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Parq45

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Barbeiros de Lisboa Design falado em Português Youtubers Björk

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EDITORIAL

7 anos

Sete anos foi sempre o meu número da sorte. Não porque ligue minimamente a predestinações, talvez e apenas, porque nasci num dia 7, dia em que escrevo. A Parq faz 7 anos e esperava mais como nunca esperei ir tão longe. O que nos conduz é ainda assim a ilusão e, como tal, a ordem da razão há muito tempo que ficou de fora. Procuramos ser melhores com os reduzidos meios que temos, tentamos surpreender os leitores, tentamos viver o que nos rodeia e trazer o que há de mais positivo. Às vezes, são apenas amores do momento. Outros estão cravados mais fundos

Por isso, nesta edição comemorativa, procuramos acompanhar o que se está a passar em termos de novas barbearias, que cada vez abrem mais em Lisboa e que levam a ondas de choque —e há já quem as refira como um fenómeno de machismo primário. Depois, procuramos saudar a exposição sobre o design português no MUDE, que, pela extensão, não pode deixar de surpreender, num país que se diz não ter uma cultura de design. Criadores há muitos, assim o prova essa exposição, e aproveitamos para juntar alguns que vão marcar a próxima década.

Os novos álbuns de Bjork e D'Angelo estão aí, são os nossos destaques musicais e certamente combinam bem com uma boa leitura da PARQ.

por Francisco Vaz Fernandes

DIRECTOR

Francisco Vaz Fernandes [email protected]

EDITOR

Francisco Vaz [email protected]

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Rui Lino Ramalho

COORDENAÇÃO DE MODA

Tiago Ferreira

DIRECÇÃO DE ARTE

Valdemar Lamego [email protected]

PERIOCIDADE: BImestralDEPÓSITO LEGAL: 272758/08REGISTO ERC: 125392

EDIÇÃOConforto Moderno Uni, Lda.NIF: 508 399 289

PARQRua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq.1000-251 LisboaT. 00351.218 473 379

IMPRESSÃOEURODOIS 12.000 exemplares

DISTRIBUIÇÃOConforto Moderno Uni, Lda.A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2014 PARQ.

ASSINATURA ANUAL12 euros

TEXTOS

Beatriz TeixeiraCarla CarboneCarlos Alberto OliveiraClaúdia AleixoFrancisco Vaz FernandesHugo Filipe LopesJoana TeixeiraMarcelo LisboaMaria São MiguelMarta Inês SantosPaula MelâneoPedro LimaRoger WinstanleyRui Lino RamalhoRui Miguel AbreuSara MadeiraVânia Marinho

FOTOS

Ana Luísa SilvaAntónio BernardoCelso ColaçoHerberto SmithInês SilvaNian CanardPedro MineiroSal Nunkachov

STYLING

Ana BeneditaTiago Ferreira

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N.45. ANO VII. MAR. 2015PA RQ M A G A Z I N E

VLADA V + RODRIGO vestem PEPE JEANS LONDON

RODRIGO veste PEPE JEANS LONDON

Fotografia: ANA LUÍSA SILVAStyling: TIAGO FERREIRA

Modelo: VLADA V + RODRIGO @ werarmodels

Make-up: TOM PERDIGÃO

YOU MUST

Amor CruzadoJonathan Lane-SmithNir SarigPepe Jeans Fit to be BritInherent ViceGato MarianoJoshua HaraSoul of PiConverse ConsPedro NetoNew BalanceCamile Walala for CATSlimcutzRinglyChameleon ShiftBeautyShopping

SOUNDSTATION

BjörkD'Angelo

CENTRAL PARQ

Lisboa pelo fio da NavalhaDesign falado em portuguêsYoutubers

FASHION

Private Club

PARQ HERE

Hotel ValverdeSlou Lisbon GeorgeO Antigo CarteiroPura CalEspiga

DesignDesignArteModa

CinemaIlustraçãoIlustraçãoSurfModaModaModaModaMúsicaModaModaBeautyBuy

MúsicaMúsica

BarbeirosDesign

Youtubers

Moda

HotelLojaBebes ComesLojaComes

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PA RQ M A G A Z I N E N.45. ANO VII. MAR. 2015

Authentic é a proposta da FRED PERRY para esta Primavera/Verão 2015, numa celebração do espírito de originalidade. Authentic Woman é uma atualização dos estilos tomboy da década de 60, com uma paleta de cores fresca e alguns detalhes subversivos nos clássicos padrões e gráficos da marca. Authentic Men, por outro lado, foi inspirada nas subculturas Mod que adotaram a marca FRED PERRY, bem como no seu próprio arquivo de sportswear clássico.

Do lado feminino, o xadrez Príncipe de Gales foi ampliado para criar uma impressão digital de grande impacto em camisas, casacos e vestidos. Os padrões Houndstooth clássicos são clean e gráficos, sendo complementados por cores fortes como azul carbono, bran-ca de neve e verde, destacando-se em T-shirts, vestidos e malhas. O estilo tomboy é aperfeiçoado pelas calças de cintura alta cigaret-te em preto. A T-shirt com xadrez príncipe de Gales, impresso digi-talmente, foi adicionada à coleção, com uma mistura de algodão e jersey modal para estilos mais casuais. De salientar ainda o regres-so do pólo piqué, que cria um estilo easy-to-wear.

A coleção para homem é um regresso às raízes da marca, com inspi-ração no pólo de algodão, que recebe agora traços das silhuetas slim e do estilo acutilante da diáspora jamaicana. Os estilos sportswear do arquivo primordial da marca são também rebuscados. Em jeito de homenagem a FREDERICK PERRY, antigo tenista e fundador da marca, o estilo da camisa Oxford foi subvertido pelas golas planas em malha, pelas fitas desportivas, também em malha, e pelo teci-do piqué. Os padrões corte-e-costura e detalhes retro acrescentam sofisticação a este estilo simples. O pólo de malha veranil, com co-res de arquivo, é a pedra-de-toque desta coleção.

Fred Perry Authentic Store Lisboa, Rua do Ouro, 234 Lisboa Gaia, Arrábida Shopping, loja 107

Fred Perry Store El Corte Inglés Lisboa, 2º Piso El Corte Inglés, V. N. Gaia, 2º Piso

Os Lenços dos Namorados, bordados em linho, há séculos, por raparigas apaixonadas, representam o amor da forma mais popular portuguesa. E o projeto Amor Cruzado é uma ode a este amor, cruzando tradição com arte contemporânea. A ideia surgiu da Casa dos Carvalhais – Casa de Campo de Vila Verde, no Minho, que convidou seis bor-dadeiras minhotas e seis ilustradores, para um intercâmbio entre artes urbana e rural. Deste encontro artístico, surgem seis novos lenços dos namorados, que representam o mesmo amor popular, bordado com uma identidade diferente. Depois de apaixonar os cantos do Intendente, na loja "A Vida Portuguesa", a exposição Amor Cruzado estará na GALERIA DAMA AFLITA, no Porto, a partir de 21 de março. Com cada lenço, vem uma serigrafia realizada por cada artista. O amor nunca foi tão português.

AmorC r u z a d o

Lenço bordado por CRISTINA LOPES com desenho de CÉLIA ESTEVES.

6 t-Joana Teixeira

DesignYou Must

STANDFORSOMETHINGDRMARTENS.COM

“I STAND FOR PRIDE.” SAM

© 2015 AirW

air International Limited. All Rights Reserved

SS15_DIF_Sam_Ad.indd 1 10/02/2015 10:36

Poderia evocar uma pista de gelo, com pequenos personagens coloridos, a pontuarem, aqui e ali, a superfície da mesa Vessel, desenhada por JONATHAN LANE-SMITH. Mas trata-se apenas de uma mesa de apoio, pequena caixa, em alumínio coberto de bran-co, de aspeto leitoso.

O designer faz mesas de diferentes tipologias, reconhecíveis no princípio de VILÈM FLUSSER, na "ideia de mesa". As diferentes linguagens das mesas, diz-nos LANE-SMITH, «provêm da necessidade de cada cliente». Algumas foram encomendadas, exceção feita ao caso da mesa Vessel, que resulta mais de um projeto pessoal. «A linguagem, muitas vezes, é intuitiva, dependendo do cliente», assegura.

No capítulo "Form and Material", FLUSSER é profícuo no que explica sobre matéria e for-ma: o carpinteiro, por exemplo, aplica uma forma de mesa (ideia de mesa) e impõe-na sobre o pedaço de madeira amorfa. A palavra matéria opõe-se assim à palavra forma.

JONATHAN LANE-SMITH evidencia, também, na sua Vessel, uma forma sobre o frag-mento de alumínio. Numa perspetiva grega antiga, é como se enchesse, recheasse a forma com a matéria. Foram pensadas várias soluções para "decorar" a superfície da mesa. Inicialmente, LANE-SMITH teria coberto o tampo com conchas, mas depois abandonou a ideia por a ter achado um tanto espalhafatosa: «Encontrei depois as fi-guras em miniatura numa loja de modelos em Londres, perto de minha casa, e decidi usar. Achei que poderiam resultar, por causa da ideia de brincar com a escala».

