes — 2 metros de altura, forte como umtouro, excelente saltador.Ele chegouapularparanósnadisputadabolaaoalto,naaberturadapartida,enóstínhamosumpivôAll-American,KentBenson, de 2,08m. Nas semi inais de 1976 da NCAA contra a UCLA, oarmadorBobbyWilkersonobteve19rebotes—estoucertodequeissoéum recorde para armadores numa semi inal, embora ninguém devaregistraressetipodecoisa.Eelefezissonumaquadracomseisjogadoresmuitoaltos,trêsnossosetrêsadversários,todosfuturosjogadoresdaNBA.Bobbynãoeraumgrandearremessadoreelesabiadisso.Aindaassim,

tinha noites de grande pontuação. Ele liderava aquele time — talvez aequipe com o melhor índice de passes decisivos que já ganhou umcampeonatonacional—emassistências.Tudo isso sem mencionar a sua maior força, a defesa. Ele conseguia

parar qualquer um — um ala, um pivô, um armador. Quem quer quequiséssemos,elemarcava.UmdospoucostreinadoresquereconheciamovalordissoeraumsujeitocomquemcrescinamesmacidadezinhadeOhio,BillMusselman,quecomeçoucomotreinadordeMinnesotanomesmoanoemquefuiparaIndiana.Estávamos ambos na quarta temporada do Big Ten quandoWilkerson

chegou e começou a jogar em todas as posições. Musselman reparou natarefadedisputarabolaaoaltoemedisse:—Nemseiseeleéomelhorcaradevocêsparafazer isso,masnãovai

tentarmeconvencerdequevocênãoviuoqueaquilofezcomoarmadorqueeleiamarcar.Eununcalideimuitocomanálisespsicológicas.OBobbydisputavaabola

aoaltoparanósporqueele eranossomelhor jogadorparaisso.MasachoqueoMusselmanobservoubem.Wilkersonteveseureconhecimento.ElejamaisentrouparaumtimeAll-

Big Ten, mas foi o décimo primeiro jogador escolhido para a primeirarodada de 1976 da NBA — provavelmente a melhor posição que um

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armador commédia de oito pontos por partida já obteve. E ele teve umaboaelongacarreiranaNBA.A equipe de 1975 era toda muito forte, mas seu coração era a

combinaçãodosarmadoresBuckner-Wilkerson.Omelhor jogadordotimeeraoScottMay,líderdapontuaçãoeJogadordeBasquetebolUniversitáriodoAno. Scott foiomelhor jogadorqueeu já tive,porqueele tinhamenospontosnegativosdoquequalqueroutroquetreinei.Atéseuúltimoano,elejá eliminara todos.Quasenão cometiaerros.Nogeral,minhasequipesde1974-1975 e 1975-1976 foram as melhores que tive até então porquejogavam cometendo menos erros. Eles não perdiam para si mesmos,falandoemsentidofigurado,nemparaosoutrostimes.Nossaequipede1976ganhouumcampeonatonacional,masmuitosde

nossosjogadoressentiramqueaequipede1975eramelhorainda,porquetínhamos dois grandes arremessadores veteranos: Steve Green e JohnLaskowski.Aequipede1976ésempreclassi icadaentreastrêsmelhoresdetodos

ostempos,juntocomasequipesdaUCLAde1968ede1972.OconsensoéqueaequipedaUCLAde1968(comKareenAbdul-Jabbar)foiamelhordetodas, a nossa foi a segunda e a UCLA de 1972 foi a terceira. Não tenhocertezasenossaequipeteriaganhadodaequipedeJabbar.Esseéumcasoemqueelestinhamtalentossuperiores,então,setivessemjogadoseujogonormal enós, onosso, éprovável que tivéssemosperdido. Claro, eu teriatentadoencontrarumamaneiradederrotá-los—essaéapartedivertidada funçãodeum técnico. Eu sempre acreditei que teria sidoumagrandeoportunidade,comotreinador,prepararumtimeparaumapartidadessas:quantomaisdurooadversário,masduroodesafio.Podeapostarqueteríamostentado.

MinhaabordagemaoestiloClarkGable

Semprefuivistocomoumtreinadorditatorial:sehouvesseumadecisãoasertomada,eutomava.Nãotenhoideiadecomoessareputaçãocomeçou,masnãoeraverdade.

Umdosaspectosdotreinamentoquesemprepratiqueicomigomesmoera:nãoseatrapalhecomascoisasquesãoapenas imateriais,quenão fazem

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diferençaentrevencerouperder.Sempre deixei meus jogadores votarem em tudo o que não era

importante paramim: onde íamos comer na estrada, se íamos treinar àstrês ou às cincoda tarde, tudooquenão fazia amenordiferençapara avitória.Euosdeixavavotar,eelessentiamquetinhamescolhas.Masnuncaelegemosumcapitão.Euescolhiaocapitão.Omelhorjogador

datemporada?No inaldatemporada,tambémeraeuquemdecidia.Essassãocoisasqueeusentiaquefariamdiferençanahoradeganharpartidas,deimediatoounofuturo.Entretanto, todaaquela ideiademeatrapalharcomcoisasquesãouma

perdadetempo...AfrasedoClarkGableemEoventolevou ,“Francamente,minhacara,eu

não dou a mínima”, é a minha ideia de como essas coisas deveriam serresolvidas.NumdemeusanosemIndiana, tínhamosacabadodevencerWisconsin

numa disputa acirrada. Um advogado do norte de Indiana me escreveu,decepcionadocomamaneiracomojogamos—nãotínhamosfeitoissonemaquilo.TínhamosvencidoWisconsinumastrintavezesconsecutivas,entãoeu não estava questionando tanto o nosso rendimento, mas, sobretudopara me distrair, respondi e escrevi: “O senhor precisa entender umacoisa: sempre trabalhei segundoa teoriadeque seAbrahamLincolnnãoconseguia agradar a todas as pessoas o tempo todo, eu também nãoconseguiria.”Três dias depois, recebo uma resposta do sujeito: “O senhor precisa

entender:eutambémnãogostodoLincoln.”Essa experiência serviu para que eu arranjasse um amigo

correspondente, mas não me ajudou a avançar no sentido de evitardistrações e perdas de tempo. Por isso, certa vez, quando eu estavaconversando comogrande treinadorde futebol americanoDarrellRoyal,doTexas,eleabordouoassuntodeusarbemotempo,edecomootempodesperdiçado com coisas que não são importantes atrapalha as que são.PenseinaminhatrocadecorrespondênciacomoadvogadoepergunteiaoDarrell como ele lidava com sua correspondência. Ele disse que sua

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secretárialiacadacartaqueelerecebia,equeelajogavatudoqueeralixofora. Ele respondia às que ela separavapara ele. Pareceuumaboa ideia,entãoadoteiosistema.Depoisdisso,aspessoaschegavamparamimdizendoquetinhamescrito

umacarta,eeumedivertiaumpouco:— Ah, minha secretária lê toda a minha correspondência; tudo o que

valeapena,elameentregaeeurespondo.Vocêrecebeuumaresposta?Ecomessadeixa,eusempreouvia:—Ah...eurecebiumaresposta,sim.Sempre.Jamaisouvialguémdizerquenão.

