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Nesta edição apresentamos os trabalhos de Mariana David, Guilherme Gerais, Milena Edelstein, Lucas Romanholli, Giselli M. e uma entrevista com Ricardo Labastier.

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equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

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tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Laura del

Rey e Paula Hayasaki

Mariana David

Giselli M., Guilherme Gerais, Lucas Romanho-

li, Mariana David e Milena Edelstein

Ricardo Labastier

[email protected]

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@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

revista OLD#número 48

expediente

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66terra: gui mohallem

livros

mariana david ricardo labastier

milena edelstein

guilherme gerais lucas romanholi

giselli m.

reflexões

exposição

portfól io entrevista

portfól io

portfól io portfól io

portfól io

coluna

índice

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carta ao leitor

Exploramos nesta edição corpo, tem-po, ficção e religiosidade. Cada um de nossos fotógrafos se envolve com algum destes temas criando ensaios instigantes que problematizam ques-tões centrais dentro da fotografia contemporânea.Além das ditas questões, começamos a nos preocupar cada vez mais com a edição dentro do universo foto-gráfico, trazendo esta questão para a construção da revista e dos textos do nosso blog.Com tudo isso em mente, apresen-tamos em Agosto os trabalhos de Mariana David, Guilherme Gerais, Milena Edelstein, Lucas Romanholli e Giselli M. Cada um desenvolven-do uma estética e uma abordagem própria em relação ao seus assuntos.

Assim, apresentamos a variedade e o sem-número de possibilidades cria-tivas dentro da fotografia contempo-rânea.Em nossa entrevista, conversamos com Ricardo Labastier e apresenta-mos seu novo trabalho: SantuÁrido. Na conversa Ricardo conta sobre os processos criativos e as origens por trás de sua produção fotográfica.Com este grande panorama criativo apresentamos mais uma edição da OLD. Aproveite!

por Felipe Abreu

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Disponível em editingstandard.comvalor R$160456 páginas

Fotógrafos tem grandes dificuldades em editar seus trabalhos. Isso se dá, em par-te, pela ausência de uma literatura con-

sistente sobre o tema. Se pensarmos na quan-tidade de livros que temos sobre edição em cinema, jornalismo e afins, dá uma tristeza ao se comparar com a fotografia. O coletivo ED criou um método próprio para edição de arquivos fo-tográficos, encontrando valores e catalogações específicos para determinados tipos de fotos. A teoria é apresentada no livro ED IT, que se debruça em um arquivo fotográfico específico, escolhido como exemplo pelo grupo. Se ED IT não é um guia de como editar ensaios, o que é muito bom aliás, ele funciona como um estudo e um método de aprofundamento na imagem, de compreensão dos valores de cada fotografia, para posteriormente ser usado na construção de um ensaio.

ED ITde ED

livros

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Informações diretamente com os autores.

CAIXA DE SAPATOde Cia. de Foto

A Cia. de Foto transformou a fotografia brasileira. Um estilo marcante, mas sem assinatura individual, a produção de

trabalhos que lindavam profundamente com a intimidade e a família, fugindo do estudo do outro e se voltando para o estudo do eu, e uma eficiência enorme na expansão e divulgação dos seus trabalhos.Com já algum tempo da dissolu-ção do coletivo ainda falamos dele, provando a marca deixada pela produção do grupo. A Cia. pode ter terminado, mas seus trabalhos ainda ressoam no Brasil e no mundo. Tanto é que o ex-coletivo decidiu lançar uma publicação para Caixa de Sapato, um de seus mais marcantes trabalhos.O livro, envolvido em uma caixa de papelão, tem quatro cadernos, o mesmo número de membros no coletivo e é dividido por cores, com uma predominância em cada livreto.

livros

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exposição

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cores salpicam um relevo monotom. As estranhas estruturas urbanas, em silêncio, também começam a fun-cionar. Mas, entre tantas coisas que desabrocham, uma fotografia em es-pecial, muito azul e diferente das de-mais, chama a atenção por ter em si a força do conjunto. Ela capta aquele momento preciso em que um raio sai de uma nuvem e chega ao solo, levan-do consigo uma carga de vida (ou a origem do fogo a que os raios sempre nos remetem). E então Gui escolhe deslocar esta nuvem (cujo fim se vê - e isso muda tudo) em um imenso plano aberto, fazendo-na ao mesmo

Em uma série inédita de dezes-seis fotografias, três vídeos e uma escultura de uma tone-

lada que ocupa o vão central da sala, o artista apresenta seu projeto Terra.Entre os galhos e rios tortuosos das imagens verde-achampanhadas de Mohallem estão incrustadas questões como território, nascimento, perten-cimento e transformação. A Terra/terra aparece por vezes acolhedora e por outras sufocante; às vezes tempo e às vezes espaço. Nuvens cortinam e descortinam pos-síveis percursos, a luz estoura incan-descente na folhagem, pontinhos de

TERRA: TERRITÓRIO E PERTENCIMENTOA Galeria Emma Thomas recebe, a partir deste 13 de agosto, a nova exposição de Gui Mohallem.