Jonathan L a n e-S m i t h

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DesignYou Must

Mesa Vessel de JONATHAN LANE-SMITH

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You Must Design

t-Carla Carbone

Londres é o coração europeu da multiculturalidade e da expressão artística. E foi nas ruas da capital inglesa que um fotógrafo de moda israelista encontrou inspiração para um projeto arrojado: uma ode ao "diferente".

NIR SARIG capturou imagens a preto e branco de artistas de rua, explorando a sua controversa corrida artística contra o relógio da rotina londrina. Desde cuspidores de fogo a drag queens,o fotógrafo retrata o dia-a-dia diferente de um coletivo de perfor-mers urbanos que se destacam pelo seu carisma e motivação únicos. Estes retratos de Nir exploram a vivência nas ruas da zona Este de Londres, através de uma perspetiva carregada de maquilhagem dramática, látex, coleiras de picos e tatuagens. Um circo urbano de extravagâncias num álbum monocromático.

N i rS a r i g

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FotografiaYou Must

t-Joana Teixeira

FIT TO BE BRIT

Inspirada no sentido de humor que é apanágio do comum britânico, a nova coleção cápsula da PEPE JEANS LONDON, Fit To Be Brit, procura difundir uma mensagem

jovem e urbana, através de slogans em t-shirts onde podemos ler:

Curiosity killed the catScratch my back and I will scratch yours

Mad as a hatterA smile and a wink gets you further than you think

Born ready.

Tendo como inspiração as ruas de Londres e o graffiti a PEPE JEANS LONDON criou para esta coleção cápsula, um conjunto de peças oversized produzindo um estilo desportivo e urbano. Em destaque estão os bomber jackets em nylon para eles, e o blusão e as hot pants em ganga com patches de

bules de chá e rosas, para elas. Tudo fácil de usar e inspirado no lado cool da cultura inglesa.

A coleção está disponível nas lojas e nas vendas online da marca a partir do mês de Março.

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Pepe JeansYou Must

Foto - ANA LUÍSA SILVAStyling - TIAGO FERREIRA

Make-Up&Hair ~- TOM PERDIGAOModels - VLADA V E RODRIGO (wearemodels)

Agradecimentos ao Valverde Hotel, Lisboa www.valverdehotel.com

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Pepe JeansYou Must

F I T TO

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Pepe JeansYou Must

B E B R I T

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Pepe JeansYou Must

F I T TO

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Pepe JeansYou Must

B E

B R I T17

Pepe JeansYou Must

PAUL THOMAS ANDERSON está de volta às longas-metragens. Desta vez, apresenta uma adaptação do romance de THOMAS PYNCHON, Inherent Vice. No que diz respeito a pares perfeitos, o cineasta e o autor podem ter rebentado a escala. ANDERSON pegou no policial noir de PYNCHON e transformou-o numa desconstrução surreal da cultura e contra-cultura dos anos 60. O resultado é uma excêntrica odisseia, com todo o groove psicadélico da época, e um humor sofisticado e atrevido q.b.. Larry 'Doc' Sportello, um hippie tornado detetive privado, recebe uma visita inesperada da ex-namorada. O que parecia um simples caso de rapto e roubo revela-se um enigma com gangs, viciados, polícias hostis, um saxofonista inflitrado, uma entidade misteriosa que pode ou não ser um esquema montado por dentistas, e muita paranóia. ANDERSON suporta com mestria a difícil tarefa de adaptar o universo complexo, absurdo, poético e sombrio de PYNCHON, criando um filme surreal, belo e paranóico. A harmonia entre as visões do cineasta e do autor, juntamente com a interpretação por JOAQUIN PHOENIX de Larry Doc —uma personagem descontraída, bizarra e estranhamente profunda, daquelas que não precisam de prémios para ficar na memória— garantem que Inherent Vice se torne no favorito de muitos cinéfilos.

I n h e r e n tVice

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CinemaYou Must

t-Cláudia Aleixo

Mo

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WWW.MODALISBOA.PT

PÁTIO DA GALÉ,PRAÇA DO MUNICÍPIO

MARÇO15 2015

1413,

INVERNO/WINTER 2016

CURIOUSER

UMA INICIATIVA CONJUNTA

TV INTERNACIONALHOTEL OFICIAL TV OFICIAL

PATROCÍNIOS

PARCEIROS DE MEDIAPARCEIROS E COLABORAÇÕES

Art_MdLx_Parq_210x297.pdf 1 12/02/15 17:23

Garfield, para além de exímio procrastinador, regala-se com a bela da lasagna. Tom é escru-puloso nos planos que engendra para capturar Jerry, embora esteja destinado ao fracasso. Por fim —e é esse que agora nos interessa—, há o Gato Mariano que, para além de possuir um rabo abrasileirado, faz críticas a álbuns musicais e repugna «hipsters sebosos da net». O autor desta entrevista teve de se precaver com um anti-histamínico. TIAGO DA BERNARDA é o dono da imaginação e do lápis que dão vida ao Gato Mariano, um «alter ego» que criou para fazer as suas críticas musicais ilustradas. É surpreendente que não tenha qualquer formação em desenho —a não ser que tenhamos em conta os cadernos que rabiscava durante as aulas monótonas de Ciências da Comunicação, curso no qual se licenciou. «Não sendo, de todo, um curso prático, deu-me uma noção mais ampla do que é a comunicação, abriu-me portas para explorar coisas fora do covencional», explica o jovem de 24 anos. A verdade é que, apesar de confessar que o desenho é algo que «não se despega» de si desde infância, a sua praia continua a ser o jornalismo. O problema inerente a esta ambição é o facto daquela praia ter falta de areal e excesso de toalhas (eufemismo para ‘desemprego’). Depois de concluir a licenciatura, foi atirado aos lobos na redação do jornal Público, onde conviveu com os «grandes egos» da secção de Cultura, até dezembro de 2013. Os currículos extraviados e a sede de ocupar a cabeça levaram TIAGO a redesenhar prio-ridades. O Gato Mariano miou pela primeira vez em janeiro de 2014. Durante a passagem pelo Público, TIAGO DA BERNARDA ficara com a ideia de que entrevistar um artista im-plicava muito mais do que expôr o seu trabalho: «era preciso mostrares que sabias». Mas o Gato Mariano não é nada disso. É fedorento, sem ser grosseiro, é felino sem ser pre-tensioso. «Com o Gato Mariano, posso fazer as minhas críticas a música, mas da minha maneira», afirma. Em vez do formato comum (e geralmente enfadonho) de uma review, TIAGO comenta os novos álbuns através dos balões de fala típicos dos comic books. O Mariano, esse, não é muito dado a whiskas saquetas, prefere antes comida mais caseira: música portuguesa. Mas nem toda: «Até pode ser um álbum de alguém conhecido, mas se eu for ouvir aquilo e não me disser nada, não vou perder tempo a desenhar. Se mexer

O GatoM a r i a n o

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You Must

f-Ines Silva

I lustracao

comigo, vou provavelmente desenhá-lo», diz TIAGO DA BERNARDA. Em média, pre-cisa de dois a três dias para ilustrar uma crítica a um álbum. O Gato Mariano é, na verdade, um mero mensageiro da cena musical portuguesa, disposto a acarretar os riscos de comentar álbuns que não são feitos para gerar con-senso no seio dos tais «hispters sebosos da net». Admite mesmo que não faz ques-tão que as suas críticas sejam totalmente compreensíveis e gosta de deixar espaço para a subjetividade das interpretações alheias. Por exemplo, numa crítica ende-reçada a A Bunch of Meninos, dos DEAD COMBO, TIAGO disse que o disco cheira-va ao "peido de outra pessoa". Ainda as-sim, Gato Mariano n’est pas un Charlie, por não gostar de ridicularizar. Acha que «a crítica, hoje em dia, tem valor zero». Quanto à música portuguesa, tem sete vi-das como os gatos: «Está melhor do que nunca. Enquanto houver vontade de uns para fazer e curiosidade de outros para ouvir, a música portuguesa nunca há-de morrer». Nós dissemos "Amém!".