Olhareenxergar;confessaréopcional

Sherlock Holmes gostava de dizer: “Muitas pessoas olham,mas poucasenxergam.”Observaçãoéumagrandepalavra.Veroqueháaoredor.Serobservador.Vocênemcalculaarecompensadealgotãosimples.Certavez,KareneeuestávamosatravessandoascolinasdoAlabama,de

carro,desfrutandoapaisagemdeslumbrante,eeudisse:—Ligaorádio,botana93,5FM.Éumaótimaestaçãodemúsicacountry.Elaligoubematempodeouviroquesabiaserumademinhasmúsicas

preferidas, Johnny Horton cantando “The Battle of New Orleans”, eperguntou:—Comovocêsabia?— Já estive aqui antes, há uns dez anos. Apenas me lembrei de como

essaestaçãoeraboa.Elanãoconseguiuacreditarqueminhamemóriafossetãoincrível.Depois de algum tempo, confessei. Meio quilômetro antes de eu pedir

queelaligasseorádio,enquantoelaestavalendoumlivroouumarevista,eu estava olhando em volta, dirigindo, e nós passamos por um cartaz naestradaquedizia“Ótimamúsicacountry,93,5”.Ela é esperta demais para cair numa dessas de novo, mas, só por ser

observador,eutiveaomenosalgunsinstantesderecompensa.

AabordagemPatton

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Nacondiçãodeprofessordebasquete,acostumei-meaaplicartestesnosmeus“alunos”,diantede16milpessoas,eeles,muitasvezes,sentiamqueeuosestavamesmo testando.Por isso, falardiantedegrandesmultidõesnuncame causou qualquer tipo demedo. Nunca, em qualquer dosmeus“testes”, sentiqueestivesse tentandovenderalgumacoisa—só tentandoganharpartidasdebasquete.Sentialgodiferentequando izpartedeumgrupo de comentaristas numa conferênciamotivacional de liderança, e ogrande nome entre os presentes falou antes demim. Em11minutos, elemencionouasfitaseoslivrosquetrouxeraparavender...15vezes.Nãoconseguiresistir.Quandochegouaminhavezdefalar,eudisse:—Nãotenho itasnem livrosnemnadamaisparavenderavocês,mas

tenhopassadomuitotempotrabalhandodiantede16milpessoas,epossolhesdizeradiferençaentreganhareperder.Não ganhei nenhum centavo com essa frase, mas pude sorrir

internamentedopassa-foraquedeinopalestranteanterior, cuja ideiademotivaçãoeramotivaraspessoasalhedaremdinheiro.Uma das melhores maneiras de comunicar e, às vezes, motivar é com

histórias, porque elas retratam imagens que se ixamnamente de quemouve. Ouvi uma sobre liderança, envolvendo um general da SegundaGuerraMundialqueadmiromuito,GeorgeC.Patton.Quemsabe,elanãoéverdadeira?Gostodepensarqueé.Patton e seu motorista estavam numa estrada, num deserto africano,

quandoumaviãoalemãopassouvoandoacimadelese,de repente, abriufogo.Pattoneomotoristasaíramàspressasdojipeesejogaramdentrodeum fosso. De lá, Patton olhou para cima e viu um soldado no alto de umpostedetelefone,alheioaotiroteio,comosolhosvidradosnos iosemqueestavaconsertando,concentradonasuatarefa.Preocupadocomasegurançadosoldado,Pattongritouparaele:—Queraiosvocêestáfazendoaíemcima,soldado?O soldado não olhou para baixo, e, sem atentar para a hierarquia ou a

insolênciaouqualquerfatormilitar,berrouemresposta:—Estoutentandoconsertaraporcariadofio,sevocêmedeixarempaz!—Rapaz,vocêestáfazendoumótimotrabalho.

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Issoéumlíder,ealguémqueouveseussubalternos.

Colocandoospingosnosis

Umadolescenteachouquetinhachegado,en im,ahoradepoderusarocarroda família.Eleviuopaisentadoemsuapoltronapreferidae foiatéele.—Pai,mamãecontouqueeupasseinoexamedemotorista,hoje?—Contou,sim,Johnny.Nãosóisso,eladissequeoexaminadorfalouque

nuncatinhadadoumanotatãoaltaaninguémantes.Achoissoformidável!Éumfeitoetanto.Estouorgulhosodevocê.—Então,pai...agoraeupossousarocarrodevezemquando?Opaipensouumminuto,entãodisse:—Bem,John,eusabiaqueessediaiachegaretenhopensadobastante

nessaquestão.Tenhoobservadovocêetomeiminhadecisão.Primeiro,temumascoisasquevocêtemdemudar.Númeroum:assuasnotasprecisammelhorar.Asnotasdasúltimasprovas foram inaceitáveisparaumgarotocoma sua inteligência. Esse é o seuprimeiro objetivo.Dois: suamãe temreclamadomuito,nasúltimassemanas,damaneiracomovocêtemtratadooseu irmãoea sua irmã,edecomovocênão temajudadoemnadaaquiemcasa—vocêtemsidoumpénosaco,eissotemdeacabar.Três:John,vocêsabequeeuvenhodizendo,desdequevocêentrouparaaescola,quevocênãolêquasenada,quealeituraéachaveparaumaboaeducação,equeaeducaçãoéessencialparaosucesso,eaquiestávocê,nopenúltimoano do ensinomédio, e ainda nãomelhorou emnada o hábito de leitura.Isso precisa mudar. Quero que você comece a ler, e não só coisaspopulares, quero que você leia a Bíblia— não apenas pela importânciareligiosa, mas, também, porque tem um monte de boas orientações naBíblia.E,John,temumaquartacoisa.Vocêtemdecortaressecabelo.Estoucansado dessa cabeleira, já falei antes e cansei de pedir. Agora é umultimato: ou você corta, ou você não encosta o dedo no carro. Faça essasquatrocoisaseaíentãonósvamossentarepensarnumamaneiradevocêdirigirocarro.Umas três semanas depois, Johnny viu o pai sentado na sua poltrona,

assistindoaumjogo,foiatéeleedisse:

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— Bom, pai, estou pronto para conversar com você de novo sobre ocarro. Acho que iz todas aquelas coisas que você disse que eu tinha defazer.Opaiparoudeassistiraojogo,olhouparaeleefalou:—John,voudizerumacoisa: suasnotasmelhoraram, sim,muito,oque

querdizerquevocê estava sendopreguiçoso antes,mas isso ébom.Masvou logo avisando, é melhor essas notas não baixarem de novo. Emsegundo lugar, emais importante ainda, suamãemedisse que você temajudadomuito em casa e que tem sido gentil com os seus irmãos— elaestámesmomuitocontentecomvocê.Gosteidisso.Tambémtenhonotadoque, toda noite, você está com um livro ou uma revista nasmãos, e quevocêtemlido.Issoéótimo,John.Tenhocertezadequevocêtemaprendidomuito.E,devezemquando,tenhovistoqueestáfolheandoaBíbliae,até,lendoumaspartes.Então,John,essastrêscoisasvocêfezmuitíssimobem.Masaindanãocortouessadrogadessecabelo.Johnnyestavapronto.— Pai, eu queria conversar com você sobre isso. Estou lendo a Bíblia,

comovocêmandou,epercebiquePedro,Mateus,Marcos,Lucase João, eatéopróprioJesus,todostinhamcabelocomprido.— Tinham, sim, Johnny, exatamente. E você também percebeu que,

aondequerquefossem,elestinhamumproblemadanado?