A Galeria Emma Thomas fica na Rua Estados Uni-

dos, nos Jardins. A abertura de Terra será no dia 13

de Agosto.

tempo filha e mãe.Se as perguntas giram ao redor d’ o que carregamos de onde viemos?, o que deixamos?, por onde andamos? e uma sensação oroboro parece per-mear tudo, Terra está comprometido com a dúvida.

Por Laura Del Rey

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MARIANA DAVIDVi muitas nuvens & Paisagens para minha vó

Mariana David explora o deslocamento e a desco-berta de novos locais em sua produção fotográfi-ca. Suas imagens se encantam pelo desconhecido

e trazem uma visão curiosa e interessada nas histórias que ela apresenta. As duas séries apresentadas nesta edição da OLD unem o desconhecido e o que há de mais próximo: nossa família. Com essa união, Mariana cria um novo uni-verso dentro de cada uma de suas fotografias.

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Tenho alma cigana; espírito de

estrangeiro. Meus trabalhos foram

feitos em lugares muito distintos

Mariana, como começou seu interes-se pela fotografia?Eu gostava muito de ser fotografada quando era criança; vivia inventan-do personagens para a câmera. Na adolescência, no entanto, fui sur-preendida por uma timidez e inse-gurança que me colocaram do outro lado da câmera. Fotografar me dá segurança, me ajuda a entender o mundo e me dá a valiosa oportuni-dade de fazer algo onde meu cora-ção se encontra por inteiro.

Qual o papel do texto em Vi Muitas Nuvens? Como ele ajuda a construir a narrativa do ensaio?A literatura me influencia e aumen-ta o meu universo de uma maneira única. Não consigo imaginar a foto-

grafia longe das palavras, ainda que elas não estejam fisicamente pre-sentes. Este foi o primeiro trabalho em que me aventurei na relação en-tre imagem e texto; na busca de que ambos possam potencializar seus efeitos. Não vejo e nem quero colocar nes-se ensaio uma importância maior ao texto ou à imagem. Seria injusto propor isso, já que nesse trabalho em específico, os vejo como com-plementares. De certo modo, tenho buscado através das dualidades (que estão presentes em toda lógica do universo) do texto e da imagem uma forma de compor uma micro-obser-vação de algo que me tocou. A nar-rativa, em Vi Muitas Nuvens passa pelo equilíbrio dessa relação, que

não termina nela. Se expande e che-ga até aquele que lê e vê o trabalho.

Há uma solidão e um vazio muito grandes em Paisagens... você consi-dera que estes são elementos centrais no ensaio?Paisagens para minha avó foi um trabalho feito em várias etapas. Ele se concretizou após a morte da mi-nha avó, embora as imagens já tives-sem sido feitas anos antes. Aquelas imagens só ganharam um sentido depois da morte dela. Acho que elas estavam esperando o futuro. O tra-balho se complementa com cartas

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trangeiro. Meus trabalhos foram fei-tos em lugares muito distintos, como a Patagônia Argentina, a França, o Sertão da Bahia e o meu quarto alu-gado em Boedo, em Buenos Aires. Atualmente, estou fazendo um pro-jeto em Salvador, cidade onde nasci, que se chama Caminho. Me propo-nho a uma experiência estrangeira nesse território familiar, tendo como fio condutor as memórias da minha família em relação a certos espaços da cidade. Caminho de maneira ale-atória pela cidade, registrando em imagens e texto o que vejo e sinto. Para mim, é muito importante ter esse olhar de surpresa com o mun-do, de tornar o lugar onde vivemos sempre um mistério. Senão, a vida perde a graça. É preciso inventar a vida todos os dias.

que escrevi para a minha avó, com uma máquina de escrever.Acredito que existe no Paisagens a solidão e o vazio, mas isso não é ruim. Coisas muito importantes acontecem quando a gente se arris-ca a estar só e adentrar o vazio enor-me que existe em cada um de nós. A meditação, que comecei a praticar nessa mesma época como uma ma-neira de aliviar a minha dor, me en-sina sobre isso toda vez que fecho os meus olhos. Chegar até o vazio é um privilégio que só com muito esforço e dedicação se pode alcançar. Estou nessa busca.

Qual a importância do deslocamento na sua fotografia? É importante para você estar fora de um espaço conheci-do para produzir?Tenho alma cigana; espírito de es-

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GUILHERME GERAISIntergalático

Em Intergalático Guilherme Gerais investiga alguns conceitos que despertavam sua curiosidade: a gra-vidade, o ser humano, o nomadismo e a explora-

ção do espaço e do universo. A série se torna uma via-gem lisérgica por estes conceitos, misturando uma série de alegorias que usem de elementos reais para construir sua ficção.