Há poucas coisas melhores do que o pri-meiro café da manhã. Uma delas pode ser o reaproveitar do copo como tela —o passatempo favorito do cartoonista ame-ricano JOSHUA HARA. Como desenhar em papel é demasiado mainstream, o artista criou o desafio pessoal #100CoffeeCups, com o objetivo de ilustrar 100 copos de café, como se de páginas de um livro de banda desenhada se tratassem, e parti-lhar as imagens através do seu Instagram. Primeiro bebe-se, depois desenha-se. JOSHUA apaixonou-se pela ideia ao des-cobrir que seria mais interessante ver algo simples, utilizado e desperdiçado no dia--a-dia de toda a gente, ser transformando numa obra de arte. Com frases provoca-tivas ou lemas de vida como "Don’t hate, caffeinate", este cartoonista, natural de Ohio, caricaturiza, a caneta, desde em-pregadas de mesa do Starbucks a celebri-dades, animais ou personagens da saga Harry Potter. JOSHUA convida os seus 70 mil seguidores virtuais a pensarem duas vezes antes de deitarem o copo de cartão fora, depois de tomar aquele tradicional café para começar o dia. Um café e um ilustrador, quentes por favor.

Joshua

Hara

You Must

t-Rui Lino Ramalho t- Joana Teixeira

I lustracao

Marias há muitas, mas PI só há uma, já que é assim que MARIA VALADARES é conhe-cida pelos seus amigos e família. E PI tem uma alma grande, onde, além daqueles de quem gosta, cabem capas para pranchas de surf e bodyboard de todos os formatos, havendo ainda espaço para sacos para tapetes de yoga. Mas as capas para pranchas também são como as Marias: há muitas. O que não há são capas artesanais persona-lizadas para cada cliente, e isso é o que a SOUL OF PI oferece.

As capas SOUL OF PI são como que uma liquefação entre o passado e o futuro, já que não só utilizam lonas das tradicionais barracas de praia portuguesas, como são tam-bém plastificadas como as capas das melhores marcas. E como é característico dos negócios artesanais, as capas de PI são personalizadas ao gosto de cada cliente, por isso, é perfeitamente normal ver uma capa com ursos de peluche ao lado de uma com caveiras, ou uma com riscas e, logo ao lado, outra com folhas de marijuana ou cartas de poker. Para PI, o mais importante de tudo é que o seu trabalho reflita a sua atitude perante a vida: bem-disposta e descontraída.

Mas não se enganem, porque, apesar do seu ar relaxado, PI é uma mulher destemida e, não só começou a fazer surf numa idade em que a maioria das pessoas deixa de o fazer, aos 37 anos, como também fundou a SOUL OF PI quase em simultâneo. E como o facto de ser surfista está intimamente ligado à sua marca, se um dia estiverem a passar de prancha, não estranhem se ela vos abordar com uma ideia de capa.

No meio de tudo isto, a alma de PI ainda tem tempo e espaço de sobra para a sua atividade de instrutora de Yoga, em Caxias e em Lisboa, assim como para ser mãe de-dicada dos seus quatro filhos.

Soul of Pi

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SurfYou Must

t-Hugo Filipe Lopesf-Pedro Mineiro

A CONVERSE CONS é apresentada como uma fusão da tradição da CONVERSE e o uni-verso do skate. A coleção é constituída por uma linha de roupa que esta primavera dispõe de uma variedade de peças outerwear sazonais. Tees e tanks gráficos muito cool, juntamente com calças Chino e hoodies em dupla camada oferecem uma varie-dade ideal e diversa de estilos de roupa para um street lifetsyle ativo. Ainda assim os

sneakers continuam a ser reis tendo esta estação em destaque os CONVERSE CONS KA3 que resultam de uma parceria com KENNY ANDERSON (KA), o embaixador de skate da marca. A pensar na prática do skate as CONS KA têm uma palmilha Lunarlon para um amortecimento mais leve e uma maior aderência na tração bem como uma gusseted tongue para conforto e durabilidade. KENNY ANDERSON diz-se rendido à silhueta do modelo que ajudou a criar.

C o n v e r s eC o n s

CONS KA3/ KENNY ANDERSON CONVERSE CONS

CORTAVENTO CONVERSE CONS

ModaYou Must

t-Maria Sao Miguel

O palco do Espaço Bloom, do PORTUGAL FASHION, aposta em novas caras e talen-tos, afirmando-se como uma plataforma de lançamento para as jovens promessas da moda portuguesa. O talento floresce e na última edição foi PEDRO NETO a ser reconhe-cido pelo júri do concurso. O jovem, que ambiciona criar uma marca com o seu nome, teve a oportunidade de brilhar, mostrar o seu talento, a sua criatividade e originalidade em criações próprias. O aluno da escola MODATEX confecionou uma coleção elegante e clássica, onde denota já uma enorme maturidade criativa. Inspirados no efeito de suplantação, os figurinos apresentam-nos uma mulher confiante e elegante, que alia a sua juventude a modelos mais clássicos. Uma coleção em que o clássico e contem-porâneo coabitam perfeitamente e onde os tons monocromáticos imperam em silhue-tas retas no formato oversized. Para além da apresentação da sua coleção no Espaço Bloom do PORTUGAL FASHION, e dos apoios técnicos e financeiros, o jovem, de apenas 18 anos conquistou, juntamente com os restantes três designers premiados, uma nova presença numa das passerelles mais importantes do país, em março deste ano.

P e d r o N e t o

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ModaYou Must

t-Marta Santosf-Sal Nunkachov

t-Maria Sao Miguel

N e wB a l a n c e

NEW BALANCE está de regresso, tendo como pontos fortes a sua longa herança no sportswear americano assim como a qualidade da sua produção. Neste sentido é uma marca que recria algum dos seus modelos com os mesmos meios de produção antigos que a tornaram notável. Ou seja, tudo continua a ser produzido com as velhas máqui-nas, tanto nos EUA como em Inglaterra, o que restringe o número de exemplares pro-duzidos, daí que lancem muitas edições que podemos considerar limitadas. Para esta estação destacamos a recriação do modelo 446 alinhado as tendências que marcaram os anos 80 e o modelo 996 e 997, que recriam o espírito dos anos 90. Ambos são exemplo do expoente técnico de trabalhar as peles num calçado desportivo.

NEW BALANCE 446

NEW BALANCE 996 NEW BALANCE 997

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ModaYou Must

C a m i l e W a l a l af o r C AT

A CAT orgulha-se de apresentar uma colaboração com CAMILE WALALA, designer grá-fica que vive em Londres e que tem como principal assinatura a impressão em tecidos com cores primárias e fortes num estilo tribal pop. O seu lema "quanto mais, melhor" faz-se sentir na abordagem que faz dos modelos CAT, seja no modelo unissexo, Ridge Walala, ou nas exuberantes plataformas, Restless. Para KRISTY BRADFORD, designer da marca norte-americana, "esta colaboração permite-nos apresentar a reputação da CAT, associada ao trabalho árduo, a uma geração urbana mais jovem, que procura usar algo out of the box que seja uma afirmação de estilo". Nesta coleção a CAT abraça as plataformas, inspirando-se na cultura underground dos anos 90 com atualizações sub-tis para uma geração que se identifica com o look retro.

CAT RESTLESS WALALA CAT RIDGE WALALA

CAT AMBITION CAT BREEZE BLOCKS

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ModaYou Must

t-Maria Sao Miguel

SLIMCUTZ faz cada vez mais barulho. Em palco, ao lado dos MIND DA GAP ou em estúdio a trabalhar com a MONSTER JINX, este DJ/produtor tem marcado a re-cente agenda hip-hop e prepara-se agora para vestir a pele de ROGER PLEXICO, juntamente com TASEH.

Projeta-nos 2015: o que tens pela frente nos tempos mais próximos?«Este ano, para além dos DJ Sets e dos concertos com os MIND DA GAP, estou a preparar o álbum de ROGER PLEXICO & ACE e uma Mixtape com participações de grandes Mc's do panorama nacional».

Podes falar de ROGER PLEXICO? Quem é ele afinal?«Eu e o TASEH trabalhamos juntos desde sempre e, de alguma maneira, sempre tivemos envolvidos no traba-lho um do outro. Passados quase dez anos, finalmente, avançámos com um projeto dos dois e ROGER PLEXICO surge como uma personificação das nossas influências».

Como te defines enquanto DJ?«Sou um DJ que gosta de dar ao público uma viagem musical, passando por vários estilos, deixo-me sempre levar pelo público e as energias dele é que me puxam para determinadas músicas. Também tenho sempre o fator surpresa presente nos sets, não deixando que as coisas sejam muito previsíveis».

Hoje, para um DJ vincar a diferença tem também que ser produtor?«A produção é uma necessidade, por isso, não acho que um DJ deva forçar isso se nunca teve essa vontade. Hoje em dia, claro que é muito mais difícil um DJ ser conhecido sem ter uma música associada a ele, mas quando isto chega ao ponto dos DJ's famosos serem maus acho que fica tudo sem sentido. Acho que está um bocado esquecido aquilo que realmente é ser DJ».