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Ah,possotirartodaessanevedacalçadasozinho.

Talvezsejamelhorchamarumaambulância.

Nãoprecisoqueninguémsegureaescadaparamim.

Alguémsabeondeficaohospitalmaispróximo?

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A

10Vocêestárepresentandooseupaís

coisamaissatisfatóriaque iznosmeusmaisdequarentaanoscomotreinador foi treinar a equipe norte-americana numa competição

internacional de basquete, e tive sorte su iciente para fazer isso duasvezes: com a equipe que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanosde1979, emSan Juan, e umgrupo totalmentediferente, quefoiaúltimaequipenorte-americanaamadoraaganharamedalhadeouroolímpica,emLosAngeles,1984.Henry Iba, o grande ex-treinador da Oklahoma State que foi treinador

dos Estados Unidos em três Olimpíadas, preparou-me bem com umconselhosensato:“Dessavez,vocênãoestarátreinandoumaequipeparaasuaescolaouoseuestado.Vocêestárepresentandooseupaís.”Eu sabiaque isso signi icavamuitopara ele e representavamuitopara

mimtambém.Transformeiemdiscurso,emcentenasdeapariçõesque izdesdeosJogosOlímpicos,oqueeudisseàqueletime,maisdeumavez:“Aspalavrasmaismaravilhosasque já foramescritas são: ‘América,América,DeusderramouSuagraçasobreti.’”Essa experiência levou a outra, de igual interesse e de lembrança tão

caraquanto:aoportunidadedetreinarMichaelJordan,que,acredito,semqualquer hesitação, não só se tornou o maior jogador da história dobasquete, mas também omelhor jogador que já jogou qualquer esporte.Suacompetitividade,suashabilidades,seudesejotornaram-noomaiordetodos.

Começouem1974

Meu procedimento, a cada vez, era o mesmo, embora, é claro, asOlimpíadastragamholofotesmuitomaiores.

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Fiquei sabendo que eu seria o treinador olímpico de 1984 emmaio de1982.Comeceiatrabalharquasequedeimediato,montandodossiêssobreos possíveis jogadores— os nossos e os que estaríamos enfrentando. Éválido lembrar que, naquela época, nossa equipe era composta dejogadoresuniversitários.Quando constituímos um grupo, e estava na hora de começar os

treinamentosemequipe, izemosascoisasàmaneiradoKnight.Tínhamosgrandes jogadoresemcadaequipe,mascomeçamosotreinocomoseelesestivessem passando num teste para entrar no time da escola. Amensagem era clara: suas reputações não tinham nada a ver com amaneira que nós iríamos jogar. Eu queria que eles soubessem que nósíamosfazerexatamenteoqueoFrankSinatracantavaem“Myway”—“domeu jeito”. E acho que os jogadores naquelas equipes trabalharammaisduro do que qualquer outro time que já nos representaram em jogosinternacionais.Como Jordannaequipeolímpica,diasdepoisdasSemi inaisdeSeattle,

em1984,trouxemos74garotosaBloomingtonparaostestes.Reduzimosogrupoa32,a20,a16e,porfim,aos12quelevamosaLosAngeles.No primeiro encontro com aqueles 12, no vestiário do Assembly Hall,

falei com eles sobre o que iria ser importante para nós como equipe debasquetebol.Eudisse:— É preciso ter fé na gente, que nós vamos preparar vocês. Se não

acharemqueestãonomelhorpreparodesuasvidasparadisputarojogo,queroquemedigam,porquevamos terde fazeralgopara tercertezadeque vocês iquem preparados. Vocês precisam acreditar que nós vamosprepará-los.Enóstemosdeterasensaçãodequevocês,os12,vãofazeroque queremos que seja feito. É preciso haver uma relação de sintoniaentretreinadoresejogadores—umsentimentoqueunaumaooutro,umesforçoconjuntoparaumobjetivo futuro,demaneiraque,nanoitede10de agosto, cada um de vocês esteja de pé sobre uma plataforma, com onossohinonacionalsendotocadoeumamedalhadeouroemvoltadecadapescoço.Éparaissoquevamostrabalhar.Dei a cada um deles uma fotogra ia 8x13 de uma medalha de ouro

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olímpica.—Queroissonobolsodevocês,oquequerqueestejamvestindo,aonde

querquevocêsvão,atéqueamedalhadeverdadesejasua.Deiaelesumacópiaemtamanhomaiordamesmafotografia.—Quero issosobreacamadecadaum,ondequerquevocêsdurmam,

entrehojeeoúltimodiadacompetição.Naúltimasemanadetreinamento,quandoestávamosemSanDiego,nos

preparandopara iraLosAngeles,pediqueAlexGroza falassecomnossaequipe.AlexestevenostimesdeKentuckyqueganharamoscampeonatosdaNCAAem1948e1949e, comoresultadodocampeonatode1948,elefoi selecionado para jogar na equipe olímpica que ganhou amedalha deouro de Londres, em 1948. Alex estavamorando em San Diego. Quandoestávamos lá, para jogar nosso último jogo pré-Olimpíadas, ele veio aotreino,numamanhã,etrouxesuamedalhadeouro.Ele a tinha transformadonumcolarpara a esposa. Lembro-medeAlex

passandoamedalhadeouroparaqueosjogadorespudessemver,ecadagaroto viu e pensou no que faria com a sua. Dava para ver nos rostosdeles: cada um a segurou, cada um relutou em passar adiante para opróximogaroto,atéqueos12tivessemseguradoaquelamedalhadeouro.QuandoadevolveramaoAlex,eudisse:— Quantos de vocês pensaram no que vão querer fazer com a sua

medalhadeouro,eaquemaqueremdar?Todossorriram.Etodososgarotoslevantaramasmãos.E,hoje,cadaumdaqueles“garotos”temumamedalhadeouro.

