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Parashá Emor Lv 21.1 - 24.23 Ez 44.15-31 1Pe 2.4-10 Leitura da Torá para a semana de 27 Abr-3 Maio, 2014 - 27 Nissan-3 Iyar, 5774 Pensamento Judaico (Conforme textos do Midrash e Talmude) Seguindo os passos da ordem dada na porção da semana anterior a toda a população judaica para ser santa, a Parashá Emor começa discutindo várias leis dirigidas especificamente aos Cohanim e ao Cohen Gadol, cujo serviço Divino exige que mantenham um alto padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através do contato com um corpo morto (exceto parentes próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam desposar. A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que esteja tamê, impuro, recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente

Parashá Emor

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Parashá Emor Lv 21.1 - 24.23 Ez 44.15-31 1Pe 2.4-10

Leitura da Torá para a semana de 27 Abr-3 Maio, 2014 - 27 Nissan-3 Iyar, 5774

Pensamento Judaico (Conforme textos do Midrash e Talmude)

Seguindo os passos da ordem dada na porção da

semana anterior a toda a população judaica para ser

santa, a Parashá Emor começa discutindo várias leis

dirigidas especificamente aos Cohanim e ao Cohen

Gadol, cujo serviço Divino exige que mantenham um alto

padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o

Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através

do contato com um corpo morto (exceto parentes

próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam

desposar.

A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de

realizar seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que

se cure. O assunto então volta-se à nação inteira:

qualquer um que esteja tamê, impuro, recebe ordens de

afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente

sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena

porcentagem de comida que deve ser separada da

colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes

que a porção restante possa ser comida) e as várias

imperfeições que tornam uma oferenda inadequada,

somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o

nome de D’us e, ao contrário, santificá-Lo a todo custo.

A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach,

Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Shemini

Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes

mantidas no Mishcan: o acendimento da menorá todos

os dias e a exibição de lechem hapanim a cada semana.

A porção termina com o horrível incidente de um homem

que amaldiçoou o nome de D’us e foi punido com a pena

de morte por ordem Divina.

Cohanim e Levitas

Na Parashá anterior, Moshê disse ao Povo de Israel que

eles eram a nação santificada para D'us. Por isso,

deveriam respeitar muitas leis que os não-judeus não

precisam cumprir. Moshê continuou dizendo: "Uma tribo

entre vós é mais santa que as outras: a tribo de Levi. E

dentro da tribo de Levi, os cohanim são ainda mais

santos que os demais levitas. Apenas os cohanim

podem executar a avodá (serviço) dos corbanot

(sacrifícios). Os levitas farão as demais tarefas do Bet

Hamicdash."

Por que D'us elegeu a tribo de Levi para servi-Lo no Bet

Hamicdash?

A resposta é que esta tribo foi leal a D'us, mesmo em

tempos difíceis e perigosos.

Apesar de a maioria dos membros do Povo de Israel

adorar ídolos no Egito, os levitas nunca o fizeram. A

maioria do povo deixou de fazer berit milá (circuncisão)

em seus filhos recém-nascidos quando o Faraó o proibiu.

Em contrapartida, os levitas continuaram a fazê-lo,

apesar do perigo que isto representava. Também no

deserto os levitas se destacaram como tsadikim. Quando

Aharon perguntou "Quem doará ouro para fazer uma

imagem?", a maioria dos homens doou. Porém nenhum

homem da tribo de Levi doou, nem se inclinou perante o

bezerro. Por isso, D'us disse: "Elegerei esta tribo de

tsadikim para realizar Minha avodá no Mishcan e no Bet

Hamicdash."

Um Cohen Não Deve Tocar Num Corpo Morto

Como os cohanim são o grupo mais sagrado da tribo de

Levi, devem observar leis especiais.

Moshê ordenou aos cohanim: "Não podereis tocar nem

carregar o corpo de um morto. Não podereis sequer

permanecer sob um teto onde haja um corpo, e não

podereis entrar num cemitério nem assistir ao enterro de

outro judeu; não vos será permitido caminhar sobre um

túmulo, nem tocá-lo. Porém, é uma mitsvá enterrar

vossos sete parentes mais próximos, mesmo que isto os

torne impuros."

Os sete parentes mais próximos de um homem são:

Sua esposa

Sua mãe

Seu pai

Seu filho

Sua filha

Seu irmão

Sua irmã solteira (se a irmã do cohen for casada,

este não pode enterrá-la)

Atualmente, essas leis especiais ainda se aplicam aos

cohanim, devendo ser observadas por homens e

meninos, porém não por mulheres e meninas.

Similarmente, os cohanim que oferecem os sacrifícios no

Bet Hamicdash devem ser puros, sem impurezas que se

impregnam em seus corpos.

Um Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é ainda mais

sagrado que um cohen comum. Ele não pode sequer

enterrar seus sete parentes mais próximos. Existe uma

única pessoa cujo enterro é uma mitsvá para ele: um met

mitsvá. No trecho seguinte, mais detalhes sobre isto.

Até um Cohen Gadol Deve Sepultar um Met Mitsvá (o

corpo de um judeu abandonado)

Se um Cohen Gadol ou cohen estiver andando por um

caminho deserto e deparar-se com um judeu morto, deve

proclamar: "Encontrei um judeu que necessita de

sepultura! Por favor, se há alguém me ouvindo, que

venha e o enterre!"

Se alguém escutar seu chamado, o cohen não deve

sepultar o corpo. Contudo, se ninguém o escuta, o cohen

deve enterrar este judeu morto. Um cohen que sepultar

um met mitsvá ou um de seus parentes torna-se impuro.

Na época do Templo, não lhe era permitido voltar ao Bet

Hamicdash ou realizar a avodá até ser purificado com

água misturada às cinzas da vaca vermelha.