Como DJ, quando tocas para multidões, sentes-te pressionado para tocar música de que gostas menos ou és inflexível?«Eu tenho que gostar de todas as músicas que passo. Acho que não faz grande sentido um DJ passar uma música que não gosta só para fazer a vontade do públi-co. Nas músicas que gostamos sabemos que há certas músicas que, de alguma maneira, vão agradar o publi-co. Nesse equilíbrio entre o DJ e o público é que esta a verdadeira arte de passar música».

Tens acompanhado ao vivo os MIND DA GAP, trio his-tórico da cena hip hop nacional. Como é trabalhar com estes veteranos? Que aprendeste com eles?«Há sempre alguma coisa a aprender com alguém que tem quase mais 20 anos de estrada que nós. Foi com eles que pisei pelas primeiras vezes os grandes palcos e foi com eles que realmente aprendi o que era a "estra-da". Antes de começar a tocar com eles, praticamente, só tocava nos bares/discotecas do Porto e eles deram--me a conhecer um lado completamente diferente. Depois, claro, é sempre uma honra pisar o palco com alguém de quem sempre foste fã, a tocar músicas que acompanharam a tua vida».

S l i m c u t z

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You Must Música

t-Rui Miguel Abreu

A tecnologia utilizável —ou na sua designação mais di-fundida "wearable tech"— é um daqueles boom perpé-tuos, que nos oferece constantemente novas formas de transformar em moda a renovação tecnológica. Os GOOGLE GLASS lançaram, em 2012, esta disposição que desde então tem vindo a crescer exponencialmente em novos produtos. E RINGLY é um dos mais recentes per-feitos exemplos da inovação que eleva a um outro nível a tendência "geek chic".

De equipamentos de fitness e monitorização de estados de saúde a óculos e relógios, malas e saias, a proliferação de "wearable tech" invade vários sectores da vida colecti-va. E dados indicam que em 2018, esta tecnologia andará já à volta dos cinco biliões de investimento. A indústria da moda não escapou e desde que os GOOGLE GLASS desfilaram na Semana da Moda de Nova Iorque, há dois anos, que das passerelles a tendência saiu para as ruas. RINGLY, uma empresa startup fundada por CHRISTINA MERCANDO e LOGAN MUNRO, apresentou há uns meses o seu anel tecnológico: conectado via Bluetooth à app com o mesmo nome e que vibra e acende sempre que a utilizadora recebe qualquer tipo de notificação no seu te-lefone. O RINGLY funciona até cerca de 10 metros de dis-tância, a sua caixa serve como carregador e é resistente à água.

E para as mulheres que adoram jóias (ou seja, todas) está ainda em causa um anel perfeitamente harmonioso na sua simplicidade e discrição, com quatro cores de pedra diferentes, banhado a ouro. À venda no site da empresa, o seu valor ronda os 170 euros: valor bastante acessível para o serviço que oferece —a liberdade feminina de dan-çar sem mala ou telemóvel. E essa liberdade vale muito.

R i n g l y

t-Zara Nogueira t-Rui Lino Ramalho

Para a nova temporada de Primavera/Verão, a MERREL traz-nos os novos Chameleon Shift. Com um design de linhas elegantes, os mais recentes modelos desta gama facilitam a transição entre natureza e ambientes urba-nos. A tecnologia utilizada nestes modelos confere à li-nha Chameleon Shift todas as condições indispensáveis para uma melhor experiência outdoor. Como já vem sen-do habitual, os exemplares Chameleon Shift continuam a ser especialmente desenhados para proporcionar leveza e mobilidade em terrenos montanhosos, possibilitando uma caminhada responsiva e segura.

A nova linha é composta por três modelos: os Chameleon Shift Gore-Tex (disponível em versões normal e ténis-bo-ta), totalmente respiráveis e waterproof; e os Chameleon Shif Ventilator, que apresentam gáspeas em nobuck e rede, o que os torna mais leves e incrementa a circulação do ar – tudo graças à tecnologia Stratafuse. Por fim, a sola intermédia Mbound TRK garante um bom feedback de contacto do pé com o terreno, ao mesmo tempo que a sola Vibram confere uma melhor tração. Por estas razões, os novos Chameleon Shift são indicados para qualquer si-tuação do dia-a-dia.

CHAMELEON SHIFT VENTILATOR

Chameleon S h i f t

CHAMELEON SHIFT GORE-TEX

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ModaYou Must

R E V E L A -T E C O M C A LV I N K L E I N R E V E A L M E N

Sensual, vibrante e cativante, é assim que é descri-to o perfume REVEAL MEN da CALVIN KLEIN. Num frasco de design cool e elegante, são combinados gengibre cristalizado, sal puro e vetiver aditivo. À fragância junta-se ainda um shampoo, um gel de banho e um desodorizante. A partir de 23,40€.

B A R B A S E B I G O D E S À A N T I G AA N T I G A B A R B E A R I A D O B A I R R O

É a vontade de manter vivo o ritual de barbear tradicional que dá alento à ANTIGA BARBEARIA DO BAIRRO. Com duas lojas, uma no Príncipe Real em Lisboa e outra na Ribeira do Porto, esta casa proporciona uma autêntica viagem no tempo, na qual o pincel, o sabão e a água de colónia em frasco de vidro são personagens principais. Procure-os no Facebook!

I T S M E L L S L I K E … C A N DY! CANDY é LÉA SEYDOUX. LÉA SEYDOUX é CANDY. A actriz francesa volta a dar rosto à campanha de CANDY FLORALE da PRADA, porque mais ninguém a encarna tão bem quanto ela. Ainda mais fresca e feminina, a fragrância é uma mistura de várias notas florais e conta com limoncello, almíscar e caramelo. A partir de 51,75€.

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BelezaYou Must

t-Beatriz Teixeira

FRED PERRY x SPACE INVADERS

CONVERSE

BARBOUR

MERRELL MERRELL CONVERSE FRED PERRY

PEPE JEANS

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FRED PERRY

PEPE JEANS

FRANKLIN&MARSHALL

RAY-BAN

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BuyYou Must

PEPE JEANS

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KEDS CONVERSE CAT ARISTOCRAZY

CHEAP MONDAY

PEPE JEANS

ARISTOCRAZY

FRANKLIN&MARSHALL

FRANKLIN&MARSHALL

CELINE

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BuyYou Must

Vulnicura marca o regresso da iconográfica artista islandesa ao tão esperado registo eletrónico de canções sumptuosas e magistrais. BJÖRK, apesar de se distanciar do habitual método experimental, mantém a dissecação cirúrgica das suas emoções, ex-pondo cada célula do seu corpo, como se trouxesse todo o seu universo interior cá para fora. Apesar de não ter sido intencional dedicar este disco à sua separação do artista MATTHEW BARNEY, a cantora assume os sentimentos que foram desencadeados pelo fim da sua relação, preferindo que o álbum seja entendido como uma ode à vida des-troçada, e não uma panóplia de músicas sobre a separação propriamente dita.

Estruturalmente, Vulnicura é composto por nove canções organizadas em três estádios diferentes do impacto devastador que esta fase da vida provocou em si. As primeiras três canções são destinadas ao momento da pré-separação, seguindo-se a tríade da consciencialização do inevitável fim e, a fechar o ciclo, a consumação da separação. Há aqui um claro afastamento musical dos seus anteriores discos, Biophilia e Volta, e uma aproximação muito maior a Vespertine e Homogenic, que não é traduzível apenas pela sua composição musical, mas também por serem considerados os mais pessoais. Stonemilker, Not Get e Lion Song denunciam esta intimidade.

Provavelmente o seu processo de cura passa pela busca de alguns elementos próxi-mos que foram já explorados no passado. Porém, o seu crescimento enquanto ar-tista experimental e desafiadora de barreiras físicas musicais, revela-se em pleno no tema History of Torches.Neste novo álbum há claros momentos de descomplicação, talvez numa tentativa de alcançar a lucidez no meio de um turbilhão de sentimentos

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BjörkSoundstation

complexos e por vezes contraditórios. A razão e o coração nunca estiveram tão próxi-mos, assim como também é verdade que nunca estiveram tão distantes. Em Lion Song, retrata-se magistralmente isso mesmo. A consciencialização de que o amor terminou está presente, mas num ímpeto de desespero, esperança-se que ainda haja salvação.

É desarmante ver uma artista expor a sua vulnerabilidade de uma forma tão emocional e apaixonante. Black Lake, com soberbos arranjos orquestrais assentes em violinos e ba-tidas eletrónicas hipnotizantes como cenário, dá o mote para que BJÖRK transcenda a sua dimensão enquanto mulher consciente da sua mortalidade amorosa e que, derrota-da, se debate com o coração destroçado, sem perceber ainda muito bem que passo que deverá dar a seguir. Como se se encontrasse submersa numa dormência sem oxigénio. Stonemilker, o tema de abertura, esclarece o ouvinte de que a sua intimidade en-quanto artista será colocada nas suas mãos, atirando-o cronologicamente para o momento em que previu que o fim da sua relação tenha tido ali o seu início.