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Comecei a pensar em uma saída que abrigasse todos aqueles experimentos e cheguei nessa ideia de um tabuleiro

Guilherme, nos conte sobre seu come-ço na fotografia.Eu comecei comprando uma câme-ra para tirar fotos de amigos andan-do de BMX. Na época era uma sim-ples Pentax P30, mas que deu para aprender algumas coisas básicas da fotografia. Sempre a levava na bol-sa e experimentava com filmes em cor e preto e branco. Como todos que começam na fotografia, fiquei encantado com as possibilidades e truques possíveis de se fazer com filmes analógicos. Não tinha ne-nhuma pretensão, apenas registrar aqueles momentos. Só depois, em 2007, quando comecei o curso de Artes Visuais, que entrei mais a fun-do nisso, já com uma câmera digital, e cá estou até agora.

Como surgiu o ensaio Intergalático?O projeto começou com algumas re-flexões distintas sobre assuntos que me despertavam curiosidade: como a gravidade, o ser humano, o perí-odo em que éramos nômades e o desejo do homem de explorar o es-paço e o universo. Fazia um exercí-cio de me perguntar coisas e tentar responder com imagens. Depois de um tempo vi que já tinha algumas coisas que me interessavam, um ca-minho, e que poderia partir para a segunda fase do trabalho, o livro. Comecei a pensar em uma saída que abrigasse todos aqueles experi-mentos e cheguei nessa ideia de um tabuleiro, que se tornou tanto um jogo próprio com a fotografia, como um jogo imaginário de uma fuga de

um personagem fictício.

Como se deu o processo de criação do fotolivro? O que mais te marcou nesta experiência?Era um processo bem livre, sem uma pretensão clara. Fiquei um bom tem-po experimentando com algumas fotografias de outras épocas, que já tinha feito. Andava com um caderni-nho anotando ideias, que posterior-mente as colocava em teste. Algumas davam certo, outras não. Depois de algum tempo começou a ficar visível uma sintonia entre certas imagens e o trabalho aos poucos começou a

guilherme gerais

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já de imediato percebesse que algo foi construído. Talvez isso criaria um tipo de conforto que não seria inte-ressante para esse trabalho. O meu desejo era criar uma experi-ência que ficasse na fronteira entre o falso e o verdadeiro, entre o visto e não visto, embaralhando diferentes sensações e sentidos. Penso que a re-alidade funciona como uma porta de entrada para a narrativa do livro em que a saída é o leitor que terá que achar.Gosto muito de livros que per-mitem outras leituras com o passar do tempo, que deixam um espaço afim de ser preenchido depois. O en-saio é o resultado dessa tentativa, e esse processo foi a minha forma de tentar atingir isso.

Quais os papéis da ficção e da fantasia na sua fotografia?

se encaixar e ganhar forma. Foi um período que li e vi bastante coisa, me diverti. Tudo isso me deu uma base, que pude perceber e identificar algu-mas ideias que quero levar adiante.

Você busca criar um novo universo através de elementos encontrados na nossa realidade? Qual a importância deste processo para o ensaio? A realidade serve como uma forma de esconder algo que o leitor terá que procurar, achar aos poucos, olhando as fotos e a história. A ideia no Inter-galático era criar um ambiente que a princípio o leitor pudesse se situar, e aos poucos perceber que algumas coisas estavam fora do lugar. Por isso, pensei que jogar com a re-alidade daria mais camadas para o trabalho, ao invés de criar imagens cênicas, por exemplo, em que o leitor

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A ficção para mim é uma ferramen-ta, um lugar para transformar, criar e adaptar histórias, fatos, sonhos, von-tades, uma forma de refletir sobre a nossa existência humana, de certa forma. Acho que a ficção te coloca constantemente em jogo, em movi-mento, te forçando a explorar novos territórios, novas possibilidades, e é nisso que a fotografia que eu gosto de fazer encontra força e inspiração. É como se debruçar sobre algo des-conhecido. Uma vez que você pega esse caminho, não consegue parar. Acho importante respeitar a imagi-nação do leitor, dar liberdade, um tempo para ele se encontrar no tra-balho. Acredito que a ficção e suas variações são um convite para isso, para outras histórias, além daquelas que estamos acostumados a ver.

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MILENA EDELSTEINO que eu vejo é miragem

O Que Eu Vejo É Miragem explora os limites da cons-trução da paisagem na fotografia. Milena explora a relação entre realidade e ficção, tanto na constru-

ção de suas imagens quanto no assunto de cada uma de suas fotografias. O ensaio se torna uma viagem por paisa-gens artificiais e naturais, criando um mundo único que une real e fantasia em uma relação fortemente interligada e instigante.