Matrimônios Proibidos a um Cohen

A Torá proíbe um cohen de casar-se com uma dessas

mulheres (Estas leis também vigoram atualmente):

Chalalá: A filha de um cohen ou Cohen Gadol

nascida de uma união que lhe é proibida; por

exemplo, uma moça nascida do casamento entre

um cohen e uma divorciada.

Zoná: Uma mulher que teve relações proibidas.

Guiyoret: Uma convertida. O cohen só pode

casar-se com uma moça judia de nascimento.

Guerushá: Uma mulher divorciada.

Um Cohen Gadol tem mais restrições ao escolher uma

esposa que um cohen comum, por causa de sua

santidade superior. Ele não pode desposar uma viúva.

(Uma viúva está acostumada com os hábitos de seu

primeiro marido, sendo-lhe mais difícil adaptar-se à nova

posição de esposa do Cohen Gadol.)

Ele deve desposar uma moça que nunca teve relações

com outro homem.

Se um cohen contrai matrimônio com uma mulher que

lhe é proibida, e esta dá à luz um filho, este filho é

chamado de chalal. Ele não é considerado cohen, nem

pode realizar a avodá.

Devemos Honrar um Cohen

A Torá nos comanda a dar prioridade a um cohen em

todos os assuntos comunitários. Por exemplo: Num

banquete ou refeição, o cohen deve ser servido primeiro.

Ao lavarem as mãos para a refeição em grupos

pequenos, o cohen deve ser o primeiro.

Concedem-lhe a honra de recitar a bênção sobre o pão.

Tem o direito de ser o primeiro a ser escolhido para

liderar o zimun (a introdução à Bênção após as

Refeições, se três ou mais adultos comem uma refeição

juntos).

É o primeiro a ser chamado à Torá, seguido de um levi e

por último um yisrael.

Ao distinguirmos o cohen, devotamos honra ao Todo

Poderoso, que o escolheu como Seu servo.

O Cohen Gadol é “Santo dos Santos”. Consagrado pelo

San'hedrin (a mais alta corte de justiça) de setenta e um

membros, era ungido com o sagrado shêmen hamishchá

(óleo da unção e consagração utilizado no Primeiro

Templo), e portava os oito trajes do Sumo Sacerdote.

São cinco os atributos que um cohen deve possuir para

ser eleito Sumo Sacerdote:

Sabedoria: Este é um pré-requisito. O Cohen Gadol

realizava o serviço Divino como representante da nação

inteira. A qualidade mais importante de todas era sua

grandeza em Torá.

Aparência agradável: Apesar da beleza externa não ser

uma qualidade intrínseca importante, é apropriado ao

Sumo Sacerdote possuir boa aparência, em honra a D’us

e ao Bet Hamicdash. (Da mesma forma, ao escolhermos

um objeto para mitsvá, é de bom tom escolhermos o

mais bonito.)

Força física: É uma vantagem para o serviço do Cohen

Gadol se ele for forte. Para citar apenas um exemplo,

deve realizar o extenuante serviço de Yom Kipur em

jejum.

Riqueza: O Cohen Gadol deve ter posição financeira

melhor que os outros cohanim.

Idade: É preferível que possua a dignidade e experiência

que advém com a maturidade.

Na prática, contudo, o tribunal escolhia o Cohen Gadol

independentemente da idade, contanto que possuísse as

outras qualificações. Se o filho de um Cohen Gadol está

apto a tomar seu lugar, tem precedência sobre os outros

cohanim, mesmo se for jovem.

Fatores que Impedem o Cohen de Realizar o Serviço

Divino

Um cohen com algum defeito físico não pode realizar a

avodá do Bet Hamicdash. Um defeito físico pode ser de

nascimento; por exemplo, cegueira (mesmo de um olho);

ou um defeito temporário, como por exemplo um

ferimento. O cohen retoma sua avodá somente quando

curado. Nossos Sábios enumeram cento e quarenta

imperfeições que desqualificam o cohen de realizar a

avodá.

O Zôhar ensina que os cohanim refletem as Hostes

Celestiais, que são perfeitas. Assim sendo, tanto os

cohanim quanto os sacrifícios precisam estar em estado

de perfeição para o serviço Divino.

Um cohen que não pode oferecer sacrifícios por causa

de uma imperfeição recebe outras tarefas no Bet

Hamicdash, como examinar a madeira para o Altar, a fim

de certificar-se que não tem vermes. Apesar de não

realizar o serviço, lhe é permitido comer dos sacrifícios.

Um cohen também pode ser desqualificado para o

serviço por causa de um defeito em sua linhagem, ou

seja, um de seus ancestrais contraiu matrimônio proibido

a um cohen.

Um cohen fica temporariamente excluído do serviço se

tornar-se impuro, por exemplo, por ter tocado um corpo

sem vida ou a carcaça de um animal.

Qualquer cohen e sua família podem comer a terumá

(sua porção da produção agrícola), se estiverem puros.

Um judeu que não é cohen não pode comer terumá.

Chilul Hashem

Se alguém apontar uma arma para você e ameaçar:

“Cometa um pecado ou eu atiro”, você deve permitir que

atire ou cometer o pecado?

A resposta é que deve-se cometer o pecado, a menos

que seja um destes três casos:

Assassinato

Adorar ídolos

Contrair matrimônio ou manter relações com

alguém proibido

A mitsvá de preservar a vida está acima de todas as

outras mitsvot, exceto essas três. Um judeu que se vê

obrigado a transgredir uma das proibições acima deve

sacrificar sua vida. Se não o fizer e cometer o pecado,

causará chilul Hashem. Desonrou o nome de D’us, pois

concluiu que não valeria a pena sacrificar sua vida por

D’us.

Mais duas transgressões incluem-se na categoria de

“profanar o Nome Divino”:

Se um judeu – mesmo em particular – peca, não porque

foi vencido pela tentação, nem porque se beneficia

pessoalmente, mas apenas pelo simples propósito de

provocar o Criador e desafiar Sua Vontade, profana o

Nome dos Céus. (Ele degrada a honra de D’us a seus

próprios olhos.)