Provavelmente Family é o momento mais sensível do disco, pois reforça a importância fulcral que este porto seguro têm na sua vida. Tanto mais que agora, a partir do fim do amor, o conceito de família assuma para BJÖRK uma nova dimensão.

Not Get é o ajuste de contas, a contabilização de que apesar de tudo sem aquele amor teria sido a sua morte. É como se reconhecesse que as cicatrizes são a expressão física de uma dor quase letal mas que, ao mesmo tempo, foi visceral para a sua sobrevivência. Mais uma vez ANTONY HEGARTY é seu convidado especial e em Atom Song incorpo-ra uma das duas personagens com o peito aberto e alma despida para uma dança emocional. Como dois corpos desnudados de um amor que não existe, numa linha temporal representativa do presente, mas que têm uma dimensão própria, vivida no passado. E como tal, igualmente importante e, de certa forma fundamental, para suster a existência de uma realidade futura.

BJÖRK convidou desta vez dois visionários da música eletrónica atual, o venezuelano ARCA, e HAXAN CLOAK, o inglês responsável pela remasterização do disco, cuja par-ticipação se reflete particularmente nos temas Notget, Mouth Mantra e Black Lake.

Ouvir Vulnicura é como ler cada palavra que a artista encontrou para nomear cada partícula dos seus sentimentos. Assiste-se ao despir da sua armadura de mulher "me-tropolis" e à exposição do seu corpo de mulher emocional e vulnerável, incrivelmen-te cheia de humanidade. É como se fosse preciso tornar-se num vulcão, explodindo numa catarse, para poder finalmente devolver a si própria a existência. Fechando os olhos sabe-se que não é preciso ir às ruas de Reiquiavique para encontrá-la. Embora não seja improvável que, mesmo o mais acidental dos turistas, a encontre a folhear revistas numa livraria no centro da cidade.

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BjörkSoundstation

t-Carlos Alberto Oliveira @ www.punch.pt

Foram precisos 14 anos para D’ANGELO encontrar um sucessor para Voodoo, mas a espera valeu a pena.

A ideia de salvação —ou pelo menos de redenção— foi sempre recorrente na música negra: SAM COOKE a cantar que acreditava na chegada da mudança, ISAAC HAYES a vestir a pele de um Moisés negro capaz de guiar o seu povo através das águas abertas de uma sociedade revolta ou KANYE WEST a vender pendentes com a cara de Jesus e a baptizar o seu álbum com o neologismo Yeezus. O impulso é sempre o mesmo. Em cada momento, há músicos negros que acreditam que a resposta pode estar nas can-ções. Ou na forma como soltam um determinado lamento, mesmo em canções dis-farçadas de simples dor de corno. Que D’ANGELO escolha para título do disco que lhe interrompe o silêncio de quase década e meia diz menos do que sente quando se olha de manhã ao espelho do que o que certamente sente quando olha à noite as notícias na televisão. Messias negros, garante ele, são todos os afro-americanos à luz de even-tos como FERGUSON. E compreende-se assim de onde vem o doce caos em que Black Messiah parece estar mergulhado, como se os densos arranjos, o grão analógico, e a mistura procurassem traduzir o tumulto da sociedade americana contemporânea.

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D'AngeloSoundstation

t-Rui Miguel Abreu

D’ANGELO parecia ser uma daquelas tragédias a que a música nos habituou: ao bri-lhantismo absoluto de Voodoo sucedeu-se primeiro silêncio, depois incerteza, e sinais que apareciam apontar para um desfecho dramático —um acidente aparatoso em 2005, prisão em 2010, fotos que evidenciavam um certo declínio físico, principalmen-te tendo em conta que este era o mesmo homem que tinha feito o icónico vídeo de Untitled (How Does It Feel). Os poucos concertos que D’ANGELO foi assinando, não chegavam para desfazer o nó na garganta colectiva: o recurso abundante a versões parecia evidenciar o esgotamento criativo do homem que de um só golpe reinventou a soul em 2000. Mas a vida —mesmo a mais acidentada— tem sempre uma maneira de nos surpreender e antes que 2014 soltasse o seu último suspiro, D’ANGELO, sem que nada o fizesse prever, soltou o seu Black Messiah sobre o mundo.

É um disco extraordinário de um cantor e autor extraordinário. Como MARVIN GAYE, D’ANGELO junta carne e espírito na mesma canção, por vezes até no mesmo suspiro. Como PRINCE, consegue que os seus falsetos soem demoníacos e angelicais. Como SLY STONE, cruza géneros para se encontrar a si mesmo. Mas as referencias não belis-cam nem um milímetro do seu próprio génio. Com músicos de excepção como JAMES GADSON, QUESTLOVE ou PINO PALLADINO, com uma produção de luxo, com arranjos que nunca sacrificam um grão de criatividade à ditadura imposta pela normalização das playlists, D’ANGELO assegura o presente e reclama o futuro. E toma o mundo de assalto com novos concertos em que surge em plena forma vocal e criativa. O messias negro voltou, de facto. Bem vindo seja.

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D'AngeloSoundstation

f-Gregory Harris

Se alguma vez reparou num sinal espiralado com listas azuis, vermelhas e brancas e o ignorou, não volte a fazê-lo. Esse sinal chama-se Barber’s Pole e informa-o que está perante uma barbearia. Nos últimos anos, o Barber’s Pole tem-se multiplicado pelas ruas e travessas da Baixa Pombalina. Os estrangeiros são os principais fãs. O cabe-leireiro unissexo começa a tornar-se insuficiente para um homem que, mais do que a penungem, precisa de tratar da alma. A barba requer —é claro— um certo ritual: é a toalha quente para abrir os poros da pele, a pedra de alúmen para os fechar, o after-shave para hidratar e a massagem para puro deleite. Já a alma não pede mais do que um mero confidente. O salão é um confessionário e a navalha a(m)para os problemas da vida. Usar barba é muito mais do que uma tendência lumberjack: é uma questão de personalidade. Batemos à porta de quatro barbearias e perguntámos o que é que a barba da PARQ precisava. Acertar os contornos, tirar o espigado e ser penteada.

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t-Rui Lino Ramalho

B a r b e a r i a O l i v e i r a A Alfama e o Proveito

Rua dos Remédios, nº27. O Museu do Fado é ali à mão de semear. Bem semeadas são as barbas daqueles que aqui entram. O letreiro à entrada não engana: "Desde 1879". É provavelmente das barbearias mais antigas do país. A morte do antigo proprietário —o Sr. João— ditou o fecho das portas, mas os gémeos OLIVEIRA tinham outros pla-nos. BRUNO e ÂNGELO foram buscar à tia (que trabalhou para a Lúcia Piloto) um pe-daço desta paixão. BRUNO OLIVEIRA era motorista da Câmara Municipal de Lisboa, mas foi de navalha na mão que descobriu a sua verdadeira engrenagem. O espaço é acolhedor, o chão é de calçada portuguesa e o rádio é à antiga. Aqui só se trabalha com produtos da ANTIGA BARBEARIA DE BAIRRO, até porque a BARBEARIA OLIVEIRA tem também uma missão bairrista. BRUNO OLIVEIRA já não vive sem as «histórias fantásticas» que os velhotes de Alfama lhe contam quando vai aos seus aposentos. Eles nem querem saber se o cabelo está bem cortado ou a barba bem feita. Querem apenas conversar como se não houvesse amanhã.

Corte – 10€ | Barba e bigode – 6€

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f-Herberto Smith

O P u r i s t a , B a r b i é r e Águapelabarba?Nao,cerveja!

Rua Nova da Trindade, nº16. Venha. Os primeiros metros quadrados para lá da porta são axadrezados. É o tabuleiro onde se move UNIQUE, o barbeiro de 25 anos que se diz um psicólogo: «Trai-se primeiro a mulher do que o barbeiro, porque o barbeiro sabe tudo». (De ínicio, estranhámos a careca de UNIQUE. Depois, explicou-nos que lidar com tantos cabelos fez com que se fartasse do seu). Alguns passos adiante e chegou ao bar, onde pode provar uma cerveja mais antiga que a nossa própria nação. Daqui até à mesa de snooker são mais três degraus. Agora, observe as prateleiras à sua volta, escolha um livro e sente-se numa poltrona a lê-lo, enquanto é embalado pelo lounge que emana das colunas de som. Às quintas-feiras, MARTA PLANTIER traz-lhe jazz. A pop up store O PURISTA – BARBIÉRE abriu em abril do ano passado, com o único propósito de divulgar a Affligem, uma cerveja belga criada pelos cavaleiros das cruza-das, em 1074. Era para durar coisa de um mês, mas a adesão foi tão inesperada que NUNO MENDES, proprietário do espaço, propôs à Socidade Central de Cervejas dar continuidade ao projeto. Ser purista é apreciar a forma artesanal de fazer as coisas e tentar tirar o máximo prazer do que se faz.