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Me questiono quais seriam os limites entre o artificial e o natural no contexto da produção de imagens e na construção do que chamamos de realidade.

Milena, nos conte sobre como come-çou seu interesse pela fotografia.Acho que minha curiosidade pela fotografia vem do mu pai, ele foi fo-tógrafo amador quando jovem. No entanto, talvez este interesse tenha se dado antes de que eu soubesse disso... me lembro que um dos meus passatempos nas reuniões de família na casa dos meus avós era abrir as gavetas e armários e ver o que eles continham, gostava de abrir os ál-buns de família empilhados nos ar-mários e rever fotografias antigas, numa dessas vezes encontrei uma série de negativos, projetor e rolos de filmes registrados pelo meu pai e trouxe todos para casa. Também tira-va fotos dos meus brinquedos com uma Olympus de pilha que meus

pais tinham me dado, posicionava as bonecas e carrinhos e inventava situ-ações e pequenas histórias.

Nos fale um pouco sobre O Que Eu Vejo É Miragem.Esse trabalho faz parte de uma pes-quisa sobre como se dá a construção da paisagem na fotografia. Me ques-tiono quais seriam os limites entre o artificial e o natural no contexto da produção de imagens e na constru-ção do que chamamos de realidade. O trabalho é composto por impres-sões em grande escala que posterior-mente são instaladas de modo quase cenográfico, as imagens possuem ca-racterísticas distintas:- paisagens artificiais, construídas pelo homem, com o intuíto ora de

imitarem a natureza e ora de se fun-direm de fato com ela. - paisagens naturais que possuem indícios de artificialidade , aparen-tam ter sofrido algum tipo de mani-pulação ou interferências que asse-melham-se a uma “montagem”.

Você trabalha com outros meios além da fotografia. Qual a importância dessa multidisciplinaridade na sua produção?Minhas proposições se caracterizam muito pela interface entre realidade e a não realidade produzida a partir da fotografia e do vídeo afim de in-

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eu diria ser quase cenográfica. Numa tentativa de quebrar a racionalidade da linha cronológica que pressupõe um registro e assim, construir novas narrativas através de imagens. Como uma memória de um passado que nunca existiu, histórias inventadas, sem rostos específicos, com imagens veladas por uma fina película que as dissolve, em que lugares comuns na cidade que se tornam irreconhecí-veis.

Como você busca construir a sua nar-rativa através de objetos, reduzindo o elemento humano ao mínimo? Existem alguns elementos que são indícios de uma presença que ali existiu, de acontecimentos que dei-xam marcas e narram histórias, no entanto, também existem elementos que são construções intencionais,

verter e questionar o uso dos espa-ços. A pesquisa normalmente inicia-se a partir da linguagem fotográfica como um meio para que posterior-mente eu explore suas possibilidades instalativas e os desdobramentos da imagem estática e bidimensional no espaço. Deste modo, vejo a fotogra-fia como um meio para construção e registro de idéias, e não necessaria-mente como um fim em si.

Qual o papel do fantástico na sua pro-dução? Eu acredito que não há tempo “pre-sente” em minha produção. Não pen-so no “momento decisivo” da foto-grafia pois é a eliminação do instante o que permite o deslocamento espa-ço-temporal de uma imagem; deslo-cá-la de seu contexto original a fim de determinar uma outra função, que

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representações que ambientam um espaço que não necessariamente possuem marcas de um indivíduo mas compõe o entorno. Busco por ambos, é a falta de uma ação espe-cífica, do ato flagrado que para mim traz um estado de suspensão na ima-gem. A foto captura o espaço do “en-tre”, nada acontece de fato naquele exato momento, mas simplesmente existe.

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RICARDO LABASTIER

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Ricardo Labastier apresenta seu novo trabalho nesta edição da OLD. San-tuÁrido é uma revisitação da religio-sidade do autor, do sincretismo mais do que tradicional na fé brasileira. Suas imagens são fortes, carregadas de símbolos marcantes.Conversamos com Labastier por skype, para saber um pouco de sua trajetória e do pen-samento por trás da produção de seu trabalho.