Cada vez que um judeu se comporta de maneira a levar

outros judeus a depreciar D’us ou a Sua Torá, está

fazendo um chilul Hashem.

Quanto mais respeitada e conhecida a pessoa, mais

zelosamente deve evitar quaisquer atos ou palavras que

possam criar falsa impressão, e profanar o Nome de

D’us aos olhos dos outros.

Cada pessoa deve refletir no que pode constituir chilul

D’us para ela, de acordo com sua posição na sociedade.

Alguém que estuda Torá tem uma obrigação maior a

esse respeito. Se demonstra mau caráter ou

comportamento não-refinado, profana a honra da Torá, e

conseqüentemente, d'Ele, que a deu para nós.

Se alguém profanar o Nome de D’us e quiser fazer

teshuvá, como deve proceder?

Deve santificar o Grande Nome da mesma maneira que

O profanara anteriormente. Por exemplo, se falou lashon

hará, causando chilul Hashem com os lábios, deve usar

os lábios para falar palavras de Torá. Se utilizou

erroneamente os pés para ir a um local onde cometeu

algum pecado, deve apressar-se em cumprir mitsvot. Se

empregou as mãos para o mal, deve colocar tefilin, dar

tsedacá, e assim por diante.

Retificamos um chilul Hashem com um kidush Hashem

correspondente.

Kidush Hashem

Se ordenarem a um judeu que cometa assassinato,

adore ídolos ou mantenha relações com alguém

proibido, do contrário será executado, deve deixar que o

matem. Sua morte então trará kidush Hashem,

santificará o nome de D’us. Sua alma será

recompensada no Mundo Vindouro.

Cada vez que rezamos o versículo Shemá Yisrael,

devemos nos lembrar que estamos dispostos a morrer

antes de negar que D’us é o único D'us. Como se sabe,

milhares e milhares de judeus, no transcorrer de nossa

história, foram mortos por kidush Hashem. Destacar

determinados mártires para ilustrar esta mitsvá seria

injustiça para com inúmeros judeus, também em nossa

época, que doaram a vida para santificar Seu Santo

Nome. Homens, mulheres e mesmo crianças de nossa

nação, incomparável em santidade, submeteram-se sem

hesitar a horríveis torturas, morte na fogueira, pela

espada, e toda sorte de métodos bárbaros e

indescritíveis, a negar sua fé em D’us.

Toda pessoa pode santificar o Nome do Todo Poderoso

sempre que se defrontar com a escolha de transgredir ou

não um mandamento da Torá, ou cumprir ou não um

mandamento positivo. Quando se abstém de cometer um

pecado, ou cumprir uma mitsvá positiva, não porque se

sente pressionado pelo ambiente ou a fim de receber

recompensa; porém apenas por uma razão – pelo amor

ao mandamento do Todo Poderoso, sua ação santifica o

Nome de D’us. Sempre que um judeu age com esta

motivação em mente (mesmo em particular), cumpre a

mitsvá de Kidush Hashem.

Outra oportunidade de cumprir essa mitsvá é comportar-

se de tal maneira que os que observam sejam tomados

pela grandeza e dignidade de um judeu que foi educado

nos caminhos de Torá. As atividades diárias de um judeu

tornam-se umn exemplo para todos que estão à sua

volta.

Rambam (Maimônides) descreve um judeu cuja

aparência e conduta representam um verdadeiro Kidush

Hashem como se segue:

“Se um judeu versado em Torá dirige-se aos outros

numa maneira gentil e amistosa, recebe-os com

semblante aberto e receptivo, não os ofende mesmo se

o insultam, honra até os que o tratam levianamente,

dirige os negócios honestamente; é visto ocupando-se

constantemente com Torá enquanto veste talit e coloca

tefilin, e se ainda age em relação aos companheiros

além do exigido por lei, então este judeu santifica o

Nome Divino.”

Yamim Tovim e o Shabat

As datas dos Yamim Tovim que D’us nos deu também

são sagradas. Porém, em Yom Tov pode-se executar

alguns tipos de melachá: preparar e cozinhar alimentos,

e carregar pela rua objetos necessários, tarefas estas

proibidas no Shabat. “Cada Yom Tov é único, portanto

devereis trazer corbanot especiais ao Bet Hamicdash.”

Moshê instituiu que deve-se começar a estudar as leis

de cada Yom Tov trinta dias antes do começo da Festa,

e no próprio Yom Tov.

O início de um novo mês judaico era determinado pelo

Tribunal, dependendo do relato satisfatório de duas

testemunhas idôneas, que observaram a aparência da

lua nova.

Seguindo esse raciocínio, o início da Festa depende de

quando foi Rosh Chôdesh, no vigésimo nono ou

trigésimo dia do mês lunar. Não só isso, como depende

da decisão do Tribunal se o ano terá ou não um mês

extra intercalado nos doze regulamentares. D’us

garantiu-nos que o dia que for proclamado Yom Tov pelo

Tribunal também será sancionado por Ele no Céu.

Pode-se pressupor que a profanação do Yom Tov

poderia ser tomada levianamente, pois sua santidade foi

colocada em vigor pelo homem. Portanto, a Torá o

justapõe ao Shabat, a fim de ensinar-nos que a

profanação de ambos é igualmente proibida.

Quais Festas a Torá ordena que observemos?

Pêssach

Shavuot

Sucot

Rosh Hashaná

Yom Kipur

Também celebramos Chanucá e Purim. Estas duas

Festas não foram ordenadas pela Torá. Foram

instituídas mais tarde pelos Sábios, por causa dos

acontecimentos que ocorreram posteriormente em nossa

história. As três primeiras – Pêssach, Shavuot e Sucot –

recebem o nome de Shalosh Regalim, ou seja “As três

Festas de peregrinação (a Yerushaláyim)”. Em cada uma

destas Festas, os homens devem viajar ao Bet

Hamicdash e oferecer corbanot.