Basqueteboldeverãodiantede67.596pessoas

Quantoajogarcontraalguémquenãofossenósmesmos,tudocomeçou,para aquela equipe olímpica de 1984, com uma série de nove jogosamistosos contra estrelas daNBA, incluindo uma noite inesquecível, numambientequejamaisvereidenovo.Foi em Indianápolis, no estádio de futebol americano Hoosier Dome,

ondeos jogadoresolímpicos jogaramcontraumaequipeAll-StardaNBA,que incluía jogadores adorados em Indiana, como Larry Bird e Isiah

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Thomas. Foi parte deuma surra de9-0 quepreparoubemnossa equipeparaacompetiçãoolímpicadeLosAngeles.Não era só nossa equipe que estava se apresentando naquela noite. A

equipe olímpica feminina da treinadora Pat Summitts jogou a primeirapartida,antesdenós.Acheiquefoiótimo—realmentebom,paraotimedaPat e para o nosso. Pat e eu tínhamos sido treinadores de basquete deequipes norte-americanas nos Jogos Pan-Americanos de 1979, e nossasequipes ganharammedalhas de ouro lá, também. O verão de 1979, quelevou aos jogos Pan-Americanos, foi a minha primeira real parceria comela, e ela de fato me impressionou. Pat tem uma mente muito forte. Elarepresentoumuitoparaobasquete—nãoapenasobasquete feminino, obasquetebol.Nosso objetivo, naquela primeira noite, era ver se — em julho, numa

nova construção onde eles teriam de descobrir uma maneira de colocarumaquadradebasquetenomeiodeumvastocampodefutebolamericanoparao qual fora construído— Indiana, amantedebasquete, poderia nosdaroquequeríamos:amaiormultidãoquejátinhaassistidoaumjogodebasquetenosEstadosUnidosdaAmérica.Aconteceu: 67.596 pessoas apareceram— e, só depois de 12 anos, de

váriosanosjogandosemi inaisdaNCAAemestádiosaoredordopaís,essenúmerofoisuperado.Aquela noite dava toda a impressão de um espetáculo,mais do que de

um jogo. Foi o primeiro evento atlético realizado no novíssimo HoosierDome de Indianápolis, construído para o Indianapolis Colts, não para obasquete.MasesseestadoamavaobasquetemaisdoqueamavaosColts— ao menos, naquela época —, e aquela noite trouxe em cena umsentimentoufanistaqueos torcedoresdebasquetenorte-americanos têmcomrelaçãoaotimequeosrepresentanumacompetiçãoolímpica.E,então,chegouahoradojogo.Duranteostreinos,movimentamosmuito

a composição da equipe. Todos jogaram contra todos. E, ao começarmosaquelasériedeexibições,eunãosabiaoquepoderiaesperar.Eu queria que jogássemos contra osmelhores jogadores domundo, os

jogadoresdaNBA, sópara ver como seria. Édiferentede jogarbasquete

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universitário. O que poderia ser uma coisa negativa para nós — exporaqueles garotos aos pro issionais— poderia ser, de verdade, uma coisapositiva, se déssemos conta do recado. Não havia a menor dúvida: euqueria ganhar. Achei que ganhar dos pro issionais seria ótimo parareforçaraconfiançadogrupo.Funcionou e nós ganhamos, sim. Ganhamos naquela noite, como

havíamosganhadononossoprimeiro jogoemProvidence,eganhamosdenovo,enãoparamosdeganhar.OscarasdaNBA foramótimos.Atraímosgrandesmultidõesportodoopaís,e,aoganharmos,aquelescarasdaNBAvinhampara cimadenós comcadavezmais garra, e eu sentiqueaquilofezumbemenormeaonossotime.Trabalhei comoum condenado, desde os cortes até amedalha. Sempre

trabalhei duro com os jogadores nos dias seguintes a cada jogo. Olhavaparaeles comoseestivessemrealizandoumtreinamentobásico, a imdecombinar suas técnicas em equipe. Eu queria que eles não icassemsatisfeitosatéconseguiremamedalha.

UmanoitedeouroemLosAngeles

Quandoeutinhaumaequipeeachavaqueteriaumachancederealizaralgo muito superior ao que os outros poderiam, dizia isso para osjogadores—eeu izeraissodesdeoiníciocomanossaequipeolímpicade1984.Euqueriaqueelessoubessemoqueestavaemjogo.Eles reagiram tãobemquantoeuesperara.Mas,aindaassim, sentique

fomos para o jogo pela medalha de ouro na Los Angeles Arena comalgumascoisaspreocupantes.Jogaríamos contra aEspanha, timeque eu sabia sermuito bom.Omeu

assistentenaequipeolímpica,DonDonoher, e eu tínhamosvisto todosostimeseuropeus jogarem,esentimosqueaEspanha,enãoaRússia,eraomelhortimeeuropeu,ouinternacional.Otreinadorespanhol,AntonioDiaz-Miguel,erameuamigoetinhavindoaBloomingtonváriasvezesvernossostimesdaIndianatreinarem.Fizemos com ele como fazíamos, sempre, com treinadores que vinham

nos ver: abrimos nossos treinos e nossas reuniões de treinamento e lhedemos acesso às gravações de nossas partidas e treinos, para que ele

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soubesse exatamente como trabalhamos. Isso não me incomodava; eusabiaqueoAntonioeraumbomtreinador,comumaboaequipe.Acreditoqueelesprovaram issoganhandodosadversáriose chegando

até as inais. Sua única derrota ao longo do caminho me deixoupreocupado, porque foi para a nossa equipe, e por uma diferençaassustadora, 101-68. Eu sabia que nossos jogadores estavam conscientesde terem ganhado com muita facilidade, um jogo em que nem sequerjogarammuitobemduranteoprimeirotempo.No dia da inal, o clímax para todo o trabalho que tínhamos realizado

desde que o time fora selecionado, eu pedi que Willie Davis viesseconversar com o nosso time olímpico—Willie Davis, que foi capitão dostimesdedefesadeVinceLombardinoGreenBayPackers,queganharamosdoisprimeirosSuperBowls.BobSkoronski,capitãodostimesdeataquedos Packers, também tinha conversado, várias vezes, com as minhasequipesdaIndiana.Dessa vez,Willie não falou pormuito tempo. Ele só disse,mesmo, uma

únicacoisa.DavaparaverLombardifalandoatravésdeWillie,quandoeledisse:—Gente,estanoitevocêsvão jogarquarentaminutosdebasquete,dos

quais vão se lembrar para o resto de suas vidas, talvez atémais do queoutra partida que ainda venhama jogar. Vamos fazer tudopara garantirquesejaumalembrançaboa.Issofoialgoamais.“Essejogovai icarcomvocêsparasempre.”Logo,se

você tem coração e alma, não tem como não pensar: “Ele tem razão. Issonãovaisóacontecer.Vamosterdefazeracontecer.”

Aideiaéganhar

Aspessoascostumammeperguntaroqueeraimportanteparamim,nacondiçãodetreinador.Semdúvida,euqueriaumaoportunidadedetreinarumaequipeolímpicaeganhar.Mais importanteainda,paramim,eraqueaqueles 12 garotos pudessem seguir com suas vidas e dizer: “Ganhei amedalha de ouro de 1984.” Acredito irmemente que isso não teriaacontecido se eu tivesse apenas aceitado suas habilidades, pormelhores

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queelasfossem.Acredito,nãosócomotimeolímpico,masemcadajogoquemeustimes

disputaram, que a coisamais importante, paramim, era ganhar. Ganharcomhonestidade, ganhardeacordo comas regras , masganhar. Isso foi deuma ajuda inestimável para evitar que eu me desconcentrasse de meusplanos para aquele jogo ou para o próximo. Eu não queria me colocarnumaposiçãoemqueperdêssemosporcausadealgumacoisaqueeunãoizera ou não vira. Eu revivia cada partida, e se não conseguisse fazeralguma coisa, issome chateavamuitomais doquequalquer coisa que osjogadoresfizessemounãofizessem.Nessa noite, aqueles garotos da equipe olímpica, que Willie Davis

desa iou, executaram com exatidão o que fora colocado no desa io:“Quarenta minutos de basquete, dos quais vocês vão se lembrar para orestodavida.”Diferentemente de nossa primeira partida contra a Espanha, essa já

estava terminada ao chegar o intervalo. Liderávamos por 52-29, eganhamos de 96-65. Cada jogador no nosso time deixou aquela quadracomboaslembranças,excelenteslembranças.