Ricardo, nos conte sobre como come-çou seu interesse pela fotografia.Comecei aos 17 anos. Tinha um tio que era fotógrafo e fazia fotopintura, na verdade. Eu tenho umas imagens do quarto escuro dele, ele revelava PBs negativos e tinha uma Rollei-flex. Não tinha certeza se seguiria a profissão, até então. Mas lá pelos 16, 17 anos, eu tinha uma lembrança da-quela luz vermelha no laboratório

dele. Tem uma relação com o cheiro de película do laboratório, isso ficou na memória afetiva. Não sei, acho que as coisas iam desembocar em alguma forma de expressão. Daí eu ganhei uma coleção de outro tio meu, capa dura, e tinha muita coisa técnica e tinha muito material de referência. Era um papel bom, uns livros gros-sos, uma capa dura grande. E daí eu fiquei meio assustado quando vi Car-tier Bresson, especificamente uma imagem da Guerra Civil Espanhola, se não me engano. São uns meninos em umas ruínas. Aquela imagem me jogou para um outro pensamento sobre fotografia, e eu fiquei fazendo essa conexão de como isso mexeu comigo. Aí resolvi começar a foto-grafar a minha terra natal, Olinda. Comecei a fazer uma fotografia de expressão natural, tentando me des-cobrir. E aí tinha um senhor chama-

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do Walter Firmo Neto, ele tem uma Casa da Cultura que é um ponto de turismo e oferecia um curso de fo-tografia que fiz. Queria saber mais o que era esse universo. Depois fiz um outro workshop e já estava fazendo um ensaio PB sobre a religiosidade e mosteiros de Olinda em 1995. Daí já fui selecionado para o primeiro salão nacional de fotografia do estado da Paraíba. Isso já foi um chamado legal pra entender o universo.

Seu trabalho tem um uso muito forte do corpo. Como foi desenvolvida essa abordagem? Quais são seus interesses nessas áreas?A grandeza da fotografia é a própria natureza das coisas. Não é um pensa-mento premeditado em relação a isso. Com a maturidade, hoje comparando quando comecei, eu ainda acho em-pírico, muito a natureza das coisas e

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ricardo labastier

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da dinâmica do universo. Acho que quem nasce torto, morre torto. E tudo faz parte da vivência. Fui criado em uma casa com muitas mulheres, muita gente circulando para todos os lados, muitas festas, aniversários. E eu não gostava de olhar pro comple-to, eu gostava de olhar pras bocas das minhas tias, as mãos. Era uma coisa natural, pela própria construção da minha vida. A fragmentação era na-tural, em todos os sentidos. Minha casa era quase que uma comunidade e foi formando essa visão, não óptica, mas cerebral, que desemboca nessa coisa de fotografar.

A religiosidade também tem um forte papel na sua produção. Como surgiu esse interesse? Como seus personagens se expressão através de suas crenças? Como te falei, cresci em uma casa com muita gente e muitas mulheres

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poteticamente falando se eu expuser em um livro ou exposição, o que vem à tona é a força de você transmitir uma emoção através do que eu faço. Num pensamento que tudo é coleti-vidade, e ser um cara coletivo e par-ticipar desse compartilhamento de tudo é você ser muito individualista. Eu acho que você tem que mergulhar em você mesmo, esse papo de com-partilhar é legal mas tem um mo-mento pra isso. Não posso entrar em projetos e situações nas quais eu fujo da naturalidade que é meu confina-mento e silêncio mental. Posso estar por fora de um mundo que vive com-partilhando, dentro do meu egoís-mo, de estar lá atrás de casa, no meu quintal e confinamento, é um lugar que eu preciso e gosto de trabalhar. Ele é vital, me acalma. Eu tenho que ter esse espaço, é meu santuário. Eu preciso desse egoísmo e dessa indi-

coisas na nossa infância, na adoles-cência, começam de um ponto de in-consciência em um certo momento e atingimos um ponto de consciência. Estendendo já que uma coisa está li-gada à outra, de me expressar através disso. Daí desse ponto começa a arte como uma coisa consciente e termi-na como uma coisa inconsciente, en-tende o ciclo? Comecei o SantuÁrido muito consciente, mas também cons-ciente de que vai chegar em uma for-ma inconsciente, quase que um tran-se. E você perde o controle e já está absorvido pelas freqüências sonoras do que você está fazendo, já está num transe.

Nos conte sobre seu novo ensaio, San-tuÁrido.Ele é ao mesmo tempo longe da re-alidade porque são coisas muito mi-nhas e não dá pra explicar muito. Hi-

todo dia. Cresci com um catolicismo não praticado. Convivia com muitas mulheres nuas, de forma normal, com minha família. Em frente à ja-nela do meu quarto tinha uma igreja que às 18h da tarde tocava Ave-Ma-ria. E aquele som de ave-maria e dos sinos tocando, essa sonoridade é muito interessante e ele saía da igreja, entrava na janela do quarto e de repente cortava aqueles corpos, aqueles seios, aqueles ventres. E, de repente, cortava minha casa e minha vida, como até hoje. Acho que é por isso que isso está sempre presente na minha história. Comecei retratando detalhes de igreja, isso permaneceu. Muitas vezes isso misturado com ou-tras coisas. Como um trabalho que eu fiz chamado Aos Olhos do Pai, e agora pessoalmente em SantuÁrido é a consolidação mais madura dis-so, com mais consciência. Porque as

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vidualidade pra poder chegar nessa coletividade universal e mundial pela educação. Posso transformar e contri-buir para a educação de alguém. To-mara que apos uma exposição minha a pessoa não saia como ela entrou.