Cultura Judaica

O Formato

O símbolo da Menorá de sete braços em semicírculo é um dos

mais conhecidos no mundo judaico. A maioria das chanukiyot

também foram elaboradas seguindo o modelo deste símbolo.

Porém, pesquisas recentes em fontes e manuscritos antigos nos

levam à conclusão de que o tradicional formato em arco não era

o formato da Menorá do Templo Sagrado. A Menorá original

possuía braços retos, em diagonal, não arqueados, que saíam da

haste central que servia também como suporte.

A Torá traz um indício bem claro. No livro do Êxodo (XXV:32)

estão detalhadas as instruções para a confecção da Menorá:

"Seis hastes saem de seus lados: três hastes do candelabro do

primeiro lado e três hastes do candelabro do segundo lado." No

texto bíblico e também na língua hebraica de então e de hoje,

"canê" (haste) significa um tubo reto, nem torto nem arqueado.

(Interessante notar que a palavra "canê" - significando

originalmente um bastão ou tubo reto - passou para outras

línguas com esta mesma conotação: para o grego, latim, francês

arcaico, inglês e até para o português sem mudança no

significado.)

Outras Fontes

A fonte mais clara e precisa para

determinar o formato da Menorá é

Maimônides. Em seu manuscrito das

explicações da Mishná, Maimônides

desenhou de próprio punho o

formato da Menorá do Templo

Sagrado - com braços retos e

diagonais (imagem ao lado).

Há outra referência em transcrições antigas do livro de

Maimônides que abrange todas as leis: o Mishnê Torá. Durante

séculos, antes do advento da imprensa, os livros eram copiados

manualmente. Nestes manuscritos antigos constam as palavras

"Este era seu formato" e logo abaixo o desenho da Menorá -

sempre com braços retos. Em alguns dos manuscritos, o

desenho foi suprimido, provavelmente por incapacidade do

escriba em copiar o desenho com precisão. Em seu lugar, foi

mantido um espaço em branco abaixo dos dizeres "Este era seu

formato".

Com o surgimento da impressão com caracteres hebraicos, o

desenho foi definitivamente extinto dos livros de Maimônides. É

de se supor que as primeiras gráficas não possuíam meios

técnicos para reproduzir um desenho. Por isso, abriram mão do

desenho e também omitiram do texto as palavras "Este era seu

formato", que apareciam no original. Desde então, o livro Mishnê

Torá, de Maimônides, tem sido impresso sem o desenho e sem

alusão ao fato de que Maimônides havia desenhado esta figura

em seu livro.

Além de Maimônides, também

Rashi, em seu comentário sobre a

Torá, assim descreve o formato da

Menorá: "Seis braços da Menorá

saem de seus lados - para cá e para

lá em diagonal, vão subindo até

atingir a altura da Menorá que é a

haste central e, uma a uma, vão saindo da haste central acima

da outra." Inferimos desta linguagem que os braços não eram

arredondados e arqueados, mas retos, em diagonal.

Uma descrição semelhante aparece no livro "História da Guerra

entre os Judeus e os Romanos", de autoria de Flavius Josephus.

Lá (tradução de Dr. Simchoni, livro 7, cap. 5) está mencionado:

"Deveras, era diferente o formato desta Menorá das demais que

conhecemos, pois da base eleva-se um "tronco" (suporte, haste)

central do qual saem as ramificações mais finas, que se

assemelham a um forcado tridente."

Se é assim, como é possível que a Menorá difundida seja

justamente a de formato arredondado e não a diagonal?

O Arco de Tito

Presume-se que o formato arqueado

da Menorá foi extraído do relevo da

menorá que aparece no Arco de Tito,

em Roma. Os desenhos de lá

perpetuam o saque dos objetos do

Templo Sagrado e sua remoção para

Roma, a mando de Tito, o general

romano que destruiu o Templo Sagrado.

Mas ao que tudo indica, a menorá do Arco de Tito não é a

Menorá sagrada original do Templo, pois no relevo do Arco a

menorá está sem os pés. Porém, a Menorá original possuía pés,

conforme descrito no Talmud (Tratado Menachot 28b).

Portanto, podemos concluir que a

menorá do Arco de Tito não é a

principal, mas uma das outras que

havia no Templo, como por exemplo,

uma das dez menorot que o rei

Salomão fez quando construiu o

Templo ("fez Salomão todos os

utensílios... e as menorot, cinco à direita e cinco à esquerda em

frente ao Santuário" - Reis I - VII: 48-49. "Fez as dez menorot de

ouro de acordo e colocou cinco à direita e cinco à esquerda" -

Crônicas II 4:7.

Uma opinião de nossos Sábios sustenta que, antes de Tito

invadir o Templo Sagrado, os sacerdotes esconderam os objetos

mais importantes num local secreto, de maneira que a Menorá

levada para Roma era uma das outras.

Pensamento Adventista________________

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A Lei e os Concertos

Pág. 363

Adão e Eva, ao serem criados, tinham conhecimento da lei de

Deus; estavam familiarizados com os reclamos da mesma

relativamente a si; seus preceitos estavam escritos em seu

coração. Quando o homem caiu pela transgressão, a lei não foi

mudada, mas estabelecido um plano que remediasse a situação

trazendo novamente o homem à obediência. Foi feita a promessa

de um Salvador e prescritas ofertas sacrificais que apontavam ao

futuro, para a morte do Messias como a grande oferta pelo

pecado. Mas, se a lei de Deus nunca houvesse sido

transgredida, não teria havido morte, tampouco haveria

necessidade de um Salvador; conseqüentemente não teria

havido necessidade de sacrifícios.

Adão ensinou a seus descendentes a lei de Deus, e esta foi

transmitida de pai a filho através de gerações sucessivas. Mas

apesar das graciosas providências para a redenção do homem,

poucos houve que as aceitaram e lhes prestaram obediência.