DICASDOKNIGHT—OSPERIGOSDOPENSAMENTOPOSITIVO

Famosasúltimaspalavras(versãodetreinador):

NinguémnessetorneioémelhordoqueoJones,então,vamosdeixareledefora,eelearmanossosegundojogo.

Tãodentroassimdonossocampo,

elesnuncavãoimaginarumpasseaqui.Jáconseguimosoquartodown,esqueceogol,

vamosdesceressecampo.

Palavradejogador:

Umabolarápidapelomeioéaúltimacoisaqueeleesperaria...Acertoabolaporcimadolago.

Esquecechegarpertodacesta—seeuacertar

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essearremessodetrês,nósganhamos!

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M

11Oorgulhosoautordeumclichê

inha esposa, Karen, tinha uma ótimamaneira deme dizer quandoeu estava insistindo demais numa questão que ela já considerava

resolvidaeacabada.Elamealertavaparaofato—comgrandefrequência—usandoessaimagem:“Ocavalojámorreu.Desmonta.”Isso é uma elaboração a partir de um clichê: “Não se chuta cachorro

morto.” Não continue discutindo quando o debate já foi ganho — ouperdido.Seiqueosclichêssãoo lixodaboa literatura, triviaisevulgaresdemais

parasequerseremlevadosemconsideraçãoporgrandesescritores,paranão falar em editores de renome. Eu? Nunca estive entre esses caras eadmito: não chego a ser um sujeito anticlichê. Acho que alguns sãoclássicos.E alguns, acredito piamente, estão na raiz do “viés otimista”— ditados

entranhadosnonossopensamentoportantotempo,quealcançaramstatusdeclichêeprometemresultadospositivosquenãosejustificam.De outros, eu até gosto, quer por serem divertidos, quer por serem

sábios. Com relação a pelo menos um, sinto uma conexão parental, e,portanto,realafeição.Não é di ícil descobrir uma coleção de frases de efeito que alcançaram

statusdeclichê.AcesseoGoogleedigiteapalavra“clichê”.Hoje,ainternetoferece uma ampla variedade de atalhos para uma longuíssima lista.Deparei-me com uma coleção de mais de mil frases que estavamclassi icadas como clichês, embora, na minha opinião, algumas estariammaisbem-definidascomoadágiosouprovérbios.Certa vez, ouvi uma história ótima sobre um cronista esportivo que

estavacobrindoumaouduaspartidasdebasquetedenossaequipecontra

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Illinois: Jerome Holtzman, doSun-Times de Chicago. Jerry era maisconhecido como comentaristadebeisebol, desdeos temposdoCubs e doWhite Sox. Um jovem editor esportivo chamado Lewis Grizzard entrouparaoSun-TimesdeterminadoatiraracrônicaesportivadojornaldaEradasTrevasgramatical.Elejurou,depésjuntos,queiria eliminarosclichêseosjargõesdaspáginasdeesportedoSun-Times,eque,daíemdiante,ashistórias da Major League Baseball incluiriam citações de jogadores,técnicos e treinadores, não apenas opiniões de comentaristas. Uma novaerairiacomeçarnoSun-Times.Não muito tempo depois de sua chegada, um artigo sobre beisebol do

Holtzmanfoipararnasuamesa,eojovemeditorcolocoubanca.ChamouoJerryatéseuescritório.Numlivroqueescreveu,LewisGrizzarddescreveuoqueaconteceu:Eumencioneianecessidadedecitações,e,então,falei:—Evocêusaclichêsdemais.—Clichês?–eleperguntou.—Sim.Evocêaindaestáusandovelhosclichêsdebeisebol,como“hot

corner” para terceira base e “ circuitclout” e “roundtripper” parahomeruns.Holtzmanpareceuconfuso.Porfim,disse:—Lewis,vocênãoestáentendendo.EssesclichêssãoMEUS.Eu não tinha pensado nisso. Aqui estava um decano entre os

comentaristas americanos de beisebol, e é bemprovável que ele tenhainventadomesmo aquelas expressões. E, se um homem inventava umaexpressão, pormais tempoque ele ausasse, nãodavapara chamardeclichê,nãoé?NãovolteiamepreocuparcomoqueoHoltzmanescreviadepoisdisso.

O livro éIf I Ever Get Back to Georgia I’m Gonna Nail My Feet to the

Ground (“Se algum dia eu voltar para a Geórgia, vou pregar os pés nochão”)eojovemeditoresportivoeraomesmoLewisGrizzardquedeixouapro issãoparasetornarumdosmaiorescomediantesnorte-americanos,

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antesdemorrerdemaneiratãoprematura.Eu adorava as peças cômicas do Grizzard, mas, talvez, eu goste da

históriadoHoltzmanacimadetodasasoutras,porquepossomeidenti icarcomele.Naquela longa listadeclichêsqueencontreina internetestavaaexplicação que eu sempre dei para o fato de minhas equipes nuncaseguiremamodadecolocaronomedojogadornascostasdacamiseta.Euqueriaquemeusjogadoresestivessemquaseotempotodoconscientesdeaquemdedicarsualealdade:“Vocêestájogandoparaonomequeestáescritonoseupeito.”Talvez alguém tenha dito isso antes, não sei.Mas é uma frase repetida

poraí,deautordesconhecido,eeuareivindico.Eunãoatinhaouvidoatéentão,eébemissoqueeupensavaeeraassimqueeutrabalhava.Além disso,todos deveriam ser como o Jerry Holtzman e conhecer a

emoçãodeseroautordepelomenosumclichê.Insisto em que os clichês, se desprovidos de seu otimismo exagerado,

podemserinstrutivos.Porexemplo:Ostolosafluemondeosanjosnãoousampenetrar.Esse deve ser omeu ditado predileto, o grito de guerra na cruzada do

poderextraordináriodopensamentonegativo.Ostolosafluemondeosanjosnãoousampenetrar.Decisões.Essaéahora,entretodasashoras,denãoseapressar.Nãose

precipite. Leve tempo para se informar, para saber qual a melhorabordagem.Efaçaasimesmo,sempre,umapergunta inal:“Porquê?Porquetenhocertezadequeissoestácerto?”Esseconselhovaimuitoalémdotreinamento.Qualquerpessoaprestesa

tomarumadecisãoprecisadetempoparare letircomcuidadosobreelaepensar: “Ouvi as vantagens, os pontos positivos dessa proposta; será queconheço os pontos negativos potenciais?” E seja, sempre, capaz deresponderedeaceitararespostanão.“Nunca faça hoje o que você pode adiar para amanhã” — isso é um

elogio irônicodaprocrastinação,masháumelementodesabedorianessaminhapregaçãohumorística.Semaispessoasadiassemdecisõesburras,omundo teria muito menos decisões burras. Para mim, uma indecisão é

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melhordoqueumadecisãoruim.Tudoisso icaampli icadoquandohádinheiroenvolvido.Oseudinheiro.