Como se desenrolou o processo de criação dos personagens deste ensaio? Como você se relaciona com as pessoas nas fotografias?Às vezes eu acho que o retrato é uma das formas mais covardes de identifi-car uma pessoa. Eu sou um retratista e gosto de fazer retrato e tenho mui-tos retratos. Quando eu vejo alguém do outro lado, seja um parente ou um amigo, eu acho que eu estou sendo muito covarde, à princípio. E a pes-soa topa, não entende direito a cau-sa, mas compreende que está sendo usada para que eu chegue aonde eu quero, que é criar um personagem.

Então eu deixo isso muito claro, mui-to transparente. Eu deixo claro que eu não estou usando aquelas pessoas, eu não exatamente estou te fotogra-fando, assim, “você já está na minha cabeça”, não você, mas o seu corpo já está na minha cabeça. E quando eu não tenho muita intimidade com a pessoa, fica mais difícil de dirigir. Mas acho interessante o desafio. O que mais foi punk pra mim foi foto-grafar minha mãe, porque eu te fa-lei da covardia, né? Alí eu fui muito mais covarde. Mas não tem pessoa no mundo que você ame mais que a sua mãe. Até hoje ela nunca viu es-sas imagens, nem eu tive coragem de mostrar. Mas acho que ela me perdo-aria. Mas foi a situação mais difícil, mais transtornadora. Eu tava usando uma pessoa numa situação inocente da parte dela. Mas era orgânico, era como se eu precisasse de realmente

fotografá-la daquela forma. Eu tinha que, pelo menos, já que eu fui covar-de com ela, ser sincero comigo mes-mo.

Como a memória influenciou a produ-ção deste trabalho?Eu não acho que SantuÁrido tem muita aversão e muita regra. Não que eu carregue isso como um dever, nem quero ficar retroalimentando essas negatividades. Talvez você vendo o trabalho não sinta isso, mas eu acho que é muita raiva de uma situação que é colocada pra você já pela adição das situações. É um descarrego em cima das tradições. É compreender um pouco o que está construído na sua cabeça de forma inconseqüente, equivocada, talvez. Então é jogar com a dualidade. Eu vejo muito como um desabafo, eu posso virar a imagem de cristo se eu quiser, eu posso incluir o

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ricardo labastier

medo do católico de morrer, do ape-go carnal. Eu posso me preparar para a grande viagem, porque a gente não sabe pra onde vai. Não preciso só me preparar pra ir pra Nova York, Rio de Janeiro. É como se fosse uma cuspida em minha própria boca.

Você cria símbolos fortes nesta série como fios, facões e o pano escuro que cobre fundo e personagens. Quais os significados e objetivos destas cons-truções?Tem coisas que você tem um apego estético à sua história. Tenho uma tia que é costureira, então essas linhas e tramas me lembram da casa dela, elas criam com as imagens. Isso re-força esse discurso que te falei da aversão a algumas tradições. Quando eu uso uma estrovenga, um facão, é como se fosse uma arma contra isso. São símbolos também que você tra-

balha com eles, alguns outros são já explicados e têm a ver com memó-ria afetiva. Outras simbologias são questões de sensação, de ícones que você gosta pra compor. Não sou re-fém da estética, mas ela serve pra isso também, na questão de você saber e estar consciente de que você está compondo uma imagem. É como se você estivesse compondo uma músi-ca, você faz o esqueleto dela, as notas musicais, e você brinca com as notas. Isso aí também é inerente à vida do

fotógrafo, de estar massageando este-ticamente, usando símbolos. Não tem só ódio não, às vezes é meio lúdico mesmo. Você bota um símbolo e fica rindo. É brincar com os elementos.

Quando eu vejo alguém do outro lado, seja um parente ou um

amigo, eu acho que eu estou sendo muito covarde, à princípio.

E a pessoa topa, não entende direito a causa, mas compreende

que está sendo usada para que eu chegue aonde eu quero

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LUCAS ROMANHOLLIface(less)

Lucas Romanholli transforma seus retratos em viagens por um mundo inconstante e estra-nho. A série face(less) aliena seus persona-

gens da realidade e do espaço, os transformando em rastros em um mundo escuro e assustador. O ensaio é uma viagem por um mundo de pesadelos em que cada personagem está abandonado à própria sorte.

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Busco “destruir” a imagem origi-

nal, trazer um aspecto rústico e

envelhecido para as fotos.