Pela transgressão o mundo se envileceu tanto que foi

necessário, pelo dilúvio, limpá-lo de suas corrupções. A lei foi

preservada por Noé e sua família, e Noé ensinou a seus

descendentes os Dez Mandamentos. Como os homens de novo

se afastassem de Deus, o Senhor escolheu Abraão, a respeito

de quem declarou: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o

Meu mandamento, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as

Minhas leis." Gên. 26:5. A ele foi dado o rito da circuncisão, que

era um sinal de que os que o recebiam eram dedicados ao

serviço de Deus - garantia de que permaneceriam separados da

idolatria e obedeceriam à lei de Deus. O fracasso dos

descendentes de Abraão para manterem este compromisso,

conforme se revela em sua disposição para formar alianças com

os gentios e adotar-lhes os costumes, foi a causa de sua

peregrinação e cativeiro no Egito. Mas, em seu intercâmbio com

os idólatras e forçada submissão aos egípcios, os preceitos

divinos tornaram-se ainda mais corrompidos com os ensinos vis

Pág. 364

e cruéis do paganismo. Portanto, quando o Senhor os tirou do

Egito, desceu sobre o Sinai, cercado de glória e rodeado de Seus

anjos, e com terrível majestade proferiu Sua lei aos ouvidos de

todo o povo.

Mesmo então não confiou Seus preceitos à memória de um povo

tão propenso a esquecer os Seus mandos, mas escreveu-os em

tábuas de pedra. Queria remover de Israel toda a possibilidade

de misturar tradições gentílicas com Seus santos preceitos, ou

de confundir Seus mandos com ordenações e costumes

humanos. Mas não Se limitou a dar-lhes os preceitos do

Decálogo. O povo mostrara deixar-se transviar tão facilmente,

que Ele não deixaria indefesa nenhuma entrada para a tentação.

Ordenou-se a Moisés escrever, conforme Deus lhe mandasse,

juízos e leis que davam minuciosas instruções quanto ao que era

requerido. Estas instruções relativas ao dever do povo para com

Deus, de uns para com outros e para com o estrangeiro, eram

apenas os princípios dos Dez Mandamentos, ampliados e dados

de maneira específica, para que ninguém estivesse no caso de

errar. Destinavam-se a resguardar a santidade dos dez preceitos

gravados nas tábuas de pedra.

Se o homem houvesse guardado a lei de Deus conforme fora

dada a Adão depois de sua queda, preservada por Noé e

observada por Abraão; não teria havido necessidade de se

ordenar a circuncisão. E, se os descendentes de Abraão

houvessem guardado o concerto, do qual a circuncisão era um

sinal, nunca teriam sido induzidos à idolatria; tampouco lhes teria

sido necessário sofrer vida de cativeiro no Egito; teriam

conservado na mente a lei de Deus, e não teria havido

necessidade de que ela fosse proclamada no Sinai, nem gravada

em tábuas de pedra. E, se o povo houvesse praticado os

princípios dos Dez Mandamentos, não teria havido necessidade

das instruções adicionais dadas a Moisés.

O sistema sacrifical, entregue a Adão, foi também pervertido por

seus descendentes. Superstição, idolatria, crueldade e

licenciosidade, corrompiam o culto simples e significativo que

Deus instituíra. Mediante o prolongado trato com os idólatras, o

povo de Israel misturara com seu culto muitos costumes

gentílicos; portanto o Senhor lhes deu no Sinai instruções

definidas com relação aos sacrifícios. Depois de completar-se o

tabernáculo, Ele Se comunicou com Moisés da nuvem de glória

em cima do propiciatório, e deu-lhe instruções completas a

respeito do sistema das ofertas e das formas de culto a serem

mantidas no

Pág. 365

santuário. A lei cerimonial foi assim dada a Moisés, e por ele

escrita em um livro. Mas a lei dos Dez Mandamentos, proferida

do Sinai, foi escrita pelo próprio Deus em tábuas de pedra, e

sagradamente conservada na arca.

Muitos há que procuram confundir estes dois sistemas, usando

os textos que falam da lei cerimonial para provar que a lei moral

foi abolida; mas isto é perversão das Escrituras. Ampla e clara é

a distinção entre os dois sistemas. O cerimonial era constituído

de símbolos que apontavam para o Messias, para o Seu

sacrifício e sacerdócio. A lei ritual, com seus sacrifícios e

ordenanças, devia ser cumprida pelos hebreus até que o tipo

encontrasse o antítipo, na morte do Messias, o Cordeiro de Deus

que tira o pecado do mundo. Então cessariam todas as ofertas

sacrificais. Foi esta a lei que Cristo "tirou do meio de nós,

cravando-a na cruz". Col. 2:14. Mas, com referência à lei dos Dez

Mandamentos, declara o salmista: "Para sempre, ó Senhor, a

Tua palavra permanece no Céu." Sal. 119:89. E o Messias

mesmo diz: "Não cuideis que vim destruir a lei. ... Em verdade

vos digo" - tornando a asserção tão expressiva quanto possível -

"que até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se

omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." Mat. 5:17 e 18. Ele

ensina aqui, não simplesmente o que os reclamos da lei tinham

sido, e eram então, mas que tais reclamos se manterão enquanto

durarem os céus e a Terra. A lei de Deus é tão imutável quanto o

Seu trono. Ela manterá suas reivindicações em relação à

humanidade, em todos os tempos.

Com referência à lei proclamada no Sinai, diz Neemias: "Sobre o

monte de Sinai desceste, e falaste com eles desde os Céus; e

destes-lhes juízos retos, e leis verdadeiras, estatutos e

mandamentos bons." Nee. 9:13. E Paulo, "apóstolo dos gentios",

declara: "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom."

Rom. 7:12. Essa lei não pode ser outra senão o decálogo; pois é

a que diz: "Não cobiçarás." Êxo. 20:17.