Corte - 17€ | Barba e bigode - 6€

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t-Rui Lino Ramalho

M a i s o n N u n o G a m a Uma barbearia topo de gama

Rua do Século, nº171. Lá fora, se vir uma mulher de navalha em punho, fuja. Aqui den-tro, não tem que se preocupar: a navalha de ANDREIA MENDES só lhe vai fazer bem. ANDREIA e FÁBIO AMARAL são os dois barbeiros de serviço na MAISON NUNO GAMA e dizem-se «partners in crime». Os dois querem começar a colorir barbas. Enquanto a ideia não avança, ficam-se por disfarçar a brancura das barbas mais veteranas, domesticar a barba à homem das cavernas do hipster, rapar semanalmente as late-rais das cabeças pseudomilitares, customizar barbas e cabelos com umas camadas de cera e até mesmo fazer manicure e pedicure. Cabeleireira há dez anos e barbei-ra há dois, ANDREIA MENDES diz que «o cabelo do homem é a moldura e o rosto é o quadro». Os homens nem sempre lhe passam cartão: têm vergonha. Mas ela faz por deixá-los descontraídos. Para além da barbearia, a MAISON NUNO GAMA dispõe de um atelier de alfaiataria e de um showroom, onde pode encontrar as linhas de pronto-a-vestir, acessórios e calçado do estilista português. E por que não um passeio pelo Jardim do Príncipe Real?

Cabelo - 25€ | Barba e bigode - 15€

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f-Herberto Smith

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F i g a r o ’ s B a r b e r s h o p Porque o homem merece

Rua do Alecrim, nº39. A fila de espera é grande. Talvez por não se aceitarem marca-ções: basta entrar. A menos que seja mulher. Nesse caso, resta-lhe espreitar pelos quadradinhos da porta. A espreitar parecem estar também as cabeças de veado sus-pensas na parede. Nas cadeiras de barbeiro, senta-se desde o bombeiro ao deputado da assembleia de república, passando pelo advogado, pelo polícia e pelo médico. Ao redor destes, costuma estar um indivíduo de longa bata branca que, com grande probabilidade, terá os braços tatuados. FIGARO’S BARBERSHOP é inspirada na ópera O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, mas o ambiente musical é marcado pelo country genuíno. Não é de estranhar, já que a escola praticada é a americana. Quem a impor-tou foi FÁBIO MARQUES, que se estreou com a tesoura aos 15 anos, embora se tenha formado em Direito. Quanto às mulheres não terem direito a entrar, FÁBIO explica que «trata-se de um conceito e não de um preconceito».

Corte – 25€ | Barba e bigode – 25€

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f-Herberto Smith

"Como se pronuncia design em português?" é o repto lançado por uma grande exposição de design patente no Museu de Design, MUDE, até ao final de Maio, em Lisboa. A esse propósito, juntámos ANA MESTRE, FERNANDO BRÍZIO, MARCO SOUSA SANTOS, MIGUEL VEIRA BAPTISTA e o COLETIVO PEDRITA, formado por RITA JOÃO e PEDRO FERREIRA, nomes que consideramos serem os mais dinâmicos na atualidade do design português.

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t-Carla Carbone

da esquerda para a d ireita: PEDRO e RITA JOÃO, do ESTÚDIO PEDRITA, com um dos expositores da série "MOBILETOS"; FERNANDO BRÍZIO, sentado no seu BANCO PATA NEGRA; MIGUEL VIEIRA BAPTISTA, atrás da da sua mesa de apoio, da série "OBJETO DO OBJETO"; ANA MESTRE , ao lado da consola em cortiça BLACK POWER; e MARCO SOUSA SANTOS, sentado na sua cadeira , SHELL CHAIR.

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f-António Bernardo

“C o m o s e p r o n u n c i a d e s i g n e m p o r t u g u e s ?"

De diversas formas e meios. A exposição apresenta mais de 150 peças de 76 designers, de diferentes gerações e linguagens. Com a diversidade de exemplos expostos, a ex-posição percorre 60 anos de design, obrigando, inevitavelmente, a uma reflexão sobre a identidade e história do design português. Uma difícil reflexão —diga-se de passa-gem— por, durante muito tempo, se ter estabelecido um incremento tardio das indús-trias e, consequentemente, da sua investigação nos meios universitários do país. Não pretendendo ser uma retrospetiva, a seleção feita incidiu mais no período compreen-dido entre 1980 e 2014.

Num esforço de compreensão dos conceitos de lugar, pertença, identidade e memó-ria, estendem-se, ao longo do espaço da exposição —com a curadoria de BARBARA COUTINHO e design expositivo de MARIANO PIÇARRA—, variadas peças de design. Entre estas, encontram-se algumas do período correspondente à construção da disci-plina em Portugal, como o mobiliário escolar de SENA DA SILVA, a cadeira empilhável (desenvolvida entre 1962 e 1973), ou a cadeira de ANTÓNIO GARCIA, Osaka 70 Chair (de 1970), que se revelou uma agradável surpresa pelo modo como é apresentada: os vários elementos constituintes da cadeira são assim dispostos em separado, por montar, sobre um estrado quadrangular, onde se evidenciam as mais ínfimas partes, desde um parafuso a um fragmento de couro.

No período de 60 a 70, o público já se apresentava mais instruído para procurar um mobiliário inovado, produzido em série, em que os seus componentes eram construí-dos segundo os princípios modular e multifuncional.

Mais além, no percurso, e num exercício de coexistência pacífica, duas mesas de apoio encontram-se lado a lado: a mesa de MIGUEL VIEIRA BAPTISTA, num vermelho sugestivo, alude, também, pelas suas formas, a uma consolidada reflexão sobre o mi-nimalismo no design; a mesa de EDUARDO SOUTO MOURA, de 2013, construída numa técnica em que os vários elementos, inteiramente em madeira, se desenvolvem em formas subtis, milimétricas e delicadas.

Depois, o trajeto das peças é feito com a mescla dos períodos, não sendo prioritária a cronologia, mas a pluralidade das linguagens, evidenciando-se a riqueza do design pronunciado em português. O banco Cut Furniture, de 2010, teve origem numa placa de contraplacado que a designer MARIANA COSTA E SILVA terá encontrado acidental-mente, em 1998. A cor vermelha e os vários pontos de junção do banco evidenciam o princípio simples de montagem sem um único parafuso, cola ou ferramenta.

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t-Carla Carbone

A cor, em GONÇALO CAMPOS, jorra da sua mesa de café: Times 4 coffee table, 2014. Uma mesa com capacidade para arrumos. Este objeto multifuncional, cuja estrutura interna é giratória, vai revelando, como que numa roda dos alimentos, as várias cores, conferindo ao objeto um dinamismo e frescura, em contraste com o exterior da peça, redonda, de uma madeira neutra e quase muda. 4 coffee table foi feita para deixar que cada um dos seus utilizadores lhe imprimam a sua personalidade, dado que se presta bem ao reservatório de manigâncias.

Outros objetos polvilham o espaço, como a cadeira de aspeto maciço Corqui, de PEDRO SILVA DIAS; a fulgente cadeira tubular, Line Chair, de TONI GRILO; os exemplos de MO–OW DESIGN; o candeeiro de pé, de HENRIQUE RALHETA; a lendária cadeira articulável, de JOSÉ VIANA; as estruturas sinuosas das cadeiras de MARCO SOUSA SANTOS; o pertinente banco Pata Negra, de FERNANDO BRÍZIO; a cadeira Serena, de JOÃO GONÇALVES; a mesa de apoio, do ESTÚDIO PEDRITA; as peças de FILIPE ALARCÃO, MIGUEL ARRUDA, PAULO PARRA, RITA FILIPE, ANTÓNIO TAVEIRA; entre muitos outros que, por não haver espaço, e sem exceção, mereciam estar aqui em destaque.

F e r n a n d o B r í z i o Pata Negra (2004) Madeira lacada, produções de autor.

Pata Negra surgiu de um convite de uma loja para redesenhar um banco tradicional de madeira, no contexto da exposição "Banco". Já noutras alturas, FERNANDO BRÍZIO tinha ficado fascinado pela ideia de fazer objetos em madeira, representando animais ou partes destes. Esta exposição foi a materialização dessa ideia. As pernas do banco acabam em forma de patas de porco, esculpidas pelo designer.

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f-António Bernardo

M a r c o sS o u s a S a n t o s Shell Chair (2011)

Uma cadeira, em contraplacado, composta por tiras de madeira cortadas digital-mente, agrupadas em forma de casulo e suportadas por três pernas orgânicas, arre-dondadas nas pontas. As costas da cadeira formam um casulo espaçoso, com espaço para bojudas almofadas. Como se de um ninho se tratasse, é possível, a cada utiliza-dor, personalizar a cadeira e criar um lugar de conforto. Depois de cortadas, as peças, são montadas pelo artesão Sr. Castro.