Lucas, como surgiu seu interesse pela fotografia?Meu interesse por fotografia surgiu em 2006, quando com-prei uma câmera digital pela pri-meira vez e comecei a fazer al-guns experimentos fotografando cenas urbanas. Desenvolvi antes do “face(less)”, o ensaio “uncan-ny streets” que buscava retra-tar a estranheza da percepção de cenas urbanas e cotidianas. E passei a buscar na edição das imagens uma ferramenta para desenvolver um tipo de expres-sividade que não encontrava apenas nas fotos cruas e prontas.

Nos conte sobre o desenvolvimen-to do ensaio face(less).O ensaio face(less) surgiu quan-do comecei a me interessar mais por retratos. Passei a usar a edi-ção das imagens como experi-mentação para o resultado que buscava obter, de inconstância e de estranheza. A maioria das fi-guras neste ensaio não têm olhos ou têm olhos distorcidos, são personagens de pesadelos, deva-neios; querem gritar, expressar angústias reprimidas dentro de si. Estão todos isolados e imer-sos.

Nos conte um pouco sobre os pro-cessos de edição e de construção narrativa nesta série. Nesta série edito as fotos com texturas desgastadas, aumento o grão e as áreas escuras. Bus-co “destruir” a imagem original, trazer um aspecto rústico e en-velhecido para as fotos. Foco em closes e me aproximo dos rostos, aumentando assim a percepção dos pixels, da esfera irreal da imagem.

lucas romanholli

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ma principalmente. Na pintura, pela estranheza e figurativismo do Francis Bacon. E no cinema principalmente com influência de cineastas e filmes como Da-vid Lynch, La Jetée, Videodrome, Persona, A Hora do Lobo.

Qual a importância do sonho, da fantasia, na sua criação visual?Busco um ponto de vista pesso-al, em que não é a objetividade do real que prevalece, e sim a su-gestão da ambiguidade, de uma realidade figurativa. Estas ima-gens são parte de pesadelos, de-vaneios. Elas querem expressar angústias e desejos reprimidos dentro de si, uma incerteza e fal-ta de clareza do que são, sejam memórias, alucinações ou meros personagens, mera ficção.

Você relações com o desenho e com a escultura no seu trabalho? Como outras áreas da produção visual influenciam a sua fotogra-fia?Vejo relação com pintura e cine-

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GISELLI M.O Mover-se

Giselli M. explora o corpo, o movimento e a repre-sentação do eu na fotografia. Sua série discute não só a produção do autorretrato, mas também

a construção de um novo eu, um novo personagem que é apresentado em cada uma das fotografias, marcadas pelo tempo e pelo espaço em que foram criadas.

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Acredito que o ensaio O Mover-se

surgiu neste ‘quase’, neste silêncio

e nos gestos que respiram.

Giselli, como surgiu seu interesse pela fotografia?As imagens, em qualquer respiro, sempre me atraíram e me inquie-taram. De toda maneira – desenho, pintura, palavra, toque –, eu busca-va e tentava, mesmo carregada de representações viciadas, aliviar isso. A fotografia me aconteceu aos pou-cos em meio a essas tentativas e tor-nou-se presença no instante em que, acredito, vi nela o caminho maior para entender e transpor essa in-quietação. Quando surgiram as câ-meras digitais, e a primeira em casa, comecei a fotografar qualquer coisa que me trazia algum interesse, por ser rápido, instantâneo e satisfazer a minha ansiedade de mundo. Com o tempo, o início da faculdade, novas

leituras e encontros minimamente imensos, comecei a perceber, com mais calma, a fotografia como um lugar de possibilidades (e liberdade) para este absurdo que é a nossa pró-pria existência.

Como foi desenvolvido o ensaio O Mo-ver-se?Há um corpo-impulso-múltiplo (fora de) em mim que desconheço, que quase posso tocar, quase posso ver, que perturba e, a priori, nada diz. Acredito que o ensaio O Mover-se surgiu neste ‘quase’, neste silêncio e nos gestos que respiram. É um agen-ciamento de desejos, urgências e afetos que, inconscientemente, toma assento no ato fotográfico e ressoa depois que o processo acaba. (Um

ressoar: conversas à beira de qual-quer coisa bergsoniana sobre o tem-po e o corpo com o Caio (Resende), que vez e sempre caminha vida pela poesia e filosofia).As imagens aqui foram feitas em três momentos e espaços diferentes, não se repetem, mudam, por isso o bor-rão, o rastro do movimento. Nesse fluxo contínuo, a mudança é o que faz as fotografias entrarem na simul-taneidade, pois as une de modo que já não é mais possível separar uma foto da outra ou corpo de uma foto do corpo da outra. Cada imagem é outra e ainda a mesma, um devir.

giselli m.

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femininos que emergem dos ensaios corpóreos.