Conquanto a morte do Salvador pusesse termo à lei dos tipos e

sombras, não diminuiu no mínimo a obrigação imposta pela lei

moral. Ao contrário, o próprio fato de que foi necessário Cristo

morrer a fim de expiar a transgressão daquela lei, prova ser ela

imutável.

Aqueles que pretendem ter o Messias vindo a fim de anular a lei

de Deus e abolir o Antigo Testamento, falam da era judaica

Pág. 366

como sendo era de trevas, e representam a religião dos hebreus

como que consistindo em meras formas e cerimônias. Mas isto é

erro. Através de todas as páginas da história sagrada, nas quais

o trato de Deus com Seu povo escolhido se acha registrado, há

indícios frisantes do grande EU SOU. Nunca deu Ele aos filhos

dos homens manifestações mais claras de Seu poder e glória do

que quando foi reconhecido como o único governador de Israel, e

deu a lei a Seu povo. Ali estava um cetro empunhado por mão

não humana; e as majestosas saídas do Rei invisível de Israel

eram indescritivelmente grandiosas e terríveis.

Em todas estas revelações da presença divina, a glória de Deus

se manifestava por meio do Messias. Não somente por ocasião

do advento do Salvador, mas através de todos os séculos após a

queda e promessa de redenção, "Deus estava em Cristo

reconciliando consigo o mundo". II Cor. 5:19. Cristo era o

fundamento e centro do sistema sacrifical, tanto da era patriarcal

como da judaica. Desde o pecado de nossos primeiros pais, não

tem havido comunicação direta entre Deus e o homem. O Pai

entregou o mundo nas mãos do Messias, para que por Sua obra

mediadora remisse o homem, e reivindicasse a autoridade e

santidade da lei de Deus. Toda a comunhão entre o Céu e a raça

decaída tem sido por meio do Messias. Foi o Filho de Deus que

fez a nossos primeiros pais a promessa de redenção. Foi Ele que

Se revelou aos patriarcas. Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó e

Moisés compreenderam o evangelho. Esperavam a salvação por

meio do Substituto e Fiador do homem. Esses santos homens da

antiguidade entretinham comunhão com o Salvador que viria ao

nosso mundo em carne humana; e alguns falaram com Cristo e

os anjos celestiais, face a face.

Cristo não somente foi o guia dos hebreus no deserto - o Anjo

em quem estava o nome do Eterno, e que, velado na coluna de

nuvem, ia diante das hostes - mas foi também Ele que deu a

Israel a lei. Por entre a tremenda glória do Sinai, o Messias

declarou aos ouvidos de todo o povo os dez preceitos da lei de

Seu Pai. Foi Ele que deu a Moisés a lei gravada em tábuas de

pedra.

Ainda mais: O Messias é chamado o Verbo de Deus. João 1:1-3.

É assim chamado porque Deus deu Suas revelações ao homem

em todos os tempos por meio do Messias. Foi o Seu Espírito que

inspirou os profetas. I Ped. 1:10 e 11. Ele lhes foi revelado como

o Anjo do Altíssimo, o Capitão do exército do Senhor, o Arcanjo

Miguel. Foi Cristo que falou a Seu povo por intermédio dos

profetas. Escrevendo aos Talmidim, diz o apóstolo Pedro que os

profetas

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"profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo

ou que ocasião de tempo o Espírito do Messias, que estava

neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que o

Messiashaviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir". I

Ped. 1:10 e 11. É a voz de Cristo que nos fala através do Antigo

Testamento. "O testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia."

Apoc. 19:10.

Em Seus ensinos, enquanto Se achava pessoalmente entre os

homens, Jesus encaminhava a mente do povo para o Antigo

Testamento. Disse Ele aos judeus: "Examinais as Escrituras,

porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim

testificam." João 5:39. Nesse tempo os livros do Antigo

Testamento eram a única parte da Bíblia que existia. Outra vez

declarou o Filho de Deus: "Têm Moisés e os profetas; ouçam-

nos." E acrescentou: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas,

tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite."

Luc. 16:29 e 31.

A lei cerimonial foi dada pelo Messias. Mesmo depois que ela

não mais devia ser observada, Paulo apresentou-a aos judeus

em sua verdadeira posição e valor, mostrando o seu lugar no

plano da redenção e sua relação para com a obra do Messias; e

o grande apóstolo declara gloriosa esta lei, digna de seu divino

Originador. O serviço solene do santuário tipificava as grandiosas

verdades que seriam reveladas durante gerações sucessivas. A

nuvem de incenso que ascendia com as orações de Israel,

representa a Sua justiça que unicamente pode tornar aceitável a

Deus a oração do pecador; a vítima sangrenta sobre o altar do

sacrifício, dava testemunho de um Redentor vindouro; e do santo

dos santos resplandecia o sinal visível da presença divina.

Assim, através de séculos e séculos de trevas e apostasia, a fé

se conservou viva no coração dos homens até chegar o tempo

para o advento do Messias prometido.

Jesus era a luz de Seu povo - a luz do mundo - antes que viesse

à Terra sob a forma humana. O primeiro raio de luz a penetrar a

sombra em que o pecado envolveu o mundo, veio do Messias. E

dEle tem vindo todo raio da luz celestial que tem incidido sobre

os habitantes da Terra. No plano da redenção, o Messias é o Alef

e o Tav - o Primeiro e o Derradeiro.