P e d r i t a Mobiletos (2011)

A série Mobiletos foi uma edição limita-da, criada para o evento Show Me Gallery. Mobileto tanto pode ser acessório, como peça de mobiliário, e é composto por dife-rentes modelos de caixas, com diferentes tipologias, permitindo jogos com os obje-tos e várias explorações com o espaço.

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A n a M e s t r e Black Flower

O aparador Black Flower, de Ana Mestre, faz parte de uma coleção de peças em cortiça, realizadas por diferentes de-signers para a editora Corque Design. Representada pelos designers Fernando Brízio, Toni Grilo, Sofia Dias e Pedro Silva dias, a editora é dirigida pela própria de-signer do aparador, Ana Mestre. A editora foi fundada em 2009 e a matéria usada, por excelência, é a cortiça, podendo ser transformada industrialmente, em com-postos aglomerados ou expandidos.

M i g u e l V i e i r a B a p t i s t a Objeto do Objeto (2011)

"Objeto do Objeto" é uma mesa de apoio que faz parte de um conjunto de quatro mesas exatamente iguais. Em cada mesa, muda apenas a posição da caixa parale-lipipédica, que se encontra afixada ao tampo. A caixa pode assumir diferentes posições: pode surgir sobre o tampo, ao centro, ao canto, por baixo, ou atraves-sando-o. As quatro versões, como uma caixa a percorrer uma mesa, permitem várias combinações entre objetos e re-metem para a ideia de animação, onde cada mesa se parece com um frame cinematográfico.

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SakENão é nada do que estão a pensar. SakE não tem qual-quer ligação com a bebida alcoólica japonesa embora MIGUEL PESSANHA garanta estar dopado com subs-tâncias —cujo nome não pode ser pronunciado— quan-do grava alguns dos seus vídeos. O nome artístico do Youtuber de 25 anos remonta aos seus tempos de gamer compulsivo: nos jogos online, era um tal de "Fhorsaken", mas para simplificar ficou apenas sake. Já foi há mais de oito anos que começou a construir o seu canal de Youtube. Hoje em dia, olha para os seus primeiros vídeos com desdém e não percebe como foi capaz de os fazer. SakE gosta simplesmente de «mandar umas bojardas». Quem o acompanha, já está habituado à brutidade com que trata cada assunto. Mais do que substâncias, pre-cisa de acumular alguma cólera para poder fazer um novo vídeo. As suas piadas são uma espécie de puxão de orelhas: «Eu tenho pais que vêm ter comigo a agra-decerem por fazer estes vídeos, porque não querem que os putos deles sejam assim», conta. A "pitalhada" é um dos principais alvos das bojardas de SakE. Na altura, muita gente leva a peito, mas, diz SakE, «mais tarde, como as pessoas vão crescendo, percebem o ridículo que

é o que estavam fazer». Para MIGUEL PESSANHA, um Youtuber é «um gajo que tem muito poder e não sabe que o tem». Embora reconheça esse poder, não escon-de que até mesmo para um Youtuber é perigoso tocar em três temas: política, futebol e religião. Acha que a liberdade de expressão não tem limites, mas deixa o avi-so: «Depois, tens de acarretar com as consequências». Como tem medo de ser o próximo GUSTAVO SANTOS, prefere conter-se. SakE não é muito amigo de escrever guiões. Depois de ligar a câmara, diz o que lhe dá na real gana. Também não é muito amigo de giletes e pen-tes: a barba grande e o cabelo esgrouviado são já uma imagem de marca. Enquanto fala, tem muitas vezes a necessidade de gesticular de forma enérgica ou de dar um jeito nos óculos. Já se aventurou pelo stand-up, mas a coisa não lhe correu lá muito bem. Diz que das poucas coisas que o deixam desconfortável é um público que não o conhece e não o percebe. Dá-lhe um sabor espe-cial fazer os outros rir, mas nem sempre é bem interpre-tado: «Infelizmente, engato gajas sem querer, porque elas adoram rir e gostam de um gajo inteligente que as faça rir. Mas eu sou um palhaço, é diferente» (pediu-me que o citasse, para fazer ciúmes à namorada). MIGUEL PESSANHA estudou Design de Multimédia, mas foi gra-ças ao Youtube que encontrou emprego.

Tudo a postos? Luzes, câmara, ação. Depois do fechar da claquete, não há pimenta que intimide a língua. Eles não estão para passar paninhos quentes. Aliás, a ideia é exatamente atirar mais achas para a fogueira. Sim, divertem-nos, mas não só. Têm também uma certa queda para "alfabetizar" quem mais precisa. Pelo menos, ficam com a sensação de dever cumprido quando, por exemplo, conseguem que alguém deixe de escrever "parece" com cê-cedilha. Sim, são Youtubers, mas não só. São pe-dagogos. São opinion makers. Em frente à câmara, cada um tem o seu próprio estilo humorístico, embora seja tarefa quase impossível disfarçar a herança proveniente do rabi RICARDO ARAÚJO PEREIRA. Dificilmente, algum dia o Youtube lhes porá a comi-da na mesa. Alimentam-se —única e exclusivamente— de subscritores e visualizações. O Youtube é apenas um trampolim. Por enquanto, o certo é que o riso continua a ser o melhor remédio. Senhoras e senhores: SakE e Diogo Sena.

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t-Rui Lino Ramalho

Diogo SenaÉ atualmente um dos Youtubers mais visualizados em Portugal e a culpa é, em parte, da sua própria perna. Em pleno Verão de 2012, DIOGO SENA não podia aproveitar o sol por causa de uma lesão no joelho. Para acabar com o tédio, decidiu filmar-se e dizer "Olá, Youtube!". Apesar de estudar na Universidade Católica de Lisboa, basta ver-mos o seu primeiro vídeo para percebermos que DIOGO SENA não é muito religioso. Bem, mas o joelho lesionado não explica tudo. "Sporting That I Used To Know", diz-vos alguma coisa? A probabilidade da resposta ser "sim" é alta. Este vídeo já foi visto cerca de três milhões de ve-zes. À custa dele, DIOGO SENA recebeu mensagens de ódio e foi presenteado com um soco na cara (o SakE bem que tinha alertado para os perigos das questões fute-bolísticas, Diogo). Depois de transfigurar o original de Gotye para propósitos humorísticos, continuou a apos-tar nas paródias musicais. A mais recente foi sobre o flagelo da Legionella, inspirada no tema "É Melhor Não Duvidar" de C4. Depois do sucesso de "Sporting That I Used To Know", o Youtuber de 20 anos recebeu um con-vite da TVI para colaborar no programa "A Verdade de Cada Um", com o desafio de fazer um vídeo por semana.

É também um dos embaixadores da WTF, juntamente com outros Youtubers. Os seus vídeos estão espalhados por quatro canais de Youtube: Diogo Sena, A Verdade de Cada Um, WTF e ainda Diogo Sena – Canal de Gaming. Neste último, DIOGO SENA partilha vídeos dos seus jo-gos de FIFA em modo carreira, com direito a relatos bem humorados, e no comando do Sporting, claro. Apesar de tudo, DIOGO SENA não é um Youtuber como os outros: «Sou um bocado tímido, não sei falar. No dia a dia, até tenho vergonha de pedir um Menu Big Tasty», confessa. Talvez seja essa a razão pela qual tem o sonho de ser locutor de rádio. DIOGO SENA batiza-se a si mesmo de «Youtuber preguiçoso», tendo em conta os largos meses que, por vezes, fica sem criar conteúdos novos. Por outro lado, diz tratar-se de uma questão de mero perfeccio-nismo: prefere fazer pouco e bem feito, do que muito e mal: «Para falarmos para o público e termos uma opi-nião válida, temos que saber do que estamos a falar, há que pesquisar e desconstruir bem o tema, não podemos falar à toa», esclarece. Ao contrário de SakE, não possui uma barba farfalhuda, mas goza de umas sobrancelhas opulentas, que sobem e descem consoante o seu grau de entusiasmo. Recentemente, DIOGO SENA recebeu um troféu do Youtube por ter ultrapassado a marca dos 100 mil subscritores no seu canal.