Será que sei o su iciente para comprometer o meu dinheiro ou o meufuturo? O que é que eu sei, de verdade, sobre o sujeito que está mevendendoisso?Vocêjáouviuesseoutroaxioma/aviso:Umtoloeseudinheirologosesepararam.Éverdade,evocêtemdeserespertoosuficienteparanãoserotolo.Talveznemsejaumvigarista, sóumsujeitosincerocomuma ideiaque,

quandofuncionar,tornaráeleeaosqueacreditamnelericos!Voudarumconselhoquenãoéclichê,masquepoderiaser:Nãovivaosonhodosoutros...nempagueporele.Nãocoloqueummontededinheironaideiadeoutrapessoa.Ocaraestá

todoanimado...Ótimo,masquantosinvestidoresrecorreramasuasparcaseconomiaseembarcaramemalgocomumpensamentomuitopositivo,massaíramdaempreitadaachandoqueah,masse...Ah,masseeutivesseinvestigadoumpoucomais...Ah,masseeutivesseparadoparapensar...Ah,masseeunãotivessemeprecipitadotanto...Ah,masseeusoubessecomofuncionaessetipodecoisa...Ah,masseeutivesseesperadomaisumdia...Ah,masse...Não apenas em investimentos,mas em todas as decisões que você tem

detomar,vocêprecisasaber “porquê?”e “porquenão?”.Uma frasequepodeevitarummontedeproblemasemtomadasdedecisõesé:“Deixe-mepensar no assunto.” Ou: “Não tenho certeza. Preciso conversar comalguém.”Ou:“Euligodepois.”Ou:“Dê-meunsdiaspararefletirsobreisso.”Ou, numoutro nível: “Onde é que eu encontro alguma garantia de que

issovaidarcerto?”Ou:“Queméqueeuconheçoqueestáenvolvidonisso?”Ou: “Se é tão seguro assim, por que ainda não foi tentado antes?” Ou,talvez,amelhor:“Estámeparecendoummontedebaboseira.”Todas essas coisas permitem mais tempo para pensar, colocam você

numaposiçãodepoderre letirsobreascoisasantesdesecomprometer.Epara veri icar as coisas.Não é umanovidade.Há quase quinhentos anos,

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LeonardodaVincidisse:“Émaisfácilresistirnoiníciodoquenofim.”Apalavra“não”nãoéumamaneiraruimdeadiarquandoserecebeum

monte de propostas súbitas. Você sempre pode mudar para sim, e, emgeral,issosatisfazaspessoas,masémuitomaisdi ícil,algumasvezestardedemais,paramudardesimparanão.Doscasosqueconhecemosànossavolta,quantasvezesvocêachaqueaspessoasdesejariampodermudardesimparanão?Ora,um líderquediznãoaalgoque foisolicitadoporpessoasqueestá

liderandodeveriater,sempre,umaboarazão.Elenãopodeserarbitrário.Depoisdotempodeanáliseeavaliação,digaaelas:“Eisarazãopelaqualnãovamosfazerisso.”E,quandovocêdissersim,expliqueaelasporqueéuma boa ideia. Elas precisam saber o porquê, ou por que não, de cadadecisãoquevocêtoma,emqueelasestejamenvolvidas.Às vezes, commeus jogadores, eu dizia apenas: “Não, não vamos fazer

isso.” E, talvez, umpoucomais tarde, se eu visse que tinha algo que elesqueriammuitofazer,eudizia:“Estivepensandonisso.Achoqueseriabomfazerisso”,paramostraraelesqueeutinhaumapreocupaçãorealcomoqueelesqueriamfazer,assimcomocomoqueeramelhorparaeles.Emtodasassituaçõescomumaopçãosim/não:Pareepense.Ostolosafluemondeosanjosnãoousampenetrar.Háuma aplicação em treinamento evidente aqui. Emqualquer esporte,

grandes partidas não podem acontecer rápido o bastante para umtreinador otimista de uma equipe que não está, de fato, mentalmentepreparada, uma equipe com excesso de con iança. Uma equipe comcon iança excessiva é uma prova de acusação contra o treinador, nãocontraos jogadores.Nunca, jamaispensequesuaequipeestáprontasemvocêcolocarosjogadoresnumasituaçãoemquevocêsabemuitíssimobemqueelesestão.E,aténessecaso,eugarantoquevocêvai icarsentadonovestiário,sozinho,poucoantesdojogo,eseperguntar:“Seráqueelesestãomesmo preparados? Será que eu poderia ter feito algo mais?” Não hácertezaabsolutadenada.A sua função, como treinador, é manter a mente dos seus jogadores

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focada no que eles precisam fazer agora — agora mesmo, nesse jogo,ganharessanoite.Achoquefoiissoquemedeixoumaisorgulhosonaquelaequipe invicta da Indiana de 1975-1976. Eles ganharam com tantafrequênciaquetinhamdepensar,comtodaarazão,queerammelhoressecomparados aos adversáriosque estavamapontode enfrentar,mas eleseram amelhor equipe que já tive no que diz respeito amanter amentefocadanoquerealmenteimporta:ganhar.

EXEMPLOSDEOUTROSCLICHÊSDEQUEGOSTO

Nãocontecomoovoantesdagalinha.

Oucomvitóriasantesdeseremganhas.

Quemesperasemprealcança.

Seeletrabalharquenemumcondenadoenquantoespera.

Apressadocomecru.

Aindigestãoécomum.

Mas,pelagraçadeDeus,aquiestoueu.

Deuseosjogadoresinteligentesqueelecolocouemmeucaminho.

Émelhorprevenirdoqueremediar.

Issoéounãoépensamentonegativonasuamelhorforma?

Senãoconseguirdeprimeira,tentedenovo.

E,então,procurealguémparateajudar.

Nãoseensinatruquenovoacachorrovelho.

Seseusvelhostruquesforembons,nãomexaemtimequeestáganhando.

Olhesempreparaoladobomdascoisas.

Sim,se“bom”fortambém“inteligente”.

Maisvaleumpássaronamãodoquedoisvoando.

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Exatamenteoquepenseiquandoficamosprendendoabolaparapassarotempoemanteranossavantagem.

Nãomordaamãoquetealimenta.

Vocêpodemastigarumpouquinhoaquenãotealimenta.

Acavalodadonãoseolhamosdentes.

Tradução:façaadrogadosarremessoslivres.

Boteacabeçaparafuncionar.

Pareceeufalando,sóque,àsvezes,sugirodecapitaçãoantesdeentraremquadra.