Desde que o Salvador verteu Seu sangue para a remissão dos

pecados, e subiu ao Céu para "comparecer por nós perante a

face

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de Deus" (Heb. 9:24), tem estado a fluir luz da cruz do Calvário e

dos lugares santos do santuário celestial. Mas a luz mais clara

que nos é concedida não nos deve levar a desprezar a que nos

primeiros tempos foi recebida mediante os tipos que indicavam o

Salvador vindouro. O evangelho de Cristo esparge luz sobre a

economia judaica, e dá significação à lei cerimonial. Sendo

reveladas novas verdades, e sendo a que fora conhecida desde

o princípio trazida para uma luz mais clara, tornam-se manifestos

o caráter e propósitos de Deus em Seu trato com o povo

escolhido. Cada novo raio de luz que recebemos nos dá

compreensão mais clara do plano da redenção, que é a

operação da vontade divina na salvação do homem. Vemos nova

beleza e força na Palavra inspirada, e com interesse mais

profundo e absorvente estudamos suas páginas.

Muitos têm a opinião de que Deus colocou um muro de

separação entre os hebreus e o mundo exterior; de que Seu

cuidado e amor, retirados em grande parte do resto da

humanidade, centralizaram-se em Israel. Mas não era intuito de

Deus que Seu povo levantasse uma parede separatória entre si e

seus semelhantes. O coração do Amor infinito expandia-se a

todos os habitantes da Terra. Posto que O houvessem rejeitado,

estava Ele constantemente procurando revelar-Se-lhes, e fazê-

los participantes de Seu amor e graça. Sua bênção foi concedida

ao povo escolhido, a fim de que pudessem abençoar a outros.

Deus chamou Abraão, fê-lo prosperar e o honrou; e a fidelidade

do patriarca foi uma luz para o povo em todos os países de sua

peregrinação. Abraão não se excluiu do povo em redor de si.

Manteve relações amistosas com os reis das nações

circunvizinhas, por alguns dos quais ele era tratado com grande

respeito; e sua integridade e abnegação, seu valor e

benevolência, estavam a representar o caráter de Deus. Na

Mesopotâmia, em Canaã, no Egito, e mesmo aos habitantes de

Sodoma, o Deus do Céu foi revelado por meio de Seu

representante.

Assim, ao povo do Egito e de todas as nações ligadas com

aquele poderoso reino, Deus Se manifestou por meio de José.

Por que razão quis o Senhor exaltar a José tão grandemente

entre os egípcios? Ele poderia ter provido outro meio para o

cumprimento de Seus propósitos em relação aos filhos de Jacó;

mas desejou fazer de José uma luz, e colocou-o no palácio do

rei, a fim de que a

Pág. 369

iluminação celeste pudesse estender-se longe e perto. Por sua

sabedoria e justiça, pela pureza e benevolência de sua vida

diária, pela sua dedicação aos interesses do povo - e aquele

povo era uma nação de idólatras - José foi um representante de

Cristo. Em seu benfeitor, para quem todo o Egito se voltava com

gratidão e louvor, deveria aquele povo gentio ver o amor do

Criador e Redentor deles. Assim também, na pessoa de Moisés,

Deus pôs uma luz ao lado do trono do maior reino da Terra, a fim

de que todos que o quisessem pudessem aprender acerca do

Deus verdadeiro e vivo. E toda essa luz foi dada aos egípcios

antes que sobre eles se estendesse a mão de Deus em juízos.

No livramento de Israel, do Egito, espalhou-se amplamente o

conhecimento do poder de Deus. Tremeu o povo belicoso da

fortaleza de Jericó. "Ouvindo isto", disse Raabe, "desmaiou o

nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa

da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em

cima nos Céus, e embaixo na Terra." Jos. 2:11. Séculos após o

êxodo, os sacerdotes dos filisteus lembravam ao seu povo as

pragas do Egito, e os advertiam a não resistirem ao Deus de

Israel.

Deus chamou Israel, e o abençoou e exaltou, não para que pela

obediência à Sua lei recebessem eles, unicamente, o Seu favor,

e se tornassem os exclusivos recipientes de Suas bênçãos, mas

a fim de revelar-Se por meio deles a todos os habitantes da

Terra. Foi para a realização deste mesmo propósito que Ele os

mandou conservar-se distintos das nações idólatras em redor

deles.

A idolatria e todos os pecados que seguem em seu cortejo, são

aborrecíveis a Deus, e Ele ordenou a Seu povo que se não

misturasse com outras nações, para fazerem "conforme às suas

obras" (Êxo. 23:24), e se esquecerem de Deus. Proibiu-lhes

casamento com idólatras, para que não acontecesse ser seu

coração desviado dEle. Era perfeitamente tão necessário

naquele tempo, como o é hoje, que o povo de Deus fosse puro,

incontaminado do mundo. Deviam conservar-se livres de seu

espírito, porque é ele oposto à verdade e à justiça. Mas não era

intuito de Deus que Seu povo, em seu exclusivismo de justiça

própria, se subtraísse do mundo, de modo que nenhuma

influência tivesse sobre ele.

Como seu Mestre, os seguidores de Cristo deveriam em todo o

tempo ser a luz do mundo. Disse o Salvador: "Não se pode

esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende

a

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candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá

luz a todos os que estão na casa" - isto é, o mundo. E

acrescenta: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens,

para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai,

que está nos Céus." Mat. 5:14-16. Isto foi precisamente o que

Enoque, Noé, Abraão, José e Moisés fizeram. É precisamente o

que era intuito de Deus que Seu povo Israel fizesse.

Foi o seu coração mau, incrédulo, dirigido por Satanás, que os

levou a ocultar sua luz, em vez de espargi-la sobre os povos

vizinhos; foi esse mesmo espírito de fanatismo que fez com que

ou seguissem as práticas iníquas dos gentios, ou se

encerrassem em um orgulhoso exclusivismo, como se o amor e

cuidado de Deus estivessem somente sobre eles.

Assim como a Bíblia apresenta duas leis, uma imutável e eterna,

e outra provisória e temporária, assim há dois concertos. O

concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden,

quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a

semente da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os

homens este concerto oferecia perdão, e a graça auxiliadora de

Deus para a futura obediência mediante a fé em Cristo.

Prometia-lhes também vida eterna sob condição de fidelidade

para com a lei de Deus. Assim receberam os patriarcas a

esperança da salvação.

Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: "Em

tua semente serão benditas todas as nações da Terra." Gên.

22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim Abraão a

compreendeu (Gál. 3:8 e 16), e confiou em Cristo para o perdão

dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O

concerto com Abraão mantinha também a autoridade da lei de

Deus. O Senhor apareceu a Abraão e disse: "Eu sou o Deus

todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito." Gên.

17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi:

"Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os

Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis." Gên. 26:5.

E o Senhor lhe declarou: "Estabelecerei o Meu concerto entre

Mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por

concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente

depois de ti." Gên. 17:7.

Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e

renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de

Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a

Pág. 371

primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao

ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de

Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma

disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com

a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de

Deus.

Outro pacto, chamado nas Escrituras o "velho" concerto, foi

formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo

sangue de um sacrifício. O concerto abraâmico foi ratificado pelo

sangue de Cristo, e é chamado o "segundo", ou o "novo"

concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois

do sangue do primeiro concerto. Que o novo concerto era válido

nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então

confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus,

"duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta".

Heb. 6:18.

Mas, se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção,

por que se formou outro concerto no Sinai? - Em seu cativeiro, o

povo em grande parte perdera o conhecimento de Deus e os

princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus

procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que

fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar

Vermelho - onde, perseguidos pelos egípcios, parecia impossível

escaparem - a fim de que se compenetrassem de seu completo

desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes

operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão

para com Deus, e de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele

os ligara a Si na qualidade de seu Libertador do cativeiro

temporal.

Havia, porém, uma verdade ainda maior a ser-lhes gravada na

mente. Vivendo em meio de idolatria e corrupção, não tinham

uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da excessiva

pecaminosidade de seu próprio coração, de sua completa

incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de

Deus, e de sua necessidade de um Salvador. Tudo isto deveria

ser-lhes ensinado.

Deus os levou ao Sinai; manifestou Sua glória; deu-lhes Sua lei,

com promessa de grandes bênçãos sob condição de obediência:

"Se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o Meu

concerto, então... Me sereis um reino sacerdotal e o povo santo."

Êxo. 19:5 e 6. O povo não compreendia a pecaminosidade

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de seus corações, e que sem Cristo lhes era impossível guardar

a lei de Deus; e prontamente entraram em concerto com Deus.

Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria

justiça, declararam: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e

obedeceremos." Êxo. 24:7. Haviam testemunhado a proclamação

da lei, com terrível majestade, e tremeram aterrorizados diante

do monte; e no entanto apenas algumas semanas se passaram

antes que violassem seu concerto com Deus e se curvassem

para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o

favor de Deus mediante um concerto que tinham violado; e

agora, vendo sua índole pecaminosa e necessidade de perdão,

foram levados a sentir que necessitavam do Salvador revelado

no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais.

Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do

cativeiro do pecado. Estavam então, preparados para apreciar as

bênçãos do novo concerto.

As condições do "velho concerto" eram: Obedece e vive -

"cumprindo-os [estatutos e juízos] o homem, viverá por eles"

(Ezeq. 20:11; Lev. 18:5); mas "maldito aquele que não confirmar

as palavras desta lei". Deut. 27:26. O "novo concerto" foi

estabelecido com melhores promessas: promessas do perdão

dos pecados, e da graça de Deus para renovar o coração, e levá-

lo à harmonia com os princípios da lei de Deus. "Este é o

concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz

o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu

coração. ... Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais

Me lembrarei dos seus pecados." Jer. 31:33 e 34.

A mesma lei que fora gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo

Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez de cuidarmos em

estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo.

Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita

em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo

produzirá os "frutos do Espírito". Mediante a graça de Cristo

viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso

coração. Tendo o Espírito do Messias, andaremos como Ele

andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo:

"Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei

está dentro do Meu coração." Sal. 40:8. E, quando esteve entre

os homens, disse: "O Pai não Me tem deixado só, porque Eu

faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29.

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O apóstolo Paulo apresenta claramente a relação entre a fé e a

lei, no novo concerto. Diz ele: "Sendo pois justificados pela fé,

temos paz com Deus, por nosso Messias." Rom. 5:1. "Anulamos,

pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a

lei." Rom. 3:31. "Porquanto o que era impossível à lei, visto como

estava enferma pela carne" - ou seja, ela não podia justificar o

homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia

guardar - "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne

do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que

a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo

a carne, mas segundo o Espírito." Rom. 8:3 e 4.

A obra de Deus é a mesma em todos os tempos, embora haja

graus diversos de desenvolvimento e diferentes manifestações

de Seu poder, para satisfazerem as necessidades dos homens

nas várias épocas. Começando com a primeira promessa

evangélica, e vindo através da era patriarcal e judaica, e mesmo

até ao presente, tem havido um desenvolvimento gradual dos

propósitos de Deus no plano da redenção. O Salvador tipificado

nos ritos e cerimônias da lei judaica, é precisamente o mesmo

que se revela no evangelho. As nuvens que envolviam Sua

divina pessoa foram removidas; o nevoeiro e as sombras

desapareceram; e Jesus, o Redentor do mundo, Se acha

revelado. Aquele que do Sinai proclamou a lei e entregou a

Moisés os preceitos da lei ritual, é o mesmo que proferiu o

sermão do monte. Os grandes princípios de amor a Deus, que

estabeleceu como fundamento da lei e dos profetas, são apenas

uma repetição do que Ele dissera por meio de Moisés ao povo

hebreu: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.

Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de

toda a tua alma, e de todo o teu poder." Deut. 6:4 e 5. "Amarás o

teu próximo como a ti mesmo." Lev. 19:18. O ensinador é o

mesmo em ambas as dispensações. As reivindicações de Deus

são as mesmas. Os mesmos são os princípios de Seu governo.

Pois tudo procede dAquele "em quem não há mudança nem

sombra de variação". Tia. 1:17.