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YoutubersCentral Parq

f-Pedro Mineiro

Fotografia CELSO COLAÇOStyling TIAGO FERREIRA assistido por MARIA BENEDITA Hair & M-U SANDRA ALVES Modelos RAFAEL CAVACO @ Central Models TARU e FRANCISCO SOARES @ Elite Lisbon

Agradecimentos ao Purista - Barbiére/Bar

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Ra f a e lcasaco JEREMY SCOTT X ADIDAS

Ta r ucasaco e cinto LACOSTE,brincos e anel OEULEUTÈRIO

Ra f a e lcasaco, croptop, e calções RITA

ORA X ADIDAS ORIGINALS, meias COS, ténis ADIDAS ORIGINALS by JEREMY SCOTT e chapéu ADIDAS

ORIGINALS

Fr a n c i s c ot-shirt e calças RITA ORA X

ADIDAS ORIGINALS, chapéu e ténis ADIDAS ORIGINALS

Ta r ulenço DIESEL, vestido RYTHM, cinto LACOSTE

Ra f a e llenço DIESEL,

camisa COS

Fr a n c i s c ocamisa FRED FERRY,

jeans DIESEL

Fr a n c i s c olenço DIESELcamisas CARHARTT

Fr a n c i s c ojumper DIESEL

Ra f a e ltudo Diesel, chapéu BRIXTON, ténis ADIDAS

Ta r uchapéu BRIXTONjumper DIESELténis ADIDAS

Ta r uvestido DIESEL,

brincos e anel OEULEUTERIO,colar CHAUMET

Ra f a e l & Fr a n c i s c otudo DIESEL

Ra f a e ltudo REEBOK CLASSICS, anel OEULEUTÈRIO

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Um pequeno grande hotel, era assim que podíamos resumir na essência o VALVERDE em plena avenida da Liberdade. Nem precisa de se pôr de bicos de pés para que as suas cinco estrelas brilhem. O edifício foi totalmente renovado e tratado ao detalhe a começar pela decoração e as comodidades oferecidas aos clientes para proporcionar uma experiência única, que almeja o conforto do lar. Com 25 quartos com diferentes formatos, a todos coube uma decoração única, constituída por peças raras, compos-tas por mobiliário vintage restaurado, obras de arte e alguns elementos de design con-temporâneo. No contexto geral, os decoradores JOÃO PEDRO VIEIRA e DIOGO ROSA LÃ procuraram trazer para o edifício lisboeta do século XIX o gosto eclético dos aparta-mentos urbanos (Town Houses) das elites londrinas ou novo iorquinas dos anos 20, por isso o Hotel vive uma atmosfera nostálgica, exuberante e requintada.

A sala de espera é sem dúvida a jóia do hotel, deixa-nos presos aos detalhes, a mini sala de leitura com tela de projeção que desce quando se dá inicio a uma sessão de ci-nema. A rivalizar, só o pátio interior, bastante desafogado, um oásis verde com piscina, a escassos metros do bulício da grande Avenida. Sem dúvida um pequeno segredo a descobrir e a guardar para quem procura um refúgio, ou então, uma reunião descon-traída. O serviço de bar e de restauração estão ao lado e por agora oferecem um menú de 35 euros para almoço e jantar que incluí uma entrada, prato principal e sobremesa. A cozinha, a cargo da Chef CARLA SOUSA, é portuguesa, logicamente quando se fala numa aposta hoteleira na qualidade.

Hotel Valverde

VALVERDE HOTEL Avenida da Liberdade, 164, LisboaTel. + 351 210 940 300 www.valverdehotel .com

62 t-Francisco Vaz Fernandes

HotelParq Here

DFR Representações

www.softline-allkit.comwww.robertirattan.comwww.felicerossi.itwww.ledo.pt

TM:+351 918 709 964

Nós, homens, sabemos o quão frustrante se pode tornar uma ida às compras. E não nos venham com aquelas tangas da loja ser unissexo, porque lá por ter um expositor com duas ou três (hiperbolicamente falando) peças masculinas, no cantinho mais es-condido e apertado, não faz dela uma loja unissexo. Isto já para não falar na questão dos tamanhos: para as mulheres, há do XXXS ao XXXL; para nós, há o M e, de vez em quando, o L. Bom, desabafos à parte, era só para dizer que ANDRÉ LIMA se lembrou de nós e teve a amabilidade de criar a SLOU LISBON. Foi a escassa oferta de espaços dedi-cados ao homem que o levou a pensar num novo conceito. «A roupa é a nossa segunda pele e acaba por transmitir a nossa identidade», assegura ANDRÉ LIMA.

Com um ambiente descontraído e um atendimento personalizado, neste espaço, o cliente poderá encontrar peças que se tornaram intemporais, graças ao seu design e qualidade, e que não são comercializadas em mais nenhum lugar em Lisboa. Na SLOU, há um pouco de tudo, diz ANDRÉ LIMA: «Desde marcas de referência, numa vertente mais moda, a marcas de surf ou skate, passando por linhas mais exclusivas da NIKE ou ADIDAS». A nipónica COMME DES GARÇONS, a francesa A.P.C., a belga RAF SIMONS, a sueca OUR LEGACY, a alemã KIND OF GUISE, a italiana BARENA, a dinamarquesa NOSE PROJECTS e a portuguesa LA PAZ são algumas marcas que constituem o espólio da loja.

É indicada para os jovens que andem à procura de modelos exclusivos de ténis, mas tam-bém para os mais velhos, que queiram um blazer da BARENA. Apesar de ser um espaço a pensar nos homens, a SLOU LISBON abre, também, as portas ao público feminino.

Slou Lisbon

Aberto de seg. a sex. (das 11:30h às 13:30h e das 14:30h às 20h) e sáb. (das 14:30h às 20h). Encerra ao domingo.

Rua Nova da Trindade 22E , Lisboa Tel: 213 471 104

www.sloul isbon.com

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LojaParq Here

t-Rui Lino Ramalho

Já chegou a Lisboa e promete ser o "úni-co pub verdadeiramente britânico". O THE GEORGE abriu as portas com um menu exclusivo, que inclui os tradicionais English Breakfast, Sunday Roast e uma seleção de 15 cervejas premium (como é o caso da PERONI, considerada a melhor cerve-ja do mundo), únicas na capital. Ao todo, são 35 as variedades de cerveja e 130 as bebidas alternativas. Este negócio de fa-mília instalou-se em Lisboa pelas mãos de GONÇALO BITA BOTA, que considera in-dispensável a existência de espaços como este, uma vez que os britânicos são pre-sença assídua em Portugal. Localizado no coração de Lisboa, THE GEORGE ambicio-na ser um espaço multicultural, com mú-sica ao vivo durante a semana e transmis-sões regulares de partidas de soccer.

As cartas de amor até podem ser todas ridículas, mas o restaurante O ANTIGO CARTEIRO tem o selo da gastronomia tra-dicional portuguesa, para além da variada carta... de vinhos. O que foi, outrora, um posto de correios, é agora um espaço aco-lhedor e intimista, com vista privilegiada sobre o Douro. Situado no Largo do Ouro, na Foz, O ANTIGO CARTEIRO é um híbrido, que combina a comida tradicional com o ar de antiga tasca. As especialidades, to-das confecionadas na hora, vão desde o Bacalhau com Broa e do Polvo à Lagareiro aos Miminhos à Carteiro e à Açorda de Gambas. As migas, as castanhas cozidas (com travo a canela) e os legumes saltea-dos são alguns dos possíveis acompanha-mentos. O terraço exterior, com vista para o rio, é o indicado para um aperitivo antes da refeição – se o tempo colaborar, é claro.

George

Aberto de seg. a dom., das 12h às 2h.Rua do Cruci f ixo, 58-66, Lisboa.

Aberto das 12h às 24h. Encerra ao domingo.Largo do Ouro, Porto.

O AntigoCarteiro

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Comes e BebesParq Here

t-Rui Lino Ramalho

Fundada em 2010, a PURA CAL abre uma loja, atelier e galeria na Lx Factory, em Lisboa, relacionada com o mundo do design e da decoração. JOÃO BERNARDES VILELA e TIAGO PATRÍCIO RODRIGUES procuram oferecer espaços interiores contemporâneos onde de-sign, a tradição e a contemporaneidade se cruzam. O universo da marca passa pelo restauro e o re-design de peças vintage que se podem encontrar na loja, mas também fazem projetos de design e de interiores. O objetivo é satisfazer um cliente que chegue a loja e poça trazer todo um conceito de decoração a partir de um objeto que goste.

Para além dos produtos da marca PURA CAL, todos eles resultantes de uma pesquisa sobre o melhor que se pode produzir de forma artesanal em Portugal, a loja oferece ainda outras marcas com que se identificam e que ajudam a fortalecer a identidade do seu universo.

A PURA CAL é ainda constituida por um terceiro espaço, a galeria, que será totalmente dedicada aos criativos portugueses prevendo realizar seis a oito exposições anuais, pensa-das de forma a criar conexões e complementaridade entre a arte e o design de interiores.

Pura Cal

Pura CalRua Rodrigues Faria , 103

LX Factory, Espaço 0.1D.4, Lisboatel f .966 781 511

Ter. a Sáb. das 11h às 20h. Dom. das 12h às 17hwww.puracal.com

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LojaParq Here

t-Maria Sao Miguel

CO-PRODUÇÃO APOIO À DiVULGAÇÃOPARCEIROSORGANIZAÇÃO PATROCINADORPRINCIPAL