Umbominíciolevaaumbomfinal.

Seacompanhadosdeummuitobommeio.

Umportodos,todosporum.

Certifique-sedequeseusjogadoressesentemassim.

Açõesfalammaisaltodoquepalavras.

Emalgunstreinos,achoquefuiumaexceção.

Todacorrentetemumelofraco.

Nessecaso,façaumasubstituição.

Estavanopapo.

Ahistóriadeumsucessofestejadocomantecipação.

Visãodeperto20/20.

Evisãodelongemelhorainda.

Oimportantenãoéganhar,écompetir.

Vocêdeveriasercomentaristaesportivo.

Pegueocaminhomaisfácil.

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PareceumplanodejogodoSunTzu.

Vocêpodelevarocavaloatéobebedouro,masnãopodeobrigá-loabeber.

Talvezvocênãotenhafeitoobastanteparaeleficarcomsede.

EALGUNSCLICHÊSDEQUEDISCORDO

Clichês e provérbios que pregam o que considero bobagempodem atéter alguma responsabilidade no fato de tendermos a ser perigosamenteotimistas—comosugeremcientistaseestudiososdoassunto.

Vocêpodefazerqualquercoisaquerealmenteacreditaquepodefazer.

Nossa,VOCÊéotreinadorqueeuqueroenfrentarnopróximojogo.

Vocêpodeseroquequiserser.

Claro,puledeumaárvoreetenteserumpassarinho.

Aesperançaéaúltimaquemorre.

Deunstemposparacá,aesperançatemsubstituídoosuorcomfrequênciaexcessiva.

Aluznofimdotúnel...

...éumacoisinhachata,seésódelaquevocêdependeparaenxergar.

Omenordedoismales...

...aindaéruim.

Tudovaibemquandoterminabem.

Eununcafuiumtreinadordotipo“Ah,quebom,nósganhamos!”.

Meninossãomeninos.

Nãoébemoquepensoquandopreparoumtimedebasquete.

Secorrerobichopega,seficarobichocome.

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Nessecaso,nãofaçanada.

Nãoadiantachorarpeloleitederramado.

Minhateoriaéquedarunsberrospodeevitarqueissoserepita.

Émelhoromalconhecidodoqueummaldesconhecido.

Melhorainda:andeemboacompanhia.

Elenãotocanoritmodabanda.

Carascomoelenãocostumamparticipardeconcertos.

Todanuvemescuratemumraiozinhodeluz.

Émelhorolharparaaparteescuradanuvem.

Talvezsejamelhorsenósperdermos.

Écomoummédicoquedizaopaciente:“Talvezsejamelhorvocêmorrer.”

Aausênciaaumentaasaudade...

...dasuaequipe,livredeumchatoqueabandonouobarco.

Valetudonoamorenaguerra.

Pareceahistóriadeumtreinadorqueenganaamulheremcasaeosrapazesnahoraderecrutar.

Oscaraslegaisterminamporúltimo.

Ditadodequemrecrutajogadoresruins.

Atéumesquilocegoencontraumanozdevezemquando.

Únicarazãoqueexplicacomocertaspessoasganhamdevezemquando.

Estãonascendolindasrosas.

Ótimo,anãoserquevocêtenhaplantadouvas.

Deusajudaaquemcedomadruga.

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Talvezeletambémajudeaquemacordaumpoucomaistarde.

Vaidartudocerto.

Sevocêfizerporonde.

Agramadovizinhoésempremaisverde.

Cuidadocomofertilizantequeeleestáusando.

Quemcomferrofere,comferroseráferido.

Quementranumabrigadesarmadotambémnãotemboaschances.

Umcegoguiandooutro.

Jáviisso,eambostinhamapitos.

Anoiteésempremaisescuraantesdoamanhecer.

Penseiissoumaouduasvezes...eaíacordei.

Tudooquesobedesce.

Cuidadoaodarumtiroparacima.

Osilêncioédeouro.

Elevavocêàderrotaseoseutimeestivernadefesa.

EEUTAMBÉMGOSTODESTES

Sesapotivesseasa,nãoquicariaotraseironochão.

Outrafortesituaçãose/então...

Seosdesejosfossemcavalos,osmendigoscavalgariam.

VersãodomeuamigoJoeCipriano:quandoseseporénsviraremdocedefesta,vaiserumafestadearromba.

Sevocênãosuportaocalor,saiadacozinha.

VocênãogostariaqueoTrumanestivessenasua“cozinha”hoje?

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Useascartasquevocêtemnamão.

Esaibaquandopararequandoapostar.

EALGUNSQUESÓTRANSMITO

DavicontraGolias...

Sehouverrevanche,apostoqueoGoliastambémvaitrazerumestilingue.

Crônicadeumatragédiaanunciada.

Escreveramevocênãoleu?

Fazertempestadenumcopod’água.

Desafiodiáriodetodocomentaristaesportivo.

Odinheiroéaraizdetodososmales.

Masapobrezanãoémuitomelhor.

Bateracabeçacontraaparede.

Porfalaremideiasruins...

Umanoznãocailongedeumaárvore.

Imaginoqueaaerodinâmicatenhaavercomisso.

Tirarumcoelhodeumacartola.

...masantesdeusar,verifiqueseháresíduos.

Quemnãoarriscanãopetisca.

Cambistadejogoganhamuitodinheirocomessafrase.

Osfortessobrevivem.

Darwinteriasidoumtreinadoretanto.

Verocopomeiovazio,enãomeiocheio.

Parecemaisoumenosamesmacoisa,paramim.

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Jogarforaobebêcomaáguadobanho...

...vairenderavocêpoucoscontratoscomobabá.

Lentoeconstanteganhaacorrida.

QualfoiaúltimaOlimpíadaaquevocêassistiu?

Quantomaioraaltura,maiorotombo.

Earapidezéamelhormaneiradefazerissoacontecer.

Nãodáparatirarleitedepedra.

Nemteriaumgostobom.

Aovencedor,asbatatas.

Operdedorficacomoslouros?

Vivercadadiadeumavez.

Pensandobem,dáparaserdiferente?

Oquenãomataengorda.

Issoéumadefiniçãodeviverperigosamente?

Quemnadanãoseafoga.

Massabeparaondeestáindo?

Umraionuncacaiduasvezesnomesmolugar.

Esperemosqueaprimeiranãosejafatal.

Asortenuncabateduasvezes.

Elaeoraiosãoparentes?

Pronto,nãofoitãoruimassim,foi?

Éissooquedizemdepoisdaquedadoraio?

Otempocuraqualquerferida.

Sim,masvaiumremedinhoaí?

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Embrigadecachorrogrande,quemmeteamãoacabamordido.

Entãonãosemexa,aprenda.

PROVÉRBIODEQUEMPENSAPOSITIVO/NEGATIVO

Pos.:Nuncaduvidodenada.

Neg.:Silêncioemcasodedúvida.

Provérbio:Émelhorficaremsilêncioedaraimpressãodesertolodoquefalaredaracerteza(Lincoln).

Pos.:Ninguémvaificarsabendo.