Você coreografou as imagens do en-saio? Qual a importância de ter ou não este planejamento estético na sua produção?Nos três momentos do ensaio e nos instantes em que, com a câmera pro-gramada, coloquei-me no campo de visão da objetiva, o que houve foi uma espécie de coreografia inteira-mente sustentada na constante in-consciência dos movimentos. São gestos livres, impulsivos que, não planejados, buscam e criam presença durante todo o processo fotográfico. Eles fluem através da pele, pescoço, ombros, braços, mãos e pernas, to-cam o espaço ao redor e misturam-se de tal forma que se perdem e se refa-zem o tempo inteiro. Creio que vem

Qual a importância de trabalhar o Corpo e o Feminino na sua fotografia?Fotografar o próprio corpo, percorrer o corpo, costumo dizer, é um abismo que me salva, pois preciso me expor, alimentar-me do caos para alcançar alguma liberdade, continuar. Até en-tender isso, entretanto, foi necessária uma catarse: ser exclusa, em 2010, de uma igreja que frequentava desde menina, justamente por tatear e le-var ao ato fotográfico o que em mim pulsava. Esse acontecimento me ras-gou com lucidez. Precisei, então, des-construir-me, tocar limites, afirmar vontades e colocar-me dentro, com inteireza na fotografia. E estar den-tro, nesse enquanto, foi – e é – com-preender o corpo e o feminino mer-gulhados num processo de mudança e não a partir de uma ideia universal, identitária. Trata-se, assim, de devires

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daí a importância de um não planeja-mento estético: o fluir, a fruição qua-se derradeira entre uma imagem e a seguinte.

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Observando as tendências atuais da fotografia notamos movimentos que apontam

em uma mesma direção e que se completam pela associação de pelo menos duas linhas. A primeira sobre a qual refletiremos aqui é a multi-plicação de expressões poéticas que utiliza o suporte fotográfico para se materializar ou desmaterializar.Libertada da responsabilidade do-cumental a fotografia deste século, em certa medida, realiza o sonho de

consumo do pictorialismo e coloca, finalmente, a imagem fotográfica no campo da arte. Sonho esse dos inícios do século passado. Mesmo se pensar-mos o fotojornalismo, a princípio o último bastião da fotografia repre-sentante da realidade, encontramos aí uma busca pela beleza, pela dra-maticidade, pelo resgate dos direitos mas com um toque, uma vontade de expressão, de arte, de sentimento, de humanidade, conceitos distantes da objetividade documental ou científi-ca. Talvez isso nos sugira que arte e ciência começam a ser tomadas como formas distintas de representação, relação com o mundo, não antagôni-cas, nem excludentes. Arte e ciência, desejo antigo. A segunda linha, que também nos mostra o caminho de saída do labirinto, diz respeito a um

olhar-se e para dentro. A sensação é que a fotografia esgotou, por assim dizer, esse olhar para o mundo exte-rior. Todos os lugares já foram foto-grafados, das estrelas, passando pelo fundo do mar até o interior de nosso corpo. Aguardamos, às vezes e com alguma curiosidade, aqueles temas relativos aos sentimentos, ao infoto-grafável, como a alegria e a tristeza, o amor, a solidão, esse vazio de dentro.Seguimos vendo cada vez mais re-presentações fotográficas desse te-cer de afetos e desafetos que nos envolve como em uma teia. Que nos ata como em um buquê de flores de plástico, duplamente mortas. Nesses começos do século XXI tendemos a buscar dentro os caminhos para o lado de fora, para o outro, para nós mesmos.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

SOBRE TENDÊNCIAS reflexões

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reflexões

Libertada da responsabilidade documental a fotografia deste século, em certa medida, realiza o sonho de consumo do pictorialismo e coloca, finalmente, a imagem fotográfica no campo da arte.

coluna

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[email protected]

MANDE SEU PORTFÓLIO

Fotografia de Gabriela Rosell, da série Por Sua Natureza Devorada.Ensaio completo na OLD Nº 49.

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A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação nes-te nicho requer uma série de conhecimentos especí-ficos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, im-pressão e comercialização desse tipo de produto.

Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de com-preender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimen-to de todos os procedimentos necessários para rea-lizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influen-ciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho.

Visando uma apresentação realista do ramo, a estru-tura do curso conta com a participação de três convi-dados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos.

A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informa-ções sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIAFINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ in

for

me

pu

bli

cit

ár

io

Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalis-mo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamen-tos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorpo-rar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significa-dos que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.

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A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação nes-te nicho requer uma série de conhecimentos especí-ficos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, im-pressão e comercialização desse tipo de produto.

Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de com-preender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimen-to de todos os procedimentos necessários para rea-lizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influen-ciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho.

Visando uma apresentação realista do ramo, a estru-tura do curso conta com a participação de três convi-dados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos.

A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informa-ções sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIAFINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ in

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Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalis-mo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamen-tos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorpo-rar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significa-dos que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.

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