Neg.:Oqueéerradoestáerrado.

Provérbio:Caráteréoquevocêfazquandonãotemninguémolhando.

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N

Conclusão

Conclusão

ãoestouquerendopassarpormaisespertoou inteligentequevocê.Não deixe o seu instinto ser adulterado pelas baboseiras positivas

que izeram você se sentir inferior e não embarque em otimismosfantasiosos.Otim-ismo.Pessim-ismo.Real-ismo.Oismoquedefendoéoterceiro:realismo.Não estou alegando ser pioneiro na questão do ensino negativo. Talvez

vocêtambémsejaprodutodele.Aquelasanotaçõesemvermelhoqueasuaprofessora escreveu nas suas primeiras redações— é provável que elasnão fossemparabéns.Todos aprendemosoqueNÃO fazer e a conseguir,antesdemaisnada,passarnamatériadatiaDiva,queensinouvocêaler,depois, a escrever, a comunicar — passando pela ortogra ia, em quesempretemumjeitocertoeumjeitoerrado,pontopacífico.Com certeza, a ênfase no que fazer e no que não fazer não é nova no

esporte.Pareepensenostreinadoresconhecidoscomo“fundamentalistas”— os mais insistentes no domínio de cada fase, dominando a primeiraantesdesequerpensarempassarparaasegunda.Issonãocomeçoucomos treinadores esportivos do ensinomédio. Uma das frases atribuídas aolíder grego Temístocles, 500 a.C., de Termópilas, no ilme 300: “Tenhadomínio sobre si mesmo em coisas simples, e então passe para coisasmaiores.”

Fundamentos,fundamentos,fundamentos

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O ensino dos fundamentos elimina maneiras de falhar, maneiras deperder. Os maiores fundamentalistas — no treinamento esportivo, naguerra, na tecnologia, nos negócios — estão e sempre estiveram maispreocupados com perder do que com ganhar. Para mim, jogar para nãoperderé,naverdade,omelhormeiodeganhar.Éuminstintointrojetado,em que um verdadeiro ganhador acredita piamente. Os críticos podemdizerque issoquerdizer jogardemodoconservadordemais.Euentendoisso, mas meu argumento em contrário é que, se você eliminar, de fato,todasasformasdeviraperder,estarámuitomaispertodavitória.Tente juntar essas diferentes etapas: fazer uma corrida bem-sucedida

paraumtouchdownseosseusatacantesnãoconseguiremsaircomabolano início da contagem e pular para a zona neutra; se os seus defensoresnãotiveremaprendidoaafastarabolaeevitarqueelaescorreguequandochutada;seoseupassadornãoveri icarondeadefesaseencontraeparaondeosseusreceptoresestãoindo;seoreceptornãoolharparaabolaatéicarcomelanasmãos,eolharparalongenocampo,paraondeelepodeirdepoisdeagarrarabola.Todos esses ensinamentos são passos na direção de jogar para não

perder,oprelúdioparasercapazdecriarjogadasquelevamàvitória.Nãohá aqui nenhuma questão do tipo “o ovo ou a galinha”. Os fundamentosvêm primeiro. Quando você se concentra na base de qualquer operação,quantomaissimplesmelhor.Não há nada espantosamente novo no que estou dizendo. Espero que

você tenha partilhado um momento de satisfação, animação com adescoberta que eu sinto quando folheio o livro de citações familiares deBartlett, ou alguma obra semelhante de pensamentos simples queadquirem signi icado profundo com a maneira direta com que a irmamconvicçõesquetodosreconhecemos.Já me deparei com centenas e milhares de citações de pessoas que

observaramalgofamiliaresenti: “Nossa,é issomesmo!”ou“Ébemassimque me sinto”, ou, às vezes, até algo diferente: “Eu nunca pensei nissodessaforma,maseletemrazão!”Oqueencontramosnas citaçõesdeBartlett é a eloquência, a sabedoria

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duradoura de grandes ilósofos ou líderes, ou até pessoas comuns comuma visão extraordinária. Montaigne, grande escritor francês do séculoXVI,que inventouoquechamamoshojede “ensaio”,duzentosanosantesqueBartlett organizasse suaprimeira lista, discutiu issomuitomelhordoqueeupoderiafazer.Aofalaremgrandespensadoresquesedepararam,bemantesdele,com

questões de seu interesse — os chineses, os gregos, os romanos, queanalisaramnossospontosfracosefortessemootimismodoentiodonossomundo moderno—, Montaigne descreveu as próprias reações ao ler ospensamentos de grandes escritores. Ele conseguia reconhecer uma frasequeatravessaraafundosuamenteantesdeateremlido,umpensamentotãofamiliarquepareciaseu:Se, por acaso, ao ler um bom autor, eu me deparar, como em geralocorre,comosmesmosassuntosquetenteitratar,vendo-metãofracoeinsigni icante, tãopesadoe lerdo,emcomparaçãocomaqueleshomens,sinto,pormimmesmo,penaedesdém.Aindaassim, icofelizqueminhasopiniões tenham a honra de coincidir de modo tão frequente com asdeles, eque,pelomenos, sigonamesmadireçãoqueeles, emborabematrás,dizendo“Quãoverdadeiro!”.Espero que você, ao ler estas páginas, tenha dito a si mesmo, uma ou

duas vezes, algo parecido com “Quão verdadeiro!”. E, talvez, talvez...apenas, em possibilidade, você tenha se livrado do sentimento de culpaquantoasetornarmenosquealegrementeotimistaquandoalguémtederumadica.Lembre-sedequeaquelequehesitapodenãoestarperdido, anão ser

embomesaudávelpensamento.

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OPensamentoNegativolevouBobKnightpositivamenteaoSalãodaFamadoBasquetebolInternacional

Nomeadoem1991

SalãodaFamadoBasquetebolUniversitárioNomeadoem2006

3títulosdaNCAA

Inclusiveaúltimatemporadaperfeitadobasqueteuniversitário

CampeonatoOlímpicode1984AlémdostítulosPan-Americano,NIT,Pré-temporadaNIT,CCA

902vitóriasemsuacarreiracomotécnicouniversitário

PrimeirotreinadormasculinodaPrimeiraDivisãoaganharnovecentasvezes

5PrêmiosTreinadordoAno1975,1976,1987,1989,2002

11CampeonatosdaBigTen

Inclusiveasduasúnicastemporadas18-0daliga

37vitóriasBigTenconsecutivas1974-1977,10vitóriasamaisqueosegundomaiorrecordedaliga

ÍndicedeGraduaçãodosalunosquaseperfeitoParajogadoresquefazemcursosdequatroanos

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1Apelidadode“oavôdetodososjogos”,oRoseBowléomaisantigojogouniversitárioamericano.ÉtradicionalmentecelebradonoprimeirodiadoanoemPasadena,Califórnia,desde1923.Aúnicaexceçãoocorreunoanode1942,quandofoitransferidoparaDurham,naCarolinadoNorte,devidoatemoresdeumataquejaponêsnaCostaOestedosEstadosUnidos,apósoataqueaPearlHarbor.(N.T.)